UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DOMÉTICA
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL
ANAIS
VII Simpopet do Programa de
Educação Tutorial em Economia
Doméstica
“ECONOMIA SOLIDÁRIA:
UMA ALTERNATIVA PARA A
VALORIZAÇÃO DO SER
HUMANO”
1
COMISSÃO ORGANIZADORA
Aline de Oliveira Rodrigues
Aparecida de Paula Machado
Danielle Batista Moreira da Silva Paiva
Érika Cristine Silva
Glauciane Aparecida Pereira
Jardel Fellipe de Lima e Silva
Joseane Dias da Silva
Marli Irias
Pollyana Teixeira da Silva
Raquel Aparecida de Oliveira Silva
Simone Caldas Tavares Mafra
Simone Martins Gomes
Taís Ribeiro Fortes
Comissão Técnico-científico
Aline de Oliveira Rodrigues
Joseane Dias da Silva
Comissão Avaliadora
Cristiane Natalício de Souza
Elza Vidigal Guimarães
Emília Pio Silva
2
ÍNDICE
Editorial...........................................................................................................................04
ARTIGOS E RESUMOS EXPENDIDOS*
ANÁLISE E ESTUDO SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO E SEU MODO DE
REPRODUÇÃO..............................................................................................................05
BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: PROPORCIONANDO VIVÊNCIAS LÚDICAS
DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA.....................................................14
CONSUMO E LAZER NA PERSPECTIVA DOS JOVENS.........................................18
LAZER, CONSUMO E INDÚSTRIA CULTURAL......................................................25
O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS IDOSOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE A
PARTIR DOS DADOS DA POF (2008-2009)...............................................................31
O
TRABALHO
VOLUNTÁRIO
E
ASSOCIATIVO:
VIVÊNCIAS
E
IMPLICAÇÕES...............................................................................................................35
UM OLHAR PARA OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES DOS IDOSOS NO
BRASIL...........................................................................................................................49
UMA
ATENÇÃO
VOLTADA
ÀS
FAMÍLIAS
QUE
VIVENCIAM
A
HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL...................................................................................54
Patrocinadores.................................................................................................................60
___________________________________
* O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores.
3
EDITORIAL
O Programa de Educação Tutorial, Pet/Economia Doméstica da Universidade
Federal de Viçosa, promoveu nos dias 12 e 13 de Dezembro de 2012 o VII Simpósio do
Programa de Educação Tutorial em Economia Doméstica, que teve como temática
“Economia Solidária: Uma Alternativa para a Valorização do ser Humano”.
Este evento buscou proporcionar aos participantes uma compreensão sobre a
temática, bem como, estabelecer um diálogo entre os envolvidos no evento, buscando
melhoria da pesquisa sobre o tema no âmbito acadêmico. Lembramos que o conteúdo
dos artigos presentes nestes anais é de inteira responsabilidade dos autores.
COMISSÃO COORDENADORA
4
ANÁLISE E ESTUDO SOBRE O TRABALHO DOMÉSTICO E SEU MODO DE
REPRODUÇÃO
Nome dos autores: Cynthia Aparecida Gonçalves e Luciana Alfenas Pacheco.
Instituição de origem: Universidade Federal de Viçosa - UFV
E-mail: [email protected] e [email protected]
RESUMO
O termo trabalho é caracterizado como a capacidade de realizar uma obra que te
expresse que dê reconhecimento social e que se conserva além da vida; assim como o
esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incomodo
inevitável (BRUCHINI e LOMBARDI, 2000). O trabalho realizado pelas empregadas
domésticas é diferente do realizado por outros trabalhadores, na medida em que não
configura uma relação capital-trabalho típica: não gera lucro para a família na qual ela
trabalha e por sua vez, não é uma microempresa. No emprego doméstico apresenta-se o
caráter não econômico da atividade exercida no âmbito residencial do(a) empregador
(a). Acredita-se que o papel da mulher foi socialmente construído, uma vez que ela é
vista como dona-de-casa, seu trabalho é realizado para atender as pessoas de uma forma
natural, desvinculado ao mercado. Portanto, neste estudo verificou-se uma
desvalorização do trabalho doméstico em relação aos outros meios de sobrevivência.
PALAVRAS CHAVES: trabalho doméstico, dona de casa e desvalorização.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Albornoz (1986) na linguagem do dia-a-dia a palavra trabalho possui
vários significados, pois seu conteúdo oscila. Certas vezes carregada de emoção, dor,
tortura, suor do rosto e fadiga. Além de se referir à ação humana de transformar a
matéria prima em objeto de cultura.
A autora menciona que em português, mesmo havendo duas palavras labor e
trabalho, são possíveis as mesmas significações, como a de realizar uma obra que te
expresse que dê reconhecimento social e que permaneça além da vida; bem como a de
5
esforço rotineiro e repetitivo, ausente de liberdade, de resultado consumível e incomodo
inevitável.
De acordo com Albornoz (1986) no dicionário da Filosofia o homem trabalha
quando coloca em atividade suas forças espirituais e corporais, visando um fim sério
que deve ser realizado. No que diz respeito à Física, por exemplo, o nome do produto
entre a força e o deslocamento que um corpo em movimento executa no tempo é
denominado trabalho. Já a fisiologia, mesmo que não se possa atribuir nenhum objetivo
consciente, um músculo realiza trabalho. Quando se refere ao trabalho em Sociologia,
na maioria das vezes se esta no contexto da divisão do trabalho social, deixando-se o
esforço executado no isolamento, gratuito, ou isento de produto imediatamente
aparente, como no caso da mulher doméstica, dentro do seu âmbito familiar.
Emprego doméstico é o caráter não-econômico da atividade exercida
no âmbito residencial do(a) empregador(a). Nesses termos, integram
a categoria os(as) seguintes trabalhadores(as): cozinheiro(a),
governanta, babá, lavadeira, faxineiro(a), vigia, motorista particular,
jardineiro(a), acompanhante de idosos(as), entre outras. O(a)
caseiro(a) também é considerado(a) empregado(a) doméstico(a),
quando o sítio ou local onde exerce a sua atividade não possui
finalidade lucrativa (Trabalho doméstico: direitos e deveres:
orientações, 2005).
A autora Albornoz cita que a pessoa que não possui uma vaga de emprego
assalariado, mesmo realizando um trabalho autônomo, como por exemplo, de biscateiro,
dona-de-casa, camelô, artesão, técnico, dentre outros, mesmo que não exerça de forma
clandestina ou informal, ainda assim poderá ser considerado desempregado ou
subempregado. O trabalho que é realizado em casa, mesmo sendo encomendado pela
fábrica é uma espécie de trabalho doméstico, porém sua contribuição para a produção
não é questionada.
Bruchini e Lombardi (2000) argumentam que o trabalho realizado pelas empregadas
domésticas difere daquele realizado por outros trabalhadores, na medida em que não
configura uma relação capital-trabalho típica: não gera lucro para a família na qual ela
trabalha e por sua vez, não é uma microempresa. Quanto à jornada, os afazeres
domésticos – tanto para o empregado quanto para a dona-de-casa – não estão sujeitos,
como em uma fábrica ou escritório, a ritmos ou tempos delimitados. Além disso,
dificilmente haverá supervisão ou controle no espaço familiar, onde o trabalho é
realizado. A questão é mais complexa quando se trata de empregadas residentes sujeitas
6
a constante solicitação por parte dos moradores do domicílio e, portanto, a jornadas
mais longas.
De acordo com Bruchini (1982) ao invés de identificar o trabalho apenas com as
atividades de mercado (ou atividades produtivas) e o trabalho doméstico não
remunerado como forma de inatividade, a inclusão dos trabalhadores domésticos não
remunerados entre os que participam da produção social permite que uma série de
aspectos importantes na verdade conhecidos até intuitivamente, tornem-se manifestos.
O primeiro deles é que uma grande parte da população considerada “inativa” encontrase efetivamente ocupada, ou seja, trabalhando na produção doméstica não remunerada.
O segundo aspecto é que, ao incluí-las entre os que trabalham, fica evidente que no
conjunto da população as mulheres trabalham mais do que os homens, sobretudo porque
grande parte das trabalhadoras cumpre diariamente uma dupla jornada de trabalho.
O foco central do presente artigo consiste em analisar brevemente sobre o trabalho
doméstico e seu modo de reprodução.
E como objetivos específicos:
- Definir o trabalho e trabalho doméstico,
- Identificar quando passou a existir o termo “trabalho doméstico”,
- Caracterizar o modo de reprodução do trabalho e a desvalorização do trabalho
feminino.
2. METODOLOGIA
Segundo Silva e Silveira (2003), metodologia é definida como o conjunto das
atividades a serem desenvolvidas para a obtenção dos dados bibliográficos e/ou de
campo com os quais se desenvolverá a questão proposta pela pesquisa.
Para Malheiros (2012) s/p. “a pesquisa bibliográfica levanta o conhecimento
disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua
contribuição para compreender ou explicar o problema objeto da investigação”.
Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica. De acordo com a definição
de Vergara (2007):
7
Pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com
base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes
eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Fornece
instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas
também pode esgotar-se em si mesma (VERGARA, 2007, p. 48).
Assim, esta pesquisa foi desenvolvida baseada principalmente em livros e artigos da internet.
3. REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com Duran (1989), existem dois grandes sistemas econômicos, um
exterior as famílias, o agrícola que esta se tornando industrial, e o outro familiar, que
continua com suas características tradicionais no que tange à tecnologia e ao modo de
produção. Os economistas se restringem a estudar a economia do sistema econômico
extra familiar, deixando assim a economia a qual a primeira serve e se apoia,
denominada economia familiar, uma vez improdutiva, consequentemente não possuindo
valor.
O autor também afirma que a tecnologia não construiu mudanças importantes em
seu trabalho e o dinheiro permite comprar bens na economia exterior, e que não paga o
que se produz internamente. A industrialização ocorre fora do âmbito familiar,
influenciado indiretamente sobre a dona-de-casa.
Para Duran (1989), a menina vem ao mundo com seu destino prefixado, desde
pequena recebe de seus pais bonecas, aventais, vestidinhos dentre outros, que fogem do
masculino, são proibidos para os meninos que serão castigados se desobedecerem, caso
comportarem-se como meninas. A filha que é atribuída o papel de dona-de-casa, e se
não deseja assumir, possui poucas soluções alternativas, ao contrário dos seus irmãos
homens.
De acordo com Duran (1983, p.15):
A ocupação de donas-de-casa não é natural, mas histórica. No atual
estágio de técnica só a maternidade é função naturalmente feminina,
mas entre a gestação e o parto e as duzentas mil horas de trabalho
doméstico que executa uma dona-de-casa ao longo de sua vida, não há
nenhuma correspondência necessária, mas apenas circunstancial
(DURAN, 1983, p.15).
A condição econômica das tarefas domésticas é ignorada, sendo negada como
caráter de trabalho.
8
Duran (1983, p.15) afirma que:
O trabalho da dona-de-casa não é intercambiado: o único lugar
possível de trabalho é seu próprio lar. Não é contratual, salvo raras
exceções, e se define pelo costume. Flutua mais que nenhum outro em
suas exigências por se tratar de uma força de trabalho e não existir
uma força de trabalho externa disponível; quando a demanda de
trabalho dentro da família aumenta, este aumento recai totalmente
sobre a dona-de-casa. Se o trabalho não lhe agrada, só pode tratar de
amenizá-lo, esquecendo-o enquanto o executa (DURAN, 1983, p.18).
O mesmo enfatiza que as donas-de-casa estão permeadas pela ideia do dever e da
obrigação, não trabalham apenas com o corpo e mente, estão entrelaçadas a família e ao
trabalho, dia e noite. Para elas não existe lugar para as atividades voltadas para o
próprio lazer, trabalham visando atender seus familiares em primeiro lugar, e elas
mesmas em segundo plano.
Para Duran as donas-de-casa depositam nos objetos seu trabalho e aumentam seu
valor. É um trabalho de transformação material de bens, muito necessário, pois caso
ocorresse uma greve geral das donas-de-casa um desabamento imediato de toda
economia iria ocorrer. É um trabalho que não faz sentido enquadrá-lo como produtivo
ou improdutivo, pois se trata de um trabalho coletivamente necessário. A dona-de-casa
tem seu trabalho feito sobre as coisas e as pessoas, sempre enfocando os indivíduos que
constituem sua família. O trabalho doméstico começa de manha e termina a noite, sem
descanso, feriados, férias ou pausas, a cada manha há um recomeço. No geral, pode-se
dizer que o número de horas de trabalho, de tensão e de esforço sejam maiores em
famílias extensas e menores nas famílias reduzidas. O trabalho doméstico apresenta o
aspecto afetivo ou emocional do trabalho, que tem sido ignorado, porque não possui
tanta importância na economia exterior e de troca, como na economia doméstica.
O referido autor também afirma que, o casamento marca o início de um ciclo
econômico para a maioria das mulheres, a plenitude de sua contribuição coincide com a
chegada dos filhos. Este período da vida familiar é o que requer maior esforço para as
mulheres, pois no lar, convivem juntos os pais e filhos de idade pré-escolar e escolar.
O autor também aborda que o trabalho da dona-de-casa possui duas dimensões: a
primeira é o trabalho individualizado, exercido por uma mulher em seu lar para os
membros da sua família, enquanto a segunda, é a dimensão do seu trabalho coletivo,
necessário para que toda a sociedade possa trabalhar e viver.
9
O trabalho doméstico é uma condição imprescindível para que o mercado exista.
Conforme Melo (1998) o trabalho doméstico tem uma ocupação que abrange os
serviços de ama, ama-de-leite, arrumadeira, babá, camareiro, caseiro, copeiro,
cozinheiro, criado, dama-de-companhia, doméstica, governanta, mordomo, pajem e
servente. Em 1995, essas atividades foram abertas em varias ocupações, num total de
seis, o que possibilitou separar cozinheiras de babá, diarista, lavadeira, doméstica
polivalente e governanta. A definição de emprego apresenta algumas características
principais como: recompensa financeira, esforço físico e mental, jornada e ritmo de
trabalho, dentre outros.
Duran menciona que o trabalho doméstico aparentemente possui pouca
especialização, pois todas as mulheres cuidam de crianças, cozinham ou limpam suas
casas, sendo assim não requer capacitação profissional. Entretanto a realidade é muito
mais complexa, apresenta algumas atividades de preparação sumária, em contrapartida
outras, podem chegar a extraordinários refinamentos que requerem grandes domínios.
Com a industrialização e a urbanização, a classe média se expandiu, o trabalho
doméstico no Brasil tornou-se frequente para a população que praticava o chamado
êxodo rural1, essas pessoas chegavam às cidades em busca de trabalho, casa, comida, e
melhores condições de vida, assegura Melo em seu estudo. Muitas vezes esse público
sem instrução e capacitação devido as condições de sua ascendência que os tornava, o
trabalho doméstico surgia como solução naquele momento.
Segundo Melo (1998):
A análise dos trabalhadores domésticos, segundo os anos de estudo,
revelou a alta percentagem dos trabalhadores da categoria sem
instrução, foi apresentada a mais alta taxa de analfabetismo entre os
trabalhadores urbanos, embora tenha havido queda, nesta taxa na
década (passo de 19,69%, em 1985 para 16,49% em 1995), enquanto
para o setor serviços a taxa de analfabetos é de 7,41% em 1998
(MELO, 1998).
1
O êxodo rural ocorreu com a saída das pessoas das áreas rurais em direção às cidades. Os
fatores responsáveis por esse processo foi à tendência à urbanização, com o crescimento
econômico a partir da influencia direta ou indireta da industrialização, outro fator, os
desequilíbrios setoriais de crescimento no conjunto da economia, como também os problemas
socioeconômicos do setor primário, sobretudo da agropecuária. (PIFFER, 24 julho, 2009)
10
Por um lado o trabalho doméstico é composto de uma contagem maior de mulheres,
e a posição de trabalho desse público está em condições desfavoráveis no que diz
respeito à remuneração, a situação desfavorável em relação a outros trabalhos. A
ocupação de mulheres em trabalhos domésticos é explicada por Bruchini e Lombardi
(2000) onde esses cargos ocupados por elas tem se dado tradicionalmente, como o
trabalho doméstico, as atividades sem remuneração e as atividades de produção para
consumo próprio e do grupo familiar. Motivo pelo qual há uma desvalorização do
trabalho, já que o papel social da mulher foi socialmente construído, e dificilmente deve
ser desfeito e acabado, uma vez que essa condição está impregnada e enraizada nos
valores dessa sociedade.
A desvalorização do trabalho doméstico é abordada por Melo (1998), descrevendo a
relação de identidade seguindo a lógica de servir aos outros como algo natural, uma
relação de patroas e empregadas domésticas. E porque não uma forma de explorar o
trabalho do outro, assim como foi falado acima sobre o processo de civilização do
homem, numa visão decadente.
O papel social da mulher é definido como a dona de casa, mãe ou esposa. A mulher
dirigindo ao bem estar da família, esta sempre a servir aos outros, maridos e filhos. O
trabalho realizado para sua própria família é visto pela sociedade como uma situação
natural, pois não tem remuneração e é condicionado por relações afetivas entre a mulher
e os demais membros familiares, gratuito e fora do mercado.
Ainda sobre a depreciação do trabalho doméstico, o assunto também envolve um
problema de status na sociedade. O que explica esse cerceamento do trabalho doméstico
é a forma como a sociedade encara o trabalho realizado pela mulher para sua própria
família de uma forma natural, não havendo remuneração, esse trabalho está ligado por
relações afetivas da mulher com seus familiares, sendo gratuito e fora do mercado,
assim afirma Melo (1998).
Para Bruchini e Lombardi (2000):
Nessa sociedade, os afazeres domésticos são apresentados como
responsabilidade da mulher, qualquer que seja a situação social, sua
posição na família e trabalho ela ou não fora do lar. Quando essas
tarefas são realizadas pela dona-de-casa, no âmbito da família, eles
não são considerados como trabalho e são computados pelas
estatísticas como inatividade econômica. Entretanto, quando as
mesmas atividades são realizadas por uma pessoa contratada para
esse fim, mediante remuneração de bens ou espécie, elas passam a ser
11
computadas como trabalho, sob o rótulo de serviço ou emprego
doméstico (BRUCHINI e LOMBARDI, 2000).
Já por outro lado Melo (1998) mostra que pessoas sem conhecimento e experiência
profissional no mercado de trabalho, com baixa escolaridade, o trabalho doméstico veio
para melhorar a condição de pessoas oferecendo maiores oportunidades para
introduzirem no mercado de trabalho e para as migrantes rurais-urbanas a socialização
na cidade.
4. CONCLUSÕES
Nesta pesquisa buscou-se fazer um estudo em torno da categoria analítica trabalho
doméstico e seu modo de reprodução. Dessa forma para Melo (1998) as atividades
domésticas não são remuneradas, uma vez que são desempenhadas nas casas
particulares, considerando que as patroas e patrões não são empresários. Esses bens e
serviços não circulam no mercado e não movimentam capital para concretização dos
afazeres, mas rendas pessoais.
Ainda é apresentado por Mendonça e Machado (1997 apud MELO, 1998) que as
mulheres permaneceram concentradas no setor mais restrito de atividades: domésticas,
trabalhadoras rurais, camponesas, comerciária, dados de 1970. Esse grupo profissional,
formado praticamente por mulheres, está longe de enfraquecer no Brasil, mesmo que
haja um aumento da escolaridade feminina e do surgimento de novas e melhores
chances de trabalho para as mulheres mais qualificadas.
Pôde-se notar a presença marcada das mulheres nas profissões que incluem
ocupações que envolvem servir aos outros, aos cuidados com pessoas, e ligados com o
bem estar de indivíduos. Essa representação do papel social da mulher está atrelada aos
valores construídos em nossa sociedade. Assim neste estudo procurou compreender o
que é trabalho e como se deu a reprodução do trabalho doméstico. Verificou-se uma
desvalorização do trabalho doméstico em relação aos outros meios de sobrevivência.
12
5. RECOMENDAÇÕES E REFERENCIAIS
ALBORNOZ, S. O que é trabalho. 1 edição, São Paulo, 1986.
BRUCHINI, C.; LOMBARDI, M. R. A Bipolaridade do Trabalho Feminimo no
Brasil Comntemporâneo., Porto Alegre, p. 68,70,75,80, julho 2000.
BRUCHINI, M. C. A. Trabalho doméstico: inatividade econômica ou trabalho nãoremunerado? São Paulo, 2006.
BRUCHINI, M. C. A.; F, R. Trabalhadores do Brasil. Fundação Carlos Chagas,1982.
DURAN, A. M. A dona-de-casa: crítica política, economia doméstica. Rio de
Janeiro, 1989.
MALHEIROS, M. R. T. L. Pesquisa na Graduação. Disponível
em:www.profwillian.com/_diversos/download/prof/marciarita/Pesquisa_na_Graduacao.
pdf. Acessado em: dezembro 2012.
MELO, H. P. D. O Serviço Doméstico Remunerado no Brasil: De Criadas a
Trabalhadoras. Rio de Janeiro: [s.n.], 1998.
PIFFER, O. O Êxodo Rural. Disponível em: http://pt.shvoong.com/socialsciences/sociology/1916224-%C3%AAxodo-rural/#ixzz1QIQKE5AH. Acessado em:
junho 2012.
SILVA, E. B. Teorias sobre trabalho e tecnologia domésticas. Implicações para o
Brasil.
SILVA, J. M.; SILVEIRA, E. S. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e
técnicas. Juiz de Fora: 2003.
TRABALHO doméstico: direitos e deveres, orientações. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_pdf/109_cartilha_trabalho_domestico_mt.pd,
Brasília, 2005. Acesso em: junho 2012.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 8 ed.São Paulo:
Atlas, 2007.
13
BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: PROPORCIONANDO VIVÊNCIAS
LÚDICAS DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA.
LEITE, Maria Aparecida Valentim de Souza (graduando em Educação Infantil/UFV e
Bolsista do PIBEX/UFV)1; NEVES, Naíse Valeria Guimarães (Orientadora, Professora
DED/UFV)2; LUCAS, Cristiana Terezinha de Jesus (graduando em Economia
Doméstica/UFV
e
colaboradora)3;
CASTRO,
Rita
Maria
Sant’Ana
(Colaboradora/HSS)4SILVA, Roseli (graduando em Educação Infantil)5.
¹ Graduanda do curso de Educação Infantil da Universidade Federal de Viçosa,
UFV/MG; Bolsista PIBEX 2011 E- mail: [email protected].
² Economista Doméstico. M. S. Em Economia Doméstica; Orientadora e Coordenadora
do Projeto – Professora DED/UFV. E-mail: [email protected]
3
Graduanda do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa,
UFV/MG; membro da equipe do projeto PIBEX . E-mail: [email protected].
4
Economista Doméstico, coordenadora da Brinquedoteca do Hospital São Sebastião em
Viçosa, UFV/MG. E-mail: [email protected]
5
Graduanda do curso de Educação Infantil da Universidade Federal de Viçosa,
UFV/MG; Membro da equipe do projeto. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O brincar é importante para as crianças, principalmente no momento de
enfermidade, pois, ao brincar elas representam fatos de sua realidade do seu dia-dia, e
muitas vezes o que ela esta vivenciando no período em que se encontra hospitalizada. A
Brinquedoteca no ambiente hospitalar possibilita a criança explorar sua criatividade,
imaginação, e expressar seus sentimentos de forma livre. Almejando proporcionar à
criança hospitalizada a possibilidade de continuar criando, experimentando,
representando, isto é, construindo sua própria história, iniciamos em 2006 um Projeto de
Extensão intitulado: Brinquedoteca Hospitalar: Uma Estratégia de Humanização às
Famílias e Crianças Atendidas pelo Hospital São Sebastião em Viçosa, MG. Esse
projeto está sendo desenvolvido na Casa de Caridade de Viçosa - Hospital São
Sebastião, completando 6 anos de ação extensionista junto ao referido Hospital. Embora
o projeto tenha iniciado em 2006, ressaltamos que a Brinquedoteca deste hospital existe
14
e funciona desde 1993 e foi planejada e instituída com a parceria dos professores da
UFV.
2.
OBJETIVOS
Nesse projeto temos enquanto objetivo geral: dar continuidade às ações
desenvolvidas pelo projeto de extensão nº 090/06 iniciado desde julho 2005 para que a
brinquedoteca do Hospital São Sebastião de Viçosa - MG, possa se manter em pleno
funcionamento e dessa forma, continuar desenvolvendo atividades lúdicas/recreativas
com as crianças internadas promovendo a humanização hospitalar. Especificamente
pretendemos:
 Implementar o trabalho de humanização proposto pelo Hospital São Sebastião
no que se refere ao atendimento às crianças internadas.
 Planejar, organizar e desenvolver atividades com as crianças internadas no
espaço da Brinquedoteca, na pediatria e leitos particulares, fazendo dessas
crianças elementos ativos dentro do processo de recuperação de suas
enfermidades.
 Produzir materiais lúdicos (histórias infantis, brinquedos, etc.) para serem
utilizados com as crianças em regime de internação por meio da criação e
desenvolvimento de um projeto de produção de materiais lúdicos.
 Formar, com a equipe do projeto, um grupo de estudos sobre a temática,
buscando construir material teórico que possa nortear o trabalho desenvolvido.
3. METODOLOGIA
Com base nos objetivos propostos, o presente trabalho é realizado por meio de
ações interventivas que possibilitam a realização de observações, registros e análises do
comportamento da criança e de seus familiares durante o período de internação.
Para a realização do presente estudo estamos utilizando os seguintes instrumentos:
questionário aplicado com os responsáveis pela criança internada e com a equipe do
HSS (enfermeiras, médicos, psicólogos, etc.), formulário de registro das crianças
internadas, formulário para subsidiar o planejamento das atividades a serem
desenvolvidas com as crianças, ficha individual de acompanhamento do período de
15
internação em relação à participação das atividades, e álbum de fotografias das crianças
em atividades na Brinquedoteca.
Ao tratarmos da intenção de divulgar a Brinquedoteca do HSS, bem como do
trabalho desenvolvido com as crianças e famílias, pretendemos continuar organizando
eventos, participações em órgãos da mídia (rádio, jornais locais e Internet) por meio de
instrumentos como: boletins informativos, folders, cartilhas, produção de vídeos, etc.
4. RESULTADOS
No hospital, o brincar tende a transformar a brinquedoteca num local prazeroso e
permite uma adaptação melhor às novas condições que as crianças encontram e tem que
enfrentar. Atendimento diário às crianças internadas, com o desenvolvimento de
atividades lúdicas no espaço da Brinquedoteca, pediatria e demais leitos. Os resultados
podem ser descritos da seguinte forma:
A partir da ficha de identificação da criança foi possível fazer a tabulação de dados
do atendimento às famílias e crianças em situação de internação. No período
compreendido aos meses de fevereiro a 15 de novembro deste ano de 2012, foram
atendidas 302 crianças e seus respectivos acompanhantes (mãe, pai, avó, tia, etc). Desta
podemos inferir que 17,2% foram reincidentes no hospital. Sendo que em sua maior
parte estas residem no município de Viçosa-MG, tanto na zona urbana quanto na zona
rural. Além de termos também um atendimento às famílias oriundas de outras cidades,
principalmente da micro - região viçosense.
Os dados revelam que crianças menores de 12 meses têm um maior índice de
internação sobre as demais idades. E as doenças e ou causas de internação que mais
acometem as mesmas são; pneumonia (18,8%), bronquite (11,2%), apendicite (6,9%),
infecção (9,9%), e o restante se distribuem pelas mais diversas enfermidades (gripe,
desidratação, alergia, quedas/acidentes domésticos, anemia, etc.).
No que refere ao período de internação das crianças no hospital temos a
equivalência do maior tempo de permanência, ou seja, acima de 4 dias para aquelas que
ficam dependentes de medicação como o antibiótico ministrado para a pneumonia, por
exemplo. Notadamente as doenças respiratórias são as que mais determinam esse
número maior de dias no hospital. Porém os dados referentes ao período de internação
não serve como parâmetro para avaliar se são as intervenções do projeto que colaboram
16
na diminuição do tempo de internação da criança, pois há outras variáveis próprias da
doença/enfermidade e ou instituição que influenciam este fator.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS PRELIMINARES
Por meio dessas atividades permitimos à criança realizar a sua atividade mais típica:
brincar, e contribuímos na sua recuperação, permitindo a interiorização e a expressão de
sua vivência durante o período de internação. Na brinquedoteca, a criança tem a
oportunidade de entender e construir conhecimentos sobre diversas coisas por meio da
brincadeira, assim como perceber as diversidades de formas e maneiras de brincar. No
entanto, em hospitais, esse espaço lúdico tem como um de seus objetivos amenizar o
sofrimento das crianças internadas acreditamos que estas atividades colaboram na
redução do tempo de internação hospitalar, pois permite à criança ter uma melhor
aceitação ao tratamento realizado. Essas experiências que presenciamos são de extrema
importância, pois a partir dessas representações podemos perceber o quanto o brincar é
importante para as crianças que demonstram e expressam muita felicidade ao ter a
oportunidade de ver o ambiente hospitalar numa perspectiva diferente, isto é, lugar onde
não só ocorre sofrimento, dor, etc.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedoteca: definição, histórico no Brasil e no
mundo. In: FRIEDMANN, Adriana (ET all). O direito de brincar: a brinquedoteca.
São Paulo: Scritta Editorial: ABRINQ, 1992.
MAIA, C. I. B. ET al. Brinquedoteca hospitalar Shishiro Otake. In: SANTOS, S. M.
(Org.). Brinquedoteca: A criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. P.
114-128.
NEVES, Naise Valéria G. (et all). Brinquedoteca Hospitalar: Uma Estratégia de
Humanização às Famílias e Crianças Atendidas no Hospital São Sebastião em ViçosaMg. Projeto de Extensão. Viçosa, MG, 2007.
17
CONSUMO E LAZER NA PERSPECTIVA DOS JOVENS
OLIVEIRA, Márcia Botelho; SILVA, Neuza Maria
Universidade Federal de Viçosa
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
O ponto de partida para as análises que se seguem são os conceitos de lazer e
consumo. Para esse trabalho usou-se a definição clássica de lazer apresentada a seguir:
“o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode
entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se,
recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou
formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre
capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações
profissionais, familiares e sociais” (DUMAZEDIER, 1962, p.29).
Essa definição de lazer foi considerada a que melhor se enquadra no contexto desta
pesquisa devido à presença de uma dimensão subjetiva descrita por Tachner (2000), que
diz que o indivíduo é quem decide o que ele vive e o que ele não vive como lazer.
O conceito de consumo baseia-se na Lei Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990,
consistindo na aquisição, posse e/ou uso de bens e serviços, referindo-se ao varejo e ao
consumo final. Complementando o que diz a Lei, ainda foi levada em consideração
parte da definição de Taschner (2000) que afirma que o consumo não se trata apenas da
utilização de um bem material ou imaterial, trata-se também do uso de símbolos, tendo
portanto, uma dimensão cultural e social. Já o consumidor, por sua vez, é definido como
aquele indivíduo que adquire ou utiliza um produto ou um serviço como destinatário
final.
O lazer disponível na cidade de Viçosa-MG já foi alvo de algumas pesquisas. Lima
et al. (2010) fizeram um estudo comparativo entre algumas cidades universitárias,
incluindo Viçosa, analisando o impacto da falta de políticas públicas de lazer para os
jovens. Pinto (2008) abordou as relações entre trabalho, lazer e família no cotidiano dos
professores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Um ponto comum entre essas
pesquisas é que ambas focaram seus estudos apenas nas formas de lazer usufruídas
18
pelos entrevistados, não relacionando o lazer ao consumo de bens e serviços. Observase ainda que essas pesquisas não consideraram o lazer usufruído pelos estudantes
universitários, tão pouco buscaram compreender se tais atividades de lazer estão ligadas
ao ato de consumir. Com o intuito de preencher tais lacunas, essas questões foram
investigadas no presente trabalho.
2. OBJETIVO
O objetivo da presente pesquisa foi identificar e analisar as atividades de lazer de
dois grupos distintos de estudantes universitários – alunos dos cursos de graduação e
alunos dos programas de pós-graduação (Stricto Sensu) – buscando verificar se tais
atividades estão ligadas ao ato de consumir.
3. METODOLOGIA
O presente estudo, de caráter quantitativo, descritivo e com corte transversal, foi
realizado no município de Viçosa-MG. A população alvo do presente estudo foi
composta por estudantes de graduação e de pós-graduação (Stricto Sensu) UFV do
Campus de Viçosa-MG. No total, a UFV possuía em 2011 13435 estudantes, sendo
82% matriculados em cursos de graduação e 18% matriculados em programas de pósgraduação, o que levou à seleção proporcional e intencional de 300 estudantes, sendo
246 matriculados em cursos de graduação e 54 em programas na pós-graduação.
As informações foram obtidas por meio de questionários, que os próprios estudantes
respondiam sem auxílio do pesquisador. Os dados foram analisados quantitativamente
utilizando o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão
17.0, por meio do qual foram realizadas análises exploratórias dos dados, análises de
variância, cálculos de Alfa do Cronbach, análises de frequência e tabulações cruzadas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Inicialmente, solicitou-se ao estudante que apontasse qual era a sua principal
atividade de lazer. Para essa questão não foram dadas alternativas, para que assim o
participante ficasse livre para escrever. Dentre os alunos de graduação as mais citadas
foram: frequentar festas open bar (22,8%), frequentar academia (15,4%) e frequentar
19
bares (14,2%). A alta frequência dos graduandos às festas open bar também foi
encontrada por Souza (2005), que declarou em seu estudo que as festas organizadas
pelos estudantes de graduação eram uma das principais formas de lazer desse público.
As opções mais citadas como principais atividades de lazer pelos alunos de pósgraduação foram: assistir televisão (22,2%), viajar (18,5%), e frequentar academia e
frequentar bares com a mesma frequência (14,8%). Sendo a opção “assistir televisão” a
mais citada como principal forma de lazer pelos pós-graduandos, é importante
considerar a preocupação de De Grazia (1966) que caracteriza “assistir televisão” como
uma forma passiva de vivência do lazer, construída a partir de uma passividade somada
à falta de posicionamento crítico e questionador frente aos meios de comunicação.
As opções de lazer menos dispendiosas ou gratuitas, como “ler”, “ficar com a
família”, “ouvir música”, “fazer trabalhos artesanais” e “fazer caminhada” foram pouco
citadas. Percebe-se, então, uma possível associação entre lazer e consumo, sendo
necessário um gasto financeiro para usufruir de atividades de lazer.
Em seguida foi solicitado que os mesmos apontassem quais os principais motivos
que os impediam de vivenciar o lazer com maior frequência. Foram dadas as seguintes
opções para que eles numerassem o 1º e o 2º motivo: “estudo”, “trabalho”, “cansaço”,
“filhos”, “poucas opções de lazer”, “condições financeiras”. O 1º principal motivo
citado tanto pelos alunos de graduação (77,6%) quanto pelos de pós-graduação (74,1%)
foi o estudo.
O 2º principal motivo citado pelos estudantes de graduação estava relacionado à
falta de condição financeira (34,6%) e com relação aos alunos de pós-graduação, 50,0%
afirmaram que não tinham mais momentos de lazer devido às poucas opções oferecidas
na cidade de Viçosa. Novamente percebe-se a ligação intrínseca entre lazer e consumo
na opinião dos graduandos, já que estes apontaram a falta de condições financeiras
como 2º principal motivo de não terem mais momentos de lazer, ou seja, demonstraram
dar preferência por atividades de lazer geradoras de gastos financeiros.
Com relação aos pós-graduandos, a situação também é preocupante, pois esses
estudantes deixam de vivenciar mais momentos de lazer por acreditarem que as opções
de lazer são poucas. Essa redução do poder de escolha foi uma das críticas feitas por
Adorno e Horhheimer (1985) à indústria cultural que, com auxílio dos meios de
comunicação e da publicidade, causam alienação e tolhem a capacidade criativa dos
indivíduos.
20
Como foi mostrado anteriormente, a “principal atividade de lazer” mais citada pelos
estudantes de pós-graduação foi assistir televisão. Sendo assim foi feito um cruzamento
de dados para verificar se assistir televisão estaria influenciando no 2º motivo de os
mesmos não vivenciarem o lazer com maior frequência (existência de poucas opções de
lazer). Entre os pós-graduandos, 22,2% indicaram como principal forma de lazer assistir
televisão, sendo que 100% destes afirmaram que o 2º motivo de não vivenciar o lazer
com maior frequência era a existência de poucas opções na cidade. Andrade et al.
(2010) afirma que a mídia (principalmente a televisão) associa o lazer ao consumo de
bens e serviços, e como muitos destes não estão disponíveis no mercado de Viçosa, os
jovens podem ficar insatisfeitos.
Para verificar o nível de satisfação dos estudantes com as atividades de lazer
disponíveis em Viçosa, foi solicitado aos participantes que escolhessem a melhor opção
de resposta numa escala de 7 pontos (totalmente insatisfeito; muito insatisfeito;
insatisfeito; indiferente; satisfeito; muito satisfeito; totalmente satisfeito).
Dentre os estudantes de graduação, 45,9% disseram estar “totalmente satisfeitos”,
“muito satisfeitos” e “satisfeitos”, sendo que a maioria destes se declarou apenas
“satisfeito”. Os “indiferentes” somaram 19,9%, enquanto 34,1% estavam “totalmente
insatisfeitos”, “muito insatisfeitos” e “insatisfeitos”, sendo que a maioria destes se
declarou “insatisfeito”.
Os alunos de pós-graduação que se declararam “muito satisfeitos” e “satisfeitos”
somaram 40,8%, sendo que igual porcentagem afirmou estar “totalmente insatisfeitos”,
“muito insatisfeitos” e “insatisfeitos”. Os “indiferentes” somaram 18,5%. Nenhum
estudante de pós-graduação se declarou “totalmente satisfeito”, o que ressalta diferenças
na percepção do lazer entre os dois grupos.
Relacionando a renda dos estudantes com a satisfação quanto ao lazer oferecido,
percebe-se que 45,9% dos estudantes que têm uma renda mensal entre 401 a 600 reais
estavam satisfeitos com as atividades de lazer oferecidas na cidade. Já 37,5% dos
estudantes com a renda na faixa de 1601 e 1800 reais estavam insatisfeitos. Assim, a
renda parece influenciar na satisfação dos participantes, pois tendo uma renda maior o
jovem pode pagar por uma maior variedade de opções de lazer que podem não estar
disponíveis na cidade, deixando-o insatisfeito.
21
5. ANÁLISE DO CONSTRUTO
Foi elaborado o construto “lazer relacionado ao consumo de bens e serviços” com o
objetivo de verificar se os estudantes fazem a associação proposta por ele. Para verificar
a confiabilidade do construto utilizou-se a técnica do Alfa de Cronbach. Para isso foram
apresentadas seis afirmações, para as quais o respondente escolhia, numa escala de 7
pontos, quanto concordava com cada uma delas. As opções de resposta eram: “concordo
totalmente”; “concordo muito”; “concordo”; “indiferente”; “discordo”; “discordo
muito”; “discordo totalmente”.
Foram formuladas as seguintes afirmativas: “As melhores opções de lazer em
Viçosa são gratuitas”, “Uma das minhas principais formas de lazer é ir ao shopping
fazer compras”, “Fazer compras (roupas, sapatos, supermercado, eletrônicos) é uma
forma de lazer”, “Desfruto de atividades de lazer gratuitas”, “Não tenho mais momentos
de lazer por falta de condições financeiras”, “No meu tempo livre prefiro encontrar com
os amigos para ir ao shopping”.
O Alfa de Cronbach foi de 0,806, indicando haver consistência interna satisfatória,
ou seja, os estudantes estabelecem ligação entre lazer e consumo.
O resultado foi satisfatório e é validado por pesquisas de alguns autores como
Taschner (2000) que descreveu o prazer que as pessoas têm através do processo de
compra e Andrade et al. (2010) que mostraram que com o lazer, sendo ditado pela
publicidade e pelo marketing, passa a ter significado apenas quando está ligado ao
consumo de bens ou serviços.
6. CONCLUSÕES
De acordo com os entrevistados o lazer é relevante em suas vidas e como indica a
análise do construto, este está associado ao consumo. Outro ponto que se destaca é que
na indústria cultural os meios de comunicação em massa, entre os quais a televisão é o
exemplo mais expressivo, aparecem como instrumentos que ajudam a reproduzir o
sistema capitalista, transformando produtos e serviços em necessidades e desejos. O ato
de assistir televisão desperta nos jovens a necessidade de consumir bens e serviços
associados a certas atividades de lazer, mas a falta de condições financeiras ou a
carência na oferta das mesmas, faz com que se sintam frustrados e insatisfeitos.
22
Ademais, a influência da televisão pode impedir que eles percebam a existência de
opções de lazer gratuitas.
É preocupante a forma como a publicidade influencia o consumo, e mais
preocupante ainda é o caso dos jovens. Se a publicidade é capaz de influenciar jovens
cercados de oportunidades e conhecimento, como será sua capacidade de influenciar a
grande maioria desse segmento da população que não tem oportunidade de estudar e
muito menos de fazer um curso superior?
Confirma-se, assim, a necessidade de uma educação para o consumo consciente,
que deve começar na infância, ocasião em que familiares e professores devem auxiliar
na formação de valores sólidos na criança, inibindo comportamentos consumistas.
Devido a sua grande importância na formação dos indivíduos, a educação do
consumidor deveria ser parte integrante das grades curriculares do ensino fundamental,
médio e superior, para que sejam formados cidadãos capazes de refletir e ter consciência
crítica para tomar decisões sobre o uso de seus recursos, particularmente tempo e
dinheiro.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985
ANDRADE, Carolina Paes; ROMERA, Liana Abrão; MARCELLINO, Nelson
Carvalho. Contribuições de Sebastian de Grazia para os estudos do lazer. Revista
Motriz, Rio Claro, v.16 n.2, p.516-526, abr./jun. 2010.
BRASIL. Lei Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 20 abr. 2012.
DE GRAZIA, Sebastian. Tiempo, trabajo y ócio. Madrid: Tecnos, 1966.
DUMAZEDIER, Joffre. Vers une civilization du loisir? Paris: Ed. du Seuil, 1962.
LIMA, Flávia Évelin Bandeira; MARTINS, Luis Miguel; SPONCHIADO, Marcelo
Kuhne de Oliveira; PIMENTEL, Giuliano Gomes de Assis. Lei seca no período do
vestibular e sua relação com as políticas pública de lazer. Revista Licere, Belo
Horizonte, v.13, n.1, p. 1-20, 2010.
23
PINTO, Samuel Gonçalves. Relações entre família, trabalho e lazer: o caso dos
professores da Universidade Federal de Viçosa. 2008. 82f. Dissertação (Mestrado em
Economia Doméstica) – Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica,
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2008.
TASCHNER, Gisela B. Lazer, cultura e consumo. Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v.40, n.4, p.38-47, out./dez. 2000.
24
LAZER, CONSUMO E INDÚSTRIA CULTURAL
OLIVEIRA, Márcia Botelho; SILVA, Neuza Maria
Universidade Federal de Viçosa
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
A ligação entre lazer e consumo é visível na sociedade ocidental, evidenciando a
importância de se pensar sobre a articulação desses conceitos. Existem características do
lazer em algumas formas de consumo, como ir ao shopping center nos fins de semana, e
também particularidades do consumo no lazer, como, por exemplo, as inúmeras
atividades de lazer que demandam gastos, tais como jogar boliche, frequentar academia,
ir ao cinema ou teatro entre outras. Essa ligação é fortalecida através da mídia que, nas
últimas décadas, vem sugerindo à população as formas de lazer que devem ser
usufruídas e segundo Taschner (2000), o lazer tornou-se um objeto da indústria ou de
um complexo de serviços.
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi apresentar uma revisão bibliográfica contextualizando
historicamente a ligação entre lazer e consumo e o fortalecimento desta ligação através
da influência da publicidade.
3. METODOLOGIA
Para atender ao objetivo proposto foi realizada uma busca bibliográfica e
posteriormente uma seleção de artigos e livros que tratavam do tema proposto. Assim,
pode-se realizar uma avaliação e discussão sobre a influência da publicidade, através da
mídia, no lazer usufruído pela sociedade.
25
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1. Um breve histórico da associação entre lazer e consumo
Para analisar a associação entre lazer e consumo, realizou-se um breve histórico
desse encontro. Na clássica análise de Veblen (1934) a chamada classe ociosa (em
inglês, leisure class) era composta basicamente pela nobreza e pelo clero, e como não
eram envolvidos em rotinas de trabalho tinham muito tempo para o consumo,
principalmente de artigos luxuosos. Assim Veblen (1934) associou o consumo
conspícuo ao advento daquela classe ociosa, que teria atingido seu desenvolvimento
máximo no Feudalismo. De acordo com o referido autor, o consumo conspícuo era uma
forma de ter, manter e exibir o status social entre os membros da classe ociosa.
Desta forma, se no passado a reputação das pessoas esteve ligada à coragem e
bravura, à medida que a atividade industrial cresceu, a reputação se vinculou à posse de
bens. Veblen (1934) afirmou que como consequência disso se tornou “necessário atingir
um padrão de riqueza um tanto indefinido” para ser respeitado pelas outras pessoas. Isso
fez com que as pessoas começassem a consumir muito para atingir certa posição, que ao
atingida passava a ser pouco e logo era necessário consumir mais para estar em outro
padrão de riqueza. Veblen (1934) definiu como um “processo sem fim”, pois o desejo
de cada uma das pessoas era superar as outras na acumulação de bens e riquezas.
Um importante fato a ser lembrado é que o consumo conspícuo existiu em vários
locais e épocas, porém no final do século XVI na Corte britânica, começou a chamar a
atenção o culto à novidade, ao novo e não apenas ao luxo. Assim, nascia a moda
(LIPOVETSKY, 1989).
Entretanto, esse consumo desenfreado da classe ociosa não estava ligado ao lazer,
pois segundo Taschner (2000) o consumo do luxo e da moda não significava
necessariamente prazer ou algo que era feito como lazer. Para os membros da corte,
tratava-se de uma obrigação da nobreza. Porém, é notável que foi estabelecido um novo
padrão de consumo.
A partir do século XIX, esse novo padrão de consumo difundiu-se para outros
segmentos sociais. Assim, a era da produção e do consumo de massa, possível através
da Revolução Industrial, ofereceu à classe média e, mais tarde, à classe operária acesso
a bens de consumo antes restritos à nobreza.
26
Tal difusão de bens de consumo pode ter sido impulsionada pelas lojas de
departamento que, no início do século XX, promoveram uma revolução no varejo e
associaram um novo elemento às características do consumo, o “prazer no processo de
compra” (TASCHNER, 2000). Com isso, o ato de comprar se transformou em uma
atividade muito agradável e mais do que isso, ensinou a população o que comprar e
como comprar.
As lojas de departamento tornaram muito divertido e agradável fazer compras, olhar
vitrines de lojas, independente do que se compraria. Assim, para muitas pessoas sair
para fazer compras tornou-se uma atividade prazerosa. Com isso, as lojas de
departamento tornaram mais próximas à relação entre lazer e consumo, além de
redefinir essa relação.
4.2. O surgimento da indústria cultural
O desenvolvimento dos meios de comunicação, juntamente com a publicidade e as
técnicas de marketing, auxiliou na formação de uma cultura de massa que também é
considerada uma cultura do lazer e do consumo. Assim, emergiu uma nova indústria, a
indústria cultural (TASCHNER, 2000). A expressão “indústria cultural” foi criada por
Adorno e Horkheimer em 1947, em substituição à expressão “cultura de massas”, para
desvinculá-la da definição de “uma cultura que brota espontaneamente das próprias
massas”, assim como de uma cultura popular (CASTILHOS, 2007).
Os críticos da indústria cultural como Morin (1969) e Adorno e Horkheimer (1985)
declaram que ela, através dos meios de comunicação e da publicidade, impõe um tipo de
escravidão que reduz o poder de escolha dos consumidores, causando alienação e
passividade. Isso fica claro na seguinte passagem:
“Através dos meios de comunicação de massa, que têm como principais
instrumentos o rádio, a televisão, a imprensa e o cinema, monopoliza-se o
espaço destinado à reflexão, à criação da cultura, tolhendo, assim, a
capacidade criativa dos indivíduos e fazendo desses uma peça na
engrenagem dessa indústria” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p.119).
Sobre essa temática também deve ser ressaltada a reflexão contida na letra da
música “Televisão”, de 1985, da banda brasileira Titãs, que mostra como a alienação
promovida pela televisão já era parte da vida dos brasileiros na década de 1980. Os
autores dessa música fizeram uma forte crítica à influência que a televisão tem sobre as
27
pessoas, deixando-as alienadas e sem discernimento: “A televisão me deixou burro,
muito burro demais./ Agora todas as coisas que eu penso me parecem iguais”. Esta
forma de alienação elimina a capacidade de julgar e decidir por si mesmo dos
indivíduos. Em outro trecho da música ficou evidenciada a indução ao sedentarismo e à
preguiça física e mental exercida pela televisão: “A mãe diz pra eu fazer alguma coisa,
mas eu não faço nada./ A luz do sol me incomoda então deixa a cortina fechada”.
Além da banda Titãs, outros artistas compuseram músicas com críticas às diversas
formas de alienação e opressão, dando origem a um movimento de grande importância
para a cultura brasileira. Entretanto, no século XXI a mídia capaz de influenciar as
pessoas não se resume somente à televisão – claro que esta continua sendo popular,
estando presente, segundo o IBGE (2010), em 95,3% dos domicílios brasileiros e sendo
a principal fonte de informação de muitas pessoas ao redor do mundo. Entretanto, o
avanço tecnológico, o acesso a novas mídias aumentou, existindo computadores e
celulares com disponibilidade de conexão à internet em qualquer lugar, ampliando
significativamente o acesso à informação.
A indústria cultural através do uso da tecnologia e da televisão difundiu e continua a
difundir e padronizar estilos de vida, nos quais produtos e serviços são transformados
em necessidades e desejos, criando, apontando e controlando o que é bom e deve ser
consumido (CASTILHOS, 2007). Essa influência comercial agressiva pode causar
distúrbios alimentares e erotização precoce em crianças, dependência de tabaco e álcool
em adolescentes e predominância de valores materialistas, estresse familiar, sensação de
insatisfação dentre outras consequências entre adultos (SCHOR, 2009).
A indústria cultural transformou a cultura e o lazer em mercadorias que são
construídos em função do mercado, com o objetivo de vendê-los e obter lucros. Assim,
segundo Wolf (1999), surgiu a indústria e a economia do entretenimento.
Com o processo de globalização disseminando os produtos dessa nova indústria
pelo mundo inteiro, influenciando hábitos de lazer e consumo, a partir do século XX
ocorreu uma revolução que associou definitivamente o consumo ao lazer, que Taschner
(2000) definiu como "o prazer no processo de compra”: o surgimento dos shopping
centers. Os shopping centers são muito mais do que espaços exclusivamente para a
compra de objetos, mas também um centro de compras de serviços, alimentação e lazer.
Padilha (2008) define-os como "cidades artificiais", ícones de uma sociedade que
supervaloriza o consumo de bens materiais e os chamados lazer-mercadorias. Assim,
esses ambientes transformam-se em espaços de lazer alienados, influenciando a
28
identidade social dos indivíduos, tanto dos frequentadores como também dos que não
frequentam, mas atraídos pela publicidade e pela cultura do consumo, desejam
frequentá-lo (PADILHA 2008).
Segundo a mesma autora, os shopping centers são templos onde se pode notar a
plena expressão da nossa cultura. A sociedade de consumo que surgiu no fim do século
XVIII e se desenvolveu culminando nos shoppings de hoje cria uma cultura onde o ato
de consumir passa a ter significados simbólicos que antes não tinha. Na sociedade
moderna consomem-se valores, símbolos, imagens e marcas. As mercadorias ditam os
modos de se comportar e pensar de camadas cada vez maiores das populações de todo o
mundo (PADILHA, 2006).
5. CONCLUSÕES
O espaço do consumo crescendo dentro do tempo dedicado ao lazer é nítido e, além
disso, é notável o crescimento da influência da indústria cultural nos processos e hábitos
de consumo da população.
O que se pode perceber é que na indústria cultural os meios de comunicação em
massa, como o exemplo mais expressivo tem-se a televisão, aparecem como
instrumentos que ajudam a reproduzir o sistema produtivo, transformando produtos e
serviços em necessidades e desejos. Assim, a publicidade, através da televisão, tem
como objetivo despertar nas pessoas uma necessidade de consumir o que é mostrado,
mas ao não ter acesso seja por falta de condições financeiras ou por falta de oferta de
tais atividades em seus municípios, o indivíduo pode se sentir frustrado e insatisfeito.
Ademais, essa influência causa um processo de “cegueira”, fazendo com que a
população não perceba que existem formas de lazer que podem ser prazerosas, mas que
não estão sendo anunciadas nas mídias, pois são formas de lazer gratuitas e
consequentemente não são geradoras de lucro.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
CASTILHOS, Silmara de Fátima. Lazer, consumo e auto-regulação publicitária:
contribuição ao estudo da proteção do consumidor infantil. 2007. 207f. Dissertação
29
(Mestrado em Administração de Empresas) – Programa de Pós-Graduação em
Administração de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2007.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados do Censo 2010
publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1
233&id_pagina=1>. Acesso em: 21 abr. 2012.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades
modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX. Rio de Janeiro: Forense, 1969.
PADILHA, Valquíria. Desafios da crítica imanente do lazer e do consumo a partir do
shopping center. ArtCultura, Uberlândia, v.10, n.17, p. 103-119, jul./dez. 2008.
________. Shopping center: a catedral das mercadorias. São Paulo: Boitempo, 2006.
SCHOR, Juliet B. Nascidos para comprar: uma leitura essencial para orientarmos
nossas crianças na era do consumismo. São Paulo: Editora Gente, 2009.
TASCHNER, Gisela B. Lazer, cultura e consumo. Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v.40, n.4, p.38-47, out./dez. 2000.
VEBLEN, Thorstein. The theory of the leisure class. New York: Modern Library,
1934.
WOLF, Michael J. Entertainment economy. New York: Times Books, 1999.
30
O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS IDOSOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE A
PARTIR DOS DADOS DA POF (2008-2009)
MELO, Natália Calais Vaz de; TEIXEIRA, Karla Maria Damiano;
CARMO, Luiz Antônio Mattos do.
[email protected]
Universidade Federal de Viçosa
1. INTRODUÇÃO
As várias mudanças demográficas ocorridas na sociedade brasileira a partir dos
anos de 1970, especialmente aquelas relativas à redução das taxas de fecundidade e
mortalidade, e aumento da longevidade tiveram, de acordo com Carvalho e Alves
(2010), impactos diretos sobre o tamanho e composição das famílias, bem como nas
relações de gênero e nos padrões de consumo. Uma das transformações sociais mais
importantes que ocorreram, segundo Osório e Pinto (2007), está relacionada ao aumento
demográfico dos idosos. É visível o fenômeno crescente do envelhecimento da
população
em
todas
as
sociedades
economicamente
desenvolvidas
ou
em
desenvolvimento.
O IBGE (2010) vem mostrando que em vários países, as populações estão
envelhecendo e que o número de pessoas idosas cresce em ritmo maior do que o número
de pessoas que nascem acarretando um conjunto de situações que modificam a estrutura
de gastos dos países em uma série de áreas importantes. No Brasil, o ritmo de
crescimento da população idosa tem sido sistemático e consistente.
Entretanto, de acordo com Mendes et al. (2005), a sociedade não está preparada
para essa mudança no perfil populacional e, embora as pessoas estejam vivendo mais, a
qualidade de vida não acompanha essa evolução.
Assim, o acelerado ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos desafios para a
sociedade contemporânea, onde esse processo ocorre num cenário de profundas
transformações sociais, urbanas, industriais e familiares (PEREIRA et al., 2005).
Nesse sentido, pensar os fatores socioeconômicos como elementos constituintes da
condição de vida possibilita uma visão mais ampliada da realidade concreta dos
indivíduos idosos.
31
Diante do exposto, objetivou-se com este estudo delinear o perfil socioeconômico
dos idosos de todas as regiões brasileiras, a partir dos micro dados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (2008-2009).
2. METODOLOGIA
O presente estudo tem caráter quantitativo, descritivo, com corte transversal, e foi
realizado por meio de uma pesquisa de dados secundários.
Os dados foram obtidos através dos micro dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares - POF (2008-2009), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística.
A POF (2008-2009) visa principalmente mensurar as estruturas de consumo, dos
gastos, dos rendimentos e parte da variação patrimonial das famílias. Possibilitando
traçar, portanto, um perfil das condições de vida da população brasileira a partir da
análise de seus orçamentos domésticos (IBGE, 2010).
Para atingir o objetivo proposto, neste estudo foram utilizados dados de 19.882
idosos residentes em todas as regiões do país.
Os dados foram tabulados e dispostos no programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS 15.0). Posteriormente, foi realizada uma análise exploratória dos dados,
a partir das variáveis: sexo, nível de escolaridade e renda.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para delinear o perfil socioeconômico dos idosos das regiões Norte, Nordeste, Sul,
Sudeste e Centro Oeste do país foi realizado uma análise exploratória das variáveis
idade, sexo, nível de escolaridade e renda.
A média de idade dos idosos foi de aproximadamente 70(±8) anos, sendo que a
idade mínima considerada foi de 60 anos e, a máxima, de 104 anos.
Da amostra de idosos pesquisados, 45,8% eram do sexo masculino e 54,2% do sexo
feminino. Pode-se perceber que os idosos da maioria das regiões são do sexo feminino,
com exceção da região Norte que possui 50,7% idosos do sexo masculino e 49,3% do
sexo feminino.
32
Quanto ao nível de escolaridade dos idosos, constatou-se que em todas as regiões
predominou o ensino fundamental, sendo 85,3% dos idosos entrevistados na região
Norte, 84,4% no Nordeste, 80,9% no Sudeste, 86,9% no Sul e 81,4% no Centro Oeste.
Fazendo uma análise da renda em relação à unidade da federação, percebeu-se que a
renda predominante variou de R$1.245,01 a R$2.490,00, sendo a região Sudeste a que
apresentou um maior percentual de idosos com renda superior a R$10.375,01. Percebese, assim, a desigualdade de renda entre a população idosa nas regiões do país.
Alguns destes dados socioeconômicos reafirmam os trazidos pela PNAD (2009,
apud IBGE, 2010b), em que as mulheres ainda são a maioria no país, que a escolaridade
dos idosos brasileiros é ainda considerada baixa, e que pouca parcela da população
vivem com renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo.
4. CONCLUSÕES
Esse estudo buscou delinear o perfil socioeconômico dos idosos residentes nas
diversas regiões do Brasil com base em dados da POF (2008-2009), a partir das
variáveis: sexo, renda e nível de escolaridade desse segmento. Ficou evidente que houve
diferenças entre renda e escolaridade dos idosos.
Conclui-se, assim, que há no país a predominância de idosas, que o nível de
escolaridade dos idosos brasileiros é baixo, visto que a maioria possui apenas o ensino
fundamental, e existe uma grande desigualdade de renda entre o segmento estudado.
É importante, assim, a realização de estudos mais aprofundados sobre as questões
relativas ao idoso brasileiro, principalmente considerando-se suas relações na família e
na sociedade.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, A. A.; ALVES, J. E. D. Padrões de Consumo dos arranjos familiares
e das pessoas que moram sozinhas no Brasil e em Minas Gerais: Uma análise de
gênero e renda. In: XIV Seminário sobre a Economia Mineira, 2010, Diamantina.
Disponível em: <http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/economiamineira/diamantina-2010/3.php>. Acesso dia 19 ago. 2011.
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Orçamentos Familiares (2008-2009): Despesas, rendimentos e condições de vida. Rio
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população brasileira - 2010. Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e
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OSÓRIO, A. R.; PINTO, F. C. As pessoas idosas: Contexto social e intervenção
educativa. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, 2007.
34
O TRABALHO VOLUNTÁRIO E ASSOCIATIVO: VIVÊNCIAS E
IMPLICAÇÕES
Adriele Schmidt; Rita de Cássia Zanuncio Araújo, Patrícia Ferraz do Nascimento
Universidade Federal de Viçosa
[email protected]
RESUMO
A economia solidária pressupõe a organização de grupos de pessoas em redes de
interação e cooperação, visando a solução de necessidades e implementação de desejos
comuns a estes indivíduos. Objetivou-se com este estudo descrever as práticas
voluntárias e associativas vivenciadas em Venda Nova do Imigrante-Espírito Santo,
com vista a identificar as suas implicações no cotidiano dos indivíduos envolvidos
nestas atividades. Estas atividades se baseiam em princípios da economia solidária
como a solidariedade, a autogestão, as dimensões econômicas e a cooperação e
acarretam benefícios para a comunidade como o seu desenvolvimento, a melhoria de
renda, qualidade de vida das famílias e a inclusão social de indivíduos. Para
potencialização deste tipo de atividade, a conscientização e educação cooperativista de
comunidades são necessárias e tornam-se uma importante área de atuação para os
profissionais com visão holística.
Palavras-chave : Economia Solidária; Vivências; Implicações.
1. INTRODUÇÃO
Na sociedade contemporânea, o modelo de economia baseado no capitalismo está
acarretando uma série de transformações. Diante destas, algumas parcelas da população
são excluídas da sociedade e do mundo do trabalho, enfrentando uma série de
dificuldades para realização de seus projetos de vida.
Para solução ou minimização destas situações, muitos grupos de pessoas que
possuem fins comuns se unem para buscar caminhos de se inserir no mercado de
trabalho e na sociedade. Esta forma de trabalho, denominada de economia solidária,
pressupõe a organização dos trabalhadores em redes de interação e cooperação, visando
35
o crescimento mútuo, por meio do compartilhamento de recursos materiais, experiências
e da ajuda. Este termo resulta da união entre a cultura, a tecnologia e a economia e que
visa valorizar a capacidade de criar e reinventar, quebrar alguns paradigmas tradicionais
e buscar pela solução dos velhos e dos novos problemas. Esta atividade estimula o
trabalho de novos produtores, promovendo o resgate do cidadão e a inserção social de
um público possivelmente excluído pelo sistema capitalista. (SANTOS,2002 apud
FARIAS, 2011; REIS, 2008 apud FARIAS, 2011).
Os trabalhos voluntários e associativos, utilizando como base princípios da
Economia Solidária estão muito presentes no município de Venda Nova do ImigranteEspírito Santo, onde grupos de pessoas se unem para trabalhar junto em benefício
próprio e comunitário diante de um desejo ou necessidade comum. Nesse sentido, esta
pesquisa foi desenvolvida buscando apresentar os trabalhos grupais do município e
retratar como os mesmos abrangem diferentes atividades, sejam elas produtivas ou
sociais, em busca de qualidade de vida.
2. OBJETIVOS
Este artigo teve por objetivo geral identificar as práticas voluntárias e associativas
vivenciadas em Venda Nova do Imigrante-Espírito Santo, com vista a identificar as suas
implicações no cotidiano dos indivíduos envolvidos nestas atividades.
Especificamente pretendeu-se:
-Apresentar os trabalhos associativos desenvolvidos no município de Venda Nova
do Imigrante - ES;
- Inter-relacionar aos trabalhos associativos desenvolvidos no município com
conceitos de economia solidária;
- Analisar as implicações pessoais, sociais e econômicas decorrentes da participação
da comunidade nos trabalhos voluntários e associativos.
a) A Economia Solidária e o desenvolvimento comunitário
Grande parte das comunidades passa por problemas comuns a todos ou a uma parte
de seus integrantes. As práticas solidárias são formas para inserir nestas comunidades os
trabalhos solidários com objetivo de melhorar a qualidade de vida dos moradores locais
e do meio ambiente.
36
Para o Ministério do Trabalho e Emprego Brasileiro - MTE (2005) citado por
Dantas et al (2010) a economia solidária, é um conjunto de atividades econômicas
(produção, distribuição, consumo, poupança e crédito), organizado e realizado
solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras de forma coletiva, autogestionária e
pautada sobre os pilares da cooperação, da autogestão, da viabilidade econômica e da
solidariedade.
Algumas de suas bases são a cooperação e a solidariedade. Sobre a cooperação,
Valadares (2011), escreveu que se baseia em tentar conseguir com a ajuda dos outros o
que, com maior dificuldade, se conseguiria sozinho, por meio do trabalho conjunto. Ele
se refere a cooperação também como uma resposta intelectual e criativa do homem
frente a suas necessidades e realidades.
Em complemento a estas informações, Rodrigues (2011, apud Farias, 2011, p. 11)
afirma que:
a economia criativa é um caminho promissor para estimular a geração de
trabalho e renda a partir da valorização das especificidades regionais e a
diversidade cultural em detrimento da produção em massa, de modo a
fortalecer a sociedade civil e os pequenos produtores, e ainda favorecer o
processo de transformação de comunidades e promover seu
desenvolvimento.
Nesse sentido, a economia solidária é uma alternativa para solucionar problemas
existentes nas comunidades como também para valorização cultural e promoção do
desenvolvimento local. Estas organizações grupais podem ser no formato de
associações ou cooperativas.
Em seu trabalho sobre associações Valadares (2011, pág 1), define este tipo de
organização como sendo “toda iniciativa formal ou informal por meio da qual, um
grupo de pessoas ou de instituições buscam realizar determinados interesses comuns,
sejam eles econômicos, sociais, políticos ou culturais”. Segundo o mesmo autor, as
associações se subdividem em diversas categorias e uma delas são as associações de
trabalho, nas quais estão as associações de artesãos, taxistas, médicos, costureiras, bem
como associações de empresários de pequenos negócios, comerciantes e produtores
rurais, que se organizam para realizar atividades produtivas em conjunto ou para a
prestação de serviço ou trabalho de produção e comercialização de mercadorias por
meio do associativismo, tornando-se uma nova alternativa de expansão no mercado.
Outra forma de organização grupal são as cooperativas, definidas pela Lei
cooperativista 5.764 de 1971 como sendo “uma sociedade de pessoas, com forma e
37
natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita a falência, constituída para
prestar serviços aos associados” (LEI 5.764, 1971, p.2).
Alguns princípios deste tipo de organização são visar o aprimoramento do ser
humano nas dimensões culturais, sociais e econômicas, preocupando-se com a
qualidade dos serviços oferecidos, além de buscar por um preço mais justo,
preocupando-se com o meio ambiente e a construção de uma sociedade mais
democrática, sustentável e equitativa. Não obstante, o cooperativismo centra-se na
valorização do ser humano, uma vez que possibilita o empoderamento, o exercício da
cidadania e o desenvolvimento social, cultural e econômico dos beneficiários. Neste
sistema, os cooperados são trabalhadores e proprietários ao mesmo tempo, participando
da definição das ações, prioridades e estratégias, além de terem maior incentivo moral e
econômico para dedicar-se ao trabalho na cooperativa (SANTOS, 2002 apud FARIAS,
2011; VEIGA, 2001).
Além destas duas modalidades, os trabalhos voluntários para diversos fins também
adotam princípios da cooperação e da Economia Solidária e proporcionam resultados
significativos nas comunidades onde são desenvolvidos, se apresentando como
importante mecanismo de inserção de idosos e outros indivíduos muitas vezes
“excluídos” da sociedade. A Lei 9.608 de 1998 define estes trabalhos como sendo
aquelas atividades não remuneradas, prestada por pessoa física a entidade pública de
qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social,
inclusive mutualidade.
Ambas estas atividades, sejam elas cooperativas, associativas ou voluntárias
apresentam uma série de vantagens, como aponta Veiga (2001) quando aborda o
trabalho em cooperação, sendo elas: a) Manter as pessoas integradas em grupos,
fortalecendo-se para o enfrentamento das dificuldades econômicas e sociais que possam
surgir; b) aumento do nível de conhecimentos, de participação social e de possibilidades
de participação em organizações de toda a sociedade; c) criação e fortalecimento dos
laços de amizade e solidariedade social; d) aumento da produtividade do trabalho
através da divisão do trabalho, da organização da produção e da racionalização do
processo de trabalho e do uso dos meios de produção; e) redução da dependência e do
risco dos pequenos agricultores quando isolados; f) possibilita vendas a preços
melhores; g) eliminação de intermediários nas relações de mercado, sendo a venda
direto ao consumidor uma das estratégias mais adotadas no formato de feiras e outras
38
opções, e; h) possibilidade de fazer compras a preços mais baixos, devido ao maior
volume de mercadoria.
Conhecendo esta série de vantagens do trabalho em cooperação, Farias (2011)
aponta para a necessidade de atenção de profissionais que trabalham com o
desenvolvimento comunitário estimular o potencial criativo e empreendedor dos grupos
de agricultores familiares, explorando para que os produtores possam gerar novas ideias
e produtos inovadores. Além disso, o trabalho em grupo deve considerar as
características culturais do local, buscando fortalecê-las e também, por meio das
organizações grupais, promover o desenvolvimento de atividades pluriativas que podem
ser desenvolvidas no meio rural.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido no Município de Venda Nova do Imigrante,
tratando-se de uma estudo qualitativo, caracterizado como aquele que tem como
princípios essenciais o caráter descritivo, o ambiente natural como fonte direta de dados
e o pesquisador como instrumento fundamental, o enfoque dedutivo e que leva em
consideração os significados que as pessoas conferem às suas coisas e a sua vida
(NEVES, 1996).
O município de Venda Nova do Imigrante foi emancipado em 10 de maio de 1988,
sendo formado em sua grande maioria por imigrantes italianos. Possui população
aproximada de 20.447, e sua renda advém de produção agrícola, pecuária, além de
importantes trabalhos com agroturismo, agroindústrias artesanais, artesanato e trabalhos
voluntários (IBGE, 2010).
A cidade foi a primeira do Estado a praticar o agroturismo e tem destaque em todo o
Brasil como modelo ideal deste tipo de atividade. A prática deste tipo de turismo teve a
sua origem com a chegada dos imigrantes italianos em 1892, os quais tinham o costume
de produzir alimentos dentro de suas propriedades, uma vez que haviam poucas casas de
comércio na região e o dinheiro também era escasso.
Os grupos que desenvolvem atividades associativas e voluntárias no município e
que foram estudados neste trabalho são as Voluntárias Pró- Hospital Padre Máximo, o
Grupo de Fitoterapia da Pastoral da Saúde, o Centro Regional de Desenvolvimento do
Agroturismo- AGROTUR/Venda Nova do Imigrante e a Associação da Feira Livre da
Agricultura Familiar.
39
Para coleta de dados foram realizadas visitas aos grupos e associações, observações
diretas de seus trabalhos, buscando interação com os integrantes dos grupos para
conhecer a vivência dos mesmos nas atividades. Os dados coletados foram descritos e
analisados dentro de abordagens teóricas sobre a temática.
4. TRABALHOS VOLUNTÁRIOS E ASSOCIATIVOS
4.1. Trabalhos voluntários
O trabalho voluntário é uma vocação antiga do município de Venda Nova do
Imigrante que desenvolve várias atividades que contam a participação de jovens, adultos
e idosos no trabalho conjunto, visando a resolução de alguma situação problema,
aproveitamento de potencialidades e inclusão social dos envolvidos nas atividades, em
especial os idosos, que não mais se encontram no mercado formal de trabalho.
Tratando especificamente da população idosa, Souza et al (2008) diz que o
voluntariado na terceira idade serve como mecanismo para manter este público
socialmente ativo, afastar o preconceito advindo com a aposentadoria, além de aumentar
a qualidade de vida e autoestima dos participantes.
O trabalho voluntário é uma forma de participação social, em que os participantes
investem o seu tempo livre na promoção da solidariedade e da cidadania, auxiliando no
desenvolvimento local. Em Venda Nova do Imigrante, estes trabalhos são
desenvolvidos pela Associação de Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo e pelo
Grupo de Fitoterapia Pastoral da Saúde. Segue apresentação dos mesmos:
- ASSOCIAÇÃO DE VOLUNTÁRIAS PRÓ-HOSPITAL PADRE MÁXIMO
A Associação das Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo, com base nas
informações contidas em seu folder de divulgação, é uma entidade sem fins lucrativos,
composta por 130 voluntárias do município, existente a 30 anos. Seu surgimento se deu
quando ocorreu uma mobilização popular a cerca das carências identificadas no
Hospital Padre Máximo, Hospital do município de Venda Nova do Imigrante, e por
sugestão de um médico que havia conhecido o trabalho voluntário feito em benefício do
Hospital das Clínicas de São Paulo. O trabalho foi iniciado com adaptações a realidade
40
local do município, quando um grupo de senhoras iniciou as atividades com muita
dedicação e comprometimento produzindo peças artesanais como colchas, almofadas,
toalhas, roupas de cama e banho e bordados diversos, bem como artesanatos em geral.
A matéria prima utilizada para confecção dos produtos é doada ou comprada pela
própria Associação. Os bordados utilizados são tradicionais, aprendidos com as nonnas
(avós) que os trouxeram da região de onde migraram e que são preservados entre as
gerações.
A beleza dos trabalhos é retratada nas peças artesanais produzidas, mas o que os
deixam mais encantadores ainda é que com o resultado das vendas, a Associação esteve
presente na vida de muitas pessoas que precisam dos serviços hospitaleiros, atuando no
acolhimento dos pacientes, de turistas e da população dos municípios circunvizinhos.
Assim, cada peça artesanal pode transformar realidades, pois do trabalho destas mãos
solidárias, foram realizadas inúmeras doações ao Hospital Padre Máximo, incluindo
lençóis, fronhas, cobertores, equipamentos, utensílios e móveis.
Os trabalhos das voluntárias são realizados na sede da Associação, localizada no
prédio anexo ao hospital, com salas onde são realizadas oficinas de produção artesanal,
salas de bordado, escritório administrativo e loja para comercialização dos produtos.
- GRUPO DE FITOTERAPIA PASTORAL DA SAÚDE
O uso de plantas medicinais advém da antiguidade e é amplamente utilizada até os
dias atuais, recebendo incentivo da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), que
comprovou que 80 % da população mundial já fez uso de algum tipo de planta
medicinal e 30% destes o fizeram por indicação médica. De acordo com pesquisas, as
plantas medicinais utilizadas para aliviar sintomas dolorosos ou desagradáveis,
apresentam resultados em menor tempo, com custos inferiores e são mais acessíveis a
população (ANDRADE, 2008).
Entre italianos, o cultivo de hortas medicinais e a utilização de remédios caseiros é
uma prática comum, e no município de Venda Nova do Imigrante um grupo de
mulheres se uniu para formar o Grupo de Fitoterapia da Pastoral da Saúde de Venda
Nova do Imigrante/ES, inserido no Território das Montanhas e Águas do ES,
desempenhando importante papel no estado por ser uma unidade de referência em
cultivo e secagem de plantas medicinais, produção de fitoterápicos e demais terapias
naturais e gestão social.
41
A Pastoral da Saúde é um programa de ação comunitária e voluntária da Igreja
Católica, que teve início em janeiro de 1989 a convite do Pároco Padre Geraldo Lopes,
quando um grupo de mulheres se dispuseram a fazer visitas aos doentes e carentes do
município. Quando a Irmã Luiza Caliman visitou a Paróquia, percebeu a oportunidade
de iniciar a utilização das plantas medicinais, o que possibilitou a valorização e
continuidade do saber popular. Assim, para o trabalho eram doadas plantas medicinais,
e as voluntárias passaram por cursos de formação ministrados por profissionais da área
de fitoterapia.
A Pastoral da Saúde é um dos exemplos de trabalhos voluntários realizados em
Venda Nova do Imigrante, tendo a cooperação como seu princípio mais importante. É
um trabalho de grande destaque no município, sendo realizado com amor, empolgação,
responsabilidade e alegria.
Os trabalhos são desenvolvidos por 96 voluntárias que envolvem jovens, adultos e
principalmente idosas que de dividem em dois grupos, sendo que um deles atua no
atendimento aos usuários e manipulação dos fitoterápicos (remédios feitos com plantas
medicinais), trabalhando em forma de revezamento durante a semana no laboratório
situado na sede da Pastoral, atualmente área cedida pela prefeitura, mas cujo projeto de
sede própria já foi aprovado e encontra-se em construção. O outro grupo atua em visitas
domiciliares, e para melhoria dos trabalhos desenvolvidos, o grupo conta com os
trabalhos de um farmacêutico bioquímico e um médico homeopata.
Alguns trabalhos realizados nos laboratórios da Pastoral são a secagem e o
armazenamento das plantas medicinais para serem utilizadas quando necessário. Estas
plantas desidratadas são embaladas em pequenos pacotes que são repassados a
população que as utilizam para fazer o chá, ou são utilizados pelas próprias voluntárias
para fazer tinturas (extratos alcóolicos), cápsulas, pomadas, xaropes, dentre outros
produtos, que são distribuídos para os usuários em preço acessível na sede da Pastoral
da Saúde, sendo também distribuídos gratuitamente para aqueles que não têm condições
de contribuir, e repassados para as escolas municipais, creches, APAE, Prefeitura
Municipal e Hospital do município por meio do Programa Municipal de Saúde. Os
recursos arrecadados são utilizados para cobrir as despesas de manutenção do grupo.
A qualificação constante do grupo garante o sucesso dos trabalhos, que junto com a
Prefeitura Municipal, a Igreja e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e
Extensão Rural- INCAPER, passam seus conhecimentos adiante e aprendem
participando de cursos, seminários, reuniões e oficinas sobre temas ligados à
42
alimentação e saúde e gestão social, destinados tanto para as integrantes do Grupo de
Fitoterapia quanto para a comunidade.
As plantas advêm da Horta Medicinal Comunitária mantida pela parceria entre a
prefeitura municipal e o INCAPER. As plantas são produzidas em sistema orgânico,
com cerca de 80 espécies cultivadas, que são observadas até que se definam as práticas
agrícolas e locais apropriados para cultivo de cada planta.
4.2. Trabalhos associativos
Estes trabalhos são caracterizados como uma forma jurídica de legalizar a união de
pessoas em torno de seus interesses e que sua constituição permite a construção de
condições maiores e melhores do que as que os indivíduos teriam isoladamente para a
realização dos seus objetivos, independente do tipo de associação ou de seu objetivo.
Sendo assim, é uma forma básica de se organizar, juridicamente um grupo de pessoas
para a realização de propósitos comuns (SEBRAE- MG, s/d).
Em Venda Nova do Imigrante, a atividade agroturística e a agricultura familiar são
atividades econômicas fortes, e os indivíduos que desenvolvem estas atividades
encontraram e ainda encontram uma série de dificuldades no desenvolvimento de seus
trabalhos. No intuito de conseguirem melhores resultados e fortalecer estas atividades
no município criou-se o Centro Regional de Desenvolvimento do AgroturismoAGROTUR/Venda Nova do Imigrante e a Associação da Feira Livre da Agricultura
familiar. As descrições destes trabalhos se encontram a seguir:
-
CENTRO
REGIONAL
DE
DESENVOLVIMENTO
DO
AGROTURISMO-
AGROTUR/VENDA NOVA DO IMIGRANTE
A atividade turística é um dos destaques do município de Venda Nova do Imigrante,
mais especificamente o agroturismo, caracterizado como um segmento do turismo que é
desenvolvido no espaço rural por agricultores familiares, no qual estes compartilham
com turistas o seu patrimônio natural e cultural, bem como o seu modo de vida. Estes
empreendimentos mantêm as suas atividades econômicas e oferecem produtos e
serviços de qualidade, valorizando e respeitando o ambiente e a cultura local e
proporcionado bem estar aos envolvidos (TOREZAN et al, 2002).
43
A associação de empreendedores que desenvolvem o agroturismo no município é
composta por aproximadamente 24 famílias de agricultores familiares, que desenvolvem
atividades que englobam atividades de lazer, hospedagem, alimentação, visitação,
agroindústrias caseiras e venda dos produtos fabricados em lojas próprias dos
estabelecimentos e outras, produtos artesanais, dentre outras atrações. O grupo surgiu
para fortalecer a atividade turística na região por meio da organização grupal, visando
melhorar a divulgação do trabalho desenvolvido, buscar comprar insumos coletivamente
para diminuição de custos, proporcionar qualificação da produção, organizar o
empreendimento e atender aos turistas, dentre outros fins.
O grupo possui uma loja no centro da cidade, que funciona juntamente com um
ponto de informações turísticas. Nesta loja está a venda desde produtos alimentícios até
produtos artesanais produzidos pelos associados.
- ASSOCIAÇÃO DA FEIRA LIVRE DA AGRICULTURA FAMILIAR
As dificuldades de comercialização de produtos agrícolas é uma realidade crescente
no meio rural. Estes estão relacionados aos baixos preços que são pagos aos
agricultores, o fato de grande parte do lucro da produção ficar nas mãos dos
atravessadores, o desperdício de produtos por falta de locais de comercialização, dentre
outros. Diante disso, novas redes de comercialização devem ser potencializadas pelos
profissionais atuantes neste meio.
Em geral, alguns programas governamentais como o Programa de Aquisição de
Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar, têm sido mecanismos de
comercialização para escoamento da produção a preços melhores. Além da
comercialização de produtos para estes programas, em Venda Nova do Imigrante,
principalmente a comercialização dos produtos agroindustriais se dá direto ao
consumidor por meio das lojas próprias nos estabelecimentos que estão envolvidos com
o agroturismo. Além disso, uma proposta iniciada há 2 anos no município é a Feira da
Agricultura Familiar, para a qual foi criada uma associação de agricultores familiares do
município que junto aos órgãos de apoio e assistência técnica organizaram as atividades,
buscaram recursos, apoiadores e espaço para a realização das atividades.
Todos os feirantes seguem uma Tabela de Preços elaborada semanalmente para a
feira, feita em parceria por profissionais do INCAPER, Secretaria da Agricultura e
Sindicato dos Trabalhadores Rurais em forma de revezamento, cujas informações são
44
compartilhadas entre os órgãos. Os preços são calculados com base nos preços
praticados no Ceasa no dia anterior ao da Feira, acrescentando-se 25% ao preço dos
produtos. A feira está em ampliação, mas atualmente estão envolvidas 30 famílias com
produções diversificadas, abrangendo produtos agrícolas, produtos processados nas
agroindústrias familiares (socol, defumados, geleias, doces, pães, bolos, biscoitos, etc.),
artesanatos e lanches (pastéis, caldo de cana, Fanta natural-feita com cenoura), cujas
vendas movimentam em média 120 mil reais por mês no município.
Para fortalecimento da Feira e incentivo a população para frequentar este espaço de
comercialização de produtos locais, a Prefeitura Municipal, em vez de pagar o auxílio
alimentação aos funcionários, distribui o mesmo valor em Tictes para uso exclusivo da
Feira da Agricultura Familiar, fazendo com que todos os funcionários da prefeitura
façam as suas compras semanalmente na Feira, fortalecendo a comercialização dos
produtos dentro do próprio município. Tem sido uma iniciativa de grande sucesso e os
produtos comercializados na feira, têm conquistado a cada dia mais espaço no dia a dia
dos moradores da cidade.
4.3. Princípios da Economia Solidária presentes nos trabalhos voluntários e
associativos
O Ministério do Trabalho e do Emprego (2008) caracteriza a economia solidária
como um conjunto de atividades econômicas organizadas sob a forma de autogestão, e
que podem ser atividades de produção, distribuição, poupança e crédito ou de consumo.
Este aponta como princípios da Economia Solidária a cooperação, a autogestão, a
dimensão econômica e a solidariedade.
As atividades voluntárias e associativas desenvolvidas em Venda Nova do
Imigrante enquadram-se nestes conceitos uma vez que ambas as atividades, a partir de
uma situação problema ou uma motivação social (como no caso dos trabalhos
voluntários) um grupo de pessoas, cujas finalidades eram comuns, se uniram para
realizarem trabalhos coletivamente, utilizando-se da cooperação para tal, onde cada
integrante participa das atividades de acordo com suas capacidades, visando um
resultado que beneficie a todos.
Todas as atividades são auto-gestionadas pelos participantes dos grupos, que
contam com o apoio de outras instituições, mas as decisões são tomadas conjuntamente
pelos membros do grupo, que traçam os seus próprios objetivos e caminhos a seguir.
45
Ambos os trabalhos analisados possuem dimensões econômicas, sendo que os
integrantes envolvidos nos trabalhos voluntários comercializam a produção para
benefício social (como melhorias no hospital, doações para instituições), e os trabalhos
associativos, trabalham conjuntamente e cada qual comercializa sua produção
individualmente em um espaço de socialização (como no caso da Feira da Agricultura
Familiar) ou em seu próprio empreendimento, no caso dos empreendedores
agroturísticos, cada qual se beneficiando individualmente economicamente e ao mesmo
tempo desenvolvendo atividades conjuntas com os demais membros do grupo, que
geram resultados positivos para ambos. É importante ressaltar que estes trabalhos tem
fins econômicos porém não visam lucro para a associação ou grupo de voluntárias, mas
sim para benefício próprio dos agricultores familiares e outros indivíduos envolvidos e
também para benefício social (como no caso das voluntárias do Hospital Padre Máximo
e do Grupo de Fitoterapia da Pastoral da Saúde). Vale ainda ressaltar que nas atividades,
as dimensões culturais, ambientais e sociais não são desconsideradas.
E por fim, a solidariedade entre os integrantes do grupo com trocas de experiência,
autoajuda, complementação de atividades, na preocupação com o bem estar dos
consumidores e dos colegas de trabalho e no compromisso comum para o alcance dos
objetivos traçados pelo grupo, cada qual contribuindo com suas potencialidades.
4.4. O TRABALHO VOLUNTÁRIO E ASSOCIATIVO E SUAS IMPLICAÇÕES
Com o acompanhamento das atividades realizadas pelos quatro grupos estudados
percebeu-se que o grupo mantem-se motivado para o trabalho e sentem orgulho do que
fazem, acompanhando e trabalhando para a melhora dos trabalhos. Este orgulho é ainda
mais visível nas atividades voluntárias, onde os integrantes ressaltam a importância que
o seu trabalho tem para benefício da comunidade, as conquistas do grupo e as mudanças
que já conseguiram concretizar.
Além do mais, para as associações de agroturismo e de agricultores familiares, a
melhoria da renda é considerável, possibilitando desenvolvimento para as famílias e
para o local, o que contribui para a qualidade de vida das famílias.
É preciso destacar ainda a inclusão social nos trabalhos associativos e voluntários,
pois é um mecanismo de inserção de trabalhadores que antes se encontravam ociosos,
seja por aposentadoria, desemprego, ou outra razão, dando-lhes ocupação e
46
possibilitando a socialização, em especial aos idosos, que estão a cada dia mais sujeitos
ao isolamento social.
As implicações do trabalho em cooperação, embora tenham aspectos complicadores
e por vezes negativos, em geral trazem uma série de benefícios sociais, econômicos e
culturais e estes variam de acordo com a finalidade comum a que o grupo se propõe e
com a realidade local vivenciada por estes grupos.
5. CONCLUSÃO
Diante das mudanças decorrentes na sociedade contemporânea, a economia
solidária se apresenta como uma alternativa de solução e minimização de situações
problema e realização de desejos comuns de forma cooperativa, onde todos se
beneficiam, promovendo o desenvolvimento local e a valorização cultural do local.
As organizações discutidas neste artigo foram as associações e os trabalhos
voluntários desenvolvidos no município de Venda Nova do Imigrante, cujas atividades
se baseiam em princípios da economia solidária como a solidariedade, a autogestão, as
dimensões econômicas e a cooperação. Estas atividades trazem uma série de benefícios
para a comunidade como o seu desenvolvimento, a melhoria de renda e qualidade de
vida das famílias e a inclusão social de indivíduos.
Sendo assim, a Economia Solidária abre caminhos para o desenvolvimento local e
melhoria da qualidade de vida da população e que necessita do envolvimento de pessoas
para se concretizar. Assim, necessita-se de maiores investimentos na conscientização e
educação cooperativista de comunidades urbanas e rurais para o trabalho coletivo,
apontando-se como uma possibilidade de trabalho para profissionais de Economia
Doméstica, por sua visão holística, preocupação com o bem-estar das famílias, geração
de renda e inclusão social.
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48
UM OLHAR PARA OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES DOS IDOSOS NO
BRASIL
MELO, Natália Calais Vaz de; TEIXEIRA, Karla Maria Damiano
[email protected]
Universidade Federal de Viçosa
1. INTRODUÇÃO
A família, ao longo do tempo, passa por diversas mudanças, derivadas, muitas vezes
do próprio ciclo de vida, tais como o casamento, o nascimento e a educação dos filhos, a
saída dos filhos do lar, a aposentadoria e a morte, essas mudanças podem trazer diversos
sintomas e disfunções em relação ao seu funcionamento no decorrer da vida (FRAGA et
al., 2011).
Com as transformações demográficas ocorridas nas últimas décadas, segundo
Almeida (2011), os núcleos familiares tendem a envelhecer, fato que pode ser
constatado pelo aumento do número de famílias com idosos em sua composição, e
consequentemente, a convivência entre diferentes gerações.
Assim, de acordo com Santos e Dias (2008, apud ALMEIDA, 2011), há distintos
modelos de famílias, caracterizando-se, mais do que nunca, pela diversidade dos
arranjos que variam de acordo com as características pessoais, familiares e culturais.
Diante disso, objetivou-se, com este estudo, discutir, a partir de uma revisão
bibliográfica, os novos arranjos familiares aos quais os idosos estão inseridos.
2. METODOLOGIA
Com a finalidade de maior embasamento conceitual e teórico procurou-se levantar
um referencial bibliográfico, através da revisão de artigos, livros e revistas,
considerando as publicações relevantes que demonstrasse os diversos tipos de arranjos
familiares aos quais os idosos estão inseridos.
49
3. DISCUSSÃO TEMÁTICA
De acordo com os dados do IBGE (2011) houve, entre 2000 e 2010, um
crescimento significativo das unidades domésticas unipessoais. A média brasileira
passou de 8,6% para 12,1%. O Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, cujos índices de
envelhecimento foram mais elevados, têm maior percentual no país, enquanto que no
Amazonas e no Maranhão apresentaram menores percentuais de pessoas idosas que
vivem sós.
Denota-se no Brasil, entre 1997 e 2007, um crescimento do percentual de
domicílios unipessoais para pessoas de 60 anos ou mais (11,2% para 13,5%),
determinando um novo arranjo domiciliar (IBGE, 2008). De acordo com Ramos,
Menezes e Meira (2010), a condição que justifica a tendência da escolha do idoso em
morar só pode advir da busca pela individualidade ou em decorrência das perdas
humanas, insuficiência econômica, aposentadoria, abandono ou descaso de seus familiares, dentre outros fatores. Capitanini (2000, apud RAMOS, MENEZES e MEIRA,
2010) associa esse panorama à redução do número de indivíduos a cada geração, devido
à diminuição das taxas de natalidade e fecundidade; mudanças nos valores concernentes
à vida familiar e ao casamento, levando ao crescimento do número de adultos solteiros e
descasados; e, aumento da mobilidade geográfica da população jovem e a urbanização,
reduzindo a convivência intergeracional e a longevidade prolongada.
Camargos e Rodrigues (2008) complementam afirmando que diante da recente
tendência do aumento do número de divórcios, mudanças de estilo de vida, melhora nas
condições de saúde da população idosa e aumento da longevidade, com destaque à
maior sobrevivência feminina, é de se esperar que, ao longo dos anos, cresça cada vez
mais o número de domicílios unipessoais, ou seja, o número de idosos vivendo
sozinhos.
Os estudos têm evidenciado que os idosos que optam por morar sozinho poderia ser
indicativo tanto de envelhecimento bem-sucedido, dado que estas pessoas tenderiam a
apresentar melhores condições de saúde, como de fragilidade e susceptibilidade a riscos,
uma vez que a falta de companhia poderia implicar na presença de hábitos indesejáveis
em relação à saúde e na falta de assistência adequada (CAMARGOS; RODRIGUES,
2008).
50
Ramos, Menezes e Meira (2010) afirmam que diante de uma viuvez e quando não
podem ou não querem contar com outros membros da família, muitos idosos
recomeçam suas vidas sozinhos. Além da viuvez, os autores ainda colocam que a
separação conjugal é outro fator que propicia ao idoso residir só. O estudo feito por
Geib (2001, apud RAMOS, MENEZES e MEIRA, 2010) com um grupo de idosos que
moravam sozinhos há 11 anos em São Paulo, mostrou que 97% deles preferiam esta
situação a voltar a viver com a família, pois eles queriam preservar a independência e
não incomodar parentes. Além disso, esse estudo mostrou que morar com outras
pessoas muitas vezes pode significar perda de privacidade e de independência, e que
estar com a família não significa necessariamente estar bem, pois em muitos casos, além
dos conflitos, os idosos são esquecidos ou vistos como fontes de renda por sua
aposentadoria.
Já o estudo realizado por Almeida (2002) mostra que a importância do idoso dentro
do contexto familiar depende bastante da sua própria condição física. Muitas vezes,
pessoas com idades mais avançadas, acima dos 80 anos, encontram dificuldade em
assumir a chefia da família. Nesse caso, os mais jovens realizam essa função e utilizam
a renda desse idoso proveniente dos seus benefícios assistenciais para o sustento da
casa. Outro aspecto com relação à importância do idoso, neste estudo, se deve ao sexo.
Geralmente, a mulher idosa ou aposentada, quando viúva, assume um importante papel
dentro da família, exercendo a condição de chefia; do contrário é responsável pelas
tarefas domésticas e gasta seu tempo com os cuidados dos filhos e netos. Já no caso dos
homens idosos, estes auxiliam a família através da execução de trabalhos externos.
Além disso, Camarano et al. (2004 apud ALMEIDA, 2011) mostram que existe
uma parcela considerável de filhos, netos e bisnetos vivendo com seus pais e avós
estabelecendo assim uma co-residência, que é uma importante forma de transferência de
apoio entre as gerações. Esta pode ocorrer por necessidade dos filhos em decorrência do
maior tempo de estudo e investimento em sua formação, pela instabilidade do mercado
de trabalho e das relações afetivas, ou pode ocorrer por necessidade dos idosos, fato que
pode estar associado com o aumento de idade dos idosos e com sua maior dependência,
tanto física quanto financeira.
Entretanto, Camargos, Rodrigues e Machado (2010) afirmam que a realidade dos
idosos brasileiros que vivem sozinhos ainda é pouco conhecida. Apesar de velhice não
ser sinônimo de doenças ou incapacidades, sabe-se que nessa fase da vida as pessoas
tendem a estarem mais susceptíveis a problemas de saúde e, consequentemente, carentes
51
de apoio. Mesmo que a co-residência não seja um indicador suficiente para medir ajuda,
ela pode ser considerada um importante instrumento facilitador para que as trocas
ocorram entre os idosos e outros membros. Os autores ainda afirmam que um idoso que
mora com o cônjuge ou com os filhos e netos tenderia a apresentar maiores chances de
receber cuidado informal. Em contrapartida, os idosos que moram sozinhos, apesar de
participarem das relações de troca, estão menos propensos a receber este tipo de cuidado
e com maiores chances de receberem cuidado formal.
4. CONCLUSÃO
Diante das diversas mudanças às quais as famílias passam, denota-se no Brasil um
crescimento do percentual de domicílios unipessoais para idosos. Os estudos têm
evidenciado que os idosos que optam por morar sozinho poderia ser um indicativo de
envelhecimento bem-sucedido. Por outro lado, pode, também, estar associado à redução
no tamanho das famílias e, ou às mudanças nos valores concernentes à vida familiar e
ao casamento.
Além disso, a literatura mostra que os idosos que residem só muitas vezes querem
preservar a independência e não incomodar parentes, e que estar com a família não
significa necessariamente estar bem. Porém, alguns estudiosos mostram que existe uma
parcela considerável de filhos, netos e bisnetos vivendo com seus pais e avós,
estabelecendo assim, a co-residência, e isso pode ser considerado como uma importante
forma de transferência de apoio entre as gerações.
Contudo, percebe-se que existem variadas estruturas domésticas na qual o idoso
está inserido, sendo que a cada dia há uma predominância menor da família nuclear.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Federal do Rio Grande do Sul. 2011.
52
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FRAGA, M. H. S; BARRETO, M. L. M.; LORETO, M. D. S.; PINTO, N. M. A.
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________. Síntese de indicadores sociais: Uma análise das condições de vida da
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Socioeconômica Rio de Janeiro, 2008.
RAMOS, J. L. C.; MENEZES, M. R.; MEIRA, E. C. Idosos que moram sozinhos:
desafios e potencialidades do cotidiano. Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v.
24, n. 1, 2, 3, p. 43-54, jan./dez. 2010.
53
UMA ATENÇÃO VOLTADA ÀS FAMÍLIAS QUE VIVENCIAM A
HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL
LUCAS, Cristiana T. J. 1; NEVES, Naíse V. G. 2; BARRETO, Maria de Lurdes Mattos3;
LEITE, Maria A. V. Souza4; CASTRO, Rita S. e5.
1
Graduanda do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa –
UFV/MG. Bolsista PIBEX 2012. E-mail: [email protected]
2
Profª Assistente III do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal
de Viçosa – UFV/DED/MG. E-mail: [email protected]
3
Profª Associada do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de
Viçosa – UFV/DED/MG. E-mail: [email protected]
4
Graduanda do curso de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa –
UFV/MG. Membro da Equipe do Projeto. E-mail: [email protected]
5
Economista Doméstica, Coordenadora da Brinquedoteca do Hospital São Sebastião –
Viçosa -MG. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A família no ambiente hospitalar é fundamental para se compreender que esta é
mediadora e porta-voz das preocupações e sentimentos das crianças/adolescentes que
vivenciam o momento da hospitalização. É a família quem vai transmitir à equipe de
saúde os sinais e mensagens ditas pelas crianças/adolescentes no intuito de auxiliar os
profissionais a rever sua conduta e promover mudanças na assistência, adequando o
mundo do hospital às necessidades da criança (NEVES, 2011 apud FERNANDES et al
2006).
A hospitalização é cercada de mudanças que são vivenciadas tanto pela criança
como o adulto. Algumas destas são assimiladas pela pessoa, porém, outras precisam de
54
um anteparo diferenciado seja para evitar a ocorrência ou, quando não há esta
possibilidade, fazer com que as sequelas sejam diminuídas. Quando se trata desta
intercorrência – a hospitalização – todos os hábitos da criança e da família são alterados,
distanciando a família das atividades rotineiras, e, em geral para a criança que se
encontra hospitalizada, esta sente dor ao passar por variados procedimentos e baterias
de exames em busca da melhoria do quadro biológico (CAMON, 2010).
Segundo
Camon
(2010),
também
afirma
que
o
paciente
sofre
uma
despersonalização durante o período de internação “deixa de ter o seu próprio nome e
passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada
patologia. (...) deixa de ter um significado próprio para significar a partir de
diagnósticos realizados sobre sua patologia” (CAMON, 2010, p.2).
Diante disto o Projeto de Extensão: A FAMÍLIA INSERIDA NO CONTEXTO
HOSPITALAR ENQUANTO ACOMPANHANTE DE CRIANÇAS INTERNADAS
NA PEDIATRIA DO HOSPITAL SÃO SEBASTIÃO EM VIÇOSA-MG, objetiva
ações visando contribuir para o aprimoramento da humanização Hospitalar, através de
um PROGRAMA DE APOIO ÀS FAMÍLIAS DAS CRIANÇAS INTERNADAS NA
PEDIATRIA - PAFCIP do HSS1, realizando ações de intervenção junto às mesmas
durante e após o período de internação da criança. Para concretizarmos esse objetivo
utilizaremos metodologias de ações participativas de forma que a equipe desse projeto,
sejam elas alunas do Curso de Economia Doméstica e Educação Infantil, possam
desenvolver estratégias de ações interventivas realizando diferentes tipos de abordagens
juntos às famílias/acompanhantes das crianças de forma a socializar e trocar
informações sobre diferentes assuntos de interesse desse público.
2. OBJETIVOS DO ESTUDO
Especificadamente pretende, implementar o PAFCIP; buscar estratégias de
abordagens às famílias a partir de intervenções sobre cuidados de saúde, higiene e
demais informações necessárias à enfermidade da criança; delinear o perfil familiar e
sócio-econômico das crianças e investigar sobre os impactos do projeto na recuperação
infantil; contribuir para o aprimoramento da Humanização do atendimento Hospitalar;
desenvolver as ações do projeto em parceria com o projeto de extensão – Brinquedoteca
Hospitalar.
55
3. METODOLOGIA EMPREGADA
O presente trabalho é desenvolvido no Hospital São Sebastião, com as famílias de
crianças internadas no setor da pediatria e quartos particulares. A Casa de Caridade de
Viçosa, Hospital São Sebastião, é uma instituição filantrópica e situa-se na Rua Tenente
Kümmel, 36 em Viçosa-MG. As ações do projeto são organizadas e realizadas em
alguns momentos na pediatria e noutros no espaço da Brinquedoteca Hospitalar do
hospital.
De acordo com Neves (2012 apud SZYMANSKI, 2001), em situações que
envolvem
problemas
como
procedimentos
disciplinares,
de
higiene,
de
acompanhamento escolar e de saúde física e mental, às famílias, juntamente com os
orientadores, podem ir construindo as alternativas de mudanças. Com este intuito, as
ações do projeto são organizadas com as seguintes propostas:
- círculos de discussão com os acompanhantes das crianças internadas: estes
círculos são formados no próprio setor da Brinquedoteca onde, sob a orientação de
acadêmicos do curso de Economia Doméstica, serão discutidos temas como a
importância da família no processo de recuperação da criança; higiene pessoal e
alimentar; alimentação saudável; doenças; conservação do patrimônio hospitalar,
dentre outros que surgirem durante os contatos informais com as famílias.
- oficinas junto às famílias/acompanhantes das crianças internadas na pediatria do
HSS a fim de minimizar o estresse e sofrimento destas durante a internação da
criança, bem como contribuir com a construção do conhecimento sobre assuntos
relativos a promoção da saúde física e mental.
- vivências lúdicas organizadas para os grupos de acompanhantes e com a
integração dos acompanhantes com as crianças internadas.
Além de conversas e relatos dos familiares quando vão à Brinquedoteca falando
sobre suas angústias, medos e dúvidas que advêm da hospitalização.
4. RESULTADOS
A partir da ficha de identificação da criança que é um instrumento utilizado pra
coletar informações da criança hospitalizada, foi possível fazer a tabulação de dados do
atendimento às famílias e crianças em situação de internação.
56
No período compreendido aos meses de fevereiro a meados de novembro deste ano
de 2012, foram atendidas 302 crianças e seus respectivos acompanhantes (mãe, pai, avó,
tia, etc.). Destas podemos inferir que 17,2% foram reincidentes no hospital. Sendo que
em sua maior parte estas residem no município de Viçosa-MG, tanto na zona urbana
quanto na rural. Além de termos também um atendimento às famílias oriundas de outras
cidades, principalmente da micro região viçosense.
Os dados revelam que crianças menores de 12 meses têm um maior índice de
internação sobre as demais idades. E as doenças e ou causas de internação que mais
acometem as mesmas são: pneumonia (18,8%), bronquite (11,2%), apendicite (6,9%),
infecção (9,9%), e o restante se distribuem pelas mais diversas enfermidades (gripe,
desidratação, alergia, quedas/acidentes domésticos, anemia, etc.).
No que refere ao período de internação das crianças no hospital temos a
equivalência do maior tempo de permanência, ou seja, acima de 4 dias para aquelas que
ficam dependentes de medicação como o antibiótico ministrado para a pneumonia, por
exemplo. Notadamente as doenças respiratórias são as que mais determinam esse
número maior de dias no hospital. Porém os dados referentes ao período de internação
não serve como parâmetro para avaliar se são as intervenções do projeto que colaboram
na diminuição do tempo de internação da criança, pois há outras variáveis próprias da
doença/enfermidade e ou instituição que influenciam este fator.
Outros dados inferidos são os da família da criança hospitalizada. Dentre eles a
escolaridade em sua maioria é alfabetizada, porém com “pouco estudo”, ou seja, que
fizeram o ensino fundamental incompleto. É claro que há índices de escolaridade mais
avançadas como o ensino superior. Estes dados também refletem sobre a renda dos
mesmos, os quais famílias com maior grau de escolaridade têm renda, na maioria das
vezes, superior àquelas que possuem menor grau de instrução.
Os resultados destes dados possibilitam delinear o perfil socioeconômico da família
da criança; conversar e orientar as famílias a respeito da alimentação saudável, bem
como da saúde física e mental; higiene.
Outros resultados obtidos com as ações do projeto foram: conversas e relatos das
experiências vivenciadas no ambiente hospitalar e familiar (fora do hospital); integração
dos pais nas atividades com as crianças fazendo-se compreender a importância das
mesmas neste local, orientar para dúvidas quanto às enfermidades; dar apoio nas horas
de angústia, medos e aflições.
57
5. CONCLUSÃO
O hospital, o processo de hospitalização e o tratamento intrínseco que visa o
restabelecimento, salvo alguns casos de doenças crônicas e degenerativas, não fazem
parte das perspectivas da existência humana. Nesse sentido toda e qualquer invasão nas
funções vitais de todo e qualquer ser humano se torna invasivo, aversivo, que além do
caráter abusivo, apresenta componentes de dor e desalento.
Ao trabalhar no sentido de cessar os processos de despersonalização no âmbito
hospitalar o Economista Doméstico e sua equipe estarão ajudando na humanização do
hospital. Um trabalho de reflexão e ações que envolva toda a equipe hospitalar para que
o mesmo deixe de ter caráter meramente curativo, mas também se preocupe com o
restabelecimento da dignidade humana.
As intervenções voltadas para a atenção da saúde requer não só o atendimento às
necessidades clínicas, mas também afetivas e sociais o que, ao mesmo tempo em que
possibilita um cuidado mais abrangente, demanda mudanças na forma de atender às
crianças hospitalizada e seu acompanhante.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NEVES, Naíse Valéria Guimarães; BARRETO, Maria de Lourdes Mattos; LUCAS,
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Valentin de Souza; SANTANA, Monalise Mara Rocha. A FAMÍLA INSERIDA NO
CONTEXTO HOSPITALAR ENQUANTO ACOMPANHANTE DE CRIANÇAS
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CONTEXTO HOSPITALAR ENQUANTO ACOMPANHANTE DE CRIANÇAS
INTERNADAS NA PEDIATRIA DO HOSPITAL SÃO SEBASTIÃO EM VIÇOSAMG. Projeto de extensão, UFV/DED, Viçosa, 2012. In: SZYMANSKI, Heloisa. A
relação família/escola: Desafios e perspectivas. Brasilia-DF. Ed. Plano; 2001; 96p.
NEVES, Naíse Valéria Guimarães; BARRETO, Maria de Lourdes Mattos; LUCAS,
Cristiana Terezinha de Jesus; CASTRO, Rita Sant´ Anna e; LEITE, Maria Aparecida
58
Valentin de Souza; SANTANA, Monalise Mara Rocha. A FAMÍLA INSERIDA NO
CONTEXTO HOSPITALAR ENQUANTO ACOMPANHANTE DE CRIANÇAS
INTERNADAS NA PEDIATRIA DO HOSPITAL SÃO SEBASTIÃO EM VIÇOSAMG. Projeto de extensão, UFV/DED, Viçosa, 2012. In: FERNANDES, Carla Natalina
da Silva, ANDRAUS, Lourdes Maria da Silva y MUNARI, Denize Bouttelet. O
aprendizado do cuidar da família da criança hospitalizada por meio de atividades
grupais. Rev. Eletr. Enf. [online]. abr. 2006, vol.8, no.1 p.108-118.
59
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