PASTORAL ESCOLAR VICENTINA 2015 – PROVÍNCIA DE CURITIBA
“O amor é criativo ao infinito!”
SUBSÍDIO DE ESTUDO PARA OS/AS PASTORALISTAS VICENTINOS/AS
Texto 3
Pe. Eusébio Spisla, CM
Ir. Raquel de Fátima Colet, FC
A CIVILIZAÇÃO DO AMOR: HORIZONTE DE AÇÃO EDUCATIVA
A expressão “Civilização do Amor” foi proferida pela primeira vez pelo Papa Paulo VI em Pentecostes de
1970 e retomada em uma homilia em 25 de dezembro de 1975, no encerramento do Ano Santo. Em suas palavras,
“a Civilização do Amor irá prevalecer frente lutas sociais implacáveis, e dará ao mundo a tão sonhada
transfiguração da humanidade [...].”1 Posteriormente, seu sucessor João Paulo II se utilizará dela inúmeras vezes
em seus discursos e escritos. Em uma delas, lembrando Paulo VI afirma que “ a civilização do amor é o fim para
o qual devem tender todos os esforços tanto no campo social e cultural, como no campo económico e político
[...]” (DM 142 ). Em síntese, a “Civilização do Amor” é uma categoria teológica que aponta para um projeto de ser
humano e de sociedade que, longe de ser abstrato ou meramente afetivo e espiritual, comporta opções e ações
concretas na promoção da vida digna para todos/as (cf. Jo 10,10). Na realidade concreta de cada época, os/as
discípulos/as de Jesus são convidados/as a assumir essa tarefa. Contudo, construir a Civilização do Amor não
é exclusividade dos/as cristãos/ãs, mas um convite a todas as pessoas de boa vontade, presentes em todas as
culturas e credos. Na caminhada da Igreja latinoamericana, essa expressão tem sido bastante inspiradora tanto
na reflexão teológica quanto no processo pastoral assumido. Em relação à evangelização da juventude, por
exemplo, os três documentos referenciais da Pastoral Juvenil carregam no título o termo “Civilização do Amor”3.
Como vicentinos/as, nosso modo de construir a Civilização do Amor passa pelo carisma que nos foi
legado por Vicente de Paulo e Luísa de Marillac: o serviço de Jesus Cristo nos Pobres, realizado com amor afetivo
e efetivo a partir das mais diversas frentes de atuação da Família Vicentina. Entendemos que, através da missão
educativa, contribuímos para que o ser humano e a sociedade sejam mais justos, fraternos, humanizados e
humanizadores. Esta tarefa está em estreita sintonia com a identidade e missão da Pastoral Escolar Vicentina,
que se depara hoje com realidades diferentes das de anos atrás e por isso há necessidade de olhar a realidade
em que se vive e se trabalha para que, levando em consideração o modo de viver das diferentes pessoas, se
possa construir a Civilização do Amor, que nada mais é que o Reino de Deus.
A reflexão que segue procurará articular a temática da Civilização do Amor em relação à pratica pedagógicapastoral assumida na educação cristã católica. Para isso, se utilizará como base o documento “Educar para o
Diálogo Intercultural na Escola Católica: viver juntos para uma civilização do amor 4”, da Congregação para a
Educação Católica, interagindo com a apresentação do tema na Agenda Escolar Vicentina 2015 (divisória mensal
- abril)
1. A Civilização do amor é o outro nome do Reino de Deus! É a concretização
do projeto do Criador para todos(as) seus filhos(as), e para toda a criação.
(Agenda 2015)
1
Discurso disponível em http://w2.vatican.va/content/paul-vi/it/homilies/1975/documents/hf_pvi_hom_19751225.html Acesso em 24 de março de 2015.
2
Carta Encíclica Divina Misericórdia.
3
Pastoral da Juventude: sim à Civilização do Amor (1987); Civilização do Amor: tarefa e esperança (1997);
e Civilização do Amor: projeto e missão (2013).
4
Documento
completo
disponível
em
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_201
31028_dialogo-interculturale_sp.html Acesso em 24 de março de 2015.
“A caridade há de completar-se pela educação!” (Luisa de Marillac)
PASTORAL ESCOLAR VICENTINA 2015 – PROVÍNCIA DE CURITIBA
“O amor é criativo ao infinito!”
A composição multicultural das sociedades atuais, favorecida pela globalização, é um fato constante. A
presença simultânea de culturas distintas representa uma grande riqueza quando se vive o intercâmbio como
fonte de recíproca prosperidade. Mas, constitui um problema relevante quando se vive a pluralidade das culturas
como uma ameaça contra a coesão social, contra o exercício dos direitos individuais e do grupo. Não é fácil a
realização de uma relação equilibrada e pacífica entre as culturas pré-existentes e culturas novas,
caracterizadas por usos e costumes que se apresentam contrastantes.
A grande responsabilidade das escolas ao propor a criação de uma Civilização do Amor é desenvolver
em seus projetos educativos a dimensão do diálogo intercultural. Se trata de um objetivo árduo, difícil de ser
alcançado, porém necessário. A educação por sua própria natureza requer a abertura às outras culturas, sem
perder a própria identidade; requer o acolher o outro, evitando o risco de uma cultura fechada em si mesma e
limitada. Portanto, é indispensável que as crianças, adolescentes e jovens assimilem, através da experiência
escolar, instrumentos teóricos e práticos, que lhes proporcionem um maior conhecimento dos outros e de si
mesmos, dos valores da própria cultura e da cultura de outros. Ademais, um intercâmbio aberto, dinâmico,
ajudaria a compreender as diferenças para evitar os conflitos, e, pelo contrário, seria ocasião de enriquecimento
e de harmonia.
A prática da religião pode dar a resposta às perguntas fundamentais do homem e da mulher: “ Todos os
povos, com efeito, constituem uma só comunidade. Têm uma origem comum, uma vez que Deus fez todo o gênero
humano habitar a face da terra” (NA 15).
A exigência do diálogo inter-religioso na ação pastoral e educacional hoje é percebida como
fundamental. A religião representa um decisivo aporte na construção da comunidade local no respeito do bem
comum e na busca da promoção de todo ser humano. Na carta encíclica Caritas in Veritate,6 Bento XVI diz que
devemos “valorizar todos os homens e o homem todo” (CV 18). Essa valorização faz acontecer a Civilização do
Amor tão querida por Cristo. A religião pode contribuir no relacionamento das pessoas “somente se Deus tem um
lugar na esfera pública. A negação do direito de professar a própria religião e a trabalhar pelas verdades da fé
tem consequências negativas sobre o desenvolvimento. A exclusão da religião no ambiente público, e
fundamentalismo religioso por outro lado, impedem o encontro entre as pessoas e sua colaboração para o
progresso da humanidade. No laicismo e no fundamentalismo se perde a possibilidade de um diálogo fecundo e
de uma proveitosa colaboração entre a razão e a fé religiosa. “A razão necessita sempre ser purificada pela fé,
e isto vale também para a razão política, que não deve crer-se onipotente. Por sua vez, a religião tem sempre
necessidade de ser purificada pela razão para mostrar seu autêntico rosto humano. A ruptura deste diálogo
dificulta em muito o crescimento do ser humano. Fé e razão devem, portanto, reconhecer-se e reciprocamente
fecundar-se” (Idem).
Para uma educação assim concebida, são lugares significativos as escolas e os institutos de educação
superior católicos. Aquilo que define “católica” uma instituição educativa é o modo de referir-se a concepção
cristã da realidade. “Jesus é o centro de tal concepção” (Congregação para a Educação Católica, 33). “Portanto
as escolas católicas são lugares de evangelização, educação integral, inculturação e aprendizagem do diálogo
entre os jovens de religiões e ambientes sociais diferentes” (João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-sinodal
Ecclesia in África, n. 102). O papa Francisco, referindo-se a um centro escolar da Albânia, declarou: “Depois de
muitos anos de repressão das instituições religiosas, o centro escolar retomou sua atividade, acolhendo e
educando jovens católicos, ortodoxos, muçulmanos e também alguns alunos nascidos em contextos familiares
agnósticos. Assim, a escola se converteu em espaço de diálogo e de serena confrontação, para promover atitudes
de respeito, escuta, amizade e espírito de colaboração” (Papa Francisco, Discurso aos estudantes das escolas
dirigidas pelos Jesuítas na Itália e Albânia. Dia 7 de junho de 2013). Assim, o diálogo, fruto do conhecimento, deve
5
Declaração Nostra Aetate, do Concílio Vaticano II.
Texto
completo
disponível
em
http://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate.html Acesso em 24 de
março de 2015.
6
“A caridade há de completar-se pela educação!” (Luisa de Marillac)
PASTORAL ESCOLAR VICENTINA 2015 – PROVÍNCIA DE CURITIBA
“O amor é criativo ao infinito!”
ser cultivado para viver juntos e construir uma sociedade mais justa e fraterna, e um ambiente escolar onde
reina a amizade, a alegria, a paz entre todos.
2. Civilização do amor é: Um ato de fé! Crer e buscar a Civilização do Amor
significa que, frente a todos os desafios que a realidade possa apresentar
um “outro mundo é possível”, onde a vida e as relações sejam pautadas
pela justiça, pelo diálogo, pela paz, pela unidade na diversidade. . (Agenda
2015)
A reflexão sobre as relações pautadas pela justiça, pelo diálogo, pela paz, pela unidade na diversidade
tem sido objeto de inumeráveis intervenções eclesiais, sobretudo, no Concílio Vaticano II e no magistério
subsequente. Na busca destes valores é preciso que se respeite a cultura de cada ser humano.
O Concílio Vaticano II, afirmava que não se dá uma experiência verdadeiramente humana sem a inserção
numa determinada cultura e sem o relacionamento fraterno com as pessoas. “É próprio da pessoa humana o não
chegar a um nível verdadeiro e plenamente humano se não é mediante o criador” (GS7, n. 53). Toda cultura, que
comporta uma reflexão sobre o mistério do mundo e, em particular, sobre o mistério do homem e da mulher, é
um modo de dar expressão a dimensão transcendental da vida. O significado essencial da cultura consiste
“no fato de ser uma característica da vida humana como tal. A vida humana é cultura também no sentido de que
o homem através dela, se distingue e se diferencia de tudo o demais no mundo visível: o homem não pode
prescindir da cultura. A cultura é um modo específico do existir, do ser do homem. O homem vive sempre segundo
sua cultura que lhe é própria, e que, por sua vez, cria entre os homens um laço que lhes é também próprio,
determinando o caráter inter-humano e social da existência humana” (João Paulo II, discurso na UNESCO dia 2
de junho de 1980).
A definição do ser humano em suas relações com os outros seres humanos e com a natureza não satisfaz a
pergunta fundamental: “quem é verdadeiramente o homem?” A antropologia cristã põe o fundamento do homem
e da mulher, e de sua capacidade de fazer cultura no fato de serem criados à semelhança de Deus, Trindade de
pessoas em comunhão. Já desde a criação do mundo nos é revelada a paciente pedagogia de Deus. Ao longo da
história da salvação, Deus educa o seu povo em ordem da Aliança, quer dizer, à uma relação vital e a que se abra
progressivamente a todos os povos. Esta Aliança tem o seu ponto forte em Jesus, que através de sua morte e
ressurreição tem a feito “nova e eterna”. Desde então, o Espírito Santo continua ensinando a missão que Cristo
confiou à sua Igreja. “Ide e evangelizai todas as nações... ensinando-lhes a observar tudo o que tenho mandado”
(Mt 28,19-20).
A Civilização do amor é possível, mas ela deve ser construída no respeito que se deve ter para com cada
pessoa, pois cada um tem o seu modo de pensar e de agir, no respeito para com a sua cultura e sua religião, na
valorização do ser humano, não importando quem ele seja e nem de onde provêm. Isso é possível graças a seu
fundamento antropológico. Com efeito, o encontro se realiza sempre entre homens concretos. As pessoas tomam
vida e se comunicam umas com as outras. Sair de si mesmos e considerar o mundo a partir do ponto de vista
diverso não é negação se si, antes pelo contrário, é um necessário processo de valorização da própria identidade.
Em outras palavras, a interdependência e a globalização entre povos e culturas devem estar centradas na pessoa.
O Concílio Vaticano II descobriu bem esta situação.
“O que é porém o homem? Ele emitiu e ainda emite muitas opiniões a respeito de si esmo, variadas e contrárias
entre si. Numas muitas vezes se exalta como norma absoluta. Noutras deprime-se até o desespero. Donde sua
hesitação e angústia. A Igreja percebe claramente estas dificuldades. Instruída pela revelação de Deus, pode darlhes uma resposta, na qual se delineia a verdadeira condição humana, respeitam-se as suas fraquezas e ao
mesmo tempo se reconhecem de modo correto sua dignidade e vocação” (GS, N. 12b).
7
Constituição Pastoral Gaudium et Spes.
“A caridade há de completar-se pela educação!” (Luisa de Marillac)
PASTORAL ESCOLAR VICENTINA 2015 – PROVÍNCIA DE CURITIBA
“O amor é criativo ao infinito!”
Aqui aparece a necessidade de o homem e a mulher relacionarem-se com Deus e seus semelhantes,
pois nasceram não para viverem isolados, mas em comunidade, pois não são somente indivíduos, uma espécie de
nômades autossuficientes, mas devem estar abertos e orientados para aquilo que é diferente deles mesmos.
Seus relacionamentos alcançam sua natureza profunda fundamentada no amor, a qual aspira toda pessoa para
sentir-se plenamente realizada, tanto ao respeito do amor recebido como, por sua vez, a capacidade de dar o
amor.
“O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si mesmo um ser incompreensível, sua vida fica privada
e sem sentido se não valoriza o amor, se não se encontra com o amor, se não o experimenta, e o faz próprio, se
não participa nele vivamente...Nessa dimensão o homem volta a encontrar a grandeza, a dignidade e o valor
próprios da sua humanidade” (RH 108).
O conceito do amor é compreendido de formas diversas dependendo das diferentes culturas. Na antiga
Grécia o termo mais usado era o de eros, o amor-paixão, associado em geral com o desejo sensual. Também
eram usados os termos philia, entendido como amor de amizade, e o de ágape, para designar uma auto estima
diante do objeto ou pessoa amada. Na tradução bíblica e cristã se valoriza o aspecto oblativo do amor. Mas, a
margem destas distinções e apesar da diversidade de dimensões há na realidade do amor uma profunda unidade
que impulsiona a “um caminho permanente, com o sair do eu centrado em si mesmo para sua libertação na
entrada de si e precisamente deste modo, para o reencontro consigo mesmo, e o descobrimento de Deus” (DCE
n.69).
O amor libertado do egoísmo é a via por excelência da fraternidade e da ajuda mútua para a perfeição
entre as pessoas. É de natureza de todos os homes e mulheres viverem o amor, uma capacidade que lhes foi dada
por Deus e que os realiza. Feliz é todo aquele que ama e é amado. O amor e a grande riqueza da pessoa, não
importando a sua cultura, sua condição social e seus relacionamentos no dia a dia. O amor é o vínculo mais forte,
autêntico e aceito, que une os homens entre si e os capacita para escutar o outro, para dar-lhe atenção e
proporcionar-lhe a estima que merece. Do amor pode-se dizer que é o método e fim da vida mesma. É um
verdadeiro tesouro buscado e testemunhado de maneiras e contextos diferentes por pensadores, santos, homens
e mulheres de fé, figuras carismáticas que através dos séculos tem sido exemplo de sacrifício de si, contribuindo
para a renovação espiritual e social.
3. Como um dos temas transversais da Educação Vicentina, a Civilização do
Amor corresponde à utopia, aquilo que inspira e impulsiona a missão e a
ação. (Agenda 2015)
À luz do mistério trinitário de Deus, o relacionamento deve ser contemplado como Amor, lei fundamental
do Ser humano: um amor não genérico, indistinto e puramente apoiado nas emoções, ligado à conveniência e às
regras de intercâmbio, mas gratuito, tão forte e generoso como o amor de Jesus. Deus faz aliança com seu povo,
pois seu amor nos une num só povo. A identidade do povo escolhido é seu amor a Deus, a vida na união e na
esperança. Compreende os sinais dos tempos e dá uma resposta de fé. E Jesus nos alerta para que a lei do
Evangelho, Lei do amor e da misericórdia, seja cumprida, e seu cumprimento começa em nós. Desta forma se
entende que não é a lei nem a forma jurídica que constituem e mantêm viva uma comunidade, uma escola; antes
é o espírito mesmo da lei, que é justa na medida em que põe ao serviço do bem comum e põe todas as condições
de reciprocidade para serem cidadãos conscientes e responsáveis. A identidade de uma comunidade será mais
madura quando mais fiel for aos valores de cooperação e solidariedade.
A Escola Vicentina está investida de uma grande responsabilidade na educação e ela quer que todos os
que fazem parte dela se realizem como pessoas humanas, que haja respeito mútuo, justiça e o amor seja vivido
8
9
Carta Encíclica Redemptor Hominis.
Carta Encíclica Deus Caritas Est.
“A caridade há de completar-se pela educação!” (Luisa de Marillac)
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“O amor é criativo ao infinito!”
na solidariedade e na entre ajuda entre professores, pais, educadores, responsáveis da instituição, entre
professores e educandos/as, entre estes uns com os outros, respeitando a cultura, gênero, classe social e
religião. Assim agindo podemos ser utópicos, isto é, acreditar na Civilização do Amor. O Reino de Deus acontece.
A realidade das relações humanas e sociais na atualidade é marcada pelo imediatismo, por posturas de
impaciência e não acolhida das situações que necessitam da sabedoria do tempo para se resolverem. Ao mesmo
tempo, carecemos de pessoas sonhadoras, que, apesar dos desafios e dificuldades da caminhada, acalentam a
esperança de dias melhores para si e para toda comunidade humana. Como diz o escritor uruguaio Eduardo
Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos
e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para
isso: para que eu não deixe de caminhar”. Na perspectiva do Reino de Deus, entendemos que a felicidade completa
só a encontraremos na plenitude escatológica, na realização de nossa esperança que está no tempo e na vontade
do Criador. Contudo, enquanto acalentamos esse abraço eterno, precisamos nos comprometer com a travessia
da existência e com aqueles/as que nela caminham conosco. O Reino de Deus é a felicidade total em Deus, mas é
também condições de vida digna para todos/as os/as seus/suas filhos/as que peregrinam na imanência. Como
nos comunicou Jesus de Nazaré e descobriu Vicente e Luísa, essa dignidade passa pela atenção aos mais pobres,
pela partilha dos bens, pela prática da justiça, pela denúncia das estruturas de morte, pelo diálogo respeitoso
com as diferenças.
A educação é uma forma privilegiada de despertar e cultivar utopias! Não pode ser meramente a
socialização de conteúdos programáticos ou a preparação para a vida universitária ou mercado de trabalho. A
escola católica precisa ser um espaço de humanização profundo, de formação integral de cada pessoa que por
ela passa, seja educando/a, educador/a, famílias. Na época de Vicente de Paulo e Luísa de Marillac, a “Civilização
do Amor” e “utopia” não existiam, nem eram empregadas enquanto categorias ou na compreensão teórica que
delas temos hoje. Mas, certamente, as intuições essenciais do que elas representam eles as assumiram e
traduziram em suas práticas, especialmente em favor dos mais pobres. Em sua missão de ser “espaço de cuidado
e acompanhamento, educação da fé e serviço evangélico”, a Pastoral Escolar Vicentina é chamada a ser terreno
fecundo onde as utopias do Reino possam germinar, florescer e frutificar.
4. Para rezar e celebrar as utopias da caminhada:
CREDO DA CIVILIZAÇÃO DO AMOR10
Cremos que nosso DEUS nos chamou a viver na América Latina
para construir seu Reino.
Cremos que todos os HABITANTES DESTA TERRA têm direito a viver
com dignidade, com justiça, com paz e liberdade.
Cremos que todos os CRISTOS CRUCIFICADOS da América se levantarão ressuscitados e
gloriosos pela solidariedade entre nossos povos.
Cremos que podemos VIVER EM COMUNHÃO
sem violência, sem guerras e sem opressão.
Cremos que os POBRES, os indígenas, as crianças e os tristes são preferencialmente
amados pelo Pai, e, por isso, nos declaramos irmãos deles.
Cremos que cada FAMÍLIA de nossa terra
necessita viver na fidelidade e na ternura.
Cremos que os JOVENS americanos não podem viver passivamente suas horas e seus
dias, mas devem ser os primeiros cidadãos dessa nova civilização.
Cremos que uma PÁTRIA GRANDE é possível entre nós, povos do Caribe, do Atlântico e
do Pacífico, de modo que nossas fronteiras não sejam muralhas que nos dividem,
mas linhas de encontro fraternal.
10
Fonte: CELAM – CONSELHO EPISCOPAL LATINOAMERICANO. Civilização do Amor. Projeto e Missão.
Brasília: Edições CNBB, 2013. pp. 349-350.
“A caridade há de completar-se pela educação!” (Luisa de Marillac)
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“O amor é criativo ao infinito!”
Cremos que o ESPÍRITO DE DEUS anima a Santa Igreja,
que, como um grande Povo da libertação, peregrina no continente.
Cremos que MARIA, Mãe de Jesus, nos protege com carinho ao longo de nossa história.
Ela nos impulsiona a partilhar o pão com os famintos,
e a levantar do pó os humildes.
Cremos ardentemente num céu novo e numa terra nova.
E pedimos com insistência que a civilização do amor seja muito em breve realidade
entre nós. Amém.
Referências
BÍBLIA. Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.
CEEPAC - COMISSÃO ESPECIALIZADA DE EDUCAÇÃO DA PROVÍNCIA DE CURITIBA. Agenda Escolar Vicentina 2015.
Curitiba: Gráfica Gigapress, 2015.
CELAM – CONSELHO EPISCOPAL LATINOAMERICANO. Civilização do Amor. Projeto e Missão. Brasília: Edições CNBB,
2013
CONCÍLIO VATICANO II – Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos e declarações. Petrópolis: Vozes,
1968.
CONGREGACIÓN PARA LA EDUCACIÓN CATÓLICA. Educar al Diálogo Intercultural em la Escuela Católica. Vivir
juntos
para
uma
civilización
del
amor.
Roma:
2013.
Disponível
em
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20131028
_dialogo-interculturale_sp.html Acesso em 25 de março de 2015.
BENTO XVI.
Carta Encíclica Caritas in Veritate. Roma: 2009. Disponível em
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-inveritate.html Acesso em 24 de março de 2015.
___________ Carta Encíclica
Deus Caritas Est. Roma: 2005. Disponível em
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deuscaritas-est.html Acesso em 24 de março de 2015.
FRANCISCO. Respostas do Santo Padre Francisco às perguntas dos representantes das Escolas dos
Jesuítas
na
Itália
e
na
Albânia.
Roma:
2013
Disponível
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/june/documents/papafrancesco_20130607_scuole-gesuiti.html Acesso em 24 de março de 2015.
JOÃO PAULO II. A Divina Misericórdia. Roma, 1980. Disponível em http://w2.vatican.va/content/john-paulii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_30111980_dives-in-misericordia.html Acesso em 24 de março de 2015.
_______________ Discurso do Papa João Paulo II na sede da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura – UNESCO. Paris: 1980. Disponível em http://w2.vatican.va/content/john-paulii/pt/speeches/1980/june/documents/hf_jp-ii_spe_19800602_unesco.html Acesso em 24 de março de 2015.
_______________ Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa. Camarões: 1995. Disponível em
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_14091995_ecclesiain-africa.html Acesso em 24 de março de 2015.
________________ Carta Encíclica Redemptor Hominis. Roma: 1979. Disponível em
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_04031979_redemptorhominis.html Acesso em 24 de março de 2015.
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