FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA ATUAR COM SAÚDE/DOENÇA NA
ESCOLA
NONOSE, Eliana Roldão dos Santos - UNIPAR/UNESP
[email protected]
BRAGA, Tânia Moron Saes - UNESP
[email protected]
Área Temática: Formação de Professores
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O professor tem participação importante na saúde escolar. Além de desenvolver em seus
alunos hábitos e atitudes de promoção à saúde previstos nos conteúdos curriculares,
desempenha o papel de observar, orientar e providenciar encaminhamentos de problemas
relativos a saúde identificados em sala de aula. A adoção dessa prática na escola, por
professores e diretores, permitirá reflexões e aprimoramentos nos modos do fazer educação
em saúde. Saúde e doença são temas tradicionais do ensino formal. Na prática, o professor
assume papel de educador em saúde ao desenvolver com seus alunos o conteúdo curricular ou
ao atender as situações concretas do cotidiano escolar: projetos, campanhas, ocorrência de
casos de doença, epidemias, necessidades emergentes dos alunos e da coletividade em que a
escola está inserida. A partir da reflexão sobre a preparação dos professores para trabalhar o
tema saúde no ambiente escolar, buscou-se investigar como estes professores lidam com a
doença. Assim, este estudo tem como objetivo identificar como professores de alunos com
doenças crônicas estão enfrentando este desafio educacional. Para tanto, foi realizada uma
entrevista semi-estruturada com professores de alunos com doença crônica. São participantes
12 professores de escolas municipais e estaduais de um município do noroeste do Paraná. Os
dados encontrados indicam que oito professores (66,7%) afirmam que seus alunos necessitam
de cuidados especiais e os outros quatro (33,3 %) disseram não perceberem necessidades.
Dentre as necessidades mais citadas as mais comuns referem-se a cuidados quanto ao uso de
medicamentos contínuos pelos alunos, com cinco respostas (41,7%), e a necessidade de uma
metodologia diferenciada com quatro (33,3%). Mesmo considerando o número reduzido da
amostra os dados oferecem indicativos da ocorrência da necessidade de investimentos na
formação profissional e na articulação da escola com os serviços de saúde para que se
concretize uma educação eqüitativa.
Palavras-chave: Educação em saúde; Saúde escolar; Doença crônica; Formação profissional.
Introdução
Durante a infância, época decisiva na construção de hábitos, atitudes e
comportamentos, a escola assume um papel importante por seu potencial para o
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desenvolvimento de um trabalho sistematizado e contínuo. Os valores que se expressam na
escola em seus diferentes aspectos geralmente são apreendidos pelas crianças na sua vivência
diária (FERNANDES, ROCHA & SOUZA, 2005).
A escola, dentro de uma perspectiva educativa que se integra a outros setores na busca
de transformação social, pode ser uma aliada da saúde e vice-versa. Alianças podem ser
estabelecidas para o complexo empreendimento de fazer com que crianças e adolescentes se
transformem em sujeitos de sua saúde, deixando de ser sujeitos da doença. Com essa
instituição, o setor da saúde pode ter suas ações ampliadas no espaço, trabalhando famílias e
vizinhanças e, no tempo, participando da educação de futuros cidadãos. Esse argumento,
dentre outros, faz com que a busca de uma escola para todos seja uma luta da saúde
(FERRIANI, 1997).
A maior responsabilidade do processo de educação em saúde, segundo Focesi (1990) é
a do professor, cabendo a este colaborar para o desenvolvimento do pensamento crítico do
escolar, além de contribuir para que as crianças adotem comportamentos favoráveis à saúde.
Os docentes da educação fundamental desempenham um importante papel nesse contexto, por
estarem atuando diretamente com crianças em processo de formação intelectual e
desenvolvimento de condutas.
A escola pode ser considerada como o espaço adequado para a educação em saúde e, a
possibilidade de discutir o tema saúde dentro dela sempre esteve presente. Com a estruturação
dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1997,
a temática saúde foi destacada como um tema transversal, que deveria ser trabalhado, dentro
das possibilidades, por todas as disciplinas curriculares, não necessitando de formação
especializada. A formação especializada não se faz necessária devido ao tema estar presente
no cotidiano das pessoas e de fácil acesso.
Apesar das normas existentes, o professor em suas práticas diárias não vem cumprindo
de maneira eficaz o que está previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o que
pode atribuir ao processo de formação docente.
Alguns trabalhos já foram realizados com o objetivo de se identificar a formação do
professor, seja ao nível de magistério e/ou graduação, para a área da saúde. Dentre os
encontrados, no de Fernandes, Rocha & Souza (2005) quando os professores foram
questionados sobre a abordagem do tema saúde em sua formação para docência, 77,7% deles
responderam que estudaram conteúdos sobre saúde; outros 22,2% responderam não terem
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recebido nenhum tipo de informação. Dos que estudaram 65,71% acharam satisfatório o
estudo e 26,64% não o consideraram satisfatório. Destes últimos, 50% argumentaram que as
informações eram trabalhadas de maneira superficial, justificando assim suas respostas.
Quando os participantes do mesmo estudo foram questionados sobre sua preparação
para trabalhar com o tema transversal saúde dentro do ambiente escolar, 60% responderam
que se sentiam preparados e 40% que não se sentiam prontos para o desenvolvimento desses
conteúdos. Dentre as justificativas estão a falta do conhecimento mais profundo sobre a saúde
(68,38%), falta de material didático adequado (27,27%). Esses achados chamam atenção para
a necessidade de um bom processo de formação para a docência e de capacitações que
envolvam temáticas de saúde.
A necessidade de capacitação de professores foi identificada também no estudo de
Corrêa e Braga (2003) que visava investigar ações educativas voltadas à sexualidade em
escola pública. As autoras verificaram que os assuntos relativos ao tema ocorriam em
matérias específicas e vinculados a atributos do professor, sendo realizada de maneira
assistemática e descontínua distante das proposições dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
As considerações dos professores e dos alunos sobre as formas de abordar os assuntos
sugerem que o uso de estratégias é um item a ser contemplado nos programas de capacitação.
Para Focesi (1990), as formas pedagógicas devem ser repensadas na busca de uma
maior e melhor capacitação ao enfocar-se a temática de saúde. Acrescentando-se aos trabalhos
já citados, Misrachi et al (1994) advogam a adoção de outras metodologias no processo de
capacitação dos docentes, no que se refere à temática da saúde.
A “Saúde do Escolar” coloca-se como um desafio por tratar-se segundo Conceição
(1994) como um conjunto de diversas ações que devem envolver tanto os profissionais da
área da saúde como os da educação, com o objetivo de promover, proteger e recuperar a saúde
das coletividades integrantes do sistema educacional.
É possível verificar na literatura que a escola é considerada, por um lado, o lócus para
desenvolver os temas de saúde ao mesmo tempo estes são reconhecidos nas propostas
curriculares, e, por outro constata o despreparo da mesma, a falta de responsabilidade pela
prática de saúde em seus ambientes que geralmente reproduz o paradigma assistencialista,
priorizando o indivíduo e a doença, em detrimento da coletividade e da prevenção.
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Essas constatações acima mencionadas envolvendo dificuldades no ensino da saúde e
na compreensão da saúde/doença como um continuum, despertam o interesse para investigar
como tem sido tratada a doença no âmago da escola.
Segundo Feldman (1980 apud SHIU, 2004) os papéis dos professores e dos colegas de
sala de aula são talvez fatores até mais importantes, que determinam a permanência da criança
com doença crônica na escola, do que o seu estado de saúde e os efeitos do tratamento.
Freqüência escolar para a criança que desenvolveu uma condição crônica de saúde pode ser
tão crítico para sobrevivência social-emocional como o tratamento médico é para a
sobrevivência física. A escola pode representar o único lugar onde o estudante cronicamente
doente pode ser visto como uma criança e estudante em lugar de um paciente.
Neste trabalho será abordada a questão da Saúde inserida na escola com base em uma
pesquisa realizada sobre as necessidades dos alunos com doenças crônicas e dessa forma
refletir as formas de preparação dos professores para o trabalho com a temática saúde no
ambiente escolar. Assim este estudo tem como objetivo identificar como professores de
alunos com doenças crônicas estão enfrentando este desafio educacional.
Métodos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que buscou compreender os significados e as
características situacionais apresentadas pelos professores.
Aspectos éticos
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram obedecidos os preceitos éticos constantes
da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que contempla as Diretrizes e
Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos. Sendo assim, a realização
da mesma somente se deu após a submissão e aprovação do projeto de pesquisa ao
Departamento Municipal de Educação do município em estudo, bem como ao Comitê de
Ética da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP/Marília, parecer nº 3.244/2007 e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos participantes da pesquisa,
assegurando sigilo, anonimato e liberdade de desistência de participação em qualquer
momento.
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Local
A pesquisa foi realizada nas escolas municipais e estaduais de um município
localizado no Noroeste do Paraná, sendo destas três municipais e três estaduais, totalizando
860 alunos no município, dos quais 516 (60%) são portadores de alguma condição crônica de
saúde.
Participantes
Participaram da pesquisa um total de doze professores, sendo seis do ensino
fundamental e seis professores do ensino médio. O critério utilizado para a seleção foi a
participação do professor que tinha em sua sala de aula algum aluno com condições crônicas,
tais como: diabetes, hipertensão arterial, anemia, bronquite/asma, doença no coração,
infecções no ouvido freqüentes, dificuldades de ouvir, entre outras.
Materiais e instrumentos
Utilizou-se para a entrevista um roteiro pré-elaborado com perguntas abertas e
fechadas.
Procedimentos
A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista semi-estruturada realizada
individualmente com os professores que aceitaram participar da pesquisa. Estas foram
gravadas e transcritas.
Os dados foram coletados pela pesquisadora no período de abril, maio e junho de 2008
nos locais pré-determinados pelos participantes que após terem sido orientadas e informadas
quanto aos critérios norteadores do estudo e seus objetivos, aceitaram participar do mesmo e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os registros das entrevistas foram submetidos a uma análise temática na qual as
freqüências das unidades de significação definem os valores de referências e os tipos de
comportamentos presentes no discurso dos participantes com relação à saúde do escolar.
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Todas as repostas foram listadas e organizadas em categorias e, quando necessário, em
subcategorias. Na definição operacional das categorias levou-se em consideração a forma e o
conteúdo das respostas, e posteriormente verificou-se a freqüência relativa das aparições das
palavras e dos temas selecionados, podendo uma resposta ser enquadrada em mais de uma
categoria.
Resultados
Os resultados serão apresentados destacando-se: caracterização dos participantes; a
informação que os professores tinham sobre a condição crônica do aluno e das necessidades
de cuidados especiais no ambiente escolar; as dificuldades por eles encontradas e estratégias
utilizadas e sugestões que estes ofereceram para contribuir com o desenvolvimento do
escolar.
Caracterização dos participantes
Dos 12 professores que participaram do estudo somente um (8,3%) é do sexo
masculino. A faixa etária de maior prevalência entre os docentes foi a de “acima de quarenta
anos”, com seis professores (50%), seguida de “35 a 40 anos”, com três professores (25%) e
“29 a 34 anos”, também com três professores (25%), corroborando com estudos de Fernandes,
Rocha e Souza (2005).
De uma maneira geral, as características da amostra deste trabalho se assemelham as
citadas em Espósito et al (1998) e Fernandes, Rocha e Souza (2005) em que a maioria dos
entrevistados eram do sexo feminino e se concentravam na faixa etária entre 35-45 anos.
Sobre a formação acadêmica dos participantes, observou-se que todos (100%), têm o
terceiro grau completo.
Informação sobre a condição crônica do aluno e das necessidades de cuidados especiais no
contexto escolar
Quando questionados se haviam sido informados da condição de saúde de algum aluno
de sua sala de aula, sete professores (58,3%) responderam que não tinham sido informados e
cinco (41,7 %) afirmaram terem conhecimento da presença de alunos com problemas crônicos
de saúde em sua sala de aula.
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Na seqüência, quando questionados sobre a necessidade de cuidados especiais desses
alunos, quatro (33,3%) informaram que não identificavam necessidades enquanto que para
oito (66,7%) responderam afirmativamente. Quando foram solicitados a descrever que tipos
de cuidados os alunos com doenças crônicas requisitavam, pode-se observar como mostra o
quadro 1 que na análise das respostas os cuidados relatados referiam-se ao aluno, a família e a
escola e ao serviços de saúde .
Quadro 1. Relatos dos professores sobre os cuidados necessários ao aluno com doença crônica
Envolvidos no cuidado
do aluno com doença
crônica
Aluno
Família (pais)
Escola (professores)
Serviço de saúde
Tipos de cuidados necessários
Medicação;
Bem estar no ambiente escolar;
Socialização;
Metodologia diferenciada.
Orientações sobre os atendimentos em saúde (para não perder consultas);
Diálogo permanente.
Informações: esclarecimentos sobre a doença e sobre a forma de palestras;
Menor número de alunos na sala de aula.
Acesso ao serviço;
Agilidade para obtenção do atendimento e para os retornos periódicos.
Pode-se verificar que entre as respostas mais comuns sobre os alunos referem-se a
cuidados quanto ao uso de medicamentos contínuos pelos alunos, com cinco respostas
(41,7%), e a necessidade de uma metodologia diferenciada com quatro (33,3%); de ter maior
facilidade no acesso aos serviços de saúde e apoio de equipe multidisciplinar com três (25%)
cada uma; necessidade de diálogo permanente com a família e sala de recurso com duas
(16,7%); ter profissional habilitado, palestras para professores sobre a doença e socialização e
bem-estar no ambiente escolar com uma (8,33%) resposta cada uma.
Dificuldades encontradas e estratégias utilizadas
Outro questionamento foi referente às dificuldades encontradas pelos professores
quanto à inclusão do aluno. Apenas quatro professores afirmaram algum tipo de dificuldade.
Aqueles que passaram por dificuldades citaram a falta de preparação e/ou orientação dos
professores em lidar com estas situações específicas e garantir a aprendizagem.
Sim, a dificuldade maior foi a falta de preparação ou orientação para desenvolver
uma metodologia que se adapte às necessidades do aluno. Sendo que esta preparação
nunca foi oferecida pelo Estado aos professores e as salas estão super lotadas (P6).
3663
Sim, a principal dificuldade é conseguir colocar esses alunos no mesmo ritmo do
restante da turma, pois, além dessas doenças vem a questão social e familiar que
contribui para o péssimo comportamento e a desvinculação dos mesmos na vida e
vivência escolar (p. 11).
É interessante notar que ao se investigar as estratégias já utilizadas na superação da
dificuldade com o aluno com doença crônica nota-se o relato do encaminhamento ao serviço
de saúde e as tentativas de garantir maior atenção à vida social do aluno como podem ser
observados nos relatos dos professores a seguir:
A estratégia utilizada foi auxiliá-la em algumas situações de crise, encaminhando-a
ao posto de saúde local. E ter muito cuidado quanto a abordagem com esses alunos,
cuidando para que os mesmos consigam adquirir aprendizagem mesmo estando
doente (P1).
A solução encontrada é dar total atenção, participar e procurar estar sempre atento à
vida social desse aluno, mas, muitas vezes as tentativas são em vão, pois o professor
não consegue êxito apesar de tentar várias estratégias (P11).
Sugestões para contribuir com o desenvolvimento do escolar
Quando foram solicitados a dar sugestões para contribuir com o desenvolvimento do
escolar com doença crônica, obtivemos dos doze professores participantes, sete sugestões
diferenciadas destacando-se:
a) Necessidade de mais atendimento psicológico, citadas por seis professores:
Que houvesse na escola um psicólogo que pudesse ajudar ao professor e equipe
pedagógica bem como ao aluno para que houvesse uma maior integração e
aprendizado do aluno (P6).
Apoio psicológico para professores e alunos (P12).
b) Apoio familiar sugerido por quatro professores:
O escolar com doença crônica necessita de apoio familiar em todos os sentidos (P1).
3664
Trabalhar a família em primeiro lugar (P4).
c) A necessidade dos professores serem informados da condição crônica dos seus
alunos mencionada por três professores corroborando com dados de Shiu (2001).
Acredito que os professores precisam saber dessa doença para poder ajudá-los se
necessário (P1).
Que os pais avisassem sobre a doença (P3).
d) Preparação do professor para lidar com esses alunos, citadas por três professores:
A escola precisa ter conhecimento e também deve ter noção de como agir em
situações de perigo e urgência com esses alunos com doenças crônicas (P1).
Que os professores tivessem preparação (P6).
Capacitação em como tratar esse educando (P12).
e) Apoio da equipe pedagógica sugerida por um professor:
As dificuldades são muitas, mas o apoio é mínimo tanto do corpo docente como dos
profissionais da equipe pedagógica (P11).
f) Necessidade de apoio governamental, citadas por dois professores:
Apoio governamental, financeiro para a escola estar se organizando (P7).
g) Profissionalização do aluno mencionada por um professor:
Trabalhar com a família, um lugar onde eles possam aprender alguma profissão
(P9).
3665
Discussão
Esses achados chamam atenção para a formação do docente e de capacitações que
envolvam temáticas de saúde. Alguns autores retratam questões que evidenciam tal
preocupação, como Ferriani e Ubeda (1998), que evidenciaram as dificuldades dos
professores ao depararem com problemas de saúde de seus alunos, quando geralmente
recorrem aos profissionais dessa área. Oliveira (1997) ressalta que os docentes geralmente não
conhecem as características do desenvolvimento dos escolares, o que pode dificultar o
trabalho de questões ligadas à saúde.
Os problemas decorrentes da vida em sociedade impõem às organizações sociais o
desenvolvimento de atividades ligadas à saúde da população e o estabelecimento de regras
para modelar comportamentos que podem resultar em riscos e danos à saúde da coletividade.
Embora a escola represente um setor muito pequeno em termos de tempo, visto que o aluno
passa em média cinco horas diárias dentro da escola, no mundo moderno suas
responsabilidades estão cada vez mais se ampliando.
Cada dia novas responsabilidades vem sendo passadas para a escola por falta de tempo
dos pais ou mesmo por falta de conhecimento e esclarecimento sobre diversos assuntos. As
questões de saúde estão se tornando cada vez mais necessárias de serem discutidas no
ambiente escolar. Os professores devem ser preparados para discutir questões de saúde,
higiene, alimentação de maneira crítica e contextualizada, vinculando saúde às condições de
vida e direitos do cidadão. Desenvolver o senso crítico, formar o cidadão de amanhã é tarefa
da educação, sem dúvida (COLLARES & MOISÉS, 1989).
Deve-se considerar também a criação de cursos de atualização e cursos de extensão,
organizados com o objetivo de proceder à revisão e atualização dos métodos usados em
educação para a saúde e a novas conceituações e novos conhecimentos de assuntos de saúde,
bem como possibilitar ao professor conhecer os programas prioritários de saúde em sua área
de atuação. Os próprios órgãos de saúde poderão promover esses cursos. Brito Bastos (1979),
declara ser necessário uma estreita aproximação entre os órgãos de saúde e os de educação
para que a educação em saúde melhor se desenvolva.
Enfim, o caminho é sempre pensar nos princípios de uma escola lembrando que seu
grande desafio é segundo Aranha (2004, p. 45), “... ser capaz de desenvolver uma pedagogia
centrada
nas
crianças,
suscetível
de
educar
a
todas
com
sucesso”.
Essa concepção da escola inclusiva aproxima-se dos eixos norteadores de uma escola plural,
3666
em cujos fundamentos reconhecem-se as diferenças humanas como comuns e a aprendizagem
centrada nas potencialidades do sujeito. Deve ser adaptada às necessidades dos alunos,
respeitando-se o ritmo e os processos de aprendizagem, contrapondo-se àquela sociedade que
inabilita e enfatiza os impedimentos.
Considerações Finais
Há uma necessidade urgente de uma maior articulação entre os responsáveis pelos
setores da educação, da saúde e representantes da comunidade, no sentido de refletir e debater
as temáticas da Educação e da Saúde e, sobretudo, a relação entre os dois campos. Tal
articulação irá contribuir para a construção de uma concepção mais integrada e crítica da
Educação, capaz de nortear ações coletivas e planejadas que sejam condizentes com a
realidade social. A escola é o local para acolher todas as crianças, independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Deve ser permitir o
acesso e garantir permanência para todos os educandos, mesmo àqueles que apresentam grande
desvantagem, modificando atitudes discriminatórias, criando comunidades acolhedoras e
desenvolvendo uma sociedade inclusiva.
O movimento da Inclusão Escolar e da Inclusão Social e as mudanças nos paradigmas de
saúde ainda não foram bem compreendidos pelos docentes e em conseqüência identifica-se a
necessidade de capacitações e treinamentos para os profissionais do campo educacional, além de
um maior envolvimento dos profissionais da área da saúde. Estes últimos devem dar uma maior
contribuição para um bom desenvolvimento das ações de saúde no ambiente escolar, em especial
fornecendo um maior suporte aos educadores – elementos fundamentais no processo de
construção e mudança de comportamento.
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formação do professor para atuar com saúde/doença na