Gislaine Angélica Rodrigues Silva “Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Silvia Lapenta Maringá – 2007 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil) S586c Silva, Gislaine Angélica Rodrigues Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae) / Gislaine Angélica Rodrigues Silva. -Maringá : [s.n.], 2007. 38 f. : il. color. Orientador : Profª. Drª. Ana Silvia Lapenta. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Maringá. Departamento de Ciências Biológicas, 2007. 1. Esterase. 2. Organofosforado. 3. Resistência a inseticidas. 4. Oryzaephilus mercator. 5. Oryzaephilus surinamensis. I. Universidade Estadual de Maringá. Pós-Graduação em Ciências Biológicas (área de concentração Biologia Celular). II. Título. CDD 21.ed. - 572.77 A Deus, minha inspiração. A minha mãe, uma mulher admirável. Agradecimentos A Deus, por seu amor e sua fidelidade em minha vida. Aos meus pais Gilson e Rute, por tudo que sou e tudo o que vir a ser, por acreditarem e apoiarem mais essa conquista. A minha irmã Aline por sua amizade e seu companheirismo e a Duda, minha sobrinha amada. A UEM, ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e ao Departamento de Biologia Celular e Genética, pela estrutura e oportunidade. Aos professores, cujo auxílio foi relevante. Ao CNPq, pelo apoio financeiro. A minha orientadora Ana Silvia, pela disponibilidade em me orientar e desenvolver este trabalho, por sua paciência, pelo apoio e aprendizado. Quero agradecer sua amizade e seu exemplo profissional, o qual admiro. Aos professores Maria de Fátima, Maria Cláudia, Sandra Collet, Erasmo Renesto e José Ricardo, pelo aprendizado, e especialmente, agradeço a Claudete Mangolin, pela oportunidade, dedicação e direcionamento nos meus primeiros experimentos. Aos membros da banca, professoras Luciana Paes de Barros Machado e Claudete Aparecida Mangolin. Aos técnicos Sérgio e Valmir por todo o auxílio, o qual foi importante para a realização deste trabalho. As minhas amigas e companheiras de pesquisa, Débora, Ana Luíza, Adriana e Lara, pelo desenvolvimento da pesquisa. A Adriana Rezende, Fábio, Suzana, Liriana, Tati, Cristiano, Ivone e Ana Paula e a todos os colegas e amigos do laboratório pelo ambiente agradável de trabalho. Aos meus amigos de graduação e pós-graduação. As minhas amigas Carol Gaburo, Carol Emanuelle, Joicy, Léia, Lilian, Adriana Heidemann e Amanda, pelo companheirismo em todos os momentos. Ao Edner, meu namorado, pelo seu incentivo e carinho. A Fernanda, uma amiga muito especial que tem estado ao meu lado nesses oito anos, comemorando comigo mais esta etapa. A minha amiga, irmã, Araceli, por acrescentar coisas boas e dividir muitos momentos. Apresentação Esta dissertação é composta por um artigo, o qual foi concluído a partir de estudos sobre o envolvimento das esterases na resistência aos inseticidas em duas espécies de insetos praga: Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis. Este artigo será diagramado de acordo com as normas da revista Biochemical Genetics, a qual será submetido para a publicação. “Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” “Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Gislaine Angélica Rodrigues Silva e Ana Silvia Lapenta “Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Resumo Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis são espécies cosmopolitas de insetos praga que atacam diversos grãos e produtos armazenados, causando prejuízos na comercialização destes. Uma estratégia de controle destes insetos é obtida por meio do uso de inseticidas, porém, várias espécies têm se mostrado resistente a estes compostos. Mecanismos metabólicos de resistência a inseticidas envolvendo as esterases têm sido estudados, pois estas estão relacionadas com a detoxificação. Este trabalho foi conduzido com o objetivo de identificar e caracterizar as esterases, verificar a toxicidade dos organofosforados malathion e clorpirifós-metil em diferentes linhagens destas espécies e, também, analisar o possível envolvimento destas enzimas nos mecanismos de resistência a estes inseticidas. Por meio da técnica de eletroforese em gel de poliacrilamida foram identificadas sete esterases em quatro linhagens de O. mercator, destas três são colinesterases, duas carboxilesterases e duas acetilesterases. Em duas linhagens de O. surinamensis foram encontradas cinco esterases, destas, quatro foram identificadas como colinesterases. Todas as linhagens foram submetidas a bioensaios com o malathion e clorpirifós-metil. Em O. mercator, dentre as linhagens naturais, a OmLA apresentou maior resistência, sendo que esta, pode estar associada com a maior sensibilidade das esterases OmEST-3 e 4 e pela presença da OmEST-1, específica desta linhagem. Em O. surinamensis, pôde ser observado que na linhagem OsLPA, mais resistente, também houve uma maior sensibilidade das esterases aos inseticidas testados. Isto é indicativo de que estas esterases possam estar relacionadas com mecanismos de detoxificação aos inseticidas por seqüestro destes. A espécie de O. surinamensis, quando comparada com a de O. mercator, apresentou uma elevada resistência, verificado pelo cálculo da CL50. Esta maior resistência pode estar relacionada com duas esterases: a OsEST-2, por apresentar homologia com a OmEST-1, cuja presença foi verificada somente na linhagem resistente OmLA e, a OsEST-5, por ser uma enzima altamente expressa nesta espécie, sendo que em O. mercator não foi encontrada nenhuma enzima com altos níveis de expressão. “Characterization and involvement of esterases in their resistance to insecticides in Oryzaephilus mercator and Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Abstract Oryzaephilus mercator and Oryzaephilus surinamensis are worldwide pestering insect species which attack grains and stored products with subsequent commercial liabilities. Although insect control strategy favors the use of insecticides, several species are resistant to the chemical compounds involved. Esterases resistant metabolic mechanisms to insecticides have been investigated owing to their relationship with detoxification. Current research identifies and characterizes the esterases, checks the toxicity of the organophosphates malathion and chlorpyriphos-methyl in different insect strains, and analyzes possible involvement of esterases in resistance mechanisms to the above insecticides. Esterases analysis by polyacrylamide gel electrophoresis technique detected seven esterases in four strains of O. mercator, or rather, three cholinesterases, two carboxylesterases and two acetylesterases. Five esterases, four of which were identified as cholinesterases, were detected in two O. surinamensis strains. All strains underwent bioassays with malathion and chlorpyriphos. Since OmLA exhibited the greatest resistance in O. mercator, within natural strains, it may be associated to the higher sensitivity of esterases OmEST-3 and 4 and by OmEST-1, proper of the strain. There was a higher esterase sensitivity to insecticides under analysis in the more resistant O. surinamensis OsLPA strain. This fact shows that these esterases may be related to de-intoxification mechanisms to insecticides by their sequestration. When compared to O. mercator, species O. surinamensis is highly resistant, as CL50 evidences. High resistance may be related to OsEST-2 esterases by being homologous to OmEST-1, verified only in OmLA-resistant strains; and to OsEST-5, a highly significant enzyme in the species. No highly significant enzyme has been found in O. mercator. “Caracterização e envolvimento de esterases com a resistência a inseticidas em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Gislaine Angélica Rodrigues Silva1 e Ana Silvia Lapenta1 1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo 5790, 87020-900, Maringá-Pr, Brasil. Resumo Eletroforese em gel de poliacrilamida foi usada para analisar padrões de esterases durante o desenvolvimento de insetos praga. Sete esterases em Oryzaephilus mercator foram identificadas: três colinesterases, duas carboxilesterases e duas acetilesterases, dentre estas, uma esterase foi específica para adultos. Cinco esterases foram encontradas em O. surinamensis sendo quatro colinesterases. Linhagens dos insetos praga O. mercator e O. surinamensis foram também expostas ao malathion e clorpirifós-metil. Baseado na estimativa da CL50, OmLPT-10, OmLA de O. mercator e OsLPA de O. surinamensis foram as linhagens mais resistentes para ambos inseticidas, sendo verificado uma sensibilidade maior de algumas de suas esterases. Estas esterases de linhagens resistentes ao malathion e clorpirifós-metil têm suposto papel conferindo a resistência aos organofosforados. As colinesterases OmEST-1 e OsEST-5 parecem estar envolvidas com a resistência. Estes resultados sugerem que a maior resistência pode estar relacionada com a detoxificação enzimática por propriedades de seqüestro. Palavras-chave: Oryzaephilus mercator; Oryzaephilus surinamensis; esterases; resistência a inseticida; organofosforado. “Characterization and involvement of esterases in their resistance to insecticides in Oryzaephilus mercator and Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera: Silvanidae)” Gislaine Angélica Rodrigues Silva1 e Ana Silvia Lapenta1 1 Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo 5790, 87020-900, Maringá-Pr, Brasil. Abstract Esterases pattern types during the development of pestering insects were analyzed by polyacrylamide gel electrophoresis. Seven esterases, three cholinesterases, two carboxylesterases and two acetylesterases, were identified in Oryzaephilus mercator, one of which was proper to adults. Five esterases, of which four were cholinesterases, occurred in O. surinamensis. Pestering insect strains of O. mercator and O. surinamensis were also exposed to malathion and chlorpyriphos-methyl. OmLPT-10, OmLA of O. mercator and OsLPA of O. surinamensis were the most resistant strains to the two insecticides, according to CL50 estimates. However, higher sensitivity has also been verified in some esterases. Esterases of malathion-resistant strains and chlorpyriphos provide resistance to organophosphates. Cholinesterases OmEST-1 and OsEST-5 may be involved in resistance. Results suggest that highest resistance may be related to enzymatic detoxification by sequestration qualities. Key words: Oryzaephilus mercator; Oryzaephilus surinamensis; esterases; resistance to insecticides; organophosphate. Introdução O besouro de grãos Oryzaephilus surinamensis (Coleoptera; Silvanidae) é considerado mundialmente a maior peste de produtos armazenados, particularmente atacando grãos (Lee et al., 2000). Assim como Oryzaephilus surinamensis, a espécie Oryzaephilus mercator (Coleoptera; Silvanidae) ataca grãos já infestados ou defeituosos, preferindo produtos de cereais e sementes de oleaginosas, mas de acordo com Athié e Paula (2002), esta espécie não é considerada uma das principais pragas de grãos armazenados no Brasil. As esterases estão envolvidas em inúmeros processos biológicos importantes nos insetos, alguns deles já bem estabelecidos. Vários trabalhos têm demonstrado que determinadas esterases desempenham um importante papel no controle dos níveis de hormônio juvenil (HJ) (Bownes, 1989; Yamamoto et al., 1988), algumas estão presentes no aparelho reprodutor masculino de várias espécies, sendo importantes para a saúde reprodutiva do macho (Vermunt et al., 1998, Mikhailov e Torrado, 2000), outras parecem ter função em processos digestivos (Healy et al., 1991) e também estão envolvidas com a resistência aos inseticidas (Haubruge et al., 2002; Barata et al., 2004; ffrench-Constant et al., 2004; Rossiter et al., 2001a,b; Lee e Lees, 2001). O sistema isoenzimático das esterases é constituído por quatro classes de enzimas, as carboxilesterases (E.C. 3.1.1.1), as colinesterases incluindo as acetilcolinesterases (E.C 3.1.1.7) e as pseudocolinesterases (E.C. 3.1.1.8), as acetilesterases (E.C. 3.1.1.6) e as arilesterases (E.C. 3.1.1.2). Cada classe tem sido definida por sua especificidade ao substrato, sua sensibilidade a diferentes tipos de inibidores e por seus resíduos de aminoácidos no sítio ativo (Oakeshott et al., 1993). O papel realizado pelas esterases nos mecanismos de resistência aos inseticidas tem sido amplamente estudado em insetos mostrando-se de fundamental importância. Duas classes de esterases estão envolvidas neste processo, as colinesterases e as carboxilesterases. Dentre as colinesterases, a acetilcolinesterase regula os níveis de acetilcolina por catalisar a hidrólise desta nos terminais dos impulsos nervosos. Inseticidas organofosforados e carbamatos ligam-se ao sítio ativo desta enzima e a inibem irreversivelmente, gerando um acúmulo de acetilcolina, resultando na morte do inseto (Aldridge, 1950). Outras colinesterases podem estar relacionadas com processos de detoxificação metabólica como a EST-9 em Drosophila melanogaster (Healy et al., 1991). Estudos demonstraram que os insetos podem adquirir insensibilidade a inseticidas por mutações em ponto em acetilcolinesterases, a substituição de aminoácidos no sítio ativo da enzima foi encontrada em populações de Drosophila melanogaster (Menozzi et al., 2004). Fournier (2005) verificou que mutações em acetilcolinesterase tem sido descritas em muitas espécies de insetos e que pode-se observar uma resistência modificada aos inseticidas. Em insetos praga como em Rhyzopertha dominica (Coleoptera: Bostrichidae) populações resistentes mostraram uma maior atividade de acetilcolinesterase que em populações suscetíveis, sugerindo que mudanças nesta enzima poderiam contribuir com a resistência aos organofosforados (Guedes et al., 1997). A resistência aos inseticidas envolvendo as carboxilesterases, ocorre sempre pela detoxificação metabólica por meio da hidrólise de ésteres carboxílicos (Hemingway e Karunaratne, 1998). Este mecanismo leva a um considerável aumento na atividade desta enzima nos organismos resistentes, como é o caso da MCE (Malathion-specific carboxilesterase) em linhagens resistentes do inseto Anisopteromalus calandrae (Baker et al., 1998) e Tribolium castaneum (Haubruge et al., 2002). Subramanyam et al. (1989) detectaram que todas as linhagens de campo de Tribolium castaneum testadas nos Estados Unidos, apresentaram resistência ao malathion e que esta resistência está associada com as carboxilesterases que estão envolvidas com a detoxificação deste composto. Rossiter et al. (2001a) estudando espécies de Oryzaephilus surinamensis, verificaram que as esterases estão fortemente envolvidas no mecanismo primário de resistência ao clorpirifós-metil, e que podem possivelmente ter papel na resistência ao fenitrothion. Neste mesmo estudo, análises quantitativas e qualitativas das esterases permitiram observar um elevado aumento nos níveis de atividade das esterases em duas linhagens altamente resistentes ao clorpirifós-metil e diferentemente resistentes ao fenitrotion, também foi possível observar diferenças qualitativas nas esterases entre estas duas linhagens. Estas esterases foram classificadas como β-esterases e as diferenças qualitativas nas propriedades das β-esterases, sendo a conformação estrutural a principal diferença entre elas, destas duas linhagens de O. surinamensis altamente resistentes ao clorpirifós-metil e diferentemente resistentes ao fenitrothion, foram propostas como uma explicação das diferenças na sensibilidade e resistência ao fenitrothion (Rossiter et al., 2001b). Um outro estudo envolvendo a resistência a inseticidas em linhagens de Oryzaephilus surinamensis realizado por Conyers et al. (1998), mostrou que dentre os sistemas enzimáticos testados, as isoenzimas com elevada atividade foram as esterases, sendo estas as responsáveis pela maior resistência aos organofosforados nas linhagens de O. surinamensis e, purificaram e caracterizaram uma acetilcolinesterase envolvida nesta resistência. Lee et al. (2000) observaram que uma maior atividade hidrolítica das esterases estavam positivamente relacionadas com um aumento na resistência das linhagens de O. surinamensis ao organofosforado fenitrotion e, por meio de zimogramas, verificaram as diferenças no padrão de bandas entre a linhagem resistente e a suscetível, identificando a esterase envolvida com resistência ao inseticida, a qual foi purificada e caracterizada. Uma vez que as esterases desempenham um importante papel na resistência aos inseticidas, a identificação, a caracterização funcional e a análise genética deste sistema isoenzimático em Oryzaephilus mercator e O. surinamensis são importantes para o entendimento dos mecanismos que determinam organofosforados, usados no controle destes insetos. a resistência a compostos Materiais e métodos Manutenção das linhagens de Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis em laboratório Para a realização deste estudo foram utilizadas quatro linhagens de Oryzaephilus mercator (OmLA, OmLV, OmLPT e OmLPT-10) e duas linhagens de O. surinamensis (OsLE e OsLPA). Essas linhagens foram obtidas em residência (OmLA) e em lojas de produtos processados (OmLV, OmLPT, OsLE e OsLPA) na cidade de Maringá, Paraná. A linhagem OmLPT-10 foi derivada da linhagem OmLPT, a qual foi exposta por oito meses a uma concentração de malathion de 0,05 µg/g. Os insetos foram mantidos em laboratório a temperatura ambiente em culturas montadas com ração para cães e sementes de girassol, levemente triturados. Determinação da CL50 A concentração letal que mata 50% dos insetos (CL50) foi calculada para cada uma das linhagens e para cada diferente inseticida, sendo estes, os organofosforados malathion e o clorpirifós-metil. O fator de resistência (FR) foi obtido pela razão entre a CL50 da população mais resistente e a CL50 da população mais suscetível de cada espécie (Ceruti e Lázzari, 2003). Os ensaios foram realizados em recipientes de cultura, contendo o inseticida a ser testado e mais 50 g de alimentação usual. Diferentes concentrações dos organofosforados foram testadas, para o malathion, as concentrações usadas estiveram entre 10 µL e 220 µL e, para o clorpirifós-metil, as concentrações estiveram entre 5 µL e 200 µL. Cada bioensaio foi feito com uma destas concentrações, utilizando-se água como solvente para cada inseticida. A concentração foi estimada em micrograma do inseticida por grama de meio (µg/g). Para cada bioensaio foram colocados 25 adultos, não sexados e sem idade definida, em recipientes de vidro que foram vedados com tecido voal e elásticos para evitar a fuga. Os insetos permaneceram expostos aos tratamentos durante 24 h, quando então, a mortalidade foi avaliada. Os indivíduos sobreviventes foram então congelados e submetidos posteriormente à análise eletroforética para verificação das esterases. Réplicas de dois a quatro de cada bioensaios foram realizados para cada concentração de inseticida. A CL50 foi estimada pelo método Sperman-Kaber modificado por Hamilton et al. (1977), utilizando-se o softwar JSPEAR. Identificação das esterases Neste trabalho foi empregado a eletroforese em gel de poliacrilamida (PAGE), técnica modificada de Davis (1964) e Laemmli (1970). A técnica foi realizada em gel vertical em um sistema descontínuo. Para tanto, foram utilizados géis de resolução a 11% de concentração acompanhados de géis de empilhamento a 4% de concentração. As amostras foram maceradas individualmente a 0°C em 25 µL de tampão TrisHCl 1,5 M pH 8,8 para Oryzaephilus mercator e em 30 µL para O. surinamensis, contendo glicerol a 10%. Após a maceração, um volume de 15 µL do sobrenadante de cada amostra de O. mercator ou 10 µL do sobrenadante de O. surinamensis foi aplicado no gel. Em O. mercator foram analisados cerca de 260 insetos e para O. surinamensis, aproximadamente 160 insetos. Os géis foram submetidos à eletroforese por cinco horas, a uma voltagem constante de 200 V, utilizando-se para o preenchimento dos compartimentos superiores e inferiores da cuba, o tampão Tris-glicina 0,1 M pH 8,3. Após a corrida eletroforética, os géis foram pré-incubados em 50 mL de tampão fosfato 0,1 M pH 6,2. Após 30 minutos o tampão foi retirado e foi adicionado a solução de coloração. Esta solução é composta por tampão fosfato 0,1 M pH 6,2 (50 mL), por n-propanol (5 mL), pelo corante Fast Blue RR Salt (0,06 g) e pelos substratos α-naftil acetato e β-naftil acetato (0,03 g e 0,02 g, respectivamente), previamente solubilizados em acetona (1 mL). Após cerca de uma hora de incubação no escuro à temperatura ambiente, as esterases foram visualizadas nos géis como bandas pretas ou vermelhas, indicativas da presença de α e β-esterases, respectivamente. Especificidade ao substrato Os géis foram tratados com o método de coloração usual, usando separadamente os substratos α-naftil acetato e β-naftil acetato, 0,05 g de cada, para realizar o teste de especificidade ao substrato. Um gel controle foi preparado com as condições usuais de coloração. Tratamento com inibidores para caracterização bioquímica das esterases Para o teste com inibidores, os géis foram pré-incubados em tampão fosfato 0,1 M pH 6,2 e depois submetidos à coloração na presença dos mesmos. Simultaneamente ao gel tratado foi preparado um gel controle contendo as mesmas amostras. Os inibidores utilizados foram o sulfato de eserina na concentração de 1 mM; malathion a 0,3 mM; fenilmetilsulfonila (PMSF) a 10 mM para Oryzaephilus mercator e 7,8 mM para O. surinamensis; iodoacetamida (IAC) na concentração de 10 mM; paracloromercuriobenzoato (pCMB) a 1,5 mM e o carbaril a 0,0745 mM. Os inibidores foram dissolvidos diretamente no tampão fosfato 0,1 M pH 6,2, com exceção do PMSF que foi previamente dissolvido em 1 mL de metanol e adicionado ao tampão de incubação. Secagem dos géis A técnica empregada para secagem dos géis foi baseada no método de Ceron et al. (1992). Os géis foram banhados em solução de gelatina comercial a 5%, prensados em um bastidor entre duas folhas de papel celofane e deixados à temperatura ambiente por três a quatro dias para secagem. Resultados Estudo das esterases em Oryzaephilus mercator Padrão de esterases e expressão durante o desenvolvimento A análise no padrão de esterases em cerca de 260 indivíduos nas linhagens OmLA, OmLPT e OmLV indicou a presença de 15 enzimas, que com base na afinidade pelo substrato, sensibilidade aos inibidores e velocidade de migração foram atribuídas como produtos da expressão de sete loci gênicos para as esterases. Estas bandas foram identificadas ao longo do desenvolvimento em Oryzaephilus mercator para a linhagem OmLV, analisando as fases de larva, pupa e adulto (tabela 1). Destes sete loci gênicos identificados, seis foram representados por mais de uma banda, sendo considerados polimórficos, estas esterases apresentaram estrutura monomérica (tabela 1). De acordo com o padrão de esterases durante o desenvolvimento o locus para a OmEST-7 está presente somente em adultos. As OmEST-4 e 5 só foram detectadas nas larvas e adultos, as demais esterases estão presentes em todas as fases de desenvolvimento. A OmEST-1 esteve presente somente na linhagem OmLA e a OmEST-2 ausente nesta mesma linhagem. As demais esterases estiveram presentes nas três linhagens analisadas, a OmLA, OmLPT e OmLV (figura 1). Caracterização das esterases quanto à especificidade ao substrato e padrão de inibição As esterases foram caracterizadas quanto a sua especificidade aos substratos αnaftil acetato e β-naftil acetato. Para as três linhagens analisadas foi observada uma mesma caracterização enzimática. As OmEST-1, 4, 5, 6 e 7 são enzimas que hidrolisaram preferencialmente α-naftil acetato e a OmEST-1 hidrolisou exclusivamente o substrato α-naftil acetato, sendo consideradas α-esterases. As OmEST-2 e 3 hidrolisaram exclusivamente o substrato β-naftil, sendo consideradas β-esterases (figura 2). Para a caracterização do padrão de inibição foram testados o malathion, o sulfato de eserina, o carbaril, o para-cloromercuriobenzoato (pCMB), a fenilmetilsulfonila (PMSF) e o iodoacetamida (IAC). Com exceção do PMSF e o IAC que indicam a presença de um resíduo de serina e cisteína, respectivamente, os inibidores possibilitam a classificação das esterases em carboxilesterases, acetilesterases, colinesterases e arilesterases. Três colinesterases foram identificadas, as OmEST-1, 5 e 7, que diferiram na inibição por malathion, como observado para a OmEST-7, a ausência de inibição. As OmEST-4 e 6 foram classificadas como carboxilesterases, devido à inibição por malathion e não inibição pela eserina e duas acetilesterases, as OmEST-2 e 3 nas quais não houve inibição. O inibidor iodoacetamida não alterou a atividade das esterases enquanto que o PMSF inibiu todas as esterases, com exceção da OmEST-1. Este padrão de inibição foi verificado para as três linhagens analisadas de Oryzaephilus mercator, a OmLA, OmLPT e OmLV (tabela2). Estudo das esterases em Oryzaephilus surinamensis Padrão de esterases e expressão durante o desenvolvimento Indivíduos de Oryzaephilus surinamensis das duas linhagens (OsLPA e OsLE) foram analisados quanto ao padrão de esterases, aproximadamente 160 insetos e, somente a linhagem OsLPA analisada quanto à expressão nas diferentes fases de desenvolvimento, larva, pupa e adulto. No zimograma apresentado na figura 2 estão representadas as 11 enzimas observadas para esta espécie, que foram atribuídas como produtos de cinco loci gênicos. O padrão de esterases foi o mesmo para larvas e adultos, sendo os cinco loci para as esterases expressos em ambas às fases. Já na fase de pupa pôde-se observar a ausência da OsEST-4. Quanto à sua estrutura molecular, as OsEST-1, 2 e 5 puderam ser classificadas como monoméricas. Caracterização das esterases quanto à especificidade ao substrato e padrão de inibição A análise da especificidade nas duas linhagens permitiu caracterizar as OsEST1, 2 e 4 como α-esterases por hidrolisar preferencialmente o α-naftil acetato e a OsEST3, β-esterase, por hidrolisar preferencialmente o β-naftil acetato. Já a OsEST-5 apresentou afinidade a ambos os substratos sendo caracterizada como α,β-esterase (figura 2). Para a caracterização bioquímica aos inibidores foram analisadas as esterases das duas linhagens e para o padrão de inibição não foi observada diferença entre elas. As enzimas de Oryzaephilus surinamensis submetidas aos inibidores paracloromercuriobenzoato (pCMB), fenilmetilsulfonila (PMSF) e iodoacetamida (IAC) foram insensíveis a estes, mas foram sensíveis à eserina e ao malathion, com exceção da OsEST-4 que não apresentou inibição por malathion. Desta forma, todas as esterases analisadas de O. surinamensis foram classificadas como colinesterases (tabela 2). Comparação do padrão de esterases entre Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis Uma análise comparativa das esterases entre as duas espécies (figura 2 e 3) considerando a velocidade de migração, comportamento com relação aos inibidores e afinidade aos substratos mostrou uma homologia em OmEST-1 e OsEST-2 (colinesterases, α-esterases e monoméricas) e entre as OmEST-3 e OsEST-3 (βesterases), apesar da OsEST-3 não ter sido analisada quanto ao padrão de inibição (tabela 1). Estudo da toxicidade dos organofosforados malathion e clorpirifós-metil Análise da CL50 em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis Bioensaios utilizando o malathion em linhagens de Oryzaephilus mercator mostraram que a OmLPT-10 e a OmLA, cujas CL50 foram de 0,2687 µg/g e 0,1295 µg/g, respectivamente, foram mais resistentes que as linhagens OmLPT e OmLV, com CL50 de 0,0963 µg/g e 0,0617 µg/g, respectivamente. A linhagem OmLPT-10 apresentou um fator de resistência (FR) de 2,78 em relação a sua linhagem de origem, a OmLPT. Os resultados dos bioensaios em relação ao clorpirifós-metil para esta mesma espécie mostraram que a linhagem OmLA, com CL50 de 0,1269 µg/g, também demonstrou maior resistência que a OmLPT e a OmLV, com CL50 de 0,0903 µg/g e 0,0342 µg/g, respectivamente. O FR das duas linhagens resistentes foi de 3,71 e 2,64, respectivamente, em relação à OmLV, a mais suscetível (tabela 3). Os bioensaios realizados com Oryzaephilus surinamensis em relação ao malathion e clorpirifós-metil mostraram que a linhagem OsLPA apresentou maior CL50 que a OsLE, frente a ambos inseticidas (tabela 3), mas demonstrou uma diferença maior na sensibilidade ao malathion, no qual a CL50 da OsLPA foi de 0,9484 µg/g e a CL50 da OsLE foi de 0,5877 µg/g, com um FR de 1,61. Uma comparação entre as duas espécies aponta que as linhagens de Oryzaephilus surinamensis possuem um valor de CL50 elevado em relação às linhagens mais resistente de O. mercator. A linhagem natural mais resistente de O. mercator, a OmLA, apresentou CL50 de 0,1295 para o malathion e CL50 de 0,1269 para o clorpirifós-metil, enquanto que em O. surinamensis a linhagem OsLPA, a mais resistente, apresentou CL50 de 0,9484 para o malathion e CL50 de 0,3888 para o clorpirifós-metil. Análise das esterases de Oryzaephilus mercator tratados com malathion e clorpirifós-metil A análise das esterases, em insetos expostos ao malathion (tabela 4), indicou variações na sensibilidade destas entre as linhagens. A OmEST-1, presente somente em OmLA, foi inibida totalmente em insetos expostos a 0,075 µg/g e 0,1 µg/g, quando realizados bioensaios com malathion, já a OmEST-2, ausente somente em OmLA, foi inibida parcialmente em 0,1 µg/g e 0,2 µg/g para a OmLPT-10. A OmEST-3, presente em todas as linhagens, foi totalmente inibida nas concentrações de malathion 0,075 µg/g e 0,1 µg/g testadas para a OmLA e foi parcialmente inibida em 0,1 µg/g e 0,2 µg/g para OmLPT-10. Entretanto, nas linhagens mais sensíveis ao malathion esta não foi inibida. Essa sensibilidade maior da OmEST-3 de OmLA pode ser observada também em insetos expostos ao clorpirifós-metil (tabela 5). A OmEST-4, presente em todas as linhagens, foi inibida somente em OmLA, em insetos expostos a concentrações de 0,072 µg/g e 0,12 µg/g em bioensaios com o clorpirifós-metil. Análise das esterases de Oryzaephilus surinamensis tratados com malathion e clorpirifós-metil Nos bioensaios realizados com o malathion para as concentrações de 0,3 µg/g e 0,4 µg/g, pôde-se observar que houve uma inibição parcial para as OsEST-1, 2 e 3 somente para a linhagem OsLPA. Já na concentração de 0,8 µg/g a inibição parcial ocorreu para a linhagem OsLE para as mesmas esterases (tabela 6). O comportamento das esterases em linhagens testadas com o inseticida clorpirifós-metil não apresentou variações quando comparadas com o padrão de esterases de insetos não expostos. Discussão Embora Oryzaephilus mercator não seja considerada uma espécie importante como praga no Brasil (Athié e Paula, 2002), ele é amplamente encontrado infestando produtos processados na região de Maringá, PR, BR, uma vez que não houve dificuldade para a obtenção deste inseto para a realização deste trabalho. Já Oryzaephilus surinamensis é considerado uma importante praga responsável por prejuízos econômicos (Athié e Paula, 2002). Entretanto, poucos estudos têm sido realizados em O. mercator e O. surinamensis no Brasil. Considerando a importância de ambos insetos praga, neste trabalho foram realizados estudos sobre a resistência destes insetos em relação a inseticidas, a qual foi verificada por meio da análise das esterases. As esterases constituem um grupo heterogêneo de enzimas que apresentam em comum a propriedade de hidrolisar ésteres. A detecção dessas enzimas é feita utilizando-se substratos sintéticos como ésteres de naftil e a caracterização das diferentes classes tem sido realizada com base na especificidade ao substrato, sensibilidade aos diferentes tipos de inibidores e os resíduos de aminoácidos presentes no sítio ativo da enzima. Em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis foram identificadas, pelo sistema PAGE, 15 e 11 esterases como produtos de sete e cinco loci, respectivamente. Este padrão de esterases está em concordância com o padrão encontrado para algumas espécies de insetos, como exemplo em Triatoma infestans, em que foi verificada a presença de seis loci para esterases (Tavares et al., 1998). Já para outros insetos, um número maior de esterases foi encontrado, como por exemplo em Aedes aegypti foram identificadas por meio da técnica de eletroforese 23 bandas como produto da expressão de oito loci gênicos (Lima-Catelani et al., 2004) e no coleóptera Lasioderma serricorne, 14 loci para esterases foram responsáveis pela expressão de 26 esterases presentes durante o desenvolvimento (Rissato, 2006). O estudo das esterases durante o desenvolvimento em Oryzaephilus mercator indicou a presença de três esterases específicas. As OmEST-4 e OmEST-5 estão presentes nas fases de larva e adulto e a OmEST-7 somente na fase adulta. Já em O. surinamensis foi observado somente uma esterase com expressão diferencial durante o desenvolvimento, a OsEST-4, expressa nas fases de larva e adulto e não sendo expressa na fase de pupa . As demais esterases estão presentes em todas as fases de desenvolvimento (larva, pupa e adulto). Outros estudos realizados sobre o padrão de esterases e expressão durante o desenvolvimento em insetos, mostram esterases específicas, como observado as EST-3, 7 e 8 encontradas somente em estágio larval (Lima-Catelani et al., 2004); em Drosophila melanogaster, dentre as 22 esterases estudadas, oito foram específicas de larva e nove foram encontradas em pupas e adultos (Healy et al., 1991). A caracterização funcional dessas enzimas segundo os critérios de Holmes et al. (1968) apud Lapenta et al. (1998) permitiu a identificação de duas acetilesterases, duas carboxilesterases e três colinesterases em Oryzaephilus mercator. Em O. surinamensis todas as enzimas estudadas foram caracterizadas como colinesterases uma vez que foram sensíveis ao sulfato de eserina. O sulfato de eserina tem sido muito utilizado em trabalhos científicos para a identificação das acetilcolinesterases nos insetos, neste trabalho, no entanto, três esterases para Oryzaephilus mercator e quatro para O. surinamensis apresentaram sensibilidade a este composto, sendo consideradas colinesterases. Esse número de colinesterases pode indicar que além da presença de acetilcolinesterases que atuam no sistema nervoso central do inseto, podem ocorrer também colinesterases que atuam em processos digestivos e de detoxificação, como já indicado em Drosophila melanogaster (Healy et al.,1991; Campbell et al., 2003). Para muitas espécies de insetos, a classe das carboxilesterases é a mais freqüente neste sistema isoenzimático. Isto pode ser observado em Drosophila melanogaster (Healy et al.,1991), no qual 10 enzimas foram classificadas como carboxilesterases, seis como colinesterases e três como acetilesterases. Em Aedes aegypti, das 23 bandas presentes, 12 foram classificadas como carboxilesterases e somente três foram colinesterases (Lima-Catelani et al., 2004). A seqüência de resíduos de aminoácidos no sítio ativo da enzima tem sido um critério adicional para classificação das esterases, principalmente em mamíferos. As carboxilesterases e colinesterases apresentam uma seqüência consenso de octapeptídeos (Chatonnet e Lockridge, 1989; apud Healy et al., 1991) e essas são consideradas constituintes de uma família multigênica das colinesterases/carboxilesterases (Oakeshott et al., 1993). As carboxilesterases, colinesterases e possivelmente as acetilesterases contêm um resíduo de serina no seu sítio ativo. Já as arilesterases que são sensíveis aos reagentes sulfidrílicos apresentam ao invés da serina, um resíduo de cisteína (Oakeshott et al., 1993). O PMSF é um indicador da presença deste resíduo de serina no sítio ativo, entretanto, no presente trabalho, somente as OmEST-2, 3, 4, 5, 6 e 7 foram inibidas totalmente ou parcialmente por este composto. É possível que nas demais colinesterases/carboxilesterases encontradas, este resíduo de serina presente no sítio ativo não esteja acessível ao PMSF. As espécies de Oryzaephilus mercator e O. surinamensis são muito semelhantes morfologicamente, sendo bastante difícil a sua diferenciação. Essa diferenciação é feita pela observação da cabeça. Segundo Athié e Paula (2002), O. mercator, possui a cabeça com formato retangular e uma região posterior aos olhos inconspícuas, menor que 1/3 dos seus comprimentos, enquanto que, em O. surinamensis, a cabeça apresenta um formato próximo do triangular e olhos menores, com região posterior distinta equivalente a 2/3 de seus comprimentos. Entretanto, os padrões para as esterases obtido com o sistema PAGE permitem diferenciar as duas espécies. Somente duas esterases entre estas duas espécies parecem apresentar homologia como mostrada entre as OmEST-1 e OsEST-2, OmEST-3 e OsEST-3. A análise da CL50 é uma importante ferramenta no estudo da resistência em insetos praga sendo útil no manejo desta. A observação dos valores obtidos para as CL50 em relação ao malathion e ao clorpirifós-metil para as linhagens de Oryzaephilus mercator, mostrou que há diferenças entre estes valores no que se refere à sensibilidade a estes compostos. Dentre as linhagens naturais, a OmLA apresentou uma maior resistência quando exposta ao malathion em relação às demais. O cálculo da CL50 em bioensaios para o clorpirifós-metil, também demonstrou esta mesma relação de sensibilidade, sendo a OmLA a mais resistente. Em O. surinamensis, a linhagem OsLPA apresentou uma maior resistência em relação à OsLE para o malathion, mas quando expostas ao clorpirifós-metil, os valores das CL50 mostraram uma mesma sensibilidade entre estas linhagens. Bioensaios realizados com malathion para quatro linhagens diferentes do inseto praga Lasioderma serricorne também mostrou variações na sensibilidade para este inseticida e a mesma relação de resistência foi verificada para o clorpirifós-metil. A linhagem mais resistente ao malathion, a LRV, apresentou um FR de 2,54 em relação à linhagem mais suscetível, a LP, quando calculado a CL50 (Rissato, 2006). Para a linhagem OmLPT-10 de Oryzaephilus mercator, previamente exposta ao malathion, obteve-se um FR de 2,8 em relação a sua linhagem natural, a OmLPT e, um FR de 4,35 em relação à linhagem mais suscetível, ressaltando assim, esta linhagem como a mais resistente, mesmo quando comparada com a OmLA. Possivelmente o malathion atuou como um agente seletivo determinando essa maior resistência de OmLPT-10. Dentre os três principais sistemas enzimáticos estudados por Conyers et al., (1998), as esterases são as mais relacionadas com mecanismos de detoxificação e insensibilidade aos inseticidas, devido a sua capacidade de hidrolisar ligações ésteres. Uma vez que os organofosforados, carbamatos e piretróides possuem ligações ésteres, estes podem ser detoxificados pela hidrólise desta ligação (Lee et al., 2000). No presente trabalho, a análise das esterases em insetos expostos aos inseticidas revelou que, apesar de um padrão similar das esterases, houve uma resposta diferencial destas enzimas entre as linhagens de mesma espécie. De uma forma geral, as linhagens mais resistentes de Oryzaephilus mercator e O. surinamensis apresentaram enzimas mais sensíveis aos organofosforados. Em Oryzaephilus mercator, a OmLA, linhagem natural mais resistente, também apresentou uma esterase adicional, a colinesterase OmEST-1, que foi sensível quando estes insetos foram expostos a diferentes concentrações do organofosforado malathion e clorpirifós-metil. Embora colinesterases estejam confinadas amplamente ao sistema nervoso central, colinesterases com funções não colinérgicas já tem sido descritas em tecido não-neural (Chatonnet e Lockridge; 1989 apud Tavares et al., 1998). Assim é possível que a OmEST-1 seja uma colinesterase não colinérgica, e que tenha um papel nesta resistência maior observada para a OmLA. Esterases possivelmente não colinérgicas, já foram encontradas em outras espécies, como por exemplo a EST-9 em D. melanogaster (Healy et al., 1991) e a EST-2 em Triatoma infestans (Tavares et al., 1998). Além da OmEST-1, a linhagem OmLA também apresentou como diferencial das linhagens mais sensíveis, uma inibição em duas esterases, as OmEST-3 e 4, quando os insetos foram expostos ao malathion e clorpirifós-metil, sendo que estas esterases também foram inibidas na linhagem resistente OmLPT-10. Os insetos da linhagem mais resistentes de Oryzaephilus surinamensis, a OsLPA, analisados também mostraram uma inibição parcial nas esterases para os insetos expostos ao malathion, mas nenhuma esterase sensível ao clorpirifós-metil foi encontrada. Considerando que nas linhagens mais resistentes (OmLA, OmLPT-10 e OsLPA) foram encontradas esterases que apresentaram maior sensibilidade aos organofosforados testados em comparação com as mesmas esterases em linhagens sensíveis, sugere-se que estas esterases possam estar relacionadas com os mecanismos de detoxificação envolvendo o seqüestro do inseticida organofosforado, explicando a ausência destas em insetos expostos. Mecanismos de detoxificação envolvendo uma esterase em linhagem resistente de Oryzaephilus surinamensis foi sugerido por Lee et al.(2000). Neste trabalho foi observado que esta enzima purificada pode ter um importante papel na detoxificação do organofosforado fenitrothion, por seqüestro deste inseticida. A resistência maior de Oryzaephilus surinamensis em comparação com O. mercator, tanto para o malathion quanto para o clorpirifós-metil, pode em parte, ser explicada pela presença da OsEST-5, uma colinesterase que apresentou uma coloração intensa e espessa nos géis analisados desta espécie, indicando a presença de grande quantidade desta enzima. A presença de bandas fortemente coradas em O. surinamensis também foram observadas em um estudo realizado por Rossiter et al., (2001a). Estes autores utilizando o sistema PAGE, observaram alta atividade esterásica em linhagens de O. surinamensis resistentes ao clorpirifós-metil, esta alta atividade produziu bandas fortemente coradas e espessas nos géis. De acordo com estes resultados, foi sugerido por Rossiter et al., (2001a) que o sistema PAGE pode vir a ter uma aplicação na rápida detecção de resistência ao clorpirifós-metil, sendo esta resistência diagnosticada por bandas fortemente coradas e espessas comparadas no gel com um padrão de bandas em insetos de resistência conhecida. Um aumento nos níveis da atividade de esterases em O. surinamensis, detectado por meio da técnica de eletroforese (PAGE), foi observado somente para a linhagem resistente e não para a suscetível, sugerindo que a produção de grande quantidade desta enzima participa do mecanismo de resistência e que provavelmente ocorreu por seqüestro ou por metabolização dos inseticidas (Conyers et al., 1998). Além da OsEST-5, O. surinamensis apresenta a OsEST-2 homóloga a OmEST-1, presente somente na linhagem mais resistente de O. mercator, podendo também, esta enzima, estar envolvida com a maior resistência de O. surinamensis. A diferença na resposta destas duas espécies frente aos inseticidas pode refletir a evolução de mecanismos de resistência diferenciados entre elas, provavelmente decorrentes de uma história de exposição diferenciada aos inseticidas, variando no tipo de inseticida empregado e na quantidade deste. Diferença que pode ser observada quando considerado o produto no qual o inseto foi coletado, seja ele em grãos ou em alimentos já processados. Estes dados revelam a importância do manejo de qualquer inseto praga quanto à aplicação do inseticida. Assim, o estudo das esterases de insetos praga e sua relação com os inseticidas, pode ser uma ferramenta útil na detecção e no entendimento desta resistência, possibilitando um controle mais efetivo e evitando a evolução desta resistência nestes insetos pragas. Referências Aldridge W.N. (1950). Some propierts of specific cholinesterase with particular reference to the mechanism of inhibition by diethyl p-nitrophenyl thophosphate (E605) and analogues. Biochem 46:451-460. Athié I. e Paula D.C. (2002) Insetos de grãos armazenados: aspectos biológicos e identificação. Livraria Varela, 2º ed, São Paulo, 244p. Baker, J.E., Fabrick, J.A. and Zhu, K.Y. (1998). Characterization of esterases in malathion-resistant and susceptible strains of the pteromalid parasitoid Anisopteromalus calandrae. Insect Biochemistry and Molecular Biology 28: 1039-1050. Barata, C., Solayan, A. and Porte, C. (2004). 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Comparação das esterases de adultos para duas linhagens de Oryzaephilus surinamensis com as esterases de Oryzaephilus mercator. Amostras 1 e 2 = OmLV de O. mercator, 3 a 10 = OsLPA e 11 a 18 = OsLE de O. surinamensis. Tabela 1 - Caracterização das esterases em Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis Esterase Classe Grupo Linhagem Estrutura Fase do Molecular Desenvolvimento OmEST-7 Colinesterase α LA, LPT, LV Monomérica A OmEST-6 Carboxilesterase α LA, LPT, LV Monomérica L, P, A OmEST-5 Colinesterase α LA, LPT, LV Monomérica L, A OmEST-4 Carboxilesterase α LA, LPT, LV Monomérica L, A OmEST-3 Acetilesterase β LA, LPT, LV Monomérica L, P, A OmEST-2 Acetilesterase β LPT, LV Monomérica L, P, A OmEST-1 Colinesterase α LA OsEST-5 Colinesterase α,β LPA, LE Monomérica L, P, A OsEST-4 Colinesterase α LPA, LE L, A OsEST-3 β LPA, LE L, P, A OsEST-2 Colinesterase α LPA, LE Monomérica L, P, A OsEST-1 Colinesterase α LPA, LE Monomérica L, P, A OmEST = Esterase em Oryzaephilus mercator; OsEST = Esterase em Oryzaephilus surinamensis; α = α-esterase; β = β-esterase; - sem definição Tabela 2 - Classificação das esterases em insetos adultos frente à diferentes classes de inibidores Espécie Esterase Inibidores pCMB Malathion Eserina/Carbaril PMSF Iodoacetamida Oryzaephilus EST-7 +++ +++ mercator EST-6 +++ +++ EST-5 + + + EST-4 ++ + EST-3 + EST-2 ** + EST-1 * + + Oryzaephilus surinamensis EST-5 ++ + EST-4 ++ EST-3 EST-2 ++ + EST-1 ++ + N/C = Não Classificada; +, ++, +++ = graus de inibição; - = não inibida * = Esterase presente na linhagem LA ** = Esterase ausente na linhagem LA - - - - Classe Colinesterase Carboxilesterase Colinesterase Carboxilesterase Acetilesterase Acetilesterase Colinesterase Colinesterase Colinesterase N/C Colinesterase Colinesterase Tabela 3 - Valores da CL50 (µg/g) e o fator de resistência para adultos de Oryzaephilus mercator e Oryzaephilus surinamensis Malathion Espécie O. mercator (LPT-10) O. mercator (LA) O. mercator (LPT) O. mercator (LV) O. surinamensis (LPA) O. surinamensis (LE) n 200 400 400 300 750 200 CL50 em µg/g (95% I.C.)* 0,2687 (22,52-32,09) 0,1295 (10,56-15,88) 0,0963 (8,62-10,76) 0,0617 (5,52-6,90) 0,9484 (78,49-114,60) 0,5877 (46,90-73,67) * Concentração Letal 50% (CL50) e intervalo de confiança (I.C.) n = número de insetos analisados FR = Fator de Resistência ** = insetos não expostos Clorpirifós-metil FR 4,35 2,09 1,56 1,61 - n ** 300 200 400 300 300 CL50 em µg/g (95% I.C.)* FR 0,1269 (11,05-14,58) 0,0903 (5,57-14,64) 0,0342 (2,88-4,07) 0,3888 (35,88-42,13) 0,3726 (27,15-51,16) 3,71 2,64 1,04 - Tabela 4 - Comportamento das esterases em Oryzaephilus mercator expostos ao malathion Esterases 0,05 µg/g 0,075 µg/g 0,1 µg/g LA LPT LV LA LPT LV LA LPT LV LPT-10 OmEST-7 OmEST-6 OmEST-5 OmEST-4 OmEST-3 +++ +++ ++ OmEST-2 ** ++ OmEST-1 * +++ +++ +,++,+++ = Graus de Inibição; - = não inibida * = Esterase presente na linhagem LA ** = Esterase ausente na linhagem LA 0,2 µg/g LPT-10 ++ ++ Tabela 5 - Comportamento das esterases em Oryzaephilus mercator expostos ao clorpirifós-metil Esterases 0,036 µg/g 0,072 µg/g 0,12 µg/g LA LPT LV LA LPT LV LA LPT LV OmEST-7 +++ ++ ++ ++ ++ + ++ ++ + OmEST-6 ++ ++ ++ ++ + ++ + OmEST-5 +++ ++ ++ ++ ++ OmEST-4 ++ ++ OmEST-3 +++ + ++ ++ ++ ++ OmEST-2 ** + ++ ++ OmEST-1 * +++ ++ ++ +,++,+++ = Graus de Inibição; - = não inibida * = Esterase presente na linhagem LA ** = Esterase ausente na linhagem LA 0,3 µg/g LPT-10 - Tabela 6 - Comportamento das esterases em Oryzaephilus surinamensis expostos ao malathion Esterases 0,3 µg/g 0,4 µg/g 0,8 µg/g LPA LE LPA LE LPA LE OsEST-5 OsEST-4 OsEST-3 ++ ++ ++ OsEST-2 ++ ++ ++ OsEST-1 ++ ++ ++ +,++,+++ = Graus de Inibição; - = não inibida Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo