10 A QUALIFICAÇÃO DO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO ESTADO PARANÁ: PERFIL EVOLUTIVO - 1994 A 2005 Magda Vianna de Souza Marta Luz Sisson de Castro PUCRS Palavras-chaves: Secretário Municipal de Educação – Ensino fundamental – Ensino municipal – Perfil sócio educacional. Estudo sobre o perfil dos Secretários Municipais de Educação (SME) do Estado do Rio Grande do Sul foi realizado no início da década de 90 e, posteriormente, para toda a Região Sul, resultando em publicações sobre o tema (Castro et. al, 1997 , Castro; Souza, 2004). O trabalho atual, enfocando o Estado do Paraná se efetivou dentro do projeto Gestão da Escola Básica III que visa uma reconstrução do perfil do SME da Região Sul. Os instrumentos de pesquisa foram distribuídos e recolhidos no Estado do Paraná através da rede local da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e retornaram via correio para a PUCRS. O levantamento, realizado em 2005, possibilitou a atualização dos dados coletados em 1994, tornando possível a identificação das mudanças mais significativas ocorridas no período no perfil do SME. No primeiro levantamento realizado em 1994, foram preenchidos -131 instrumentos no Paraná, representando 35,3% do total de municípios do Estado na época da investigação. Em 2005, houve um retorno de 163 questionários, representando 40,8%. De uma maneira global o índice de respondentes está acima da média nacional, pois, em levantamento realizado pela UNDIME (Waiselfisz, e Palhano Silva, 2000) 35,2% dos Dirigentes Municipais de Educação enviaram suas respostas. Neste texto são examinados, de forma comparativa, os dados referentes a 1994 e 2005 com o objetivo de identificar as principais alterações ocorridas no perfil sócio educacional do Secretário Municipal de Educação. QUEM É O SME DO PARANÁ? Os dados coletados em 2005 evidenciam que vem ocorrendo alterações no perfil do Secretário Municipal de Educação na última década. A participação de mulheres é cada vez mais significativa, pois, em 1994, o cargo era exercido por profissionais do sexo feminino em 77,9 % dos municípios estudados e, no último levantamento este índice foi de 79,1%. 10 Houve no período examinado uma significativa alteração no perfil etário com um aumento significativo da idade dos gestores municipais do Paraná. Os dados examinados possibilitam afirmar que, no momento atual, há uma preferência por pessoas com mais idade e experiência para o cargo de SME do que há dez anos, pois é significativo o aumento de percentual de ocupantes do cargo com mais idade do que o constatado em 1994, e, especialmente, com mais de 46 anos, faixa etária em que se encontram 41% dos SMEs que participaram da última pesquisa. Esta distribuição apresenta semelhança com resultados obtidos em estudos realizados (Castro et. al., 1997) no Rio Grande do Sul onde os SMEs possuíam, em média, 40,6 anos de idade e com a média nacional apresentada em estudo realizado pela UNDIME (Waiselfisz e Palhano Silva, 2000) que era de 42,9 anos. Idade dos SMEs 50 40 30 1994 20 2005 10 0 até 35 anos 36 a 45 anos 46 e mais Figura 1 A idade por si só já é um indicador de experiência profissional. No entanto, o exame dos dados evidencia que a grande maioria destes profissionais tem longa experiência na área educacional, (71%) dos respondentes, em 2005, afirmaram estar vinculada à educação a mais de 15 anos, tendo exercido a docência em diversos níveis. A comparação dos resultados de 1994 com os de 2005 mostram um aumento do percentual de respondentes que exerceram, anteriormente, cargos de direção, vice-direção e mesmo de Secretários de Educação o que denota a existência de maior experiência na área administrativa como evidencia a figura a seguir. 10 Experiência profissioanal anterior dos SMEs 80 70 40 Professor escola infantil/séries iniciais Professor 1º G - séries finais Professor de 2º G 30 Diretor 60 50 20 SME 10 Secretario de escola 0 1994 2005 Vice-diretor Figura 2 Além da experiência, demonstrada em funções correlatas e anos de atuação na área educacional, os SMEs que participaram da pesquisa no último levantamento apresentam melhoria na formação. A comparação dos resultados dos dois períodos estudados mostra que o índice de qualificação aumentou, consideravelmente, sendo que, praticamente, a totalidade dos gestores em 2005 tem curso superior, sendo significativo o percentual (85,6%) de pós-graduados como fica evidenciado na figura 3. Formação dos SMEs 100 80 2º grau 60 Superior 40 Pós-graduação 20 0 1994 2005 Figura 3 A formação declarada pelos SMEs do Paraná mostra índices superiores aos da realidade nacional, apresentados em estudo realizado pela UNDIME (Waiselfisz, e Palhano Silva, 2000), onde foi comprovado que no Brasil 80,7% dos Dirigentes Municipais de Educação concluíram o curso superior, enquanto 34,5% têm 10 pós-graduação em nível de especialização. A larga experiência e a boa qualificação não se refletem sobre os rendimentos destes profissionais. No Estado do Paraná, em 1994, um grande número de SMEs recebia menos que 5 salários mínimos, sendo que 84,4% tinham salários inferiores a dez mínimos. A situação se agravou em 2005, pois, 89,8% dos Secretários têm salários inferiores a dez salários mínimos, tendo diminuído o percentual dos que estão na faixa de 11 a 15 salários como evidencia a figura a seguir. Salário dos SMEs 50 40 30 1994 20 2005 10 0 até 5 sm 6 a 10 sm 11 a 15 sm mais de 15 sm Figura 4 A baixa remuneração pode ser um fator que determine a necessidade dos profissionais entrevistados de exercer, além da função de Secretário Municipal, outra atividade remunerada. As respostas obtidas indicam que um grande número de SMEs buscam complementação de rendimento. Comparando os dois momentos analisados, verifica-se que houve um acréscimo de, aproximadamente, 8% de profissionais, exercendo outra atividade remunerada no último levantamento. O exercício de mais de uma atividade pode estar associado à baixa remuneração e ao predomínio de mulheres no exercício do cargo. Os dados demonstram que houve uma alteração na situação funcional dos Dirigentes Municipais de Educação comparando os dois levantamentos. Na primeira pesquisa era alto o percentual de profissionais cedidos de outros órgãos (40,5%) e apenas 17,5% afirmaram ser concursados pelo Município. Em 2005, um percentual significativo dos SMEs declarou-se como concursado pelo órgão municipal de educação, diminuindo o número de profissionais cedidos e de contratados. Esta situação indica que a educação municipal vem ganhando autonomia e que os Sistemas Municipais de Educação se organizaram ao longo dos últimos dez anos. 10 Situação Funcional dos SMEs 50 40 30 1994 20 2005 10 0 concursado cedido contratado outras formas Figura 5 O exame dos critérios apontados como norteadores da escolha do SME evidenciam que no Paraná não houve, como em outros Estados, alterações significativas no período de dez anos examinado. A experiência e a competência são os critérios que definem a indicação do gestor da educação municipal no estado. O exame do critério de indicação nos demais estados da região sul, especialmente, em Santa Catarina (Castro; Souza, 2005), demonstra que está ocorrendo uma politização do cargo, sendo o critério político partidário o mais importante para a nomeação do SME, no caso do Paraná esta politização ainda não se reconhece. Nos dois levantamentos os SMEs apontaram as áreas em que julgam existir carências tanto para melhorar o seu desenvolvimento profissional, como para facilitar uma melhor atuação de seus diretores e professores. Na comparação de resultados obtidos em 1994 e 2005 foi observada uma mudança significativa nas opiniões manifestadas sobre a necessidade de maior preparação e aprofundamento para melhor desempenho e desenvolvimento profissional, mudança esta que ratifica a afirmação feita anteriormente que está ocorrendo uma organização e estabilização dos sistemas municipais. Em relação ao aperfeiçoamento dos próprios secretários o levantamento de 1994 mostrou como prioritária a questão pedagógica, pois o “desenvolvimento da proposta pedagógica” foi citado por 46,5% dos administradores, 41,2% afirmaram necessitar de “conhecimento de administração educacional” e 38,9% mencionaram “saber definir plataforma de trabalho”. Passados 10 anos a problemática financeira se sobrepõe para os SMEs em relação às questões pedagógicas, pois mais da metade dos entrevistados – 54,0% - citou, em primeiro lugar, “gerência financeira”. Este resultado parece estar associado à distribuição dos recursos educacionais pelo FUNDEF, exigindo um maior domínio e conhecimento sobre a questão pelos SMEs para garantir o aporte de recursos necessários. Dados de estudo qualitativo, Castro e Souza (1999) indicavam, já na ocasião, a necessidade de uma maior cooperação entre o SME e o Secretário Municipal da Fazenda. A segunda necessidade apontada foi 10 “desenvolvimento da proposta pedagógica”, citada por 36,8% e, em terceiro lugar, “base legal da educação” – 33,7%. Merece destacar que duas novas necessidades foram mencionadas como significativas nesta última pesquisa – “marketing educacional” e “conhecimentos de informática”, ambas citadas por 20,2% dos entrevistados. Indicando que as administrações municipais percebem estes dois novos elementos como essenciais ao processo de gestão educacional no Século XXI. Um percentual significativo de gestores (8,6%) mencionou a temática “violência na escola”. Os dados mostram, também, um reconhecimento de um número maior e mais variado de necessidades a serem atendidas para o desenvolvimento profissional dos SMEs. Necessidades de desenvolvimento profissional dos SMEs Desenv. Proposta pedagógica 60 Conhecimento de adm. Educacional Base legal da educação 50 40 Saber definir plataforma de trabalho Gerencia Financeira 30 20 Conhecimento de informática 10 Marketing educacional 0 1994 2005 Violência na escola Violência na escola Figura 6 O exame da opinião dos SMEs estudados sobre as necessidades de aprimoramento dos diretores das escolas municipais, também, evidenciou diferenças nos dois levantamentos. Em 1994, a maior concentração de respostas – 48,8% ocorreu nas categorias - “habilidades de planejamento” e “visão da função da escola”, sendo, também, mencionada por um significativo número de respondentes (43,5%) “supervisão pedagógica”. Os dados de 2005 apresentam maior variabilidade das respostas. Novas preocupações foram evidenciadas, como a necessidade de “conhecimentos de administração educacional” a alternativa mais citada (39,2%). Como já foi mencionado, anteriormente, os SMEs em 2005 evidenciam uma preocupação com a questão financeira; 11% acreditam que cabe, também, aos diretores aperfeiçoarem-se nesta área. Duas novas necessidades foram reconhecidas como importantes a serem trabalhadas pelos gestores de escola -“conhecimentos de informática” e “violência na escola”, ambas citadas por 12,6% dos respondentes. Pode ser observada, também, uma melhor distribuição das respostas em um número maior de alternativas. 10 Necessidade de desenvolvimento profissional dos diretores Habilidades de planejamento Visão da função da escola 50 40 Supervisão pedagógica 30 Habilidades políticas 20 10 0 1994 2005 Conhecimentos de adm. Educacional Conhecimentos de informática Violência na escola Figura 7 Para os gestores municipais o aperfeiçoamento dos professores está ligado ao agir diário em sala de aula. Nos dois levantamento mais de 70% dos SMEs mencionaram “trabalhar com alunos com problemas de aprendizagem” como o primeiro aspecto a ser trabalhado junto aos professores. Um novo item “atualização sobre aspectos neurológicos da aprendizagem” foi mencionado, em 2005, por um número significativo de gestores municipais no último levantamento, 20,2%, enfatizando a preocupação com o desenvolvimento da atividade cotidiana do professor. Os dados de 2005 evidenciam ainda uma preocupação maior com a questão do “controle da disciplina do aluno em sala de aula”, citada por 36,8%. Necessidades de desenvolvimento profissional dos professores Trabalhar c/ alunos c/ problemas de aprend Novas tecnologias de ensino 80 70 60 Preparar a proposta pedagógica Prep/ ensino da disciplina 50 40 30 20 10 0 1994 Figura 8 2005 Controle da disciplina do aluno Atualização es asp. Neurológicos da aprend Violência na escola 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados analisados indicam algumas mudanças bastante significativas no perfil do SME do Paraná. O número de mulheres, exercendo o cargo aumentou, apesar de já serem majoritárias em 1994, houve um acréscimo no percentual, indicando que, talvez, o cargo de SME tenha perdido sua atração em termos de prestígio e salário no período estudado. A idade e a experiência dos SMEs parecem ter aumentado no período examinado, indivíduos mais velhos e com maior experiência profissional estavam exercendo a função em 2005. Os SMEs apresentaram um nível educacional melhor, praticamente todos têm nível superior e um percentual significativo 85,6% realizaram cursos de Pós-Graduação. Os dados demonstram que neste período de dez anos a qualificação dos SMEs melhorou de uma forma significativa. A sua situação funcional se tornou melhor, mais estável, pois de cedidos, em 1994, passaram a concursados em 2005. Os resultados indicam aumento da profissionalização da função de SMEs e, um melhor nível organizacional dos sistemas municipais que permitiu que aumentasse de forma significativa a qualificação. O cargo agora é revestido de caráter técnico e os profissionais que o ocupam têm aumentada sua experiência na área administrativa bem como sua capacitação. Estes resultados, talvez, estejam associados à melhoria de qualidade da educação municipal no Estado do Paraná. REFERÊNCIAS ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e políticas sociais: determinantes da descentralização. São Paulo: Editora Revan, FAPESP. 2000. BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. CASTRO, Marta Luz Sisson de. Gestão da Escola Básica: Autonomia e identidade. Estudos Leopoldenses: São Leopoldo, v.31, nº143, Julho-Agosto, p.61-94, 1995. CASTRO, Marta Luz S. de, GASPAROTO,Marilde E., SOUZA, Magda Vianna de: SARI, Mariza T.. Perfil do Secretário Municipal de Educação do Estado do Rio Grande do Sul – 1992. Cadernos Cedae, Porto Alegre, 1997, p.11-31. CASTRO, Marta Luz S. de; SOUZA, Magda Vianna. de Perfil do Secretário Municipal de Educação da Região Sul.. Educação Unisinos. São Leopoldo, vo.8, nº 15, jul-dez p.11-38,2004. CASTRO, Marta Luz S. de; SOUZA, Magda Vianna de . Perfil sócio-educacional do Secretário Municipal de Educação do Rio Grande do Sul. FINEP, FAPERGS, PUCRS. 1999. CASTRO, Marta Luz S. de; SOUZA, Magda Vianna de. Evolução do perfil do Secretário Municipal de Educação de Santa Catarina 1994/2004. Balneário Camboriú. Anais do XVII Simpósio Catarinense de Administração da Educação/AAESC, 2005, p.22-27. IBGE – http://www.ibge.gov.br/home acessado em 5 de Dezembro de 2003 10 PINTO,Jose Marcelino de Rezende. Sobre municipalização do ensino, coronelismo e números muitos números. In Marta Luz Sisson de Castro e Flávia Obino Corrêa Werle (Org.) Educação comparada na perspectiva da globalização e da autonomia .São Leopoldo, Editora UNISINOS, 2000.p. 197-218. WAISELFISZ, Julio Jacobo e PALHANO SILVA,Raimundo. Dirigentes municipais de educação. Brasília: UNESCO, UNDIME, Fundação Ford 2000. WERLE, Flávia Obino Corrêa. Sistema político-administrativo da educação: estudo do relacionamento entre as instâncias do Estado ao longo da República, a partir do município de São Leopoldo. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1993.