Discutindo o Cotidiano das Equipes de Saúde
da Família: A Experiência da III Oficina de
Atenção Básica da UFPB
Discussing The Daily Work of Family Health Teams: The
Experience of The 3Rd UFPB Primary Care Workshop
Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro I/ Geraldo Eduardo Guedes de BritoII / Robson da Fonseca
NevesIII / Dailton Alencar Lucas de LacerdaIV / Arleciane Emilia de Azevêdo BorgesV
palavras-chave: Ensino; Atenção Primária à Saúde; Formação de Recursos Humanos;
Profissionais de Saúde.
keywords: Teaching; Primary Health Care; Human Resources Formation; Health
Personnel.
CONCEITO E CONTEXTO GERAL
Os cursos da área de saúde da Universidade Federal da Paraíba - UFPB encontram-se em processos
de implementação dos novos projetos pedagógicos PPP, baseados nas Diretrizes Curriculares Nacionais
- DCN. Assim, o processo de formação atual destes
cursos foi influenciado pela necessidade de mudanças
na lógica de compreensão do processo saúde-doença
e da produção do cuidado, que anteriormente era biologicista e fragmentada. Estes projetos apontam para
uma nova forma de vivência das práticas de ensino e
constituem um momento institucional propício para a
inserção dos cursos na rede de serviços de saúde, em
especial, na Atenção Básica. Os projetos pedagógicos
contemplam estágios ao longo de todo o curso, desde o primeiro ano, incentivando as práticas de ensino
problematizadoras e o perfil generalista de formação
profissional. Esses são exemplos claros da conjuntura
favorável para a reorientação da formação profissional
em Saúde, na UFPB.
Frente a esta nova realidade de formação, que privilegia os espaços dos serviços de saúde, foi criada pela Secretaria Municipal de Saúde, em 2005, a Rede Escola de
João Pessoa, constituída pelos serviços que são cenários
de aprendizagem das instituições de ensino conveniadas.
Envolve docentes, discentes, gestores e comunidade,
com o objetivo de facilitar a aproximação e a articulação
entre os serviços e as Instituições de Ensino do município. Atualmente, todas as atividades de ensino, incluindo
pesquisa e extensão, desenvolvidas na rede municipal
de saúde, são efetivadas através de pactuações entre
os docentes e os trabalhadores dos serviços e, posteriormente, autorizadas pela Rede Escola, no esforço de
que, assim, estas atividades sejam contextualizadas e
atendam à realidade e necessidade dos trabalhadores e
comunidade.
I
Doutora em Educação; Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba.
Mestre em Saúde da Família; Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba.
III
Mestre em Saúde Coletiva; Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba.
IV
Mestre em Doenças Tropicais; Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba.
V
Estudante do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba.
II
Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011 | 51
Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
No caso do curso de Fisioterapia da UFPB, seu atual
PPP foi submetido à reformulação e aprovado em junho
de 2005, de acordo com resolução 12/2005 do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONSEPE. Embora tenha avançado na concepção de um perfil
profissional compatível com as necessidades atuais para
o fisioterapeuta, algumas características da matriz curricular, bem como a estrutura organizativa da Universidade, limitam o avanço mais rápido de mudanças. Apesar
das inovações curriculares com a implantação desse PPP,
podem-se constatar resquícios da formação fragmentada, tais como a própria nomenclatura das disciplinas,
baseadas nas disfunções dos sistemas a serem estudados
e da pouca articulação das atividades assistenciais da Fisioterapia com os demais cursos da saúde.
As experiências de aprendizado em assistência, desenvolvidas no curso, acontecem, predominantemente,
em ambientes ambulatoriais e hospitalares. Contudo,
experiências na Atenção Básica, que se iniciam no 5º
período, através de todas as disciplinas profissionalizantes, estão sendo desenvolvidas com objetivo de adequar
o conhecimento adquirido às necessidades do local de
atuação. Essas experiências têm possibilitado aos estudantes a interação com as equipes de saúde da família
e um contato diferenciado com os usuários, através de
atendimentos domiciliares e formação de grupos, com
uma abordagem preventiva e promotora da saúde, sem
perder de vista a enorme demanda assistencial específica, que caracteriza as atividades de núcleo de saber da
Fisioterapia.
Algumas dificuldades têm sido identificadas ao longo
deste processo em relação a essas experiências na Atenção Básica, relativas ao perfil dos docentes que vão atuar nestes espaços; à integração entre os estudantes dos
diversos cursos da UFPB e destes com a equipe; à descontinuidade das ações pondo em risco a resolutividade
de alguns tratamentos. Constata-se, no entanto, que a
experiência dessa nova abordagem de formação acadêmica, ainda que em processo de construção, traz benefícios tanto aos estudantes quanto aos trabalhadores do
serviço e comunidade. Enquanto o acadêmico se prepara para uma área em ascensão na Fisioterapia e mergulha
na complexidade da Atenção Básica, as equipes de saúde
da família e a comunidade passam a conhecer o papel da
Fisioterapia e usufruir de suas contribuições na produção
do cuidado. Podem-se atribuir tais fragilidades enfrenta-
52 | Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011
das à incipiente articulação entre os cursos de graduação
da UFPB e destes cursos com a rede de serviços do município da cidade de João Pessoa.
A integração ensino-serviço pode ser definida como
“o trabalho coletivo, pactuado e integrado de estudantes
e professores dos cursos de formação na área da saúde
com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços de saúde, incluindo-se os gestores, visando à qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, à qualidade
da formação profissional e ao desenvolvimento/satisfação dos trabalhadores dos serviços”1(p. 357).
Neste sentido, o evento “Oficina Ampliada de Atenção Básica” é um dos instrumentos utilizados pela disciplina de Estágio II – Saúde Coletiva, apoiado pela
coordenação do curso de Fisioterapia. Ela tem por objetivo proporcionar aos estudantes de todos os cursos
de Graduação em Saúde da UFPB a possibilidade de
discutir e reconstruir juntamente com os trabalhadores
das equipes de saúde da família e gestores municipais
os conhecimentos elaborados durante sua vivência na
Atenção Básica. Proporciona, então, uma possibilidade
de capacitação profissional e de construção de práticas
interdisciplinares, tanto para os estudantes quanto para
docentes, trabalhadores da rede assistencial e gestores,
conforme preconizado pela Política Nacional de Educação Permanente – PNEP2. Aborda as questões do ensino de graduação associado ao cotidiano das equipes,
adotando as vivências práticas como situações problematizadoras e transformadoras do fazer em saúde, estimulando o protagonismo dos envolvidos na construção
de conhecimentos em equipe e ampliando os espaços
educativos para extra-muro da Universidade.
O HISTÓRICO DAS OFICINAS
Um desafio a ser vencido pelo ensino de Fisioterapia
é a sua inserção na Atenção Básica. Esta experiência desafiadora tem sido vivenciada pelos alunos do curso, das
disciplinas profissionalizantes no 5º período até o estágio em saúde coletiva, no 8º período. Nessa realidade,
os estudantes se depararam com várias dificuldades na
prestação de assistência aos usuários e na atuação junto
às equipes de saúde da família, devido à formação que
ainda o prepara para atuar, sobretudo, dentro dos ambulatórios, clínicas e hospitais. O aluno tem sido então,
confrontado com um cenário de atuação que expõe ou-
III Oficina de Atenção Básica da UFPB
tras complexidades inerentes à vida e ao modo de vida
das pessoas nos territórios.
A gestão da saúde do município de João Pessoa vem
implantando, desde 2004, um projeto de saúde em defesa da vida. Algumas propostas estão inseridas nesse
modelo de gestão, dentre elas, a implantação do apoio
matricial e do acolhimento, a organização da atenção a
partir de linhas de cuidado e a construção de projetos
terapêuticos. A partir do ano de 2008, também foram
implantados 13 Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF). Os estudantes de Fisioterapia inseridos na rede
municipal de serviços de saúde convivem, assim, com
esse modelo de gestão, de produção de cuidado e seus
dispositivos.
No segundo semestre de 2008, os estudantes envolvidos nesse estágio encontraram diversos questionamentos a respeito de temas como referência e contrarreferência, acolhimento, redes de apoio no processo de
trabalho em Fisioterapia, atuação interdisciplinar, modelo de avaliação fisioterapêutica na Atenção Básica e sobre a realização de um trabalho terapêutico em grupo.
Diante do desafio de construir esses conhecimentos e
de trocar informações com docentes, com outros estudantes e com o serviço e a gestão dos serviços, os estudantes e docentes do Estágio II propuseram a realização
da I Oficina de Atenção Básica, em março de 2009, cujo
tema foi: “O desafio da prática fisioterapêutica na Atenção Básica (AB)”.
Este encontro contou com cerca de 90 participantes
e teve como objetivo principal descrever as fragilidades
e os desafios encontrados na prática fisioterapêutica na
Atenção Básica. O resultado desta experiência foi encaminhado para o Departamento de Fisioterapia, comissão
de estágio na AB, comissão pedagógica do curso, coordenação de curso, centro acadêmico, bem como para a
gerência de educação da secretaria municipal de saúde
de João Pessoa-PB, além de estar publicado na segunda
edição do livro Fisioterapia na Comunidade, da editora
UFPB.
A segunda Oficina de Atenção Básica foi estimulada pela discussão que circulou nos cursos de saúde da
UFPB, envolvendo os programas de reorientação da
formação acadêmica para a área da saúde, objetivando
preparar melhor profissionais para o SUS. Este debate
ganhou força entre os estudantes do estágio em saúde
coletiva, no primeiro semestre do ano de 2009, o que
culminou com a proposição de que a Oficina de Atenção
Básica precisava alcançar os demais cursos de saúde da
UFPB, visto que todos enfrentam dificuldades para sua
inserção e atuação na AB.
Alguns autores, ao estudarem as mudanças ocorridas
pela implantação das DCN’s nos cursos de graduação
em Enfermagem, Medicina e Odontologia na UFRN,
apontam que o enfoque na saúde da família ocorre de
forma pontual, desfragmentada e descontextualizada nas
disciplinas do novo PPP dos cursos envolvidos na pesquisa. Observaram, ainda, diferenças teóricas na compreensão de conceitos fundamentais para a formação
do profissional de saúde. Concluem que os estudantes
dos cursos entrevistados encontram dificuldades em realizar atividades de promoção de saúde, desenvolvidas
nas Unidades de Saúde e em suas áreas de abrangência, diante de situações de complexas resoluções. Como
também vivenciam sentimentos de impotência, frustração e inutilidade por desconhecimento ou pela falta de
prática na aplicação dos princípios de integralidade e
intersetorialidade3.
Como foi dito anteriormente, iniciativas institucionais
e governamentais objetivam e estimulam as mudanças
na formação na área de saúde, e a UFPB se envolve
neste processo com o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde)
e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde
(PET-Saúde). Em 2008, a proposta integrada dos cursos
de Educação Física, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição foi
contemplada pelos recursos do Pró-Saúde II. O objetivo
do projeto é somar força ao Pró-Saúde I (dos cursos de
Enfermagem, Medicina e Odontologia) e desenvolver
um modelo referencial integrador entre a rede de serviço de saúde do município de João Pessoa e as práticas
docentes da UFPB, objetivando a transformação das realidades do serviço e do ensino, a partir da mudança do
processo de formação, numa perspectiva problematizadora, interdisciplinar e multiprofissional.
Diante do exposto, decidiu-se pela realização da Oficina Ampliada de Atenção Básica pelos acadêmicos da
disciplina Estágio II - “Saúde Coletiva”, do Curso de Fisioterapia desta Universidade, amparada e incluída nas
atividades propostas pelo Pró-Saúde II, uma vez que
possuía articulação entre todos os cursos da área de saúde e seu foco era a reorientação da formação. Este encontro realizou-se em novembro de 2009 e contou com
Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011 | 53
Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
cerca de 100 estudantes dos cursos da área de saúde,
com trabalhadores do serviço e com a gestão em saúde
da Secretaria Municipal de João Pessoa. Teve como sede
a Universidade Federal da Paraíba e aprofundou a discussão da temática central de Atenção Básica, adotando
o tema “(Re)construindo práticas e integrando saberes”.
A oferta de vagas para todos os cursos da área de
saúde foi uma das novidades da II Oficina Ampliada de
Atenção Básica. Tal iniciativa objetivou a integração entre estes futuros profissionais, que são atores importantes na Atenção Básica, promovendo o diálogo de forma
horizontal, já na formação acadêmica, e incorporando os
princípios da Atenção Básica no Brasil e o conceito ampliado de saúde. Essa oficina teve como objetivos proporcionar aos acadêmicos a ampliação do conhecimento
sobre a atuação na Atenção Básica desde a elaboração,
execução do processo de trabalho até a organização de
estratégias para solução de problemas encontrados nas
práticas das equipes de saúde da família; facultar aos estagiários o aprendizado na preparação de um evento que
permite o diálogo e a integração dos universitários sobre
o Sistema Único de Saúde (SUS), de forma mais abrangente e democrática; fortalecer a aproximação entre
Universidade e serviço e a possibilidade da construção
coletiva de um pensar/agir em saúde, de tal maneira, que
as ações possam ser pactuadas e valorizadas.
A terceira oficina foi motivada por interesses que perpassavam a experiência concreta no território sobre as
formas de organização das práticas dos serviços, que se
desenvolviam no âmbito da Atenção Básica. Dessa forma,
o investimento neste novo encontro assume características organizacionais semelhantes à anterior, pois quer
agregar ensino, serviço e gestão na arena de debates,
mas possui aspectos peculiares na medida em que pretende discutir temas presentes na Política Nacional de
Atenção Básica e em outras políticas a ela relacionadas.
Constata-se que as últimas décadas trazem uma série de reflexões, conjunturas e expectativas para toda
a população brasileira, principalmente se levarmos em
consideração o compromisso do governo em garantir
meios de promover saúde à sociedade. Um das estratégias de ampliação do acesso aos serviços de saúde no
Brasil é a Atenção Básica, que, segundo a Política Nacional de Atenção Básica4, caracteriza-se por um conjunto
de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que
abrangem a promoção e a proteção da saúde, a pre-
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venção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Apesar de se ter o
conceito de Atenção Básica, ainda existem muitas polêmicas e contestações sobre esse tema, principalmente
no que se refere às práticas dos trabalhadores que ainda
não estão inseridos na equipe mínima e que atualmente
aproximam-se da Atenção Básica através dos Núcleos
de Apóio à Saúde da Família - NASF.
Associando esta questão aos principais questionamentos que emergiram com a vivência de inserção em
equipes de saúde da família pelos estudantes no semestre 2010.1, percebeu-se a necessidade de uma discussão maior sobre este tema, sendo então realizada a III
Oficina Ampliada de Atenção Básica, em junho de 2010,
com o tema: “O trabalho vivo da Atenção Básica: do
acolhimento à significação”. O evento contou com 132
participantes, sendo eles: 93 estudantes da área de saúde da UFPB, 21 trabalhadores das equipes e da gestão
municipal e 8 docentes da UFPB.
A oficina abordou, quatro temas de mister importância para a Atenção Básica, contextualizados à realidade
local: apoio matricial; o papel dos profissionais no NASF;
acolhimento e acesso aos serviços de saúde e o trabalho
em equipe na UBS. Abaixo, alguns momentos do evento.
Cada grupo de trabalho (GT) teve como ponto de
partida um objetivo e uma questão problematizadora e
foi orientado a destacar as potencialidades e fragilidades
encontradas nas práticas relacionadas ao seu tema, apontando estratégias de superação para as mesmas. Com
base nessas orientações, os facilitadores desenvolveram
a metodologia de trabalho do seu GT. As contribuições
desta última oficina encontram-se sistematizadas nos parágrafos abaixo e atualmente estão servindo de parâmetro para reorientar ações do Pró-Saúde II.
GRUPO DE TRABALHO 1 – O APOIO
MATRICIAL
Conceito e contexto
A expressão apoio matricial é composta por dois
conceitos operadores. O primeiro termo sugere uma
maneira para operar a relação horizontal entre sujeitos
mediante a construção de várias linhas de transversalidade, aplicada ao sistema de saúde; sugere, ainda, uma
III Oficina de Atenção Básica da UFPB
ABERTURA DA III Oficina
GRUPO DE trabalho da III Oficina
Plenária Final da III Oficina
Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011 | 55
Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
Estudantes organizadores da III Oficina
metodologia para ordenar a relação entre referência e
especialista com base em procedimentos dialógicos e
não mais com base na autoridade5. O segundo deles indica uma mudança radical de posição do especialista em
relação ao profissional que demanda seu apoio. Na teoria de sistemas de saúde, em que se prevê uma diferença
de autoridade entre quem encaminha um caso e quem
o recebe, o nível primário dirige-se ao secundário e assim sucessivamente, havendo ainda uma transferência de
responsabilidade quando do encaminhamento6.
Desse modo, o apoio matricial se configura como
um suporte técnico especializado, que é ofertado a uma
equipe interdisciplinar de saúde, a fim de ampliar seu
campo de atuação e qualificar suas ações, podendo ser
realizado por profissionais de diversas áreas7. Trata-se
de uma metodologia de trabalho complementar àquela
prevista em sistemas hierarquizados, a exemplo dos de
conhecimentos como mecanismos de referência e contrarreferência, protocolos e centros de regulação8.
A estratégia do apoio matricial surge de modo a repensar a lógica do processo saúde/doença. Contribuindo
com a clinica ampliada, na qual se faz pensar a doença
não como ocupante do espaço principal na vida do sujeito e, sim, como aquilo que faz parte da mesma, produzindo , com isso, a construção de um modo de fazer
saúde centrado no sujeito e não mais na doença. O sujeito não pode ser reduzido a objeto, dado que o sujeito é
um ser biológico, social, subjetivo e histórico9.
O apoiador matricial é um especialista que tem um
núcleo de conhecimento e um perfil distinto dos demais
profissionais de referência, mas que pode agregar recur-
56 | Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011
sos de saber e contribuir com intervenções que aumentem a capacidade de resolver problemas de saúde da
equipe primariamente responsável pelo caso. O apoio
matricial procura construir e ativar espaço para comunicação ativa e para o compartilhamento de conhecimento
entre profissionais de referência e apoiadores8.
A Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa SMSJP adota o apoio matricial nas práticas de gestão
em saúde e as equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da
Família formam , implantadas também na perspectiva
do apoio matricial, algo que a SMSJP aponta como importante avanço pelo acompanhamento do cotidiano
das equipes e da participação do apoio nas atividades de
educação permanente.
Assim, a SMSJP continua apostando no apoio matricial
como elemento-base na construção da gestão em saúde
e articulação Serviço Especializado e Atenção Básica. No
entanto, questões como: quais as dificuldades e as possibilidades da organização do trabalho, na lógica do apoio
matricial, ainda se fazem presentes no cenário local e norteiam o objetivo do GT, que se constitui em analisar a prática técnico-gerencial do apoio matricial pela análise circunstanciada a partir da experiência de João Pessoa – PB.
A Oficina
A facilitadora, fisioterapeuta e Diretora do Distrito
Sanitário II / SMSJP iniciou as atividades do GT com uma
dinâmica de apresentação e, em seguida, deflagrou o debate realizando perguntas sobre o tema para que os participantes desenvolvessem suas idéias sobre o assunto, a
III Oficina de Atenção Básica da UFPB
saber: Qual a sua idéia sobre Apoio Matricial? Como se
dá o trabalho do Apoio Matricial? Quais as dificuldades e
as potencialidades da organização do trabalho na lógica
matricial? A metodologia utilizada foi bem válida, visto
que o debate fluiu livremente, despertando o interesse
do grupo com o decorrer dos questionamentos.
O Produto
Ao final do debate, os participantes conseguiram
identificar as potencialidades e fragilidades referentes ao
apoio matricial, construindo a partir dessas os encaminhamentos: (ver quadro 1)
de janeiro de 2008, propõem oferecer suporte de uma
equipe matricial vinculada às equipes de saúde da família
no sentido de ampliar o escopo de ações da Atenção Básica, contribuindo com a organização da demanda e interagindo com a população na busca de uma nova compreensão do processo saúde-doença. Os NASF trazem nas
suas diretrizes o conceito de pertencimento para atuar
nos territórios adscritos às equipes10.
Um NASF deve ser constituído por uma equipe, na
qual profissionais de diferentes áreas de conhecimento
atuam em conjunto com os profissionais das equipes
de Saúde da Família - SF, compartilhando e apoiando as
práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade
Quadro 1: Produto final do GT de apoio matricial
Potencialidades
Fragilidades
Encaminhamentos
Articulação da rede de serviços de saúde
com a Atenção Básica.
Condições de trabalho na ESF ainda são
precárias e inadequadas, tanto quanto à
infraestrutura das UBS’s quanto à formação e valorização de trabalhadores.
Articulação e atuação intersetoriais para efetivação
da rede assistencial de saúde, visando ações conjuntas com outras políticas públicas importantes
como educação, trabalho e renda, infraestrutura
urbana, etc.
Possibilidade de trabalho Multi/interdisciplinar, para garantir a atenção integral no
cuidado.
Especificidade na atuação, garantida através das ações de núcleo de saber de cada
trabalhador.
Reflexão e mudanças de práticas assistenciais, priorizando no usuário, uma atenção
integral, a equidade no atendimento e o
acesso facilitado.
Formação dos profissionais, fragmentada
e ainda orientada por parâmetros do
modelo biologicista e hospitalocêntrico.
Resistências e dificuldades do trabalho
em equipe, traduzidas pela assistência
hierarquizada (médico-centrada) e
fragmentada
Investir na formação profissional que valorize o SUS e seus princípios e na integração
ensino-serviço.
Aprofundar as discussões sobre o apoio matricial a
partir de diferentes matrizes teóricas.
Propor uma atuação do apoio matricial flexível,
suscetível e dinâmico de acordo com as necessidades do contexto onde está inserido.
Dificuldade de implantação do modelo de organização do apoio na lógica
matricial.
Fragilidade em lidar com conflitos e relações interpessoais entre trabalhadores
da ESF na ABS..
Conhecer as especificidades do território de
abrangência assistencial, como subsídio para o
apoio matricial.
Melhoria nas condições de trabalho (estrutura,
recursos, capacitação profissional) para possibilitar
uma atuação mais eficaz desse trabalhador.
Fonte: Relatório Final da III Oficina Ampliada de Atenção Básica/UFPB.
GRUPO DE TRABALHO 2 – NÚCLEO DE
APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA
Conceito e contexto
Os Núcleos de Apoio à Estratégia Saúde da Família
- NASF, criados pela Portaria Ministerial nº 154 de 28
dessas equipes. Tal composição deve ser definida pelos
próprios gestores municipais e as equipes de SF, mediante critérios de prioridades identificados a partir das necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de
cada uma das diferentes ocupações. O NASF não constitui porta de entrada do sistema para os usuários, lócus
ou estratégia de atendimento individual, de referência
Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011 | 57
Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
ou contrarreferência das equipes de saúde da família,
mas sim de apoio às equipes11.
De acordo com a Portaria 154, a definição dos profissionais que irão compor cada tipo de NASF é de responsabilidade do gestor municipal, seguindo, entretanto,
critérios de prioridade identificados a partir das necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de cada
uma das diferentes ocupações11.
A experiência junto ao NASF mostra-se relevante
tanto no que diz respeito à ampliação da assistência á
saúde das pessoas, como enquanto aprendizado para a
formação acadêmica de futuros profissionais, pois permite o contato próximo dos discentes com a diversidade
de demandas que atravessam a estrutura de serviços da
rede SUS.
A experiência do NASF em João Pessoa está baseada
na concepção de apoio matricial. Diferentes categorias
profissionais constituem as equipes do NASF, contudo
o trabalho dessas equipes tem- se concentrado mais na
dimensão gerencial do apoio do que na dimensão clínica.
O GT sobre o NASF teve então, como objetivo,
analisar as atividades realizadas pelos profissionais que
compõem efetivamente o NASF com o intuito de uma
atuação clínica e gerencial. Para tanto, foi proposta a seguinte questão problematizadora: “Como se configura o
NASF, tomando como referência as atividades desenvolvidas com vistas a um processo de trabalho que alinhe o
gerenciamento e clínica ampliada?”.
A Oficina
Essa oficina teve como facilitadora uma apoiadora matricial do Distrito Sanitário II / SMSJP e tutora da residência multiprofissional em saúde da família e comunidade
– UFPB/SMSJP. O primeiro turno da oficina teve início
com uma dinâmica de apresentação dos participantes
intitulada: batizado mineiro, na qual cada participante se
apresentava e realizava um gesto correspondente a uma
atividade que gosta de fazer, e em seguida as outras pessoas repetiam o nome e o gesto realizado.
Posteriormente, a facilitadora, no intuito de apreender as principais demandas trazidas pelos participantes,
propôs que cada um deles escrevesse em um papel sua
compreensão sobre o tema NASF e/ou o que desejava
saber. Os papéis foram colocados em uma bolsa e misturados, para que cada um dos presentes os retirasse
aleatoriamente para posterior leitura. À medida que os
participantes liam o que estava disposto em cada papel,
a facilitadora anotava os principais pontos, os quais serviriam como subsídio para a discussão.
Quadro 2: Produto final do GT de NASF
Potencialidades
Fragilidades
Encaminhamentos
Capacidade de deslocar os profissionais
da lógica curativista e os inserir em outras
formas de produção de cuidado.
Carência de disciplinas na graduação, em alguns
cursos, direcionadas para abordagem de temáticas referentes ao campo da Atenção Básica, o
que muitas vezes só é possível mediante a participação dos alunos em projetos de extensão.
Ampliação da discussão sobre NASF, assim
como sobre o SUS, na universidade.
O NASF engloba o conceito de apoio
matricial em sua atuação, evidenciando,
assim, ações assistenciais e de gestão, fato
que vem a colaborar com seu perfil de
programa inovador.
Possibilidade de unir práticas alternativas
ao processo de trabalho convencional
desenvolvido pelas equipes de saúde da
família.
Realização de discussões entre equipes de
saúde da família - apoiadores e apoiadores – Distrito, utilizando o foco gestão no
intuito de pensar estratégias de acompanhamento de famílias.
Escassez de investimento em pesquisas com
o objetivo de avaliar a efetividade das ações
desenvolvidas pelo NASF para que este possa
ser validado como estratégia.
Heterogeneidade vinculada à prática dos NASF
nas diferentes cidades.
Falta de continuidade das políticas públicas com
as mudanças de governo.
Fonte: Relatório final da III Oficina Ampliada de Atenção Básica/UFPB.
58 | Caderno FNEPAS • Volume 1 • Dezembro 2011
Implementar conteúdos e práticas na
graduação sobre Atenção Básica (NASF,
apoio matricial, noções de financiamento
do SUS).
Importância da realização de pesquisas que
mostrem a efetividade do programa NASF.
Garantir que, nas unidades inseridas
na rede escola, haja apresentação dos
serviços (distrito sanitário) e maior
aproximação entre apoiadores matriciais e
estudantes.
III Oficina de Atenção Básica da UFPB
Finalizada a leitura, deu-se início à abordagem propriamente dita do tema NASF. Foi apresentada uma
breve retrospectiva histórica da implementação das bases teóricas do SUS até chegar ao modelo de atuação
proposto pelo NASF. Foi uma apresentação informal,
aberta, para que todos os participantes pudessem contribuir ou fazer questionamentos. No turno da tarde a
discussão foi retomada, os participantes juntamente com
a facilitadora e os relatores do grupo uniram-se para a
elaboração do produto do trabalho, com destaque para
os encaminhamentos a serem expostos na plenária final.
Para encerrar o trabalho desse grupo, procedeu-se a
uma avaliação das atividades do mesmo.
O Produto
O quadro 2 o produto das discussões sobre as fragilidades, potencialidades e encaminhamentos no GT do
NASF.
GRUPO DE TRABALHO 3
– O ACOLHIMENTO
Conceito e contexto
O acolhimento é uma ação implantada em alguns
municípios, visando ao alcance do objetivo de oferecer
serviços de saúde a partir de critérios técnicos, éticos e
humanísticos. Acolher, no contexto dos serviços de saúde, é receber bem, ouvir a demanda, buscar formas de
compreendê-la e solidarizar-se com ela. Deve ser realizado por toda a equipe de saúde, em toda relação que
envolve o profissional de saúde e a pessoa em cuidado12.
O acolhimento foi incluído como elemento inicial do
processo de trabalho em saúde centrado em tecnologias
leves, as quais se referem ao cuidado no seu sentido mais
amplo, não exigindo conhecimentos profissionais específicos. Isso difere da organização atual dos serviços de
saúde, centrada nas tecnologias duras, intrinsecamente
dependentes de equipamentos e nas leve-duras, caracterizadas pelo domínio de um núcleo específico de conhecimentos, como a consulta médica ou de enfermagem13.
O termo “acesso” envolve uma variedade de facilitadores e barreiras para o acesso aos recursos buscados pelas
pessoas. Fatores socioeconômicos e demográficos foram
considerados determinantes principais na busca e utilização dos serviços de saúde, mediados por categorias secundárias, incluindo a família, o apoio social, as necessidades
em saúde e as características dos serviços disponíveis14.
As análises e as alternativas de soluções para o problema de acesso, em bases estritamente quantitativas,
como número de atendimentos e rendimento profissional, deslocam-se para tendências que buscam qualificá-lo
no ato da recepção do usuário. A questão não se restringe a quantas portas de entrada estão disponíveis,
mas, sobretudo, a sua qualidade15. O acolhimento tem
se efetivado como uma atividade, com hora e objetivo
específico a ser alcançado – garantir o acesso dos usuários – a ser realizado por determinados profissionais, a
depender do serviço, em local específico para esse fim,
o que exprime a noção reduzida do acolhimento como
forma de organizar a oferta dos serviços16. Nessa concepção, o acolhimento torna-se mais um instrumento de
modificação no critério de marcação de consulta.
Tais constatações levam à reflexão de que o acolhimento precisa ser considerado um instrumento de trabalho que incorpore as relações humanas, apropriado por
todos os profissionais em saúde, em todos os setores, em
cada seqüência de atos e modos que compõem o processo de trabalho, não se limitando ao ato de receber17.
A incorporação pela Estratégia Saúde da Família de novas
formas de organizar o trabalho em saúde é uma maneira
de efetivar uma das proposições que a definem, além de
uma necessidade para sua concretização como estratégia
que visa reorganizar o SUS a partir da Atenção Básica.
Assim, o acolhimento pode ser compreendido como
uma forma de organização do trabalho em saúde e, também, como uma atitude desejável no fazer de todos os
profissionais da saúde, especialmente na Atenção Básica.
O acolhimento vem sendo implantado pela gestão de
saúde em João Pessoa nas Unidades de Saúde da Família,
de forma gradual. O processo de implantação tem início
com oficinas e reuniões para dar um suporte teórico à
proposta e buscar sensibilizar as equipes quanto à sua
validade, como dispositivo capaz de qualificar a assistência. Algumas equipes estão em fase avançada do processo de implantação, enquanto outras estão em discussão
para iniciar a implantação.
O GT sobre acolhimento teve como objetivo avaliar
experiências de implantação do acolhimento em João
Pessoa, destacando os avanços e os retrocessos. A ques-
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Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
tão indicada para problematizar a temática foi “Como
integrar a prática do acolhimento à oferta de serviços
visando à ação interdisciplinar?”
GRUPO DE TRABALHO 4 – O TRABALHO
EM EQUIPE NAS ESF’
A Oficina
Conceito e contexto
O grupo de trabalho foi facilitado por uma docente do
Curso de Serviço Social da UFPB e desenvolvido em dois
momentos. Primeiro foi realizada uma apresentação de
slides, embasando o tema. No segundo momento, foi
formada uma roda de discussão, tentando listar as potencialidades, os enfrentamentos e os encaminhamentos.
O sistema de saúde pública brasileiro enfatiza o trabalho em equipe, na medida em que estabelece a criação de núcleos multiprofissionais de atuação integrada
como fundamental para o desenvolvimento do trabalho
no Programa Saúde da Família18. No Programa Saúde da
Família, a unidade produtora dos serviços de saúde não
é um profissional isoladamente, mas sim uma equipe; e
o foco central da atenção não é o indivíduo exclusivamente, mas a família e seu contexto. As intervenções
necessárias à saúde devem considerar as determinações biopsicossociais da saúde-doença e o cuidado na
autonomia e na responsabilização dos profissionais perante os usuários, famílias e comunidade. Desse modo,
a assistência à saúde passa a ter a característica cen-
O Produto
O resultado das discussões desse GT está apresentado no quadro a seguir. No que diz respeito às fragilidades
do acolhimento, elas foram pontuadas sob dois critérios:
a formação dos trabalhadores para implantar esse dispositivo e a estrutura dos serviços. (ver quadro 3)
Quadro 3: Produto final do GT de acolhimento
Potencialidades
Garantia de equidade na oferta de serviços.
Estimulo às mudanças das estruturas curriculares dos cursos de graduação.
Disposição política dos trabalhadores em
implementar a política nas USF’s.
Ampliação da relação ensino-serviço.
Melhor atendimento, cuidado e acesso ao
usuário.
Valorização e construção de vínculo com o
usuário.
Responsabilização dos trabalhadores com os
usuários.
Fragilidades
Pouca compreensão dos trabalhadores,
usuários e gestores sobre a Política de
Humanização.
Pouca adequação na metodologia empregada para apropriação da política pelos
trabalhadores.
Insuficiência de momentos de capacitação
acerca da humanização e processo de
trabalho.
Condições de trabalho incompatíveis
com a implementação da estratégia de
acolhimento.
Emponderamento da equipe e do usuário.
Dificuldades na mediação com a rede
intersetorial
Insumos incompatíveis com a estratégia de
acolhimento (falta de ambiência).
Articulação dos saberes no cuidado do
usuário.
Falta de diálogo entre referência e
contrarreferência.
Fragilidade na discussão sobre o processo de
trabalho (as discussões são unilaterais).
Fonte: Relatório Final da III Oficina Ampliada de Atenção Básica/UFPB.
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Encaminhamentos
A realização de oficinas semelhantes a essa no
contexto do serviço.
Realizar um processo de avaliação, mapeamento e monitorização das experiências de
acolhimento.
Criação de espaços de troca entre as experiências supracitadas.
Socialização das pesquisas envolvendo processo
de humanização e acolhimento.
Melhoria de funcionamento das Unidades
de Saúde (Atenção Básica, Média e Alta
Complexidade).
Fortalecer e melhorar o sistema de referência e
contrarreferência
Fortalecimento da articulação da rede
intersetorial.
Estímulo à participação popular, buscando identificar qual padrão de acolhimento a população
deseja.
III Oficina de Atenção Básica da UFPB
tral de um trabalho coletivo, complexo e que busca a
interdisciplinaridade19.
O trabalho em equipe consiste em uma modalidade
de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos agentes. Há duas modalidades de equipe: equipe integração e
equipe agrupamento, e os critérios de reconhecimento
dos tipos de equipe dizem respeito à comunicação entre os agentes do trabalho; diferenças técnicas e desigual
valoração social dos trabalhos especializados; formulação de um projeto assistencial comum; especificidade de
cada área profissional; e flexibilidade da divisão do trabalho e autonomia técnica20.
O trabalho em equipe deve envolver uma atuação multiprofissional, na qual cada um dos agentes tem definidas
as suas atribuições e sua base de atuação, seja no ambiente da UBS, seja na comunidade, seja, ainda, junto aos demais profissionais da equipe. A articulação entre as ações
e a interação entre os profissionais é essencial à configuração do trabalho em equipe. Essa forma de produzir saúde – a articulação de profissionais – é considerada como
uma estratégia básica na atenção à saúde no SUS, uma vez
que surge como um meio de transformar a produção e a
distribuição dos serviços de assistência à população com
vistas à reorganização das práticas de saúde21.
Sendo assim, o atendimento oferecido por uma UFS
deve ser multiprofissional e interdisciplinar, ou seja, no trabalho em equipe cada profissional é instigado a participar
coletivamente, para que haja resultado mediante a contribuição de cada profissão. Na realidade de João Pessoa,
esta característica é marcante e presente no cotidiano das
equipes de saúde da família e das atividades de ensino desenvolvidas na rede, uma vez que o apoio matricial, NASF
e o acolhimento dependem da articulação dos diversos
saberes dos profissionais que produzem o cuidado.
Neste contexto, o GT de trabalho em equipe nas
USF’s teve como objetivo rastrear os elementos que
fragilizam e potencializam o trabalho vivo nas equipes de
saúde da família, partindo da seguinte problematização:
como se configura o trabalho vivo dos profissionais de
saúde nas ESF’s?
A Oficina
A metodologia utilizada pelo facilitador do GT (um
docente do Departamento de Promoção da Saúde/
CCM/UFPB) foi a da construção do pensamento coletivo, através da organização das idéias em tarjetas, facilitando assim a visualização. A elaboração das idéias
era feita através de questionamentos que instigavam a
reflexão critica do grupo. Antes de chegar à discussão
do trabalho em grupo, foram discutidos alguns conceitos
como o de trabalho, o trabalho vivo e a importância do
trabalho em equipe.
O Produto
O produto final da construção do pensamento coletivo sobre o trabalho em equipe pode ser visualizado no
quadro 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização das oficinas de Atenção Básica tem revelado a necessidade de refletir e avaliar as práticas de
saúde, buscando superar as dificuldades. A ampliação da
oficina para os demais cursos da saúde revela a potencialidade do debate envolvendo todos os atores atuantes na
rede de serviços, garantindo a presença de trabalhadores, gestores, docentes e discentes, possibilitando identificar as possibilidades e os nós críticos na integração
ensino-serviço.
O produto dos grupos de trabalho expõe questões
relativas ao serviço, à gestão e ao ensino. No tocante ao
serviço, destacam-se questões referentes ao processo
de trabalho das equipes, tais como, a importância da responsabilização dos trabalhadores pelos usuários, a potencialidade do acolhimento para estreitar os vínculos, as
dificuldades de relacionamento interpessoal inerentes ao
trabalho em equipe. Em relação à gestão, são apontadas
questões, tanto no âmbito da política em nível nacional,
a exemplo da falta de continuidade nas ações de saúde decorrentes das mudanças de gestores, quanto nas
questões referentes à estrutura dos serviços de saúde e
à política salarial.
Muitas questões indicadas como dificuldades, mas que
também foram apontadas como encaminhamento para
a superação dos problemas, dizem respeito ao ensino.
A perspectiva de que as mudanças na formação podem
refletir mudanças significativas e profundas na prática
profissional esteve bem presente no trabalho dos grupos. Destacam-se, nessa dimensão, a insuficiência da
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Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro et al
Quadro 4: Produto final do GT de trabalho em equipe nas USF’s
Potencialidades
Fragilidades
Contribuição de cada especialidade, na construção da atenção integral.
Trabalhos isolados, fragmentados e pouco
resolutivos.
Abordagem no contexto biopsicossocial
que considera a visão ampliada do processo
saúde- doença.
Não saber lidar com as diferenças pessoais
e coletivas que interferem no trabalho em
equipe.
Complementaridade das ações assistenciais na
diversidade profissional.
Resistência à entrada de novos parceiros na
equipe.
Diversidade de possibilidades de interfaces
assistenciais.
Aprender com o saber do outro profissional.
Trabalho profissional isolado nas ações
assistenciais.
Encaminhamentos
Estimular o trabalho em equipe durante
a formação acadêmica, na perspectiva de
reorientar o perfil profissional para este
trabalho.
Criar momentos de vivências interpessoais
nas equipes para potencializar o trabalho
integrado.
Incentivar ações assistenciais integradas e em
grupo.
Troca de saberes nas ações multiprofissionais
e interdisciplinares em equipe.
Falta de comunicação entre a equipe.
Compreensão sobre ações coletivas multiprofissionais e interdisciplinares.
Possibilidades de programar ações multiprofissionais e interdisciplinares coletivas.
Interesses distintos dentro das equipes de
trabalho na ação assistencial.
Construir experiências sobre currículos
integrados no espaço da formação.
Lidar com as limitações pessoais e com as
dos outros.
Condições de trabalho precárias, além de
excesso e diversidade de atribuições.
Uso inadequado do espaço geofísico e
funcional para planejamento das ações de
equipe.
Excesso de demandas assistenciais e de alta
complexidade.
Falta de base na formação profissional, para
trabalho em equipe.
Fonte: Relatório Final da III Oficina Ampliada de Atenção Básica/UFPB.
experiência acadêmica na Atenção Básica, a necessidade
de vivência interdisciplinar na formação, a realização de
pesquisas que possam contribuir para avaliar políticas de
saúde, a exemplo da proposta do NASF, bem como o
trabalho na Atenção Básica.
Cabe-nos, ainda, agradecer a todos os estudantes
que vêm se comprometendo com as mudanças na formação e assumem, de forma brilhante, a responsabilidade de organizar as oficinas e elaborar os relatórios
finais. Registramos também a contribuição de todos os
trabalhadores das equipes saúde da família e da gestão
municipal de João Pessoa nas atividades de ensino desenvolvidas pela UFPB. Enfim, conforme proclamado
na língua crioula por um estudante “caboverdeano” no
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encerramento da III oficina, “Ki Deus ta djuda nhôs!”
(Que Deus vos ajude!), na luta pela construção de um
sistema de saúde universal, equanime e integral, com
trabalhadores e gestores compromissados com a população brasileira.
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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Dra. Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro
Laboratório de Estudos e Práticas em Saúde Coletiva
– CCS- Depto. Fisioterapia
Campus I - Cidade Universitária - João Pessoa
CEP - 58059-900 PB
E-mail: [email protected]
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