UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA PÂMELLA SUÉLEI SILVA RAFAEL PINTO AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE DENTINÁRIA APÓS A IRRIGAÇÃO DE CANAIS RADICULARES COM DIFERENTES VOLUMES DE SOLUÇÃO DE HIPOCLORITO DE SÓDIO A 1% E CLOREXIDINA GEL A 2% Itajaí (SC) 2006 2 PÂMELLA SUÉLEI SILVA RAFAEL PINTO AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE DENTINÁRIA APÓS A IRRIGAÇÃO DE CANAIS RADICULARES COM DIFERENTES VOLUMES DE SOLUÇÃO DE HIPOCLORITO DE SÓDIO A 1% E CLOREXIDINA GEL A 2% Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profa. Márcia Gonçalves Lucena Itajaí (SC) 2006 3 PÂMELLA SUÉLEI SILVA RAFAEL PINTO AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE DENTINÁRIA APÓS A IRRIGAÇÃO DE CANAIS RADICULARES COM DIFERENTES VOLUMES DE SOLUÇÃO DE HIPOCLORITO DE SÓDIO A 1% E CLOREXIDINA GEL A 2% Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, aos dezenove dias do mês de setembro do ano de dois mil e seis, é considerado aprovado. 1. Profa. Dra. Márcia Gonçalves Lucena _____________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 2. Prof. MsC. Osny Thadeu Schauffert _______________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 3. Profa. Cláudia Schlindwein ______________________________________________ Curso de Odontologia da Universidade Regional de Blumenau (FURB) 4 Dedico este trabalho aos meus pais e irmão, pela confiança em mim depositada e por me apoiarem e estarem comigo em cada obstáculo na conquista deste sonho. E especialmente ao tio Vilson e meu amigo (irmão de escolha) Dinho, por serem exemplos de generosidade, força e bom humor que me acompanharam por esta etapa. Pâmella Dedico este trabalho aos meus pais e irmão que estiveram sempre ao meu lado me incentivando e apoiando para a concretização desta importante etapa de minha vida. Rafael 5 AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus pela vida, por nos conceder saudáveis e aptos na realização de simples e complicadas tarefas no decorrer deste curso. Aos nossos pais, por nos oferecerem esta oportunidade de estudo e realização. Agradecemos aos nossos amigos e colegas de faculdade, que acompanharam toda nossa trajetória, de longe ou perto, sempre nos apoiando. À nossa orientadora Márcia Gonçalves Lucena, pelos conhecimentos transmitidos, pela paciência e tranqüilidade em nos orientar neste trabalho. Agradecemos aos professores das disciplinas de Metodologia Científica e de Endodontia, bem como o professor Henry Stuker por suas colaborações na elaboração deste trabalho, e aos funcionários do Laboratório de Apoio da Universidade do Vale do Itajaí. Agradecemos também aos funcionários do Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal de Santa Catarina pela colaboração na execução da pesquisa. E agradecimentos especiais aos professores Osny Thadeu Schauffert e Claudia Hasselmann Schlindwein por suas contribuições no refinamento deste trabalho. 6 “O mais importante na terapêutica dos canais radiculares é o que se retira do seu interior e não o que nele se coloca.” (Sachs) 7 AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE DENTINÁRIA APÓS A IRRIGAÇÃO DE CANAIS RADICULARES COM DIFERENTES VOLUMES DE SOLUÇÃO DE HIPOCLORITO DE SÓDIO A 1% E CLOREXIDINA GEL A 2% Pâmella Suélei SILVA e Rafael PINTO Orientadora: Profa. Márcia Gonçalves Lucena Data de defesa: setembro de 2006 Resumo: A irrigação é uma etapa imprescindível quando se espera um adequado saneamento do sistema de canais radiculares. Os autores avaliaram por meio de microscopia eletrônica de varredura, o padrão de limpeza dos terços médio e apical de canais radiculares irrigados por duas substâncias irrigadoras em diferentes volumes. Para tal foram utilizados 40 dentes unirradiculares, que após esvaziados e preparados pela técnica coroa ápice, foram divididos aleatoriamente em 4 grupos de 10 dentes cada, ficando assim divididos: 1A – irrigação com 10ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, 1B – irrigação com 20ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%; 2A – irrigação com 10ml de soro fisiológico auxiliado por 0,5ml de clorexidina gel a 2%, 2B - irrigação com 20ml de soro fisiológico auxiliado por 1ml de clorexidina gel a 2%. Os canais receberam irrigação final com 3ml de solução de EDTA a 17%. Os resultados mostraram que a solução de hipoclorito de sódio a 1% apresentou melhor desempenho no padrão de limpeza dos canais radiculares que a clorexidina gel a 2% no terço apical. Não havendo, porém, diferença estatisticamente significante no aumento da permeabilidade nos diferentes terços dos canais radiculares avaliados também para os dois volumes analisados . Palavras-chave: clorexidina, hipoclorito de sódio, permeabilidade dentinária. 8 EVALUATION OF DENTIN PERMEABILITY AFTER IRRIGATION OF A ROOT CANALS WITH DEFFERENT VOLUMES OF 1% SODIUM HYPOCHLORITE SOLUTION AND 2% CHLORHEXIDINE GEL. Pâmella Suélei SILVA e Rafael PINTO Adviser: Profa. Márcia Gonçalves Lucena Defense date: September 2006 Abstract: The irrigation is a unique step to perform the right cleaning of the root canals. The authors evaluated by means of scanning electronic microscopy the cleaning of dentin walls from apical and medium third the root canal. They used different volumes for two different irrigating solutions on 40 teeth with a single root canal. The teeth were emptied, prepared biomechanically and randomized in 4 groups with 10 teeth each group: 1A - 10 ml 1% sodium hypochlorite solution; 1B - 20ml 1% sodium hypochlorite solution; 2A - 0,5ml 2% chlorhexidine gel plus 10ml of physiological serum; 2B - 1ml 2% chlorhexidine gel plus 20ml of physiological serum. After the procedure, all the root canals receive a final flush of 3ml of 17% EDTA. The results showed that the 1% sodium hypochlorite solution got better cleaning on the apical third of the root canals compared with the 2% chlorhexidine gel. No statistically significant difference was shown on the increase of dentin permeability of the different thirds of the root canals or when the two different volumes of the solutions where compared. Key-words: chlorehexidine, dentin permeability, sodium hypochlorite. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10 2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 2.1 Irrigação do sistema de canais radiculares ..................................................... 2.2 Tipos de soluções irrigadoras ........................................................................... 2.2.1 Hipoclorito de sódio ........................................................................................ 2.2.2 Clorexidina ....................................................................................................... 2.2.3 Agentes quelantes ........................................................................................... 13 13 18 18 21 23 3 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 26 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................. 33 5 DISCUSSÃO ............................................................................................................ 37 6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 47 10 1 INTRODUÇÃO A terapia endodôntica é composta de várias fases, cada qual com sua importância para o sucesso do tratamento endodôntico. A fase inicial, do preparo químico-mecânico compreende a instrumentação mecânica e a irrigação através do uso de soluções irrigadoras. A irrigação endodôntica é uma etapa imprescindível quando se espera um adequado saneamento do sistema de canais radiculares para posterior obturação e acompanhamento do caso clínico. O emprego de substâncias irrigadoras permite a remoção de restos orgânicos e inorgânicos e de microrganismos do interior do canal radicular. Ciente que o objetivo da irrigação é a limpeza do sistema de canais radiculares, poderíamos esperar que a solução irrigadora ideal apresentasse algumas propriedades a fim de determinar sua função. De acordo com Harrison (1987) cada solução irrigadora apresenta diferente capacidade de limpeza, que pode estar ligada às distintas propriedades de cada substância, como: sua capacidade de destruir os microrganismos presentes no sistema de canais radiculares, dissolver os tecidos necróticos, auxiliar na remoção de detritos e, além disso, não ser citotóxico aos tecidos perirradiculares. Além dessas propriedades a substância irrigadora deve promover o aumento da permeabilidade dentinária. Quanto maior a permeabilidade da dentina, melhor a capacidade da substância irrigadora se difundir até o interior dos túbulos dentinários, removendo os detritos ali presentes. (ÁLVARES, 1991) 11 Esta questão é de fundamental importância, pois analisando a capacidade de penetração dessas substâncias, verifica-se que elas funcionam como uma espécie de guia para a penetração das medicações intracanal e posteriormente dos materiais obturadores, favorecendo o adequado selamento do sistema de canais radiculares, impedindo que seja necessário um futuro retratamento endodôntico. Dentre as substâncias irrigadoras que vêm sendo utilizadas no decorrer dos anos, destacam-se o hipoclorito de sódio, em diferentes concentrações; detergentes; EDTA (ácido etilenodiaminotetracético), como substância auxiliar da irrigação e mais recentemente tem se falado no soro fisiológico associado à clorexidina gel a 2%. O primeiro tem sido a substância mais utilizada mundialmente devido às suas propriedades antimicrobiana, biocompatibilidade quando em baixa concentração e solvente de tecido orgânico, semelhantes as já mencionadas. No que diz respeito à utilização da clorexidina, é destacado na literatura seu poder antimicrobiano quando em concentrações elevadas, seu amplo espectro de ação bacteriana e sua substantividade, o que a permite agir por mais tempo no interior do canal radicular. Por isso sua indicação de uso durante o tratamento endodôntico. (FERREIRA et al., 2002). Há, também, alguns fatores que potencializam a ação penetrativa das soluções, como a associação de duas diferentes soluções ou de uma solução a substâncias quelantes. Como exemplo desta destaca-se o ácido etilenodiaminotetracético ou EDTA. Esta substância caracteriza-se por possuir ação quelante, ou seja, capacidade de dissolução de tecido inorgânico, que não é observada nas soluções irrigadoras, como o hipoclorito ou clorexidina. Apresenta, então, a capacidade de dissolução da lama dentinária, que se constitui numa camada de fragmentos de tecido mineralizado 12 proveniente da ação dos instrumentos, assim como matéria orgânica e bactérias, que se aderem à superfície dentinária dos canais radiculares, obstruindo os túbulos dentinários. (ÁLVARES et al., 1995). Diversos autores, como Viegas et al. (2002), Chammas e Lage-Marques (2004) e Barroso et al. (2002), ao longo dos anos vêm estudando algumas propriedades das soluções irrigadoras em relação ao efeito antimicrobiano e permeabilidade dentinária. Porém, mesmo com toda evolução técnica e científica da Endodontia, parece que perguntas básicas com relação a este tema ainda não foram respondidas. Nesta ordem de idéia, podemos dizer que são poucos os estudos em relação à determinação da quantidade ideal bem como no que diz respeito à freqüência de aplicação de cada solução, como possíveis fatores que influenciam o resultado final esperado com relação à limpeza das paredes dos canais radiculares. Chammas e Lage-Marques (2004) estudaram, in vitro, a influência da renovação de substância irrigadora (líquido de Dakin e Endo-PTC) durante a instrumentação mecânica no aumento da permeabilidade dentinária, na tentativa de padronizar a repetição do ciclo de aplicação das substâncias químicas. Observaram que não houve diferença no aumento da permeabilidade dentinária quando se altera a freqüência de renovação das substâncias irrigadoras. Porém, nesse estudo não houve mensuração quantitativa do volume das soluções utilizadas, e perante os resultados obtidos, os autores sugerem mais estudos a respeito das variáveis que envolvem o aumento da permeabilidade dentinária no que tange à utilização das soluções irrigadoras. Geralmente nos experimentos, como o de Viegas et al. (2002) e o de Barroso et al. (2002), foram utilizadas técnicas de irrigação já preconizadas por autores como Soares e Goldberg (2001) sem preocupação com a possível influência que a diferença 13 entre o volume da solução irrigadora utilizada pudesse refletir sobre a permeabilidade dentinária. A preocupação maior reside em indicar a solução irrigadora ideal, independente do volume e freqüência utilizados. Diante disso, pretendemos avaliar a influência do aumento da permeabilidade dentinária possível de ser encontrado com diferentes volumes de substâncias irrigadoras. Para isto estudamos o hipoclorito de sódio a 1%, clorexidina gel a 2% associada ao soro fisiológico e EDTA a 17% como substância irrigadora final. E verificar se essas substâncias promovem a limpeza nos terços médio e apical dos canais radiculares. Deste modo, contribuir na confiabilidade do protocolo clínico que vem sendo utilizado na disciplina de Endodontia da Universidade do Vale do Itajaí. 14 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Irrigação do sistema de canais radiculares A irrigação é o ato de limpar o canal radicular através de movimentação e renovação de líquido em sua superfície. Tem por objetivos remover os detritos do interior do canal (sangue, tecido pulpar, raspas de dentina); lubrificar as paredes do canal para facilitar a ação dos instrumentos endodônticos; reduzir a quantidade de microrganismos do interior do canal, propiciando ação antibacteriana; manter as partículas em suspensão no interior do canal radicular para facilitar sua remoção e promover ou pelo menos não interferir no reparo dos tecidos periapicais. (FAVA, 1984; FACHIN et al., 1994; PELISSARI, 1998; BARBOSA, 1999; SOARES; GOLDBERG, 2001; RAMOS; BRAMANTE, 2001;SILVA et al., 2004a) De acordo com West e Roane (2000) a irrigação é o ato mais importante do tratamento endodôntico, pois promove a eliminação ou minimização do efeito dos materiais e resíduos com potencial inflamatório do interior do canal radicular. Completam os autores, que a freqüência e volume de solução utilizados têm importante influência na remoção dos resíduos. A freqüência deve ser maior à medida que a instrumentação se aproxima da região apical, de modo a facilitar a suspensão dos resíduos que ficam compactados nesta região para posterior remoção. Chammas e Lage-Marques (2004) observaram em seus estudos que o terço apical apresenta-se menos permeável às soluções irrigadoras e conseqüentemente à 15 medicação intracanal. Atribuíram este fato à configuração anatômica e à dificuldade de acesso dos instrumentos e soluções a essa área. Fava afirmou, em 1984, que o volume de solução injetado por unidade de tempo e a velocidade de injeção estão relacionados à pressão hidrostática de irrigação. Esta, de acordo com os fatores relacionados, faz com que o líquido injetado entre em contato com as paredes do canal em toda a sua extensão, fazendo com que as partículas envolvidas na movimentação do líquido sejam suspensas e removidas. A porção do canal que o jato ou refluxo não atingir, não receberá a ação da limpeza promovida pela solução irrigadora. Nery et al. (1982) e Fachin et al. (1994) consideram que a freqüência da irrigação, a abundância de solução utilizada e a profundidade da cânula aspiradora são fatores mais importantes que o tipo de solução utilizada durante o preparo químico-mecânico, no que diz respeito à limpeza do sistema de canais radiculares. Estes autores verificaram através de seus estudos que a freqüência com que se realiza as irrigações assim como a abundância de irrigante utilizado são de fundamental importância na remoção dos detritos “soltos” no canal radicular, impedindo que se condensem no terço apical. Pois, depois de condensados estes detritos (compostos de restos pulpares orgânicos, raspas de dentina e microrganismos), sua remoção torna-se dificultada por qualquer técnica de irrigação ou solução utilizada. Assim, permanecendo ali condensados, estes detritos podem levar ao insucesso do tratamento endodôntico. Por isso, os canais radiculares devem ser lavados constantemente com solução irrigadora durante a instrumentação, para evitar que a compressão dos instrumentos leve o conteúdo nocivo do canal até os tecidos periapicais, resultando em inflamação e/ou infecção periapical. (INGLE et al., 1989). 16 A ação dos instrumentos rotatórios durante a terapia endodôntica promove a fragmentação de detritos mineralizados que se depositam sobre as paredes dentinárias formando a smear layer. Essa camada, também composta de material orgânico e microrganismos penetra nos túbulos dentinários em variadas extensões, obstruindo-os. Interpondo-se entre o instrumento e a parede do canal, a smear layer dificulta a instrumentação e a limpeza do sistema de canais radiculares. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; RAMOS; BRAMANTE, 2001; SOUSA et al., 1995) A presença desta lama dentinária pode interferir na adesão e penetração dos curativos de demora e materiais obturadores, uma vez que permanece entre o cimento obturador e as paredes do canal funcionando como uma via para microinfiltrações, devido à presença de microcanais e interstícios. Além disto, retarda a ação desinfetante da medicação intracanal, visto que aloja bactérias no interior dos túbulos, funcionando como um reservatório de irritantes podendo causar posteriormente o fracasso do tratamento endodôntico. Por esta razão está indicada a sua remoção, a fim de que promova o aumento da permeabilidade dentinária, contribuindo para desinfecção e melhora do selamento posterior do sistema de canais radiculares. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; BARROSO et al., 2002; GESTEIRA; SILVA, 2003; FIDEL et al., 1995) De acordo com Sousa et al. (1995), a permeabilidade dentinária se caracteriza por movimentos de fluidos ou difusão de substâncias em solução através dos túbulos dentinários, e está relacionada a vários fatores, como a área de dentina exposta e sua espessura, número e diâmetro dos túbulos dentinários e a presença de smear layer. Considerando o importante papel da irrigação durante o preparo do sistema de canais radiculares é necessário eleger, dentre as diferentes substâncias existentes no 17 mercado, aquela que empregada de forma e quantidade adequada propicie melhores resultados para cada situação clínica. Dentre as propriedades ideais para uma substância irrigadora, Barbosa (1999) e Fidel et al. (1995) relataram as soluções com ação antimicrobiana; biocompatibilidade, que não interfira no processo cicatricial periapical; tenham baixa tensão superficial a fim de facilitar sua penetração pelos túbulos dentinários; não causem hipersensibilidade, tampouco alteração da coloração dental; possuam um pH alcalino impedindo a proliferação de microrganismos. Uma outra propriedade requerida é que não sejam inativadas por matéria orgânica, devendo possuir capacidade de neutralização de produtos tóxicos e possuir ação rápida e duradoura. Frente ao conhecimento destas propriedades presentes ou não em cada solução irrigadora, é necessário conhecimento dos efeitos biológicos das substâncias empregadas neste propósito, para assegurar uma indicação adequada. (KALIL et al., 2004) Nesta linha de raciocínio, Fachin et al., (1994) concluiram que a solução irrigadora eleita deve ser a que combina o maior número de propriedades, buscando principalmente um equilíbrio entre efetividade e biocompatibilidade. Dentre as substâncias mais empregadas na prática endodôntica encontramos: hipoclorito de sódio, em várias concentrações, clorexidina gel e soro fisiológico, associados a substâncias quelantes (EDTA). (LOPES et al., 2004) Para facilitar a leitura abordaremos os estudos sobre as características de cada uma separadamente. 18 2.2 Tipos de soluções irrigadoras 2.2.1 Hipoclorito de sódio O hipoclorito tem sido a substância mais empregada na irrigação de dentes desvitalizados durante o tratamento endodôntico devido às suas propriedades de limpeza, potencial antimicrobiano, neutralização de produtos tóxicos, dissolução de tecido orgânico, ação desodorizante, clareadora e rápida, além de possibilitar o aumento da permeabilidade dentinária. (HARRISON, 1987; BARBOSA, 1999; PÉCORA et al., 1999; SOARES; GOLDBERG, 2001) Esta última propriedade pôde ser observada nos estudos de Barroso et al. (2002), ao avaliarem o aumento da permeabilidade dentinária radicular promovida pela utilização de hipoclorito de sódio a 4%, EDTA a 17% e ácido cítrico a 10%, em canais radiculares de dentes humanos em um estudo in vitro. Após o esvaziamento e preparo endodôntico os canais foram infiltrados com solução corante e cortados transversalmente para observação da infiltração no interior da dentina em todos os terços do canal radicular. Concluíram que o hipoclorito promoveu aumento na permeabilidade dentinária semelhante ao EDTA. Em contrapartida, Viegas et al. (2002) ao estudarem o padrão de limpeza do terço apical de canais radiculares, utilizando solução de hipoclorito de sódio a 1% isoladamente ou associado ao EDTA a 17%, observaram que o hipoclorito de sódio a 1% utilizado isoladamente não promoveu o aumento da permeabilidade dentinária e 19 quando associado ao EDTA a 17% a maioria das amostras mostrou túbulos dentinários abertos e ausência de magma dentinário. Essa substância age sobre as proteínas tanto de resto pulpares e alimentares, como de microrganismos patogênicos, desnaturando-as e tornando-as solúveis em água, facilitando sua remoção. No caso de sua ação sobre os microrganismos, comporta-se como bactericida devido ao fenômeno de bacteriólise. Porém, esta ação, eficiente na eliminação dos microrganismos, possibilita ocasionar injúrias sobre os tecidos apicais e sadios. (RAMOS; BRAMANTE, 2001) A quantidade de matéria orgânica no interior do canal radicular influencia na atividade antibacteriana, pois se estiver em grande quantidade, o cloro reage com esses tecidos, ficando pouco disponível para agir contra as bactérias. Para compensar essa perda, a substância irrigadora deve ser constantemente renovada durante o preparo químico-mecânico. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; RAMOS; BRAMANTE, 2001). O emprego desta solução irrigadora é realizado em diversas concentrações: NaOCl a 0,5% (Líquido de Dakin), solução de NaOCl a 1% (solução de Milton), solução de NaOCl a 2,5% (Licor de Labarraque), NaOCl em concentração de 4 a 6% (soda clorada), solução de NaOCl a 5,25% (Clorox). (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; ROMANI et al., 1999) As soluções mais concentradas apresentam melhor capacidade de desinfecção e limpeza do sistema de túbulos dentinários, desde que em pH, tempo de atuação, conteúdo orgânico e temperatura adequados. O pH influencia no tempo de vida útil da solução de hipoclorito de sódio. Uma solução com pH elevado é mais estável, e a liberação de cloro é mais lenta, ao passo que uma solução de pH baixo, fica mais instável e perde cloro mais rapidamente, diminuindo sua atividade biocida e capacidade 20 de limpeza, sendo o tempo de vida dessa solução pequeno. Outros fatores como luz solar e temperatura elevada também interferem nessa questão, pois provocam a liberação de cloro, tornando a solução ineficaz. (PÉCORA et al., 1999) Álvares (1991) também concorda que as soluções de hipoclorito mais concentradas apresentam melhor efeito bactericida. Porém, salienta que assim como estas soluções promovem a desnaturação protéica dos microrganismos, podem causar a desnaturação protéica nas células do próprio organismo assim como as células do ligamento periapical, devendo ser empregadas com cautela. Silva et al. (2004b) estudaram, através de testes histopatológicos, o efeito do preparo biomecânico e utilização de diferentes soluções irrigadoras em dentes caninos preenchidos com solução de endotoxinas bacterianas. Utilizaram 3,6ml de soluções de hipoclorito de sódio a 1%, 2,5% e 5% e solução de clorexidina a 2% e evidenciaram que o hipoclorito de sódio a 5% e a clorexidina a 2% demonstraram infiltrado inflamatório menos intenso, comparadas às demais soluções testadas. Fachin et al. (1994) elegeu o hipoclorito de sódio a 1% como opção clínica na irrigação do sistema de canais radiculares tanto em casos de necropulpectomia como biopulpectomia. E justifica sua eleição graças ao efeito bactericida desta solução e também a sua biocompatibilidade, ao contrário de soluções mais ou menos concentradas que apresentam apenas uma destas duas propriedades. Além disto, esta solução é estável e dissolve tecido orgânico. 21 2.2.2 Clorexidina A clorexidina é considerada uma base forte, sendo praticamente insolúvel em água. Por isso apresenta-se na forma de sal, que aumenta a solubilidade desta substância. O sal de digluconato de clorexidina em solução aquosa é o mais utilizado em Odontologia. Além de ser muito empregado em Periodontia, passou a ser utilizado também em Endodontia devido suas propriedades. (LOPES et al., 2004) Esta substância é um excelente anti-séptico, de amplo espectro antibacteriano, com poder bacteriostático (quando em baixas concentrações) e bactericida (quando em altas concentrações) e ação prolongada (substantividade) devido à sua capacidade de adsorção às superfícies, isto é, ela se liga à hidroxiapatita do esmalte ou dentina, sendo liberado lentamente à medida que sua concentração diminui, exercendo seus efeitos por longo período de tempo. Por isso, tem sido indicada para uso em canais radiculares. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; BARBOSA, 1999; SOARES; GOLDBERG, 2001). Porém, segundo Sassone et al. (2003), a clorexidina apresenta a desvantagem de não dissolver tecido orgânico. Esta afirmativa ficou comprovada nos experimentos de Okino et al. (2004) ao avaliarem a capacidade de dissolução do tecido pulpar promovida por solução aquosa de clorexidina e clorexidina gel em comparação com hipoclorito de sódio em diferentes concentrações. Verificaram que tanto a clorexidina gel como sua solução aquosa não são capazes de dissolver tecido pulpar. Nesse estudo ainda observaram que quanto maior o volume de solução irrigadora em contato com o tecido pulpar remanescente, mais rápida a dissolução do tecido pulpar. (Isto para 22 os casos em que se usou hipoclorito de sódio, já que a clorexidina não apresenta capacidade de dissolução de tecido pulpar). Naenni et al. (2004) verificaram a capacidade de dissolução de tecido necrótico de solução aquosa de clorexidina a 10%, ácido cítrico a 10% entre outras soluções, comparadas ao hipoclorito de sódio a 1% e concluíram também que a clorexidina não apresenta a propriedade de dissolução tecidual. Entretanto, Ferraz et al. (2001) observaram em seu estudo a respeito da efetividade da clorexidina gel a 2% na limpeza do sistema de canais radiculares, que as amostras tratadas com esta substância apresentaram a abertura de quase todos os túbulos dentinários das paredes do canal radicular. E atribuíram este fato devido sua apresentação sob a forma de gel, já que nesta forma a clorexidina apresenta a capacidade de aderir e aglutinar os detritos provenientes do preparo mecânico, facilitando sua remoção e compensando sua ineficiência na dissolução de matéria orgânica. Na Endodontia, segundo Soares e Goldberg (2001), a clorexidina é empregada em várias concentrações. A clorexidina, nas concentrações de 0,2% e 2% apresentou adequada atividade antibacteriana, não havendo diferença entre a menor e maior concentração. Se comparadas ao hipoclorito de concentração 4%, este apresentou melhor efeito antibacteriano. Porém, a clorexidina nas concentrações preconizadas não apresenta toxicidade, enquanto o NaOCl a 4% é irritante aos tecidos e citotóxico. Mas esse último fato pode ser descartado se o hipoclorito for corretamente utilizado, limitando-se ao canal radicular. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997) Segundo Barbosa (1999) essa substância apresenta vantagens e desvantagens em relação ao hipoclorito. Como vantagens, essa substância não é tão cáustica nem 23 apresenta um péssimo odor. A desvantagem é a possibilidade de manchamento das estruturas dentárias quando associada ao hipoclorito, visto que se utilizadas juntamente promovem uma pigmentação avermelhada da dentina, o que se tornaria crítico em casos de tratamento endodôntico de dentes anteriores. Além de sua utilização como auxiliar na irrigação endodôntica, Sassone et al. (2003) e Okino et al. (2004) indicam o uso de clorexidina em Endodontia também como medicação intracanal, devido a sua característica de substantividade. Siqueira Júnior (1997) recomendou que ao decidir entre o hipoclorito de sódio e a clorexidina, o primeiro ainda apresenta algumas vantagens sobre a clorexidina, pois possui capacidade solvente de matéria orgânica e clareadora além de excelente atividade antibacteriana. No entanto, a clorexidina não deve ser descartada, podendo ser usada como primeira escolha em casos de alergia ao hipoclorito de sódio e em casos de dentes com necrose pulpar e rizogênese incompleta, em que há grande risco de extravasamento da solução para o periápice. Caso isso aconteça com o hipoclorito, pode haver reações severas nos tecidos perirradiculares. (LOPES et al., 2004) 2.2.3 Agentes quelantes As substâncias quelantes, também utilizadas durante a irrigação foram introduzidas na terapia endodôntica por Ostby, na forma de um sal dissódico. (PÉCORA et al., 1999) Os agentes quelantes têm a capacidade de fixar íons metálicos, devido às ligações de suas moléculas com íons cálcio, de modo a seqüestrá-los do meio. Assim, ao remover os íons de cálcio da dentina promovem a desmineralização e diminuição da 24 dureza da dentina; por isso, possuem indicação específica para seu uso, não sendo utilizados em todas as situações. (PELISSARI, 1998; WEST; ROANE, 2000; SOARES; GOLDBERG, 2001) São utilizados com o objetivo de remover a lama dentinária que se deposita nas paredes dentinárias decorrentes da instrumentação, promovendo a exposição dos túbulos dentinários possibilitando que as pastas ou cimento obturador entrem em contato íntimo com a massa dentinária. (RAMOS; BRAMANTE, 2001; SOARES; GOLDBERG, 2001) A afirmativa anterior comprovou-se no trabalho de Kokkas et al. (2004). Estes autores avaliaram a influência da smear layer na profundidade de penetração dentinária de três cimentos obturadores. Nos canais em que houve uma irrigação final com 3ml de EDTA a 17% por 3 minutos, seguido por irrigação com 3ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, os autores obtiveram uma completa remoção da lama dentinária. Assim, conseqüentemente, houve melhor penetração dos cimentos obturadores nos túbulos dentinários, que garantem melhor vedamento do espaço dentina-cimento. O EDTA (ácido etilenodiaminotetracético), principal representante desses agentes, age como coadjuvante na irrigação do sistema de canais radiculares, pois é responsável pela remoção da parte inorgânica da lama dentinária, havendo necessidade de utilização de uma solução irrigadora para dissolução da parte orgânica. O EDTA também possui efeito antibacteriano, agindo na remoção dos íons cálcio e magnésio da membrana bacteriana, rompendo-a. Esta propriedade é importante devido à presença de bactérias na smear layer, o principal local de ação do EDTA. (SIQUEIRA JÚNIOR, 1997; PELISSARI,1998) 25 Devido a esta propriedade, Carson et al. (2005) também recomendaram o uso do EDTA como irrigante endodôntico a fim de auxiliar na desinfecção do sistema de canais radiculares. Porém, Silva et al. (2004a) avaliaram em seus estudos a atividade biocida do hipoclorito de sódio nas concentrações de 1 e 2,5%, solução de clorexidina a 0,12 e 2% e EDTA a 17%, em que estas soluções foram colocadas em contato com suspensão microbiana em tubos de ensaio e incubadas. A solução de EDTA a 17% foi a única que não apresentou atividade antimicrobiana nos tempos testados (10, 20 e 30 minutos). 26 3 MATERIAIS E MÉTODOS Para este estudo foram selecionados 40 dentes unirradiculares (caninos) do Banco de Dentes do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, sendo esta amostragem e subseqüente metodologia aprovados na Comissão de Ética e Pesquisa da Univali sob protocolo número 53/2006. Cada dente foi radiografado com angulação mesiodistal e vestibulopalatina para verificar a morfologia do canal, presença de calcificações, dilacerações, tratamento endodôntico prévio e reabsorção dentinária interna. Terminada a seleção da amostra, os elementos dentais foram cortados com disco de carborundo no nível da junção amelocementária, (figura 1) sendo as coroas desprezadas e cada raiz acondicionada em frasco próprio, numerados de 1 a 40, contendo soro fisiológico para sua reidratação, por no mínimo 72 horas. Figura 1 – Remoção das coroas com disco de carborundo 27 A seguir, para facilitar a execução do preparo químico-mecânico, as raízes foram fixadas em uma morsa na mesa de uma bancada (figura 2), e a etapa de preparo realizada de acordo com a orientação da disciplina de Endodontia da Univali. Figura 2 – Fixação da raiz dental numa morsa em uma mesa de bancada Assim, foi realizado o esvaziamento dos canais radiculares com limas tipo K, pela técnica coroa-ápice sem pressão, em que os instrumentos foram utilizados de forma decrescente, a partir do número 70, em sentido apical até encontrar o instrumento anatômico (que oscilou entre o número 20 e 25). O comprimento de trabalho foi determinado com a introdução de uma lima no interior do canal até que sua extremidade fosse visualizada ao nível apical (figura 3), recuando 1mm. O instrumento número 45 foi o instrumento de memória em todas as amostras. As limas foram renovadas a cada quatro canais modelados. 28 Figura 3 – Determinação do comprimento de trabalho Durante o preparo dos canais, eles foram divididos aleatoriamente em dois grandes grupos, de 20 elementos cada, de acordo com a substância irrigadora avaliada e o seu volume. Os grupos ficaram assim divididos: Grupo 1 – solução de hipoclorito de sódio a 1% No grupo 1A - contendo 10 raízes, os canais foram irrigados com 10ml de solução de hipoclorito de sódio a 1% durante o preparo químico-mecânico. O grupo 1B – com 10 raízes, os canais foram irrigados com 20ml de hipoclorito de sódio a 1% durante o preparo químico-mecânico. No segundo grupo utilizou-se clorexidina gel a 2%, veiculada ao soro fisiológico para a irrigação dos canais durante a modelagem. Este grupo foi também dividido em dois subgrupos de 10 raízes cada. Grupo 2 – gel de clorexidina a 2% O grupo 2A – contendo 10 raízes, os canais foram irrigados com 10ml de soro fisiológico e completados com 0,5ml de clorexidina gel a 2%. 29 No grupo 2B – com 10 raízes, os canais foram irrigados com 20ml de soro fisiológico e completados com 1ml de clorexidina gel a 2%. A cada instrumento usado durante o preparo mecânico utilizou-se de 1 a 2ml de solução irrigadora, sendo 1ml para os grupos em que se utilizou no total de 10ml de solução e 2ml para os grupos em que se utilizou 20ml de solução no total, conforme os subgrupos para cada solução. A irrigação foi efetuada com seringas plásticas descartáveis distintas para cada solução e agulhas hipodérmicas de 0,45mm de diâmetro, calibradas 3mm aquém do comprimento de trabalho de modelagem do canal, permitindo o refluxo da solução irrigadora. Em seguida a cada irrigação foi efetuada a aspiração da solução com cânula de aspiração endodôntica. (Figura 4) Figura 4 – Irrigação-aspiração dos canais radiculares Todas as 40 amostras foram submetidas a uma irrigação final com 3ml de solução de EDTA a 17%, que foi deixada por 3 minutos no interior do canal, sendo agitado com lima endodôntica e então aspirada. Por fim, cada canal foi irrigado com 3ml da solução antes eleita de acordo com cada grupo e secos com cones de papel absorvente de calibre correspondente ao instrumento de memória. 30 Terminados os procedimentos endodônticos, foram efetuados dois sulcos longitudinais na superfície externa da raiz, por vestibular e palatina, com auxílio de um disco diamantado com o propósito de separar as raízes em duas metades (figura 5). Estes sulcos se aprofundaram até metade da porção dentinária, cuidando para que não atingissem o canal radicular. Com uma espátula Lecron foi efetuada a clivagem. A ponta da espátula foi inserida em um dos sulcos, eqüidistante das extremidades apical e cervical, e aplicando-se uma força no sentido vertical a fim de obter metades das amostras (figura 6). As 80 metades foram cuidadosamente limpas com pincel macio (Tigre) a fim de remover a maior quantidade possível de detritos decorrentes da clivagem (figura 7). Cada hemissecção foi colocada em seus frascos abertos, previamente identificados de acordo com o grupo a que pertenciam. Figura 5 – Sulcos longitudinais nas faces vestibular e palatina da raiz 31 Figura 6 – Clivagem da raiz Figura 7 – Limpeza dos detritos resultantes da clivagem com pincel macio Em seguida, os espécimes foram preparados para a análise em Microscopia Eletrônica de Varredura, passando por banhos seqüenciais de álcoois com o objetivo de serem desidratados. Inicialmente ficaram por 5 horas imersos em solução de álcool 70% nos seus respectivos frascos. Após isso, foram mergulhados em álcool 90% por mais 5 horas e por fim em álcool 99% pelo mesmo período de tempo. Ao fim das 15 horas as amostras permaneceram em seus frascos abertos, em local seco. A análise das amostras foi realizada no Laboratório de Microscopia da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi escolhida, aleatoriamente, uma metade de 32 cada raiz para utilização na Microscopia Eletrônica de Varredura, em que cada uma foi fixada em um stub metálico devidamente numerado de acordo com a amostra. Estes stubs foram levados a um aparelho eliminador de umidade, incubados em vácuo para então serem levados a um metalizador e receberm uma cobertura com uma liga de ouro-paládio. Durante a análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (Philips XL 30) foram selecionadas áreas representativas do terço médio e apical e fotografadas com aumento de 600 vezes e numeradas de 1 a 40. Cada eletromicrografia foi analisada por 5 observadores, discentes do oitavo semestre do curso de Odontologia da Univali, previamente calibrados a respeito do padrão de limpeza de seus terços médio e apical, no que se refere à presença ou não de lama dentinária. Para esta análise, atribuíram-se escores baseados nos propostos por Viegas et al. (2002) e Gomes e Santos (2006): 0 - sem lama dentinária, todos os túbulos dentinários abertos e livres; 1 - pequena quantidade de lama dentinária, alguns túbulos abertos, outros fechados com presença de debris ou tecido remanescente; 2 moderada lama dentinária, com alguns túbulos dentinários abertos e outros fechados; 3 - grande quantidade de lama dentinária, grande quantidade de túbulos dentinários fechados e alguns abertos e 4 – muita lama dentinária, com todos ou grande maioria dos túbulos dentinários fechados. 33 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS De acordo com as eletromicrografias no que diz respeito ao padrão de limpeza e remoção da lama dentinária do canal radicular, apresentaremos através de uma tabela, os valores que elucidam comparativamente a média, obtida através do teste de Tukey, dos escores atribuídos a cada amostra pelos 5 observadores, de acordo com a substância química utilizada, o volume de cada substância bem como a porção do canal radicular observada (terço médio ou apical). Apresentaremos também, eletromicrografias de varredura representativas de cada grupo analisado. Tabela 1 – Média dos escores obtidos da análise dos terços médio e apical de cada amostra que foi irrigada com 10ml e 20ml de solução de hipoclorito de sódio a 1% e 0,5ml e 1ml de clorexidina gel a 2% seguida de 10ml e 20ml de soro fisiológico, respectivamente. TRATAMENTOS 1/3 APICAL 1/3 MÉDIO Hipoclorito de sódio 10ml 1,42 B a 1,22 A a Hipoclorito de sódio 20ml 1,58 B a 1,70 A a Clorexidina 0,5ml 2,00 AB a 1,52 A a Clorexidina 1ml 2,74 A a 2,24 A a Médias seguidas da mesma letra maiúscula nas colunas e minúscula nas linhas não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05). Figura 1 – Amostra irrigada com 10ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, no terço apical 34 Figura 2 - Amostra irrigada com 10ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, no terço médio Figura 3 – Amostra irrigada com 20ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, no terço apical Figura 4 - Amostra irrigada com 20ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%, no terço médio 35 Figura 5 - Amostra tratada com 0,5ml de clorexidina gel a 2%, no terço apical Figura 6 - Amostra tratada com 0,5ml de clorexidina gel a 2%, no terço médio Figura 7 - Amostra tratada com 1ml de clorexidina gel a 2%, no terço apical 36 Figura 8 - Amostra tratada com 1ml de clorexidina gel a 2%, no terço médio 37 5 DISCUSSÃO O adequado preparo químico-mecânico dos canais radiculares influencia no resultado final do tratamento endodôntico. O conjunto de procedimentos que passa desde a seleção do caso, emprego adequado dos instrumentos endodônticos, técnica de instrumentação adequada para cada caso, associado ao uso de substâncias químicas auxiliares empregadas durante o preparo contribuem para um prognóstico favorável do tratamento endodôntico. Embora muitas substâncias já tenham sido preconizadas como soluções irrigadoras, vale lembrar o comentário de Siqueira Júnior (1997), que ressaltou a sua importância, na limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares. Acrescentou o autor que algumas substâncias seletas devem compor o arsenal de um endodontista citando o hipoclorito de sódio, a clorexidina e o EDTA. A eleição de tais substâncias para o presente estudo deve-se ao fato de o hipoclorito de sódio a 1% ser uma substância amplamente utilizada, estudada e recomendada por vários autores (FACHIN et al., 1994; NAENNI et al., 2004). A clorexidina gel a 2% vem sendo cada vez mais estudada, como por Okino et al., (2004), Kalil et al., (2004) e Fidel et al., (1995) e difundida na clínica endodôntica, graças às suas propriedades já citadas no capítulo de revisão bibliográfica. Para uma efetiva limpeza do sistema de canais radiculares a substância química auxiliar deve remover a lama dentinária que se deposita nas paredes dos túbulos dentinários. Uma vez que a lama dentinária é composta de material inorgânico e 38 orgânico, e o hipoclorito e a clorexidina serem incapazes de remover esses resíduos inorgânicos, faz-se necessário o uso de uma substância para este fim, o EDTA a 17%. Viegas et al. (2002) justificaram o uso do EDTA a 17% em associação com o hipoclorito de sódio pelo fato desta associação ter promovido paredes dentinárias mais limpas em 75% das amostras avaliadas por eles. No nosso estudo, nas amostras em que foi utilizado hipoclorito de sódio a 1% associado ao EDTA a 17% foi observado pequena quantidade de lama dentinária, resultado este diferente do obtido pelos estudos de Viegas et al. (2002). Estes autores utilizaram metodologia semelhante ao presente estudo e obtiveram em suas amostras ausência de magma dentinário e túbulos abertos com contornos nítidos e bem definidos. Esta diferença pode estar associada ao fato da diferença de escores utilizados para definir o padrão de limpeza do canal radicular dos dois estudos. Viegas et al. (2002) utilizaram 3 escores assim definidos: 0 – ausência de magma dentinário, túbulos dentinários abertos e livres de resíduos; 1 – magma dentinário moderado, contorno dos túbulos dentinários visíveis ou parcialmente obliterados por resíduos; 2 – presença de magma dentinário abundante, contorno de túbulos dentinários imperceptíveis. Observamos que os escores de Viegas et al. (2002) não apresentam definições intermediárias a respeito do padrão de limpeza, considerando uma amostra com pequena quantidade de lama dentinária, que seria o nosso escore número 1, como ausência de magma dentinário, o escore de número 0 do estudo daqueles autores. Na análise dos resultados das amostras avaliadas, no grupo em que se utilizou clorexidina gel a 2% associada ao soro fisiológico, seguido de irrigação com solução de EDTA a 17%, foi observado moderada ou grande quantidade de lama dentinária, com 39 alguns ou grande quantidade de túbulos fechados e outros abertos. Então, conforme já comentado, a solução de hipoclorito de sódio a 1% associado à solução de EDTA a 17% promoveu um melhor aumento na permeabilidade dentinária, em comparação com o uso de clorexidina gel a 2% e soro fisiológico associados ao EDTA a 17%. Estes resultados concordam com os resultados obtidos por Gomes e Santos (2006), os quais em seu trabalho avaliaram in vitro a capacidade de limpeza do terço apical dos canais radiculares utilizando as mesmas substâncias e escores semelhantes ao que nós empregamos. E obtiveram na maioria das amostras tratadas com clorexidina gel a 2% e soro fisiológico associados ao EDTA a 17% escore médio 3, ou seja, grande quantidade de lama dentinária , túbulos dentinários fechados e poucos túbulos abertos. A diferença no padrão de limpeza entre uma substância e outra (hipoclorito de sódio a 1% e clorexidina gel a 2%) estão de acordo com os nossos resultados uma vez que houve diferença no padrão de limpeza de nossas amostras das diferentes soluções quando analisamos o terço apical. Quando utilizamos hipoclorito de sódio a 1% associado ao EDTA a 17% no terço apical obtivemos como média das amostras escore 1 (variando entre 1 e 2), em que a maioria das amostras apresentou pequena quantidade de lama dentinária e quando utilizamos clorexidina gel a 2% com soro fisiológico associados ao EDTA a 17% obtivemos escore médio 2 (variando entre 2 e 3), com moderada quantidade de lama dentinária. Esta diferença de escores em nosso estudo pode ser devido ao aumento da imagem utilizada para observação durante a Microscopia Eletrônica de Varredura. Em nosso trabalho utilizamos o aumento de 600x enquanto que Gomes e Santos (2006) 40 utilizaram um aumento de 400x na observação das amostras. Num maior aumento há abrangência de uma menor área da amostra, podendo não mostrar porções da eletromicrografia de varredura que contenham túbulos dentinários fechados, levando a uma diferença de escores entre os trabalhos. Os resultados obtidos por Gonçalves e Dalcomuni (2005) em seu trabalho discordam dos obtidos em nossos estudos na utilização da clorexidina gel a 2% na limpeza dos canais radiculares. Os autores observaram que a clorexidina gel a 2% apresentou sob as amostras analisadas, superfícies sem lama dentinária ou lama superficial, com túbulos abertos e visíveis. No entanto, alguns aspectos podem ter influenciado nesta diferença de resultados entre ambos os estudos. Como por exemplo, a amostragem utilizada, em que aqueles autores utilizaram 5 dentes em cada grupo e em nosso estudo utilizamos 10 dentes para cada grupo. Outro aspecto foi o aumento utilizado na análise de Microscopia Eletrônica de Varredura das amostras, em que os autores mencionados utilizaram aumentos de 1000 e 2000x, onde há menor área de visualização com maior abrangência, como já mencionado na comparação de nosso estudo com o de Gomes e Santos (2006). Outro aspecto importante que pode ter levado à diferença no padrão de limpeza do sistema de canais radiculares entre nosso estudo e de Gonçalves e Dalcomuni (2005) foi o volume de soro fisiológico utilizado durante a irrigação para remoção da clorexidina gel a 2% do interior do canal radicular. Aqueles autores utilizaram 5ml de soro fisiológico, diferentemente de nosso estudo em que utilizamos de 1 a 2ml de soro a cada irrigação. Esta comparação pode demonstrar que a diferença de volume, entre 41 ambos os estudos, é capaz de promover uma diferença no padrão de limpeza do sistema de canais radiculares. No presente trabalho, além de analisarmos as diferentes substâncias, observamos cada uma delas em diferentes porções do canal radicular, terço médio e apical, diferente do trabalho descrito anteriormente, em que os autores analisaram apenas o terço apical das amostras. Menezes et al. (2003) avaliaram in vitro através de Microscopia Eletrônica de Varredura, a capacidade de remoção de lama dentinária dos diferentes terços (apical, médio e cervical) das paredes de canais radiculares. Cada eletromicrografia avaliada foi classificada com escores semelhantes aos de Viegas et al. (2002), de acordo com o padrão de limpeza dos diferentes terços do canal radicular e soluções utilizadas. Ao analisarem o padrão de limpeza nos diferentes terços do canal radicular, observaram que não houve diferença estatisticamente significativa entre os diferentes terços quando se utilizou todas as soluções associadas ao EDTA a 17%. Houve diferença quando utilizaram o hipoclorito de sódio a 2,5% isoladamente, já que na maioria das amostras irrigadas apenas com esta solução o terço cervical apresentou melhor padrão de limpeza que os demais terços. Estes resultados vêm ao encontro dos nossos, em que não houve diferença estatisticamente significante nos diferentes terços avaliados, nas amostras irrigadas com as mesmas substâncias que utilizamos. Em nosso trabalho pudemos verificar que o aumento da permebilidade dentinária no terço apical em comparação com os demais terços do canal radicular pode ter acontecido devido à utilização da solução de EDTA a 17%. 42 Segundo Menezes et al. (2003), após a utilização de EDTA a 17% houve aumento da permabilidade dentinária no terço apical semelhante (sem diferença estatisticamente significativa) ao demais terços avaliados. Por outro lado Chammas e Lage-Marques (2004), na ausência da solução de EDTA a 17%, obtiveram diferença no padrão de limpeza dos canais radiculares nos diferentes terços avaliados. Assim podemos concluir, também, que o EDTA a 17% favorece o aumento da permeabilidade dentinária em toda a extensão do canal radicular, quando adequadamente utilizado. Outra questão em que nosso estudo se assemelha ao de Menezes et al. (2003) é a quantidade e tempo de utilização de EDTA a 17%. Utilizamos a mesma quantidade (3ml) pelo mesmo período de tempo (3 minutos), já que esta quantidade e este tempo resultaram em bom padrão de limpeza no trabalho daqueles autores e se aproximam da realidade clínica. Kokkas et al. (2004) também observaram em seus estudos que uma irrigação final com 3ml de EDTA a 17% por 3 minutos é suficiente na remoção da lama dentinária. Ao compararmos, em nosso estudo, o terço apical das amostras tratadas com hipoclorito de sódio a 1% e clorexidina gel a 2% utilizada com soro fisiológico observamos que aquelas onde esta última foi empregada apresentou um pior padrão de limpeza do que as irrigadas com o hipoclorito de sódio. Vale lembrar que as amostras tratadas com clorexidina gel a 2% neste terço apresentaram, em média, moderada quantidade de lama dentinária, com alguns túbulos dentinários abertos e outros fechados, e as em que se utilizou o hipoclorito de sódio apresentaram, em média, pequena quantidade de lama dentinária, grande quantidade de túbulos abertos e outros fechados, com presença de debris ou tecido remanescente. 43 Esta deficiência por parte da clorexidina na remoção da lama dentinária pode estar ligada ao fato desta substância ser incapaz de dissolver tecido orgânico quando comparada ao hipoclorito de sódio, como afirmaram Sassone et al. (2003), Lopes et al. (2004) e Okino et al. (2004) em seus estudos. O soro fisiológico tem a função de remover a clorexidina e os detritos suspensos decorrente do preparo do canal, funcionando como agente mecânico na remoção de detritos, já que não possui propriedades antimicrobianas nem de dissolução tecidual. Pode-se considerar também que o volume de soro fisiológico tenha sido insuficiente para remoção da clorexidina contida no canal, que devido sua viscosidade, tornou-se dificultada sua remoção. Porém, o fato de algumas amostras apresentarem baixos escores, com pouca quantidade de lama dentinária obstruindo os túbulos dentinários na utilização da clorexidina, encontrados após a análise dos dados em nosso trabalho, pode ser explicado com o que comentaram Lopes et al. (2004). De acordo com estes autores a atividade antibacteriana da clorexidina tem um efeito adicional, representado pela eliminação ou máxima redução de microrganismos não removidos mecanicamente, condição esta que pode contribuir para o aumento da permeabilidade dentinária. Além das propriedades específicas de cada substância irrigadora intervirem no aumento da permeabilidade nos túbulos dentinários, e do nível de observação do canal radicular (apical, médio e cervical), como já foi comentado, o volume de substância utilizado também pode influenciar na efetividade da limpeza e penetração das substâncias irrigadoras. (INGLE et al., 1989). 44 A literatura pertinente ao tema é carente de estudos que investigam a respeito de respostas básicas, como a quantidade de solução necessária para uma irrigação adequada. Nery et al. (1982) estudaram a eficiência de diferentes técnicas de irrigação (irrigação simples, irrigação-aspiração com pressão positiva, irrigação-aspiração com pressão negativa, irrigação pela técnica de Grossman e irrigação pela técnica de Stuart) e soluções irrigadoras (líquido de Dakin, Tergentol e soro fisiológico) na limpeza do sistema de canais radiculares. Não houve análise comparativa no que diz respeito ao volume de solução utilizado, adotando-se 10ml para todas as soluções, analisando-se apenas o terço apical. Através de análise histológica, observaram que nenhuma das técnicas de irrigação utilizadas, nem mesmo a irrigação-aspiração que é considerada capaz de remover partículas do periápice, assim como as soluções estudadas removeram convenientemente os detritos condensados na região apical, e relataram que não é possível relacionar a espessura de detritos condensados na região apical com a eficiência na remoção destes detritos por parte de alguma das técnicas de irrigação utilizadas. Por isso sugerem que a freqüência de irrigação seja mais importante que os fatores analisados. Neste estudo utilizamos 10ml (ou de 1 a 2ml a cada irrigação) de cada solução irrigadora (hipoclorito de sódio a 1% e soro fisiológico) conforme estudos de Nery et al. (1982) e West e Roane (2000). Com o objetivo de observar se havia diferença no padrão de limpeza do sistema de canais radiculares (com aumento da permeabilidade dentinária) foi que investigamos dois volumes distintos. 45 A clorexidina gel a 2%, devido sua viscosidade, foi utilizada em menor quantidade, já que esta substância não funciona como irrigante e sim como substância química auxiliar devendo preencher o canal durante a instrumentação. Baker et al. (1975 apud LOPES et al., 2004) observaram em seus estudos que o volume da solução empregado tem maior relação com a remoção de restos pulpares e de microrganismos do que com a composição da solução. É possível assim dizer que quanto maior o volume, melhor a capacidade de dissolução de tecido orgânico da substância irrigadora e conseqüentemente maior efetividade da limpeza do sistema de canais radiculares, com melhor desobstrução dos túbulos dentinários e aumento na permeabilidade dentinária. De acordo com estas afirmativas e com os resultados obtidos em nosso estudo, verificamos que, apesar de os volumes que utilizamos terem um bom padrão de limpeza, no que diz respeito ao aumento da permeabilidade dentinária quando comparado aos estudos de Gomes e Santos (2006), que não se preocuparam com a influência da mensuração volumétrica (conforme já comentado neste capítulo), é necessário maior diferença entre os volumes nos distintos grupos. Desta forma poderemos analisar com maior precisão o aumento da permeabilidade dentinária que uma considerável diferença de volumes entre as soluções testadas pode promover, já que em nosso estudo a diferença de volume utilizada não refletiu discrepância no padrão de limpeza dos canais radiculares. Portanto, a clorexidina gel a 2% quando utilizada nos volumes de 0,5ml e 1ml associada ao soro fisiológico nos volumes de 10ml e 20ml respectivamente não mostraram diferenças significativas na capacidade de remoção da lama dentinária 46 quando comparados os 2 volumes. O mesmo ocorreu com a solução de hipoclorito de sódio a 1% nos diferentes volumes. As informações trazidas pelo nosso estudo, associadas aos demais trabalhos pertinentes ao tema, deixa evidente a necessidade de realização de mais estudos referentes aos fatores que interferem na limpeza do sistema de canais radiculares e aumento da permeabilidade dentinária. Fatores como o volume de substância irrigadora a ser utilizado, principalmente o aumento de volume da solução de soro fisiológico ou substituição da clorexidina gel por solução de clorexidina, devem ser considerados. Outra variável que pode ser observada é a freqüência da irrigação, em detrimento do volume de substância irrigadora utilizada. A soma das respostas obtidas nos distintos trabalhos realizados ou a serem realizados é o que vai assegurar maior confiabilidade da efetividade do padrão de limpeza das substâncias químicas auxiliares em todas as etapas do preparo químicomecânico, estabelecendo um protocolo clínico adequado e seguro para o sucesso do tratamento endodôntico. 47 6 CONCLUSÃO A solução de hipoclorito de sódio a 1%, independente do volume utilizado, apresentou menos lama dentinária, tendo a maioria das amostras pequena quantidade de lama dentinária, alguns túbulos abertos, outros fechados com presença de debris ou tecido remanescente, em comparação com a clorexidina gel a 2%, em que a maioria das amostras apresentou moderada lama dentinária, com alguns túbulos dentinários abertos e outros fechados, no terço apical. Avaliando-se os diferentes volumes das substâncias irrigadoras utilizadas, não houve diferença significativa no aumento da permeabilidade dentinária diante da utilização de 10ml e 20ml de hipoclorito de sódio a 1% e 0,5ml de clorexidina gel a 2% seguida de irrigação com 10ml de soro fisiológico e 1ml de clorexidina gel a 2% seguida de irrigação com 20ml de soro fisiológico. Na observação das porções do canal radicular analisadas (terço médio e apical) não houve diferença significativa entre o terço apical e terço médio para ambos os produtos e volumes. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARES, S. Desinfecção do canal radicular. In:______ Endodontia clínica. 2.ed. São Paulo: Santos, 1991. p.127-215. ALVARES, S.; ALMEIDA, E. M. de; GONÇALVES, S. L. Preparo químico-mecânico. In: ALVARES, S. Fundamentos de endodontia. 2.ed. São Paulo: Quintessence, 1995. p.141179. BARBOSA, S. V. Irrigação. In:______ Terapêutica endodôntica. São Paulo: Santos, 1999. p.117-129. 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