0 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE BELAS ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS – MESTRADO EM ARTES VISUAIS ESTUDOS TEÓRICOS NAS ARTES VISUAIS DO NORDESTE SIMONE TRINDADE VICENTE DA SILVA REFERENCIALIDADE E REPRESENTAÇÃO: UM RESGATE DO MODO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NAS PENCAS DE BALANGANDÃS A PARTIR DA COLEÇÃO MUSEU CARLOS COSTA PINTO Salvador 2005 1 SIMONE TRINDADE VICENTE DA SILVA REFERENCIALIDADE E REPRES ENTAÇÃO: UM RESGATE DO MODO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NAS PENCAS DE BALANGANDÃS A PARTIR DA COLEÇÃO MUSEU CARLOS COSTA PINTO Dis s er t a çã o a p r es en t a d a a o Cu r s o d e Mes t r a d o em Ar t es Vis u a is d a Un iver s id a d e Fed er a l d a Ba h ia , com o r equ is ito p a r cia l p a r a ob t en çã o d o gr a u d e Mestre em Artes Visuais. Orientador: Prof. Dr. Cid Ney Ávila Macedo Co-or ien t a d or a : Pr ofa . Dr a . Ma r ia Helen a M. O. Flexor SALVADOR 2005 2 __________________________________________________________________________________ S686 SILVA, Simone Trindade Vicente da Referencialidade e representação: um resgate do modo de construção de sentido nas pencas de balangandãs a partir da coleção Museu Carlos Costa Pinto / Simone Trindade Vicente da Silva. Salvador: S.T.V.Silva, 2005. 230f. : il. Orientador: Prof. Dr. Cid Ney Ávila Macedo Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Belas Artes, 2005. 1. Adorno – jóias. 2.Ourivesaria. 3. Balangandãs – negras. 4. Salvador – séc. XVIII e XIX. 5. Semiótica. I. Macedo, Cid Ney Ávila. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Belas Artes. III. Título. CDU : 391.7 (814.2) __________________________________________________________________________________ 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Escola de Belas Artes Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais Estudos Teóricos nas Artes Visuais do Nordeste SIMONE TRINDADE VICENTE DA SILVA REFERENCIALIDADE E REPRESENTAÇÃO: UM RESGATE DO MODO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO NAS PENCAS DE BALANGANDÃS A PARTIR DA COLEÇÃO MUSEU CARLOS COSTA PINTO Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Artes Visuais. Salvador, 07 de junho de 2005 Acusamos recebimento de cópia da dissertação: CID NEY ÁVILA MACEDO _____________________________________________ Orientador. Doutor em Comunicação e Semiótica, PUC-SP Universidade Salvador - UNIFACS MARIA HELENA MATUE O. FLEXOR ___________________________________ Co-orientadora. Doutora em História Social, USP Universidade Católica do Salvador - UCSAL MÔNICA RODRIGUES DA COSTA ______________________________________ Doutora em Comunicação e Semiótica, PUC-SP Faculdades Jorge Amado - FJA 4 A Terezinha, minha mãe, pelo apoio e incentivo. Aníbal, meu marido, pela infinita compreensão e companheirismo. Felipe Augusto e Ana Carolina, meus filhos, pelo tempo roubado. 5 AGRADECIMENTOS Ao Pr of. Cid Ávila , p ela con fia n ça , a p oio con tín u o, d ed ica çã o e or ien ta çã o segura À Profª Maria Helena Flexor pela atenção, precisão e preciosas informações A quatro decisivas influências: Prof. Dr. Eduardo França Paiva, Prof. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Afrânio Simões e Dilberto de Assis À historiadora Profª Drª Mary Karasch pela gentileza e atenção À Profª Dra. Viga Gordilho e ao Prof. Dr. Luis Nicolau Parés pela contribuição durante a primeira exposição pública deste trabalho Ao Prof. Dr. Jefferson Bacelar, que participou do meu Exame de Qualificação À Banca E xaminadora pela disponibilidade e contribuição À Profª Maria Ignez Cortes de Oliveira, pelas preciosas informações Às d ir et or a s d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o: Mer ced es Ros a , qu e m e con t a m in ou com s u a p a ixã o p ela p r a t a , e Bá r b a r a Ca r va lh o d os S a n t os , p ela compreensão À equipe do Museu Carlos Costa Pinto, minhas colegas, pelo apoio Aos colega s m es t r a n d os , em es p ecia l a J u cia r a Ba r b os a , Rob s on Ba r b os a , Walter Mariano e Raimundo Áquila Ao Mestrado, em especial a Maria Taciana Costa Pinto de Almeida Aos professores, em especial ao Prof. Dr. Eugênio de Ávila Lins Aos fu n cion á r ios d a Un iver s id a d e Fed er a l d a Ba h ia , es p ecia lm en t e d a s b ib liot eca s d a E s cola d e Bela s Ar t es , Cen t r a l, Fa cu ld a d e d e Filos ofia e Ciên cia s Hu m a n a s , Cen t r o d e E studos Afro-Orientais e Fa cu ld a d e d e Educação À S r a . Ma r ia J os é Velos o d a Cos t a S a n t os , Bib liot ecá r ia / Docu m en t a lis ta d a Seção d e Mem ór ia e Ar qu ivo d o Mu s eu Na cion a l/ UFRJ , p ela p r ecios a atenção e presteza Aos fu n cion á r ios d a Bib liot eca Pú b lica d o E s t a d o d a Ba h ia , Ar qu ivo Pú b lico d o E s t a d o d a Ba h ia , Ar qu ivo Mu n icip a l d e S a lva d or , Fu n d a çã o Instituto Fem in in o d a Ba h ia , Ga b in et e Por t u gu ês d e Leit u r a , Mu s eu Tem p os t a l, 6 Dir et or ia d e Mu s eu s - DIMUS , In s t it u to Geogr á fico e His tór ico d a Ba h ia e Museu de Arte da Bahia Ao S r . An t on io Am a r o d a s Neves , d ir et or d o Mu s eu d a S ocied a d e Ma r t in s Sarmento, em Guimarães – Portugal A Aníbal Gondim, autor da capa desta dissertação À b ib liot ecá r ia Led a Ma r ia Ra m os Cos t a , d a E s cola d e Bela s Ar t es – UFBA, que gentilmente elaborou a ficha catalográfica À tradutora Mollie Cerqueira, que prestemente realizou o abstract 7 As r es p os ta s qu e b u s ca m os , m es m o s em s a b er , os ca m in h os qu e t r ilh a m os , qu a s e s em p r e er r a n t es , a p on t a m p a r a a lgo: u m p on t o m a is ou m en os indefinido, muito ou pouco além de nós. Lúcia Santaella (1994, p.127) 8 RESUMO O p r es en te t r a b a lh o aborda, a t r a vés d a a n á lis e s em iót ica e h is tór ica , o p r oces s o p a r t icu la r d e p r od u çã o d e s en t id o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s dentro do contexto sócio-cultural de Salvador setecentista e oitocentista. A p es qu is a d es en volveu -s e a p a r t ir d o estudo d a s 2 7 p en ca s d e b a la n ga n d ã s em p r a t a , p er t en cen t es à coleçã o d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o, o m a ior a cer vo exis t en t e em m u s eu s . For a m con s u lt a d a s fon t es p r im á r ia s , s ecu n d á r ia s e d ocu m en t a çã o icon ogr á fica qu e in d ica r a m a p r es en ça d es t es ob jetos a r t ís t icos n os s écu los XVIII e XIX, com o a d er eços m ís ticos , em s u a m a ior ia con feccion a d os em p r a t a , s en d o u s a d os p or a lgu m a s n egr a s e m u la t a s b a ia n a s n a cin t u r a , em oca s iões fes t iva s . S u a com p os içã o r evela a exis t ên cia d e d iver s os elem en t os m á gicos (a m u let os e ta lis m ã s ), qu e remetem a várias tradições religiosas. Palavras-ch a ve: b a la n ga n d ã s , s em iót ica , n egr a s , jóia s , ou r ives a r ia , Ba h ia , séculos XVIII e XIX. 9 ABSTRACT The work presented here examines, through semiotic and historical analysis, t h e s in gu la r s ign ifica n ce a n d p r od u ct ion of clu s t er s of ch a r m s t er m ed balangandãs, wit h in t h e s ocio-cu ltu r a l con t ext of S a lva d or , Ba h ia in t h e s even t een a n d eigh teen h u n d r ed s . Th e r es ea r ch is a n ou t gr owth of t h e s tu d y of twenty-seven silver sets of balangandãs that comprise the collection of the Ca r los Cos t a Pin t o Mu s eu m , t h e la r ges t s in gle m u s eu m collect ion of t h es e fa s cin a t in g p ieces . Th e r es ea r ch m et h od ology u s ed in th is s u r vey in clu d es con s u lt in g p r im a r y a n d s econ d a r y s ou r ces , in a d d it ion t o icon ogr a p h ic d ocu m en ta t ion t h a t in d ica t es t h e p r es en ce of t h es e a r t is t ic ob ject s in t h e eigh t een t h a n d n in eteen t h cen tu r ies . Cr a ft ed p r im a r ily fr om s ilver a n d u s ed b y Ba h ia n Negr o a n d Cr eole wom en , balangandãs wer e wor n a r ou n d t h e wa is t , es p ecia lly on fes t ive occa s ion , a n d wer e b elieved t o b r in g lu ck or h old m ys t ic p ower s . Th e com p os ition of ea ch p iece r evea ls d iver s e m a gica l elem en t s , s u ch a s a m u let s a n d t a lis m a n s , d er ivin g fr om d iver s e r eligiou s traditions. Key wor d s : balangandãs, s em iot ics , Negr oes , J ewelr y, gold s m it h in g a n d silversmithing, Bahia, eighteenth and nineteenth century. 10 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 12 INTRODUÇÃO 19 1. O CONTEXTO SIMBÓLICO DAS PENCAS DE BALANGANDÃS 34 1.1. SALVADOR NOS SÉCULOS XVIII e XIX 34 1.2. A POPULAÇÃO NEGRA 36 1.3. IDENTIDADES ÉTNICAS 41 1.4. MODOS DE VESTIR 47 1.5.O USO DE SIGNOS MÁGICOS 66 2. O SIGNO EM SI: A COLEÇÃO MUSEU CARLOS COSTA PINTO 75 2.1.BREVE HISTÓRICO 75 2.2. AS PENCAS DE BALANGANDÃS 77 2.2.1. A CORRENTE 80 2.2.2. A NAVE 81 2.2.3. ELEMENTOS PENDENTES 94 2.2.3.1. FIGA 96 2.2.3.2. COCO DE ÁGUA 101 2.2.3.3. CHAVE 102 2.2.3.4. MOEDAS 105 2.2.3.5. CILINDRO 106 2.2.3.6. ROMÃ 108 2.2.3.7. CACHO DE UVAS 112 2.2.3.8. PEIXE 115 2.2.3.9. DENTE 116 2.2.3.10. ELEMENTOS CURIOSOS 119 2.2.3.11. A QUESTÃO DOS EX-VOTOS 121 2.2.3.12. OS DEMAIS ELEMENTOS PENDENTES 124 11 3. A CONSTRUÇÃO DO SIGNO 127 3.1. ETIMOLOGIA 127 3.2. DEFINIÇÕES 130 3.3. INDÍCIOS DO USO 139 3.4. ORIGEM DAS PENCAS DE BALANGANDÃS 157 3.5. ANTECEDENTES MORFOLÓGICOS 160 3.6. QUEM CONFECCIONAVA E COMERCIALIZAVA AS PENCAS DE 174 BALANGANDÃS? 3.7. O DESUSO DO SIGNO 177 CONCLUSÃO 179 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 182 APÊNDICE A - Gráficos de incidência de corrente e composição 199 da nave APÊNDICE B – Fichas de identificação das pencas de balangandãs 203 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - O signo em Peirce 25 Figura 2 - Esquema do processo comunicativo 28 Figura 3 - Esquema das funções de linguagem de Jakobson 28 Figura 4 - Vista da Bahia – Passeio Público de Salvador 34 Figura 5 - Vendedora de quitutes e carregador 39 Figura 6 – Sapataria 39 Figura 7 - Um funcionário do governo com sua família e escravos 40 Figura 8 - Escravas de diferentes nações 42 Figura 9 - Retrato de Ana de Jesus Moniz Viana 50 Figura 10 - Baiana 50 Figura 11 - Mercadora e carregadora de água 53 Figura 12 - Vendedora de gravuras: Bahia 53 Figura 13 - Tradicionais costumes portugueses até o séc. XIX 53 Figura 14 - Vendedeira negra em Portugal 53 Figura 15 - Representação de mulher cafre 54 Figura 16 - Habitantes da Guiné 54 Figura 17 – Etíopes (detalhe) 54 Figura 18 - Fazendeiros kanarese (Índia) 54 Figura 19 – Banha de cabelos (sic) bem cheirosa 55 Figura 20 - Mulher negra 57 Figura 21 - Aquarela de Carlos Julião 57 Figura 22 - Baiana 58 Figura 23 - Vendedora 58 Figura 24 - Família pobre recolhendo o produto do trabalho de velha 59 escrava carregadora de água Figura 25 - Fatos vianenses de “domingar” e de “luxar” 60 Figura 26 - Roupa de “ouvir o sermão de festa” de lavradeira rica de 60 Meadela Figura 27 - Grupo de Lavradeiras de Oliveira de Azeméis 61 13 Figura 28 - Traje de beca – Creoulas da Bahia 61 Figura 29 - Roupa de baiana. Holliday dress – Traje de feriado 61 Figura 30 - Traje de crioula. Holliday dress –Traje de feriado 62 Figura 31 - Traje de beca. Retrato de baiana 62 Figura 32 – Série As Damas da Boa Morte 64 Figura 33 – Jóias de crioula em ouro 65 Figura 34 - Crioula 65 Figura 35 – O Cirurgião negro 68 Figura 36 – O vendedor de arruda 73 Figura 37 – Negra da Bahia usando amuleto 74 Figura 38 – Retrato de Anna Maria Monteiro 74 Figura 39 – Museu Carlos Costa Pinto 75 Figura 40 - Vitrine das pencas de balangandãs 77 Figura 41 - Baiana 78 Figura 42 – Penca de balangandãs 78 Figura 43 - Partes de uma penca de balangandãs 79 Figura 44 - Nave de uma penca de balangandãs 79 Figura 45 - Corrente de penca de balangandãs 80 Figura 46 - Corrente de penca de balangandãs, com figa pendente 80 Figura 47 - Nave da penca de balangandãs 2256.XII.064 81 Figura 48 - Nave da penca de balangandãs 2264.XII.072 81 Figura 49 - Exemplares de naves com argolas de suspensão 82 Figura 50 - Nave simples, abertura à sinistra 83 Figura 51 - Nave dupla da penca de balangandãs 2249.XII.057 83 Figura 52 - Classificação tipológica das naves 84 Figura 53 - Frontão partido 85 Figura 54 - Estrutura compositiva de uma penca de balangandãs 85 Figura 55 - Nave de penca de balangandãs do tipo 1 86 Figura 56 - Divino Espírito Santo em prata 86 Figura 57 - Nave de penca de balangandãs do tipo 2 87 Figura 58 - Andor processional de São Francisco Xavier 87 Figura 59 - Nave do tipo 3 87 Figura 60 - Nave do tipo 4 88 14 Figura 61 - Nave do tipo 1 88 Figura 62 - Nave do tipo 2 88 Figura 63 - Nave do tipo 5 89 Figura 64 - Nossa Senhora da Fartura 89 Figura 65 - Nave do tipo 6 89 Figura 66 - Altar do Consistório da Irmandade do Santíssimo 90 Sacramento da antiga Sé da Bahia. Figura 67 - Nave do tipo 7 91 Figura 68 - Bandeja de espevitadeira em prata 91 Figura 69 - Borboletas de pencas de balangandãs 91 Figura 70 - Penca de balangandãs 2258.XII.066. Detalhe de marca de 92 ensaiador do séc.XVIII Figura 71 - Contraste da prata de ensaiador da Bahia, séc. XVIII 92 Figura 72 - Penca de balangandãs 2247.XII.055. Detalhe de marcas de 92 ensaiador da Bahia Imperial Figura 73 - Contraste da prata de ensaiador da Bahia Imperial 92 Figura 74 - Figas em marfim, madeira e prata 97 Figura 75 - Figas em madeira, prata e coral 97 Figura 76 - Figas em madeira 97 Figura 77 - Figas em prata 97 Figura 78 - Mano cornuta em marfim. 97 Figura 79 – O fruto: figo 99 Figura 80– Interior de um figo 99 Figura 81 – Cocos de água em prata e coco e prata 102 Figura 82 – Cocos de água em prata 102 Figura 83 – Coco de água em prata cinzelado 102 Figura 84 – Chaves em prata 103 Figura 85 – Cofre e chave de cofre em prata 103 Figura 86 – Chave em prata (detalhe) 103 Figura 87 – Chave em prata (detalhe) 103 Figura 88 - Figa em prata 104 Figura 89 - Figa em prata 104 Figura 90 – A entrega das chaves a Pedro (detalhe) 104 15 Figura 91 - Moedas em prata 106 Figura 92 - Moeda em prata 106 Figura 93 – Cilindros em prata, madeira e conta 107 Figura 94 – Cilindros em conta, madeira e ágata 107 Figura 95 – Cilindro em prata com parte móvel 107 Figura 96 - Cilindro em madeira e coral 107 Figura 97 – O fruto da romã 109 Figura 98 – Interior de uma romã 109 Figura 99 – Romã de penca de balangandãs 109 Figura 100 – Romã em marfim 110 Figura 101 – Romã em marfim 110 Figura 102 - Chão em mosaico com 3 romãs 110 Figura 103 – Moeda cunhada em Jerusalém em 67d.C. 110 Figura 104 – Relevo com cacho de uvas e 3 romãs 111 Figura 105 – Madona com menino e seis anjos 111 Figura 106 – A Virgem com menino e São João 111 Figura 107 – Madonna de Dreyfus 111 Figura 108 – Nossa Senhora da Fartura 111 Figura 109 - Romã em prata 112 Figura 110 – Paliteiro em prata com decoração vegetal 112 Figura 111 – Cacho de uvas em prata 113 Figura 112 – O fruto: Cacho de uvas 113 Figura 113 – Videira sobre cipreste em jardim Assírio 114 Figura 114 – Oferendas de romãs, uvas e flores. 114 Figura 115 – Detalhe de obra de talha com decoração com cachos de 115 uvas Figura 116 – Brincos portugueses em ouro, pérolas e turquesa 115 Figura 117 - Peixes em prata chapados 115 Figura 118 - Peixe em prata em volume 115 Figura 119 – Peixes e âncora 116 Figura 120 – Mosaico da Igreja da Multiplicação dos pães e peixes 116 Figura 121 – Dentes 117 Figura 122 – Dente (detalhe) 117 16 Figura 123 – Dente em prata 118 Figura 124 – Dente em prata 118 Figura 125 - 118 Santa Apolônia Figura 126 - Torquês e dentes (atributo de imagem) em cobre prateado 118 Figura 127 - Elemento em formato de rosácea, em prata 119 Figura 128 - Jóias masculinas valencianas (cadeia de relógio e 119 abotoadura) Figura 129 - Vinaigrette em prata 120 Figura 130 - Foto das marcas de contrataria inglesas 120 Figura 131 - Detalhes da v in a igre tte 120 Figura 132 – Os denominados ex-votos em prata 121 Figura 133 – Os denominados ex-votos em prata 121 Figura 134 – Ex-votos em madeira 121 Figura 135 – Olhos de Santa Luzia em prata 122 Figura 136 – Oferenda votiva em prata 122 Figura 137 – Santa Luzia 122 Figura 138 – Pé de cabra em prata 124 Figura 139 – Joalheria popular portuguesa: pé de cabra em ouro 124 Figura 140 – Animais em prata 125 Figura 141 - Chifre de besouro 125 Figura 142 – Frutas em prata 126 Figura 143 – Pandeiro em prata 126 Figura 144 – Miniatura de machado em prata 126 Figura 145 - Nossa Senhora da Conceição em prata dourada 126 Figura 146 – Pentagrama e crescente lunar em prata 126 Figura 147 – Conta verde escura encastoada de prata 126 Figura 148 – Correntão de crioula em ouro 132 Figura 149 – Elemento da penca de balangandãs 2252.XII.060 135 Figura 150 – Elemento da penca de balangandãs 2252.XII.060 135 Figura 151 – Balangandãs em prata 135 Figura 152 –Balangandãs, metal prateado, osso, pedra e madeira 135 Figura 153 – Amuletos 135 Figura 154 - Detalhes de objetos simbólicos dos fios-de contas 136 17 Figura 155 – Diferentes modos de colocar o torso 138 Figura 156 – Mulher negra (detalhe) 138 Figura 157 – Prancha da Bahia e detalhes 138 Figura 158 – Penca - Detalhe 139 Figura 159 – Balangandãs em prata 139 Figura 160 – Penca de balangandãs em prata 139 Figura 161 – Mulher negra 140 Figura 162 – Negras de ganho 141 Figura 163 – Vendedora de doces 145 Figura 164 - Negro e negra da Bahia 146 Figura 165 - Festa de N. Sra. do Rosário, padroeira dos negros 146 (detalhe) Figura 166 - Negras livres vivendo de suas atividades 147 Figura 167 - Enterro de uma negra 147 Figura 168 - Padaria 148 Figura 169 - Pedintes 148 Figura 170 – Negra tatuada vendendo cajus (detalhe) 149 Figura 171 - Mulata. Jean-Baptiste Grenier 150 Figura 172 - Negra no mercado 151 Figura 173 – Uma crioula da Bahia 152 Figura 174 - Crioula 153 Figura 175 - Retrato de baiana 154 Figura 176 – Rainha Nzinga com seu séqüito 159 Figura 177 - Amuletos africanos 161 Figura 178 – Bastões com pingentes 161 Figura 179 - Ferramenta de Ogum 161 Figura 180 – Oxum, com ibá na cintura 162 Figura 181 – Ibá de Oxum 163 Figura 182 – Segurança. 163 Figura 183 – Estilos de roupa de homens e mulheres da Costa do 164 Ouro, séc.XVII Figura 184 - Mulata da Costa da Costa do Ouro 166 18 Figura 185 – Mulher de Lima, Peru, com “cadenilla” (“châtelaine”) 167 colonial de prata Figura 186 – Chatelaine em prata 168 Figura 187 – Penca de chaves 169 Figura 188 – Vendedora com chave pendente da cintura 169 Figura 189 - Desenhos de cambulhadas portuguesas 170 Figura 190 – Cambulhada de 9 amuletos 170 Figura 191 – Cambulhada de Valencia, Espanha 171 Figura 192 – Retrato de Menino 172 Figura 193 – Cimaruta em prata 173 Figura 194 – Cimarutas portuguesas 173 Figura 195 – Arruda 173 Figura 196 – Mulheres negras do Rio de Janeiro 176 19 INTRODUÇÃO “Nominantur singularia, sed universalia significantur” Jean de Salisbury1 É d ifícil p r ecis a r qu a n d o a cu r ios id a d e p a s s a a s er in qu iet a çã o e configura-s e com o ob jeto d e p es qu is a . O cer t o é qu e, a p ós 1 4 a n os d e trabalho museológico no Setor de Conservação, Documentação e Pesquisa do Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o, a s 2 7 p en ca s d e b a la n ga n d ã s em p r a t a , d a t a d a s d os s écu los XVIII e XIX, p a s s a r a m a s er a lgo m a is qu e n ú m er os , fich a s d e id en t ifica çã o, ob jet os exp os t os qu e en ca n t a m e in tr iga m o p ú b lico vis it a n t e por seu exotismo. Um a in flu ên cia d et er m in a n t e p a r a a exis t ên cia d es s e t r a b a lh o foi o Pr of. Dr . E d u a r d o Fr a n ça Pa iva , p r ofes s or d e His tór ia d a Un iver s id a de Fed er a l d e Min a s Ger a is - UFMG. E m 1 9 9 7 , in d o a o Mu s eu Ca r los Cos t a Pinto, ele solicitou informações sobre algumas peças do acervo, as chamadas jóia s d e cr iou la s . Rea liza n d o u m a vis ita or ien t a d a com ele foi p os s ível p er ceb er o qu a n t o es s a coleçã o, e em es p ecia l a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , p od em s er es t r a n h os p a r a u m n ã o b a ia n o. E le es t a va fin a liza n d o o s eu livr o Es cra v id ã o e u n iv ers o cu ltu ra l n a colôn ia : Min a s Gera is , 1 7 1 6 -1789. Intrigava-o a s in gu la r id a d e d es s a s p eça s , vis t o qu e a s n egr a s em Min a s Gerais u s a va m o m es m o t ip o d e jóia s qu e a s s en h or a s b r a n ca s . Mu it os qu es t ion a m en t os fora m feit os . Nes s e en con t r o d elin eou -s e a p r ob lem á t ica d a presente investigação. Ambiciosamente nasceu este projeto de pesquisa. Havia um universo a s er exp lora d o, u m a s ér ie d e p er s p ect iva s d e a n á lis e. E xis t em p ou cos t r a b a lh os es p ecíficos e m u it a r ep et içã o s ob r e o tem a . Com a s p r im eir a s leit u r a s , a lgu m a s p er gu n t a s logo a flor a r a m . Qu em u s a va a p en ca d e b a la n ga n d ã s ? Qu a l o p er íod o d e u s o? S ã o r ea lm en t e p eça s exclu s iva s d a Bahia? São trabalhos dos negros malês? Eram de uso diário ou festivo? Mas, a p er gu n ta cen t r a l er a , e é, qu a l o s en t id o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s e n o 1 Os s in gu la r es s e n om eia m , m a s os u n iver s a is s ign ifica m . Cit a çã o fa vor it a d e Peir ce, r et ir a d a d o Metalogicus d o p a d r e in glês J ea n d e S a lis b u r y (1 1 1 5 -1180), t r a t a d o em d efes a da lógica e da filosofia (JAKOBSON, 1969, p.116). 20 qu e con s tit u i a s u a s in gu la r id a d e a r t ís t ica . For m a liza d a s p a r a o p r ojet o d e p es qu is a , es s a s in d a ga ções t or n a r a m -se o s egu in t e ob jet ivo ger a l: d et er m in a r o p r oces s o p a r t icu la r d e p r od u çã o d e s en t id o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , en qu a n t o s ign os es t ét icos , in s er id o n o con texto s ócio-cultural d a Ba h ia s et ecen tis t a e oitocen tis t a , s ob u m a p er s p ect iva d e a n á lis e semiótica e histórica. Des d e o in ício, d ecid iu -s e con s id er a r o ob jeto d e p es qu is a d en t r o d o s eu con t ext o h is t ór ico d e p r od u çã o e u s o, n o ca s o a Ba h ia d os s écu los XVIII e XIX, n u m a b u s ca d o s en tid o a t u a lm en t e p er d id o. Hoje, es s es ob jet os , p r es en t es em coleções p a r t icu la r es e exp os t os em m u s eu s , es t ã o es va zia d os d o s eu s en t id o or igin a l, d is ta n cia d os d e s u a fu n cion a lid a d e on t ológica , con s tit u in d o m er os t es t em u n h os h is t óricos . Foi d es ca r t a d o o es t u d o n os m old es d a s leit u r a s e in fer ên cia s a t u a is s ob r e es s es ob jetos , fartamente a lim en t a d a s p ela im a gin a çã o e cr ia t ivid a d e p op u la r . Nã o for a m con s id er a d a s , t a m b ém , a s n ova s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , a s qu e s ã o p r od u zid a s , ou m elh or , r ep r od u zid a s em m et a l, d e d ifer en t es t a m a n h os , t ip ologia s (com o b r och es , p en d en t es d e cola r es , ob jet os d ecor a t ivos ) e comercializados como objetos de baianidade para turistas. Defin id os o ob jet o (os 2 7 exem p la r es d a coleçã o d e p en ca s d e balangandãs em prata do Museu Carlos Costa Pinto), o recorte tempo-espaço (Salvador, séculos XVIII e XIX) e o objetivo (investigar a produção de sentido), foi p r ecis o, en t ã o, op t a r p or u m m ét od o e p or u m in s t r u m en t a l t eór ico qu e d es s em s u p or t e a es s a in ves tiga çã o, qu e n or t ea s s e s u a leitu r a . O m ét od o d e p es qu is a a d ot a d o foi o a n a lít ico-com p a r a t ivo com o for m a d e, a t r a vés d e confr on t a çã o en t r e o ob jeto d e es t u d o e r ep r es en t a ções s im ila r es , r a s t r ea r in flu ên cia s cu ltu r a is , a n a lis a r os p er cu r s os , es t a b elecer s em elh a n ça s t em á t ica s e m or fológica s . Con s id er a n d o-s e a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s com o s ign os es tét icos e d e id en t id a d e cu lt u r a l, foi es colh id o com o m od elo t eór ico d e a n á lis e a S em iót ica Vis u a l d e ext r a çã o p eir cea n a , t en d o com o a p or t e a His tór ia Nova , a An tr op ologia Cu lt u r a l e a His t ór ia d a Ar t e. Por t a n t o, es s e é u m es t u d o a licer ça d o em u m a t r ía d e: Ar t e, S em iótica e His t ór ia . A Ar t e é a m a t er ia liza çã o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . A His t ór ia r efer en cia o recor t e 21 tempo-es p a ço: S a lva d or n os s écu los XVIII e XIX, o con t ext o. E a S em iót ica peirceana é a linha mestra, a condutora da leitura, o enfoque deste trabalho. Por que e como utilizar a Semiótica peirceana? Tod a filia çã o t eór ica é u m a es colh a . A S em iót ica foi u m a op çã o d ecor r en t e d e u m a coer ên cia m et od ológica e ep is t êm ica qu e s e coa d u n a m com os ob jet ivos d es s e t r a b a lh o. Um fa t or p r op ício foi a exp er iên cia p r ofis s ion a l em u m es p a ço m u s eológico, on d e s e p er s egu e in ca n s a velm en t e t or n a r o ob jet o exp os t o com u n ica t ivo a o p ú b lico, a p a r t ir d o t r a b a lh o d o m u s eólogo d ocu m en ta lis t a , p ois s egu n d o Fer n a n d a d e Ca m a r go-Mor o (1 9 8 6 , p. 14), a es t e com p et e in icia r u m a et a p a d a d ecod ifica çã o d o ob jet o, m anipulando-o, id en t ifica n d o-o, d ocu m en t a n d o-o exa u s t iva m en t e, con s er va n d o-o, p r op or cion a n d o-lh e u m a exis t ên cia con cr et a , ta n gível, is to é, r ea l e s egu r a , fa zen d o o passado tornar-se acessível através da documentação. O qu e s e vis a é n ã o p er d er a p er s p ect iva d o ob jet o m u s ea l, t od o o con h ecim en t o d eve s er ger a d o a p a r t ir d ele. Bu s ca n d o s em p r e m a n t er es s a fid elid a d e a o ob jeto, ou m elh or , a o s ign o, a d ot ou -s e a S em iót ica p eir cea n a nesta pesquisa conforme será explicitado a seguir. A S em iót ica p eir cea n a t eve com o cr ia d or o n or t e-a m er ica n o Ch a r les S a n d er s Peir ce (Ca m b r id ge-Ma s s a ch u s s et s , 10/ 09/ 1839 – Milford- Pen s ilvâ n ia , 1 9 / 0 4 / 1 9 1 4 ). For m a d o em qu ím ica , ele foi a n tes d e t u d o u m lógico e u m filós ofo. A s u a cla s s ifica çã o d a s ciên cia s 2 foi r ea liza d a “com o genuíno p r op ós ito d e b u s ca r a gen era lid a d e e com p r een d er o m u n d o” (S E BE OK, 1 9 9 1 , p .4 ). A S em iót ica é p a r t e cen t r a l d e s u a im en s a ob r a , “a es p in h a d or s a l d e u m a a r qu it et u r a filos ófica d a qu a l ela é in s ep a r á vel” (S ANTAE LLA, 1 9 9 4 a , p .1 5 4 ). E le é con s id er a d o o m a is im p or t a n t e d os fu n d a d or es d a m od er n a S em iót ica (NÖTH, 1 9 9 5 , p .6 0 ). Ap es a r d e n ã o t er fin a liza d o ou p u b lica d o u m ú n ico livr o, ele d eixou a lgu n s en s a ios em 2 A cla s s ifica çã o d a s ciên cia s ou d os s a b eres d e Peir ce foi ela b or a d a s egu n d o u m p r in cíp io d e rela çã o en t re a s ciên cia s , or d en a d a s s egu n d o u m a a b s t r a çã o d ecres cen te. As s im , a p r im eir a gr a n d e d ivis ã o es t a b eleceu 2 gr a n d es r a m os : a s ciên cia s teorét ica s e a s ciên cia s p r á t ica s . As p r im eir a s d es d ob r a m -s e em ciên cia s d a in ves t iga çã o ou d a d es cob er ta e em ciên cia s d a s is tem a t iza çã o. As ciên cia s d a in ves t iga çã o s u b d ivid em -s e em Ma tem á t ica , Filos ofia e ciên cia s es p ecia is ou id ios cop ia . Den t r o d a Filos ofia p eir cea n a s it u a -s e a fenomenologia e a Semiótica ou Lógica (PALO, 1998, p.167; IBRI, 1991, p.3-4; PIRES, 1999). 22 periódicos e milhares de manuscritos existentes na Universidade de Harvard. Gr a n d e p a r t e d es t e m a t er ia l é in éd it a . As d u a s m a is im p or t a n t es s ér ies d e p u b lica ções s ã o Collected Pa p ers of Ch a rles S a n d ers Pe irce (1931-5 8 ) e Writin gs of Ch a rles S . Pe irce (1982-99)3 . Ap en a s u m a p equ en a p a r t e d e s u a ob r a foi p u b lica d a n o Br a s il. Da í a even t u a l p r es en ça n es s a d is s er t a çã o d e citações indiretas (apud) de Peirce indicadas pelos estudiosos consultados. O vocá b u lo S em iótica or igin a -s e d o gr ego semeion, qu e s ign ifica s ign o. S egu n d o Lú cia S a n t a ella 4 (1 9 8 3 , p .1 3 ), a S em iót ica “é a ciên cia qu e t em p or ob jeto d e in ves tiga çã o t od a s a s lin gu a gen s p os s íveis , ou s eja , qu e t em p or ob jeto o exa m e d os m od os d e con s tit u içã o d e t od o e qu a lqu er fen ôm en o com o fen ôm en o d e p r od u çã o d e s ign ifica çã o e s en t id o”. Fen ôm en o s er ia o qu e s e a p r een d e, “t u d o a qu ilo, qu a lqu er cois a , qu e a p a r ece à p er cep çã o e à m en t e” (idem, 2 0 0 2 , p .7 ), ou s eja , p en s a m en t o 5 m a n ifes t o em d ifer en t es n íveis d e con s ciên cia 6 . Com r ela çã o a es s a s for m a s d e a p r een s ã o e com p r een s ã o d o m u n d o p elo s er h u m a n o 7 , Peir ce es t a b eleceu a s t r ês ca t egor ia s u n iver s a is d os fen ôm en os ou ca t egor ia s fa n er os cóp ica s 8 : p r im eir id a d e, s ecu n d id a d e e ter ceir id a d e. A p r im eir id a d e evoca a id éia d e p r im eir o, 3 or igin a lid a d e, a ca s o, qu a lid a d e de s en tim en t o (t a lid a d e 9 ), Os Collecte d Pa p ers of Ch a rles S . Pe irce s ã o com p os t os p or 4 .0 0 0 m a n u s cr it os , p u b lica d os de forma seriada entre 1931-35 e 1958, em 8 volumes, pela Harvard University. A referência u s u a l a es s a ob r a é CP (Collected Pa p ers ), s ep a r a çã o p or vír gu la , n ú m er o a r á b ico in d ica n d o o volu m e d a p u b lica çã o (d e 1 a 8 ) s egu id o p or p on t o e n ú m er o s equ en cia l d o p a r á gr a fo. Os W ritin gs of Ch a rles S . Peirce for a m p u b lica d os em 6 volu m es , en t re 1 9 8 2 e 1 9 9 9 , p ela In d ia n a Un iver s it y. A s u a r eferên cia s egu e o m es m o es qu em a d os Collecte d Pa p ers , s en d o precedida da inicial W (IBRI, 1992, p.XIII-XIV). 4 A s em iot icis t a Pr ofª Dr ª Lú cia S a n t a ella (PUC-S P) é u m a d a s m a is p r oem in en tes pesquisadoras da Semiótica peirceana no Brasil. 5 Pa r a Peir ce “qu a lqu er cois a qu e es teja p res en te à m en te, s eja ela d e u m a n a t u reza s im ila r a fr a s es ver b a is , a im a gen s , a d ia gr a m a s d e rela ções d e qu a is qu er es p écies , a rea ções ou a sentimentos, isso deve ser considerado como pensamento” (SANTAELLA, 2001, p.55). 6 S egu n d o Peir ce (CP, 1 .3 7 7 apud IBRI, 1 9 9 2 , p .1 3 -14), “a s ver d a d eir a s ca t egor ia s d a consciência são: primeira, sentimento, a consciência que pode ser incluída com um instante de tem p o, con s ciên cia p a s s iva d e qu a lid a d e, s em r econ h ecim en t o ou a n á lis e; s egu n d a , con s ciên cia d e in ter r u p çã o n o ca m p o d a con s ciên cia , s en t id o d e res is tên cia , d e u m fa t o exter n o, d e a lgu m a ou t r a cois a ; ter ceir a , con s ciên cia s in tét ica , liga çã o com o tem p o, s entido de aprendizagem, pensamento”. 7 A teor ia p eir cea n a n ã o é a n t r op ocên t r ica , en t ret a n t o, con s id er a n d o-s e o foco d es te trabalho, será abordada segundo essa perspectiva. 8 E s s a s ca t egor ia s t a m b ém for a m d en om in a d a s p or Peir ce d e cen o-p it a gór ica s (ceno, d o grego kainós, n ovo; n ova s p it a gór ica s ), n u m a a lu s ã o à teor ia d a com p os içã o m a tem á t ica d o u n iver s o d o filós ofo grego Pit á gor a s (s éc. VI a .C), p or s erem m elh or d efin id a s em ter m os d e números (MONROY, 2001). 9 Ta lid a d e (Suchness) é u m n eologis m o cr ia d o p or Peir ce p a r a d es ign a r “a qu ilo qu e fa z com qu e a lgo s eja o qu e é, ir r ep et ível” (S ANTAE LLA, 1 9 9 4 a , p .1 1 6 ), qu a lid a d e a b s olu t a , 23 potencialidade, um estado de consciência de mera possibilidade, “sentimento flu t u a n t e e d es en ca r n a d o” (idem, 1 9 9 4 a , p .1 1 5 ), u m a com u n h ã o com o a b s olu to im ed ia t o (o continuum10). Nu m a d im en s ã o eid ét ica 11, r efer e-s e à s con d ições la t en t es , con text u a is , n o s en t id o lato, qu e p od em p r op icia r a exis t ên cia d e u m fen ôm en o s in gu la r . A p r im eir id a d e é u m a experiência m on á d ica (u n a , or igin a l), p ois , s egu n d o Peir ce (CP, 1 .3 0 6 apud IBRI, 1 9 9 2 , p .7 6 ), u m “s en t im en t o é s im p les m en t e u m a qu a lid a d e d e con s ciên cia im ed ia t a ”. A s ecu n d id a d e t r a z u m a id éia d e s egu n d o, d e d ía d e, d u a lid a d e, r ela çã o, a lt er id a d e. É a m a n ifes t a çã o d e u m fen ôm en o s in gu la r , s u a ocor r ên cia a t u a n o n ível en er gét ico, d o exis t en te, d a a çã o qu e ger a u m a r ea çã o. E s t á p r es en t e n a op os içã o, n o con flit o, n a d ú vid a , n a d ep en d ên cia , n o a qu i e a gor a . E a t er ceir id a d e r ep or t a -s e à t r ía d e, m ed ia çã o, a o con ceito de s ign o. É uma t en d ên cia a o d evir , à gen er a lid a d e, con t in u id a d e, r egu la r id a d e, lei, cr es cim en t o, evolu çã o, t r a n s u a çã o 12, in t eligên cia , t em p o (S ANTAE LLA, 1 9 9 4 a , p .1 1 5 ). E s t a b elece-s e n o p en s a m en t o lógico, n o r a cion a l. Com o exem p lo d es ta s t r ês ca t egor ia s em p r oces s o, p od e-s e cit a r es s a p r es en t e d is s er t a çã o d e m es t r a d o. Du r a n t e a n os ela foi u m a m er a p os s ib ilid a d e (p r im eir id a d e), a o com eça r a es cr it a d o t ext o ela s e t or n ou u m fa t o, u m a ocor r ên cia (s ecu n d id a d e) con figu r a d a a p a r t ir d e gen er a liza ções e inferências (terceiridade). As ca t egor ia s fa n er os cóp ica s s ã o a b a s e es t r u t u r a l d e tod a a t eor ia p eir cea n a , or ien t a n d o d es d ob r a m en t os . Essa a su a lógica cla s s ifica çã o t er n á r ia das d et er m in a ciên cia s p r oces s os e s eu s lógicos s equ en cia is , in t er -r ela cion a d os e in t er d ep en d en t es , s egu n d o s u a or d en a çã o em u m a cr es cen t e n u m ér ica (o p r im eir o exis t e s em o s egu n d o, o s egu n d o n eces s it a d o p r im eir o e o t er ceir o n ã o exis t e s em o p r im eir o e o s egu n d o), or igin á r ia , “qu a lid a d e ta l qu a l é, em s i m es m a , s em rela çã o com n en h u m a ou t r a cois a ” (idem, 2001, p.211). 10 “A definição peirceana seria: continuum é alguma coisa infinitamente divisível cujas partes têm u m lim ite com u m ” (IBRI, 1 9 9 2 , p .6 6 ). O con ceit o p eir cea n o d e continuum insere-s e n a s u a Dou t r in a d a Con t in u id a d e ou S in equ is m o, b a s e d a s u a Met a fís ica . S egu n d o Peir ce (CP, 6.170 apud IBRI, 1 9 9 2 , p .6 5 ), “u m ver d a d eir o continuum é a lgu m a cois a cu ja s possibilidades de determinação nenhuma multidão de individuais pode exaurir”. Peirce nega a d u a lid a d e en t re m en te e m a tér ia (S ANTAE LA, 2 0 0 4 , p .2 1 1 ), con ceb en d o o u n iver s o com o um continuum infinito, união de tudo o que existe, coalescência. 11 Referente à essência das coisas (HOUAISS, 2001). 12 Transuação é um neologismo peirceano para designar translação (transmissão), tradução (JORGE, 1998, p.3). 24 com p on d o u m es qu em a lógico d e ob s er va çã o. As ca t egor ia s fa n er os cóp ica s são a s ca r a ct er ís t ica s , os t ip os , os m od os d e s er d e t od o fen ôm en o, exp er iên cia , p en s a m en t o. E “tod o p en s a m en t o con h ecível é p en s a m en t o em s ign os , ext er n a lizá vel em s ign os ” (S ANTAE LLA, 2 0 0 4 b , p .4 3 ). É a con d içã o h u m a n a , m a r ca d a p ela in com p let u d e, p or u m is ola m en to on t ológico qu e cla m a p or in t er a çã o, im p os s ível s em m ed ia çã o, qu e d et er m in a “a p a s s a gem de fâneron a o s ign o (...), a r ed u çã o d o in fin it o d o continuum a o fin it o continuum d e s u a a tu a liza çã o” (PALO, 1 9 9 8 , p .5 6 ). O s er h u m a n o com o u m a p a r t e d o continuum, con ect a d o a ele, p or s er p a r t e es t á con d en a d o a n u n ca s er o t od o em s u a p len it u d e, a p er ceb er a p en a s a s p ect os d es t e, a s er o t od o en qu a n t o fr a gm en t o, numa lim it a çã o s ígn ica . Tod o fen ôm en o só é apreendido através de signos. Segundo Bense (2003, p.50), n enh u m a r ela çã o con s ciên cia -m u n d o é im ed ia t a . A con s ciên cia a ge e o m u n d o é ela b or a d o. E n t r e m u n d o e con s ciên cia in t er p õem -s e os “m eios ” [s ign os ] d a a çã o e d a ela b or a çã o. Pois n en h u m m u n d o, m a t er ia l a lgu m , en t r a , com o t a l, n a a git a çã o d a con s ciên cia , n a r eflexã o, n a a b s t r a çã o, n a seleção, na representação. Tem que ser “mediado”. Des t a form a , a Lógica ou S em iót ica n a s ce, en qu a n t o t eor ia ger a l d os s ign os , d a Fen om en ologia , p ois é n ela qu e s e con s t r ói13. Tod o o p r oces s o cogn it ivo, com u n ica t ivo, é m ed ia d o p elos s ign os . A s u a con cep çã o e en t en d im en t o d o s eu fu n cion a m en t o p os s ib ilit a qu e a S em iót ica s ir va com o “u m m a p a lógico qu e t r a ça a s lin h a s d os d ifer en t es a s p ect os a t r a vés d os quais uma análise deve ser conduzida” (SANTAELLA, 2002, p.6). O conceito peirceano de signo é : a qu ilo qu e, s ob cer t o a s p ecto ou m od o, r ep r es en t a a lgo p a r a a lgu ém . Dir ige-s e a a lgu ém , is t o é, cr ia , n a m en t e d es s a p es s oa , u m s ign o equ iva len t e, ou t a lvez, u m s ign o m a is d es en volvid o. Ao s ign o a s s im cr ia d o d en om in o interpretante do p r im eir o s ign o. O s ign o r ep r es en t a a lgu m a cois a , s eu objeto. Rep r es en t a es s e ob jeto n ã o em t od os os s eu s a s p ect os , m a s com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen (PEIRCE, 1990, p.46). 13 “A lógica ...com o ciên cia n or m a t iva [E s tét ica , É t ica , Lógica ou S em iót ica ], d eve-s e fu n d a r na Fenomenologia” (PEIRCE apud IBRI, 1992, p.20). 25 O s ign o, n a ver d a d e, é u m p r oces s o. Des t a for m a , o s ign o é con ceb id o como uma tríade (três registros lógicos interdependentes e indissociáveis que for m a m u m a s ó u n id a d e): o s ign o ou r ep r es en t a m en (a r ep r es en t a çã o), o ob jeto (o qu e o s ign o r ep r es en t a ) e o in t er p r et a n t e (o efeit o in ter p r et a t ivo, “o algo para alguém”), demonstrada na representação gráfica seguinte. Interpretante Representamen Objeto Fig.1 – O signo em Peirce As r ela ções en t r e es s es elem en t os ger a m t r ês r ela ções s ígn ica s : s ign ifica çã o, ob jetiva çã o e in t er p r et a çã o. A s ign ifica çã o, r egid a p ela t eor ia d a s p ot en cia lid a d es e lim it es d e s ign ifica çã o, r efer e-s e à n a tu r eza d o s ign o em s i, a o qu e lh e d á fu n d a m en t o p a r a fu n cion a r com o s ign o, s u a p ot en cia lid a d e s ígn ica . E s s a ca p a cit a çã o b a s eia -s e n a n oçã o d e qu a lid a d e (primeiridade) e determina três modos de constituição do signo. Esses podem s er qu a li-s ign o (qu a n d o s e fu n d a m en t a n a t a lid a d e, qu a lid a d e in ter n a , in t r ín s eca , a b s t r a t iva ), s in -signo (qu a n d o s e a p óia n a exis t ên cia , qu a lid a d e r ela t iva , en ca r n a d a , con cr etiva ) ou legi-s ign o (qu a n d o s e fir m a n a lei, qu a lid a d e im p u t a d a , con ven cion a l, colet iva ). As s im , a p er cep çã o d e u m b r ilh o, d e u m a lu z reflet id a , é u m a m er a qu a lid a d e (qu a li-s ign o), a o vin cu la r esse brilho a um existente particular como um pingente de prata ela se torna uma qualidade encarnada (sin-signo), sendo o brilho prateado comum a toda jóia confeccionada em prata (legi-signo). A ob jetiva çã o é a r ela çã o s ign o-ob jeto, a r efer en cia lid a d e, com o o s ign o s e r efer e, r ep r es en t a o ob jet o, com o é d eter m in a d o p or es s e. S egu n d o Peir ce (MS 339D apud SANTAELLA, 2000, p.38), “o objeto tem duas faces. O Objeto Din â m ico é o Ob jet o Rea l [...]. O Ob jet o Im ed ia t o é o Ob jet o a p r es en t a d o n o S ign o”. E s s a d ivis ã o d ecor r e d o ca r á t er vicá r io, s u b s t it u tivo d o s ign o, qu e com o r ep r es en t a çã o n u n ca p od e s er o p r óp r io ob jeto, a p en a s r efer ir -s e a ele. O ob jeto d in â m ico é o ob jeto em s u a t ot a lid a d e, com p let u d e in a ces s ível, e o 26 ob jeto im ed ia t o s e con fu n d e com o p r óp r io s ign o, é com o o ob jet o d in â m ico é r ep r es en t a d o p elo s ign o. Com r ela çã o a o ob jeto, t r ês t r ía d es s e or igin a m , u m a p a r a com o ob jet o im ed ia t o (qu a n to à s u a ocor r ên cia ) e d u a s p a r a com o ob jet o d in â m ico (qu a n t o à s u a n a t u r eza e m od o d e r ep r es en t a çã o). Des t a s , im p or t a s ob r em a n eir a n es t e es t u d o es t a ú lt im a r ela çã o s ign o-objeto d in â m ico qu e d et er m in a t r ês for m a s , a s p ect os d e r ep r es en t a çã o: o ícon e (r ep r es en t a çã o b a s ea d a n a qu a lid a d e, n a s u ges t ã o p or s em elh a n ça ), o ín d ice (r ep r es en t a çã o b a s ea d a na r ela çã o, uma in d ica çã o p or con t igu id a d e, con exã o d in â m ica ) e o s ím b olo (r ep r es en t a çã o p or con ven çã o, r es p a ld a d a n u m a lei, h á b it o, cr en ça , n a colet ivid a d e). As s im , u m a fot ogr a fia é u m ín d ice d o exis t en t e qu e r ep r es en t a (p ois h ou ve u m a con t igü id a d e fís ica qu e ga r a n t iu o r egis t r o fot ogr á fico), p os s u i qu a lid a d es , s em elh a n ça s d a qu ilo qu e registrou e pode ser incluída na categoria de um tipo de representação regida por convenções (postura, enquadramento, tema...). A in ter p r et a çã o, r ela çã o s ign o-in t er p r et a n t e, d es ign a os efeitos s ob r e o in t ér p r et e, ger a n d o vá r ia s cla s s ifica ções . S egu n d o S a n t a ella (2 0 0 0 , p .8 2 -87 e p .9 4 -9 5 ), a s s im com o o ob jet o, o in ter p r et a n t e é d ivid id o, p od en d o s er im ed ia t o (d es ign a n d o efeitos p ot en cia is : h ip ot ét ico, ca t egórico e r ela t ivo), d in â m ico (d es ign a n d o efeitos r ea lm en t e p r od u zid os na m en t e d e u m in t ér p r et e) e in t er p r et a n t e fin a l (efeit os p len os , con tu d o in a t in gíveis a p en a s con s id er a d os en qu a n t o id ea is , a b s t r a t os , u m a t en d ên cia ). Aqu i s er ã o con s id er a d os os efeit os or igin a d os d a r ela çã o en t r e s ign o-interpretante d in â m ico, n u m a s it u a çã o exis t en cia l. E s s es s ã o: in t er p r et a n t e em ocion a l (b a s ea d o n a p r im eir id a d e, n a qu a lid a d e d e s en t im en t o, ger a n d o efeit os s en s ór ios e em ocion a is ), in t er p r et a n t e en er gét ico (b a s ea d o n a s ecu n d id a d e, em ju ízos p er cep t ivos leva n d o a efeit os r ea t ivos ) e in ter p r et a n t e lógico (b a s ea d o na t er ceir id a d e, no con h ecim en t o das leis , d os h á b it os , p os s ib ilit a n d o in fer ên cia s lógica s qu e d ep en d em d o r ep er t ór io d o in t ér p r et e). Há u m vín cu lo d et er m in a n t e en t r e s ign ifica çã o, ob jet iva çã o e in t er p r et a çã o. E s s a s com b in a ções p os s íveis exp r es s a m a d in â m ica d os s ign os or d en a d a p ela s ca t egor ia s fa n er os cóp ica s . S a n t a ella (2 0 0 1 , p .5 3 ) a ler t a p a r a qu e “a t ip ologia d eve s er u sada para en r iqu ecer o en t en d im en t o do s ign o 27 p r ecis a m en t e a o a n a lis á -lo em t er m os d a s vá r ia s d im en s ões qu e a t ip ologia fornece”. Tod a a n á lis e é or ien ta d a p elo m od o d e ob s er va çã o d o s ign o, vis t o qu e, o s ign o é p lu r a l, p olis s êm ico. O p on t o d e vis t a , o en foqu e, b a s ea d o n o con t ext o, exp er iên cia cola t er a l com o ob jeto d in â m ico e r ep er t ór io d o in t ér p r et e, ger a d ifer en t es in ter p r et a n t es . O ca r á t er vicá r io d o s ign o e a lim it a çã o s ígn ica h u m a n a fa zem com qu e o ob jeto d in â m ico, d a d a à s u a n a t u r eza d e com p let u d e, n u n ca s eja a t in gid o, es t eja ir r em ed ia velm en t e p er d id o, em b or a s eja a vid a m en t e b u s ca d o, a s s im com o o in ter p r et a n t e fin a l, p ois o s ign o n u n ca es got a r á o ob jeto. Nes s e p a r a d oxo r es id e a in ca n s á vel b u s ca h u m a n a p elo con h ecim en t o, p ela on is ciên cia , qu e ger a m ú lt ip la s leit u r a s . A cla s s ifica çã o s em iót ica exp os t a s er ve com o u m in s t r u m en t o t eór ico lógico p a r a a r ea liza çã o d e u m a p os s ível leitu r a . Con for m e S a n t a ella (2000, p.102), a s t r icotom ia s p eir cea n a s d evem s er u s a d a s com o fer r a m en t a s a n a lít ica s p or m eio d a s qu a is t r ês a s p ect os d ifer en t es d a s em ios e p od em s er d is t in gu id os . E s s a s d is tin ções s ã o s em p r e a p r oxim a t iva s e d ep en d en t es d o p on t o d e vis t a qu e o a n a lis t a assume diante do signo. As s im , a S em iót ica s er á u t iliza d a n es s a d is s er t a çã o n a a n á lis e d o p r oces s o com u n ica tivo ger a d o p ela s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , en qu a n t o s ign os es tét icos , n o con t ext o d os s écu los XVIII e XIX, d e s u a con s tr u çã o (em is s ã o), u s o (veicu la çã o) à a çã o com o s ign o d e id en t id a d e cu lt u r a l (recepção). Considerando-s e a a r t e com o lin gu a gem , s egu n d o Ca la b r es e (1 9 8 6 , p.52), a s em iót ica d a s a r t es n a s ce d a id éia d e qu e u m a ob r a s ign ifiqu e a p a r t ir d e u m a es t r u tu r a com u n ica t iva in t er n a , e qu e é s u a t a r efa r evelá -la . A s em iót ica d a a r t e p a r t e d o p r es s u p os to d e qu e t a n t o a qu a lid a d e es t ética com o o ju ízo d e va lor s ob r e a s ob r a s s ó p od em n a s cer d o ob jet o m a ter ia l qu e a s p r óp r ia s ob r a s s ã o. Com efeit o, u m a ob r a p os s u i u m u n iver s o d e s ign ifica d os s ecu n d á r ios qu e d ep en d em d a codificação do gosto, da estratificação das leituras, da intenção d o a r t is t a , n u m a p a la vr a , d a s u a in s er çã o n u m cir cu it o d o saber. 28 Des s a for m a , é n eces s á r io r ela cion a r o con ceit o p eir cea n o d e s ign o a os m od elos d e com u n ica çã o. O m od elo d e com u n ica çã o d e S h a n n on -Weaver (fig.2 ) d es ign a os s egu in tes elem en t os fu n d a m en t a is do p r oces s o com u n ica tivo: r em et en t e ou em is s or (qu em en via a m en s a gem ), d es t in a t á r io ou r ecep t or (qu em r eceb e a m en s a gem ), m en s a gem (o qu e é com u n ica d o, o enunciado), contexto ou referente (a que se refere a mensagem, o conteúdo, o ob jeto d a m en s a gem ), cód igo 14 (a lín gu a , con ju n to d e s ign os e s u a s in t a xe, o qu e t or n a a m en s a gem com u n icá vel), e ca n a l ou con t a t o (con exã o en t r e emissor e receptor). Contexto Remetente ou Emissor --------------------Mensagem ------------------ Receptor ou Destinatário Contato ou canal Código Fig.2 – Esquema do processo comunicativo (JAKOBSON, 1969, p.123) A p a r t ir d es s e m od elo, o lin gü is t a r u s s o Rom a n J a k ob s on 15(1969, p.122-1 2 9 ) d es en volveu a s u a t eor ia d a s fu n ções d e lin gu a gen s (fig.3 ). S egu n d o ele, ca d a elem en t o, a ên fa s e em ca d a u m d eles , d et er m in a u m a fu n çã o d e lin gu a gem p r ed om in a n t e. S ã o ela s : fu n çã o em ot iva ou exp r es s iva (cen t r a d a n o em is s or , n a s u b jet ivid a d e); fu n çã o r efer en cia l (d es t a ca o referente, a objetividade); função poética (a mensagem é o foco); função fática (a ên fa s e é d a d a a o ca n a l); fu n çã o m et a lin gü ís tica (o d es t a qu e é o cód igo) e função conativa ( o interesse é o receptor). Referencial Emotiva ------------------------------- Poética --------------------------------- Conativa Fática Metalingüística Fig.3 – Esquema das funções de linguagem de Jakobson (1969, p.129) 14 “é o cód igo qu e a s s egu r a a com u n ica çã o en t re u m em is s or e u m recep t or ”(FE RRARA, 1 9 9 7 , p .6 ) e, p or t a n t o, r ege a con s t ru çã o d a m en s a gem , vis t o qu e “o s ign ifica d o é uma r es u lt a n te d e u m m od o d e rep res en ta çã o, é con s eqü ên cia e vem em b u t id o n o p r óp r io m od o de representação: uma íntima e indissociável aliança significante-significado” (idem, p.7) 15 Rom a n J a k ob s on (Mos cou , 1 8 9 6 -Bos t on , 1 9 8 2 ) foi u m d os fu n d a d ores d o Cír cu lo Lin gü ís t ico d e Mos cou (1 9 1 5 -2 0 ), gên es e d os for m a lis t a s r u s s os , e d o Cír cu lo Lin gü ís t ico d e Pr a ga (1 9 2 6 ). E m igr ou p a r a a Tch ek os lová qu ia e d ep ois p a r a os E s t a d os Un id os . S u a teor ia linguística, com ênfase na semântica, dialoga com a Semiótica peirceana (JAKOBSON, 1969, p.7-13). 29 A ên fa s e d o p r es en te t r a b a lh o es t á n a s fu n ções p oét ica e r efer en cia l, dada à n a t u r eza a r t ís t ica d o ob jeto d e es t u d o e a o ob jet ivo d es t a in ves tiga çã o, con for m e já exp os t o. Pa r a a leit u r a d o p r oces s o com u n ica t ivo d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , o p r oces s o d e p r od u çã o d e s en tid o, o r ot eir o a s er s egu id o é d a m a t er ia lid a d e s ígn ica , à r efer en cia lid a d e a t é os efeit os interpretativos, ou seja, através das relações sígnicas. A SIGNIFICAÇÃO – O “SIGNO EM SI” Nes s e p r im eir o n ível es t a b elece-s e u m a leit u r a for m a l, m or fológica e s in t á t ica d o t em a . Aqu i é a p r ecia d o o s ign o em s i, a s u a es t r u t u r a fís ica , a for m a , o vis ível, a im a n ên cia qu e o t or n a com p r een s ível. A for m a fa la a os sentidos, à percepção, ela materializa possibilidades de interpretação, origina o en u n cia d o. Ru d olf Ar n h eim (1 9 7 1 , p .1 3 1 ) a ler t a p a r a qu e “a s for m a s p er cep t u a is e p ictór ica s n ã o s ã o a p en a s a t r a d u çã o d os p r od u t os d o p en s a m en t o, m a s o s a n gu e e a ca r n e d o p r óp r io p en s a m en t o”. E s s a a n á lis e, es s en cia lm en t e d es cr it iva , com p r een d e os s egu in t es a s p ect os : m a t ér ia (s )p r im a (s ), t écn ica s d e execu çã o, for m a t o, com p os içã o, colora çã o, volu m e, s olid ez, m a s s a / p es o, lu m in os id a d e, t ext u r a , s on or id a d e, p r op or çã o, m ovim en to, r it m o, et c. “Os elem en t os vis u a is s ã o m a n ip u la d os com ên fa s e ca m b iá vel p ela s t écn ica s d e com u n ica çã o vis u a l, n u m a r es p os t a d iret a a o ca r á t er d o qu e es t á s en d o con ceb id o e a o ob jet ivo d a m en s a gem ” (DONDIS , 1991, p.23). Por m eio d es s a a n á lis e, ob jetivou -s e es t a b elecer u m a p os s ível s in t a xe en t r e os elem en t os ou léxicos d en t r o das p en ca s de b a la n ga n d ã s . Considerando-s e qu e elem en tos is ola d os en u n cia d os ju n tos n ã o con s tit u em u m d is cu rs o, p a r t iu -s e d a p r em is s a d a exis tên cia d e u m a or ien t a çã o d e s en t id o n a r eu n iã o d os elem en tos , p ois “a r ep r es en t a çã o fin a l é s em p r e u m a es colh a r ea liza d a n u m con ju n t o d e es colh a s p os s íveis ” (ANDRADE , 1 9 9 4 , p .4 ). E s s a or ien t a çã o p od e s er in d ica d a p ela r egu la r id a d e n a in cid ên cia d e algu n s elem en t os , ver ifica d a a t r a vés d e u m leva n t a m en t o qu a n t it a t ivo d e ca d a u m d eles e cor r ela çã o n o u n iver s o d os 2 7 exem p la r es es t u d a d os . Além d is s o, d ia n t e d a im p os s ib ilid a d e d e es t a b elecer -s e a a u t or ia d e t od a s a s 30 p eça s , p ois a m a ior ia n ã o t r a z m a r ca s , efetuou-s e a p es qu is a d a s m a r ca s d e en s a ia d or es e ou r ives id en tifica d os . Qu a n t o à con fecçã o, for a m es t u d a d a s a s t écn ica s d e joa lh er ia e ca r a ct er ís t ica s d a p r in cip a l m a t ér ia -p r im a : a p r a t a , bem como os estilos encontrados. Ain d a n o a s p ect o for m a l, es t a b eleceu-s e u m a a n á lis e com p a r a t iva d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , s in gu la r p eça d e ou r ives a r ia b a ia n a , r ela cion a n d oa s a antigas e tradicionais jóias mágicas. A OBJETIVAÇÃO – A RELAÇÃO SIGNO OBJETO “O s ign o es t ét ico, com o qu a lqu er s ign o, n ã o t r a z em s i o p r ivilégio d e p r es cin d ir d e u m r efer en t e, d e u m ob jeto d o qu a l ele fa z s ign o e o r ep r es en t a ” (MACE DO, 1 9 9 6 , p .1 1 2 ). A r efer en cia lid a d e, a r ela çã o s ign oob jeto, é m a r ca d a p ela con text u a liza çã o. As qu es t ões a qu i s ã o com o a m en s a gem é r ep r es en t a d a , com o s e in s er e n a con cep çã o d e u m d et er m in a d o con t ext o e com o s eu s elem en t os in t er a gem . Requ er , p or t a n t o, uma a b or d a gem a t r a vés d a h is t ór ia d a a r t e e d a s m en t a lid a d es . S egu n d o Gom b r ich (1 9 8 6 , p .7 8 ), “a for m a d e u m a r ep r es en t a çã o n ã o p od e es t a r d ivor cia d a d a s u a fin a lid a d e e d a s exigên cia s d a s ocied a d e n a qu a l a lin gu a gem vis u a l d a d a t em cu r s o”. A r ela çã o d e r ep r es en t a çã o s ó é p os s ível d e s er en ten d id a d en t r o d e u m con t exto. Por is s o, r econ s tr u ir -s e o qu e foi denominado Con tex to s im b ólico d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , p os s ib ilit a m a p ea r o t em p o-es p a ço e a s cr en ça s d a ép oca . Des t a for m a , é p os s ível id en t ifica r os elem en t os e vin cu lá -los à s t r a d ições cu lt u r a is e a r t ís t ica s à s quais pertencem. “A a r t e, d a m es m a for m a qu e a s d em a is a t ivid a d es cr ia t iva s d o h om em , é r eflexo e r efr a çã o d e s eu t em p o e d a s cir cu n s t â n cia s m a t er ia is , m or a is , e econ ôm ica s , s ocia is e es p ir it u a is qu e o en volvem ” (OLIVE IRA, 1987, p.65). Considerando-se que todo signo cultural é social e ideológico, “o s en t id o” d o s ign o “é t ot a lm en t e d et er m in a d o p or s eu con text o. De fa t o, h á t a n t a s s ign ifica ções p os s íveis qu a n t os con t extos p os s íveis ” (BAKHTIN, 1 9 9 9 , 31 p.106)16. Por t a n t o, t r a b a lh a n d o com u m r ecor t e es p ecífico, S a lva d or n os s écu los XVIII e XIX, é im p r es cin d ível r ea liza r u m a con t ext u a liza çã o h is tór ica p a r a t en t a r a p on t a r o s ign o em s eu con t ext o. A r efer en cia lid a d e, n o ca s o d os s ím b olos , com o a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , é u m a con s t r u çã o cu lt u r a l d a í “o signo e a situação social em que se insere estão indissoluvelmente ligados. O s ign o n ã o p od e s er s ep a r a d o d a s it u a çã o s ocia l s em ver a lt er a d a s u a natureza semiótica” (idem, p.62). Além d a con t ext u a liza çã o h is t ór ica , u m a ou t r a r efer ên cia in icia l im p or t a n t e a s er con s id er a d a é a a n á lis e et im ológica , a n om in a çã o d o s ign o. A et im ologia é u m a eficien t e fer r a m en t a p a r a r a s t r ea r a or igem , exp a n s ã o e s em â n t ica d os a r t efa t os , p ois “a s d en om in a ções n ã o s ã o ca s u a is . E la s ca r r ega m s ign ifica d os ” (S ANTAE LLA, 1994b, p .3 0 ). Ou t r o vín cu lo d et er m in a n t e é a id eologia . Nes t e ca s o es p ecífico d ois fa t or es s ã o r eleva n t es : a es t r u t u r a d a s ocied a d e e s u a s cr en ça s . A es t r u t u r a d a s ocied a d e es t u d a d a p od e s er d es cr it a a t r a vés d a p es qu is a h is t ór ica , m a s o qu e lh e con fer e vid a é a id eologia . Con s id er a n d o-s e a n a t u r eza p er ifér ica , “m a r gin a l” e de r eligios id a d e p op u la r d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , h á u m a a p r oxim a çã o com o m ét od o in d iciá r io d o h is t or ia d or Ca r lo Gin zb u rg n a p es qu is a e a n á lis e h is t ór ica . Gin zb u r g tr a b a lh ou , n a It á lia , com a m icr o-h is tór ia , en foca n d o a s h er es ia s e con figu r a ções cu ltu r a is a lt er n a t iva s , com o a feit iça r ia e cu ltos d e fer t ilid a d e (o ca s o d os Benandanti). At r a vés d a d ocu m en t a çã o oficia l, ele r ecolh eu in d ícios p a r a a a n á lis e d e t em a s m a r gin a is , com o é in t en t a d o n es t a pesquisa. As p en ca s d e b a la n ga n d ã s t r a zem u m ca r á t er m á gico a o qu a l s e r efer em , é o va lor a t r ib u íd o a ela s . Ma gia é u m t er m o u t iliza d o a qu i n o s en t id o d e cr en ça n ã o in s t itu cion a liza d a , m a r ca d a p elo “fetich is m o”17. Ou s eja , u m a cr en ça em for ça s t r a n s cen d en tes qu e a t u a m n o m u n d o e n a vid a d os h om en s e a p os s ib ilid a d e d a a çã o h u m a n a in ter fer ir n es s e p r oces s o. A 16 Nes t a cit a çã o e n a p r óxim a u t iliza d a n es s e p a r á gr a fo, Ba k h t in refere-s e es p ecifica m en te à p a la vr a , a o s ign o ver b a l. S en d o es te u m s ím b olo, a p lica m os s u a con ceit u a çã o a o s ign o, ou melhor, ao símbolo em geral, no caso, o visual. 17 Nes s a rela çã o, s ign o e ob jet o fu n d em -s e, n u m a a çã o d e t r a n s u b s t a n cia çã o, in cor p or a çã o, a rep res en t a çã o e o qu e é rep res en t a d o con fu n d em -s e. A a çã o m á gica p r es s u p õe qu e d es d e a em is s ã o (con s t r u çã o d e a m u letos , t a lis m ã s , en u n cia d os m á gicos ) a t é a r ecep çã o (uso, efeitos pretendidos) essa premissa seja aceita. 32 m a gia va i d e en con t ro a o ju go d os d eu s es . É u m a fer r a m en t a s im b ólica d e ação humana, uma tentativa de controle do destino. O antropólogo James G. Fr a zer , n o livr o O ra m o d e ou ro, p u b lica d o p ela p r im eir a vez em 1 8 9 0 , r ea lizou u m m on u m en t a l leva n t a m en t o d e cr en ça s m á gica s d e diversas p a r t es d o m u n d o. De s eu es t u d o, é p os s ível r ecolh er p r ecios a s r efer ên cia s e s e a d ot a r a s u a cla s s ifica çã o d e m a gia . Pa r a ele, t od a m a gia é s im p á t ica e p od e s er d ivid id a em d ois r a m os : m a gia h om eop á t ica (r egid a p ela lei d a s im ila r id a d e) e m a gia p or con t á gio (r egid a p ela lei d o con t a t o). S egu n d o Frazer (1982, p.34), s e a n a lis a rm os os p r in cíp ios lógicos n os qu a is s e b a s eia a m a gia , p r ova velm en t e con clu ir em os qu e eles s e r es u m em em d ois : p r im eir o, qu e o s em elh a n t e p r od u z o s em elh a n t e, ou qu e u m efeit o s e a s s em elh a à s u a ca u s a ; e, s egu n d o, qu e a s cois a s qu e es t iver a m em con t a t o con t in u a m a a gir u m a s s ob r e a s ou t r a s , m es m o à d is t â n cia , d ep ois d e cor t a d o o con t a t o fís ico. Ao p r im eir o p r in cíp io p od em os ch a m a r lei d a s im ila r id a d e, a o segundo, lei do contato ou contágio. Nu m a p er s p ect iva s em iót ica da m a gia , es s a é uma r ela çã o semântica18, r ela çã o s ígn ica d e ob jet iva çã o. Win fr ied Nöt h (1 9 9 6 , p .3 8 ), a p a r t ir d a cla s s ifica çã o d e Fr a zer , a n a lis ou es s a s d u a s ca t egor ia s com o m a gia icôn ica e m a gia in d icia l e a cr es cen t ou o qu e d en om in ou m a gia s im b ólica , a qu ela qu e “p od e s e b a s ea r em s ign os a r b it r á r ios , e, a lgu m a s vezes , m es m o em s ign os es p ecia lm en t e cod ifica d os . E s t es s ign os m á gicos s ã o s ím b olos em sua relação com o objeto”. A INTERPRETAÇÃO – A RELAÇÃO SIGNO INTERPRETANTE “Todo entender é um interpretar, e toda interpretação se desenvolve no m eio d e u m a lin gu a gem qu e p r et en d e d eixa r fa la r o ob jeto e qu e é a o m es m o t em p o a lin gu a gem p r óp r ia d o s eu in t ér p r et e” (GADAME R, 1 9 9 9 , p .4 6 7 ). Com o foi exp licit a d o, o r ecor t e d e a n á lis e r efer e-s e à S a lva d or s et ecen tis t a e oit ocen t is ta , p or t a n t o, a os p os s íveis efeit os in t er p r et a t ivos ca u s a d os p ela s 18 “No s en t id o m a is es t reito, a d im en s ã o s em â n t ica d a s em iótica es t u d a a r ela çã o en t r e o s ign o e s eu ob jet o. Na d im en s ã o s em â n t ica d a m a gia , a rela çã o en tr e os s ign os qu e exp res s a m u m con teú d o m á gico e o efeit o p r á tico qu e s u p os t a m en te r es u lt a d a s em ios e mágica têm que ser analisados” (NÖTH, 1996, p.38). 33 pencas de balangandãs em seu tempo histórico. Para que ocorra esta leitura, pretende-s e r es ga t a r a m en t a lid a d e d a ép oca , a s in flu ên cia s cu lt u r a is a qu e p r in cip a lm en t e a s “n egr a s d e r u a ” es t a va m exp os t a s , ves t ígios u s a d os n a (r e)con s t r u çã o d e u m r ep er t ór io d e leitu r a , con h ecim en t o d e u m a s im b ólica específica. Nes t e n ível, p r ocu r a -s e es t a b elecer a es t r a t égia vit a l d e fu n cion a m en t o d o s ign o, com o e qu em u s a va a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , p or qu a is m otivos e qu e m en s a gem p r ocu r a va em it ir . E s s a qu es t ã o vin cu la -s e à or igem d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s e à qu es t ã o id eológica qu e p os s ib ilit a va a s u a existência. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Esse trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro, denominado O con te x to s im b ólico d a s pen ca s d e b a la n ga n d ã s , vis a con t ext u a liza r o ob jet o d e p es qu is a , s it u a n d o-o n o t em p o e es p a ço, d es cr even d o o cen á r io e tip os d e p er s on a gen s en volvid os . Pr ocu r a -s e r econ s t r u ir a a m b iên cia qu e t or n ou p os s ível a exis t ên cia , a a çã o d o s ign o, s er vin d o d e in t r od u çã o a o t em a . No s egu n d o ca p ít u lo, O s ign o e m s i: a coleçã o d o Mu s eu Ca rlos Cos ta Pin to, procede-s e à a n á lis e d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s a p a r t ir d os exem p la r es exis t en t es n o a cer vo, a a n á lis e d o s ign o em s i, r ea liza n d o-s e u m a desconstrução de seus elementos. Por fim, o último capítulo, A construção do signo, t em o ob jet ivo d e efet u a r r evis ã o b ib liogr á fica s ob r e o t em a , h is t or ia r a p r od u çã o en con t r a d a s ob r e o a s s u n t o, leva n t a r r egis t r os icon ogr á ficos e b ib liogr á ficos qu e in d iqu em o u s o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , in ves t iga r p os s íveis r ela ções / in flu ên cia s e for m a d e con s t r u çã o, b u s ca n d o r a s t r ea r in flu ên cia s cu ltu r a is ext er n a s , s eu s p er cu r s os , es t a b elecer s em elh a n ça s temáticas e morfológicas. 34 1. CONTEXTO SIMBÓLICO DAS PENCAS DE BALANGANDÃS “Tu d o p a re ce n egro: n egros n a p ra ia , n egros n a cid a d e, n egros n a p a rte b a ix a , n egros n os b a irros a ltos . Tu d o qu e corre, grita , tra b a lh a , tudo que transporta e carrega é negro” Avé-Lallemant19 1.1. Salvador nos séculos XVIII e XIX Fig.4 - Vis t a d a Ba h ia – Pa s s eio Pú b lico d e S a lva d or . Ab r a h a m Buvelot (1814-1 8 8 8 ). Óleo s ob re tela , s éc. XIX. Col. Bea t r iz e Ma rio Pim en t a Camargo. Fonte: AGUILLAR, 2000c, p. 201 S a lva d or , a t é m ea d os d o s éc. XVIII, foi a s ed e a d m in is t r a t iva , p olít ica , econ ôm ica , r eligios a e cu ltu r a l d o Br a s il. Foi a p r im eir a ca p it a l b r a s ileira , fu n d a d a , em 1 5 4 9 , p or Th om é d e S ou za , en via d o d a Met r óp ole p or t u gu es a p a r a s er o 1 º Gover n a d or -Ger a l d o Br a s il Colôn ia . Qu a n d o o Br a s il t ornous e Vice-Rein o (1 7 1 4 ), m a n t eve-s e com o s ed e a t é 1 7 6 3 20. A s u a p r ivilegia d a p os içã o geogr á fica 21, con s olid ou -a com o o p r in cip a l p or t o com er cia l d o 19 Avé-Lallemant (1961, p.20). Comentário do médico alemão Robert Christian Berthold AvéLallemant (1812-1884), viajante oitocentista, quando esteve na Bahia em 1859. 20 E m 1763, a capital do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro (MATTOSO, 1992, p.79). 21 Localiza-se no centro da extensa costa marítima brasileira (LAPA, 1968, p.2). 35 At lâ n t ico S u l22, p a r a d a ob r iga t ór ia d a s n a u s p or t u gu es a s vin d a s d o Or ien t e ca r r ega d a s com os va lios os e cob iça d os p r od u tos exót icos (es p ecia r ia s , p or cela n a , s ed a , et c), em d ir eçã o à E u r op a (LAPA, 1 9 6 8 , p .1 3 9 -4 0 ). O Pa ct o Colonial23 ga r a n t ia a Por t u ga l o m on op ólio d e com ér cio com a s u a colôn ia b r a s ileir a . E con om ica m en t e, er a o a çú ca r o p r in cip a l p r od u t o d e exp or t a ção d o Br a s il, t ã o b em a d a p t a d o a o m a s s a p ê d o Recôn ca vo Ba ia n o. Pa r a ga r a n t ir es s a p r od u çã o, for a m im p or t a d os , com o m ã o-de-ob r a , es cr a vos a fr ica n os d es d e o s éc. XVI. Devid o à gr a n d e d em a n d a , o t r á fico d e es cra vos tornou-se a mais lucrativa atividade econômica até meados do séc. XIX. É p os s ível ca r a ct er iza r S a lva d or s et ecen t is t a e oit ocen t is t a com o u m a s ocied a d e s en h or ia l, es cr a vocr a t a , p a t r ia r ca l, viven d o em fu n çã o d o s eu porto24. Nos ext r em os d es t e qu a d r o es t a va m o s en h or d e en gen h o e o es cr a vo. A p a r t ir d e cr it ér ios econ ôm icos 25 e d e p r es t ígio s ocia l e p od er , Mattoso (1992, p.596-99) traçou uma estratificação social dividida em quatro gr u p os . No á p ice es t a r ia a elit e d a s ocied a d e b a ia n a en glob a n d o a lt os fu n cion á r ios d o E s t a d o e d o cler o s ecu la r , os gr a n d es p r op r iet á r ios d e t er r a s (s en h or es d e en gen h o e p ecu a r is t a s ), gr a n d es n egocia n t es e oficia is m ilit a r es d e a lt a s p a t en t es . O s egu n d o gr u p o r eu n ir ia fu n cion á r ios d e n ível m éd io d o E s t a d o e d a Igr eja , oficia is m ilit a r es , a lgu n s com er cia n t es e p r op r iet á r ios rura is , p r ofis s ion a is lib er a is , p es s oa s qu e vivia m d e r en d a s e m es t r es a r t es ã os em ofícios con s id er a d os n ob r es . O t er ceir o gr u p o s er ia com p os t o p or fu n cion á r ios p ú b licos e m ilit a r es d e b a ixo es ca lã o, p r ofis s ion a is lib er a is d e p ou co p r es t ígio (s a n gr a d or es , b a r b eir os , p ilot os d e b a r cos , m ú s icos ), a r t es ã os e com er cia n t es d a s ru a s (on d e p r ed om in a va m os a lfor r ia d os ). No qu a r t o gr u p o es t a r ia m os es cr a vos , os m en d igos , os va ga b u n d os e a s 22 Segundo Albuquerque (1999, p.93), “Salvador tornou-se conhecida como o ‘porto do Brasil’ em documentos coloniais”. 23 O Pa ct o Colon ia l é a ca r a cter ís t ica fu n d a m en ta l d o a n t igo S is tem a Colon ia l. E le é d efin id o p ela exclu s ivid a d e, m on op ólio com er cia l d a m etr óp ole s ob re a (s ) colôn ia (s ). Des ta for m a , “t od a a t ivid a d e econ ôm ica colon ia l s e or ien ta r á s egu n d o os in teres s es d a b u r gu es ia comercial da Europa” (NOVAIS, 1984, p.49), da produção ao comércio. 24 E , p or t a n t o, “s u jeit a à s flu t u a ções d a s ofer t a s d e u m m er ca d o in ter n a cion a l ca p r ich os o, a u m a p r od u çã o d e gên eros d e exp or t a çã o s em p r e p reju d ica d a p ela m á qu a lid a d e d os transportes, a um abastecimento difícil e insuficiente” (MATTOSO, 1997, p.145). 25 Os cr itér ios econ ôm icos d e Ma t tos o b a s eia m -s e n os d a d os s ob r e recu r s os a n u a is d os s ete gr u p os s ocia is d is t in gu id os p or Vilh en a (1 9 6 9 , v.1 , p .5 5 -5 6 ) n o s éc.XVIII: m a gis t r a d os e fu n cion á r ios d a s fin a n ça s , cor p or a çã o ecles iá s t ica , cor p or a çã o m ilit a r , cor p o d os comerciantes, povo nobre, povo dos artesãos e escravos. 36 p r os t it u t a s . Ap es a r d a s d ificu ld a d es econ ôm ica s , lega is e p r econ ceit os raciais, a m ob ilid a d e s ocia l er a p os s ível, t a n t o h or izon t a l (d en t r o d os gr u p os ) quanto verticalmente (entre grupos). Entretanto, segundo Reis (2003, p.29), es s a r ela t iva p er m ea b ilid a d e d a es t r u t u r a s ocia l n ã o n os d eve fa zer es qu ecer o ca r á t er es cr a vis ta d a s ocied a d e b a ia n a , com m ilh a r es d e s eu s h a b ita n t es n a con d içã o d e p r op r ied a d e lega l d e ou t r os in d ivíd u os , e em qu e ra cis m o e in t oler â n cia ét n icocu lt u r a l d es em p en h a va m u m p a p el im p or t a n t e n a d efin içã o d e quem devia obedecer e quem devia mandar. 1.2. A População negra A m a ior p a r t e d a m ã o-de-ob r a a t iva n o Br a s il, n a s m a is d ifer en t es a t ivid a d es , er a n egr a . Na Ba h ia d os s écu los XVIII e XIX, a m a ior ia d a p op u la çã o er a for m a d a p or n egr os e m u la t os , es cra vos ou livr es . No s écu lo XVIII correspondiam a 2/3 da população e no primeiro quartel do século XIX ch ega va m a 3 / 4 (MATTOS O, 1 9 9 2 , p .8 6 ). E les t r a b a lh a va m n a la vou r a , execu t a va m t a r efa s d om és t ica s e n a s cid a d es r ea liza va m u m a s ér ie d e t a r efa s com o n egr os a o ga n h o 26, com er cia liza n d o m er ca d or ia s ou ofer ecen d o s eu s s er viços n a s r u a s (idem, p .5 3 7 -5 3 8 ). Na ca p it a l, S a lva d or , em 1 8 0 8 os n egr os e m u la t os com p r een d ia m 7 8 ,3 % d a p op u la çã o, s en d o 4 3 % livr es e 3 5 ,3 % es cr a vos , e em 1 8 7 2 er a m 7 2 ,4 %, s en d o 6 0 ,2 % livr es e 1 2 ,2 % escravos (idem, 1988, p.22). 26 O es cr a vo a o ga n h o rep r es en t a u m a n ova fa ce d a es cr a vid ã o. “Coloca r n o ga n h o es cr a vos deveria representar uma grande oportunidade de lucros, pois o senhor, além de livrar-se dos cu s t os d o s u s ten t o d es te es cr a vo, m u it a s vezes a in d a er a m a n t id o p elo tr a b a lh o d es te n a s r u a s d a cid a d e. E s te in ves t im en t o fa zia -s e a ces s ível a té p a r a a s fa m ília s p ob r es , qu e t in h a m esses negros às vezes sua única fonte de renda. E s s es es cr a vos p a s s a va m o d ia n a s r u a s a lu ga n d o os s eu s s er viços , com a ob r iga çã o d e en t rega r a os s eu s s en h or es u m a qu a n t ia d iá r ia ou s em a n a l p r ees t a b elecid a . O exced ente p er ten cia a o es cr a vo, qu e o u t iliza r ia d a m a n eir a qu e m elh or lh e in teres s a s s e, n ã o ob s t a n te s er es t a s itu a çã o con t r a d it ór ia a o s is tem a es cr a vis t a , qu e p r oib ia a ele (es cr a vo), n a con d içã o d e p r op r ied a d e, p os s u ir b en s ” (S ILVA, 1 9 8 8 , p .2 1 ). Com r ela çã o a es s a s it u a çã o, o p r ojet o d e J os é Bon ifá cio d e An d r a d e e S ilva d e 1 8 2 3 , p u b lica d o em 1 8 2 5 , ga r a n t ia , en tre ou t r os b en efícios a os ca t ivos , “a p r op r ied a d e d o p ecú lio d o es cr a vo, p er m it in d o-lh e h er d a r e deixar por sua morte o que possuísse” (MORAES, 1986, p.33). 37 Qu a n t o à p r oced ên cia , os n egr os d ivid ia m -s e em a fr ica n os , os n a s cid os n a Áfr ica , e em cr iou los , os n a s cid os n o Br a s il27. A con d içã o ju r íd ica d os n egr os e m u la t os com p r een d ia t r ês ca t egor ia s : es cr a vo, for r o e livr e. O es cr a vo er a p r op r ied a d e, b em m óvel, m ã o-de-ob r a d os s eu s senhores, qu e p od ia m “a lu ga r , em p r es t a r , ven d er , d oa r , a lien a r , lega r , hipotecar e dá-lo em usufruto” (MATTOSO, 2001, p.182). Forro ou liberto era o ex-es cr a vo qu e ob t in h a a lfor r ia (m a n u m is s ã o, lib er t a çã o), m ed ia n t e com p r a d e s u a lib erd a d e (p or ele ou ou tr os ) ou fa vor d e s eu s en h or (a ). Livr e er a o n a s cid o s ob es s a con d içã o, filh o d e p a i e m ã e livr es ou lib er t os , a fr ica n os ou cr iou los 28. Con for m e Ká t ia Ma t t os o (idem, p .1 3 2 ) d es t a ca , “a m es t iça gem e a m a n u m is s ã o con fer em or igin a lid a d e a o Br a s il d os s écu los XVII, XVIII e XIX”. Con t u d o, a con d içã o ju r íd ica n ã o a lt er a a s r ela ções d e p od er e s ob o r egim e es cr a vis t a , n egr os e m es tiços d evia m s em p r e s er submissos aos brancos. Além d a d ifer en cia çã o ju r íd ica , qu e im p lica va n u m d et er m in a d o status s ocia l, h a via a d ifer en cia çã o p ela a t ivid a d e execu t a d a e p ela etn ia . O tip o d e t r a b a lh o d et er m in a va u m a h ier a r qu ia d e fu n çã o. S egu n d o Oliveir a (1 9 7 9 , p.47-5 9 ), os es cr a vos e a m a ior ia d os lib er t os 29 es t a va m d is t r ib u íd os n u m a ordem ascendente em quatro categorias de trabalho: 1. Oc u paç õ e s ca r r ega d or es , m an u ais n ão es t iva d or es , qu alific adas . cop eir os , Com p r een d ia m s er ven t es e os r em a d or es . S egu n d o S ilva (1 9 8 8 , p .3 4 ), qu a n t o a os ca r r ega d or es 30 (fig.5 ), a s m a is d es p r ezíveis a t ivid a d es er a m a d e ca r r ega r lixo e excr em en t os 27 E xis t ia m n o Br a s il t a m b ém os es cr a vos vin d os d e Por t u ga l, d it os ca t ivos “d o Rein o, d e Por t u ga l, Rein ol, e, m a is r a r a m en te, d e Lis b oa e d o Alen tejo” (VE NÂNCIO, 2 0 0 0 , p .2 1 3 ). E s s es es cr a vos p od ia m s er a fr ica n os ou cr iou los d e Por t u ga l. S u a p res en ça é ín fim a e n ã o foi identificado qualquer estudo sobre sua existência na Bahia. 28 Ta m b ém era m con s id er a d os livr es os emancipados, qu e era m os a fr ica n os a p r een d id os em navios negreiros após a proibição do tráfico negreiro (SILVA, 2003, p.157) com a Lei de 7 de n ovem b r o d e 1 8 3 1 (MORAE S , 1 9 8 6 , p .3 4 ) e os in gên u os , filh os d e m u lh er es cr a va , nascidos livres a partir da Lei do Ventre Livre de 1871 (REIS, 2001, p.137). 29 Ao lib er t o gera lm en te ca b ia r ea liza r “a s m es m a s ta refa s qu e qu a n d o es cr a vo, com p et in d o com os d em a is p ela s es ca s s a s ch a n ces oferecid a s ” (OLIVE IRA, 1 9 7 9 , p .7 6 ). Um a ca t egor ia p r ivilegia d a d e lib er t os , qu a n d o reu n ia p ecú lio s u ficien te, a d qu ir ia es cr a vo(s ) e vivia d a s r en d a s fr u t o d o t r a b a lh o d es te(s ) com o ga n h a d or es ou a lu ga d os p ois “a vid a d e ca tiveir o en s in a r a a o lib er t o qu e s er livre era s er s en h or e s er s en h or er a p os s u ir es cr a vos qu e trabalhavam para si” (idem, p.80). 30 Os carregadores são chamados de Cangueiros por Debret (1940, v.1, p.231) 38 (tigre)31, a t ivid a d e d es ign a d a a os p r is ion eir os e n egr os b oça is 32. Ha via os ca r r ega d or es d e á gu a , os a gu a d eir os . Os d a Alfâ n d ega , qu e a t u a va m n os r em u n er a d os . E os a r m a zén s e p or to, qu e t r a n s p or t a va m er a m os p es s oa s m a is em b em r ed es e cadeirinhas eram os de maior status. 2. Ocupações m an u ais s e m i-qualificadas. E n con t r a m -s e n es ta s a m a ior ia d os es cr a vos d om és t icos (com o s er á vis t o a s egu ir ) e os ven d ed or es qu e m er ca d eja va m em casa33 e a m b u la n t es 34(fig.5). Nesse grupo estão em sua maioria mulheres. 3. Oc u paç õ e s m an u ais qu alific adas . E r a m con h ecid os com o ofícios mecânicos35. Esse gr u p o r ep r es en t a va uma mão de ob r a es p ecia liza d a . As p r in cip a is a tivid a d es exer cid a s p elos es cr a vos n o s écu lo XVIII er a m b a r b eir o, s a p a t eir o (fig.6 ) e a lfa ia t e (FLE XOR, 1 9 7 4 , p .6 0 ). “A s ob r evivên cia d e u m es cr a vo [e d e u m n egr o livr e ou lib er t o] es t a va liga d a r ep r es en t a r ia p a r a o s eu à su a qu a lifica çã o in d ivid u a l, qu e p r op r iet á r io m a ior p os s ib ilid a d e d e obtenção de renda imediata e ao escravo a garantia da manutenção de sua atividade” (SILVA, 1988, p.34). 4. Oc u paç õ e s n ão manuais. E n glob a va m u m a p equ en ís s im a p a r cela d os es cr a vos e a elit e d os lib er t os . E r a m os p r op r iet á r ios e a d m in is t r a d or es d e n egócios p r óp r ios , qu e ia m d a p os s e d e escravos a roças, tendas de barbeiros e quitandas. 31 Com o n ã o h a via s er viço d e es got a m en t o, os excrem en t os era m t r a n s p or t a d os em barris denominados tigres para despejo em lugares determinados na cidade. 32 Boça l é o es cr a vo r ecém -ch ega d o d a Áfr ica e d es con h eced or d a lín gu a d o p a ís (FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, 1996, p.285) 33 Acrescentou-s e à cla s s ifica çã o or igin a l os ven d ed ores qu e m er ca d eja s s em em ca s a , ou seja, em estabelecimento fixo, denominados na época de vendeiros. 34 Ch a m a d o t a m b ém d e rega teir os . No livr o Ma r ia Du s á , ed it a d o em 1 9 1 0 , Lin d olfo Roch a (1980, p.32) cita as “pretas de tabuleiro” vendendo “pão-de-ló e manuê”. 35 S egu n d o o Regu la m en to d e 2 0 d e a gos t o d e 1861, os n egr os (d en om in a d os africanos) livr es , lib er tos ou es cr a vos p od ia m exer cer os s egu in tes ofícios m ecâ n icos : a b r id or , a r m eir o, a lfa ia te, a s fa lteir o, b a r b eir o, cr a va d or , ca ld eir eir o, cor on h eir o, cor reeir o, ch a p eleir o, ca b eleireir o, ch a r u teir o, ca r a p in a , ca r p in teir o, cor d oeir o, ca la fa te, ca lceteir o, ca n teir o, ca voqu eir o, cu r t id or , d ou r a d or , es p in ga r d eir o, es cu ltor , en t a lh a d or , en ca d ern a d or , em p a lh a d or , en vern iza d or , fer r a d or, fer reir o, fu n ileir o, fogu eteir o, la p id á r io, la vr a n te, la t oeir o, livr eir o, m a r cen eir o, ou r ives , p in tor , p olieir o, p ed r eir o, relojoeir o, s er r a lh eir o, s ir gu eir o, s u r r a d or , s eleir o, s egeir o, s a p a t eir o, s er r a d or , t in t u reir o, tecelã o, t or n eir o, t a m a n qu eir o, t a n oeir o, vid r a ceir o (FUNDAÇÃO CULTURAL DO E S TADO DA BAHIA, 1 9 9 6 , p.298) 39 Fig.5 - Ven d ed or a d e qu it u tes e ca r r egador. An ôn im o. Aqu a rela , gu a ch e e t in t a fer r ogá lica , c. 1829. Col.Particular. Fonte: ARAÚJO, 2002. p.42 E vid en t em en t e, es s a não é uma Fig.6 - S a p a t a r ia . J . B. Deb ret . 1 8 3 4 -39. Lit ogr a fia color id a a m ã o. Col. Pa r t icu la r . Fonte: AGUILAR, 2000b, p.106 cla s s ifica çã o r ígid a , es t á t ica . Con for m e a d em a n d a , os n egr os execu t a va m a s fu n ções n eces s á r ia s . Os es cr a vos a gr icu ltor es e cr ia d ores d e a n im a is p od ia m fa zer o t r a n s p or t e d a p r od u çã o e com er cia liza r a s m er ca d or ia s n a cid a d e. Ta m b ém “u m a es cr a va podia fazer serviço doméstico, vender comidas e bebidas nas ruas e costurar” (KARAS CH, 2 0 0 0 , p .2 6 0 )36. A es p ecia liza çã o d o s er viço es cr a vo er a r egr a n a s fa m ília s a b a s t a d a s qu e con t a va m com u m a gr a n d e qu a n t id a d e d e cr ia d os , s ím b olo d e s u a s u p er ior id a d e econ ôm ica . A h ier a r qu ia d es s a cr ia d a gem d om és t ica (fig.7 ) t in h a n o s eu t op o a figu r a d a s m u ca m a s 37, “a s cr ia d a s p es s oa is r ica m en t e ves t id a s d os a b a s t a d os ” (idem, p .2 8 6 ). S egu ia -s e a a m a de-leite, a es cr a va qu e a m a m en t a va 38 os filh os d os s eu s s en h or es e m u it a s vezes os cr ia va m com o a m a s . Acom p a n h a n d o a lin h a fem in in a , qu e é d o 36 O m es m o va lia p a r a os livres e lib er t os , d es d e qu e n ã o p os s u ís s em s eu s p r óp r ios escravos, o que os colocava em outro status social. 37 “Mu k a m a , em qu im b u n d o, r efere-s e a os es cr a vos d om és ticos d e a m b os os s exos , ca t ivos do próprio povo ambundo, nas aldeias nativas de Angola. O uso exclusivamente feminino do s u b s t a n t ivo n a Colôn ia e n o Im p ér io d em on s t r a a es p ecia liza çã o econ ôm ica d a m u lh er ca t iva n o t ra b a lh o d om és t ico e n o a leit a m en to d os filh os d os s en h ores ” (ALE NCAS TRO, 1 9 9 7 , p .6 3 ). A ver s ã o m a s cu lin a d a s m u ca m a s , qu e n ã o t in h a m , con t u d o, a s u a in flu ên cia , era m os cr ia d os ou p a jen s p es s oa is qu e s er via m a os h om en s . Ma r y Ka r a s ch (2 0 0 0 , p .2 8 6 ) r es s a lta os for tes vín cu los exis ten tes en t re os s en h ores e a m u ca m a qu e “d e a n ces t r a lid a d e não raro mista, a mucama era com frequência meia-irmã, filha ou concubina de seu senhor, ou a p a ren t a d a d a fa m ília d e a lgu m a ou t r a m a n eir a . E m m u it os la res , es p ecia lm en te s e s eu s en h or n ã o fos s e ca s a d o, ela s er via d e gover n a n t a ou s u p er vis or a , en ca r rega d a d os ou t r os es cr a vos . Nes s e ca s o, d evia m u it a s vezes , s u a p os içã o a o fa to d e s er s u a a m a n te (sic) ou companheira”. 38 As a m a s -de-leite era m fr eqü en tes , u m a vez qu e a a m a m en t a çã o n ã o er a , a té m ea d os d o século XIX, uma prática comum entre as senhoras brancas (ALENCASTRO, 1997, p.63). 40 in t er es s e d es t a d is s er t a çã o, t em -s e a s cozin h eir a s , cos t u r eira s e la va d eir a s . E , p or fim , “n o ext r em o in fer ior d a h ier a r qu ia d os cr ia d os d om és t icos es t a va m a qu eles d es ign a d os p a r a a s t a r efa s m a is s u b a lt er n a s , com o lim p a r , ca r r ega r á gu a , s er vir à m es a , a u xilia r n a cozin h a e d es p eja r lixo. E s s es er a m os m en os es p ecia liza d os , com o os n ovos a fr ica n os , cr ia n ça s ou es cra vos id os os e en fer m os , qu e n ã o tives s em u m a r ela çã o es p ecia l com s eu s en h or ” (idem, p.288). Fig.7 – Um fu n cion á r io d o gover n o com s u a fa m ília e es cr a vos . Jean Ba p t is te Deb r et . Lit ogra fia color id a a m ã o, 1 8 3 4 -1839. Fonte: KARASCH, 2000, p.222/223.39 E s p ecifica m en t e com r ela çã o à s m u lh er es n egr a s e m u la t a s , qu er fos s em es cr a va s ou lib er t a s , a fr ica n a s ou cr iou la s , qu e t r a b a lh a va m n a s r u a s , ela s exer cia m u m a s ér ie d e a t ivid a d es com er cia is , qu e ia m d es d e a ven d a d e p r od u t os a lim en t ícios 40 a t é o com ér cio d o p r óp r io cor p o. A p r os t it u içã o fem in in a er a u m com ér cio exer cid o, t a n t o em t em p o p a r cia l41, 39 E s s a im a gem ilu s t r a a d is p os içã o h ier á r qu ica cos t u m eir a ob s er va d a em icon ogr a fia d a ép oca n os p a s s eios fa m ilia res : à fren te, o ch efe d a fa m ília s egu id o p ela p r ole (d u a s filh a s ), em or d em cr es cen te d e id a d e, e es p os a com m a n t ilh a d e ren d a n egr a ; a t r á s a m u ca m a m u la t a b em ves t id a , a a m a n egr a ca r r ega n d o o b eb ê, u m a ou t r a es cr a va (id en t ifica d a p elo a r t is t a com o es cr a va d a a m a ), o cr ia d o d o s en h or e d ois joven s es cr a vos , u m em fa s e d e aprendizado e o outro recém comprado (DEBRET, 1940, t.1, p.126-127). 40 Além d es s es t r a b a lh os , ela s exer cia m t r a d icion a is a t ivid a d es d es t in a d a s à s m u lh eres como a de parteiras (denominadas na época de aparadeiras). 41 “Os via ja n tes , d e S ch lich t h or s t a Tou s s a in t -S a m s on , rela ta r a m qu e a s m u lh eres n egr a s qu e era m ven d ed or a s d e r u a ou es cr a va s d om és t ica s d u r a n te o d ia com fr eqü ên cia 41 com o in t egr a l. Tu d o er a ven d id o n a s r u a s 42: leit e, ca fé t or r a d o, ca r vã o, s a m b u r á , ca p im , m ilh o, ces tos , t ecid os , jóia s , p er fu m e, s a b ã o, lou ça , fr u t a s , veget a is , a ves , b olos , p ã o, s u cos , d oces , arru da, et c. As m u lh er es d om in a va m o com ér cio d e a lim en t os . Ma r y Ka r a s ch (2 0 0 0 , p .2 8 5 ), r efer in d ose ao Rio de Janeiro oitocentista, observa que em p a r t icu la r , o n egócio d e com id a , exceto a ca r n e e o p eixe ven d id os p or h om en s , p a r ece t er s id o u m a es p ecia lid a d e d a s m u lh er es a fr ica n a s e b a ia n a s . Qu a n d o ob s er va a s fila s d e escravos t r a zen d o legu m es e ver d u r a s p a r a a cid a d e, Hor n er n ot ou qu e a s m u lh er es er a m m a is n u m er os a s qu e os h om en s . Ou t r a es p ecia lid a d e d ela s er a a ven d a d e qu it u tes , com o guisados com azeite-de-dendê, peixe frito, carne-seca grelhada, b a la s , d oces e r efr es cos . Ma s ca tea va m d e p or t a em p or t a e ven d ia m em r es t a u r a n t es a o a r livr e m on t a d os n os m er ca d os , ou perto deles. 1.3. Identidades étnicas Qu a n t o à et n ia , é p r ecis o con s id er a r a or igem d es s es in d ivíd u os , a s d ifer en t es t r a d ições qu e ca r r ega va m . O Br a s il foi o d es t in o d e cer ca d e 3 .5 0 0 .0 0 0 a 3 .6 0 0 .0 0 0 43 es cr a vos a fr ica n os en t r e os s écu los XVI e XIX, a p r oxim a d a m en t e 3 8 % d os ca t ivos t r a n s p or t a d os p a r a o Novo Mu n d o (MATTOS O, 2 0 0 1 , p .5 3 ). Gr a n d e p a r t e d es t es foi ven d id a p a r a a Ba h ia , em la r ga es ca la a p a r t ir d e 1 5 4 9 -5044 (NINA RODRIGUE S , 1 9 8 8 , p .1 4 ). E les p r oced ia m d e d iver s a s r egiões d a Áfr ica e p er t en cia m a d ifer en t es cu ltu r a s , ga n h a va m d in h eir o ext r a p or s u a con ta à n oite” (KARAS CH, 2 0 0 0 , p .2 8 6 ). Ta m b ém Vilh en a (1 9 6 9 , v.1 , p .5 4 ), n o s écu lo XVIII, fa la d a s “m u lh eres d e t a r ifa ”. S egu n d o Décio Fr eit a s (1 9 8 3 , p .8 2 ) “s en h or a s d a s m a is ilu s t res fa m ília s d e S a lva d or ves t ia m e em b eleza va m s u a s escravas mais jovens e belas para a prostituição”. 42 Ewbank, 1976, p.78-80 43 S egu n d o J . J . Ar r u d a (1 9 9 6 , p .2 3 8 ) vier a m p a ra o Br a s il, en t re os s écu los XVI e XIX, 3.646.000 escravos africanos. 44 Segundo Pierre Verger (1987, p.10), os cativos africanos foram trazidos para a Bahia em 4 ciclos: I – Ciclo da Guiné (século XVI) II – Ciclo de Angola (século XVII) III – Ciclo da Costa da Mina (século XVIII) IV – Ciclo Ben in (1 7 7 0 -1 8 5 2 ). Últ im a fa s e – d a ilega lid a d e (s écu lo XIX), t en d o o ú lt im o desembarque oficial ocorrido em 1852 na Pontilha, Ilha de Itaparica. 42 s en d o p r in cip a lm en te b a n t os e s u d a n es es 45. At é o s écu lo XVII, er a m m a ior ia os b a n t os , con s t itu íd os p ela s in ú m er a s t r ib os d o gr u p o angola-congolês e d o gr u p o d a ContraCosta (a m b a s r ep r es en t a d a s , d en t r e ou t r os , p elos a n gola , ca s s a n ges , con gos , ca b in d a s , b en gu ela s , m oça m b iqu es ). J á n o fin a l d o s écu lo XVIII h á u m a m a ior ia d a s cu lt u r a s s u d a n es a s , representadas p r in cip a lm en t e p elos p ovos yoruba, d a Nigér ia (n a gô; ijêch á ; eu b á , ou eb á , k et u , ib a d a n , yeb u ou ijeb u e gr u p os m en or es ); p elos daomeanos (gr u p o ou ijeb u e gr u p os m en or es ); p elos daomeanos (gr u p o d a Cos t a d o Ou r o, gr u p os m in a s p r op r ia m en t e d it os : fa n t i e a s h a n t i); p or gr u p os m en or es d a Gâ m b ia , d a S er r a Leoa , d a Lib ér ia , d a Cos t a d a Ma la gu et a , d a Cos t a d o Ma r fim , d en t r e ou tr os (k r u p a n o, a gn i, zem a , t im in í, et c.) (RAMOS , 1 9 7 9 , p .1 8 6 -87). Ta m b ém ch ega r a m n es s e p er íod o as cu lt u r a s gu in ea n o-sudanesas islamizadas, r ep r es en t a d a s em p r im eir o lu ga r p elos peuhl (fu la h , fu la , et c), mandinga (s olin k e, b a m b a r a ...) e haussá d o n or t e d a Nigér ia ; e p or gru p os menores como os Tapa, Bornú, Gurunsi, e outros. Fig.8 - E s cr a va s d e d ifer en tes n a ções 46. J ea n Ba p t is te Deb ret . Lit ogr a fia colorida a mão, 1834-39. Col. Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b, p.92 45 E s s a ter m in ologia b a n t os e s u d a n es es , “u s a d a n o p a s s a d o p or h is t or ia d ores e a n t r op ólogos p a r a exp lica r m u it a cois a , exp lica m , n a r ea lid a d e, m u it o p ou co” e t a m b ém “denominações como jeje, nagô, angola etc., também são insuficientes para os africanos” (RE IS , 1 9 9 6 , p .1 8 ). E s s a cla s s ifica çã o, b a s ea d a n a geop olítica d o tráfico, é cit a d a a qu i a p en a s com o referen cia l, in d ica n d o a exis tên cia d e u m a d iver s id a d e d e p ovos vin d os p a r a a Bahia. 46 E s s a s n egr a s d o Rio d e J a n eir o oitocen t is ta s ã o d es cr it a s p or Deb ret (1 9 4 0 , t .1 , p .1 8 7 ) d a s egu in te form a : “Nº 1 – Reb olo, cr ia d a d e qu a r t o im it a n d o com s u a ca r a p in h a o p en tea d o d e 43 Em es t u d o s ob r e a p r oced ên cia ét n ica d os es cr a vos na Ba h ia s et ecen tis ta , Ot t (1 9 8 8 , p .3 3 -5 9 ) ver ificou , a p a r t ir d e in ven t á r ios , a p r ed om in â n cia em S a lva d or e Recôn ca vo Ba ia n o d e n egr os s u d a n es es (cit a d os com o d a Gu in é, d a Cos t a , Min a , Na gô, Gêge, Ca la b a r , Ar d a s , d e Ca ch éu , Ca b o Ver d e, Ben in , Ta p a ) em p r ol d os b a n t o (cit a d os com o An gola , Ben gu ela , Con go, Ca b in d a , Moça m b iqu e, Mon jolo, Ca s s a n ge, Don go, Moon go, Qu is s a m a s , Ga n gu ela , S . Tom é, Gu n go, Reb olo). Com r ela çã o a os n egr os en via d os p a r a o in t er ior d o es t a d o d a Ba h ia , a p a r t ir d os p a s s a p or t es de escravos, a relação se inverte, a grande maioria é de negros banto (citados com o An gola , Ben gu ela e Con go) em p r ol d os s u d a n es es (d itos Min a , Na gô e Gêge). O leva n t a m en t o r ea liza d o p or Oliveir a (1 9 9 5 / 1 9 9 6 , p . 1 7 4 -193), a t r a vés d os t es t a m en t os d e lib er t os 47 d a Ba h ia n o p er íod o d e 1 7 9 0 a 1 8 9 0 , d et ect ou a p r es en ça n a Ba h ia d a s s egu in t es n a ções : Cos t a d a Min a , Gêge, An gola , Cos t a d a Gu in é, Cos ta d o Les t e, Ben gu ela , Na gô, Agon i, Ca la b a r e Con go. Ta m b ém a p a r t ir d os a n ú n cios d e es cr a vos fu gid os em jor n a is b a ia n os oit ocen tis t a s p er ceb e-s e a p r es en ça d e n egr a s d es ign a d a s com o Angola, Moçambique, Gêge, Nagô, Haussá48, Congo, Calabar, Mina, Cabinda, Rebolo e Benguela. Quais foram os efeitos da travessia da calunga grande49? s u a s en h or a ; Nº 2 – Con go, n egr a livr e, m u lh er d e t r a b a lh a d or n egr o (t r a je d e vis it a ); Nº 3 – Ca b r a , cr iou la , filh a d e m u la t o e n egr a , cor m a is es cu r a d o qu e o m u la to (t r a je d e vis it a ); Nº4 – Ca b in d a , cr ia d a d e qu a r t o, ves t id a p a r a leva r u m a cr ia n ça à p ia b a t is m a l; Nº 5 – Cr iou la , es cr a va d e ca s a r ica , d e b a eta n a ca b eça ; Nº 6 – Ca b in d a , cr ia d a d e qu a r to d e u m a jovem s en h or a r ica ; Nº 7 – Ben gu ela , cr ia d a d e qu a r t o d e u m a ca s a op u len t a ; Nº 8 – Calava, jovem escrava vendedora de legumes, tatuada com terra amarela, penteada com uma tira de cr in a b or d a d a , com con t a s e p in gen tes d o m es m o t ip o n os ca b elos ; Nº 9 – Moçambique, negra livre recém-casada; Nº10 – Mina, primeira escrava de um negociante europeu (favorita sujeita a chicotadas); Nº11 – Monjola, antiga ama e pagem de casa rica; Nº12 – Mulata, filha d e b r a n co com n egr a , con cu b in a ‘ten d a e m a n t a n d a ’; Nº 1 3 - Moça m b iqu e, es cr a va em ca s a d e gen te a b a s t a d a ; Nº 1 4 – Ben gu ela , es cr a va ven d ed or a d e fr u t a s , p en tea d a com vid r ilh os ; Nº15 – Ca s s a n ge, p r im eir a es cr a va d e u m a r t ífice b r a n co; Nº 1 6 – An gola , n egr a livre qu it a n teir a ” e a cres cen t a “a s n egr a s m on jola s s ã o m a is p a r t icu la r m en te r evolt a d a s , m a s com p a r t ilh a m d a a legr ia , d a feceir ice e p r in cip a lm en te d a s en s u a lid a d e qu e ca r a cter iza m os congos, os rebolos e os benguelas”. 47 Da s ér ie d e m a is d e 3 .0 0 0 t es t a m en t os en t re 1 7 9 0 e 1 8 9 0 , p erten cen tes a os 6 4 livr os d e Regis t r o d e Tes t a m en t os d a S eçã o J u d iciá r ia d o Ar qu ivo Pú b lico d o E s t a d o d a Ba h ia , cer ca de 15% são testamentos de ex-escravos. 48 S ã o cit a d os com o “Uca ” (sic). Os h a u s s á s for a m exp or t a d os p a r a a Ba h ia a p a r t ir d o fin a l do século XVIII devido à revolução social e política na Haussalândia (FREITAS, 1983, p.80). 49 A ca lu n ga gr a n d e é o ocea n o At lâ n t ico. A p a la vr a é d e or igem b a n t o, refere-s e a o m a r , a o fu n d o d a terr a , a o a b is m o (CAS TRO, 2 0 0 1 , p .1 9 2 ). A t r a ves s ia d a ca lu n ga gr a n d e, a via gem 44 E xt r a íd os d e s u a s n a ções , s ep a r a d os d e s u a s fa m ília s e exp os t os à a cu lt u r a çã o im p os t a p ela Igr eja Ca t ólica e p or s eu s s en h or es , os n egr os n ã o se deixaram anular. Nã o foi s ó n o s is t em a d e b a t iza r os n egr os qu e s e r es u m ia a p olít ica d e a s s im ila çã o, a o m es m o t em p o d e con tem p or iza çã o s egu id a n o Br a s il p elos s en h or es d e es cr a vos : con s is t iu p r in cip a lm en t e em d a r a os n egr os a op or t u n id a d e d e con s er va r em , à s om b r a d os cos tu m es eu r op eu s e d os r it os e d ou t r in a s ca t ólicos , for m a s e a ces s ór ios d a cu lt u r a e d a m ít ica africanas (BASTIDE, 1989, p.163). Os n egr os r econ s t r u ír a m s u a s id en t id a d es n o n ovo a m b ien t e s egu n d o ‘la ços d e n a çã o’, t a is com o “a r ecom p os içã o d os vín cu los fa m ilia r es , a es colh a d os p a r ceir os s exu a is , a s r ela ções d e com p a d r io, a com p r a d e es cr a vos d e or igem a fr ica n a p elos a fr ica n os lib ert os ”, a lém d a s r ela ções es t a b elecid a s , n o ca s o es p ecífico d a Ba h ia , a t r a vés d a s “ir m a n d a d es , d os ca n d om b lés , d a s ju n t a s d e a lfor r ia 50 e d os ca n t os d e t r a b a lh o 51” (OLIVE IRA, 1 9 9 5 / 1 9 9 6 , p .1 7 7 ). A s u a or ga n iza çã o qu a n t o à et n ia é p a r t icu la r m en t e vista nas irmandades negras católicas. As ir m a n d a d es “r ea gr u p a m h om en s livr es , for r os e es cr a vos d e a cor d o com s u a s or igen s ét n ica s : Nos s a S en h or a [d o Ros á r io] d a Ba ixa d os S a p a t eir os , d a Ba h ia , p or exem p lo, s om en t e a d m it e n egr os a n gola n os ; Nos s o S en h or d a Red en çã o s e com p õe u n ica m en t e d e geges . Ou t r a s con fr a r ia s s ó a ceit a m mulatos – os cr iou los . Con t u d o, d es d e o s écu lo XVIII, cr ia m -se n ova s con fr a r ia s m a is flexíveis e, n o s écu lo XIX, qu a n d o a s associa ções civis tom a m o lu ga r d a s r eligios a s , a s d is tin ções ét n ica s p er d em p r a t ica m en t e t od a su a im p or t â n cia ” (MATTOSO, 2001, p.148). Mas o que é uma Irmandade negra católica e qual a sua função? a o d es con h ecid o, er a com o u m r it o d e p a s s a gem , o n a s cim en to p a r a u m a n ova vid a , u m a vida de escravidão. 50 J u n t a s d e a lfor r ia er a m a s s ocia ções d e a ju d a m ú t u a , n a s qu a is a lgu n s es cr a vos a o ga n h o s e reu n ia m com n egr os livres ou lib er t os , ju n ta n d o s u a s econ om ia s com o ob jet ivo d e a d qu ir ir a lib er d a d e. S egu n d o Qu er in o (1 9 8 8 , p .1 5 4 ), “ca d a ju n t a es t a va s ob a ch efia d e u m d eles , o d e m a is r es p eito e con fia n ça , e con s t itu ía m a ca ixa d e em p rés t im os ”. Algu m a s juntas de alforria eram configuradas como irmandades negras católicas como a Confraria de Nos s a S en h or a d a S oled a d e Am p a r o d os Des va lid os , fu n d a d a em 1 8 3 2 n a Igr eja d e Nos s a Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios, em Salvador, Bahia (VERGER, 1999, p.218). 51 Con for m e S ilva (1 9 8 8 , p .1 2 3 ), os ca n t os d e t r a b a lh o d es t in a va m -s e a regu la r o t r a b a lh o d os n egr os n a s r u a s e evit a r con flitos . E r a m or ga n iza d os ter r itor ia lm en te s egu n d o a etn ia e ocupação, recebendo o nome do local onde os ganhadores se reuniam. 45 S egu n d o a h is t or ia d or a An n a Am élia V. Na s cim en t o, cor p or a ções , ir m a n d a d es e con fr a r ia s exis t ia m n a E u r op a ocid en ta l d es d e os s écu los XII e XIII (2 0 0 0 , p .1 1 ). Na Ba h ia , for m a r a m -s e es s a s a s s ocia ções leiga s d e ca r á t er a s s is t en cia lis t a , d es d e o s écu lo XVII, com o ob jet ivo d e, em t or n o d e u m a cer t a in voca çã o, con gr ega r d evot os , zela n d o p or s u a p r ot eçã o la ica e es p ir it u a l. S er de uma Ir m a n d a d e im p lica va em um p er t en cim en t o, envolvendo direitos e deveres. As s ocia ções r eligios a s d ot a d a s d e r egr a s es p ecífica s , es s a s con fr a r ia s exigia m qu e s eu s m em b r os p a ga s s em d ir eit os d e ent r a d a (jóia s ) e con t r ib u ições m en s a is va r iá veis , ofer ecen d o a es tes , em con t r a p a r t id a , a o la d o d e ob jet ivos es p ir it u a is , a s s is t ên cia d u r a n t e a vid a e n a h or a d a m or t e. Pen s ões , en ca r go d e d es p es a s h os p it a la res e d ign a celeb r a çã o d os fu n er a is er a m a lgu n s d os b en efícios p r evis tos . As s im , a lém d e con s id er a ções d e or d em r eligios a , p es a va o es p ír it o d e a ju d a m ú t u a , m u it o im p or t a n t e n u m a cid a d e em qu e a s for t u n a s s e fa zia m e s e d es fa zia m n o es p a ço d e u m a ger a çã o. Nin gu ém es t a va livr e d o in for t ú n io. In t egr a r u m a ir m a n d a d e er a p r ova d e p r u d ên cia e ga r a n t ia d e p er m a n ên cia n o m es m o gr u p o s ocia l, em ca s o d e em p ob r ecim en t o. As con tr ib u ições p od ia m s er in ves t im en t o a fu n d o p er d id o, m a s s em p r e r ep r es en t a va m t a m b ém u m a es p écie d e p ou p a n ça d ia n t e d es s e fu t u r o in cer t o (MATTOSO, 1992, p.400) As ir m a n d a d es r eflet ia m a or ga n iza çã o s ocia l e ét n ica d a cid a d e, tornando visíveis as diferenças entre os grupos. Nã o s ó os n egr os e p ob r es s e a s s ocia va m a ir m a n d a d es , qu e fiqu e cla r o. Na ver d a d e, es s a s in s t it u ições r eligios a s leiga s fazia m p a r t e d a vid a d e qu a s e tod os os gr u p os s ocia is e em ger a l a s p es s oa s a ela s s e a s s ocia va m d e a cor d o com s u a con d içã o s ocia l, or igem n a cion a l e cla s s ifica çã o r a cia l. Ha via ir m a n d a d es d e b r a n cos , m u la t os e n egr os ; d e b r a n cos d a t er r a e d’além-mar; de negros brasileiros e africanos; de africanos de d ifer en t es or igen s a fr ica n a s . Com o a va n ça r d o s éc. XIX m u it o dessa segregação desapareceria ... (REIS, 1997, p.123) E xis t ia m em S a lva d or as ir m a n d a d es for m a d a s s om en t e p or p or t u gu es es (com o a d e Nos s a S en h or a d a Con ceiçã o d a Pr a ia ), p or b r a n cos nacionais52 (a d a Mã e S a n t ís s im a e S en h or a d a s An gú s t ia s d o Mos t eir o d e São Bento53), por pardos (Senhor Bom Jesus da Paciência, Nossa Senhora do 52 53 Brancos nacionais são os homens brancos da terra, os nascidos no Brasil. CAMPOS, 2001, p.151 46 Boqu eir ã o) e p or n egr os . Nes t a s ocor r ia m s u b d ivis ões , s egr ega ções ét n ica s e sociais, o qu e vem com p r ova r , s em d ú vid a , a exis t ên cia d e a n im os id a d e en t r e s eu s com p on en t es d e et n ia s d iver s a s , r eflet in d o a qu ela s p er d u r á veis n a s ocied a d e. Hom en s livr es , m es m o d e cor , a fa s ta va m os es cr a vos d a s Ir m a n d a d es d e livr es ; h om en s p r et os er a m con t r a a in clu s ã o n a Ir m a n d a d e d a qu eles a fr ica n os ch a m a d os d e m a r a for a , fu gin d o a o p er igo das crenças pagãs (NASCIMENTO, 2000, p.12) E vid en t em en t e, a s r ela ções en t r e os d iver s os gr u p os , exis ten t es n a África, eram replicadas no Brasil, e os novos grupamentos eram calcados em a fin id a d es p r ed om in a n t em en t e cu lt u r a is 54. Oliveir a (1 9 7 9 , p .1 5 6 ) lis tou 3 6 ir m a n d a d es d e h om en s d e cor em S a lva d or oit ocen tis t a , a p a r t ir d os t es t a m en t os d e lib er t os d o p er íod o. As s im exis t ia m , en t r e ou t r a s , a s Ir m a n d a d es d e cr iou los (S ã o Ben ed it o, d o Con ven to d e S ã o Fr a n cis co), d e n egr os jejes d a om ea n os (Nos s o S en h or Bom J es u s d a s Neces s id a d es e Red en çã o, ca p ela d o Cor p o S a n t o), d e n egr os con go-a n gola (Nos s a S en h or a d o Ros á r io d a s p or t a s d o Ca r m o), d e n egros jejes e b en gu ela s (Ir m a n d a d e d e Nos s a S en h or a d o Ros á r io d e J oã o Per eir a ) d e n egr os n a gô-ior u b á (Nos s a S en h or a d a Boa Mort e d a Igr eja d a Ba r r oqu in h a )55. Ca d a ir m a n d a d e t in h a u m t r a je (op a s 56 d e cor es d ifer en t es ) e in s ígn ia s qu e d is tin gu ia m os s eu s m em b r os . Os d a Ir m a n d a d e d o Bom J es u s d a Pa ciên cia ves t ia m “ca p a s b r a n ca s com m u ls a r och a (s ic)57” (Com p r om is s o d a Ir m a n d a d e apud CAMPOS , 2 0 0 1 , p .2 5 3 ); os d o S en h or Bom J es u s d a s Neces s id a d es e Red en çã o u s a va m “ca p a b r a n ca e m u r ça r oxa , t en d o p r es a a es t a , p equ en a cruz de metal branco, à esquerda” (idem, 2001, p.266). 54 No d ecor rer d o s écu lo XIX, Oliveir a (1 9 7 9 , p .1 4 9 ) con s t a tou , a t r a vés d e tes t a m en t os d e lib er t os , qu e es s a s d ivis ões ét n ica s vã o s e d ilu ir , p ois “in d ivíd u os d e d iver s a s n a ções declaravam-s e m em b r os d e u m a m es m a ir m a n d a d e” e a té os p a r d os “p a s s a r a m a a ceit a r negros especialmente se estes possuíssem significativos bens”. 55 VERGER, 2002, p.243 56 Opa é uma espécie de capa usada pelos membros de Irmandades. 57 A gr a fia cor r et a é m u r ça r oxa . Mu r ça é u m a “ves t im en t a d e cor , em for m a d e ca b eçã o, u s a d a p elos côn egos , em cim a d a s ob r ep elliz” (DICCIONÁRIO p r á t ico illu s t r a d o. Por t o: Lello & Ir m ã o ed itores , 1 9 4 4 , p .7 6 4 ). Ca b eçã o refere-s e “a p a r te s u p er ior , qu e for m a u m a es p écie d e gola geralmente la r ga e p en d en te” e t a m b ém “a p a r te s u p erior d a ca m is a d o t r a je t íp ico das baianas (HOUAISS, 2001). 47 1.4. Modos de vestir Há p ou cos es t u d os s ob r e a in d u m en t á r ia b r a s ileir a colon ia l e im p er ia l, p r in cip a lm en t e d a s m u lh er es d a s ca m a d a s n ã o p r ivilegia d a s . Por is s o, exis t em m u it a s la cu n a s a s er em a in d a in ves tiga d a s . Um a d a s p r in cipais fon t es con s u lt a d a s for a m os r egis t r os es cr it os e icon ogr á ficos 58. Tod a s a s m u lh er es n egr a s e m u la t a s , r et r a t a d a s n o Br a s il n os s écu los XVIII e XIX p or a r t is t a s com o Ca r los J u liã o, J oã o Fr a n cis co Mu zzi, Lea n d r o J oa qu im , Deb r et , Ru gen d a s e d es cr it a s p or via ja n t es es t r a n geir os , exp r es s a va m a s suas diferenças e status sociais através da linguagem do traje. O t ecid o e a for m a d o ves t id o in d ica va m o m u n d o em qu e vivia a m u lh er : a s a b a s t a d a s exib ia m s ed a s , velu d os , s er a fin a s , ca s s a , filós , d eb r u a d os d e ou r o e p r a t a , m u s s elin a ; a s p ob r es contentavam-s e com r a xa d e a lgod ã o, b a et a n egr a , p icote, xa les b a r a t os e p ou ca cois a m a is ; a s es cr a va s es t a va m lim it a d a s a u m a s a ia d e ch it a , r is ca d o ou zu a r t e, u m a ca m is a d e ca s s a gr os s a ou ves t id o d e lin h o, ga n ga ou b a et a (ARAÚJO, 1997, p.54) Pa r a Pr ior i (2 0 0 2 , p .1 9 4 ), a r ou p a , n a s ocied a d e d o Br a s il colon ia l e imperial, era a configuração de uma cultura de aparências exibida em praça p ú b lica . O t r a je er a u m a p r á t ica s ign ifica n t e, qu e ob ed ecia a u m cód igo cu lt u r a l d e s ign os , qu e vis a va a id en t ifica çã o vis u a l d os s eu s u s u á r ios , demarcando categorias sócio-econômicas. “Vestir é um ato de diferenciação, é es s en cia lm en t e u m a t o d e s ign ifica çã o” (idem, 2 0 0 2 , p .1 9 9 ). É u m a im a gem ela b or a d a a p a r t ir d o t a lh e, t ip os d e t ecid os (s u a p r in cip a l m a t ér ia p r im a ), d ecor a çã o, cor es e a ces s ór ios . A ocu lt a çã o e a va lor iza çã o d e cer t a s p a r t es d o cor p o (leva n d o a t é m es m o à s u a m od ifica çã o fís ica ) in t egr a m a sua linguagem, obedecendo à moral e estratégias de sedução de cada época. Segundo Oliveira (2002, p.129), “a aparência construída pelo traje agrega ao s eu s er va lor es p os itivos qu e lh e con fer ir ã o cer t a com p et ên cia p a r a m elh or a gir n o con t ext o em qu e s e in s er e”. Um d es s es a s p ect os é o d a a p r ecia d a r igid ez con fer id a p ela s r ou p a s d a elit e fem in in a a t r a vés d o u s o d e cor p et es , 58 Um a d a s p r in cip a is fon tes foi a b r a s ilia n a d a coleçã o Ca s t r o Ma ya d is p on ib iliza d a em d iver s a s p u b lica ções . As figu r a s d a s n egr a s , qu a n d o n ã o s ã o os elem en t os cen t r a is r et r a t a d os , com p õem m u it a s d a s vis t a s u r b a n a s d a s cid a d es em p in t u r a s , d es en h os e gr a vu r a s e d es d e a s egu n d a m et a d e d o s écu lo XIX s ã o r egis t r a d a s n a s fot ogr a fia s . Na própria fig.4 que abre esse capítulo é possível vê-las em primeiro plano à direita. 48 espartilhos, armações sob as saias, pois “quanto menor a mobilidade, maior er a a p os içã o s ocia l” (LIMA, 2 0 0 2 , p .5 2 ), vis t o qu e, o t r a b a lh o er a id en t ifica d o à con d içã o s er vil. Além d e con d icion a m en t os s ócio-cu ltu r a is , o vestir en volve es colh a s e p os tu r a s cor p or a is con figu r a n d o a s in gu la r id a d e d e exp r es s ã o d e ca d a in d ivíd u o. A a p a r ên cia , o cor p o ves t id o, é u m fen ôm en o s ígn ico, qu e p r od u z u m efeit o d e s en tid o, b a s ea d o n a con s t r u çã o d e u m t ext o s u s ten t a d o p elo cód igo ves t im en t a l, qu e a t u a n a s t r ês m od a lid a d es d e r efer ên cia s s em iót ica s : icôn ica , in d icia l e s im b ólica , qu e ju n t a s com p õem u m cor p o s im b ólico/ s em â n t ico, cr ia n d o p r oces s os d e identidade contextuais. Desta forma, o traje deve ser ob s er va d o qu a n d o in s er id o em u m d et er m in a d o m eio s ocia l, on d e s e m a n ifes t a r á com o u m a d a s m a is es p et a cu la r es e s ign ifica t iva s for m a s d e exp r es s ã o p r es en t e n o p r oces s o cu lt u r a l. Con figu r a -s e p len a m en t e com o m eio d e m a n ip u la çã o, p er s u a s ã o, s a n çã o, a çã o ou p er for m a n ce. Con s equ en tem en t e, a r t icu la d ifer en t es t ip os d e d is cu rs os : p olít ico, p oét ico, a m or os o, a gr ega d or , h ier á r qu ico, et c. Ta is d is cu rs os s ã o con s t r u íd os à m ed id a qu e a s ocied a d e va i s e es t r u t u r a n d o, s e d es en volven d o e exer cen d o a fu n çã o d e con fir m a d or a exter n a d o s is t em a d e or ga n iza çã o qu e o h om em s ocia l p r ivilegia e o t r a d u z p or in t er m éd io d a lin gu a gem vis u a l d o t r a je (CASTILHO, 2002, p.71). S egu n d o a h is tor ia d or a S ílvia Hu n old La r a (2 0 0 0 a , p .1 7 9 -1 8 0 ), h a via t od a u m a t r a d içã o legis la t iva p or t u gu es a e d is p os itivos lega is qu e r egia m o vestuário, p a r a o con t r ole e m a n u t en çã o d a s d is t in ções s ocia is . E n t r et a n t o, es s a s a n t iga s r egr a s a r es p eit o d os t ecid os e or n a tos , n ã o for a m exp r es s a s n a s Or d en a ções Ma n u elin a s e Filip in a s 59. For a m a s Ca r t a s Régia s , os p a r ecer es d o Con s elh o Ult r a m a r in o e a s Pr a gm á t ica s d e 1 6 7 7 e d e 1 7 4 9 que visaram controlar as regras do trajar. Algumas normas eram extensivas a t od o o m u n d o p or t u gu ês : Por t u ga l e s u a s colôn ia s . Ou t r a s er a m es p ecífica s , com o a s Ca r t a s Régia s . A p r in cip a l p r ob lem á t ica n o Br a s il er a a p r eocu p a çã o com o exces s ivo lu xo n o ves t ir d a s n egr a s e m u la ta s 60, 59 As Or d en a ções for a m a s is tem a t iza çã o e u n ifor m iza çã o d a s leis qu e vigor a va m em Por t u ga l. Tr ês for a m a s Or d en a ções : a s Afon s in a s , p u b lica d a s em 1 4 4 6 ; a s Ma n u elin a s , p u b lica d a s d e 1 5 1 2 a 1 5 2 1 ; e a s Filip in a s , p u b lica d a s em 1 6 0 3 e con fir m a d a s em 1 6 4 3 (DICCIONÁRIO p r á t ico illu s t r a d o. Por t o: Lello & Ir m ã o ed it ores , 1 9 4 4 . p .1 6 0 1 ), a p ós o término da União das Coroas Ibéricas (1580-1640). 60 S ob re a p r oib içã o à s es cr a va s d o u s o d e s ed a ou ob jet os d e lu xo, t r a ta va m a s Ca rtas Régias de 1696, 1703 e 1709, específicas para o Brasil (LARA, 2000a, p.181). 49 m or m en t e a s es cr a va s (LARA, 2 0 0 0 a , p .1 7 9 ). O ca p ít u lo IX d a Pr a gm á t ica d e 1 7 4 9 (apud ESCOREL, 2 0 0 0 , p .1 7 1 -172), d ed ica d o a o t r a je d os n egr os e m u la t os d a s Con qu is t a s , p r oib in d o o u s o d e a r t igos d e lu xo, revogado quatro meses depois61, determinava que Por s er in for m a d o d os gr a n d es in con ven ien t es , qu e r es u lt a m n a s Con qu is t a s d a lib er d a d e d e t r a ja r em os n egr os , e os m u la t os , filh os d e n egr o, ou m u la t o, ou d e m ã e n egr a , d a m es m a s or t e qu e a s p es s oa s b r a n ca s , p r oíb o a os s ob r ed it os , ou s eja m d e u m , ou d e ou t r o s exo, a in d a qu e s e a ch em for r os , ou nascessem livres, o uso não só de toda a sorte de seda, mas t a m b ém d e t ecid os d e lã fin os , d e h ola n d a s , es gu iões , e s em elh a n t es , ou m a is fin os t ecid os d e lin h o, ou d e a lgod ã o; e m u it o m en os lh es s erá lícit o t r a zer em s ob r e s i or n a t o d e jóia s , n em d e ou r o ou p r a t a , p or m ín im o qu e s eja . S e d ep ois d e u m m ês d a p u b lica çã o d es t a lei n a ca b eça d a Com a r ca , on d e r es id ir em , t r ou xer em m a is cois a a lgu m a d a s s ob r ed it a s , lh es s er á con fis ca d a ; e p ela p r im eir a t r a n s gr es s ã o, p a ga r ã o d e m a is o va lor d o m es m o com is s o em d in h eir o; ou n ã o t en d o com qu e o s a t is fa ça m , s er ã o a çoit a d os n o lu ga r m a is p ú b lico d a Vila , em cu jo d is t r it o r es id irem ; e p ela s egu n d a t ra n s gr es s ã o, a lém d a s d it a s p en a s , fica r ã o p r es os n a ca d eia p ú b lica , a té s er em t r a n s p or t a d os em d egred o p a r a a Ilh a d e S . Tom é p or t od a a sua vida. Ha via , p or t a n t o, u m a cod ifica çã o vis u a l p r óp r ia d es t in a d a à s n egr a s e m u la t a s , en t r et a n t o, a lgu m a s d ela s s e ves t ia m com o a s r ica s s en h or a s brancas, p r ovoca n d o, m u it a s vezes , in qu iet a çã o n a or d em vigen t e 62. Qu a is n egr a s ves t ia m -s e com lu xo? Pr in cip a lm en t e a s m u ca m a s 63 (em ép oca s fes t iva s , p or os t en t a çã o d e s eu s s en h or es , con for m e vis t o n a fig.7 ) e 61 (LARA, 2000a, p.181). Com rela çã o à or d em d o An t igo Regim e n a Fr a n ça , p od e-s e ver es s a in qu iet a çã o n o text o do capítulo XV, Nobreza, classes de habitantes do État et descrip tion d e la v ille d e Mon tp e llier fa it e m 1 7 6 8 transcrito por Robert Darnton (1986, p.187-8): “deveria existir um regulamento exigin d o qu e t od o cr ia d o, d o s exo m a s cu lin o ou fem in in o, u s a s s e u m d is t in t ivo b em vis ível, n a r ou p a . Por qu e n a d a é m a is im p er t in en te d o qu e ver u m cozin h eir o ou u m ca m a r eir o qu e en ver ga u m t r a je en feit a d o com ga lões ou ren d a , p õe a es p a d a à cin t a e s e in s in u a em m eio à m elh or com p a n h ia , n os p a s s eios p ú b licos ; ou ver u m a ca m a reir a ves t id a t ã o ela b or a d a m en te qu a n t o s u a p a t r oa ; ou en con t r a r cr ia d os d om és t icos d e qu a lqu er t ip o en feit a d os com o s e fos s em n ob res . Tu d o is s o é r evolt a n te. O es t a d o d os cr ia d os é d e s er vid ã o, d e ob ed iên cia à s or d en s d e s eu s p a t r ões . Nã o es tã o d es t in a d os à lib er d a d e, a integrar o corpo social juntamente com os cidadãos.” 63 As s en h or a s exib ia m -s e “com a s s u a s m u la t a s e p r et a s ves t id a s com r ica s s a ia s d e cet im , b eca s d e lem is t e fin ís s im o e ca m is a s d e ca m b r a ia ou ca s s a , b or d a d a s d e for m a t a l qu e va le t rês ou qu a t r o vezes m a is qu e a p eça ; e t a n t o é o ou r o qu e cada uma leva em fivela s , p u ls eir a s , cola res ou b r a celetes e b en t in h os qu e, s em h ip ér b ole, b a s ta p a r a com p r a r d u a s ou t rês n egra s ou m u la ta s com o a qu e o leva ; e t a l con h eço eu qu e n en h u m a d ú vid a s e lh e oferece em s a ir com 1 5 ou 2 0 a s s im or n a d a s . Pa r a verem a s p r ocis s ões é qu e d e or d in á r io saem acompanhadas de uma tal comitiva’”(VILHENA, 1969, v.1, p. 54). 62 50 algumas concubinas e prostitutas64 para atrair clientes. Esses trajes e jóias, próprios65 ou em p r es t a d os d e s u a s s en h or a s 66, s ã o t ip ica m en t e eu r op eu s . E, sem dúvida, eram cobiçados símbolos de ascensão social. Algumas vezes, s om en t e a cor d a p ele e o n ã o u s o d e s a p a t os 67 (r es er va d o à s p es s oa s livr es ), d is t in gu ia m es s a s m u lh er es d a s s en h or a s b r a n ca s (fig. 9 e 1 0 ), e ou t r a s vezes , d evid o à m es t iça gem 68, n em is s o. E r a es s e o gr a n d e inconveniente, a identificação com a condição senhorial. Fig.9 - Ret ra t o d e An a d e J es u s Mon iz Via n a . Au t or ign or a d o. Óleo s ob r e tela , s éc.XIX. Acervo: Museu de Arte da Bahia69. 64 Fig.10 - Ba ia n a . An ôn im o. Óleo s ob re tela , c. 1 8 5 0 . Mu s eu Pa u lis t a d a US P. Fonte: ARAÚJO, 2002. p.134. A s it u a çã o era t a l qu e, s egu n d o Ca r t a Régia d e 1 7 0 9 , o rei d e Por t u ga l in for m a d o d a “s olt u r a com qu e a s es cr a va s cos t u m a va m viver e t r a ja r n a s con qu is t a s u lt r amarinas, andando de noite e incitando com os seus trajes lascivos aos homens” proibiu –lhes o uso de “s ed a s , n em d e tela s , n em d e ou r o, p a r a qu e a s s im s e lh es t ir e a oca s iã o d e p od erem in cit a r para os pecados com os adornos custosos de que se vestem” (apud ARAÚJO, 1997, p.57). 65 Conforme demonstram os testamentos de algumas libertas. 66 É o ca s o d a es cr a va Môn ica , ch a m a d a Mã e Qu in h a , qu e u s ou um ves t id o e jóia s em p res t a d os d e s u a s en h or a p a r a s er fotogr a fa d a em Recife, p or volt a d e 1 8 6 0 , ju n to a o menino Augusto Gomes Leal, do qual era ama (FERREIRA, 1999, p.171-181). 67 Mu it os via ja n tes , com o E wb a n k (1 9 7 6 , p .2 1 0 ) d es crevem o s a p a t o com o em b lem a d e lib er d a d e exp os t o com or gu lh o p elos n egr os lib er t os . E s s a exib içã o era p os s ível d a d o a o com p r im en to d a s s a ia s d a s n egr a s a cim a d a a lt u r a d o t or n ozelo. Qu a n t o à s m u lh eres b r a n ca s , o sapato era p rop os it a lm en te es con d id o s ob a s s a ia s , con s t it u in d o n o s écu lo XIX u m ver d a d eir o fet ich e, s en d o a té es te o tem a d o r om a n ce A Pa ta d a Ga z ela , d e J os é d e Alen ca r , ed ita d o em 1 8 7 0 . J ú lio Da n t a s (1 9 1 6 , p .2 6 6 ) Em A m or e m Portu ga l n o s écu lo XVIII, ed it a d o em 1 9 1 6 , cit a u m com en t á r io d e Mon tes qu ieu , em 1 7 2 0 , s ob r e os p or t u gu es es qu e “p er m item a s s u a s es p os a s a p a r ecer em em p ú b lico com os s eios à m os t r a , m a s n ã o consentem que se lhes veja o tacão [salto do sapato] ou a biqueira dos sapatos”. 68 Os s en h ores b r a n cos n em s em p re era m t ã o b r a n cos e os es cr a vos n em s em p r e era m tã o negros. 69 Fonte: MUSEU DE ARTE DA BAHIA, 1997, p.66. 51 E como se vestiam geralmente as negras no Brasil? Com base na codificaçã o vis u a l já exis t en t e com r ela çã o à in d u m en tá r ia n a m et r óp ole, elem en t os for a m in cor p or a d os e a d a p t a d os , fruto do grande intercâmbio cultural proporcionado pela expansão lusitana, com o p od e s er vis to n o t r a je d a s n egr a s d o Br a s il. Ha via d ifer en t es t r a jes , ob ed ecen d o à cod ifica çã o s ócio-econôm ica e es t ét ica vigen t e, va r ia n d o s egu n d o a con d içã o ju r íd ica de su a u s u á r ia , “a t o s ocia l e fu n çã o d es em p en h a d a ” (S ILVA apud MOL, 2 0 0 3 , p .7 4 ). Dois gr a n d es t ip os distinguiam-se nas ruas das cidades70: trajes cotidianos de trabalho e trajes festivos. O t r a je cot id ia n o d e tr a b a lh o d a s n egr a s d a s r u a s n o Br a s il71 (fig.1 1 e fig.1 2 ) er a u m a p r ojeçã o d a s r ou p a s d a s ca m p on es a s , ven d ed or a s e cr ia d a s p or t u gu es a s (fig.1 3 ). Afin a l, os es cra vos n egr os for a m in t r od u zid os in icia lm en t e em Por t u ga l, n o s écu lo XV (MARQUE S , 1 9 8 5 , p .2 7 5 ). E m b or a fos s em a r t igos d e lu xo n a m et r óp ole, d e a ces s o a p ou cos , r ea liza va m u m a série de funções, concentrando-se nos centros urbanos72. “Essas pessoas de cor t en d ia m a s e ves t ir com o b r a n cos , a in d a qu e n ã o exis tis s e u m tr a je ú n ico ca r a ct er ís t ico d os p or t u gu es es , qu e s e d is tin gu ia m en t r e s i con form e a p os içã o s ocia l, os ofícios e a s r egiões d e or igem ” (E S CORE L, 2 0 0 0 , p .2 6 )(fig.1 4 ). E s s a in d u m en t á r ia p or t u gu es a d a s cla s s es t ra b a lh a d or a s foi com b in a d a n o Br a s il, p r in cip a lm en te n a Ba h ia , o gr a n d e p or t o d e d es em b a r qu e, a elem en t os evoca t ivos d a Áfr ica com o os t u r b a n t es 73 e o p a n o d a cos t a . Is s o s er ia u m a r ecr ia çã o d a vis u a lid a d e n egr a em t er r a s 70 O en foqu e s er á p a r a a in d u m en tá r ia d a s n egr a s d a s cid a d es , m or m en te p a r a S a lva d or . E n t ret a n t o, s egu n d o E s corel (2 0 0 0 , p .9 4 ) “a r ou p a d e cor b r a n ca , n o Br a s il, t a m b ém é a s s ocia d a a o t r a je d os es cr a vos r u r a is , fa b r ica d o com tecid o gr os s eir o s em t in gir , o ú n ico cu ja p r od u çã o er a a u tor iza d a p elo a lva r á d e D. Ma r ia I. Ma s er a b r a n co p or fa lt a d e cor , com o a es top a .” E vid en tem en te, os es cr a vos d om és t icos d a ca s a gr a n d e, em con t a t o d ir eto com seus senhores, recebiam uma melhor vestimenta. 71 Mu it os via ja n tes fa zem a lu s ã o a o t r a je s u m á r io e n u d ez d a s n egr a s vis t a s n a s r u a s , como p od e s er p er ceb id o n a fig.1 1 , p os s ivelm en te u m a n egr a es cr a va d e m en or p os içã o, u m a aguadeira. 72 S egu n d o Ven â n cio (2 0 0 3 , p .8 5 ), em b or a a es tr u t u r a s ócio-econ ôm ica p or t u gu es a fos s e b a s ea d a n o t r a b a lh o livre, a es cr a vid ã o exis t iu a té o fin a l d o s écu lo XVIII. O es cr a vo n a E u r op a t in h a u m p r eço eleva d o. E m Por t u ga l p er ten cia m em s u a m a ior ia à s ca m a d a s intermediárias da sociedade ligadas ao artesanato urbano (idem, p.86). 73 O u s o d os tu r b a n tes foi regis t r a d o p elo cód ex 1 8 8 9 , d e m ea d os d o s éc.XVI, p or t a d o p or et íop es , fa r ta qu es d a Ar á b ia e p er s a s (BARRE TO e GARCIA, 1 9 ?, p .6 8 -9 ). E m t od a s a s r ep res en t a ções é a t r ib u t o d os h om en s . Além d e s eu u s o p elos m u lçu m a n os , a s u a p res en ça na África oriental deve-se ao contato comercial com os árabes e indianos. 52 b r a s ileir a s vis to qu e, a m a ior ia d os gr u p os t r ib a is t r a n s p la n t a d os t in h a , a n t es do con t a to com os eu r op eu s , uma id en t id a d e d ifer en t e qu e com p r een d ia , en t r e ou t r os , o u s o r es t r it o d os t ecid os . As m u lh er es d e Angola, Congo e do Reino de Monomopata (atual Zimbábue) usavam apenas u m a fa ixa com cer ca d e d ois p a lm os em t or n o d a cin t u r a com o u m a s a ia cu r t a (fig.1 5 ), con h ecid a com o t a n ga 74 (idem, p .4 7 ), s en d o qu e a s ca s a d a s cob r ia m o b u s t o (BARRE TO e GARCIA, 1 9 ?, p .6 7 ). Ger a lm en t e os h a b it a n t es d a Gu in é e S er r a Leoa n ã o u s a va m r ou p a s (fig.1 6 ). As et íop es u s a va m u m a s a ia lon ga e u m p a n o s ob r e os om b r os a s s em elh a n d o-s e a o sari75 d a s in d ia n a s (fig.1 7 e 1 8 ), excet o p or t r a zer em o b u s t o d es cob er t o. A p r óp r ia in d u m en t á r ia n a Áfr ica , a p ós o con t a t o com os eu r op eu s e s ob a s im p os ições p u d ica s d o Cr is t ia n is m o r efer en t es a o cor p o, s ofr eu r eleva n t e transformação e ressignificação76. 74 No jor n a l O B a h ia n o (1 1 m a r .1 8 3 0 , p .4 ) en con tr a -s e em u m a vis o a s egu in te d es cr içã o: “Qu em s e qu eixa d e u m a n egr a n ova d e ta n ga p er d id a ”. A t a n ga , u m a t ir a d e p a n o usada como uma saia curta para se cobrir o sexo, era a primeira roupa recebida pelos africanos de amb os os gên er os , h om en s e m u lh eres . E r a com ela qu e er a m exp os tos em leilã o os n egr os recém-ch ega d os (KARAS CH, 2 0 0 0 , p .1 8 9 ). S eu u s o, n o s écu lo XIX, p od e s er vis t o em Deb ret n a ilu s t r a çã o O m erca d o d e es cra v os d a ru a d o Va lon go (idem, p .2 2 2 / 2 2 3 ) e em Hen r y Chamberlain na gravura O mercado de escravos (MUSEUS CASTRO MAYA, 1994, p.147). 75 Tr a je n a cion a l d a s m u lh eres in d ia n a s , con s t itu íd o d e u m a lon ga p eça d e p a n o qu e envolve e cobre todo o corpo (HOUAISS, 2001). 76 “No s écu lo XVII, o p a d r e ca p u ch in h o Ca va zzi (1 9 6 5 :1 6 6 ) n ot a qu e, em b or a n a s regiões m a is r em ot a s d a Áfr ica Cen t r a l At lâ n t ica a in d a s e a n d a s s e s em i-d es p id o, com o cor p o m a is en feit a d o d o qu e es con d id o p ela s t a n ga s d e con t a s , con ch a s e m iça n ga s ou os a ven ta is d e p ele d e a n im a l, n a s banzas [a ld eia s d os ch efes ] d os rein os d o Con go, Ma t a m b a e An gola n ob res e p leb eu s u s a va m t r a jes d e in s p ir a çã o eu r op éia e t in h a m p len a con s ciên cia d o ves t ir com o for m a d e d is t in çã o. A cor t e con goles a , cr is t ia n iza d a d es d e o s écu lo XV, p or a cr ed it a r qu e os t r a jes eu r op eu s era m p or t a d ores d o p od er d o h om em b r a n co, p r ocu r a va cop ia r a moda lusitana” (ESCOREL, 2000, p.39). 53 Fig.11 - Mercadora e carregadora de água (2 negras, uma liberta e a outra escrava). Desenho aquarelado, Bahia, séc. XIX. Col. Lady Maria Callcot, Biblioteca Nacional – RJ. 77 Fig.13 – Tr a d icion a is cos t u m es p or t u gu es es a té o s éc. XIX. Prancha de Auguste Racinet.79 77 Fig.12 - Ven d ed or a d e gr a vu r a s : Bahia (n egr a es cr a va ven d ed or a ca r r ega n d o m en in o à s cos t a s ). Desenho aquarelado, séc. XIX.78 Fig.14 – Ven d ed eir a n egr a em Por t u ga l, s éc. XVI. Fon t e: DIAS , 1992, p.4080. Fonte: http://international.loc.gov/cgi-b in/query/r?intldl/ascbrbib:@OR(@field(DOCID+ @lit(ascbr000029))) 78Col. La d y Ca llcot , Bib lioteca Na cion a l – RJ. Fonte: h ttp://international.loc.gov/cgibin/query/r?intldl/ascbrbib:@OR(@field(DOCID+@lit(ascbr000020))) 79 RACINE T, Au gu s te. Th e com p le te cos tu m e h is tory . Ta s ch en , 2 0 0 3 . Dis p on ível em : http://www.printspast.com/pwap1009010011.htm. 80 Detalhe do painel Nascimento da Virgem. Col. particular de D. Manuel de Sousa Holstein Beck. 54 Fig.15 - Rep r es en t a çã o d e m u lh er ca fre d o cod ex 1 8 8 9 d e m ea d os d o s éc.XVI. Acervo da Biblioteca Casanatense, Roma. Fonte: BARRETO e GARCIA, 19?, p.67) Fig.16 – Habitantes d a Gu in é. Ilu s t r a çã o d e Die Merfart u m Erfaru n g d e Ba lt a s a r S p ren ger , 1509. Fonte: BARRETO e GARCIA, 19?, p.66) Fig.17 – E t íop es d o cod ex 1 8 8 9 d e m ea d os d o s éc.XVI (d eta lh e). Acer vo d a Bib lioteca Ca s a n a ten s e, Rom a . Fon te: BARRETO e GARCIA, 19?, p.68) Fig.18 – Fa zen d eir os k a n a res e (Ín d ia ) d o cod ex 1 8 8 9 d e m ea d os d o s éc.XVI. Acer vo d a Bib lioteca Ca s a n a ten s e, Rom a . Fon te: BARRETO e GARCIA, 19?, p.70) 55 Fig.19 – Ba n h a d e ca b ellos (s ic) b em ch eir os a . J .B. Deb ret . Aqu a rela . Rio d e Janeiro, 1827. Col. Museus Castro Maya. Fonte: OS MUSEUS, 1996, p.205. A variação nos trajes de uso cotidiano das negras e mulatas brasileiras ir ia d ep en d er d o p od er a qu is it ivo 81 e a t ivid a d e exer cid a (fig.1 1 , 1 2 e 1 9 ). As es cr a va s e m es m o a s lib er t a s d e p equ en o r en d im en t o t r a zia m s em p r e s a ia e blusa82. O ves t id o er a u m lu xo e s egu n d o Alcâ n t a r a Ma ch a d o (apud MOL, 2 0 0 3 , p .7 3 ) er a p r oib id o à s m u lh er es n egr a s . Os t ecid os m a is cit a d os p a r a as escravas baianas são os de algodão: chita e riscado (para as saias) e cassa b or d a d a , b r im , zu a r t e e a lgod ã o a m er ica n o (p a r a a s b lu s a s ). Qu a n t os à s cores o azul é o mais freqüente para as saias e o branco para as blusas83. No 81 Ta n t o d os s en h ores com o d a s p r óp r ia s u s u á r ia s , u m a vez qu e em a lgu m a s s it u a ções com o a d e ga n h o, os es cr a vos er a m r es p on s á veis p or s u a s p r óp r ia s n eces s id a d es com o alimentação e vestuário. 82 Tod a s a s d es cr ições d a in d u m en tá r ia em a n ú n cios d e es cr a va s fu gid a s t r a zem a p res en ça d e s a ia e b lu s a , b em com o n o a r r ola m en to d e b en s lega d os n os in ven tá r ios d e lib er t a s , vestidos não são comuns. A iconografia existente confirma esse costume. 83 S egu n d o os a n ú n cios d e es cr a vos fu gid os con s u lt a d os . Qu a n t o à s cores , a icon ogr a fia exis ten te refor ça os regis t r os es cr it os . Os tecid os es t a m p a d os e em ou t r a s cores com o a vermelha eram mais caros (MOL, 2003, p.69-73). 56 qu e s e r efer e a os a ces s ór ios , o p a n o d a cos t a 84 é d efin id or e b a s t a n t e p r es en t e n os r egis t r os es cr it os e icon ogr á ficos r efer en t es à Ba h ia . Há vá r ia s m a n eir a s d e s e u s a r o p a n o d a cos t a 85. Além d e s er u s a d o s ob r e a s a ia (fig.1 1 ) ou p en d en t e s ob r e u m d os om b r os , s er via p a r a ca r r ega r a s cr ia n ça s p equ en a s à s cos t a s (fig.1 2 e 2 1 ), com o p a n o d it o d e b a m b u r r o 86. Os t or ços , geralmente b r a n cos , s ã o r ecor r en t es n a icon ogr a fia d a s es cr a va s . S egu n d o E s cor el (2 0 0 0 , p .3 0 ), “er a id en t ifica d o com a con d içã o d e s er vid ã o” a s s im com o “es ta r d es ca lço foi, d es d e Rom a a n t iga , u m d os t r a ços d is t in tivos d o escravo” (idem, p .9 2 ). Tr a zer a ca b eça cob er t a p or len ços , ch a p éu s 87 e véu s er a in s ígn ia d e lib erd a d e (BLUTE AU apud MOL, 2 0 0 3 , p .7 4 ). La r a (2 0 0 0 ) indica o uso de chapéus sobre torços ou só torços, pés calçados com meias e s a p a t os ou ch in ela s com o p er t in en t es à s lib er t a s 88. Um a p r es en ça cu r ios a é a d a fa ixa n a cin t u ra ou qu a d r is , d en om in a d a em d es en h o s et ecen tis t a d e Ca r los J u liã o com o “b u n d a à cin t a ”89 (FE RRE Z, 1 9 6 3 , p .3 8 -3 9 ; LARA, 2 0 0 2 b ), u s a d a p or n egr a s e m u la t a s , t a n t o es cr a va s com o lib er t a s . Com o a s saias e blusas eram desprovidas de bolsos e não era costume o uso de bolsas 84 O p a n o d a cos t a es t á p r es en te n os t r a jes d e t r a b a lh o cotid ia n o e n os t r a jes fes t ivos . Segundo Torres (1950, f.30-33), seu comprimento é de cerca de 2,0m e largura média de 1,0 a 1 ,4 0 m . Devid o à s u a p equ en a la r gu r a , m u it a s vezes s u a s t ir a s s ã o em en d a d a s . Ger a lm en te em a lgod ã o, tecid o em tea r m a n u a l, p r im eir a m en te foi im p or t a d o d a cos t a d a Áfr ica , o qu e p r ova velm en te exp liqu e a s u a d en om in a çã o. No s écu lo XVIII, Vilh en a (1 9 6 9 , v.1 , p .6 1 ) in d ica a im p or t a çã o d e p a n os d a cos ta or iu n d os d a Cos t a d a Min a n o va lor d e 4 :8 0 0 $ 0 0 0 (qu a t r o m ilh ões e oit ocen t os m il réis ), cor r es p on d en d o a cerca d e 1 0 % d o va lor d os es cr a vos im p or t a d os (4 9 0 :3 0 0 $ 0 0 0 – qu a t r ocen tos e n oven t a m ilh ões e t rezen tos m il réis). Posteriormente foi fabricado no Brasil, sendo o seu colorido uma criação afro-brasileira gr a ça s à in t r od u çã o d e n ovos cor a n tes . Nos p a n os d a cos t a a fr ica n os m a is a n t igos p r ed om in a o a zu l, os t on s s ã o s om b r ios e a m or tecid os (TORRE S , 1 9 5 0 , p .8 ). Ta m b ém a Inglaterra fabricou tecidos à imitação de panos da costa segundo os despachos pela Mesa da Ab er t u r a d a Alfâ n d ega (Diá rio d a B a h ia , S a lva d or , 0 9 m a io 1 8 3 3 , p .3 ) on d e s e lê qu e for a m arrolados “ 2 fardos com 56 pessas (sic) de riscados, à imitação dos pannos da Costa”. 85 Heloís a Tor r es (1 9 5 0 , f.4 0 -4 1 ) d eta lh ou a s for m a s d e u s o d o p a n o d a cos t a n o t r a je festivo, no traje diário, em atividade de trabalho (amarrado nos quadris) e em uso cerimonial d o cu lt o a orixá m a s cu lin o (a m a r r a d o n a a ltu r a d os s eios ). Na Ba h ia d o s écu lo XIX, Aga s s iz (1 9 3 8 , p . 1 2 1 ) já d es t a ca r a e d es crevera o u s o d o p a n o d a cos t a p ela s n egr a s , com en ta n d o qu e “a d ivers id a d e d e exp res s ões qu e ela s s a b em , p or a s s im d izer , t ir a r d a s d ifer en tes maneiras de usar esse chale é de fato surpreendente”. 86 Bamburro é termo de origem mandinga, significa trazer ao dorso (ESCOREL, 2000, p.133) 87 E s cor el (2 0 0 0 , p .9 2 ) cit a qu e a m u lh er colon ia l n ã o u s a va ch a p éu , qu e era exclu s ivo d a s prostitutas, entretanto reconhece a freqüência de registros iconográficos de mulheres negras com chapéus com as quitandeiras com chapéus de palha, como a mercadora da fig.11. 88 Ta m b ém n a Áfr ica , a p ós con t a t o com os eu r op eu s , o u s o d o s a p a t o t or n ou -s e d is t in tivo h ier á r qu ico. S egu n d o rela t o s eis cen t is t a d o p a d re Ca va zzi (apud E S CORE L, 2 0 0 0 , p .3 9 ), n a cor te con goles a , cr is t ia n iza d a d es d e o s éc.XV, “s ó à r a in h a e s u a s filh a s era p er m it id o u s a r s a p a t os , en qu a n to a s d a m a s d a cor te p od ia m ca lça r ch in ela s . Os p leb eu s , em s in a l d e respeito, deviam andar descalços”. 89 Referência à legenda “moça dançando o lundu de bunda a cinta” sobre a Bahia. 57 p ela s m u lh er es , es s a cin t a s er via p a r a p or t a r ob jet os 90 com o ca ch im b o 91 (fig.20), bolsas de moedas, chave e até amuletos (fig. 21). Fig.20 – Mu lh er n egr a . Alb er t E ck h ou t . Óleo s / tela , 1 6 4 1 . Acervo: National Museum of Denmark92. Fig.21 – Aqu a rela d e Ca r los J u liã o, s éc. XVIII. Acer vo Bib lioteca Na cion a l – RJ . Fon te: http://200.9.175.172/lc/port/hist_escravidao.html. Ha ver ia u m a s in gu la r id a d e ca r a ct er ís t ica d o t r a ja r d iá r io d a s n egr a s b a ia n a s ? Con for m e vis to, d ifer en t es t ip os fr eqü en t a va m a s r u a s . Ma s , segundo Debret (1940, t.1, p.222-223), a n egr a b a ia n a s e r econ h ece fa cilm en t e p elo s eu t u r b a n t e, b em com o p ela a lt u r a exa ger a d a d a fa ixa d a s a ia ; o r es t o d e s u a ves tim en t a s e com p õe d e u m a ca m is a d e m u s s elin a b or d a d a s ob r e a qu a l ela coloca u m a b a et a , cu jo r is ca d o ca r a ct er iza a fa b r ica çã o b a ia n a 93. A r iqu eza d a ca m is a e a 90 Algu m a s b a ia n a s d e a ca r a jé, a in d a em a t ivid a d e em S a lva d or , cos t u m a m t r a zer u m p a n o en r ola d o n a cin t u r a , on d e gu a r d a m o d in h eir o d e s eu ga n h o e ret ir a m o t r oco p a r a os clientes. Possivelmente um resquício do uso dessa cinta. 91 A p a la vr a ca ch im b o or igin a -s e d o id iom a qu im b u n d o kixima, qu e s ign ifica cois a oca (ALE NCAS TRO, 1 9 9 7 , p .6 2 ). Os ca ch im b os cer â m icos u s a d os p elos a fr ica n os s ã o com p r id os e m u itos exem p la r es t r a zem d iferen tes d ecor a ções , o qu e s egu n d o Agos t in i (1 9 9 8 ) s u ger em uma expressão de identidade étnica. 92 BE RLOWICZ, Bá r b a r a e ou t r os . Albert Eck h ou t volta a o B ra s il 1 6 4 4 -2002. Cop en h a gen : National Museet, 2002. p. 44. 93 E s s a b a et a , tecid o gr os s o d e a lgod ã o (DICCIONÁRIO p r á t ico illu s t r a d o. Por t o: Lello & Irmão editores, 1944. p.117), seria o pano da costa. 58 qu a n t id a d e d e jóia s d e ou r o s ã o os ob jetos s ob r e os qu a is s e expande a sua faceirice. É d ifícil p r ecis a r es s a d ifer en cia çã o, r econ h ecid a n a ép oca , s em m a ior es in ves t iga ções . Con t u d o, m a is uma vez, d ois elem en t os se d es t a ca m : o t u r b a n t e e o p a n o d a cos t a a lém d o gos t o p elos a d or n os com o jóias de ouro mesmo em atividades de trabalho diário. Fig.22 – Baiana. Gravura aquarelada, séc.XIX. Coleção Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b, p. 255. Fig.23 – Vendedora. Des en h o a qu a rela d o, Ba h ia , s éc. XIX. Col. La d y Ma r ia Ca llcot , Biblioteca Nacional – RJ94. A com p a r a çã o d o t r a je d iá r io d a s n egr a s e m u la t a s com a r ou p a d a s m u lh er es b r a n ca s t r a b a lh a d or a s n o Br a s il é d ificu lt a d a d evid o à fa lt a d e r efer ên cia s en con t r a d a s . A ú n ica fon t e icon ogr á fica loca liza d a foi for n ecid a p or Deb r et (fig.2 4 ). E m b or a r ep r es en t e d u a s m u lh er es b r a n ca s p ob r es trabalhando (t ecen d o r en d a e fia n d o) em a m b ien t e d om és t ico 95, a s s u a s r ou p a s a s s em elh a m -s e com a d a es cr a va d e p é ju n t o a ela s , p r in cip a lm en t e com r ela çã o à m u lh er b r a n ca m a is velh a . As p a r t icu la r id a d es d o t r a je d a n egr a es cr a va s ã o: o t or ço, o p a n o joga d o s ob r e o om b r o e a fa ixa a m a r r a d a na cintura. 94 95 http://international.loc.gov/cgi-bin/query/D?ascbrbib:25:./temp/~intldl_oBt5: É preciso considerar as diferenças dos trajes dos ambientes públicos e privados. 59 Fig. 2 4 – Fa m ília p ob re r ecolh en d o o p r od u t o d o t r a b a lh o d e velh a es cr a va ca r r ega d or a d e á gu a . J ea n -Ba p t is te Deb ret . Aqu a r ela , 1 8 2 7 . Fon te: MUS E US , 1994, p.117 Qu a n t o à s r ou p a s fes t iva s , exis t e t a m b ém a r ela çã o d os t r a jes d a s n egr a s b a ia n a s com as das t r a b a lh a d or a s p or t u gu es a s . É vis ível a s em elh a n ça con ceitu a l (semântica) e form a l (sintática), trocando-s e o xa le p elo p a n o d a cos t a , en t r e os t r a jes fes t ivos d a s n egr a s b a ia n a s e os d a s la vr a d eir a s p or t u gu es a s (fig.2 5 a 31) “d e d om in ga r ”, d e “m er ca r ” ou d e “ir à feir a ” e o d e lu xa r (COS TA e FRE ITAS , 1 9 9 2 , p .2 4 ). A oca s iã o d et er m in a o t r a ja r e en glob a o u s o d e a d er eços es p ecíficos . E xis tia m d ois t ip os d e t r a jes cr iou los 96 fes t ivos u s a d os p or a lgu m a s n egr a s e m u la t a s 96, qu e É p r ecis o con s id er a r o cu s t o d e u m d es s es t r a jes ela b or a d os , o qu e cer ta m en te n ã o era aces s ível p a r a t od a s a s n egr a s . Os t ecid os er a m m u it o d is p en d ios os . S egu n d o Mol (2 0 0 3 , p .6 9 ), “gr a n d e p a r te d os tecid os er a im p or t a d a d e p a ís es com o a Fr a n ça , In gla ter r a , It á lia , Hola n d a e Or ien te d e on d e s e t r a zia a s ed a , o m a d r a s t o e a lgod ã o”. S egu n d o a va liação r ecolh id a p or ela em in ven t á r ios m in eir os s etecen tis t a s o côva d o (6 6 cm ) d e a zu l fin o ferr ete va lia 4 $ 0 0 0 (qu a t r o m il r éis ), o côva d o d e velu d o cu s t a va 1 $ 8 0 0 (m il e oit ocen tos r éis ) e tecid os d e a lgod ã o m a is b a r a t os com o a b a eta t in h a m o p reço d e $ 4 2 0 (qu a t r ocen t os e vin te r éis ) p od en d o ch ega r a 1 $ 5 5 0 (m il qu in h en tos e cin qü en t a réis ) qu a n d o b a et ilh a ou b a et ã o es ca r la te. “Os tecid os d e a lgod ã o es t a m p a d o for a m u m d os m a iores n egócios d a ép oca , p r in cip a lm en te n o s écu lo XVIII” (FE RRE IRA, 2 0 0 1 , p .1 1 ). S er via m d e m oed a d e t roca n o t r á fico d e es cr a vos , a b a s tecia m os m er ca d os eu r op eu s e d a s colôn ia s . A in d ú s t r ia d e es t a m p a r ia p or t u gu es a , d iferen tem en te d a s d em a is gr a n d es n a ções eu r op éia s d a ép oca , s ó 60 d es en volver a m u m a cod ifica çã o vis u a l p r óp r ia : a r ou p a d e b a ia n a e o t r a je de beca97. Fig.25 – Fa t os via n en s es d e “d om in ga r ” e d e “luxar”, margem direita do Lima. Fonte: COSTA e FREITAS, 1992, p.30 Fig.26 – Rou p a d e “ou vir o s er m ã o d e fes t a ” d e la vr a d eir a r ica d e Meadela98. Fonte: idem, p.34 foi im p la n t a d a n a s egu n d a m et a d e d o s éc. XVIII, s en d o qu e já em 1 7 7 7 a s ch it a s portuguesas eram exportadas para o Brasil (idem, p.17). 97 E s s a s d en om in a ções s ã o u t iliza d a s p or Heloís a Tor r es (1 9 5 0 , f.2 9 ). Ra u l Lod y (1 9 8 8 , p.25-2 8 ) a d ot a va os term os t r a je d e cr iou la e t r a je d e b eca , a gor a for m a liza n d o a a m b os com o t r a jes d e cr iou la (2 0 0 3 , p .2 5 9 -2 6 0 ) os d es ign a com o r ou p a d e b a ia n a , es t a r d e s a ia ou ves t id a à b a ia n a em con tr a p os içã o à r ou p a d e ga la qu e s er ia o t r a je d e b eca ou b a ia n a d e beca. Maria Graham registrou o traje de baiana como holliday dress (fig.29 e 30). 98 Mea d ela é p ovoa d o d e Via n a d o Ca s telo, Dis t rit o d e Via n a d o Ca s telo (DICCIONÁRIO prático illustrado. Porto: Lello & Irmão editores, 1944. p.1566). 61 Fig. 2 7 - Gr u p o d e La vr a d eir a s d e Oliveir a d e Azem éis 99, qu e n o m u lt is s ecu la r mercado semanal, então ao domingo. Foto tirada no início do Século XX. Fonte: http://cidacos.servisoft.pt/postais/lavradeiras.htm Fig.28–Tr a je d e b eca . Cr eou la s d a Ba h ia Br a s il, s éc. XIX. Fon t e: Ar qu ivo Mu s eu Ca r los Costa Pinto.100 99 Fig.29– Rou p a d e b a ia n a . Holliday dress (Tr a je d e fer ia d o). Des en h o a qu a rela d o, s éc. XIX. Col. La d y Calcott, BN – RJ. 101 Dis t r it o d e Aveir o, a o n or te d e Por tu ga l (DICCIONÁRIO p r á t ico illu s t r a d o. Por t o: Lello & Irmão editores, 1944. p.1638). 100 A Bib lioteca d a Fu n d a çã o In s t it u to Fem in in o d a Ba h ia p os s u i u m exem p la r d es t a fotografia com a identificação “Folô e Chiquinha”. Notar a chinela com ponta à mourisca. 101 Fonte: http://international.loc.gov/cgi-bin/query/r?intldl/ascbrbib:@OR(@field(DOCID+ 62 O t r a je d e b a ia n a (fig.2 9 e 3 0 ) foi d es cr it o n o s écu lo XIX, em S a lva d or , por James Wetherell102 (1972, p.79-80) da seguinte forma: A p a r t e s u p er ior , a cim a d a s a ia , é feit a d e fin a m u s s elin a , lis a ou en feit a d a , a lgu m a s vezes t ã o t ra n s p a r en t e qu e m a l ch ega a d is fa r ça r o cor p o, d a cin t u r a p a r a cim a . A p a r t e qu e cob r e o b u s t o é b or d a d a com la r ga s r en d a s e p equ en os t u b os , lin d a m en t e t r a b a lh a d os , r eu n id os p or m eio d e u m a a b ot oa d u r a d e ou r o; es t a p a r t e s u p er ior d o ves t id o é s em pre t ã o folga d a qu e u m d os om b r os d a m u lh er fica qu a s e s em p r e in t eir a m en t e d es cob er to. A s a ia d o ves tid o é m u it o volu m os a , for m a n d o, qu a n d o coloca d a s ob re o s olo, u m cír cu lo com p let o; s u a or la é b or d a d a com r en d a ou leva u m a r a b es co b r a n co a p lica d o s ob r e a m es m a ; a s a ia d e b a ixo ta m b ém é b or d a d a com r en d a s . Os p és , s em m eia s , s ã o en fia d os em p equ en os s a p a t os qu e cob r em a p on t a d os d ed os e os s a lt os , m u it o a lt os e pequenos, não alcançam o calcanhar. Os braços são cobertos d e p u ls eir a s d e cor a l e d e ou ro, et c; o p es coço e o p eit o ca r r ega d os d e cola r es e a s m ã os d e a n éis (...) Um elega n t e p a n o d a cos t a é joga d o s ob r e o om b r o. (...) Um gr a n d e len ço d e r en d a b r a n co ou m u s s elin a d e cor , com u m a or la d e r en d a b r a n ca ou p r et a , e t r a n s for m a d o d a m a n eir a m a is elega n t e n u m t u r b a n t e p a r a a ca b eça , e cu r ios os b rin cos com p let a m es s e ves t u á r io. (...) Um a p equ en a ces t a , u s a d a m a is com o a d or n o d o qu e com o ob jeto d e u s o, é p or vezes ca r r ega d a n a cabeça. @lit(ascbr000026))) 102 E xt rem a m en te ob s er va d or , J a m es Weth erell (1 8 2 2 -58) foi vice-côn s u l in glês h on or á r io em S a lva d or p or 1 5 a n os , en t re 1 8 4 2 e 1 8 5 7 , d eixa n d o p recios o regis t r o es cr it o s ob r e o período. 63 Fig.30 – Tr a je d e b a ia n a . Hollid a y d res s –Traje d e fer ia d o. Des en h o a qu a r ela d o, s éc. XIX. Col. Lady Calcott, Biblioteca Nacional – RJ.103 Fig.31 – Tr a je d e b eca . Ret r a t o d e b a ia n a . G.Ga en s ly. Fot ogr a fia (ca r t ã o p os t a l), d ec. 1 8 8 0 . Col. Pa r t icu la r . Fonte: ARAÚJO, 2002, p.139. O t r a je d e b eca 104 er a d e u s o m a is r es t r it o, cer im on ia l, d e s olen id a d es com o a s p r ocis s ões r eligios a s e a qu a r es m a , en qu a n t o o t r a je d e b a ia n a er a com o u m t r a je d om in gu eir o, d e ir à m is s a . O t r a je d e b eca (fig.2 8 e 3 1 ) con s is t ia em t or ço d e s ed a b r a n ca en feit a d o d e fin ís s im o b ico con d izen t e, qu e p od ia t a m b ém s er em gor gor ã o p r et o; ca m is a s b r a n ca s em t ecid o fin ís s im o, p r im or os a m en t e b or d a d a s , de m a n ga s cu r t a s , d ecot e a r r ed on d a d o a la r ga d o e p ou co p r ofu n d o; s a ia s d e b eca d e t ecid o p r et o 105 p lis s a d o d e com p r im en t o a t é os tor n ozelos ; a n á gu a s ; len ço d e ca m b r a ia b or d a d a p os t o n a cin t u r a ; p a n o p r et o, p os s ivelm en t e p a n o d a cos t a , u s a d o com o xa le; s a p a t in h a s d e p elica b r a n ca com en feit es d e s ed a , d e b iqu eir a r evir a d a p a r a cim a à m or is ca e s a lt o d e ca r r et el; e u m a p r ofu s ã o d e jóia s como grossas correntes de ouro no colo, braceletes cobrindo os punhos e os 103 Fonte: http://international.loc.gov/cgi-bin/query/r?intldl/ascbrbib:@OR(@field (DOCID+ @lit)) 104 No tes t a m en t o d a t a d o d e 2 6 / 0 5 / 1 8 2 6 , d a a fr ica n a for r a E u gên ia Ma r ia d o S a cr a m en to, natural da Costa da Mina, no arrolamento de suas roupas há uma referência “a minha Beca d e velu d o” (APE B, Livr o d e Regis t r o d e Tes t a m en t os n º 1 3 , 1 8 2 6 , fls .6 3 ). Ta m b ém Vilh en a (1 9 6 9 , p .5 4 ), s ob r e a Ba h ia s etecen t is t a fa z r eferên cia a “m u la t a s , e p reta s ves t id a s com r ica s s a ia s d e cet im , b eca s d e lem is te fin ís s im o”. E J oã o d a S ilva Ca m p os (2 0 0 1 , p .3 1 3 ), n a primeira m eta d e d o s éc. XX cit a “As n egr a s , en t ã o, exib ia m s a ia s d e b eca , p lis s a d a s à m ã o!” como as retratadas na fig.28. 105 Con for m e in d ica d o n a n ot a 8 6 , o t ecid o d a s s a ia s d e b eca p od ia s er velu d o ou lem is te (pano preto e fino de lã). 64 a n t eb r a ços a t é a a lt u r a d os cot ovelos 106. O u s o d e a ces s ór ios com o o guarda-ch u va a p a r ece em a lgu m a s r ep r es en t a ções icon ogr á fica s n os t ra jes fes t ivos , t a n t o p a r a o t r a je d e b eca (fig.2 8 ) com o p a r a o t r a je d e b a ia n a (fig. 29 e 30), sendo visto também em uso pelo grupo de lavradeiras portuguesas de Oliveira de Azeméis (fig.27). Con for m e a d es cr içã o d e Ca m p os (2 0 0 1 , p .3 1 3 ) s ob r e a p r ocis s ã o d a Ir m a n d a d e d e S ã o Ben ed it o, n a p r im eir a m et a d e d o s éc. XX, a r ou p a d e b eca er a u s a d a p ela s m u lh er es d a s ir m a n d a d es n egr a s , com p on d o os cor t ejos p r oces s ion a is com a s cor es e in s ígn ia s d e s u a s or d en s . As ú n ica s m u lh er es a in d a a con s er va r es s a vis u a lid a d e s ã o a s d evot a s d a Ir m a n d a d e de Nossa Senhora da Boa Morte (fig.32), de Cachoeira, Bahia, que envergam o traje de beca e as jóias de crioulas durante a festividade de sua padroeira, realizada anualmente no mês de agosto. Fig.32 - S ér ie As Da m a s d a Boa Mor te. Ad en or Gon d im . Fot ogr a fia , década de 1990. Col. Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b, p.505. 106 Des cr içã o s egu n d o fon tes icon ogr á fica s e regis t ros d e QUE RINO, 1 9 8 8 , p .2 2 7 ; CAMPOS, 2001, p.313; LODY, 1988, p.26; AVÉ-LALLEMANT, 1961, p.46; TORRES, 1950, f.20-27. 65 Qu a n t o a os a d er eços , p r óp r ios d os t r a jes fes t ivos , p r in cip a lm en t e n o t r a je d e b eca (fig.2 8 e 3 1 )107, a m a ior ia d os a u t or es con s u lt a d os ca r a ct er iza a joa lh er ia cr iou la b a ia n a com o u m a s in gu la r id a d e n o Br a s il. S egu n d o eles , u n ica m en te n a Ba h ia h a via jóia s es p ecifica m en t e con feccion a d a s p a r a u s o das negras e mulatas. Todos os exemplares existentes em Museus108 trazem sua origem atribuída à Bahia dos séculos XVIII e XIX. Elas diferem das jóias d a s s en h or a s b r a n ca s 109 qu a n t o à d im en s ã o, p es o, qu a lid a d e d o m a t erial, for m a t o e d ecor a çã o. As jóia s d e cr iou la s (fig.3 3 e 3 4 ) s ã o d e m a ior es p r op or ções , em b or a qu a s e s em p r e s eja m oca s , em s u a m a ior ia em ou r o, p r ofu s a m en t e d ecor a d a s e u s a d a s em qu a n t id a d e (p r ofu s ã o 110 d e cola r es , a n éis em t od os os d ed os , m u it a s p u ls eir a s ). Há u m a t ip ologia d a s jóia s d e cr iou la : cor r en t ã o de cr iou la , cola r es de a lia n ça ou gr ilh ões (MACHADO,1 9 7 3 , p .8 0 ), p u ls eir a cop o 111, p u ls eir a d e p la ca s , la r gos p en t es , a b ot oa d u r a s , b r in cos 112 e a b ot oa d u r a s em r os et a s . No qu e s e r efer e à d ecor a çã o, não t r a zem elem en t os a fr ica n os , evoca m figu r a s gr eco- romanas113 e eu r op éia s , or n a m en t os fit om or fos , efígie d e D. J oã o VI, D. Ped r o I e D.Ped r o II. Há m u ito t r a b a lh o em filigr a n a n a s p u ls eir a s e n a s b ola s d it a s con feit a d a s 114 d os cor r en t ões . E s t e s e a s s em elh a à joa lh a r ia 107 Na figu r a 1 0 , a n egr a u s a cor r en tões d e cr iou la , em b or a s e vis t a com ves t id o d e s en h or a branca, à moda européia. 108 E xis tem jóia s d e cr iou la s n a s coleções d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o, Mu s eu d e Ar te d a Bahia, Fundação Instituto Feminino da Bahia, Museu Histórico Nacional e Museu Imperial. 109 As jóia s d a s s en h or a s b r a n ca s ger a lm en te t r a zem p ed r a r ia e p r im a m p ela d elica d eza , ao es t ilo d a s elites eu r op éia s d a ép oca . A com p a r a çã o d a s jóia s d e cr iou la s e jóia s d e s en h or a s b r a n ca s p od e s er vis t a n a s fig.9 e 1 0 . Nã o for a m en con t r a d a s r eferên cia s com r ela çã o à s jóias usadas pelas mulheres brancas da classe trabalhadora no Brasil. 110 E s s a p r ofu s ã o é ca r a cter ís t ica ta m b ém d a vis u a lid a d e d a s m u lh er es p or t u gu es a s lavradeiras em trajes festivos (fig.26). 111 Pulseira tipo bracelete cilíndrico que assemelha-se formalmente a um copo. 112 “Os b r in cos , ou m elh or , ‘a s a r gola s ’, com o er a m con h ecid os , er a m gu a r n ecid os d os m a ter ia is m a is d iver s os : a s á ga t a s r os a d a s d o Pa r a gu a çu , a s t u r qu es a s or ien t a is , a s cor n a lin a s , os lá p is -la zú li, a t a r t a r u ga , a s a ven tu r in a s , con h ecid a s com o p ed r a -de-orives, asas de besouro, guarnecidas de ouro, caramujos, etc.”(MACHADO, 1973, p.80) 113 Pr ová vel in flu ên cia d a s es ca va ções d e Her cu la n o e Pom p éia , cid a d es r om a n a s s oter r a d a s p ela er u p çã o d o vu lcã o Ves ú vio em 7 9 d .C, o gr a n d e a ch a d o a r qu eológico d e m ea d os d o séc.XVIII, inspirador do estilo Neoclássico (JANSON, 1984, p.559-560). 114 E m Por t u ga l ch a m a m -s e con t a s d e Via n a , cu jo n om e t r a d icion a l é con t a s d e “olh o d e perdiz” (SOUSA, 1999, p.252). 66 p op u la r p or t u gu es a a in d a exis t en t e n o n or t e d e Por t u ga l. O cor a l ver m elh o aparece em colares e pulseiras sob a forma de cilindro115. Fig.33 – J óia s d e cr iou la em ou r o: cor r en t ã o, p u ls eir a t ip o cop o e p u ls eir a d e p la ca s . Ba h ia , s éc. XVIII e XIX. Acer vo Mus eu Ca r los Cos t a Pin t o. Foto: S a u lo Kainuma. Fig.34 – Crioula. Lindermann. Fotografia. Bahia, 1905-1910. Col. Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b, p.144 A fot o foi color iza d a p a r a d es t a ca r o u s o das jóias de crioulas. Além d e jóia s , a s n egr a s e m u la t a s u s a va m u m a va r ied a d e d e s ign os mágicos. 1.5. O uso de signos mágicos Vin cu la d os ou n ã o a p r á t ica s r eligios a s , com o er a p os s ível a exis t ên cia e u s o d e s ign os m á gicos n u m a s ocied a d e for ja d a e d om in a d a p ela Igr eja Católica? O ca t olicis m o oficia l, d efin id o p ela t eologia e p elo d ir eit o ca n ôn ico, n u n ca exis t iu . E xis tem s is t em a s con cr et os , con s tit u íd os p or u m a cer t a im p r egn a çã o cr is t ã d e vá r ia s civiliza ções . Ma s o cr is t ia n is m o p u r o, oficia l, n ã o exis te. Nem 115 Na s jóia s d a s s en h or a s e cr ia n ça s b r a n ca s o cor a l ger a lm en te a p a rece em r a m a (for m a n a t u r a l) en qu a n t o é u s a d o p elos n egr os em con ta s , à m a n eira d a Cos t a d a Min a (PAIVA, 2001, p.517). 67 os p r óp r ios clér igos o vivem . A d ifer en ça en t r e o ca t olicismo d os clér igos e o ca t olicis m o p op u la r con s is te a p en a s n is s o: qu e os clér igos im a gin a m qu e o s eu cr is t ia n is m o é p u r o e o ú n ico ver d a d eir a m en t e a u tên t ico, en qu a n t o os ou t r os n ã o t êm p r ob lem a d e or t od oxia n em d e a u t en t icid a d e. Na r ea lid a d e exis t em a p en a s d ifer en t es s is t em a s d e t r a d u çã o d o cr is t ia n is m o em con d ições con cr et a s d e vivên cia h u m a n a . As for m a s p op u la r es m erecem t a n to r es p eito qu a n t o a s for m a s oficia is . A con ver s ã o a o cr is t ia n is m o n ã o s e fa r á p or im p os içã o a t od os d e u m cr is t ia n is m o oficia l d efin id o a p r ior i p elos clér igos , m a s s im p elo con t a t o r en ova d o com o eva n gelh o qu e ca d a u m fir m e d en t r o d a s s u a s p róp r ia s es t ru t u r a s (COMBLIN apud HOORNAERT, 1991, p.29) S egu n d o Ma t os o (1 9 9 2 , p .3 9 0 ), “os h is t or ia d or es d a Igr eja d efin em o ca t olicis m o t r a zid o a o Br a s il p ela colon iza çã o com o leigo, s ocia l, fa m ilia r e medieval” e dentro deste último aspecto cita a crença no poder dos espíritos do mal, que levava a práticas de feitiçaria. No im a gin á r io p op u la r oit ocen t is ta , er a b a s t a n t e a r r a iga d a a cr en ça d e qu e a s d oen ça s p os s u ía m n a t u r eza s ob r e-humana, a o s er em p r ovoca d a s , p or exem p lo, p ela feit iça r ia ou p ela a çã o d e u m m a u olh a d o. Molés t ia s e s or t ilégios es t a va m d ir et a m en t e r ela cion a d os e, m u it a s vezes , con fu n d ia m -se, p os t o qu e o p r óp r io feit iço er a con s id er a d o u m a d oen ça ca p a z d e s er com b a t id a com a in ges t ã o d e m ezin h a s a p r op r ia d a s . O mau-olh a d o er a con s id er a d o ext rem a m en t e n ocivo, s ob r et u d o às crianças, e resultava no terrível quebranto: uma doença que d es p er t a va p r ofu n d a s a n gú s t ia s , u m a vez qu e er a con s id er a da ca p a z d e p r ovoca r a m or t e d os in ocen tes . O r em éd io con t r a os m a les a d vin d os d o m a u -olh a d o er a a s s egu r a d o p elo u s o d e a m u let os e p ela s b en zed u r a s ; p or t a n t o, a cu r a e a p r ofila xia con t r a s em elh a n t es en fer m id a d es n ã o es t a va m n a s m ã os d os médicos (SOARES, 2001, p.419-420) S ob o cu lto à s s a gr a d a s r elíqu ia s 116 e a d evoçã o p es s oa l a u m s a n t o, a r eligios id a d e ca t ólica p op u la r viven cia va p r á t ica s m á gica s , d it a s s u p er s t içã o, on d e er a com u m o u s o d e a m u let os (s ign os m á gicos d e p r ot eçã o) e t a lis m ã s (s ign os m á gicos p r op icia t ór ios ). Com es s a in t en çã o er a m u s a d os a gn u s d e i117, m ed a lh a s , figa s , b en t in h os (es ca p u lá r ios ) e a t é 116 Beth en cou rt (2 0 0 4 , p .1 4 6 ) con s id era a s r elíqu ia s com o “a m u let os con s a gr a d os p ela Igreja”. 117 Agn u s d e i s ign ifica liter a lm en te “cor d eir o d e Deu s ” (VAINFAS , 1 9 9 7 , p .7 7 ). É u m m ed a lh ã o feit o com a cera d a s vela s d a Ba s ílica d e S ã o Ped r o a p ós a Qu a r es m a , qu e o p a p a consagra e em que se vê o Cordeiro Pascal (SANTOS e SILVA, 1998, p.138). As Constituições 68 m es m o o r os á r io, cr u zes e cr u cifixos 118. Pod er os os cu r a n d eir os a t u a va m n a cid a d e, s u p la n t a n d o os in cip ien t es e p a r cos r ecu r s os d e u m a m in or ia m éd ica exis t en t e. Os oficia is b a r b eir os , qu e a t u a va m t a m b ém com o cir u r giões (fig.3 5 ), er a m qu a s e s em p r e n egr os e m u la t os (S OARE S , 2 0 0 1 , p .4 0 9 ). Reza s , er va s , s a n gr ia s , a p lica çã o d e ven tos a s , feit iços e a ven d a d e amuletos de proteção e talismãs propiciatórios faziam parte de suas funções (DE BRE T, 1 9 4 0 , t .1 , p .2 6 8 -9). E s s a s p r á t ica s com u n ga r a m com a s vá r ia s t r a d ições d os n egr os , h a ven d o d e a m b os os la d os in cor p or a ções a o a r s en a l mágico. Fig. 3 5 – O Cir u r giã o n egr o. Deb ret , s éc.XIX. Fon te: KARAS CH, 2000, p.414/415 Pa r a S ou za (1 9 9 9 , p .1 5 ), a feit iça r ia n o Br a s il, qu e s e a cr ed it a va p er s is t ên cia d e p r á t ica s a fr ica n a s , d izia r es p eit o a u m s u b s t r a t o com u m t a m b ém à feit iça r ia eu r op éia . Recor r ia -s e com n a t u r a lid a d e à m a gia n o universo cristão. Esses costumes só eram identificados como crimes contra a fé, d es vios d o Ritu a le Rom a n u m , a p a r t ir d a a çã o d os m eca n is m os d e p od er d a Igr eja com o a In qu is içã o. “Nã o a p en a s r ú s t icos va qu eir os e t a b a r éu s d o p r im eir a s d o Ar ceb is p a d o d a Ba h ia (1 8 5 3 , p .1 0 ) or ien ta m s u a con fecçã o s egu n d o “o m ot o proprio (sic) do Papa Gregório XIII”. 118 No Rein o d o Con go, qu e a d otou o Cr is t ia n is m o com o religiã o oficia l n o s éc. XV p or con ven iên cia s p olít ica s e econ ôm ica s , os s ím b olos cr is t ã os er a m id en t ifica d os com o nkisi, ter m o qu icon go p a r a d es ign a r t od o ob jeto m a teria l qu e p os s u a for ça es p ir it u a l, s en d o a s cr u zes , cr u cifixos , r os á r ios u s a d os com o p r oteçã o con t r a feitiça r ia e p a r a d a r s or t e (DIAS , 1992, p.277-279) 69 s er t ã o, d evot os d os d is p u t a d os p a t u á s e b ols a s d e m a n d in ga , m a s t a m b ém d ou t os s a cer d ot es r ein óis r es va la va m n es t e t er r en o d ú b io qu e s ep a r a a s d evoções a p r ova d a s d a qu ela s con s id er a d a s d elit u os a s ” (MOTT, 1 9 9 7 , p .1 9 6 ). Mu itos d es s es h á b it os for a m r egis t r a d os a t r a vés das p r es cr ições e condenações119. As Con s t itu ições Pr im eir a s d o Ar ceb is p a d o d a Ba h ia , ela b or a d a em 1 7 0 7 e p u b lica d a em 1 7 1 9 , or ien ta va qu a n t o a o cu lt o d a s S a n t a s Relíqu ia s e S a gr a d a s Im a gen s (Livr o I, Tít u lo VIII)120, p r ocis s ões (Livr o I, Tít u lo XIII)121 e t r a zia o Livr o qu in t o es p ecia lm en t e p a r a “Do cr im e d e h er es ia , b la s fêm ia , feit iça r ia e s u p er s t ições ”122. As p en a s p a r a a s p r á t ica s m á gica s va r ia va m d a “ex-com m u n h ã o (s ic) m a ior ip s o facto”123 p a r a os s a cer d ot es , p en it ên cia p ú b lica , p en a p ecu n iá r ia e d egr ed o p a r a a Áfr ica (CONS TITUIÇÕE S ..., 1 8 5 3 , p .3 1 4 ). Os a ler t a s s ã o p a r a o p a ct o com o d em ôn io, u s o m á gico d e ob jet os s a gr a d os ou b en t os 124, Cor p or a es 125, con s u lt a a feit iceir os , u s o d e feit iça r ia , p a la vr a s 126(s ic), ca r t a s d e t oca r 127, bebidas amatórias128, advinhações, benzeduras a pessoas e animais. Pa r a o Br a s il vier a m d iver s a s t r a d ições r eligios a s . A p a r t ir d e m ea d os d o s éc.XVI in iciou -s e a d iá s p or a d os n egr os , d e d ifer en t es et n ia s , en via d os com o es cra vos a t é o s éc.XIX. E , d es d e o s écu lo XVII, for a m d egr ed a d os p a r a o Brasil, em caráter permanente, os criminosos da fé129 como 119 S ou za (1 9 9 9 , p .1 5 7 ) com en t a qu e n o t ít u lo III d a s Or d en a ções Filip in a s , n a p r oib içã o à s p r á t ica s a d ivin h a t ór ia s , cit a -s e a p r á t ica com o u s o d e b a la io e tes ou r a , ch a ve e livr o d e horas de Nossa Senhora. 120 (CONSTITUIÇÕES, 1853, p.9-10). 121 (idem, p.191) 122 (idem, p.311) 123 “como resultado da evidência do fato” (HOUAISS, 2001) 124 Há es p ecia l d es t a qu e p a r a a p ed r a a r a , “p ed r a s a gr a d a d o cen t r o d o a lt a r d a s igr eja s ” (VAINFAS , 1 9 9 7 , p .1 1 2 ), u s a d a em b ols a s d e m a n d in ga e p oções m á gica s . Ha via t a m b ém p r á t ica s m á gica s com im a gen s s a cr a s . Con for m e S OARE S (1 9 9 3 , p .9 -1 0 ), a s Con s t it u ições s in od a is d o Ar ceb is p a d o d e Br a ga d e 1 6 3 9 con d en a va m o fu r t o d e im a gen s d a s igr eja s p elos d evotos “p a r a a s leva r p a r a a s s u a s ca s a s d izen d o qu e n ã o a s tr a r ia m s e lês n ã o d es s em s a ú d e n a s s u a s en fer m id a d es ou s e n ã o fizes s em a p a r ecer cois a s p er d id a s ou fu r t a d a s , ch ega n d o a o ext rem o d e a s p r en d erem com fit a s e a t a d u r a s p ed in d o fia d or e com ele os d eixa r em la n ça r à á gu a , com eten d o a s s im s a cr ilégios con t r a es s es s a n tos e con t r a Deus”. 125 Referem-se aos líquidos corporais usados em feitiços como sangue, urina e sêmen. 126 As palavras referem-se à prática invocatória. 127 As ca r t a s d e t oca r er a m t a lis m ã s a m or os os , ca r t a s es cr it a s “à s qu a is a t r ib u ía m o p od er de conquistar todas as pessoas que por elas fossem tocadas” (VAINFAS, 1997, p.143) 128 Filtros de amor. 129 De a cor d o com o Cód igo Ph ilip p in o (1 8 7 0 , p .1 1 5 1 ) Livr o 5 , t ít u lo 3 , d en om in a d o Dos Fe itice iros , d es critos com o in voca d ores , a d iv in h os , n ecrom a n tes , fa z ed ores d e feitiços d e 70 cr is t ã os n ovos , ju d eu s , m ou r os 130 e s ob r et u d o con d en a d os p or feit iça r ia , vis ões , a r t es m á gica s , s or t ilégios d os m a is va r ia d os , r it u a is fr u t os d a coexis t ên cia étn ica qu e d es d e o in ício d a Id a d e Méd ia m a r cou a h is t ór ia d a Pen ín s u la Ib ér ica , h a b it a d a p ela s m a is va r ia d a s m in or ia s étn ica s : ib eros , celt a s , it á licos , visigodos, judeus e mouros (SOUSA JUNIOR, 1999, p.3). Dia n t e d es s e in t r in ca d o e com p lexo qu a d r o cu lt u r a l, com p os t o p or u m a d iver s id a d e d e t r a d ições , or iu n d a s d e et n ia s t ã o d ifer en t es , s u r gir a m p r á t ica s cr iou la s m a r ca d a m en t e s in cr ét ica s . Des s a for m a , s u ced eu a d in â m ica d a m u t a çã o cu lt u r a l, n u m p r oces s o d e r es s em a n t iza çã o s ígn ica . Segundo Vasantkumar (apud CANEVACCI, 1996, p.21), o s in cr et is m o ocor r e p or qu e os s er es h u m a n os n ã o a ceit a m a u t om a t ica m en t e os n ovos elem en t os ; eles s elecion a m , m od ifica m e r ecom b in a m it en s n o con t ext o d o con t a t o cultural. Os r it u a is e s ign os m á gicos “d em on s t r a m u m a gr a n d e p la s ticid a d e e s in cr et is m o, m old a n d o-s e com fa cilid a d e à s n eces s id a d es e a s p ir a ções d e d ifer en t es ca m a d a s s ocia is ” (BE THE NCOURT, 2 0 0 4 , p .9 5 ). Mu itos d es s es signos, como a figa e o signo Salomão131, eram tanto conhecidos e usados na África como na Europa desde a Antiguidade132. O com ér cio d e s ign os m á gicos er a b a s t a n t e lu cr a t ivo. A p r óp ria Igr eja er a u m a d a s gr a n d es in cen tiva d or a s e for n eced or a s d es t es 133. Con for m e amor. Os b en zed eir os era m en via d os p a r a a Áfr ica e s en d o m u lh eres , ia m p a r a Ca s t r oMarim, no Algarve, Portugal, por um período de 2 a 3 anos (idem). 130 Os ciga n os t a m b ém in tegr a va m es s e gr u p o d e d egr ed a d os p a r a o Br a s il d es d e o s éc. XVI. De or igem ib ér ica , ter ia m emigrado a n ter ior m en te d a Tu r qu ia e Grécia , a t r a vés d o Ma r Mediterrâneo e norte da África (REZENDE, 2000, p.50). 131 O s ign o S a lom ã o con h ecid o t a m b ém com o S ign u m S a lom on is , s in o-s a im ã o, tem a for m a de um pentagrama ou estrela de cinco pontas. Segundo a tradição portuguesa, esse amuleto “livr a d e qu eb r a n t o (ca u s a d o p or m a u -olh a d o), d e b r u xed o ou b r u xa r ia , d e feit iça r ia (‘p a r a a s feit iceir a s n ã o m oles ta rem a s cr ia n ça s ’), d e a cçã o d o Dia b o e d e qu a lqu er ‘cois a r u im ’, determinada ou indeterminada” (VASCONCELOS, 1996, p.79). 132 An tes d o con t a to fr u t o d a exp a n s ã o eu r op éia d o s éc.XV, m u it a s ou t r a s rela ções comerciais e culturais já haviam sido estabelecidas pelos povos africanos com os europeus e or ien ta is . Gior d a n i (1 9 8 5 , p .1 5 0 ) a p on t a im p or t a n tes r ot a s com er cia is n a Áfr ica , en volven d o a regiã o t r a n s a a r ia n a , o Or ien te Pr óxim o, Áfr ica Cen t r a l e Au s t r a l e o lit or a l d o Ocea n o Ín d ico. O com ér cio s e in ten s ificou com a exp a n s ã o is lâ m ica in icia d a n o s éc. VII, qu e u n ificou p ovos d a Áfr ica , Ás ia e E s p a n h a n u m a m es m a fé, a b r in d o-s e m a is r ot a s com er cia is (idem, p.151). 133 “A Igr eja , com a s m elh ores in ten ções m a s leva d a p or u m a p olít ica equ ívoca , logo s a n cion ou es t a s cois a s , a cr es cen ta n d o-a s ca d a vez m a is . S eu s tem p los con s t it u em u m 71 E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 8 5 ), “em t od a s a s fes t a s os a m u let os con s tit u em u m a r t igo fu n d a m en t a l d a m er ca d or ia ecles iá s t ica ” e cit a en t r e eles a ven d a d e m ed id a s d e s a n t os 134, b en t in h os , figu r a s d e s a n t os , im a gen s p or t á t eis , m ed a lh a s d os s a n t os e d o Pa p a , cr u zes , cr u cifixos , et c (idem, p .1 8 5 -188). Para garantir esse mercado e prejudicar a concorrência, a Igreja alertava que ou t r os p r egã o s em licen ça , b en zem a gen t e, ga d os , e ou t r os a n im a es , p on d o s ign a es n os qu e b en zem ; d ã o r elíqu ia s , Imagens, nominas135, Agnus Dei, e outras cousas semelhantes, t ir a n d o o d in h eir o, e es m ola s com es t a s in ven ções fa ls a s , e com es câ n d a lo e p er t u r b a çã o d os p ovos (CONS TITUIÇÕE S , 1873, p.307). Ha via uma r ed e com er cia l, d ir ecion a d a a os a fr ica n os e s eu s descendentes, qu e a b a s t ecia o m er ca d o b r a s ileir o d e p r od u t os d e vá r ia s p a r t es d o m u n d o com o a s con ch a s ca u r i136 d o ocea n o Ín d ico, o cor a l137 do Mediterrâneo e as contas de vidro138. Segundo Rodrigues (1988, p.105), é com os n a gôs qu e s e m a n t in h a m comercia is d ir et a s com a Cos t a d ’Áfr ica . a in d a h á p ou co t em p o via gen s , 3 a 4 Neles qu a s e s em p r e vin h a m n a gôs a s n os s a s rela ções Na vios d e vela fa zia m p or a n o, p a r a La gos . n egocia n t es , fa la n d o m er ca d o p a ra ela s e s eu s m in is t r os gr a n d es n egocia n tes . Pod er os o e p od e-s e d izer qu e p r oveit os o m eio d e m a n ter o d om ín io s ob r e os p ob r es d e es p ír it o, ela m a n tém gr a n d e p a r te destas invencionices” (EWBANK, 1976, p.185). 134 “Estas são fitas, cortadas pelos sacerdotes, no exato comprimento ou altura das imagens, inscrevendo-se elas seus nomes. Usadas em torno da cintura, bem junto ao corpo, removem d ores , d oen ça s e a lém d is t o, execu t a m a s von t a d es d e qu em a s leva . As m u lh eres h a b it u a lm en te u s a m a d os s a n t os d o s exo d ela s , em b or a u s em à s vezes a s d e S a n t o Antônio, São Brás e São Gonçalo” (EWBANK, 1976, p.185). 135 Nôm in a é u m a “b ols a con ten d o a m u letos ” (BE THE NCOURT, 2 0 0 4 , p .3 7 2 ), m u it a s vezes guardava orações manuscritas ou impressas, daí sua denominação. 136 O ca u r i er a a p r in cip a l m oed a d e t roca d a Áfr ica ocid en t a l. S egu n d o Dia s (1 9 9 2 , p .1 5 0 ), “u m d os p r in cip a is m ot ivos d e os ca u r is , e t a lvez ou t r a s con ch a s , s erem va lor iza d os com o m eio d e t r oca p od e ter s id o a cren ça n a s u a or igem s ob r en a t u r a l. Referên cia s m ís t ica s d e os ca u r is d es cen d erem d os céu s ocor rem , p or exem p lo, en t re os p ovos E we d a Nigér ia ”. E r a u s a d o com o t a lis m ã , p r in cip a lm en te p elos Yor u b a qu e a t r ib u ía m a es s a s con ch a s qu a lid a d es m á gica s p r op icia t ór ia s “qu e fa vorecia m a fer t ilid a d e e a lon gevid a d e” (idem, p.151). 137 “O cor a l er a p a r t icu la r m en te a p recia d o n o Ben in , on d e cola r es cer im on ia is d e qu in ze a vin te fios d e con t a s d e cor a l fa zia m p a r te d a s in s ígn ia s rea is qu e figu r a m cla r a m en te em numerosas cabeças de bronze” (DIAS, 1992, p.153). 138 As con t a s , u s a d a s com o a m u letos d e p r oteçã o ju n t o a o cor p o, ger a lm en te er a m d ed ica d a s a vá r ia s en t id a d es , s egu n d o a s u a color a çã o, con for m e a in d a em u s o n o Br a s il p elos s egu id ores d o ca n d om b lé d e vá r ia s lin h a s . E s s a s con t a s d e vid r o, era m p r oven ien tes d e Ca m b a ya n (Ín d ia ), d e fa b r ica çã o loca l a fr ica n a e d e Ven eza , “p r in cip a l fon te d a s con t a s de vidro importadas pela África Ocidental muito antes do século XV” (DIAS, 1992, p.153). 72 ior u b a n o e in glês , e t r a zen d o n oz d e cola 139, cawris (sic), objetos de culto jeje-iorubano, sabão, pano da Costa, etc. E s s es com er cia n t es 140, a fr ica n os livr es , for n ecia m p r od u t os à com u n id a d e a fr ica n a e cr iou la , r ea t iva n d o la ços a fet ivos , r eligios os e cu lt u r a is com a Áfr ica n o Bra s il (S ILVA, 2 0 0 3 , p .1 6 0 ). Ha via t a m b ém a produção nativa como a das bolsas de mandinga. A b ols a d e m a n d in ga er a u m a d es ign a çã o colon ia l d os p a t u á s , con h ecid a t a m b ém com o gris-gris141. E s s e a m u let o m a lê 142 d e p r ot eçã o, u s a d o em volt a d o p es coço, er a b a s t a n t e p op u la r n ã o s ó en t r e os muçulmanos143. Com p r een d ia folh a s d e p a p el es cr it a s com p a s s a gen s d o Cor ã o e r eza s for t es , d ob r a d a s r it u a lm en t e a t é fica r em com t r ês a cin co cen t ím et r os , e coloca d a s d en t r o d e p equ en a s b ols a s d e cou r o ou p a n o cos t u r a d a s (RE IS , 2 0 0 3 , p .1 8 3 ). As s em elh a va m -s e com b en t in h os , a m u let os ca t ólicos . Algu n s exem p la r es os b r eves ou b a ia n os , com o os r ecolh id os n a r evolta d os m a lês d e 1 8 3 5 , in cor p or a va m em s u a es cr it a trechos bíblicos e elementos como pós e búzios (idem, p.184). As s im , h a via n a s r u a s u m a gr a n d e va r ied a d e d e ofer t a d e p r od u t os com er cia liza d os com o ilu s t r a a p r es en ça d iá r ia d o ven d ed or a m b u la n t e d e 139 Conforme o HOUAIS S (2001), a n oz-de-cola é a “s em en te d a s p la n t a s d o gên ero Cola, espécie de Cola a cu m in a ta , qu e en cerr a a lca lóid es com o a ca feín a e a teob r om in a , u s ado com o t ôn ico, em refr iger a n tes , n os qu a is a for m a s in tét ica é m a is em p regada, e especialmente com o m a s t ica t ór io; a b a já , ca fé-do-s u d ã o, cola , m u k ezu , ob i, or ib i, or ob ó, orobô”. No Br a s il, é con h ecid a com o ob i, “fr u t o m u it o u s a d o em oferen d a s e r it os religios os ” (CAS TRO, 2 0 0 1 , p .2 9 9 ). S egu n d o Ka r a s ch (2 0 0 0 , p .3 5 2 ), “a s n egr a s velh a s (líd eres religiosas?) especializavam -se em fazer o amuleto de obi para afastar o mal e o mau-olhado”. 140 Algu n s d es s es com er cia n tes fixa va m -s e n o Br a s il t r a fica n d o es cr a vos , a zeite d e d en d ê, n oz d e cola , s a b ã o e p a n o d a cos t a p or t a b a co, ca ch a ça , ou ro, et c. (S ILVA, 2 0 0 3 , p .6 3 ). Na s egu n d a m eta d e d o s écu lo XIX, filh os d os r eis , ch efes e com ercia n tes a fr ica n os d e Ga n a e Camarões enviavam seus filhos para freqüentar escolas na Bahia (idem, p.160). 141 S egu n d o Na s s a u (1 9 0 4 ), o gr is -gr is t a m b ém era ch a m a d o n a Áfr ica de gree-gree, ju-ju, monda e b ia h. “Th e n a t ive wor d on t h e Lib er ia n coa s t is "gree-gr ee" in th e Niger Delt a , "ju ju "; in t h e Ga b u n cou n t ry, "m on d a "; a m on g t h e ca n n ib a l Fa n g, "b ia h "; a n d in ot h er t r ib es the same respective dialectic by which we translate "medicine." 142 “E m ger a l, os a m u letos m u çu lm a n os er a m feit os e ven d id os p or m es t res cu jos p od er es m ís t icos s u a baraka (alubarika, em ior u b á ), s e in cor p or a va m a o ob jet o. Na Áfr ica , a p r od u çã o d e t a lis m ã s con s t it u ía (e a in d a con s t it u i), em cer t os ca s os , a p r in cip a l a t ivid a d e e im p or t a n te fon te d e ren d a d e m u çu lm a n os let r a d os . A cr en ça d e qu e, qu a n to m a ior o n ú m er o d e a m u let os p os s u íd os , m a ior a p r oteçã o p r op or cion a u m m er ca d o s em p r e em expansão” (REIS, 2003, p.193). 143 O com ér cio d e b ols a s d e m a n d in ga foi regis t r a d o em Por tu ga l p ela In qu is içã o. Souza (1 9 9 3 , p .1 7 0 ) cit a t rês es cr a vos (u m b a ia n o e d ois a fr ica n os m in a d e J u d á ) p en iten tes em Portugal, em 1731, envolvidos na confecção e venda desses amuletos. 73 a r r u d a n o Rio d e J a n eir o oitocen tis t a (fig.3 6 ). S egu n d o Deb r et (1 9 4 0 , t .2 , p.168), é a s u p er s t içã o qu e m a n t ém em voga a erv a d e a rru d a , es p écie d e a m u leto m u it o p r ocu r a d o e qu e s e ven d e t od a s a s m a n h ã s n a s r u a s d o Rio d e J a n eir o. Tod a s a s m u lh er es d a cla s s e b a ixa , em qu e con s t it u em a s n egr a s os cin co s ext os , a con s id er a m u m p r even t ivo con t ra os s or t ilégios , p or is s o têm s em p r e o cu id a d o d e ca r r egá -la n a s p r ega s d o t u r b a n t e, n os ca b elos , a t r á s d a or elh a e m es m o n a s ven t a s . As m u lh er es brancas usam-na em geral escondida no seio. Fig. 36 – O vendedor de arruda. Debret, 1827. Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br/imagem/arte/terceiro_um.html# E s con d id os ou exib id os p u b lica m en t e, a s n egr a s e m u la t a s u s a va m uma va r ied a d e d e s ign os m á gicos , d e d iver s os m a t er ia is , n o s eu d ia a d ia e em oca s iões fes t iva s 144 (fig. 3 7 e 3 8 ). Con for m e Deb r et (1 9 4 0 , t .2 , p .5 4 )145, s ã o r a r a s a s ven d ed or a s n egr a s a m b u la n t es qu e n ã o u s a m a m u let os . E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 8 8 ) ob s er vou a p op u la r id a d e d o u s o d a figa , u s a d a p or t od a s a s cla s s es , e d es t a cou a s u a im p or t â n cia , vis t o qu e, “o p r im eir o 144 Os m a is vis íveis n a icon ogr a fia con s u lt a d a s ã o a s cr u zes e cr u cifixos em ou ro, integrantes d a s jóia s d e cr iou la s (fig.2 8 , 3 1 ) e os es ca p u lá r ios t a n t o d e p a n o (fig.2 1 ) com o em ou r o ju n t o à s jóia s d e cr iou la s . Na figu r a 2 4 , a s m u lh eres b r a n ca s u s a m es ca p u lá r io d e pano (a mais moça à esquerda) e cruz (a mais velha à direita). 145 “é raro que uma vendedora negra ambulante se mostre na rua sem seu pequeno amuleto ao pescoço, o que não a impede de usar também dois outros à cintura, de cambulhada com cinco a seis talismãs, de forma e de natureza diferentes”. 74 d in h eir o qu e u m es cr a vo con s egu e é ga s to n u m a figa , à s vezes es cu lp id a em r a iz d e ja ca r a n d á ”. Ap es a r d e m u it os d os a m u let os s er em in t en cion a lm en t e exib id os p u b lica m en t e, em a lgu n s ca s os , eles er a m p r efer en cia lm en t e ocu lt a d os . E s s e foi o ca s o d a cozin h eira Ch it a (sic), r ela t a d o p or E wb a n k (idem, p.188), que trazia uma figa de osso escondida no seio146. Con for m e s er á vis t o n os p r óxim os ca p ít u los , a lgu m a s vezes , es s es s ign os m á gicos er a m ver d a d eir a s jóia s con feccion a d a s em m a t er ia is com o cor a l, m a r fim , ou r o e p r a t a . Um d es s es s ign os , u s a d os p or a lgu m a s d es s a s m u lh er es n egr a s e m u la t a s , d es cr it os e r egis t r a d os icon ogr a fica m en t e em Salvador setecentista e oitocentista, foram as pencas de balangandãs. Fig. 3 7 – Negr a d a Ba h ia u s a n d o a m u leto s em elh a n te a b ols a de m a n d in ga ou es ca p u lá r io. Deb ret , s écu lo XIX. Fon te: RE IS , 2003, p.191. 146 Fig. 38– Retrato de Anna Maria Monteiro, u s a n d o en tr e a s jóia s d e cr iou la s : crucifixo e es ca p u lá r io p r ova velm en te em ou r o. A. Ma iffr e. Ba h ia . Fot ogr a fia , d ec. 1930. Col. Particular. S egu n d o E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 8 8 ), a a fr ica n a Ch it a com en t ou s ob r e o u s o d a figa qu e “em s eu p a ís n a t a l u s a va u m d en te p a r a es te m es m o efeit o”. In felizm en te, n ã o h á m a iores considerações sobre qual seria o efeito intencionado. 75 2. O SIGNO EM SI: A COLEÇÃO MUSEU CARLOS COSTA PINTO “O signo é aquilo que busca permanecer, que se quer indestrutível, que aspira ao eterno.” 147 2.1. Breve histórico Fig.39 – Museu Carlos Costa Pinto. Salvador-Bahia. Foto: Saulo Kainuma, 2003. 147 SANTAELLA e NÖTH, 1998, p.138. 76 O Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o (fig.3 9 ), s it u a d o n o Cor r ed or d a Vit ór ia , em S a lva d or – Ba h ia , é or igin á r io d o a cer vo d o colecion a d or b a ia n o Ca r los Cos t a Pin t o (1 8 8 5 -1 9 4 6 ). Ca r los d e Agu ia r Cos t a Pin to er a filh o d o com en d a d or J oa qu im d a Cos t a Pin t o e d e S op h ia Hen r iqu et a Ma ced o d e Agu ia r . S eu a vô m a t er n o foi o Ma r ech a l Fr a n cis co Per eir a d e Agu ia r , p r op r iet á r io d o S ola r d o Bom Gos to. In iciou s u a ca r r eir a p r ofis s ion a l n a Ma ga lh ã es & Cia ., em p r es a exp or t a d or a d e a çú ca r , ch ega n d o a o ca r go d e d ir et or p r es id en t e. Com o colecion a d or d e ob r a s d e a r t e r eu n iu a o lon go d e s u a vid a u m a s ign ifica t iva e eclét ica coleçã o, fa zen d o com qu e p er m a n eces s e n a Ba h ia u m d os m a is im p or t a n t es a cer vos d o p a ís . S egu n d o S ola n ge Godoy (1997, p.110), con t em p or â n eos , Cos ta Pin t o e Ca s t r o Ma ya [r efer in d o-s e a o colecion a d or Ra ym u n d o Ot t on i d e Ca s t r o Ma ya , 1 8 8 4 -1968] s ã o d ois h om en s qu e s ou b er a m in t egr a r à a t ivid a d e em p r es a r ia l o a p oio à cu lt u r a , in cor p or a n d o à s s u a s cid a d es – S a lva d or e Rio d e J a n eir o – im p or t a n t es lega d os qu e s er ia m transformados em fundação-museu nos anos 60. Na ver d a d e, a r es p on s á vel p ela exis t ên cia d o Mu s eu foi a es p os a d o colecion a d or , D. Ma r ga r id a d e Ca r va lh o Cos t a Pin t o (1 8 9 5 -1 9 7 9 ), n a s cid a Ballalai de Carvalho. A ela coube realizar o sonho do marido, imortalizando-o a p ós a s u a m or t e (1 9 4 6 ), a o d oa r p eça s d e s u a coleçã o, con s t it u in d o u m a fu n d a çã o e in s titu in d o u m m u s eu . O Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o foi inaugur a d o em 5 d e n ovem b r o d e 1 9 6 9 , s ob a or ien t a çã o e d ir eçã o d a museóloga Mercedes Rosa. O Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o é u m m u s eu d e a r t es d ecor a t iva s , d e coleçã o fech a d a 148, coleções149: com p os t o p or 3 .1 7 5 p eça s , cla s s ifica d a s em 12 Cr is t a l, Des en h o, Diver s os , E s cu lt u r a , Gr a vu r a , Im a gin á r ia , Mob iliá r io, Or d en s Hon or ífica s , Ou r ives a r ia , Pin t u r a , Por cela n a e Pr a t a r ia . S ã o ob jet os d e vá r ia s p a r t es d o m u n d o, d os s écu los XVII a o XX. A m a ior coleçã o é a d e Pr a t a r ia com 9 2 3 exem p la r es , en t r e os qu a is es t ã o a s 2 7 148 Coleção fechada designa um museu que não adquire nem aceita doação de peças. E s s a cla s s ifica çã o foi in s t it u íd a p ela m u s eóloga Mer ced es Ros a , qu e in iciou a d ocu m en t a çã o m u s eológica d a coleçã o em 1 9 6 3 , t or n a n d o-s e p os ter ior m en te d iret ora d a instituição. 149 77 pencas d e b a la n ga n d ã s em p r a t a 150, o m a ior con ju n to exis t en t e em m u s eu s . E s s e gr u p o, b a s e d a leitu r a 151 qu e s e s egu e, é d a t a d o d os s écu los XVIII e XIX. J u n t o com a s jóia s d e cr iou la s for m a o d ifer en cia l, o d es t a qu e d a instituição dada à sua singularidade. 2.2. As pencas de balangandãs Fig.40 – Vitrine das pencas de balangandãs. Museu Carlos Costa Pinto. Fotografia Enzo Battesini, 2004. Ao ob s er va r a s 2 7 p en ca s d e b a la n ga n d ã s em p r a t a exp os t a s em vit r in e d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o (fig.4 0 ), d is t a n cia d a s em s u a r ed om a d e vid r o, é d ifícil p er ceb er a s u a fu n çã o e u s o. É p r ecis o t en t a r vis u a lizá -la s , a p a r t ir d a icon ogr a fia exis ten te, p or t a d a s p ela s n egr a s e m u la t a s b a ia n a s , s ob r ep os t a s a os t r a jes fes t ivos (b eca e d e b a ia n a ), p r es a s p or t ir a d e p a n o ou 150 E xis te n o a cer vo, u m a ú n ica p en ca d e b a la n ga n d ã s em ou r o com 4 8 p eça s e cor ren te (Nºinv. 850.IX.116), atribuída ao século XX. 151 E vid en tem en te, n ã o foi d es ca r t a d o o ca r á ter ú n ico (d e exis ten te) d e ca d a p en ca d e b a la n ga n d ã s d es s a coleçã o. E s te foi p r im eir a m en te exp lor a d o p a r a qu e es t a a n á lis e d e conju n to p u d es s e s er rea liza d a . Con t u d o, d evid o a s u a s ca r a cter ís t ica s com u n s , a gen er a liza çã o foi n eces s á r ia em b en efício d e u m a leit u r a t ip ológica p a r a a in ves t iga çã o d o seu processo de produção de sentido enquanto classe de objeto. 78 cor r en t e d e p r a t a à a lt u r a d a cin t u r a / qu a d r is (fig.4 1 )(vid e ca p ít u lo 3 , in d ícios d e u s o). Um d os s eu s a s p ectos s en s ór ios , a gor a p er d id o, é a s on or id a d e. E s s e p ot en cia l d e a t r a çã o/ a çã o s on or a é in er en t e à s u a com p os içã o, e in t en cion a l, vis t o qu e, m u it os a m u let os (com o os s in os e guizos)152 t êm a fu n çã o d e “es p a n t a r ” a s in flu ên cia s m a lign a s a t r a vés d o s om . Com o a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s (fig.4 2 ) a gr u p a m u m a s ér ie d e d ifer en t es elem en t os em s u a m a ior ia ocos , em p r a t a , e s ã o p os ta s n a cintura153, p en d en d o n os qu a d r is fem in in os , t or n a m -s e a lt a m en t e m ovim en ta d os e con s equ en t em en t e s on or os a o s e ch oca rem u n s com os ou t r os . S eu s om m et á lico, ch oca lh a n t e, t ilin t a n t e é t ã o m a r ca n t e qu e lh e con fer iu u m a d en om in a çã o d e r efer ên cia on om a t op a ica p a r a a m a ior ia d os autores (vide capítulo 3, etimologia). Fig.41 – Baiana. Carybé. Desenho a crayon, 1 9 6 9 . Acer vo Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o. Fotografia da autora. Fig.42 – Pen ca d e b a la n ga n d ã s . Ba h ia , s éc.XIX. Acer vo Mu s eu Ca r los Cos t a Pinto. Fotografia da autora. Qu a n t o à vis u a liza çã o, percebe-s e in icia lm en t e o b r ilh o d a p r a t a em con t r a s t e com a s a ia b r a n ca , d e es t a m p a d o color id o ou p r et a , qu e lh e s er ve 152 Após a fuga do Egito, no deserto do Sinai, Deus estabeleceu uma aliança com os filhos de Is r a el e en t r e a s leis h a via a s p r es cr ições referen tes à s ves tim en t a s d os s a cer d otes qu e es t a b elecia qu e “h a ver á em t od a a or la d o m a n t o u m a ca m p a in h a d e ou r o e u m a rom ã , ou t r a ca m p a in h a d e ou r o e ou t r a r om ã . Aa r ã o o ves t ir á p a r a oficia r p a r a qu e s e ou ça o s eu s on id o qu a n d o en t r a r n o s a n t u á r io d ia n te d e Ia h weh , ou qu a n d o s a ir , e a s s im n ã o m or r a ” (E x 2 8 , 3 4 -35). E s s a cit a çã o n a Bíb lia d e J er u s a lém (1 9 8 5 , p .1 4 8 ) t r a z a s egu in te n ot a “vestígio d e u m a con cep çã o p r im it iva a m p la m en te es p a lh a d a , s egu n d o a qu a l o t ilin t a r d a s ca m p a in h a s a fa s t a va os d em ôn ios ”. Com es s a in ten çã o s ã o u s a d os os ch oca lh os in d ígen a s b r a s ileir os (m a n a cá ) n os r it u a is d e p a jela n ça . Ta m b ém n o Ca n d om b lé, o a d já . “in s t r u m en to id iófon o for m a d o p or u m a , d u a s ou t rês ca m p â n u la s ” (LODY, 2 0 0 3 , p .6 3 ), fu n cion a com o meio evocatório das entidades de outros planos. 153 O uso na cintura é atestado pela iconografia e relatos, expostos no capítulo seguinte. 79 com o fu n d o, m old u r a . Algu m a s vezes , u n em -s e a o p r a t ea d o b r ilh a n t e á r ea s color id a s fos ca s , in d ica n d o a p r es en ça d e ou t r os m a t er ia is com o o b r a n co leitos o d os d en t es d e a n im a is , o m a r r om es cu r o d a s m a d eir a s e côcos , e a t é o ver m elh o d os cor a is , o a la r a n ja d o t r a n s lú cid o d a s cor n a lin a s , et c. A for m a percebida é claramente a de um conjunto fragmentado (reunião de uma série de diferentes elementos justapostos, num jogo de revelação e ocultação, onde os m a is volu m os os e com p r id os s e s ob r es s a em ), ir r egu la r (com volu m es p r ed om in a n t em en t e es fér icos e cilín d r icos ), com p lexo, p r ofu s o, d in â m ico, d is p os to em u m s em icír cu lo, com u m a for t e t en d ên cia à s im et r ia or ien t a d a pelo frontão da nave (elemento centralizador formal e conceitualmente). Difer en t em en t e d e ou t r os s ign os m á gicos u s a d os es con d id os , a sonoridade, o volume e o peso (variando de 327,9g a 1.636,6g) das pencas de b a la n ga n d ã s in d ica m a s u a n eces s id a d e d e exp os içã o, d e s er em vis t os . O u s o d a s p en ca s à cin t u r a es t a b elece u m a con exã o cor p ór ea en t r e a d er eço e u s u á r ia , qu e p r et en d e fixa r o olh a r d o ob s er va d or p a r a a r egiã o d os qu a d r is da mesma. Essa área de sedução tem um forte apelo à sexualidade154. O m od elo es t r u t u r a l s egu id o p or u m a p en ca d e b a la n ga n d ã s é b em d efin id o, ele é con s t it u íd o p or t r ês p a r t es (fig. 4 3 ): cor r en t e, n a ve ou ga ler a e elem en t os p en d en t es . A cor r en t e d e elos s er ve p a r a fixa r o a d or n o à u s u á r ia , perpassando-lh e a cin t u r a . A n a ve ou ga ler a (fig. 4 4 ) é a p a r t e qu e a gr u p a os elem en t os p en d en tes . Ger a lm en t e, a p r es en t a d ecor a çã o em su a pa rte s u p er ior (es p écie d e fr on t ã o), é a r t icu la d a a p a r t ir d e u m a b is a gr a la t er a l, qu e d á a ces s o p a r a a s u a p a r t e in fer ior s em icir cu la r e d en t icu la d a , on d e fica m os p en d en t es . A p a r t e in fer ior e s u p er ior u n em -s e a p a r t ir d e u m or ifício la t er a l, op os t o à b is a gr a , fixa d o p or p a r a fu s o d en om in a d o “borboleta”155. Os elem en t os p en d en t es va r ia m em t ip ologia , m a t er ia is , tamanho e quantidade. 154 S egu n d o es s e p r in cíp io, a s la vr a d eir a s p or t u gu es a s , p a r a ga r a n t ir a d ecên cia , n ã o u s a va m s eu s cola res m u it o d es cid os , m a n ten d o o lim ite a cim a d a cin t u r a , evit a n d o qu e “olh os m a licios os ” fos s em “leva d os a fixa r -s e em p a r t es m a is ín t im a s d o cor p o” (COS TA e FREITAS, 1992, p.24) 155 “Derivação: p or a n a logia . Por ca ou p a r a fu s o p r ovid o d e d u a s a s in h a s , com a s qu a is ele é apertado” (HOUAISS, 2001) 80 Fig.43 – Pa r tes d e u m a p en ca d e b a la n ga n d ã s . Acer vo Mu s eu Ca r los Costa Pinto. Fotografia da autora. Fig.44 – Na ve de uma p en ca de b a la n ga n d ã s . Acer vo Mu s eu Ca r los Cos t a Pinto. Fotografia da autora. 2.2.1. A corrente A cor r en t e 156 (fig.45) a p a r ece em 2 4 d a s 2 7 p en ca s d e b a la n gandãs. Ap en a s t r ês exem p la r es n ã o p os s u em cor r en t e, p eça s n º 2 2 4 9 .XII.0 5 7 , 2 2 5 5 .XII.0 6 3 e 2 2 5 8 .XII.0 6 6 (Ap ên d ice A, gr á fico1 ). Devid o à s u a p equ en a la r gu r a , ela fica em gr a n d e p a r t e ocu lta , en volt a p ela s ves t es . E m p r a t a , for m a d a s p or elos com fech o d e colchete157, a s cor r en t es va r ia m en t r e 4 8 ,0 e 1 6 8 ,0 cm d e com p r im en t o. Qu a t r o d ela s p os s u em a lém d a n a ve, ob jetos is ola d os p en d en t es (fig.4 6 ). Des t es , t r ês s ã o figa s 158 em m a d eir a en ca s t oa d a s em p r a t a , e o ou t r o é u m a ch a ve d e s a cr á r io ou cofr e 159 em p r a t a . As figas m ed em 8 ,2 cm ; 1 3 ,5 cm e a m a ior (a d a p en ca n º 2 2 6 7 .XII.0 7 5 ), d e gr a n d e d im en s ã o, p os s u i 1 6 ,5 cm d e com p r im en t o. A ch a ve m ed e 9 ,5 cm . Nã o foi loca liza d a icon ogr a fia ou n a r r a t iva qu e a t es t a s s e ou es cla r eces s e t a l u s o. E s s a s p eça s p od er ia m or igin a lm en t e t er p er t en cid o à n a ve ju n t o a os d em a is elem en t os p en d en t es . Ta m b ém n ã o s e id en t ificou qu a lqu er exem p la r d e outras coleções ou iconografia que portasse esses elementos isolados. 156 S egu n d o Ma ch a d o (1 9 7 3 , p .1 5 ), “a cor r en te receb e o n om e d e ‘cor r en tã o’ ou ‘gr ilh ã o’ (grilhão também é a denominação dos chamados colares-de-aliança)”. 157 4 d a s 2 4 p en ca s qu e p os s u em cor r en te, n ã o a p r es en t a m m a is o fech o p or terem s id o anteriormente soldadas. 158 Exemplares nº 2267.XII.075, 2268.XII.076, 2269.XII.077 (Vide Apêndice B) 159 Exemplar nº 2265.XII.073 (vide Apêndice B) 81 Fig.45 – Cor r en te d e p en ca d e b a la n ga n d ã s . Fot ogr a fia da autora. Fig.46 – Corren te d e p en ca d e b a la n ga n d ã s , com figa p en d en te. E xem p la r 2 2 6 8 .XII.0 7 6 . Fot ogr a fia da autora. 2.2.2. A nave A n a ve, em p r a t a , fu n d id a , va za d a , r ecor t a d a e cin zela d a , va r ia em d im en s ões , a a lt u r a d e 7 ,5 a 1 4 ,0 cm e a la r gu r a en t r e 8 ,5 a 1 9 ,0 cm , m a n t en d o s em p r e u m a r ela çã o en t r e a a lt u r a e a la r gu r a d e h = l, ten d en d o, p or t a n t o, à h or izon ta lid a d e A d ecor a çã o é feit a em a p en a s u m a d a s fa ces , o r ever s o é lis o, já qu e qu a n d o em u s o n ã o é vis t o. O cor p o d a n a ve é va za d o em á r ea s a lt er n a n d o es p a ços ch eios e va za d os . Qu a n t o à fixa çã o d a corr en t e à n a ve, a m a ior ia é feit a a t r a vés d a á r ea va za d a exis t en t e n a p a r t e s u p er ior d es t a (fig.4 7 ). E n t r et a n t o, 7 d os 2 7 exem p la r es (fig.4 9 ) a p r es en t a m lu ga r es p ecífico d e s u s p en s ã o (fig.4 8 ), u m a r o em s u a p a r t e s u p er ior , o qu e p arece sugerir uma forma primitiva ou uma variante descartada160. 160 O for m a t o a s s em elh a -s e à s cim a r u t a s d o s écu lo XIX, con for m e s er á vis t o n o p r óxim o capítulo. As m od er n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , cop ia d a s d a s p eça s d o s écu lo XIX, n ã o apresentam essa solução. 82 Fig.47 – Na ve d a p en ca d e b a la n ga n d ã s 2256.XII.064. Fotografia da autora. Fig.48 – Na ve d a p en ca d e b a la n ga n d ã s 2264.XII.072. Fotografia da autora. 83 A a b er t u r a d a s n a ves é feit a ger a lm en t e à s in is t r a 161, on d e s e fixa m p or m eio d e u m p a r a fu s o t ip o “b orb olet a ” a s p a r t es s u p er ior e in fer ior (fig.5 0 ). Qu a n t o a es t a , m óvel, d en t ea d a p a r a ga r a n t ir u m a d is p os içã o u n ifor m e d os elem en t os p en d en t es , a p en a s d u a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s possuem n a ve d u p la (Ap ên d ice A, gr á fico 2 ). Um a n a ve d u p la (fig.51) com p r een d e d u a s p a r t es m óveis d en tea d a s in d ep en d en t es , ca d a qu a l com seu conjunto de elementos e fechamento/abertura próprios. Fig.51 – Na ve d u p la d a p en ca d e b a la n ga n d ã s 2 2 4 9 .XII.0 5 7 . Acer vo Mu s eu Carlos Costa Pinto. Fotografia da autora. Fig. 5 0 – Na ve s im p les , a b er t u r a à s in is t r a , d a p en ca d e b a la n ga n d ã s 2 2 5 4 .XII.0 6 2 . Acer vo Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o. Fotografia da autora. A n a ve t r a z d ifer en t es d ecor a ções em s eu fr on t ã o 162 classificadas aqui em 7 t ip os 163 (fig.5 2 ). Tod os eles s egu em a es t r u t u r a d e fr on t ã o p a r t id o (fig.5 3 ). A con s t r u çã o or ien t a -s e a p a r t ir d e u m eixo cen t r a l qu e d et er m in a a com p os içã o s im ét r ica da for m a e da d ecor a çã o, t en d en d o a uma configuração triangular. Essa estrutura é similar a dos frontões das 161 1 9 n a ves p os s u em a b ert u r a à s in is tr a (la d o es qu er d o) e 8 à d es t r a (la d o d ireit o). E s ta s s ã o a s n º 2 2 4 9 .XII.0 5 7 , 2 2 5 3 .XII.0 6 1 , 2 2 5 5 .XII.0 6 3 , 2 2 5 7 .XII.0 6 5 , 2 2 6 3 .XII.0 7 1 , 2 2 6 6 .XII.0 7 4 , 2 2 7 0 .XII.0 7 8 , 2 2 7 3 .XII.0 8 1 (Ap ên d ice B). Ob jet os t r id im en s ion a is s ã o descritos, segundo convenção museológica, sob a perspectiva do objeto e não do observador, ou seja, a direita refere-se ao lado direito da peça. 162 Na fa lt a d e u m voca b u lá r io es p ecífico, recor r eu -s e a u m a ter m in ologia u s a d a em a r qu itetu r a e em ob r a s d e t a lh a , cu jo t r a b a lh o d ecor a t ivo a p r es en t a u m a n ít id a s em elh a n ça com a s ob r a s d e joa lh er ia . O fr on t ã o d es ign a o “con ju n to d ecor a t ivo qu e a r r em a t a a p a rte superior” (MOUTINHO; PRADO; LONDRES, 1999, p.159). 163 A coleçã o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o p os s u i os t ip os m a is ca r a ct er ís t icos d e n a ves , en t ret a n t o, exis tem ou t ros for m a t os , va r ia ções e d ecor a ções com o p od e s er ob s er va d o em outros acervos como o da Fundação Instituto Feminino da Bahia e Museu de Arte da Bahia. 199 fachadas de igrejas, retábulos, oratórios, cachaços de cadeiras, cabeceiras de camas. Já a parte inferior das naves tende ao formato semicircular (fig.54). Fig.53 – Fr on t ã o p a r t id o. Fon te: (MOUTINHO; PRADO; LONDRES, 1999, p.159) Fig. 5 4 – E s t r u t u r a com p os it iva balangandãs. Fotografia da autora. de uma p en ca de A d ecor a çã o d os fr on t ões m a is ca r a ct er ís t ica é a qu e t r a z en cim a d os p á s s a r os n a s la t er a is 164. Os t r ês p r im eir os t ip os a p r es en t a m com o elem en to d ecor a t ivo d efin id or p á s s a r os id en t ificá veis com o p om b a s , qu e n a s im b ólica cr is t ã r ep r es en t a m o Divin o E s p ír it o S a n t o 165. A n a ve d o t ip o 1 (fig.5 5 ), apresenta como elemento característico a pomba em repouso. Essa figuração p od e s er vis t a em a ces s ór ios d e cu lt o cr is t ã o com o n a vet a s e cib ór ios , e também em cetros do Divino Espírito Santo (fig.56). Fig.55 – Na ve d e p en ca d e b a la n ga n d ã s d o tipo 1. Fotografia da autora. Fig.56 – Divin o E s p ír it o S a n to em p r a t a . Brasil, séc.XVIII-XIX. 166 As n a ves d o t ip o 2 e 3 (fig.5 2 ) t r a zem p om b a s com a s a s a b er t a s , d en om in a d a s a la d a s ou es p a lm a d a s (fig.5 7 ). E s s e elem en t o é en con t r a d o em b a n d eir a s d a Fes t a d o Divin o, em ob jet os d e cu lt o cr is t ã o, a p a r ecen d o com o elem en t o icon ogr á fico em ob r a s d e t a lh a , p in t u r a s e com o s ím b olo d a cid a d e do Salvador167 (fig.58). 164 O t ip o 2 , p á s s a r o com a s a s a b er t a s r ep res en t a m p om b a s d o Divin o E s p ír it o S a n t o. E s s a icon ogr a fia p od e s er vis t a em ob jet os d e cu lto cr is t ã o com o n a Cu s t ód ia feita p elo ou r ives baiano Boaventura de Andrade em 1807, pertencente ao Convento do Desterro da Bahia. 165 Na Bíb lia (1 9 8 5 , p .1 8 4 2 ) en con t r a -s e a fon te p a r a es s a r ep res en t a çã o. “Ba t iza d o, J es u s s u b iu im ed ia t a m en te d a á gu a e logo os céu s s e a b r ir a m e ele viu o E s p ír it o d e Deu s descendo como uma pomba e vindo sobre ele” (Mt, 3:16). 166 Col. Beatriz e Mário Pimenta Camargo. Fonte: MUSEU DE ARTE BRASILEIRA, 1997, p.52 167 Alude ao episódio bíblico do Dilúvio (Gn 8:9) no qual Noé envia a pomba para verificar se já h á ter r a fir m e e a a ve r et or n a à a rca com u m ga lh o ver d eja n te in d ica n d o a exis tên cia d e veget a çã o, u m d es em b a rqu e s egu r o. A in s cr içã o S ic illa a d Arca m revers a es t (e ela retor n ou à arca) geralmente acompanha essa representação. Fig.57 – Na ve d e p en ca d e b a la n ga n d ã s d o tipo 2. Fotografia da autora. Fig.58 – An d or p r oces s ion a l d e S ã o Fr a n cis co Xa vier , p a d r oeir o d a cid a d e d o S a lva d or . Ca ted r a l Ba s ílica d e S a lva d or . Fonte: IPAC, 1998, p.179 A n a ve d o t ip o 3 (fig.5 9 ) a glu t in a t r ês p om b a s d o E s p ír it o S a n to a la d a s e es p a lm a d a s com a p a lm et a t r ilob a d a cen t r a l. Difer en t em en t e d os d em a is t ip os , s ó t r a z t ext u r a d ecor a t iva , em cin zela d o, n es t es elem en t os cen tr a is . Todo o resto é de superfície lisa. Fig. 59 – Nave do tipo 3. Fotografia da autora. A n a ve d o t ip o 4 (fig.6 0 ) n ã o p os s u i elem en t os d efin id or es n a s extremidades laterais do frontão. Assemelha-se às naves dos tipos 1 (fig.61) e 2 (fig.6 2 ) a n t es d e r eceb er em d ecor a çã o em s eu s fla n cos . Tod a s ela s , ju n to com o tip o 3 (fig.59), s ã o en cim a d a s n o cen t r o p or p a lm et a t r ilob a d a . S om en t e os d ois exem p la r es d o t ip o 4 n ã o s ã o d en t ea d os em s u a p a r t e in fer ior m óvel. Além d is s o, p os s u em d ecor a çã o, en qu a n t o t od a s a s ou t r a s são lisas. Essa decoração é cinzelada com motivo puntiforme. Fig.60 – Na ve d o Fotografia da autora. t ip o 4. Fig.61 – Na ve d o t ip o Fotografia da autora. 1. Fig.62 – Na ve d o t ip o 2 . Fotografia da autora. A n a ve d o t ip o 5 (fig.6 3 ) t r a z fr on t ã o cir cu n d a d o p or cin co ca b eça s d e a n jos (qu er u b in s 168), t en d o a o cen t r o a r gola d e s u s p en s ã o. Ca b eça s d e querubins169 for a m fa r t a m en t e u s a d os n a or n a m en t a çã o b a r r oca n o Br a s il ((MOUTINHO; PRADO; LONDRE S , 1 9 9 9 , p .3 1 9 ), com o p od e s er vis t o em p ea n h a s d e im a gen s d e Nos s a S en h or a e p in tu r a s s a cr a s cr is t ã s (fig.6 4 ). Toda a parte superior é cinzelada com motivos fitomorfos. 168S egu n d o n ota d a Bíb lia d e J er u s a lém (BÍBLIA, 1 9 8 5 , p .1 4 2 ), “o ter m o cor res p on d e a o d os karibu b a b ilôn ios ; gên ios , m et a d e h om en s , m eta d e a n im a is , qu e vigia va m a p or t a d os templos e dos palácios”. 169 Qu a n d o, s egu n d o a Bíb lia (1 9 8 5 , p .1 4 2 -1 4 3 ), Deu s d eu in s t r u ções a Mois és s ob re a con s t r u çã o d a Ar ca d a Alia n ça , d eter m in ou en tr e os m ot ivos d ecor a t ivos : qu er u b in s d a s egu in te form a “fa r á s u m p r op icia t ór io d e ou r o p u r o, com d ois côva d os e m eio d e com p r im en to e u m côva d o e m eio d e la r gu r a . Fa r á s d ois qu eru b in s d e ou r o, d e ou r o b a t ido os fa r á s , n a s d u a s ext rem id a d es d o p r op icia t ór io; fa z-m e u m d os qu er u b in s n u m a extremidade e o outro na outra” (Ex, 25:17-19). Fig. 63 – Nave do tipo 5. Fotografia da autora. Fig. 6 4 – Nos s a S en h or a d a Fa r t u r a . Ba r r o p olicr om a d o, 1 6 7 7 . Col. Pa r t icu la r – SP. Fonte: MARINO, 1996,p.48 A nave do tipo 6 (fig.65) é decorada com ramagens dispostas em curva e contracurva. A folhagem só é cinzelada em estriados nas extremidades inferiores laterais. Esse motivo, característico do estilo Barroco170, foi b a s t a n t e u t iliza d o em ou r ives a r ia , t a lh a e p in t u r a (fig.6 6 ). O fr on t ã o d es s a n a ve, d a d a à s ob r ied a d e e a u s ên cia d e t ext u r iza çã o s it u a -s e m a is a o gos to Rococó e Neoclá s s ico. Na b a s e d o fr on t ã o r eceb e u m a in com u m d ecor a çã o em torçal. Fig. 65 – Nave do tipo 6. Fotografia da autora. 170 “Orlas onduladas e uma profusa decoração fitomórfica e zoomórfica compõem a mais comum gramática ornamental barroca” (SOUSA, 2000, p.363). Fig.66 – Alt a r d o Con s is t ór io d a Ir m a n d a d e d o S a n t ís s im o S a cr a m en t o d a a n t iga S é d a Ba h ia . Ta lh a , s éc. XVII. Col. Mu s eu d e Ar te Br a s ileir a – Fu n d a çã o Ar m a n d o Álva r es Penteado. Fonte: MUSEU DE ARTE BRASILEIRA, 1997, p.47 A n a ve d o t ip o 7 (fig.6 7 ) t r a z o fr on t ã o la d ea d o p or figu r a s a n t r op om or fa s p er fila d a s e a fr on t a d a s , cen t r a d a s p or u m a lir a en cim a d a p or a r o d e s u s p en s ã o. Na s ext r em id a d es , r a m a gen s em for m a d e volu t a . E s s e m ot ivo d ecor a t ivo Neoclá s s ico 171 foi id en t ifica d o em ou t r a s p eça s d e p r a t a (fig.68 ), t r ês b a n d eja s de es p evit a d eir a s im ila r es 172. Ta m b ém for a m en con t r a d a s d u a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s p er t en cen t es a u m a coleçã o particular em São Paulo173 (BRANCANTE, 1999, p.169 e176). 171 Com p õem o rep er t ór io or n a m en ta l d o Neoclá s s ico “or n a t os com p a lm et a s , grega s e on d a s , a os qu a is s e s om a m m ot ivos com o folh a s d e a ca n t o, d elfin s , lir a s , u r n a s , m á s ca r a s de carneiro e leão” (MOITINHO, PRADO e LONDRES, 1999, p.266). 172 Além d o exem p la r p er ten cen te a o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o, d ois ou t r os for a m en con t r a d os . Um d eles , p erten cen te a o Mu s eu d e Ar te S a cr a d e S ã o Pa u lo, in d ica n d o s er d o Rio d e J a n eir o, s éc.XIX (d is p on ível em : http://www.sarasa.com.br/artesacra/p32.htm). O ou t r o, in tegr a va o ca tá logo d o Du t r a leilões d e fevereir o d e 2 0 0 3 (d is p on ível em : http://www.dutraleiloes.com.br/fevereiro2003/Catalogo/dia1.asp?lel=73#1). E s t e t r a zia s ob r e a b a n d eja in d ica ções d e p os s u ir m a r ca d e en s a ia d or n ã o id en t ifica d o e d o p r a teir o FDG também não identificado, do final do século XVIII. 173 As d u a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s em p r a t a , d a t a d a s d o s éc. XIX, t r a zem con t r a s te d e en s a ia d or d e S ã o Pa u lo e d o ou r ives p a u lis t a Clá u d io d e Azeved o Rib eir o (BRANCANTE , 1999, p.162, 169 e 176). Fig. 67 – Nave do tipo 7. Fotografia da autora. Fig. 6 8 – Ba n d eja d e es p evit a d eir a em prata174. Rio d e J a n eir o, s éc. XIX. Acer vo Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o. Fotogr a fia d a autora. Quanto às borboletas (fig.69), o fecho das pencas de balangandãs, algumas são mais elaboradas que outras. E, curiosamente, pois trata-se de uma parte móvel, de menor importância junto à nave, uma delas (exemplar 2247.XII.055, fig.72) traz marca de ensaiador da Bahia. Fig.69 – Borboletas de pencas de balangandãs. Fotografias da autora. Com r ela çã o à p r es en ça d e m a r ca s n a s n a ves , n ã o for a m en con t r a d a s m a r ca s d e ou r ives , a p en a s m a r ca s d e en s a ia d or (fig.7 0 , 7 1 , 7 1 e 7 2 ) em cin co exem p la r es 175. E s s a s a t es t a m a s u a exis t ên cia n a Ba h ia d os s écu los XVIII e XIX. 174 Esta bandeja nºinv. 2299.XII.107, traz marca de pseudocontraste de Lisboa para a prata, d os fin s d o s éc. XIX, u s a d a n o Br a s il e m a r ca d e ou r ives b r a s ileir o n ã o id en t ifica d o FMJ . O p s eu d ocon t ra s te é u m a m a r ca gr a va d a em im it a çã o d e u m a m a r ca d e en s a ia d or p or t u gu ea (ROS A, 1 9 8 0 , p .4 ). E s s e ter m o é u m a d es ign a çã o d a d a , em 1 9 7 4 , p or Fer n a n d o Moit in h o d e Almeida (1995, p.13) para esse tipo de marca que aparece somente no Brasil. 175 Destes 5 exemplares, duas apresentam marca no verso. Estranhamente essas marcas em in ca vo s ã o p ou co legíveis com o s e t ives s em s id o p r op os it a d a m en te r is ca d a s . As m a r ca s d a p a r te fr on t a l d a s n a ves loca liza m -s e ju n t o à ju n çã o com a a lça m óvel e n a p r óp r ia a lça móvel. Destas, duas são do séc.XVIII e uma do XIX. Fig.70 – Pen ca d e b a la n ga n d ã s 2 2 5 8 .XII.0 6 6 . Det a lh e d e m a r ca d e en s a ia d or d o s éc.XVIII n a alça móvel da nave. Fotografia da autora. Fig.71 – Con t r a s te d a p r a t a d e en s a ia d or d a Ba h ia , s éc. XVIII. Fon t e: ALMEIDA, 1995, p.343 Fig.72 – Pen ca d e b a la n ga n d ã s 2 2 4 7 .XII.0 5 5 . Det a lh e d e m a r ca s d e en s a ia d or d a Ba h ia Imperial (borboleta e alça). Fotografia da autora. Fig.73 – Con t r a s te d a p r a t a d e en s a ia d or d a Ba h ia , a t r ib u ível a In á cio Álva res Na za r et h , regis t r a d a em 1 8 6 6 . Fonte: ALMEIDA, 1995, p.344 O ofício d e ou r ives foi con t r ola d o n o Br a s il d es d e os t em p os colon ia is pela m et r óp ole p or tu gu es a a tr a vés d a s Câ m a r a s . Os oficia is ou r ives er a m d ivid id os em ou r ives d o ou ro e ou r ives d a p r a t a . Da m es m a for m a organizavam-s e os en s a ia d or es . E s t es er a m os r ep r es en t a n t es oficia is qu e “en s a ia va m ”, exa m in a va m o t eor d a p r a t a , s u a p r op or çã o n a p eça , p or b u r ila d a (lin h a em zigu eza gu e t a m b ém ch a m a d a b ich a ou cob r in h a ) ou p or t oqu e (MOITINHO, PRADO e LONDRE S , 1 9 9 9 , p .3 1 0 ). Os ou r ives p a r a exer cer em a p r ofis s ã o n eces s it a va m p r es t a r exa m e e s olicita r licen ça d a Câmara para abrir tenda ou loja. A seguir, registravam sua marca no Senado d a Câ m a r a d a Ba h ia (BRANCANTE , 1 9 9 9 , p .4 1 ). S ob r e t od a p eça p r od u zid a d ever ia h a ver u m a a va lia çã o p or u m en s a ia d or s ob r e a qu a lid a d e d a liga d a p eça , qu e im p r im ia s u a m a r ca a t es t a n d o a m es m a . Pa r a t a l, p a ga va -se uma taxa ao governo. Segundo Mattos (1952, p.XXVI), seu valor era de 10 réis por p eça en s a ia d a (t es t a d a ) e con t r a s t a d a (qu e r eceb ia m a r ca ). S om en t e a Igr eja er a lib er a d a d es t e p r oced im en t o. E n t r et a n t o, a m a ior ia d a s p eça s feit a s n o Br a s il a té o s éc. XVIII não r eceb ia m a r ca de n en h u m t ip o, e consequentemente evitavam as taxações. As m a r ca s d e en s a ia d or e ou r ives d a Ba h ia for a m r egis t r a d a s n o Livr o d e Regis t r o d a s m a r ca s d os en s a ia d or es e ou r ives d o ou r o e d a p r a t a e d em a is m et a is d a Câ m a r a d e S a lva d or , a p en a s a p a r t ir d e 2 2 d e m a io d e 1 7 2 5 (MATTOS , 1 9 5 2 , p .1 ). An t er iorm en t e, er a s egu id o o s is t em a d e con t r a s t a r ia exis t en te em Por tu ga l, b a s ea d o n o Regim en t o d e 1 3 d e ju lh o d e 1 6 8 9 (VALADARE S , s .d ., p .8 4 ). Des t e p er íod o d a t a “o p u n çã o com o B en cim a d o d e cor oa [d e t r ês h a s t es ]” cor r es p on d en te “à m a r ca d o en s a ia d or , d a p r a t a , n om ea d o em 1 7 1 9 , Lou r en ço Rib eir o d a Roch a ” (idem, p .8 0 ). Va le r es s a lt a r a p r oib içã o d os ofícios d e ou r ives d e p r a t a e ou r o n o Br a s il, s egu n d o Ca r t a Régia d e 3 0 d e ju lh o d e 1 7 6 6 (MATTOS , 1 9 5 2 , p.XXVIII), in t er d içã o s om en t e r evoga d a em 1 1 d e a gos to d e 1 8 1 5 . Ap es a r d es s e im p ed im en t o lega l, é evid en t e p elos exem p la r es d e ou r ives a r ia exis t en t es em or d en s r eligios a s , cu ja s en com en d a s for a m r egis t r a d a s , qu e a a t ivid a d e con t in u ou na cla n d es t in id a d e com gr a n d e d em a n d a e qu a lid a d e de p r od u çã o. Cor r ob or a m es s a s it u a çã o a s p r óp r ia s p os t u r a s e p or t a r ia s d a Câ m a r a Mu n icip a l d e S a lva d or qu e a ler t a va m p a r a a n eces s id a d e d a s p eça s d e ou r o e p r a t a s er em s u b m et id a s a o exa m e d o en s a ia d or (a t ivid a d e qu e con t in u ou a exis t ir n o p er íod o d a p r oib içã o), s ob p en a d e con fis co d a p eça , multa e prisão (VALLADARES, s.d., p.88). Visto que, a maioria das pencas de b a la n ga n d ã s n ã o p os s u i m a r ca s , é p os s ível, qu e a lgu m a s s eja m d es s e período, um hiato de 49 anos de atividade oficial. 2.2.3. Elementos pendentes Nas 27 pencas de balangandãs existem 781 elementos pendentes. Eles va r ia m em qu a n t id a d e en t r e 1 3 e 5 5 p eça s 176, em for m a , volu m es , t a m a n h os (d e 1 ,5 a 1 2 cm ) e m a t er ia is (or gâ n icos e in or gâ n icos , com o p r ed om ín io d a prata, con for m e Ap ên d ice A – gr á ficos 4 e 5 ). A m a ior ia , com o t a m b ém a n a ve, s ofr e u m a p r ofu s ã o d ecor a t iva d e m ot ivos fit om or fos d is p os tos n u m a m ovim en ta çã o d e r a m a gen s em cu r va s e con t ra -cu r va s , r evela n d o u m a in flu ên cia d o es tilo Ba r r oco. Qu a n t o à m a r ca çã o, p ou ca s p eça s são marcadas. Foram encontradas marcas de ensaiador da Bahia em 5 peças (na a lça d o ch ifr e d o b es ou r o 2 2 5 1 .XII.0 5 9 ; n a a lça d a p om b a 2 2 5 7 .XII.0 6 5 ; n a a lça d o côco e d o ca r n eir o 2 2 4 7 .XII.0 5 5 ; a lça d o p eixe 2 2 7 0 .XII.0 7 8 ). Ta m b ém a p a r ecem m a r ca s d e Ma n oel E u s t á qu io d e Figu eir ed o, qu e a t u ou com o ou r ives d a p r a t a e en s a ia d or d a p r a t a n a Ba h ia com r egis t r o em 1 8 3 2 (ALME IDA, 1 9 9 5 , p .3 4 4 ; MATTOS , 1 9 5 2 , l.2 , p .1 0 ), cit a d o t a m b ém com o m a r ca d or d a p r a t a , es t a b elecid o n a r u a d os Ou r ives , 6 1 (ALMANAQUE , 1998, p .2 1 2 ). S u a m a r ca a p a r ece em 4 p eça s (a lça d o p eixe d o exem p la r 2 2 6 7 .XII.0 7 5 ; a lça d o côco d o exem p la r 2 2 6 6 .XII.0 7 4 ; gom il d o exem p la r 2 2 6 2 .XII.0 7 0 ; a lça d o ja r r o d o exem p la r 2 2 7 3 .XII.0 8 1 ). Ap a r ecem t a m b ém a lgu m a s p ou ca s p eça s in gles a s (v in a igre tte e cilin d r o) e com m a r ca s n ã o identificadas (chave), conforme será visto a seguir. E xis t em elem en t os m a is fr eqü en t es (Ap ên d ice A - gráfico 6 ) com o a s figa s , côco d e á gu a , ch a ve, m oed a s , cilin d r o, r om ã , ca ch o d e u va s , p eixe e d en t es d e a n im a is en ca s t oa d os em p r a t a . S u a com b in a çã o t or n a ca d a p en ca d e b a la n ga n d ã s ú n ica , vis t o qu e é fr u t o d e es colh a s p es s oa is , e ca d a elem en t o com p õe a gr a m á t ica d e s u a lin gu a gem com u n ica t iva . E s s es elementos são definidores da lógica operacional em torno da qual se organiza a p en ca d e b a la n ga n d ã s . S er em fr u t o d e u m a coer ên cia es t ét ica d e u m a ép oca , a t r a ves s a n d o es t ilos d o b a r r oco a o n eoclá s s ico, execu t a d os p or ou r ives b a ia n os 177 s ã o in d ica t ivos 176 de s u a in s er çã o / p r od u çã o d en t r o d e Nã o p a rece h a ver qu a lqu er rela çã o n u m ér ica , u m a regu la r id a d e qu a n t o a o n ú m er o d e elementos. O quantitativo refere-se ao poder aquisitivo de sua usuária. 177 A p r ová vel feit u r a n a Ba h ia é a tes t a d a p ela p res en ça d e m a r ca s d e en s a ia d or d a Ba h ia , registrado no século XVIII e XIX (conforme imagens das fig.70 e 73). u m con t ext o, d e u m a a ceit a çã o, on d e p r od u t or es (ou r ives ) e con s u m id or es (m u lh er es n egr a s e m es t iça s ) in t er a gia m . Difer en t em en t e d e u m a ob r a d e t a lh a ou ou t r o exem p la r d e joa lh er ia , a p en ca d e b a la n ga n d ã s er a u m a ob r a a b er t a , com p os t a p or s u a u s u á r ia , a t u a liza d a p ela in cor p or a çã o d e n ovos elem en t os e exclu s ã o d os exis t en t es (com o n o ca s o d e ven d a p or u m a n eces s id a d e m on et á r ia ). A p r es en ça d es tes elem en tos r em et e a u m a p os t u r a d ia n t e d a vid a , r efer en cia d a p or u m con ju n t o d e cr en ça s qu e lh e d ã o s en t id o. As s im , r econ h ecer a s for m a s exis t en t es p or s u a r ep r es en t a çã o por figu r a çã o, s im ila r id a d e icôn ica d e s u a r ep r es en t a çã o é s om en t e o p r im eir o p a s s o p a r a o s eu en t en d im en t o, é u m p r in cíp io d e s u a con s t r u tivid a d e s im b ólica . O s eu u s o, a n eces s id a d e d e m a n t er u m a con t igü id a d e com o cor p o d e s u a u s u á ria , qu e lh e é veícu lo e s ob r e o qu a l a tu a , é u m ou t r o p r in cíp io. Esta r em u s o, com o a d er eço d ifer en cia l d e d et er m in a d a s mulheres, em determinadas situações, lhe referencia. A a çã o d os elem en tos r es id e em s eu ca r á t er m á gico, va lor qu e lh e é a t r ib u íd o, con ven cion a d o. A s u a a çã o é r egid a p elos p r in cíp ios d a m a gia s im p á t ica e a p r es en ça d es s es elem en tos r evela u m a vin cu la çã o a a n t iga s t r a d ições . A m a gia s im p á t ica b a s eia -s e n a a t r a çã o d os s em elh a n t es , n a s liga ções s im p á t ica s (s em elh a n t e a fet a s em elh a n t e e/ ou con ect a -s e a ele), orientando-s e p ela s leis d a s im ila r id a d e e d a con t igü id a d e. A p r im eir a d et er m in a a m a gia h om eop á t ica ou im it a t iva , n a qu a l “o s em elh a n t e evoca o s em elh a n te” e “o s em elh a n t e a ge s ob r e o s em elh a n t e” (MONTE RO, 1 9 9 0 , p .2 6 ). S u p õe-s e qu e a r ep r es en t a çã o d e cen a s d e ca ça n a s p in t u r a s r u p es t r es s eja u m a d e s u a s m a n ifes t a ções (a r ep r es en t a çã o evoca n d o, atraindo uma cena real num mecanismo propiciatório), assim como as vênus es t ea t op igia s (es t a t u et a s fem in in a s cu jo exa ger o d a s for m a s evoca r ia m a fer t ilid a d e) com o a Vên u s d e Willen d or f (J ANS ON, 1 9 8 4 , p .2 4 -2 6 ). A a çã o d o s em elh a n te s ob r e o s em elh a n te fa z s u r gir t a m b ém o s eu con t r á r io, d a n d o origem à lei da contrariedade (MONTERO, 1990, p.29). Desta forma, ocorrem a s a ções d e cu r a m á gica , on d e a r ep r es en t a çã o d e u m a p a r t e d o cor p o s ã o evoca u m m em b r o s ã o e a fa s t a o s eu con t r á r io, u m m em b r o d oen t e. J á a lei da con t igü id a d e, qu e d et er m in a a m a gia p or con t á gio, p r es s u p õe a continuidade entre as partes e o todo. Assim, “todos os atos praticados sobre u m ob jet o m a t er ia l a fet a r ã o igu a lm en t e a p es s oa com a qu a l o ob jeto es t a va em con t a to, qu er ele con s t it u a p a r t e d e s eu cor p o ou n ã o” (FRAZE R, 1 9 8 2 , p .3 4 ). E s s e p r in cíp io r ege a p r á t ica vod u e feit iços a m a t ór ios qu e d em a n d a m partes do corpo (unha, cabelo, secreções, etc.) para a sua composição. Nu m a p er s p ect iva s em iót ica d a m a gia , a p a r t ir d a r ela çã o en t r e s ign o e ob jet o, Nöt h (1 9 9 6 , p .3 8 -4 0 ) id en t ificou a m a gia h om eop á t ica ou im it a t iva como magia icônica (o signo representa o objeto por semelhança) e magia por con t a t o com o m a gia in d icia l (o s ign o e o ob jet o p or con t igü id a d e). Det er m in ou a in d a a m a gia s im b ólica (o s ign o r ep r es en t a o ob jet o p or con ven çã o), on d e s e en con t ra m a s fór m u la s e p a la vr a s m á gica s com o Abracadabra. Des t a for m a , é p os s ível s u ger ir a cla s s ifica çã o 178 d os elem en t os que com p õem a p en ca d e b a la n ga n d ã s com o a m u let os (elem en tos d e p r oteçã o) e t a lis m ã s (elem en t os p r op icia tór ios ), s en d o qu e es s e a gr u p a m en t o s em p r e d ep en d er á d o â n gu lo d e a n á lis e. “S ã o d e p a r t icu la r in t er es s e a s for m a s d e motivação através das quais o signo é determinado por seu efeito pretendido” (NÖTH, 1 9 9 4 , p .3 8 ). Pa r a exem p lificá -la , a lgu n s elem en tos d os m a is freqüentes serão abordados. 2.2.3.1. Figa Da s 2 7 p en ca s d e b a la n ga n d ã s d a coleçã o, 2 6 179 a p r es en t a m p elo m en os u m a figa . E xis t em n o a cer vo 5 3 figa s , oca s ou m a ciça s , em p r a t a , m a d eir a (a m a ior ia es cu r a ), os s o, m a r fim , cor a l e ch ifr e. S eu t a m a n h o va r ia 178 A classificação clássica para os elementos pendentes, adotada pela maioria dos autores e ela b or a d a p or Men ezes d e Oliva (1 9 5 7 , p .4 9 -5 3 ) d eter m in a 5 ca tegor ia s , b a s ea d a n a utilidade ou função: - devocionais: os dedicado a um santo ou culto, como cruz, crucifixo, relicário, medalha. - vot ivos : os qu e rep res en t a m o p a ga m en to d e u m a p r om es s a feit a , com o ca b eça , p erna, casa, olhos de santa Luzia. - p r op icia t ór ios : u s a d os p a r a a t r a ir b oa s or te, im u n iza n d o s eu p os s u id or d e in for tú n ios . Nesta categoria estão o signo Salomão, as moedas, os dentes, as figas. - evoca t ivos : os qu e lem b r a m fa t o d ecor r id o, com o o ca ch o d e u va s (qu e lem b ra a o português a festa da vindima), o tambor que lembra a África. - d ecor a t ivos : “t od o e qu a lqu er ou t ro d ixe, qu e n ã o p u d er s er , d es d e logo, in clu íd o n a s quatro primeiras categorias” como bolas coloridas. 179 O único exemplar que não possui figa é o 2264.XII.072. d e 3 ,5 a 1 4 ,0 cm d e com p r im en t o. A d ecor a çã o é s im p lifica d a . Qu a n t o a os t ip os , h á va r ia n t es . E xis t em 3 5 “fa ls a s ” figa s (fig. 7 4 e 7 5 ), ou s eja , a representação de uma mão fechada sem penetração do dedo polegar entre os d ed os in d ica d or e m éd io. Algu m a s d es t a s , p a r a s im u la r a for m a d a figa , t r a zem o d ed o p olega r a lon ga d o (fig.7 6 , figa em m a d eir a cla r a e fig.7 7 , figa em p r a t a à d ir eit a ). Há u m s ó exem p la r de m a n o corn u ta , m ã o ch ifr u d a (fig.7 8 ). Ta m b ém exis t e u m a figa for t e (fig.7 6 , figa à d ir eit a ), qu e s egu n d o Machado (1973, p.24), t em com o ca r a ct er ís t ica e m eio d e p r es en ça d o d ed o in d ica d or em ris t e, e t r a ve, qu e a t r a n s for m a n u m a cr u z. con s id er a d o n ã o s ó con t r a m a u -olh a d o u m a s ér ie d e d oen ça s , n ot a d a m en t e cérebro. Fig.74 – Figas em marfim, madeira e prata. Exemplar 2265.XII.073. Fotografia da autora. Fig.76 – Figas em madeira. E xem p la r 2 2 4 9 .XII.0 5 7 . Fotografia da autora. fá cil id en t ifica çã o a qu a s e n a p on ta u m a E s s e t ip o d e figa é com o t a m b ém con t r a a s en fer m id a d es d o Fig.75 – Figas em madeira, prata e coral. Exemplar 2267.XII.075. Fot. da autora. Fig.77 – Figas em prata. E xem p la r 2 2 6 1 .XII.0 6 9 . Fotografia da autora. Fig.78 – Ma n o corn u ta em m a r fim . E xem p la r 2 2 4 9 .XII. 0 5 7 . Fot ogr a fia da autora. A figa é “u m ges t o m á gico qu e s e ob tém com a m ã o fech a d a d e m a n eir a qu e o d ed o p olega r s ob r es s a ia d en t r e o in d ica d or e o m éd io” (VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , p .1 7 7 ) e qu e s e m a t er ia liza em a m u letos 180. O ges t o r ep r es en t a os or gã os gen it a is m a s cu lin o e fem in in o em a t o s exu a l. Pod e r ep r od u zir a m ã o d ir eit a ou a es qu er d a . Na coleçã o d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o h á u m p r ed om ín io d e figa s d e m ã o es qu er d a 181 (3 4 p eça s n u m t ot a l d e 5 3 ). Qu a n t o a o m a t er ia l, é con feccion a d a em vá r ia s s u b s t â n cia s , d a s in t r in s eca m en t e m á gica s com o â m b a r , a zevich e, cor a l, cor n o e fer r o a t é b a r r o, coqu ilh o, lou ça , m a d r ep ér ola , m a r fim , m á r m or e, os s o, ou r o, p r a t a , vidro, celulóide, galalite (idem, p.178) e plástico. A figa p r op r ia m en t e d it a , con h ecid a com o m a n o fica ou m a n o in fica (ELWORTHY, 1 8 9 5 , p .2 5 6 ), er a u m a m u let o con t r a o m a u olh a d o b a s ta n t e d ifu n d id o n o m u n d o clá s s ico r om a n o, com or igem a t r ib u íd a a o Orien t e Méd io (VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , p .2 1 7 ). E lwor t h y (idem, p .2 5 5 ) id en t ificou a presença d a figa en tr e os a m u let os egíp cios d o Mu s eu As h m olia n o d e Oxfor d e a m u let os et r u s cos n o Mu s eo d i Bologn e. Ta m b ém foi en con t r a d a em Cartago, nas antiguidades de Iviça, do século VII ao III a. C (VASCONCELOS, 1 9 9 6 , p . 2 1 6 ). S eu n om e or igin a -s e em la t im d e fícus, qu e t a m b ém d es ign a a figueira182 e s eu fr u t o, o figo (fig.7 9 e fig.8 0 ). Por s eu in t er ior a s s em elh a r -se a o ór gã o s exu a l fem in in o, em la t im vu lga r , fica, d es ign a a vu lva (HOAIS S , 2 0 0 1 ). A figu eir a 183 er a a m a d eir a p r ed ilet a p a r a en t a lh a r im a gen s e fa los (phallus) d e Pr ía p o 184, filh o d e Vên u s e Ba co, s en d o con s id er a d o n a An t iga 180 S egu n d o Va s con celos (1 9 9 6 , p .2 2 1 ), “a figa , d e com eço, foi ges to licen cios o, com p len a s ign ifica çã o fís ica , o qu a l fa zia d es via r d e p es s oa s , a n im a is e cou s a s m á -olh a d u r a , qu e s e t in h a p or ca u s a d or a d e gr a ves d a n os . Dep ois o ges to t or nou-s e p r op r ia m en te a p ot r op a ico, isto é, com significação mágica ou sobrenatural: por isso se imitou sob a forma de amuleto”. 181 Conforme Vasconcelos (1996, p.177), em Lisboa “crê-se que, embora dê mais jeito fazer a figa com a mão direita, se deve fazer com a esquerda; o preceito é fazê-la com a esquerda; a esquerda tem mais virtude, mais ação”. 182 S egu n d o Gên es is 3 :7 (BÍBLIA, 1 9 8 5 , p .3 5 ), foi com folh a s d e figu eir a qu e Ad ã o e E va cobriram seus corpos nus após terem cometido o pecado original. 183 A figu eir a , fícu s ca rica , é cu lt iva d a d es d e o Neolít ico, ten d o s u a d om es t ica çã o ocor r id a ju n t o com a vid eir a e a oliveir a n o oes te d o Med iter r â n eo. Há r egis t r os d e s eu cu lt ivo en t re os assírios e egípcios, por volta de 2.000 a.C (JANICK, 2002). 184 Na s cid o em La m p s a co, n a Ás ia Men or , Pr ía p o é u m d eu s fá lico, qu e n a s ceu com u m a d efor m id a d e qu e o ca r a cter iza , u m fa lo d es m ed id o (Mon t a gn er , 2 0 0 4 ). Na s p a r ed es d o vestíbulo da Casa dos Vetti, em Pompéia, há um afresco com uma representação dele. Rom a , u m d eu s p r ot et or d os ja r d in s e d a fecu n d id a d e (COMME LIN, 1 9 ? , p.114-5). Fig.79 – O fr u t o: figo. Fon te: www. hortalimpa.com.br/curiosidades/ figo.htm Fig.80 – In ter ior d e u m figo. Fon te: www.essenceofjerusalem.biz/ formula.htm A figa n ã o é s om en te u m a m u leto it ifá lico 185, ela r eú n e o p r in cípio fem in in o e o m a s cu lin o em u n iã o s exu a l. Tod os es s es a m u let os es t ã o con ect a d os à m a gia s exu a l, qu e s e r efer e a os r it os d e fer t ilid a d e, n u m a a çã o r ep r es en t a t iva d em iú r gica , d a cr ia çã o d a vid a . Da í o s eu ca r á t er d e p r ot eçã o, fu n cion a n d o s egu n d o o p r in cíp io d e m a gia s im p á t ica , d e s im ila r id a d e, icon icid a d e, on d e a cr ia çã o, a vid a , a u n iã o s e op õem a o ca os , à m or t e, à d es or d em . S u a n a t u r eza a ca p a cit a a a n t ep or -s e à s for ça s m a lígn a s exis t en t es n a con cep çã o m á gica d o m u n d o com o op on en t es à s for ça s benignas. O u n iver s o m á gico é m a r ca d o p ela lu t a en tr e es s a s for ça s a n t a gôn ica s . Um a d es s a s p od er os a s for ça s é o m a u olh a d o ou qu eb r a n t o (VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , p .1 7 4 ), con h ecid o t a m b ém com o jettadura, in veja , fascination (ELWORTHY, 1 8 9 5 , p .1 -8 ). Os a m u let os e os t a lis m ã s s ã o a r m a s d e d efes a (p r ot eçã o) e a t a qu e (p r op icia tór io) n es s a b a t a lh a , em b u s ca d o equ ilíb r io d a s for ça s . A figa é u m d os p r in cip a is e m a is d ifu n d id os a m u let os contra a fascinação (VASCONCELOS, 1996, p.179). O uso da figa expandiu-se na Antiguidade à partir do Império Romano. A Lu s it â n ia , en t r e ou t r a s r egiões r om a n iza d a s , foi s u a h er d eir a e, s écu los d ep ois , p r op a ga d or a p a r a a s colôn ia s a lém -m a r com o o Br a s il. E r a u s a d a 185 Representação de falo ereto. Esse tipo de amuleto, provavelmente herdado do Egito (como o p ila r d e Os ír is ), er a b a s t a n te com u m n a Rom a An t iga s ob o n om e d e fascinum ou fascinus (ELWORTHY, 1 8 9 5 , p .1 5 1 e VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , p .2 1 6 ). E r a con h ecid o t a m b ém com o turpicula res, parte disforme (HOUAISS, 2001). “n o p u ls o d e m u lh er es e cr ia n ça s 186, ou a o p es coço, p en d en t e d e u m cola r ” (VASCONCELOS, 1 9 9 6 , p .2 0 1 ). Além d is s o, s eu p a p el p r ofilá t ico er a extensivo ao benefício de animais e coisas. No Br a s il, a figa es t á p r es en t e d es d e o s écu lo XVI. S eu u s o er a b a s t a n t e p op u la r n o s écu lo XIX (E wb a n k 1 9 7 6 , p .1 8 8 ). Além d o r egis t r o d e via ja n t es , figu r a em cit a ções d e r om a n ces d a ép oca . Ap a r ece em d ois m om en t os d e Me m ória s d e u m S a rgen to d e Milícia s d e Ma n u el An tôn io d e Alm eid a , p u b lica d o em 1 8 5 2 . Nes t e, a com a d r e, p er s on a gem d es cr it o p or Alm eid a (1 9 8 9 , p .2 6 ), é u m a m u lh er b ea t a qu e vivia d o ofício d e p a r t eir a e benzia de quebranto. O s eu t r a je h a b it u a l er a , com o o d e t od a s a s m u lh er es d a s u a con d içã o e es fer a , u m a s a ia d e lila p r et a , qu e s e ves t ia s ob r e u m ves t id o qu a lqu er , u m len ço b r a n co m u ito t es o e en gom a d o a o p es coço, ou t r o n a ca b eça , u m r os á r io p en d u r a d o n o cós d a s a ia , u m r a m in h o d e a r r u d a a t r á s d a or elh a , t u d o is to cob er t o p or u m a clá s s ica m a n t ilh a , ju n t o à r en d a d a qu a l s e p r ega va uma pequena figa [grifo nosso] de ouro ou de osso. A p r ofis s ã o d e p a r t eir a , d e t r a zer à vid a , en volvia for ça s m á gica s , e con s eqü en t em en t e r equ er ia p r ot eçã o p or p a r t e d os en volvid os . As s im é qu e p a r a a p a r t u r içã o m ã e e r ecém -n a s cid o er a m p r ep a r a d os . E s s e r it u a l é relatado por Almeida (idem, p.71), a com a d r e [a p a r t eir a ] veio à s a la , a p a gou a s vela s qu e es t a va m a ces a s a Nos s a S en h or a ; foi d ep ois d es a t a r a fit a d a cin t u r a d a Ch iqu in h a [a p a r t u r ien t e] e t ir a r -lh e d o p es coço os b en t in h os . A r ecém -n a s cid a , en fr a ld a d a , en cu eir a d a , en cin t eir a d a , en t ou ca d a e com u m m olh o d e figas [gr ifo n os s o] e m eia s -lu a s , s ign os d e S a lom ã o e ou t r os p r es er va t ivos d e maus-olhados presos ao cinteiro, O r om a n ce O Mu la to d e Aloís io d e Azeved o (s .d ., p .5 9 ), p u b lica d o em 1 8 8 1 , cu jo en r ed o s e d es en volve n o Ma r a n h ã o oit ocen t is t a , a p r es en t a o u s o da figa por uma das personagens. 186 Mu lh eres e cr ia n ça s s ã o a s p r in cip a is vít im a s d e m a lefícios e con s equ en tem en te os p r in cip a is u s u á r ios d a s figa s . E s s a s it u a çã o é ju s t ifica d a p ela s a lt a s t a xa s d e m or t a lid a d e infantil e decorrente de parturição no passado, atribuídas a ações mágicas. E , t ir a n d o d o s eio u m t r a n celim , com u m a en or m e figa d e ch ifr e en ca s t oa d a em ou r o; - Ai, m in h a r ica figa , a t i o d evo! a ti o devo, que me livraste do mau-olhado! Esse é o comentário da Sra. Maria Bárbara, senhora branca e rica, avó d a p er s on a gem p r in cip a l An a Ros a , qu e com o u m a m oça m od er n a d a segunda metade do séc. XIX despreza esse tipo de superstição. 2.2.3.2. Coco de água Ap a r ecem em 2 6 p en ca s d e b a la n ga n d ã s , s en d o os elem en t os m a is fr eqü en t es ju n t o com a figa e a ch a ve. No con ju n t o h á m in ia t u r a s d e cocos d e á gu a em p r a t a e em coco e p r a t a (fig. 8 1 e 8 2 ). Um d eles , elem en to d o exem p la r 2 2 4 7 .XII.0 5 5 , a p r es en t a con tr a s t e d a Ba h ia d o s écu lo XVIII. Segundo Franceschi (1988, p.192), u m coco d e á gu a t em s eu n om e d er iva d o “d o p r im it ivo em p r ego d e cu ia s d e coco p a r a t ir a r á gu a d os d ep ós it os ; a essas cuias eram presas hastes de madeira ornamentadas com d et a lh es d e p r a t a ; m a is t a r d e p a s s a r a m a s er feit a s inteiramente de prata, conservando a forma e o nome. Nã o foi en con t r a d a qu a lqu er r efer ên cia de u so m á gico d es t es element os . Pa r ecem s er elem en t os m era m en t e d ecor a t ivos . Pos s ivelm en t e er a m m in ia t u r a s d o p r od u t o en com en d a d o, a p r es en t a d o a o en com en d a n t e ou com o m os t r u á r io. S u a in cor p or a çã o à s p en ca s d e b a la n ga n d ã s d eve s egu ir , a s s im com o ou t r os elem en t os , o p r in cíp io qu a n t it a t ivo qu e or ien t a a sua natureza aglutinadora. Fig. 8 1 – Cocos d e á gu a em p r a t a e coco e p r a ta . Exemplar 2251.XII.059. Fotografia da autora. Fig. 82 – Cocos de água em prata. Exemplar 2263.XII.071. Fotografia da autora. Fig.83 – Coco d e á gu a em p r a t a cin zela d a . Br a s il, s éc.XIX. Fon te: MOUTINHO, PRADO e LONDRES, 1999, p.93 2.2.3.3. - Chave A ch a ve a p a r ece em 2 6 p en ca s d e b a la n ga n d ã s . E xis t em 4 5 ch a ves , em p r a t a , va r ia n d o d e 3 ,0 a 1 0 ,0 cm . Tod a s s ã o p or s u a s d im en s ões e decoração chaves de sacrários e cofres (fig.84 e 85). Fig.85 – Cofr e e ch a ve d e cofre em p r a t a . Por t u ga l, s éc. XVI (fin a l) – S éc. XVII (1 ª m et a d e). Col. Mu s eu d e É vor a . Fon te: CORDEIRO, 1993, p.248 Fig.84 – Chaves em prata. Exemplar 2249.XII.057.Fotografia da autora. Du a s das ch a ves (fig.8 6 e 8 7 ) t r a zem m a r ca de ou r ives não identificado, as iniciais A S. Fig.86 – Ch a ve em p r a t a (d et a lh e). E xem p la r 2262.XII.070. Fotografia da autora. Fig.87 – E xem p la r autora. Ch a ve em p r a t a (d et a lh e). 2 2 7 2 .XII.0 8 0 . Fot ogr a fia d a Existem também exemplares híbridos, pânteos, que aglutinam chave e figa (fig. 88 e 89 ). Fig. 88 - Figa em prata. Exemplar 2272.XII.080. Fotografia da autora. Fig. 89 - Figa em prata. Exemplar 2266.XII.074. Fotografia da autora. Na icon ogr a fia cr is t ã , a ch a ve a lu d e a S ã o Ped ro (fig.9 0 ). Ma t eu s 16:18-1 9 (BÍBLIA, 1 9 8 5 , p .1 8 6 9 -7 0 ), d es cr eve o p od er d a s ch a ves d a d o a Pedro por Jesus, t a m b ém eu t e d igo qu e tu és Ped r o, e s ob r e es t a p ed r a ed ifica r ei m in h a Igr eja , e a s p or t a s d o In fer n o n u n ca p r eva lecer ã o con t r a ela . E u t e d a r ei a s ch a ves d o Rein o d os Céu s e o qu e liga r es n a t er r a s er á liga d o n os céu s , e o qu e desligares na terra será desligado nos céus. Fig. 9 0 – A en t rega d a s ch a ves a Ped ro (d et a lh e). Piet r o Perugino. Afresco, 1482. Capela Sistina, Vaticano187. 187 Fonte: LOPERA, José Alvarez e ANDRADE, José Manuel P. História geral da Arte: Pintura I. Lisboa: Ediciones del Prado, 1995. p.126. O p od er d a s ch a ves r es id e n o con t r ole, em t er ou d a r a ces s o a u m a p or t a , cofr e, con t eú d o. É u m elem en t o u s a d o n a m a gia a p a r t ir d es s a s u a ca r a ct er ís t ica fu n cion a l, p or a n a logia , m a gia s im p á t ica . Da m es m a for m a qu e d á a ces s o a a lgo, t a m b ém o b loqu eia . Nes s e s en t id o é em p r ega d a com o amuleto de proteção para “fechar o corpo”. Ain d a , qu a n d o r ela cion a d a a o ca r á t er s a gr a d o com o é o ca s o d a s ch a ves d e s a cr á r io, es t á p r es en t e em p r á t ica s s u p er s t icios a s com u n s n o Brasil como a citada por Mário de Adrade(1983, p. 32) em Macunaíma E s t a va com a b oca ch eia d e s a p in h os p or ca u s a d a qu ela p r im eir a n oit e d e a m or p a u lis t a n o. Gem ia com a s d or es e n ã o h a via m eios d e s a r a r a t é qu e Ma a n a p e r ou b ou u m a ch a ve d e s a cr á r io e d eu p r a Ma cu n a ím a ch u p a r . O h er ói ch u p ou chupou e sarou bem. Maanape era feiticeiro. 2.2.3.4. Moedas E xis t em 8 0 m oed a s , p r es en t es em 2 5 p en ca s d e b a la n ga n d ã s . Tod a s s ã o em p r a t a , d os s écu los XVIII (3 )188 e XIX (7 7 ), p r in cip a lm en t e b r a s ileir a s (7 5 exem p la r es ), p ou ca s es tr a n geir a s (5 ). As b r a s ileir a s s ã o: com id en t ifica çã o ilegível (1 ); 3 2 0 r s (1 ); 6 4 0 r s (1 ); 1 0 0 r s (1 ); 8 0 r s (3 ); 2 0 0 0 r s (1 2 ); 1 0 0 0 r s (1 2 ); 2 0 0 r s (1 3 ); 9 6 0 r s (1 4 ); 5 0 0 r s (1 7 ). Qu a n t o à s es t r a n geir a s t r ês s ã o es p a n h ola s , u m a é b olivia n a e u m a b elga . As dimensões, d iâ m et r o, va r ia m d e 2 ,0 a 4 ,0 cm . A m a ior ia d a s m oed a s r eceb e a p en a s u m a a r gola d e s u s t en t a çã o (fig.9 1 ), en t r et a n t o, a lgu m a s r eceb em cer ca d u r a s ou en ca s t oa m en t o d ecor a t ivo (fig.9 2 ), com o a s m oed a s e m ed a lh a s d a joa lh er ia p op u la r p or t u gu es a . Ca b e r es s a lt a r , con t u d o, qu e a s m oed a s u s a d a s p ela s la vr a d eir a s p or t u gu es a s n ã o s ã o ver d a d eir a s , a o m en os a s d os exem p la r es exis t en t es , p ois , p or im p os içã o lega l, t r a t a -s e d e m oed a s d e im it a çã o e p a r a s e d is t in gu ir em d a s ver d a d eir a s , a p r es en t a m t a m a n h o in fer ior e a ca b a m en t o m en os p er feit o (COS TA e FRE ITAS , 1 9 9 2 , p.43). 188 Os únicos exemplares do séc. XVIII são três moedas de 80 rs, todas datadas de 1787. Fig. 9 1 - Moed a s em p r a t a . 2255.XII.063. Fotografia da autora. E xem p la r Fig. 9 2 - Moed a em p r a t a . E xem p la r 2250.XII.058. Fotografia da autora. As m oed a s , p or s eu va lor in t r ín s eco, r efer em -s e à r iqu eza e, com o t a l a gen t e p r op icia t ór io, s ã o u s a d a s m a gica m en t e p a r a a t r a ir r iqu eza . S eu u s o foi citado por Azevedo (s.d., 56) em O Mulato, Môn ica or ça va p elos cin qü en t a a n os ; er a gord a , s a d ia e m u it o a s s ea d a ; t et a s gr a n d es e d es ca id a s d en t r o d o ca b eçã o. Tinha a o p es coço u m b a r b a n t e, com u m cr u cifixo d e m et a l, uma prat in h a de 2 0 0 ré is [gr ifo n os s o], u m a fa va d e cu m a r u , u m dente de cão e um pedaço de lacre encastoado em ouro. 2.2.3.5. Cilindro S es s en t a e qu a t r o cilin d r os (fig. 9 3 -9 6 ) a p a r ecem em 2 4 p en ca s de b a la n ga n d ã s . Qu a n t o a o m a t er ia l s ã o em p r a t a (2 5 ), m a d eir a en ca s t oa d a d e p r a t a (2 3 ), con t a s en ca s t oa d a s d e p r a t a (3 ), p r a t a d ou r a d a (1 ), cor a l en ca s t oa d o d e p r a t a (1 ), ch ifr e en ca s t oa d o d e p r a t a (1 ), á ga t a en ca s t oa d a d e prata (1) e outros materiais encastoados (9). A maioria é sólida, sendo alguns ocos com p a r t e m óvel. E m t a m a n h o va r ia m d e 3 ,0 a 9 ,0 cm . Os d e p r a t a s ã o decorados em cinzelados e gravados. Fig.93 – Cilin d r os em p r a t a , m a d eira e con t a . Exemplar 2251.XII.059. Fotografia da autora. Fig. 9 4 – Cilin d r os em con t a , m a d eir a e á ga t a . E xem p la r 2 2 4 9 .XII.0 5 7 . Fot ogr a fia da autora. Fig. 9 5 – Cilin d r o em p r a t a com p a r te m óvel. Exemplar 2250.XII058. Fotografia da autora. Fig.96 - Cilin d r o em m a d eir a e cor a l. E xem p la r 2 2 5 0 .XII0 5 8 . Fot ogr a fia d a autora Além d o for m a t o a lon ga d o e r oliço, qu e s e a s s em elh a a a m u let os it ifá licos es t iliza d os , s egu n d o Dia s (1 9 9 2 , p .1 5 3 -4 ), con t a s em for m a t o t u b u la r , d e cor a l a r t ificia l d e fa b r ica çã o fla m en ga for a m exp or t a d a s p a r a a costa ocidental africana, principalmente para o Benin, a partir do séc.XVI. S eu s ign ifica d o s im b ólico n a s s ocied a d es p r é-coloniais a fr ica n a s n ã o é m u ito b em com p r een d id o. Com o a s con ch a s , con t u d o, p a r ecem t er s id o con s id er a d a s com o p os s u in d o p od er es p rot ect or es e er a m h a b it u a lm en t e u s a d a s ju n t o com outros materiais para servir de amuletos. E r a m u s a d os em cola r es e p u ls eir a s com o a s d em a is con t a s red on d a s . Nã o for a m loca liza d os exem p la r es en ca s t oa d os ou em m a d eir a e p r a t a n a África. S egu n d o Ma ch a d o (1 9 7 3 , p .1 9 ) e Oliva (1 9 5 7 , p .4 4 ), os cilin d r os , qu e d en om in a b a s t ões ocos d e p r a t a , er a m “on d e p ós es con d id os : p ó-de-p em b a , m a n jer icã o, gu in é, t er r a m is t er ios os er a m d e cem it ér io er a m gu a r d a d os ”. Na d a com en t a s ob r e os cilin d r os qu e n ã o fu n cion a m com o r elicá r io. Um d os exem p la r es (fig.9 5 ), u m cilin d r o r elicá r io, t r a z m a r ca s inglesas. A ou t r a ú n ica r efer ên cia a os cilin d r os n o Br a s il foi d a d a p or Oliva (1 9 5 7 , p .4 4 -4 9 ) s ob r e u m t ip o d e cilin d r o d e p r a t a a b er t o n a s d u a s ext r em id a d es , qu e n ã o es t á p r es en t e n a coleçã o d o Mu s eu Ca r los Cos t a Pinto. 2.2.3.6. Romã A r om ã é um d os elem en tos m a is fr eqü en t es das p en ca s de b a la n ga n d ã s . Da s 2 7 p en ca s d a coleçã o Mu s eu Ca r los Cos ta Pin t o, s ó 5 n ã o p os s u em r om ã . No con ju n t o h á u m t ot a l d e 3 7 r om ã s , t od a s em p r a t a , es fér ica s , oca s , cin zela d a s , va r ia n d o em t a m a n h o (a lt u r a en tr e 5 ,5 a 9 ,5 cm ) e d ecor a çã o (em b or a s em p r e com m ot ivos fit om or fos ). Dem on s t r a em t od os os exem p la r es u m t r a b a lh o er u d it o d a ou r ives a r ia lu s o-b r a s ileir a t a n t o n a con fecçã o com o n a d ecor a çã o. E m a lgu n s exem p la r es , com o n o exis t en t e n a penca 2 2 7 1 .XII.0 7 9 , n ot a -s e u m a t ext u r a p u n t ifor m e in ca va , u m a p os s ível a lu s ã o a o in t er ior d o fr u t o, à exis t ên cia d a m u lt ip licid a d e d e s em en t es . E s s a referência, implícita ou explicita, é vital para uma identificação do signo como s ím b olo d e fecu n d id a d e, fa r t u r a . Nã o for a m en con t r a d a s r om ã s com o t a lis m ã s n o Rio d e J a n eir o n a r ela çã o d e Th om a s E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 3 1 ) ou na iconografia encontrada. Fig. 97 – O fruto da romã189. Fig. 98 – Interior de uma Fig.99 – Romã em prata. Exemplar 2271.XII.079. Fotografia da autora. romã190. Com o a r ep r es en t a çã o d o fr u to r om ã leva a u m a leit u r a p or s eu s u s u á r ios ? É p r ecis o ca r a ct er iza r o fr u t o, r a s t r eá -lo191 p a r a t en t a r es t a b elecer es s e s eu fu n cion a m en t o. A r om ã é o fr u t o da r om a n zeir a (Punica granatum)192, fa m ília b ot â n ica d a s p u n icá cea s . A s u a ca s ca , d e cor a m a r ela ou ver m elh a , t em m a n ch a s es cu r a s . S u a ext r em id a d e s u p er ior é cor oa d a p elo cá lice d a flor . In t er n a m en t e é s u b d ivid id a em ca vid a d es com in ú m er a s sementes, adocicadas, comestíveis, de cor rósea ou avermelhada. Segundo J a n ick 193 (2 0 0 2 ), a r om ã é or igin á r ia d a Ás ia Ocid en t a l, es p ecifica m en t e d o s u d oes t e d o cin t u r ã o Cá s p io (Ir ã ) e n or d es t e d a Tu r qu ia , com in d ícios d e cu lt ivo d es d e a Id a d e d o Br on ze. E r a con h ecid a n a Mes op ot â m ia , Fen ícia , S ír ia e Pa les t in a . Por t a n t o, er a cu lt iva d a p elos p ovos s em it a s (com o os a s s ír ios , b a b ilôn ios , h ics os , fen ícios e h eb reu s ). Os h ics os , que invadiram o Egito em cerca de 1.700-1.600 a.C., introduziram a romã no E git o. S eu n om e la t in o Pu n ica gra n a tu m (cla s s ifica çã o d e Lin eu , s éc. XVIII) é 189 Fonte: http://www.monjardin.fr/images/plantes/134min.jpg Fonte: http://corpoveloz.blogspot.com/2004_05_01_corpoveloz_archive.html 191 É vit a l qu e p a r a qu e exis t a u m s ign o em for m a d e r om ã , h a ja ou ten h a h a vid o u m con h ecim en to d o fr u t o p or s eu p r od u t or e/ ou u s u á r io. S e n ã o d o fr u t o, d e u m a r ep res en t a çã o d es te, com o ocor r ia com a lgu n s elem en tos d ecor a t ivos ou m ot ivos n a porcelana chinesa de encomenda nos séculos XVII, XVIII e XIX. 192 A romanzeira é um arbusto ramoso, medindo de 2 a 5 metros de altura, podendo chegar até 100 anos de idade. Suas folhas avermelhadas tornam-se verdes com o tempo. As flores são vermelho-alaranjadas. O fruto, a romã, é um pseu dofruto. 193 Jules Janick é professor Ph.D do Department of Horticulture and Landscape Arch itectu re Pu rd u e Un iv ers ity , Indiana – EUA, lecionando as disciplinas History of Horticulture e Tropical Horticulture. Tem várias publicações sobre o tema e disponibiliza, via internet, material de leitura produzido por ele para a sua disciplina History of Horticulture, que foi consultado e citado neste capítulo. 190 uma cla r a r efer en cia a Ca r t a go, colôn ia fen ícia n o n or t e d a Áfr ica . No s éc. V a.C., os ca r t a gin es es in va d ir a m o s u l d a Pen ín s u la Ib ér ica d ifu n d id o-a. Pos t er ior m en t e, os á r a b es con s olid a r a m es s e t r a jet o em s u a exp a n s ã o a partir do séc.VII d.C. Fig.100 – Romã em m a r fim . Tú m u lo d e Tu t a n k a m on , s éc. XIV a.C.194 Fig. 1 0 1 – Rom ã em m a r fim . At r ib u íd a a o Tem p lo d e S a lom ã o, Jerusalém.195 Fig. 1 0 2 - Chão em mosaico com 3 r om ã s . An t iga S in a goga d e Heft s ib a h -Bet Alfa , d a t a d a d o s éc.VI a.C.196 Fig. 1 0 3 – Moeda cu n h a d a em J er u s a lém , 6 7 d .C. Tr a z gr u p o d e 3 romãs.197 Esse percurso pode ser atestado por escavações arqueológicas, por sua p r es en ça em m ot ivos or n a m en t a is e a r t efa t os em vá r ia s cu ltu r a s e p or cit a ções em livr os r eligios os . A r om ã é cit a d a n o An t igo Tes t a m en t o 198, no Alcorão e na Tora199. Na tumba de Tutankamon, o arqueólogo Howard Carter en con t r ou em 1 9 2 2 , en t r e os t es ou r os d o fa r a ó m en in o u m a r om ã d e m a r fim com d ecora çã o fit om or fa , m ed in d o 7 ,9 cm d e a lt u r a e 6 ,5 cm d e d iâ m et r o (fig. 1 0 0 ). O Is r a el Mu s eu m p os s u i u m a r om ã d e m a r fim , m ed in d o 4 ,3 cm , qu e s e a cr ed it a s er u m a r elíqu ia d o Tem p lo d e S a lom ã o em J er u s a lém , u s a d a p elos s a cer d ot es em s eu s cet r os cer im on ia is (fig.1 0 1 ). Há u m m os a ico com u m gr u p o d e t r ês r om ã s n a a n t iga s in a goga d e Heft s ib a h -Bet Alfa , em Is r a el, d a t a d o d o s éc. VI a .C. (fig.1 0 2 ). Um a a n t iga m oed a cu n h a d a em J er u s a lém n o a n o d e 6 7 t r a z u m gr u p o d e t r ês r om ã s em u m a d a s fa ces (fig.1 0 3 ). Foi en con t r a d o n a s p a r ed es d a a n t iga s in a goga d e Ca fa r n a u m , Is r a el, d a t a d a en t r e os s écu los III e V d .C., u m r elevo com ca ch os d e u va s e 194 Acervo: The Griffith Institute, Ashmoleum Museum. Fonte:www.ashmol.ox.ac.uk/gri/ carter/040a-p0230.html 195 Acervo: Israel Institut. Fonte: http://jerusalem.edu/secure/past/main92.html 196 Fonte: www.tau.ac.il/lifesci/otany/judaism.htm 197 Fonte: www.tau.ac.il/lifesci/otany/judaism.htm 198 Exodus 28: 31-33; Nu 13:23; De 8:8; I Reis 7:18-20; (Bíblia, 1995, p.148, 235, 287, 518) 199 A Tor a ju d a ica com p r een d e 5 livr os d a Bíb lia , d o An t igo Tes t a m en to, con h ecid os com o Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio (HOUAISS, 2001) gr u p o d e t r ês r om ã s (fig.1 0 4 ). Na icon ogr a fia cr is t ã a r om ã a p a r ece r ela cion a d a à Vir gem e a o m en in o n a s ob r a s d e m u it os p in t or es d es d e a Id a d e Méd ia com o Bot t icelli (fig.1 0 5 ), Fillip p in o Lip p i (fig.1 0 6 ), Leon a r d o d a Vin ci (fig.1 0 7 ). Na im a gin á r ia cr is t ã é a t r ib u t o d e Nos s a S en h or a d e Montserrat e Nossa Senhora da Fartura (fig.108). Fig. 104 – Relevo com cacho de uvas e 3 romãs. Decoração mural da antiga Sinagoga de Kfar Nahum, cerca do séc. III a V d.C.200 Fig. 106 – A Virgem com menino e São João. Fillipino Lippi. Têmpera, c. 1480. National Galery, Londres.202 200 Fig. 105 – Madona com menino e seis anjos. Sandro Botticelli. (1445-1510). Óleo sobre tela, c.1487. Uffizi201 Fig. 107 – Madonna de Dreyfus. Leonardo da Vinci. Óleo sobre madeira, c.1469. National Gallery of Art, Washington.203 Fig. 108 – Nossa Senhora da Fartura. Barro policromado, 1677. Col. Particular – SP. 204 Fonte: www.tau.ac.il/lifesci/otany/judaism.htm Fonte: http://pefab.webpark.cz/Galerie/Botticeli.htm 202 Fonte: www.nationalgallery.org.uk/cgi-bin/WebObjects.dll/CollectionPublisher.woa/wa/ work?workNumber=NG1412 203 Fonte: www.artchive.com/artchive/L/leonardo/leonardo_dreyfus.jpg.html 204 Fonte: MARINO, 1996, p.48 201 A p r ofu s ã o d e s em en t es n o in t er ior d e u m a r om ã a ca p a cit a p a r a fu n cion a r com o u m s ign o d e fa r t u r a e p or ext en s ã o d e fecu n d id a d e, r iqu eza . A s u a h is t ór ia e r ep r es en t a çã o a r t ís t ica a t es t a m es s a s u a in t er p r et a çã o d en t r o d o p r ogr a m a icon ogr á fico cr is t ã o. O s eu u s o m á gico, b a s eia -s e n es s a a n a logia d e n a t u r eza s im p á t ica h om eop á t ica (FRAZE R, 1 9 8 2 , p .3 4 ), n u m a ação como talismã, ou seja, com intento propiciatório. Um a d a s r om ã s exis t en t e n a coleçã o d ifer e d a s d em a is e p od e s er identificada como elemento decorativo de um paliteiro do tipo luso-brasileiro, dada à presença de orifícios para inserção de palitos (fig.109 e 110). Fig.109 - Rom ã em p r a t a . E xem p la r 2273.XII.081. Fotografia da autora. Fig. 1 1 0 – Pa liteir o em p r a t a com d ecor a çã o veget a l. Ou r ives Fr a n co J os é Vellozo. Rio d e J a n eir o, s éc. XIX. Col. Ma r qu es d os S a n tos . Fonte: VALLADARES, s.d., p.103. 2.2.3.7. Cacho de uvas O ca ch o d e u va s (fig.1 1 1 e 1 1 2 ) a p a r ece em 2 2 d a s 2 7 p en ca s d e balangandãs205. No con ju n to h á u m t ot a l d e 2 8 ob jet os , t od os em p r a t a , va r ia n d o em t a m a n h o (a lt u r a en t r e 7 ,0 a 1 1 ,0 cm ). É o elem en t o m a is 205 Destas 22 vezes, aparece junto com as romãs em 21 exemplares. volu m os o. Com p os t o p or b ola s lis a s , oca s , d e m es m o t a m a n h os , d is p os t a s em 4 a 5 n íveis d e for m a côn ica a s cen d en t e d a p on t a in fer ior a o t op o. As b ola s s ã o s old a d a s u m a s à s ou t r a s em t or n o d e u m a h a s t e cen t r a l. A com p os içã o é en cim a d a p or 3 folh a s 206 ch a p a d a s , cin zela d a s ou gr a va d a s com decoração estriada. No alto, argola de suspensão. Fig. 1 1 1 – Ca ch o d e u va s em p r a t a . E xem p la r 2 2 4 8 .XII.0 5 6 . Fot ogr a fia d a autora. Fig.112 – O fruto: Cacho de uvas. Fonte: http://money.cnn.com/2001/05/04/home_ auto/ gardening_vineyard/grape.jpg A vid eir a (Vitis s y lves tris ), a s s im com o a r om ã n zeir a , é n a t iva d a Ás ia Ocid en t a l, es p ecifica m en t e d o s u d oes t e d o cin t u r ã o Cá s p io (Irã ) e Tu r qu ia , e t a m b ém d os Ba lcã s , t en d o s id o d is s em in a d o o s eu cu ltivo n o n or t e d o Med it er r â n eo, in clu in d o o Ma r Negr o (J ANICK, 2 0 0 2 ). A colh eit a d e u va s s elva gen s é evid en cia d a em vá r ios s ít ios p r é-h is tór icos n a E u r op a . A u va d om és t ica (Vitis v in ifera) é d a t a d a d e cer ca d e 8.000 a .C, t en d o m igr a d o d a An a t ólia p a r a a S ír ia e Pa les t in a , ch ega n d o à Mes op ot â m ia , E git o e Ma r E geu . É con s u m id a com o fr u t o fr es co, s eco ou com o s u co e vin h o. E r a a p r in cip a l b eb id a d a Gr écia e d e Rom a . O vin h o, com o qu a lqu er b eb id a 206 Salvo problemas oriundos do estado de conservação das mesmas são em número de três. a lcoólica , é p r oib id o p elo Is la m is m o, e, p or t a n t o, n ã o s er ia u m a s im b ologia conivente às crenças dos negros malês. Fig.113 – Vid eir a s ob re cip res te em ja rd im Assírio.207 Fig.114 – Oferendas de romãs, uvas e flores. Novo Império, Egito.208 Na t r a d içã o ju d a ico-cr is t ã , a vid eir a é id en t ifica d a a Is r a el209 e a J es u s Cristo210. Os ca ch os d e u va s fa zem p a r t e d a s im b ólica cr is t ã a o evoca r o vin h o e, con s equ en tem en t e, o s a n gu e d e Cr is t o 211. Qu er em ob jet os d e u s o s a cr o ou p r ofa n o, es s e m ot ivo es t á p r es en t e d a d ecor a çã o d e r et á b u los (fig.115), cálices, bandejas de espevitadeira, grades de salvas e bandejas, etc. Em Portugal, há brincos em formato de cachos de uvas (fig.116). A vid eir a e o ca ch o d e u va s t a m b ém s ã o r ela cion a d os à fer t ilid a d e. O Salmo 128, 3 (BÍBLIA, 1985, p.1095) compara a mulher à vinha, “tua esposa será vinha fecunda, no recesso do teu lar”. 207 Fonte: http://www.hort.purdue.edu/newcrop/history/lecture04/r_4-3 -07.html Fonte: http://www.hort.purdue.edu/newcrop/history/lecture04/r_4-3 -07.html 209 Os éia s 1 0 ,1 ; J r 2 ,2 1 ; J r 5 ,1 0 ; J r 6 ,9 ; J r 1 2 ,1 0 ; E z 1 5 , 1 -8 ; E z 1 7 , 3 -1 0 ; E z 1 9 , 1 0 -14; S l 80,9; Is 27, 2-5 (BÍBLIA, 1985) 210 Jesus como “a verdadeira vinha” em João 15, 1-6 (BÍBLIA, 1985, p.2026). 211 S egu n d o Ma teu s 2 6 , 2 6 -2 9 (BÍBLIA, 1 9 8 5 , p . 1 8 8 9 ), n a Últ im a Ceia , J es u s in s t it u iu o r it u a l d a E u ca r is t ia , d a Com u n h ã o en t re Cr ia d or e cr ia t u r a a t r a vés d a in ges tã o d o s a n gu e d o Filh o d e Deu s , o Red en tor . E s s e é o p r in cip a l r it u a l d os cr is t ã os , m em or a d o e rea liza d o a ca d a m is s a , on d e s em p re ocor r e o m is tér io d a t r a n s u b s t a n cia çã o. Des t a for m a , o vin h o d a m is s a a o s er con s a gr a d o n ã o rep res en t a o s a n gu e d e Cr is t o e s im , t or n a -s e o ob jeto representado. 208 Fig.115 – Det a lh e d e ob r a d e t a lh a com d ecor a çã o com ca ch os d e u va s . Ret á b u lo d e Nos s a S en h or a d a Pied a d e, s éc.XVIII. Mu s eu d e Ar te S a cr a -UFBA. Fon te: MUS E U DE ARTE SACRA, 1987, p.29 Fig.116 – Brincos p or t u gu es es em ou r o, p ér ola s e tu r qu es a . Fon te: S ANTOS e SILVA, 1998, p.134 2.2.3.8. Peixe O p eixe (fig.1 1 7 e 1 1 8 ) a p a r ece em 2 2 p en ca s d e b a la n ga n d ã s d a coleçã o. Tod os os exem p la r es s ã o em p r a t a , com d ecor a çã o em cin zela d o (qu a n d o em volu m e) e gr a va d o (qu a n d o ch a p a d os ), va r ia n d o em t a m a n h o d e 4,5 a 10,0cm. Fig. 1 1 7 - Peixes em p ra t a ch a p a d os . E xem p la r 2 2 5 3 .XII.0 6 1 . Fot ogr a fia d a autora. Fig. 1 1 8 - Peixe em p r a t a em volu m e. E xem p la r 2268.XII.076. Fotografia da autora. O p eixe é u m d os m a is a n t igos s ím b olos d e Cr is to en t r e os p r im eir os cr is t ã os . Fu n cion a va com o u m a m et á for a , u m a a n a logia d e gr a fia en t r e a p a la vr a gr ega ichtys (p eixe) e o a cr ós t ico J es ou s Ch ris tos Th eou Y ios S oter (J es u s Cr is t o, filh o d e Deu s , o S a lva d or)212. O p eixe a p a r ece n a icon ogr a fia da arte paleocristã nas catacumbas romanas (fig.119) e nas primeiras igrejas (fig.1 2 0 ). No Novo Tes t a m en t o en con t r a -s e vin cu la d o a os p r im eir os d is cíp u los d e Cr is t o, qu e er a m p es ca d or es (Mt 4 , 1 8 -20)213, e a o m ila gr e d a m u lt ip lica çã o d os p ã es e p eixes (Mt 1 4 , 1 3 -2 1 ; Mt 1 5 , 3 2 -39)214. S egu n d o essa passagem relaciona-se à fartura. Na t r a d içã o a fr ica n a r ela cion a -s e à s en t id a d es d a s á gu a s , Oxu m e Iemanjá, como emblema de fertilidade (LODY, 2003, p.199). Fig. 1 1 9 – Peixes Domitila, Roma215. e â n cor a . Ca t a cu m b a de Fig. 1 2 0 – Mos a ico d a Igr eja d a Mu lt ip lica çã o d os p ã es e p eixes em E lTabgha, Israel, séc. IV216. 2.2.3.9. Dente E xis t em n o con ju n to 4 2 d en t es (fig.1 2 1 ), p r es en t es em 2 1 p en ca s d e b a la n ga n d ã s . E m t a m a n h o va r ia m d e 1 ,5 a 1 2 ,5 cm . S ã o d en t es d e a n im a is id en t ifica d os com o p or co, ja va li, on ça ou ga t o m a r a ca já , ja ca r é. Ap en a s d ois exemplares são em prata (fig.123 e 124). 212 LEXIKON, Herder. Dicionário de símbolos. São Paulo: Círculo do Livro, 1991, p.158. BÍBLIA, 1 9 8 5 , P.1 8 4 4 . Os a p ós t olos s ã o n es s a p a s s a gem id en t ifica d os a p es ca d ores d e homens e consequentemente esses homens, os convertidos, seriam os peixes. 214 BÍBLIA, 1985, p. 1866 e p.1868. 215 Fonte: www.stephenbroyles.com/ 3%20Ways%20Jesus.htm 216 Fonte: www.bible-history.com/jesus/jesus00000029.gif 213 Am u let o d e p r ot eçã o em vá r ia s cu ltu r a s , en con t r a d o n a Áfr ica , E u r op a , Br a s il. Rep r es en t a o a n im a l (fu n cion a com o evoca çã o das qu a lid a d es , a for ça d es s e a n im a l), a p a r t e qu e s e ca p a cit a a r ep r es en t a r o todo pela lei da contiguidade (magia indicial) e similitude (magia icônica). Fig.121 – Den tes . E xem p la r 2 2 4 9 .XII.0 5 7 . Fotografia da autora. Um d os d en t es Fig.122 – Den te (d et a lh e). E xem plar 2269.XII.077. Fotografia da autora. con feccion a d o t r a z n o en ca s toa m en t o m a r ca çã o n u m ér ica n ã o id en t ifica d a (fig.1 2 2 ). Ou t r o ca s o, s ã o d ois d en t es h u m a n os em p r a t a (fig. 1 2 3 e 1 2 4 ), qu e s e a s s em elh a m a o a t r ib u t o d e S a n t a Apolônia217 (fig.1 2 5 e 1 2 6 ). E la er a in voca d a con t r a a d or d e d en t e. E la con s t a d o ca len d á r io r eligios o d o Alm a n a qu e civ il, político e com ercia l d a cid a d e d a B a h ia p a ra o a n o d e 1 8 4 5 (1 9 9 8 , p .1 5 ). E wb a n k (1 9 7 6 , p .5 8 ) descreveu sua comemoração em 09 de fevereiro de 1846, no Rio de Janeiro, h oje é a n iver s á r io d e S a n t a Ap olôn ia , u m a d a qu ela s s a n t a s qu e, a p ós d eixa r a t er r a , con t in u a m s em p r e a a b en çoá -la . Nã o exis t em d or es m a is cr u cia n t es qu e a qu ela s qu e cu r a . “Ad voga d a con t r a a t os s e”, cu r a d or d e d en t es . S ã o-lhe oferecidos aqui maxilares de cera. 217 S a n ta Ap olôn ia foi u m a vir gem m á rt ir , qu e m or r eu em Alexa n d r ia em 2 4 9 . S u a fes ta é com em or a d a em 9 d e fevereir o. S eu s a t r ib u t os s ã o: p a lm a d e m á r t ir , ten a z (b ot icã o) ger a lm en te a com p a n h a d a d e d en te a r r a n ca d o (ROIG, 1 9 5 0 , p .4 8 ). “Du r a n te u m t u m u lt o em Alexandria, a multidão instigada contra os cristãos matou vários deles, inclusive a diaconisa Ap olôn ia , m u lh er d e qu a ren t a a n os . E la foi golp ea d a n o r os t o vá r ia s vezes , a té qu e s e qu eb r a s s em t od os os s eu s d en tes ; em s egu id a foi a ces a u m a fogu eir a p a r a qu eimá-la viva , ca s o n ã o ren u n cia s s e à s u a fé. Ap olôn ia rezou u m a p r ece cu r t a e ca m in h ou s ozin h a a té a s chamas, sendo rapidamente consumida” (ATTWATER, 1993, p.42) Fig.123 – Den te em p r a t a . E xem p la r 2252.XII.060. Fotografia da autora. Fig.1 2 5 - S a n t a Ap olôn ia . Fr a n cis co d e Zurbarán. Óleo s ob re tela , s éc.XVII. Mu s eu d o Louvre218. 218Fonte: Fig.124 – Den te em p r a t a . E xem p la r 2258.XII.066. Fotografia da autora. Fig. 1 2 6 - Tor qu ês e d en tes em cob r e prateado (atributo de imagem). Évora, Por t u ga l, s éc. XVIII. Fon te: CORDEIRO, 1993, p.221 http://cartelfr.louvre.fr/cartelfr/visite?srv=car_not_frame&idNotice=603 2.2.3.10. Elementos curiosos Algu n s elem en t os p r es en t es n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s p a r ecem n ã o ter qualquer vinculação mágica219, tendo sido incorporados segundo critérios es t ét icos ou a fet ivos . E n t r e eles es t ã o o qu e a qu i for a m d en om in a d os elemento de Valência e a v in a igre tte inglesa. O elem en to d e Va lên cia , a p a r ece em t r ês p en ca s d e b a la n ga n d ã s (2265.XII.073 , 2 2 6 7 .XII.0 7 5 e 2 2 6 8 .XII.0 7 6 ). E m p r a t a , com for m a t o d e r os á cea com oit o b ola s n a s ext r em id a d es (fig.1 2 7 ), a s s em elh a -s e a m ot ivo d ecor a t ivo en con t ra d o em Va lên cia 220 (fig.1 2 8 ), Espan h a, em jóia s m a s cu lin a s em p r a t a com o ca d eia d e r elógio e a b otoa d u r a . Nã o p a r ece es t a r vinculado a nenhuma tradição mágica, constituindo simples adorno. Fig.127 - E lem en t o em for m a t o d e r os á cea , em p r a t a . E xem p la r 2 2 6 8 .XII.0 7 6 . Fot ogr a fia d a autora. 219 Fig.128 - J óia s m a s cu lin a s va len cia n a s (ca d eia d e relógio e a b ot oa d u r a ). Fon t e: LICERAS FERRERES, 1997, p.116 E m b or a n ã o ten h a m vin cu la çã o m á gica en qu a n t o elem en t os is ola d os , p od em p a r t icip a r d es s a in ten çã o com o elem en t o qu a n tit a t ivo. S egu n d o Ba s t id e (1 9 8 5 , p .3 8 2 ), o p en s a m en to m á gico é regid o p ela lei d a a cu m u la çã o, d a in ten s ifica çã o e d a a d içã o. Des t a for m a , ocor re t a n t o o s in cr et is m o, in cor p or a çã o d e elem en tos d e d iferen tes t r a d ições , com o a a çã o d a lei da contigüidade, onde elementos não mágicos se tornam mágicos por contágio. 220 Va lên cia é u m a cid a d e m a r ca d a p ela t r a d içã o h is p a n o-á ra b e (MOUTINHO, PRADO e LONDRE S , p .3 9 2 ). Nes s a regiã o é p r od u zid a d es d e o s éc.XIV u m a cer â m ica , fr u t o d es s a in flu ên cia . E m Va lên cia t a m b ém foi en con t r a d o u m ob jet o m á gico, u m a ca m b u lh a d a , conforme será visto no próximo capítulo. Com o o elem en t o d e Va lên cia , es t á a vinaigrette221 in gles a (fig.1 2 9 ). E s s a p eça em p r a t a , em for m a t o d e ovo, com cer ca d e 7 ,5 cm d e com p r im en t o, a p a r ece em du as p en ca s d e b a la n ga n d ã s 222. Ap r es en t a marcas d e con t r a s te in gles a s 223 (fig.1 3 0 ), qu e in d ica m o s eu fa b r ica n t e (H.W.D.), a qu a lid a d e d a p r a t a (leã o r a m p a n t e p a r a a p r a t a d e lei), a cid a d e d e or igem (n o ca s o, Lon d r es , cu jo s ím b olo é a ca b eça d e leop a r d o), a let r a d a d a t a (“r ”, in d ica n d o o a n o d e 1 8 7 2 )224, e u m a qu in t a m a r ca (ca b eça d o soberano) indicando que o imposto foi pago. Fig. 1 2 9 - Vin a igre tte em p r a t a . E xem p la r 2 2 6 8 .XII.0 7 6 . Fotografia da autora. Fig. 130- Foto das marcas de contrataria inglesas. Peça em exem p la r 2 2 7 1 .XII.0 7 9 . Fot ogr a fia d a autora. Fig. 131- Detalhes da vin a igre tte. Exemplar 2268.XII.076. Fotografia da autora. 221 Uma vinaigrette é u m r ecip ien te p a r a con ter p equ en a es p on ja em b eb id a em vin a gr e a r om á t ico p or d et r á s d e u m a t a m p a p er fu r a d a . Ger a lm en te em p r a t a , in icia lm en te t in h a m a for m a d e p equ en o fr a s co, t or n a n d o-s e ca ixa s com t a m p a d e a b r ir a p a r t ir d o s éc. XIX. S u r gir a m “n o fim d o s écu lo XVII, n u m a ten t a t iva d e os h om en s e m u lh eres d e p os içã o com b a terem o fed or d a s r u a s im u n d a s e d os es got os a céu a b er t o” (ATTE RBURY e THARP, 1996, p.156). 222 Aparece nos exemplares 2268.XII.076 e 2271.XII.079. 223 Ger a lm en te a p r a t a in gles a t r a z qu a t r o m a r ca s , r egu la m en ta d a s d es d e os s écu los XV e XVI. As n or m a s d e s u a con t r a s t a r ia p os s ib ilit a m a s in for m a ções m a is p r ecis a s d os ob jet os d e p r a t a . A qu in t a m a r ca a p a rece à s vezes p a r a com em or a r u m a d a t a es p ecia l, ger a lm en te r eferen te à fa m ília r ea l. A ca b eça d o s ob er a n o, u m a efígie fem in in a d e p er fil, foi u s a d a d e 1784 a 1890 para indicar o pagamento do imposto (ATTERBURY e THARP, 1996, p.120). 224 DEWIEL, 1984, p.139. 2.2.3.11 - A questão dos ex-votos Algu n s elem en t os p r es en t es nas p en ca s d e b a la n ga n d ã s for a m cla s s ifica d os com o ex-vot os ou elem en t os votivos (OLIVA, 1 9 5 7 , p.50; MACHADO, 1 9 6 5 , P.1 6 1 ). Lod y (1 9 8 8 , p .1 5 3 ) id en t ificou 6 6 p eça s , em ger a l r ep r es en t a ções d o cor p o h u m a n o (5 7 )(fig.1 3 2 e 1 3 3 ), a lém d os olh os d e S a n t a Lu zia (5 ), ca va lo (1 ), cor a çã o (1 ), ca s a (1 ), p é d e ca b r a (1 ). Tod os em prata, maciços, ocos ou recortados. Variando em tamanho de 1,5 a 9,0 cm. Fig. 1 3 2 – Os d en om in a d os ex-vot os em pra ta . E xem p la res 2 2 5 2 .XII.0 6 0 e 2269.XII.077. Fotografias da autora. Fig. 1 3 3 – Os d en om in a d os ex-vot os em Fig. 134 – Ex-votos em madeira. Coleções p r a t a . E xem p la r 2 2 5 3 .XII.0 6 1 . Fot ogr a fia d a particulares. Fonte: ARAÚJO, 2002, p.171. autora. E m b or a a s p eça s s e a s s em elh em a os ex-vot os ou m ila gr es (fig.1 3 4 ) h á u m p r ob lem a on t ológico, d e fu n cion a lid a d e. E x-vot o, d o la t im , é d efin id o como qu a d r o, p in t u r a ou ob jet o a qu e s e con feriu u m a in t en çã o vot iva ; qu a d r o, p la ca com in s cr ições , figu r a es cu lp id a em m a d eir a ou cer a (r ep r es en t a n d o p a r t es d o cor p o) etc., qu e s e coloca m n u m a igr eja ou ca p ela , p a r a p a ga m en t o d e p r om es s a ou em a gr a d ecim en t o a u m a gr a ça a lca n ça d a (HOUAISS, 2001). Os ex-votos s ã o u m a p r á t ica com u m em m u it a s cu lt u r a s , a s s u m in d o for m a s p a r t icu la r es n o Br a s il (S ULLIVAN, 2 0 0 1 , p .4 7 8 ). Os Milagres de p a r t es d o cor p o a lu d em a o a gr a d ecim en t o d e u m a cu r a d e d oen ça em u m a dessas partes. Desta forma, os ex-votos funcionam como moedas de troca no a gr a d ecim en t o d e u m a p r om es s a em p en h a d a a u m s a n t o e cu m p r id a p or este, sendo depositados geralmente na Sala dos Milagres da igreja225. Um exvoto não é destinado para ser usado. Então, por que portá-los? O uso dessas peça s d ever ia s er r egid o p or ou t r a in t en cion a lid a d e, com o u m t a lis m ã d e efeit o p r op icia t ór io, p r ofilá t ico ou a m u let o d e p r ot eçã o. Des t a for m a , er a m , e a in d a s ã o u s a d os , d ois elem en t os qu e for a m cla s s ifica d os com o ex-votos : os olhos de Santa Luzia e o pé de cabra. Fig. 135 – Olhos de Santa Luzia em prata. Exemplar 2271.XII.079. Fotografia da autora. Fig. 136 – Oferenda votiva em prata, Mediterrâneo, séc. XIX. Pitt Rivers Museum, Oxford. Fonte: FRAZER, 1982, p.37 Fig.137 – Santa Luzia. Fonte: www.puc-rio.br/ campus/servicos/pastoral/ santo_dezembro.html. S a n t a Lu zia é a p r ot et or a d os olh os e d a vis ã o 226. S u a d evoçã o foi r egis t r a d a n o Rio d e J a n eir o oitocen tis t a p or E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 3 9 -1 4 0 ), n a igreja dedicada a esta santa ele relatou que 225 E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 2 0 ) r egis t r ou n o Rio d e J a n eir o d o s éc. XIX, os ex-votos d a Igr eja d e S ã o Fr a n cis co d e Pa u la . S egu n d o ele, “os p ied os os p a gã os n ã o s e lim it a va m a exp res s a r s eu r econ h ecim en t o p ela in ter ven çã o d a s d ivin d a d es m éd ica s , m a s p en d u r a va m t a m b ém n o tem p lo figu r a s d e b r on ze, m a d eir a , et c. rep res en t a n d o os m em b r os en fer m os . O m es m o a con tece a qu i. Ca b eça s , m ã os , b r a ços , p er n a s , et c., d e d im en s ões n a t u r a is , m a s m old a d os em cera, misturam-se com as placas [pinturas votivas].” 226 E m b or a n ã o con s te d a h a giologia oficia l d a s a n t a n en h u m a p a s s a gem qu e cor r ob or e s u a vin cu la çã o com os olh os , o s eu n om e, Lu zia , d er iva d e lu z (ROIG, 1 9 5 0 ). Foi a t radição p op u la r , qu e con ver teu es s a vir gem m á r t ir s icilia n a d o s éc. IV, gu a r d iã d e S ir a cu s a u m a es cr a va ch egou a t é a p or t a , r et ir ou d a ca b eça a gr a n d e ces t a qu e tr a zia , a s p er giu -s e e fez o s in a l-da-cr u z, la n ça n d o-se de joelhos a meio metro do ponto onde eu me encontrava. Com os olh os volt a d os p a r a Lu zia , m u r m u r ou s eu s d es ejos ou s eu s a gr a d ecim en t os , leva n t ou -s e, colocou s eu p equ en o ób olo n a ca ixa d e es m ola s , fez ou t r a r ever ên cia à s a n t a e p a r t iu .(...). Ta lvez t ives s e n ã o os s eu s p r óp r ios vot os , m a s os d e ou t r a s p es s oa s : a lgu m a m ã e, ir m ã o ou a m igo qu e s ofr es s e d os olh os . S eja qu a l for a ca u s a , a cegu eira é m u it o com u m en tr e os escravos227. Os olhos de Santa Luzia, quando portado pelos devotos, configuram-se com o a m u let os d e p r ot eçã o con t r a os m a les qu e a fligem a vis ã o ou t a lis m ã s p r op icia t órios d e u m a b oa vis ã o (fig.1 3 5 ). E s s a é a s it u a çã o d o ca r á t er polissêmico d o s ign o, n o ca s o u m s ím b olo, s u a in ter p r et a çã o d ep en d er á d o con t ext o a o qu a l es tá vin cu la d o. E m u m a S a la d e Mila gr es d e u m a Igr eja d e S a n t a Lu zia , es s e s ign o s er á vis t o com o u m ex-vot o (fig.1 3 6 ), a exp r es s ã o m a t er ia l d e a gr a d ecim en t o d e u m a gr a ça a lca n ça d a . Por t a d o p or u m a im a gem fem in in a , con figu r a r á o a t r ib u t o icon ogr á fico d e r econ h ecim en to d e S a n t a Lu zia (fig.1 3 7 ). Con t u d o, qu a n d o em u s o p or u m d evot o, es t á capacitado a agir como amuleto, talismã ou mero enfeite. As leis que regem a determinação, capacitação de universais, categorias como ex-votos, atributos icon ogr á ficos e s ign os m á gicos (a m u letos e t a lis m ã s ) p r od u zem o s eu reconhecimento, desde que o intérprete possua repertório para tal. Qu a n t o a o p é d e ca b r a , exis t e u m elem en t o p en d en t e em p r a t a , m a ciço, m ed in d o 9 ,0 cm (fig.1 3 8 ). Na t ip ologia d os s ign os m á gicos d a ou r ives a r ia p op u la r p or t u gu es a en con tr a -s e o p é d e ca b r a en ca s t oa d o em ou r o (fig.1 3 9 )(COS TA e FRE ITAS , 1992, p .7 0 ). In felizm en t e, não foi encontrado maior detalhamento sobre o seu uso. (VARAZZE, 2003, p.79), em protetora dos olhos. Segundo os apócrifos, Luzia estava decidida a n ã o s e ca s a r e d ed ica r-s e a Deu s e d ia n te d a in s is tên cia d e u m p r eten d en te, en ca n t a d o pelos seus belos olhos, arrancou-os e lhos ofertou em uma bandeja. 227 Karasch (2000, p.228-230) confirma a grande incidência de cegueira entre os escravos do Rio d e J a n eir o d o s écu lo XIX, d evid o a freqü en tes ep id em ia s d e oft a lm ia qu e a t in gia m desde o n a vio n egr eir o a o m erca d o d e es cr a vos . Ou t r a s ca u s a s er a m a cid en tes , gla u com a n ã o t r a t a d o, ca t a r a t a , d eficiên cia d e vit a m in a A, t r a com a , on cocer cos e e d oen ça s com o va r íola , sarampo, sífilis, gonorréia e lepra. Fig. 138 – Pé de cabra em prata. Exemplar 2269.XII.077. Fotografia da autora. Fig. 139 – Joalheria popular portuguesa: pé de cabra encastoado em ouro. Fonte: COSTA e FREITAS, 1992, p.70). 2.2.3.12 – Os demais elementos pendentes Além d os elem en t os a n t er ior m en t e a n a lis a d os , ou t r os a p a r ecem n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . S ã o eles r ep r es en t a ções d e a n im a is (6 3 ), fr u t a s (2 6 ), in s t r u m en t os m u s ica is (2 3 ), m in ia t u r a s d e ob jet os u t ilit á r ios e ob jet os u t ilit á r ios (9 1 ), s ign os cr is t ã os (2 2 ), s ign os a lqu ím icos (2 0 ), p ed r a s e con t a s (10) e elementos não identificados (2). Os a n im a is (fig.1 4 0 ) s ã o em p r a t a , ocos ou m a ciços , r ep r es en t a n d o b oi, b u r r o, ca va lo, ca ch or r o, cá ga d o, ga lo, ovelh a , p a p a ga io, p á s s a r o, p or co. Há a in d a n es s e gr u p o, p a r t es d e a n im a is com o b ico d e a ve, ca r a m u jo, ch ifr e d e b es ou r o (fig.1 4 1 ), es p or a d e ga lo, u m a d e t a t u , con ch a , p ed a ço ou p in ça de crustáceo. Fig. 1 4 0 – An im a is em p r a t a . E xem p la r 2254.XII.062. Fotografia da autora. Fig. 141 – Chifre de besouro (Lucanis Cervus). Exemplar 2251.XII.059. Fotografia da autora. As fr u t a s em p r a t a (fig.1 4 2 ), a lém d a r om ã e d a u va , s ã o: a b a ca xi, ca ca u , ca ju , la r a n ja , p êr a , p im en t a , fr u t o n ã o id en tifica d o. Os In s t r u m en t os m u s ica is p r es en t es s ã o a p it o, p a n d eir o (fig.1 4 3 ), t a m b or e violã o. As m in ia t u r a s s ã o ext rem a m en t e va r ia d a s , en glob a n d o: â n cor a , â n for a , b a ld e, b a r r il, b on eca , b u s t o d e ín d ia , ca b a ça , ca ch im b o, ca n eca , câ n t a r o, ca s a , ca va leir o (é u m s in et e), colh er, cor a çã o, cu ia , es p a d a , fa cã o, flor , ga r r a fa , glob o a r m ila r , gu izo, h a s t e, ja r r o, la n t er n a m a r ít m a , m a ch a d o (fig. 1 4 4 ), m or in ga , p a lm a t ór ia , p iã o, p ip o d e ca ch im b o, p or r ã o, qu a r t a , r elicá r io, r evólver . Os s ign os s a cr o cr it ã os s ã o: cr u cifica d o (1 ), cr u z (6 ), s a n t a (2 ), Nos s a S en h or a d a Con ceiçã o 228 (1 )(fig.1 4 5 ) e p om b a s d o Divin o E s p ír it o S a n t o. Os s ign os a lqu ím icos (fig.1 4 6 ), d en om in a d os a qu i d evid o à s u a s em elh a n ça com a s figu r a ções en con t r a d a s em livr os a lqu ím icos m ed ieva is , s ã o: cr es cen t e lu n a r (8 ), p en t a gr a m a ou S ign o S a lom ã o(9 ), s ol (3 ). E p or fim , pedras (5) e contas (5) encastoados (fig.147). 228 Im a gen s d e Nos s a S en h or a d a Con ceiçã o em for m a d e p in gen tes , ou s im p les m en te conceições, são freqüentes na joalheria popular portuguesa (COSTA e FREITAS, 1992, p.50). Fig. 142 – Frutas em prata. Exemplar 2262.XII.070. Fotografia da autora. Fig. 1 4 3 – Pa n d eir o em p r a t a . E xem p la r 2273.XII.081. Fotografia da autora. Fig.144 – Miniatura de machado em prata. Exemplar 2252.XII.060. Fotografia da autora. Fig. 145 - Nossa Senhora da Conceição em prata dourada. Exemplar 2260.XII.068. Fotografia da autora. Fig. 146 – Pentagrama ou Signo Salomão e crescente lunar em prata. Exemplar 2262.XII.070. Fotografia da autora. Fig. 147 – Conta verde escura encastoada de prata. Exemplar 2249.XII.057. Fotografia da autora. 3 . A CONSTRUÇÃO DO SIGNO “as denominações não são casuais. Elas carregam significados” Lúcia Santaella (1994b , p.30) 3 .1. Etimologia Nominar229, d a r n om e à s cois a s , é r ep r es en t a r , ca p t u r a r a es s ên cia. Nom in a r os exis t en t es , a s cr ia ções d e Deu s , foi a p r im eir a a çã o d e Ad ã o (Gn 2:19-2 0 ). S egu n d o a filos ofia p la t ôn ica , “o n om e é a m a n ifes t a çã o d o ob jet o p or m eio d e s íla b a s e d e let r a s e r ep r es en t a a id éia fu n d a m en t a l d a cois a , seu eidos230” (DE US , 2 0 0 2 , p .1 8 ). As s im , u m n om e é fr u t o d e u m a p r á t ica significante, eminentemente cultural, e traz em si o que representa. In ves t iga r a et im ologia in d ica ca m in h os em u m a p es qu is a . Mu it a s vezes o n om e é a p r im eir a a p r een s ã o d e u m ob jeto p ois “d ificilm en t e conseguimos d is t in gu ir a qu ilo qu e n ã o p od em os n om ea r ” (MANGUE L, 2 0 0 1 , p .4 8 ). O n om e é u m a p is t a , u m r egis t r o d en t r o d e u m a con ven çã o, d e u m cód igo lin gü ís tico in s er id o em um t em p o-es p a ço, es t a n d o s u jeit o à s m u d a n ça s d e s en tid o. É p r ecis o, p or t a n t o, con s id er a r qu em n om in a , qu a n d o nomina e o que muda semanticamente. Pen ca d e b a la n ga n d ã s é u m a locu çã o s u b s t a n t iva , for m a d a p or d ois s u b s t a n t ivos com u n s : p en ca e b a la n ga n d ã s . Pen ca é u m vocá b u lo qu e d es ign a qu a n t id a d e, con ju n t o, r eu n iã o d e elem en t os , s en d o con s id era d o coletivo d e b a n a n a s (e ou t r os fr u t os ) e ch a ves . S u a or igem et im ológica é obscura, sendo datado de 1554 (HOUAISS, 2001). O t er m o consultados, b a la n ga n d ã com o um é con s id er a d o, vocá b u lo fr u t o do p ela m a ior ia r egion a lis m o d os a u t or es b r a s ileir o e on om a t op a ico, u m a for m a d e r ep r es en t a çã o qu e evoca o s eu ob jet o p or s em elh a n ça s on or a , n u m a r ela çã o icôn ica , ou s eja , u m a p a la vr a or igin á r ia 229 Os vocá b u los n om in a r e n om ea r for a m d iferen cia d os s egu n d o a a cep çã o la ca n ia n a . Nom in a r é d a r o n om e a a lgo, u m a es p écie d e b a t is m o. J á n om ea r é evoca r a lgo p or u m nome já existente e conhecido (VÍCTORA, 2004, p.15). 230 Eidos é u s a d o n a a cep çã o p la t ôn ica com o a n a tu reza s ígn ica , o fu n d a m en to, a es s ên cia das coisas (DEUS, 2002, p.14). d a im it a çã o d o s om d a qu ilo qu e r ep r es en t a . O Dicion á r io Hou a is s (2001), quanto à etimologia, traz: vocábulo tid o com o on om atopéia, p elo r u íd o d os ob jet os p en d en t es , d a í fixa r -s e a a cep ção 'b er loqu e'; n ã o s e d eve exclu ir liga çã o com balangar (sinôn imo de balançar), cu ja for m a é d ifícil d e exp lica r , m a s p od er ia t er or igem na onomatopéia. Nes t e ver b et e n ã o con s t a a d a t a çã o d o t er m o. S egu in d o a r ela çã o indicada com o verbo balangar tem-se: origem obscura; ob s erve-s e qu e a id en t id a d e s em â n t ica com balançar e a p r oxim id a d e m or fológica com balangandã fazem s u p or liga çã o en t r e os t r ês vocábulos, p er m it in d o leva n t a r a h ip ót es e d e qu e a on om a topéia balangandã s er ia fon t e d o verbo balangar e d er ivado; fonte histórica 1928 balangavam (idem). A fon t e d e d a t a çã o m a is a n t iga , qu e s e t em n ot ícia , d o t er m o balangar é o r om a n ce Ma cu n a ím a , h erói s e m n en h u m caráter d e a u t or ia d e Má r io d e Andrade, publicado em 1928. O h is t or ia d or e lin gü is t a ca r ioca , J oa qu im Rib eir o (1 9 5 4 , p .2 6 -27), a p on t a u m a a p r oxim a çã o d o vocá b u lo b a la n ga n d ã com barambaz, que s ign ifica “cois a qu e es t á p en d en t e, com o s a n efa , b a m b olin a , et c” 231. Com r ela çã o a barambaz, Houaiss (2001) atr ib u i u m a “origem obscura; s egu n d o Na s cen t es , vocábulo exp r es s ivo; t a lvez liga d o à cogn a çã o d e bamb- e bab-; fonte histórica 1704 barambares, 1789 barambaz”. A fonte é o Inventário dos bens do Conde de Vila Nova, D. Luís de Lancastre em 1704. E n t r et a n t o, p a r a d ois p es qu is a d or es d a cu lt u r a a fr o-b r a s ileir a , Nei Lop es e Yed a Pes s oa Ca s t r o, a or igem d a p a la vr a b a la n ga n d ã é a fr ica n a , es p ecifica m en t e b a n t o. Nei Lop es 232 é a d ep t o d a d er iva çã o on om a t op a ica d e origem banto, vinculando o termo ao quicongo bolongonza, ob jeto qu e t ilin t a qu a n d o é t r a n s p or t a d o d e u m la d o p a r a o ou t r o (MAIA, 1 9 6 4 A); qu ib u n d o mbalanganpa, b r igã o, con flitu os o. S ch n eid er a p on t a o zu lu bulungana, porções que formam um todo. 231 AULE TTE , F. J . Ca ld a s (or g.). Diccion á rio con te m p orâ n eo d a lín gu a p ortu gu ez a . 2 a . ed . actualizada. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira, 1925. vol.1, p.285 232 LOPES, Nei. Novo dicionário banto do Brasil; con te n d o m a is d e 2 5 0 p rop os ta s e tim ológica s acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Pallas, 2003, p.35. Ou t r a r ela çã o p os s ível é com o vocá b u lo b a n to balandango, qu e designa “ruído metálico, tinido de cencerro233”234. J á p a r a a et n olin gü is t a , Yed a Pes s oa d e Ca s t r o, a or igem é b a n t o, m a s ela d is cor d a d e u m a r a iz on om a t op a ica . Pa r a ela a p a la vr a b a la n ga n d ã é u m lexem a er r on ea m en t e t id o com o u m a “on om a t op éia exp r es s iva d o r u íd o d e a lgu n s ob jet os p en d en t es ” (CASTRO, 2 0 0 0 , p .9 4 ). No s eu livr o, Falares africanos na Bahia, o verbete traz: BALANGANDÃ (banto) 1. (BR) – s.m. coleção de ornamentos ou a m u let os , em m et a l ou p r a t a , em for m a d e figa , m ed a lh a s , ch a ves , p eixes , m eia -lu a , et c., u s a d a p ela s baianas em d ia s d e fes t a . Va r iante balagandã, barangandã. Confira barangã. Ver malunga. Kik ongo / Kimbundo bulanganga, balouçar>mbalanganga, penduricalhos. 2.(LP) –s .m .p l. p en d u r ica lh os ; t es t ícu los . Confira balangue. (idem, 2001, p.166). Port a n t o, b a la n ga n d ã 235 s er ia u m vocá b u lo d e or igem b a n t o (qu icon go e qu im b u n d o e s eu s con ju n t os d e d ia let os ). E xp lor a n d o a s cor r ela ções exis t en t es n o ver b et e, en con tr a m -se barangã com o “b r a celet e d e m et a l”, ét im o d e or igem Fon agbaragã (idem, p .1 7 0 ) e malunga com o “b r a celete d e ferro; argola” do quicongo malunga (idem, p.273). 233 E n con t r a d o n o d icion á rio s ob a gr a fia cin cer r o, t r a t a -s e d e u m vocá b u lo d e or igem espanhola, d e n a t u reza r egion a l n o Br a s il (Min a s Ger a is e s u l d o país), qu e d es ign a “s in et a qu e p en d e d o p es coço d e cer t os a n im a is (égu a m a d r in h a , b es t a , va ca ), e cu ja s b a t id a s d e s on or id a d e in d efin id a s er vem p a r a gu ia r e reu n ir u m a t r op a , u m r eb a n h o” (HOUAIS S , 2001). 234 LOPES, Nei. Novo dicionário banto do Brasil; con te n d o m a is d e 2 5 0 p rop os ta s e tim ológica s acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Pallas, 2003, p.35. 235 O ter m o b a la n ga n d ã p os s u i a s va r ia n tes b a ra n ga n d ã , b a ra n ga n d a m , b a la n ça n ça m , b ered en gu e, b eren gu en d ém , b regu en d é m . A gr a fia barangandã é a n ter ior a b a la n ga n d ã , p a r ece ter s id o u s u a l com o ter m o p rin cip a l a té a d éca d a d e 1 9 3 0 . O Houaiss (2 0 0 1 ) in d ica s u a p r im eira a p a r içã o, com o barangandan, n o Novo Diccion á rio d a Lín gu a Portu gu es a de Câ n d id o d e Figu ered o, ed it a d o p r im eir a m en te em Lis b oa em 1 8 9 9 , a p a r ecen d o n a s ed ições d e 1 9 1 3 (2 ª ed .), 1 9 2 2 (3 ª ed .), 1 9 2 6 (4 ª ed .) e 1 9 3 9 (5 ª ed .). É com o barangandam que a p a rece n o Diccion á rio con te m p orâ n eo d e lín gu a p ortu gu es a d e F. J . Ca ld a s Au let te em 1 9 2 5 (op .cit., p .2 8 5 ) e é a s s im cit a d o p or Ma ced o S oa res (apud CAS CUDO, 1 9 5 4 , p .8 0 ) e Ma n u el Qu er in o (1 9 8 8 , p .2 2 7 ) em Cos t u m es a fr ica n os n o Br a s il, qu e t a m b ém s e r efere à s in on ím ia com balançançam. Câ m a r a Ca s cu d o (1 9 5 4 , p .8 0 ) cit a qu e a for m a balangandan está p r es en te n o Diccion a rio d e vocá b u los b ra z ile iros d o Vis con d e Hen r iqu e d e Bea u rep a ir eRohan (Rio de Janeiro, 1812-1894) de 1889. A gr a fia berenguendéns foi u t iliza d a p or J oa qu im Rib eir o (1 9 5 6 , p .2 6 -7 ) e, s egu n d o Câ m a r a Ca s cu d o (1 9 5 4 , p .8 0 ), p elo folclor is t a p er n a m b u ca n o Má r io S et te (1 8 8 6 -1 9 5 0 ) em seu livro Anquinhas e bernardas de 1940. 3 .2. Definições S egu n d o a es t r u t u r a de com p os içã o da locu çã o pe n c a de balangandãs, e s u a et im ologia , d em on s t r a d a a n t er ior m en t e, p od er -se-ia a fir m a r qu e es t a d en om in a çã o d es ign a r ia u m con ju n t o d e b a la n ga n d ã s r eu n id os . Ou s eja , t od os os elem en t os p en d en t es em u m a p en ca s er ia m balangandãs. A maioria dos verbetes e alguns autores236 encontrados trazem essa acepção. BALANGANDÃ – 1 or n a m en t o d e m et a l em for m a d e figa , fr u t o, a n im a l et c., qu e, p r es o a ou t r os , for m a u m a p en ca usada p ela s b a ia n a s em d ia s d e fes t a ; s er ve também como ob jeto d ecor a t ivo, lem b r a n ça ou , s e m in ia t u r iza d a , jóia ou b iju t er ia ; b er en gu en d ém . No p a s s a d o er a u s ado especialmente n a fes t a d o S en h or d o Bon fim , em S a lva d or , p en d en t e d a cin t u r a ou d o p es coço d a s a fr o-b r a s ileir a s , e con s t it u ía amuleto contra o mau-olhado e outras forças adversas. 2 Der iva çã o: p or ext en s ã o d e s en t id o. p en d u r ica lh o d e qualquer formato (HOUAISS, 2001). Pou ca s s u b s t a n t ivo fon t es p en ca . con s u lt a d a s A locu çã o a p r es en t a m é p r et er id a in d exa çã o em fu n çã o a do p a r t ir do vocá b u lo b a la n ga n d ã , qu e, p a r a m u it os d eles , p a s s a a d es ign a r a p r óp r ia p en ca 237. Des t a for m a é cit a d a a qu ela qu e p a r ece s er a m a is a n t iga r efer ên cia a b a la n ga n d ã (s ob a gr a fia barangandan), a do Diccion a rio d e Voca bu los Brazileiros (1 8 8 9 ) d o Vis con d e d e Bea u r ep a ir e-Rohan (OLIVA, 1 9 5 7 , p .4 1 )238. S egu n d o ele, barangandan s er ia u m a “coleçã o d e or n a m en t os d e p r a t a qu e a s cr iou la s t r a zem p en d en t es d a cin tu r a , n os d ia s d e fes t a , p r in cip a lm en t e n a d o S en h or d o Bon fim ” (apud CAS CUDO, 1 9 5 4 , p .8 0 ). Ta m b ém Ha yd ée Di 236 S egu n d o es s a con ceitu a çã o b a s ea r a m -s e Frei E lis eu Vieir a Gu ed es (s .d ., 2 f), Pa u lo Affon s o d e Ca r va lh o Ma ch a d o (1 9 7 3 , p .1 5 ), Men ezes d e Oliva (1 9 5 7 , p .4 1 ), J a els on Bit r a n Tr in d a d e (1 9 8 8 , p .1 2 9 ), a jor n a lis t a Ma r ia Helen a Fa r elli (1 9 8 1 , p .1 7 ) e o a n t r op ólogo Ra u l Lody (1988, p.22). 237 Des t a for m a a p a recem os b a la n ga n d ã s cit a d os p or A. Ta u lla r d em Pla teria s u d a m erica n a (1 9 4 1 ), Rob er t Ch es ter S m it h em B ra z ilia n p op u la r s ilver d e 1 9 4 8 (apud RUSSEL-WOOD, 2 0 0 0 ,p .5 5 ), p or J oa qu im Rib eir o (1 9 5 6 , p .2 6 -2 7 ) em Folclore B a ia n o, p or Roger Ba s t id e (1989, p.386) e Iracy Carise (197?, p.24). 238 Hen r iqu e d e Bea u rep a ire-Roh a n (Rio d e J a n eir o, 1 8 1 2 -1 8 9 4 ) foi u m m ilit a r d e ca r reir a , exer cen d o a p res id ên cia d a s p r ovín cia s d o Pa r á , d a Pa r a íb a (1 8 5 7 -9 ) e d o Rio Gr a n d e d o Sul, tornando-se posteriormente Conselheiro d’Estado e de Guerra. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e correspondente de outras entidades científicas e literárias n a cion a is e es t r a n geir a s . Dos s eu s t r a b a lh os , d es t a ca -s e o Diccion a rio d e vocá b u los brazileiros. (SOUTO MAIOR). Tommaso Ba s t os (1 9 4 3 , p .2 5 3 ), qu e foi con s er va d or a d o Mu s eu Im p er ia l, em s eu a r t igo Con trib u içã o p a ra o es tu d o d a ou rives a ria n o B ra s il, d e 1 9 4 3 , não menciona a penca, para ela, es s en cia lm en t e b a ia n o é o b a la n ga n d ã , ger a lm en t e feit o em p r a t a e d o p r in cíp io d o s écu lo XIX. Peça u s a d a u n ica m en t e n a Ba h ia , é d e or igem a fr ica n a , s en d o m u it a s vezes , d e ca r á t er votivo. Da m es m a m a n eir a con ceb e o professor Gu s t a vo Ad olfo Dod t Ba r r os o (1888-1 9 5 9 ), qu e foi d ir et or d o Mu s eu His t ór ico Na cion a l, cr ia d or d o primeiro cu r s o d e Mu s eologia n o Br a s il e a u t or d e n u m er os a s p u b lica ções s ob r e a r t e. No livr o In trod u çã o à té cn ica d e m u s eu s , s egu n d o volu m e, n o ca p ít u lo s ob r e ou r ives a r ia , h á a p en a s u m a m en çã o a os b a la n ga n dãs, qu a n d o ele d ivid e a s jóia s b r a s ileir a s a n t iga s em d u a s ca t egor ia s : “a s m a is finas”, feitas ao gosto europeu, e a s m a is gr os s eir a s , feita s p elos n os s os ou r ives e qu e a in d a s e en con t r a m n os s er t ões , s ã o m u it o ca r a cter ís t ica s p ela s u a in gen u id a d e d e m otivos e feitu r a : olh os d e S a n t a Lu zia , S . Braz, a pomba do Espírito Santo, as figas, etc. A essa categoria p er t en cem os fa m os os balangandãs ou berrequedens [grifo nosso], u s a d os p ela s b a ia n a s , com a s u a gr a n d e cóp ia d e figuras, figas, símbolos e feitiços (BARROSO, 1955, p.424). E n t r et a n t o, n em s em p r e foi a s s im , p en ca e b a la n ga n d ã s p os s u em or igem e ca r a ct er ís t ica s p r óp r ia s p a r a os p r in cip a is es t u d ios os s ob r e o t em a , h a ven d o con t r ovér s ia s con ceitu a is qu a n t o à m or fologia e u s o. Con for m e s er á d em on s t r a d o a s egu ir , a p en ca d es ign a r ia u m con ju n t o d e elem en t os t r a zid os à cin t u r a in d ivid u a lm en t e e o b a la n ga n d ã s er ia u m elem en t o es p ecífico u s a d o p en d en t e n o p es coço/ cos t a s . E m a lgu m m om en t o, p en ca e balangandã se reuniram compondo a penca de balangandãs. O pesquisador b a ia n o Ma n u el Qu er in o (1 9 8 8 , p .2 2 7 )239 t r a z es s a d ifer en cia çã o a o r ela ta r o t r a ja r “d a s m u la t a s d en gos a s e cr iou la s ch ib a n t es , com o s e a p r es en t a va m em gr a n d e ga la ”, n os d ia s d a s p r in cip a is fes t a s r eligios a s , cit a u m a d er eço (qu e s er ia a p en ca d e b a la n ga n d ã s , qu e n ã o 239 Ma n u el Qu er in o (1851-1923) t r a z es s a d is t in çã o em s eu livr o Cos tu m e s africa n os n o Brasil, publicado em 1938, após sua morte ocorrida em 1923. nomeia), qu e d es cr eve com o “a r gola d e p r a t a em for m a d e m eia -lu a , on d e p en d u r a va m a s m oed a s d e ou r o, p r a t a , d e va lor es d iver s os , figa s e ou t r a s t et éia s ” (idem) e o qu e d efin e com o b a la n ga n d ã o “r os á r io d e gr os s a s con t a s com b or la s (b a r a n ga n d a m ou b a la n ça n ça m )” (ibidem). S er ia o b a la n ga n d ã então, o que é conhecido atualmente como correntão de crioula (fig.148)? Ou os elem en t os p en d en t es d es s es cor r en t ões ? In felizm en te, Qu er in o n ã o for n ece m a ior es d et a lh es , im p os s ib ilit a n d o u m a vis u a liza çã o p r ecis a deste adereço. Fig. 1 4 8 - Cor r en t ã o d e cr iou la em ou r o. Ba h ia , s éc. XIX. Col. Mu s eu Ca r los Costa Pinto. Foto: Saulo Kainuma, 1998. Francisco Gomes de Oliveira Neto (19??, f.1), em seu estudo A Penca e o Barangandan240, distingue uma do outro. Para ele o barangandan é u m a p eça d e p r a t a , em for m a d e a r gola qu e p en d e d e u m a cor r en t e, p os t a em t or n o d o p es coço e qu e fica n o m eio d a s cos t a s ; d a p eça a lu d id a , es t ã o s u s p en s os va r ia d ís s im os 240 Um a cóp ia d a t ilogr a fa d a d es te es t u d o exis te n a Bib lioteca Ma r ga r id a Cos t a Pin to s em in d ica çã o d e p r oced ên cia . Con t u d o, ele é in d ica d o n a b ib liogr a fia d o Pr of. Men ezes d e Oliva (1 9 5 7 , p .5 4 ), d a t a d o d e 1 6 d e m a io d e 1 9 4 2 , in tegr a n d o o S em a n á rio Liter á r io Dom Casmurro. a m u let os p r ot et or es d a p es s oa qu e p r ocu ra es cu d a r -s e d e qualquer malefício. (...) Da í, b a r a n ga n d a n s er a r eu n iã o d e t od os os a m u letos em m in ia t u r a qu e t r a z-s e à s cos t a s m u it o d ifer en t e d a p en ca s u s p en s a à cin t u r a p or a lça p a s s a d a p or u m a cor r en t e d e prata e presa com uma grande chave do mesmo metal. Por t a n t o, p a r a ele o b a la n ga n d ã é u m elem en t o com ca r a ct er ís t ica s p r óp r ia s . Ou t r os es tu d ios os com p a r t ilh a m d es s a con ceit u a çã o. O s ociólogo p er n a m b u ca n o, Gilb er t o Fr eyr e (apud VE RGE R, 1 9 9 9 , p .2 2 2 -2 2 3 ) m en cion a a lgu m a s vezes os b a la n ga n d ã s e a s p en ca s d a Ba h ia . S egu n d o ele, es s as jóias de opulência são cola r es e con t a s gr a n d es s ob r en d a s d o cor p et e; n o a lt o d o b r a ço es qu er d o u m gr a n d e b r a celete d e ou r o; n os p u n h os , b r a celetes d e con t a s d e ou r o e b ú zios d a Cos t a d a Áfr ica ; n a s or elh a s b r in cos d e ou r o ou p en d en t es d e cor a l. E m s eguida vem os balangandãs, u m a es p écie d e a r gola d e p r a t a p en d u r a d a n u m a cor r en t e d o m es m o m et a l, ch ega n d o a t é a m et a d e d a s cos t a s . Diver s os a m u let os a í es t ã o p r es os ...E n fim , a pe n c a [grifos n os s o] s u s p en s a n a cin t u r a p or ga n ch os , on d e encontra-s e p en d u r a d a a figa , a m u let o em for m a d e m ã o fech a d a , com o p olega r s a in d o en t r e o in d ica d or e o m a ior , o m a is com u m d os a m u letos ob r iga t or ia m en t e u s a d o con t r a doenças, acidentes e malefícios. O m éd ico e h is tor ia d or b a ia n o, J ú lio Afr â n io Peixoto (1 9 4 6 , p .3 1 8 ), em B rev iá rio da B a h ia , baseando-s e na d ifer en cia çã o en t r e p en ca e barangandãs241 de Oliveira Neto, declara que O b a r a n ga n d ã – não b a la n ga n d ã , b a la n ga n gã ou b er en gu en d en , d iz-m e Oliveir a Neto, qu e é en t en d id o, - é u m a a r gola d e p r a t a , qu e p en d e d e cor r en t e, p os ta a o p es coço e à s cos t a s , e t r a z a m u let os p r ot et or es p es s oa is . O b a r a n ga n d ã é ín t im o, d e ca d a u m a ; a p en ca é s ocia l, é a fé p u b lica d a a todos. São diferentes e não se confundem. E d u a r d o Tou r in h o (1 9 5 3 , p .2 2 8 ), refere-s e a o b a la n ga n d ã com o “u m a p eça d e p r a t a em for m a d e a r gola qu e – d e u m a cor r en t e em t or n o d o pescoço – p en d e a t é o m eio d a s cos t a s . Nes s a a r gola – o Ba r a n ga n d a n – está 241 Ap oia d o p ela d iferen cia çã o en t re p en ca e barangandã, Afr â n io Peixoto (1 9 4 6 , p .3 2 0 ) discorda de uma origem onomatopaica do vocábulo, pois segundo ele “Barangandã não é voz im it a t iva , p or qu e é a p en ca m et á lica , qu e s e rem exe, s on or a , à m a r ch a ... O b a r a n ga n d ã , a bom recato, não é feito de objetos metálicos e sonantes”. en feixa d a u m a p or çã o d e a m u let os ”. Nã o m en cion a a p en ca d e b a la n ga n d ã s nem objeto algum posto à cintura. Tod a s es s a s d efin ições , con cor d a n t es en tr e s i, p a r ecem r efer ir -s e a u m d et er m in a d o elem en t o, qu e, p or vezes , a p a r ece n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s (fig.1 4 9 e 1 5 0 ). E m a n u el Ar a ú jo (2 0 0 2 , p .1 3 8 ) r egis t r a u m a p eça s im ila r com o b a la n ga n d ã s (fig.1 5 1 ), a s s im com o o p es qu is a d or Ma r ia n o Ca r n eir o d a Cu n h a (1 9 8 3 , v.2 , p .1 0 2 8 )242 (fig.1 5 2 ). E s s e elem en to a s s em elh a -s e a o qu e foi d es en h a d o p elo via ja n t e oit ocen t is ta Th om a s E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 0 4 ) indicados pelas letras h, p e q (fig.153). 242 O es tu d o d e Ma r ia n o Ca r n eir o d a Cu n h a con s t a com o a p ên d ice d o s egu n d o volu m e d o livro His tória gera l d a a rte n o B ra s il (1983) de Walter Zanini. Conforme indicado, o texto não foi com p leta d o p or r a zã o d a m or te d o a u tor . As s im , n ã o h á gr a n d e d et a lh a m en t o s ob r e a s “p en ca s b a ia n a s d e p r a t a ou cob r e p r a tea d o” (CUNHA, 1 9 8 3 , p .1 0 2 8 ) e o p or qu ê d a ilu s t r a çã o d os b a la n ga n d ã s , já qu e n ã o h á referen cia s ob r e os m es m os . Vá r ia s p eça s a fr ica n a s p er ten cen tes a o Mu s eu d e Ar qu eologia e E t n ologia d a Un iver s id a d e d e S ã o Pa u lo (USP) são procedentes da coleção Mariano Carneiro da Cunha. Fig.149 – E lem en t o d a p en ca d e balangandãs 2 2 5 2 .XII.0 6 0 . Col. Mu s eu Carlos Costa Pinto. Fotografia da autora. Fig.151 – Ba la n ga n d ã s em p r a t a . S éc. XIX. Col. Pa r t icu la r . Fon te: ARAÚJ O, 2002, p.138 Fig.150 – E lem en to da p en ca de b a la n ga n d ã s 2 2 5 2 .XII.0 6 0 . Col. Mu s eu Carlos Costa Pinto. Fotografia da autora. Fig.152 –Ba la n ga n d ã s , m et a l p r a tea d o, os s o, p ed r a e m a d eir a . 8 d iâ m . Ba h ia , col. Mu s eu Na cion a l (RJ ). Fon te: CUNHA, 1983. vol.2. p.1028 Fig.153 – Amuletos. Th om a s E wb a n k , s éc. XIX. Fonte: EWBANK, 1976, p.104 Raul Lody (2 0 0 1 , p .1 0 2 -3)243, m u s eólogo e a n t r op ólogo, a p on t a u m a p os s ível r ela çã o d os b a la n ga n d ã s com os elem en t os s im b ólicos qu e in t egr a m fios-de-contas (fig.154). É p r ecis o r es s a lt a r , qu e es s es elem en t os s im b ólicos n ã o s ã o com u n s a t od os os cu ltos a fr o-b r a s ileiros e p a r ecem , s egu n d o o exem p lo for n ecid o, s er in d ivid u a is , a t r ib u t os ou ob jetos d ed ica d os a u m a determinada invocação. Fig.154 - Det a lh es d e element os s im b ólicos qu e in tegr a m os fios-de contas. A ja p á , cá ga d o feito d e cor a l, cu lm in a n d o u m fio do orixá Iroco; dente encastoado de ouro, culminando um fio d e Od e; e Oxê, m a ch a d o d e m a d eir a en ca s t oa d o d e ou r o, cu lm in a n d o u m fio d e Xa n gô. Acer vo Ra u l Lod y. Fon te: LODY, 2001, p.102/103 A p es qu is a d or a Heloís a Alb er t o Tor r es (1950, f.24)244 p a r ece es cla r ecer a r ela çã o en t r e p en ca , b a la n ga n d ã s e p en ca d e b a la n ga n d ã s . Ta m b ém ela , 243 Ra u l Lod y t em d ois livr os s ob r e o tem a , p u b lica d os em 1 9 8 8 e 2 0 0 1 . O p r im eir o, Pencas d e b a la n ga n d ã s d a B a h ia - u m es tu d o e tn ográfico d a s jóia s -amuletos, é es p ecífico s ob r e a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s p er ten cen tes a o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o. Nes te, ele rea liza u m es t u d o m a r ca d a m en te d es cr it ivo. J á em J óia s d e Axé, fios-de-con ta s e ou tros a d orn os d o corpo – a joa lh eria afro-brasileira, ele faz um trabalho analítico centrado na categoria dos fios d e con ta s (ilequês). Os t r ês ca p ít u los in icia is s ob r e os b a la n ga n d ã s , d e a m b os os livr os , trazem o mesmo texto reeditado. 244 Heloís a Tor r es (1 8 9 5 -1 9 7 7 ) foi d ir et or a d o Mu s eu Na cion a l d a UFRJ p or 1 7 a n os (1 9 3 8 5 5 ), foi u m a d a s gr a n d es in cen t iva d or a s n a á rea d e An t r op ologia e E t n ologia d o p a ís . S eu p r in cip a l foco er a m os es t u d os rela t ivos a os in d ígen a s b r a s ileir os , m a s n ã o er a m os ú n icos . Rea lizou , em 1 9 5 0 , o es tu d o Algu n s a s p ectos d a in d u m en tá ria d a criou la b a ia n a , t es e com a qu a l con cor r eu à Ca d eir a d e An t r op ologia e E t n ogr a fia d a Fa cu ld a d e Na cion a l d e Filos ofia , da Un iver s id a d e d o Br a s il. E s s e es t u d o in éd ito, qu e n ã o foi cit a d o p or n en h u m d os estudiosos consultados para a elaboração desta dissertação, traz alguns aspectos singulares como Oliveira Neto245, diferencia a penca do balangandã. Para ela “a penca é, com os cola r es -r os á r io e es ca p u lá r io, a jóia m a is s ign ifica t iva funcionalmente”. Quanto ao uso, é bastante precisa, À c in t u ra, do lado e s qu e rdo , en fia m u m a p on t a d e u m len cin h o d e ca m b r a ia b or d a d o e d eixa m ca ir o r es t o p r egu ea d o s ob r e a s a ia ; s o bre o le n ç o (gr ifos n os s o) a s s en t a m a p en ca e, p r ova velm en t e, ele t em p or fu n çã o im p ed ir o a t r it o d a im en s a coleção de berloques pesados com a saia (idem). E leva n t a , a in d a , in d ícios d a p r es en ça e u s o d es s a s p en ca s n a s “es t a m p a s d e fin s d o s écu lo XVIII”, qu e “m os t r a m ‘b a h ia n a s ’ com u m a fa ixa d e t ecid o p a s s a d a n os qu a d r is , d a qu a l p en d em ch a ves , s a cola s p equ en a s e dois ou três berloques . Estava já, nessa época, portanto, criada a “penca” da cr iou la ” (idem, ibidem, f.2 5 ). E m b or a n ã o in d iqu e qu a is s er ia m es s a s es t a m p a s s et ecen t is t a s , fica cla r o, p ela in d ica çã o d os lu ga r es on d e p es qu is ou e p elos d es en h os qu e a p r es en t a n o a n exo n º 9 (fig.1 5 5 ), que p r ova velm en t e s e r efir a à s es t a m p a s d e Ca r los J u liã o 246 (fig.1 5 6 ), e em p a r t icu la r à s r efer en t es à Ba h ia (fig.1 5 7 ). Des s a p en ca in icia l p a r ece s e originar a penca de balangandãs que ela descreve como At u a lm en t e, ela con s ta d e u m gr a n d e t r iâ n gu lo ob t u s o de p r a t a , p r es o p or u m d e s eu s â n gu los a u m a gr os s a corr en t e, t a m b ém d e p r a t a , qu e d á d u a s ou t r ês volt a s à cin t u r a . O la d o op os to a es s e â n gu lo é d en t ea d o n o s eu b ord o in t er n o e s ob r e ele d is p õem -s e os b er loqu es ; o d en t ea d o s egu r a a ca d a b er loqu e, im p ed in d o qu e es t es d es lizem p a r a u m ca n t o s ó (idem, ibidem, f.25). e in t r iga n tes . S ob r e a ela b or a çã o d o t r a b a lh o, a p r óp r ia Heloís a Tor r es (1 9 5 0 , f.iii), n a introdução explica que utilizou o método da entrevista no Rio de Janeiro e em Salvador, com “2 2 m u lh eres , d e 4 0 a 9 4 a n os d e id a d e” p r oced en d o, t a m b ém , à con s u lt a d a b ib liogr a fia d os via ja n tes , h is t or ia d or es , s ociólogos e a n t r op ólogos , b em com o à p es qu is a icon ogr á fica . Res s a lt a qu e r ea lizou m in u cios o es t u d o d a coleçã o d e ves tim en t a s d e cr iou la s b a ia n a s d o In s t it u t o Fem in in o d a Ba h ia , m a ter ia l qu e “n ã o p od er á s er t ot a lm en te u t iliza d o n es te t r a b a lh o; s elecion a m os a p en a s o qu e d e m a is exp r es s ivo en con t r a m os p a r a es cla recim en to de tópicos determinados”. 245 Oliveira Neto não é citado nas referências bibliográ fica s de Heloísa Torres (1950, f.48-50). 246 Esse artista italiano será detalhado ainda nesse capítulo. Fig.155 – Diferen tes m od os d e coloca r o t or s o. Cr oqu i. Fon te: TORRE S , 1 9 5 0 , An exo 9, f.47. Fig.156 – Mu lh er n egr a (d et a lh e). Aqu a rela d e Ca r los J u liã o. Rio d e J a n eir o, s éc. XVIII. Acer vo Bib liot eca Nacional. Fonte: LARA, 2000247 Fig.1 5 7 – Pr a n ch a d a Ba h ia e d et a lh es . Des en h o a qu a rela d o, c. 1 7 7 9 . Acer vo Ga b in ete d e E s t u d os d a s For t ifica ções e d a s Ob r a s Milit a r es An tiga s , Lis b oa . Fon te: FE RRE Z, 1963, p.39 247 Disponível em http://www.desafio.ufba.br/gt3-006.html E , n o qu e s e r efer e a os b a la n ga n d ã s , d efin e com o “b er loqu es qu e p en d em d o p es coço, n ã o a p en ca ; foi a in for m a çã o ger a lm en t e r ecolh id a , h a ven d o m es m o u m a in for m a n t e qu e m e d ecla r ou s er o b a la n ga n d ã u m d et er m in a d o b er loqu e” (idem, ibidem, f.2 6 ). E s s a in for m a çã o cor r ob or a com os a u t or es r efer id os . E n t ã o, p en ca e b a la n ga n d ã s er ia m ob jet os d ifer en t es qu e, em d et er m in a d o m om en to s e u n ir a m . A p r óp r ia Heloís a Tor r es (ibidem) s u ger e es s a u n iã o a o a fir m a r “r ecen t em en t e, a d ot ou -s e p a r a a p en ca o n om e b a la n ga n d ã ”. O elem en t o em com u m s er ia o b a la n ga n d ã , em b or a ela n ã o o indique nem o reconheça. Por t a n t o, exis tir ia m t r ês ob jet os d ifer en t es em u s o n o Br a s il p ela s n egr a s e m u la t a s ou va r ia n t es d e u m m es m o ob jeto: p en ca (fig.1 5 8 ), balangandã (fig.159) e penca de balangandãs (fig.160). Fig.158 – Penca – Det a lh e. Aqu a rela de Ca r los J u liã o. Rio d e Janeiro, séc. XVIII. Acervo Biblioteca Nacional248. Fig.159 – Ba la n ga n d ã s em p r a t a . S éc. XIX. Col. Pa r t icu la r . Fon te: ARAÚJO, 2002, p.138 Fig.160 – Pen ca de b a la n ga n d ã s em p r a t a . Col. Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o. Fot ogr a fia da autora. 3.3. Indícios do uso A ú n ica fon t e icon ogr á fica s et ecen t is t a en con t r a d a , r efer en t e à Ba h ia , foi for n ecid a p elo it a lia n o Ca r los J u liã o (1 7 4 0 -1811)249. E le es teve n o Bra s il en t r e ca .1 7 6 7 a 1 8 1 1 , p er cor r en d o a lém d o Rio d e J a n eir o, on d e s e in s t a lou , Ba h ia e Min a s Ger a is . S eu s d es en h os a qu a r ela d os , d is p os t os em 4 3 248 Fonte: LARA, 2000. Disponível em http://www.desafio.ufba.br/gt3-006.html Ca r lo Giu lia n i ou J u lia n i foi u m it a lia n o n a s cid o em Tu r im (ca . 1 7 4 0 ), que a os 2 3 a n os alistou-se, em b u s ca d e for t u n a , n o E xér cit o p or t u gu ês , s en d o en via d o a o Br a s il p or diver s a s vezes p a r a r ea liza çã o d e leva n t a m en t os t op ogr á ficos ou vis t or ia d e for t ifica ções . Morreu no Rio de Janeiro em 1811 ou 1814. (LARA, 2002b). 249 p r a n ch a s , for m a m a ob r a Notícia s u m á ria d o gen tilis m o n a Ás ia com d ez ris cos ilu m in a d os d itos d e figu rin os d e bra n cos e n egros d os u s os d o Rio d e Janeiro e S erro Frio, gu a r d a d a n a Bib liot eca Na cion a l d o Rio d e J a n eir o (LARA, 2 0 0 2 b ). Ta m b ém h á d u a s p r a n ch a s d e s u a a u t or ia n o Ga b in et e d e E s t u d os d a s For t ifica ções e das Ob r a s Milit a r es An t iga s , em Lis b oa (FE RRE Z, 1 9 6 3 , p .3 8 ). “Em s eu s d es en h os ele con s t r ói “t ip os ” gen ér icos : im a gen s qu e n ã o d es cr evem r ea lid a d es em p ír ica s d ir et a m en t e ob s er va d a s , m a s qu e con t êm os elem en t os n eces s á r ios p a r a id en t ifica r a gr u p a m en t os s ocia is , p ovos d e cert os lu ga r es , et c.” (LARA, idem). Des t a for m a , a lgu m a s figu r a s com o a s fig.1 5 7 e fig.1 6 2 s ã o id ên t ica s , a p r im eir a r efer in d o-s e à Ba h ia e a ou t r a a o Rio d e J a n eir o. Por t a n t o, s ã o r ep r es en t a ções con ven cion a is , s im b ólica s , qu e r evela m ca t egor ia s ger a is com o a con d içã o s ocia l m a is qu e tip os es p ecíficos r egion a is . Con tu d o, s er vem com o in d ica t ivo da visualidade existente. Nelas percebe-se, em alguns casos (fig.161 e 162), a presença de signos mágicos postos à cintura pelas negras: as pencas. Fig.161 – Mu lh er n egr a . Ca r los Aqu a rela d e Ca r los J u liã o. Rio d e J a n eir o, s éc. XVIII. Acervo Fundação Biblioteca Nacional. Fonte: LARA, 2000250. 250 Disponível em http://www.desafio.ufba.br/gt3-006.html Fig.162 – Negr a s d e ga n h o. Aqu a rela d e Ca r los J u liã o. Rio d e J a n eir o, s éc. XVIII. Acervo Fundação Biblioteca Nacional. Fonte: LODY, 2001, entre p.102/103. Um a d a s m u lh er es (fig.1 6 1 ), u m a n egr a livr e ou lib er t a , con for m e in d ica m s eu s s a p a t os , veste tr a je d e ir m a n d a d e 251, s egu r a u m t er ço ou u m rosário, e traz na cintura a lém d a s b ols a s d e m oed a e d e fu m o, u m a ch a ve (Xa n gô, E xu ou s ím b olo d o com ér cio?), u m d en t e en ca s t oa d o (p r ot eçã o con t r a in veja ), d u a s con t a s d e â m b a r , d u a s con t a s d e cor a l, d ois cor a ções (qu e t a n to p od er ia m evoca r os cor a ções d e J es u s e Maria, quanto atrair fartura) (LARA,2000). A s egu n d a figu r a (fig.1 6 2 ) a p r es en t a d u a s m u lh er es n egr a s es cr a va s em a t ivid a d e d e ga n h o. A n egr a à d ireita252, com u m t a b u leir o d e fr u t a s n a cabeça, es ca p u lá r io ou gris-gris p en d en t e d o p es coço, es ca r ifica ções vis íveis no rosto e braços, mão tatuada com pentagrama e criança negra carregada a bamburro, t r a z, a lém d a b ols a d e m oed a s , a lgu n s p ou cos elementos pendentes na cintura. 251 S egu n d o E s corel (2 0 0 0 , p .1 3 0 ), a id en t ifica çã o d eve-s e à s ca p a s , n a s cores d o regim en t o dos pardos ou da irmandade de Nossa Senhora da Conceição. 252 E s cor el (2 0 0 0 , p .1 3 3 ) r ea lça a im p or t â n cia d es s a p er s on a gem , p ois , “é u m a d a s p ou ca s figu r a s a fr ica n a s d o con ju n t o d e p er s on a gen s ca r ioca s . O elem en to ch a ve a qu i n ã o é n em o ca ch im b o n em o t u r b a n te, m a s o fa to d e s er t a tu a d a n o r os t o, n os b r a ços e n o d or s o d a mão, onde exibe uma estrela perfeita de cinco pontas”. Os r egis t ros es cr itos e icon ográ ficos s ob re os cos t u m es b r a s ileir os vã o a u m en t a r n o s éc. XIX. A p a r t ir d e 1 8 0 8 , com a a b er t u r a d os Por t os d o Br a s il, o flu xo d e via ja n t es es t r a n geir os s e in ten s ificou . Mu it os d es s es via ja n t es d eixa r a m r ela t os qu e for a m p u b lica d os . Os s eu s r ela t os excit a va m a im a gin a çã o d os leit or es , os eu r op eu s “civiliza d os ”, qu e s e en ca n t a va m com o exotismo dos outros povos. O Oriente e a América eram os prediletos. Moem a Pa r en t e Au gel (1 9 8 0 , 2 6 9 p .), em s eu livr o Via ja ntes es tra n ge iros n a B a h ia oitoce n tis ta , r ela cion a os via ja n t es qu e es t iver a m n es s a Pr ovín cia . De d ifer en t es for m a ções , id a d es , cr en ça s e n a ções , s eu s r ela t os con s t it u em p r ecios o d ocu m en t o d e ép oca . A d ifer en ça en t r e eles e o qu e via m , o “es t r a n h a m en t o”, fez com qu e d es cr eves s em elem en t os qu e p a r ecer ia m b a n a is a os n a t ivos . Esse es t r a n h a m en t o r efer e-s e a qu i n ã o a o s ign o for a d e con t ext o, m a s a o r ecep t or for a d e con t ext o. Os s ign os tornaram -s e es t r a n h os a os via ja n t es p or n ã o lhes s er em fa m ilia r es , não pertencer em singularidade. ao s eu Por r ep er t ór io, ou t r o d es p er t a n d o la d o, o p od ia m r ecep t or leva r para a a su a a s s ocia ções d es con t extu a liza d a s , s egu n d o os r efer en cia is d o r ecep t or . A vis ã o d o ou t r o ga r a n t iu o r egis t r o es cr it o e icon ogr á fico, m a s foi uma percepção im b u íd a d e subjetivismo, p r econ ceito (con s t r u çã o a priori, prin cip a lm en t e com rela çã o a os n egr os , s eu s u s os e cos t u m es ), filt r a d a p or u m ju ízo d e va lor es etnocêntrico, religioso, s em is en çã o. E n fim , p on t os d e vis t a d e in d ivíd u os r ep r es en t a n t es d e s u a s cu lt u r a s , in s er id os n u m d a d o t em p o h is tór ico. Daí s er n eces s á r io ob s er va r es s a s im a gen s considerando-s e a s in ferên cia s d et er m in a n t es d es s a d ocu m en t a çã o. Nen h u m a vis ã o é is en t a d e len t es culturais. Den t r o d es s a p er s p ect iva , os livr os d e via gen s e a icon ogr a fia for a m fon t es u tiliza d a s p a r a a procura de in d ícios d o u s o d a s p en ca s d e balangandãs na Bahia e as leituras que geraram. Quem viu e como viu esses adereços? O m a is s ign ifica t ivo r ela t o do s éc.XIX con cer n en t e à Ba h ia , es p ecifica m en t e a S a lva d or , foi dad o p elo vice-côn s u l in glês h on or á r io, J a m es Wet h er ell (1 9 7 2 , p .7 9 -80)253. E xt r em a m en t e ob s er va d or , e t en d o 253 O livro B ra s il a p on ta m en tos s ob re a B a h ia 1842-1857 de James Wetherell (1822-1858) só foi publicado em português em 1972. p er m a n ecid o n es s a cid a d e p or 1 5 a n os , en t r e 1 8 4 2 e 1 8 5 7 , ele con s egu iu r egis t r a r p r ecios os cos t u m es . E m a n ot a çã o d e 1 8 5 4 , r efer in d o-s e a o t r a je d e beca das n egr a s b a ia n a s (d et a lh a d o n o ca p ít u lo 1 d es s a d is s er t a çã o), qu e a ch a “m u it o or igin a l e m u it o elega n t e”, ele d es cr eve a s jóia s e u m a p r ová vel penca de balangandãs, embora não a nomeie: Os b r a ços s ã o cob er t os d e p u ls eir a s d e cor a l e d e ou r o, et c.; o pescoço e o p eit o ca r r ega d os d e cola r es e a s m ã os d e a n éis – s ob r et u d o a qu ela qu e m a is fr eqü en t em en te s e a ch a for a d a s dobras do chalé (sic). Um gr a n d e m olh o d e ch a ves p en d u r a d o n u m a cor r eia d e p r a t a n a qu a l s ã o t a m b ém colga d a s u m a s m oed a s d e p r a t a , u m d en t e d e p or co ou d e t u b a r ã o m on t a d o em p r a t a , e d iver s os outros amuletos são amarrados num dos lados do vestido; Nen h u m ou t r o via ja n t e oitocen t is t a examinado, qu e es t eve n a Ba h ia , foi t ã o p r ecis o qu a n to Wet h er ell com r ela çã o à s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . A maioria d os ou t r os com o o fr a n cês Lou is -Fr a n çois d e Tollen a r e (1 7 8 0 -1853) e o in glês Ch a r les La m b er t (AUGE L, 1 9 8 0 , p .2 0 2 ), referem-s e a o u s o d e jóia s d e ou r o p ela s negras, m a s s em m a ior es m in ú cia s . In felizm en t e, o r ela t o d e Wet h er ell n ã o t r a z qu a lqu er ilu s t r a çã o. No qu e s e r efer e a o n om ea r , o t er m o b a la n ga n d ã n ã o é m en cion a d o. É p r ecis o con s id er a r a lgu n s fa t or es : o lingüístico (n em s em p r e os es t r a n geir os d om in a va m o id iom a , va len d o-s e d e intermediações); a s r ela ções es t a b elecid a s en t r e os b r a n cos es t r a n geir os e a p op u la çã o n egr a s egu n d o a h ier a r qu ia s ocia l exis ten t e; e o gr a u d e in t er es s e e p r ofu n d id a d e d em a n d a n d o p elo ob s er va d or . O t em p o d a es t a d ia d os viajantes254 é t a m b ém es s en cia l p a r a a s ob s er va ções d es t es , u m a vez qu e esses adereços parecem ser visíveis apenas em épocas festivas. Con t u d o, em b or a es t ives s em n a Ba h ia d u r a n t e fes t ejos , os via ja n t es n em s em p r e r ela t a r a m o u s o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . E s s e foi o ca s o d o 254 Ta lvez es s a s eja a ca u s a d o n a t u r a lis t a s u iço J ea n Lou is R. Aga s s iz, em 1 8 6 5 , a p es a r d e t od o o s eu en ca n t o p ela s n egr a s m in a s , d es creven d o com d eta lh es o u s o d o p a n o d a cos t a p or ela s n o Rio d e J a n eir o, s ó t r ou xes s e u m a d es cr içã o d e n egr a s d e r u a , s em n en h u m a r eferên cia a a d ereços à cin t u r a . Aga s s iz s ó p er m a n eceu n a Ba h ia p or u m ú n ico d ia . Qu a n t o a o m is s ion á r io m et od is t a n or te-a m er ica n o Da n iel Pa r is h Kid d er (1 8 1 5 -1 9 9 1 ), qu e es teve n a Ba h ia em 1 8 3 9 , n ã o for n ece d es cr ições s ob re in d u m en tá r ia d a s n egr a s m a s t r a z u m a ilu s t r a çã o d e u m a n egr a b a ia n a . O in glês Geor ge Ga r d n er (1 8 1 2 -1 8 4 9 ), m éd ico e b ot â n ico amador, permaneceu apenas dois dias na Bahia (AUGEL, 1980, p.69-108). m éd ico a lem ã o, Rob er t Avé-Lallemant (1 9 6 1 , p .2 2 e 4 7 )255, que es t eve n a Ba h ia em d ezem b r o d e 1 8 5 8 , d es cr even d o o t r a je d a s n egr a s d a Ba h ia n a missa e na Festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal e da Bahia. Da m es m a for m a , o p r ín cip e a u s t r ía co, Fer d in a n d Ma xim ilia n d e Ha b s b u r go (1 9 8 2 , p .1 3 0 ), qu e p er cor r eu o Br a s il en t r e 1 8 1 5 e 1 8 1 7 , fez o r ela t o d e m u lh er es n egr a s d u r a n t e a Fes t a d o Bon fim , n a Ba h ia , s em m u it o detalhamento quanto aos amuletos. Um a im p or t a n t e fon t e icon ogr á fica , r ela t iva es p ecifica m en t e à Ba h ia , for a m os d es en h os d a via ja n t e in gles a Ma r ia Gr a h a m 256 (1785-1 8 4 2 ). Ap ós casa r com o ca p it ã o d a m a r in h a in gles a , Th om a s Gr a h a m , fez u m a via gem à Am ér ica d o S u l, p er m a n ecen d o n a Ba h ia d e 1 6 d e ou t u b r o a 8 d e d ezem b r o de 1821 (AUGEL, 1980, p.62-64). Dos 39 desenhos aquarelados, referentes à Bahia, pertencentes à Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, atribuídos a Maria Graham, d es ign a d a n es t es com o La d y Ma r ia Ca lcot t , 1 1 r ep r es en t a m n egr a s b a ia n a s es cr a va s e lib er t a s , a m a ior ia em a t ivid a d es d e ga n h o e d u a s d ela s n o qu e ela d en om in ou Hollid a y d res s (fig.2 9 e 3 0 d o ca p ít u lo 1 d es s a dissertação). Des s a coleçã o, a p en a s u m a m u lh er n egr a a p a r ece com u m a provável p en ca d e b a la n ga n d ã s à cin t a , u m a lib er t a em a t ivid a d e d e ga n h o, u m a ven d ed or a d e d oces , com s u a ca ixa d e vid r o n a ca b eça 257, ves t id a com traje festivo de crioula258 (fig.163). 255 S egu n d o Au gel (1 9 8 0 , p .9 2 -9 4 ), Rob er t Ch r is t ia n Ber t h old Avé-Lallemant n a s ceu em Lübeck em 25 de julho de 1812, morrendo na mesma cidade em13 de outubro de 1884. 256 Na s cid a Ma r ia Du n d a s , era filh a d o a lm ir a n te in glês Geor ge Du n d a s , e a p ós u m a via gem feit a com o p a i à Ín d ia em 1 8 0 8 , es cr eveu o s eu p r im eir o d e via gen s . Fica n d o viú va , t or n ou s e Ma r ia Gr a h a m , em 1 8 2 3 , p r ecep t or a d a p r in ces a b r a s ileir a Ma r ia d a Glór ia , fu t u r a r a in h a d e Por t u ga l. Ao r et or n a r à In gla ter r a , p u b licou o livr o Via ge m a o B ra s il (1 8 2 4 ) e casou-s e com Lor d Ca lcot t (S CHUMAHE R, 2 0 0 3 , p .3 9 4 ). Daí, a coleçã o d a Bib lioteca Nacional ser denominada Coleção Lady Maria Callcott. 257 E s s a im a gem cor r es p on d e à d es cr içã o feit a p or Ma xim ilia n o d e Ha b s b u r go (1 9 8 2 , p .1 2 5 ), em 1 8 6 0 , “u m a figu r a ca r a cter ís t ica n a s r u a s d a Ba h ia s ã o a s n egr a s ven d ed or a s , qu e ca r r ega m , n a ca b eça a s m er ca d or ia s , em ca ixa s d e vid r o, com p r id a s e rea lm en te gr a n d es . A primeira vez em que vi uma caixa de vidro desse tipo, pensei que continha o cadáver de uma cr ia n ça ou u m a r elíqu ia . Nes s e recep t á cu lo t ra n s p a ren te, a s n egr a s oferecem à ven d a pastéis , fit a s , lin h a s , lin h o e ou t r os ob jet os n eces s á r ios a o u s o ca s eir o. Qu a l a fin a lid a d e d e gu a r d a r em ta is cois a s com t a n to cu id a d o, n ã o p os s o d izer . As ca ixa s p r ovém d e ép oca s r em ot a s e s ã o t a lvez, u m m eio d e p r oteçã o con t r a a s m os ca s , p ois n ã o h á p oeir a n o Br a s il. E n gr a ça d a e a d m ir á vel é a h a b ilid a d e com qu e a s n egr a s a t let a s b a la n ça m a ca ixa s ob r e o t or ço, con s egu in d o a t r a ves s a r , com es s a ca r ga volu m os a , vit or ios a m en te, t od a a con fu s ã o da cidade”. 258 E m b or a La d y Ca llcot n ã o a in d iqu e com o t r a ja n d o u m “h ollid a y d r es s ”, es s a n egr a n ã o es t á ves t id a com o qu e s er ia u m t r a je d iá r io. Not a r a fivela d os s a p a t os , a b a r r a d e ren d a d a saia, as jóias, torço e o elegante pano da costa(?) sobre o ombro. Fig.163 – Vendedora de doces (Seller of smallwares, sweetmeat, etc.) Desenho aquarelado, séc. XIX. Coleção Lady Callcott, Biblioteca Nacional – RJ.259 O a lem ã o J oh a n n Mor it z Ru gen d a s (1 8 0 2 -1 8 5 8 ), d es en h is t a e cronista de costumes brasileiros, que esteve no Brasil de 1822 a 1825 (AUGEL, 1980, p.60-62), fez p ou ca s referên cia s à Ba h ia e n ã o t r a z n en h u m a in d ica çã o d e b a la n ga n d ã s (fig.164). Mes m o exp lor a n d o o r es t a n t e d e s eu t r a b a lh o r efer en t e a o Br a s il, s ó foi p os s ível en con t r a r u m único adereço usado na cintura p or u m a n egr a em u m a p r a n ch a in t itu la d a Fes ta d e Nos s a S en h ora do Rosário, padroeira dos negros (fig.165). 259 Fonte: http://international. loc.gov/intldl/brhtml/br_collections/br_lists/fbncmlTitles1. html Fig.164 - Negr o e n egr a d a Ba h ia . J oh a n n Moritz Rugendas. Litografia colorida a mão. Fonte: Fonte: AGUILAR, 2000b, p. Fig.165 - Fest a d e N. S r a . d o Ros á r io, p a d r oeir a d os n egr os (d et a lh e). Ru gen d a s . Lit ogr a fia color id a a m ã o, Col. Pa r t icu la r . Fonte: AGUILAR, 2000b, p.240 Onde estavam as pencas de balangandãs que foram tão pouco vista s? É p r ecis o exp lor a r a documentação iconográfica, a lém d a es p ecífica da Ba h ia . S e Ru gen d a s n ã o r egis t r ou n en h u m a d er eço, u s a d o p ela s n egr a s b r a s ileir a s n a cin tu r a , a ob r a d o a r t is t a fr a n cês J ea n Ba p t is t e Deb r et (1 7 6 8 1 8 4 8 ), com r ela çã o a o Rio d e J a n eir o, é b a s t a n t e significativa. Deb r et , cr on is t a vis u a l d o Br a s il oitocen t is t a , d es cr eveu e ilu s t r ou o u s o d e a d er eços mágicos, p os t os à cin t u r a , n a s r u a s ca r ioca s p ela s n egr a s d e ga n h o (fig.166, 167, 168 e 169). Fig.166 - Negr a s livr es viven d o d e s u a s a t ivid a d es . J . B. Deb r et , 1 8 3 4 -3 9 . Fon te: DE BRE T, 1940, t.1, p.212/213 Fig.167 - Enterro de uma negra. J. B. Debret. 1834-3 9. Litografia colorida a mão, Col. Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b . p.244 Fig.168 - Padaria. J. B. Debret, 1834-39. Fonte: DEBRET, 1940, t.1, p.260/261 Fig. 169 - Pedintes. J. B. Debret, 1834-39. Fonte: DEBRET, 1940, t.2, p.144/145 O mais claro exemplo é o da figura 170, Negra tatuada vendendo cajus, on d e os p en d en t es es t ã o b em vis íveis , a gr u p a d os em t or n o d e u m a a r gola , con figu r a n d o u m b a la n ga n d ã . Deb r et (1 9 4 0 , v.II, p .54) ainda traz uma descrição dessa figura, segundo ele, é r a r o qu e u m a ven d ed or a n egr a a m b u la n t e s e m os t r e n a r u a s em s eu p equ en o a m u leto [figa ] a o p es coço, o qu e n ã o a im p ed e d e u s a r t a m b ém d ois ou t r os à c in t u ra, de c am bu lh ada c o m c in c o a s e is t alis m ãs , de fo rm a e de natureza diferentes (grifo nosso). Fig.170 – Negr a t a tu a d a ven d en d o ca ju s (d et a lh e). J ea n Ba p t is te Deb r et , 1 8 2 7 . Aqu a rela s ob re p a p el. Col. Mu s eu s Castro Maya. Fonte: PAIVA, 2001, p.104 Há r egis t r a m a in d a du as p r ová veis im p or t a n t es p en ca s . im a gen s , d a t a d a s Per t en cem a coleções d o s éc.XIX, qu e p a r t icu la r es não id en t ifica d a s . Um a é d e a u t or ia d e J ea n -Ba p t is t e Gr en ier (fig.171), d o qu a l n ã o foi id en t ifica d a b iogr a fia 260, e a ou t r a é a n ôn im a (fig.172). E m a m b a s é 260 A ú n ica r eferên cia a o p in t or Gren ier foi en con tr a d a n o ca t á logo d e Du t r a Leilões , d e ou t u b r o d e 1 9 9 9 (d is p on ível em h t tp :/ / www.d u t r a leiloes .com .b r / ou t u b r o1 9 9 9 / ca t 4 9 .h t m l), on d e s e lê n o lote 2 1 5 : “GRE NIE R, J ea n -Ba p t is te (S éc. XIX). Mu la t a . Óleo s ob r e tela , 4 1 x 3 2 ,5 cm . Acom p a n h a d ocu m en t o d e a u ten t ica çã o a s s in a d o p or Ma r ia Lu ize Gu im a r ã es S a lga d o, d o Rio d e J a n eir o, d a t a d o d e 3 0 d e s etem b r o d e 1 9 8 7 , n es te ter m os : Devid o a o ext r a vio d o p r im eir o la u d o técn ico forn ecid o a p ós p es qu is a s rea liza d a s p elo p r ofes s or E d s on e eu , volt o a d ecla r a r qu e o qu a d r o rep r od u zid o n o ver s o d es t a fot ogr a fia é ob r a or igin a l d o p in t or fr a n cês J ea n Ba p t is te Gren ier, qu e es teve n o Br a s il n os m ea d os d o s écu lo XIX.” Há b a s t a n t e vis ível a p r es en ça d e ch a ve e m oed a s p en d en d o d a cin t u r a à d es t r a d a s u s u á r ia s , a p r im eir a u m a m u la t a livr e ou lib er t a (p és ca lça d os ) e a s egu n d a u m a es cr a va n egr a (p és d es ca lços ). Mes m o es t a n d o es s a s d u a s ven d ed or a s em a t ivid a d es d e t r a b a lh o, p od e-s e d efin ir a in d u m en t á r ia d a s d u a s com o u m t r a je fes t ivo (in d ica d o p r in cip a lm en t e p ela b a r r a em r en d a ), o t r a je d e b a ia n a . É im p or t a n t e ob s er va r qu e a m b a s a s m u lh er es u s a m p a n o d a cos t a e t u r b a n t e. A m u la t a d e Gr en ier (fig.1 7 1 ) a in d a t r a z, s ob r e o t u r b a n t e, u m a p equ en a ces t a à m od a d o t r a je d e b a ia n a , con for m e r egis t r a d o, n o s éc. XIX, icon ogra fica m en t e p or Ma r ia Gr a h a m (fig.2 9 e 3 0 d o capítulo 1) e descrito por James Wetherell (1972, p.79-80). Fig.171 - Mulata261. Jean-Baptiste Grenier. Óleo sobre tela, séc. XIX. Col. Particular. Fonte: AGUILAR, 2000b, p.130 outra obra no lote 215A de GRENIER intitulada Mulatas, um óleo sobre tela, de tamanho 41 x 32,5 cm. Não há imagem. 261 E s s a m es m a im a gem a p a rece em ou t r a p u b lica çã o s ob a d en om in a çã o Ba ia n a (TRINDADE, 1988, p.126), identificação atribuída pelo traje da mulher representada. Fig.172 - Negr a n o m er ca d o. An ôn im o. Óleo s ob r e tela . Col. Pa r t icu la r . Fon te: AGUILAR, 2000b, p.131 Também os fotógrafos, presentes no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, fornecem registro iconográfico como importante fonte histórica. E m b or a a m a ior ia d a s fot ogr a fia s d e cr iou la s b a ia n a s r et r a t a d a s s eja uma elaborada construção de s en t id o em es t ú d io, ger a lm en t e d es t in a d a s à ven d a com o exót ica s cartes postales (HACKLE R, 2 0 0 4 , p .2 8 4 -89), ela s d ocu m en t a m a p r es en ça d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s em a lgu n s p ou cos exem p la r es (fig. 1 7 3 , 1 7 4 e 1 7 5 ). Na figu r a 1 7 4 , en con t r a -se qu a s e t ot a lm en t e ocu lta p elo p a n o d a cos t a , à destra da crioula, sendo visíveis uma romã e parte de um cacho de uvas. Fig.173 – Um a cr iou la d a Ba h ia . J. Melo editor. Fotografia 1904-1915. Fonte: Arquivo Museu Carlos Costa Pinto. (cartão postal), Fig.174 - Crioula. Lindemann. Fotografia (cartão postal). Bahia, 1905. Col. Pa r t icu la r . Fonte: AGUILAR, 2000b, p.144. Exemplar existente no Museu Tempostal. Fig.175 - Ret r a t o d e b a ia n a . G. Gaensly. Fotogr a fia (ca r t ã o p os t a l), d ec. 1880. Col. Particular. Fonte: ARAÚJO, 2002, p.138 Na s figu r a s 1 7 3 e 1 7 5 a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s es t ã o cla r a m en t e vis íveis , com s eu s elem en t os ca r a ct er ís t icos com o ca ch os d e u va s , m oed a s , ch a ve, cocos , cilin d r os , p a n d eir os , et c. Na figu r a 1 7 5 a n a ve es t á b em d efin id a , ca r a ct er iza n d o-s e com o d o tip o 1 (con for m e exp os t o n o ca p ít u lo a n t er ior ). E s t a n ã o p a r ece es t a r p r es a p or cor r en t e e s im p or t ir a d e t ecid o posta à cintura. O Dr . Ra im u n d o Nin a Rod r igu es (1 9 8 8 , p .1 1 9 )262, u m d os pioneiros dos es t u d os a fr ica n os n o Br a s il, é con com it a n t em en t e t es t em u n h a e es t u d ios o. Com relação à penca de balangandãs , que não nomeia, descreve As n egr a s r ica s d a Ba h ia ca r r ega m o ves tu á r io à baiana de r icos a d or n os . Vis tos os b r a celet es d e ou r o cob r em os b r a ços a t é a o m eio, ou qu a s e t od o; v o lu m o s o m o lh o de v ariado s berloques, com a imprescindível e grande figa, pende da cinta [grifos nossos]. J á n a p r im eir a m et a d e d o s éc.XX, o Pr of. Men ezes d e Oliva (1957, p.45)263, r ecor d a n d o s u a s m em ór ia s d e in fâ n cia r ela cion a d a s a o u s o d e jóia s por negras, cita lembrei-m e, en t ã o, d e a lgu m a s ex-es cr a va s qu e con h eci em m en in o, n a ca s a d e m eu s a vós , qu a n d o, e m dias de procissão, vin h a m vis it a r S in h á Velh a , os b r a ços ch eios d e p u ls eir a s , on d e n ã o r a r o, s e via a efígie d e D. Ped r o II, o p es coço a ca ir d e cor d ões d e ou r o e n a c in t ura, po r baix o do pan o da Co s t a de c o re s v iv as , pe n c as e m ais pe n c as de barangandans (grifos nosso). Nes s a cit a çã o, in d ica o u s o fes t ivo d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s e o s eu u s o s ob o p a n o d a Cos t a , ocu lt a n d o-o, com o ocorr e p a r cia lm en t e n a figu r a 174, o que pode ser a causa desses adereços terem sido tão pouco vistos. 262 S egu n d o Fer n a n d o S a les (RODRIGUE S , 1 9 8 8 , p .2 7 7 -7 9 ), o m éd ico m a r a n h en s e Ra im u n d o Nin a Rod r igu es (1862-1906) foi p r ofes s or d a Fa cu ld a d e d e Med icin a d a Ba h ia e fu n d a d or d a S ocied a d e d e Med icin a e Cir u r gia e d a Med icin a Lega l d a Ba h ia . De s u a va s t a bibliografia destacam-s e os estudos de Sociologia, Etnografia e Antropologia. Apesar de suas in ter p reta ções s eja m m a r ca d a s p ela s teor ia s r a cia is d a ép oca , os d a d os leva n ta d os p or ele s ã o d e gr a n d e im p or t â n cia “p ela s u a qu a lid a d e e p ela s it u a çã o h is tór ica , p ois qu e Nin a Rodrigues ainda alcançou africanos puros no Brasil” (Mário de Andrade apud idem, p. I) 263 E m s eu livr o A S a n ta d o Pa u Oco e ou tra s h is tória s (1957), o Pr of. Men ezes d e Oliva é a p r es en t a d o p or Per civa l d e Oliveir a com o “p oeta e p r os a d or d e t a len t o” (ME NE ZE S DE OLIVA, 1 9 5 7 , p .1 3 ) e cit a qu e foi p r ofes s or d o Cu r s o d e Mu s eu s , r ecém fu n d a d o n o Mu s eu His t ór ico Na cion a l d o Rio d e J a n eiro, ocu p a n d o a ca d eir a d e His tór ia d a Ar te Br a s ileir a (idem, p .1 4 ). J á n o ca p ít u lo d es te m es m o livr o, in t it u la d o Cla s s ifica çã o d os b a la n ga n d a ns, n a s p r im eira s lin h a s d o texto, o p r óp r io Oliva s e a p res en t a com o “em 1 9 3 2 , qu a n d o foi cr ia d o, n o Mu s eu His t ór ico Na cion a l, o Cu r s o d e Mu s eu s , cou b e-m e a regên cia d a ca d eir a de História da Arte Brasileira” (MENEZES DE OLIVA, 1957, p.39). O folclor is t a b a ia n o J oã o d a S ilva Ca m p os (2 0 0 1 , p .3 1 3 ), n o livro Procis s ões tra d icion a is d a B a h ia , cu ja p r im eir a ed içã o d a t a d e 1 9 4 1 264, a o t r a t a r d a s p r ocis s ões “atuais”, es p ecifica m en t e a d e S ã o Ben ed it o, s a n t o p r ot et or d os n egr os , referindo-s e a o t r a je d es s a con fr a r ia d e cr iou los , cita que Os cr iou los s a ía m à r u a , n o d ia d a fes t a , com a s u a r ou p a “d e ver a Deus”. As negras, então, exibiam saias de beca, plissadas à m ã o! – “p a n os ” (qu e fa zia m d e xa le), e tor s os d e s ed a , d e gor gor ã o p r et o, ca m is a s d e t ecid o fin ís s im o, p r im or os a m en t e b or d a d a s , ch in elin h a s d e velu d o la vor a d a s a ca n u t ilh o d e ou r o, e, n a s or elh a s , n o p es coço, n os p u ls os , a t é qu a s e os cot ovelos , n os d ed os , u m a p r ofu s ã o in cr ível d e jóia s cu s t os a s . Além d o m olh o volu m os o d e balangandans [gr ifo n os s o], berloques, tetéias, burundangas de ouro, de prata, de coral, de a zevich e, d e n ã o s ei m a is qu e, - p en d u r a d o à cin t u r a . Negr a s velh a s , a p a r en t em en t e p ob r es , d iu t u r n a m en t e m a lt r a p ilh a s , es m ola m b a d a s , a p a r ecia m a gor a com ta n t o ou r o qu e a d m ir a va . Aliá s , em t od a s a s gr a n d es fes t ivid a d es d a Ba h ia , a s a fr ica n a s , cr iou la s e m u la t a s d e s a ia a p r es en t a va m -s e a s s im , ves t in d o fa zen d a s ca r a s , e os ten t a n d o cop ios a qu a n t id a d e d e ouro. Ou s eja , o qu e S ilva Ca m p os d es cr eveu foi o t r a je d e b eca qu e, ju n t o com es s es a d er eços , eram d e u s o fes t ivo, n ot a d a m en t e em fes t ejos r eligios os e p or t a d os p or n egr a s p er t en cen t es à confraria, ob jet os a in d a p r es en t es n a p r im eir a m et a d e d o s éc. XX. É im p or t a n t e r es s a lt a r qu e o es t a t u t o d es s a con fr a r ia d e S ã o Ben ed it o es t a b elecia p a r a s u a com p os içã o qu e s eu s m em b r os fos s em cr iou los e a n gola s (apud SILVA, 2 0 0 1 , p .3 1 5 ). S er ia m a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s d is t in t ivos d e p er t en cim en t o a u m gr u p o? 265 Não foram encontradas quaisquer evidências que atestassem essa possibilidade. An n a Am élia d e Qu eir oz Ca r n eir o d e Men d on ça (1 9 6 8 , p .5 0 ) menciona o u s o d a s p en ca s d e b a langandãs qu e “a s n egr a s d e S a lva d or ou d a Feira d e S a n t ’a n a a in d a h oje, em b or a r a r a m en t e, s u s p en d em com u m a for t e cor r en t e em volta de uma quase sempre fortíssima cintura”. 264 Essa obra é póstuma, visto que, Campos, nascido em 1880, faleceu em 1940. Ra u l Lod y procurou o vín cu lo en t re a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s e a s ir m a n d a d es ca t ólica s n egr a s . Ao p es qu is a r a Ir m a n d a d e d e Nos s a S en h or a d a Boa Mor te d e Ca ch oeir a , Ba h ia , ele cit a qu e “a s ir m ã s m a is velh a s n ã o s e lem b r a va m d a s p en ca s n a s cin t u r a s e n em d e a m u let os is ola d os n os p a n os p os t os ta m b ém n a s cin t u r a s .” (LODY, 1 9 8 8 , p .2 6 ). As d evot a s d es s a ir m a n d a d e s ã o a s ú n ica s a a in d a u t iliza m o t r a je d e b eca e a s jóia s d e cr iou la s , d u r a n te a fes t ivid a d e d e s u a p a d r oeir a , r ea liza d a a n u a lm en te n o m ês d e a gos t o (fig.3 2 d o capítulo 1). 265 For a m con s u lt a d os a in d a a lgu n s t es ta m en t os d e lib er t a s d o s écu lo XIX, s elecion a d os a p a r t ir d o m a p ea m en t o feito p or Ma r ia In ês Côr t es d e Oliveira (1 9 7 9 , p .9 9 )266 Ess es n ã o cita m n em d es cr evem p en ca s de b a la n ga n d ã s . Nã o h á elem en t os característicos com o r om ã s , ca ch os d e u va , et c. Cit a m ob jetos com o rosário267, cor a ções , m ed a lh a s e cr u cifixos 268, s en d o a m a ior ia em ou r o. Pou cos a d er eços m en cion a d os s ã o em p r a t a . E on d e estavam os d em a is elem en t os ? E a n a ve ou a a r gola com u m con ju n t o d e berloques? S e a p en ca d e b a la n ga n d ã s , p or a lgu m m ot ivo (com o a gu a r d a , a s egu r a n ça d es t a ou d ívid a s con t r a íd a s ), er a d ecom p os t a , p or qu e n ã o é p os s ível r em on t á -la a t r a vés d os t es t a m en t os ? A p equ en a exis t ên cia d e exem p la r es d e p en ca s d e b a la n ga n d ã s , os p ou cos r ela t os d e via ja n tes , a r ed u zid a d ocu m en ta çã o icon ogr á fica e a n ã o cit a çã o em t es t a m en t os d a s libertas indicam um uso restrito a um limitado grupo de negras e mulatas. 3.4. Origem das pencas de balangandãs A p en ca d e b a la n ga n d ã s é u m a p eça t ip ica m en te b a ia n a ? Con for m e vis t o a n ter ior m en t e, a p en ca d e b a la n ga n d ã s , for m a liza d a com n a ve e cor r en t e, p a r ece s er b a ia n a , u m a s olu çã o d os ou r ives d a Ba h ia p a r a a d er eços já exis t en t es (p en ca e b a la n ga n d ã s ) qu e s e u n ir a m . At es t a m is s o, a p r es en ça d e m a r ca s d e con t r a t e d a Ba h ia em a lgu n s exem p la r es d a coleçã o Museu Carlos Costa Pinto269. Mendonça (1 9 6 8 , p .4 9 -5 0 ), con s id er a a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s “o ob jeto d e a d or n o m a is t íp ico d a qu ela r egiã o d o n or t e d o Br a s il ou a n t es a m a is b r a s ileir a d a s p eça s d a ou r ives a r ia n a cion a l”. Conforme Oliva (1957, p.41), 266 No p er íod o d e 1 8 5 1 -1 8 5 7 , Ma r ia In ês C. d e Oliveir a r ela cion a 1 4 7 t es t a d or a s , s en d o qu e d es t a s s ó 3 5 d ecla r a m ob jetos d e ou r o e 1 0 d e ob jetos d e p r a t a ; e d a s 9 5 tes t a d ora s do período de 1879-1885 apenas 9 declaram objetos de ouro e 2 de prata. 267 Testam en t o d e Ros a Ma r ia d e Pa iva Alelu ia Lim a . APE B. S eçã o J u d iciá r ia . Livr o d e Regis t r o d e Tes t a m en t os n º 2 9 , 1 8 4 2 , fl.9 2 -99; Tes t a m en t o d e Delfin a Ma r ia d a Con ceiçã o Délavé. Idem, nº 61, fl. 58-62. 268 Testam en t o d e Ros a Ma r ia d e Pa iva Alelu ia Lim a . APE B. S eçã o J u d iciá r ia . Livr o d e Registro de Testamentos nº 29, 1842, fl.92-99. 269 Na coleçã o Fu n d a çã o In s t it u t o Fem in in o d a Ba h ia , qu e p os s u i 9 p en ca s d e b a la n ga n d ã s , u m exem p la r d e n º 4 4 5 4 .IV.0 5 3 , d o t ip o 2 (con for m e cla s s ifica çã o p r op os t a n o ca p ít u lo 2 ), a p r es en t a m a r ca d e en s a ia d or d a Ba h ia d o s éc.XVIII em d u a s p a r tes d a n a ve e em u m d os elementos pendentes. n ã o é p os s ível a fir m a r , com s egu r a n ça , qu a n d o for a m os b a la n ga n d a n s p r im eir a m en t e fa b r ica d os n o Br a s il, em b or a s eja cr en ça ger a l270 qu e t en h a s id o a cid a d e d o S a lva d or o centro da sua maior produção. Ra u l Lod y (2 0 0 1 , p .5 0 ) qu es t ion a a exclu s ivid a d e b a ia n a d os balangandãs. Segundo ele, em b or a r egis t r os fotogr á ficos d o s écu lo XIX e ou t r os r egis t r os vis u a is a tes t em a r eu n iã o d os b a la n ga n d ã s en qu a n t o a cer vo m a t er ia l d a h is t ór ia a fr o-b r a s ileir a n a Ba h ia , t a is ob jetos n ã o são exclusivos desse estado. Deb r et e Ca r los J u liã o, r et r a t a n d o, em a t ivid a d es d e ga n h o n o Rio d e J a n eir o, n egr a s p or t a n d o a m u let os , for m a n d o conjuntos, dispostos nas cinturas. É in egá vel a p r es en ça d e p en ca s , p r in cip a lm en t e n o Rio d e J a n eir o, s egu n d o o r egis t r o d os via ja n t es com o Deb r et . Ma s , n ã o s ã o p en ca s d e b a la n ga n d ã s . As n egr a s d es en h a d a s p or Ca r los J u liã o n o s éc. XVIII, a p r es en t a m p en ca s (ob jetos p r es os in d ivid u a lm en t e p or ga n ch os em u m a fa ixa d e t ecid o a m a r r a d a n os qu a d r is ). E s s a fa ixa , d en om in a d a p or ele d e “b u n d a à cin t a ”, con for m e vis t o n o p r im eir o ca p ít u lo, a s s em elh a -s e à qu ela u s a d a p ela s n egr a s b a n t o, p r es en t e em icon ogr a fia s ob r e a Ra in h a Nzin ga (1587-1663) (fig.1 7 6 ), m on a r ca d e Nd on go (An gola ) e Ma t a m b a . Ma is u m a vez, surge a relação banto, que aparece também na etimologia. 270 Tod a s a s coleções d e p en ca s d e b a la n ga n d ã s , exis ten tes em m u s eu s e p os s u íd a s por p a r t icu la r es , s ã o a t r ib u íd a s com o or igin á r ia s d a Ba h ia . Até h oje s ã o fa b r ica d a s p a r a ven d a como souvenirs, peça típica da Bahia. Fig.176 – Ra in h a Nzin ga com s eu s éqü it o. Aqu a rela d e Mis s ion e d e G.A. Ca n a zzi, s éc. XVII. Fon t e: MEDINA & HENRIQUES, 1996, p.91 Ta m b ém o m éd ico Ar t h u r Ra m os (1 9 7 9 , p .1 9 8 ), p r ofes s or da Fa cu ld a d e d e Med icin a d a Ba h ia e p es qu is a d or d e r eligiões e folclor e n egr o, a t r ib u i a os b a la n ga n d ã s uma or igem a fr ica n a b a n t o. Ao d es cr ever a indumentária das negras baianas diz que Na indumentária, os panos vistosos, as saias rodadas, os xales d a cos t a , os b r a celetes , a r golões et c., u s a d os p elos n egr os d a Ba h ia , t êm p r oced ên cia n iger ia n a . Ou t r a s in flu ên cia s d o S u d ã o m u lçu m a n o, com o a r od ilh a ou t u r b a n t e e m iça n ga s e balan gan dãs , o rigin adas de An go la e do Co n go [gr ifo n os s o], vêm com p let a r a figu r a t íp ica d a b a ia n a , es s a figu r a p op u la r do Brasil. In felizm en t e, ele n ã o t ece m a ior es exp lica ções s ob r e es s a p r oced ên cia banto. Não foi encontrado qualquer registro de uso de balangandãs na África n a ép oca d os p r im eir os con t a tos . Qu a is a d er eços p od em t er d a d o or igem à s pencas de balangandãs da Bahia? 3.5. Antecedentes morfológicos Algu m a s r ela ções m or fológica s e con ceitu a is , qu e in d ica r ia m a or igem d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , for a m a p on t a d a s p or es t u d ios os , s egu n d o ver t en t es d e t r a d içã o a fr ica n a e eu r op éia . No p r im eir o ca s o, es t ã o p u ls eir a s a fr ica n a s d e p in gen tes e a fer r a m en t a d e Ogu m . S egu n d o Ma r ia n o Ca r n eiro da Cunha (1983, p.1028), Qua n t o à s p u ls eir a s d e p in gen tes (b a la n gã s )271, o Mu s eu d e Ar t e e Ar qu eologia d a US P d is p õe d e a lgu m a s d ezen a s d e exem p la r es p r oven ien t es d a Yor u b elâ n d ia , e qu e s ã o absolutamente semelhantes às suas congêneres baianas. Por ou t r o la d o, h á d ois gr u p os d e ob jetos d a Áfr ica ocidental qu e m u it o p r ova velm en t e s er vir a m d e m od elos à s “p en ca s ” baianas de prata ou cobre prateado. O primeiro grupo compões e d e a m u let os d e p r a t a for m a n d o u m b r a celete ou m a d eir a ch a p ea d a d e ou r o, qu e os r eis d o Ga n a u s a m n o b r a ço p a r a d eles h a u r ir em ‘for ça ’. O ou t r o gr u p o a b r a n ge u m a s ér ie d e p equ en a s p en ca s com p os t a s d os s ím b olos d a s d ivin d a d es Yorubá, em liga de prata, e porém de Iwô, na Nigéria. Quanto à s u a fu n çã o, n a d a d e s egu r o p u d em os a p u r a r : ca ír a m em desuso há muito tempo. Contudo, o autor não fornece informações mais detalhadas. O primeiro ca s o é u m a t r ib u t o r ea l m a s cu lin o d e Ga n a , u s a d o n o b r a ço, qu e lem b r a os b r a celet es con goles es nlunga d a in s t itu içã o d o lemba272. Fa cilm en t e p er ceb es e a s em elh a n ça vis u a l en t r e o b r a celet e d e Ga n a (fig.1 7 7 ) e os b a la n ga n d ã s fixa d os em a r gola , a m b os in s ígn ia s m á gica s , en t ret a n t o, d ifer em qu a n t o à in t en cion a lid a d e e u s o. Qu a n t o a os b a s t ões (fig.1 7 8 ), n ã o é cla r a a s u a semelhança (além de ser um aglomerado de pendentes) nem utilização. 271 Grafia do original. “A p a r t ir d o s écu lo XVII, a a s s ocia çã o d o lemba er a u m a d a s in s t it u ições m a is in flu en tes n a p a r te s eten t r ion a l d o ter r it ór io Kon go. Des t in a d a or igin a lm en te a ga r a n t ir a h a rm on ia con ju ga l, ger a va o b om fu n cion a m en t o d e d iver s a s a t ivid a d es en t re s eu s m em b r os , qu er s e t r a t a s s e d o com ér cio, d a con va les cen ça ou d a a r b it r a gem d os con flitos . Um d os s in a is distin t ivos d os m em b r os d o lemba er a u m b r a celete d e la t ã o nlunga, qu e receb ia m a p ós s u a iniciação” (NEYT & VANDERHAEGHE, 2000, p.46). 272 Fig.177 - Amuletos africanos. Couro Fig.178 – Ba s t ões com p in gen tes . 1 1 ,5 ; 1 6 e 1 5 ,5 folheado a ouro. 22,9 cm.(In: COLE, cm . Col. Ma r ia n o Ca r n eir o d a Cu n h a , MAE -USP. Herbert & ROSS, Doran. The Arts of Fonte: ZANINI, 1983, v.2, p.1028 Ghana). Fonte: ZANINI, 1983, v.2, p.1028 A fer r a m en t a d e Ogu m 273(fig.1 7 9 ) é cit a d a p or Lod y (1 9 8 8 , p .9 -10) por sua representação ser caracterizada “p or u m m olh o (p en ca ) d e m in ia t u r a s d e fer r a m en t a s p a r a a lu t a e p a r a o t r a b a lh o, con feccion a d a s em fer r o b a t id o, em n ú m er o d e s ete, 1 4 ou 2 1 ob jetos r eu n id os n u m a r golã o ou noutro tipo de peça que os sustente. Fig.179 - Ferramenta de Ogum. Aquarela de Carybé. Fonte: CARYBÉ, 1980, p.59 Ma is in t er es s a n t e s er ia con s id er a r com o in flu ên cia o ibá274 (fig.1 8 0 e 1 8 1 ). De u s o r it u a l, coloca d o n os a s s en t a m en t os (peji)275 ou p os t o à cin t u r a 273 “E s t ã o p r es en tes n a joa lh er ia religios a qu a n d o a r r a n ja d a s em cor r en tes d e fer r o u s a d a s com o d is t in t ivos n os cola res d e s a cer d otes , in icia d os d e Ogu m , ou m es m o p or gu er reir os ” (LODY, 1988, p.10) com o a d er eço ca r a ct er ís t ico d a en t id a d e m a n ifes t a , o ibá é u m a in s ígn ia d e orixás femininos. O de Oxum, em dourado, traz elementos a ela relacionados com o p eixe, p en t e, t a lh er es (colh er , ga r fo, fa ca ). O ibá d e Oxu m n ã o é pres en ça ob r iga t ór ia em t od os os ca n d om b lés ou r ep r es en t a ções da entidade. Não há indicativos de um uso mais antigo deste elemento. Ao invés d e s er u m a n t eced en t e, p od er ia t er s id o in flu en cia d o p ela s p en ca s . Além d is s o, n ã o s ã o con feccion a d a s em p r a t a . S egu n d o E s cor el (2 0 0 0 , p .1 3 0 ), Oxu m er a a p r ot et or a das m u lh er es qu it a n d eir a s , as n egr a s m a is comumente retratadas usando pencas e balangandãs à cintura. Fig.180 – Oxum, com ibá na cintura. Aquarela de Carybé. Fonte: CARYBÉ, 1980, p.187 274 S egu n d o Lod y (2 0 0 3 , p .1 6 7 ), a cor r en te d o Ib á “é u m a cor r en te qu e reú n e m in ia t u r a s d e a t r ib u t os d a s iá s com o Iem a n já , Oxu m e Ia n s ã ”, s en d o qu e “va r ia r ã o d e m a ter ia is – para Iemanjá é o ferro cromado, para Oxum é o latão dourado e para Iansã é o cobre”. 275 Loca l s a gr a d o, qu e reú n e ob jet os s a gr a d os , qu a r t o in d ivid u a l d e u m s a n t o (or ixá , vod u m ou inquice) (LODY, 2003, p.131). Fig.181 – Ibá de Oxum. Aquarela de Carybé. Fonte: CARYBÉ, 1980, p.187 A es t r u t u r a d o ibá d e Oxu m a s s em elh a -s e à s “s egu r a n ça s ”(fig.182), cor r en t es d e Um b a n d a , u s a d a s p elos a d ep t os , qu e t r a zem figu r a s s im b ólica s em m in ia t u r a com o a s in s ígn ia s d a s en t id a d es , p en t a gr a m a , ch a ve, cr u z, estrela de Davi, crescente lunar (KARASCH, 2000, p. 557). Fig.182 – Segurança. Rio de Janeiro, dec. 1970. Col. Mary Karasch. Fotografia: Mary Karasch, 2004 Dois ú n icos exem p la r es icon ogr á ficos d a Áfr ica colonial parecem indicar o uso de prováveis pencas de balangandãs por negras e mulatas após a colon iza çã o. Um d eles (fig.183), d is p on ib iliza d o p ela Bib liot eca da Un iver s id a d e d a Vir gín ia , con s ta d o livr o A Des crip tion of th e Coa s ts of North a n d S ou th Gu in e a , ed it a d o em Lon d r es , em 1732. S eu a u t or , J oh n ou J ea n Ba r b ot , er a a gen t e d a Rea l Com p a n h ia Afr ica n a Fr a n ces a , e es t eve n a cos t a oeste da África em 1678 e 1682. Fig.183 – Estilos de roupa de homens e mulheres da Costa do Ouro, séc. XVII. Jean Barbot. Fonte: Barbot, John. A Description of the coasts of North and South-Guinea. Londres, 1732. vol. 5, plate 21, p.237276. 276 Disponível em http://hitchcock.itc.virginia.edu/SlaveTrade/collection/large/LCP-49.JPG Nes t e exem p la r , em b or a os elem en t os p en d en t es não s eja m id en t ificá veis , a legen d a d a figu r a “A w om a n of a good s ort” vin cu la a p er s on a gem a u m a fu n çã o m á gica . In felizm en t e, n ã o s e en con t r a a ces s ível o t ext o qu e a com p a n h a a im a gem , qu e p od er á con t er u m m a ior d et a lh a m en t o do objeto. Conforme será visto a seguir, a sua estrutura assemelha-se a uma chatelaine. O ou t r o exem p la r (fig.1 8 4 ), t r a z u m a cla r a s im ila r id a d e com a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s d a Ba h ia , o u s o à cin tu r a / qu a d r is , a es t r u t u r a com n a ve b em d efin id a e elem en t os p en d en t es r eu n id os em a lça s em i-cir cu la r . E s s a iconografia, também disponibilizada pela Universidade da Virgínia, consta do r ela t o d e Willia m Hu t t on , côn s u l b r it â n ico d o Rein o As h a n ti, n a Cos t a d o Ou r o em 1 8 2 0 , d en om in a d o Nou ve a u voy a ge d a n s l'in te rieu r d e l'Afriqu e, ou , Rela tion d e l'a m b a s s a d e a n gla is e en voy é e en 1 8 2 0 , a u roy a u m e d 'As h a n té e. Da m es m a for m a qu e a im a gem a n t er ior , n ã o t r a z d is p on ib iliza d a qu a lqu er r efer ên cia t ext u a l s ob r e a figu r a . E n t r et a n t o, p od e-s e in fer ir qu e t a n t o a n egr a com o a m u la t a , a m b a s d a Cos t a d o Ou r o, n o fin a l d o s écu lo XVII e n o s écu lo XIX, já es t ã o em con t a t o com os eu r op eu s , o qu e é vis ível p elo t r a je, m es m o a p r im eir a . A r efer ên cia , con t u d o, n eces s it a de m a ior d et a lh a d a m en t o. A p r es en ça d es t es ob jet os , p r in cip a lm en te o d a m u la t a , p od e s er fr u t o d e t r oca s com er cia is com o Br a s il, Ba h ia , a p r óp r ia m u lh er p od e t er vin cu la çã o com o Br a s il e/ ou Ba h ia , s er d a qu i p r oced en te ou d es cen d en t e d a qu eles qu e r et or n a r a m p a r a a Áfr ica . Alb er t o d a Cos t a e S ilva (2 0 0 3 , p .1 2 0 ) d es t a ca a im p or t â n cia d os b r a s ileir os e a b r a s ileir a d os , qu e d es d e o in ício d o s écu lo XVIII in flu ír a m n a vid a p olít ica d a Cos t a d os E s cr a vos . Além d a vid a p olít ica , es s e gru p o, qu a s e t od os r ela cion a d os a o t r á fico, qu er fos s em n egr os ou m es t iços or iu n d os ou vin cu la d os a o Br a s il (a fr ica n os ou b r a s ileir os ), con h ecid os com o agudas, m a n t in h a m su a id en t id a d e b r a s ileir a n a Áfr ica , d ifer en cia n d o-s e qu a n t o a o ves t ir , fa la r , morar, rezar. Fig.184 – Mu la t a d a Cos t a d o Ou r o (Fem m e m u la t re d e la Cote d ’Or ). Willia m Hu t t on , 1 8 2 0 . Fonte: Hu t ton , Willia m , Nou ve a u voy a ge d a n s l'in terieu r d e l'Afriqu e, ou , Rela tion d e l'ambassade anglaise envoyée en 1820, au royaume d'Ashantée. Paris, 1823. p. 87277. Qu a n t o à ver t en t e d e a s cen d ên cia eu r op éia t em -s e a châ telaine e a cambulhada. A châ telaine (fig.1 8 5 e 1 8 6 ) foi u m a ces s ór io fem in in o em m od a n a E u r op a , n os s écu los XVII a XIX. Nã o er a m a ces s ór ios fes t ivos . Com o a s 277 Disponível em http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/details.php?filename=Hutton03. r ou p a s n ã o t r a zia m b ols os , er a m m u it os im p or t a n t es p a r a a s s en h or a s p or t a r ob jet os d e u s o com o ch a ves , a gu lh eir o, d ed a l, t es ou r in h a s e r elógios . E r a m p eça s d e ca r á t er fu n cion a l, d ifer en t em en t e d os elem en t os p en d en t es d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . Ger a lm en t e, er a m p os t a s à cin tu r a p or m eio d e a lça qu e s e fixa va a o cós d a s a ia . No m od o d e u s o r es id e a s u a s im ila r id a d e com a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , s en d o a s ú n ica s p eça s u s a d a s n a cin t u r a p ela s m u lh er es b r a n ca s eu r op éia s . Nã o foi id en tifica d a n en h u m a r efer ên cia com relação ao seu uso no Brasil. Fig.185 – Mu lh er d e Lim a , Per u , com “cadenilla” (“ch â tela in e”) colonial de p r ata. Fonte: TAULARD, 1941, il. 107. Fig.186 – Chatelaine em p r a t a . E u r op a , s éc.XIX. Acer vo Museu Carlos Costa Pinto. Foto: Saulo Kainuma, 1998. Pa r a Helois a Tor r es (1 9 5 0 , p .2 5 ), a a n a logia es t a b elece-s e com a p en ca d e ch a ves (fig.1 8 7 ) d a s d on a s d e ca s a , qu e er a “o s ím b olo d o p od er , o cet r o d a d on a d e ca s a e o p r es t ígio qu e d ela s e em a n a va er a d es lu m b r a n t e p a r a a es cr a va r ia ”. As s im , “a cr iou la , n o s eu im p u ls o d e s u b ir , d e igu a la r -s e à S in h á , t a m b ém p r ecis a va d e u m a p en ca ” (idem). E n t r et a n t o, n ã o h á qu a lqu er figu r a çã o d e p en ca s d e ch a ves u s a d a s p or s en h ora s b r a n ca s n a s ruas. Essa penca é um símbolo de poder privado. É im p or t a n t e con s id er a r qu e n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s n ã o es t ã o p r es en t es ch a ves d e ca s a s , qu e s ã o d e d im en s ões m a ior es e m a is s im p les . Os exem p la r es exis ten t es n ela s s ã o ch a ves d e cofr es e s a cr á r ios , e es t es elem en t os n ã o s ã o ú n icos , em b or a s eja m d os m a is fr eqü en t es , con for m e foi vis t o n o ca p ít u lo a n t er ior . Além d is s o, a s ch a ves d e ca s a , qu a n d o r et r a t a d a s p or t a d a s p ela s n egr a s , s em p r e a p a r ecem associadas a nenhum signo mágico (fig.188). is ola d a m en t e, não es ta n d o Fig.187 – Penca de chaves278. Fig.188 – Vendedora com chave pendente da cintura. Aquarela d e Deb ret , s éc. XIX. Col. Mu s eu s Ca s t r o Ma ya . Fon te: LARA, 2000a, capa A ca m b u lh a d a é a m a is viá vel in s p ir a d or a d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , m a n t en d o u m a s im ila r id a d e con ceit u a l (ca r á t er m á gico) e com p os itiva (elem en tos em com u m ). A relação foi citada p or Cecília Meireles (1 9 ?, p .7 4 ) n o livr o Arte s Popu la res , n ot a n d o a s em elh a n ça com os elem en t os m á gicos existentes na penca de balangandãs. Segundo ela, estes assemelham-s e à ca m b u lh a d a t r a zid a p ela s cr ia n ça s , en fia d a em cor d ã o d e ou r o ou r et r ós p r eto, e qu e Per eir a d a Cos t a 279 m in u cios a m en t e d es cr eve: ‘u m S ã o Br a z, p a r a livr á -la s d e en ga s gos e m olés tia s d e ga r ga n t a ; u m S ã o S eb a s t iã o, con t r a a p es t e; u m b u s t o d e Sã o J oã o Ba t is t a , p a r a n ã o s ofr er em d e d or es d e ca b eça ; u m s ign o-S a lom ã o, p a r a livr á -la s d e in flu ên cia s n efa s t a s ; u m d en t e d e cã o, p a r a evit a r cois a s m á s ; m ed a lh a s m ila gr os a s , com fin s p ied os os ; e d en t es d e ja ca r é e d e a r a n h a ca r a n gu ejeir a e u m ca r oço d e a zeit on a p a r a fa cilit a r em a d en t içã o, a lém d e m u it os ou t r os ob jet os d e vir t u d es d es con h ecid a s , com o o s ol, a lu a , m oed a s d e ou r o e prata, etc. Ca m b u lh a d a (fig.189) d es ign a u m “con ju n to d e ob jet os p r es os ou u n id os ; gr a n d e qu a n t id a d e ou a gr u p a m en t o d e cois a s ou d e p es s oa s ; ca m b a d a ” (HOUAIS S , 2 0 0 1 ). S egu n d o Va s con celos (1 9 9 6 , p .2 0 2 )280, s ob o 278 Fonte: http://www.bayfirst.com/le_es.html O livr o n ã o t r a z r eferen cia b ib liogr á fica . E s s e Pereir a Cos t a , qu e cit a ou t r a s vezes , p a rece s er o folclor is t a Fer n a n d o Au gu s to Pereir a d a Cos t a (1 8 5 1 -?), a u t or d e Vocabulário pernambucano (SOUTO MAIOR). 280 O m éd ico p or t u gu ês J os é Leite d e Va s con celos (1 8 5 8 -1941) d ed icou -s e a es t u d os filológicos e et n ológicos . Fu n d a d or e p r im eir o d iret or d o Mu s eu E t n ogr á fico Por t u gu ês , atual Mu s eu Na cion a l d e Ar qu eologia , p r od u ziu im p or t a n te e va s ta ob r a (VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , 279 n om e ca m b u lh a d a , e t a m b ém ca m b a d a ou a r r eb iqu es 281, s ã o con h ecid os esses s ign os m á gicos em Por t u ga l, u s a d os a o p es coço, b r a ço, et c. Foi p os s ível id en t ifica r u m exem p la r n o Mu s eu d a S ocied a d e Ma r t in s S a r m en t o, em Gu im a r ã es - Por t u ga l, r egiã o d o Min h o (fig. 190 ). instituição n ã o p os s u i d a d os a lém da Infelizmente, essa d es cr içã o da p eça , con for m e in for m a çã o d o S r . An t on io Am a r o d a s Neves , d ir et or d o Mu s eu . S egu n d o ele, o objeto é descrito como Ca m b u lh a d a d e 9 a m u letos : s u b s t â n cia r es in os a (â m b a r ?) d e for m a ovóid e, en ca s toa d a n os t op os em m et a l, com a for m a d e folh a s d e t revo; d en te d e ja va li en ca s t oa d o em m et a l; p equ en a ch a ve (d e s a cr á r io?); cr es cen t e lu n a r d e m et a l b r a n co, com or n a m en t a çã o va za d a , t en d o n a con ca vid a d e u m a figa ; u m p ed a cin h o d e m a d eir a (S a n t o Len h o?), en ca s t oa d o em m et a l; cr es cen t e lu n a r , com figa , e n a p a r t e s u p er ior a s let r a s I. H. S . (J es u s Hós t ia S a gr a d a ); r elicá r io m in ú s cu lo em ca ixa ova l, d e m et a l e t a m p a d e vid r o; “S in o-S a im ã o” (S ign u m S a lom on is ), d e metal branco; conta de vidro azul282. Fig.189 - Desenhos de cambulhadas portuguesas. Fonte: VASCONCELOS, 1996, p.235. Fig. 190 – Cambulhada de 9 amuletos. Acervo Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães – Portugal. 283 p.15-37). A obra consultada é a reunião de três dos seus mais representativos estudos sobre etnografia portuguesa, editados originalmente entre 1918 e 1925. 281 Arrelicas ou arreliques são palavras que provém de relíquia (VASCONCELOS, 1996, p.80) 282 In for m a çã o en via d a p elo S r . An ton io Am a r o d a s Neves , via e-m a il d a t a d o d e 18 de julho de 2004. Também disponível em: www.csarmento.uminho.pt 283 Fonte: www.csarmento.uminho.pt Con t u d o, n ã o s e t r a t a d e ob jet o exclu s ivo d e Por t u ga l. Um d es ses exem p la r es (fig.1 9 1 ) p od e s er vis to em Va len cia , E s p a n h a , n a p u b lica çã o In d u m e n tá ria v a len cia n a s iglos XVIII-XIX (1 9 9 7 ) d e Ma r ia Vict or ia Licer a s Fer r er es . E m b or a n ã o t r a ga legen d a , es t á in s er id o em t ext o s ob r e a m u let os . S u a for m a a s s em elh a -s e a u m a châ te la in e, ou s eja , d e u m a for m a cen t r a l p en d em cor r en t es in d ivid u a is fin a liza d a s p or ob jet os . E s t es s ã o b ú zios , d en t es , m ed a lh a d e s a n t os , r elicá r io e a t é u m p eixe a r t icu la d o, n en h u m elemento funcional. Fig.191 – Ca m b u lh a d a d e Va len cia , E s p a n h a . Fon te: LICERAS FERRERES, 1997, p.132. A p r es en ça d a ca m b u lh a d a es t á r egis t r a d a em p in t u r a s d e t od a a Europa em diferentes épocas, o que atesta que era um objeto de uso corrente t a n t o d a s ca m a d a s p op u la r es com o d a s p r ivilegia d a s (fig.1 9 2 ). No Br a s il oitocentista t a m b ém es t a va p r es en t e, s en d o d es crit o s eu u s o p or n egr os , m es t iços e b r a n cos d e d ifer en t es ca m a d a s s ocia is . É o ca s o d a p er s on a gem d o r om a n ce O Mu la to (AZE VE DO, s ,d ., p . 5 6 ), Môn ica , u m a ca fu za , a n t iga escrava ama de leite, que or ça va p elos cin qü en t a a n os ; er a gor d a , s a d ia e m u it o a s s ea d a ; t et a s gr a n d es e d es ca id a s d en t r o d o ca b eçã o. Tinha a o p es coço u m b a r b a n t e, com u m cr u cifixo d e m et a l, u m a p r a t in h a d e 2 0 0 r éis , u m a fa va d e cu m a r u 284, u m d en t e d e cã o e um pedaço de lacre encastoado em ouro. Ta m b ém er a u s a d a p or r ecém -n a s cid os , com o p od e s er vis t o n o romance Me m ória s d e u m S a rgen to d e Milícia s (ALME IDA, 1 9 8 9 , p .7 1 ), quando descreve A r ecém -n a s cid a , en fr a ld a d a , en cu eir a d a , en cin t eir a d a , en t ou ca d a e com u m m olh o d e figas e m eia s -lu a s , s ign os d e S a lom ã o e ou t r os p r es er va t ivos d e maus-olh a d os p r es os a o cinteiro. Fig.192 – Retrato de Menino. Artista desconhecido. Óleo sobre tela, séc. XVIII. Acervo: Nordiska museet, Stockholm. Fonte: WELANDER-BERGGREN, 2000, p.62 284 “s em en te d es s e fr u t o, qu e en cer r a cu m a r in a , com vá r ios u s os m ed icin a is, também em perfumaria, como sucedânea da baunilha, para aromatizar tabaco e rapé, e para extração de óleo” (HOUAISS, 2001). A ca m b u lh a d a a s s em elh a -s e a um a n t igo s ign o m á gico da An t igu id a d e: a cim a r u t a (fig.1 9 3 e 1 9 4 ). S egu n d o E lwor t h y (1 8 9 5 , p .3 4 4 )285, s eu n om e it a lia n o s ign ifica r a m o d e a r r u d a (cim a d i ruta) (fig.195). As cimarutas, r a m a lh et es d e a r r u d a 286 em p r a t a , com s ím b olos m á gicos , for a m con s id er a d os com o r em a n es cen tes d o cu lt o d e Dia n a . Na It á lia d o s écu lo XIX, a in d a er a m u s a d os com o t a lis m ã p a r a a t r a ir b oa s or t e e p ros p er id a d e. Há d ois m il a n os , ob jetos semelhantes eram oferecidos a Diana (FRAZER, 1982, p.23). Fig.193 – Cimaruta em prata. Itália, séc. XIX.287 Fig.194 – Cimarutas portuguesas. Fonte: VASCONCELOS, 1996, p.131 Fig.195 – Arruda.288 S eu u s o n a It á lia r em on t a a os et r u s cos e r om a n os , con for m e a t es t a m a ch a d os a r qu eológicos qu e in tegr a m a coleçã o d o Mu s eu Ar qu eológico d e Bolonha. S u a es t r u tu r a com a r gola n o a lt o d en ot a a fu n çã o d e s u s p en s ã o. E la a glu t in a , d e for m a fixa , s old a d os em s u a con fecçã o, u m a va r ied a d e d e s ím b olos m á gicos . Nos exem p la r es d o s écu lo XIX en con t ra m -s e cr es cen t e lu n a r , ch a ve, p en t a gr a m a , cor a çã o, figa , es p a d a s , p á s s a r os e n a s p eça s p or t u gu es a s vê-s e a in corp or a çã o d e im a gem d e Nos s a S en h or a da Con ceiçã o (fig.1 9 4 ), p a d r oeir a d e Por t u ga l, elem en t os qu e t a m b ém a p a r ecem n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . A cim a r u t a a s s em elh a -s e à s p en ca s d e balangandãs quanto à matéria-prima utilizada: a prata, dedicada na Itália ao cu lto d a d eu s a lu n a r Dia n a . Há t a m b ém s im ila r id a d e es t r u t u r a l, a m b a s s ã o 285 Frederick Thomas Elworthy (1830 - 1907) foi um filologista inglês, autor de The Evil Eye. As b r u xa s it a lia n a s , em s u a s b a t a lh a s r it u a is p a r a u m a colh eita a b u n d a n te, “t a m b ém usavam galhos de arruda amarrados como um cordão na cintura” (GRIMASSI, 2003, p.191). 287 Fonte: http://www.luckymojo.com/rueandcimaruta.html. 288 Fonte: http://www.luckymojo.com/rueandcimaruta.html. 286 p eça s d e s u s p en s ã o, com elem en t os d ifer en t es con gr ega d os . E n t r et a n t o, en qu a n t o n a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s os elem en tos p en d en t es s ã o m óveis , na cimaruta são fixos. A exis t ên cia d e cim a r u t a s p or t u gu es a s d e u s o p op u la r , r egis t r a d a s a in d a em u s o n o s éc. XIX (VAS CONCE LOS , 1 9 9 6 , p .8 0 ) in d ica m qu e er a uma forma conhecida por alguns ourives portugueses. 3.6. Quem confeccionava e comercializava as pencas de balangandãs? A m a ior ia d os a u t or es a t r ib u i a fa b r ica çã o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s aos negros malês289. Para Menezes de Oliva (1957, p.41), Pr im a n d o p ela a u s ên cia d e or n a t os b a r r ocos , a fa s t a d a a s s im a in flu ên cia p or t u gu es a , s ó po diam t e r s ido fabric ado s pe lo s n e gro s is lam is ado s do Dao m e i e de n aç õ e s v is in h as , o s Malês [gr ifo n os s o], qu e con h ecia m a fu n d içã o d os m et a is , e, que, em levas sucessivas, chegaram à Bahia. Também Haydée Di Tommaso Bastos (1943, p.253), compreende que Tod a a p eça d e ou r ives a r ia b a ia n a , s e n ã o p os s u i a s ca r a ct er ís tica s eu r op éia s , d en ot a in flu ên cia d o ocu lt is m o, surgindo na Bahia por intermédio dos negros. É s a b id o qu e p a r a lá foi cer t o n ú m er o d e n egr os Ma lês , is t o é, d a r eligiã o m a om et a n a , qu e p r a t ica va m o ocu lt is m o. S a b iam eles fu n d ir os m eta is t ã o b em com o os p or t u gu es es , conhecendo-lh es a t écn ica d e fu n d içã o. E d a s s u a s oficin a s – d is cr et a s e es con d id a s – s a ía m os b a la n ga n d ã s , p eça s d e caráter profundamente negro. É in t er es s a n t e n ot a r o exclu s ivis m o d e tr a b a lh o d os m et a is a t r ib u íd o a os n egr os m a lês , d es con s id er a n d o-s e os d iver s os ou t r os p ovos a fr ica n os qu e p os s u ía m es s e con h ecim en t o e a p os s ib ilid a d e d e n egr os n ã o m a lês a p r en d er em a a t ivid a d e ju n to a s eu s s en h or es ou r ives , ou a m a n d o d eles 290. 289 Compartilh a m d es s a cer teza , d ia n te d a s u p os t a fa lt a d e in flu ên cia p or t u gu es a : Câmara Ca s cu d o, Fr ei E lis eu Vieir a Gu ed es , Hild ega r d es Via n a , Mer ced es Ros a , Pa u lo Affonso de Carvalho Machado, Maria Helena Farelli. 290 Ha via em Por t u ga l e n o Br a s il a p r oib içã o d o t r a b a lh o d e ou r o e p r a t a p or p es s oa s d e “s a n gu e im p u r o”290. E r a m con s id er a d os im p u r os os m ou r os , cr is t ã os -n ovos , n egr os e m es t iços , t od os os qu e n ã o t ives s em u m a lin h a gem b r a n ca cr is t ã . Ap es a r d is t o, s a b e-se p elos rela tos d e via ja n tes , qu e n a s oficin a s d os m es t res ou r ives h a via m u it os es cr a vos e lib er t os qu e exer cia m vá r ia s atividades n a s oficin a s d e ou r ives . S e n ã o h ou ves s em n egros e Ta is a fir m a ções fa zem cr er qu e t od o n egr o m a lê er a u m ou r ives e qu e a fu n d içã o d e m et a is er a es s en cia lm en t e m u lçu m a n a . Além d is s o, con for m e visto no primeiro capítulo dessa dissertação, os haussás só foram exportados p a r a a Ba h ia a p a r t ir d o fin a l d o s écu lo XVIII, d evid o à r evolu çã o s ocia l e p olítica n a Ha u s s a lâ n d ia (FRE ITAS , 1 9 8 3 , p .8 0 ). Ou t r a qu es t ã o, é d o ocu lt is m o u n ica m en t e n egr o, es qu ecen d o t od o o á r d u o t r a b a lh o qu e a In qu is içã o t iver a ca ça n d o b r u xa s eu r op éia s . O citado “caráter p r ofu n d a m en t e n egr o” d os b a la n ga n d ã s s er ia com r ela çã o a o es t ilo ou a o caráter mágico? Ra u l Lod y (2 0 0 1 , p .1 8 ) r ela t a qu e o t r a b a lh o com m et a is n a Áfr ica t em toda uma tradição sub-saariana, onde se destacam os Ioruba, Fanti-Achanti, Fon, Senufo e Baulê. E n t r et a n t o, com o vis to n o ca p ítu lo a n t er ior , a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s n ã o a p r es en t a m ca r a ct er ís t ica s for m a is -es t ilís t ica s d e p eça s a fr ica n a s e s im assemelham-se ao programa artístico dos estilos europeus vigentes. A p r es en ça d e a lgu m a s m a r ca s d e con t r a s t e e d e ou r ives a tes t a a s u a legitim id a d e e p r ová vel con fecçã o p or ou r ives b a ia n os licen cia d os . Nã o s e tra ta de uma p r od u çã o m a r gin a l, es con d id a . Nem t a m p ou co, a comercialização das jóias. E m 1848, James Wetherell (1972, p.42) cita que a s joa lh a r ia s ofer ecem s em p r e u m lin d o es p et á cu lo: qu a s e t od a s s e a ch a m in s ta la d a s n u m a m es m a r u a : a Ru a d os Ourives291. É r ea lm en t e cu r ios o p a r a u m in glês ob s erva r a qu ela en or m e m os t r a d e con d ecor a ções d a s m a is d iver s a s Or d en s , cr u zes e em b lem a s d e n ob r eza , m is t u r a d os com ob jetos d e ou r o e or n a m en t os d e cor a l d e feit io m u it o p r im it ivo, t a is com o p u ls eir a s , cola r es , b r in cos , etc., m u it o procurados pela população preta. E s s a d es cr içã o indica qu e os m es m os ou r ives qu e p r od u zia m jóia s p a r a a p op u la çã o b r a n ca con feccion a va m a s jóia s a o gos t o d a “p op u la çã o p r et a ”, com o a s jóia s d e crioulas e a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , e o m es m o mulatos nas oficinas de ourives, por que haveria penas para eles caso não respeitassem a lei de 1766 proibindo o ofício de ourives no Brasil? 291 Na Ru a d os ou r ives fu n cion a va m a s oficin a s e t a m b ém a s loja s p a r a com er cia liza çã o d os ob jetos p r od u zid os (tendas). A a glu t in a çã o d os ou r ives em ru a s er a fr u to d a p r á t ica d o a r r u a m en t o d os ofícios , p r es en te em Por t u ga l d es d e o rein a d o D. J oã o I (1385-1 4 3 3 ), cu jo ob jet ivo era exer cer u m m a ior con t r ole s ob re a s a t ivid a d es (BRANCANTE , 1 9 9 9 , p . 3 7 ). Mattos (1952, p.XXVII) cita que desde 1752, o Conde de Atouguia mandou arruar os ourives do ouro e da prata, surgindo a Rua dos Ourives em Salvador. es t a b elecim en t o a t en d ia à s d u a s clien tela s . O r ela t o d e Th om a s E wb a n k (1 9 7 6 , p .1 0 3 -104) r efer en t e a o Rio d e J a n eir o em 1 8 4 6 , r efor ça es s a s it u a çã o. E m vis it a à s loja s d a Ru a d os Ou r ives , ele ob s er va a p r es en ça d e u m a “ca ixa p er p en d icu la r , p en d u r a d a n a p or t a d e t od a loja ”. Do con t eú d o destas descreveu que a lém d e cr u zes , cr u cifixos , cor oa s , p a lm a s , e ou t r a s p equ en a s jóia s s a cer d ot a is , t od a ca ixa con t ém a m u letos d e ou r o, p r a t a , p ed r a , m a r fim , et c. E m a lgu m a s d ela s os a m u letos con s t it u em o principal artigo e em todas ocupam papel destacado. Chamou-lhe a atenção a presença desses amuletos, registrados por ele através de desenho (fig.153) e de descrições, conforme visto anteriormente. Ta m b ém h a via n a s r u a s o com ér cio a m b u la n t e d e jóia s e a d er eços , con for m e r egis t r a r a m n o s éc. XIX E wb a n k (1 9 7 6 , p .7 9 )292 e Ru gen d a s (fig.196). 292 “gên eros s ecos , jóia s , m er ca d or ia s d e lu xo s ã o exp os t os s ob r e b a lcões ou m es a s p or t á teis , com ca ixa s d e vid r o fixa d a s p or cim a . Ta is cois a s s ã o m u it o n u m eros a s ” (EWBANK, 1976, p.79). Fig.196 – Mulheres negras do Rio de Janeiro. Rugendas, séc. XIX. Col. Museus Castro Maya. Fonte: KARASH, 2000, p. 414/415. 3.7. O desuso do signo O u s o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s n ã o é m a is r egis t r a d o a p a r t ir d a s egu n d a m et a d e d o s éc.XX. O m ot ivo d e s eu d es u s o p od e s er a t r ib u íd o à m u d a n ça d e va lor es r eligios os e econ ôm icos 293. A p a r t ir d o fin a l d o s éc.XVIII a s r egr a s d o An t igo Regim e vã o s en d o p r ogr es s iva m en t e d es con s t r u íd a s e substituídas pelos ideais burgueses. Segundo Trindade (1988, p.130), A a b er t u r a d os p or t os , em 1 8 0 8 , e os a celer a m a s m u d a n ça s in ter n a s e ext er n a s n a econ om ia colon ia l. A s egu n d a d éca d a ca r a ct er iza p ela cr es cen t e im p ort a çã o d e europeus. A con s erva d or a p r ovín cia da Ba h ia va i t ra t a d os d e 1 8 1 0 qu e s e p r oces s a m d o s écu lo XIX s e b en s d e con s u m o s en d o a os p ou cos “m od er n iza d a ”. A p r óp r ia Igr eja , ou t r or a gr a n d e s en h or a , va i p er d en d o s eu p od er n o cr es cen t e p r oces s o d e la iciza çã o. Os a va n ços d a ciên cia vã o im p on d o o con h ecim en t o cien t ífico n o com b a t e à s d oen ça s , com p et in d o e s e im p on d o s ob r e a a çã o d os cu r a n d eir os . Um n ovo m u n d o va i s e a n u n cia n d o n o s écu lo XIX, p r in cip a lm en t e a p a r t ir d a s egu n d a m et a d e. Ap ós t r ês s écu los , o s is t em a es cr a vis t a foi a os p ou cos s e d es es t r u t u r a n d o, o t r á fico foi p r oib id o, o flu xo d e a fr ica n os d eca iu e fin a lm en t e a con d içã o es cr a va foi a b olid a lega lm en t e em 1888. Já não h a via m a is r a zã o para uma d ifer en cia çã o en t r e es cr a vos e lib er t os , a fr ica n os e cr iou los . S u r ge u m a n ova codificação social, uma nova visualidade. Há u m a r ela çã o on tológica , u m vín cu lo in d is s ociá vel en t r e s is t em a s s im b ólicos e a es t r u t u r a s ocia l. O s ím b olo é r efer en cia d o p ela con ven çã o, p ela va lid a d e d es t a con ven çã o. Is ola d a m en t e, u m s ím b olo é d es tit u íd o d e 293 Um a con s id er a çã o in ter es s a n te d e S ilva Ca m p os é qu a n to a o d es t in o d a s jóia s d a s n egr a s . Ao in d a ga r “Qu e fim levou o ou r o d a s n egr a s a fr ica n a s e d a s cr iou la s b a ia n a s ?” (2 0 0 1 , p .3 1 4 ) ele exp lica qu e “O ‘bicho’ con s u m iu b oa p a r te d ele, p ois , a fim d e s u s ten t a rem o vício, n os p r im eir os tem p os d o jogo, p u s er a m n o p en h or qu a n t a s jóia s p os s u ía m . E qu a s e todas lá se ficaram,nas burras dos espanhóis. Outra porção, falecendo as suas possuidoras, foi ven d id a p elos h er d eir os a colecion a d ores , a ou r ives , a in t r u jões es tr a n geir os qu e a s exp or t a r a m . Pequ en a qu a n t id a d e en con t r a -s e a in d a a fer r olh a d a p or es s es h er d eir os m a is p r eca vid os ; p or a lgu m a s cr iou la s velh a s m a is b em a vis a d a s . Pa r te in s ign ifica n te d a qu ele t od o d e ou t ror a é o qu e r a r a s m u lh er es d e s a ia tr a zem h oje em oca s iões a p r op r ia d a s : u m batizado, uma festa de igreja, etc. “(idem, p.314). s eu s en t id o p r im or d ia l. Pois , em b or a con s er ve s eu p od er d e d en ota r e s ign ifica r , ele s ó p od e s er com p r een d id o, d ecod ifica d o, em u m con text o, m ed ia n t e u m s is t em a d e leis . Des con s t r u íd os s eu s vín cu los , con exões , ele s e t or n a es t r a n h o e t en d e a s er r es s ign ifica d o p a r a qu e con tin u e a exis t ir . S egu n d o S a n t a ella (2 0 0 0 , p .1 3 7 ), “o s ím b olo é u m s ign o em t r a n s for m a çã o n os in t erp r et a n t es qu e ele ger a r á n o lon go ca m in h o d o t em p o”. Nova s con figu r a ções a t u a liza m e/ ou ger a m n ovos in t erp r et a n t es . Na primeira m et a d e d o s éc.XX, con for m e vis t o, a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s fizer a m s u a ú lt im a a p a r içã o, com a s s u a s ú lt im a s u s u á r ia s r em a n es cen t es d e u m ou t r o con t ext o. A p a r t ir d e en t ã o, n ã o h a via m a is lu ga r , s en t id o p a r a o u s o d a s pencas de balangandãs. CONCLUSÃO Mu it a s in d a ga ções for a m feit a s n o in ício d es t a p es qu is a . E m b u s ca d e r es p os t a s , d e cer t eza s , for a m a n a lis a d a s a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , a b ib liogr a fia e icon ogr a fia d is p on ível s ob r e o t em a e o p er íod o, a lgu n s testamentos e in ven t á r ios d e es cr a vos lib er t os n o s écu lo XIX, a n ú n cios d e es cr a vos fu gid os p u b lica d os em jor n a is d a ép oca e os r ela t os d e via ja n t es oit ocen t is ta s . A r ea lid a d e en con t r a d a fr u s t r ou a a m b icios a exp ecta t iva in icia l. Um a d a s principais dificuldades encontrada foi a in a ces s ib ilid a d e a a lgu m a s fon t es p ot en cia is exis t en t es em in s t itu ições em ou t r os es t a d os d o Br a s il e n o ext er ior , b em como a im p os s ib ilid a d e d e con s u lta à r eleva n t e coleçã o d e jor n a is b a ia n os oitocen t is t a s , r ot u la d os d e S CU (s em con d içã o d e uso), do In s t it u to Geogr á fico e His t órico d a Ba h ia (IGHBA), em s u a t ot a lid a d e, e n a m a ior p a r t e d os exem p la r es exis t en t es d a Bib lioteca Pú b lica do Estado da Bahia. As cer t eza s cien t ífica s s ã o leitu r a s p os s íveis , construções em b u s ca d e exp lica ções , d e con h ecimento. No lon go ca m in h o d a in ves t iga çã o, qu e ger ou es s a d is s er t a çã o, a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s n ã o r evela r a m t od os os s eu s s egr ed os , d eixa r a m a p en a s a lgu n s in d ícios . Nes t e t r a b a lh o r ea lizou -s e u m leva n t a m en t o s ob r e u m p os s ível m od o d e con s t r u çã o d e s en t id o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , o r es ga t e d e fr a gm en t os d e s en tid o. Algu m a s cr en ça s for a m revistas, novos dados e hipóteses foram apresentados. Considerando-s e qu e t od o s en t id o é u m a con s t r u çã o, a p r od u çã o d e s en t id o d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s ocor r e p ela a r t icu la çã o d os elem en t os com p os itivos e a es t r u t u r a çã o d e s u a com p os içã o. A n a ve é u m a p a r t e n it id a m en t e os t en t a t ór ia d e u m fa ls o a p a r a t o, qu e p r od u z u m a im p r es s ã o, a p a r ên cia d e r iqu eza , ou m elh or , op u lên cia . Ap es a r d e s er u m a p a r t e s ólid a , é ch a p a d a e com gr a n d es á r ea s va za d a s . Ca u s a m a is im p r es s ã o vis u a l d o qu e p os s u i p es o (qu e d es ign a o va lor econ ôm ico p ela qu a n t id a d e d a p r a t a existente). Esse mesmo efeito será obtido pelos elementos pendentes, em sua m a ior ia ocos , qu e com p en s a m s eu p a r co p es o p elo volu m e e profusa d ecor a çã o, es t r a t égia a d ot a d a n a joa lh er ia p op u la r p or t u gu es a , con for m e já visto. E xcet o a n a ve, n en h u m d os elem en t os p en d en t es , em s u a m a ior ia s ign os m á gicos , p a r ece t er s id o con feccion a d o es p ecifica m en t e p a r a a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s , p ois , eles s ã o en con t r a d os em u s o is ola d a m en t e e a gr u p a d os em ou t r a s con figu ra ções com o a s ca m b u lh a d a s , a m a is p r ová vel in s p ir a d or a d a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s . E m t écn ica e d ecor a çã o com u n ga m mais com os exemplares d e ou r ives a r ia d o qu e com os d e joa lh er ia , assemelhando-s e a os ob jet os d e a r t e s a cr a cr is t ã ca t ólica e b a ixela s d a s ca s a s s en h or ia is , con feccion a d os a r t es a n a lm en t e n os s écu los XVIII e XIX, segundo os estilos vigentes. As p en ca s de b a la n ga n d ã s fu n cion a r a m com o elem en t os de con s t r u çã o d e id en tid a d e d e u m gr u p o s ocia l n u m d et er m in a d o con text o, on d e a d em a r ca çã o d e es p a ços s ocia is er a feit a e im p os t a n a codificação visual. Nã o for a m en con t r a d a s evid ên cia s d o u s o d e p en ca s d e b a la n ga n d ã s r ela cion a d a s a os cu lt os a fr o-b r a s ileir os . Difer en t em en t e das jóia s de crioula s , a m p la m en t e d ocu m en t a d a s , ela s n ã o s ã o vis íveis n a s fot ogr a fia s d a s m ã es d e s a n t o com o Pu lch er ia Ma r ia d a Con ceiçã o e mais recentemente, Mã e Men in in h a d o Ga n t ois . Mes m o en t r e a s Ir m a n d a d es Ca t ólica s n egr a s , n ã o p a r ece t er s id o u m em b lem a ca r a ct er ís t ico, em b or a t en h a m s id o p or t a d a s p or a lgu m a s d e s u a s in t egr a n t es . Há u m a vin cu la çã o com a et n ia b a n t o com r ela çã o à n om in a çã o e u s o p or in t egr a n t es d a Con fr a r ia d e S ã o Ben ed it o (com p os t a p or cr iou los e a n gola s ). Algu n s in d ícios a p on t a r a m p a r a a s a p a r a d eir a s ou p a r t eir a s com o gu a r d iã es e d is s em in a d or a s d e s ign os m á gicos com o as ca m b u lh a d a s . Ma s , não foi en con tr a d a qu a lqu er vin cu la çã o d ocu m en ta l ou icon ogr á fica d e s eu u s o p or ela s . Aliá s , a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s for a m m u it o p ou co d ocu m en t a d a s em u s o. E s s e d a d o, junto com os p ou cos exem p la r es exis t en t es s u ger e qu e er a m d e u s o r es t rit o d e gr u p o(s ) d e m u lh er es e com o t a l a t u a va m com o u m d is t in t ivo. A s u a con fecçã o em p r a t a , s u a p r in cip a l m a t ér ia -p r im a , r es t r in gia a s u a a qu is içã o e lh e con fer ia t a m b ém u m d ifer en cia l s ócio-econômico. S egu n d o a a n á lis e d os s ign os m á gicos d a coleçã o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin to, m u it os d os elementos relacionam-se à fertilidade. S egu n d o a s fon t es con s u lt a d a s , a s p en ca s d e b a la n ga n d ã s for a m u s a d a s p or a lgu m a s m u lh er es n egr a s e m u la t a s , es cr a va s e lib er t a s , p r in cip a lm en t e b a ia n a s , em oca s iões fes t iva s n u m a con s t r u çã o simbólica de s u a a u t o-im a gem . E s s es a d er eços , a s s im com o os t r a jes d e cr iou la , for a m or igin á r ios a p a r t ir d e u m s u b s t r a t o cu lt u r a l eu r op eu , s egu n d o a cod ifica çã o ideológica e social da Bahia dos séculos XVIII e XIX. O seu discurso, pautado em s ign os m á gicos , r em et e a d ifer en t es e a n t iga s t r a d ições in cor p or a d a s em s eu t r a jet o h is t ór ico e ch ega d a s a o Br a s il via Áfr ica e Por t u ga l. Con s t itu ía m p er m a n ên cia s h ib r id iza d a s , r ein t er p r et a d a s , cu ja fu n çã o d eixou d e a t en d er à s cr en ça s d e n ovos con textos (d a d a à d in â m ica s ocia l) e s eu u s o n ã o foi m a is r egis t r a d o a p a r t ir d a s egu n d a m et a d e d o s éc. XX, con figu r a n d o u m a perda de referencialidade simbólica. Espera-s e qu e es s e tr a b a lh o p os s a es tim u la r ou t r os es t u d os s ob r e a ou r ives a r ia b a ia n a e b r a s ileir a , m or m en t e s ob r e joa lh er ia , e p os s a con t r ib u ir p a r a n ova s r eflexões s ob r e a cod ifica çã o vis u a l d o t r a je n a Ba h ia e Br a s il colon ia l e im p er ia l. Há , cer t a m en t e, m u it os a s p ect os e qu es t ões , a qu i n ã o contem p la d os , a s er em a in d a in ves tiga d os e a p r ofu n d a d os . Um a p es qu is a m in u cios a n os r egis t r os p olicia is do p er íod o p od e t ra zer r eleva n t es in for m a ções , con for m e in d ica çã o d a Pr ofa . Dr a . Ma r ia Helen a Flexor . Por es t a d is s er t a çã o t er s id o cen tr a d a n a coleçã o Mu s eu Ca r los Cos t a Pin t o, trata-s e d e u m a a m os t r a gem , on d e s e p r op ôs u m a cla s s ifica çã o t ip ológica s egu n d o a d ecor a çã o d a s n a ves e fez-se o leva n t a m en t o tip ológico d os s ign os m á gicos p r es en t es . Pa r a um m elh or en t en d im en t o das p en ca s de b a la n ga n d ã s fa z-s e n eces s á r ia a a m p lia çã o d es t e es t u d o e a con fr on t a çã o com ou t r os exem p la r es exis t en t es em in s t it u ições e coleções p a r t icu la r es , o que possivelmente, levará a importantes acréscimos nesse quadro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOCUMENTOS MANUSCRITOS 1. Arquivo Público do Estado da Bahia - APEB S eçã o J u d iciá ria - Livr os d e r egis t r o d e t es t a m en t os (n º 1 3 , 1 8 2 5 ; n º 2 9 , 1 8 4 2 ; n º 3 0 , 1 8 4 3 ; nº61, 1874) JORNAIS O Bahiano, Salvador, 11 mar.1830. Avisos, p.4. O Bahiano, Salvador, 15 nov.1830. Avisos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 24 abril 1833. Avisos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 30 abril 1833. Avisos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 09 maio 1833. p.3. Diário da Bahia, Salvador, 10 maio 1833. Avisos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 11 maio 1833. Avisos, p.3. Diário da Bahia, Salvador, 20 ago.1836. Escravos Fugidos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 26 ago.1836. Escravos Fugidos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 14 set.1836. Escravos Fugidos, p.4. Diário da Bahia, Salvador, 27 set.1836. Escravos Fugidos, p.4. Gazeta da Bahia, Salvador, 09 jan.1830. Escravos Fugidos, p.6. Gazeta da Bahia, Salvador, 13 jan.1830. Escravos Fugidos, p.4. Gazeta da Bahia, Salvador, 26 maio 1830. Escravos Fugidos, p.4. Gazeta da Bahia, Salvador, 29 maio 1830. Escravos Fugidos, p.2. Gazeta da Bahia, Salvador, 14 jul.1832. Avisos, p.4. Gazeta da Bahia, Salvador, 18 jul.1832. Avisos, p.6. Gazeta da Bahia, Salvador, 01 ago.1832. Avisos, p.4. REFERÊNCIAS IMPRESSAS AGAS S IZ, Lu iz & E liza b et h . 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Gráfico 1 – As pencas de balangandãs quanto à corrente Gráfico 2 - As pencas de balangandãs quanto à nave ou galera Gráfico 3 - As pencas de balangandãs quanto à decoração da nave Gráfico 4 - As pencas de balangandãs quanto aos materiais dos elementos pendentes (quantitativo_ Gráfico 5 - As pencas de balangandãs quanto à natureza do material dos elementos pendentes Gráfico 6 - Freqüência e Tipologia dos elementos pendentes Gráfico 1 Quanto à corrente 11% 89% Presença Ausência Gráfico 2 Quanto à galera 4% 96% Simples dupla Gráfico 3 Decoração da nave 4% 4% 7% 7% 41% 4% 33% Pássaros com asas fechadas Pássaros com asas abertas Pássaros com asas abertas (3) Sem elementos Antropomorfo com lira Fitomorfo Anjos (5) Gráfico 4 Elementos pendentes quanto ao material (quantitativo) 700 634 600 500 400 300 200 100 2 2 4 3 10 8 5 27 39 47 Fr ut on o ta /P ed ra D en te M ad ei ra Pr at a C ai s an im ga lo Pa rt e s de de ss o Es po ra O hi f re C or al C M ar fim 0 Gráfico 5 Elementos pendentes quanto à natureza do material 15% 85% Material inorgânico Material orgânico Gráfico 6 – Freqüência e Tipologia dos elementos pendentes APÊNDICE B – Fichamento das pencas de balangandãs da coleção Museu Carlos Costa Pinto Fich a m en to d a s 2 7 p en ca s d e b a la n ga n d ã s em p r a t a d a coleçã o Museu Carlos Costa Pinto. Foram incluídos os dados básicos de identificação de cada exemplar, relevantes para esta dissertação: - número de inventário (numeração que recebem na instituição) - denominação - origem - datação - dimensões - peso - marcas (quando existentes) - 2 fotografias: o conjunto e o conjunto decomposto - relação dos elementos pendentes Nº inv. 2247.XII.055 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 22 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 7,5 x 12,5 cm; comp. Corrente: 120 cm; Peso: 541,7g Marcas: De con t r a s te d a Ba h ia Im p er ia l (B cor oa d o com cor oa im p er ia l em perímetro ova l). A m a r ca loca liza -s e n o a n ver s o d a n a ve, n a a lça m óvel, e n a borboleta. Elementos pendentes: 1. Figa em madeira encastoada de 11. Moeda brasileira 960rs, 1813 prata 12. Moeda brasileira de 960rs, 1820 2. Figa em prata 13. Cilindro de chifre encastoado 3. Peixe em prata 14. Cilindro azul facetado encastoado 4. Carneiro em prata 15. Cilindro em prata 5. Dente em prata 16. Machado em prata 6. Dente encastoado em prata 17. Garrafa em prata 7. Dente encastoado em prata 18. Espada recurvada em prata 8. Coco para água em prata 19. Galo em prata 9. Pandeiro em prata 20. Tau com prata 10. Pandeiro em prata com moedas do Império 21. Braço em prata 22. Seio em prata Nº inv. 2248.XII.056 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 22 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,3 x 8,5 cm; comp. Corrente: 168 cm; Peso: 496,5g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Dente encastoado de prata 12. Sol em prata 2. Dente encastoado de prata 13. Violão em prata 3. Cacho de uvas em prata 14. Fruto bojudo em prata 4. Cacho de uvas em prata 15. Mão em marfim encastoada 5. Romã em prata 16. Coco de água encastoado de prata 6. Cilindro em madeira encastoado de 17. Relicário em forma de coração em prata 7. Cilindro em madeira encastoado de prata prata 18. Chave em prata 19. Figa de madeira encastoada 8. Cilindro facetado em prata 20. Figa em prata 9. Peixe em prata 21. Moeda brasileira 960rs, 1803 10. Pomba em prata 22. Moeda brasileira 960rs, 1816 11. Pandeiro em prata Nº inv. 2249.XII.057 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 39 elementos, sem corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 13 x 17,5 cm; Peso: 763,5 g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 10. Dente encastoado de prata 19. Figa em marfim encastoada 11. Coco de água encastoado de prata 20 a 28 – Dente de queixada 12. Cilindro em madeira encastoado encastoados de prata 13. Cilindro azul encastoado de prata 14. Cilindro de ágata encastoado de prata 29. Moeda brasileira 960rs, 1821 30. Mão em madeira escura encastoada 15. Conta verde escuro encastoada 31. Figa em madeira clara encastoada 16. Fruto encastoado de prata 32. Figa de madeira escura, polegar em 17. Mulher com crianças e cachorro em prata, com as iniciais F. B. 9 a 14. Chave em prata 15. Casa em prata 16. Jarro com alça em guirlanda em prata cruz, encastoada 33 e 34. Esporão de galo encastoado 35. Figa isola ou mano cornuta em marfim 36 a 39. Fruto (babaçu) encastoado de prata 17 e 18. Dente encastoados de prata Obs: A cabaça não faz parte do conjunto original. Nº inv. 2250 .XII.058 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 13 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 6,6 x 8,6 cm; comp. Corrente: 81 cm; Peso: 334,3g Marcas: Sem marca Elementos pendentes: 1. Figa em madeira encastoada 8. Relicário redondo em prata 2. Figa em madeira encastoada 9. Peixe em prata 3. Figa em madeira encastoada 10. Chave em prata 4. Cilindro em madeira encastoado 11. Moeda brasileira 500rs, 1858 5. Sinete em ágata encastoado 6. Cilindro em coral encastoado de 12. Cruz em prata prata 13. Cilindro relicário em prata 7. Relicário oval em prata encastoada Nº inv. 2251 .XII.059 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 35 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XVIII. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,5 x 8,3 cm; comp. Corrente: 89 cm; Peso: 402,9g Marcas: De con t r a s t e d a Ba h ia Colôn ia (B cor oa d o com cor oa r ea l em p er ím et r o r et a n gu la r ). A m a r ca loca liza -s e n o ver s o d a n a ve, n a p a r t e posterior da palmeta que encima o frontão, em incavo. Elementos pendentes: 1 a 3. Romã em prata 3. Cilindro em prata 23. Moeda brasileira 500rs, 1860, encastoada 5 e 6. Cilindro em madeira encastoado 24. Moeda brasileira 500rs, 1861 7. Cilindro em coral encastoado 25. Moeda boliviana, 1892 8. Semente encastoada de prata 26. Burro em prata 9 e 10. Coco de água em prata 27. Cachorro em prata 11 e 12. Coco de água em madeira 28. Conta branca encastoada de encastoado ouro 13 a 15. Argola com 3 chaves em prata 29. Esfera em prata, com perolados 16. Chave em prata 30. Esfera com prata 17. Chifre de besouro encastoado de 31. Crescente lunar circunscrito em prata prata 18 a 20. Figa em prata 32 e 33. Peixe em prata 21 e 22. Dente encastoado 34 e 35. Cacho de uvas em prata Nº inv. 2252 .XII.060 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 55 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XVIII. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,5 x 8,0cm; comp. Corrente: 104 cm; Peso: 328,5g Marcas: De con t r a s te d a Ba h ia Colôn ia (B cor oa d o com cor oa r ea l em p er ímetro r et a n gu la r ). A m a r ca loca liza -s e n o a n ver s o d a n a ve, n a p a r t e ju n t o à ju n çã o e n a alça móvel (ao centro). Elementos pendentes: 1e 3. Coco de água em prata 27. Moeda brasileira 500rs, 1860 4. Coco de água em madeira encastoado 28 a 30. Moeda brasileira 200rs, 5 a 11. Argola com 7 peças em prata: 2 (1856, 1862, 1854) Moedas brasileiras 200rs (1866 e 1855); 2 31. Pandeiro em prata burros em prata; 1 pássaro; 2 cilindros 32 a 34. Argola com 3 peças: 2 cuias encastoados (verde e colorido) e 1 moringa em prata 12 e 13. Mão em prata 35. Pomba alada em prata 14. Bola rosa encastoada 36. Cabaça em prata 15. Colher em prata 37. Romã em prata 16 e 17. Figa em prata 38 a 42. Argola com 5 peças: perna, 18. Espora de galo encastoada braço, antebraço, cabeça e dente 19 e 20. Cabeça em prata 43 a 46. Argola com 4 peças em prata: 2 21. Peixe em prata ancoras, pomba alada, revólver 22. Cacho de uvas em prata 47 a 55. Argola com 9 peças: flor, 23. Sol circunscrito em prata lanterna, cabaça, papagaio, pomba alada, 24. Chave em prata cavalo, 3 moedas brasileiras de 200rs 25. Perna em prata (1866, 1866 e 1855) 26. Machado em prata Nº inv. 2253.XII.061 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 41 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 7,5 x 8,0cm; comp. Corrente: 117 cm; Peso: 327,9g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. e 2. Peixe em prata 22. Caldeira em prata 3. Perna em prata 23. Chave em prata 4 e 5. Cabeça em prata 24 e 25. Figa em prata 6. Bola azul encastoada de prata 26 e 27. Perna em prata 7. Bola em prata 28 e 29. Mãos espalmadas em prata 8. Crescente lunar circunscrito em prata 30 a 35. Argola com 6 peças em prata: 9. Cilindro azul encastoado de prata 2 olhos de Santa Luzia, cabeça, 2 taus 10 a 13. Coco de água em prata e 1 perna 14 e 15. Cabeça em prata 36. Bola cinzelado em prata 16. Cavalo em prata 37. Flor com oito pétalas em prata 17. Moeda brasileira 500rs, 1851 38. Búzio encastoado em prata 18. Moeda brasileira 500rs, 1860 39. Placa em prata 19. Moeda brasileira 500rs, 1853 40. Cilindro em prata 20. Moeda brasileira 200rs, 1862 41. Cilindro em madeira encastoado 21. Corpo humano em prata Nº inv. 2254.XII.062 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XVIII. Nave tipo: 1 Dimensões: 8,5 x 12,0cm; comp. Corrente: 108 cm; Peso: 797g Marcas: De con t r a s t e d a Ba h ia Colôn ia (B cor oa d o com cor oa r ea l em p er ím et r o r et a n gu la r ). A m a r ca loca liza -s e n o ver s o d a n a ve, n a p a r t e p os t er ior d a p a lm et a qu e en cim a o fr on t ã o, em in ca vo. Nã o es t á m u it o legível. Traz a mesma marca legível no fecho da corrente. Elementos pendentes: 1. Tambor em prata 13. Perna em prata 2. Cacho de uvas em prata 14. Carneiro em prata 3. Romã em prata 15. Cachorro em prata 4. Abacaxi em prata 16. Chaveem prata 5. Moeda brasileira 960rs, 1816 17. Figa em prata 6. Moeda brasileira 960rs, 1813 18. Cruz em prata 7. Moeda brasileira 1.000rs, 1855 19. Olho em prata 8. Moeda brasileira 500rs, 1860 20. Peixe em prata 9. Coco de água em prata 21. Tartaruga em prata 10. Crescente lunar circunscrito em 22. Espada em prata prata 23. Pentagrama em prata 11. Caju em prata 24. Figa em madeira encastoada (em 12. Galo em prata reparo) Nº inv. 2255 .XII.063 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 27 elementos, sem corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 10,5 x 8,2cm; Peso: 797g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Carneiro em prata 15. Perna em marfim 2. Pomba em repouso em prata 16. Tambor em prata 3. Carneiro em prata 17. Romã em prata 4. Galo em prata 18. Punhal em prata 5. Coco de água em prata 19. Cacho de uvas em prata 6. Moeda brasileira 500rs, 1867 20. Dente encastoado de prata 7. Moeda brasileira 200rs, 1862 21. Borla em prata 8. Moeda brasileira 2.000rs, 1855 22. Borla em prata 9. Moeda brasileira 1.000rs, 1876 23. Crucifixo em prata 10. Moeda brasileira 5000rs, 1867 24. Imagem de Nossa Senhora em 11. Moeda brasileira 1.000rs, 1862 prata 12. Moeda brasileira 2.000rs, 1888 25. Chave em prata 13. Moeda brasileira 960rs, 1818 26. Figa em prata 14. Moeda brasileira 1.000rs, 1862 27. Figa em osso encastoada Nº inv. 2256 .XII.064 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente dourada Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 6,7 x 12,0cm; comp. Corrente: 116 cm; Peso: 776,2g Marcas: Sem marcas. Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 14. Carneiro em prata 2. Abacaxi em prata 15. Perna em prata 3. Chave em prata 16. Cruz em prata 4. Figa em prata 17. Cilindro em prata 5. Cavalo em prata 18. Peixe em prata 6. Tambor em prata 19. Romã em prata 7. Figa em madeira encastoada 20. Crescente lunar circunscrito em 8. Dente encastoado de prata prata 9. Pentagrama em prata 21. Moeda brasileira de 100rs, 1861 10. Machado em prata 22. Moeda brasileira de 500rs, 1888 11. Caju em prata 23. Cachorro em prata 12. Galo em prata 24. Coco de água em prata 13. Tartaruga em prata Nº inv. 2257 .XII.065 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 9,2 x 12,0cm; comp. Corrente: 116 cm; Peso: 701,8g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 2. Braço em prata 14. Crescente lunar circunscrito em prata 3. Relicário oval em prata 15. Chave em prata 4. Moringa em prata 16. Pentagrama em prata 5. Figa em prata 17. Tambor em prata 6. Romã em prata 18. Faca em prata 7. Coco de água em prata 19. Machado em prata 8. Romã em prata 20. Pomba em repouso em prata 9. Moeda brasileira 1.000rs, 1862 21. Peixe em prata 10. Moeda brasileira 2.000rs, 1889 22. Coco de água em prata 11. Figa em prata 23. Dente encastoado de prata 12. Cachimbo em prata 24. Semente encastoada de prata 13. Romã em prata Nº inv. 2258 .XII.066 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 44 elementos, sem corrente Origem/Século: Bahia, séc.XVIII. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,0 x 8,0 cm Peso: 390,1g Marcas: De con t r a s t e d a Ba h ia Colôn ia (B cor oa d o com cor oa r ea l em perímetro retangular). Marcas no anverso da nave (junção e alça). Elementos pendentes: 1. Coco de água em prata 21 a 23. Argola com 3 peças: coco de água, 2. Peixe em prata cilindro em madeira encastoado, conta 3. Espada em prata encastoada 4. Cabaça em prata 24 a 26. Argola com 3 peças: relicário, conta 5. Esfera em prata azul, cilindro marrom encastoado 6. Faca em prata 27. Moeda brasileira de 200rs, 1855 7. Perna em prata 28. Moeda brasileira de 500rs, 1868 8. Corpo humano em prata 29. Romã em prata 9. Peixe em prata 30 e 31. Mão em prata 10. Coração em prata 32 e 33. Argola com 2 peças: coco de água e 11. Pentagrama em prata pássaro em prata 12. Ovo relicário em prata 34. Galo em prata 13. Olhos de Santa Luzia em prata 35 a 37. Coco de água em prata 14. Cilindro em prata 38 e 39. Cabeça em prata 15. Porrão em prata 40. Figa em prata 16 e 17. Chave em prata 41. Pandeiro em prata 18. Pé em prata 42. Figura de mulher em prata 19. Dente em prata 43. Figa em osso 20. Cilindro em madeira encastoado 44. Moeda com data e valor ilegível Nº inv. 2259 .XII.067 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 23 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,5 x 8,3 cm; comp. Corrente: 48 cm; Peso: 629,4g Marcas: De con t r a s te d a Ba h ia Im p er ia l (B cor oa d o com cor oa im p er ia l em perímetro oval). A marca localiza-se no anverso da nave, na alça móvel. Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 12. Moeda belga de 5F, 1868 2. Romã em prata 13. Cilindro em madeira encastoado 3. Dente encastoado 14. Cilindro em madeira encastoado 4. Dente encastoado 15. Cilindro em prata 5. Carneiro em prata 16. Cachimbo em prata 6. Pomba alada em prata 17. Figa em prata 7. Jarro em prata 18. Coco de água encastoado de prata 8. Jarro com alça de guirlanda em 19. Coco de água em prata prata 20. Chave com prata 9. Figa em madeira encastoada 21. Bola marrom em prata 10. Peixe em prata 22. Relicário em prata 11. Moeda brasileira 500rs, 1868 23. Faca em prata Nº inv. 22 60.XII.068 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 28 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 7,2 x 8,7cm; comp. Corrente: 76 cm; Peso: 600,1g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Dente encastoado de prata 15. Cilindro verde encastoado de prata 2. Dente encastoado de prata 16. Cilindro em madeira encastoado 3. Dente encastoado de prata 17. Caju em prata 4. Moeda brasileira 1.000rs, 1863 18. Carneiro em prata 5. Moeda brasileira 200rs, 1857 19. Moeda brasileira 1.000rs, 1876 6. Chave em prata 20. Moeda brasileira 2.000rs, 1857 7. Chave em prata 21. Figa em prata 8. Cilindro em madeira encastoado 22. Cacho de uvas em prata de prata 23. Apito em prata 9. Jarro em prata 24. Cachimbo em prata 10. Relicário losangular em prata 25. Coco de água em prata 11. Romã em prata 26. Coco de água encastoado 12. Romã em prata 27. Semente encastoada 13. Cachorro em prata 28. Casa em prata 14. Nossa Senhora da Conceição em prata dourada Nº inv. 2261.XII.069 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 26 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 4 Dimensões: 8,5 x 8,6 cm; comp. Corrente: 95 cm; Peso: 562g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Romã em prata 15. Peixe em prata 2. Figa em prata 16. Cilindro em madeira encastoado 3. Figa em prata de prata 4. Chave em prata 17. Pomba alada em prata 5. Cachorro em prata 18. Espada em prata 6. Unha de tatu encastoada de prata 19. Moeda brasileira de 500rs, 1867 7. Relicário oval em prata 20. Moeda brasileira de 2.000rs, 1855 8. Chave em prata 21. Jarro facetado em prata 9. Chave em prata 22. Coco de água em prata 10. Moeda brasileira de 200rs, 1857 23. Cacho de uvas em prata 11. Moeda espanhola, 1821 24. Tartaruga em prata 12. Moeda espanhola, 1817 25. Cilindro em prata 13. Dente encastoado de prata 26. Cilindro em madeira encastoado 14. . Dente encastoado de prata de prata Nº inv. 2262.XII.070 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 22 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 7,3 x 12,1cm; comp. Corrente: 114 cm Peso: 660,3g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 12. Cabaça em prata 2. Coco de água em prata 13. Galo em prata 3. Gomil em prata 14. Cilindro em madeira encastoado 4. Cilindro em prata 15. Fruto oblongo em prata 5. Romã em prata 16. Moeda brasileira de 500rs, 18? 6. Chave em prata 17. Moeda brasileira 2.000rs, 1855 7. Figa em madeira encastoada de 18. Peixe em prata prata 19. Peixe em prata 8. Figa em prata 20. Fruto em prata 9. Jarro com tampa e alça em prata 21. Garrafa em prata 10. Pandeiro em prata 22. Coco de água em prata 11. Moeda brasileira de 1.000rs, 1860 Nº inv. 2263.XII.071 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 27 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 2 Dimensões: 10,0 x 8,0cm; comp. Corrente: 115 cm; Peso: 587,7g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 14. Chave em prata 2. Cacho de uvas em prata 15. Fruta arredondada em prata 3. Relicário oval em prata 16. Cilindro em prata 4. Cajú em prata 17. Cilindro em madeira encastoado 5. Moeda brasileira 500rs, 1868 18. Peixe em prata 6. Moeda brasileira 500rs, 1860 19. Gomil em prata 7. Moeda espanhola, 1817 20. Figa em madeira encastoada 8. Moeda boliviana, 1850 21. Figa em prata 9. Concha em prata 22. Dente encastoado de prata 10. Romã em prata 23. Dente encastoado de prata 11. Pomba alada em prata 24. Bico de ave encastoado de prata 12. Porco em prata 25. Coco de água em prata 13. Chave em prata 26. Coco de água em prata Nº inv. 2264.XII.072 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 25 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 8,0 x 12,2cm; comp. Corrente: 121 cm; Peso: 619,1g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cilindro em madeira encastoado de prata 12. Garrafa em prata 13. Cachorro em prata 2. Cilindro em prata 14. Peixe em prata 3. Cilindro azul facetado, encastoado de 15. Peixe em prata prata 16. Peixe em prata 4. Búzio encastoado de prata 17. Moringa em prata 5. Chave em prata 18. Romã em prata 6. Chave em prata 19. Romã em prata 7. Machado em prata 20. Romã em prata 8. Pinça de crustáceo encastoado de 21. Côco de água em prata prata 9. Sinete com figura masculina em prata e base de ágata 10. Moringa com alça em prata 11. Copo em prata 22. Coco de água em prata 23. Cacho de uvas em prata 24. Cacho de uvas em prata 25. Moeda brasileira 1.000rs, 1862 Nº inv. 2265.XII.073 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 27 elementos, corrente e chave Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 7 Dimensões: 14,3 x 18,6cm; comp. Corrente: 132 cm; Peso: 1.636,6g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Dente encastoado de prata 15. Chave em prata 2. Cilindro em prata 16. Cilindro em prata 3. Tartaruga em prata 17. Cacho de uvas em prata 4. Perna calçada com bota em prata 18. Romã em prata 5. Pandeiro em prata 19. Crescente lunar em prata 6. Romã em prata 20. Peixe em prata 7. Busto de índia em prata 21. Mão em prata 8. Porco em prata 22. Elemento em forma de rosácea em 9. Figa em madeira encastoada de prata prata, com anel e pulseira 23. Cabaça em prata 10. Carneiro deitado em prata 24. Tambor em prata 11. Figa em prata 25. Caju em prata 12. Figa em marfim encastoada de prata 26. Pomba alada em prata dourada 13. Pentagrama em prata 27. Coco de água em prata 14. Galo em prata Nº inv. 2266.XII.074 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 32 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 6 Dimensões: 9,0 x 13,5 cm; comp. Corrente: 123 cm; Peso: 1.234,7g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Romã em prata 17. Tartaruga em prata 2. Romã em prata 18. Carneiro em prata 3. Peixe em prata 19. Cilindro em prata 4. Romã em prata 20. Dente encastoado de prata 5. Caju em prata 21. Carneiro deitado em prata 6. Caju em prata 22. Braço em prata 7. Pentagrama em prata 23. Cachorro em prata 8. Cacho de uvas em prata 24. Pandeiro em prata 9. Cacho de uvas em prata 25. Jarra em prata com alça e tampa 10. Figa em prata 26. Chave com figa em prata 11. Coco de água em prata 27. Garrafa facetada em prata 12. Chave em prata 28. Jarra em prata com alça e rampa 13. Pentagrama em prata 29. Colher em prata 14. Coco de água em prata 30. Palmatória em prata 15. Faca em prata 31. Tambor em prata 16. Chave em prata 32. Conta branca encastoada de prata Nº inv. 2267.XII.075 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 30 elementos, corrente e figa Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 5 Dimensões: 9,8 x 15,5 cm; comp. Corrente: 108 cm; Peso: 1.329,1g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 18. Pé de boi em prata 2. Pandeiro em prata 19. Figa em madeira encastoada de 3. Dente encastoado de prata prata 4. Figa em prata 20. Peixe em prata 5. Chave em prata 21. Elemento em forma de rosácea em 6. Romã em prata prata 7. Corpo humano em prata 22. Tambor em prata 8. Coco de água em prata 23. Perna em prata 9. Machado em prata 24. Caju em prata 10. Cilindro em prata 25. Cilindro em madeira encastoado 11. Romã em prata de prata 12. Pomba em repouso em prata 26. Porrão em prata 13. Pentagrama em prata 27. Cabeça em prata 14. Figa em coral encastoada de prata 28. Cilindro em prata 15. Cachorro em prata 29. Cilindro em prata 16. Sol circunscrito em prata 30. Perna em prata 17. Carneiro deitado em prata Nº inv. 2268.XII.0 76 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 28 elementos, corrente e figa Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 5 Dimensões: 9,5 x 15,5cm; comp. Corrente: 126 cm; Peso: 1.193,5g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 15. Chave em prata 2. Machado em prata 16. Chave em prata 3. Relicário redondo em prata 17. Tartaruga em prata 4. Dente encastoado de prata 18. Figa em prata 5. Dente encastoado de prata 19. Cilindro em madeira encastoado 6. Relicário em forma de ovo em prata 20. Cilindro em prata 7. Coco de água em prata 21. Caneca em prata 8. Espora de galo encastoada de prata 22. Fruto em prata 9. Moeda brasileira 960rs, 1819 23. Caju em prata 10. Moeda brasileira 320rs, 1818 24. Cachorro em prata 11. Elemento em forma de rosácea em 25. Haste em madeira encastoada prata 26. Encastoamento em prata 12. Pentagrama em prata 27. Cacho de uvas em prata 13. Moeda brasileira de 960rs, 1815 28. Peixe em prata 14. Pomba em repouso em prata Nº inv. 2269.XII.077 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 21 elementos, corrente e figa Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 7,6 x 12,5 cm; comp. Corrente: 140 cm; Peso: 752,5g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Romã em prata 12. Cruz em prata 2. Cilindro em madeira encastoado de 13. Moeda brasileira 960rs, 1814 prata 14. Chave em prata 3. Dente encastoado de prata 15. Crescente lunar em prata 4. Cilindro em prata 16. Pomba alada em prata 5. Pandeiro em prata 17. Seio em prata 6. Figa em prata 18. Cilindro azul facetado, encastoado 7. Pé de cabra em prata de prata 8. Cilindro repuxado em prata 19. Mão espalmada em prata 9. Coco de água em prata 20. Cacho de uvas em prata 10. Galo em prata 21. Cachorro em prata 11. Perna em prata Nº inv. 2270.XII.078 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 26 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 8,5 x 12,0cm; comp. Corrente: 124 cm; Peso: 861,2g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 15. Pandeiro em prata 2. Romã em prata 16. Figa em madeira encastoada de 3. Romã em prata prata 4. Romã em prata 17. Pomba alada em prata 5. Coco de água em prata 18. Chave em prata 6. Cilindro em prata 19. Fruto em prata 7. Pomba em repouso em prata 20. Chave finalizada por figa, em prata 8. Dente encastoado de prata 21. Moringa com alça em prata 9. Peixe em prata 22. Moeda brasileira de 960rs, 1814 10. Coco de água em prata 23. Moeda brasileira de 1.000rs, 1877 11. Figa em prata 24. Moeda brasileira de 2.000rs, 1889 12. Cilindro em prata 25. Cilindro em madeira encastoado 13 e 14. Argola com 2 peças: Mãos em de prata prata 26. Galo em prata Nº inv. 2271.XII.079 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 31 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 9,2 x 16,3 cm; comp. Corrente: 125 cm; Peso: 1.044,5g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Pandeiro em prata 17. Âncora em prata 2. Romã em prata 18. Cilindro azul facetado, encastoado 3. Galo em prata de prata 4. Cilindro em prata 19. Chave em prata 5. Relicário em forma de ovo em prata 20. Chave com prata 6. Rosácea de 5 pétalas circunscrita, 21. Côco de água em prata em prata 22. Machado em prata 7. Sino em prata 23. Búzio encastoado de prata 8. Dedo em prata 24. Dente encastoado de prata 9. Fruto oblongo em prata 25. Pêra em prata 10. Corpo humano em prata 26. Moeda brasileira de 960rs, 1816 11. Cachorro em prata 27. Moeda brasileira de 2.000rs, 1865 12. Peixe em prata 28. Dente em prata 13. Perna em prata 29. Crescente lunar em prata 14. Olhos de Santa Luzia em prata 30. Cacho de uvas em prata 15. Cesta de flores em prata 31. Figa em prata 16. Boi em prata Nº inv. 2272.XII.080 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 35 elementos e corrente dourada Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 1 Dimensões: 8,2 x 12,0cm; comp. Corrente: 113 cm; Peso: 827,6g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Pandeiro em prata 19. Espora de galo encastoada 2. Porrão em prata 20. Mão espalmada, articulada, em prata 3. Jarra em prata 21. Moeda brasileira de 1.000rs, 1860 4. Peixe em prata 22. Moeda brasileira de 960rs, 1811 5. Cilindro azul facetado encastoado 23. Moeda brasileira de 2.000rs, 1875 6. Cilindro em prata 24. Moeda brasileira de 2.000rs, 1889 7. Cacho de uvas em prata 25. Relicário redondo em prata 8. Cilindro em prata 26. Chave em prata 9. Cilindro em prata 27. Pingente de cornalina encastoado 10. Romã em prata 28. Perna de cornalina encastoada 11. Cruz em prata 29. Cabeça em prata 12. Peixe em prata 30. Coco de água em prata 13. Parte de chocalho em prata 31. Romã em prata 14. Mão em madeira encastoada 32. Moeda brasileira de 640rs, 1820 15. Figura de mulher em prata 33. Moeda brasileira de 1.000rs, 1876 16. Chave finalizada por figa, em prata 34. Moeda brasileira de 500rs, 1860 17. Espada em prata 35. Moeda brasileira de 200rs, 1857 18. Garrafa em prata Nº inv. 2273.XII.081 Denominação: Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente Origem/Século: Bahia, séc.XIX. Nave tipo: 3 Dimensões: 12,5 x 16,0cm; comp. Corrente: 102 cm; Peso: 751,3g Marcas: Sem marcas Elementos pendentes: 1. Cacho de uvas em prata 13. Forma convexa (barriga?) em prata 2. Romã em prata 14. Cilindro em prata dourada 3. Dente encastoado de prata 15. Coco de água em prata 4. Coração em prata 16. Perna em prata 5. Jarro com alça, em prata 17. Moeda brasileira 2.000rs, 1851 6. Cachorro em prata 18. Cilindro em ágata encastoado de 7. Perna em prata prata 8. Romã em prata 19. Figa em madeira, encastoada 9. Moeda brasileira 2.000rs, 1863 20. Papagaio pousado em galho, em 10. Pinça de crustáceo encastoado de prata prata 11. Figa em prata 12. Garrafa de prata 21. Chave em prata 22. Fruto encastoado de prata 23. Pandeiro em prata 24. Cruz em prata