UNIVERSIDE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE FARMÁCIA
ANA PAULA BEBER
JADY ALICE RODRIGUES ROCHA
Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO
POTENCIAL GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO
EM DIFERENTES MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS
Itajaí (SC)
2013
ANA PAULA BEBER
JADY ALICE RODRIGUES ROCHA
Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO
POTENCIAL GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO
EM DIFERENTES MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS
Monografia apresentada como requisito para
obtenção do título de farmacêutico pela
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências da Saúde.
Orientador:
Andrade
Itajaí (SC)
Junho de 2013
Prof.
Dr.
Sérgio
Faloni
de
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer primeiramente a Deus, pelo privilégio da vida.
Agradecemos aos nossos amados pais, que nos incentivaram a percorrer o caminho
sem desistir, assim como toda a nossa família pelo apoio incondicional realizado
nesses quatro longos anos.
Agradecemos ao nosso orientador Prof. Dr. Sérgio Faloni de Andrade, por
toda a compreensão, paciência, amizade e credibilidade durante dois anos de bolsa
pesquisa. Assim como a UNIVALI, CNPq, PIBIC e PROBIC pelas bolsas concedidas.
Agradecemos ao professor Valdir Cechinel Filho e Luiz Carlos Klein Júnior
que forneceram os extratos e tornaram esse projeto possível.
Agradecemos ao doutorando José Roberto Santin, por todo o ensinamento,
apoio e acolhimento, seus ensinamentos serão sempre lembrados.
Aos estudantes que contribuíram para a construção do nosso conhecimento,
entre eles, Kátia, Melissa e Priscila.
A funcionária do laboratório de farmacologia, Maria Angélica (Maggie), pelo
carinho, atenção e auxílios prestados para realização desse trabalho.
A funcionária do biotério de odontologia, Maria, pela ajuda no cuidado dos
animais.
A todos os outros colaboradores não citados, que ajudaram direta e
indiretamente na nossa formação acadêmica.
Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO POTENCIAL
GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO EM DIFERENTES
MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS
Ana Paula BEBER e Jady Alice Rodrigues ROCHA
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Faloni de Andrade
Defesa em: junho de 2013
Resumo:
A úlcera péptica é uma doença prevalente em todo o mundo, sendo suas
complicações importantes causas de morbimortalidade. A terapêutica utilizada
atualmente apresenta muitos efeitos adversos, além da reincidência da doença.
Espécies do gênero Phyllanthus são conhecidas como quebra-pedra, utilizadas
popularmente no tratamento de diversas doenças, como os cálculos renais. Foi
realizado estudo no NIQFAR, onde se avaliou 4 espécies de Phyllanthus, onde P.
niruri apresentou melhor potencial gastroprotetor. Dessa forma este trabalho teve por
objetivo avaliar o potencial gastroprotetor do extrato metanólico de Phyllantus niruri
em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg) e modelos (úlcera induzida por etanol,
anti-inflamatório não esteroidal, ligadura de piloro). Nos ensaios foram utilizados
ratos Wistar (n=6), mantidos em jejum antes dos experimentos, os quais foram
tratados com as diferentes doses do extrato metanólico de P. niruri. No modelo de
indução por etanol, o grupo controle positivo foi tratado com omeprazol (30 mg/kg) e
o agente lesivo foi o etanol absoluto, enquanto, que no modelo de indução por antiinflamatório não esteroidal foi utilizado cimetidina (100mg/kg) no controle positivo e
indometacina (100mg/kg), como agente lesivo. Os animais foram sacrificados, os
estômagos foram removidos e determinado a porcentagem e a área lesada. No
modelo de ligadura de piloro os animais foram anestesiados e submetidos a uma
cirurgia para amarração do piloro, sendo administrados os extratos e os controles
(cimetidina e água), todos por via intraduodenal. Logo após os tratamentos, as
incisões foram suturadas e quatro horas após a cirurgia, os animais foram
sacrificados. Ocorrendo a determinação do volume, pH e concentração de íons
hidrogênio na secreção gástrica e quantificação do muco. Observou-se atividade
gastroprotetora nas doses 125 e 250 mg/kg de P. niruri no modelo de úlcera
induzida por etanol. Verificou-se gastroproteção em todas as doses, incluindo o
controle positivo no modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal.
As doses de 50 e 125 mg/kg reduziram a concentração de H+ na avaliação da
secreção gástrica. No doseamento, o extrato na dose de 250 mg/kg promoveu
aumento do muco. Com este estudo, pode-se sugerir que a Phyllanthus niruri
apresenta atividade gastroprotetora, sendo um alvo de estudos para
desenvolvimento de um novo fitoterápico.
Palavras chaves: Gastroproteção. Phyllanthus niruri. Úlcera.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Aspectos macroscópicos de Phyllanthus niruri L. A) planta B) flor masculina
C) flor feminina D) fruto E) folhas F) semente .................................................... 20
Figura 2 Estômagos de ratos. A) úlcera aguda induzida por etanol. B) úlcera aguda
induzida por anti-inflamatório não esteroidal. C) estômago sem lesão. .............. 30
Figura 3 Área de lesão ulcerativa induzida por etanol. ............................................. 34
Figura 4 Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por etanol. ............................... 34
Figura 5 Área de lesão ulcerativa induzida por AINE. .............................................. 36
Figura 6 Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por AINE.................................. 36
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 17
2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 17
2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 17
3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 19
3.1 Fitoterápicos ...................................................................................................... 19
3.2 Phyllanthus niruri .............................................................................................. 20
3.2.1 Uso popular .................................................................................................... 21
3.2.2 Atividade biológica......................................................................................... 21
3.3 Estômago ........................................................................................................... 21
3.4 Úlcera gástrica ................................................................................................... 22
3.5 Tratamento farmacológico da úlcera gástrica ................................................ 24
3.5.1 Fármacos que reduzem a acidez gástrica .................................................... 24
3.5.2 Fármacos que aumentam os fatores protetores da mucosa ...................... 26
4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 29
4.1 Obtenção do extrato.......................................................................................... 29
4.2 Animais .............................................................................................................. 29
4.3 Avaliação da atividade antiúlcera .................................................................... 29
4.3.1 Úlcera induzida por etanol ............................................................................. 29
4.3.2 Úlcera induzida por Anti-inflamatório não esteroidal ................................. 30
4.3.3 Avaliação da secreção gástrica - Ligadura de piloro .................................. 31
4.3.4 Doseamento de muco .................................................................................... 31
4.4 Análise estatística ............................................................................................. 32
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 33
5.1 Modelo de úlcera induzida por etanol ............................................................. 33
5.2 Modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal ................... 35
5.3 Ligadura de piloro - Avaliação da secreção gástrica ..................................... 37
5.4 Doseamento de muco ....................................................................................... 38
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 39
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41
ANEXO A .................................................................................................................. 45
15
1 INTRODUÇÃO
Dentre as milhares de patologias que afligem o homem, as úlceras gástricas
são caracterizadas por lesões ulcerosas, agudas ou crônicas, que aparecem em
qualquer porção do tubo gastrointestinal (TGI) (CALAM; BARON, 2001).
A úlcera gástrica é causada por um desequilíbrio entre os mecanismos
protetores e agressores da mucosa e resultado da associação de diversos fatores
agressores exógenos relacionados às condições de vida, como estresse, fumo,
álcool, uso contínuo de anti-inflamatório não esteroidal e a colonização por
Helicobacter pylori (VINAGRE, 2005).
As terapêuticas utilizadas no tratamento das lesões são: antagonistas de
receptores H2, como a cimetidina, inibidores da bomba de prótons, como o
omeprazol, antibióticos no tratamento de H. pylori e mais raramente, procedimentos
cirúrgicos (NAJM, 2011).
Um dos principais problemas no tratamento de úlcera é que as terapias não
são 100% eficazes e possuem muitos efeitos adversos. Além disso, há casos de
recidiva das úlceras. Assim, a busca por novos agentes terapêuticos antiulcerosos é
de grande importância (FERRO, 2008).
Estudos
demonstram
que
várias
plantas
apresentam
atividade
gastroprotetora, como a Polygala cyparissias (GANDOLFI, 2010), Achryrocline
satureoides (SANTIN, 2010), Brassica oleracea (LEMOS, 2010), Psidium guajava e
Garcinia achachairu (MARCONDES, 2012).
Considerando esses aspectos e a importância de desenvolvimento de novos
medicamentos explorando a biodiversidade o Núcleo de Investigações QuímicoFarmacêuticas (NIQFAR/CCS/UNIVALI), vem pesquisando e avaliando diversas
plantas no intuito de desenvolvimento de fitoterápico e validação farmacológica
(MALHEIROS et al., 2010).
Dessa forma, em estudo realizado pelo grupo de pesquisa no qual foi avaliado
o potencial gastroprotetor de quatro diferentes espécies de Phyllanthus utilizando
como método de triagem o modelo de úlcera aguda induzida por etanol, foi
observado que o extrato bruto de P. niruri estava entre os que apresentaram melhor
efeito gastroprotetor, além disso, a literatura não apresenta nenhum estudo em
relação à atividade gastroprotetora dessa planta.
16
Dessa forma, o desenvolvimento deste trabalho visa: avaliar a atividade
antiúlcera do extrato de Phyllanthus niruri, utilizando o modelo de indução de úlceras
por etanol, anti-inflamatório não esteroidal, ligadura de piloro e doseamento de muco
em ratos, a fim de se verificar o potencial antiúlcera e gastroprotetor.
17
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
- Estudar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllanthus niruri.
2.2 Objetivos Específicos
- Avaliar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllanthus niruri
utilizando modelos de úlcera aguda induzida por etanol e por anti-inflamatório não
esteroidal (AINE);
- Verificar a influência da administração do extrato metanólico em diferentes doses
sobre a secreção gástrica, nos parâmetros de volume, pH e concentração de H+;
- Avaliar a influência da administração do extrato metanólico na produção de muco
estomacal;
- Comparar o efeito do extrato metanólico de Phyllanthus niruri com os fármacos
utilizados na terapêutica da úlcera gástrica.
18
19
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Fitoterápicos
As plantas consideradas medicinais são aquelas que possuem propriedades
terapêuticas, e são amplamente utilizadas na medicina popular contra várias
doenças, dentre elas, a úlcera gástrica (SOUZA et al., 2010).
As plantas medicinais têm tido papel cada vez mais importante dentro do
contexto da medicina, pois cresce a cada ano o número de profissionais e pacientes
que procuram este recurso para amenizar seus males. Isto tem explicação em vários
aspectos, dentre o qual o decréscimo de efeitos colaterais (FERRO, 2008).
Os fitoterápicos são de 35% a 70% mais baratos que os fármacos sintéticos,
o que faz a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimular sua utilização através
de campanhas de divulgação (FERRO, 2008).
Os compostos obtidos de plantas medicinais com atividade antiulcerogênica
apresentam diversas estruturas químicas e mecanismos de ação. Dentre as
principais classes de compostos relacionados a gastroproteção têm-se: terpenos,
flavonoides, alcaloides, glicosídeos, saponinas e polissacarídeos (SOUZA et al.,
2010).
Assim,
o
Núcleo
de
Investigações
Químico-Farmacêuticas
NIQFAR/CCS/UNIVALI, vem pesquisando e avaliando diversas plantas no intuito de
desenvolvimento de fitoterápicos e/ou validação farmacológica das mesmas. Entre
elas, está a Phyllanthus niruri, que possui metabólitos secundários já descritos na
literatura com ação antiulcerogenica (ALONSO, 2009; MALHEIROS et al., 2010).
Este grupo realizou diversas pesquisas que evidenciaram o potencial
gastroprotetor de várias plantas, como a Polygala cyparissias (GANDOLFI, 2010),
Achryrocline satureoides (SANTIN, 2010), Brassica oleracea (LEMOS, 2010),
Psidium guajava e Garcinia achachairu (MARCONDES, 2012).
Em estudo anterior, no qual foi avaliado o potencial gastroprotetor de quatro
diferentes espécies de Phyllanthus utilizando como método de triagem o modelo de
úlcera aguda induzida por etanol, foi observado que o extrato bruto de P. niruri
estava entre os que apresentaram melhor efeito gastroprotetor, além disso, a
literatura não apresenta nenhum estudo em relação à atividade gastroprotetora
dessa planta.
20
3.2 Phyllanthus niruri
Phyllanthus, do grego phyllon (folha) e anthos (flor), em alusão às flores
produzidas em ramos que se assemelham a folhas compostas, pertence à família
Euphorbiaceae, que é umas das maiores classes das angiospermas dicotiledôneas.
A espécie é nativa da América do Sul onde cresce em terras úmidas, em climas
temperados e tropicais, especialmente no litoral (ALONSO, 2009; FILHO et al.,
1996).
Como pode-se observar na figura 1, é uma planta herbácea, glabra, de
pequeno porte, com até 80 cm de altura, caules simples ou ramificados, folhas
alternas, dísticas, simples, membranáceas, glabras, oblongo-elípticas, de ápice
atenuado, às vezes mucronado e base assimétrica, margem lisa; lâminas discolores,
face adaxial de cor verde-oliva e face abaxial verde-pálida a cinza-pálida. Flores
femininas isoladas e axilares nos nós apicais, com cinco tépalas elípticas e disco
inteiro, carnoso; ovário tricarpelar, trilocular. Flores masculinas em fascículos de uma
a duas flores, dispostas nos nós basais. Frutos esquizocárpicos, do tipo tricoca, com
0,1 cm a 0,25 cm de diâmetro, depresso-globosos, duas sementes por lóculo,
triangulares, cálice persistente, membranáceo, desenvolvido, atingindo 2/3 da altura
do fruto (ALONSO, 2009; BRASIL, 2010).
Vários são os metabólitos secundários presentes na planta descritos na
literatura, destacando-se os: taninos, ácido gálico (BRASIL, 2010), ligninas como a
lintetralina,
flavonoides
como
a
quercetina,
alcaloides
pirrolizidínicos
e
indolizidínicos, terpenos como o lupeol, alcanos, e outros (ALONSO, 2009).
Figura 1 - Aspectos macroscópicos de Phyllanthus niruri L A) planta B) flor masculina C) flor
feminina D) fruto E) folhas F) semente.
Fonte: BRASIL, 2010
21
3.2.1 Uso popular
A espécie P. niruri é conhecida no Brasil como quebra-pedra, arrebenta-pedra
e erva-pombinha (ALONSO, 2009).
Segundo Spethmann (2004), P. niruri é utilizada popularmente para
tratamento de ácido úrico, anúria, artritismo, barriga-d’água, beribéri, inflamação da
bexiga, cálculos em geral, colescistite, cólica intestinal, derrame cerebral, diabetes,
hemorróidas, hepatite, hipertensão arterial e doenças da uretra.
Segundo
Ferro
(2008),
P.
niruri
apresenta
atividade
analgésica,
antiespasmódica, antitérmica, antiviral, diurética, no tratamento de: calculose renal,
diabete melito, gota, hipertensão arterial.
3.2.2 Atividade biológica
Dentre as atividades biológicas cientificamente comprovadas da Phyllanthus
niruri destacam-se a inibição do vírus da hepatite B (JASSIM; NAJI, 2003;
VENKATESWARAN; MILLMAN; BLUMBERF, 1987), efeitos hipoglicemiantes,
hipotensivo e diurético (DIAS et al., 1995; UENO et al., 1988) e inibição da formação
de cristais de oxalato de cálcio no trato urinário, inibindo o desenvolvimento de
cálculos renais (FREITAS; SCHOR; BOIM, 2002).
Outros estudos têm sido realizados na tentativa de se comprovar diversas
outras atividades biológicas, tais como a inibição da transcriptase reversa do vírus
HIV-1 (OGATA et al., 1992), e na redução das concentrações de lipídeos
plasmáticos em ratos (KHANNA; RIZVI; CHANDER, 2002).
3.3 Estômago
O estômago é uma câmara, em forma de letra J e semelhante a uma bolsa,
situada entre o esôfago e o intestino. Ele é dividido em três partes, com base em
distinções anatômicas, histológicas e funcionais (SHERWOOD, 2011).
As três regiões do estômago são: a cardia, o corpo e o antro. A região da
cardia está localizada abaixo do esfíncter esofágico inferior, que contém,
principalmente, células glandulares secretoras de muco (BARRETT; RAYBOULD,
2009).
O estômago tem a função de armazenar grandes quantidades de alimento,
misturar o alimento com as secreções gástricas formando o quimo, esvaziar
lentamente o quimo para o intestino delgado (FOX, 2007; GUYTON; HALL, 2011).
22
A mucosa gástrica tem dois tipos importantes de glândulas tubulares:
glândulas oxínticas e glândulas pilóricas. As glândulas oxínticas são compostas de
três tipos de células: células mucosas do cólon que secretam muco, células pépticas
que secretam pepsinogênio e células parietais que secretam ácido clorídrico e fator
intrínseco (GUYTON; HALL, 2011).
As glândulas pilóricas têm células mucosas do cólon que secretam grande
quantidade de muco, além disso, são responsáveis pela liberação do hormônio
gastrina, que está relacionado com o controle da secreção gástrica (GUYTON;
HALL, 2011).
As
principais
substâncias
secretadas
pelo
estômago
que
possuem
envolvimento na manutenção do ácido clorídrico são:
Gastrina: é um hormônio secretado pelas células G, é liberada e transportada
pelo sangue até as células enterocromafins (ECL). Liga-se com as células ECL
causando a liberação da histamina, que estimula a secreção de ácido clorídrico
gástrico (GUYTON; HALL, 2011).
Pepsinogênio: é secretado pelas células pépticas por estimulação da
acetilcolina e pela quantidade de ácido no estômago. O ácido clorídrico converte o
pepsinogênio em pepsina, que é a forma ativa responsável por hidrolisar proteínas
(GUYTON; HALL, 2011).
Acetilcolina: é liberada por estimulação parassimpática, excita a secreção de
pepsinogênio, ácido clorídrico e muco (GUYTON; HALL, 2011).
Histamina: é liberada pelas células ECL e apresenta papel importante na
secreção de ácido clorídrico (SHERWOODS, 2011).
Os fatores que protegem a mucosa gástrica incluem o muco gástrico, o
bicarbonato gástrico e duodenal, as prostaglandinas, o processo de restituição e o
fluxo sanguíneo (NAGEL; SHIELDS, 2009).
3.4 Úlcera gástrica
A úlcera gástrica é uma patologia desencadeada pelo desequilíbrio entre os
fatores protetores e lesivos da mucosa gástrica, ocorre em toda a porção do trato
gástrico, porém é mais comum na mucosa e camada muscular, ou seja, no duodeno
e no estômago. Dependendo de sua gravidade pode desenvolver perfurações e
23
sangramentos, que compreendem nas principais complicações (KUMAR et al.,
2008).
Os fatores protetores agem como uma barreira frente aos agentes agressivos
da mucosa. Os principais agentes protetores da mucosa são: barreira de muco e
bicarbonato, fluxo sanguíneo e prostaglandina (KUMAR et al., 2008).
A primeira linha de defesa da mucosa gástrica é a barreira de muco e
bicarbonato, sendo a única proteção entre o epitélio e o lúmen do estômago. Esta
barreira é composta por um gel de muco, bicarbonato e fosfolipídios surfactantes,
possuindo característica elástica, viscosa e aderente (ALQASOUMI et al., 2009).
O muco é derivado das células epiteliais e de células mucosas, proporciona
uma barreira de proteção e contribui para a lubrificação do transporte de alimentos.
O muco desempenha um papel estrutural importante na criação de uma camada que
retém o bicarbonato secretado pelas células epiteliais, neutraliza o ácido clorídrico e
inativa a enzima pepsina (ALQASOUMI et al. 2009; NAGEL; SHIELDS, 2009;
GUYTON; HALL, 2011;).
O fluxo sanguíneo abastece as células da mucosa com nutrientes e com
oxigênio. Quando a mucosa gástrica é exposta a agentes irritantes, as células
endoteliais produzem potentes vasodilatadores, como óxido nítrico (NO), que age
protegendo a mucosa de lesões causadas por substâncias vasoconstritoras e
inibindo a secreção de ácido gástrico pelas células parietais (GRANGER; KUBES,
1994; WALLACE; MILLER, 2000).
As prostaglandinas inibem a liberação de ácido gástrico, aumentam o fluxo
sanguíneo da mucosa, estimulam a produção de muco e bicarbonato, aceleram o
reparo e a cicatrização tecidual (BRZOZOWSKI, 2003; TULASSAY; HERSZENYI,
2010).
A úlcera gástrica pode ser provocada por diversos fatores, muitos estão
relacionados com maus hábitos alimentares, estresse, tabagismo, uso abusivo de
anti-inflamatórios não esteroidal (AINE) e bebidas alcoólicas (BARROS et al., 2008).
O etanol é considerado um dos agentes mais agressivos por promover
distúrbios na mucosa gástrica como, isquemia e aparecimento de radicais livres,
degranulação de mastócitos, inibição da produção de prostaglandinas e diminuição
na produção do muco gástrico (HIRUMA-LIMA et al., 2009).
AINEs: Suprime a síntese de prostaglandina pela mucosa, o que aumenta a
secreção de ácido clorídrico e reduz a produção de bicarbonato. Como membros
24
dessa classe têm a indometacina, aspirina e ibuprofeno (FOX, 2007; KUMAR et al.,
2008).
Infecção bacteriana por Helicobacter pylori: Está associado em 70% dos
casos de úlcera. O pH ácido favorece a colonização do H. pylori, degradando a
barreira da mucosa e causando lesão tecidual, alterando a produção de bicarbonato
pelo duodeno, reduzindo, portanto, o pH luminal do duodeno. O tratamento consiste
na utilização de antimicrobianos e inibidores da bomba de prótons (KUMAR et al.,
2008; OMEPRAZOL, 2011).
3.5 Tratamento farmacológico da úlcera gástrica
O tratamento da úlcera gástrica consiste na cura e prevenção de suas
complicações. O manejo clínico requer a consideração de múltiplas opções
farmacológicas devido aos diversos mecanismos de desenvolvimento da doença
(NAGEL; SHIELDS, 2009; NAJM, 2011).
A terapia consiste na diminuição de acidez gástrica, pelas seguintes classes
de medicamentos: antagonistas de receptores H2 e inibidores da bomba de prótons,
e pelo aumento dos fatores protetores da mucosa gástrica, como os fármacos:
sulcralfato, misoprostol e composto de bismuto coloidal (NAGEL; SHIELDS, 2009;
NAJM, 2011).
3.5.1 Fármacos que reduzem a acidez gástrica
3.5.1.1 Antagonistas de receptores H2
Os fármacos pertencentes dessa classe farmacodinamicamente bloqueiam de
modo reversível e competitivamente à ligação da histamina aos receptores H2
presentes nas células parietais, resultando em supressão da secreção gástrica de
ácido. Indiretamente, diminuem a secreção gástrica induzida pela gastrina e
acetilcolina (NAGEL; SHIELDS, 2009).
Os fármacos clinicamente utilizados são: cimetidina, ranitidina, nizatidina e
famotidina. Todos são bem tolerados, seus efeitos adversos incluem diarreia,
cefaleia, dor muscular, obstipação, fadiga, tontura e artralgia (NAGEL; SHIELDS,
2009).
A cimetidina apresenta diversas interações medicamentosas, devido à
inibição do citocromo P450, prolongando o tempo de meia vida de fármacos
25
metabolizados por essa enzima, entre eles antidepressivos tricíclicos, vários
benzodiazepínicos, fenitoína, propanolol, etanol, entre outros (NAGEL; SHIELDS,
2009; MCQUAID, 2005).
Como reações adversas comuns, a cimetidina apresenta diarreia, erupções
cutâneas, mialgia, cansaço, cefaleia e tontura. Reações incomuns, leucopenia,
depressão, alucinações, taquicardia, hepatite, ginecomastia, impotência reversível.
Reações raras, trompocitopenia, anemia aplásica, netrite intersticial. Reações muito
raras, pancitopenia, agranulocitose, anafilaxia, pancreatite, alopecia, artralgia,
galactorréia (CIMETIDINA, 2011). Devido a essas interações e reações adversas, a
cimetidina está em desuso.
3.5.1.2 Inibidores da Bomba de Prótons
Os fármacos dessa classe bloqueiam a bomba Na+/K+/ATPase pela ligação
covalente, inativando irreversivelmente esta proteína de membrana, levando a uma
supressão prolongada e quase completa da secreção de ácido. Assim, a célula
parietal precisa sintetizar novas moléculas de H+/K+/ATPase, o que leva
aproximadamente 18 horas (NAGEL; SHIELDS, 2009).
Os inibidores da bomba de prótons são superiores aos antagonistas do
receptor H2 na supressão da secreção de ácido e na promoção da cicatrização de
úlceras pépticas (NAGEL; SHIELDS, 2009).
São pertencentes dessa classe: omeprazol, pantoprazol, esomeprazol,
lanzoprazol e rabeprazol. O rabeprazol é metabolizado principalmente por uma via
de redução não enzimática. Os outros quatro são metabolizados por enzimas do
citocromo P450 no fígado (NAGEL; SHIELDS, 2009).
O omeprazol apresenta como reações adversas comuns: cefaleia, tontura,
sonolência, insônia, vertigem, diarreia, constipação, dor abdominal, náusea, vomito,
flatulência. Em casos isolados pode ocorrer: erupções cutâneas, fotossensibilidade,
eritema multiforme, alopecia, artralgia, mialgia, estomatite, leucopenia, pancitopenia
(OMEPRAZOL, 2011).
Os efeitos adversos comuns desta classe são: cefaleia, diarreia, exantema,
desconforto gastrointestinal, anorexia, astenia, dor lombar. Os efeitos mais graves
são: pancreatite, hepatotoxicidade, nefrite intersticial. Devido ao ambiente ácido
necessário para a absorção de fármacos azólicos, como o cetoconazol, pode ocorrer
26
interação medicamentosa com essa classe (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS,
2009).
3.5.2 Fármacos que aumentam os fatores protetores da mucosa
São utilizados para o alívio sintomático da doença ulcerosa péptica e esses
fármacos incluem agentes de revestimento e prostaglandinas (NAGEL; SHIELDS,
2009).
3.5.2.1 Agentes de revestimento:
3.5.2.1.1 Sulcralfato
O Sulcralfato é um sal complexo de sulfato de sacarose e hidróxido de
alumínio, é um agente de revestimento utilizado para o alívio dos sintomas. É um
medicamento que em água ou soluções ácidas forma um gel viscoso e de
consistência firme, que se liga seletivamente á úlceras, o gel protege a superfície
luminal do estômago da degradação pelo ácido e pela pepsina em um período de
até seis horas (NAGEL; SHIELDS, 2009; MCQUAID, 2005).
O sulcralfato é pouco solúvel, ocorrendo pouca absorção sistêmica,
apresentando pouca toxicidade. A constipação é um dos efeitos adversos mais
comuns, além disso, pode se ligar a fármacos com antibióticos quinolonicos,
fenitoína e varfarina, limitando a sua absorção (NAGEL; SHIELDS, 2009).
3.5.2.1.2 Compostos de bismuto coloidal
Os sais de bismuto combinam-se com glicoproteínas do muco, formando uma
barreira que protege a úlcera contra o ácido e a pepsina. O bismuto estimula a
secreção de bicarbonato e prostaglandina E2 da mucosa, aumentando os fatores
protetores (NAGEL; SHIELDS, 2009).
O bismuto exerce efeitos antimicrobianos diretos ao se ligar a enterotoxinas,
tendo efeito benéfico na atividade contra H. pylori (MCQUAID, 2005).
3.5.2.2 Análogos das prostaglandinas
As prostaglandinas são utilizadas no tratamento da doença ulcerosa péptica,
especificamente no tratamento das úlceras induzidas por anti-inflamatório não
esteroidal. Os AINEs são ulcerogênicos, visto que inibem a síntese de
27
prostaglandinas, e consequentemente, interrompem suas funções gastroprotetoras
(NAGEL; SHIELDS, 2009).
O misoprostol é um análogo de prostaglandina que se liga aos receptores de
prostaglandinas nas células parietais, reduzindo a produção de ácido gástrico e
estimulando a produção muco, bicarbonato e o aumento do fluxo sanguíneo da
mucosa (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS, 2009).
Os efeitos adversos mais frequentes consistem em desconforto abdominal e
diarreia. Na prática clínica, esses efeitos adversos frequentemente interferem na
aderência do paciente ao tratamento. O misoprostol está contra indicado para
mulheres que estão grávidas, devido à possibilidade de produção de contrações
uterinas, passiveis de resultar em aborto (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS,
2009).
28
29
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Obtenção do extrato
O extrato foi fornecido pelo Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho e Luiz Carlos Klein
Junior do laboratório de Fitoquímica da UNIVALI. O extrato foi preparado conforme
descrito à seguir: O material vegetal foi submetido à secagem em estufa de ar
quente e circulante a 40°C. Após secagem, as folhas foram submetidas à moagem
em liquidificador para fornecer pó fino. O pó obtido foi submetido à maceração em
solução hidroalcoólica (1L) a 70%, durante 10 dias. O extrato metanólico obtido foi
reunido e evaporado até secura, com auxílio de rotaevaporador, sua massa foi
pesada e calculado o rendimento.
4.2 Animais
Nos ensaios biológicos foram utilizados ratos machos Wistar pesando entre
180 – 200 g, provenientes do Biotério Central da Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI. Os animais foram mantidos em caixas de polipropileno, colocados em sala
climatizada (25 OC.), com período claro e escuro controlado automaticamente, tendo
livre acesso à ração Labina e água. Antes dos experimentos, os animais foram
mantidos em jejum, com livre acesso a água. Esta pesquisa foi submetida ao comitê
de ética em pesquisa da UNIVALI/CEP e aprovada conforme o parecer número:
022/11 (ANEXO A).
4.3 Avaliação da atividade antiúlcera
Para avaliar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllantus
niruri, foram utilizados diferentes modelos experimentais descritos a seguir:
4.3.1 Úlcera induzida por etanol
Este método foi descrito por Morimoto (1991). Os ratos foram submetidos
inicialmente a jejum de 8 horas e, após esse período, divididos em diferentes grupos
(n=6) que foram pré-tratados por via oral com omeprazol na dose de 30mg/kg
(controle positivo), água destilada (controle negativo), extrato metanólico de
Phyllantus niruri nas doses de 50, 125 e 250 mg/kg. Após 1 hora foi administrado
aos animais 1mL de etanol absoluto (agente lesivo) por via oral e 1 hora após a
30
administração do agente lesivo, os mesmos foram sacrificados por deslocamento
cervical; em seguida, os estômagos foram retirados e abertos ao longo da curvatura
maior, sendo esticados em placas de parafina, e através de Scanner, as imagens
foram captadas e analisadas por software de análise de imagens EARP, a fim de
determinar o número de lesões e o percentual destas.
4.3.2 Úlcera induzida por Anti-inflamatório não esteroidal
A metodologia utilizada foi descrita por Morimoto (1991). Após 8 horas de
jejum, diferentes grupos de animais (n=6) foram tratados com extrato metanólico de
Phyllantus niruri (50, 125 e 250 mg/kg), cimetidina (100 mg/kg, controle positivo) e
água destilada (controle negativo), todos administrados via oral. Uma hora após a
administração das diferentes doses, os animais receberam 100 mg/kg de
indometacina (agente lesivo). Passadas oito horas após a administração de
indometacina os animais foram sacrificados por deslocamento cervical e os
estômagos retirados e abertos ao longo da grande curvatura; esticados e através de
Scanner, as imagens foram captadas e analisadas por software de análise de
imagens EARP, a fim de determinar a área total de lesão e a porcentagem de área
lesada.
Na figura 2, podemos observar as diferentes lesões produzidas nos modelos
de úlcera induzida por etanol e AINEs, em comparação com um estômago sem
lesões. O etanol (figura A) é mais agressivo à mucosa gástrica, pois solubiliza o
muco em comparação à indometacina (figura B), que interfere na produção de muco.
Figura 2 - Estômagos de ratos. A) úlcera aguda induzida por etanol. B) úlcera aguda
induzida por anti-inflamatório não esteroidal. C) estômago sem lesão.
31
4.3.3 Avaliação da secreção gástrica - Ligadura de piloro
Este experimento foi realizado de acordo com o método descrito por Shay et
al. (1945), com algumas modificações. Os ratos foram submetidos a jejum por 8
horas com livre acesso a água, e divididos em diferentes grupos (n=6). Em seguida
foram anestesiados e submetidos a uma incisão longitudinal, logo abaixo da apófise
xifoide, para amarração do piloro e administração do extrato metanólico de
Phyllantus niruri (50, 125 e 250 mg/kg), cimetidina (100 mg/kg, controle positivo) e
água destilada (controle negativo), todos por via intraduodenal. Logo após os
tratamentos, as incisões foram suturadas e quatro horas após a cirurgia, os animais
foram sacrificados. As incisões foram reabertas e, após o pinçamento da cárdia, o
estômago retirado. O conteúdo estomacal foi coletado e, em seguida, determinado o
volume, pH e concentração de íons hidrogênio na secreção gástrica. Para tanto, ao
conteúdo estomacal foi adicionada água destilada até completar o volume de 10mL.
Esta solução foi centrifugada durante 10 minutos, a 3000 rpm; e o sobrenadante
titulado com hidróxido de sódio (NaOH) 0,01N, utilizando fenoftaleína como
indicador. A concentração total de ácido foi expressa em mEq/L/4h. O pH foi
determinado em pHmetro modelo DM-22, marca Digimed®.
4.3.4 Doseamento de muco
Este ensaio foi realizado de acordo com a metodologia descrita por Sun et al.
(1991) com algumas modificações. Os animais foram separados em grupos (n=6).
Após 24 horas de jejum, sob anestesia, foi realizada uma incisão no abdômen e a
ligadura do piloro realizada. Imediatamente, após a ligadura do piloro, o extrato
metanólico de P. niruri nas doses de 50, 125 e 250 mg/kg foram administradas via
intraduodenal. Carbenoxolona (200 mg/kg) foi utilizada como controle positivo, e
água como controle negativo. Os animais foram sacrificados 4 horas após os
tratamentos. O conteúdo estomacal foi imerso em 10 mL de 0,02%, sacarose 0,16 M
Alcian blue/0,05 M, solução de acetato de sódio, pH 5,8, e incubados por 24 h à
20ºC. Após, centrifugar-se a 3.000 RPM × 10 min, a absorção do sobrenadante foi
determinada por espectrofotometria em 615 nm, (Spectrophotometer SP 2000 UV,
BEL Photonics). O muco livre do conteúdo gástrico foi calculado a partir da
quantidade de Alcian blue ligado ao tecido (mg/g de tecido).
32
4.4 Análise estatística
Para a análise estatística dos resultados obtidos foi utilizada a análise de
variância (ANOVA) e para comparação das médias dos grupos testados foi utilizado
o teste de Dunnett, sendo que os valores com **p<0,01 e *p<0,05 foram
considerados estatisticamente significativos (SOKAL; ROHLF, 1995).
33
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Modelo de úlcera induzida por etanol
A úlcera gástrica é uma patologia que acomete considerável número de
pessoas no mundo. O uso abusivo de álcool e AINEs, o estresse, a hereditariedade,
o tabagismo e a infecção por Helicobacter pylori tem sido considerados os principais
fatores de risco responsáveis pela lesão da mucosa gástrica (KLEIN-JR et al., 2010).
Quando a mucosa perde a capacidade de proteção através da produção de
bicarbonato e muco, ocorrem lesões, que são desencadeadas devido a um
desequilíbrio entre os agentes agressivos e defensivos, acarretando o surgimento de
úlceras (LAM et al., 2007).
A atividade gastroprotetora do extrato metanólico de P. niruri foi avaliada no
modelo de úlcera aguda induzida por etanol, que é um agente necrosante, da
mucosa gástrica, envolvendo a diminuição dos fatores protetores, como muco e
bicarbonato, e aumentando os fatores agressores, como ácido clorídrico que inibe a
proteção normal do estômago, reduzindo a síntese de prostaglandinas. Além disso,
este está entre as principais causas envolvidas na etiologia de úlceras gástricas no
homem (KLEIN-JR et al., 2010).
Na figura 3 pode ser observado que o tratamento com extrato metanólico de
P. niruri nas doses de 125 mg/kg (142,72±29), 250 mg/kg (36,95±34,39) e omeprazol
30 mg/kg (67,23±20,04), reduziram a área total (mm²) de lesões em comparação
com o grupo controle negativo (333,71±62,42). Em comparação com o controle
positivo (67,23±20,04) a dose de 250 mg/kg (36,95±34,39) obteve menor área de
lesão.
Na figura 4, na avaliação do percentual de lesão, as doses de 125 mg/kg
(13,53±1,46) e 250 mg/kg (3,13±2,83) e omeprazol 30 mg/kg (5,22±1,27) reduziram
o percentual (%) de lesão em comparação com o grupo controle negativo (28±4,98).
Em relação ao controle positivo (5,22±1,27) a dose de 250 mg/kg (3,13±2,83) obteve
menor porcentagem de lesão, demonstrando, que P. niruri apresenta atividade
gastroprotetora semelhante ao omeprazol, tanto na redução de área lesada, quanto
na porcentagem de lesão em úlcera induzida por etanol.
34
Figura 3 - Área de lesão ulcerativa induzida por etanol.
600
Controle
Omeprazol 30 mg/kg
P. niruri 50 mg/kg
P. niruri 125 mg/kg
P. niruri 250 mg/kg
mm²
400
*
200
**
**
0
Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes
doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre área total de lesões ulcerativas, induzidas por etanol.
Animais controle positivo receberam, v.o., omeprazol (30 mg/kg) e controle negativo,
veiculo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA,
teste a posteriori de Dunnett.
Figura 4 - Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por etanol.
50
Controle
Omeprazol 30 mg/kg
P. niruri 50 mg/kg
P. niruri 125 mg/kg
40
30
%
10
P. niruri 250 mg/kg
*
20
**
**
0
Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em
diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a porcentagem de lesões ulcerativas,
induzidas por etanol. Animais controle positivo receberam, v.o., omeprazol (30 mg/kg) e
controole negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle
(*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett.
35
5.2 Modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal
A indometacina e outros AINEs atuam inibindo a síntese das prostaglandinas
através da inibição da enzima ciclooxigenase-1. As prostaglandinas desempenham
um importante papel de proteção, estimulando a secreção de bicarbonato, muco e
mantendo o fluxo sanguíneo (KUSHIMA et al., 2009; MALFERTHEINER; CHAN;
MCCOLL, 2009).
A inibição da síntese das prostaglandinas diminui os fatores protetores da
mucosa, diminuindo a sua capacidade de resistir aos agentes agressores (KLEIN-JR
et al., 2010).
Na figura 5, o tratamento com extrato metanólico de P. niruri nas doses de 50
mg/kg (2,45±1,37), 125 mg/kg (0,59±0,49), 250 mg/kg (4,4±0,58) e a cimetidina
100mg/kg (1,43±0,59), reduziram significativamente (**p<0.01) a área de lesão
(mm²) em comparação com o grupo controle (21,4±5,09). A dose de 125 mg/kg
(0,59±0,49) obteve menor área de lesão em relação ao controle positivo (1,43±0,59).
No percentual (%) de lesão, as doses de 50 mg/kg (0,25±0,14), 125 mg/kg
(0,06±0,05), 250 mg/kg (0,5±0,07) e a cimetidina 100 mg/kg (0,40±0,19), reduziram
significativamente (**p<0.01) a porcentagem de lesão em comparação com o grupo
controle (2,33±0,51), como pode ser observado na figura 6.
Em relação ao controle positivo (0,40±0,19) as doses de 50 mg/kg (0,25±0,14)
e 125 mg/kg (0,06±0,05) obtiveram menor porcentagem (%) de lesão, demonstrando
que P. niruri pode apresentar atividade semelhante à cimetidina.
36
Figura 5 - Área de lesão ulcerativa induzida por AINE.
40
Controle
Cimetidina 100 mg/kg
P. niruri 50 mg/kg
mm²
30
P. niruri 125 mg/kg
P. niruri 250 mg/kg
20
10
**
**
**
**
0
Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes
doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a área total de lesões ulcerativas, induzidas por
indometacina. Animais controle positivo receberam, v.o., cimetidina (100 mg/kg) e controle
negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01),
ANOVA, teste a posteriori de Dunnett.
Figura 6 - Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por AINE.
4
Controle
Cimetidina 100 mg/kg
%
3
P. niruri 50 mg/kg
P. niruri 125 mg/kg
2
P. niruri 250 mg/kg
1
**
**
**
**
0
Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes
doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a porcentagem de lesões ulcerativas, induzidas por
indometacina. Animais controle positivo receberam, v.o., cimetidina (100 mg/kg) e controle
negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01),
ANOVA, teste a posteriori de Dunnett.
37
Após a observação de que o extrato metanólico de P. niruri foi capaz de
proteger a mucosa gástrica contra lesões induzidas por etanol e AINEs, passou-se a
estudar se este extrato estaria interferindo de alguma maneira sobre a secreção
ácida gástrica e a produção de muco, já que os fármacos utilizados na terapia atuam
principalmente nesses mecanismos de ação. Deste modo, o modelo de ligadura de
piloro foi realizado, a fim de avaliar a secreção ácida e quantificar o muco produzido.
5.3 Ligadura de piloro - Avaliação da secreção gástrica
A ligadura de piloro avalia os parâmetros, pH, volume de secreção e
concentração de H+, que estão envolvidos na secreção gástrica (LAKSHIMl, 2009).
Como podemos observar na tabela 1 os extratos de P. niruri nas doses de 50
mg/kg (51,63±5,49), 125 mg/kg (54,57±1,87) e cimetidina 100 mg/kg (37,62 ± 4,86)
apresentaram diminuição significativa (**p<0,01) da concentração de H+ (mEq/l/4h)
em relação ao controle (79,49±3,91). Entretanto, o tratamento com extrato
metanólico de P. niruri na diferentes doses não elevaram o pH gástrico em
comparação com o grupo controle apenas o controle positivo aumentou o pH.
Com o aumento da dose de P. niruri observamos o aumento da concentração
de H+, consequentemente, diminuição da atividade anti-secretora, provavelmente
pelo aumento de algum metabólito secundário que interfere na atividade
gastroprotetora.
Tabela 1 - Parâmetros avaliados na secreção gástrica.
Tratamento
Dose
Volume
(v.o.)
(mg/kg)
(mL)
Controle
pH
[H+]
mEq/l/4h
0,91 ± 0,16
2,97 ± 0,15
79,49 ± 3,91
Cimetidina
100
1,05 ± 0,25
5,44 ± 0,70**
37,62 ± 4,86**
P. niruri
50
0,96 ± 0,16
3,29 ± 0,27
51,63 ± 5,49**
P. niruri
125
0,99 ± 0,11
3,27 ± 0,11
54,57 ± 1,87**
P. niruri
250
0,94 ± 0,13
3,70 ± 0,43
63,43 ± 5,46
Nota: Efeitos da administração intraduodenal de cimetidina e das diferentes doses do
extrato metanólico de Phyllanthus niruri nos parâmetros bioquímicos da secreção gástrica
de ratos submetidos à ligadura do piloro. Diferença significativa em relação ao grupo
controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett.
38
5.4 Doseamento de muco
O muco é o principal agente protetor da mucosa, pois é a única barreira entre
o epitélio e o lúmen do estômago, atuando como uma camada que retém o
bicarbonato secretado pelas células epiteliais, proporcionando um ambiente com pH
próximo a neutralidade, atuando como uma barreira física contra a ação da pepsina
e ácido clorídrico do processo de digestão (ALQASOUMI et al., 2009).
Como controle positivo, utilizamos carbenoxolona, um terpenóide isolado à
partir da Glycyrrhiza glabra L. (alcaçuz). Seu mecanismo de ação está relacionado
com o aumento de prostaglandinas que estimulam a produção de muco (KLEIN-JR
et al., 2012).
No doseamento de muco, pelo modelo de ligadura de piloro, o extrato
metanólico na dose de 250 mg/kg (1,91±0,07) aumentou significativamente (p<0,05)
o muco produzido (mg/g de tecido) pelo estômago quando comparado ao controle
(1,38±0,10) e a carbeneloxona (1,73±0,02), como pode ser observado na tabela 2.
Como podemos observar na tabela 2 a Phyllantus niruri obteve valor superior
ao controle negativo e ao controle positivo na ligação de alcian blue no tecido, dessa
forma, a atividade da P. niruri está relacionada com o aumento da produção de
muco, que é a mesma resposta da carbenoxolona.
Tabela 2 - Doseamento de muco.
Tratamento
Dose
Alcian blue ligado
(v.o.)
(mg/kg)
(mg/g tecido)
Controle
1,38 ± 0,10
Carbenoxolona
200
1,73 ± 0,02
P. niruri
50
1,68 ± 0,11
P. niruri
125
1,77 ± 0,14
P. niruri
250
1,91 ± 0,07*
Nota: Efeitos da administração intraduodenal de carbenoxolona e das diferentes doses do
extrato metanólico de Phyllanthus niruri nos parâmetros bioquímico do doseamento de muco
em ratos submetidos à ligadura do piloro. Diferença significativa em relação ao grupo
controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett.
39
6 CONCLUSÃO
Com os resultados dos diferentes testes de indução da úlcera aguda e da
ligadura de piloro, conclui-se que:
- O extrato metanólico de P. niruri, em diferentes doses, apresenta atividade
gastroprotetora, evidenciada pelos efeitos de proteção da mucosa gástrica nos
modelos de indução de úlcera por etanol e AINEs;
- A atividade antiúlcera de P. niruri não está relacionada com a diminuição da
secreção ácida, observamos que não houve dose-resposta na concentração de H+;
- No doseamento de muco, o extrato metanólico de P. niruri na dose de 250 mg/kg
apresentou aumento na quantidade de muco produzido pelo estômago em
comparação ao controle negativo e ao positivo, assim, sendo uma possível via de
atividade gastroprotetora da Phyllanthus niruri;
- Em relação aos fármacos utilizados na terapêutica, omeprazol e cimetidina, P.
niruri apresentou atividade semelhante a esses fármacos nos modelos de úlcera
induzida por etanol e AINEs. Enquanto, no modelo de ligadura de piloro, P. niruri não
apresentou atividade semelhante à cimetidina;
- A gastroproteção deve estar relacionada com os metabólitos secundários
presentes na Phyllanthus niruri, que são os terpenos, flavonoides e alcaloides já
descritos na literatura com a atividade antiulcerogênica;
- Há necessidade de mais estudos para investigar a influência de compostos
sulfidrilas e de óxido nítrico que podem estar relacionados à atividade antiúlcera,
além de estudos toxicológicos da planta;
- Este estudo torna a planta um alvo de estudo para o desenvolvimento de um novo
fitoterápico com atividade gastroprotetora.
40
41
REFERÊNCIAS
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ANEXO A
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Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO