“Essa é a minha comunidade”: consumo e
apropriação do telefone celular em atividade
pedagógica com jovens de camada popular
Romulo TONDO1
Sandra Rubia da SILVA2
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
Este trabalho apresenta um estudo de consumo e apropriação dos telefones
celulares como forma de empoderamento do jovem de comunidade popular. A
pesquisa adota como referências os estudos de consumo (MILLER, 2007),
tecnologia afetiva (LASEN, 2004), Educomunicação (SOARES, 2006) e o uso
de smarthphones no ambiente escolar (PEREIRA e SILVA, 2014).
O corpus deste artigo refere-se às imagens captadas durante a oficina3
de fotografia, de caráter educomunicativa, proposta com jovens do ensino
médio4 de uma escola pública em bairro popular da cidade de Santa Maria. No
decorrer da oficina foram trabalhadas ideias que de como os jovens e os
professores da escola podem trabalhar com a mídia, a educação, ações da
comunidade e a fotografia. Foram realizados três encontros, sendo que o
último foi destinado para a captação das imagens na comunidade. No total
foram captadas 30 imagens, das quais os jovens selecionaram 15 imagens que
1
Especialista em Políticas e Intervenção em Violência Intrafamiliar - Universidade Federal do Pampa –
Unipampa. Mestrando em Comunicação – Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail:
[email protected]
2
Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora do
Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM/ Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
UFSM.
3
A oficina faz parte da metodologia de aproximação desenvolvida pelo pesquisador na construção de sua
dissertação de mestrado acadêmico que utiliza-se da Etnografia, como metodologia principal.
4
A escola onde foi realizada a oficina está implementando o Ensino Médio, sendo que suas classes de
primeiro ano e segundo ano possuem 30 alunos no total.
1
pudesse representar o cotidiano dos demais jovens e moradores da
comunidade.
No primeiro momento, na construção deste texto, trazemos um
retrospecto sobre a comercialização e consumo dos telefones celulares no
Brasil e como tecnologia móvel está imbricada nas possibilidades de acesso à
informação e a rede mundial de computadores por jovens de comunidade
popular. Hoje os telefones celulares ganharam novas funcionalidades
diferentes daquelas que eram encontradas em um celular da década de 1990,
quando o consumo era privilégio para poucos, já que o custo era elevado e os
usuários eram em sua maioria executivos (CASTELLS ET AL, 2007). Com o
avanço da tecnologia podemos compreender os celulares como “dispositivos
híbridos móveis de conexão multirredes” (LEMOS, 2007).
Em seguida dividimos a metodologia em três eixos principais a serem
explorados: o enquadramento, a lente e as emoções. O primeiro, o
enquadramento, relacionados à utilização de estratégias educomunicativas
(Soares, 2004) e os usos do celular em ambiente escolar (Pereira e Silva,
2014). A desconstrução da mídia e a elaboração de uma mídia escolar que
venha potencializar a educação e apresentar as atividades desenvolvidas por
estes jovens de maneira a representa-los. A lente como extensão do olhar dos
jovens na captura das imagens que são influenciados pelas emoções. Da
mesma forma a explorar uma visão da câmera do celular como responsável por
captar imagens e sentimentos que serão guardados dentro do celular destes
jovens. Esta etapa do celular como repositório de emoções está imbricada na
terceira e última etapa da metodologia, a emoção, que levamos em
consideração o cotidiano na comunidade como mediador das emoções e como
o celular é capaz de tornar-se parte desta afetividade.
Sendo assim, a proposta em questão utiliza-se da interface entre a
Comunicação e Antropologia, como forma de compreender os celulares e as
subjetividades construídas a partir do cenário imagético capturado por jovens
de comunidade popular, a fim de contribuir para as reflexões sobre o estudo
dos celulares, imagens e emoções.
Referências
2
CASTELLS, Manuel; FERNÁNDEZ-ARDÈVOL, Mireia; QIU, Jack Linchuan;
SEY, Araba. Mobile Communication and Society: a global perspective.
Cambridge: MIT Press, 2007.
LASEN, Amparo. Affective Technologies: emotions and mobile phones.
Surrey: The Digital World Research Centre, 2004. Disponível em: <
http://goo.gl/xJyzbO> 22. jun. 2014
LEMOS, André. Comunicação e práticas sociais no espaço urbano: as
características dos Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirredes
(DHMCM). Comunicação, Mídia e Consumo. São Paulo, Escola Superior de
Propaganda e Marketing, vol. 4, nº 10, 2007.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do
homem. São Paulo: Cultrix, 2007.
MILLER, Daniel. Consumo como cultura material. Horizontes Antropológicos,
Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 33-63, jul/dez. 2007.
PEREIRA, C. R. ; SILVA, Sandra Rubia . O consumo de smartphones entre
jovens no ambiente escolar. In: AREU, Graciela Ines Presas; FOFONCA,
Eduardo. (Org.). Integração das tecnologias e da cultura digital na
educação: múltiplos olhares. 1ed.Curtiiba: Editora CRV, 2014, v. , p. 203-224
SILVA, Sandra Rúbia. De afetos e de memórias: o consumo do telefone celular
como “tecnologia afetiva”. IN: RIAL, Carmen; SILVA, Sandra Rúbia; SOUZA,
Angela Maria de (Orgs). Consumo e cultura material: perspectivas
etnográficas. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012. p. 243-265.
SOARES, Donizete. Educomunicação – O que é isto? Disponível para acesso
em: <http://goo.gl/x3o5IK> Acesso em: 29. Mai.2014
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