TÍTULO: IDENTIFICAÇÃO DA PRESENÇA DE ENZIMAS LIPOLÍTICAS EM DIFERENTES VARIEDADES DE UVAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE RIO PRETO AUTOR(ES): LUIS GUILHERME RODRIGUES DA SILVA, ANNA CAROLINA PERES STIVAL, GIOVANA MARTINS VICENTINI, GIOVANE MUNHOZ ALVES DA SILVA, NATHÁLIA RODRIGUES MENDONÇA ORIENTADOR(ES): PATRICIA PERES POLIZELLI RESUMO Enzimas são proteínas globulares de estrutura terciária ou quaternária que agem como catalisadores biológicos e estão envolvidas em todos os processos do metabolismo animal e vegetal. Esses biocatalisadores apresentam vantagens na sua aplicação com relação aos catalisadores químicos, incluindo sua especificidade e o fato de serem efetivas em baixas concentrações. Estudos envolvendo o uso de enzimas têm sido cada vez mais freqüentes sendo de grande valia para diversos setores industriais como de produtos farmacêuticos e alimentos. A pesquisa por novas fontes de enzimas tem sido intensificada nos últimos anos devido ao alto custo de enzimas microbianas e animais, o que restringe seu uso em escala industrial. Este trabalho teve por objetivo efetuar a identificação da presença de enzimas lipolíticas em diferentes variedades de uvas (Vitis labrusca L. (Niagara Rosada), Vitis vinifera L. (Thompson Seedless) e Vitis vinifera L. (Crimson Seedless), sendo que essa fruta tem recebido muita atenção nos últimos anos, devido aos benefícios à saúde associados com a alta capacidade antioxidante. Os extratos enzimáticos foram submetidos a ensaios bioquímicos, e a determinação da atividade enzimática foi realizada por titulação ácido-base usando óleo de soja como substrato enzimático, fenolftaleína como indicador e hidróxido de sódio como titulante. Observou-se que a variedade Vitis vinifera L. demonstrou maior atividade relativa em comparação com as demais, além disso, o extrato de sementes da variedade de uva Vitis labrusca L. demonstrou uma atividade lipolítica acima do encontrado para a fruta completa. A presença de enzimas lipolíticas é mais comum em extratos obtidos a partir de sementes como já foi evidenciado para outras fontes vegetais. INTRODUÇÃO As enzimas, catalisadores de sistemas biológicos, são notáveis dispositivos moleculares que determinam o perfil de transformações químicas e também participam na transformação de uma forma de energia em outra. As características mais impressionantes das enzimas são o seu poder catalítico e a sua especificidade (STRYER; BERG; TYMOCZKO, 2004). A característica que distingue uma reação catalisada por enzima é que ela se realiza dentro de um bolsão confinado da enzima, chamado de sítio ativo e a molécula que é ligada no sítio ativo é denominada de substrato. A superfície do sítio ativo é revestida com resíduos de aminoácidos com grupos substituintes que ligam o substrato e catalisam sua transformação química. Frequentemente, o sítio ativo envolve um substrato, sequestrando-o completamente da solução (LEHNINGER; NELSON; COX, 2011). As lipases são enzimas de origem animal, vegetal ou microbiana, classificadas como hidrolases, pois catalisam a hidrólise total ou parcial de óleos e gorduras, fornecendo ácidos graxos livres, acilgliceróis parciais e glicerol (OLIVEIRA; GIOIELLI; OLIVEIRA, 1999). Essas enzimas são capazes, ainda, de catalisar reações de hidrólise, esterificação e transesterificação, sendo esta flexibilidade aliada a diferentes possibilidades de especificidade aos substratos existentes entre as diferentes lípases. Tais características conferem a estas enzimas um potencial enorme de aplicações (CASTRO; ANDERSON, 1995; GANDHI, 1984; MACEDO; PASTORE 1997). As lipases podem também catalisar reações de interesterificação de óleos e gorduras obtendo-se produtos que não são formados pelos métodos químicos de interesterificação (GIOIELLI, et al., 1994). A grande vantagem do uso de enzimas, com relação aos catalisadores químicos, inclui sua especificidade e o fato de serem efetivas em baixas concentrações (LEHNINGER; NELSON; COX, 2011). Uvas são frutos que crescem em plantas trepadeiras lenhosas do gênero Vitas. Suas sementes apresentam componentes que estão relacionados com a melhora em diversos quadros patológicos, como na resistência à insulina, restaurando os receptores de insulina, uma descoberta que pode ser útil no tratamento de pessoas com diabetes e pré-diabetes. Sendo os principais constituintes fenólicos presentes nas uvas, por ordem crescente em termos de concentração, flavonódes, ácidos fenólicos, antocianinas, catequinas e proantocianidinas (LAUREANO, 1988; ROGGERO; COEN; RAGONNET, 1986). Vitis labrusca L. “Niagara Rosada” é uma videira-americana de frutos globosos, de casca fina e lisa, polpa suculenta de sabor doce-acidulado, com sementes. Vitis vinifera L. “Thompson Seedless” originada na Ásia possui frutos com bagas globosas, de epicarpo fino, com polpa suculenta doce ou ácida e é a uva sem sementes mais cultivada no mundo, tanto para mesa, passas e vinhos licorosos (LORENZI; ABREU, 2008). Vitis vinifera L. variação “Crimson Seedless” foi obtida pelo programa de melhoramento genético do Serviço de Pesquisa Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA/ARS), localizado em Fresno, Califórnia, e lançada para cultivo em 1989. A busca por novas fontes enzimáticas é um processo crescente, devido às inúmeras aplicações destas ferramentas bioquímicas nos mais diversos processos industriais. Sendo assim, o presente projeto visa à identificação da presença de enzimas de origem vegetal, o que torna sua utilização menos dispendiosa. OBJETIVO O objetivo deste projeto foi efetuar a identificação da presença de lipases nas variedades de uva Vitis labrusca L. (Niagara Rosada), Vitis vinifera L. (Thompson Seedless) e Vitis vinifera L. (Crimson Seedless). METODOLOGIA A extração enzimática foi realizada por maceração, utilizando-se a polpa e as sementes das diferentes variedades de uvas. Os extratos enzimáticos obtidos foram submetidos a ensaios bioquímicos, e a determinação da atividade enzimática foi realizada por titulação ácido-base, usando óleo de soja como substrato enzimático, fenolftaleína como indicador e hidróxido de sódio como titulante. DESENVOLVIMENTO A extração enzimática por maceração foi conduzida acondicionando as uvas em um almofariz com pistilo em uma solução de tampão fosfato (gelado) 0,05 M pH 7,4. O macerado foi imediatamente filtrado e passou para a clarificação, realizada por centrifugação a 2.500 RPM por 10 minutos em temperatura ambiente. O líquido sobrenadante foi separado dos sólidos precipitados e armazenado no gelo. A determinação da atividade enzimática foi realizada por titulação ácidobase onde óleo de soja foi o substrato enzimático escolhido e fenolftaleína 1% foi utilizada como indicador e hidróxido de sódio (0,1 M) como titulante. Para o meio reacional, foi utilizado 5 ml de óleo de soja, 1ml de glicerina, 2 ml de tampão fosfato (pH 7,4) e, em seguida, 2 ml de extrato enzimático de acordo com cada variedade de uva. O tempo de incubação foi de 15 minutos a temperatura ambiente. após esse tempo, foram adicionados 1ml de ácido clorídrico e duas gotas de fenolftaleína 1%. Para os testes apenas com as sementes a polpa foi descartada e o procedimento descrita acima, foi repetido. Todos os testes foram realizados em triplicatas. RESULTADOS Através dos dados obtidos foi possível observar baixa presença de enzima lipolítica nas amostras estudadas, conforme observado na figura 1. Resultados semelhantes foram apresentados para testes realizados com trigo e cevada, mas valores contrários foram demonstrados para testes com algodão (BARROS; FLEURI; MACEDO, 2010; GIRELLI; SALVAGNI; TAROLA, 2012). Contudo, o extrato obtido a partir das uvas da variedade Thompson Seedless apresentou maiores valores na atividade enzimática (figura 2). Figura 1- Variação no volume de base forte utilizada no procedimento de titulação versus as variedades de uvas estudadas. As sementes da variedade de uva Niagara Rosada foram testadas e demonstraram atividade lipolítica acima do encontrado para a fruta (figura 3). A presença de enzimas lipolíticas é mais comum em extratos obtidos a partir de sementes como evidenciado para sementes de Jatrophas curcas (COELHO et al., 2013), Arabidopsis thaliana (QUETTIER; EASTMOND, 2009) e Glycine Max (GADGE et al., 2011). Figura 2 - Variação na atividade relativa da enzima lipolítica versus as variedades de uvas estudadas. As análises desenvolvidas na presença apenas da polpa não apresentaram resultados positivos. Figura 3 - Variação na atividade relativa da enzima lipolítica versus o extrato de sementes da variedade Niagara Rosada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os testes evidenciaram baixa presença de enzima lipolítica nos extratos obtidos a partir de uvas das variedades Thompson Seedless, Crimson Seedless e Niagara Rosada. A maior atividade enzimática pode ser observada para Thompson Seedless, e para o extrato de sementes de Niagara Rosada. Constatou- se a partir dos dados obtidos nesse trabalho, que as uvas testadas não são boas fontes de lipases ou a metodologia empregada não apresentou resolução suficiente para a identificação das mesmas. FONTES CONSULTADAS BARROS, M.; FLEURI, L.F.; MACEDO, G.A. Seed lipases: sources, applications and properties- a review. Brazilian Journal of Chemical Engineering, v.27, n.1, p.15-29, 2010. CASTRO, H. F.; ANDERSON, W.A. Fine chemicals by biotransformation using lipases. Química Nova, v.18, n. 6, p. 544-554, 1995. COELHO, A.D.; SANTOS, K.C.; DOMINGUES, R.C.C.; MENDES, A.A. Produção de concentrados de ácidos graxos por hidrólise de óleos vegetais mediada por lipase vegetal. Química nova, v. 36, n. 8, 1164-1169, 2013. GADGE, P.P.; MADHIKAR, S.D.; YEWLE, J.N.; JADHAY, U.U.; CHOUGALE, A.D. Biochemical studies of lipase from germinating oil seeds (Glycine max). Am. J. Biochem. Biotechnol., v.7, n. 3, 141-145, 2011. GANDHI, N.N. Applications of lipases. Journal of the American Oil Chemists Society, v.74, n.6, p. 621-634, 1984. GIOIELLI, L. A. et al. Acidolysis of babassu fat catalysed by immobilized lipase- J. Am. Oil Chem. Soc., v. 71, n. 6, p. 579-582, 1994. GIRELLI, A. M.; SALVAGNI, L.; TAROLA, A. M. Use of lipase immobilized on celluse support for cleaning aged oil layers. J. Braz. Chem. Soc., v.23, n.4, p. 585-592, 2012. LAUREANO, O. A matéria corante dos vinhos tintos. Relações com a cor e a origem dos vinhos.1988. 102f. Dissertação – Pós-graduação em Investigação Auxiliar, ISA, Lisboa, 1988. LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica. São Paulo: editora Sarvier, 2011. LORENZI, H.M.; ABREU, F.J. Plantas medicinais no Brasil. 2 ed. Nova Odessa: editora Instituto Plantarum de Estudos de Flora, 2008. MACEDO, G.A.; PASTORE, G.M. Síntese de ésters de aroma por lipases. Journal of Chemical Technology and Biotechnology, v.69, n.2, p.179-183, 1997. OLIVEIRA, A. L. A.; GIOIELLI, L. A.; OLIVEIRA, M. N. Hidrólise parcial enzimática da gordura de babaçu. Ciênc. Tecnol. Aliment., v.19, n.2, p. 23-56, 1999. QUETTIER,A.; EASTMOND, P.J. Storage oil hydrolysis during early seedling growth. Plant lipids. V. 47, n. 6, 485-490, 2009. STRYER, L.; BERG, J.M.; TYMOCZKO, J. L. Bioquímica. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. ROGGERO, J. P.; COEN, S.; RAGONNET, B. - High perfomance liquid chromatography survey on changes in pigment content in repening grapes of Syrah. 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