XIII Congresso dos Pós-Graduandos da UFLA
14 a 17 de setembro de 2004
REFLEXÕES SOBRE A METODOLOGIA NA CIÊNCIA
ADMINISTRATIVA
JUSSARA MARIA SILVA1
MARCELO MÁRCIO ROMANIELLO2
ANTÔNIO CARLOS DOS SANTOS 3
Resumo: O propósito do presente estudo teórico é investigar a utilização dos métodos
de pesquisa em administração com vistas a compreensão e ao aprimoramento desses nos
estudos organizacionais. Obrigatoriamente o ponto de partida são os estudos de Marx
Weber, o qual instituiu a necessidade de um método científico específico para as
Ciências Sociais, que ganham robustez com o trabalho de Gareth Morgan. O trabalho
aborda a teoria que sustenta os diferentes níveis de investigação nos estudos
organizacionais, como os paradigmas, as metáforas e os modelos gerenciais com vistas
a discutir uma proposta que contemple a um só tempo os métodos qualitativos e
quantitativos. A ênfase dada está na metodologia que combina a pesquisa qualitativa e
quantitativa por meio do uso da triangulação. A defesa da utilização combinada dos
métodos é uma forma de aumentar o rigor na investigação científica, como um novo
contorno metodológico a ser utilizado na ciência administrativa.
Palavras-Chave: Metodologia, administração, combinação de métodos.
1. INTRODUÇÃO
Para o progresso da ciência da administração é importante que os pesquisadores
avaliem os métodos que estão sendo empregados em suas pesquisas. O processo de
escolha do pesquisador por uma determinada teoria e a definição metodológica a ser
empregada afeta diretamente as conclusões dos estudos. Da mesma forma a orientação
dos níveis de análise conduzem o conhecimento em termos de evolução e/ou revolução.
Como, então, proceder, especificamente nas ciências sociais, para entender o campo
1
Doutoranda do Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras-UFLA,
Cx. Postal 37 – Cep 37200-000 – Lavras-MG, e-mail: [email protected]
2
Mestre em Administração Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de
Lavras-UFLA, Cx. Postal 37 – Cep 37200-000 – Lavras-MG, e-mail: [email protected]
3
Professor Doutor e Chefe do Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de
Lavras-UFLA, Cx. Postal 37 – Cep 37200-000 – Lavras-MG, e-mail: [email protected]
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Administração
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científico, seus exemplares partilhados (Kunh, 2003), o conhecimento mais ou
menos sistemático ou analisável do que aquele baseado em regras, leis ou critérios de
identificação?
Para entender o método científico, o presente ensaio se utiliza, inicialmente, das
discussões travadas no período do Iluminismo, época em que o conhecimento da
realidade passou a depender da razão e da observação. Em termos metodológicos, os
iluministas pregavam que a razão em conjunto com a observação seria um meio para se
conseguir a verdade científica (Zeitlin, 1976), ou seja, era a busca pela solução de
problemas da realidade, verificando o problema e a forma como o mesmo seria
investigado (modelo teórico), seguindo-se, então, o processo de análise, levantamento e
seleção de alternativas para a solução e a sua implementação.
Desde então, os estudos nas ciências sociais têm buscado aprimoramento dos
métodos envolvendo diferentes disciplinas (história, antropologia, psicologia,
sociologia) com vistas a um certo tipo de “reconstrução evolutiva” do campo de estudos
capaz de representar a maturidade teórica. No entanto, poucos são os estudos que
buscam realizar um exame do uso da pesquisa na administração para identificar
possíveis padrões emergentes nas últimas duas décadas do século XX. Com esse
trabalho, espera-se oferecer alguns insights que provoquem avanços na metodologia da
pesquisa nos estudos organizacionais, bem como que a pesquisa em áreas substantivas
ganhe novos contornos por enfatizar alguns princípios metodológicos, preservando o
rigor e a relevância sem limitar as conclusões dos estudos por escolhas inadequadas do
pesquisador.
O propósito maior desse estudo é, portanto, contribuir com a discussão do uso
dos métodos de pesquisa utilizados nos estudos organizacionais, de onde se espera
ocorram avanços na construção de teorias fortes. As discussões estão apresentadas em
quatro partes. A primeira explora os conceitos e reflexões teóricas do método científico
na administração. Na seqüência são apresentados os procedimentos para a construção do
conhecimento nesse campo específico com base em paradigmas, metáforas e modelos
gerenciais. A terceira parte é dedicada a apresentação da metodologia de pesquisa usada
pelos pesquisadores nos estudos organizacionais que conduzem a pensar na
possibilidade da triangulação de métodos como alternativa de aprimoramento científico.
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2. MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e análise de documentos e publicações
que se justificou para expor alguns dados do trabalho realizado e os resultados
alcançados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Metodologia de Pesquisa em Administração
Conforme os estudos de Salazar e Dornelas (2003), sobre os níveis de
conhecimento científico em administração no Brasil, o nível de modelos gerenciais
representa 59% da produção científica, os paradigmas 35% e o restante da produção se
referiu às metáforas (6%). Esta produção está composta de 337 artigos analisados, os
quais foram apresentados em reuniões científicas e revistas conceituadas em
administração, no período de 1998 a 2001. De acordo com esses dados percebe-se que
as pesquisas brasileiras na ciência da administração se concentram no terceiro nível, ou
seja, nos modelos gerenciais.
Ao tratar da metodologia utilizada nos modelos gerenciais, comumente se
indicam os procedimentos da coleta dos elementos empíricos em que cada uma se
funda. Nesta perspectiva, o método é um conjunto de processos ou de meios de pesquisa
conscientemente adaptados ao estudo de um objeto determinado. Na verdade, a
metodologia compreende mais que isso, incluindo os pressupostos lógicos e as normas
para a sistematização dos dados, sob a forma de constructos, hipóteses e teorias
(CABRAL, 2003).
A pesquisa visa proporcionar respostas aos problemas de uma dada realidade e é
desenvolvida pelo uso criterioso de métodos, de técnicas e outros procedimentos de
validade científica (GIL,1995, p.19). Os tipos de pesquisa usualmente empregados
variam conforme a estrutura da coleta de dados, os quais destacam-se as pesquisas
qualitativa e quantitativa. Considera-se do ponto de vista metodológico que ambas são
de natureza diferenciada, não excludentes e podem ser complementares uma à outra na
compreensão de uma realidade. Somente quando as duas abordagens são utilizadas de
maneira combinada é que estas podem dar uma contribuição mais efetiva aos estudos
em administração.
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3.2. Pesquisa Qualitativa
As pesquisas em administração que utilizam a abordagem qualitativa atuam em
níveis de realidade, trabalhando com valores, crenças, hábitos, atitudes, representações e
opiniões, adequando-se ao aprofundamento da complexidade de fatos e processos
particulares e específicos aos indivíduos e aos grupos. Sendo esta empregada, portanto,
para a compreensão de fenômenos caracterizados por um alto grau de complexidade
interna.
De acordo com Babbie (1999), a pesquisa qualitativa é aquela que utiliza
predominantemente a informação e os dados que não estão expressos em números ou
que os números e as conclusões baseadas neles representam um papel menor na análise.
Os dados qualitativos também incluem informações, como pinturas, fotografias,
desenhos, filmes e trilhas sonoras (TESCH, 1990; VALERIE e JANESICK, 1994).
A pesquisa qualitativa em administração pode ser associada com a coleta e
análise de texto (falado e escrito) e a observação direta do comportamento
(HAMMERSLEY, 1989). Uma crítica constante à abordagem qualitativa diz respeito ao
rigor do método utilizado, ou seja, à problemática da validade e da verificação nas
ciências sociais, em outras palavras, da questão da cientificidade e da suposta
fragilidade da pesquisa qualitativa nesta esfera. Para melhor visualizar a contribuição
desse método de pesquisa aos estudos organizacionais, destacam-se as técnicas de
pesquisa, a pesquisa documental, o estudo de caso e a observação.
De acordo com Godoy (1995), a pesquisa documental é uma técnica que prima
pela análise de todo material ou conhecimento que é suscetível de ser utilizado para
consulta, estudo ou prova. Uma das vantagens desse tipo de pesquisa é permitir o estudo
de pessoas às quais não temos acesso físico, porque não estão mais vivas ou por
problemas de distância. Os documentos constituem uma fonte não-reativa, isto é, as
informações contidas permanecem as mesmas após longos períodos de tempo. Essa
técnica pode ser também utilizada para complementar informações obtidas em outras
fontes.
Estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites
entre os fenômenos e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2001, p.32). O
estudo de caso fornece explicações no que tange diretamente ao acaso considerado e aos
elementos que marcam o contexto (LAVILLE e DIONE, 1999). A vantagem dessa
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estratégia de pesquisa é a possibilidade de aprofundamento, pois os recursos se
vêem concentrados no caso visado.
A observação tem um papel essencial no estudo de caso e seu caráter pode ser
participante ou não-participante. A observação participante é um processo no qual o
investigador faz uma pesquisa científica em um local e participa, naturalmente, da
coleta dos dados, tornando-se parte do contexto em que está inserido (MARTINS,
1994). Este tipo de observação é um processo no qual a presença do observador, numa
situação social é mantida para fins de investigação científica. A observação nãoparticipante, por sua vez, ocorre quando o pesquisador atua apenas como espectador
atento, coletando dados e não participando do contexto no qual está inserido (GODOY,
1995).
São muitas as técnicas de coleta e análise de dados em uma abordagem
qualitativa. Essas técnicas fazem parte de um conjunto de possibilidades da pesquisa
qualitativa desenvolvida com o objetivo de alcançar novas formas de compreensão da
realidade. Esses delineamentos de pesquisa buscam contribuições para o avanço do
conhecimento na área da administração.
3.3. Pesquisa Quantitativa
A pesquisa quantitativa permite o uso de uma abordagem focalizada, pontual e
estruturada em suas análises. Uma vez que ela emprega dados numéricos, passíveis de
medição e comparação, percebe-se que sua utilização possibilita uma maior precisão
nos resultados obtidos, garantindo assim, a veracidade nos estudos que nela se baseiam.
Segundo Popper (1972), o pesquisador parte de quadros conceituais de
referência estruturados, a partir dos quais formula hipóteses sobre os fenômenos e
situações que se quer estudar. Uma lista de conseqüências é então deduzida das
hipóteses. A coleta de dados enfatiza números (ou informações conversíveis em
números) que permitam verificar a ocorrência ou não das conseqüências, assim ocorre a
aceitação (ainda que provisória) ou não das hipóteses.
Os dados são analisados com apoio das técnicas estatísticas (inclusive
multivariada) ou outras técnicas matemáticas. A decisão sobre qual análise estatística irá
utilizar dependerá do tipo de informações que o pesquisador possui, do tamanho da
amostra, da natureza da escala, dentre outros. O tradicional levantamento de dados
(surveys) é a forma clássica do estudo de campo quantitativo (MALHOTRA, 2001).
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Apesar do reconhecimento quanto às limitações dos métodos de
pesquisa quantitativos nas áreas sociais, diversos autores consideram que não se deve
menosprezar a sua contribuição para maior rigor da investigação científica (STRAUB e
CARLSON, 1989). A solução ideal consiste, segundo Gil (1995) e Deshaies (1997), na
defesa do caráter científico das ciências sociais, através do uso combinado de métodos
qualitativos e quantitativos.
3.4. Combinação de Métodos de Pesquisa
Cada técnica de pesquisa tem seus pontos fortes e suas limitações. Conjugá-los
é, por vezes, a escolha mais apropriada. Conhecida por triangulação metodológica, essa
técnica é mais uma estratégia de pesquisa e pode ocorrer tanto em pesquisas qualitativas
como quantitativas, bem como nos níveis teóricos e empíricos de análise (ALENCAR,
1999). Essa estratégia consiste na identificação de dados por diferentes informantes em
situações variadas e em momentos distintos, com a finalidade de compreender melhor o
fenômeno estudado (TRIVINÕS, 1987). Como resultado tem-se o enriquecimento da
pesquisa, uma vez que compreende a realidade, por meio de diferentes abordagens.
A triangulação pode ocorrer tanto em pesquisa qualitativa quanto quantitativa. A
escolha dependerá da natureza do problema, da profundidade pretendida e da opção
epistemológica (SCANDURA e WILLIAMS, 2000). Mas deve-se observar que a opção
do pesquisador por um só método restringe e limita sua capacidade de entender a
realidade, da mesma forma que a escolha de uma metáfora limita a percepção do
pesquisador. A triangulação pode ser empregada na ciência administrativa de maneiras
diversas, conforme apresentado no Quadro 2 a seguir.
Quadro 2 – Aplicabilidade da triangulação na ciência administrativa.
Triangulação
Aplicação
De dados
Uso de dados originários de várias fontes em um mesmo estudo
De
Uso de vários pesquisadores ou avaliadores para estudar um único
pesquisador
caso
De teorias
Metodológica
Interdisciplinar
Uso de múltiplos perspectivas teóricas para interpretar um único
conjunto de dados
Uso de mais de um método para estudar o mesmo problema
Uso de profissionais de diferentes especialidades para estudar o
mesmo problema.
Fonte: Valerie e Janesick, 1994, p.215.
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Espera-se que a pesquisa em administração ganhe novas abordagens por meio do
uso da triangulação metodológica e de princípios novos. Cabem aos pesquisadores,
portanto, as preocupações acerca das escolhas dos métodos empregados em seus
estudos, fazendo com que o resultado final do trabalho desenvolvido assemelha-se ao
máximo da realidade focada.
4. CONCLUSÕES
As reflexões aqui expostas sobre a metodologia utilizada na ciência
administrativa destacam a importância dos critérios de julgamento do método de
pesquisa utilizado, regido pelo rigor, pela relevância científica e pela utilidade que esse
conhecimento apresenta.
O desafio dos estudos em Administração é aprender a lidar com a complexidade
encontrada nas novas maneiras de equacionar e resolver os problemas organizacionais.
A utilização combinada de métodos científicos é uma tentativa apropriada que pode
ocorrer tanto em pesquisa qualitativa quanto quantitativa, bem como nos níveis teóricos
e empíricos.
Os resultados das combinações dos métodos contribuem para a compreensão da
realidade social subjetiva, ainda que o problema pesquisado represente uma dimensão
reduzida dessa realidade. O conhecimento profundo do método ou da técnica de
pesquisa a ser adotada e o preparo do pesquisador são fatores-chave para o sucesso do
estudo. Cabe frisar que a natureza do problema de pesquisa e o nível de profundidade
pretendido determinarão a opção metodológica.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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