hipertexto
Luciana Nunes/Hiper
Famecos/ PUCRS ensina jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, março e abril de 2007 – Ano 9 – Nº 54
Fracasso neoliberal faz
esquerda latina avançar
Antônio Scorza/AFP
Néstor Kirchner,
Evo Morales, Lula
e Hugo Chávez
representam a
chegada da
esquerda ao
poder na América
Latina e a sede
por mudanças de
300 milhões
de pessoas
Página 8
Na Plataforma de Atlântida
Mar gaúcho,
surfe potiguar
Página 9
Fernanda Fell/Hipper
Jovens mantêm casas estudantis
Cotidiano
Nas mãos do
estudante
Página 6
Sabrina Feijó/Hiper
Chico Buarque,
o símbolo de
uma época
Porto Alegre
aplaudiu Carioca
de pé
Página 11
2 opinião
Porto Alegre, março e abril de 2007
HIPERTEXTO
Editorial
Artigo
O clichê
(necessário)
da violência
Estrangeirismos são
ameaças ao português?
Fica cansativo bater sempre na
mesma tecla. A violência está por
toda parte. Ela bate à porta, aborda
numa esquina, chama ao celular.
Falar sobre ela torna-se um clichê
necessário a partir do momento que
se reinventa, se atualiza. Todo dia os
jornais noticiam um novo tipo de
golpe, que deixa as pessoas presas
dentro de suas casas, desconfiadas a
cada passo e isoladas pelo medo.
Em função de tragédias recentes,
veio ao debate público a questão da
redução da maioridade penal, por
exemplo. Essa possível alteração na
legislação foi vista como solução
para a violência. No entanto, ao
prender delinqüentes a partir dos
16 anos, seria cometido um erro. Os
crimes são também cometidos por
adolescentes de 13, 14 e 15 anos.
Logo, de que adianta prender aos
16? Além disso, os presídios não têm
condições de arcar com mais apenados. A conseqüência imediata da redução da maioridade seria o aumento
do contingente penitenciário.
E se tudo isso não bastasse, a
governadora Yeda Crusius demitiu
o então secretário de segurança Enio
Bacci deflagrando a crise da segurança no Rio Grande do Sul. Embora
os números da violência – a média
chegou a cinco homicídios por dia
no Estado – não fossem animadores, a postura de Bacci agradava aos
gaúchos. O ex-secretário talvez tenha
pecado pelo excesso de mídia, mas
a violência pauta telejornais, boletins de rádio e páginas dos jornais
diariamente. Não era um secretário
midiático a necessidade do Estado.
Mesmo assim, o nível de aceitação
de Bacci parecia colaborar para a
governabilidade de Yeda Crusius.
Esperamos que o novo secretário
saiba controlar a criminalidade e
supra as necessidades da segurança.
O que se precisa, na verdade, é estrutura, educação e fim da impunidade.
Todas as medidas devem buscar resultados a longo prazo. Ainda, faz-se
necessária uma revisão da legislação.
Basta ler as manchetes que anunciam
a volta de Papagaio, um dos mais
conhecidos criminosos do Estado,
ao regime semi-aberto. Sem estrutura, como é possível regenerá-lo?
Por esses tantos motivos, o debate
sobre violência é essencial para a
sociedade. É aí que entra o papel
dos jornais. Se abordarmos os fatos,
armamos as pessoas para a batalha
contra a violência. Falar sobre ela é
um clichê necessário, até vital.
Brenda Parmeggiani, editora
Fernanda Fell/Hiper
Mariana Baierle Soares
Os estrangeirismos na língua
portuguesa, cada vez mais freqüentes, geram diversas discussões e
polêmicas. A população é alvo direto
de nomes próprios, substantivos,
verbos e até logotipos, marcas e
gírias que provêm de outros idiomas
e integram-se ao nosso dia-a-dia sem
que percebamos. O posicionamento
de muitos é radicalmente contrário
ao uso de estrangeirismos.
Entre muitas manifestações
extremistas inclui-se um projeto de
lei que foi postulado em 2001 pelo
deputado Aldo Rebelo (PC do B de
São Paulo), visando extinguir o uso
de palavras de origem de outro idioma. A intenção, aparentemente boa –
buscando, segundo texto do próprio
projeto, “proteger”, “promover” e
“defender” a língua portuguesa da
interferência das demais – revela
um profundo desconhecimento de
questões lingüísticas e do próprio
surgimento da língua portuguesa.
O nosso idioma sofre a influência de outras culturas desde a sua
constituição original, sendo a maioria
das palavras originadas do latim e do
grego. Além disso, em um mundo
globalizado, em que há um contato
intenso entre os países, é impossível
evitar esse intercâmbio lingüístico
que inevitavelmente ocorre. Assim,
torna-se difícil especificar o limite
entre o estrangeirismo e a origem
A cobertura termina e ele parece um trapo. As mãos inchadas,
torcicolo e cãibras na batata da
perna forçam-no a sentar por alguns
minutos. Suado e com a roupa
amassada, carrega a câmera e as
lentes que no início pesavam dois
quilos e meio, agora parecem dez.
Esta figura não estava cobrindo
uma explosão de homem bomba em
Hipertexto
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
O idioma é dinâmico
e sofre a influência
de várias línguas
O uso indiscriminado de termos
norte-americanos incomoda muitas
pessoas. É o que acontece aparentemente com o deputado Aldo Rebelo.
Porém, precisamos ser coerentes e
observar os estrangeirismos em qualquer língua da mesma forma. Não
é somente o inglês que influencia o
português. Latim, grego, espanhol,
italiano, tupi, entre outros também
são profundos influenciadores e
transformadores do idioma, na medida em que importamos muitos de
seus vocábulos. O português é uma
língua viva, sujeita às modificações
de seu tempo e contexto.
Estrangeirismos não são apenas
as expressões norte-americanas.
Esta é uma falsa idéia que as pessoas
relacionam com a questão. O nosso
idioma sofre, comprovadamente,
diversas interferências e está em contato com muitos outros povos. Seria
humanamente impossível coibir o
uso de estrangeirismos, até porque
alterações desse gênero fazem parte
da evolução natural da língua.
Desta forma, uma lei radical e
incoerente, como a proposta por
Rebelo, demonstra falta de aprofundamento na questão. Segundo
sua proposta, seríamos proibidos de
usar grande parte dos vocábulos já
consolidados por serem importados
de outros idiomas (e, como tal, serem
considerados estrangeirismos).
Cabe à população bom senso
e reivindicar as lojas com promoções nos centros comerciais, em
detrimento das stores, offs e shoppings.
Porém, haverá momentos em que
o português não possuirá uma
tradução para palavras como pizza
ou muitas outras que, de tanto utilizarmos, já foram incorporadas aos
nossos dicionários. Como exemplos
desses vocábulos derivados de outras
línguas destacam-se deletar, chance,
check-in, buquê, abajur, souvenir,
algarismo, espagueti, garagem, canelone, lasanha, aimoré, entre outras.
Eis provas concretas da vitalidade e
dinamicidade da língua portuguesa e
da impossibilidade de conseguirmos
engessá-la e viabilizar uma proposta
como essa.
Cotovelada, pisada no pé, uma careca na frente
Vinícius Roratto Carvalho
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto
Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
morfológica natural das palavras.
A população instruída, em geral, é resistente aos estrangeirismos
mais evidentes hoje em dia – os que
ocorrem com o inglês. Tal idioma
domina nossos shoppings, reallity
shows, magazines, skates, moda-surfing,
outdoors e promove offs em nossas
mega stores. Sem dúvida, muitas das
palavras norte-americanas já fazem
parte do nosso cotidiano, sem explicação aparente. Para a maioria delas
existem termos correspondentes no
português.
Bagdá ou um tiroteio no Rio, estava
no quinto andar de um shopping
cobrindo uma pauta de moda.
A sétima edição do desfile Donna Fashion Iguatemi aconteceu de
11 a 15 de abril. Modelos de 20 grifes pisaram na passarela, cada uma
exibia alguma atração especial como
atores de novela, BBBs, ex e futuros... Um evento que parece uma
cobertura tranqüila e glamourosa,
torna-se entrevero de fotógrafos
e cinegrafistas em busca a melhor
imagem.
Estudantes de jornalismo, fotógrafos de grifes, imprensa e sites da
moda se acotovelavam em espaço
reduzido na busca por um belo sorriso, um olhar marcante ou até um
escorregão. Nada. Quem se move na
hora, diante da lente, é uma careca
reluzente. Ao tentar nova foto, ele
leva pisada no pé, cotovelada no
peito. Parece guerra.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
Professores Responsáveis:
Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação
e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Élson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
ESTAGIÁRIOS:
Editores: Brenda Parmeggiani, Lidiana de
Moraes e Susy Sousa
Editores de Fotografia: Fernanda Fell
Editores de Arte: Brenda Parmeggiani, Juliana
Borba, Manuela Kanan e Sabrina Silveira
Repórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda
Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Bruna Longaray, Cecília Mombelli, Daniela da Silva Cenci,
Fabiana Klein, Fernando Rotta Weigert, Francine Natacha da Silva, Giovanna Milani, Laion
Espíndula, Lidiana de Moraes, Maíra Fedatto,
Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da
Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima, Rafael
de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira, Susy Sousa, Tatiana Feldens, Tiara Vaz Ribeiro, Thais
Silveira e Vinícius Roratto Carvalho
Repórteres Fotográficos: Caroline Bicocci,
Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Freitas, Luciana Nunes, Manuela Kanan, Ricardo
Antunes, Sabrina Feijó, Taidje Gut, Thiago
Marques e Vinicius Carvalho
HIPERTEXTO
POLÍTICA 3
Porto Alegre, março e abril de 2007
Brasil
As mágicas do governo Lula
Comparações com os primeiros quatro anos e a economia são os desafios do segundo mandato
Lidiana de Moraes e Susy Sousa
“O Brasil está vivendo um
momento mágico”, discursa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
primeiro pronunciamento após a
reeleição, dia 29 de outubro de 2006.
Já nessa época, a crise aérea tomava
conta dos aeroportos. Seis meses
depois do começo do segundo
mandato de Lula fica a pergunta: o
momento mágico ainda existe?
Iniciar um segundo mandato é
garantia de que comparações serão
feitas. A cientista política Aurea Petersen vê a continuidade do trabalho
como uma meta a ser atingida: “O
primeiro governo foi dedicado a fortalecer a economia e buscar soluções
para os problemas sociais mais sérios. Também foi dada grande ênfase
à política internacional. Agora, seis
meses é pouco tempo para avaliar
um governo que ainda tem pela
frente três anos e meio. No entanto
,está sendo dada continuidade ao
trabalho do período anterior”.
Uma das primeiras providências
a ser tomada foi a escolha do Ministério. Assim começa o jogo da
escolha dos ocupantes das cadeiras
do alto escalão do governo. O líder
do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, em entrevista ao Estado de
São Paulo em 9 de abril, criticou as
alianças feitas pelo atual governo:
“Infelizmente o governo Lula não
entendeu o recado das urnas do se-
gundo turno e voltou a fazer alianças
políticas e de classe que representam
a adesão pragmática da direita com
o governo. A direita só quer ganhar
dinheiro e manter a exploração e
para isso se alia e controla qualquer
governo, mesmo que seja de um
ex-líder operário”.
Para Petersen, os ministros
devem ajudar a pôr em prática os
projetos do governo: “Eles foram
escolhidos pelo presidente, são seus
auxiliares diretos e respondem pelas
decisões em uma ou outra área, pois
são experientes na mesma”.
Entretanto, alguns fatos fazem
com que oposição ponha em dúvida
a capacidade dos escolhidos por
Lula. Em 26 de março de 2007, o
senador Alfredo Nascimento (PRAM) foi confirmado como novo
Ministro dos Transportes, mesmo
ele sendo suspeito de falsificar documentos fiscais, comprado votos e
cometido crime de abuso de poder
econômico na campanha de 2006.
A economia
A estabilidade econômica brasileira é outro ponto de discussão entre o presidente e os adversários. O
professor de Mestrado da disciplina
Desenvolvimento Econômico, Nali
de Souza, faz uma análise diferente
das condições do país: “A economia
está engessada por uma pesada carga
tributária e câmbio valorizado, o
que dificulta a expansão das exportações”. O professor crê que há a
Caroline Bicocci/ Hiper
Mauricio Lima/AFP
Crise dos controladores de vôo e o caos nos aeroportos movimentam o segundo mandato de Lula
possibilidade de aumentar o ritmo
de crescimento, mas para isso é
preciso estimular o investimento
privado, sobretudo o estrangeiro.
Quanto ao investimento nacional, é necessário que haja maior
desoneração fiscal de setores estratégicos e a redução das taxas de juros.
O coordenador regional do Partido
dos Trabalhadores (PT) e assessor
do gabinete do deputado Paulo
Pimenta, Margenato de Mattos, de-
indício de que a população tem
esperança de que ocorram avanços
econômicos e sociais”. Margenato
de Mattos acredita que é preciso
manter o otimismo. “Espero que o
presidente não seja mágico, mas que
ele seja otimista, pois ele deve ser a
pessoa mais positiva do país”, reforça. Com mágica ou sem mágica, Lula
ainda tem alguns anos de mandato
para provar para o povo brasileiro
que a realidade pode mudar.
Jovens aprendem a língua do Leão
Maria José Mendes da Silva
Antes restrito aos adultos, o IR vira realidade aos jovens também
fende o momento que a economia
brasileira vem passando e acredita
que o fim das dívidas com o FMI
e a queda do risco Brasil servem
como um indicador da estabilidade
econômica.
Mas então, a magia ainda está no
ar? Para Aurea Petersen, a confiança
dos brasileiros em seus governantes
é um fator importante para o progresso: “Os resultados eleitorais e
as avaliações do governo são um
O Imposto de Renda (IR) é
cobrado em vários países onde cada
pessoa ou empresa é obrigada a
deduzir um percentual de sua renda
média anual para o Governo. Se você
acaba de descobrir que passou a ser
contribuinte do IR, precisa entregar
a Declaração de Ajuste Anual em
2007 e achou tudo muito complexo,
é hora de aprender a declarar seus
rendimentos, o que deve ser feito até
o final deste mês, 30 de abril.
Conforme a legislação, a pessoa
física que em 2006 obteve rendimentos tributáveis acima de R$ 14.992,32
deve prestar contas à Receita. Essa
obrigação, antes responsabilidade
de adultos, passa a ser a realidade de
jovens também. “Algumas despesas
são dedutíveis da base de cálculo
do imposto, ou seja, pode-se usar
os gastos com a faculdade, plano de
saúde, dependentes etc., para reduzir
o IR a pagar”, explica o consultor
tributário Jairo Moraes.
A habilidade dos jovens com a
internet deve facilitar a declaração.
Usando programas IRPF 2007 e
Receitanet, a declaração é preenchida no programa IRPF e transmitida
com o auxílio do Receitanet.
O supervisor do Imposto de
Renda, Joaquim Adir, revela que
99% das declarações são feitas pela
internet. Segundo ele, a exemplo do
ano passado, muitas pessoas deixarão para enviar a declaração nos
últimos dias. “Em 2006, mais de 9
milhões de contribuintes deixaram
para enviar as declarações nos últimos quatro dias”, disse Adir.
Segundo o consultor Jairo Moraes, se o contribuinte não comprovar
as despesas contidas na sua Declaração de Imposto de Renda Pessoa
Física, a Receita processará os dados
sem os gastos não-justificados. Se
tiver imposto a pagar, será acrescido
de multa e juros desde a data do vencimento da primeira parcela. A multa
mínima para quem perder o prazo é
de R$ 165,74 e máxima de 20% do
imposto devido. Moraes lembra que
existem dois tipos de formulários, o
simplificado e o completo. Na declaração simplificada utiliza o desconto
de 20% dos rendimentos tributáveis,
limitado a R$ 11.167,20. Este desconto substitui todas as deduções
legais da completa, sem a necessidade de comprovação. O modelo
completo obriga o contribuinte a
preencher todos os campos. Podem
entrar na lista de deduções gastos
com saúde e instrução, contribuições
às previdência oficial e privada.
O prazo para a entrega das declarações termina dia 30 de abril às
20h, pela internet, e até o horário do
expediente bancário ou das agências
dos correios, caso a entrega seja feito
em disquetes ou formulários. O contribuinte que tenha recebido menos
de R$ 14.992,32 mil é considerado
isento e a declaração para esses casos
começa em outubro.
4 ÚLTIMas
Porto Alegre, março e abril 2007
recortes
Tatiana Feldens
Capital no mapa mundial da Cebit
Uma comitiva alemã esteve na
Capital no final de março avaliando as condições da cidade para
sediar a maior feira de tecnologia
do mundo. O interesse em trazer
a marca deste evento foi manifestado na última edição da feira, em
Hannover, na segunda quinzena
de março.
Uma parceria entre a Câmara
Municipal e a Softsul (Sociedade
Sul-riograndense de Apoio ao
Desenvolvimento de Sotware)
possibilitou a ida à Alemanha
de uma comissão, formada por
políticos e empresários. Criado
em janeiro deste ano, o “Comitê
Pró-Cebit” levou à direção do
evento uma apresentação de Porto
Alegre como potencial sede para
uma edição anual latino-americana
da feira.
Segundo José Antonio Antonioni, diretor-presidente da
Softsul, “uma edição da Cebit em
Porto Alegre atrairia empresas de
todo o mundo, colocando a cidade
no mapa mundial do setor”.
Raridades da ponte João Pessoa
Do trabalho de
conclusão de curso
à exposição na Câmara de Vereadores.
A ponte da avenida
João Pessoa com a
Ipiranga está na boca
do povo.
Primeira do mundo com árvores plantadas em sua estrutura, a ponte revela
segredos acerca do
passado da cidade,
segundo investigou
Ângela Maria Tavares, formada em Turismo pela PUCRS
em 2006. De acordo
com o estudo, as palmeiras-da-Califórnia
foram parar na ponte
por descuido de funcionários da Prefeitura, que arborizavam a
avenida.
Graduada também em História
(1971) pela PUCRS,
Ângela acredita que a
Ponte da João Pessoa
deveria ser explorada
como ponto turístico.
Com escadarias até
as margens, o monumento remete ao
tempo em que o arroio era navegável,
servindo de cais para
pequenas embarcações. Antes da canalização do riacho,
iniciada em 1941, a
ponte e seu entorno
eram locais de lazer.
Tatiana Feldens/Hiper
A Ponte Velha sobre o rio Neckar, na Alemanha
Heidelberg, Alemanha:
200 anos de história
Heidelberg, cidade entre
Frankfurt e Stuttgart, tem várias
pontes que atravessam o rio Neckar. Mas uma delas é especial.
Conhecida como Alte Brücke
(Ponte Velha), a estrutura é histórica e cativa milhares de turistas
anualmente.
Precederam a ela sete pontes
de madeira - a primeira construída
em 1248. Somente entre 1786 e
1788 foi erguida uma ponte de
pedra sobre o rio, com nove arcos
de cor vermelha. Esta estrutura
resistiu às forças naturais, até ser
destruída nos últimos dias da Se-
gunda Guerra Mundial, em 1945.
Um ano depois, curiosamente,
foi pescada das águas, pedra por
pedra, para em 1947, ser reconstruída, arco por arco, bonita e
impotente, como há 200 anos.
Do lado que dá para a cidade, a
ponte desemboca num portão medieval, parte da antiga muralha de
defesa do castelo de Heidelberg,
em que residiu durante cinco séculos a dinastia de Wittelsbach. No
topo da montanha, descortina-se
um panorama inesquecível com o
centro histórico, o rio, o castelo, a
ponte e o verde da paisagem.
HIPERTEXTO
Projeto do aeromóvel
ganha novo impulso
PUCRS e UFRGS desenvolvem tecnologia do veículo
Vinícius Carvalho/Hiper
Vinícius Carvalho
Localizado na praça em frente
à Usina do Gasômetro, com a
entrada cercada por uma grande
caixa de metal pichada e coberta
por cartazes de propaganda, o
aeromóvel parece esquecido às
margens da Avenida Perimetral.
Além da sujeira, o cheiro de urina
e os resquícios de uma pequena
fogueira mostram que a estrutura
construída para sustentar o que
seria um transporte do futuro
serve de abrigo para sem-tetos.
Agora, uma parceria firmada entre
a PUCRS e a UFRGS promete dar
nova chance ao aeromóvel.
O projeto visa desenvolver
tecnologias utilizadas pelo veículo
que teve seus primeiros passos
em 2003, quando a Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep)
decidiu retomar relações com a
Aeromóvel Brasil S/A (ABSA).
Um ano depois, um grupo de
trabalho criado pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia para analisar
os aspectos técnicos do sistema
ressaltou a necessidade de uma
iniciativa para dar novos impulsos
à tecnologia, aí começou a participação da PUCRS.
Em setembro de 2004, a PUC
demonstrou interesse na construção de um sistema de mobilidade
interna para facilitar a circulação
de pessoas. Foi lançada a proposta
de parceria com a ABSA e a criação de um Centro Tecnológico de
Mobilidade Urbana (CTMU). Para
o coordenador do projeto, Edgar
Bortolini, o grande ganho da universidade é acadêmico. “Temos
melhor ambiente para pesquisa,
bolsas, laboratórios, patentes, inovação e, no final, um laboratório
vivo”. Com a sugestão da inclusão
de uma universidade pública no
projeto, a UFRGS foi escolhida
para integrar a equipe devido ao
passado de estudos com a ABSA.
O aeromóvel projetado por Oskar Coester está parado
Segue exemplo da Cenpes, união
de universidades que empreende
estudos e desenvolvimento tecnológico para Petrobras.
A primeira etapa do projeto
já começou. “Agora, nos estamos
fazendo pesquisa e desenvolvimento, melhorando as tecnologias
desenvolvidas pelo Oskar Coester.
Nós recebemos, da Finep, R$ 3,4
milhões e temos um ano para
aprimorar as tecnologias,” explica
Bortolini. A modernização do material que reveste o eixo por onde
os veículos circulam é um exemplo
de atuação das universidades no
projeto. “A PUCRS, junto com
a UFRGS, vai melhorar as tecnologias e calcular um plano de
negócios, que tem que ser viável”,
completa o coordenador.
O protótipo do aeromóvel será
construído no segundo ano de
pesquisas, a linha experimental é
um laboratório real a ser utilizado
para certificar internacionalmente
o veículo. Em 2009, serão feitos
os testes. A PUCRS contará com
a presença de uma entidade internacional para fazer a certificação
do sistema. Bortolini exemplifica
como funciona a questão: “Existem normas internacionais a serem
atendidas. Um avião, por exemplo,
para voar comercialmente, precisa
ser certificado. Para isso, ele precisa ter tantas decolagens, tantos
pousos, transportar um número de
passageiros sem falha, é um ano de
teste de conformidade”.
Ao contrário do antigo aeromóvel, o projeto atual não visa
substituir os modelos de transporte modernos (ônibus ou metrô) e,
sim, um elemento de integração
que atuará onde estes meios não se
fazem presentes. “Hoje ninguém
deixa o carro no centro e vai de
metrô ao aeroporto, porque a distância entre metrô e aeroporto é de
900 metros Isso é uma lacuna de
um modal, o avião, para o modal
metrô”, argumenta Bortolini.
A parceria entre as universidades e a Aeromóvel Brasil pretende
desenvolver a tecnologia para tornar o veículo um negócio viável e
analisar seu impacto ambiental e
urbanístico. O campus da PUC foi
escolhido por simular os choques
da estrutura em uma metrópole.
Se o esforço for bem-sucedido, no
futuro, o porto-alegrense poderá
encher o peito e dizer: “Sabe esse
veículo moderno, barato e com
baixíssimo impacto ambiental e
custo que está sendo instalado por
todo o mundo? Bá, saiu daqui!”.
Há 25 anos, protótipo foi construído
O veículo que fará a ligação entre
campus central, Parque Esportivo e
Hospital São Lucas teve seu primeiro
protótipo construído em 1983. O
aeromóvel “é um como barco invertido com a vela dentro de um duto”,
esclarece o professor Edgar Bortolini. O veículo é impulsionado por
um sistema que converte a energia
elétrica em energia eólica, sem emissão de gases poluentes, característica
importantíssima hoje.
Além da linha de aproximadamente 1,1 quilômetro que vai da
Usina do Gasômetro até o prédio
da Receita Federal, mais conhecido
como Chocolatão, o aeromóvel tem,
desde 1989, um projeto comercial
em Jacarta, capital da Indonésia.
Esta via de 3,2 Km, que atravessa
o parque ecológico Taman Mini, já
transportou mais de três milhões de
passageiros naquele país.
O modelo desenvolvido pela
parceria tem características diferenciadas do exemplo indonésio, porque
não será veículo de massas, mas uma
alça de ligação entre os existentes.
Se o projeto decolar, lacunas no
deslocamento de universitários para
a Unisinos e a Ulbra poderão ser
resolvidas com um aeromóvel entre
o Trensurb e cada uma das universidades, além da possível união entre
a Avenida Perimetral, a PUCRS e o
campus da Agronomia da UFRGS.
HIPERTEXTO
Economia 5
Porto Alegre, março e abril de 2007
Exclusivo/ Hipertexto
Ribeiro explica venda à Record
Ex-proprietário do Correio do Povo acredita que o jornal manterá sua identidade com o Estado
Ricardo Romanoff/ Hiper
Bruna Holler Petry e
Bernardo Biavaschi
A decisão de vender os veículos
da Empresa Caldas Júnior à Rede
Record foi sendo amadurecida aos
poucos pela família Bastos Ribeiro.
A idéia inicial era fazer uma parceria
que favorecesse os lados envolvidos,
disse o ex-presidente do grupo, Renato Bastos Ribeiro em entrevista
exclusiva ao Hipertexto. “Analisando
a proposta com cuidado, junto com
os filhos, levamos em consideração
a qualidade do comprador que, sem
dúvida, sendo um grupo nacional de
comunicação, com credibilidade, tecnologia e respeitado, tínhamos como
certo que continuaria cumprindo os
objetivos que levaram à compra, no
passado e talvez, melhor que nós
mesmos,” explicou Bastos Ribeiro.
Foram examinados também outros
aspectos que se mostraram favoráveis
em termos de interesses familiares e
pessoais, que pesaram no momento
da decisão anunciada em março.
Agora no Rio Grande do Sul, a
Record entra para concorrer com a
RBS TV, afiliada da Rede Globo. A
Record pretende contratar novos
funcionários e veicular bons programas de telejornalismo, trazendo
uma nova opção aos telespectadores
locais. Designado para falar em nome
dos novos proprietários, o diretor
de redação do Correio do Povo,
Telmo Flor, informou que “a maior
mudança será na TV Guaíba, onde
ocorrerão alterações na programação
com a ampliação de programas jornalísticos. Na rádio Guaíba e no Correio
do Povo não haverá mudanças, nem
no formato do jornal nem na linha
editorial. Serão feitos investimentos
em tecnologia que possibilitem um
trabalho melhor, porém dentro da
linha já adotada nas últimas administrações. Afinal, o Correio tem história
secular que será preservada”, garante
Telmo Flor. Adiantou que a nova
administração estuda a permanência
ou não de programas regionais como
Câmera Dois. “Se os programas
continuarem, provavelmente terão
de mudar de horário por causa da
programação nacional e a grade de
horário local privilegiará programas
jornalísticos”, enfatizou o diretor.
Um século de história
Em 1º de outubro de 1895, o
pernambucano Caldas Júnior fundou
o Correio do Povo, jornal inovador
que se diferenciava dos outros por
ser “apolítico” e mais comprometido
com a causa pública. Além disso, contava com aparatos tecnológicos apropriados e com um quadro próprio de
jornalistas. Com a morte de Caldas
Júnior, em 1913, o jornal passou por
dificuldades econômicas, cessadas
quando Breno Caldas, filho de Caldas
Júnior, assumiu o impresso.
Nas décadas de 50 e 60, o Correio
Bruna Petry/ Hiper
Ribeiro: idéia amadurecida
estava em ascensão e havia se consolidado no Estado. Em abril de 1957, o
grupo se expandia com a fundação da
rádio Guaíba que se somava ao jornal
Folha da Tarde e, posteriormente, à
Folha da Manhã. Porém, a ditadura
militar implantada no país em 1964
passou a gerar problemas à empresa
devido à censura e à repressão militar.
Em 19 de setembro de 1972, após
publicar uma notícia vetada pela
censura, as edições do Correio do
Povo e da Folha da Manhã foram
apreendidas pela polícia federal, de
madrugada, na boca da rotativa.
Em 1979, a empresa passaria por
novos problemas devido aos altos
custos da instalação da TV Guaíba, justamente no período da crise
internacional do petróleo quando a
inflação recrudesceu, dificultando
novos financiamentos. Em 1980,
Breno Caldas fechou a Folha da
Manhã, tentando manter o Correio,
a Folha da Tarde, agora matutina,
e as rádios e TV Guaíba. Resistiu
mais quatro anos. Com a falência
definitiva da Caldas, o Correio e a
Folha pararam de circular em junho
de 1984. Dois anos depois, em 31 de
agosto de 1986, voltou o Correio,
sob o comando do empresário Renato Ribeiro, que também assumiu
o sistema Guaíba.
Segundo o empresário, as principais razões do investimento na Caldas
Júnior, em 1986, foram colocar o
Correio novamente em circulação
e manter a TV e a rádio, proporcionando ao Estado dois grupos de
comunicação, para que não houvesse
“informação monopolizada”, disse.
Ribeiro contou ainda que, com a
compra, não buscava o lucro, mas
sim promover o desenvolvimento
do Rio Grande do Sul, através de
“idéias positivas e construtivas que
Jornal publica notícia da venda para Record só no final de março
incentivassem os gaúchos”. Em 21 de
fevereiro, foi anunciada oficialmente
a venda da TV e da rádio à Record.
A inclusão do Correio do Povo na
transação só foi confirmada em 12
de março de 2007.
A TV Guaíba entrou no ar em
1979. A emissora não é filiada a
nenhuma rede nacional, por isso
se caracteriza pela programação
local. A Rádio Guaíba AM se destaca pela programação jornalística
e esportiva desde 1957, sendo a
primeira emissora a transmitir uma
Copa do Mundo (1958), direto da
Suécia. A Guaíba FM se firmou
pela qualidade da informação e da
seleção musical.
Expansão da rede
A Rede Record, de propriedade
do empresário Paulo Machado de
Carvalho, entrou no ar em 1953.
Aualmente, é dirigida pelo bispo Edir
Macedo, da Igreja Universal do Reino
de Deus, que comanda também a
Rede Mulher, a Rede Família, a Line
Records, 37 estações de rádio, a Rede
Aleluia e ainda o parque gráfico Universal Produções.
Consumidor reage à perda das marcas tradicionais
Cecília Mombelli
A venda da Refinaria de Petróleo
Ipiranga, anunciada em 19 de março,
representou a fuga de mais uma
marca gaúcha. Durante 70 anos, a
empresa foi controlada por cinco
famílias – Gouvêa Vieira, Tellechea,
Ormazabaal, Bastos e Aguiar com
raízes no Sul. A aquisição por um
consórcio formado por Petrobrás,
Ultra e Braskem confirma a tendência econômica dominante de
aglutinação de pequenas empresas
regionais em grandes redes.
Isso já aconteceu com outras
marcas conhecidas como gaúchas,
entre elas a Caldas Júnior, detentora
do jornal Correio do Povo, rádio
Guaíba e TV Guaíba, vendida para
à Igreja Universal; a Varig para Gol
e as Lojas Arno absorvida pelo Magazine Luiza. Reflexo de uma crise
econômica estadual, em que não há
mais incentivos para o desenvolvimento de indústrias locais, a crise
atinge o consumidor, diminuindo sua
auto-estima, com a perda de marcas
com as quais havia certa identidade.
O consumidor do Rio Grande
do Sul é conhecido por seu gosto
exigente. Com um forte sentimento
de vaidade, orgulho, bairrismo e
separatismo – permanente desde a
Revolução Farroupilha – desperta
um sentimento de posse em relação
as suas marcas, destoando do processo de globalização. Levando em
conta a especificidade do público,
a atenção se volta para a aceitação
da mudança e de como será a assimilação do produto pela população
local para não acentuar ainda mais o
sentimento de perda. Nesse aspecto,
“a comunicação ocupa um lugar de
destaque, mantendo o vínculo da
marca com o seu público”, analisa
a professora de relações públicas da
PUCRS Iara Silva.
Tendência da venda
de grupos tradicionais
desgastam marcas locais
Um exemplo de assimilação e
manutenção da marca ocorreu com a
venda das lojas Arno, oriunda de Caxias do Sul. Comprada pelo Magazine
Luiza, o logotipo foi mantido, como
um casamento bem-sucedido entre as
redes. Gradualmente, o nome Arno
foi deixado de lado, até que Magazine
Luiza fosse assimilado por completo.
O processo contou com um amplo
apoio da DCS, agência de publicidade
detentora da conta das Lojas Arno,
que colaborou com intensivas pesquisas e campanhas publicitárias.
Diante da recessão econômica
que atinge o Sul do país, as alternativas para as empresas são fusão
com grandes companhias, caso da
Ipiranga, ou a expansão dos negócios
para todo o Brasil. É o caminho traçado há muito tempo pelas empresas
Gerdau e Gad Design, a primeira
conhecida no mercado internacional
e, a segunda, no nacional, que já são
conhecidas no mercado internacio-
nal, e recentemente escolhido pelas
Lojas Colombo. O ano 2000 marcou
a expansão para o mercado de São
Paulo, passo importante para nacionalização da marca. Hoje, a Colombo
é a terceira maior rede de varejo de
eletros e móveis do país.
Sem dúvida, a marca exerce um
peso definitivo na comercialização
de produtos. “É ela que fornece
sentido e significado para o produto”, comenta Iara, despertando o
vínculo direto com o consumidor e
a emoção necessária para a compra.
Independente de sua localização e
porte, a empresa precisa conquistar
seu público. É necessário “pensar
globalmente e agir localmente, pensar a cultura em que está inserida”,
reforça Iara.
6 Reportagem
Porto Alegre, março e abril de 2007
Sem verbas,
Casas de
Estudantes
vivem agonia
Há cinco anos, não há repasse de
recursos públicos para manutenção
Dani Cenci
Meia-noite e meia e ainda faltam
duas pautas a serem discutidas. Na
manhã seguinte, segue a rotina de
aula e trabalho. Essa é a vida de quem
mora em casa de estudantes: assembléias até altas horas para solucionar
problemas, mas também grandes
amizades conquistadas. Quatro
instituições abrigam estudantes na
Capital: Centro Evangélico Universitário de Porto Alegre (Ceupa), Casa
do Universitário Aparício Cora de
Almeida (Ceuaca), Casa do Estudante Universitário (CEU), Juventude
Universitária Católica (JUC-7).
Os universitários, na maioria vindos do interior do estado, procuram
as casas como única opção para continuar estudando. Com uma contribuição mensal (“rateio”), os próprios
moradores mantém as instituições
vivas, pois a falta de verbas públicas
implica condições precárias. São
oito residências em Porto Alegre,
três pertencem à UFRGS. Dessas, a
principal é a CEU, na Avenida João
Pessoa, onde a administração é diferente das demais: dez funcionários
cuidam de sua organização.
São 400 pessoas divididas em seis
andares habitáveis. No primeiro, está
o Restaurante Universitário (RU), no
segundo, a administração. Em cada
andar há 35 quartos coletivos e dois
individuais para os dirigentes. A
CEU é considerada uma das melhores em estrutura e localização. Além
disso, por ser a única gratuita, recebe
somente alunos da UFRGS. O processo de seleção de novos moradores
é mais rigoroso, porque as vagas são
muito disputadas. Segundo o morador Emerson Marondi, o contato
com os companheiros é restrito, a
sala é o único espaço coletivo. As três
casas da instituição são independentes uma da outra.
A mais antiga
Estudantes da Faculdade de
H IPERTEXTO
Fernanda Fell/Hiper
Plenárias: eles se reúnem para discutir a administração e como enfrentar os problemas financeiros
Direito de Porto Alegre fundaram,
em agosto de 1934, a Ceuaca, a
mais antiga das casas, situada na rua
Riachuelo. Desde a criação, o estabelecimento sofreu várias reformas.
No começo, abrigava 70 pessoas,
hoje são mais de 90. Em 1959, foi
reconhecida como entidade pública
estatal e três anos depois como federal. O universitário Elias Grazziotin
Rigon explica que na gestão da casa
tem presidente, vice, secretário e tesoureiro. Eles coordenam os departamentos de infra-estrutura, cultural,
financeiro e interno. Existem ainda
os Conselhos Deliberativo e Fiscal.
A Ceuaca recebe também bolsistas
estrangeiros por meio de programas
como o Brasil-África.
O sistema de moradia do Centro Evangélico Universitário de
Porto Alegre (Ceupa) é parecido
com a Ceuaca. Já que a instituição
é dividida em três casas na Cidade
Baixa, há quatro comissões mistas
que trabalham em prol de todas. As
reuniões das casas são presididas por
coordenador e vice, que verificam a
administração das residências. Esse
é o momento em que os universitários se unem pelo mesmo objetivo
“a casa só depende de nós, estamos
no mesmo barco, o negócio é trabalhar”, afirmou a tesoureira Lisiane
Kuhn, da Casa II da Ceupa, situada
na rua José do Patrocínio, nº 648.
Uma das vantagens dessas moradias é a valorização dos cursos dos
moradores, que podem aplicar o
aprendizado da faculdade na resolução dos problemas das casas.
Em residências, como a JUC-7,
todos os anos são recebidos novos
moradores graças ao esforço daqueles que chegaram antes. Eles não
pagam aluguel no fim do mês, mas
quem mora numa moradia estudantil
sabe que para continuar fazendo
parte dela são necessárias ações em
seu benefício. A convivência com
pessoas até então desconhecidas e
o contato com diferentes culturas
Fotos Taidje Gut/Hiper
Cotidiano de uma Casa de Estudantes: são moradores que vieram do interior do Estado sem condições de pagar por uma opção melhor
proporciona um grande aprendizado. Os sacrifícios são muitos. É o
que conta Elias: “A dificuldade é vir
do interior, de uma cidade pequena,
onde você tem um grupo de amigos,
comida feita pela mãe, roupa lavada
e, de repente, te jogam em Porto
Alegre, na Rua Riachuelo, onde
passam mais carros em um minuto
do que o dia inteiro na rua da sua
cidade. A questão de você ter um
espaço na sua cidade e depois ter que
aprender a dividi-lo com um colega
de quarto e outros moradores é o
que mais chama a atenção”.
Faltam recursos,
sobram amigos
A falta da família, dos melhores
amigos é substituída pelos novos
amigos, os moradores. Na Casa II
– Ceupa – a convivência dos moradores exemplifica isso. À noite, pelas
23 horas, cinco ou seis moradores
costumam estar na sala tomando
chimarrão, onde debatem assuntos
da atualidade ou relembram histórias. Todos lutam para conciliar
faculdade, trabalho e atividades da
casa. A esperança está em dias melhores depois da formatura.
Enquanto isso não chega, eles
procuram superar as precárias condições estruturais das moradias com
promoções para arrecadar recursos
– organizam rifas e festas – já que
as verbas desapareceram. Há cinco
anos, nenhuma delas recebe auxílio
público, apesar do artigo 198 parágrafo 2 da Constituição do Estado
estabelecer o dever de preservação
das casas de estudantes autônomas.
As residências mais antigas, como
Ceuaca e Ceupa, estão em piores
condições. Os moradores tentam
se responsabilizar pela manutenção,
sem experiência. Na Ceuaca, há problemas de infiltrações, assoalhos de
madeira podres, móveis corroídos
por cupins entre outros.
O descaso dos órgão públicos
pelas moradias é assunto abordado
freqüentemente entre universitários,
que estudam a possibilidade de ajuizarem uma ação conjunta das casas
para exigir o respeito deste direito.
HIPERTEXTO
Brasil 7
Porto Alegre, março-abril de 2007
Amazônia
Crateras no pulmão do mundo
Aumenta o número de iniciativas que buscam a preservação da maior floresta do planeta
Araquem Alcântara/AFP
Thais Silveira
Causas históricas, incentivos
fiscais, políticas de colonização que
geraram uma forte migração no
passado para fugir de problemas sociais, conflitos de interesse, ausência
de titularidade da terra, pressão da
reforma agrária. Resultado: os recursos naturais da Amazônia, maior floresta tropical do mundo, estão sendo
destruídos criminosamente.
Diante da iminente crise climática e da preocupação mundial com o
meio ambiente depois das previsões
da Organização das Nações Unidas
(ONU) para o aquecimento global, a
Campanha da Fraternidade, promovida pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), reacende
o debate sobre este assunto com o
tema “Fraternidade e Amazônia”.
A Amazônia Legal está no foco
da iniciativa, cujo objetivo é sensibilizar as pessoas para a preservação
e o uso sustentável das florestas,
além de incentivar o respeito pelas
populações que moram na região.
Ao final da campanha, será feita
uma coleta de alimentos e roupas
para ajudar as pessoas carentes que
ali residem.
Para conhecer a realidade e
resgatar a cultura do amazonense,
professores, funcionários e acadêmicos da PUCRS realizaram, no
mês de janeiro, no município de
Ji-Paraná, em Rondônia, a Missão
Amazônia II, integrando o projeto
Universidade Missionária do Centro
de Pastoral e Solidariedade.
Através de oficinas, palestras
e teatros, os missionários gaúchos
abordaram temas relacionados ao
meio ambiente, saúde e educação.
Em meio à devastação da floresta amazônica ainda há a esperança da preservação dos recursos naturais defendida pela CF 2007
Comunidades ribeirinhas e indígenas
receberam orientação nutricional e
sanitária, além de prevenção de cárie
e da dengue.
“Vimos uma Amazônia degradada, que dá lugar rapidamente
a grandes propriedades rurais de
plantações de soja ou criação de
gado. Também sentimos que falta
preservação da identidade do amazonense”, relata o irmão marista
Édison Hüttner, diretor do Centro
de Pastoral e Solidariedade da PUC,
unidade que promove o projeto
Universidade Missionária.
No período em que esteve na
região, Hüttner ficou surpreso com
o avanço da destruição da mata amazônica. Também critica “a ineficácia
do setor público, principalmente na
área da saúde”.
Indígenas com doenças de pele
foram diagnosticados através de
um projeto-piloto de Telemedicina,
realizado pelos alunos da PUCRS.
“Para obter um bom tratamento, a
única alternativa para essas pessoas
é recorrer a clínicas particulares, no
entanto, a maioria da população não
tem condições e recursos financeiros
para isso”, observou o irmão.
Segundo os missionários, é
necessário um trabalho de conscientização ecológica nas comunidades
indígenas. “São visíveis, em certas
aldeias, problemas como a destinação do lixo e agressões à floresta”,
revelou Hüttner.
A situação de degradação da
Amazônia provocou inclusive a
reação de parte do elenco da minissérie Amazônia – De Galvez a Chico
Mendes, de autoria de Glória Perez,
da Rede Globo. Os atores e demais
profissionais criaram o manifesto
“Amazônia para sempre”. A proposta é uma carta aberta que ao obter
o número necessário de assinaturas
será encaminhada ao presidente da
República para que sejam tomadas
as providências necessárias para
resolver este sério problema.
Críticas de Aznar ao populismo no Fórum da Liberdade
Fernanda Fell/Hiper
Lidiana de Moraes e Susy Sousa
Ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar abriu o evento
A América Latina deve tomar
cuidado com as novas políticas populistas. “O Estado não existe para
criar renda e emprego, mas para criar
as condições para que as empresas
desenvolvam essas condições com
liberdade”, disse o ex-primeiro
-ministro da Espanha, José Maria
Aznar, na abertura do 20º Fórum da
Liberdade, realizado dias 16 e 17 de
abril, na PUCRS.
Promovido pelo Instituto de
Estudos Empresariais (IEE), o
tema do Fórum da Libertadade foi
a “Propriedade e Desenvolvimento”. Foram debatidos o papel da
propriedade privada na prosperidade
econômica e social, as limitações legais e constitucionais ao uso da propriedade, o fim da reforma agrária,
a propriedade intelectual, a pirataria
e expropriações públicas.
O segundo dia do Fórum teve o
painel “As limitações Constitucionais
e legais ao direito de propriedade:
estímulo ou empecilho para o desenvolvimento”. Um dos palestrantes,
o frade dominicano e escritor Frei
Beto, afirmou que o Brasil não tem
futuro se não investir na população e
ainda descreveu a função dos poderes judiciário, executivo e legislativo:
“Muitas vezes os poderes, que têm
como princípio regular um ao outro,
acabam virando cúmplices em detrimento da sociedade civil”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou a 20ª edição
do Fórum da Liberdade. Discursando para o auditório lotado, o político
falou sobre liberdade, democracia
e propriedade. Quanto à tolerância
brasileira, FHC repreendeu a cultura
das quebras de leis, dizendo que “o
fundamental é um sistema em que as
pessoas se sintam responsáveis perante a lei e que ela seja cumprida”.
Fernando Henrique questionou a
integridade dos políticos brasileiros,
sem fazer críticas duras ao governo
Lula. Afirmou que não censura o
seu sucessor, mas sim, a estrutura
de poder. Nem o PSDB saiu ileso
de seus comentários. FHC disse ser
necessário mais eficiência na política
e que isso poderia começar com seu
partido, que precisa defender “em
alto e bom som” suas bandeiras.
O Fórum da Liberdade acontece
anualmente desde 1988 e já reuniu
nomes como Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello, Marco
Maciel, Nelson Jobim, Ciro Gomes,
José Serra, entre outros.
8 MUNDO
Porto Alegre, março e abril de 2007
HIPERTEXTO
América Latina
Fracassos neoliberais fazem
esquerda se expandir na América
Promessas de mudança dos movimentos de esquerda conquistam o sul do continente
Mauricio Lima/AFP
Fernando Rotta Weigert
As vitórias eleitorais da esquerda
nos últimos anos mudaram a América do Sul. Hugo Chávez, na Venezuela, foi o precursor do movimento.
Logo depois veio Lula, no Brasil;
seguido por Néstor Kirchner, na
Argentina, Tabaré Vazquez, no Uruguai, Evo Morales, na Bolívia, e, por
fim, Michelle Bachelet no Chile. Isto
significa que cerca de 300 milhões
de pessoas vivem a expectativa de
mudança. “E existe um descontentamento social enorme na região”,
segundo Michael Löwy, cientista
social brasileiro radicado na França.
É o resultado de 20 anos de políticas
neoliberais do Banco Mundial e do
FMI (Fundo Monetário Internacional). As implicações sociais foram
graves para a maioria da população,
agravadas as desigualdades e as conseqüências ecológicas.
Neste panorama existem duas linhas políticas diferentes: os que querem romper com o neoliberalismo,
como Venezuela e Bolívia; e os que
não romperam com o modelo econômico liberal, e procuram dar uma
variante mais social, o que esta sendo
conhecido social-liberalismo. Neste
último grupo estão o presidente
Lula, no Brasil, Tabaré Vázquez, no
Uruguai, Michelle Bachelet, no Chile,
e Néstor Kirchner, na Argentina. Há
ainda uma vertente mais aberta ao
livre comércio, aceitando as idéias
dos tratados comerciais dos Estados
Unidos, como o governo chileno e o
uruguaio. Brasil e Argentina apostam
na integração latino-americana.
Os bolivarianos
Hugo Chávez e Evo Morales autodenominam-se “neo bolivarianos”,
julgando-se decendentes políticos
de Simon Bolívar, herói da independência da “América Espanhola”.
Ambos já tiveram enfrentamentos
com os EUA. Chávez foi derrotado
ao arquitetar um golpe de estado,
contra um governo venezuelano,
apoiado pelos norte-americanos.
E Morales porque não aceitou as
pressões americanas contra o cultivo
de coca – a cultura da planta é uma
tradição indígena milenar, e também
é o que traz o sustento de algumas
regiões do país.
Chávez aparece no cenário político venezuelano em 1992. O país
vivia uma forte desigualdade social:
10% da população mais rica concentravam 32% das riquezas do país, os
10% mais pobres possuíam apenas
1,6%. As conseqüências foram manifestações populares violentas, ônibus
apedrejados e saques a estabelecimentos comercias. Hugo Chávez,
então tenente-coronel, deflagra um
golpe de Estado contra o presidente
Carlos Perez. O movimento falhou,
Chávez foi preso, porém ficou conhecido em toda a Venezuela. Em
1998, Chávez foi eleito presidente,
com uma votação de 56%.
Seu primeiro ato foi assinar um
decreto para a realização de um
referendo popular a fim de convocar uma Assembléia Constituinte.
A idéia foi aprovada por 80% da
população. Na nova Carta Magna,
foram feitas mudanças na estrutura
política: a extinção do Senado e
a maior atribuição de poderes ao
presidente.
Evo Morales aparece para a
política como líder na luta contra os
esforços dos EUA de substituir o
cultivo da coca por banana. Concorreu à presidência da Bolívia em 2002,
sendo derrotado por Gonzalo Sánchez de Lozada. Em 2005, foi eleito
pregando idéias nacionalistas.
Chávez e Evo são os mais radicais em seus pronunciamentos e
ações. Têm um discurso feito na
medida para as populações de seus
países, que são preponderantemente
pobres. O jornalista Clóvis Rossi,
em artigo para a Folha de São Paulo,
advertiu que, não raro, as populações em busca de uma alternativa
podem “dar a vitória a candidatos
caudilhos, como o Hugo Chávez e
o Evo Morales. E, por mais que as
tentações autoritárias rondem, o fato
é que não há presos políticos nem na
Venezuela nem na Bolívia”.
Löwy acredita que, na ânsia por
respostas, os governos que melhor
se resolvem são o venezuelano e o
boliviano, pois têm uma postura mais
agressiva. “A esperança de mudanças
não pode esperar o cumprimento de
suas promessas. A mudança passa
pela capacidade dos setores populares se organizarem e lutarem para
mudar o quadro. Isso vale para todos
os países, inclusive para os mais
avançados. A Venezuela, por exemplo, passa por um processo muito
interessante, mas é excessivamente
dependente de uma pessoa, no caso,
Hugo Chávez, e de iniciativas que
acontecem de cima para baixo.”
O grupo composto por Lula,
Kirchner, Bachelet e o presidente
uruguaio Tabaré Vazquez busca uma
“adaptação” dos ideais de esquerda
ao neoliberalismo. No Brasil, foi im-
Originário da esquerda, com aliados ao centro e direita, Lula se move em um polulismo social
plementado o projeto Bolsa Família,
que dá uma ajuda mensal a famílias
de baixa renda. Kirchner enfrentou
a pior crise econômica da história
argentina, e conseguiu abater 80%
da dívida externa. Bachelet, por sua
vez, introduziu o crédito educativo,
para aumentar as oportunidades de
estudo para a juventude chilena.
O cientista político Noam
Chomsky, em entrevista para Agência de Notícias Peruana, diz que é
a primeira vez, desde a conquista
espanhola, que a América do Sul se
move de forma integrada. A última
vez que os EUA estimularam um
golpe de Estado foi em 2002, na
Venezuela, sem sucesso. A morte,
em dezembro de 2006, do ex-ditador
chileno Augusto Pinochet fechou
um ciclo na América do Sul. Para
Clóvis Rossi, ele “morreu no mesmo
mês em que se fecha um dos mais
democráticos ciclos eleitorais do
subcontinente, o modo civilizado
de resolver divergências de cunho
político ou ideológico”. O último exditador ainda tinha de influência em
seu país. Hoje a América caminha,
sim, para a esquerda.
HIPERTEXTO
esporte 9
Porto Alegre, março e abril de 2007
Atlântida
Circuito de surfe amador
define atletas para Mundial Júnior
Jovens surfistas são promessas brasileiras no esporte e representarão o país em maio em Portugal
Luciana Nunes/Hiper
Luciana Hoffmann Nunes
As condições do mar estavam
desfavoráveis, mesmo assim a gurizada arrebentou na 2ª etapa do
Circuito Brasileiro Amador de Surfe
,na praia de Atlântida, dias 30 e 31 de
março e 1º de abril. “O Rio Grande
do Sul não foi longe para gente vir
aqui e conseguir a vitória”, exaltou
orgulhoso o presidente da Associação de Surfe da Praia da Pipa,
Pedro Neto.
Quatro dias de viagem e tempo
ruim não foram empecilhos para a
galera do Rio Grande do Norte vir e
mostrar talento. Os potiguares venceram a categoria Open com Tom da
Pipa e a Júnior com Jadson André.
O Maresia Brasileiro de Surf
é organizado pela Confederação
Brasileira de Surfe (CBS). Na edição
deste ano, as etapas do campeonato contaram com equipes do Rio
Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Bahia e Espírito Santo.
Desde 1988, o Circuito Brasileiro Amador de Surfe tem papel
fundamental na evolução das categorias de base do esporte. Além de
formar o ranking das divisões Open,
Junior, Mirim e Iniciante, Feminino Open
e Feminino Júnior, também seleciona
as equipes que representão o Brasil
em campeonatos internacionais.
Nesta segunda etapa, foram definidos os 12 surfistas que irão para
o Mundial Júnior em Portugal, em
maio e ao término do circuito, serão
reunidos aqueles que participarão do
Panamericano de Surfe, no Chile.
O circuito também serve para
revelar os futuros surfistas profissionais. “Todos os atletas brasileiros
no WCT, em algum momento da
carreira, passaram por este circuito
quando mais novos”, explicou o
diretor técnico da CBS, Marcos
Bukao.
Onze estados participam da
20ª edição do campeonato. Para o
técnico da equipe gaúcha de surfe,
Cristiano Figo, é importante sediar
o evento: “O estado estava fora do
cenário do circuito brasileiro há oito
anos. Esse evento fortalece a base
do surfe para chegarmos ao de alta
performance, o surfe profissional,
onde, hoje, há dois atletas que fazem
parte do top do esporte, o Rodrigo
Dornelles, no circuito WCT e o Daison Pereira, no Super Surf, circuito
brasileiro nacional da elite”.
Orlando Carvalho, presidente da
Federação Gaúcha de Surfe (FGS),
ressalta que a vinda do circuito para
Após oito anos, evento voltou a ser promovido no litoral gaúcho, atraindo grande público para praia de Atlântida
a praia de Atlântida comprova que
a primeira meta da Federação foi
atingida. “Conseguimos fortalecer
o surfe e devolver a credibilidade.
Agora, nos preocupamos com os
surfistas profissionais”.
Este circuito também coloca
o Estado na mídia e mostra às
prefeituras que esses eventos são
importantes para os municípios.
“Nós movimentamos restaurantes,
bares e hotéis, isso nos fortalece
junto ao poder público. O Governo
do Estado nos enxerga como um
potencial enorme de turismo”, disse
Carvalho.
A troca de experiências também
é valorizada. “É fundamental o intercâmbio entre estados, pois o surfe
é um esporte altamente evolutivo.
Quanto mais se surfa, a tendência é
melhorar. Os atletas de nível técnico
inferior absorvem ensinamentos
e virtudes dos concorrentes. E,
aumentam sua bagagem”, coloca
Figo.
“Esse evento fortalece
a base do surfe para
chegarmos ao de alta
performance.”
O líder do circuito gaúcho e
sétimo no ranking brasileiro, Vini
Fornari, também frisa os aspectos
positivos do campeonato que fortalecem circuitos estaduais, atletas
e juízes que aprendem a lidar com
o diferencial de manobras radicais.
Fornari ficou em terceiro na categoria Open.
A paranaense Nathalie Martins,
vencedora da categoria feminina
júnior, avalia as condições da vitória
como difícil. “O mar estava complicado, consegui garantir minhas
duas ondas, a rebentação difícil,
tinha que ficar indo e voltando, era
muito longe. Mas garanti a vitória.
Isso é que vale”. Para a surfista, o
surfe feminino tem evoluído mais a
cada ano: “Eu comecei a competir
em 2004 no circuito nacional e tinha
muito menos meninas surfando bem.
Agora, desde a primeira fase já tem
uma bateria difícil. Está todo mundo
evoluindo. E acho que o Brasil tem
futuro. Daqui uns anos teremos vá-
rias representantes”. Confirmando
o avanço feminino no esporte,
Cristiano Figo destaca três surfistas
brasileiras: Tita Tavares, Jaqueline
Silva e Silvana Lima.
As redes de pesca continuam
sendo um grande problema para a
prática de surfe no litoral. O técnico
Cristiano Figo sugere que as áreas de
pesca e surfe sejam bem demarcadas
a partir de placas. “Se o pessoal pegar o mapeamento do litoral gaúcho,
do Cassino até os molhes de Torres,
e passar nesse mapa as áreas livres
e perigosas para o surfe, já é um
começo. Acredito que deve haver a
conscientização dos surfistas, pescadores e dos órgãos competentes (federação, Estado, polícia, prefeituras)
para o problema não se repetir”.
prática constrói amizades, cultua vida saudável e a natureza
Se tratando de saúde, o surfe
trabalha basicamente todos os
músculos. Quem possui mais
domínio sobre o eixo do corpo,
executa a melhor performance
dentro d’água.
Os critérios de julgamento
do circuito, contido no livro da
CBS, instiga o surfista a fazer
com o maior grau de dificuldade e
controle as manobras mais radicais
nas partes críticas da onda, zona de
maior energia. O surfe inovador e
progressivo, feito com grande variação, velocidade, força e fluidez,
nas melhores ondas, potencializa
o surfista a receber melhores notas.
Além da capacidade do atleta, o
trabalho do técnico é essencial para
o bom desempenho dos surfistas.
Segundo Cristiano Figo, “o técnico
deve saber instruir os atletas dentro
das baterias para o melhor posicionamento e, também, para a interpretação da avaliação da arbitragem.
Mas 80% é motivação!”
O surfe oferece oportunidade
para o desenvolvimento do indivíduo também no aspecto social.
“O surfista carrega amizades até
o fim da vida. O surfe é uma tribo
unida por um propósito que não é
simplesmente entrar na água. Existe
uma filosofia de vida: valorização
da natureza, bem-estar, sáude e
respeito”, explica o técnico.
10 letras
Porto Alegre, março e abril de 2007
HIPERTEXTO
Literatura
García Márquez, 80 anos sem solidão
25 anos depois do Nobel, colombiano é considerado o melhor escritor vivo da língua espanhola
STR/AFP Photo
Patrícia Lima
“A verdade é que escrevo, simplesmente, porque gosto de contar
coisas a meus amigos”, declarou,
em 1968, Gabriel García Márquez,
ou “Gabo”, como é chamado pelos
íntimos. Nascido em 6 de março de
1927, comemora este ano três aniversários: 80 anos de nascimento, 40
anos da publicação de Cem Anos de
Solidão e 25 anos do prêmio Nobel
de Literatura.
O escritor já vendeu enciclopédias, cursou Direito, mas abandonou
para estudar Jornalismo, onde se
tornou repórter e escreveu para
jornais nas cidades de Cartagena e
Bogotá, na Colômbia. Ele garante
que nunca abandou a profissão de
jornalista, trazendo vários de seus artigos e reportagens para o conjunto
de sua obra. Foi isso que ele fez em
1996 quando publicou Notícias de
um Seqüestro, um de seus maiores
sucessos, onde relata uma série de
seqüestros, entre os quais o do atual
vice-presidente da República, Francisco Santos, ordenados pelo antigo
chefe do narcotráfico colombiano,
Pablo Escobar.
Participou ativamente da política
conflitante da Colômbia. Na década
de 1980, exilou-se no México depois
de ser acusado de manter vínculos
com o movimento guerrilheiro M19. Mais tarde, ajudou a negociar
conversações com as FARC, maior
grupo rebelde do país.
Para a coordenadora do Departamento de Estudos Literários
da Faculdade de Letras da PUCRS,
Comemorações de 2007: García Márquez completa 80 anos de
idade e 25 anos de conquista do prêmio Nobel de Literatura
Regina Kohlrausch, a obra mais
importante do autor é Cem Anos de
Solidão, pela forma como ele joga
com a linguagem e pela representação da situação sócio-política da
América Latina. O romance descreve um universo, cujo resultado
pode ser lido como uma metáfora
da condição humana, no sentido de
representar o nascimento, a sobrevivência e a morte de cada indivíduo,
de uma família e também de uma
comunidade. “Apesar do fim, que
projeta uma visão pessimista frente
à vida, o livro é fantástico, nos dois
sentidos, por isso importante”, des-
taca a professora.
A obra, que vendeu 32 milhões
de cópias no mundo, faz parte de
uma edição especial com 756 páginas e tiragem de um milhão de
exemplares. O livro se tornou um
sucesso de vendas, chegando a ter
comercializados 150 mil exemplares
por semana, entre a Espanha e a
América Latina.
Segundo os organizadores, o livro comemorativo foi revisado pelo
próprio autor e tem análises escritas
por diversos nomes da literatura.
Entre eles, o peruano Mario Vargas
Llosa, com quem García Márquez
Os jornais gratuitos disputam
leitores nas ruas de Londres
Giovanna Milani
Em uma cidade onde a população beira oito milhões de pessoas, é
compreensível que circulem aproximadamente 60 jornais matutinos,
vespertinos e noturnos em Londres.
Com tanta variedade, são os jornais
gratuitos que chamam a atenção,
não apenas por sua alta circulação,
mas pela abrangência e aceitação
de público.
Relativamente novos no cotidiano da população inglesa, Metro,
London Lite e The London Paper
já conquistaram os corações e as
mentes daqueles tão acostumados
com a abundância de informação.
Os jornais gratuitos funcionam
como um chamariz para as grandes
manchetes dos jornais tradicionais.
É uma leitura fácil e rápida, mas que
desempenha bem a incumbência de
agradar as mais diferentes culturas
existentes em Londres.
Essa nova tendência gratuita
está tomando dimensões mundiais.
Austrália, Canadá, França, Portugal,
Estados Unidos, Hong Kong, Singapura e Taiwan já estão editando seus
próprios jornais gratuitos diários.
Até a tiragem destes jornais chama a
atenção e é um alívio para os patrocinadores. O Metro tem uma tiragem
diária de 400 mil cópias, atingindo
aproximadamente 980 mil pessoas
por dia. Dessas, 78% têm entre 15
e 44 anos.
A forte influência da publicidade nesses veículos de comunicação
também gera uma crise no conteúdo.
A maioria das matérias é comprada
de agência e as que são escritas têm
normalmente poucas linhas em
quatro parágrafos.Lançado em 4 de
setembro de 2006, The London Paper foi o primeiro jornal destinado a
brigar com um mercado praticamente dominado pelo Evening Standart
desde 1987.
No fim de agosto, exatamente
uma semana antes do lançamento
do The London Paper, a companhia
que produz o Evening Standart
transformou o seu então Standart
Lite no novo London Lite para competir pelos mesmos leitores. A briga,
agora, é pelos pontos de distribuição
nas ruas e nos metrôs da capital da
Inglaterra.
andou rompido. O motivo da briga
em um cinema da Cidade do México
nunca foi esclarecido por nenhum
dos dois escritores. Entre as muitas
versões existentes para o caso, uma
delas explica que eles teriam se desentendido por causa da mulher de
Llosa, para quem García Marquez
teria se insinuado em Barcelona, na
Espanha.
Entre a vida e a morte
Considerado o escritor vivo mais
importante da língua espanhola,
García Márquez tem mais de uma
característica marcante. Entre elas
estão a linguagem, o retorno da arte
de contar histórias, a presença do
realismo mágico, a representação
da problemática social e política da
América Latina, como as guerras,
resultado de perseguições e eliminação de inimigos nas ditaduras.
O roubo das terras, o imperialismo
econômico, as injustiças, o autoritarismo, ou seja, a denúncia também
estão presentes.
Há uma outra marca, comentada
por estudiosos, que consiste numa
espécie de conflito entre um apego
e desapego à vida. De um lado,
expressa uma visão positiva da vida
e, em outro, um pessimismo e uma
visão trágica. Segundo professora
Regina, a maior contribuição à
literatura é ter escrito e publicado
um conjunto de obras que retratam
um universo não apenas americano,
mas universal, ter resgatado a arte de
contar histórias, além de contribuir
com a divulgação da literatura latinoamericana.
Outras obras
Memórias de Minhas Putas Tristes,
lançado em 2004, é a mais recente
obra do autor, onde narra a história
de um nonagenário cronista e crítico
musical que, em seu aniversário de
90 anos, pretende presentear a si
mesmo com uma noite de amor
louco com uma adolescente virgem.
Porém, ao vê-la dormindo, não tem
coragem de acordá-la e se apaixona
por uma garota adormecida.
Na opinião do próprio autor, sua
melhor obra é O Amor em Tempos do
Cólera, publicado em 1985. O enredo
acontece no início do século 20 e
tem como cenário a América Latina.
Nele, o escritor conta a história de
amor que desafia o tempo entre a
jovem estudante Fermina e Florentino, um telegrafista pobre.
Publicado em 1981, Crônica de
uma Morte Anunciada conta, na forma
de reconstrução jornalística, a história do assassinato de Santiago Nasar
pelos dois irmãos Vicario.
2007 é repleto de comemorações. Além dos 80 anos de García
Márquez, são 25 anos do prêmio
Nobel, conquistado pela obra Cem
Anos de Solidão, e 40 anos do seu
lançamento. O livro já vendeu 32
milhões de exemplares.
Mas 2007 ainda marca um aniversário lamentável: os 30 anos
daquela briga com Vargas Llosa,
que lhe desferiu um soco no rosto.
Três décadas após o episódio, os
escritores estariam se reconciliando.
Só um aniversário de 80 anos para
unir dois grandes nomes da literatura
latino-americana.
Giovana Milani/Hiper
Em Londres, jornais são distribuídos gratuitamente nas ruas
HIPERTEXTO
música 11
Porto Alegre, março e abril de 2007
Show Carioca
Por que aplaudir Chico de pé
Cantor e compositor carioca volta a fazer turnês após 7 anos e lota três apresentações seguidas
Fotos Sabrina Feijó/Hiper
O público no Teatro do Sesi conseguiu chegar perto do ídolo
O estilo tranqüilo e as composições de Chico Buarque encantaram os porto-alegrenses
Bruna Longaray e Maíra Fedatto
O compositor, cantor e escritor
Chico Buarque foi aplaudido de pé
pelo público que lotou o teatro do
Sesi, em Porto Alegre, na noite de
31 de março, no seu último espetáculo, Carioca. Descrita desta forma, a
notícia é imprecisa e não reproduz a
emoção que magnetizava o ambiente. Quem estava no palco não era
simplesmente o artista consagrado
e reconhecido internacionalmente,
era um símbolo de uma época de luta
contra o regime político militar que
havia se instalado no país exatamente
naquele 31 de março, mas de 1964.
Quatro décadas depois, Francisco Buarque de Hollanda, Chico
Buarque, estava no centro do palco,
sem nenhuma censura, sentado com
seu violão e seu carisma. Fez o público cantar e sambar. Foi aplaudido
de pé como o poeta-compositor que
soube expressar as angústias de uma
geração que lutava por democracia,
pão, liberdade, cultura e educação.
Suas músicas estão marcadas por
uma visão utópica do amanhã que
ainda não chegou, carregadas de
expectativa diante do futuro,
Em 31 de março de 1964, os militares saíram dos quartéis e tomaram
o poder. Em 15 de abril de 1964,
Castello Branco foi eleito presidente
por Congresso Nacional dizimado
por cassações políticas. Em seguida
foram editados os atos institucionais
(AIs) que restringiram as liberdades
e movimentações políticas, iniciando-se um período de perseguições,
atrocidades e governos militares durante duas décadas. Sem voz, o povo
brasileiro falou através das artes. A
música popular brasileira expressou
a contrariedade e a insatisfação com
o processo econômico, político e
social e consolidou-se como a maior
oposicionista ao regime militar.
Instituiu-se, então, uma “rede de recados” onde circulavam mensagens
de liberdade e justiça, embora com
linguagem sutil e simbólica.
Avesso a entrevistas, badalações
e bajulações, Chico Buarque nunca
teve a pretensão de se tornar uma
unanimidade nacional. Descrito por
seu pai, o historiador Sérgio Buarque
de Hollanda, como alguém refratário à impessoalidade das leis, Chico
tornou-se o porta-voz do desejo de
liberdade e cidadania do povo brasileiro na ditadura.
Carioca de nascença, paulista
de criação, Francisco Buarque de
Hollanda nasceu em 1944, no Rio de
Janeiro e mudou-se para São Paulo
dois anos depois. Através da literatura tentou aproximar-se de seu pai.
“Ele vivia fechado na biblioteca e eu,
que tinha medo de penetrar naquele
território, comecei a ler algumas
coisas”, conta o compositor em seu
próprio site (chicobuarqueuol.com.
br). Aprendeu a tocar apenas ouvindo o dedilhar das violas alheias,
nasceu cercado pela cultura histórica
e jornalística de seu pai e pela musi-
As músicas de Chico
Buarque são marcadas
pela visão utópica do
amanhã que não chegou
calidade de suas irmãs Ana, Miúcha
e Cristina, todas cantoras. O menino
Chico, ainda na escola, compunha
suas primeiras canções Marcha para
um dia de sol, Canção dos olhos e Anjinho.
Adorado, o disco de João Gilberto,
Chega de saudade, não saía de sua
vitrola e conseqüentemente alterou
em definitivo a relação do garoto
com a música. Seu sonho era um
dia poder cantar com João Gilberto
e compor com Tom Jobim e Vinícius
de Moraes.
Os fãs puderam ouvir as músicas do último disco, Carioca
Em 1964, compôs a música Tem
mais samba, que seria o marco inicial
de sua carreira, em um musical do
colégio Santa Cruz. Um ano após
seu primeiro show, é lançado um
compacto com as músicas Pedro
Pedreiro e Sonho de um carnaval. Interpretando A Banda, junto com Nara
Leão, Chico divide o primeiro lugar
com Disparada – de Geraldo Vandré
– no 2°Festival de Música Popular
Brasileira. A composição teve tanto
sucesso que 24 horas depois da
apresentação foram vendidas 10 mil
cópias. No ano seguinte, Chico ficou
com o terceiro lugar no mesmo festival, com a música Roda Viva. Millôr
Fernandes o torna a “única unanimidade nacional”, título posto em
dúvida em 1968, quando foi vaiado
no Maracanãzinho, junto com Tom
Jobim, por vencer, com a música
Sabiá, o 3° Festival Internacional da
Canção Popular. A preferência do
público era para a revolucionária Pra
dizer que não falei de flores, de Geraldo
Vandré.
Chico Buarque virou sinônimo
de compositor censurado, pois produzia o som dos descontentes com
o governo da época. Suas músicas
eram classificadas como perturbadoras e críticas, e de cada três com-
posições, apenas uma era liberada
pelos censores. Após a decretação
do Ato Institucional nº 5, em 1968,
foi detido em sua casa. Com a intensa
repressão sobre artistas e intelectuais,
Chico se auto-exilou na Itália por
um ano. A composição Apesar de você
chegou a fazer grande sucesso, em
disco compacto, pois os sensores levaram algum tempo para perceberem
que não se tratava de uma canção de
amor e, sim, um protesto contra o
duro governo do general Médici. O
cerco às suas músicas fortificou-se e
para tentar driblar a censura, Chico
assume o pseudônimo de Julinho
de Adelaide. A música Cálice, feita
em parceria com Gilberto Gil, parecia baseada na agonia de Cristo,
quando na verdade o substantivo
era homônimo de cale-se, o verbo
no imperativo.
Chico é uma figura simples e, ao
mesmo tempo, sofisticada. Popular e
aristocrática. Homem cordial, embora retraído em público, os brasileiros
se acostumaram a ver em suas composições a expressão de denúncias
contra a violação de direitos políticos
e humanos ou injusticas sociais. Isso
explica, em parte, por que ele continua sendo unanimidade nacional e
merece ser aplaudido de pé.
12 ponto final
H IPERTEXTO
Fotos: Arquivo pessoal
O inexplicável
silêncio de
um colega
brilhante
Porto Alegre, março e abril de 2007
Bruno Guaragna Neumann deixa
saudade no coração da turma 349
Talvez pareça egoísmo, mas nós
é que perdemos. Perdemos um amigo, um colega, um futuro jornalista,
uma pessoa simpática, um sorriso
acolhedor, uma mente brilhante.
No dia 24 de março, perdemos
Bruno Guaragna Neumann, vítima de um acidente de trânsito – ele
foi atropelado por um táxi enquanto
andava de bicicleta na avenida João
Pessoa.
Se a tristeza nos toma por uma
vida promissora, jovem e de uma
pessoa tão querida ter acabado, ela
também nos corrói porque temos
de seguir sem ele. Nós, colegas,
embora venhamos a nos recuperar
do choque, levaremos sempre um
vazio pela falta que o Guaragna,
como costumávamos chamá-lo, faz.
Além disso, temos o privilégio de
carregar o que de bom recebemos
dele. Guardaremos para sempre as
suas lembranças.
Dizem que as perdas nos fazem
crescer como pessoa, que elas nos fortificam. O que a turma sente, hoje,
é a falta. Tomara que a presença
do Bruno, apesar de não ser física,
nos traga essa força, este estímulo,
que estamos precisando mais do
que nunca.
Depoimentos
iQuando fechei a porta de
i
das na República. O Guaragna vai
continuar vivo na nossa memória
até que a gente se encontre novamente. Até lá, nenhum jogo no
Olímpico será igual, nenhuma festa
será igual, nenhum dia será igual.
Juliana Borba
casa, pensei: acabo de voltar do
velório do Bruno. Impossível
acreditar. Tinha a impressão de
que em seguida eu falaria com ele
pelo computador ou telefone e comentaríamos o enterro. De quem?
De alguma outra pessoa, não fazia
sentido ser o dele. Infelizmente
isso não aconteceu. Foi como se
a leitura de um livro estivesse no
primeiro capítulo, mas as páginas
fossem arrancadas de repente. As
ótimas lembranças dos três anos
de amizade consolam a dor de uma
ausência muito presente.
Ricardo Antunes
iO Bruno foi um baita amigo. Nos víamos todos os dias,
na faculdade e no trabalho. Um
guri divertido e muito querido.
Ver um amigo como ele partir
assim é horrível, pois ele estava
em todos os momentos, desde as
aulas na Famecos até as cerveja-
iSabêêê, o Guaragna é uma
das criaturas mais adoráveis e divertidas com quem tive a sorte de
estar. Mesmo quando ele dizia:
“Sai de perto de mim”! – eu sabia
que podia ficar por perto. Todas as
homenagens nunca vão conseguir
expressar o que sentimos, a falta, a
saudade, as lembranças queridas, os
apertos em Buenos Aires. Mas lá vai
mais uma: “Um brinde à roupa do
Guaragna!”
Ana Luiza Bazerque
iO Bruno é como o Pequeno
Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, responsável por aquilo cativou
– talvez seja por isso que agora a
saudades é tão grande. Durante
a faculdade, quando o conheci,
O paulista, apaixonado pelo Rio Grande do Sul e pelo Grêmio, nos deixou mais cedo
A simplicidade do vazio
Com o passar do tempo, é fácil
descobrir o quanto a sensação do
vazio não está apenas nas grandes
coisas, mas, também, nas mais
triviais delas. Na sala de aula, uma
mochila sobre a classe será sempre
apenas isto. Porém, quando nos da-
mos conta de que uma em especial
nunca mais estará lá, consolida-se
um espaço ausente. Com ele, surge
a pior das saudades, aquela sentida
por algo perdido para a eternidade.
Outras mochilas certamente ocuparão o mesmo espaço. Porém, jamais
trarão consigo o amigo que tanto
nos faz falta. Nos resta, entretanto,
a melhor parte: as boas lembranças.
E estas, por sua vez, estão nas nossas
próprias mochilas e classes, para
nunca deixarem de existir.
Luiz Cabral
descobri no colega um amigo de
coração grande, convicções fortes e
de atitudes condizentes, mas simples.
Do nosso último abraço, um dia
antes do acidente, ficam as palavras
“que saudades” que nos falamos
por último e que, quem sabe um dia,
consigamos suprir.
Ana Pan
As marcas estão por toda parte.
O Bruno deixou em cada um de
nossos colegas um pouco dele. Os
guris ainda fazem as mesmas caretas que ele fazia. Fazem os mesmo
gestos. Tenho saudades de nossos
momentos juntos. Ele me levou
pela primeira vez no Olímpico...
virei gremista. Me levou nas costas
naquela corrida na Henrique Dias,
fez a melhor caipirinha na praia,
escolheu o melhor conto para nosso
curta-metragem. Obrigada, Bruno,
pelos momentos felizes, obrigada
por ter feito parte de nossas vidas.
Quando a piada é muito boa, alguém
insiste em lembrar: “O Guaragna
teria tirado o óculos”.
Aline Bianchini
em pronunciar a palavra folga. Os
olhos do Bruno brilhavam e meu
dia mudava. Beleza era uma palavra
recorrente. Do terno que ele usava,
do jeito que me cumprimentava. Se
o vazio fosse uma grandeza mensurável, seria agora imenso. Como
os sorrisos do Bruno, seu coração e
seus passos na pista de dança”.
Fernanda Morena
i Não o chamava de amigo,
pois o amava como um irmão. Ele
dizia que era meu mano. Sinto falta
do amigo e do meu irmão. Agora,
sou obrigado a aprender a fazer as
mesmas coisas sozinho. Rir das piadas sozinho foi o mais difícil. Para
todos os lugares que olho e todas as
coisas que faço, eu lembro do Bruno.
Ora sentado ao meu lado na sala de
aula, ora ao meu lado no Fusca, que
um dia ensinei a dirigir. Tínhamos
uma porção de planos para pôr em
prática antes do fim da faculdade
e depois também. Mas, agora, vou
ter que aprender a fazer as coisas
sozinho. Sabe!
Bruno Gazola
iBruno Guaragna Neumann
era o maior dançarino que já vi.
Sempre conseguia extrair um sorriso aberto do meu rosto. Assim
como nas breves conversas de
assuntos profundos. Ali transitava
nossa amizade. Ele me devolvia o
sorriso sincero quando eu insistia
iO Bruno era um guri muito
especial, um dos meus melhores
amigos. Estava sempre de bem com
a vida. Todos os momentos que
pude passar ao lado dele foram especiais e são lembrados com muita
saudade. Utilizando a frase de uma
amiga minha e ex-colega do Bruno,
“é difícil pensar em algum defeito
dele. Ele não tinha deifeitos, só
qualidades”. A saudade é imensa.
Para mim, o Bruno continua presente em todas as aulas, em todas
as manhãs, sentado naquele último
banco do saguão, bem pertinho
do CPM.
Manoela Andrade
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