Nova geografia urbana da inovação: como incubadoras de empresas podem
induzir avanços para o desenvolvimento competitivo local
Autor: Rafael Pinto da Silva1
Resumo Estruturado do artigo
Objetivo
O artigo objetiva discutir como incubadoras de empresas podem induzir avanços para o desenvolvimento
competitivo local e, então, ajudar a reduzir os impactos causados pelas assimetrias referentes à desigual
capacidades das cidades em se projetar como núcleos de geração de inovação.
Abordagem
Neste sentido, o artigo está dividido em três partes. A primeira explica, através da revisão da literatura, o
empowerment das cidades enquanto ambientes de inovação que concentram estruturas e mecanismos
necessários para a contínua geração de sinergias que conectam empresas, pessoas e mercados a fim de
desenvolver diferentes setores econômicos.
A segunda parte observa que as estruturas e sinergias não se concentram da mesma forma em todas as
cidades, o que faz possível a emergência de um novo mapa urbano paralelo à transição da sociedade
industrial para a sociedade informacional e que leva em consideração a desempenho e intensidade nas quais
cidades são transformadas em espaços favoráveis à inovação e dínamos da nova economia do
conhecimento.
A terceira apresenta as incubadoras de empresas como indutoras de sinergias e redes de interação entre
diferentes atores urbanos, do desenvolvimento de novas empresas intensivas em tecnologia, e da
intensificação da competitividade local. Para tanto, é tomado como exemplo a trajetória e atuação da
HABITAT, incubadora gerida pela Biominas Brasil localizada em Belo Horizonte.
Resultados alcançados
Como resultado e conclusão do artigo, pode-se citar que foram identificados e relatados consistentes
argumentos e evidências que afirmam o fenômeno de empowerment das cidades e mostram como a
existência de incubadoras de empresas nas cidades pode induzir avanços para o desenvolvimento local,
através do fortalecimento de setores particulares da economia do conhecimento (no caso, a biotecnologia),
da criação de estrutura e de um ambiente para o desenvolvimento de novas empresas e negócios e tornando
uma região urbana globalmente competitiva.
Originalidade
Neste sentido, o documento estabelece um paralelo constante entre os temas emergentes e questões já
consolidadas, fazendo a interação entre as discussões sobre a sociedade de informação, economia do
conhecimento e a participação de incubadoras no desenvolvimento local e discussões sobre as assimetrias
de inovação na nova geografia urbana mundial.
Palavras-chave: Ambientes de inovação; economia do conhecimento; incubadora de empresas; cidades;
sociedade informacional.
1
Bacharel em Relações Internacionais pelo Instituto Mineiro de Educação e Cultura UniBH, cursa Especialização em Gestão
Estratégica da Informação pela Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais e atua como
analista de startups para a HABITAT, incubadora de empresas gerida pela Biominas Brasil. Instituição: HABITAT/Biominas
Brasil | Endereço: Av. José Cândido da Silveira, 2100, Horto, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil CEP: 31.035-536 | T +55
31 3486-1733 | E-mail: [email protected].
New innovation urban geography: how business incubators can induce advances
for local competitive development
Author: Rafael Pinto da Silva2
Abstract
Objective
The article aims to discuss how business incubators can induce advances in the local competitive
development context and, then, help to reduce the impacts of the asymmetries on the topic of the unequal
capabilities of cities to project itself as territorial cores of innovation generation.
Approach
In this regard, the essay is divided into three parts. The first part explain, by looking up the literature, the
empowerment of cities as environments of innovation which concentrate structures needed for the
continuous generation of synergies to connect people, companies and markets in order to develop different
economic sectors.
The second part observes that these structures and synergies are not concentrated in the same way in all
cities. This fact makes possible the emergence of a new urban map parallel to the transition from the
Industrial to Informational Society that takes into account the performance and intensity in which cities are
transformed into favorable spaces to innovation and dynamos for the new knowledge economy.
The third part presents business incubators as mechanisms to induce advances, synergies and networks
within different urban actors, the development of new based-technology companies and increase of local
competitiveness. Therefore, it is taken as an example the history and performance of HABITAT, business
incubator conducted by Biominas Brazil and located in Belo Horizonte city.
Results
As result and conclusion of the article, it was identified and reported consistent arguments and evidences
that claim the phenomenon of empowerment of cities and show how the existence of business incubators in
the cities can induce advances for local development by enhancing particular sectors of the knowledge
economy (biotechnology in this case); creating an environment for the growth and structure of new
companies and businesses; and making an urban region globally competitive.
Originality
In this sense, the paper establishes a constant line between emerging themes and issues already
consolidated by making the interaction between the discussions about informational society, knowledge
economy and the participation of incubators in the local development context and discussions about the
innovation asymmetries in the new global urban geography.
Keywords: Business incubator; cities; environments of innovation; knowledge economy
2
Bachelor of International Relations at Instituto Mineiro de Educação e Cultura UniBH, attending specialization in Strategic
Information Management at the School of Information Science of Federal University of Minas Gerais and working as startup
companies analyst at HABITAT, business incubator conducted by Biominas Brazil. Institution: HABITAT/Biominas Brasil |
Adress: José Cândido da Silveira, Avenue, 2100, Horto, Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil, Postal Code: 31.035-536
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Introdução
Na transição entre a sociedade industrial e a sociedade informacional3, observa-se que as
cidades assumiram novas atribuições e funções já que é forte o discurso que elas são espaços
territoriais propícios para o desenvolvimento de setores da economia do conhecimento4, como
a biotecnologia e a tecnologia da informação. Nota-se, então, que as cidades se tornaram
centros do dinamismo econômico, tecnológico e social em seus países de origem e também no
nível global.
No entanto, existem assimetrias quanto ao desempenho das cidades frente a estas novas
atribuições, pois a capacidade e as condições de se firmar como dínamos da nova economia
não acontecem de maneira uniforme em todas elas. É neste ponto em que reside a
problemática apresentada por este artigo, pois se abre margem para a formação de um novo
mapa mundial de centralidades e periferias composto não por países, mas sim por cidades
(FINQUELIEVICH, 2001).
Diante disso, é possível observar que as cidades têm buscando diferentes alternativas para se
tornarem competitivas no nível global. Uma alternativa replicada neste sentido é a formação
de arranjos produtivos locais (APLs) para os quais as incubadoras de empresas5 se apresentam
como mecanismos estratégicos devido à capacidade de gerar sinergias que conectam
diferentes atores urbanos em busca do desenvolvimento de novos setores econômicos.
Para discutir a interação entre cidades e incubadoras, este artigo discute nas duas primeiras
partes, respectivamente, o fenômeno de empowerment das cidades e a problemática das
centralidades e periferias urbanas na nova geografia mundial de inovação6. Na terceira parte,
recorre-se a um estudo de caso sobre a atuação da incubadora de empresas HABITAT no
contexto do desenvolvimento local em Belo Horizonte.
A escolha da HABITAT é proposital, pois trata-se de uma incubadora localizada em uma
cidade não-central com atuação específica no setor de biotecnologia, o que possibilitará
demonstrar que as incubadoras podem ser mecanismos estratégicos, principalmente, para o
desempenho de cidades emergentes ou periféricas no que tange a setores influentes para a
economia do conhecimento.
3
Os termos sociedade da informação e sociedade informacional vêm sendo largamente utilizados por autores
contemporâneos para definir a atual fase da sociedade. Para autores como Werthein (2000), o conceito de
Sociedade da Informação surge para substituir o complexo conceito de Sociedade Pós-industrial e como forma
de assinalar a emergência de um novo paradigma técnico-econômico potencializado pelo uso intenso das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas atividades cotidianas.
4
Também entendida como economia informacional. Para Manuel Castells (1992), é aquela que está
caracterizada pela influência crescente da ciência, da tecnologia e da informação nos sistemas produtivos por
meio da flexibilização tempo-espacial, da desterritorialização e da reorganização produtiva que possibilitam. É
uma das revoluções mais importantes da história humana, cujo núcleo central está nas tecnologias da informação
e de suas numerosas aplicações em todos os campos como, por exemplo, na biotecnologia, no setor energético e
no das telecomunicações (FORESTER, 1987 apud. CASTELLS, 1992).
5
Para Baeta (1999, p.), “trata-se de ambientes propícios para o desenvolvimento tecnológico do processo
produtivo de [empresas] por oferecerem a novos empreendedores espaços físico, serviços administrativos,
aconselhamento e consultoria gerencial com custos subsidiados”.
6
É “uma mudança que cria e/ou agrega valor e proporciona uma vantagem competitiva” (UNIÃO EUROPEIA,
2010, p.4).
O texto, então, estabelece uma linha de raciocínio constante entre temas emergentes e já
consolidados, impulsionando, assim, o intercâmbio entre discussões sobre a sociedade
informacional, a economia do conhecimento e a participação de incubadoras nas discussões
sobre as assimetrias de inovação da nova geografia urbana.
Metodologia
A metodologia utilizada compreende a pesquisa analítica da literatura sobre o tema e a
consulta de dados e indicadores em fontes primárias e secundárias. Para fortalecer os
argumentos apresentados foram levadas em consideração pesquisas pelo autor durante
trabalho monográfico anterior bem como informações coletadas ao longo do contato e da
experiência com o movimento de incubação em Minas Gerais, sobretudo na HABITAT.
Para construir a trajetória e atuação da HABITAT em Belo Horizonte como um exemplo de
incubadora indutora de avanços para o desenvolvimento competitivo local, tomou-se como
principal referência os estudos empreendidos por Souza (2005) que foram acrescidos com
dados atualizados disponibilizados pela a instituição e sua entidade gestora. Não se trata de
um estudo de caso fidedigno ao significado desta expressão, mas de uma ilustração factual de
parte dos conceitos, construções teóricas e argumentos levantados a seguir.
Cidades, empowerment e economia do conhecimento
Desde a polis grega, as cidades têm se apresentado como espaços físicos favoráveis para a
ocorrência e continuidade de uma série de eventos e transformações importantes para a
história da humanidade. Na contemporaneidade, porém, condições derivadas, sobretudo, de
efeitos da globalização têm destacado o seu papel como núcleos que concentram mecanismos
e estruturas capazes de induzir diferentes processos de inovação política, econômica,
tecnológica e social.
Nas quatro últimas décadas, os sinais do movimento ascendente da figura das cidades
ganharam mais nitidez em várias regiões do globo. A recessão da década de 1970 na Europa
deixou evidente a reação protagônica de algumas cidades que foram além de suas obrigações
legais para atrair investimentos, gerar empregos e renovar a sua base produtiva (BORJA,
CASTELLS, 1996a).
Na Europa Oriental, foram os movimentos político-sociais que conduziram ao
desmoronamento dos sistemas comunistas alguns dos responsáveis para que centros urbanos
como Berlim, Budapeste, Praga e Varsóvia se tornassem conhecidos como palcos não
somente de movimentos cívicos e da reconstrução democrática, mas também da economia de
mercado (BORJA; CASTELLS, 1996a).
Nos Estados Unidos, as cidades puderam se posicionar como figuras importantes frente aos
processos de transformação política e de política econômica em curso a partir da década de
1980. Cidades como Los Angeles, São Francisco, Detroit, Seattle puseram em marcha
ambiciosos projetos estratégicos que, de maneira geral, combinaram objetivos de crescimento
econômico com medidas para contenção das crescentes desigualdades sociais, demonstrando,
simultaneamente, o potencial negativo da política neoliberal e a capacidade de resposta das
cidades (BORJA; CASTELLS, 1996).
Na América Latina, o ambiente criado pelos processos democráticos e pela crescente abertura
econômica a partir da década de 1990 foi propício para o início de planos de desenvolvimento
econômico, social e urbano baseados na participação cidadã, em arranjos entre os setores
público e privado e na descentralização política em direção aos governos locais, cujo caso
emblemático é a constituição brasileira de 1988 (BORJA; CASTELLS, 1996; SILVA, 2011).
Na Ásia, o protagonismo econômico das cidades tem sido ainda mais evidente. Nas últimas
décadas, a trajetória de cidades como Hong-Kong, Cingapura, Bangcoc e Shangai, por
exemplo, demonstram que, no contexto da economia global, a velocidade da informação sobre
os mercados internacionais, a estratégica adaptação a estes mercados, a flexibilidade das
estruturas produtivas e comerciais, a capacidade de interagir em redes e, especialmente, o
ritmo acelerado da inovação no conjunto das pequenas e médias empresas articuladas com a
indústria e com o comércio exterior são aspectos que, hoje, determinam o sucesso ou o
fracasso das cidades mais do que a quantidade de riquezas naturais ou acumuladas ou a
situação geográfica (BORJA; CASTELLS, 1996).
São sinais como estes que têm legitimado o discurso de que atualmente é possível perceber
um fenômeno de empowerment das cidades na medida em que estas passam a ser
reconhecidas não só como o espaço físico onde vive metade da população mundial7, mas
também como dínamos do desenvolvimento econômico e tecnológico, pois realizam e
propiciam a articulação local e internacional entre instituições públicas e privadas, agentes
econômicos, organizações sociais e cívicas, setores intelectuais e os meios de comunicação.
As principais bases deste discurso podem ser encontradas em três forças motrizes que
surgiram a partir da década de 1980, já que os processos de globalização e de integração
regional, o incremento das relações econômicas entre os países e a emergência do paradigma
pós-industrial denominado sociedade informacional (CASTELLS, 1999) desenharam
múltiplos canais para uma maior interação entre o local e o global (CASTELLS, 1999;
KEOHANE; NYE, 1977) e possibilidades para se pensar em um mundo caracterizado pela
emergência, competição e o intercâmbio entre diferentes aldeias globais ou “ilhas de
governança” que, como na Idade Média, não têm a forma de países, mas sim de cidades
(KHANNA, 2011).
Portanto, para compreensão do empowerment das cidades como causa e efeito do atual
paradigma socio-econômico, é necessário um conceito de cidade mais amplo que seja capaz
de abrigar os já consolidados e, ao mesmo tempo, incorporar processos mais recentes da
7
Segundo o relatório “Situação da População Mundial 2010” do Fundo de População da ONU, metade da
população mundial (cerca de 3,45 bilhões de pessoas) vive em áreas urbanas. O mesmo relatório em
2007,estimou que até 2030 a população urbana chegará a quase 5 bilhões de pessoas o que corresponde a
aproximadamente 60% da população mundial.
influência das cidades nos direcionamentos do mundo globalizado, sobretudo, no âmbito da
nova economia. É nesse sentido que se visita à obra de Castells (1999) e Khanna (2011) para
propor neste trabalho um conceito de cidade como um ambiente de inovação.
As cidades são processos nos quais se estruturam redes de interação entre agentes de natureza
pública, privada e cívica, locais ou estrangeiros, que permitem conectar e projetar, com
intensidades e de formas diferentes, serviços, produtos, mercados em escala global com o
propósito de tornar mais dinâmicos os diversos setores da sociedade. Estes espaços são
verdadeiros centros estratégicos por concentrar os novos processos de acumulação do capital,
de organização econômica, de comunicação, de expressão cultural e de exercício do poder
(SILVA, 2011).
Mais que uma arquitetura para a atividade econômica ou para as relações sociais entre os
cidadãos, as cidades reúnem e definem mecanismos pensados para projetá-las
estrategicamente no contexto global, hoje, fortemente marcado pelo paradigma de uma
sociedade informacional e pela economia do conhecimento. Sendo assim, não será difícil
entender uma equação que aponta que as cidades mais competitivas são aquelas com
capacidade de concentrar mecanismos eficientes para a geração de inovação e riquezas em
setores estratégicos da nova economia, para os quais as incubadoras de empresas, por
exemplo, são alternativas no mínimo interessantes (SILVA, 2011).
Em seu clássico estudo sobre as cidades globais, Sassen (1991) revelou o domínio das cidades
de Nova York, Tóquio e Londres no que diz respeito às finanças internacionais e aos serviços
de consultoria empresarial (CASTELLS, 1999). Khanna (2010), a sua vez, buscou em seu
artigo intitulado Beyond City Limits realçar a ideia de protagonismo das cidades a partir do
levantamento de dados econômicos que, por exemplo, apontam que Londres e Nova York
respondem a 40% do mercado global de capitais, sendo que somente a economia da cidade de
Nova York é maior que o conjunto das 46 economias da África Subsaariana e apenas cem
cidades correspondem a 30% da economia mundial. O autor afirma que estas cidades são
motores da globalização e o seu dinamismo duradouro reside no dinheiro, no conhecimento e
na estabilidade.
Tanto para Khanna (2010) quanto para Castells (1999), outros importantes centros, e até
mesmo superiores em determinados segmentos, estão surgindo. Este é o caso de Chicago e
Cingapura, dos centros urbanos na Ásia como Seul, Hong Kong, Xangai, Sydney e Tóquio,
das cidades-porto como Dubai, dos centros empresariais europeus e norte-americanos como
Frankfurt, Zurique, Paris, Los Angeles e Amsterdã e de vários outros centros regionais, como
Medellín, São Paulo, Buenos Aires, Cidade do México, Taipei, Budapeste e Lagos.
Em alguma medida, estas cidades podem ser consideradas ambientes de inovação que
competem entre si por concentrar estruturas necessárias para a contínua geração de sinergias
que conectam serviços, produtos, consumidores e mercados em busca do desenvolvimento de
diferentes setores econômicos.
Novas centralidades e periferias: assimetrias na geografia urbana da inovação
O grande desafio que se apresenta ao empowerment das cidades é que, no nível internacional,
parece óbvio que as estruturas, sinergias e competências capazes de atrair a produção local de
bens e serviços da economia do conhecimento não se concentrarão e nem acontecerão de
maneira uniforme em todas elas (FINQUELIEVICH, 2001). Deste modo, as cidades que
conseguem se projetar como ambientes de inovação, reunindo mecanismos que construam
círculos virtuosos de melhoria não apenas em termos econômicos e tecnológicos, mas também
sociais e políticos tendem a ocupar um lugar central na nova sociedade. Enquanto isso,
aquelas que não conseguem desenvolver meios e nem dispõem de mecanismos para sistemas
inovadores, consequentemente, tendem a permanecer em posições marginais
(FINQUELIEVICH, 2001).
Portanto, não é um exagero pensar em um novo mapa de centralidades e periferias urbanas a
partir das assimetrias nas capacidades e possibilidades das cidades para cumprir o seu novo
papel como geradoras de inovação na sociedade informacional (FINQUELIEVICH, 2001).
O que se pretende dizer é que, paralelo à transição da sociedade industrial para a sociedade
informacional, poderá ser observado um processo de categorização de cidades centrais e
periféricas que não coincide, necessariamente, com as metrópoles dos países pobres e ricos,
pois esta formação está ligada à capacidade das cidades em se tornarem meios de inovação o
que pode ser atingido com altos níveis de concentração e geração de tecnologias, atividades
financeiras e empresas líderes do chamado período pós-industrial (FINQUELIEVICH, 2001).
Como alerta a autora, esta nova geografia demandará outros parâmetros de indicadores de
centralidades e periferias. As assimetrias entre as cidades, neste caso, poderão ser indicadas
muito mais em função da concentração de atividades em ciência & tecnologia; da quantidade
de centros de estudos avançados, do consumo individual e coletivo de bens e serviços
intensivos em novas tecnologias (FINQUELIEVICH, 2001), da capacidade de geração de
empresas inovadoras e dos investimentos públicos e privados em pesquisa &
desenvolvimento. Neste sentido, a presença de incubadoras atuantes no desenvolvimento
econômico local, por exemplo, pode ser um diferencial competitivo importante para as
cidades devido à capacidade que estas acumulam no que se refere à geração de sinergias entre
diferentes atores urbanos com foco na promoção do empreendedorismo e na criação de
empresas intensivas em tecnologia.
Resultados do City of Opportunity (PWC, 2012)8 e do Innovation Cities Global Index
(2THINKNOW, 2012-2013), dois importantes estudos que refletem um retrato situacional das
cidades em diversos indicadores típicos da sociedade informacional que dão margem para a
construção de diferentes mapas.
Enquanto o Innovation Cities Global Index (2THINKNOW, 2013-2012), que classifica 445
cidades quanto ao seu potencial de inovação em 31 segmentos da economia e as analisam nos
seguintes fatores: bens culturais, infra-estrutura e mercados em rede, atesta uma total
8
O Índice das Cidades de Oportunidades da PWC de 2011 leva em conta os indicadores de Influência
Econômica, Capital Intelectual e Inovação, Prontidão Tecnológica, Transporte e Infraestrutura, Saúde e
Segurança, Sustentabilidade, Facilidade de Fazer Negócios, Custo, Demografia e Qualidade de Vida e Estilo de
Vida.
predominância de cidades das economias centrais norte-americanas e europeias nas dez
primeiras colocações, o City of Opportunity (PWC, 2012), que busca posicionar 27 cidades
em dez indicadores (entre eles a influência econômica, capital intelectual e inovação e
facilidade para fazer negócios), ainda que reforce o domínio de cidades globais como Nova
York e Londres que respectivamente ocupam as primeiras posições, confirma também a
emergência de novas centralidades asiáticas, como é o caso de Singapura (7ª) e Hong Kong
(8ª).
Se observados de maneira individual, alguns dos indicadores do City of Opportunity (PWC,
2012) trazem ainda importantes constatações. No que se refere ao capital intelectual e
inovação, um indicador que leva em conta, entre outros fatores, o ambiente de
empreendedorismo, o nível de proteção intelectual e o desempenho em pesquisa das melhores
universidades, além do próprio índex de inovação das cidades, o estudo não realça a
performance de cidades consagradas como Londres, Nova York ou Tóquio, mas sim de
centros como Estocolmo, Toronto e São Francisco. Além disso, no que se refere à influência
econômica e a facilidade para se fazer negócios, o estudo revela a força de centros asiáticos
como Beijing e Singapura que, respectivamente, respondem pelas primeiras colocações.
Neste contexto, as cidades têm buscado alternativas para se mostrar mais competitivas no
âmbito global e dinamizar o desenvolvimento local em setores estratégicos da economia do
conhecimento. Uma das alternativas que têm gerado resultados importantes, sobretudo, para
as cidades não-centrais é a formação e a sustentação de arranjos produtivos locais também
conhecidos como clusters ou aglomerados que, se bem instituídos, são eficazes ao atrair a
produção de bens e serviços de alto valor agregado – como é o caso da cidade de Seattle, São
Francisco e o Vale do Silício nos Estados Unidos, a Sociedad Municipal 22@bcn em
Barcelona, o Medicon Valley na Dinamarca e no sul da Suécia, Tsukuba no Japão, e
Bangalore na Índia (SILVA, 2012).
Para Souza (2005), os arranjos proporcionam maior proximidade entre os participantes,
viabilizando o estabelecimento de confiança, a troca de informações, o aumento da
produtividade de um setor específico, o fortalecimento da capacidade de inovação, a formação
de novas empresas, além de incentivar a rivalidade positiva entre elas.
Sendo assim, as incubadoras surgem como mecanismos estratégicos para o desempenho das
cidades na nova economia, na medida em que proporcionam o desenvolvimento dos arranjos
por atuar diretamente nas forças que proporcionam a reação em cadeia que os desenvolve.
Elas “incentivam a competição local, criam um ambiente propício à constituição de empresas,
além de possuírem mecanismos para reunir os participantes do arranjo” (SOUZA, 2005,
p.46).
Ou seja, as incubadoras, se não conseguem fazer por si mesmas, pelo menos, podem
concentrar esforços e ações que são importantes para dinamizar o desenvolvimento local a
partir do fortalecimento do empreendedorismo, do suporte à criação de novos negócios e
tecnologias e, sobretudo, do incremento dos níveis de atividades intensivas em ciência,
tecnologia & inovação e em pesquisa & desenvolvimento. Estes mecanismos acabam também
por impulsionar um número considerável de indicadores que, como puderam ser vistos acima,
são usados para diagnosticar o potencial das cidades para se transformar em espaços de
inovação e em dínamos da economia do conhecimento.
Incubadoras de empresas como indutoras do desenvolvimento local: o exemplo da
HABITAT em Belo Horizonte
Em vários países, incubadoras de empresas têm se consolidado como instrumentos e, em
alguns casos, como política para o desenvolvimento econômico local, uma vez que objetivam
apoiar empreendedores ‘a empreender start-ups’ e são utilizadas para alcançar objetivos
relacionados à interface entre universidade-empresa por oferecer infraestrutura e condições
para modernizar as capacidades tecnológicas de empresas locais (OECD, 1999).
Certamente, por estas razões, interesses pelas incubadoras de empresas emanam de uma
variedade de fontes. Governos locais e regionais, universidades, câmaras de comércio,
parques científicos, agentes imobiliários privados e organizações sem fins lucrativos têm
participado do estabelecimento e execução de diferentes modelos de programas de incubação
(OECD, 1999).
Atualmente, a National Business Incubation Association dos Estados Unidos estima que
existam no mundo 7 mil incubadoras de empresas que, curiosamente, estão concentradas nas
mesmas regiões em que estão localizadas as principais cidades do mundo desenvolvido, já
que a própria NBIA (2013) calcula que quase 18% das incubadoras do mundo estão nos
Estados Unidos (aproximadamente 1.250) e a Comissão Europeia (2002) em um estudo
lançado em 2002 diagnosticou mais de 900 incubadoras localizadas na Europa Ocidental.
No Brasil, o surgimento das primeiras incubadoras aconteceu na década de 1980
paralelamente à intensificação do movimento de incubação que já acontecia desde a década de
1950 em muitos países e à revisão dos sistemas de desenvolvimento econômico “em razão do
esfacelamento da produção fordista, da rápida introdução de novas tecnologias e do novo
papel das pequenas e médias empresas na geração de empregos e renda” (ANPROTEC;
MCTI, 2011, p.8).
Um estudo feito em 2011 pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC) e o Ministério de Ciência Tecnologia e
Inovação (MCTI) apontou que no Brasil existem 384 incubadoras de empresas, sendo que
parcela considerável (67%) possui foco tecnológico com atuação marcante em setores
intensivos em conhecimentos científico-tecnológicos, como tecnologia da informação e
comunicação, biotecnologia e automação industrial (ANPROTEC; MCTI, 2011).
A importância das incubadoras brasileiras está refletida na taxonomia proposta pelo referido
estudo na tentativa de agrupar e definir as experiências nacionais. Para tanto, foram propostos
dois modelos de incubadoras: a) Incubadoras orientadas para o desenvolvimento local ou
setorial: “dedicadas prioritariamente à criação de empreendimentos que resolvam gargalos em
APLs e cadeias produtivas, que promovam a economia solidária e que dinamizem economias
locais, agregando inovação ao seu tecido econômico” (ANPROTEC; MCTI, 2011, p. 19) e b)
Incubadoras orientadas para a geração e uso intensivo de tecnologia, ou seja, que “têm sólida
relação com núcleos de geração de conhecimento em universidades e centros de pesquisa”
(ANPROTEC; MCTI, 2011, p. 19).
As funções de ambos os modelos citados traduzem a expectativa criada em torno do potencial
das incubadoras enquanto agentes promotores da nova economia nas cidades, seja no
fortalecimento de APLs, na geração de empregos e impostos, dinamizando e agregando
inovação a setores econômicos vocacionais de cada cidade ou ainda promovendo sinergias
entre diferentes instituições estratégicas para o desenvolvimento local.
A HABITAT, incubadora de empresas localizada em Belo Horizonte voltada para o apoio e a
criação de empreendimentos no setor de ciências da vida é um exemplo didático de como as
incubadoras podem, através da contínua geração de sinergias entre diferentes atores urbanos,
atuar como impulsionadoras de setores econômicos estratégicos com vistas a ampliar a
competitividade das cidades e suas regiões de influência.
A começar pela sua constituição, a HABITAT já demonstra seu potencial enquanto um
projeto capaz de gerar sinergias entre instituições de distintas naturezas (estadual, municipal,
universidade e organização sem fins lucrativos) em torno de um objetivo comum. A
incubadora foi criada em 1992 por meio de um convênio de cooperação entre o Governo do
Estado de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Universidade Federal de Minas
Gerais e a Fundação Biominas que estabeleceu, desde então, esta última como sua entidade
gestora e representante legal.
Vale ressaltar que esta formatação se aproxima muito do conceito de hélice tríplice cunhado
por Henry Etzkovitz em meados dos anos 1990 para descrever o modelo ideal de inovação
com base na relação governo-universidade-indústria. Segundo este modelo, “a inovação é
vista como resultante de um processo complexo e contínuo de experiências nas relações entre
ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, indústrias e governo”
(VALENTE, 2010, p.6) e “somente através da interação desses três atores é possível criar um
sistema de inovação sustentável e durável na era da economia do conhecimento” (VALENTE,
2010, p.6).
O surgimento da HABITAT está relacionado ao contexto favorável criado pela expansão do
movimento de incubação no Brasil a partir da década de 1980 e pela influência da criação da
Fundação Biominas na década de 1990 no que diz respeito ao desenvolvimento do setor de
biotecnologia no estado de Minas Gerais.
Em 1986 o Governo do Estado instituiu o Programa Estadual de Biotecnologia sob a
justificativa das demandas crescentes pela aplicação da biotecnologia no setor produtivo. O
objetivo geral do programa era estabelecer as condições necessárias para a implantação de
uma sólida estrutura produtiva em Minas Gerais e promover o fortalecimento da competência
científica e tecnológica instalada no estado. No ano seguinte, o projeto foi descontinuado uma
vez que as temáticas de ciência & tecnologia passaram a não figurar como prioridades na
agenda governamental (BAÊTA; CHANGNAZAROFF; GUIMARAES, 1999).
O projeto, então, foi retomado em 1991 pela Fundação Biominas, hoje conhecida como
Biominas Brasil, que havia sido criada em 1990 por um grupo de empresas do setor com o
objetivo de coordenar as atividades relativas à biotecnologia no estado, incluindo apoio ao
crescimento das empresas, ao desenvolvimento de projetos de pesquisa & desenvolvimento e
à difusão dos avanços tecnológicos da área (BAÊTA; CHANGNAZAROFF; GUIMARAES,
1999).
Operacional desde 1997, ano de sua inauguração, a HABITAT viu sua rede de parceiros
estratégicos crescer ao longo dos anos. Além dos membros fundadores, a incubadora conta
ainda com o apoio das unidades regional e nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
(FAPEMIG), do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), do MCTI por meio
do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Além disso, tem participação em associações e redes do movimento de incubação como a
Rede Mineira de Inovação (RMI) e a ANPROTEC e articulação próxima com outros agentes
e mecanismos estratégicos tais como a Associação Mineira de Empresas de Biotecnologia e
Ciências da Vida (AMBIOTEC) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(FIEMG).
Ao lado da ampla capacidade da HABITAT em gerar sinergias entre distintos agentes do
desenvolvimento local, outros pontos fortes da incubadora são a infraestutura especializada
para abrigar empreendimentos intensivos em ciências da vida. Isto inclui a possibilidade de
locação de salas e escritórios com custos reduzidos nas fases iniciais de vida das empresas, o
acesso a laboratórios, infraestrutura tecnológica, salas de reuniões e espaços de convivência
de uso compartilhado, além da experiência e know-how no que diz respeito à construção e ao
suporte a empresas, negócios, projetos e pesquisas no setor de ciências da vida.
Todos estes fatores corroboram em larga medida para que a incubadora alcance resultados
como a geração de emprego e renda, o apoio a 47 empreendimentos, e a graduação de 24
empresas que junto com outras 14 empresas ainda incubadas em 2013 totalizam uma receita
próxima a R$ 770 milhões e acumulam mais de R$100 milhões em impostos (HABITAT,
2013).
Com base nestes dados, não é um equívoco afirmar que a HABITAT, então, enquanto uma
incubadora de empresas reúne condições para induzir o desenvolvimento estratégico local na
medida em que, além de ter possuído papel protagônico na formação do APL de
Biotecnologia de Belo Horizonte, contribui para a sua sustentação e, consequentemente,
corrobora, em alguma medida, para a competitividade cidade de Belo Horizonte em um dos
setores mais cobiçados da economia do conhecimento.
Souza (2005) descreveu com propriedade a participação da HABITAT no contexto local, na
competitividade do arranjo e no desenvolvimento do setor em que está inserida. De maneira
resumida, no que diz respeito ao contexto local este autor realçou as seguintes atuações da
incubadora:
a) Melhoria na condição dos fatores (insumos) através da disponibilização de
infraestrutura especializada, apoio administrativo, qualificação empresarial, além do
suporte para registro de empresas de produtos junto às instituições reguladoras e o
auxílio para obtenção de financiamentos (SOUZA, 2005). Neste sentido, acrescenta-se
às inferências de Souza (2005), que, desde 2009, a incubadora intensificou o seu
relacionamento com fundos de investimento ao contar com a presença em suas
instalações de um escritório do fundo de capital semente CRIATEC que investe em
três empresas incubadas.
b) Dinamização do contexto para a estratégia e rivalidade, pois coloca no arranjo
novos entrantes que têm potencial inovador e incrementam a competição. Além disso,
incentiva a comunicação e articulações (geração de sinergias) entre os participantes do
arranjo, seja através das atividades que lhe são intrínsecas ou por meio de eventos que
organiza ou ainda de programas e projetos dos quais participa (SOUZA, 2005).
No que se refere à competitividade do arranjo, são sinalizadas as seguintes atuações:
a) Melhoria da produtividade por meio da facilidade de acesso a insumos e pessoal
especializado, do acesso à informação, a instituições e bens públicos e ao proporcionar
também incentivos à mensuração do desempenho. Neste sentido, é possível dizer que a
incubadora:
melhora o acesso à informação pela disponibilização de informações
setoriais e da promoção de encontros entre os participantes do arranjo. Ela
propicia acesso a instituições e bens públicos por facilitar o acesso a
instituições de ensino e pesquisa, bem como a entidades governamentais de
suporte financeiro e gerencial, como o SEBRAE, FINEP e FAPEMIG. A
incubadora proporciona incentivos à mensuração do desempenho, por
possuir histórico de empresas graduadas, bem como empresas em fase de
incubação [...] (SOUZA, 2005, p.102);
b) Melhoria da inovação, “pois facilita a troca de informações, e a proximidade entre
os participantes, atuando na redução do distanciamento entre as empresas” (SOUZA,
2005, p.105-106);
c) Criação de novas empresas uma vez que este é o seu propósito primário e,
portanto, é notável a sua participação direta na graduação de empresas (SOUZA,
2005) e a abertura do seu programa de incubação para a entrada de novos
empreendimentos.
Por fim, no que se refere ao desenvolvimento do setor de ciências da vida, a HABITAT tem
atuação importante, especialmente, sobre os setores de biotecnologia e médico de Belo
Horizonte, devido a sua capacidade de desenvolver efeitos em cadeia dentro do arranjo
(SOUZA, 2005):
a) Intensificação da competição, pois reduz os custos de entrada (infraestrutural e
tecnológico) e aumenta o número de novos entrantes no arranjo, além disso, demonstra
que “o sucesso é possível, reduzindo as barreiras psicológicas e a precificação do risco
requerido pelos empreendedores” (SOUZA, 2005, p.103);
b) Criação de mecanismos para reunir os participantes do arranjo por meio de
eventos ou projetos conjuntos que “fomentam parcerias e reduzem a distância [entre
eles], criando ambiente propício para que as interações aconteçam e o potencial de
desenvolvimento da indústria local se realize” (SOUZA, 2005, p.103).
Contudo, identifica-se que em Belo Horizonte não há uma política ou um programa
estratégico local para a promoção do setor de biotecnologia que seja alavancado de modo
concertado pelas instituições do setor e outros organismos competentes. Isso faz observar que
a função da HABITAT como um instrumento do desenvolvimento local para este setor seja
algo não-combinado cujo potencial máximo pode não ter sido atingido.
Deste modo, fica claro que embebido pelo exemplo da HABITAT e sem pretensões
generalizantes, confiar o papel das incubadoras de empresas como indutoras do
desenvolvimento competitivo das cidades significa ir além da geração de impostos, empregos
e receitas, pois está intimamente ligado à geração de sinergias capazes de intensificar a
proximidade e as interações entre diferentes agentes urbanos. Estas sinergias são responsáveis
por dinamizar arranjos produtivos locais, por exemplo, com a constituição de novas empresas,
o incremento da competição local e a melhoria das condições para a inovação.
CONCLUSÃO
Levando em consideração todas as discussões propostas por este artigo, é possível extrair três
importantes conclusões. A primeira delas é que, no contexto da sociedade informacional e da
economia do conhecimento, as cidades representam mais do que o espaço físico onde vive
metade da população mundial, pois são fortes as evidências do fenômeno de empowerment
das cidades e o seu reconhecimento enquanto ambientes propícios para a inovação e dínamos
do desenvolvimento econômico.
A segunda conclusão é que as capacidades e condições para que as cidades se transformem ou
se consolidem como meios e ambientes de inovação não ocorrem em todas elas da mesma
forma. Sendo assim, abre-se margem para pensar em um mapa mundial marcado pela divisão
entre centralidades e periferias urbanas quando se leva em consideração indicadores como os
níveis de atividades intensivas em ciência & tecnologia, em pesquisa & desenvolvimento, a
influência econômica, o capital intelectual e a inovação, a facilidade para fazer negócios e a
capacidade de geração e concentração de empresas inovadoras e empresas líderes em setores
cobiçados da economia do conhecimento, como o setor de biotecnologia, por exemplo.
A terceira e última conclusão é que para se projetar de maneira estratégica na nova geografia
urbana de inovação proposta, as cidades estarão cada vez mais preocupadas em tornar
competitivo o desenvolvimento local e, para tal, as incubadoras de empresas são mecanismos
especialmente interessantes. As incubadoras são capazes de gerar sinergias entre diferentes
agentes da economia local, aprimorar a produtividade, gerar algum nível de competição entre
empresas de um mesmo setor, gerar novas empresas intensivas em tecnologia (novos
entrantes), além do incremento da taxa de emprego e renda e dos próprios níveis locais de
inovação.
Neste sentido, com base nos estudos de Souza (2005) foi citado como exemplo a trajetória e
atuação da incubadora de empresas HABITAT que consegue induzir avanços no
desenvolvimento local por dinamizar e gerar sinergias entre os atores participantes e
apoiadores do setor de biotecnologia em Belo Horizonte com a constituição de novas
empresas. Estes resultados podem ser vistos como forças propulsoras que podem corroborar
para um melhor desempenho da cidade em um dos setores estratégicos da economia do
conhecimento, além de diminuir os impactos negativos das assimetrias existentes relativas à
capacidade das cidades em se transformar em ambientes de inovação, como demonstraram os
estudos levantados sobre o tema.
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