A HORA DA ESCOLHA E SEU SENTIDO MAIS PROFUNDO TEXTO PUBLICADO NO SITE DA REVISTA PAIS & FILHOS, DISPONÍVEL EM: http://www.paisefilhos.com.br/blogs-e-colunistas/sala-do-diretor/a-hora-da-escolha-e-seusentido-mais-profundo Sempre que converso com famílias, pais e mães de crianças pequenas, escuto que o que eles mais querem de seus filhos e filhas é que sejam capazes de fazerem boas escolhas em suas vidas. Que escolham um bom trabalho, que escolham um bom amor, que escolham bons lugares para morar, uma vida com saúde. Vontade de pai e mãe... Eu também tenho alguns desses desejos com o meu filho. E fazer escolhas é algo extremamente difícil nos tempos atuais. Difícil porque somos bombardeados por discursos tão superficiais sobre “coisas importantes” para as nossas vidas que acabamos por perder critérios daquilo que realmente importa para vivermos bem! É tanta variação sobre a mesma coisa! E é tanta vida transformada em produto a ser consumido que não paramos para pensar sobre as importâncias. E parar para pensar é algo fundamental nessa história de saber e aprender a escolher. Parar para pensar requer reflexão, requer silêncio, requer atenção, requer um olhar mais amplo sobre os temas e fatos que nos rodeiam, requer saber compartilhar, saber avaliar, projetar, colocar-se no lugar do outro. E esses requisitos não nascem conosco, são ensinados. Pela família e pela escola! Então, aquela vontade que todo pai e toda mãe têm de ver a criança fazendo boas escolhas precisa ser construída. Não basta ter o desejo, é preciso ter ação! E ação em educação, a boa ação, a ação efetiva, é sinônimo de parceria! A família deve ter um canal absolutamente estreito com a escola na construção desses valores. Sim, porque são tão importantes, que são valores. A escola propõe que seus estudantes escolham atividades que farão, que escolham os amigos e parceiros de trabalho e brincadeira, que escolham a sequência das atividades. Propõe “cantos” de atividades para que seus estudantes possam escolher por seus interesses. Esses cantos contêm atividades específicas de áreas do conhecimento para que as crianças se aproximem de determinados conceitos de forma mais autoral. Para que elas, sozinhas, consigam fazer seus caminhos rumo ao saber. Sim, essa escolha é importante. Mas não é suficiente. Principalmente, quando vêm com aquele discurso de que escola dá liberdade de escolher (sabemos que liberdade de escolha pré-definida não é bem liberdade, né?). Justamente porque escolher requer outras disposições. Há espaço para reflexão? Como é trabalhada a avaliação? Cria-se um espaço de discussão sobre o que passou e se abre espaço para mudanças? É permitido não expressar opinião alguma, ficar em silêncio? Praticar determinadas “transgressões”, que são tão caras para a moral escolar? Temos de criar espaços dentro das escolas para discutirmos, por exemplo, a noção de “bom aluno”, de disciplina, de conteúdo, de expressão, de inteligência, de democracia, de meritocracia. É por isso que momentos de escolha, momentos de avaliação em grupo, momentos de conversas coletivas e individuais sobre os acontecimentos cotidianos são tão importantes. São eles que, aos poucos, constroem essa capacidade de fazermos boas escolhas, ou, pelo menos, nos ajudam a tomarmos as nossas decisões de forma mais ponderada. E não digo racionalmente, ou de forma consciente, pois, muitas delas, são emocionais, inconsequentes, e dão certo, não é? De que forma a escola ensina as crianças a ponderarem suas questões, suas vontades? Quais são os argumentos de ponderação usados para que os estudantes resolvam seus problemas, debatam posicionamentos, tomem decisões, continuem estudando? Percebem que fazer uma escolha não é um simples “ou isto ou aquilo”? Ou escolho artes, ou escolho música. Ou escolho o José, ou escolho a Ana. Ou escolho Humanas, ou escolho exatas. Ou escolho ir à aula hoje, ou escolho... Não é simples! Escolher exige ponderação, reflexão, argumentação. Silêncio, conversação, parceria. Exige paciência, desapego, assumir riscos. Exige coragem, determinação e senso de justiça. Exige generosidade, senso coletivo e ética. Da escolha “mais simples” à escolha “mais complexa”. Adultos que não conseguem escolher são pessoas que foram criadas para acharem que suas escolhas são somente individuais. Por isso, muitas vezes, não escolhem por medo de se frustrarem (frustração é algo que se sente individualmente). Justificam: é mais fácil quando vem pronto. Por isso vemos crianças mimadas, abandonadas pela árdua tarefa de educar. Por isso vemos famílias perdidas na difícil tarefa de educar. Por isso é que nos submetemos tanto aos modismos de como se deve educar! E é por isso que criamos esse canal de comunicação: para ponderarmos o que nos é empurrado, como verdade e “guela” abaixo, aquele pedagogês que tanto aliena as nossas escolhas! Escolher é, nesse sentido, o sentido de fazer educação!