Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 Análise da aplicabilidade das animações Happy Feet, Os Simpsons e Peixe Frito como instrumentos de sensibilização e conscientização na Educação Ambiental1 Naraisa de Almeida Santos2 Matheus Pereira Mattos Felizola3 Orientador: Laura Jane Gomes4 Universidade Federal de Sergipe Resumo A problemática ambiental que assola o planeta faz com que sejam necessárias as mudanças de pensamentos e atitudes por parte da população. Nesse sentido, a Educação Ambiental é de suma importância para a formação de indivíduos críticos e conscientes do papel que podem e devem desempenhar na busca da resolução dos problemas ambientais. Este trabalho teve como objetivo analisar a utilização das animações Happy Feet, Os Simpsons e Peixe Frito enquanto instrumentos pedagógicos de sensibilização e conscientização ambiental. A união entre a comunicação e a educação é uma medida essencial para fomentar a transmissão dos conhecimentos, através de canais que exercem grande influência na população. O uso de animações pode apresentar resultados satisfatórios no que concerne aos trabalhos desenvolvidos pela Educação Ambiental. Palavras-chave Educação Ambiental; Meios de Comunicação; Educomunicação; Educomunicação (sócio) Ambiental; Cinema de Animação. 1 Trabalho apresentado ao Intercom Junior, na Divisão Temática de Comunicação Audiovisual, do XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste 2 Graduada em Comunicação Social com habilitação em Radialismo pela Universidade Federal de Sergipe. Graduanda em Letras Inglês licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe e-mail: [email protected] 3 Doutorando em Ciências Sociais pela UFRN e Mestre em Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, vinculado a Universidade Tiradentes – Unit email: [email protected] 4 Engenheira Florestal, Doutora em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual de Campinas, Profª. Adjunta da Universidade Federal de Sergipe, email: [email protected] Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 Introdução Diante dos graves problemas ambientais em que o planeta se encontra, é necessário que haja uma mudança de pensamentos e atitudes por parte dos seres humanos. Essa mudança tem de começar não só pelos adultos, mas, principalmente, deve se aplicar aos jovens e crianças que ainda estão em fase de formação. As pessoas precisam estar cientes sobre os impactos e danos que seus hábitos podem causar ao meio ambiente para, assim, ser possível a criação de consciência e responsabilidade ambiental. Nesse sentido, a Educação Ambiental é de suma importância para a formação de indivíduos críticos e conscientes do papel que podem e devem desempenhar na busca da resolução dos problemas causados ao meio ambiente. A Educação Ambiental já vem sendo trabalhada através de programas desenvolvidos por órgãos governamentais e não-governamentais, bem como já se tornou realidade no programa curricular de algumas instituições de ensino. Todavia, as informações sobre problemática ambiental, na grande maioria das vezes, são adquiridas através dos meios de comunicação. Cada vez mais os media revelam a importância dessa temática e quão urgente devem ser desenvolvidas as soluções para os problemas ambientais que afetam a todos. A relevância do tema meio ambiente se faz presente nos meios de comunicação como um todo, seja em jornais televisivos e impressos, programas de rádio e televisão, cinema e Internet. Os meios de comunicação e, principalmente o cinema, vêm sendo utilizados tanto para análise de conteúdo quanto como ferramentas de transmissão de conhecimentos a cerca de assuntos ligados ao meio ambiente. O presente estudo se justifica por tratar de um tema de grande relevância, uma vez que aborda, direta e indiretamente, ao longo da pesquisa, a formação da consciência ecológica, através de novos métodos de disseminação do conhecimento acerca da educação ambiental, no caso específico, através dos filmes de animação. Tendo em vista a importância dessa problemática, o presente trabalho teve como objetivo geral: analisar a utilização de filmes de animação enquanto instrumentos Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 de sensibilização e conscientização ambiental. Por sua vez, os objetivos específicos foram: Relatar a evolução dos debates acerca da problemática ambiental, bem como, a evolução da educação ambiental, seus tipos e as maneiras como é abordada atualmente; Analisar a relação entre a educação ambiental e os meios de comunicação, a fim de avaliar de que forma os filmes são utilizados enquanto instrumentos pedagógicos para tratar da temática ambiental; Analisar como a temática ambiental é abordada nos filmes Happy Feet, Os Simpsons e Peixe Frito; Analisar a viabilidade da utilização dos filmes de animação enquanto meios de transmissão dos conceitos e práticas da educação ambiental, como também, enquanto instrumentos reflexivos para a formação da consciência socioambiental. O presente trabalho pretendeu mostrar, portanto, que a utilização da linguagem e dos recursos dos meios de comunicação, e mais especificamente do cinema de animação, pode ser de fundamental importância para a Educação Ambiental durante a transmissão dos conhecimentos acerca da temática do meio ambiente. A receptividade com que o público, adulto e infantil, recebe os filmes de animação pode ser de fundamental importância para a viabilidade do uso de animações como instrumentos pedagógicos. Desenvolvimento Mesmo antes da declaração de Thomas Malthus (1798), há mais de dois séculos, de que estava havendo um desequilíbrio entre a oferta de produtos e sua procura, causado pelos novos hábitos trazidos pela Revolução Industrial, como a urbanização, a população mundial é ciente de que a produção de mantimentos não acompanha o crescimento demográfico e de que é preciso preservar e conservar os recursos naturais para se poder ter a garantia de um futuro habitável no planeta. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 A expansão do consumo, em função do crescimento populacional, e a tentativa, muitas vezes sem controle, de se produzir cada vez mais, permearam e ainda permeiam a realidade social e econômica do globo. Como pode ser visto em Bursztyn e Bursztyn (2006: 56) O século XX, em seus três primeiros quartos, foi essencialmente um período de expansão: da população, da produção, dos mercados, do consumo de matérias-primas, dos conflitos e dos conhecimentos. Parecia não haver limites. Contrariamente ao que ocorrera no século XIX, houve uma fantástica incorporação de grupos sociais ao mercado, implicando maior consumo e aceleração dos ciclos (de fontes energéticas, tecnologias, produção de resíduos). Apesar de a teoria malthusiana já ter sido superada, ela serviu de alerta para a possibilidade de haver desequilíbrio entre o consumo da sociedade e a produção do meio natural. Esse desequilíbrio e a preocupação com o futuro da humanidade e do meio ambiente permearam todos os eventos e atitudes mundiais e nacionais. Durante a Conferência de Estocolmo, na Suécia, em 1972, foi estabelecido um “Plano de Ação Mundial”, o qual advertia sobre a necessidade de criação de um Programa Internacional de Educação Ambiental e definia, em sua recomendação nº 96, o desenvolvimento da Educação Ambiental como elemento fundamental para o combate da crise ambiental, como pode ser observado na íntegra de seu texto: Que a Educação Ambiental, tenha um enfoque interdisciplinar e com caráter escolar e extra-escolar, que envolva todos os níveis de ensino e se dirija ao público em geral, com vistas a ensinar-lhes as medidas simples que, dentro de suas possibilidades, possam tomar para ordenar e controlar seu meio. (Site Projeto Maxuel, PUC-Rio) A Educação Ambiental ficou entendida mundialmente como a necessidade de se incluir, tanto no sistema educacional, como em todos os momentos da vida cotidiana, a necessidade de se agir de forma consciente e integrada com relação aos recursos ambientais. A EA também diz que o desenvolvimento da sociedade tem que se dar de maneira que os aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais não sofram nenhum tipo de agressão. Este conceito de desenvolvimento, conhecido como desenvolvimento sustentável, foi usado pela primeira vez no Relatório de Brundtland, em 1987, e hoje se entende que para alcançá-lo, é preciso que o desenvolvimento seja economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 Enquanto no mundo havia a discussão com relação aos conceitos e ações da Educação Ambiental no combate à degradação ambiental, no Brasil, esse assunto apresenta um caminho mais longo devido ao interesse de políticos e empresários na implementação do crescimento industrial do país. Segundo Dias (2004:78) “O Brasil, imerso no regime ditatorial, na ‘contramão’ da tendência internacional de preocupação com o ambiente, mostra ao mundo o Projeto Carajás e a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, iniciativas de alto potencial de degradação ambiental”. Vários foram os decretos e leis promulgados pelo Governo brasileiro com o intuito de promover a Educação Ambiental, proteger os recursos naturais e trazer também para a sociedade a responsabilidade na preservação do meio ambiente. Os estudiosos desenvolvem a cada dia novos conceitos, tipos e denominações para a Educação Ambiental, com o intuito de adequá-la às realidades em que a sociedade brasileira vive, de maneira que possa ser o mais abrangente possível na realização de suas ações. Porém, o que se vê, na prática, no dia-a-dia do país, é uma população que desconhece ou que define de forma equivocada a EA, sem trazer para si a responsabilidade da atual situação em que o planeta se encontra. Diversas abordagens passaram a ser usadas para identificar a EA devido ao reconhecimento de que a educação tradicional se tornou insustentável, quando se leva em conta a necessidade de transpor para o meio social a importância dos problemas relacionados à questão ambiental. Dentre elas estão a EA Convencional, é aquela proposta na Constituição e visa à conservação do patrimônio natural. É classificada em três tipos: - Formal: compreende que a questão ambiental precisar estar presente em todas temáticas educacionais e precisa ser tratada em todos os níveis escolares, através de ações dentro e fora da escola; - Não-formal: se dirige a todos os públicos, sem distinção de idade, sexo ou classe social. Pode ser trabalhada na escola, mas tem a possibilidade de oferecer espaços alternativos para o aprendizado a partir da inserção da participação da comunidade; Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 - Informal: atua através dos meios de comunicação de massa, dentre eles rádio, jornal, TV, revistas, cinema, bem como por meio da Internet e campanhas publicitárias. A mensagem é passada de forma que o receptor não perceba que está fazendo parte de um trabalho de educação ambiental, ele absorve o conhecimento de forma natural, sem que para isso precise se dirigir a um determinado local ou tenha que pesquisar sobre o assunto tratado. Existe ainda a EA Crítica, que acredita na formação de um sujeito ecológico capaz de perceber que a responsabilidade pelos atuais problemas ambientais que se vê em todo mundo também são de responsabilidade de suas ações consigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente. Viabiliza a adesão da ação pedagógica à realidade social em busca da junção dos diferentes saberes vivenciados por cada comunidade, através de projetos que se voltem para além da sala de aula. Outra abordagem é a EA Transformadora que, assim como a EA Crítica, prevê ações metodológicas que aproximem à prática educacional que estejam de acordo com a realidade da sociedade em que a escola está inserida, através da articulação de espaços formais e não formais da educação. Há também a EA Emancipatória ou Libertadora que se propõe a respeitar as tradições e culturas de cada sociedade, desde que estas estimulem a promoção da vida, seja ela humana e não-humana, da liberdade, da diversidade e solidariedade, e parte para a ação a partir dos princípios de emancipação, no sentido de que os indivíduos precisam se libertar de qualquer forma de dominação. E, por fim, a Ecopedagogia ou Pedagogia da Terra que não se classifica como sendo uma denominação ou uma tipologia da Educação Ambiental, mas se caracteriza tanto como um movimento pedagógico como uma nova proposta de abordagem curricular. Essa nova pedagogia não é contrária à Educação Ambiental, mas a compreende como a maneira de promover a mudança de mentalidade dos indivíduos em relação à qualidade de vida do globo, a partir de uma relação equilibrada e consciente com o meio natural e com a comunidade. Ela está voltada mais para uma educação sustentável, que é mais ampla do que a educação ambiental, porque não se preocupa apenas com a relação do homem com o meio ambiente, mas analisa essa relação a partir da sua própria vida cotidiana. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 Ao tratar das diferentes abordagens sobre Educação Ambiental, foi possível perceber a participação dos meios de comunicação como métodos informais de disseminação de conhecimento. Tais meios podem ser usados para três finalidades: informar, entreter e educar, esta última é uma prática que está se tornando comum através dos métodos informais de educação. De acordo com o Programa de Educomunicação Socioambiental do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (2005), a Educomunicação pode ser definida como sendo: “A promoção de “ecossistemas comunicativos” a partir do espaço educativo. O virtual e o presencial se articulam em teia educativa baseada nos encontros, fortalecimento de elos, comunidades interpretativas e de informação/formação.” A utilização dos meios de comunicação nas escolas, porém, ainda é motivo de controvérsias. Alguns professores os utilizam como pontos de apoio, como atores coadjuvantes no processo de ensino. Outros acreditam que a TV, por exemplo, não pode ser capaz de transmitir conhecimento, da mesma maneira que o livro. Como pode ser confirmado em Barbero (1999:26-27), quando ele afirma que: Na relação entre educação e comunicação, esta última fica quase sempre reduzida à sua dimensão instrumental, ou seja, ao uso dos meios. Com isso deixa-se de fora justamente aquilo que seria estratégico pensar: a inserção da educação nos complexos processos de comunicação da sociedade atual, ou, em outras palavras, o ecossistema comunicativo que constitui o meio educacional difuso e descentralizado no qual estamos imersos. Um meio difuso de informações, linguagens e saberes, e descentralizado em relação aos dois centros – escola e livro – que ainda organizam o sistema educacional vigente. Os meios de comunicação mantêm uma relação com os alunos por serem capazes de mostrar a realidade de forma dinâmica, atual, global, num processo de interação diferente daquele que é feito nos livros. O fato de serem a maior fonte de informação para a grande maioria da sociedade implica na utilização dos meios de comunicação nas escolas, como métodos informais de educação. Não só os alunos, mas também os professores obtêm informações e dados sobre a situação ambiental através desses meios. Dessa forma, a aliança dos recursos audiovisuais aos processos de ensino sobre a problemática ambiental resulta num outro tipo de educomunicação, a Educomunicação Ambiental. Essa nova temática da educomunicação é de fundamental importância, pois estimula o desenvolvimento de métodos que permitam uma leitura Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 crítica dos meios de comunicação de massa, de forma a torná-los aliados na transmissão de conhecimentos. Dos meios de comunicação utilizados, o que mais desperta interesse, tanto por parte dos professores quanto dos alunos, é o cinema, devido ao fato de trabalhar a realidade dentro de um universo de histórias que instigam a imaginação. Entretanto, apesar de ser o mais utilizado é, também, o que tem as suas possibilidades de trabalho suprimidas em função da falta de preparo dos professores. Nesse sentido, Magno (1998:113) diz que: Apesar das novas propostas pedagógicas e mesmo frente à necessidade de o atual sistema incorporar os meios de comunicação em seus currículos, o Cinema, diferentemente do ensino de Literatura, das Artes Plásticas e da Música, continua transitando entre o fascínio que desperta e o temor de não se saber como abordá-lo além de sua utilização ilustrativa de visões e interpretações histórico-culturais. Silva (2007:53-54) diz ainda que: É claro que passar filmes para alunos nas escolas ou mandá-los assistir em casa tem sido uma prática, até certo ponto, usual. Contudo, é preciso ressignificar esta prática, otimizar seu uso dentro da escola, aproveitar a linguagem cinematográfica – que funciona, também, como reconstrução da realidade – para dar sentido e vivificar os assuntos relativos a esses conteúdos, promovendo debates, reflexão e, conseqüentemente, “desestabilizando” dogmas. A obra de arte em geral e o cinema em particular, com certeza, plasmam, em imagens, diversos temas que, por dizerem respeito a nós, por interferirem na nossa compreensão das múltiplas tensões de vida, possuem necessariamente uma dimensão ética a ser destacada. É preciso que os professores estejam preparados para trabalhar a linguagem cinematográfica, bem como familiarizados com os temas a serem abordados, de maneira a que a mensagem de cada filme possa ser transmitida de forma eficiente, a fim de que os alunos possam compreendê-la. Cabe ao professor fazer a ligação do que é passado nos filmes com a realidade, para que os alunos tirem suas conclusões, para que se tornem seres humanos comprometidos com o papel que desempenham e que devem desempenhar no mundo. Neste trabalho, foi analisado de que maneira os temas meio ambiente e educação ambiental são tratados nos filmes de animação e a viabilidade do uso de tais produções cinematográficas em sala de aula. Serão analisados os longas ‘Happy Feet: O Pingüim’, ‘Os Simpsons: O Filme’ e o curta metragem ‘Peixe Frito’. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 O primeiro filme analisado, “Happy Feet: O Pingüim”, se passa na Antactica e conta a história de Mano, um pingüim imperial que não consegue cantar e, assim, conquistar sua amada Glória, como determina a tradição entre os da sua espécie. Ele, porém, foi o único a nascer com o dom do sapateado e tentará de todas as formas provar que pode conquistar o seu amor e resolver os problemas da comunidade com o talento que tem nos pés. O filme traz consigo a realidade dos pingüins e os problemas enfrentados por estes devido às ações dos homens. Essa animação trabalha temas como pesca predatória, aquecimento global, escassez de alimento, dentre outros, através de um enredo que conta histórias de amor e a necessidade de manutenção da espécie. É uma animação que pode ser utilizada em sala de aula por tratar de temas importantes e reais, e por deixar claras as atitudes que devem ser seguidas e aquelas que prejudicam o meio ambiente. Todavia, é preciso que o professor esteja preparado para elucidar determinados assuntos que não são tratados de forma clara ou para explicar algumas informações que são passadas de forma indireta. Exemplo disso é a explicação dada pela gaivota de que o anel amarelo que usa em uma das pernas foi colocado por ETs. Nesse caso, cabe ao educador explicar corretamente do que se trata o objeto e por quem foi colocado. Apesar de algumas mensagens ficarem subtendidas, “Happy Feet” é um filme que aborda de forma séria, sem exagero, os problemas ambientais que trabalha. Apesar dos seres humanos serem tratados como ETs, ele deixa claro que os problemas causados àquele ecossistema ocorreram devido às ações extremadas de espécies que não fazem parte daquele meio. E, o mais importante, mostra que a mudança de atitude dos homens é fundamental para que o meio ambiente não mais sofra as conseqüências de atos irresponsáveis. A segunda animação analisada, “Os Simpsons: O Filme”, é a versão cinematográfica do desenho animado televisivo. O longa mostra a atitude da família Simpson e da cidade de Springfield diante de um grave problema ambiental, a poluição do lago Springfield. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 O filme mantém a irreverência e o sarcasmo do desenho e, talvez por isso, o tema ambiental tenha ficado sucumbido às piadas e situações engraçadas. Prova disso é a falta de seriedade com que o tema é encarado pelos moradores da cidade e, principalmente, por Homer. É mostrada uma população apática ao problema com o lago, que só toma alguma atitude quando é obrigada pelo governo. Em princípio, a única que se sensibiliza com a poluição do lago é Lisa, mas até os discursos desta são interrompidos quando se apaixona por um garoto. Os exageros também fazem com que a mensagem ambiental não possa ser trabalhada de forma eficiente, pela possibilidade de conflito em seu entendimento. Isso fica claro em duas situações, nas ações extremadas para evitar que a poluição se espalhe e por mostrar que as fezes de um porco foram responsáveis pela contaminação total do lago. O interessante do filme é mostrar que alguns governos são despreparados para lidar com os temas relacionados ao meio ambiente e a poluição das cidades é causada pelas ações da própria população. Entretanto, é um filme que requer discernimento por parte de quem o assiste para que a mensagem não seja interpretada de forma errônea, por isso, deve ser evitado no trabalho em sala de aula. O último filme, “Peixe Frito”, é um curta-metragem brasileiro que conta a história de um avô que está no rio Araguaia, em Goiás, e tenta ensinar o neto a pescar, uma antiga tradição de família. Mas, dessa vez, enquanto o avô passa seu conhecimento sobre a pesca, é o neto quem dá uma grande lição de consciência e responsabilidade socioambiental. Temas como pesca indiscriminada e predatória, poluição e extinção de espécies são tratados de forma clara e com uma linguagem de fácil entendimento. Toda mensagem ambiental do filme é passada pelo neto, que reprova as atitudes irresponsáveis do avô. O menino tenta de todas as formas mostrar a realidade do rio Araguaia e fazer com que o avô mude seu pensamento. Ou seja, a mensagem do filme é deixar claro que as novas gerações precisam ser conscientizadas sobre os problemas ambientais para que, assim, sejam capazes de sensibilizar a geração responsável pela situação em que o planeta se encontra. É um filme que não requer explicações mais aprofundadas por parte do professor, por não gerar dificuldades no entendimento de suas mensagens. Todavia, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 cabe ao educador ressaltar que a falta de sucesso da tentativa do neto não deve ser encarada como algo negativo, mas para expor como é difícil fazer com que o ser humano desenvolva a responsabilidade ambiental e mude seus hábitos e atitudes. A análise fílmica mostrou que as animações “Happy Feet” e “Peixe Frito” possuem um grande potencial de aplicabilidade no trabalho realizado pela Educação Ambiental. É necessário que as crianças cresçam tendo a consciência de que são responsáveis pelas conseqüências de seus atos e que o resultado de suas atitudes afeta o planeta como um todo. Nesse sentido, as animações podem ser de grande utilidade no trabalho de formação das idéias e do pensamento do público infantil. Ficou clara, também, a necessidade de preparo do professor tanto no momento de seleção das animações quanto para tratar dos assuntos que são abordados. O filme “Os Simpsons” é o exemplo de uma abordagem ambiental equivocada que deve ser evitada para não trazer complicações futuras. Conclusão Os meios de comunicação podem auxiliar na formação de uma sociedade mais consciente e cidadã com relação aos problemas enfrentados pela humanidade, sejam eles de ordem econômica, política, ambiental ou cultural. A utilização de animações, para tal, se configura apenas numa evolução nos métodos de ensino e aprendizagem condizente com a realidade dos meios audiovisuais. Cabe aos professores identificar qual linguagem será melhor recebida por seus alunos e a forma como os recursos de cada meio podem ser explorados, adequando-os a cada assunto a ser abordado. Ao serem usados de forma ética, os meios de comunicação podem ser importantes instrumentos para a criação e manutenção do sentido de cidadania entre as pessoas. A utilização consciente, e não apenas com finalidade econômica, desses meios, pode ser uma ferramenta essencial no desenvolvimento de cidadãos capazes de conviver em equilíbrio consigo mesmos e com o meio social e natural em que estão inseridos. Por isso, utilizar a receptividade e a afinidade com que os jovens se relacionam com os meios de comunicação pode ser uma maneira eficiente de diversificar o processo de aprendizagem e torná-lo mais prazeroso para os alunos. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 O gênero animação é, dentre todos os outros, o mais popular entre os apreciadores da sétima arte, sejam eles adultos ou crianças. Os desenhos animados, assim como os filmes de animação, têm grande influência na formação da personalidade das crianças, uma vez que estes a acompanham praticamente durante toda a infância. Esse tipo de mídia apresenta muitas possibilidades, dentre elas o entretenimento, que é a mais utilizada, e a educação. Todavia, a implementação dos desenhos e filmes de animação como uma maneira de transmitir educação e conhecimento ainda é pouco utilizada ou feita de forma errônea. É preciso voltar as atenções para a capacidade pedagógica que esse tipo de mídia tem, de forma a disseminar de maneira mais qualitativa os conhecimentos necessários para garantir o efetivo discernimento sobre a atual situação do planeta. A utilização dos filmes de animação, portanto, se faz importante devido à receptividade com que esse gênero é recebido pelos expectadores, bem como a influência que exercem na formação da opinião sobre os assuntos abordados. A aplicação de animações como ferramentas de disseminação de conhecimentos acerca da questão ambiental pode apresentar resultados satisfatórios no que concerne aos trabalhos de sensibilização e de conscientização desenvolvidos pela Educação Ambiental. Referências bibliográficas BARBERO, Jesús Martin. Novos regimes de visualidade e descentralizações culturais. In: Mediatamente! Televisão, cultura e educação. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999. BURSZTYN, Marcel; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Desenvolvimento Sustentável: biografia de um conceito. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do; VIANNA, João Nildo de Souza. Economia, meio ambiente e comunicação. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental, princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 9ª Ed., 2004 MAGNO, Maria Ignês C. Videografia. Revista Comunicação e Educação. São Paulo (11): 113 a 115, jan./abr. 1998. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Brasília – 4 a 6 de junho de 2009 Programa de Educomunicação Socioambiental. Série Documentos Técnicos – 2. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 2005. Projeto Maxwell – PUC-Rio de Janeiro. Acessado em: 29/04/08 <http://www.maxwell.lambda.ele.pucrio.br/cgibin/PRG_0599.EXE/4302_4.PDF? NrOcoSis=9614&CdLinPrg=pt> SILVA, Roseli Pereira. Cinema e educação. São Paulo: Cortez, 2007.