PSICOPEDAGOGIA
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 89 • 2012 • ISSN 0103-8486
EDITORIAL / EDITORIAL.................................................................................................... 181
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
• Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com
dificuldades de aprendizagem......................................................................................... 183
• A consciência fonológica, a consciência lexical e o padrão de leitura de alunos
com dislexia do desenvolvimento.................................................................................... 194
• Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo RTI:
resposta à intervenção em escolares do ensino público.................................................208
• A eficácia de estratégias de remediação fonoaudiológica na avaliação das
dificuldades de aprendizagem......................................................................................... 215
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE
• A importância do estímulo precoce em casos com risco para dislexia:
um enfoque psicopedagógico.......................................................................................... 226
• Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral:
uma revisão bibliográfica.................................................................................................. 236
• A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências ............................... 244
• Processamento sensorial na criança com TDAH: uma revisão da literatura.....................256
PONTOs DE VISTA / POINTs OF VIEW
• Novos parâmetros da sociedade inclusiva: uma oportunidade de atuação
para a Psicopedagogia Institucional no ambiente corporativo........................................269
RESENHA / REVIEW
• Psicopedagogia e Psiquiatria: possibilidades de cooperação.......................................... 273
30
ANOS
VOLUME
29
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Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia /
Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São
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Mônica H. Mendes
Neide de Aquino Noffs
Nívea Maria de Carvalho Fabrício
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Maria Cristina Natel
Maria Helena Bartholo
Maria José Weyne Melo de Castro
Maria Katiana Veluk Gutierrez
Maria Teresa Messeder Andion
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Viviane Massad de Aguiar
Yara Prates
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SP
Associação Brasileira
de Psicopedagogia
sumário
EDITORIAL / EDITORIAL
• Maria Irene Maluf.........................................................................................................................181
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
• Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades
de aprendizagem
Correlation between cognitive-linguistic skills in students with learning difficulties
Cláudia da Silva; Simone Aparecida Capellini............................................................................183
• A consciência fonológica, a consciência lexical e o padrão de leitura de alunos
com dislexia do desenvolvimento
Phonological awareness, lexical awareness and reading patterns of students
with developmental dyslexia
Ana Maria Gomes Campos; Luciana Ribeiro Pinheiro; Sandra Regina Kirchner Guimarães.....194
• Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo RTI: resposta à intervenção
em escolares do ensino público
Performance in reading assignments through the model (RTI): response to intervention
in public education school
Andréa Carla Machado; Maria Amélia Almeida.........................................................................208
• A eficácia de estratégias de remediação fonoaudiológica na avaliação das
dificuldades de aprendizagem
The effectiveness of speech therapist intervention in the evaluation of learning disabilities
Lia Pinheiro; Jane Correa; Renata Mousinho..............................................................................215
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE
• A importância do estímulo precoce em casos com risco para dislexia:
um enfoque psicopedagógico
The importance of early stimulation in cases at risk for dyslexia: a psychopedagogical focus
Déborah Alcântara Prósperi Caridá; Mônica Hoehne Mendes..................................................226
• Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral: uma revisão bibliográfica
Neuropsychological assessment of subjects with brain injury: a literature review
Maria de Lourdes Merighi Tabaquim; Marlene Peres de Lima; Sylvia Maria Ciasca..............236
• A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
Youth and adults education from the perspective of the Neurosciences
Caroline Lacerda Dorneles; Aliana Anghinoni Cardoso;
Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho..................................................................................244
• Processamento sensorial na criança com TDAH: uma revisão da literatura
Sensory processing in children with ADHD: a revision of the literature
Vitoria Tiemi Shimizu; Mônica Carolina Miranda......................................................................256
PONTOS DE VISTA / POINTS OF VIEW
• Novos parâmetros da sociedade inclusiva: uma oportunidade de atuação para a
Psicopedagogia Institucional no ambiente corporativo
New parameters for an inclusive society: an opportunity for institutional psycho pedagogy
in the corporate environment
Maria Rosa Crespo; Priscila Covre; Elizeu Coutinho de Macedo..............................................269
RESENHA / REVIEW
• Psicopedagogia e Psiquiatria: possibilidades de cooperação
Psychopedagogy and Psychiatry: possibilities for cooperation
Raquel Tonioli Arantes do Nascimento; Antonio de Pádua Serafim...........................................273
EDITORIAL
A
s valiosas contribuições recebidas de diversos e reconhecidos pesquisadores fazem deste número da revista Psicopedagogia uma edição
bastante especial, que é aberta com o artigo “Correlação entre habilidades
cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades de aprendizagem”, de
Cláudia da Silva e Simone Aparecida Capellini. Elaborado a partir de recente
investigação das autoras, o artigo discorre sobre a verificação da interferência
entre as citadas variáveis pesquisadas e o desempenho escolar em sala de aula,
de alunos do 5º ano do ensino fundamental.
Em seguida, temos outro importante artigo, “A consciência fonológica, a
consciência lexical e o padrão de leitura de alunos com dislexia de desenvolvimento”, de Ana Maria Gomes Campos, Luciana Ribeiro Pinheiro e Sandra
Regina Kirchner Guimarães. Por meio da pesquisa realizada, as autoras concluíram que, para desenvolver a decodificação na leitura, os alunos devem
ser instruídos não apenas no processo de conversão grafema-fonema, mas
também a utilizar o contexto como auxílio no processo de reconhecimento
das palavras.
Já um outro trabalho científico de investigação sobre o processo da leitura,
realizado com alunos do ensino médio, de autoria de Andréa Carla Machado
e Maria Amélia Almeida, “Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo (RTI): resposta à intervenção em escolares do ensino público”, evidencia
a importância do ensino de leitura por meio de instruções específicas e vinculadas ao entendimento do princípio alfabético, ou seja, os escolares com
dificuldades em leitura precisam conhecer o mecanismo do sistema da língua
portuguesa, que podemos considerar como tarefas de identificação letra-som
à compreensão de texto.
“A eficácia das oficinas de estimulação em um modelo de resposta à intervenção”, de Lia Pinheiro, Jane Correa e Renata Mousinho, é o quarto artigo original
desta edição, que vem demonstrar o diferencial que constitui a estimulação
do processamento fonológico para prevenir dificuldades na aprendizagem da
leitura e da escrita.
“A importância do estímulo precoce em casos com risco para dislexia: um
enfoque psicopedagógico”, de Déborah Alcântara Prósperi Caridá e Mônica
Hoehne Mendes, é um interessante artigo de revisão a respeito da dislexia,
onde explanações e implicações neurológicas sobre esse distúrbio são amplamente discutidas sob o prisma da Psicopedagogia.
“Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral: uma revisão
bibliográfica” é o artigo que Maria de Lourdes Merighi Tabaquim, Marlene
Peres de Lima e Sylvia Maria Ciasca nos enviaram, e que constitui uma revisão
bibliográfica a respeito de avaliações neuropsicológicas de crianças e adolescentes com lesão cerebral, diagnosticados com paralisia cerebral e traumatismo
cranioencefálico. Os resultados desse estudo demonstraram que o número de
publicações no período investigado, relacionadas à avaliação neuropsicológica com a população de lesionados cerebrais, mostrou-se incipiente, mesmo
considerando a sua relevância sobre as condições evolutivas e nas proposições
interventivas educativas. 
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 181-2
181
EDITORIAL

É de Caroline Lacerda Dorneles, Aliana Anghinoni Cardoso e Fernanda
Antoniolo Hammes de Carvalho o artigo “A educação de jovens e adultos na
perspectiva das Neurociências”, trabalho que vem propor o desenvolvimento
de práticas pedagógicas mais significativas, voltadas para os interesses e as
necessidades desse público-alvo e, assim, melhorar a sua aprendizagem e
incentivar a continuidade nos estudos.
“Processamento sensorial na criança com TDAH: uma revisão da literatura”,
de Vitoria Tiemi Shimizu e Mônica Carolina Miranda, nos coloca frente às
ques­­­tões do comprometimento do desempenho motor e comportamental de
tais crianças, um dos poucos estudos a esse respeito na literatura.
Integra, ainda, esta edição o ponto de vista “Novos parâmetros da sociedade
inclusiva: uma oportunidade de atuação para a Psicopedagogia Institucional no
ambiente corporativo”, de Maria Rosa Crespo, Priscila Covre e Elizeu Coutinho
de Macedo, que discute como questões relacionadas à sociedade inclusiva aceleram e justificam a necessidade da inserção da psicopedagogia institucional
nas empresas e na administração pública.
Finalizamos esta edição com a resenha “Psicopedagogia e Psiquiatria: possibilidades de cooperação”, de autoria de Raquel Tonioli Arantes do Nascimento
e Antonio de Pádua Serafim, na qual os autores discorrem sobre o campo multidisciplinar de atuação da Psicopedagogia na atualidade e que encerra com
brilhantismo esta edição.
Desejo a todos boa leitura e excelentes momentos de reflexão.
Maria Irene Maluf
Editora
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 181-2
182
Correlação entre habilidades cognitivoARTIGO
-linguísticas
em escolares com dificuldades de aprendizagem
ORIGINAL
Correlação entre habilidades
cognitivo-linguísticas em escolares com
dificuldades de aprendizagem
Cláudia da Silva; Simone Aparecida Capellini
RESUMO – Objetivo: Verificar a existência de associação entre habilidades
de mesmo domínio cognitivo, do teste de desempenho cognitivo-linguístico
– versão coletiva e individual –, em escolares com dificuldades de
aprendizagem. Método: Participaram deste estudo 57 escolares da 4ª série
do ensino fundamental, com idade entre 10 anos e 5 meses a 14 anos e 7
meses, de ambos os gêneros. Como procedimento foi utilizado o Teste de
Desempenho Cognitivo-Linguístico, versão coletiva e individual. A versão
coletiva é composta por habilidades de escrita, aritmética, processamento
auditivo e processamento visual, e a versão individual é composta por
habilidades de leitura, consciência fonológica, processamento auditivo,
processamento visual e velocidade de processamento. Resultados: Os
resultados deste estudo revelaram coeficiente de correlação positivo entre
as variáveis dos subtestes, sugerindo que, quanto maiores os valores de
uma variável, tanto maiores os valores da outra. Conclusão: A correlação de
cada prova das habilidades do Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico
apresentou comportamentos paralelos, indicando que, para as provas
correlacionadas, o desempenho em uma variável interfere no desempenho
da outra, ocasionando, assim, um déficit quanto ao desempenho desses
escolares em sala de aula.
UNITERMOS: Aprendizagem. Transtornos de aprendizagem. Leitura.
Escrita.
Correspondência
Cláudia da Silva
Rua Goiás, 391, apt. 22 – Edifício Bounganville –
Cascata – Marília, SP, Brasil – CEP: 17509-140.
E-mail: [email protected]
Cláudia da Silva – Fonoaudióloga, Mestre e Doutoran­­­
da em Educação pela Faculdade de Filosofia e Ciên­­
cias da Universidade Estadual Paulista (FFC/UNESP),
Marília, SP, Brasil.
Simone Aparecida Capellini – Livre Docente em Lin­­­
guagem Escrita pela Faculdade de Filosofia e Ciências
da Universidade Estadual Paulista (FFC/UNESP),
Docente do Departamento de Fonoaudiologia e do
Pro­­­grama de Pós-Graduação em Educação da FFC/
UNESP, Marília, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
183
Silva C & Capellini SA
por unidades menores que a sílaba, ou seja, o
escolar deve compreender que as letras correspondem a segmentos sonoros sem significados,
os fonemas; para que consiga realizar com êxito
a correspondência grafofonêmica8-10.
Ao ingressar na escola, a criança domina o
sistema linguístico, em sua modalidade oral,
e apresenta suas habilidades cognitivo-linguísticas adequadas para o aprendizado. Mas,
ainda assim, a criança não tem noção de quais
aspectos fonológicos serão necessários para ler
e escrever, e precisa atentar-se para elementos
até então imperceptíveis, os fonemas. De fato, a
consciência fonológica evolui de uma ativida­­­de
inconsciente e desprovida de atenção para uma
reflexão intencional e com atenção dirigida. Essa
evolução parte do desenvolvimento conjunto do
aspecto cognitivo-linguístico por meio da construção de memórias lexicais e fonológicas, que
têm em sua subjacência o desenvolvimento do
processamento auditivo e visual11.
Para o pleno domínio do sistema lingüístico,
tanto na modalidade oral como na escrita, é necessário um processamento auditivo íntegro. O
processamento auditivo refere-se à eficiência e
à eficácia com a qual o sistema nervoso central
utiliza as informações auditivas, sendo responsável por agrupar, identificar e selecionar os sons
de acordo com a sua similaridade ou diferença12.
Da mesma forma que o processamento visual é
responsável por captar informações do ambiente
visual, identificando, selecionando e distinguindo
de forma aprimorada e detalhada os estímulos13.
A habilidade de processar símbolos visuais
deve se caracterizar pela rapidez em decodificar
símbolos (letras), de forma precisa e sucessiva,
sendo considerada, por diversos pesquisadores,
um aspecto importante para alcance do reconhe­
cimento automático das palavras durante a leitura. Quanto maior a habilidade de reconhecer
palavras escritas, rápida e acuradamente, mais
adequados estão os componentes cognitivos
envolvidos, entre eles, a memória fonológica de
trabalho, o acesso ao léxico mental, a organização e o processamento das informações visuais,
a retenção e a manipulação das informações14-16.
INTRODUÇÃO
A dificuldade de aprendizagem pode ser
entendida como um obstáculo ou barreira encontrada por alunos durante o período de escolarização, referente à assimilação ou à captação
dos conteúdos propostos em situação de sala de
aula. Tais dificuldades podem ser duradouras ou
passageiras, e ocorrerem em qualquer momento
do processo ensino-aprendizagem, levando os
alunos ao abandono da escola, à reprovação, ao
baixo rendimento escolar, ao atraso no tempo
de aprendizagem ou mesmo à necessidade de
ajuda especializada1.
Não existe um consenso, entre os vários au­­
tores, sobre a definição de dificuldades de apren­­­
dizagem, nem o como, o porquê ou o quan­­­­do ela
se manifesta. Segundo a literatura, as dificuldades de aprendizagem escolar se caracterizam
por um grupo heterogêneo de manifestações,
ocasionando baixo rendimento acadêmico nas
tarefas de leitura, escrita e de cálculo matemático, e que frequentemente, são acompanhadas
de déficits em habilidades sociais e problemas
emocionais ou de comportamento, podendo
levar ao desenvolvimento de sentimentos de
baixa autoestima e inferioridade2. Assim, essa
condição, quando persistente e associada a fatores de risco, presentes no ambiente familiar e
social mais amplo, pode afetar negativamente o
desenvolvimento do indivíduo e seu ajustamento
em etapas subsequentes3,4.
Torna-se importante considerar, entre as causas dos problemas de aprendizagem, questões
referentes às dificuldades na apropriação do sistema alfabética de escrita da Língua Portuguesa.
Pois, para que ocorra a apropriação do sistema de
escrita é necessário que a criança desenvolva os
componentes cognitivo-linguísticos e suas habilidades. Tais habilidades incluem atenção, reflexão,
manipulação, armazenamento da informação e
capacidade de pensar a respeito dos aspectos
constituintes da própria língua, capacidade essa
conhecida como consciência fonológica5-7.
Dessa forma, para que ocorra o domínio do
sistema alfabético da escrita é necessária a percepção de que as palavras escritas são formadas
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
184
Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades de aprendizagem
Dessa forma, tarefas que envolvem a habilidade de identificar, refletir e manipular segmentos linguísticos, abrangendo a capacidade
de operar rimas, aliteração, sílabas e fonemas,
além da capacidade de reflexão para consultar
e comparar, que avaliam o desempenho de escolares e permitem analisar as capacidades e
habilidades cognitivo-linguísticas e prever as
condições de processamento subjacentes de informações – auditivas e visuais – que importam
no desenvolvimento dessas habilidades17,18.
Alterações no desempenho cognitivo-linguístico podem influenciar a percepção dos segmentos da fala e no reconhecimento de elementos
necessários para a formação e identificação de
palavras. Por isso, torna-se de grande importância verificar se escolares com dificuldades
de aprendizagem apresentam algum déficit em
habilidades cognitivo-linguísticas. Além disso,
a análise de variáveis que compõem essas ha­
bilidades pode confirmar a presença de alterações que poderão comprometer o futuro aprendizado escolar19,20. Assim, a hipótese levantada
neste estudo é que as habilidades cognitivas-linguísticas quando alteradas se correlacionam,
podendo, assim, justificar a presença das difi­
culdades de aprendizagem nos escolares.
Para identificar possíveis alterações no desempenho cognitivo-linguístico e testar a hipótese proposta nesta pesquisa, este estudo fez uso
de um teste para avaliar diferentes aspectos do
processamento cognitivo-linguístico, visando
co­­­nhecer o perfil das associações e auxiliando
na identificação de habilidades alteradas em
crianças com dificuldades de aprendizagem da
4ª série do ensino fundamental.
Em decorrência do exposto, este estudo teve
como objetivo verificar a existência de associação entre habilidades de mesmo domínio do
Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico em
escolares com dificuldades de aprendizagem.
do gênero masculino e 19 (33,3%) do gênero
feminino, com idade entre 10 anos e 5 meses e
14 anos e 7 meses.
Como procedimento foi aplicado o Teste de
Desempenho Cognitivo-linguístico, em sua
versão coletiva e individual21. A versão coletiva
é composta pelas habilidades de escrita, aritmética, processamento auditivo e processamento
visual, e a versão individual é composta pelas
habilidades de leitura, consciência fonológica,
processamento auditivo, processamento visual
e velocidade de processamento. Dessa forma,
para que todas as habilidades analisadas neste
estudo pudessem ser avaliadas, tornou-se necessário a aplicação da versão coletiva e individual,
pois algumas habilidades presentes em uma
versão não constam na outra.
Os escolares selecionados para a aplicação
do Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico
– versão coletiva e individual – foram indicados
pelos professores, seguindo os critérios de inclusão de desempenho não satisfatório em sala
de aula, em dois bimestres consecutivos (média
de nota abaixo de 7,0), desempenho abaixo do
esperado em relação ao seu grupo classe, histórico escolar de dificuldades em aprendizagem
nos anos anteriores em avaliação de leitura e
escrita, assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e ausência de queixa auditiva
ou visual descritas nos prontuários escolares dos
participantes deste estudo.
Como critério de exclusão foram considera­­­
das a presença de deficiência sensorial (visual ou
auditiva), motora ou cognitiva e a não assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para a realização deste estudo, foram utilizados os seguintes procedimentos:
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Conforme resolução do Conselho Nacional de
Saúde CNS 196/96. Anteriormente ao início da
aplicação do procedimento, os pais ou responsáveis pelos escolares selecionados assinaram
o termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
autorizando a realização do estudo.
MÉTODO
Participaram deste estudo 57 escolares da
4ª série do ensino fundamental de uma escola
municipal do interior paulista, sendo 38 (66,7%)
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185
Silva C & Capellini SA
que o escolar foi orientado, pelo examinador, a ouvir uma palavra e, em seguida,
dizer o número de partes (sílabas) que
compõem a palavra falada;
• Processamento auditivo: composto de
subtestes em que o escolar realizou a discriminação de sons, a repetição de números, a repetição de palavras e a repetição
de não palavras, em que o examinador
determinou a atividade a ser realizada em
voz alta e o escolar realizou as atividades
também em voz alta;
• Processamento visual: composto de subtestes de memória visual com oito sequências de cartões, composta por dois a oito
cartões cada sequência, em que o examinador apresentou uma sequência por vez
para o escolar, este observava a sequência
e, em seguida, deveria reproduzi-la com
os cartões apresentados pelo examinador;
• Velocidade de processamento: composta
por dois subtestes, um subteste era composto por um quadro com quatro figuras
diferentes, que se repetiam em ordem
aleatória, e um subteste com números de
zero a nove, também apresentados aos
escolares em ordem aleatória. Nos dois
subtestes, o escolar nomeou rapidamente figuras e números apresentados pelo
examinador.
A coleta de dados foi realizada em uma escola
pública de uma cidade do interior paulista, em
período contrário ao de estudos dos escolares.
O Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico
– versão coletiva e individual – foi realizado em
duas sessões, com duração de 50 minutos cada.
Os resultados foram analisados estatisticamente com nível de significância de 5% (0,050
– significância adotada) para a aplicação dos
testes estatísticos, utilizando o programa SPSS
(Statistical Package for Social Sciences), em
sua versão 17.0. O teste utilizado para análise
estatística foi o Teste de Análise de Correlação
de Spearman, com o intuito de verificar o grau
de relacionamento entre as provas de cada habilidade do teste aplicado. Os resultados esta-
Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico
– versão coletiva
Foi aplicada a versão coletiva do Teste em
todos os escolares deste estudo. Essa versão é
composta dos seguintes subtestes:
• Reconhecimento do alfabeto em sequência: composto por todas as letras do alfabeto, em que o escolar deveria escrever
o alfabeto em sequência;
• Cópia de formas: composto de quatro di­­­­
ferentes formas geométricas, em que o
escolar deveria realizar a cópia das quatro
formas geométricas;
• Ditado: composto de 30 palavras reais e
10 não palavras, em que o examinador
pronunciou um total de 40 palavras que
o escolar deveria escrever;
• Memória de curta duração: composto por
14 sequências de dígitos, que contêm de
dois a nove dígitos cada sequência, em
que o escolar deveria escrever os dígitos
após ouvir o examinador pronunciar a
sequência completa.
Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico
– versão individual
Foi aplicada a versão individual do Teste em
todos os escolares deste estudo. Essa versão é
composta dos seguintes subtestes:
• Leitura de palavras: composta de 70 palavras reais, em que o escolar realizou a
leitura em voz alta, enquanto o examinador anotou as palavras lidas corretamente
em um minuto;
• Leitura de não palavras: composta de 10
não palavras, em que o escolar realizou
a leitura em voz alta, enquanto o examinador marcou o tempo despendido na
leitura e as palavras lidas corretamente;
• Consciência fonológica: composta de 10
subtestes de aliteração, 20 subtestes de
rima. O escolar foi orientado, pelo examinador, a ouvir uma sequência de três
palavras e escolher duas palavras que
apre­­­sentassem aliteração ou rima; e 12
subtestes de segmentação silábica, em
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
186
Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades de aprendizagem
A análise foi realizada buscando-se correlacionar as variáveis de mesmo domínio, ou seja,
para a habilidade de leitura houve a correlação
somente entre as variáveis que compõem essa
habilidade, ocorrendo o mesmo com a habilidade
de escrita, consciência fonológica, processa­
mento visual, processamento auditivo e velocidade de processamento.
A Tabela 1 apresenta a correlação entre as
variáveis que compõem a habilidade de leitura.
Quando aplicada a Análise de Correlação de
Spearman, foi possível observar que ocorreu
coeficiente de correlação positiva, indicando
moderada correlação entre as variáveis: leitura
de palavras e leitura de não palavras (coeficiente
de correlação: 0,603), e entre as variáveis: leitura
de não palavras e palavras lidas corretamente
em um minuto (coeficiente de correlação: 0,605);
e forte correlação entre as variáveis: leitura de
palavras e palavras lidas corretamente em um
minuto (coeficiente de correlação: 0,826), sugerindo que, quanto menos palavras o escolar
leu por minuto, menos correta foi sua leitura de
palavras e de não palavras.
Na Tabela 2, foi possível verificar a correla­­­ção
entre as variáveis que compõem a habilidade
de escrita e entre as variáveis da habilidade
de consciência fonológica. Quando aplicada a
Análise de Correlação de Spearman, foi possível
observar que ocorreu coeficiente de correlação
positivo, com forte correlação entre as variáveis:
ditado de palavras e ditado de não palavras
(coeficiente de correlação: 0,712), ditado de palavras e ditado total (coeficiente de correlação:
0,974), e ditado de não palavras e ditado total
(coeficiente de correlação: 0,847), indicando
que, quanto maior o número de erros cometidos
no ditado de palavras, maior o número de erros
no ditado de não palavras e, consequentemente,
no ditado total.
Para a habilidade de consciência fonológica,
exposta na Tabela 3, houve coeficiente de correlação positivo entre as variáveis rima e aliteração
(coeficiente de correlação: 0,590), indicando
uma correlação moderada entre essas variáveis
que, ao serem contrapostas, apresentaram com-
tisticamente significantes foram marcados com
um asterisco (*).
Este estudo foi realizado após a aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual
Paulista – CEP/FFC/UNESP/Marília – São Paulo,
sob protocolo nº 2596/2007.
RESULTADOS
A análise dos resultados do Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico, individual e coletivo, será realizada por meio de tabelas, de acordo
com as habilidades propostas no procedimento,
conforme descritas a seguir:
• Habilidade de leitura: será descrita a
análise de correlação dos escolares nas
provas de reconhecimento do alfabeto,
leitura de palavras, leitura de não palavras e leitura de palavras corretas em um
minuto;
• Habilidade de escrita: será descrita a
análise de correlação dos escolares nas
provas de ditado de palavras, ditado de
não palavras e ditado total;
• Habilidade de consciência fonológica:
será descrita a análise de correlação dos
escolares nas provas de aliteração, rima
e segmentação silábica;
• Habilidade de processamento auditivo:
será descrita a análise de correlação dos
escolares nas provas de discriminação
de sons, repetição de palavras, repetição
de não palavras, sequência de números
e sequência de números invertidos;
• Habilidade de processamento visual:
será descrita a análise de correlação dos
escolares nas provas de cópia de formas,
memória visual com dois cartões, memória visual com três cartões, memória
visual com quatro cartões e memória
visual com cinco cartões;
• Habilidade de velocidade de processamento: será descrita a análise de correlação dos escolares nas provas de nomeação
de figuras e nomeação de números.
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187
Silva C & Capellini SA
Tabela 1 – Distribuição dos valores de coeficiente de correlação e valor de p referente ao
desempenho dos escolares na habilidade de leitura.
Variáveis
Correlação
Coeficiente de correlação
LP
LNP
Cor1m
Alf
LP
LNP
0,156
—
—
Valor de p
0,247
—
—
Coeficiente de correlação
-0,020
0,603
—
Valor de p
0,883
< 0,001*
—
Coeficiente de correlação
0,123
0,826
0,605
Valor de p
0,361
< 0,001*
< 0,001*
Legenda: Alf: alfabeto, LP: leitura de palavras, LNP: leitura de não palavras, Cor1m: corretas em um minuto.
Tabela 2 – Distribuição dos valores de coeficiente de correlação e valor de p referente ao
desempenho dos escolares na habilidade de escrita e de consciência fonológica.
Variáveis
DitNP
Correlação
DitP
DitNP
Coeficiente de correlação
0,712
—
Valor de p
Coeficiente de correlação
DitT
Valor de p
< 0,001*
—
0,974
0,847
< 0,001*
< 0,001*
Legenda: DitP: ditado de palavras, DitNP: ditado de não palavras, DitT: ditado total.
Tabela 3 – Distribuição dos valores de coeficiente de correlação e valor de p referente ao
desempenho dos escolares na habilidade de consciência fonológica.
Variáveis
Rima
SSilábica
Correlação
Alit
Rima
0,590
—
< 0,001*
—
Coeficiente de correlação
0,221
-0,056
Valor de p
0,098
0,680
Coeficiente de correlação
Valor de p
Legenda: Alit: aliteração, SSilábica: segmentação silábica.
portamentos paralelos, ou seja, quanto maior
o número de erros cometidos na atividade de
rima, maior foi o número de erros cometidos na
atividade de aliteração.
Na Tabela 4, foi possível observar que, na
aná­­­lise de correlação entre as variáveis da habilidade de processamento auditivo, quando
apli­­­­cada a Análise de Correlação de Spearman,
houve coeficiente de correlação positivo, porém
com fraca correlação entre as variáveis: repe-
tição de palavras e repetição de não palavras
(coeficiente de correlação: 0,372), sugerindo
que, quanto melhor o desempenho para a discriminação de palavras, melhor o desempenho
para a discriminação de não palavras.
Na Tabela 5, foi realizada a análise de correlação entre as variáveis da habilidade de
processamento visual. Ao ser aplicada a Análise
de Correlação de Spearman, observou-se que
ocorreu coeficiente de correlação positivo, com
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
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Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades de aprendizagem
Tabela 4 – Distribuição dos valores de coeficiente de correlação e valor de p referente ao
desempenho dos escolares na habilidade de processamento auditivo.
Variáveis
RepP
RepNP
Núm
Correlação
DS
RepP
RepNP
Coeficiente de correlação
0,140
—
—
Valor de p
0,299
—
—
Coeficiente de correlação
0,108
0,372
—
Valor de p
0,422
0,004*
—
Coeficiente de correlação
0,059
0,191
0,216
Valor de p
0,662
0,156
0,106
Legenda: DS: discriminação de sons, RepP: repetição de palavras, RepNP: repetição de não palavras, Núm: sequência de números.
Tabela 5 – Distribuição dos valores de coeficiente de correlação e valor de p referente ao
desempenho dos escolares na habilidade de processamento visual.
Variáveis
MV2
MV3
MV4
MV5
Correlação
Coeficiente de correlação
CP
MV2
MV3
MV4
0,000
—
—
—
Valor de p
0,998
—
—
—
Coeficiente de correlação
-0,097
0,659
—
—
Valor de p
0,472
< 0,001*
—
—
Coeficiente de correlação
-0,118
0,579
0,672
—
Valor de p
0,381
< 0,001*
< 0,001*
—
Coeficiente de correlação
-0,218
0,394
0,502
0,554
Valor de p
0,103
0,002*
< 0,001*
< 0,001*
Legenda: CP: cópia de formas, MV2: memória visual com dois cartões, MV3: memória visual com três cartões, MV4: memória
visual com quatro cartões, MV5: memória visual com cinco cartões.
correlação moderada entre as variáveis: memória
visual com dois cartões e memória visual com
três (coeficiente de correlação: 0,659), e com
qua­­­tro cartões (coeficiente de correlação: 0,579);
memória visual com três cartões e memória
vi­sual com quatro (coeficiente de correlação:
0,672) e com cinco cartões (coeficiente de correlação: 0,502), e, também, entre as variáveis:
memória visual com quatro cartões e memória
visual com cinco cartões (coeficiente de correlação: 0,554), indicando que, quanto maior
o número de erros com dois cartões, maior o
número de erros cometidos com o uso de três e
quatro cartões. Houve coeficiente de correlação
positiva, porém com correlação do tipo fraca
apenas entre a memória visual com dois e com
cinco cartões (coeficiente de correlação: 0,394),
sugerindo um desempenho paralelo entre as
variáveis, mas que não forma um grau de associação perfeito.
A Tabela 6 apresenta a análise de correlação
entre as variáveis da habilidade de velocidade
de processamento. De acordo com os resultados,
quando aplicada a Análise de Correlação de
Spearman, observa-se que ocorreu coeficiente
de correlação positivo, com correlação moderada entre as variáveis: nomeação de figuras
e nomeação de números (coeficiente de correlação: 0,406), indicando que, quanto maior o
tempo despendido para a nomeação de figuras,
maior foi o tempo necessário para a nomeação
de números.
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189
Silva C & Capellini SA
de um processo envolvendo a mediação fonológica direta através da rota fonológica, ou por
meio de um processo visual direto, envolvendo a
representação das palavras conhecidas e armazenadas no léxico de input visual, sendo essa a rota
lexical. Assim, o escritor faz uso das duas rotas
para escrever palavras e não palavras, e a possível
alteração em uma dessas rotas, ou até mesmo
nas duas, pode limitar o desempenho linguístico,
caracterizando um desempenho insatisfatório
aos escolares com dificuldades de aprendizagem
quanto à escrita de novas palavras4,11,23,25.
Em relação à habilidade de consciência fonológica, destaca-se que, quanto menos rimas
o escolar identificou, menos aliterações também
foi capaz de identificar, pois de acordo com a
análise de correlação, essas habilidades apresentaram um comportamento paralelo entre si.
Tal resultado pode ser indicativo de que e habilidade de consciência fonológica não é utilizada
e enfatizada com os escolares em contexto de
sala de aula, o que torna mais difícil sua percepção em relação à identificação isolada e/ou
em sequências sonoras. Entretanto, ressaltamos
que, quando a criança atinge a idade escolar
e ingressa na escola, ela já apresenta domínio
fonológico na linguagem oral, porém ainda
não existe consciência das correspondências
existentes entre a linguagem oral, a leitura e a
escrita, que são as chamadas correspondências
letra/som, que usualmente serão adquiridas no
decorrer do aprendizado escolar7,23.
Na correlação das habilidades do processamento auditivo foi possível verificar que, quanto
melhor o desempenho para a repetição de palavras, melhor foi o desempenho para a repetição
de não palavras, o que nos leva a concluir que,
nesta tarefa, os escolares com dificuldades de
apren­­­­dizagem processaram auditivamente as
informações, fizeram uso da memória auditiva,
responsável por armazenar e/ou recuperar a
informação auditiva, e o uso da percepção auditiva, responsável pela recepção e interpretação
dos sons ou palavras recebidas26.
Os achados deste estudo, em relação à habilidade de velocidade de processamento, indicam
Tabela 6 – Distribuição dos valores de
coeficiente de correlação e valor de p referente
ao desempenho dos escolares na habilidade de
velocidade de processamento.
Variável
NNT
Correlação
NfigT
Coeficiente de correlação
0,406
Valor de p
0,002*
Legenda: NfigT: nomeação de figuras tempo, NNT: nomeação
de números tempo
DISCUSSÃO
Os resultados revelaram que, para a habilidade de leitura, quanto menor o número de
palavras que o escolar leu por minuto, menos
correta foi sua leitura. Tal resultado sugere uma
dificuldade em identificar/reconhecer as letras
para que ocorra a rápida decodificação da palavra à leitura. Assim, os resultados parecem
apontar para o fato de que o processo de decodificação contribui para que o escolar forme a
representação da palavra, fazendo uso de informações armazenadas na memória, permitindo
a rápida realização da leitura. À medida que
aumenta a frequência do contato com a leitura,
as representações se estabilizam, possibilitando
recuperação cada vez mais automática e rápida
da palavra, o que sugere que os escolares que
apresentam dificuldades na identificação e na
decodificação das palavras podem apresentar
alterações no armazenamento e na recuperação
da informação5,10,22-24.
Os resultados da análise de correlação da
habilidade de escrita indicaram que houve correlação positiva entre todas as provas, demonstrando que, quanto maior o número de erros em
ditado de palavras, maior o número de erros no
ditado de não palavras e no ditado total. Esses
resultados sugerem a presença de alterações no
mecanismo de conversão fonema-grafema e em
seu armazenamento, resultando em uma escrita
lentificada e em confusão entre letras e palavras
similares que ocasiona erros na escrita18.
A codificação da palavra em um sistema de
escrita alfabético pode ser produzida por meio
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
190
Correlação entre habilidades cognitivo-linguísticas em escolares com dificuldades de aprendizagem
a presença de correlação positiva, portanto, para
esses escolares, essas variáveis apresentam comportamento paralelo, de forma que, quanto maior
o tempo despendido em nomeação de figuras,
maior o tempo necessário para a nomeação de
números. Estudos realizados anteriormente
sugerem que a habilidade de nomear séries de
estímulos rapidamente, como figuras e dígitos,
envolve a habilidade de recuperar relações
símbolo-nome-som arbitrárias, e que quando
esta habilidade está alterada pode ocasionar
pro­­­­blemas no processamento da informação em
escolares com dificuldades de aprendizagem27-29.
Destaca-se, ainda, que a correlação entre as
variáveis que compõem a habilidade de processamento visual foi positiva, indicando comportamento paralelo para a memória visual com
uso de cartões. O processamento visual envolve
alguns componentes como a memória de trabalho, a organização espacial e o processamento
da informação visual. Dessa forma, torna-se
difícil para escolares com dificuldades de aprendizagem apresentar desempenho satisfatório
em provas que requerem o armazenamento de
informações, uma vez que, devido ao possível
comprometimento no processamento visual, há
uma alteração na estocagem da informação, o
que leva a um baixo desempenho em provas
desse nível15.
Em decorrência disso, para que ocorra um
desempenho satisfatório nessas habilidades, é
ne­­­cessária a participação de componentes como
a memória fonológica de trabalho, o acesso ao
léxico mental, a organização e o processamento
das informações visuais e auditivas, a retenção
e a manipulação de informações. De acordo
com a literatura, a memória de trabalho e o
aces­­­so fonológico ao léxico mental ocorrem de
forma conjunta e inter-relacionada, de forma
que, ao ocorrer alterações no desenvolvimento
desses componentes, o desempenho cognitivo-linguístico também será alterado30,31.
CONCLUSÃO
Os dados deste estudo permitiram concluir
que as habilidades de mesmo domínio cognitivo
avaliadas no Teste de Desempenho Cognitivo-Linguístico mostram-se correlacionadas positivamente, indicando que os desempenhos nessas
habilidades estão associados e que uma habilidade interfere no desempenho da outra, sendo
esta, portanto, uma possível explicação para a
ocorrência das dificuldades de aprendizagem.
Os dados deste estudo sugerem a necessidade de que em contexto escolar sejam oferecidas estratégias de atenção auditiva e visual,
percepção e discriminação de sons e sílabas,
identificação e decodificação de sons em letras
para formação de sílabas, palavras e frases, para
que, desta forma, os escolares com dificuldades
de aprendizagem possam superar as suas defasagens em situação de sala de aula.
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191
Silva C & Capellini SA
SUMMARY
Correlation between cognitive-linguistic skills in students
with learning difficulties
Objective: The aim this study was to verify the existence of association
between skills of same cognitive domain, of the test cognitive-linguistic
performance – collective and individual version, in students with learning
difficulties. Methods: The participants of this study were 57 students from
4th grades of the elementary school, with old between 10 years and 5 months
to 14 years and 7 months, of both genders. As procedure was utilized the
Test Cognitive-Linguistic Performance – collective and individual version.
The collective version is composed for skills of writing, arithmetic, auditory
processing and visual processing, and the individual version is composed
for skills of reading, phonological awareness, auditory processing,
visual processing and processing speed. Results: The results this study
demonstrated positive correlation coefficient among the variables of the
subtests, suggesting that the higher the values ​​of a variable, the greater the
values of another variable. Conclusion: We can conclude that the correlation
of each test of the skills of the Test Cognitive-Linguistic Performance showed
parallel behavior, indicating that, to the tests correlated the performance in
a variable affects the performance of another, thus causing a deficit in the
performance of students in classroom.
KEY WORDS: Learning. Learning disorders. Reading. Writing.
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Artigo recebido: 3/4/2012
Aprovado: 30/7/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 183-93
193
Campos AMG
et al
ARTIGO
ORIGINAL
A consciência fonológica, a consciência
lexical e o padrão de leitura de alunos
com dislexia do desenvolvimento
Ana Maria Gomes Campos; Luciana Ribeiro Pinheiro; Sandra Regina Kirchner Guimarães
RESUMO – Introdução: Muitos autores têm buscado estabelecer
relações entre dificuldades de aprendizagem na leitura com habilidades
metalinguísticas. Contudo, ainda são pouco numerosos os estudos que
analisam as habilidades metalinguísticas nos alunos com dislexia do
desenvolvimento. Este estudo de caráter exploratório-descritivo teve como
objetivo investigar o desempenho de alunos com dislexia do desenvolvimento
(dislexia fonológica e de superfície) em tarefas de avaliação de duas
habilidades metalinguísticas: consciências fonológica e lexical. Método:
Foram formados dois grupos de participantes: sete alunos com dislexia
fonológica (grupo 1) e dois alunos com dislexia de superfície (grupo 2). A
pesquisa foi baseada em três tipos de provas: prova de leitura de palavras
isoladas, prova de avaliação da consciência fonológica (CONFIAS) e prova
de avaliação da consciência lexical. Resultados: Os resultados obtidos
revelam similitudes e disparidades entre os participantes no que diz respeito
às consciências fonológica e lexical. Em relação à consciência fonológica, o
desempenho dos participantes nas subprovas silábicas é semelhante, mas
foram encontradas diferenças expressivas nas subprovas fonêmicas, com
desempenho superior entre os participantes com dislexia de superfície.
No que se refere à consciência lexical, verificou-se que as habilidades dos
participantes não acompanham as diferenças relativas ao padrão de leitura
preferencialmente utilizado. Conclusão: Conclui-se que, para desenvolver
a decodificação na leitura, esses alunos devam ser instruídos não apenas no
processo de conversão grafema-fonema, mas também a utilizar o contexto
como auxílio no processo de reconhecimento das palavras.
UNITERMOS: Dislexia. Leitura. Compreensão.
Ana Maria Gomes Campos – Mestranda em Educação
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba,
PR, Brasil.
Luciana Ribeiro Pinheiro – Doutora em Educação pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR,
Brasil.
Sandra Regina Kirchner Guimarães – Doutora em Psi­­­
cologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência
Ana Maria Gomes Campos
Programa de Pós-graduação em Educação, Setor de
Edu­­­cação, Universidade Federal do Paraná
Rua General Carneiro, 460 – 10º andar – Curitiba, PR,
Brasil – CEP 80060-100
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
194
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
manifestada por desempenho muito ruim na
leitura de estímulos não familiares e palavras
inventadas ou pseudopalavras (palavras formadas por combinação de sons e letras, mas que
não existem no léxico de uma língua). Crianças
com dislexia fonológica do desenvolvimento
apresentam dificuldades em tarefas de memória
de curto prazo fonológica e consciência fonoló­
gica. Na leitura elas baseiam-se maciçamente no
reconhecimento da palavra inteira (leitura lexical), tendo em vista que possuem dificuldades
na conversão grafema-fonema. Sendo assim, os
disléxicos fonológicos, por realizarem a leitura
pela rota lexical, cometerão erros em que farão
a troca de palavras pouco familiares por outras
semelhantes, de maior frequência. Além disso,
transformam palavras inventadas em palavras
reais12, ou seja, cometem lexicalizações.
Quanto à dislexia de superfície, as pessoas
com esse tipo de dislexia apresentam pouca capacidade na leitura pela rota lexical. Baseiam-se
nos procedimentos fonológicos de conversão de
grafemas em fonemas, quando da leitura em voz
alta. Portanto, lêem com maior precisão as palavras regulares e tendem a regularizar as demais4.
Coltheart et al.10 e Temple e Marshall11 sugerem que os problemas de aprendizagem da
leitura estão na dificuldade em adquirir uma das
rotas, seja a lexical ou a sublexical. No modelo
proposto por Ellis13, a rota chamada lexical é
a leitura via significado, em que ocorre a mediação da representação semântica. A pessoa
que utiliza essa rota tem pouca dificuldade em
pronunciar palavras familiares, porém apresenta dificuldades com palavras não-familiares e
pseudopalavras.
A rota fonológica ou sublexical utiliza o pro­­­
cesso de conversão grafema-fonema, envolven­do
a procura de pronuncias para palavras não-familiares e pseudopalavras. É a pronúncia construída
pela conversão de segmentos orto­­­gráficos (grafemas simples, compostos ou dígrafos e sequências
de letras) em segmentos fonológicos3,14-16.
Considerando-se o modelo de dupla-rota, o
uso de uma ou outra rota será influenciado pelas características específicas da ortografia, por
INTRODUÇÃO
A leitura e a escrita constituem os dois pilares
que sustentam a progressão acadêmica de qualquer indivíduo. Embora aparentemente simples,
a linguagem escrita é uma atividade bastante
complexa que exige vários processos perceptivos
e cognitivos, bem como um bom conhecimento
da língua e da gramática1-3. Quando há um dé­­­
ficit na dinâmica cognitiva interrompendo a
sintonia entre os processos mentais relativos à
aprendizagem da leitura tem-se um transtorno
de aprendizagem denominado dislexia.
Dislexia é um transtorno específico caracterizado por dificuldades em reconhecer as pala­
vras de forma precisa e fluente, e por poucas
habilidades ortográficas. Essas dificuldades
normalmente resultam de déficit no componente
fonológico da linguagem4,5. Há dois tipos de
dis­­­­lexia: dislexia adquirida e dislexia do desenvolvimento. A dislexia do desenvolvimento, foco
desse estudo, é um distúrbio de aprendizagem
que se manifesta, num primeiro momento, pela
dificuldade de aprender a ler, e posteriormente
por erros ortográficos e pela dificuldade em ma­­­
nipular palavras escritas, por oposição a palavras
faladas6,7.
A aprendizagem da leitura pelas crianças sem
transtornos de aprendizagem pressupõe a utili­
zação progressiva dos procedimentos (rotas)
le­xical e sublexical de leitura8. A partir desse
entendimento, Castles e Coltheart9 apontam vários estudos10,11 que tentaram explicar a dislexia
do desenvolvimento em termos de dificuldades
na aquisição de uma das rotas de leitura. Nessa
perspectiva, os padrões de leitura apresentados
pelas crianças com dislexia do desenvolvimento
seriam semelhantes aos dos adultos com dislexia
adquirida.
De acordo com a abordagem da neuropsi­
cologia cognitiva, a dislexia deixou de ser vista
como uma entidade única, sendo aceita a fragmentação do conceito em pelo menos dois tipos
de leitores deficientes: leitores com dislexia
fo­­­­nológica e leitores com dislexia de superfície.
A dislexia fonológica é caracterizada por incapacidade de decodificação fonológica grave,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
195
Campos AMG et al
exemplo, o grau de irregularidade grafofonêmica16. O leitor hábil pode ter disponíveis as duas rotas, e essa eficácia se dá à medida que o processo
de conversão (ortográfico em fonológico) se torna
cada vez mais automatizado, consequentemente,
mais competente se torna o leitor14,15.
Muitas pesquisas no mundo todo têm apontado nos disléxicos a dominância de problemas
fonológicos em relação aos lexicais13,15-17. Com
isso, percebe-se uma crescente conscientização no âmbito educacional da importância de
se desenvolver as habilidades fonológicas dos
alunos, inclusive a capacidade de manipular
intencionalmente e refletir sobre os segmentos
da fala (palavras, segmentos supra-silábicos,
sílabas e fonemas).
O domínio pleno da leitura e escrita supõe
uma tomada de consciência das características
específicas da linguagem18. Nessa perspectiva,
vários estudos16,18-22 têm demonstrado que as
habilidades metalinguísticas são fundamentais
na aquisição da linguagem escrita, por viabilizar ao aprendiz condições para essa tomada
de consciência dessas características. Dentre
elas, destacam-se a consciência fonológica e a
consciência lexical.
A consciência fonológica refere-se à cons­
ciência de que a fala pode ser segmentada e de
que pode se manipular tais segmentos23. É a
capacidade de refletir e manipular os sons que
compõem as palavras24. Essa consciência envolve não apenas a capacidade de refletir, constatando e comparando os elementos linguísticos,
mas também a capacidade de operar com rimas,
aliterações, sílabas e fonemas. Entendida desse
modo, a consciência fonológica diz respeito tanto
à consciência de segmentos suprasilábicos como
à consciência da sílaba, das unidades intrassilábicas e do fonema (consciência fonêmica)25.
A importância da consciência fonológica foi
atestada por numerosos trabalhos científicos
submetendo indivíduos (de diferentes idades
e níveis de escolaridade) a provas de análises
fonológicas. Esses estudos têm demonstrado que
o desempenho das crianças pré-escolares, em
determinadas tarefas de consciência fonológica,
relaciona-se com o sucesso na aquisição da leitura e da escrita26-29. Há também evidência de que
o treinamento da consciência fonológica pode
exercer uma influência benéfica na aprendizagem da leitura e da escrita30-32, sobretudo quando
associado ao treinamento do reconhecimento das
correspondências entre as letras e os sons33,34.
No Brasil, tem-se uma quantidade significa­
tiva de pesquisas abordando a consciência fo­­­
nológica35. Entretanto, destaca-se como uma
das mais expressivas a pesquisa realizada por
Cardoso-Martins20, cujos resultados sugerem
que a consciência fonêmica é fundamental para
a aquisição da leitura e da escrita.
A consciência lexical é a capacidade de seg­­­­
mentar a linguagem oral em palavras, considerando tanto aquelas com função semântica
(substantivos, adjetivos, verbos), cujos significados independem do contexto, quanto aquelas
com função sintático-relacional (conjunções,
preposições, artigos), nas quais a construção do
significado depende da sua inserção no contexto,
no interior de sentenças36.
A capacidade do indivíduo em segmentar
a linguagem oral em palavras é importante no
processo de aperfeiçoamento da escrita19. O
desenvolvimento da capacidade de escrever
separando as palavras com espaços em branco
é um dos aspectos que distingue a oralidade e a
escrita. Na escrita, a segmentação não convencional de palavras refere-se ao uso indevido do
espaço em branco, entre fronteiras vocabulares,
de maneira não adequada ou prevista pelas
convenções gramaticais. Assim, podem surgir
as hipossegmentações, marcadas pela ausência
de espaço em branco entre unidades lexicais
(como exemplo, emcasa, desurpresa) ou podem
surgir as hipersegmentações, caracterizada pela
inserção de um espaço indevido no interior das
unidades lexicais (como exemplo, a inda, de
mais)37. Ao longo do processo de aperfeiçoamento da escrita, a incidência de segmentações não
convencionais (hipossegmentações e hipersegmentações) diminui conforme as crianças vão
desenvolvendo maior domínio da estrutura e do
funcionamento linguagem escrita38.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
196
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
Muitos estudos37,39,40 têm sido desenvolvidos
com o intuito de analisar como as crianças realizam a compreensão de unidades linguísticas,
quais os fatores envolvidos na segmentação de
textos, qual a relação entre o desenvolvimento de
habilidades de segmentação lexical e a aquisição
da leitura. A maioria desses estudos aponta que
os casos de hipossegmentação envolvem principalmente artigos, pronomes, advérbios, conjunções e formas auxiliares de verbos. Isso decorre,
provavelmente, do fato de as crianças sentirem
dificuldade para dissociar os elementos clíticos
dos itens lexicais nos quais estão semântica e
fo­­­nologicamente apoiados. Em outros termos,
verifica-se que, na fala, muitas vezes as palavras
com função sintático-relacional (artigos, pronome, conjunções, preposições, formas auxiliares
de verbos) vêm associadas às palavras lexicais,
constituindo grupos tonais, por exemplo: minhatia, deouro, umdia, apata, cesauvar (se salvar),
oqueijo, aminhacaza, votelefona (vou telefonar),
todumudo (todo mundo), elaficoucotete (ela ficou
contente), mutoepéto (muito esperto), jaestacomeno (já está comendo)41.
A presente pesquisa se insere nesse contexto,
mas com o diferencial de investigar habilidades
metalinguísticas em crianças com dislexia. Teve-se como objetivo identificar, entre os participan­
tes, o procedimento de leitura (rota lexical ou
rota sublexical) preferencialmente utilizado e
avaliar seus desempenhos em provas de consciência fonológica e consciência lexical.
Enfim, a partir da revisão de literatura e da
delimitação do objetivo, elencou-se duas hipóteses:
• Os participantes com padrão de leitura de
dislexia de superfície, que utilizam preferencialmente a rota fonológica de leitura
(conversão dos segmentos ortográficos em
segmentos fonológicos), têm melhor de­­­
sem­penho nas tarefas que avaliam a consciência fonológica do que os alunos com
padrão de leitura de dislexia fonológica;
• Os participantes com padrão de leitura
de dislexia fonológica, que utilizam preferencialmente a rota lexical de leitura,
têm melhor desempenho nas tarefas que
avaliam a consciência lexical do que os
participantes com padrão de leitura de
dislexia de superfície (rota fonológica).
MÉTODO
Sujeitos
O universo da pesquisa foi formado por alu­­­
nos com diagnóstico (laudo) de dislexia que
rea­­­­­lizam atendimento especializado em oito
Cen­­­tros Municipais de Atendimento Especializados (CMAEs), ofertado pela Rede Municipal
de Ensino de Curitiba-PR. Dentre os 41 alunos
com diagnóstico de dislexia cadastrados e atendidos nos CMAEs, decidiu-se realizar as provas
com os alunos atendidos em dois CMAEs por
conveniência de locomoção das pesquisadoras.
O contato com os participantes ocorreu por intermédio da Coordenadoria de Atendimento às
Necessidades Especiais (CANE), da Secretaria
Municipal de Educação de Curitiba e, na sequência, obteve-se o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido assinados por pais ou responsáveis. Dessa forma, do referido universo, apenas
nove alunos foram escolhidos como participantes
da pesquisa.
Instrumentos
Esse estudo foi baseado nos resultados concernentes a três tipos de provas:
1. Prova de leitura de palavras isoladas (palavras reais e palavras inventadas)
Visando identificar o padrão de leitura dos
alunos foram organizadas duas listas de palavras
(A e B), compostas a partir da relação de palavras
apresentada por Pinheiro42, uma em caixa alta
e uma em caixa baixa (forma script), contendo
palavras reais e palavras inventadas. Cada lista
continha 18 palavras reais e 9 palavras inventadas, totalizando 27 palavras assim organizadas:
3 palavras regulares de alta frequência; 3 palavras regulares de baixa frequência; 3 palavras-regras de alta frequência; 3 palavras-regras
de baixa frequência; 3 palavras irregulares de
alta frequência; 3 palavras irregulares de baixa
frequência; 9 palavras inventadas (as palavras
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
197
Campos AMG et al
Na prova de consciência lexical, buscou-se examinar a habilidade dos participantes de
segmentarem orações (ditados populares) em
uni­­­dades léxicas. Foram utilizados 2 ditados
populares para treinamento e 6 ditados para a
prova. Para cada palavra identificada corretamente, o participante recebia um ponto. Além
disso, foram analisadas as segmentações não
convencionais dos enunciados verbais (ditados
populares) realizadas pelos participantes, ou
seja, as junturas vocabulares (hipossegmenta­
ções) e as separações vocabulares além daque­­­­­­
las convencionadas pela norma ortográfica (hi­­­
per­­­­­­segmentações). Destaca-se que, para cada
hipossegmentação encontrada marcou-se um
ponto, valendo-se do mesmo procedimento para
as hipersegmentações.
Ditados utilizados para treino: a) Quem com
ferro fere, com ferro será ferido; b) Em boca fe­­­
chada não entra mosquito.
Ditados utilizados para o exame: 1) A corda
sempre arrebenta do lado mais fraco, 2) A vida
é uma escola, enquanto vivemos aprendemos,
3) Cada um por si e Deus por todos; 4) Mais
aper­­­tado do que sardinha em lata; 5) O melhor
da festa é esperar por ela; 6) Quem ao moinho
vai, enfarinhado sai.
da lista A foram criadas a partir de alterações
em uma ou duas letras das palavras reais de alta
frequência da lista B e vice-versa).
2. Prova de consciência fonológica
Foi aplicado o Instrumento de Avaliação Se­­­
quencial (CONFIAS), cujo objetivo é avaliar a
consciência fonológica de forma abrangente e
sequencial43. Considerou-se esse instrumento
apro­­­­priado para este estudo por possibilitar tanto
análise quantitativa, quanto análise qualitativa
do desempenho dos participantes. O CONFIAS é
dividido em duas partes: a primeira corresponde
à consciência da sílaba; e, a segunda parte, à
consciência fonêmica (Nível do Fonema).
3. Prova de consciência lexical
Para avaliar a consciência lexical dos participantes foi aplicada uma adaptação da prova
proposta por Guimarães44. A finalidade dessa
prova foi verificar a capacidade dos participantes
identificarem oralmente as palavras de seis ditados populares, contendo um total de 45 palavras.
Procedimentos
Esse estudo foi submetido ao Comitê de Ética
da Universidade Federal do Paraná – Setor de
Ciências da Saúde, obtendo parecer de acordo
para a sua realização, sendo inscrita no CEP/
SD:1224.149.11.09 CAAE: 0146.0.091.000-11,
conforme a Resolução CNS 196/96.
A aplicação das provas ocorreu numa sala
re­­­­servada para a pesquisa, em cada um dos nú­­­
cleos regionais onde cada participante recebe
atendimento especializado. Os participantes
foram atendidos individualmente.
Para a aplicação da prova de leitura de palavras isoladas, as palavras foram impressas in­­
dividualmente, em cartão 7x4,5, escritas em Arial
18. As palavras foram embaralhadas, sendo que
cada uma delas foi escolhida aleatoriamente e
mostrada isolada. Não houve limite de tempo. A
forma como cada participante realizou a leitura
em voz alta foi registrada (forma de leitura e erros) em protocolo individual e gravado em MP3.
A aplicação do CONFIAS ocorreu conforme
orien­tação dos autores.
RESULTADOS
Como a média de acertos podia variar conforme a pontuação estipulada para cada prova, o escore obtido pelos participantes foi transformado
em porcentagem, para manter o mesmo padrão
de pontuação em todas as provas e poder estabe­
lecer possíveis correlações entre os resultados.
Prova de leitura de palavras isoladas
A Tabela 1 demonstra os resultados da leitura
de palavras isoladas (baixa frequência, alta frequência e inventadas). Os resultados obtidos revelam que os nove participantes apresentaram
melhor desempenho na leitura de palavras de
alta frequência quando comparado ao desempenho na leitura de palavras de baixa frequência
e nas palavras inventadas. Esses resultados
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
198
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
Tabela 1 – Número e porcentagem de palavras de alta frequência, baixa frequência
e inventadas lidas corretamente, por participante.
Aluno
Alta frequência
(18 palavras)
Baixa frequência
(18 palavras)
Inventadas
(18 palavras)
Total
(54 palavras)
N
%
N
%
N
%
N
%
AOJ
17
94,4
13
72,2
11
61,1
41
75,9
ACC
18
100
12
66,7
11
61,1
41
75,9
BPT
18
100
12
66,7
11
61,1
41
75,9
CXF
17
94,4
13
72,2
11
61,1
41
75,9
GSC
15
83,3
11
61,1
12
66,7
38
70,3
GMS
16
88,9
12
66,7
10
55,6
38
70,3
PHL
17
94,4
11
61,9
15
88,3
43
79,7
RDS
13
72,2
10
55,6
10
55,6
33
61,1
TXG
17
94,4
10
55,6
8
44,4
35
64,9
sugerem que, na leitura dessas palavras, os
participantes utilizaram preferencialmente a
rota lexical, característico do padrão de leitura
de dislexia fonológica em decorrência dos comprometimentos fonológicos inerentes às especificidades do tipo de dislexia. Contudo, sa­­­be-se
que um leitor pode utilizar uma ou outra rota,
a depender das necessidades impostas pela
leitura e das habilidades já desenvolvidas. Por
isso, observaram-se os resultados da Tabela 2
pa­ra estabelecer a comparação e identificar os
participantes com dislexia de superfície.
Na Tabela 2, é possível identificar dois alunos (BPT e PHL) que se sobressaem na leitura
de palavras inventadas, apresentando escore
ligeiramente superior quando comparados aos
demais participantes. Eles apresentam desempenho igual ou superior na leitura de palavras regulares quando comparado à leitura de palavras
irregulares. Esses resultados possibilitam inferir
que esses dois alunos usam preferencialmente a
rota sublexical, característico do padrão de leitura mais utilizado por indivíduos com dislexia
de superfície.
A partir da análise dos resultados dessas duas
tabelas, subdividiram-se os participantes em dois
grupos: um grupo formado por sete participantes
(AOJ, ACC, CXF, GSC, GMS, RDS, TXG) com
padrão de leitura lexical (dislexia fonológica), e
outro grupo formado por dois participantes (BPT,
PHL) com padrão de leitura sublexical (dislexia
de superfície). Salienta-se, entretanto, que é pre­­­
ciso ter cautela ao examinar os resultados que
serão apresentados como representativos de um
e outro grupo, tendo em vista o pequeno número
de participantes deste estudo, principalmente
ao se considerar o grupo de alunos com padrão
de leitura de dislexia de superfície (apenas dois
alunos).
Prova de consciência fonológica
Na Tabela 3, são apresentados os escores
obtidos pelos sujeitos por meio do CONFIAS.
Os resultados demonstram que, nas provas
silábicas, as médias obtidas pelos 9 participantes
são muito próximas, apresentando diferenças
pou­­­co expressivas. Quando se comparam os resultados da média entre os grupos, há diferença
ligeiramente superior para o grupo com padrão
de leitura sublexical (dislexia de superfície).
Contudo, essa comparação entre as médias não
é expressiva, em decorrência dos resultados que
se obtêm ao analisar os sujeitos individualmente,
pois se verifica que a maioria dos participantes
(cinco deles) alcançou percentual acima de 80%.
Nesse caso, observa-se que os resultados obtidos
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
199
Campos AMG et al
Tabela 2 – Número e porcentagem de palavras reais (regulares, regra e irregulares)
e inventadas lidas corretamente.
Palavras reais
Aluno
AOJ
Palavras regulares
12 palavras
Palavras inventadas
Regra
12 palavras
Irregulares
12 palavras
Palavras inventadas
18 palavras
N
%
N
%
N
%
N
%
10
83,3
12
100
8
66,7
11
61,1
ACC
12
100
9
75
9
75
11
61,1
BPT
10
83,3
10
83,3
10
83,3
14
77,7
CXF
10
83,3
10
83,3
10
83,3
11
61,1
GSC
9
75
9
75
8
66,7
12
66,6
GMS
10
83,3
10
83,3
8
66,7
10
55,5
PHL
11
91,7
8
66,7
9
75
15
83,3
RDS
10
83,3
7
58,3
6
50
10
55,5
TXG
9
75
9
75
9
75
8
44,4
Tabela 3 – Desempenho dos participantes na prova da consciência fonológica por meio do CONFIAS.
Aluno
Silábicas*
(Máximo 40 pontos)
Fonêmicas**
(Máximo 30 pontos)
Ano S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9
AOJ
6º
4 4 3
ACC
5º
4 4 4
CXF
4º
4 4 3
GSC
5º
4 4 3
GMS
5º
4 4 4
RDS
4º
4 4 3
TXG
5º
4 4 4
Média Padrão Fonológico
BPT
4º
4 4 4
PHL
5º
4 4 4
Média padrão de superfície
4
4
3
1
3
2
2
4
4
4
2
2
4
4
4
4
4
2
4
2
4
2
2
3
_
2
1
4
6
6
8
_
8
5
6
4
_
4
_
4
_
3
3
4
3
3
3
4
1
1
8
6
4
4
N
%
35
32
37
16
35
25
35
30,7
34
34
34
87,5
80,0
82,2
40,0
87,5
62,5
87,5
76,7
85,0
85,0
85,0
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 N
4
4
2
2
4
2
2
4
3
2
2
4
2
2
2
2
_
_
1
1
3
_
_
_
_
_
_
2
1
_
_
_
_
_
_
_
1
_
_
_
_
_
4
4
1
1
3
4
3
3
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
11
10
4
4
9
5
9
7,4
1 12
1 13
%
36,6
25,0
13,3
13,3
30,0
16,6
30,0
24,6
40,0
43,3
41,6
Desem.
Total
(Máximo
70 pontos)
N
%
S/F
46 65,7
42 60,0
41 58,5
20 28,5
44 62,8
30 42,8
44 62,8
38,1 54,4
46 65,7
47 67,1
46,5 66,4
*Tarefas silábicas: Síntese silábica (S1), Segmentação silábica (S2), Identificação de sílaba inicial (S3), Identificação de rima (S4),
Produção de palavra com a sílaba dada (S5), Identificação de sílaba medial (S6), Produção de rima (S7), Exclusão silábica (S8),
Transposição silábica (S9).
**Tarefas fonêmicas: Produção de palavra que inicia com o som dado (F1), Identificação de fonema inicial (F2), Identificação
de fonema final (F3), Exclusão fonêmica (F4), Síntese fonêmica (F5), Segmentação fonêmica (F6), Transposição fonêmica (F7).
apenas por dois alunos (GSC e RDS) fizeram
com que a média geral diminuísse em termos
per­­­centuais. Portanto, considera-se que não hou­­­­­­­
ve diferença estatisticamente significante no
desempenho geral dos participantes dos grupos
nas provas silábicas do CONFIAS.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
200
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
Quanto às subprovas de consciência fonêmica,
a análise do desempenho dos participantes revelou uma diferença expressiva entre as médias obtidas pelos dois grupos. A comparação das médias
aponta que os participantes com padrão de leitura
de dislexia fonológica tiveram um desempenho
inferior ao dos participantes com padrão de leitura
de dislexia de superfície. Entretanto, a análise
detalhada possibilita verificar que há similitudes
nos resultados referentes a algumas subprovas,
ou seja, nas subprovas de síntese fonêmica (F5)
e segmentação fonêmica (F6), os participantes
praticamente não pontuaram.
Nas Tabelas 5 e 6, têm-se, respectivamente,
os resultados de palavras hipossegmentadas e
os resultados de palavras hipersegmentadas nos
ditados populares, por participante. Observa-se
que, tanto os participantes com padrão de leitura
lexical quanto os participantes com padrão de
leitura sublexical apresentaram maiores problemas de hipossegmentação do que de hipersegmentação. Esses resultados são consistentes
com os de Correa e Dockrell45 que, ao analisar a
escrita de 76 crianças brasileiras de 1ª a 3ª série,
verificaram maior ocorrência de hipossegmentações do que de hipersegmentações, embora
os dois tipos de segmentação não convencional
estivessem correlacionados com um baixo nível
de leitura.
Prova de consciência lexical
A Tabela 4 sumariza os resultados obtidos na
prova de consciência lexical. Esses resultados
indicam que a maioria dos participantes (quatro
deles) com padrão de leitura lexical (dislexia
de fonológica) expressou maiores dificuldades
para segmentar as frases nas palavras que as
compõem, apresentando desempenho abaixo de
50%, enquanto os participantes com padrão de
leitura sublexical (dislexia de superfície) apresentaram resultados mais satisfatórios.
DISCUSSÃO
Com o propósito de identificar a rota de leitura utilizada preferencialmente pelos participantes desta pesquisa foi realizada a prova de leitura
de palavras isoladas. Embora, os participantes
não tenham apresentado diferenças expressivas
na leitura de palavras de alta frequência, baixa
frequência e inventadas (Tabela 1), as diferenças
Tabela 4 – Número de palavras corretamente identificadas pelos participantes
nos ditados populares (consciência lexical), por frase.
Aluno
Frase 1
(8 palavras)
Frase 2
(8 palavras)
Frase 3
(8 palavras)
Frase 4
(7 palavras)
Frase 5
(8 palavras)
Frase 6
(6 palavras)
N
N
N
N
N
N
Total Geral
(45 palavras)
N
%
AOJ
7
8
8
5
3
4
35
77,8
ACC
5
6
6
3
4
2
26
57,8
CXF
6
7
6
7
8
6
40
88,9
GSC
4
5
2
2
2
2
17
37,8
GMS
4
4
_
5
1
2
16
35
RDS
4
2
_
5
2
6
19
42
TXG
4
4
6
5
_
3
22
48,9
4,8
5,1
4
4,5
2,8
25
25
55,4
Média Padrão
Fonológico
BPT
6
3
2
3
6
5
25
55,6
PHL
8
8
8
4
6
4
38
84,4
Média padrão
de superfície
7
5,5
5
3,5
6
4,5
31,5
70,0
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
201
Campos AMG et al
Tabela 5 – Número de palavras hipossegmentadas pelos participantes nos ditados populares
(consciência lexical), por frase.
Aluno
AOJ
Frase 1
(8 palavras)
Frase 2
(8 palavras)
Frase 3
(8 palavras)
Frase 4
(7 palavras)
Frase 5
(8 palavras)
Frase 6
(6 palavras)
N
N
N
N
N
N
N
%
_
_
2
_
_
_
2
4,4
Total Geral
(45 palavras)
ACC
_
_
_
_
_
2
2
4,4
CXF
2
_
2
_
_
_
4
8,8
GSC
4
2
6
5
6
4
27
60
GMS
2
2
8
2
6
2
22
48,9
RDS
4
6
8
2
4
_
24
53,3
TXG
4
4
_
2
8
2
20
44,4
2,2
2
3,4
1,6
3,4
1,8
14,4
32,0
BPT
2
_
6
4
2
_
14
31,1
PHL
_
_
_
4
2
2
8
17,8
Média padrão
de superfície
1
_
3
4
2
1
11
24,4
Média Padrão
Fonológico
Tabela 6 – Número de palavras hipersegmentadas pelos participantes nos ditados populares
(consciência lexical), por frase.
Aluno
Frase 1
(8 palavras)
Frase 2
(8 palavras)
Frase 3
(8 palavras)
Frase 4
(7 palavras)
Frase 5
(8 palavras)
Frase 6
(6 palavras)
Total Geral
(45 palavras)
N
N
N
N
N
N
N
%
AOJ
1
_
_
2
4
2
9
20
ACC
3
2
2
4
4
3
18
40
CXF
_
1
_
_
_
_
1
2,2
GSC
_
_
_
_
_
_
_
_
GMS
_
_
_
_
_
2
2
4,4
RDS
_
_
_
_
_
_
_
_
TXG
_
_
_
_
_
_
_
_
0,5
0,4
0,2
0,8
0,1
1
4,2
9,6
Média Padrão
Fonológico
BPT
_
4
_
_
_
_
4
8,9
PHL
_
_
_
_
_
_
_
_
Média padrão
de superfície
_
2
_
_
_
_
2
4,4
de desempenho na leitura de palavras reais e
inventadas (Tabela 2) possibilitaram a divisão
dos participantes em dois grupos. O primeiro
grupo (com 7 participantes) é formado pelos
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
202
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
alu­­­nos que apresentaram maiores dificuldades
no reconhecimento de palavras pela via sublexical, e fizeram uso preferencial da rota lexical.
Com isso, as palavras de alta frequência foram
identificadas com mais facilidade. Quando esses
participantes realizaram a leitura de palavras
de alta frequência conseguiram um índice de
precisão que variou de 70% a 100%, resultados
semelhantes a outros estudos11. Por outro lado,
eles apresentaram baixo desempenho na leitura
de palavras inventadas e também cometeram
erros de “lexicalização”21, ou seja, as palavras
inventadas foram lidas como palavras conhecidas e visualmente semelhantes.
De outra parte, foram classificados como
alunos com padrão de leitura de dislexia de su­­­
perfície aqueles que apresentaram maiores dificuldades no reconhecimento de palavras pela
via lexical, ou seja, os leitores que utilizam com
maior precisão a rota fonológica (sublexical),
rea­­­lizando a conversão grafema-fonema. Desse
modo, é possível verificar que os participantes
com dislexia de superfície leram com mais sucesso as palavras regulares e palavras inventadas.
Ademais, cometeram erros de regularização, ou
seja, verificou-se a tendência de regularizar as
palavras de uma ortografia irregular.
Em síntese, apesar das diferenças na leitura
dos participantes parecerem pequenas em termos percentuais, os resultados sugerem as rotas
preferencialmente utilizadas por cada um deles:
sete participantes com padrão de leitura de dislexia fonológica e dois participantes com padrão
de leitura com dislexia de superfície. Em última
análise, a classificação dos alunos da amostra
estudada corrobora a encontrada na literatura,
que aponta a incidência de dislexia fonológica
como sendo mais comum12.
No que se refere à prova de consciência fonológica, os resultados demonstraram que todos
os participantes tiveram melhor desempenho
nas tarefas silábicas quando comparado ao desempenho nas tarefas fonêmicas. Entretanto, ao
comparar os grupos entre si verifica-se que os
alunos com padrão de leitura de dislexia fonológica apresentaram menor desempenho tanto
nas tarefas silábicas como nas fonêmicas. Essa
discrepância de desempenho entre os grupos
demonstra que os alunos com dislexia fonológica têm mais dificuldade que os outros para
realizarem análises fonológicas, principalmente
quando essas análises são no nível do fonema.
Conforme pode ser observado na Tabela 3, os
participantes com dislexia fonológica apresen­
taram um escore médio de 24,6%, o que é consideravelmente inferior ao escore médio dos
par­­­ticipantes com dislexia de superfície (41,6%).
Em suma, a análise das médias dos dois grupos, tanto nas tarefas silábicas como fonêmicas,
permite dizer que a primeira hipótese do estudo
foi confirmada ao demostrar menor desempenho
fonológico entre os alunos com dislexia fonológica. Esses resultados concordam com aqueles
obtidos por Guimarães21, sugerindo que, de
modo geral, a defasagem da consciência fonológica nos sujeitos com dificuldades na leitura e
na escrita envolve principalmente a identificação
e a manipulação de fonemas.
É preciso, entretanto, salientar que a outra
hi­­­­pótese desse estudo era de que os participantes com padrão de leitura de dislexia fonológica
teriam melhor desempenho nas tarefas que avaliam a consciência lexical do que os participantes
com padrão de leitura de dislexia de superfície.
Essa hipótese não foi confirmada.
A principal hipótese explicativa para esse
resultado é a de que nenhum dos participantes,
independentemente do grupo, tem desenvolvida
sua consciência lexical, tendo em vista que ela
é decorrência da prática das crianças em leitura
e escrita. Assim, os participantes, desse estudo
devido às suas limitadas experiências com a
lin­­­­guagem escrita não desenvolveram esta habilidade metalinguística, que se encontra em um
nível muito próximo ao dos alunos da educação
infantil. Esses resultados colocam em relevo o
argumento de Ferreiro46, para quem a noção de
palavra ou “unidade palavra” não preexiste à
escrita. Os dados aqui analisados sugerem que
os aprendizes primeiro constroem uma representação escrita das palavras gráficas e só depois de bem estabelecerem esta representação,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
203
Campos AMG et al
utilizam-na como referência para identificar as
palavras escutadas.
Além disso, os resultados da prova de consciência lexical (Tabelas 4 e 6), em consonância
com os estudos de Ferreiro e Teberosky37 e Fer­­­
reiro e Pontecorvo40, revelaram que, diante da
dificuldade de conceituar o que é palavra, os
participantes tendem a conceber a palavra como
um enunciado, ao invés de concebê-la como uma
unidade lexical (gramatical ou semântica). Com
isso, há uma tendência maior para a hipossegmentação. A título de exemplo de hipossegmentação, temos: a corda (acorda), a vida (avida),
por si (porsi) do que (doque) o melhor (omelhor),
por ela (porela). Essas dificuldades residem na
incompreensão de que os artigos, as preposições, os pronomes e as conjunções pertencem a
classes de palavras e, portanto, consideram des­­­
necessário escrevê-las isoladamente37,40.
Infere-se que os participantes trabalharam
com a hipótese de que um fluxo fonológico contínuo deve ser representado na escrita como uma
única palavra. E, diante das dificuldades de compreensão da estrutura linguística (linguagem
fa­­­­­­lada é diferente da linguagem escrita), não
con­­­seguiram realizar a tarefa que foi solicitada:
dizer quantas e/ou quais palavras escutaram nos
enunciados.
No caso das hipersegmentações, apesar das
ocorrências terem sido bem menores quando
comparadas às hipossegmentações, as palavras
nas quais ocorreram separações indevidas foram: enquanto (em quanto) vivemos (vi vemos)
arrebenta (arre benta) enfarinhado (enfarinhado). Nesses casos, questiona-se se a hipersegmentação ocorreu como consequência da silabação enfatizada no processo de alfabetização
e, por isso, impôs-se diante da necessidade de
segmentar a oração.
Por último, destaca-se que os resultados de
iden­­tificação correta das palavras pelos parti­ci­
pantes deste estudo corroboram com os resul­tados
de outros estudos37,39,40, pois também verificou-se
maior facilidade na identificação de substantivos,
verbos e adjetivos do que na identificação de
palavras de outras classes gramaticais, como artigos, conjunções, preposições e outros elementos
de ligação.
CONCLUSÃO
Sumariando os resultados obtidos, pode-se
afirmar que é possível identificar a rota de leitura preferencialmente utilizada pelos alunos
com dislexia do desenvolvimento. Para investigar as habilidades metalinguísticas desses
alunos foram formuladas duas hipóteses que
pre­­­conizaram desenvolvimentos diferentes das
habilidades de consciência fonológica e lexical
conforme o padrão de leitura.
Verificou-se que, em consonância com a literatura, entre os participantes desta pesquisa predominou os alunos com padrão de leitura de dislexia
fonológica, reafirmando que as dificuldades desses
alunos estão relacionadas predominantemente
com problemas na mediação fonológica.
Esses resultados têm importantes implicações
educacionais, pois sugerem que a prática pedagógica para o desenvolvimento da leitura dos
alunos com dislexia deve buscar um equilíbrio
entre atividades que estimulem diretamente a
consciência fonológica – portanto, decodificação
das palavras via conversão grafema-fonema – e
atividades (estratégias) de leitura baseada no
contexto linguístico. Em outros termos, é importante que os alunos com dislexia desenvolvam
sua capacidade de leitura a partir da utilização
das informações sintático-semânticas do texto.
Acredita-se que, sem um treinamento explícito
sobre como utilizar o contexto como facilitador
da leitura, os alunos com dislexia “perdem-se”
no exercício do decifrado e, muitas vezes, fracassam no reconhecimento das palavras.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
204
Consciência fonológica e lexical nos disléxicos
SUMMARY
Phonological awareness, lexical awareness and reading patterns
of students with developmental dyslexia
Introduction: Many authors have sought to establish relations between
learning difficulties in reading and metalinguistic skills. However, few studies
have analyzed the metalinguistic skills of students with developmental
dyslexia. This is an exploratory-descriptive study which aimed to investigate
the performance of students with developmental dyslexia (phonological and
surface dyslexia) in tasks assessing two metalinguistic skills: phonological
and lexical awareness. Methods: Two groups of participants were formed:
seven students with phonological dyslexia (group 1) and two students with
surface dyslexia (group 2). The study was based on three types of task:
isolated word reading test, phonological awareness assessment (CONFIAS)
and a lexical awareness assessment. Results: Results show similarities
and differences between participants in regard to phonological and lexical
awareness. The performance of participants was similar in the syllabic
subtests, but expressive differences were found between participants in the
phonemic tasks, with higher performance among participants with surface
dyslexia. It was verified that, in regard to lexical awareness, the skills of
participants do not follow the differences related to the preferably-used
reading pattern. Conclusion: It is concluded that, in order to develop reading
decoding, these students need to be instructed not only in the process of
grapheme-phoneme conversion, but also need to learn to use the context
as support in the process of reading recognition.
KEY WORDS: Dyslexia. Reading. Comprehension.
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Artigo recebido: 22/5/2012
Aprovado: 11/7/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 194-207
207
Machado
AC ORIGINAL
& Almeida MA
ARTIGO
Desempenho em tarefas de leitura por meio
do modelo RTI: resposta à intervenção em
escolares do ensino público
Andréa Carla Machado; Maria Amélia Almeida
RESUMO – Introdução: O modelo de Resposta à Intervenção (RTI) é um
modelo de programa para a identificação precoce direcionada a alunos que
apresentam dificuldade de aprendizagem e também no comportamento, que
necessitam de intervenções mais específicas. O RTI é uma maneira diferente
de auxiliar esses alunos que, mesmo recebendo atividades apropriadas,
não acompanham o desenvolvimento apresentado por seu grupo/classe.
Objetivo: Verificar o desempenho de escolares do ensino público em
tarefas de leitura, pré e pós-intervenção. Método: Participaram do estudo
14 escolares pertencentes ao 4º e 5º ano de duas escolas do ensino público,
localizadas no interior do Estado de São Paulo – Brasil. Para a coleta de
dados foi utilizado o instrumento denominado PROLEC – Provas de Avaliação
dos Processos da Leitura, constituído de 14 tarefas. Os resultados obtidos
foram analisados pelo teste estatístico Wilcoxon, ajustado pela correção de
Bonferroni, para identificar quais momentos de observação diferem dos
demais, quando comparados par a par. Resultados: Os resultados revelaram
diferenças estatisticamente significantes na maioria dos pares de variáveis
das tarefas analisadas, o que evidencia a importância do ensino de leitura por
meio de instruções específicas e vinculadas ao entendimento do princípio
alfabético. Assim, os escolares com dificuldades em leitura precisam
conhecer o mecanismo do sistema da língua portuguesa, que podemos
considerar como tarefas desde identificação letra-som até a compreensão
de texto. Conclusão: Portanto, firma-se a importância no investimento de
programas que visem à melhora dos processos da leitura como um todo.
UNITERMOS: Estudos de intervenção. Instituições acadêmicas. Leitura.
Correspondência
Andréa Carla Machado
Rua Rui Barbosa, 416 – Centro – Neves Paulista, SP,
Brasil – CEP: 15120-000
E-mail: [email protected]
Andréa Carla Machado – Mestre e Doutoranda em Edu­­­
cação Especial pela Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), Bolsista FAPESP, São Carlos, SP, Brasil.
Maria Amélia Almeida – Professora Titular do curso de
Licenciatura em Educação Especial, curso de Bacharel
em Psicologia e Programa de Pós–Graduação em
Educação Especial da UFSCar, São Carlos, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
208
Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo RTI
culdade de aprendizagem. Conectando diversas
avaliações a tentativas específicas de intervir
com um estudante, pode-se operacionalizar o
construto de baixo desempenho inesperado em
parte com base em uma resposta inadequada
à instrução que é efetiva para a maioria dos
escolares6.
Aqueles que não obtêm benefícios com o au­­­
mento na intensidade da instrução podem ser
identificados como portadores de dificuldades
de aprendizagem. No entanto, o objetivo não é
apenas identificar os escolares com dificuldade de aprendizagem, mas também aumentar
as oportunidades educacionais para todas as
crianças, com foco na prevenção de tais dificuldades. Os seguintes aspectos são essenciais
à implementação efetiva de um processo de
resposta à intervenção (RTI): 1. medidas fide­
dignas e válidas, que sejam sensíveis à inter­
venção e possam ser administradas em momentos variados; 2. protocolos validados de intervenção visando fatores como o reconhecimento de
palavras à compreensão, e 3. modelos em nível
escolar delineando um sistema coordenado de
triagem, de intervenção e de colocação. Isso
reflete uma abordagem científica à descoberta
“daquilo que funciona”, concentrada principalmente em melhorias nos comportamentos que
podem levar à identificação7,8.
De acordo com O’Meara9, os modelos utilizam um processo RTI e não representam clas­­­
sificações radicais. No entanto, esse modelo
mantém os conceitos do desempenho inesperadamente baixos e discrepantes, mas se baseiam
em avaliações da aprendizagem e do progresso
ao longo do tempo.
Desse modo, o baixo desempenho inesperado é quantificado em parte por meio de uma
resposta discrepante à intervenção, baseada
em diversas avaliações. Isso proporciona uma
vantagem distinta sobre os modelos do status
do sujeito. A classificação subjacente baseia-se
no status da resposta, e a identificação envolve
estipular critérios para selecionar indivíduos
entre os que respondem e os que não respondem
à intervenção10.
INTRODUÇÃO
A leitura é uma atividade muito complexa
e são muitos os processos que nela intervêm,
im­­­plicando um componente de decodificação e
compreensão1.
Para que a leitura seja adquirida, torna-se ne­­­
cessário que a criança tenha atenção dirigida às
marcas impressas e controle os movimentos de
olho na página; reconheça os sons associados às
letras; entenda as palavras e a gramática; cons­­­
trua ideias e imagens e compare ideias novas
com aquelas que ela possui armazenadas em
sua memória1.
Assim, conhecer as estratégias de leitura e
escrita utilizadas por crianças nos anos iniciais
de escolarização é um requisito essencial para
prevenção, identificação e tratamento das dificuldades de leitura2.
O reconhecimento da palavra em um sistema
de escrita alfabético pode ser explicado pelo processo da dupla rota, isto é, a leitura pode ocor­­­rer
por meio de um processo que envolva mediação
fonológica (rota fonológica) ou processo visual
direto (rota lexical)3.
Alguns estudos afirmam que há relação entre
fluência de leitura, decodificação e compreensão, de forma que o processamento lento da
palavra interfere na automaticidade da leitura
e na compreensão, ou seja, a leitura lentificada
das palavras consome a memória de trabalho e,
assim, impede que o escolar se dedique à compreensão do texto4.
Nessa direção, de acordo com Fletcher et al.5,
há abordagens revisadas que se baseiam em avaliações administradas em um único momento. Se
as mesmas avaliações fossem usadas diversas
vezes no ano, aumentaria a sua fidedignidade
na avaliação de escolares com dificuldades de
aprendizagem.
Assim, os modelos que incorporam a resposta
à intervenção, denominados de RTI, envolvem
a identificação baseada, em parte, na triagem
em massa de todos os estudantes e a avaliação
repetida da mesma área básica, como leitura ou
matemática, por exemplo, para escolares que
apresentam características de risco para difi-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
209
Machado AC & Almeida MA
Portanto, o objetivo da presente pesquisa foi
verificar, em situação de antes, após e follow up
(seguimento), o desempenho de escolares do
ensino público em tarefas de leitura.
lexical, o escolar deve reconhecer apenas
palavras reais em uma lista de palavras
reais e inventadas, independentemente
de ser capaz de lê-las ou não. Nas provas
Leitura de palavras, Leitura de pseudopalavras e Leitura de palavras e pseudopalavras, o objetivo é comparar o desenvolvimento das rotas de reconhecimento de
palavras. O escolar deve realizar a leitura
de palavras reais e palavras inventadas,
sendo que na primeira prova é medida a
capacidade do escolar ler palavras reais e,
na segunda, a capacidade de ler palavras
inventadas de diferentes complexidades
silábicas, divididas em CCV, VC, CVC,
CVV, CVC, CVVC. Na terceira prova,
o objetivo é analisar o grau de desenvolvimento que o escolar alcançou com
o uso de rotas fonológica e lexical para
leitura. Para isso, são utilizadas palavras
e pseudopalavras pertencentes a seis
ca­­­tegorias: palavras de alta frequência
curtas, palavras de alta frequência longas,
palavras de baixa frequência curtas e
baixa frequência longas, pseudopalavras
curtas e pseudopalavras longas.
• 3º Processo: processos sintáticos. Compos­­
tos por duas provas. Na prova de Estruturas Gramaticais, é verificada a capacidade
do escolar processar diferentes tipos de
estruturas gramaticais e comprovar a dificuldade que se pode produzir ao utilizar
diferentes estruturas sintáticas, a saber:
voz ativa, voz passiva e complemento
focado. Na prova de sinais de pontuação,
é verificada a capacidade do escolar uti­
lizar sinais de pontuação em um pequeno
texto.
• 4º Processo: processos semânticos. Com­­­
posto por duas provas. Na prova de com­­­
preensão de orações, o objetivo é avaliar
se o escolar é capaz de extrair o significado de simples orações, não requer,
portanto, a intervenção da memória e nem
dos esquemas mentais; a prova é formada
por doze orações que expressam a ordem
MÉTODO
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
para Seres Humanos da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), com o protocolo número CAAE – 4246.0.000.135–10, sob o Número
414/2010, segundo as exigências contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Participantes e Local
Participaram desta pesquisa 14 escolares de
ambos os gêneros, com idade média de 9 anos
e 2 meses, alunos de 4º e 5º ano de escolas públicas de uma cidade do interior do Estado de
São Paulo.
Procedimentos
Após assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis,
os escolares foram submetidos à aplicação da
adaptação brasileira do PROLEC – Provas de
Avaliação dos Processos da Leitura11. Essa avaliação é composta por quatro blocos, distribuídos
para a avaliação de quatro processos de leitura,
como descritos a seguir:
• 1º Processo: identificação de letras. Com­­­
posto por duas provas destinadas a men­­­
surar a capacidade do escolar em identificar as letras e respectivos sons. A prova
de identificação de letras tem por objetivo
verificar a capacidade do escolar em nomear letras e o som que as representa.
A prova igual e diferente em palavras e
pseudopalavras visa verificar a capacidade do escolar identificar, discriminar
e reconhecer palavras reais e inventadas
como sendo iguais/diferentes;
• 2º Processo: processos léxicos. Compostos por quatro provas com a finalidade
de comprovar o funcionamento das duas
rotas de reconhecimento de palavras e
seus subprocessos. Na prova de decisão
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
210
Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo RTI
Observamos que os pares relacionados antes
e follow up obtiveram maior índice de significância no teste estatístico, seguido do par de variáveis antes e após. Tais resultados evidenciaram
que as instruções relacionadas ao modelo RTI
referente ao ensino de leitura obtiveram eficácia
no grupo de escolares participantes, como enfatiza a literatura1,7.
Pôde-se verificar neste estudo que todos os 14
escolares apresentaram melhora no desempenho
das tarefas referentes aos processos da leitura,
principalmente na leitura de pseudopalavras e
compreensão de texto. Esses resultados com­
provaram que a melhoria nas habilidades de
leitura trabalhadas por meio de ensino específico associado à correspondência letra-som teve
efeito positivo, contribuindo para os resultados
obtidos pela pesquisa original12.
No entanto, também podemos observar que,
em todas as tarefas dos pares de variáveis em
situação de após e follow up, não houve melhora
estatisticamente significante. Esses resultados
também são importantes, pois demonstram que
houve manutenção da aprendizagem relacionada às tarefas de leitura. Esses dados reforçam a
eficácia do modelo de RTI no monitoramento dos
processos referentes à leitura, condizendo com
os estudos de Hasbrouck e Denton13.
Assim, uma abordagem baseada em avaliações múltiplas9, como no presente estudo, tem o
potencial de reduzir as dificuldades encontradas,
ao contrário do uso de uma única avaliação, em
um único momento. Certamente, a fidedignidade da abordagem de avaliações múltiplas é maior
do que quando se emprega uma única avaliação
para formar a discrepância.
Os achados de Chidsey et al.10 condizem com
nossos resultados, enfatizando que o uso de
diversas mensurações ao longo do tempo tem o
efeito de melhorar o processo de identificação,
de comparações de “habilidade-habilidade”,
pois envolvem o uso de mais de dois pontos de
avaliação.
De modo geral, portanto, quanto mais informações influenciam as decisões de identificação
de dificuldades de aprendizagem relacionada
simples que o escolar deve executar. Na
prova de compreensão de textos, o obje­
tivo é investigar se o escolar é capaz
de extrair o significado e integrá-lo aos
seus conhecimentos, essa prova requer
a intervenção da memória e esquemas
mentais. Essa prova é composta por quatro textos, sendo dois do tipo narrativo, e
dois expositivos, cada texto é seguido de
quatro perguntas, sendo duas literais e
duas inferenciais.
Essa avaliação foi realizada em uma sessão
de 60 minutos, de forma individual, nas dependências da própria escola dos alunos, em período
contraturno.
Em uma condição de monitoramento, o RTI
é um modelo de programa para a identificação
precoce direcionada a alunos que apresentam
dificuldade de aprendizagem e também no com­­­
portamento que necessitam de intervenções
mais específicas. O RTI é uma maneira diferente para auxiliar esses alunos que, mesmo
recebendo atividades apropriadas, não acompanham o desenvolvimento apresentado por
seu grupo/classe.
Os resultados deste estudo foram analisados
estatisticamente utilizando o teste estatístico
Wilcoxon, ajustado pela correção de Bonferroni,
para identificar quais momentos de observação
diferem dos demais, quando comparados par
a par. Para análise estatística, foi adotado o nível de significância de 5% (p = 0,050*). Para a
realização da análise estatística foi utilizado o
programa SPSS (Statistical Package for Social
Sciences), em sua versão 17.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os resultados do desempenho dos escolares nas provas do PROLEC.
Com aplicação do teste de Wilcoxon, verificou-se diferença estatisticamente significante para
a maioria das provas do PROLEC. No entanto,
para identificar quais momentos de observação
diferem dos demais, quando comparados par
a par, foi aplicado e ajustado pela correção de
Bonferroni.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
211
Machado AC & Almeida MA
Tabela 1. Desempenho dos escolares nas provas do PROLEC em situação de antes, após e follow up.
Par de Variáveis
Significância (p)
Som/Letra antes – Som/Letra após
0,019
Som/Letra antes – Som/Letra follow up
0,007*
Som/Letra após – Som/Letra follow up
0,157
Igual/Diferente antes – Igual/Diferente após
0,012*
Igual/Diferente antes – Igual/Diferente follow up
0,003*
Igual/Diferente após – Igual/Diferente follow up
0,157
Decisão Léxica antes – Decisão Léxica após
0,005*
Decisão Léxica antes – Decisão Léxica follow up
0,003*
Decisão Léxica após – Decisão Léxica follow up
0,102
Leitura Palavras antes – Leitura Palavras após
0,004*
Leitura Palavras antes – Leitura Palavras follow up
0,004*
Leitura Palavras após – Leitura Palavras follow up
0,102
Leitura Pseudopalavras antes – Leitura Pseudopalavras após
0,001*
Leitura Pseudopalavras antes – Leitura Pseudopalavras follow up
0,001*
Leitura Pseudopalavras após – Leitura Pseudopalavras follow up
0,109
Leitura Palavras Frequentes antes – Leitura Palavras Frequentes após
0,001*
Leitura Palavras Frequentes antes – Leitura Palavras Frequentes follow up
0,001*
Leitura Palavras Frequentes após – Leitura Palavras Frequentes follow up
0,109
Leitura de Palavras não Frequentes antes – Leitura de Palavras não Frequentes após
0,002*
Leitura de Palavras não Frequentes antes – Leitura de Palavras não Frequentes follow up
0,002*
Leitura de Palavras não Frequentes após – Leitura de Palavras não Frequentes follow up
0,180
Leitura Não Palavra antes – Leitura Não Palavra após
0,001*
Leitura Não Palavra antes – Leitura Não Palavra follow up
0,001*
Leitura Não Palavra após – Leitura Não Palavra follow up
0,180
Estrutura Gramatical antes – Estrutura Gramatical após
0,001*
Estrutura Gramatical antes – Estrutura Gramatical follow up
0,001*
Estrutura Gramatical após – Estrutura Gramatical follow up
0,104
Voz Ativa antes – Voz Ativa após
0,006*
Voz Ativa antes – Voz Ativa follow up
0,006*
Voz Ativa após – Voz Ativa follow up
0,414
Voz Passiva antes – Voz Passiva após
0,003*
Voz Passiva antes – Voz Passiva follow up
0,002*
Voz Passiva após – Voz Passiva follow up
0,461
Complemente Focal antes – Complemente Focal após
0,027
Complemente Focal antes – Complemente Focal followup
0,007*
Complemente Focal após – Complemente Focal follow up
0,102
Sinais Pontuação antes – Sinais Pontuação após
0,048
Sinais Pontuação antes – Sinais Pontuação follow up
0,036
Sinais Pontuação após – Sinais Pontuação follow up
0,285
Compreensão Oração antes – Compreensão Oração após
0,001*
Compreensão Oração antes – Compreensão Oração follow up
0,001*
Compreensão Oração após – Compreensão Oração follow up
1,000
Compreensão Texto antes – Compreensão Texto após
0,001*
Compreensão Texto antes – Compreensão Texto follow up
0,001*
Compreensão Texto após – Compreensão Texto follow up
0,715
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
212
Desempenho em tarefas de leitura por meio do modelo RTI
à leitura14, ou relacionadas com a elegibilidade
a serviços especiais, mais confiáveis serão as
decisões e as construções de programas de intervenção.
Somente por meio do uso de modelo em RTI
será possível garantir o monitoramento das dificuldades em leitura em escolares. Dessa forma,
pode-se considerar que protocolos específicos
mostram-se sensíveis e adequados a monitorar
e medir em longo prazo o desempenho de leitura nos escolares do ensino básico, bem como
capazes de oferecer ideias para construção de
intervenções que visem à promoção do desenvolvimento dos processos envolvidos na leitura.
CONCLUSÃO
Os dados revelaram que o uso do RTI foi
eficaz para demonstrar a importância do monitoramento de tarefas de leitura em escolares com
dificuldades de aprendizagem.
SUMMARY
Performance in reading assignments through the model (RTI):
response to intervention in public education school
Introduction: The model of response to intervention (RTI) is a model
program for early identification directed to students who have learning
difficulty and also in behavior problems that require more specific
interventions. The RTI is a different way to help these students that even
getting appropriate activities do not advance, compared to your group/
class. Objective: To verify performance in reading tasks in public education
school before and after intervention. Methods: Participated in the study 14
students belonging to the 4th and 5th year of two public schools, located in
the State of São Paulo – Brazil. For data collection an instrument was used
– PROLEC named Reading Evaluation Test, with 14 total tasks. The results
were analyzed by statistical test, Wilcoxon adjusted by Bonferroni correction
to identify which moments of note differ from others when compared to
peer–to–peer. Results: The results showed statistically significant differences
on most pairs of variables analyzed, tasks which highlights the importance
of reading education through specific instructions and linked to the
understanding of the alphabetic school principles, i.e. with difficulties in
reading need to know the system mechanism of the Portuguese language,
which we can consider identifying tasks–letter sound to text understanding.
Conclusion: therefore, the importance in investing in programs that aim to
improve the processes of reading as a whole is necessary.
KEY WORDS: Intervention studies. Schools. Reading.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
213
Machado AC & Almeida MA
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Artigo recebido: 2/5/2012
Aprovado: 13/7/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 208-14
214
Eficácia daARTIGO
intervenção
fonoaudiológica
ORIGINAL
A eficácia de estratégias de remediação
fonoaudiológica na avaliação das
dificuldades de aprendizagem
Lia Pinheiro; Jane Correa; Renata Mousinho
RESUMO – Objetivos: Analisar a eficácia da intervenção fonoaudiológica
utilizando estratégias de remediação na avaliação das dificuldades de aprendizagem
como no desenvolvimento de habilidades linguístico-cognitivas relacionadas ao
aprendizado da leitura. A utilização da metodologia de resposta à intervenção
visa distinguir dificuldades transitórias daquelas que indicariam transtornos
específicos de aprendizagem. Método: Foram estudados os protocolos de avaliação
e intervenção aplicados em 48 crianças do 1º ano do Ensino Fundamental de escola
federal de ensino da cidade do Rio de Janeiro. As mesmas foram reavaliadas quanto
às habilidades linguístico-cognitivas, após um ano de intervenção fonoaudiológica,
a fim de investigar os benefícios de tal estimulação. Resultados: Todas as crianças
se beneficiaram da intervenção, porém, os efeitos desta foram mais expressivos
em crianças com alteração em poucos componentes do processamento fonológico.
As crianças que apresentaram déficits importantes no processamento fonológico
obtiveram ganhos nessa habilidade, mas parecem demorar mais para transpor
esses avanços para as habilidades de leitura. Conclusão: A intervenção precoce se
mostrou eficaz na estimulação do processamento fonológico, quer na prevenção
quer na remediação de dificuldades na aprendizagem da leitura.
UNITERMOS: Leitura. Aprendizagem. Transtornos de aprendizagem.
Correspondência
Renata Mousinho
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de
Neurologia Deolindo Couto.
Avenida Venceslau Brás, 95 – sala 18 – Botafogo – Rio
de Janeiro, RJ, Brasil – CEP: 22290-140
E-mail: [email protected]
Lia Pinheiro – Fonoaudióloga, graduada pela Uni­­­ver­­
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); especialista
em Educação Especial Inclusiva (UGF); Mestranda
Programa de Pós Graduação em Psicologia UFRJ;
Bolsista CAPES, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Jane Correa – Graduada em Psicologia pela Universida­­­de
do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Psicologia Cog­­­
nitiva pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Doutorado
em Psicologia do Desenvolvimento pela Uni­­­versidade de
Oxford. Professora Associada do Instituto de Psicologia da
UFRJ. Coordenadora das Oficinas de Leitura e Escrita.
Bolsista de Produtividade do CNPq e Cien­­­tista de Nosso
Estado – FAPERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Renata Mousinho – Fonoaudióloga; doutora e mestre
em Linguística UFRJ; professora da Graduação em
Fo­­­noaudiologia da Faculdade de Medicina da Uni­­­
ver­­­­­sidade Federal do Rio de Janeiro; Coordenadora do
projeto ELO: escrita, leitura e oralidade UFRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
215
Pinheiro L et al.
evocação de vocábulos devido à fragilidade das
representações fonológicas. Em decorrência,
assiste-se à ocorrência de anomia e as parafasias.
Tais ocorrências podem prejudicar a elaboração
e recontagem de narrativas, mesmo em nível
oral, tal qual o processamento de informações6.
As manifestações das dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita são observadas,
prin­­­cipalmente, no período da alfabetização.
Algumas crianças possuem dificuldade na identificação das letras, apresentando confusão entre
letras semelhantes, espelhando e invertendo
tais símbolos6. A habilidade de identificação
e nomeação de letras é considerada como um
importante preditor para o desenvolvimento da
leitura, tanto em línguas transparentes quanto
em línguas opacas, no que diz respeito à regularidade ortográfica. Outras crianças, apesar de
identificarem e reproduzirem visualmente as
letras, não correspondem às expectativas de
reconhecê-las em unidades maiores, as sílabas,
devido à dificuldade importante na associação
entre letra e som. Essa habilidade é reflexiva e
metalinguística, ou seja, compreendida como
monitoramento intencional dos processos cognitivos realizados7.
O acesso ao inventário mental de palavras,
medido por meio da Nomeação Automatizada Rá­­­
pida (Rapid Automatized Naming - RAN), é um
importante preditor para a habilidade de leitura8,9. Essa relação é mais consistente em línguas
com padrão ortográfico mais transparente, pois
a decodificação seria realizada pela associação
grafema/fonema10. Crianças que apresentam dificuldade na RAN podem se mostrar menos sensíveis à ocorrência de padrões ortográficos11. Ou
seja, apesar da irregularidade da língua, seria
possível adaptar-se à incidência de determinadas
sequências de letras. Seriam compreendidas,
então, apenas as combinações de letras possíveis
dentro daquele idioma, o que poderia tornar a
leitura mais rápida.
A literatura apresenta consenso no que diz
respeito ao processamento fonológico como fator
essencial para a leitura12. O desenvolvimento do
processamento fonológico é de extrema importância e necessita de apoio especializado, tanto
INTRODUÇÃO
As dificuldades apresentadas por crianças
com dificuldades de aprendizagem, incluindo
aí aquelas com dislexia, se manifestam desde
o início de sua experiência de aprendizado da
língua escrita. A dificuldade em superar o realismo nominal não é trivial. Isto é, não é capaz
de refletir sobre a língua, isentando seu valor
semântico. Ao serem inquiridas sobre o tamanho
de duas palavras, como “trem” e “abelhinha”, as
crianças frequentemente indicam “trem” como
maior vocábulo. Entretanto, é com o desenvolvimento da consciência fonológica que ocorre a
detecção de maior número de unidades silábicas
na palavra “abelhinha”.
Crianças que apresentam dificuldades no
aprendizado da linguagem escrita encontram
obstáculos na superação do realismo nominal
porque a sua habilidade de análise fonológica
está prejudicada. Quanto mais desenvolvido o
sis­­­tema fonológico da criança, maior aperfeiçoamento de suas representações linguísticas.
Snowling & Hulme1 advogam que tal aperfei­
çoamento permite melhor desempenho em ou­­­
tras atividades cognitivas, tais como aumento da
memória de trabalho fonológica. Deste modo,
a defasagem nas habilidades de consciência
fonológica poderia justificar parcialmente dificuldade na memória operacional.
A literatura aponta para déficit no processa­
mento fonológico nas dificuldades no aprendi­
zado da leitura e da escrita2-4. Entretanto, di­­­fi­­­­cul­­
dades de linguagem mais abrangentes po­­­­dem
ocorrer em consequência a este prejuízo. De
acordo com Stanovich, a dificuldade no proces­­
samento fonológico avança na direção de alte­­
rações mais gerais no desenvolvimento da linguagem. Esse fato é explicado pela defasagem
na manipulação dos sons da fala, o que torna
frágil a representação fonológica das palavras.
Assim, o vocabulário se tornará restrito e a linguagem oral pode ser prejudicada tanto no que
diz respeito à produção, quanto à compreensão.
Os resultados em testes de vocabulário, frequentemente, se apresentam abaixo do esperado para
a idade5. Também são observadas dificuldade na
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
216
Eficácia da intervenção fonoaudiológica
para as crianças com distúrbio de aprendizagem
quanto para as disléxicas8,13.
Apesar da não coexistência de um quadro de
deficiência mental com distúrbio de aprendizagem
e de integridade do coeficiente de inteligência no
caso das crianças com dislexia, o fracasso escolar é
comum nesses grupos, levando, em alguns casos,
à evasão escolar. Inicialmente, as dificuldades são
observadas na disciplina de estudo da língua. Posteriormente, porém, podem se estender às demais,
devido à crescente demanda de leitura. Com isso,
passam a haver importantes falhas pedagógicas.
Caso não haja o apoio ne­­­cessário e intervenção
adequada, aprender pode se tornar uma tarefa extremamente difícil e desmotivadora, prejudicando
os aspectos sociais e afetivos, desfavorecendo o
vínculo com a instituição escolar.
Mousinho e Correa14 demonstram a importân­­
cia da intervenção precoce em crianças em risco
de problemas de aprendizagem, sobretudo em
tarefas de consciência fonológica que envolvam
rima e sílabas. Essas parecem ser as habilidades
mais importantes para o desenvolvimento de leitura, tanto no que diz respeito à fluência quanto
à compreensão.
O maior número de estudos sobre a respos­­­ta
à intervenção (Response to Intervention - RTI) é
realizado nos Estados Unidos15, onde o critério
para o diagnóstico de transtornos de aprendizagem é baseado na falta de resposta à intervenção16. Em 2008, houve número crescente
de pesquisas de intervenção com crianças em
risco de dislexia. Esses trabalhos apontam para
a necessidade da intervenção nos primeiros anos
de escolarização.
A abordagem pode ser realizada dentro do
con­­­texto escolar, pelos próprios professores ou por
equipe terapêutica (fonoaudiólogos e/ou psicopedagogos). A colaboração e envolvimento da família são essenciais. O objetivo é estimular os fatores
preditivos para a leitura eficaz, a saber: domínio
do alfabeto, nomeação automatizada rápida, me­­
mória operacional e consciência fo­­­­no­­­lógica17. A
intervenção deve ser realizada em crianças em
risco de transtornos de aprendizagem.
Entretanto, pesquisas recentes demonstram
a eficácia das estratégias de remediação tam-
bém em crianças com desenvolvimento típico,
o que justifica a necessidade da implementação
da educação reflexiva no que diz respeito aos
aspectos metalinguísticos2,18. A intervenção pre­­­
coce pode, então, reduzir os efeitos negativos
causados pelas dificuldades de aprendizagem,
tal qual diferenciar crianças com dificuldades
pedagógicas daquelas que necessitam de acompanhamento especializado.
Os programas de intervenção precoce ou re­­­
mediação devem enfatizar o ensino da relação
letra-som e das habilidades metalinguísticas
preditoras para o bom desenvolvimento da leitura. Atividades de consciência fonológica devem
expor a possibilidade de manipulação silábica,
fonêmica e suprafonêmica (rima e aliteração). O
modelo proposto por Broom & Doctor17 sugere
que a intervenção se baseie na análise e síntese
das unidades silábicas das palavras, seguidas
pela identificação de sílabas e de fonemas, comparação de sílabas e fonemas, recombinação de
sílabas e fonemas (segmentação e manipulação)
e identificação de sons e sílabas por meio da rima
de da aliteração.
Dada a importância da sistematização de
for­­­mas de intervenção, pretendemos analisar as
trajetórias de crianças em terapia de linguagem,
com ênfase na importância das estratégias de
remediação quando utilizadas como critério
pa­­­­­ra avaliar a intensidade e a prevalência de
dificuldades no aprendizado da leitura e no
desenvolvimento de habilidades linguístico-cognitivas associadas a este aprendizado. Tendo
como base a resposta à intervenção (RTI), tais
estratégias de intervenção poderiam auxiliar na
distinção de dificuldades transitórias daquelas
que, por sua prevalência, seriam indicadores de
possíveis transtornos de aprendizagem, incluindo a dislexia.
MÉTODO
O presente trabalho foi realizado a partir da
análise da documentação disponível no Ambulatório de Transtornos da Linguagem Escrita
para o projeto de Pesquisa-Intervenção “Acompanhamento longitudinal do desenvolvimento
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
217
Pinheiro L et al.
linguístico dos estudantes do CAp UFRJ: atuação na prevenção e na terapia dos transtornos
de linguagem”, aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Instituto Deolindo Couto, sob
o nº 003/07, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Instituto Deolindo Couto, sob o
nº 003/07. Foram analisados os protocolos das
avaliações das habilidades linguístico-cognitivas
de 48 crianças, realizadas no início do 1º ano e
de sua reavaliação, pós realização de grupo de
estimulação fonoaudiológica, no início do 2º
ano. Foram também consultados e analisados
os relatórios das sessões do grupo de estimulação fonoaudiológica para o mesmo intervalo
de tempo.
A avaliação das habilidades linguístico-cog­
nitivas foi realizada individualmente, no horário
escolar, em uma única entrevista. O teste de
Cons­­­ciência Fonológica adotado foi aquele proposto por Cielo19. Analisamos apenas os proto­
colos relacionados às habilidades de: reconhecer
as palavras dentro da frase; reconhecer a extensão da palavra; identificar rima; realizar síntese e
segmentação das palavras; julgar a semelhança
entre sílabas em posição inicial, medial e final;
e transposição silábica. A memória de trabalho
fonológica foi avaliada por meio do protocolo repetição de não-palavras (São consideradas não-palavras os vocábulos que não são originados a
partir de palavras reais, apesar de respeitarem
os padrões ortográficos da língua portuguesa)20,
sendo importante ressaltar que as crianças são
avisadas que se tratam de palavras que não
existem. Esse teste avalia a memória de trabalho
necessária para o armazenamento dos sons da
fala. Também foi aplicado o teste de repetição de
dígitos Illinois de Habilidades Psicolinguísticas
(ITPA), adaptado por Bogossian e Santos21. Nessa tarefa, a criança deve repetir uma sequência
de dígitos fornecida pelo avaliador. O acesso
lexical foi medido pelo teste de Nomeação Automatizada Rápida (NAR), proposto por Denckla e
Rudel22, adaptado para o Brasil por Capellini. O
teste consiste em quatro pranchas com estímulos
visuais (objetos, cores, letras e números) que
deverão ser nomeados o mais rápido possível
em sequência. Os resultados são aferidos em
segundos, onde quanto menor o tempo, melhor
o desempenho. O objetivo central desse teste é
avaliar a latência para o acesso ao léxico semântico. A fim de investigar a precisão da leitura,
foi utilizada uma lista de palavras isoladas e
não-palavras, utilizando como variáveis o tipo
de palavra (regulares, irregulares ou regras),
a frequência (alta ou baixa), e a extensão das
palavras (dissílabas ou trissílabas) - (Pinheiro,
1994 adaptada por Capovilla e Capovilla23).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Às crianças que, no 1º ano, apresentaram
os menores escores em consciência fonológica
(palavra, rima e sílaba) em relação aos resultados da turma foram oferecidas, semanalmente,
atividades de estimulação fonoaudiológica em
grupo (Tabela 1). O principal objetivo da intervenção foi o desenvolvimento da consciência
fonológica, considerada um bom preditor para
a competência de leitura4,23. Foram convidadas a
participar do grupo de estimulação fonoaudiológica 15 crianças. Dentre as crianças convidadas,
somente 11 participaram efetivamente das atividades no primeiro ano de realização do grupo
de estimulação fonoaudiológica.
A Tabela 2 demonstra o desempenho de ambos os grupos (habilidosos e menos habilidosos
em análise fonológica) em outras habilidades
que compõem o processamento fonológico e
que também são associadas ao aprendizado da
leitura. Tais habilidades incluem aquelas relacionadas à da memória de trabalho20 e da nomeação
automatizada rápida.
Os grupos tiveram desempenhos diferenciados em função das tarefas de memória de trabalho
que lhes foram apresentadas, se de repetição de
dígitos e de repetição de não-palavras. Não houve
diferença significativa na capacidade ge­­­­ral de
armazenamento de informações na memória de
trabalho, conforme medida pela tarefa de repetição de dígitos. Porém, observa-se diferença significativa entre os dois grupos no armazenamento
de informações na memória de trabalho fonológica. Isso revela que não há comprometimento
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
218
Eficácia da intervenção fonoaudiológica
Tabela 1 – Análise de clusters em função dos resultados das provas de consciência fonológica.
Grupo 1
(menos habilidoso)
n=15
Grupo 2
(habilidoso)
n=33
Mann-Whitney U
M
DP
M
DP
Palavra
0,24
0,31
0,79
0,24
37,000**
Rima
0,34
0,27
0,81
0,21
24,500**
Sílaba
0,59
0,15
0,77
0,1
85,000**
Nota: ** p<.01; *p<.05
Tabela 2 – Desempenho dos grupos nas habilidades de linguagem oral e processamento fonológico
(memória de trabalho e RAN).
Grupo 1
(menos habilidoso)
n=15
Grupo 2
(mais habilidoso)
N=33
Mann-Whitney U
M
DV
M
DP
Dígitos
(proporção de acertos)
0,53
0,18
0,63
0,18
171,500
Não-palavras
(proporção de acertos)
0,77
0,15
0,89
0,12
118,500**
RAN objeto
(em segundos)
97
37
70
26
106,500**
RAN cores
(em segundos)
74
20
57
12
124,500*
Nota: ** p<.01; *p<.05
cognitivo na capacidade básica das crianças de
armazenarem informação de modo geral na memória de trabalho, mas sim de armazenamento de
informação de natureza fonológica das crianças
menos habilidosas em análise fonológica quando
comparadas às mais habilidosas.
Diferenças significativas foram observadas
entre os grupos na prova de nomeação automatizada rápida, sugerindo acesso lexical mais lento
no Grupo 1 tanto para objetos, quanto para cores.
Como sugerido pelos valores do desvio padrão,
observa-se, também, maior variabilidade entre
as crianças avaliadas no Grupo 1. Este conjunto
de resultados mostra as dificuldades do Grupo
1 em várias das habilidades implicadas no processamento fonológico.
Das onze crianças que participaram efetivamente do grupo de estimulação fonoaudiológica,
todas tiveram dificuldades em consciência de
palavras no 1º ano. As dificuldades em consciên­
cia de rima chegaram a 67% e de sílaba a 50%.
Em relação à memória de trabalho, 60% das
crianças apresentaram dificuldade na repetição
de não-palavras (Tabela 3).
Dentre as crianças com baixos escores em
cons­­­ciência de palavras, 9 (75%) delas apresen-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
219
Pinheiro L et al.
Tabela 3 – Proporção média de acertos do grupo inscrito no grupo de estimulação fonoaudiológica
e das crianças tomadas como controle nas habilidades de análise fonológica e memória
de trabalho fonológica no 1º ano do Ensino Fundamental.
Consciência Fonológica
Turma Média
DP
Memória de Trabalho
Palavras
Rima
Sílaba
Não-Palavras
0,79
0,81
0,77
0,89
0,24
0,21
0,10
0,10
Juliana (controle)
0,67
0,60
0,75
0,80
Daniel
0,17
0,60
0,85
0,93
Flávia
0,03
0,20
0,25
0,87
Gustavo
0,13
0,00
0,50
0,70
Iasmin
0,17
0,20
0,70
0,73
João
0,13
0,50
0,45
0,50
João Paulo
0,17
0,60
0,77
0,90
Joana
0,10
0,10
0,48
0,57
Luan
0,03
0,90
0,57
0,63
Marcos
0,00
0,20
0,58
0,80
Maicon
0,00
0,30
0,67
0,67
Peter
0,20
0,40
0,77
0,97
taram dificuldade em pelo menos algum outro
nível de análise fonológica (rima e/ou sílaba).
Todas as crianças que apresentaram dificuldades
na avaliação da memória de trabalho fonológica
também tiveram baixos escores em pelo menos
um nível de análise fonológica (rima e/ou sílaba),
além da consciência de palavras.
A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos
pelas crianças participantes do grupo de estimulação nas provas de nomeação automatizada
rápida para objetos e cores. Uma criança, neste
estudo denominada Joana – a designação das
crianças por nomes foi um procedimento empregado para facilitar a compreensão dos resultados; importante ressaltar que os nomes das
crianças que aparecem ao longo deste trabalho
são todos fictícios – não conseguiu nomear as
cores no 1º ano, por esse motivo não realizou a
tarefa de nomeação automatizada rápida de cores. Os resultados estão expressos em segundos.
Quanto maior o tempo, maior a dificuldade da
criança de acesso ao seu léxico mental.
Segundo o critério adotado para avaliar o de­­­
sempenho do grupo nas tarefas de nomeação automatizada rápida, 5 (42%) crianças encontraram
grande dificuldade na nomeação de pelo menos
um dos estímulos apresentados. De forma geral,
observa-se que o tempo de nomeação para cores
foi menor do que para objetos.
Examinando o desempenho das crianças em
todos os componentes do processamento fonológico, observamos que 25% (4 crianças) tinham
dificuldades em pelo menos dois níveis de análise fonológica (consciência fonológica) e fraco
desempenho nas tarefas de repetição de não-palavras e nomeação automatizada rápida. Em
outras palavras, um quarto das crianças do grupo
apresentava dificuldades no processamento fonológico e não apenas em consciência fonológica. Três (33%) crianças exibiam dificuldades em
consciência fonológica e memória de trabalho
fonológica. Duas (17%) crianças apresentavam
dificuldades observadas apenas em consciência
de palavras. Apenas uma criança apresentou
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
220
Eficácia da intervenção fonoaudiológica
O foco da intervenção fonoaudiológica con­­­
sistiu na identificação de letras associadas à
atri­­­­­buição dos respectivos valores sonoros, como
proposto por Capovilla23. Também foram utilizadas práticas de consciência fonológica baseadas
na aliteração, identificação de rimas e combinação de sons, em nível silábico, inicialmente, e
ao final do ano, em nível fonêmico, com e sem
auxílio de pistas visuais. Foram realizados 27
encontros do Grupo de Estimulação Fonoaudio­
lógica no período compreendido entre maio e
novembro de 2007. A frequência média foi de
85%. Atividades de consciência fonológica foram
as que mais motivaram as crianças. Tais tarefas
foram associadas a movimentos corporais, tais
como sincronização de gestos (pulos, “polichinelos” e dedilhação). Em contrapartida, a identificação de letras se mostrou mais complexa no
primeiro momento. As letras foram apresentadas
isoladamente, em consonância com o conteúdo
oferecido pela escola.
No início do 2º ano letivo, toda a turma foi
reavaliada quanto às habilidades de processamento fonológico (Tabelas 5 e 6). Foi introduzida, nesse segundo ano, avaliação da leitura por
meio da lista de palavras isoladas proposta por
Capovilla23 (baseada em Pinheiro).
Pode-se perceber que o desempenho das
crian­­­ças que participaram do grupo de estimu­
lação apresentou evolução importante em cons­­­
ciência fonológica. Na consciência de palavras,
5 (42%) das crianças realizaram a tarefa de
cons­­­ciência de palavra em nível compatível com
seus colegas de turma, sendo que duas delas
tiveram bons escores em todas as outras medidas de consciência fonológica e de memória de
trabalho. A dificuldade com a consciência de
palavra, no entanto, persistiu ainda em 58% das
crianças no grupo, com a rima em 50% e com a
sílaba também em 42%.
Progresso expressivo foi observado no desenvolvimento da memória de trabalho fonológica.
Apenas 3 (25%) crianças tiveram diferença de
desempenho expressiva em relação aos seus colegas de turma. Todas as crianças apresentaram
ganhos nas tarefas de processamento fonológico.
Tabela 4 – Proporção média de acertos
do grupo inscrito no grupo de estimulação
fonoaudiológica e das crianças como controle
nas tarefas de nomeação automatizada rápida
no 1º ano do Ensino Fundamental.
Turma Média
DP
RAN
objetos
RAN
cores
70
57
26
12
Juliana (controle)
66
67
Daniel
89
55
Flávia
108
111
Gustavo
91
69
Iasmin
95
101
João Augusto
192
85
João Paulo
90
50
Joana
151
-
Laísa
89
67
Luan
72
65
Marcos
78
76
Maicon
71
54
Peter
53
49
dificuldades em consciência fonológica e nomeação automatizada rápida. Em suma, 83%
das crianças que frequentaram o grupo tinham
dificuldade em pelo menos dois componentes
do processamento fonológico, sendo um deles
a consciência fonológica.
Inicialmente, o grupo que participou das ati­­­
vidades de estimulação fonoaudiológica mos­­­
trou-se bastante heterogêneo em relação a seus
conhecimentos prévios e práticas de letramento,
uma vez que a entrada no Colégio de Aplicação
da UFRJ (CAp-UFRJ), no primeiro ano do Ensino
Fundamental, ocorre por meio de sorteio. Por
esse motivo, algumas crianças já iniciaram as
oficinas de estimulação com mais conhecimento
formal acerca da escrita do que outras. No entanto, após um semestre de acompanhamento,
os conhecimentos formais relacionados à linguagem escrita eram semelhantes entre as crianças
que participaram do grupo de estimulação.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
221
Pinheiro L et al.
Tabela 5 – Proporção média de acertos do grupo inscrito no grupo de estimulação fonoaudiológica
e das crianças como controle nas habilidades de análise fonológica e memória de trabalho fonológica
no 2º ano do Ensino Fundamental.
Consciência Fonológica
Memória de Trabalho
Palavras
Rima
Sílaba
Não-Palavras
0,74
0,97
0,86
0,85
0,30
0,11
0,11
0,12
Juliana (controle)
0,63
1,00
0,93
0,97
Daniel
0,70
0,90
0,83
0,97
Flávia
0,03
0,20
0,25
0,87
Gustavo
0,30
0,50
0,58
0,53
Iasmin
0,57
0,70
0,72
0,80
João Augusto
0,23
0,30
0,73
0,77
João Paulo
0,97
0,90
0,85
0,90
Joana
0,62
0,60
0,34
0,70
Luan
0,40
0,90
0,85
0,77
Marcos
0,00
0,90
0,65
0,70
Maicon
0,17
0,40
0,58
0,67
Peter
0,43
0,80
0,75
0,90
Turma Média
DP
O desempenho do grupo nas tarefas de no­
meação automatizada rápida (Tabela 6) não apresentou evolução importante em relação àqueles
obtidos no primeiro ano, quando consideradas
todas as crianças participantes do grupo.
O percentual de aumento na velocidade de
nomeação para objetos compatíveis com os níveis
da turma consiste em 50% (5 crianças). Apenas 2
crianças não apresentaram ganho na velocidade
de nomeação. Os tempos obtidos para nomeação
de cores continuaram melhores do que aqueles
para nomeação de objetos para todas as crianças.
Com relação às habilidades de leitura (Tabe­­­la
7), observa-se que das 6 crianças cujos escores
eram superiores a um desvio-padrão, 3 delas
tiveram desempenho próximo à criança que escolhemos para controle. Tomando essa referência
em consideração, poderíamos, então, assinalar
como indicador de dificuldade os escores obtidos
por 3 (25%) crianças do grupo.
Das sete crianças que tiveram escores discre­
pantes daqueles de seus colegas de turma em
precisão na leitura de palavras e/ou não-pala-
Tabela 6 – Proporção média de acertos
do grupo inscrito no grupo de estimulação
fonoaudiológica e das crianças como controle
nas tarefas de nomeação automatizada rápida
no 2º ano do Ensino Fundamental.
Nomes
Turma Média
DP
RAN
objetos
RAN
cores
65
54
15
12
Juliana (controle)
80
60
Daniel
74
51
Flávia
115
97
Gustavo
96
57
Iasmin
103
95
João
93
67
João Paulo
54
51
Joana
120
98
Luan
98
60
Marcos
76
53
Maicon
68
49
Peter
52
45
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
222
Eficácia da intervenção fonoaudiológica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo corrobora os achados encontrados por outros autores2, ao verificar a eficácia
dos programas de remediação aplicados em
crianças com desenvolvimento típico, tal qual
naquelas com indicadores de dificuldades de
aprendizagem. As crianças cujas dificuldades
foram transitórias apresentaram baixos escores
em provas isoladas, enquanto que aquelas com
dificuldades específicas de aprendizagem evidenciaram alterações em diversas tarefas que
dependessem do processamento fonológico.
Crian­­­ças com transtornos de aprendizagem (dis­­­
lexia e distúrbio de aprendizagem) obtiveram
evo­­­lução importante na consciência fonológi­­­ca;
entretanto, a habilidade de leitura ainda se mostrou difícil no segundo ano, sobretudo quando
dependia exclusivamente do processamento
fo­­­­nológico, ou seja, na leitura de não-palavras.
Nesse sentido, a estimulação do processamento
fonológico parece ser uma forma bastante eficaz de prevenir como remediar dificuldades na
aprendizagem da leitura e da escrita.
Tabela 7 – Proporção média de acertos
do grupo inscrito no grupo de estimulação
fonoaudiológica e das crianças como
controle nas tarefas de leitura no 2º ano
do Ensino Fundamental.
Precisão
Palavras
Precisão
não-palavras
0,94
0,85
0,05
0,12
Juliana (controle)
0,96
1,00
Daniel
0,88
0,83
Turma Média
DP
Flávia
0,50
0,25
Gustavo
0,92
0,63
Iasmin
0,27
0,25
João Augusto
0,88
0,54
João Paulo
0,98
0,92
Joana
0,38
0,30
Luan
0,88
0,79
Marcos
-
-
Maicon
0,92
0,54
Peter
0,77
0,58
AGRADECIMENTOS
O presente artigo deriva da dissertação de
mestrado em curso no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) pela primeira autora,
bolsista CAPES, sob orientação das demais
autoras. Agradecimentos à CAPES pelo apoio
concedido.
vras, 3 delas revelaram muita dificuldade em
ambas as tarefas. As 3 outras crianças tiveram
maior dificuldade na leitura de não-palavras.
Essas crianças foram justamente aquelas que
obtiveram baixos escores nas diversas tarefas
que avaliaram os diferentes componentes do
processamento fonológico.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
223
Pinheiro L et al.
SUMMARY
The effectiveness of speech therapist intervention in the
evaluation of learning disabilities
Objectives: Analyze the effectiveness of speech therapist intervention
using remediation strategies in the evaluation of learning disabilities as
well as in the development of linguistic-cognitive skills related to reading.
The methodology response to intervention aims to distinguish temporary
difficulties to those that indicate specific learning disorders. Methods: We
studied the protocols of assessment and intervention applied in 48 children
in the 1st year of a federal elementary school in the city of Rio de Janeiro.
They were reassessed regarding linguistic-cognitve skills after a year of
speech therapy to investigate the benefits of this stimulation. Results: All
children were benefited from the intervention, but the effects of this were
more prominent in children with alterations in only a few components of
phonological processing. Children with important deficits in phonological
processing benefited from the intervention, although they seem to take
longer to transfer these advances to reading. Conclusion: Early intervention
has proven effective in the development phonological processing skills
either in the early intervention or in the remediation of learning difficulties
in reading.
KEY WORDS: Reading. Learning. Learning disorders.
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Artigo recebido: 17/5/2012
Aprovado: 22/8/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 215-25
225
Caridá
DAPDE
&M
endes MH
ARTIGO
REVISÃO
A importância do estímulo precoce em
casos com risco para dislexia:
um enfoque psicopedagógico
Déborah Alcântara Prósperi Caridá; Mônica Hoehne Mendes
RESUMO – O presente trabalho constitui uma revisão bibliográfica,
e versa sobre os aspectos gerais da dislexia, explicando esse distúrbio e
discorrendo sobre suas implicações cerebrais. Apresenta-se o conceito
de aprendizagem em todos os seus aspectos, esclarecendo porque alguns
problemas no processo de aquisição da linguagem são considerados
essenciais para reconhecer as crianças com risco para dislexia. São
apresentados, também, os principais aspectos da linguagem, partindo-se
do ponto de que esta se encontra intimamente conectada com o processo
de aprendizagem. A seguir, apresentam-se as características das crianças
com risco para dislexia, o que as difere de outras crianças, ressaltando-se
de que maneira o estímulo é essencial para que esses indivíduos adquiram
a chance de um futuro melhor, não somente no que se refere às questões
escolares, mas também no âmbito social. Acentua-se a necessidade do
diagnóstico multidisciplinar em um cenário com suspeita de dislexia, e
a relevância da avaliação psicopedagógica, com vistas à elaboração de
estratégias emocionais e cognitivas, para que o ambiente social e a vida
escolar não sejam vistos como ameaça.
UNITERMOS: Psicopedagogia. Motivação. Dislexia. Aprendizagem.
Déborah Alcântara Prósperi Caridá – Pedagoga, Psi­­­
co­­­pedagoga, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
São Paulo, SP, Brasil.
Mônica Hoehne Mendes – Pedagoga, Psicopedagoga,
Mestrado em Psicologia, Terapeuta de Casal e Família,
docente nos cursos de Pedagogia e Psicopedagogia
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,
SP, Brasil.
Correspondência
Déborah Alcântara Prósperi Caridá
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
226
O estímulo precoce em casos com risco para dislexia
infância, quando se percebe que a capacidade
fonológica da criança não está sendo desenvolvida como deveria. Nessa fase, deve-se estar atento para as dificuldades que a criança apresenta
ao pronunciar fonemas, ou seja, para a permanência da chamada “conversa de bebê”. Além
disso, é importante observar as dificuldades para
cantar rimas infantis, aprender nomes e sons,
em uma idade na qual a criança normalmente já
pronuncia as palavras de forma correta. Segundo
Sally Shaywitz2, é de grande importância não se
concentrar somente nas deficiências da crian­­­ça,
mas também nas suas habilidades, uma vez que
são as habilidades e não as deficiências que irão
determinar a vida da criança.
A confirmação do diagnóstico de dislexia de­­­
verá ser feita por uma equipe multidisciplinar,
responsável pela elaboração de um processo de
avaliação não somente minucioso, mas também
abrangente, a chamada Avaliação Multidisciplinar e de Exclusão4.
Com este artigo, pretende-se elucidar a im­­­­
portância do estímulo precoce em casos de
crian­­­ças com risco para dislexia, a partir de um
enfoque psicopedagógico.
INTRODUÇÃO
Toda criança consegue se comunicar antes de
começar a falar, uma vez que está habilitada a
usar os gestos, as expressões faciais e corporais,
além dos sons. Como o aprendizado do código
linguístico está pautado no conhecimento adquirido, esse aprendizado está intimamente
relacionado com o desenvolvimento das capa­
cidades biológicas e com a interação com o meio,
de acordo com a evolução do desenvolvimento
neuropsicomotor1.
O processo de comunicação envolve a ampliação de quatro sistemas que funcionam de
forma independente: o primeiro é o pragmático, relacionado com o uso formal da língua; o
segundo é o fonológico, que capta os sons para
serem reproduzidos; o terceiro diz respeito ao
significado das palavras – semântica – e o quarto
assume as regras para combinar frases de maneira inteligível, a gramática1.
Em termos de linguagem, cada criança possui
seu próprio tempo de desenvolvimento, sendo
diferente também a consciência fonêmica de ca­­
da um. Mesmo que não se conheçam as causas
exatas desses diferentes tempos, é certo que o
desenvolvimento irá depender do meio em que
a criança vive, uma vez que, quando esta cresce em um ambiente abastado em linguagem,
povoado de rimas e aliterações, a consciência
fo­­­nológica é mais rápida. Entretanto, as crianças
com dislexia, por terem falhas no módulo fonológico, apresentam dificuldades em segmentar as
palavras em sons subjacentes e, assim, apresentam problemas na hora de decodificar a leitura2.
Segundo a Associação Nacional de Dislexia3,
esses indivíduos apresentam uma lacuna entre a
aprendizagem e a conquista acadêmica, porém
tal problema não é de natureza comportamental,
psicológica ou mesmo consequência de falta de
motivação, mas, sim, fruto de um funcionamento
diferenciado do cérebro, cujo processamento,
em­­­bora não possa ser considerado anormal,
possui características, habilidades ou inabilidades próprias.
Os mais importantes sinais de que a criança
é portadora de dislexia aparecem na primeira
DESENVOLVIMENTO
As autoras Chamat5 e Palangana6 descrevem
de forma clara e complementar os estágios do desenvolvimento humano. No início da vida, o bebê
apresenta apenas reflexos; com a maturação do sistema nervoso e a interação com o meio, formam-se
os primeiros esquemas da coordenação sensória
motora. Ao longo desse pe­­­ríodo, a criança adquire
a noção de permanência, noção de causalidade,
espaço e tempo, como há predomínio do egocentrismo, apenas na fase final começa a diferenciar
“o que é dela e o que é do mundo”. Em seguida,
o desenvolvimento é marcado pela capacidade
simbólica, ou seja, dos esquemas internalizados. A
criança deixa de depender apenas do movimento,
aumenta o repertório verbal, a coordenação motora
fina começa a se desenvolver, passa a utilizar o
jogo para transformar o real e obter gratificação
com relação aos seus desejos, desenvolvendo a
sociabilidade e as relações afetivas.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
227
Caridá DAP & Mendes MH
Nesse momento, a função semiótica se estrutura, o que permitirá a passagem para o estágio
seguinte, no qual se formam as operações lógicas e a consequente capacidade de realização
das construções de “pensamento sob pontos de
vistas diferentes”. Os mecanismos de assimilação e acomodação entram em equilíbrio e o
pensamento adquire o nível de reversibilidade,
assim como a capacidade de operação. A criança
adquire mais autonomia e aumentam suas capacidades de cooperação e de interiorização do
pensamento. Então, ela passa fazer a distinção
entre o real e o possível. O pensamento deixa
de ser apenas concreto, as operações passam a
ser realizadas também no plano das ideias, da
formulação de hipóteses5,6.
O ser humano que não consegue aprender
não alcança nenhuma das funções sociais da
educação. A psicopedagogia, sendo um meio
de condução do processo da aprendizagem, visa
tornar possível a realização dos fins educativos.
As perturbações na aprendizagem são aquelas
que vão contra a normalidade do processo; já os
problemas de aprendizagem se “superpõem ao
baixo nível intelectual, não permitindo ao sujeito
aproveitar suas possibilidades”7.
Nos disléxicos, as alterações de linguagem se
manifestam por meio de leitura lenta, bloqueios,
omissões, interrupções, distorções, correções e
substituição de palavras, mas em grande parte
das crianças essas alterações aparecem mesmo
antes que comecem a ler, na linguagem oral,
com um atraso relativo na fala, e problemas com
rimas e aliterações8.
A partir da leitura, o ser humano passa a co­­­­
nhecer o mundo no qual está inserido, assim como
todas as áreas de conhecimento9. As autoras Parente e Salles10 afirmam que a leitura pode ocorrer
de duas maneiras: por meio de um processo visual
direto, a rota lexical, ou através de um processo envolvendo mediação fonológica, a rota fonológica.
O processo fonológico depende da consciên­­­
cia fonológica, que possibilitará, como consequência, a “leitura e a escrita lexicais”. Assim
como a decodificação, a consciência fonológica
é “pré-requisito para o domínio da linguagem
escrita”. Dessa forma, quem apresentar dificuldades no desenvolvimento da consciência
fonológica, provavelmente, terá dificuldades na
alfabetização10.
Para Capellini e Ciasca11, a consciência fonológica é o termo relativo à consciência de que,
para formar palavras, são necessários diversos
sons e que essas palavras podem ser quebradas
em unidades menores. Já para Cielo12, consciência fonológica encerra um conceito um
pouco mais abrangente, incluindo a habilidade
da construção e do reconhecimento de rimas,
síntese, dentre outras manipulações, tanto das
sílabas, quanto dos fonemas.
Ao se ter essa consciência, faz-se necessário
que aconteça o desenvolvimento fonológico.
Segundo Snowling13, as crianças fazem o elo
en­­­tre a linguagem que falam e a que escutam,
o que, de maneira ampla, é um dos aspectos
fun­­­damentais no desenvolvimento fonológico, e
esses aspectos se aprimoram na medida em que
a criança cresce. Assim, esse aprimoramento traz
consigo uma melhoria nas habilidades cogni­
tivas adquiridas e subjacentes.
O sistema fonológico é totalmente desenvolvido a partir da inserção da leitura no cotidiano
e “pode proporcionar uma base para o sistema
da leitura, que pode ser considerado como parasítico daquele”. Existem inúmeras teorias sobre o
desenvolvimento da leitura, e muitas delas adotam o princípio de que as crianças estabelecem
relações diretas entre as palavras escritas e as
faladas, o que as leva a decodificar muitas outras.
A partir desse ponto, será criado um sistema de
leitura mais flexível. Assim, as crianças que têm
certa facilidade no domínio da leitura são passíveis de ter bom desempenho em uma série de
trabalhos de processamento fonológico13.
Dessa maneira, utilizando-se o raciocínio
inverso, uma criança que tenha dificuldade na
leitura e na escrita tem, de alguma forma, uma
deficiência no processamento, na consciência
fonológica e no que se refere à memória verbal
de curto prazo. Então, é possível afirmar que
as crianças com dislexia “têm mais dificuldade
com a percepção de sugestões auditivas breves”,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
228
O estímulo precoce em casos com risco para dislexia
sugerindo um possível prejuízo nas várias tarefas
de processamento fonológico13.
Além das razões já apresentadas, existem
outras que também devem ser consideradas
quando uma criança apresentar dificuldades no
processo de alfabetização, como, por exemplo,
diferenças culturais e econômicas, pedagógicas
e emocionais, além da própria condição funcional, como o caso da dislexia. Cada indivíduo é
único em suas manifestações, mesmo quando se
trata de um quadro patológico e, sendo assim, é
importante um olhar abrangente para identificar
o perfil sintomatológico de cada um e traçar a
melhor abordagem terapêutica14.
A dislexia é um “distúrbio específico de apren­­­
dizagem de origem neurológica”, porém, previamente ao seu diagnóstico, alguns sinais que
são factíveis de serem percebidos antes da alfabetização propriamente dita, ou seja, durante o
desenvolvimento da criança nos seus primeiros
anos de vida ou na pré-escola, podem demonstrar risco para dislexia. Esses sinais incluem
“fala ininteligível, imaturidade fonológica, redução de léxico, dificuldade em aprender o nome
das letras ou os sons do alfabeto, em compreender instruções, atraso de fala, dificuldade para
lembrar números, letras em sequência, confusão
direita-esquerda, embaixo, em cima, frente-atrás
(palavras-conceitos) e dificuldade em processar
sons das palavras e história familial”15.
A neurologia é um importante instrumento na
explicação dos processos de aprendizagem e de
linguagem16. A neuropsicologia teve seu início
há muitos séculos, quando houve necessidade
de se estudar a “relação entre o organismo e os
processos mentais até o estágio atual (...), quando
se busca compreender como o sistema nervoso
modula as funções cognitivas, comportamentais,
motivacionais e emocionais”17.
Essa ciência está atrelada ao conhecimento
das relações entre o funcionamento do sistema
nervoso central e as funções cognitivas e comportamento “tanto nas condições normais quanto
nas patológicas. Possui natureza multidisciplinar,
apoiando-se em fundamentos da neurociência e
da psicologia (...)”18.
A capacidade de responder a estímulos ambientais é uma das características que tornou o
ser humano capaz de dar respostas adaptativas16.
Segundo Gough e Tunmer19, um dos estímulos
mais fortes é a linguagem, uma “atividade complexa” que abrange o processo de reconhecimento
das palavras e, então, a compreensão da linguagem. De acordo com Perfetti & Hogaboam20, o
que difere um bom leitor de um iniciante ou com
dificuldade é o esforço que esse tem que fazer para
identificar e significar o que está sendo lido. De acordo com Corrêa21, assim como a linguagem, a memória é “um fenômeno biológico
fundamental e extremamente complexo, sendo
ainda um dos campos mais enigmáticos da
natureza”. A palavra memória está diretamente
relacionada a conhecimento, uma vez que se
trata da “aquisição e retenção de informação”;
permite a conservação do ser humano, bem como
tudo o que está relacionado à aprendizagem.
Para Myers22, o aprendizado está atrelado à
memória, sendo este sua consequência.
Theódule Ribot, um grande pesquisador fran­­­­­­
cês, em seu estudo, que ficou conhecido como a lei
de Ribot, diz que “A velocidade do esquecimento
se dá na ordem inversa do tempo de formação da
memória, isto é, quanto mais recente é a memória,
mais rapidamente ela pode ser esquecida”. Em
1890, William James separou as memórias em primárias e secundárias, porém só Broadbent, anos
mais tarde, nomeou-as como memória de curto
e de longo prazo, terminologia que perdura até
hoje. Em 1968, Atkinson e Schiffrin difundiram
o modelo de seriação de memória, dividindo-a
em memória sensorial, de curto prazo, de longo
prazo e lembrança21.
A aprendizagem é o quociente de vários pro­­­
cessos cognitivos, entre eles as memórias de
curto (operacional) e de longo prazo. De acordo
com Braddeley (apud Gomes 23), a memória
ope­­­racional “é um conjunto de habilidades cog­­­
nitivas que permite que informações novas e
antigas sejam mantidas ativas”. Essa é uma das
principais memórias no que diz respeito à aprendizagem, às funções executivas e ao raciocínio,
exercitando o córtex pré-frontal.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
229
Caridá DAP & Mendes MH
As funções executivas, ou um conjunto de
habilidades que o ser humano possui, o qual permite que ele possa ponderar a eficiência e a eficácia de seus comportamentos, são necessárias
para que seja possível traçar metas e executá-las
com um planejamento rigoroso. Se essas metas
não forem bem sucedidas, é necessário que o
planejamento seja refeito, mantendo sempre a
atenção para o determinado fim24.
Ainda é relevante abordar algumas habilidades que se fazem presentes na função executiva
como, por exemplo, o Controle Inibitório, que,
como o próprio nome diz, versa sobre a capacidade dos seres humanos de inibir respostas
prepotentes, entendidas como uma tendência
hu­­­mana, ou algumas respostas que “interrompam o curso eficaz de uma ação, ou ainda a interrupção de respostas que já estejam em curso”.
Normalmente, a “impulsividade” é atribuída a
algumas dificuldades nessa habilidade24.
Outra habilidade é a Tomada de Decisões,
pro­­­cesso que envolve tomar algumas decisões
em momentos de incerteza. Essas decisões, como
todas da função executiva, deverão basear-se no
cálculo de custo e benefício, mas, em momentos
de incerteza, outras variáveis deverão ser levadas
em consideração, como, por exemplo, os aspectos
sociais e morais e a autoconsciência. Há ainda a
Flexibilidade Cognitiva, responsável pela mudança das ações ou dos pensamentos respeitando o
ambiente externo. A já citada Memória Operacional, por sua vez, constitui um “sistema temporário
de armazenamento de informações que permite a
sua monitoração e o seu manejo”24.
A Categorização é um processo de armazena­
mento e junção dos “elementos que compartilham determinadas propriedades”. E, por último,
Fluência, que “consiste na capacidade de emitir
comportamentos (verbais e/ou não-verbais) em
sequência, obedecendo a regras pré-estabelecidas, sejam elas explícitas ou implícitas” 24.
Outro aspecto importante para ser considerado é o da Plasticidade Cerebral, que segundo
Gomes23, “refere-se a modificações que ocorrem
no sistema nervoso central dos organismos, com o
fim de adequá-los às novas exigências do meio,
seja no nível funcional, através do aumento da
eficiência da transmissão sináptica, seja no nível
estrutural, através do crescimento neuronal”.
A plasticidade cerebral é fundamental para as
funções de aprendizado e memória. Também
podem ser encontrados exemplos de plasticidade
cerebral em relação às habilidades linguísticas
ou abalos no cérebro.
Para Capovilla25, tanto a linguagem quanto a
aprendizagem dependem de fatores neurológicos, diretamente ligados ao plano temporal. Em
crianças com essas áreas preservadas o plano
temporal tende a ser assimétrico, e o maior lado é
aquele responsável pela linguagem, diretamente
atrelado ao processamento fonológico.
Nos disléxicos, o plano temporal tende a ser
simétrico ou apresenta uma assimetria reversa,
mas isso não constitui um fator diagnóstico, porém fator de risco, uma vez que não-disléxicos
também podem apresentar um plano temporal
simétrico. Essa alteração se dá entre o 5º e o 7º
mês de gestação e tem motivos congênitos25.
Para Wajnsztejn26, os profissionais da saúde e
da educação não têm uma opinião precisa sobre
os fatores neurológicos que causam a dislexia,
sabendo-se que há uma alteração cerebral nos
campos atrelados à linguagem e à aprendizagem. Há muitos exames, como o eletroencefa­
lograma e a tomografia, que não se mostram
efetivos no que diz respeito à dislexia.
Ciasca27 acredita que o que se tem hoje são
exames capazes de detectar o fluxo sanguíneo
e, a partir disso, se obtêm alguma compreensão
sobre as áreas afetadas do cérebro.
Os estudos mais recentes têm demonstrado
que os disléxicos têm disfunções nos níveis
pré-frontal, parietal e temporal inferior. Assim,
os pesquisadores ainda procuram respostas no
que diz respeito aos cérebros dos disléxicos, que
provam alterações funcionais e malformações
cerebrais, o que cria a necessidade de um diagnóstico multidisciplinar28.
Andrade29 sinaliza a importância em desen­
volver atividades práticas como forma de iden­­­
tificação de crianças com dificuldades nas habilidades subjacentes às aquisições da leitura e
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
230
O estímulo precoce em casos com risco para dislexia
escrita, provavelmente com risco para dislexia.
É necessário isolar os problemas do sistema de
educação ou metodologias inadequadas de alfabetização no momento de identificar possíveis
crianças em risco para dislexia.
Além dos fatores pedagógicos, que são diretamente beneficiados com a identificação precoce
ou com a estimulação de crianças em risco para
dislexia, os fatores psicológicos e socioafetivos
também se beneficiam, uma vez que a identificação precoce do problema irá minimizar os
sentimentos de fracasso e o desânimo das crianças que enfrentam dificuldades no processo de
aprendizagem5.
É importante ressaltar que, dentro dos fatores apresentados, na primeira infância os
principais vínculos, bem como as condições
para o desenvolvimento da criança, deveriam
ser oriundos da família. Porém, muitas vezes
isso não ocorre, uma vez que a atenção aos
aspectos físico e afetivo-social é decorrente
das questões socioeco­nômicas e psicossociais.
A interação entre crianças e entre crianças e
adultos é necessária, constituindo um dos principais elementos do estímulo. Os conhecimentos
e habilidades decorrentes dessa interação irão
beneficiar sobremaneira o desenvolvimento da
criança. Além disso, essa interação possibilita
que a criança desenvolva seu próprio ambiente,
e também desenvolva seu cognitivo30.
No entanto, os baixos níveis sociais e, muitas
vezes, as fragilidades dos vínculos familiares são
possibilidades de fatores de risco, acarretando
em perdas na linguagem, na memória e nas habilidades sociais, todas de extrema importância
para o desenvolvimento cognitivo30.
Assim, a identificação precoce ou a identificação antecipada das crianças com risco para
dislexia é fundamental para a diminuição dos
riscos de perda cognitiva e, futuramente, a lacuna escolar certamente será menor31.
Segundo a proposta cognitiva, um estímulo
provoca uma resposta externa e, se reforçada
positivamente, irá gerar mesmo comportamento
em outros momentos; no entanto, se reforçada
negativamente poderá não ocorrer mais. No caso
da linguagem, para que o processo de aquisição
aconteça, é necessário uma recompensa ou um
reforço dos adultos para com as crianças32.
Os estímulos levam as crianças ao desenvolvimento das funções executivas e se expandem
para outros campos, como memória, inibição
motora, autorregulação afetiva. “As funções psicológicas têm suporte biológico” e se baseiam
nas relações sociais, intercedida pelos sistemas
simbólicos33.
Schirmer et al.1 destacam a importância do
estímulo para concretizar o processo de comunicação, seja através de conversa, canto, leitura
ou mesmo brincadeiras.
Além das possíveis falhas no estabelecimento de vínculos, um dos primeiros sinais clínicos
da dislexia é a história familiar de dificuldade
de leitura, que, em muitas vezes, pode ser hereditário. Os atrasos ou distúrbios no desenvolvimento da linguagem nos anos pré-escolares
podem ser os primeiros sinais da dislexia. Uma
linha de pesquisa denomina as crianças que
demoram a desenvolver a linguagem, como “fa­­­
lantes tardios”, sendo considerado como um sinal significativo de risco para a dislexia, quando
combinado com outros fatores de risco34.
A identificação precoce do distúrbio é muito
importante, pois, caso não aconteça, poderá
acar­­­retar problemas no desenvolvimento linguístico, na escolarização e nas interações sociais35.
O processo de avaliação psicopedagógica não
se reduz a atividades e tarefas pontuais, mas um
continuum de atuações destinadas a pesquisar
e a compreender melhor a forma como o indivíduo aprende e de ensiná-lo. A ação diagnóstica é planejada de acordo com a demanda ou
queixa, momento em que o profissional coleta
informações relevantes sobre o contexto familiar,
escolar e social no qual está inserido o indivíduo
em avaliação9.
O diagnóstico envolve uma equipe multidisciplinar, em que o médico irá evidenciar causas
orgânicas, diagnosticar e tratar a comorbidade.
O psicólogo deverá realizar uma avaliação neuropsicológica, quantificando e qualificando o
nível de inteligência. Já o fonoaudiólogo avaliará
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
231
Caridá DAP & Mendes MH
as habilidades auditivas, o nível de desenvolvimento da linguagem oral, da leitura e da escrita. O psicopedagogo irá avaliar o desempenho
acadêmico e o terapeuta ocupacional, a forma
integrada das habilidades motoras e sensoriais36.
A elaboração da hipótese, no trabalho diag­­­
nóstico, exige um conhecimento prévio sobre
sin­­­toma e causa e suas inter-relações. Tratando-se de diagnóstico psicopedagógico, o levantamento de hipóteses tem a finalidade de direcionar o trabalho de avaliação, tornando-o mais
objetivo e evitando especulações37.
No processo de diagnóstico, os profissionais
devem obter todos os dados para compreender
o significado, a causa e a modalidade da perturbação, ao receber uma queixa de aprendizagem,
os aspectos cognitivos e comportamentais devem ser levados em consideração. Assim como,
compreender o indivíduo integrado no ambiente familiar, social, escolar e pessoal e em seus
processos de aprendizagem informal e formal38.
Fernandez39 lista algumas questões principais
que um diagnóstico psicopedagógico deve responder, como o significado do conhecimento e o
aprender no imaginário do sujeito e da família;
com que recursos conta para aprender; qual a
modalidade de aprendizagem; qual a posição do
sujeito frente ao não dito; que função tem o não
aprender para ele e para o seu grupo familiar;
qual é o significado da operação particular que
constitui o sintoma; que papel foi designado por
seus pais em relação ao aprender; como aprende
e como não aprende.
Ao final de uma avaliação psicopedagógica,
o profissional deverá ter como base a “dificuldade natural, evolutiva e transitória, dificuldade
secundária a outras patologias e transtornos
específicos da aprendizagem”. O psicopedagogo
irá apresentar em conjunto as avaliações neurológicas, neuropsicológica e cognitiva, o que
permitirá traçar direções para uma intervenção
contemplando a criança, a família e, caso esteja
inserido, a escola, com objetivo de promover
autonomia, autoestima e o desenvolvimento das
funções mentais superiores, levando em conta
os aspectos afetivo-sociais29.
CONCLUSÃO
O número de escolares que apresentam alguma dificuldade na aprendizagem é crescente. Há
muitos fatores que contribuem para esse quadro,
e pode-se afirmar que a aumento na quantidade
de crianças com risco para dislexia, está diretamente atrelado a fatores socais e ambientais,
além dos de ordem emocional-afetiva, sem
desconsiderar possíveis déficits cognitivos. Os
principais fatores que representam as crianças
com risco para dislexia são o déficit fonológico,
a questão da memória, e as dificuldades na nomeação rápida, entre tantas outras31.
Como há uma deficiência na formação acadêmica dos profissionais da educação, e há pouca
familiaridade com os conhecimentos específicos
para suprir a demanda de escolares com algum
tipo de dificuldade, há também falta de instrumentos pedagógicos para caracterizar as crianças que apresentam os riscos para dislexia31.
A identificação precoce de crianças com risco
para dislexia irá auxiliar nos prováveis impactos
de longo prazo na trajetória da criança, pois
as experiências repetidas de insucesso podem
reduzir sua motivação40.
Chamat5 e Almeida-Filho et al.30 citam o estímulo como o principal elemento para a apren­­
dizagem, ou seja, é necessário que exista relação
entre as crianças, os adultos, o ambiente físico e
social para que desenvolva o cognitivo.
A avaliação psicopedagógica fundamentará e
dará ferramentas para o entendimento da criança e dos pais acerca do seu problema, além de
orientar o processo educacional41.
Lopes e Oliveira4 afirmam que as principais
contribuições do psicopedagogo estão relacionadas à “recuperação das habilidades cognitivas,
emocionais, sociais”, tal profissional irá utilizar
diferentes estratégias, porém sempre com o
objetivo de desenvolver habilidades na criança
com dislexia, elevando, consequentemente, sua
autoestima e autoconfiança e valorizando suas
potencialidades. Freitas42 complementa que “a
intervenção psicopedagógica tem para o disléxico um caráter de urgência, na reintegração de
seu mundo”.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
232
O estímulo precoce em casos com risco para dislexia
SUMMARY
The importance of early stimulation in cases at risk for dyslexia:
a psychopedagogical focus
The present work is a literature review, and concerns to the general
aspects of dyslexia, explaining the disorder and discussing brain implications.
It presents the concept of learning in all aspects, explaining why some
problems in the process of language acquisition are considered essential to
recognize children at risk for dyslexia. Also show that the main aspects of
language are closely connected with the learning process. Then, presents
the characteristics of children at risk for dyslexia, which differ from the other
children, highlighting how the stimulus is essential for these individuals
acquire the chance of a better future not only as relates to school issues, but
also in the social sphere. Emphasizes the importance of a diagnosis made by
a multidisciplinary team when there is a setting suspected of dyslexia and
the relevance of pedagogical assessment, with a view of create emotional
and cognitive strategies for those who the social and school life are seen as
a threat, don’t feel this way anymore.
KEY WORDS: Psychopedagogy. Motivation. Dyslexia. Learning.
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Trabalho realizado na Universidade Presbiteriana Ma­­­­
ckenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Artigo recebido: 12/5/2012
Aprovado: 23/7/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 226-35
235
TabaquimDE
MLM
et al.
ARTIGO
REVISÃO
Avaliação neuropsicológica de
sujeitos com lesão cerebral:
uma revisão bibliográfica
Maria de Lourdes Merighi Tabaquim; Marlene Peres de Lima; Sylvia Maria Ciasca
RESUMO – Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica
de avaliações neuropsicológicas de crianças e adolescentes com lesão cerebral,
diagnosticados com paralisia cerebral e traumatismo cranioencefálico, no período
de janeiro de 2006 a outubro de 2011. Na investigação, empregou-se as bases de
dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde),
PubMed (US National Library of Medicine) e SciELO (Scientific Electronic Library
Online). Foram identificados 28 estudos, sendo 26 artigos internacionais e 2
nacionais, sendo 4 sobre paralisia cerebral e 24 de traumatismo cranioencefálico.
Os resultados demonstraram que a avaliação neuropsicológica é frequentemente
empregada para a identificação de desempenhos e sequelas comportamentais
decorrentes, em crianças e adolescentes pós-insulto, tendo foco na compreensão
sobre a inteligência, nas funções executivas, memória, atenção, linguagem e
habilidades sociais. Os instrumentos neuropsicológicos mais empregados foram
WISC-III e IV, WPPIS, Trail Making Test e Teste de Fluência Verbal. A quantificação
de publicações no período investigado, relacionadas à avaliação neuropsicológica
com a população de lesionados cerebrais, mostrou-se incipiente, mesmo
considerando a sua relevância sobre as condições evolutivas e nas proposições
interventivas educativas.
UNITERMOS: Neuropsicologia. Traumatismos encefálicos. Paralisia cerebral.
Maria de Lourdes Merighi Tabaquim – Pós-Doutora em
Ciências Médicas pela Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP),
Docente da Disciplina Psicologia I do Departamento de
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru
da Universidade de São Paulo (FOB-USP) e da PósGraduação em Ciência da Reabilitação do Hospital de
Reabilitação e Anomalias Craniofaciais da USP Bauru
(HRAC-USP), Bauru, SP, Brasil.
Marlene Peres de Lima – Psicóloga, Especialização em
Neuropsicologia Aplicada em Neurologia Infantil da
FCM/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.
Sylvia Maria Ciasca – Doutora em Ciências Médicas/
FCM/UNICAMP. Professora Livre-Docente de Neu­ro­­
logia Infantil do Departamento de Neurologia da FCM/
UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.
Correspondência
Maria de Lourdes Merighi Tabaquim
Rua Bandeirantes, 9-60 Aptº 61 – Centro – Bauru, SP,
Brasil – CEP 17015-012
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
236
Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral
propicia a investigação clínica, com enfoque no
diagnóstico precoce da sintomatologia. Os testes
padronizados utilizados na avaliação neuropsicológica buscam a compreensão das funções
cog­nitivas, entre outras, atenção, percepção, me­­­
mória, linguagem e habilidades de leitura, escrita
e cálculo3. Os resultados dos mesmos indicam
ganhos ao longo do desenvolvimento e têm como
objetivo determinar o nível evolutivo da criança4.
Têm suma importância na prevenção precoce de
distúrbios do desenvolvimento, indicando o ritmo
e a qualidade do processo, possibilitando, assim,
a identificação mais específica das áreas cerebrais
e suas interligações, visando intervenções terapêuticas precoces e mais precisas.
Em casos de lesões cerebrais, decorrentes de
várias causas, a extensão e o impacto são avaliados por exames neurológicos, tomografia,
ressonância magnética e avaliação neuropsicológica. A gravidade dependerá da extensão e
da localização da lesão, que podem resultar em
incapacidade leve a permanente, com déficits
neurocognitivos5 e dificuldades atencionais, fadigabilidade, alterações de linguagem e funções
visuo-espaciais, de memória e aprendizagem.
Além disso, podem faver prejuízos das funções
executivas de planejamento, automonitoramento e de resolução de problemas, bem como de
personalidade, com alteração da capacidade de
crítica, de julgamento e impulsividade6.
As lesões cerebrais que mais acometem crian­­
ças e adolescentes5, prejudicando sua evolução,
justamente por ser um período de desenvolvimento encefálico importante, podem decorrer
de paralisia cerebral ou traumatismo cranioencefálico.
A paralisia cerebral é decorrente de uma le­­­são
que atinge o cérebro imaturo, de caráter não-progressivo, que interfere no desenvolvimento motor normal da criança e se expressa em
padrões distorcidos de postura e movimento,
associados a tônus postural instável e irregular5.
Sua classificação espástica, discinética, atáxica
e mista é baseada nos distúrbios do tônus, na
distribuição anatômica do comprometimento e
na gravidade do quadro clínico7.
INTRODUÇÃO
A pesquisa bibliográfica tem por finalidade
buscar a resolução de um problema hipotetizado
por meio de referenciais teóricos publicados,
analisando e discutindo as várias contribuições
científicas. Esse tipo de pesquisa poderá fornecer subsídios para o conhecimento sobre o que
foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou
pers­­­pectivas foi tratado o assunto apresentado
na literatura científica.
A pesquisa bibliográfica fundamenta-se em
conhecimentos de identificação, localização e
obtenção da informação, proporcionados pela
ciência1. As revistas científicas têm o papel de
favorecer a comunicação dos resultados de tra­­­
balhos de pesquisa, através de artigos, à comunidade científica e à sociedade em geral2. As
fontes de informações eletrônicas, como as Bases
de Dados Bibliográficas e os Portais de Revistas
Eletrônicas, têm sido atualmente as fontes mais
utilizadas para a realização da investigação
bibliográfica e recuperação de informações es­­­
pecíficas, tais como, a base de dados MEDLINE,
focada nas áreas médicas e biomédicas, e a
LILACS e a SciELO, produzidas pela BIREME,
que abordam a literatura das Ciências da Saúde.
Informações sobre a condição humana e suas
adversidades têm sido uma temática de interesse
geral e, mais especificamente, de cunho científico. Durante o desenvolvimento, o ser humano
está exposto a condições adversas impactantes,
dentre elas, as lesões cerebrais em fases diferenciadas da vida. Com grande impacto na qualidade de vida, temos as vítimas de doenças ou
acidentes automobilísticos ou ciclísticos, quedas
de grandes alturas, agressões físicas ou infecções
neurológicas. Dentre as doenças decorrentes de
lesões cerebrais, a paralisia cerebral e o trauma­
tismo cranioencefálico acarretam prejuízos es­­­
tru­­­turais e funcionais, podendo comprometer
fun­­­ções cognitivas diversas, em diferentes graus.
Na compreensão da repercussão funcional
das lesões cerebrais, são utilizados vários procedimentos diagnósticos, e a avaliação neuropsi­
co­lógica consiste em um método investigativo
de funções cognitivas e comportamentais que
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
237
Tabaquim MLM et al.
Casos de traumatismo cranioencefálico são
con­­­ceituados como qualquer agressão que acar­­­­­­reta
lesão anatômica ou comprometimento fun­­­cional,
leve, moderado ou grave, do couro cabeludo, crânio, meninges ou encéfalo, cujas con­­sequências do
quadro patológico podem persistir e progredir com
o passar do tempo8. As incapacidades resultantes
do TCE podem ser físicas/sensoriais, cognitivas
e comportamentais/emocionais, como a perda da
autoconfiança, infantilidade, baixa motivação e,
mais comumente, irritabilidade e agressão9.
A Neuropsicologia tem por objetivo identificar alterações no desenvolvimento cognitivo e
comportamental, relacionado ao funcionamento
cerebral, tem se tornado cada vez mais um dos
componentes essenciais de consultas periódicas
da saúde. Com essa finalidade, emprega ins­­­
trumentos padronizados, como escalas e tes­­­
tes neuropsicológicos, para a investigação do
desenvolvimento e conduta do indivíduo. Os
testes padronizados para avaliação das funções
neuropsicológicas investigam principalmente
habilidades de atenção, percepção, linguagem,
raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,
habilidades acadêmicas, processamento de in­­­
formação, visuoconstrução, afeto, funções mo­­­
toras e executivas3.
Os testes neuropsicológicos que avaliam in­­­
teligência medem quociente de inteligência (QI)
e habilidades necessárias para o desempenho
acadêmico. Dentre eles podem ser citados:
Wechsler Intelligence Scale for Children – WISC
III e IV10; Wechsler Preschool and Primary Scale
of Intelligence11 – WIPPS; Matrizes Progressivas de Raven12; Rey Auditory Verbal Learning
Test – RAVLT13; Rey Visual Design Learning Test
– RVDLT14; Verbal Fluency Test – F.A.S15; Tower
of London16; Trail Making Test14; Wisconsin Card
Sorting Test – WCST17.
Considerando-se os danos neurológicos, co­­­mo
os resultantes da paralisia cerebral e do trau­­­­
matismo cranioencefálico, a avaliação neuropsi­
cológica visa identificar os recursos cognitivos,
tanto os preservados quanto prejudicados, con­­­
tribuindo para procedimentos interventivos es­­­­
pecíficos18.
METODO
Empregou-se a pesquisa bibliográfica por
meio da análise de artigos publicados em revistas científicas, nacionais e internacionais, no
período de janeiro de 2006 a outubro de 2011,
relacionados com a temática de lesão cerebral.
As bases de indexação de dados utilizadas foram: LILACS (Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde), PubMed (US
National Library of Medicine) e SciELO (Scientific Electronic Library Online).
Os descritores obedeceram às seguintes combinações: neuropsicologia + avaliação + lesão
cerebral; neuropsicologia + avaliação + paralisia cerebral; neuropsychological + evaluation +
cerebral palsy; neuropsychological + evaluation
+ brain injury; neuropsychological + evaluation + traumatic brain injury. Como critério de
inclusão dos descritores foi considerado o tema
do estudo da avaliação neuropsicológica em sujeitos com lesão cerebral, especificamente com
diagnóstico de paralisia cerebral e traumatismo
cranioencefálico. Foram excluídos os artigos com
outras populações, que não mencionaram a avaliação neuropsicológica e que foram publicados
em anos anteriores a 2006.
As informações sobre os artigos possuem
iden­­­tificação dos autores, ano de publicação, país
de origem, objetivo, método (amostra e instrumentos) e resultados. Os dados obtidos foram
analisados quanto à caracterização neuropsicológica da população estudada e às contribuições
na área.
RESULTADOS
A maior quantidade das publicações científicas se deu no ano de 2009, sendo artigos
internacionais em sua maioria, referentes aos
anos de 2006, 2007 e 2011, contudo, há um
declínio de publicações no ano de 2008 e com
mais significância em 2010 (Figura 1). Artigos
nacionais são minoria, apenas um em 2007 e um
em 2009, no total de 2 publicações referentes a
pacientes com traumatismo cranioencefálico,
nenhum em relação à paralisia cerebral. O número de publicações internacionais sobre o tema
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
238
Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral
Figura 2 – Artigos sobre lesão cerebral, paralisia cerebral e
traumatismo cranioencefálico.
Figura 1 – Total de produções e de artigos nacionais e internacionais, segundo o ano de publicação.
é muito superior ao de publicações nacionais,
to­­­talizando 26; destas 11 são de autores dos
Estados Unidos, 5 da Austrália, 2 da Islândia, 2
da Suécia, 2 da Holanda, 1 da Dinamarca, 1 da
Itália, 1 da Escócia e 1 do Reino Unido.
Na Figura 2, torna-se evidente que as publicações científicas em relação ao tema, em sua
grande maioria, referem-se às lesões cerebrais
com traumatismo cranioencefálico, havendo pou­­­­­­
cas publicações relacionadas à paralisia ce­­­rebral
(1 em 2008, 1 em 2010 e 2 em 2011).
Os artigos mencionaram a memória e a aten­­­
ção como funções mais avaliadas (Figura 3).
Em 2006, foi identificado um artigo referente
a traumatismo cranioencefálico, em que os sujeitos foram avaliados em memória de trabalho,
outros se referiam a habilidade verbal, inteligência e funções executivas. Nos anos de 2007
e 2011, encontram-se algumas publicações que
avaliam linguagem e fluência verbal. Em 2010,
foi encontrada apenas uma publicação sobre
pa­­­ralisia cerebral, a qual versava sobre atenção
e função executiva. Em relação à cognição e às
habilidades sociais, houve aumento significativo
do número de publicações, se comparado com
as publicações de 2006 a 2011, contudo, no ano
de 2010 não há registro de pesquisa sobre habilidades sociais.
Por meio da busca nas bases de dados previstas foi possível rastrear 267 artigos segundo os
descritores elegidos. Destes, somente 28 atenderam aos critérios de inclusão na presente pes-
Figura 3 – Tipos de funções avaliadas em sujeito com paralisia cerebral e traumatismo cranioencefálico.
quisa. As informações gerais registradas sobre
os artigos foram relacionadas aos autores, ano,
publicação e país de origem. Os objetivos dos
ar­tigos contemplaram principalmente sequelas
de paralisia cerebral ou traumatismo cranioencefálico, bem como avaliação de desempenho
da memória, atenção, habilidades sociais, cognição, função executiva, linguagem em crianças
e adolescentes.
DISCUSSÃO
A maioria dos artigos selecionados foi pu­
blicada em 2009. Em 2010, houve declínio do
tema referido, o mesmo tem uma ligeira alta em
2011, o que pode ser indicação de que o interesse
pelo tema esteja ressurgindo.
Entre os artigos de pesquisa aplicada, apenas 3 utilizaram o método de comparação para
ter um parâmetro de funcionamento de crianças com lesão cerebral e crianças normais. Os
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
239
Tabaquim MLM et al.
demais buscaram verificar por meio de testes
neuropsicológicos se as funções neurológicas
de crianças e adolescentes com lesão cerebral
(paralisia cerebral e traumatismo cranioencefálico) tiveram alguma alteração. Apenas uma
publicação descreve a pesquisa de sujeito com
lesão cerebelar e as consequências advinda desta, tais como: discalculia e baixo desempenho
cognitivo e visual.
Em relação aos métodos comparativos, cons­­­
tatou-se que crianças e adolescentes com lesão cerebral em relação aos normais tiveram
prejuízo em memória de trabalho, déficits em
função executiva, cognição e comportamento.
Conforme pesquisa realizada19, crianças com
traumatismo cranioencefálico leve mostraram
evidências li­­­mitadas de déficits em funções
executivas, seja cog­­nitivamente ou comportamentalmente, independentemente das características da lesão.
Os artigos de pesquisa aplicada efetuados
em sujeitos com paralisia cerebral e traumatis­
mo cranioencefálico demonstram que lesões
ce­­­rebrais comprometem (dependendo da extensão e da localização) as funções cognitivas
e a performance torna-se mais lenta em relação
ao processamento de informações, ocorrendo
deficiências nas funções executivas, atenção e
habilidades sociais. Contudo, habilidades cognitivas podem ser mascaradas por limitações de
movimento e controle motor em crianças com
paralisia cerebral, uma vez que perdem a oportunidade de expressarem habilidades e competências20. Em relação à gravidade da lesão, quanto
menos grave, o desempenho se assemelha ao de
crianças normais, porém, quanto mais grave, o
desenvolvimento intelectual fica mais limitado.
Alguns grupos confrontaram os avanços em
relação ao desempenho neuropsicológico e os
resultados a longo prazo pós-lesão cerebral,
apontando déficits cognitivos no início da reabilitação e melhora de 40% após um ano, o que
evidencia a importância da reabilitação neuropsicológica. Crianças com traumatismo cranioencefálico leve, moderado ou grave tiveram
pior desempenho precoce pós-lesão e mudança
maior na performance ao longo do tempo. O
de­­­sempenho para os grupos moderado e grave
atingiu no máximo 12 meses e a diferença de
desempenho entre eles e o grupo de paralisia
traumatismo cranioencefálico leve aumentou
ligeiramente de 12 a 24 meses21.
Estudos demonstram que lesões cerebrais
na infância podem atrapalhar a aquisição de
desenvolvimento de emoção e reconhecimento
de competências avançadas22.
Pesquisa realizada com aplicação de ressonância magnética de espectroscopia do cérebro
infantil, em pacientes com lesão aguda, de­mons­­
trou melhora da capacidade de prognóstico e
fornencendo informações valiosas para o tratamento precoce e planejamento de intervenções23.
Em relação às funções neuropsicológicas
mais analisadas em sujeitos com lesão cerebral
estão: memória, atenção, velocidade de processamento, cognição e habilidades sociais, o que
pareceu indicar funções com grande impacto no
desenvolvimento global e na aprendizagem da
população-alvo.
Pesquisa que buscava averiguar memória ime­­­
diata, memória de trabalho e complexas indicou
em seus resultados que o traumatismo cranioen­
cefálico grave foi associado com a diminuição
das complexas auditivo-verbal e o desempenho
da memória, embora as crianças com traumatismo cranioencefálico não demonstrassem comprometimento imediato em memória de trabalho,
complexas e memória visuo-espacial24.
Traumatismo cranioencefálico grave em crian­­­
ças pequenas podem afetar negativamente as
funções executivas e a competência social25.
Pesquisas com paralisia cerebral indicam per­­­­­
formance mais lenta em tarefas, sugerindo um
comprometimento geral na eficiência do processamento de informação em relação à lesão
em substância branca. Deficiências estas em
atenção e funções executivas estão presentes
nessas crianças, que podem explicar porque as
mesmas têm aumento dos problemas sociais e de
aprendizagem26. Crianças com paralisia cerebral
expressam sentenças e quase a metade delas tem
QI verbal normal. O status não-verbal frequen-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
240
Avaliação neuropsicológica de sujeitos com lesão cerebral
temente indica prejuízo múltiplo, enquanto a
disartria grave pode estar associada à cognição
normal27.
Os testes neuropsicológicos mais empregados nos estudos pesquisados, para a avaliação
das funções acima citadas, foram o WISC-III e
IV, WPPSI-II, CVLT-II e C, Trail Making Test,
Matrizes Coloridas de Raven e Verbal Fluency
Test, todos eles instrumentos padronizados, com
idoneidade reconhecida internacionalmente.
Dentre os artigos nacionais, as funções avaliadas foram: fluência verbal, reconhecimento
visual, atenção e memória, utilizando-se dos
se­­­guintes testes: Matrizes Coloridas de Raven,
Teste de Fluência Verbal (Verbal Fluency Test),
dígito Spain e Corsi Blocks Test.
Nenhum estudo de comparação entre paralisia cerebral e traumatismo cranioencefálico foi
encontrado nas bases de dados consultadas no
período de 2006 a 2011. Esse dado sugere que
as sequelas da paralisia cerebral decorrentes
de condições etiológicas em períodos precoces
do desenvolvimento (pré e peri-natais) podem
representar variáveis capazes de interferir na
análise das habilidades neuropsicológicas, com­­­
parativamente em casos de traumatismo cra­
nioencefálico, adquirido mais tardiamente.
lesão cerebral, para avaliar o desempenho
ou as sequelas adquiridas. A maioria dos
estudos foi de avaliação de memória,
aten­­­ção, processamento de informação,
cognição, habilidades sociais e função
executiva;
• Os testes neuropsicológicos mais utilizados para avaliação clínica de crianças
e adolescen­­tes com paralisia cerebral
e traumatismo cranioen­cefálico foram:
WISC-II e IV, WPPIS, Trail Making Test,
Teste de Fluência Verbal, no qual buscavam avaliar cognição, linguagem, fun­­ção
executiva, memória, habilidades sociais,
aprendizagem e atenção;
• Os testes neuropsicológicos evidenciam
a necessidade da utilização na avaliação
inicial e acompanhamento em reabili­ta­ção
de pacientes vítimas de lesões ce­­­­­­­­­rebrais
(paralisia cerebral e traumatis­­­mo cranioen­
cefálico), pois fornecem in­­­­­­f ormações
ne­­­­­­cessárias para avaliação clínica, o que
propicia identificar os re­­­cursos cognitivos,
tanto os preservados quan­­­to prejudica­­­­­dos,
contribuindo para procedimentos inter­­­
ventivos específicos;
• A quantificação de publicações relacionadas à avaliação neuropsicológica com a
população de lesionados cerebrais mos­­­
trou-se incipiente, dada a relevância dos
achados no direcionamento diagnóstico
e da pertinência para a proposição de
pro­­­gramas interventivos educativos com
essa população.
CONCLUSÃO
As publicações selecionadas entre os anos de
2006 e 2011 estavam relacionadas com o tema
do trabalho e indicam alguns aspectos:
• Os estudos neuropsicológicos são muito
utilizados em avaliações de pacientes com
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
241
Tabaquim MLM et al.
SUMMARY
Neuropsychological assessment of subjects with brain injury:
a literature review
This article aims to present a review of neuropsychological evaluations
of children and adolescents with brain injury, diagnosed with cerebral palsy
and traumatic brain injury, from January 2006 to October 2011. In
research, we used the database of LILACS (Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde), PubMed (US National Library of
Medicine) and SciELO (Scientific Electronic Library Online). We identified
a total of 28 studies, 26 international and 2 national articles, and 4 on
cerebral palsy and 24 traumatic brain injury. The results showed that
neuropsychological assessment is often used to identify performance
and behavioral sequelae arising in children and adolescents after insult,
with a focus on understanding intelligence, executive function, memory,
attention, language and social skills. The instruments used were more
neuropsychological WISC-III and IV, WPPIS, Trail Making Test and Verbal
Fluency Test. Quantification of publications in the period investigated,
related to neuropsychological evaluation with the population of brain
injured, was in its infancy, even considering their relevance on the
conditions and the evolutionary educational interventional propositions.
KEY WORDS: Neuropsychology. Brain injuries. Cerebral palsy.
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Este trabalho foi decorrente da monografia do curso
de Especialização em “Neuropsicologia Aplicada à
Neurologia Infantil” na Faculdade de Ciências Médicas
da Unicamp, sob a coordenação da Dr. Sylvia Ciasca,
Campinas, SP, Brasil.
Artigo recebido: 30/6/2012
Aprovado: 11/8/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 236-43
243
Dorneles
et al.
ARTIGO
DECL
REVISÃO
A educação de jovens e adultos na
perspectiva das Neurociências
Caroline Lacerda Dorneles; Aliana Anghinoni Cardoso; Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho
RESUMO – O texto que segue pretende discutir a Educação de Jovens e Adultos
na perspectiva das Neurociências. Busca entender o percurso dessa modalidade
de educação no Brasil e traçar um perfil desses sujeitos. A partir disso, enfocamos
as diferenças biológicas e sociais que fazem parte dessa etapa da vida e que, em
algumas vezes, repercutem no processo de aprendizagem. Acreditamos que a
educação, aliada às Neurociências, pode ajudar a entender a estrutura cognitiva
do adulto e o seu processo de envelhecimento, pois muitas das dificuldades de
aprendizagem encontradas por esses sujeitos são atribuídas à idade, às diversas
mudanças e declínios em sua estrutura biológica. No entanto, nessa etapa da vida
também há espaço para grandes aprendizagens e conquistas, e os profissionais
da educação precisam entender essas mudanças para ajudar a romper com o
estereótipo de que as pessoas em processo de envelhecimento não têm mais idade
para aprender. Dessa forma, ao estudarmos biologicamente e socialmente esse
sujeito, poderemos desenvolver práticas pedagógicas mais significativas, voltadas
para seus interesses e necessidades e, assim, permitir a sua aprendizagem e
continuidade nos estudos.
UNITERMOS: Educação. Adulto. Neurociências. Envelhecimento.
Correspondência
Caroline Lacerda Dorneles
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Sul - Campus Rio Grande (coordenação
pedagógica)
Rua Eng. Alfredo Huch, 475 – Bairro Centro – Rio
Grande, RS, Brasil – CEP 96201-460
E-mail: [email protected]
Caroline Lacerda Dorneles – Pedagoga pela Uni­­­ver­­­
si­­­dade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões (URI), Campus Santiago-RS, Especialista em
Psicopedagogia pela mesma Universidade, Mestranda
do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Pedagoga do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Campus Rio
Grande/RS, Rio Grande, RS, Brasil.
Aliana Anghinoni Cardoso – Pedagoga pela Uni­­­ver­­­
sidade Federal de Pelotas/RS (UFPel), Especialista em
Supervisão Educacional pelo Centro Universitário La
Salle, e Mestranda em Educação pela UFPel, Pedagoga
do IFRS, Campus Rio Grande/RS, Rio Grande, RS, Brasil.
Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho – Gra­­­dua­­­
da em Ciências - Habilitação em Biologia pela Uni­­­
ver­­­­­­­­­­­­­­sidade Católica de Pelotas-RS, mestre em Letras
pela Universidade Católica de Pelotas e doutora em
Educação pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul. Pós-doutoranda PRODOC CAPES
no PPG Educação em Ciências: Química da Vida e
Saúde/ Instituto de Ciências Biológicas-Laboratório
de Neurociências da Universidade Federal do Rio
Grande-RS, Rio Grande, RS, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
244
A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
Contudo, os educadores precisam reconhecer que
nessa etapa da vida também há espaço para grandes aprendizagens e conquistas, pois dessa forma,
poderemos romper com o estereótipo de que as
pessoas em processo de envelhecimento não são
capazes de construir novos conhecimentos.
Essa ruptura de paradigma é urgente no
ce­­­nário educacional brasileiro, pois o Brasil
ca­­­­­­­­minha a passos acelerados com relação ao
en­­­­velhecimento de sua população. Conforme
aponta o Instituto brasileiro Geografia e Estatís­­­
tica (IBGE), nos dados do censo 20102, há um
crescente aumento da população adulta no Brasil
e destaque para a participação da população idosa. Esses dados ajudam a reforçar a importância
e o papel fundamental da educação para manter
essa população ativa e produtiva.
Sobre esse aspecto, estudos no campo das Neu­­­
rociências têm ajudado a compreender o desenvolvimento humano, bem como a identificar as
mudanças que ocorrem durante a idade adulta
e a velhice. Assim, há a emergente necessidade
dos profissionais da educação entenderem como
se processa esse desenvolvimento, pois as pes­
soas adultas cada vez mais estão inseridas no
meio educacional e o educador, por sua vez,
precisa reconhecer e compreender que esses
indivíduos possuem uma estrutura cognitiva
com­­­plexa e individual e, por isso, requerem tra­­­­
tamento de acordo com sua individualidade.
Diante desse desafio, o texto que segue aborda um breve histórico da Educação de Jovens e
Adultos no Brasil. Isso ajudará a compreender
o percurso dessa modalidade de educação em
nosso país e a traçar um perfil dos sujeitos nela
inseridos, inclusive considerando aspectos neurobiológicos dessa fase da vida. A partir disso,
tentaremos suscitar reflexões acerca de práticas
pedagógicas significativas para esse público.
INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no
Brasil é uma modalidade amparada pela LDB/
9394/96-Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional1, e se destina àqueles que não tiveram
acesso, na idade própria, ao ensino regular. Contempla o acesso ao ensino, a um público com
idade mais avançada se comparado ao do ensino
regular. Geralmente os estudantes da EJA chegam à escola com uma vasta expe­riência de vida
e, em consequência, com algumas expectativas
diferenciadas sobre o ensino, pois esperam nos
estudos avanços e promoções no trabalho, assim
como melhores salários ou mesmo melhores
oportunidades de emprego.
Para que essas possibilidades sejam atendidas, esses sujeitos precisam ser pensados a
partir de suas peculiaridades e diferenças no
pro­­­cesso de aprender, pois carregam uma série
de mudanças biológicas e ambientais, além de
distintas trajetórias de vida e de aprendizagens
formais e informais que a escola precisa considerar. Naturalmente, essas diversidades demandam que os educadores apresentem mudanças
em seu fazer pedagógico para atender a essas
peculiaridades e, uma delas, é compreender o
processo de aprendizagem desses educandos.
Entender esse processo requer iniciar pela
compreensão da estrutura biológica e social que
sustenta a aprendizagem dos alunos dessa
mo­­­dalidade de ensino, em especial, os adultos.
Nes­­­se sentido, há uma gama de estudos sobre o
desenvolvimento psicológico e a aprendizagem
da criança, que tem contribuído para as transformações no campo da educação e avanços no
entendimento da adolescência. Entretanto, com
relação ao adulto verificamos uma carência de
investigações sobre sua aprendizagem, pois por
muito tempo acreditou-se no estereótipo de que
pessoas adultas e idosas não teriam mais capacidade para aprender ou que apresentariam
muita dificuldade.
Sabemos que o estudante adulto está em uma
fase da vida em que se encaminha para o processo
de envelhecimento e na qual ocorrem diversas
mudanças e declínios na estrutura biológica.
A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
NO BRASIL
No Brasil, a EJA é marcada por um histórico
de movimentos em busca da universalização
do ensino, bem como pelo momento em que a
sociedade brasileira se deparou com a industria-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
245
Dorneles CL et al.
lização, o que, consequentemente, fez com que
a procura pela escola aumentasse. Torres et al.3
destacam que a universalização do ensino está
associada ao movimento da Escola Nova, o qual
também buscava igualdade de oportunidades
e acesso à educação de uma forma igualitária.
Esses movimentos, bem como as inovações
pedagógicas na década de 1930, tinham como
objetivo alcançar a modernização e a democracia
no Brasil, o que se refletia no planejamento de
propostas curriculares voltadas para a educação
cívica e para a cidadania.
Pela primeira vez, a educação foi destacada,
na legislação brasileira, através da Constituição
de 19344, em seu capítulo II, art. 150, o qual
tratava da educação e da cultura. Tal documento propunha como uma das competências
da União fixar o Plano Nacional da Educação,
compreendendo todos os graus e ramos do ensino. Além disso, apontava a necessidade de
obedecer à oferta de ensino primário integral
e gratuito, cobrando frequência obrigatória, in­­­
clusive dos adultos. Porto5 relembra que, entre
1937 e 1945, com o Estado Novo, as con­­­­quistas
referentes à oferta de escolarização pa­­­­ra adultos
eram ainda muito reduzidas. Isso por­­­que se
ampliava a oferta de educação, mas havia muita
abertura à iniciativa privada, que reservava a
escola secundária para as elites do país e des­­­
tinava a educação profissionalizante para a
clas­­­se trabalhadora.
Na tentativa de ampliar os espaços educativos,
no período do Governo Militar, foi instaurada, na
década de 1970, a primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), Lei nº 5692/716, que
tinha como um de seus objetivos a organização da
educação de adultos por meio do ensino supletivo.
Essa medida teve por intuito escolarizar grande
parte da população mediante baixo custo, além
de tentar satisfazer as necessidades emergentes.
Nessa época, havia uma forte influência de Paulo
Freire nos métodos pedagógicos.
Sobre as tentativas de universalizar o ensino,
Haddad7 destaca que a EJA não só foi reconhecida como um direito desde os anos 1930, mas
também ganhou relevância por meio de diversas
iniciativas. Como exemplos dessas tentativas,
po­­­demos destacar as campanhas de alfabetização nas décadas de 1930 e 1940; os movimentos
de cultura popular de 1960; o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) na década
de 1970; o ensino supletivo dos Governos Militares; e, por fim, na década de 1980, a criação
da Fundação EDUCAR. Ainda de acordo com
o autor7, destacamos que a referida fundação
extinguiu-se na década de 1990, sendo que, na
mesma época, a EJA começou a perder prestígio
em função dos poucos investimentos governamentais e da transferência da responsabilidade
dessa modalidade de educação para os estados
e municípios. Somente no ano de 2003, a EJA
voltou a ser prioridade para o Governo Federal,
tendo novamente a meta de erradicar o analfabetismo no Brasil. Diante disso, o Ministério da
Educação lançou o Programa Brasil Alfabetizado
(PBA), voltado à alfabetização de jovens, adultos
e idosos.
Analisando a trajetória histórica da EJA e os
recentes investimentos no país a ela relacionados, acreditamos que através da compreensão
acerca dos sujeitos a quem esta se direciona, poderemos mobilizar diversos saberes relacionados
com a aprendizagem desses indivíduos. Essas
reflexões podem conduzir a um en­­­­ten­­­­dimento
sobre as diferenças no processo de aprender dos
jovens e adultos, de modo a contribuir para uma
educação de qualidade a esse público.
SUJEITOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Vivemos em um panorama de mudanças, com
um ritmo acelerado das transformações sociais
e tecnológicas, em que a sociedade torna-se
mais exigente e busca profissionais qualificados
que atendam às demandas emergentes. Essas
transformações vêm se refletindo no cenário
edu­­­­cacional, pois os sujeitos com pouca escolarização estão retornando ao campo educacional,
sejam eles jovens, adultos ou idosos, e a EJA vem
propiciando essa oportunidade de aprender e
se qualificar.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
246
A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
A EJA proporciona esse acesso, pois ao passo
que o sujeito aprende e se qualifica, consegue
ter mais forças para caminhar em busca da sua
cidadania. Os alunos da EJA são pessoas que
caminham em busca do conhecimento, superam
limites e rompem com barreiras, pois participam
de uma sociedade em transição, na qual os trabalhadores descobrem como canal de crescimento
e libertação, a educação8.
Porto5 referencia que essa libertação e busca
pelo conhecimento e qualificação, hoje, ocorre
em um cenário sociocientífico permanentemente reformulado, em incessante movimento de
re­­­novação. Reforça que, para se situar nessa
sociedade em constantes transformações, o ser
humano precisa construir patamares cada vez
mais elevados de conhecimento, aprender ao
longo da vida e estar em constante evolução. Ao
pensar nessa constante aprendizagem, salien­
tamos que o adulto não pode ser considerado
nesse processo como uma “criança grande”9,
mas como uma pessoa repleta de experiências
e aprendizagens. Na visão de Oliveira9, esse
território da educação não diz respeito a refle­
xões e ações dirigidas a qualquer jovem ou
adul­­­to, mas a um grupo de pessoas que fazem
parte, no interior da diversidade, de grupos
sociais, e que precisam de materiais didáticos,
conteúdos e métodos de ensino específicos para
sua realidade.
Historicamente, os sujeitos da EJA são edu­­­
candos provenientes de diversas camadas sociais, culturais, étnicas, o que os torna pessoas
com diversas experiências e, por isso, precisam
ser pensados visando à diferença. Oliveira9 destaca que o adulto dessa modalidade de edu­­­cação
não é o estudante universitário, nem o profissional qualificado que frequenta cursos de formação continuada. Geralmente, esse edu­­­­­­­­cando é o
migrante que chega às grandes me­­­trópoles, proveniente de áreas rurais empobrecidas, com uma
passagem curta pela escola, ou o trabalhador
não qualificado, que busca a escola tardiamente.
No entanto, atualmente, a EJA passa por um
processo de rejuvenescimento dos educandos,
pois não é mais exclusiva àquelas pessoas que
pararam por longo tempo de estudar e retornaram à escola para terminar os estudos com vistas
a um emprego melhor ou a uma promoção nos
seus locais de trabalho. Hoje, a EJA, além de
oferecer espaço para o adulto, também se destina
ao jovem que, por motivos diversos, não consegue acompanhar o ensino regular e, em alguns
casos, a adolescentes que vêm de um histórico
de fracasso escolar.
Nesse sentido, Oliveira9 e Brunel10 fazem
referência ao número de jovens e adolescentes
que cresce, a cada ano, nessa modalidade de
ensino, modificando, dessa forma, o cotidiano escolar e as relações que se estabelecem entre os
sujeitos que ocupam esse espaço. Esses jovens
que chegam nessa modalidade de educação,
em geral, são desmotivados, desencantados
com a escola regular, pararam de estudar há
pouco tempo, são egressos do ensino regular
e possuem um histórico de repetências e reprovações.
De forma distinta, o adulto que retorna à
es­­­­cola apresenta outras peculiaridades, pois
está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente
do adolescente. Traz uma trajetória de vida e
apren­­dizagens que precisam ser consideradas
e, além disso, carrega uma história mais longa
e complexa, com experiências, conhecimentos
acumulados e reflexões sobre o mundo, sobre si
e outras pessoas.
Diante disso, pensando na identidade desses
educandos da EJA como heterogênea, sujeita
a transformações, caracterizada por diferentes
etapas da vida, é que poderemos romper com a
exclusão, a desigualdade e desenvolver práticas
pedagógicas significativas e que tenham sentido
para esses indivíduos.
Santos11, pensando nessas singularidades
que caracterizam o processo de aprendizagem
da EJA, realizou um estudo em que buscou compreender os impactos que a vivência de escolarização tardia gera na vida de adultos de camadas
populares. Através da análise das trajetórias de
escolarização da vida dos sujeitos, identificou
que, embora cada história seja ímpar, constituída
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
247
Dorneles CL et al.
de vivências e experiências particulares, existem momentos comuns que as marcam. Essas
semelhanças são balizadas por vivências a um
lugar específico e pelo compartilhamento de
uma mesma realidade social.
Com relação à realidade social do indivíduo,
Luria12 apresenta uma pesquisa, na qual revela a
relação entre cultura e formas de funcionamento
psicológico. Detectou que os adultos pouco escolarizados tendiam a apresentar um pensamento
baseado em suas experiências individuais e
nas relações concretas observadas no dia-a-dia, ao passo que aqueles com maior grau de
escolaridade operavam mentalmente, de forma
desvinculada das situações concretas, realizando
atividades descontextualizadas.
O educando adulto precisa que a educação
seja próxima da sua realidade e das suas expe­
riências, principalmente porque é um trabalhador e necessita encontrar significado na escola
para conciliar com suas atividades laborais. Oliveira13 destaca que o adulto traz como principal
característica a questão de que está inserido no
mundo do trabalho e das relações interpessoais,
e carrega uma história mais longa de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as
outras pessoas. Essas particularidades do adulto
fazem com que ele traga, para o contexto escolar,
diferentes habilidades, assim como diferentes
dificuldades que precisam ser consideradas no
seu processo de aprender.
Dessa forma, salientamos a importância dos
educadores conhecerem as singularidades dessas
etapas da vida do educando, principalmente, em
se tratando da EJA, em que pessoas de diferentes
etapas da vida estão inseridas. Assim, ressaltamos que, ao reconhecermos esses indivíduos
como seres individuais que possuem estruturas
biológicas e trajetórias de vida distintas, poderemos minimizar muitas dificuldades de aprendizagem encontradas, pois a maioria desses
problemas ocorre em função do uso de métodos
inadequados e pelo desconhecimento, por parte
do professor, das estruturas do desenvolvimento
do seu aluno.
O ADULTO E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A idade de uma pessoa, quando considerada
por si só, é somente uma passagem do tempo,
não fornece elementos para compreendermos
os processos psicológicos. É preciso considerar
a idade e o comportamento do indivíduo para
compreendermos seu desenvolvimento psicológico. Essas relações entre idade e conduta são
destacadas por Palácios14 como constituídas por
uma natureza correlacional, pois no processo de
desenvolvimento psicológico existem determinadas mudanças que são mais características
de umas idades do que de outras, mas isso não
significa que a idade produz por si mesma as
mudanças.
O Estatuto do idoso15 considera a pessoa idosa
aquela que atinge idade igual ou superior a 60
anos, não considera a maturidade, o comportamento e as experiências que o indivíduo passou
ao atingir determinada idade. Com 60 anos, todos são considerados idosos, independente das
mudanças biológicas e sociais que passaram. Por
não deixar de considerar essas mudanças, Palácios14 atribui a idade dos indivíduos em períodos,
definindo a idade adulta inicial por volta dos 25
aos 40 anos; a adulta média dos 40 aos 65 anos;
a adulta tardia, ou velhice precoce, tipicamente
dos 65 aos 75 anos; e a velhice tardia, após os
75 anos. Salienta que, por mais corretos que
estejam os agrupamentos, há diferentes significados dos conceitos de idade a serem levados
em consideração, como a Idade Cronológica,
que se refere ao número de anos transcorridos
desde o nascimento da pessoa.
Além disso, há a Idade Biológica, ou seja,
a estimativa do lugar em que uma pessoa se
encontra em relação ao seu potencial de vida.
Também, a Idade Psicológica, relacionada à
ca­­­­­­­­pacidade de adaptação de uma pessoa com
suas possibilidades para enfrentar o ambiente.
Ainda, há a Idade Funcional, integradora dos
conceitos de Idade Biológica e Psicológica, que
se refere à capacidade de autonomia e independência do indivíduo. Por último, a Idade Social,
que está relacionada com os papéis sociais e as
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
248
A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
expectativas da sociedade frente a um sujeito
com determinada idade.
A Idade adulta e a Velhice são etapas da vida
que, para Palácios14, estão abertas a mudanças,
sensíveis a diversas fontes de influências. Nesse
período há perdas e declínios, tal como sustentavam os velhos estereótipos, mas também há
ganhos, aquisições, conquistas, crescimentos
e reorganizações que contrariam essas velhas
crenças. São etapas tão evolutivas quanto a in­­­­­­
fância e a adolescência, muito embora apresen­
tem características peculiares.
Ao pensarmos nas etapas da vida e nas mudanças ocorridas nesse processo, não podemos
deixar de salientar as transformações que também ocorrem no desenvolvimento cognitivo,
pois sabemos que os ganhos e conquistas da
vi­­­da influenciam na cognição do sujeito de
for­­­­ma significativa. Sternberg16 traz a ideia de
que o desenvolvimento cognitivo não cessa na
adolescência, as mudanças ocorrem ao longo da
vida. Mesmo com todas as mudanças provoca­­­das
pelo processo natural de envelhecimento, a capacidade para aprender continua intacta, muitos
ganhos e aprendizagens podem acontecer, mas
isso é relativo do contexto e das experiências
intelectuais que a pessoa vivencia.
Sabemos que o processo de envelhecimento é
natural e ocorre com todas as pessoas, por mais
saudáveis que sejam. Palácios14 mostra que o
envelhecimento provoca mudanças físicas no
cérebro, pois tamanho e peso diminuem à medida
que os anos passam. Aos 20 anos, esse órgão pesa
em média 1.400 gramas, enquanto entre os 50 e
60 anos de idade, o peso médio é de 1.337 gramas. Já entre 70 e 80 anos, o cérebro pesará 1.226
gramas, ao passo que entre 80 e 90 anos terá,
em média, 1.180 gramas. Os neurônios também
envelhecem, deteriorando-se na sua arquitetura
e capacidade de conectividade. Alteram-se os
ritmos de atividade elétrica do cérebro e os ritmos
alfa, que estão ligados à capacidade de alerta do
ser humano. Lent17 destaca que o “cérebro do
idoso apresenta claras diferenças morfológicas em
relação ao do indivíduo jovem: o seu tamanho é
menor em média, o que resulta num menor peso”.
Sobre o cérebro em processo de envelhecimento, Lent17 descreve que:
“A contagem do número de neurônios em
diferentes regiões indica pronunciada
queda; é menor também o número de
sinapses. Uma análise ainda mais fina,
em nível bioquímico, indica queda na
quantidade de proteínas cerebrais, especialmente das enzimas que sintetizam
e que degradam neurotransmissores, o
que resulta em uma deficiência dessas
substâncias tão importantes para a transmissão de mensagens no cérebro.”
Essas mudanças naturais do cérebro humano, provocadas pelo processo de envelhecimento, interferem significativamente nas formas de
ser e estar na sociedade, por isso, precisamos
conhecer e compreender essas modificações,
para que as atividades sociais e educativas
tenham significado para esses sujeitos. Sobre
isso, Mora 18 salienta que o envelhecimento
é um processo único e individual, que não é
governado apenas pelos fatores genéticos, mas
destaca uma forte influência dos fatores ambientais e do próprio desenvolvimento do indivíduo. Ainda referencia que o envelhecimento é
um processo estocástico, ou seja, que acontece
depois de avançar a maturidade reprodutiva.
Trata-se de um processo biológico natural uni­­­
versal, que ocorre através da programação
genética do indivíduo e das relações sociais
es­­­tabelecidas.
As neurociências ainda não descobriram que
efeitos esses processos exercem sobre o cérebro,
mas deixa claro que o meio social é fundamental para acelerar ou retardar o envelhecimento.
Mora18 ressalta que estudos recentes indicam
que os neurônios não morrem de uma maneira
generalizada no córtex cerebral, paralelamente,
existe a produção de neurônios no cérebro adulto
e idoso. Essa produção neuronal está relacionada, também, com a aprendizagem e a riqueza
do meio que cerca o indivíduo, bem como com
a qua­­­lidade de vida. O autor18 demonstra que
há visíveis diferenças entre o envelhecimento
de um indivíduo que vive na selva, e de um que
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
249
Dorneles CL et al.
vive na cidade, pois esse último pode apresentar
um envelhecimento mais tardio.
Diante de todas essas mudanças cerebrais, que
fazem parte do envelhecimento natural do ser
humano, podemos dizer que, um cérebro velho,
desde que sadio, é capaz de ter um funcionamen­
to psicológico normal e, ter um adequado de­­­­
sen­­­­­volvimento das atividades cotidianas, além
da aquisição de novos conhecimentos e habilidades. Desse modo, Palácios14 frisa que a manutenção da atividade intelectual contribui para a
boa capacidade de funcionamento cerebral; isso
significa que continuar aprendendo ao longo
da vida contribui para o bom funcionamento de
nosso cérebro. Entretanto, esclarece que não
podemos deixar de pensar nas peculiaridades
desse cérebro envelhecido, como a lentidão na
transmissão de informações. Essa morosidade
pode ocasionar tempos de reação mais longos,
diminuição dos reflexos, execução psicomotora
mais lenta e funcionamento psicológico geral
com uma rapidez e flexibilidade diferentes, se
comparados às idades anteriores.
Considerando essas diferenças ocasionadas
pelo processo de envelhecimento natural, surge
uma nova abordagem social e educativa que
tenta relacionar aspectos biológicos, afetivos,
cognitivos e sociais, que ocorrem nas últimas
fases do ciclo vital, procurando compreender a
pessoa em sua individualidade. Essa aborda­gem
é chamada de Gerontologia Educativa; des­­­
tacada por Osório e Pinto19, que busca equilibrar
a educação e a gerontologia, tomando os conhe­
cimentos disponíveis sobre as duas ciências para
promover maior qualidade e quantidade de vida
às pessoas em fase de envelhecimento. Para
esses autores19, a Gerontologia Educativa ajuda
a reconhecer que a estrutura temporal do envelhecimento difere da infância, da juventude e
da idade adulta, o que limita a compreensão dos
objetivos, propósitos, valores, crenças, neces­
sidades e interesses assumidos pelos idosos.
Esse campo do conhecimento busca acentuar
as potencialidades do ser humano, independente
do momento cronológico vital. Para tanto, considera as ideias de potencialidade cognitiva, de
aprendizagem ao longo da vida e a noção de
envelhecimento ativo.
Nessa visão, Osório e Pinto19 abordam que a
exposição a ambientes estimuladores e a utili­
zação de recursos culturais e educativos ao longo
da vida reduzem quantitativamente o declínio
intelectual. Essas pessoas estão menos expostas
à depressão, enfrentam melhor os acontecimentos da vida e, em geral, mostram níveis de saúde
mais elevados do que as pessoas com níveis de
educação formal mais baixo.
Aliar a Gerontologia com a Educação é, fun­­­­
damental, principalmente em tempos que as
pessoas em processo de envelhecimento vislumbram mais espaços na sociedade. Diante
disso, precisamos pensar no educando da EJA a
partir dessas mudanças, pois é necessário con­­­
siderá-las ao planejar o ensino e as atividades
didáticas, a fim de que a aprendizagem tenha
significado para esses sujeitos e atenda às suas
individualidades biológicas e sociais.
O ENVELHECIMENTO NATURAL
Diversas pesquisas no campo das Neurociên­
cias e da Psicologia têm evidenciado que o processo de envelhecimento é acompanhado por
um declínio cognitivo. Dentre esses estudos,
apresentamos o trabalho de Vega et al.20, que
abordam uma forte relação do declínio cognitivo
quanto à atenção, à aprendizagem e à memória.
Salientam que os danos ocasionados pelo processo de envelhecimento são muito menores do
que se pensava a princípio.
Muitas dessas perdas e lentidões nas atividades mentais e motoras são atribuídas às questões sensoriais que apresentam uma redução
natural, conforme o envelhecimento da pessoa.
Vega et al.20 explicam que é preciso conhecer
os processos sensório-perceptivos, pois esses
mudam conforme o envelhecimento. A partir da
idade adulta a visão apresenta maior opacida­­­de
do humor vítreo, substância viscosa e transparente, que preenche a porção entre o cristalino
e a retina. Isso faz com que as pessoas sintam
maiores dificuldades de enxergar em ambientes
pouco iluminados, apresentem leve declínio na
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
250
A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
a informação mais lentamente do que na juventude, podendo esse acontecimento biológico ser
confundido com dificuldades de aprendizagem
– quando, na realidade, essas alterações fazem
parte do envelhecimento natural. Blakemore
& Frith21 afirmam que todos os seres humanos
perdem células cerebrais de um modo rápido a
partir dos 40 anos de idade. Essas perdas promovem certa lentidão progressiva e dificultam
a realização de determinadas atividades, mas,
sabemos que podem ser amenizadas por meio
de atividades físicas adequadas e de manutenção cerebral, ou seja, por meio de estímulos
apropriados ao raciocínio, sendo um deles a
apren­­­dizagem.
Diante dessas perdas que afetam o desenvolvimento cognitivo, Sternberg16 apresenta uma
explicação diferente. Faz uma distinção entre a
inteligência fluida e a inteligência cristalizada,
dizendo que a fluída refere-se às habilidades
cognitivas que nos capacitam a manipular sím­­­
bolos abstratos, como na matemática; já a inteligência cristalizada seria o conhecimento armazenado, como o vocabulário, por exemplo. Há,
ainda, o fato de que a inteligência cristalizada é
mais alta para os adultos mais velhos, enquanto
a inteligência fluída é mais alta para os adultos
mais jovens. Por isso, os mais velhos parecem
ser mais lentos em tarefas de processamento da
informação.
Sternberg16 salienta que, em geral, as capa­­­
cidades cognitivas cristalizadas crescem ao
longo da duração média da vida, ao passo que as
capacidades cognitivas fluidas parecem crescer
até os 20 ou 30 anos, ou possivelmente até os
40 anos, após, começa a diminuir lentamente.
Entre os fatores que contribuem para reduzir as
capacidades cognitivas e o ritmo de aprendizagem apresentam-se a redução das capacidades
da memória e dos recursos de atenção.
Desde a década de 1940, sabe-se por meio de
estudos e aplicação de testes, que a partir dos
30-40 anos de idade as pessoas vão perdendo
gradativamente sua capacidade mnêmica para
fatos recentes, ou seja, a capacidade de evocar
memórias, conservar e reproduzir-las, o que afeta
capacidade de diferenciar cores e maior sensibilidade a mudanças bruscas de iluminação. Essas
alterações se devem às mudanças que ocorrem
nos músculos da pupila, os quais fazem com que
a resposta às situações seja mais lenta.
Em se tratando da influência das questões
sensoriais com relação ao ouvido, Vega et al.20
afir­­­mam que esse órgão também sofre alterações. Há uma progressiva sensibilidade audi­­­tiva
chamada de presbiacusia, que impede de compreender corretamente o que as outras pessoas
falam. Também fazem referência ao problema do
zumbido, percebido no envelhecimento, quando
há sensação de que os ouvidos retumbam. Esses
problemas de audição das pessoas adultas e idosas se devem tanto a fatores ambientais quanto
aos próprios efeitos do envelhecimento, sendo
que essas implicações auditivas, algumas vezes,
impedem que a pessoa interaja com as demais
e, em alguns casos, faz com que o indivíduo
bus­­­que o isolamento, o que acaba por produzir
mal estar e solidão.
Outro fator sensorial apresentado pelos mesmos autores e que costuma diminuir a eficácia
com a idade é o olfato. Há uma dificuldade por
parte do indivíduo em identificar alguns cheiros, o que pode afetar as relações sociais, pois
a insensibilidade para odores leva ao afastamento de amigos, familiares e demais pessoas
do convívio social. A sensibilidade para o tato
também começa a diminuir com o passar do
tempo, principalmente por volta dos 50 anos.
O problema é atribuído a uma diminuição na
quantidade de receptores e da sensibilidade
in­­­dividual produzida pela palma das mãos e
dedos. Contudo, a sensibilidade tátil não afeta
a todas as pessoas e não são todos os aspectos
táteis que diminuem, pois não chega ao ponto
de interferir na capacidade de localização, nem
na identificação de objetos.
Esses processos perceptivos relacionam-se ao
desenvolvimento cognitivo por fazerem parte de
uma série de transformações neurofisiológicas
que afetam a forma como o indivíduo percebe e
interpreta os estímulos externos. Desse modo, à
medida que as pessoas envelhecem, processam
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
251
Dorneles CL et al.
o aprendizado de fatos novos22. Essa diminuição
da capacidade mnemônica também é apontada
por Izquierdo23,24 como fruto das grandes perdas
neuronais ocorridas nesse período da vida. Entretanto, todos esses declínios não acontecem
somente no período do envelhecimento, mas
ocorrem desde quando o ser humano começa a
caminhar, pois nesse período o cérebro começa
a eliminar os neurônios desnecessários, em uma
breve velocidade, todos os dias, havendo uma
perda constante, até o fim da vida.
As perdas acontecem em todos os indivíduos,
sendo que em alguns de maneira mais acentuada e, em outros, mais lenta, dependendo também
do estilo de vida da pessoa. Por isso, a forma com
que o indivíduo encara essas perdas pode fazer
diferença em sua vida, pois Izquierdo24 afirma
que, nessa fase de envelhecimento, a memória
fica mais lenta e mais seletiva. Nesse aspecto,
é possível utilizar essas características de modo
favorável, tendo em vista que, nesse mesmo
período, há um aumento nos mecanismos de
concentração.
Outra explicação para essas perdas mnemônicas, atribuída por Izquierdo24, é o fato de
que, com o avanço da idade, as pessoas tendem
a lembrar, inconscientemente, de fatos mais
antigos, os quais refletem um período de suas
vidas de maiores prazeres e belas recordações.
Sobre isso, cabe salientar que lembrar de acontecimentos prazerosos remete às experiências do
indivíduo, àquilo que ele é e ao que aprendeu
no decorrer de sua vida. Só lembramos aquilo
que aprendermos, mas se aprendemos é porque
foi significativo24.
Para o autor24, a arte de lembrar está associada a ato de aprender, não há como separar
memória de aprendizagem, pois estas trabalham
juntas e isso nos faz acreditar que a capacidade
de aprender nos indivíduos adultos não diminui,
o que ocorre são alterações na percepção e em
recursos perceptivos que podem tornar o indivíduo mais lento. Por mais que não demonstrem
rapidez no processamento de informações, essa
deficiência pode ser substituída por benefícios,
como a capacidade de refletir sobre experiências
passadas antes de se fazer julgamentos, a capacidade de se concentrar em determinadas tarefas
e a utilização de diferentes saberes.
À medida que ficamos mais velhos, Sternberg16 defende que nos tornamos mais capazes
de interações mais complexas de pensamento
e de comportamento, e isso é reflexo das expe­
riências e aprendizagens que construímos.
Kieling et al.25 mencionam que as diferenças
par­­­ticulares nas trajetórias cognitivas dos indivíduos ao longo dos anos parecem sofrer fortes
influências de fatores ambientais. Diante disso,
o processo de envelhecimento cognitivo torna-se
mais evidente naqueles indivíduos com menor
capacidade cognitiva, por uma capacidade reduzida de sua estrutura biológica, ou seja, por
influência do ambiente.
Em virtude dessas mudanças cerebrais que
as pessoas em processo de envelhecimento apresentam, há um estereótipo de que elas não têm
mais idade para aprender, porém, Vega et al.20
defendem que, quando se afirma isso, se está li­­­­­­­
mitando os campos sobre os quais ainda podem
ocorrer diversas aprendizagens. As pessoas mais
velhas conservam boas capacidades para aprender, principalmente quando são dadas condições
de motivação e atitudes adequadas. Evidentemente, quando comparadas com jovens, o nível
de execução das atividades desses indivíduos
mais velhos não é considerado tão bom, porém,
é suficiente para ser atribuído como normal.
Blakemore & Frith21 referem que “o cérebro
adulto é flexível, permite o crescimento de células
novas e o aparecimento de novas conexões [...]
embora a aquisição de novos conhecimentos se
torne menos eficiente com a idade, não há nenhum limite de idade para aprender”. O cérebro
adulto é maleável e, devido à plasticidade, se
adapta continuamente a novas circunstâncias.
Essa capacidade cerebral de mudanças é atri­
buída à plasticidade cerebral, a qual sugere o cérebro estar bem constituído para a aprendizagem
ao longo da vida e para adaptação ao ambiente.
Nesse sentido, a forma como o processo de ensinar e aprender são conduzidos pode contribuir
com os processos de ativação do cérebro devido
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
252
A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
à plasticidade, mas, para isso, são necessários
estímulos. Para Rotta26, a plasticidade cerebral
é dependente dos estímulos ambientais e, além
disso, das experiências de vida. Essas interferências influenciam na plasticidade e na aprendizagem, sendo as alterações plásticas as formas
pelas quais se aprende.
Essa influência que os meios, social e educativo, exercem sobre as capacidades cognitivas
é destacada por Blakemore21 pelas mudanças
que provoca no cérebro, pois a cada experiência
nova há uma readaptação discreta da estrutura
física do nosso cérebro. Isso permite dizer que
o cérebro continua plástico e flexível na idade
adulta e a aprendizagem, ao longo da vida, tem
grandes implicações na plasticidade. Essas constatações reforçam de forma positiva a educação
das pessoas adultas, a importância do retorno
à escolarização e a continuidade dos estudos.
uma redução natural dos recursos perceptivos
com o aumento da idade que afeta o desenvolvimento cognitivo e a maneira como o indivíduo
interpreta os fatos. Com isso, apontamos que o
público da EJA, merece uma atenção especial,
pois engloba educandos em diversas fases da
vida, que apresentam mudanças diferentes e em
tempos diferentes.
Salientamos que a aprendizagem continua
ocorrendo em diferentes períodos do ciclo vital,
porém, de forma peculiar, sendo que com as
pessoas mais velhas, com um tempo e ritmo di­­
ferente e isso requer metodologias de trabalho
e políticas educacionais focadas para suas necessidades e interesses. A escola tem papel fundamental nesse meio, pois faz parte do contexto
social desse aluno e, em razão disso, precisa
co­­­­­­­nhecer a trajetória desse sujeito para tentar
com­­­preendê-lo nos seus aspectos biológicos e
sociais, podendo, assim, propiciar uma educação
de qualidade que priorize as individualidades.
Ao realizarmos essa revisão teórica, percebemos
a necessidade de mais investimentos que aliem
os conhecimentos da educação com as Neurociências, visto que os educadores também precisam conhecer e compreender a influência dos
aspectos biológicos e sociais que repercutem na
aprendizagem dos seus educandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pensarmos na EJA, verificamos a neces­
sidade de compreender as complexidades do
ser humano, jovem e adulto, pois sabemos que
esses sujeitos são diferentes e apresentam estruturas biológicas e experiências sociais que
requer pensá-los em suas individualidades,
principalmente no processo de aprender. Há
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253
Dorneles CL et al.
SUMMARY
Youth and adults education from the perspective of the Neurosciences
This paper intends to discuss the Youth and Adults Education from the
perspective of the Neurosciences. It aims to further understand the pathway
of this educational modality in Brazil and outline a profile of these youth
and adults. From that, we focus on biological and social differences that
are part of this stage of life and, in some occasions, have an impact on their
learning process. We believe education, associated to neurosciences, might
help to understand the cognitive structure of adults and their aging process,
since many learning difficulties found by these adults are attributed to age,
several changes and decreases in their biological structure. However, in this
stage of life, there is also space to major learnings and achievements, and
education professionals must understand these changes so that they can help
to break with the stereotype that people undergoing the aging process are
not able to learn anymore. Therefore, when studying this person biologically
and socially, we can develop more significant pedagogical practices, aimed
at their interests and needs in order to allow their learning and continuity
of the studies.
KEY WORDS: Education. Adult, Neurosciences. Aging.
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Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio
Grande-FURG, Rio Grande, RS, Brasil
Artigo recebido: 11/6/2012
Aprovado: 5/8/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 244-55
255
Shimizu
VT DE
&M
iranda MC
ARTIGO
REVISÃO
Processamento sensorial na criança com
TDAH: uma revisão da literatura
Vitoria Tiemi Shimizu; Mônica Carolina Miranda
RESUMO – Estruturada a partir da interação com o ambiente, a
aprendizagem depende da integridade do processamento sensorial,
relacionado à função neurológica de organizar e processar as informações
sensoriais do corpo e do ambiente, produzindo respostas adaptativas
adequadas. Dificuldades do processamento sensorial podem desencadear
comprometimentos tanto no desempenho motor e comportamental, como
também na aprendizagem. São poucos os estudos sobre a dimensão sensóriomotora no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sendo
ainda mais escassos os estudos sobre a relação entre o processamento
sensorial e os sintomas comportamentais do TDAH. Esta revisão de literatura
busca caracterizar os principais aspectos do processamento sensorial e
do TDAH, bem como a relação entre essas dimensões. Procura, também,
discutir e contribuir na compreensão do papel do processamento sensorial
na produção das respostas comportamentais e no processo de aprendizagem,
assim como sua possível contribuição na sintomatologia presente no TDAH,
apontando para a importância de uma abordagem multidimensional para
o quadro do TDAH na infância.
UNITERMOS: Transtorno do deficit de atenção com hiperatividade.
Comportamento. Aprendizagem.
Correspondência
Vitoria Tiemi Shimizu
Av. Francisco de P. Q. Ribeiro, 280, apt. 11, b.2 – São
Paulo, SP, Brasil – CEP 04330-020
E-mail: [email protected]
Vitoria Tiemi Shimizu – Fisioterapeuta, Mestre em Ciên­­­
cias pelo Programa de Pós-graduação em Edu­­­cação e
Saúde na Infância e Adolescência pela Uni­­­versidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil.
Mônica Carolina Miranda – Psicóloga, Mestre e Dou­­­
tora em Ciências pela Universidade Federal de São
Paulo- UNIFESP. Docente do Programa de Pós-Gra­­­
duação em Educação e Saúde na Infância e Ado­­­
lescência pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). Coordenadora do Núcleo de Atendimento
Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar (NANI/
CPN), São Paulo, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
256
Processamento sensorial na criança com TDAH
sensório-motor e sua importância sobre o desen­
volvimento cognitivo e afetivo, assim como a
recíproca interação entre essas dimensões. No
entanto, são poucos os estudos que discutem a
dimensão sensório-motora e o TDAH, principalmente estudos específicos sobre o processa­
mento sensorial e sua possível relação com os
sintomas comportamentais desse transtorno.
Nessa perspectiva, o presente artigo traz uma
revisão de literatura sobre os principais aspectos
do processamento sensorial e do TDAH, assim
como estudos que abordam a relação entre essas
dimensões, a fim de contribuir para a compreensão e discussão sobre o papel do processamento
sensorial no processo de aprendizagem e na
produção das respostas comportamentais, assim
como sua possível correlação com a sintomatologia apresentada pelas crianças com TDAH.
INTRODUÇÃO
Compreendida como um processo complexo e dinâmico, a aprendizagem estrutura-se a
partir de um ato motor e perceptivo1, no qual a
informação é inicialmente captada do ambiente,
passando por um contínuo processamento com
sucessíveis níveis de elaboração, desde a captação das características sensoriais, a interpretação
do significado até a emissão da resposta2.
Nessa perspectiva, a aprendizagem depende
da integridade do processamento sensorial, ou
seja, da habilidade do indivíduo em receber as
informações sensoriais do ambiente e dos movimentos do seu corpo, de processar e integrar
as diferentes modalidades sensoriais no sistema nervoso central e utilizá-las para produzir
respostas adaptativas adequadas. Na presença
de dificuldades do processamento sensorial,
ocorre um déficit no planejamento e produção
do comportamento ou movimento, podendo desencadear comprometimentos no desempenho
motor, dificuldades da criança em se organizar
e manter a atenção, bem como dificuldades na
aprendizagem escolar3.
Com alta prevalência entre a população mun­­­
dial e com um quadro clínico bastante hete­­­
rogêneo, o transtorno de déficit de atenção e
hi­­­­­­peratividade (TDAH) também representa elevado risco de comprometimento comportamen­­­tal
em diversas áreas do funcionamento adaptativo,
incluindo as dificuldades no ajustamento motor,
psicossocial, além de prejuízos no desempenho
acadêmico e na aprendizagem4,5.
Alguns estudos internacionais evidenciam
que crianças com TDAH podem apresentar di­­­
ficuldades gerais no processamento sensorial
principalmente em relação à modulação senso­­­
rial6-8, relacionada à capacidade de regular e
or­­­ganizar o grau, intensidade e a natureza das
respostas diante do estímulo sensorial9, apresentando comportamentos de hiperresponsividade
ou hiporresponsividade.
Diante do caráter multidimensional do TDAH
e seus sintomas, faz-se necessário maior conhecimento sobre todas as áreas do desenvolvimento da criança, incluindo o desenvolvimento
PROCESSAMENTO SENSORIAL: TEORIA
DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL
Desenvolvida pela terapeuta ocupacional e
neurocientista Jean Ayres10, a Teoria de Integra­
ção Sensorial surgiu em resposta à busca por
uma maior compreensão sobre a relação entre
as sensações corporais, os mecanismos cerebrais
e a aprendizagem. Assim, a integração sensorial
foi definida como “...o processo neurológico que
organiza as sensações do próprio corpo e do
am­­­biente de forma a ser possível a geração de
respostas adaptativas adequadas, a partir do uso
eficiente do corpo no ambiente...”10.
Outra terminologia amplamente utilizada na
literatura é o processamento sensorial, definido
como a habilidade do sistema nervoso central de
absorver, processar e organizar respostas adequadas às informações trazidas pelos sentidos5.
Em busca de uma padronização dos termos,
Miller et al.3 propuseram a utilização do termo
integração sensorial quando relacionado à teoria
e à intervenção terapêutica, sendo o termo processamento sensorial voltado para o diagnóstico.
Segundo Parham & Mailloux11, o funcionamento cerebral é necessariamente dependente
dos inputs sensoriais, ou seja, das informações
sensoriais recebidas do próprio corpo ou do am-
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257
Shimizu VT & Miranda MC
modificando, construindo estruturas de conhecimento15. Por meio do corpo, de onde emana a
sensibilidade e a motricidade, e do cérebro, de
onde emana a cognição, a criança sente, interage e transforma o ambiente, sendo base da
construção dos comportamentos adaptativos que
ilustram o desenvolvimento e a aprendizagem
humana12.
Nesse sentido, a aprendizagem ocorre a partir
da recepção e da troca de informações entre o
meio ambiente e os diferentes centros nervosos,
que se inicia a partir de um estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente que é
transformado em impulso nervoso pelos órgãos
dos sentidos16.
Uma vez transformada em impulso nervoso,
a informação sensorial é transportada por meio
da inervação sensitiva até o hipotálamo, o tá­­
lamo e o córtex cerebral. No hipotálamo, são
ati­­­vados o sistema nervoso autônomo e o motor,
responsável pela forma como o indivíduo sente
e se comporta17. As informações que chegam
ao tálamo são enviadas aos centros nervosos do
córtex cerebral correspondente à natureza do estímulo, denominadas de “áreas primárias” ou de
projeção. Em sua forma elementar e incompleta,
o estímulo projetado é chamado de «sensação»,
não havendo conhecimento nem elaboração de
significado. Uma vez transmitida para a “área
secundária” ou de associação, a informação sofre
a decodificação, surgindo a «percepção» com a
formação de imagens sensoriais correspondentes às modalidades do estímulo, que passam a
receber significados. Nas “áreas terciárias”, ou
de integração, ocorre a adição e combinação
de todos os aspectos do estímulo à informação,
fazendo associações entre os sentidos16. Ocorre
também a integração ao conhecimento, à memória e às experiências prévias, nos quais as
representações e reações emocionais são conduzidas pelas conexões corticais e subcorticais
até as estruturas do sistema límbico17.
A informação prossegue das áreas terciárias
para o córtex pré-frontal, sendo então elaborado
um movimento ou um comportamento. O movimento ocorre a partir de uma intenção, um
biente, no qual o indivíduo está inserido. Uma
vez captadas, as informações sensoriais devem
ainda ser integradas e organizadas adequadamente pelo cérebro, para que o mesmo possa
pro­­­duzir comportamentos adaptados, entendidos
como competências de aprendizagem12.
Ayres refere que a aprendizagem pode ser
com­­­preendida de forma global, incluindo não
somente o desenvolvimento cognitivo, as aquisições de conceitos, ou as aprendizagens escolares, como também as várias dimensões do comportamento adaptativo, todos eles dependentes
do funcionamento adequado do processamento
sensorial12.
Dessa forma, a Teoria de Integração Sensorial
tem como abordagem a discussão sobre o modo
como o cérebro processa as sensações, produzindo respostas motoras, comportamentais, emocionais e atencionais3, tratando-se de uma teoria sobre as relações cérebro-comportamento13, assim
como sobre as relações cérebro-aprendizagem12.
BASES NEUROBIOLÓGICAS DO PROCESSAMENTO SENSORIAL E DA APREN­
DIZAGEM
Segundo Guardiola et al.1, o sistema nervoso
pode ser considerado como um ordenador, responsável pelo processamento das informações
que recebe do mundo exterior e do próprio or­­­
ganismo, bem como pela integração e direcionamento coordenado aos órgãos efetores, responsáveis pelas respostas adequadas e necessárias
à vida do indivíduo.
Inicialmente todas as informações do mundo
exterior e das estruturas periféricas são recebidas
pelos receptores e neurônios que constituem o
sistema nervoso periférico, sendo então conduzidas até o sistema nervoso central13. Por meio
da atuação dos sistemas sensoriais da audição,
visão, olfato, gustação, somestesia (tato, dor, tem­­­
peratura e propriocepção) e vestibular, essas
in­­­formações são enviadas ao sistema nervoso
central, onde ocorre o processamento sensorial14.
A partir da experiência como ação, verificada
na motricidade, o indivíduo simultaneamente
integra e incorpora o mundo exterior e o vai
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
258
Processamento sensorial na criança com TDAH
Baseados nos estudos de Ayres, várias taxonomias e classificações dos subtipos de comportamentos relacionados ao transtorno do processamento sensorial foram utilizados no decorrer
do tempo. No entanto, a mais recente nosologia
para o diagnóstico proposta por Miller et al.3
clas­­­sificam o transtorno do processamento sensorial em: transtornos de modulação sensorial,
transtornos de discriminação sensorial e transtornos motores com base sensorial (Figura 1).
Transtornos de modulação sensorial são caracterizados pela dificuldade em regular grau,
intensidade e natureza das respostas aos estímulos sensoriais, podendo ser classificados em: a)
hiporresponsividade sensorial, com pobre reação
aos estímulos relevantes do ambiente como, por
exemplo, dor, movimentos ou cheiros; b) hiperresponsividade sensorial, com maior tendência
a se orientar e a responder a determinados estímulos, como toques, movimentos, luzes, sons,
apresentando, por exemplo, respostas aversivas
ou intolerância ao movimento, com reação de
enjoo, mal-estar e náuseas diante de mínimos
estímulos; c) busca sensorial, com procura
constante de estímulos intensos, seja vestibular,
proprioceptivo e outros3.
Transtornos de discriminação sensorial estão
relacionados às dificuldades em interpretar a
qualidade ou a singularidade de cada estímulo,
perceber suas diferenças e semelhanças, podendo apresentar diferentes graus de dificuldades
nas diversas modalidades sensoriais, como visual, tátil, auditivo, vestibular, proprioceptivo,
gustativo e olfativo3.
Já os transtornos motores com base sensorial
são caracterizados por indivíduos com dificulda­
des em integrar as informações do próprio cor­­­po e
movimentar-se de maneira eficiente no ambiente,
sendo os problemas mais comuns: a) distúrbio
postural, com dificuldade em estabilizar o corpo
durante o movimento ou retificar a postura quando solicitado pelo movimento; b) dispraxia, com
dificuldade em idealizar, criar, iniciar, planejar,
sequenciar, modificar e executar as ações3.
A avaliação do transtorno do processamento
sensorial pode ser realizada por meio de ques-
planejamento elucidado no córtex pré-frontal,
passando para a área pré-motora, responsável
por organizar a sequência motora. Posteriormente é projetada até a área motora primária, que
enviará impulsos via medula até os músculos
responsáveis pela execução do movimento16.
Dessa forma, as informações recebidas dos
sistemas sensoriais são registradas, moduladas
e discriminadas através do processamento sensorial, produzindo comportamentos adaptativos
em resposta ao ambiente11.
TRANSTORNOS DO PROCESSAMENTO
SENSORIAL
Transtorno do processamento sensorial é de­­­
finido como a presença de uma alteração em
detectar, modular, interpretar ou responder ao
estímulo sensorial, anteriormente descrita na
literatura como disfunção de integração sensorial3.
Trata-se de um transtorno apresentado por um
grupo heterogêneo de crianças caracterizadas
pelas variadas experiências de limitações na participação e realização das atividades. Tal condição
pode trazer prejuízos associados às habilidades
sociais, ao controle postural, à coordenação motora, ao uso e manuseio dos objetos, assim como
ao desempenho nas atividades de vida diária e à
imaturidade no brincar11,18. Pode ainda estar associada aos prejuízos nas atividades escolares13,19,
aos problemas de atenção6-8,18, além de ser risco
para dificuldades de aprendizagem20.
Vários autores têm discutido a associação
do transtorno do processamento sensorial a ou­­­­­­­­­
tros diagnósticos que incluem a síndrome de
Asperger21; o autismo22,23, a síndrome do X frá­­­
gil22,24; o transtorno do desenvolvimento da coor­­­
denação (TDC)13; assim como o TDAH6-8,22.
Apesar da relevância do transtorno do processamento sensorial sobre o desenvolvimento
infantil já evidenciada pela literatura, não houve
ainda o reconhecimento do transtorno do processamento sensorial pela Associação Americana de
Psiquiatria (APA) e a discussão sobre a inclusão
do transtorno do processamento sensorial no
DSM-V vem sendo realizada por autores e pesquisadores da área25.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
259
Shimizu VT & Miranda MC
Figura 1 – Classificação do transtorno do processamento sensorial, segundo Miller et al.3.
tionários para crianças e seus cuidadores, por
meio dos testes normatizados das habilidades
do processamento sensorial, assim como pelas
observações clínicas26.
Dentre os testes normatizados mais utilizados
para a identificação de transtorno do processamento sensorial em crianças em idade escolar
encontram-se: DeGangi Berk Test of Sensory
Integration27, teste voltado à avaliação de pré-escolares em suas funções motoras e posturais
com base sensoriais; Sensory Integration and
Praxis Tests (SIPT)28, bateria de testes considerada “padrão ouro”, utilizada para mensurar o
desempenho e diagnosticar o transtorno do pro­­
cessamento sensorial, podendo ser aplicado somente por profissionais treinados e certificados
na administração e interpretação de seus resultados; Sensory Processing Measure (SPM)29, escala
de avaliação voltada às respostas do processamento sensorial, ao planejamento e ideação,
além da participação social da criança em casa
e na escola, baseada nas informações dos pais e
educadores; Sensory Profile30 e o Infant/Toddler
Sensory Profile31, questionários respondidos por
pais, cuidadores e educadores, voltados para as
habilidades do processamento sensorial dentro
de seus contextos e nas diferentes faixas etárias.
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/
HIPERATIVIDADE (TDAH)
O TDAH é um transtorno do desenvolvimento
relacionado à dificuldade de manter a atenção,
controlar os impulsos e regular o nível de atividade32. Tal condição pode estar associada a
dis­­­túrbios motores, perceptivos, cognitivos e
com­­­portamentais que levam a graus variáveis
de comprometimento na vida social, emocional,
escolar e familiar, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil5,33.
Além disso, indivíduos com TDAH podem
apresentar alterações nas funções executivas
relacionadas a resolução de problemas, plane­
jamento, inibição de resposta e memória operacional4,34, que trazem prejuízos no desempenho
das ações cotidianas, bem como impacto na
qua­­­lidade de vida, uma vez que as funções
executivas estão relacionadas à capacidade em
processar e elaborar ações adaptadas às diferentes situações35.
Teorias atuais têm sugerido que indivíduos
com TDAH apresentam comprometimento no
sistema de recompensa, demonstrando dificuldades em perseverar e lidar com condições de
pouca ou ausência de gratificação, o que resultaria em menor desempenho em tarefas tediosas
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260
Processamento sensorial na criança com TDAH
e sem recompensa imediata, além de falhas na
previsão das consequências4,36, presença de déficit na inibição do comportamento que poderia
trazer prejuízos à realização efetiva das funções
executivas, de autorregulação emocional e planejamento que elas possibilitam. Pois é por meio
da autorregulação da motivação intrínseca que
os indivíduos são capazes de lidar com a espera
entre o comportamento e o reforço existente,
condição ineficiente no TDAH36.
Com início na infância, o TDAH pode persis­
tir até a vida adulta, sendo considerado um
trans­­­torno de caráter crônico37. Está associado
a prejuízos nas atividades acadêmicas, nos relacionamentos com familiares e com os pares,
bem como a efeitos negativos na autoestima das
crianças e adolescentes32. É fator de risco para
ansiedade, depressão, problemas de conduta e
delinquência, além do uso abusivo ou dependência de substâncias. Na vida adulta, pode ainda
trazer prejuízos nos relacionamentos sociais,
conjugais e profissionais38.
De acordo com o Diagnostic and Statistical
Ma­­­nual of Mental Disorders (DSM-IV-TR), a
classificação mais comumente adotada pela
comunidade cientifica, o TDAH é classificado
em três subtipos para fins de diagnóstico: o predominantemente desatento (TDAH-D), o predominantemente hiperativo-impulsivo (TDAH-H/I)
e o subtipo combinado ou misto (TDAH-C), que
reúne características dos dois anteriores. Existe
ainda a denominação de TDAH em remissão
parcial, dada aos adolescentes e adultos, que não
satisfazem a todos os critérios diagnósticos, mas
apresentam prejuízos clínicos significativos 39.
De acordo com uma recente revisão sistemá­
tica que reuniu 102 estudos de prevalência do
TDAH em todo o mundo40, foi estimada uma
prevalência de 5,29% entre indivíduos menores
de 18 anos de idade, com um valor de 6,48%
entre crianças em idade escolar e de 2,74% entre
adolescentes.
A maior prevalência de TDAH encontra-se
entre o gênero masculino, com proporção variando de 2:1 a 9:1, conforme o subtipo do transtorno
ou a natureza da amostra39. Essa diferença entre
os gêneros pode estar relacionada a uma maior
probabilidade de ocorrência do subtipo desa­
tento no gênero feminino38,41, como também a
menor prevalência de comportamentos exteriorizados entre as meninas42, o que resultaria em
menor dificuldade escolar e familiar, além de
um número menor de encaminhamento para
avaliação e tratamento36.
Considerada multifatorial, a etiologia do TDAH
abrange fatores genéticos e ambientais que
podem se combinar num amplo espectro de
possibilidades clínicas34,43.
Vários estudos têm indicado a hereditariedade como um importante fator etiológico para
o TDAH38,43, outros demonstram a participação
de vários genes envolvidos no sistema dopaminérgico e noradrenérgico44,45, como também um
provável envolvimento de neurotransmissores
menos estudados, como serotonina, histamina
e acetilcolina46. Estudos de neuroimagem, neuropsicológicos e neuroquímicos têm demonstrado a associação entre o TDAH e várias regiões
cerebrais, como o córtex pré-frontal inferior, ven­­­­
tromedial e dorsolateral, giro anterior do cíngulo,
gânglios da base, córtex temporoparietal e cerebelo, ou ainda regiões como amígdala, hipotálamo e hipocampo46. Vários fatores biológicos
e ambientais também têm sido propostos como
fatores de risco para o TDAH, incluindo a exposição fetal ao álcool, tabagismo materno durante
a gestação, baixo peso do recém-nascido, bem
como a contaminação com chumbo34.
Além da heterogeneidade de seus sintomas,
o quadro clínico do TDAH é caracterizado também pela frequente presença de comorbidades47,
compreendidas como os transtornos comportamentais, neuropsiquiátricos e do desenvolvimento que se manifestam associadas ao TDAH41.
Estima-se que entre 30% a 65% dos indivíduos com TDAH apresentem em associação o
transtorno opositor-desafiante (TOD)42,48; 15%
a 40%, transtorno de conduta (TC); e 25% a
30%, transtorno de ansiedade42. A coexistência
de depressão no TDAH gira em torno dos 15%
e os transtornos de aprendizagem encontram-se entre 20% a 30% em associação ao TDAH48,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
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Shimizu VT & Miranda MC
emocionais, comportamentais e suas interdependências e, nesse sentido, a habilidade de
processar a informação sensorial poderia ser um
fator influenciador nas diferenças individuais de
autorregulação.
Assim, o modelo de Dunn30 propõe que a
modulação sensorial ocorre a partir de uma
in­­­teração entre o limiar neurológico dos indiví­
duos, relacionado à quantidade de estímulo
necessária para o sistema nervoso responder, e
suas respostas comportamentais, relacionadas à
maneira de agir em relação ao limiar.
Em um dos extremos do limiar neurológico
encontramos o alto limiar relacionado à alta
habituação e, no outro extremo, o baixo limiar
relacionado à alta sensibilização. Habituação
refere-se à capacidade do sistema nervoso em
reconhecer a experiência já ocorrida anteriormente, familiarizar-se com a mesma, não dispensando atenção quando esta ocorrer novamente.
Indivíduos que apresentam o alto limiar podem
ser hiporresponsivos, necessitando de muito
estímulo para alcançar o limiar30.
Já a sensibilização é o mecanismo de potencializar a importância do estímulo. Embora o
estímulo seja familiar, o organismo antecipa associações de perigo e prejuízo, recrutando maior
número de neurônios, intensificando o estímulo
e desencadeando uma resposta exagerada. In­­­
divíduos com dificuldades na sensibilização
po­­­­­­dem ser hiperresponsivos, ou seja, diante de
muito pouco estímulo atingem o limiar30.
Relacionados às respostas comportamentais
existem: os que agem de acordo com o seu limiar,
no qual o seu comportamento é mais passivo e
consistente dentro do seu limiar; e os que agem
contrários ao seu limiar, no qual se comportam
mais ativamente contra o seu limiar.
Assim, a partir da interação entre o limiar
neurológico e as respostas comportamentais,
Dunn30 estabeleceu quatro padrões de resposta
(Tabela 1):
a) Pobre Registro – são indivíduos que apre­­­
sentam alto limiar neurológico e resposta
comportamental passiva, sendo vagarosos
para agir e com necessidade de maior
representando riscos para a dificuldade de leitura, para o desenvolvimento de problemas na
linguagem ou ainda para dificuldades na matemática41. Nessa perspectiva, para a compreensão
da natureza e heterogeneidade dos perfis do
TDAH, além do aperfeiçoamento do diagnóstico diferencial, deve-se levar em consideração a
grande diversidade e prevalência de transtornos
comórbidos ao TDAH42.
MODULAÇÃO SENSORIAL E TDAH
De acordo com a literatura, as crianças com
TDAH podem apresentar problemas de atenção, impulsividade e hiperatividade, mas também dificuldades relacionadas aos aspectos
motores como uma pobre coordenação motora
e equilíbrio, pobre habilidade visuo-motora,
di­­­ficuldades no planejamento motor49, assim
co­­­mo maior nível de atividade e menor limiar
para os estímulos sensoriais na infância50. Tais
condições podem estar relacionadas também ao
transtorno do processamento sensorial, uma vez
que este pode afetar o desempenho motor, bem
como comportamental da criança, incluindo sua
capacidade de atender, aprender, organizar e
manter apropriado nível de atividade49.
Estudos e a experiência clínica têm constatado que crianças com TDAH podem ser acometidas por alterações gerais no processamento
sensorial, principalmente em relação à modulação sensorial7. A integridade da modulação sensorial permite que o sistema nervoso responda a
alguns estímulos, ignore outros, possibilitando
uma resposta adaptativa adequada para cada
situação30. Segundo Dunn e Bennett8, crianças
com TDAH podem não receber e nem processar
adequadamente as informações sensoriais, apresentando, consequentemente, dificuldades em
gerar respostas apropriadas em casa, na escola
e na comunidade.
De acordo com Roberts et al.51, as diferentes
habilidades e expressões dos comportamentos
estão relacionadas à autorregulação do indivíduo, ou seja, à sua capacidade de regular as
respostas diante dos estímulos específicos. Essa
condição está relacionada a fatores fisiológicos,
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
262
Processamento sensorial na criança com TDAH
Tabela 1 – Padrões de resposta resultantes da relação entre limiar neurológico
e respostas comportamentais.
LIMIAR NEUROLÓGICO
RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS
DE ACORDO COM LIMIAR
CONTRÁRIO AO LIMIAR
ALTO / HABITUAÇÃO
POBRE REGISTRO
Alerta diminuído, vagaroso para agir,
necessita de mais estímulos para reagir
PROCURA SENSORIAL
Alerta aumentado, arrisca-se muito,
desorganização motora,
busca informação sensorial
BAIXO / SENSIBILIZAÇÃO
SENSIBILIDADE AO ESTÍMULO
Alerta aumentado, age rapidamente
ao estímulo, distraído, impulsivo,
desorganizado
EVITA SENSAÇÃO
Modula o alerta, expressão de medo
e ansiedade
estímulo para reagir. Podem ser apáticos e
pouco responsivos ao ambiente, ou ainda
necessitar de estímulos mais intensos;
b) Procura Sensorial – são indivíduos com
alto limiar neurológico e resposta com­­­
por­­­tamental ativa, buscando experiên­­cias
sensoriais como estratégia de autorre­­­
gulação por não perceberem facilmente os
estímulos. Possuem um alerta aumentado
e, na busca por sensação, arriscam-se muito ou são desorganizados moto­ramente;
c) Sensibilidade ao Estímulo - são indivíduos
com baixo limiar neurológico e resposta
comportamental passiva, sendo muito
reativo às situações devido ao alerta au­­­­­­­
mentado. Podem ser impulsivos, dis­­­traí­
dos, desorganizados, ou ainda facil­­­­mente
irritáveis;
d) Evita Sensação – são indivíduos com
baixo limiar neurológico e resposta com­­­
portamental ativa, que tendem a evi­­­tar
a sensação como estratégia de autor­­­­
regulação, visto que muitos inputs lhe
são aversivos ou ainda por apresentarem
respostas muito exageradas a pequenos
inputs. Diante dessa condição, podem ser
indivíduos que apresentam expressão de
medo ou ansiedade.
Segundo Dove & Dunn19, cada padrão de
resposta pode trazer diferentes repercussões nos
comportamentos e na aprendizagem. Na presença de uma procura sensorial, o indivíduo pode
buscar movimentos e estimulação constante
como estratégia para obter mais inputs sensoriais
(por exemplo, não para sentado, mexe-se demais
na carteira), interferindo em sua habilidade para
completar as tarefas de forma eficaz. Diante do
padrão Evita Sensação, o indivíduo sente-se
fa­­­cilmente incomodado e com necessidade de
evitar as experiências sensoriais (por exemplo,
incomoda-se com os barulhos da classe, quando
outros esbarram em sua carteira), levando-o a
se excluir do grupo e prejudicando-o durante as
tarefas. Quando há um Pobre Registro, o indivíduo tende a demorar nas respostas aos estímulos
(por exemplo, não retém as informações dadas
pelos professores, não apreende os detalhes
para completar as tarefas solicitadas). Por fim,
diante da Sensibilidade ao Estímulo, o indivíduo
responde facilmente a qualquer estímulo (por
exemplo, não se concentra na tarefa proposta,
não termina o que começa distraindo-se com
todos os estímulos).
Alguns estudos sobre a Modulação Sensorial
observaram que uma porcentagem significativa
das crianças com TDAH apresentam diferenças
na reatividade sensorial comparadas às crianças
com desenvolvimento típico, através de instrumentos fisiológicos que avaliam o potencial
somatossensorial evocado52 e reação eletrodérmica6,41, como também através de instrumentos
comportamentais8.
No estudo de Mangeot et al.6, verificou-se
que as crianças com TDAH apresentaram maio-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
263
Shimizu VT & Miranda MC
res alterações na Modulação Sensorial em relação às crianças controle, em medidas fisiológicas
como também comportamentais, demonstrado
pelo Short Sensory Profile, questionário respondido pelos pais. Além disso, alta correlação entre
sensibilidade tátil e os comportamentos agressivos e queixas somáticas medidas pelo Child
Behavior Check List (CBCL)53 foram encontradas
em crianças com TDAH.
Estudos que utilizaram a escala comportamental Sensory Profile30, questionário que avalia
as respostas das crianças aos eventos sensoriais
diários, também apontaram diferenças significativas no padrão do processamento sensorial
e da modulação sensorial entre crianças com
TDAH e crianças controle. Maiores prejuízos
no processamento sensorial, constatados através
das piores pontuações no Sensory Profile foram
verificados em crianças com TDAH em estudos
na população americana8, israelense7, como
também em crianças chinesas50. Já o estudo
americano de Dove & Dunn19, ao comparar as
respostas sensoriais entre crianças com TDAH
e sem TDAH, verificaram maiores prejuízos
no processamento sensorial em crianças com
transtorno de aprendizagem. No entanto, não
foram constatadas diferenças significativas entre
as crianças com e sem TDAH neste grupo de
transtorno de aprendizagem.
No Brasil, o estudo de Shimizu54 também com­­­­
parou as respostas do processamento sensorial
entre crianças com TDAH e crianças controle
por meio da escala Sensory Profile. Os resultados desse estudo também indicaram diferenças
significativas entre os grupos, com maiores prejuízos no processamento sensorial em crianças
com TDAH. Isto foi verificado, por exemplo, em
itens de hiporresponsividade para os sistemas
vestibulares e proprioceptivos relacionados ao
excesso de movimento do corpo e busca de es­­­
timulação contínua, a partir do qual a autora
dis­­­cute se os sintomas no TDAH descritos pelo
DSM-IV-TR (APA 2002) de busca constante de
movimentos do corpo e de sua estimulação, não
poderiam também estar relacionado a uma busca
de autorregulação do alto limiar dessas crianças
para os estímulos vestibulares e proprioceptivos.
Discute, ainda, se a necessidade de oferta de estímulos mais intensos, verificadas em indivíduos
com hiporresponsividade, não poderia contribuir
para o sintoma de desatenção; assim como a
hiperresponsividade, verificada pela tendência
de responder facilmente a todos os estímulos,
contribuiria para os sintomas de impulsividade
e distração. Além disso, piores escores em algumas dimensões do processamento sensorial
estavam correlacionados a maiores indicativos
de sintomas comportamentais verificados pelo
CBCL53 e pela Escala de Avaliação do Compor­
tamento Infantil para Professor (EACI-P)55. Esses resultados sugerem que as dificuldades na
modulação sensorial podem possivelmente estar
relacionadas a alguns sintomas comportamentais apresentados pelas crianças com TDAH, na
medida em que alterações na modulação sensorial é um quadro que pode vir acompanhado de
problemas atencionais referentes a distração,
impulsividade, desorganização, hiperatividade,
como também de problemas emocionais, como
ansiedade, estresse e agressividade22.
No entanto, o intuito dessa reflexão e discussão não é afirmar que a sintomatologia do TDAH
é resultante de um transtorno do processamento
sensorial, e sim, que a modulação sensorial pode
ser uma dimensão comprometida nessas crianças, que poderia contribuir em algumas reações
e comportamentos desses indivíduos diante dos
estímulos e demandas do ambiente, a partir dos
seus limiares neurológicos para os diferentes
sistemas sensoriais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como respostas adaptativas à interação entre
o indivíduo e as informações vindas do ambiente
e do próprio corpo, a aprendizagem e as respostas
comportamentais dependem da integridade do
processamento sensorial. Nesse sentido, apesar
de pouco estudado na literatura científica, o processamento sensorial pode ser uma dimensão
comprometida nas crianças com TDAH que, por
não processarem e organizarem adequadamente as informações sensoriais podem apresentar
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
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Processamento sensorial na criança com TDAH
dificuldades em gerar respostas apropriadas,
tanto motoras, comportamentais como também
na aprendizagem.
Além de caracterizar e descrever o envolvi­
men­­­­to de vários fatores no TDAH, que vão
des­­­de os níveis neurológicos, psicológicos e
com­­­­­­­­­­­­portamen­­­­tais da criança, este artigo traz o
pro­­­­cessamento sen­­­­­sorial e a modulação senso­rial
em discussão, procurando destacar a im­­­portância
de um olhar multidimensional na compreensão do
quadro do TDAH na infância. Embora tal importância venha sendo discutida, as pesquisas atuais
em neuropsicologia têm se voltado principalmente às dimensões cognitivas, como as funções
executivas e atencionais, pouco considerando a
dimensão sensório-motora nesse transtorno.
Dessa forma, sob a perspectiva do processamento sensorial e da modulação sensorial,
essa revisão teórica procura discutir a relevân­
cia dessas funções sensório-motoras no TDAH,
apontando para a possível contribuição das
di­­­­­­­­­ficuldades do processamento sensorial na
sin­­­tomatologia do TDAH, possibilitando aos
pais e profissionais uma maior compreensão
sobre os comportamentos apresentados pelas
crianças com TDAH no ambiente escolar ou
familiar. Além disso, aponta para a necessidade
de futuros estudos que verifiquem a eficácia
do tratamento dos comprometimentos do processamento sensorial como mais um recurso a
ser considerado na abordagem dos sintomas
presentes no TDAH.
SUMMARY
Sensory processing in children with ADHD:
a revision of the literature
Structured by the interaction with the environment, the learning process
depends on integrity of Sensory Processing related to neurological function
that organizes and processes sensory information from one’s body and
the environment, in order to produce appropriate functional responses.
Sensory Processing Difficulties may lead to impairments in motor and
behavioral performance, but also in the learning. There are few studies about
sensorimotor dimension in ADHD, and the studies about the relationship
between sensory processing and behavioral symptomatology of ADHD
are even poorer. This literature review attempts to characterize the main
aspects of Sensory Processing and of ADHD, as well as the relationship
between these dimensions. It also attempts to discuss and contribute to the
understanding of the role of Sensory Processing in behavioral responses and
in the learning process, as well as its possible contribution to symptomatology
present in ADHD, indicating the importance of a multidimensional approach
to ADHD framework in childhood.
KEY WORDS: Attention deficit disorder with hyperactivity. Behavior.
Learning.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
265
Shimizu VT & Miranda MC
REFERÊNCIAS
zagem: introdução à obra de Ayres. In: Fonseca V, ed. Desenvolvimento psicomotor e
aprendizagem. Porto Alegre:Artmed;2008.
p.325-51.
13. Bundy AC, Lane SJ, Murray EA. Sensory integration: theory and practice. Philadelphia:
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Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em
Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela
Uni­­­versidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São
Paulo, SP, Brasil.
Artigo recebido: 30/6/2012
Aprovado: 11/8/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 256-68
268
Novos parâmetros da sociedade inclusiva
: a Psicopedagogia
PONTO
DE VISTA Institucional no ambiente corporativo
Novos parâmetros da sociedade inclusiva:
uma oportunidade de atuação para a
Psicopedagogia Institucional no
ambiente corporativo
Maria Rosa Crespo; Priscila Covre; Elizeu Coutinho de Macedo
INTRODUÇÃO
A atuação do psicopedagogo institucional
direciona-se à prevenção ou redução de fracassos no processo de aprendizagem e encontra-se plenamente estabelecida nas instituições
de ensino, porém, no ambiente corporativo no
Brasil, ainda é bastante recente e o campo carece
de maiores avaliações e propostas de atuação1.
O presente artigo se propõe a discutir como
questões relacionadas à sociedade inclusiva,
aceleram e justificam a necessidade da inserção
da psicopedagogia institucional nas empresas e
na administração pública. Será realizada uma
breve revisão sobre o contexto e a importância
da aprendizagem para as empresas, a fim de
familiarizar o leitor com o ambiente corporativo.
Na sequência serão abordadas questões rela-
cionadas à sociedade inclusiva e o impacto nas
empresas públicas e privadas. Por fim, discutir-se-á o papel do psicopedagogo institucional
no ambiente corporativo, apresentando uma
pro­­­­­posta de atuação.
Maria Rosa Crespo – Bibliotecária, pós-graduação
em Psicopedagogia na Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Docente na Fundação Escola de Sociologia
e Política – FESPSP, São Paulo, SP, Brasil.
Priscila Covre – Psicóloga e Neuropsicóloga; Pro­­­
fes­­­­­­­sora Convidada do curso de Especialização em
Psicopedagogia na Universidade Presbiteriana Ma­­­
ckenzie, Coordenadora de pesquisa em reabilitação
neuropsicológica no Centro Paulista de Neuropsicologia
(AFIP), São Paulo, SP, Brasil.
Elizeu Coutinho de Macedo – Psicólogo, mestre e
dou­­­tor em Psicologia Experimental pela Universidade
de São Paulo; professor adjunto da Universidade
Presbiteriana Mackenzie e Coordenador do programa
de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento,
São Paulo, SP, Brasil.
Correspondência
Maria Rosa Crespo
Rua Campos do Jordão, 200 72-C – Caxingui – São
Paulo, SP, Brasil – CEP 05516-040
E-mail: [email protected]
APRENDIZAGEM NO CONTEXTO EMPRESARIAL
No atual formato econômico globalizado,
um dos grandes desafios das empresas e da
ad­­­ministração pública dos países emergentes
está em reduzir o abismo educacional que os
separa dos países desenvolvidos2 e, no Brasil,
a falta de profissionais qualificados tem sido
apontada como o grande entrave para o desenvolvimento econômico e social desejado para o
futuro próximo. Tal fato vem despertando um
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 269-72
269
Crespo MR et al.
novo interesse governamental e da opinião pública para a questão da Educação, haja vista as
recentes iniciativas de democratização do acesso
ao ensino superior e às manifestações culturais.
Devido aos conhecidos problemas da educação
pública, o jovem brasileiro chega ao mercado de
trabalho com notória defasagem intelectual e de
conhecimento técnico-científico3, reproduzindo,
na maioria das vezes, seu histórico de fracasso
escolar diante do processo de aprendizagem
corporativa, traduzido pela incapacidade de
progredir na carreira e de alcançar seus próprios
objetivos acadêmicos.
As atuais teorias de administração empresarial, como a Gestão do Conhecimento, valorizam
sobremaneira as ações e estruturas educacionais
corporativas, apontando sua importância estratégica para alcance da competitividade e sustentabilidade e identificam as organizações que
aprendem, como aquelas que possuem capacidade de se adaptar rapidamente, e com sucesso,
às inevitáveis mudanças econômicas, políticas,
sociais e de mercado4. Tradicionalmente, o setor de Recursos Humanos, ou aqueles voltados
para gestão e desenvolvimento de pessoas, têm
a responsabilidade de atrair, treinar, reter e desenvolver talentos, visando à sustentabilidade do
negócio. Contudo, a proposta de escola inclusiva
e o modelo de progressão continuada, bem como
a lei de quotas que estabelece a contratação de
pessoas com deficiência, têm tornado essa tarefa
cada vez mais complexa.
Com os novos parâmetros propostos para
uma sociedade inclusiva, o sistema educacional
tradicional, preparado para filtrar alunos não
competentes e com isso torná-los excludentes
da sociedade e do mercado de trabalho, foi subs­­­­
tituído por um sistema em que todas as pes­­­­soas,
independentemente de suas necessidades e
capacidades, são aceitas e mantidas como participantes, desde que sejam fornecidas condições
especiais para seu aprendizado. Para as empresas, o resultado disso é que sua atuação como
educadora se tornou mais necessária e mais
desafiadora e esse desafio extrapola os limites
das necessidades de educar e/ou instruir traba-
lhadores que apresentem dificuldades de aprendizagem, exige também uma atuação específica
voltada para a superação da desinformação e do
preconceito, o que envolve questões comportamentais relacionadas ao ambiente de trabalho5.
A SOCIEDADE INCLUSIVA E A LEI DE COTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
É somente no século XX que a sociedade
compreende que deve garantir o acesso da pessoa com deficiência a todos os serviços que são
oferecidos aos demais cidadãos, ou seja: saúde,
educação, inclusão social e profissional. É com
fundamento nessas ideias que surge o Paradigma de Suporte, caracterizado pela aceitação
de que a pessoa com deficiência tem direito
à convivência não segregada e ao acesso aos
recursos disponíveis aos demais cidadãos “[...]
onde se contextualiza a ideia de inclusão, prevê
intervenções decisivas e incisivas, em ambos
os lados da equação: no processo de desenvolvimento do sujeito e no processo de reajuste da
realidade social”6.
Em termos de legislação, o Decreto nº
3.298/997 prevê o acesso da pessoa com deficiência à educação profissional “a fim de obter
habilitação profissional que lhe proporcione
oportunidades de acesso ao mercado de trabalho” (Art. 28) e a “inserção da pessoa portadora
de deficiência no mercado de trabalho ou sua
incorporação as sistema produtivo mediante
regime especial de trabalho protegido” (Art. 34).
O mesmo decreto estabelece a obrigatoriedade
de preenchimento de 2% a 5% dos cargos das
empresas com mais de 100 empregados, com
be­­­­­neficiários da Previdência Social reabilita­­­
dos, ou com pessoas com deficiência habilitadas
(Art. 36). Em 1989, foi sancionada a Lei 7.853,
de 24 de outubro8, que criou a Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência (CORDE) e dispôs, dentre vários
outros assuntos, sobre o “apoio governamental à
formação profissional, à orientação profissional e
à garantia de acesso aos serviços concernentes,
inclusive aos cursos regulares voltados à formação profissional” para a pessoa com deficiência.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 269-72
270
Novos parâmetros da sociedade inclusiva: a Psicopedagogia Institucional no ambiente corporativo
No mesmo ano, é sancionada a Lei 8.069, de 13
de julho9, que dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente, onde se assegura ao “adolescente portador de deficiência o trabalho protegido” e o “direito a condições de capacitação para
o exercício de atividade regular e remunerada”.
Contudo, o país está longe de efetivar um
am­­­biente de trabalho inclusivo, devido à insuficiente destinação de recursos do setor, e também pela necessidade de rever e modernizar os
fundamentos teóricos e metodológicos de ações
voltadas para capacitação e colocação de pessoal
com deficiência no mercado de trabalho. A pós-modernidade permite a existência de várias visões e diferentes propostas científicas, políticas,
sociais e de comportamento e propõe não apenas
a tolerância e aceitação das minorias, mas a
con­­­­­­cretização de ações inclusivas. No mundo
do trabalho, a partir da reserva de vagas nas
em­­­­­presas encontra-se a garantia constitucional,
mas ainda não se pode considerar concretizada
a mudança de paradigma social, ou a inversão
de valores na experimentação e comprovação de
métodos de gestão e implementação de estruturas que permitam a real inclusão e condições de
produtividade ao portador de deficiência.
da otimização do uso da infraestrutura física
e da tecnologia. Dentre elas é possível citar: o
domínio da temática da dinâmica dos grupos,
familiaridade com a cultura organizacional e
atualização em relação às práticas e modelos de
administração de empresas.
O psicopedagogo no âmbito corporativo irá
apresentar questões, formular um diagnóstico
da situação e elaborar propostas para solução
de problemas, conflitos e crises envolvendo processos de aprendizagem, procurando perceber o
contexto de forma abrangente. Poderá, também,
auxiliar na superação das dificuldades de relacionamento entre os diversos grupos, calcadas
na falta de informação e no preconceito, levando
à melhoria do ambiente organizacional. Como
ponto de partida para uma reflexão, é importante ressaltar que o lugar, a função e o papel do
psicopedagogo institucional, assim como uma
definição sobre sua formação ideal, ainda não
estão bem delimitados. Questões importantes,
como o grau de autonomia possível no contexto
corporativo e a posição hierárquica, deverão
ser respondidas pela análise de cada situação.
Questões de ordem prática, como remuneração, instrumentos de avaliação e diagnóstico e
relacionamento com outros profissionais, ainda
carecem de discussões e análises.
Propõe-se que a psicopedagogia institucional
poderá oferecer auxílio às pessoas envolvidas
em Educação corporativa e fornecer subsídios
para maior compreensão de uma sociedade
plural e inclusiva, tornando-se um apoio estratégico para as lideranças organizacionais que se
encontram diante de uma problemática alheia
a sua experiência e funções. Essa atuação,
porém, necessita de delimitação dos contornos
possíveis, aprimoramento das experiências já
existentes e maior divulgação por parte dos
profissionais psicopedagogos junto aos setores
empresariais que, muitas vezes, desconhecem
essa possibilidade.
A PROPOSTA DA PSICOPEDAGOGIA
INS­­­TITUCIONAL NO AMBIENTE CORPORATIVO
Os fatores expostos acima têm tornado a
gestão do conhecimento na empresa uma tarefa
cada vez mais desafiadora, levando à necessidade da construção de estruturas de suporte que
ajudem as pessoas a aprender dentro do seu
tempo e possibilidades, desenvolvendo aptidões
e habilidades específicas para o desempenho
de sua função, aumentando sua produtividade.
Com os mesmos objetivos de prevenção e superação de dificuldades de aprendizagem, a atuação da psicopedagogia no ambiente corporativo
irá demandar competências adicionais, além
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 269-72
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Artigo recebido: 5/7/2012
Aprovado: 8/8/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 269-72
272
Psicopedagogia e Psiquiatria
: possibilidades de cooperação
RESENHA
Psicopedagogia e Psiquiatria:
possibilidades de cooperação
Raquel Tonioli Arantes do Nascimento; Antonio de Pádua Serafim
-se-ão ferramentas importantes para serem com­­­
partilhadas e utilizadas. Nesse sentido, serão
utilizadas como referência neste artigo o primeiro
capítulo do Compêndio de Psiquiatria, de Sadock
& Sadock1, cujo título se refere à relação médico-paciente e técnicas de entrevista, e aplicar seus
conceitos no campo psicopedagógico, usando
a obra de Maria Lucia Weiss – Psicopedagogia
Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar2.
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia tem ampliado seu campo
de atuação, focalizando cada vez mais o aprendente, ao invés do problema que este apresenta
em si. Considera-se o não aprender em diferentes situações do cotidiano, tais como fazer
com­­pras, seguir instruções, ter autonomia nos
estudos. Assim, em diferentes ambientes – na
escola, família e/ou trabalho – esta tem sido a
preo­­cupação eminente dos mais diversos pro­
fissionais, em especial dos educadores, psicólogos, médicos e psicopedagogos, que buscam
compreender as causas da problemática e formas
de ter esse processo revertido.
Pode-se afirmar que o campo de atuação no
qual a Psicopedagogia se insere é multidisci­
plinar, uma vez que se faz necessária colaboração e entendimento de diversas áreas para se
chegar a um consenso, e, chegando, consiga-se
trabalhar de forma conjunta.
Entendendo-se, então, como um campo multidisciplinar, comumente será visto a intersec­­ção
de textos em que uma área influenciará outra; ou
seja, nos vastos campos de conhecimentos em
que se inserem as diferentes áreas, encontrar-
CONCEITOS DA RELAÇÃO MÉDICO-PA­­­
CIENTE E TÉCNICAS DE ENTREVISTA
APLICADOS À PSICOPEDAGOGIA
O primeiro capítulo do livro de Sadock & Sa­­­
dock1 inicia apontando a importância do relacionamento entre o paciente e o médico, fazendo
com que este se torne construtivo para ambos.
Precisa haver sintonia entre os personagens que
compõem esse cenário, compreendendo a natureza do relacionamento, considerando todos os
fatores que o influenciam – o motivo da procura
pelo profissional, a família, religião e crenças,
entre outros. Os autores trazem, ainda, uma
citação de Francis Peabody: “O segredo para
Correspondência
Raquel Tonioli Arantes do Nascimento
Rua Barbara Heliodora, 321 – Vila Romana – São Paulo,
SP, Brasil – CEP 05044-040
E-mail: [email protected]
Raquel Tonioli Arantes do Nascimento – Pedagoga e
psicopedagoga pela Universidade Presbiteriana Ma­­­­
ckenzie; Doutoranda em Neurociência e Compor­­­tamento
pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Antonio de Pádua Serafim – Coordenador do Programa
de Psiquiatria e Psicologia Forense (NUFOR); Docência
nos cursos: Mestrado do Departamento de Psiquiatria
FMUSP - Disciplina Fundamentos da Psiquiatria na
Área Forense; Especialização do Serviço de Psicologia
e Neuropsicologia (Avaliação dos Transtornos do
Comportamento) e da Residência em Psiquiatria (IPqHCFMUSP), São Paulo, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 273-6
273
Nascimento RTA & Serafim AP
cuidar de um paciente é ter consideração por
ele”; percebe-se, dessa forma, para que essa
relação seja construtiva, uma troca, existe a necessidade da confiabilidade, uma vez que “Os
pacientes que sentem que alguém os conhece,
compreende e aceita encontram nesta pessoa
uma fonte de força”.
De igual forma, a Psicopedagogia trabalha
para ajudar seus pacientes no encontro de soluções para suas dificuldades; preventiva ou
remediativamente, esse profissional constrói ao
longo das sessões um relacionamento para que
seu processo de investigação seja concluído
com sucesso.
Lidar com os pacientes e todos os fatores que
o compõem requer comunicação, inter-relacionamento, empatia, e também transferência e
contratransferência. O processo de transferência diz respeito às experiências passadas de
relacionamentos com outros profissionais, que,
inconscientemente, o paciente traz para essa
nova relação; a contratransferência é o processo
contrário, em que o paciente recebe toda a carga
de experiências obtidas anteriormente. Nesse
processo de construção do relacionamento e do
diagnóstico, portanto, é crucial que se dê espaço
à sensibilidade, considerando todos os vieses em
ambos os lados.
Outro aspecto que Sadock & Sadock1 traz e
se aplica claramente à investigação psicopedagógica é a abordagem biopsicossocial proposta
por George Engel3. Nele se inserem uma abordagem integral do comportamento humano e da
doença – no caso da Psicopedagogia, o motivo
pelo qual se procurou o profissional, a demanda,
a queixa, o sintoma. O sistema biológico refere-se à estrutura anatômica macro e micro, e seus
efeitos sobre o funcionamento biológico dos pacientes; o sistema psicológico se refere aos efeitos psicodinâmicos, motivação, personalidade,
experiência e reação aos sintomas; por sua vez,
o sistema social examina as influências cultu­­­rais,
ambientais e familiares que influenciam tanto o
processo diagnóstico quanto o de tratamento.
Weiss2, nesse aspecto, traz que esse processo
de entendimento do paciente é uma compreen-
são global da sua forma de aprender, bem como
dos desvios que o acometem, sendo necessária
uma organização dos dados de seu desenvolvimento biológico, intrapsíquico e social, ressaltando a pessoalidade que esses dados trazem,
ou seja, cada pessoa é um ser único, devendo
seu caso ser estudado particularmente. O autor
alerta, entretanto, que a investigação e a coleta dos dados não devem ser encaradas como
a costura de uma colcha de retalhos ou uma
justaposição das informações, uma soma; mas
sim, a construção do ser em função de alguns
parâmetros que definem a qualidade e a quantidade do desvio em relação à sua formação
cul­­­tural, classe socioeconômica, idade cronológica, exigência familiar, relação entre conteúdos
escolares e desenvolvimento das estruturas do
pensamento, psicogênese da leitura e da escrita,
e o desenvolvimento biopsicológico considerado
normal. Dessa forma, como citado por Sadock &
Sadock1 o modelo de abordagem biopsicossocial
nos proporciona uma estrutura conceitual para
lidar com informações desencontradas e serve
como um lembrete de que pode haver questões
importantes nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
O terceiro aspecto de compatibilidade entre
essas duas áreas – Psiquiatria e Psicopedago­­­gia
– diz respeito à efetividade da entrevista; Sadock
& Sadock1 e Weiss2 ressaltam a importância que
essa ferramenta tem, pois, quando realizada de
forma habilidosa, consegue reunir informações
para se entender e tratar o paciente. Weiss2, entretanto, faz um adendo no quesito ansiedade.
No início do quarto capítulo relata que penetrar no desconhecido gera esse sentimento em
ambos os lados – terapeuta e paciente – e que,
dependendo da contratransferência, o paciente
pode ou não revelar informações relevantes
para o bom andamento do processo. Sobre isso,
Sadock & Sadock1 trazem em seu capítulo uma
tabela bastante esclarecedora sobre as funções
da entrevista no diagnóstico (Tabela 1).
O ato de entrevistar, segundo Sadock & Sadock1, é delicado, porque envolve um equilíbrio
muito fino entre permitir que sua história se
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 273-6
274
Psicopedagogia e Psiquiatria: possibilidades de cooperação
Tabela 1 – Funções da entrevista no diagnóstico.
Funções
Objetivos
Habilidades
I - Determinar a
natureza do problema
1. Capacitar o clínico para
estabelecer um diagnóstico ou
recomendar outros procedimentos,
sugerir uma linha de tratamento e
prever a natureza do sintoma.
1. Base de conhecimento acerca dos
transtornos, doenças, problemas, hipóteses
clínicas de domínios conceituais múltiplos:
biomédico, sociocultural, psicodinâmicos e
comportamental;
2. Capacidade de obter dados dos domínios
conceituais anteriores (encorajar o paciente
a contar sua história; organizar o fluxo da
entrevista, a forma das questões,
a caracterização dos sintomas, etc);
3. Capacidade de perceber dados de fontes
múltiplas (respostas subjetivas e pistas
não-verbais);
4. Gerar e testar hipóteses.
II – Desenvolver e manter
um relacionamento
terapêutico
1. Disposição do paciente em
fornecer informações diagnósticas;
2. Alívio de distúrbios físicos e
transtornos psicológicos;
3. Disposição para aceitar um
plano de tratamento;
4. Satisfação do paciente;
5. Satisfação do terapeuta.
1. Definir a natureza do relacionamento;
2. Permitir que o paciente conte sua história;
3. Ouvir, apoiar e tolerar a expressão de
sentimentos dolorosos do paciente;
4. Interesse apropriado e genuíno, apoio,
entendimento cognitivo e empatia;
5. Lidar com preocupações comuns do
paciente em relação a embaraço, vergonha e
humilhação;
6. Evocar a perspectiva do paciente;
7. Determinar a natureza do problema;
8. Comunicar informações e recomendar o
tratamento.
III – Comunicar
informações e
implementar um
plano de tratamento
1. Compreensão do problema pelo
paciente;
2. Compreensão dos procedimentos
diagnósticos pelo paciente;
3. Compreensão das possibilidades
de tratamento pelo paciente;
4. Consenso entre terapeuta e
paciente em relação aos itens 1 a 3;
5. Consentimento informado;
6. Melhora dos mecanismos de
enfrentamento;
7. Mudanças no estilo de vida.
1. Determinar a natureza do problema;
2. Desenvolver um relacionamento
terapêutico;
3. Estabelecer as diferenças em perspectiva
entre terapeuta e paciente;
4. Estratégias educativas;
5. Negociações clínicas para resolução de
conflitos.
desdobre livremente e obter os dados necessários para o diagnóstico e futuro tratamento.
O conteúdo que ela possui é literalmente o
que é dito pelo paciente e pelo terapeuta; já o
processo é o que acontece entre ambos, o que
ocorre de forma não-verbal, sendo imprescin­
dível a atenção do terapeuta a esses sinais
ma­­­­­­­nifestados pelo paciente, uma vez que este
usa constantemente a linguagem corporal para
se comunicar.
Para elucidar o ato de entrevistar, Sadock &
Sadock1 sugerem algumas técnicas de condução:
1.Reflexão: nesta técnica há repetição so­­­
lidária em forma de paráfrase de algo que
o paciente já disse; tem como objetivo as­­­­
segurar a compreensão por ambos – pa­­­
ciente / terapeuta – do tem sido tratado;
2. Facilitação: existe uma cooperação por
parte do terapeuta, proporcionando pistas
verbais e não-verbais que encorajem o pa-
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 273-6
275
Nascimento RTA & Serafim AP
ciente a continuar falando; por exemplo,
sacudindo a cabeça.
3. Silêncio: na relação terapeuta-paciente
o silêncio precisa ser construtivo em um
ambiente acolhedor, permitindo que o
paciente se exponha;
4. Confrontação: essa técnica pretende que
o terapeuta exponha, de forma não hostil
e ofensiva, algo que o paciente não está
percebendo ou que ele esteja negando;
5. Clarificação: tenta-se aqui obter detalhes do
paciente sobre coisas ditas anteriormente;
6. Interpretação: a técnica de interpretar geralmente ajuda a esclarecer algum aspecto
que o paciente não consegue enxergar;
7. Resumo: utiliza-se para que periodicamente o terapeuta disponha de um tempo
da entrevista para resumir brevemente o
que o paciente disse até o momento;
8. Explicação: explicação do plano de traba­
lho / tratamento em uma linguagem com­­­
preensível;
9. Transição: essa técnica permite que o
te­­­rapeuta mude o tema/assunto que está
sendo tratado, uma vez que todas as informações necessárias já foram obtidas.
10.Autorrevelação: apenas quando necessário pode-se revelar e responder às curiosidades dos pacientes;
11.Reforço positivo: essa técnica permite que
o paciente se sinta confortável em dizer
algo ao terapeuta; trata-se de encorajá-lo;
12.Tranquilização: a tranquilização honesta
pode acarretar no aumento da confiança
entre ambos e significar a adesão ao tratamento proposto; entretanto, o contrário,
ou seja, a falsa tranquilização, pode atrapalhar o relacionamento, fazendo com
que o paciente não aceite o tratamento e
a intervenção propostos;
13.Conselhos: essa técnica deve ser aplicada
somente depois que os pacientes expuseram livremente seus problemas, de modo
que se obtenham dados suficientes para
fazer sugestões;
14.Terminando a entrevista: espera-se que
o paciente saia da entrevista sentindo-se
compreendido, respeitado e acreditando
que todas as informações pertinentes e
importantes foram transmitidas e entendidas pelo terapeuta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora estejam em áreas de atuação distintas, a Psiquiatria e a Psicopedagogia atuam de
forma complementar; dessa forma, utilizar-se
dos recursos e conhecimentos que ambos oferecem é enriquecedor e tem como produto final
o aprimoramento do atendimento clínico. Vale
ressaltar que a multidisciplinaridade não apenas
é imprescindível para atuação do psicopedagogo
quanto para o desenvolvimento do paciente/
cliente sob seus cuidados. A importância da comunicação e parceria entre as áreas deixa de ser
uma casualidade e passa para uma questão de
necessidade em benefício daquele que necessita
de sua ajuda.
REFERÊNCIAS
1. Sadock BJ, Sadock VA. Compêndio de Psiquiatria: ciência do comportamento e Psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed;2007.
2. Weiss MLL. Psicopedagogia clínica: uma visão
diagnóstica dos problemas de aprendizagem
escolar. 11ª ed. Rio de Janeiro:DP&A;2006.
3. Engel GL. The clinical application of the bio­­
psychosocial model. Am J Psychiatry. 1980;
137(5):535-44.
Resenha realizada na Universidade Presbiteriana Ma­­­
ckenzie, São Paulo, SP, Brasil.
Artigo recebido: 11/7/2012
Aprovado: 30/7/2012
Rev. Psicopedagogia 2012; 29(89): 273-6
276
ASSOCIADOS TITULARES – AGOSTO/2012
ALAGOAS
Maceió
ELIANE CALHEIROS CANSANÇÃO
ELIANE CÁSSIA ROCHA BLANES
[email protected]
(85) 3244-2820 – Dionísio Torres
[email protected]
(82) 3223-4258 – Farol
ELIANE LACERDA FERNANDES DE ASSIS
BAHIA
Feira de Santana
ELISABETE SILVEIRA CASTELO BRANCO
LOURDES MARIA DA SILVA TEIXEIRA
FRANCISCA FRANCINEIDE CÂNDIDO
[email protected]
(75) 3221-3456 – Mangabeira
Itabuna
GENIGLEIDE SANTOS DA HORA
[email protected]
(73) 3617-0372 – São Caetano
[email protected]
(85) 8699-3407 – Meireles
[email protected]
(85) 3281-1673 – Rodolfo Teófilo
[email protected]
(85) 3272-3966 – Fátima
GALEÁRA MATOS DE FRANÇA SILVA
[email protected]
(85) 3264-0322 – Aldeota
GERALDO LEMOS DA SILVA
GOIÁS
Goiânia
CARLA BARBOSA DE ANDRADE JAYME
[email protected]
(62) 3225-9805 – Setor Oeste
JANAÍNA CARLA R. DOS SANTOS
[email protected]
(62) 3241-7837 – Setor Sul
LUCIANA BARROS DE ALMEIDA SILVA
[email protected]
(62) 3293-3067 – Setor Marista
MARISTELA NUNES PINHEIRO
[email protected]
(62) 3259-0247 – Nova Suíça
MATO GROSSO Cuiabá
Salvador
[email protected]
(85) 3246-7000 – Dionísio Torres
ARLENE NASCIMENTO PESSOA
LUCIANA QUEIROZ BEM PORTELA
[email protected]
(71) 3347-8777 – Caminho das Árvores
[email protected]
(85) 3101-2201 – Farias Brito
DEBORA SILVA DE CASTRO PEREIRA
MARIA ENEIDA NOBRE PINHO
[email protected]
(71) 3341-2708 – Candeal
[email protected]
(85) 3294-2281 – Cj. Ceará
JACY CÉLIA DA FRANCA SOARES
MARIA JOSÉ WEYNE MELO DE CASTRO
[email protected]
(85) 3261-0064 – Parque Manibura
MINAS GERAIS
Campanha
JOZELIA DE ABREU TESTAGROSSA
MARISA PASCARELLI AGRELLO
RAMONA CARVALHO FERNANDEZ NOGUEIRA
[email protected]
(71) 3347-8777 – Pituba
[email protected]
(71) 3341-2708 – Caminho das Árvores
KARENINA AZEVEDO
[email protected]
(71) 3345-3535 – Pituba
[email protected]
(85) 3267-5714 – Varjota
OTILIA DAMARIS QUEIROZ
ÂNGELA CRISTINA MUNHOZ MALUF
[email protected]
(65) 9214-4484 – Jardim Cuiabá
MARIA MASARELA MARQUES DOS PASSOS
[email protected]
(65) 3028-1372 – Campo Velho
[email protected]
(35) 3261-2119 – Centro
[email protected]
(85) 3246-7000 – Dionísio Torres
Pouso Alegre
[email protected]
(71) 3347-8777 – Pituba
Tianguá
[email protected]
(35) 3422-2050 – Fátima
MÁRCIA GONÇALVES NUNES
[email protected]
(88) 9963-5854 – Centro
SÔNIA REGINA BELLARDI TAVARES
MARIA ANGELICA MOREIRA ROCHA
[email protected]
(71) 3345-1111 – Pituba
DISTRITO FEDERAL
Brasília
Uberlândia
MARIA AUXILIADORA DE A. RABELLO
MARINA LIMA BEUST
[email protected]
(71) 3353-2207 – Pituba
[email protected]
(61) 3326-9314 – Asa Norte
SANDRA MARIA FURTADO ANDRADE
MARLI LOURDES DA SILVA CAMPOS
LEILA DA FRANCA SOARES
[email protected]
(71) 3374-4505 – Federação
GRAÇA MARIA DE MORAIS AGUIAR E SILVA
CLAUDIA MARQUES CUNHA SILVA
[email protected]
(35) 3425-3456 – Santa Filomena
SANDRA MEIRE DE OLIVEIRA R. ARANTES
[email protected]
(34) 3224-3687 – Lidice
Varginha
[email protected]
(71) 3351-9973 – Itaigara
[email protected]
(61) 3321-3666 – Plano Piloto
HELENA SCHERER GIORDANO
CEARÁ
Fortaleza
ESPÍRITO SANTO Vitória
JÚLIA EUGÊNIA GONÇALVES
ANDRÉA AYRES COSTA DE OLIVEIRA
MARIA DA GRAÇA VON KRUGER PIMENTEL
[email protected]
(85) 3261-0064 – Aldeota
[email protected]
(27) 3225-9978 – Praia do Canto
MARIA CLARA R. R. FORESTI
DALMA RÉGIA MACEDO PINTO
MARISTELA DO VALLE
[email protected]
(85) 3491-2280 – Vila União
[email protected]
(27) 3215-5039 – Jardim da Penha
[email protected]
(35) 3212-7296 – Novo Horizonte
[email protected]
(35) 3222-1214 – Centro
[email protected]
(35) 3212-3496 – Centro
REGINA CLAUDIA A. S. FERRAZ
[email protected]
(35) 3214-5660 – Jardim Andere
PARÁ
Belém
CARMEM CYLBELLE PEREIRA ALVES VIÉGAS
THEREZA REGINA GUBERT SCHIER
[email protected]
(41) 3019-5203 – Água Verde
[email protected]
(91) 3259-3531 – São Braz
Foz do Iguaçu
ELIANE SOUZA DE DEUS NETO ALMEIDA
[email protected]
(45) 3523-4655
JOYCE MARIA BARBOSA DE PADUA
[email protected]
(86) 3221-1013 – Centro/Sul
MARIA DA SANTIDADE LOPES DIAS
ANA ZANIN ROVANI
[email protected]
(86) 3221-4444 – Centro
Guarapuava
RIO DE JANEIRO
Niterói
[email protected]
(91) 9981-2076 – São Braz
ADRIANA CRISTINE LUCCHIN
FÁTIMA GALVÃO PALMA
PARANÁ
Cambé
Londrina
Rio de Janeiro
NEOCLEIDE MILANI
ROSA MARIA JUNQUEIRA SCICCHITANO
[email protected]
(43) 3342-7308 – Jardim Caiçaras
ANA MARIA ZENÍCOLA
[email protected]
(43) 3223-2654 – Centro
Cornélio Procópio
Maringá
IVANI APARECIDA C. A. OLIVEIRA
NERLI NONATO RIBEIRO MORI
[email protected]
(91) 8850-8628 – Cidade Velha
MARIA DE NAZARÉ DO VALE SOARES
[email protected]
(42) 3622-4022 – Trianon
[email protected]
(21)2710-5577 – Icaraí
[email protected]
(21) 2556-3767 – Flamengo
ANA PAULA LOUREIRO E COSTA
[email protected]
(21) 2436-1803 – Jacarepaguá
[email protected]
(43) 3524-2377 – Centro
[email protected]
(44) 3261-4887 – Campus Universitário
Curitiba
São José dos Pinhais
[email protected]
(21) 2247-3185 – Ipanema
ADRIANE CREDIDIO R.C.DYMINSKI ARRUDA
CÉLIA REGINA BENUCCI CHIODI
DIRCE MARIA MORRISSY MACHADO
[email protected]
(41) 3672-3454 – Jardim Menino Deus
[email protected]
(41) 8445-1444 – Ouro Fino
[email protected]
(21) 2236-2012 – Copacabana
ARLETE ZAGONEL SERAFINI
LORIANE DE FÁTIMA FERREIRA
HELOISA BEATRIZ ALICE RUBMAN
[email protected]
(41) 3363-1500 – Santa Cândida
CINTIA BENTO M. VEIGA
[email protected]
(41) 3332-2156 – Rebouças
EVELISE M. LABATUT PORTILHO
[email protected]
(41) 3271-1655 – Prado Velho
FABIANE CASAGRANDE C. O. MELLO
[email protected]
(41) 3022-4041 – Batel
ISABEL CRISTINA HIERRO PAROLIN
[email protected]
(41) 3264-8061 – Alto da XV
LAURA MONTE SERRAT BARBOSA
[email protected]
(41) 3363-1500 – Alto da Glória
REGINA BONAT PIANOVSKI
[email protected]
(41) 3345-8798 – Portão
[email protected]
(41) 3282-9357 – Centro
PERNAMBUCO
Recife
CLYTIA SIANO FREIRE DE CASTRO
[email protected]
(21) 2259-9959 – Jardim Botânico
JANE BRAVO GORNE
[email protected]
(21) 8746-4623 – Botafogo
DAISY FLORIZA C. AMARAL
LUCIA HELENA MACHADO SAAVEDRA
[email protected]
(81) 3326-1927 – Boa Viagem
[email protected]
(21) 2239-5878 – Gávea
MANUELA BARBOSA PIMENTEL DE FREITAS
MARIA HELENA C. LISBOA BARTHOLO
[email protected]
(81) 9694-7857 – Boa Viagem
[email protected]
(21) 2266-0818 – Humaitá
MARIA DAS GRAÇAS SOBRAL GRIZ
MARIA KATIANA VELUK GUTIERREZ
[email protected]
(81) 3231-1461 – Graças
PIAUÍ
Floriano
[email protected]
(21) 2527-1933 – São Conrado
MARIA LÚCIA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO
[email protected]
(21) 9345-4020 – Botafogo
RAIMUNDA FERREIRA PAIVA NETA
MARLENE DIAS PEREIRA PINTO
[email protected]
(89) 3515-1156 – Centro
[email protected]
(21) 9739-5332 – Leblon
[email protected]
(41) 3026-2865 – Centro Cívico
Teresina
MARTHA IZAURA DO NASCIMENTO TA­­­
BOA­DA
SIMONE CALBERG
AMÉLIA CUNHA RIO LIMA COSTA
[email protected]
(41) 3363-1500 – Alto da Glória
amé[email protected]
(86) 3233-2878 – Fátima
[email protected]
(21) 2570-0065 – Barra da Tijuca
SONIA MARIA GOMES DE SÁ KUSTER
BENILDE FERREIRA DE ASSUNÇÃO FARIAS
ROSE MARY DA FONSECA SANTOS
[email protected]
(41) 3264-8061 – Centro
[email protected]
(86) 3221-2620 – Centro
VERA BEATRIZ DA COSTA NUNES MENDONÇA
[email protected]
(21) 2295-4838 – Botafogo
RIO GRANDE DO NORTE
Natal
ADRIANNA FLÁVIA DE FIGUEIREDO M. P.
GUIMARÃES
MARILENE DA SILVA CARDOSO
[email protected]
(51) 8182-0721 – Higienópolis
NEUSA KERN HICKEL
[email protected]
(84) 3231-0193 – Tirol
[email protected]
(51) 3333-5478 – Centro
CHRISTINA SALES NOVO
SANDRA MARIA CORDEIRO SCHRÖEDER
[email protected]
(84) 3206-4449 – Dix Sept Rosado
[email protected]
(51) 3328-3872 – Chácara das Pedras
EDNALVA DE AZEVEDO SILVA
SONIA MARIA PALLAORO MOOJEN
[email protected]
(84) 3221-6573 – Lagoa Seca
SONIA APARECIDA MONÇÃO GONÇALVES
[email protected]
(84) 3211-4220 – Ribeira
[email protected]
(51) 3333-8300 – Petrópolis
VERÔNICA ABELLA MARQUES
[email protected]
(51) 3374-6938 – Higienópolis
Maravilha
SILVANA MARIA BEDUSCHI DA SILVEIRA
[email protected]
(49) 3664-2186 – Centro
SÃO PAULO
Araraquara
ALINE RECK PADILHA ABRANTES
[email protected]
(11) 3335-7440 – Centro
Bragança Paulista
MÁRCIA GOMES
[email protected]
(11) 4032-5809 – Centro
Parnamirim
Santa Maria
Campinas
FRANCY IZANNY DE BRITO BASTOS MARTINS
FABIANI ROMANO DE SOUZA BRIDI
MARIA LAURA CASSOLI MACEDO
[email protected]
(84) 8839-0539
RIO GRANDE DO SUL
Canoas
[email protected]
(55) 3225-1577 – N. Sra. de Lourdes
Tapejara
SOLANGE MARIA SACARIOT
[email protected]
(19) 3254-2714 – Jardim N. Sra Auxiliadora
Cotia
[email protected]
(54) 3344-1289 – Centro
MARIA CECILIA CASTRO GASPARIAN
GILKA MARIA LUCENA KORTMANN
Ribeirão Preto
Casca
SANTA CATARINA
Florianópolis
BEATRIZ ANA ZAMBON FERRONATO
ALBERTINA C. MATTOS CHRAIM
[email protected]
(54) 3347-1394 – Centro
[email protected]
(48) 3244-5984 – Estreito
[email protected]
(16) 3021-5490 – Jardim Sumaré
Caxias do Sul
ANA CRISTINA BARBOSA ROCHA
[email protected]
(51) 3472-6896 – Centro
LOVAINE SALETE STREIT JUNGES
[email protected]
(54) 3536-3516 – Rio Branco
[email protected]
(48) 3223-0641 – Centro
JANICE MARIA BETAVE
[email protected]
(11) 4702-2192 – Granja Viana ANA LUCIA DE ABREU BRAGA
Santo André
SANDRA CASSERI RINDEIKA
[email protected]
(11) 4436-5985 – Centro
[email protected]
(48) 8453-7791 – Ingleses
São Bernardo do Campo
Não-Me-Toque
MARIA DE LOURDES EILERT MALAQUIAS
LILIANA STADNIK
[email protected]
(11) 4368-0013 – Rudge Ramos
[email protected]
(54) 3332-1400 – Centro
Passo Fundo
IARA SALETE CAIERÃO
[email protected]
(54) 3311-5230 – Centro
Porto Alegre
CLARA GENI BERLIM
[email protected]
(48) 3248-0401 – Balneário
MÁRCIA FIATES
[email protected]
(48) 3224-0441 – Centro
MARIA ALICE MOREIRA BAMPI
[email protected]
(48) 3333-1745 – Agronômica
MARIA GUILHERMINA COSTA ACIOLI
[email protected]
(51) 3221-1740 – Santana
[email protected]
(48) 3223-6402 – Centro
FABIANI ORTIZ PORTELLA
MARIA LÚCIA ALMADA FERNANDES
[email protected]
(51) 3209-5722 – Cidade Baixa
[email protected]
(48) 3331-1952 – Trindade
HELENA VELLINHO CORSO
SANDRA LAMB
[email protected]
(51) 3388-7960 – Auxiliadora
[email protected]
(48) 3223-0641 – Trindade
BEATRIZ PICCOLO GIMENES
São Paulo
ADA MARIA GOMES HAZARABEDIAN
[email protected]
(11) 2261-2377 – Jardim França
ALEXANDRA MARIA CRISTINA COLINI
[email protected]
(11) 3848-0906 – Vila Olímpia
ANA LISETE P. RODRIGUES
[email protected]
(11) 3885-7200 – Jardim Paulista ANDRÉA DE CASTRO RACY
[email protected]
(11) 5572-1331
BEATRIZ JUDITH LIMA SCOZ
[email protected]
(11) 3651-9914 – Alto de Pinheiros
CARLA LABAKI
MARIA IRENE DE MATOS MALUF
SÔNIA MARIA COLLI DE SOUZA CLEOMAR LANDIM DE OLIVEIRA
MARIA TERESA MESSEDER ANDION
TELMA PANTANO
[email protected]
(11) 3023-5834 – Alto de Pinheiros
[email protected]
(11) 3062-6580 – Jardins
MARISA IRENE S. CASTANHO
VALÉRIA RIVELLINO LOURENZO
[email protected]
(11) 3491-0522 – Ipiranga
[email protected]
(11) 5041-7896 – Brooklin
MÔNICA HOEHNE MENDES
VÂNIA M. CARVALHO BUENO DE SOUZA
[email protected]
(11) 5041-1988 – Indianópolis
vâ[email protected]
(11) 3644-7133 – Lapa
NÁDIA APARECIDA BOSSA
VERA MEIDE MIGUEL RODRIGUES
[email protected]
(11) 2268-4545 – Mooca
[email protected]
(11) 3511-3888 – Pacaembú
NEIDE DE AQUINO NOFFS
VIVIANI MASSAD DE AGUIAR
[email protected]
(11) 3670-8162 – Perdizes
[email protected]
(11) 99840-6337 – Pompéia
NIVEA MARIA DE CARVALHO FABRICIO
WYLMA FERRAZ LIMA
[email protected]
(11) 3868-3850 – Perdizes
[email protected]
(11) 3721-6421 – Morumbi
QUÉZIA BOMBONATTO SILVA
YARA PRATES
[email protected]
(11) 3815-5774 – Vila Madalena
[email protected]
(11) 99302-5501 – Moema
DILAINA PAULA DOS SANTOS
[email protected]
(11) 99219-5114 – Santana
EDITH REGINA RUBINSTEIN
[email protected]
(11) 3743-0090 – Vila Sônia
ELISA MARIA DIAS DE TOLEDO PITOMBO
[email protected]
(11) 5184-1340 – Granja Julieta
ELOISA QUADROS FAGALI
[email protected]
(11) 3864-2869 – Perdizes HERVAL G. FLORES
[email protected]
(11) 3257-5106 – Higienópolis
LEDA MARIA CODEÇO BARONE
[email protected]
(11) 3045-9064 – Vila Olímpia
LUCIA BERNSTEIN
[email protected]
(11) 3209-8071 – Aclimação
[email protected]
(11) 3258-5715 – Higienópolis
[email protected]
(11) 3815-8710 – Vila Madalena
REGINA A. S. I. FEDERICO
MÁRCIA ALVES SIMÕES
[email protected]
(11) 98192-0921 – Tatuapé
MARIA BERNADETE GIOMETTI PORTÁSIO
[email protected]
(11) 2950-6072 – Santana
MARIA CÉLIA R. MALTA CAMPOS
[email protected]
(11) 3819-9097 – Alto de Pinheiros
[email protected]
(11) 5041-1988 – Brooklin
REGINA ZAIDAN PEREIRA MENDES
[email protected]
(11) 3872-2434 – Pacaembu
SANDRA G. DE SÁ KRAFT MOREIRA DO NAS­­­
CIMENTO
[email protected]
(11) 3805-9799 – Morumbi
[email protected]
(11) 3287-8406 – Bela Vista
[email protected]
(11) 2976-8937 – Vila Ester
Taubaté
BENEDITA ILZA VIEIRA FORTES
[email protected]
(12) 3411-6637 – Centro
Vinhedo
CRISTINA VANDOROS QUILICI
[email protected]
(19) 9259-6652 – Portal Itália
MARIA CRISTINA NATEL
SANDRA LIA NISTERHOFEN SANTILLI
[email protected]
(11) 5081-2067 – Vila Mariana
[email protected]
(11) 3259-0837 – Higienópolis
SERGIPE
Aracaju
MARIA DE FATIMA MARQUES GOLA
SILVIA AMARAL DE MELLO PINTO
AUREDITE CARDOSO COSTA
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(11) 3052-2381 – Jardim Paulista
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(11) 3097-8328 – Pinheiros
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(79) 3211-8668 – São José
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ABPp
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programação de eventos da ABPp e de seus parceiros
A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é
uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins
lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da
Psicopedagogia.
Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já
envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da
aprendizagem fundou a Associação Estadual de
Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP.
Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua
expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa.
Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente
foram sendo criados os seus escritórios de representação por
todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções.
ANOS
30
Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões
referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao
reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo
alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação.
Atualmente, conta com 16 Seções e 2 Núcleos, espalhados
pelo Brasil, para melhor divulgar a Psicopedagogia e
aproximar os profissionais em torno de seus objetivos comuns.
A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas,
congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua
área de atuação, por meio da revista científica
Psicopedagogia, da Revista do Psicopedagogo, do informativo Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br.
Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que
organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e
interessados nos assuntos desta área.
Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da
ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho
sociocientífico, que visa não só ao atendimento
da população carente, promovendo a inserção social e a
divulgação da importância da prática psicopedagógica,
como também à implantação de um novo modelo de estudo
e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os
associados interessados em prestar um trabalho social.
Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas
nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua
especialização em Psicopedagogia.
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
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