A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO
TERRITORIAL SUSTENTÁVEL – O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE
Autores: Luana Isoppo da SILVA, Amanda Bristot VARELA, Suzana Maria Pozzer da SILVEIRA, Rita de Cássia Freitas
SANTOS
Identificação autores: Luana Isoppo da SILVA, Amanda Bristot VARELA - Bolsistas IFC-SRS; Orientador: Suzana Maria
Pozzer da SILVEIRA, e Rita de Cássia Freitas SANTOS; IFC – Campus Santa Rosa do Sul.
Introdução
Parte significativa da comunidade científica vem, desde a década de 1970, alertando
sobre os riscos em continuar os níveis alarmantes de degradação ambiental. Atendendo a esse
chamado, inúmeras conferências em âmbito internacional foram realizadas, sendo as mais
expressivas, a de Estocolmo, em 1972; a Eco – 92 e, mais recentemente, a Rio+20. Muitos
documentos, legislações, fóruns, têm sido propostos, sendo uma referência a Agenda 21. No
entanto, ainda que as propostas sejam positivas, o desafio consiste em colocá-las em prática
através de acordos internacionais, nos quais os países se responsabilizem em fazer a sua parte
(Sachs, 2009; Silveira, 2013).
Em decorrência dessas mudanças e, principalmente, devido às discussões sobre novas
modalidades de desenvolvimento, mais equitativas e sustentáveis, passou a ganhar espaço nas
agências internacionais de desenvolvimento, tais como a Comissão Econômica para América
Latina e Caribe - CEPAL; Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), entre outras, a abordagem territorial
de desenvolvimento (Favareto, 2007). Com isso, há uma passagem da análise focada no
desenvolvimento local, iniciada em 1980, para a análise do desenvolvimento territorial, nos
anos 1990, e mais recentemente para o desenvolvimento territorial sustentável (Vieira, 2010).
Cada uma dessas vertentes apresenta uma série de particularidades, sendo um ponto comum a
valorização do desenvolvimento endógeno. Se anteriormente a ênfase estava no “progresso”,
no desenvolvimento de fora para dentro (ou exógeno), no contexto da globalização, do pósfordismo, passam a ser valorizados os territórios, com suas especificidades e dinâmicas
próprias (Vale, 2006; Pecqueur, 2009).
Nesse contexto, pode-se afirmar que a questão ambiental, devido sua importância,
tornou-se um tema recorrente na atualidade. No entanto, diversas pesquisas continuam
destacando a dificuldade em viabilizar os seus propósitos no que concerne às ações concretas
(Abramovay, 2012; Andion, 2007; Veiga, 2009). Entre as razões, no que tange em específico
à educação ambiental, está a pouca consideração da interdisciplinaridade. Em geral, vem
sendo efetivada de forma fragmentada ou setorializada, focada em problemas pontuais (lixo,
água, poluição etc) (Jacobi, 2003; Czapski, 1998; Medeiros, 2014).
No entanto, o êxito da educação ambiental está na sua capacidade de envolver, além da
escola, a própria comunidade, tendo por referência a ideia de “agir local e pensar global”. Em
função disso, pode-se colocar que a educação ambiental tem um caráter permanente, pois a
“evolução do senso crítico e a complexidade dos aspectos que envolvem as questões
ambientais se dão de modo crescente e continuado, não se justificando a sua interrupção”
(Czapski, 1998, p. 29). Dessa forma, cabe à educação ambiental contribuir na difusão e
consolidação de um novo modelo de desenvolvimento, em que os estilos de vida sejam
compatíveis com os recursos ecológicos, o que implica a redução do consumismo, o combate
à poluição, à proliferação de agrotóxicos perigosos, entre outros.
Face ao exposto, a pesquisa tem por objetivo compreender melhor como a educação
ambiental vem sendo implementada no Instituto Federal Catarinense – Campus Santa Rosa do
Sul (IFC-SRS), a fim de fortalecer o seu caráter interdisciplinar. O Instituto foi selecionado,
pois devido sua própria natureza e abrangência, pode ser protagonista no adensamento de
ações em prol do Desenvolvimento Territorial Sustentável (DTS). Para esse propósito, a
educação ambiental constitui-se como um aporte privilegiado, uma vez que não é mais
possível dissociar desenvolvimento e ambiente.
Material e Métodos
Considerando que a pesquisa ainda está em andamento, será abordada apenas a
metodologia empregada para a coleta dos dados apresentados neste trabalho. Trata-se de parte
da amostra1 dos Relatórios de Estágios dos egressos do Técnico em Agropecuária Integrado
ao Ensino Médio, do IFC-SRS, referentes aos anos de 2013 e 2014. Desses anos, foram
analisados até o momento, aleatoriamente, 19 Relatórios de Estágios (RE), sendo 09 do
primeiro e 10 do segundo ano, mencionados, a fim de avaliar como a questão ambiental vem
sendo considerada nos trabalhos de conclusão de curso. O privilégio da análise para esse tipo
1
A amostra geral inclui 10 relatórios de estágios dos anos 2010 a 2015, totalizando 50 relatórios de estágios.
Além disso, a metodologia faz uso de questionários, entrevistas semiestruturadas, principalmente, junto aos
alunos do terceiro ano do ensino médio, parte do corpo docente e dos servidores (responsáveis pelos temas
transversais) e direção de ensino.
de material refere-se ao fato de expressar, em grande parte, o conhecimento adquirido em sala
de aula e a sua viabilização prática.
Resultados e discussão
Dos dezenove Relatórios de Estágios analisados, conforme demonstra a figura 01,
pode-se caracterizar o perfil dos trabalhos realizados nos referidos anos. A maioria deles foi
efetivada em empresas, fazendas ou cabanhas. Um pequeno grupo de trabalhos foi efetuado
em cooperativas e Instituições Públicas. Para estas, foi encontrado o próprio Instituto Federal
(IFC-SRS) como locus do estágio.
Mas, de modo geral, as organizações do campo da
sociedade civil como redes de agricultores, fóruns, associações, turismo rural, foram pouco
privilegiadas para a realização do estágio. Dessa forma, em relação a essa parte, pode-se
concluir, provisoriamente, que os discentes não estão considerando a diversidade das
inovações sociotecnicas presentes no território, as quais são imprescindíveis para o DTS.
Além disso, apenas 60% dos estágios foram realizados no Território do Extremo Sul
Catarinense, sendo 40% efetuados em outros territórios, o que parece indicar o baixo peso da
variável “local”.
Empresa/fazenda/cabanha
Cooperativa
Instituição Pública
Sustentabilidade
Território Extremo Sul
Catarinense
Outros territórios
Figura 01 – Perfil dos Relatórios de Estágios
Fonte: Autoras.
Outro dado significativo e que corrobora as hipóteses da pesquisa, refere-se a pouca
relevância conferida à dimensão ambiental, a qual é praticamente inexistente nos trabalhos,
com exceção de uma minoria, segundo destaque na figura 01 (sustentabilidade). Daí a
importância em considerar a interdisciplinaridade no desenvolvimento da educação ambiental,
pois até há pouco tempo vinha sendo ofertada, no IFC-SRS, como uma disciplina do
currículo, o que tende a fazer pouco sentido para os alunos, em termos de relacioná-la com a
prática do estágio.
CONCLUSÃO
Ainda que os dados da pesquisa sejam apenas uma pequena parte da amostra
analisada, já apontam na mesma direção dos diagnósticos mencionados na introdução deste
trabalho. Qual seja, de que embora muito debatida, em cena, a questão ambiental ainda é uma
variável secundária, sendo pouco considerada.
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