UNIVERSIDE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE FARMÁCIA ANA PAULA BEBER JADY ALICE RODRIGUES ROCHA Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO POTENCIAL GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO EM DIFERENTES MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS Itajaí (SC) 2013 ANA PAULA BEBER JADY ALICE RODRIGUES ROCHA Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO POTENCIAL GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO EM DIFERENTES MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de farmacêutico pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde. Orientador: Andrade Itajaí (SC) Junho de 2013 Prof. Dr. Sérgio Faloni de AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer primeiramente a Deus, pelo privilégio da vida. Agradecemos aos nossos amados pais, que nos incentivaram a percorrer o caminho sem desistir, assim como toda a nossa família pelo apoio incondicional realizado nesses quatro longos anos. Agradecemos ao nosso orientador Prof. Dr. Sérgio Faloni de Andrade, por toda a compreensão, paciência, amizade e credibilidade durante dois anos de bolsa pesquisa. Assim como a UNIVALI, CNPq, PIBIC e PROBIC pelas bolsas concedidas. Agradecemos ao professor Valdir Cechinel Filho e Luiz Carlos Klein Júnior que forneceram os extratos e tornaram esse projeto possível. Agradecemos ao doutorando José Roberto Santin, por todo o ensinamento, apoio e acolhimento, seus ensinamentos serão sempre lembrados. Aos estudantes que contribuíram para a construção do nosso conhecimento, entre eles, Kátia, Melissa e Priscila. A funcionária do laboratório de farmacologia, Maria Angélica (Maggie), pelo carinho, atenção e auxílios prestados para realização desse trabalho. A funcionária do biotério de odontologia, Maria, pela ajuda no cuidado dos animais. A todos os outros colaboradores não citados, que ajudaram direta e indiretamente na nossa formação acadêmica. Phyllanthus niruri (QUEBRA-PEDRA): ESTUDO DO POTENCIAL GASTROPROTETOR DO EXTRATO METANÓLICO EM DIFERENTES MODELOS DE ÚLCERA EM ANIMAIS Ana Paula BEBER e Jady Alice Rodrigues ROCHA Orientador: Prof. Dr. Sérgio Faloni de Andrade Defesa em: junho de 2013 Resumo: A úlcera péptica é uma doença prevalente em todo o mundo, sendo suas complicações importantes causas de morbimortalidade. A terapêutica utilizada atualmente apresenta muitos efeitos adversos, além da reincidência da doença. Espécies do gênero Phyllanthus são conhecidas como quebra-pedra, utilizadas popularmente no tratamento de diversas doenças, como os cálculos renais. Foi realizado estudo no NIQFAR, onde se avaliou 4 espécies de Phyllanthus, onde P. niruri apresentou melhor potencial gastroprotetor. Dessa forma este trabalho teve por objetivo avaliar o potencial gastroprotetor do extrato metanólico de Phyllantus niruri em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg) e modelos (úlcera induzida por etanol, anti-inflamatório não esteroidal, ligadura de piloro). Nos ensaios foram utilizados ratos Wistar (n=6), mantidos em jejum antes dos experimentos, os quais foram tratados com as diferentes doses do extrato metanólico de P. niruri. No modelo de indução por etanol, o grupo controle positivo foi tratado com omeprazol (30 mg/kg) e o agente lesivo foi o etanol absoluto, enquanto, que no modelo de indução por antiinflamatório não esteroidal foi utilizado cimetidina (100mg/kg) no controle positivo e indometacina (100mg/kg), como agente lesivo. Os animais foram sacrificados, os estômagos foram removidos e determinado a porcentagem e a área lesada. No modelo de ligadura de piloro os animais foram anestesiados e submetidos a uma cirurgia para amarração do piloro, sendo administrados os extratos e os controles (cimetidina e água), todos por via intraduodenal. Logo após os tratamentos, as incisões foram suturadas e quatro horas após a cirurgia, os animais foram sacrificados. Ocorrendo a determinação do volume, pH e concentração de íons hidrogênio na secreção gástrica e quantificação do muco. Observou-se atividade gastroprotetora nas doses 125 e 250 mg/kg de P. niruri no modelo de úlcera induzida por etanol. Verificou-se gastroproteção em todas as doses, incluindo o controle positivo no modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal. As doses de 50 e 125 mg/kg reduziram a concentração de H+ na avaliação da secreção gástrica. No doseamento, o extrato na dose de 250 mg/kg promoveu aumento do muco. Com este estudo, pode-se sugerir que a Phyllanthus niruri apresenta atividade gastroprotetora, sendo um alvo de estudos para desenvolvimento de um novo fitoterápico. Palavras chaves: Gastroproteção. Phyllanthus niruri. Úlcera. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Aspectos macroscópicos de Phyllanthus niruri L. A) planta B) flor masculina C) flor feminina D) fruto E) folhas F) semente .................................................... 20 Figura 2 Estômagos de ratos. A) úlcera aguda induzida por etanol. B) úlcera aguda induzida por anti-inflamatório não esteroidal. C) estômago sem lesão. .............. 30 Figura 3 Área de lesão ulcerativa induzida por etanol. ............................................. 34 Figura 4 Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por etanol. ............................... 34 Figura 5 Área de lesão ulcerativa induzida por AINE. .............................................. 36 Figura 6 Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por AINE.................................. 36 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 17 2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 17 2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 17 3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 19 3.1 Fitoterápicos ...................................................................................................... 19 3.2 Phyllanthus niruri .............................................................................................. 20 3.2.1 Uso popular .................................................................................................... 21 3.2.2 Atividade biológica......................................................................................... 21 3.3 Estômago ........................................................................................................... 21 3.4 Úlcera gástrica ................................................................................................... 22 3.5 Tratamento farmacológico da úlcera gástrica ................................................ 24 3.5.1 Fármacos que reduzem a acidez gástrica .................................................... 24 3.5.2 Fármacos que aumentam os fatores protetores da mucosa ...................... 26 4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 29 4.1 Obtenção do extrato.......................................................................................... 29 4.2 Animais .............................................................................................................. 29 4.3 Avaliação da atividade antiúlcera .................................................................... 29 4.3.1 Úlcera induzida por etanol ............................................................................. 29 4.3.2 Úlcera induzida por Anti-inflamatório não esteroidal ................................. 30 4.3.3 Avaliação da secreção gástrica - Ligadura de piloro .................................. 31 4.3.4 Doseamento de muco .................................................................................... 31 4.4 Análise estatística ............................................................................................. 32 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 33 5.1 Modelo de úlcera induzida por etanol ............................................................. 33 5.2 Modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal ................... 35 5.3 Ligadura de piloro - Avaliação da secreção gástrica ..................................... 37 5.4 Doseamento de muco ....................................................................................... 38 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 39 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41 ANEXO A .................................................................................................................. 45 15 1 INTRODUÇÃO Dentre as milhares de patologias que afligem o homem, as úlceras gástricas são caracterizadas por lesões ulcerosas, agudas ou crônicas, que aparecem em qualquer porção do tubo gastrointestinal (TGI) (CALAM; BARON, 2001). A úlcera gástrica é causada por um desequilíbrio entre os mecanismos protetores e agressores da mucosa e resultado da associação de diversos fatores agressores exógenos relacionados às condições de vida, como estresse, fumo, álcool, uso contínuo de anti-inflamatório não esteroidal e a colonização por Helicobacter pylori (VINAGRE, 2005). As terapêuticas utilizadas no tratamento das lesões são: antagonistas de receptores H2, como a cimetidina, inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, antibióticos no tratamento de H. pylori e mais raramente, procedimentos cirúrgicos (NAJM, 2011). Um dos principais problemas no tratamento de úlcera é que as terapias não são 100% eficazes e possuem muitos efeitos adversos. Além disso, há casos de recidiva das úlceras. Assim, a busca por novos agentes terapêuticos antiulcerosos é de grande importância (FERRO, 2008). Estudos demonstram que várias plantas apresentam atividade gastroprotetora, como a Polygala cyparissias (GANDOLFI, 2010), Achryrocline satureoides (SANTIN, 2010), Brassica oleracea (LEMOS, 2010), Psidium guajava e Garcinia achachairu (MARCONDES, 2012). Considerando esses aspectos e a importância de desenvolvimento de novos medicamentos explorando a biodiversidade o Núcleo de Investigações QuímicoFarmacêuticas (NIQFAR/CCS/UNIVALI), vem pesquisando e avaliando diversas plantas no intuito de desenvolvimento de fitoterápico e validação farmacológica (MALHEIROS et al., 2010). Dessa forma, em estudo realizado pelo grupo de pesquisa no qual foi avaliado o potencial gastroprotetor de quatro diferentes espécies de Phyllanthus utilizando como método de triagem o modelo de úlcera aguda induzida por etanol, foi observado que o extrato bruto de P. niruri estava entre os que apresentaram melhor efeito gastroprotetor, além disso, a literatura não apresenta nenhum estudo em relação à atividade gastroprotetora dessa planta. 16 Dessa forma, o desenvolvimento deste trabalho visa: avaliar a atividade antiúlcera do extrato de Phyllanthus niruri, utilizando o modelo de indução de úlceras por etanol, anti-inflamatório não esteroidal, ligadura de piloro e doseamento de muco em ratos, a fim de se verificar o potencial antiúlcera e gastroprotetor. 17 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral - Estudar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllanthus niruri. 2.2 Objetivos Específicos - Avaliar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllanthus niruri utilizando modelos de úlcera aguda induzida por etanol e por anti-inflamatório não esteroidal (AINE); - Verificar a influência da administração do extrato metanólico em diferentes doses sobre a secreção gástrica, nos parâmetros de volume, pH e concentração de H+; - Avaliar a influência da administração do extrato metanólico na produção de muco estomacal; - Comparar o efeito do extrato metanólico de Phyllanthus niruri com os fármacos utilizados na terapêutica da úlcera gástrica. 18 19 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Fitoterápicos As plantas consideradas medicinais são aquelas que possuem propriedades terapêuticas, e são amplamente utilizadas na medicina popular contra várias doenças, dentre elas, a úlcera gástrica (SOUZA et al., 2010). As plantas medicinais têm tido papel cada vez mais importante dentro do contexto da medicina, pois cresce a cada ano o número de profissionais e pacientes que procuram este recurso para amenizar seus males. Isto tem explicação em vários aspectos, dentre o qual o decréscimo de efeitos colaterais (FERRO, 2008). Os fitoterápicos são de 35% a 70% mais baratos que os fármacos sintéticos, o que faz a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimular sua utilização através de campanhas de divulgação (FERRO, 2008). Os compostos obtidos de plantas medicinais com atividade antiulcerogênica apresentam diversas estruturas químicas e mecanismos de ação. Dentre as principais classes de compostos relacionados a gastroproteção têm-se: terpenos, flavonoides, alcaloides, glicosídeos, saponinas e polissacarídeos (SOUZA et al., 2010). Assim, o Núcleo de Investigações Químico-Farmacêuticas NIQFAR/CCS/UNIVALI, vem pesquisando e avaliando diversas plantas no intuito de desenvolvimento de fitoterápicos e/ou validação farmacológica das mesmas. Entre elas, está a Phyllanthus niruri, que possui metabólitos secundários já descritos na literatura com ação antiulcerogenica (ALONSO, 2009; MALHEIROS et al., 2010). Este grupo realizou diversas pesquisas que evidenciaram o potencial gastroprotetor de várias plantas, como a Polygala cyparissias (GANDOLFI, 2010), Achryrocline satureoides (SANTIN, 2010), Brassica oleracea (LEMOS, 2010), Psidium guajava e Garcinia achachairu (MARCONDES, 2012). Em estudo anterior, no qual foi avaliado o potencial gastroprotetor de quatro diferentes espécies de Phyllanthus utilizando como método de triagem o modelo de úlcera aguda induzida por etanol, foi observado que o extrato bruto de P. niruri estava entre os que apresentaram melhor efeito gastroprotetor, além disso, a literatura não apresenta nenhum estudo em relação à atividade gastroprotetora dessa planta. 20 3.2 Phyllanthus niruri Phyllanthus, do grego phyllon (folha) e anthos (flor), em alusão às flores produzidas em ramos que se assemelham a folhas compostas, pertence à família Euphorbiaceae, que é umas das maiores classes das angiospermas dicotiledôneas. A espécie é nativa da América do Sul onde cresce em terras úmidas, em climas temperados e tropicais, especialmente no litoral (ALONSO, 2009; FILHO et al., 1996). Como pode-se observar na figura 1, é uma planta herbácea, glabra, de pequeno porte, com até 80 cm de altura, caules simples ou ramificados, folhas alternas, dísticas, simples, membranáceas, glabras, oblongo-elípticas, de ápice atenuado, às vezes mucronado e base assimétrica, margem lisa; lâminas discolores, face adaxial de cor verde-oliva e face abaxial verde-pálida a cinza-pálida. Flores femininas isoladas e axilares nos nós apicais, com cinco tépalas elípticas e disco inteiro, carnoso; ovário tricarpelar, trilocular. Flores masculinas em fascículos de uma a duas flores, dispostas nos nós basais. Frutos esquizocárpicos, do tipo tricoca, com 0,1 cm a 0,25 cm de diâmetro, depresso-globosos, duas sementes por lóculo, triangulares, cálice persistente, membranáceo, desenvolvido, atingindo 2/3 da altura do fruto (ALONSO, 2009; BRASIL, 2010). Vários são os metabólitos secundários presentes na planta descritos na literatura, destacando-se os: taninos, ácido gálico (BRASIL, 2010), ligninas como a lintetralina, flavonoides como a quercetina, alcaloides pirrolizidínicos e indolizidínicos, terpenos como o lupeol, alcanos, e outros (ALONSO, 2009). Figura 1 - Aspectos macroscópicos de Phyllanthus niruri L A) planta B) flor masculina C) flor feminina D) fruto E) folhas F) semente. Fonte: BRASIL, 2010 21 3.2.1 Uso popular A espécie P. niruri é conhecida no Brasil como quebra-pedra, arrebenta-pedra e erva-pombinha (ALONSO, 2009). Segundo Spethmann (2004), P. niruri é utilizada popularmente para tratamento de ácido úrico, anúria, artritismo, barriga-d’água, beribéri, inflamação da bexiga, cálculos em geral, colescistite, cólica intestinal, derrame cerebral, diabetes, hemorróidas, hepatite, hipertensão arterial e doenças da uretra. Segundo Ferro (2008), P. niruri apresenta atividade analgésica, antiespasmódica, antitérmica, antiviral, diurética, no tratamento de: calculose renal, diabete melito, gota, hipertensão arterial. 3.2.2 Atividade biológica Dentre as atividades biológicas cientificamente comprovadas da Phyllanthus niruri destacam-se a inibição do vírus da hepatite B (JASSIM; NAJI, 2003; VENKATESWARAN; MILLMAN; BLUMBERF, 1987), efeitos hipoglicemiantes, hipotensivo e diurético (DIAS et al., 1995; UENO et al., 1988) e inibição da formação de cristais de oxalato de cálcio no trato urinário, inibindo o desenvolvimento de cálculos renais (FREITAS; SCHOR; BOIM, 2002). Outros estudos têm sido realizados na tentativa de se comprovar diversas outras atividades biológicas, tais como a inibição da transcriptase reversa do vírus HIV-1 (OGATA et al., 1992), e na redução das concentrações de lipídeos plasmáticos em ratos (KHANNA; RIZVI; CHANDER, 2002). 3.3 Estômago O estômago é uma câmara, em forma de letra J e semelhante a uma bolsa, situada entre o esôfago e o intestino. Ele é dividido em três partes, com base em distinções anatômicas, histológicas e funcionais (SHERWOOD, 2011). As três regiões do estômago são: a cardia, o corpo e o antro. A região da cardia está localizada abaixo do esfíncter esofágico inferior, que contém, principalmente, células glandulares secretoras de muco (BARRETT; RAYBOULD, 2009). O estômago tem a função de armazenar grandes quantidades de alimento, misturar o alimento com as secreções gástricas formando o quimo, esvaziar lentamente o quimo para o intestino delgado (FOX, 2007; GUYTON; HALL, 2011). 22 A mucosa gástrica tem dois tipos importantes de glândulas tubulares: glândulas oxínticas e glândulas pilóricas. As glândulas oxínticas são compostas de três tipos de células: células mucosas do cólon que secretam muco, células pépticas que secretam pepsinogênio e células parietais que secretam ácido clorídrico e fator intrínseco (GUYTON; HALL, 2011). As glândulas pilóricas têm células mucosas do cólon que secretam grande quantidade de muco, além disso, são responsáveis pela liberação do hormônio gastrina, que está relacionado com o controle da secreção gástrica (GUYTON; HALL, 2011). As principais substâncias secretadas pelo estômago que possuem envolvimento na manutenção do ácido clorídrico são: Gastrina: é um hormônio secretado pelas células G, é liberada e transportada pelo sangue até as células enterocromafins (ECL). Liga-se com as células ECL causando a liberação da histamina, que estimula a secreção de ácido clorídrico gástrico (GUYTON; HALL, 2011). Pepsinogênio: é secretado pelas células pépticas por estimulação da acetilcolina e pela quantidade de ácido no estômago. O ácido clorídrico converte o pepsinogênio em pepsina, que é a forma ativa responsável por hidrolisar proteínas (GUYTON; HALL, 2011). Acetilcolina: é liberada por estimulação parassimpática, excita a secreção de pepsinogênio, ácido clorídrico e muco (GUYTON; HALL, 2011). Histamina: é liberada pelas células ECL e apresenta papel importante na secreção de ácido clorídrico (SHERWOODS, 2011). Os fatores que protegem a mucosa gástrica incluem o muco gástrico, o bicarbonato gástrico e duodenal, as prostaglandinas, o processo de restituição e o fluxo sanguíneo (NAGEL; SHIELDS, 2009). 3.4 Úlcera gástrica A úlcera gástrica é uma patologia desencadeada pelo desequilíbrio entre os fatores protetores e lesivos da mucosa gástrica, ocorre em toda a porção do trato gástrico, porém é mais comum na mucosa e camada muscular, ou seja, no duodeno e no estômago. Dependendo de sua gravidade pode desenvolver perfurações e 23 sangramentos, que compreendem nas principais complicações (KUMAR et al., 2008). Os fatores protetores agem como uma barreira frente aos agentes agressivos da mucosa. Os principais agentes protetores da mucosa são: barreira de muco e bicarbonato, fluxo sanguíneo e prostaglandina (KUMAR et al., 2008). A primeira linha de defesa da mucosa gástrica é a barreira de muco e bicarbonato, sendo a única proteção entre o epitélio e o lúmen do estômago. Esta barreira é composta por um gel de muco, bicarbonato e fosfolipídios surfactantes, possuindo característica elástica, viscosa e aderente (ALQASOUMI et al., 2009). O muco é derivado das células epiteliais e de células mucosas, proporciona uma barreira de proteção e contribui para a lubrificação do transporte de alimentos. O muco desempenha um papel estrutural importante na criação de uma camada que retém o bicarbonato secretado pelas células epiteliais, neutraliza o ácido clorídrico e inativa a enzima pepsina (ALQASOUMI et al. 2009; NAGEL; SHIELDS, 2009; GUYTON; HALL, 2011;). O fluxo sanguíneo abastece as células da mucosa com nutrientes e com oxigênio. Quando a mucosa gástrica é exposta a agentes irritantes, as células endoteliais produzem potentes vasodilatadores, como óxido nítrico (NO), que age protegendo a mucosa de lesões causadas por substâncias vasoconstritoras e inibindo a secreção de ácido gástrico pelas células parietais (GRANGER; KUBES, 1994; WALLACE; MILLER, 2000). As prostaglandinas inibem a liberação de ácido gástrico, aumentam o fluxo sanguíneo da mucosa, estimulam a produção de muco e bicarbonato, aceleram o reparo e a cicatrização tecidual (BRZOZOWSKI, 2003; TULASSAY; HERSZENYI, 2010). A úlcera gástrica pode ser provocada por diversos fatores, muitos estão relacionados com maus hábitos alimentares, estresse, tabagismo, uso abusivo de anti-inflamatórios não esteroidal (AINE) e bebidas alcoólicas (BARROS et al., 2008). O etanol é considerado um dos agentes mais agressivos por promover distúrbios na mucosa gástrica como, isquemia e aparecimento de radicais livres, degranulação de mastócitos, inibição da produção de prostaglandinas e diminuição na produção do muco gástrico (HIRUMA-LIMA et al., 2009). AINEs: Suprime a síntese de prostaglandina pela mucosa, o que aumenta a secreção de ácido clorídrico e reduz a produção de bicarbonato. Como membros 24 dessa classe têm a indometacina, aspirina e ibuprofeno (FOX, 2007; KUMAR et al., 2008). Infecção bacteriana por Helicobacter pylori: Está associado em 70% dos casos de úlcera. O pH ácido favorece a colonização do H. pylori, degradando a barreira da mucosa e causando lesão tecidual, alterando a produção de bicarbonato pelo duodeno, reduzindo, portanto, o pH luminal do duodeno. O tratamento consiste na utilização de antimicrobianos e inibidores da bomba de prótons (KUMAR et al., 2008; OMEPRAZOL, 2011). 3.5 Tratamento farmacológico da úlcera gástrica O tratamento da úlcera gástrica consiste na cura e prevenção de suas complicações. O manejo clínico requer a consideração de múltiplas opções farmacológicas devido aos diversos mecanismos de desenvolvimento da doença (NAGEL; SHIELDS, 2009; NAJM, 2011). A terapia consiste na diminuição de acidez gástrica, pelas seguintes classes de medicamentos: antagonistas de receptores H2 e inibidores da bomba de prótons, e pelo aumento dos fatores protetores da mucosa gástrica, como os fármacos: sulcralfato, misoprostol e composto de bismuto coloidal (NAGEL; SHIELDS, 2009; NAJM, 2011). 3.5.1 Fármacos que reduzem a acidez gástrica 3.5.1.1 Antagonistas de receptores H2 Os fármacos pertencentes dessa classe farmacodinamicamente bloqueiam de modo reversível e competitivamente à ligação da histamina aos receptores H2 presentes nas células parietais, resultando em supressão da secreção gástrica de ácido. Indiretamente, diminuem a secreção gástrica induzida pela gastrina e acetilcolina (NAGEL; SHIELDS, 2009). Os fármacos clinicamente utilizados são: cimetidina, ranitidina, nizatidina e famotidina. Todos são bem tolerados, seus efeitos adversos incluem diarreia, cefaleia, dor muscular, obstipação, fadiga, tontura e artralgia (NAGEL; SHIELDS, 2009). A cimetidina apresenta diversas interações medicamentosas, devido à inibição do citocromo P450, prolongando o tempo de meia vida de fármacos 25 metabolizados por essa enzima, entre eles antidepressivos tricíclicos, vários benzodiazepínicos, fenitoína, propanolol, etanol, entre outros (NAGEL; SHIELDS, 2009; MCQUAID, 2005). Como reações adversas comuns, a cimetidina apresenta diarreia, erupções cutâneas, mialgia, cansaço, cefaleia e tontura. Reações incomuns, leucopenia, depressão, alucinações, taquicardia, hepatite, ginecomastia, impotência reversível. Reações raras, trompocitopenia, anemia aplásica, netrite intersticial. Reações muito raras, pancitopenia, agranulocitose, anafilaxia, pancreatite, alopecia, artralgia, galactorréia (CIMETIDINA, 2011). Devido a essas interações e reações adversas, a cimetidina está em desuso. 3.5.1.2 Inibidores da Bomba de Prótons Os fármacos dessa classe bloqueiam a bomba Na+/K+/ATPase pela ligação covalente, inativando irreversivelmente esta proteína de membrana, levando a uma supressão prolongada e quase completa da secreção de ácido. Assim, a célula parietal precisa sintetizar novas moléculas de H+/K+/ATPase, o que leva aproximadamente 18 horas (NAGEL; SHIELDS, 2009). Os inibidores da bomba de prótons são superiores aos antagonistas do receptor H2 na supressão da secreção de ácido e na promoção da cicatrização de úlceras pépticas (NAGEL; SHIELDS, 2009). São pertencentes dessa classe: omeprazol, pantoprazol, esomeprazol, lanzoprazol e rabeprazol. O rabeprazol é metabolizado principalmente por uma via de redução não enzimática. Os outros quatro são metabolizados por enzimas do citocromo P450 no fígado (NAGEL; SHIELDS, 2009). O omeprazol apresenta como reações adversas comuns: cefaleia, tontura, sonolência, insônia, vertigem, diarreia, constipação, dor abdominal, náusea, vomito, flatulência. Em casos isolados pode ocorrer: erupções cutâneas, fotossensibilidade, eritema multiforme, alopecia, artralgia, mialgia, estomatite, leucopenia, pancitopenia (OMEPRAZOL, 2011). Os efeitos adversos comuns desta classe são: cefaleia, diarreia, exantema, desconforto gastrointestinal, anorexia, astenia, dor lombar. Os efeitos mais graves são: pancreatite, hepatotoxicidade, nefrite intersticial. Devido ao ambiente ácido necessário para a absorção de fármacos azólicos, como o cetoconazol, pode ocorrer 26 interação medicamentosa com essa classe (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS, 2009). 3.5.2 Fármacos que aumentam os fatores protetores da mucosa São utilizados para o alívio sintomático da doença ulcerosa péptica e esses fármacos incluem agentes de revestimento e prostaglandinas (NAGEL; SHIELDS, 2009). 3.5.2.1 Agentes de revestimento: 3.5.2.1.1 Sulcralfato O Sulcralfato é um sal complexo de sulfato de sacarose e hidróxido de alumínio, é um agente de revestimento utilizado para o alívio dos sintomas. É um medicamento que em água ou soluções ácidas forma um gel viscoso e de consistência firme, que se liga seletivamente á úlceras, o gel protege a superfície luminal do estômago da degradação pelo ácido e pela pepsina em um período de até seis horas (NAGEL; SHIELDS, 2009; MCQUAID, 2005). O sulcralfato é pouco solúvel, ocorrendo pouca absorção sistêmica, apresentando pouca toxicidade. A constipação é um dos efeitos adversos mais comuns, além disso, pode se ligar a fármacos com antibióticos quinolonicos, fenitoína e varfarina, limitando a sua absorção (NAGEL; SHIELDS, 2009). 3.5.2.1.2 Compostos de bismuto coloidal Os sais de bismuto combinam-se com glicoproteínas do muco, formando uma barreira que protege a úlcera contra o ácido e a pepsina. O bismuto estimula a secreção de bicarbonato e prostaglandina E2 da mucosa, aumentando os fatores protetores (NAGEL; SHIELDS, 2009). O bismuto exerce efeitos antimicrobianos diretos ao se ligar a enterotoxinas, tendo efeito benéfico na atividade contra H. pylori (MCQUAID, 2005). 3.5.2.2 Análogos das prostaglandinas As prostaglandinas são utilizadas no tratamento da doença ulcerosa péptica, especificamente no tratamento das úlceras induzidas por anti-inflamatório não esteroidal. Os AINEs são ulcerogênicos, visto que inibem a síntese de 27 prostaglandinas, e consequentemente, interrompem suas funções gastroprotetoras (NAGEL; SHIELDS, 2009). O misoprostol é um análogo de prostaglandina que se liga aos receptores de prostaglandinas nas células parietais, reduzindo a produção de ácido gástrico e estimulando a produção muco, bicarbonato e o aumento do fluxo sanguíneo da mucosa (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS, 2009). Os efeitos adversos mais frequentes consistem em desconforto abdominal e diarreia. Na prática clínica, esses efeitos adversos frequentemente interferem na aderência do paciente ao tratamento. O misoprostol está contra indicado para mulheres que estão grávidas, devido à possibilidade de produção de contrações uterinas, passiveis de resultar em aborto (MCQUAID, 2005; NAGEL; SHIELDS, 2009). 28 29 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Obtenção do extrato O extrato foi fornecido pelo Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho e Luiz Carlos Klein Junior do laboratório de Fitoquímica da UNIVALI. O extrato foi preparado conforme descrito à seguir: O material vegetal foi submetido à secagem em estufa de ar quente e circulante a 40°C. Após secagem, as folhas foram submetidas à moagem em liquidificador para fornecer pó fino. O pó obtido foi submetido à maceração em solução hidroalcoólica (1L) a 70%, durante 10 dias. O extrato metanólico obtido foi reunido e evaporado até secura, com auxílio de rotaevaporador, sua massa foi pesada e calculado o rendimento. 4.2 Animais Nos ensaios biológicos foram utilizados ratos machos Wistar pesando entre 180 – 200 g, provenientes do Biotério Central da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Os animais foram mantidos em caixas de polipropileno, colocados em sala climatizada (25 OC.), com período claro e escuro controlado automaticamente, tendo livre acesso à ração Labina e água. Antes dos experimentos, os animais foram mantidos em jejum, com livre acesso a água. Esta pesquisa foi submetida ao comitê de ética em pesquisa da UNIVALI/CEP e aprovada conforme o parecer número: 022/11 (ANEXO A). 4.3 Avaliação da atividade antiúlcera Para avaliar a atividade gastroprotetora do extrato metanólico de Phyllantus niruri, foram utilizados diferentes modelos experimentais descritos a seguir: 4.3.1 Úlcera induzida por etanol Este método foi descrito por Morimoto (1991). Os ratos foram submetidos inicialmente a jejum de 8 horas e, após esse período, divididos em diferentes grupos (n=6) que foram pré-tratados por via oral com omeprazol na dose de 30mg/kg (controle positivo), água destilada (controle negativo), extrato metanólico de Phyllantus niruri nas doses de 50, 125 e 250 mg/kg. Após 1 hora foi administrado aos animais 1mL de etanol absoluto (agente lesivo) por via oral e 1 hora após a 30 administração do agente lesivo, os mesmos foram sacrificados por deslocamento cervical; em seguida, os estômagos foram retirados e abertos ao longo da curvatura maior, sendo esticados em placas de parafina, e através de Scanner, as imagens foram captadas e analisadas por software de análise de imagens EARP, a fim de determinar o número de lesões e o percentual destas. 4.3.2 Úlcera induzida por Anti-inflamatório não esteroidal A metodologia utilizada foi descrita por Morimoto (1991). Após 8 horas de jejum, diferentes grupos de animais (n=6) foram tratados com extrato metanólico de Phyllantus niruri (50, 125 e 250 mg/kg), cimetidina (100 mg/kg, controle positivo) e água destilada (controle negativo), todos administrados via oral. Uma hora após a administração das diferentes doses, os animais receberam 100 mg/kg de indometacina (agente lesivo). Passadas oito horas após a administração de indometacina os animais foram sacrificados por deslocamento cervical e os estômagos retirados e abertos ao longo da grande curvatura; esticados e através de Scanner, as imagens foram captadas e analisadas por software de análise de imagens EARP, a fim de determinar a área total de lesão e a porcentagem de área lesada. Na figura 2, podemos observar as diferentes lesões produzidas nos modelos de úlcera induzida por etanol e AINEs, em comparação com um estômago sem lesões. O etanol (figura A) é mais agressivo à mucosa gástrica, pois solubiliza o muco em comparação à indometacina (figura B), que interfere na produção de muco. Figura 2 - Estômagos de ratos. A) úlcera aguda induzida por etanol. B) úlcera aguda induzida por anti-inflamatório não esteroidal. C) estômago sem lesão. 31 4.3.3 Avaliação da secreção gástrica - Ligadura de piloro Este experimento foi realizado de acordo com o método descrito por Shay et al. (1945), com algumas modificações. Os ratos foram submetidos a jejum por 8 horas com livre acesso a água, e divididos em diferentes grupos (n=6). Em seguida foram anestesiados e submetidos a uma incisão longitudinal, logo abaixo da apófise xifoide, para amarração do piloro e administração do extrato metanólico de Phyllantus niruri (50, 125 e 250 mg/kg), cimetidina (100 mg/kg, controle positivo) e água destilada (controle negativo), todos por via intraduodenal. Logo após os tratamentos, as incisões foram suturadas e quatro horas após a cirurgia, os animais foram sacrificados. As incisões foram reabertas e, após o pinçamento da cárdia, o estômago retirado. O conteúdo estomacal foi coletado e, em seguida, determinado o volume, pH e concentração de íons hidrogênio na secreção gástrica. Para tanto, ao conteúdo estomacal foi adicionada água destilada até completar o volume de 10mL. Esta solução foi centrifugada durante 10 minutos, a 3000 rpm; e o sobrenadante titulado com hidróxido de sódio (NaOH) 0,01N, utilizando fenoftaleína como indicador. A concentração total de ácido foi expressa em mEq/L/4h. O pH foi determinado em pHmetro modelo DM-22, marca Digimed®. 4.3.4 Doseamento de muco Este ensaio foi realizado de acordo com a metodologia descrita por Sun et al. (1991) com algumas modificações. Os animais foram separados em grupos (n=6). Após 24 horas de jejum, sob anestesia, foi realizada uma incisão no abdômen e a ligadura do piloro realizada. Imediatamente, após a ligadura do piloro, o extrato metanólico de P. niruri nas doses de 50, 125 e 250 mg/kg foram administradas via intraduodenal. Carbenoxolona (200 mg/kg) foi utilizada como controle positivo, e água como controle negativo. Os animais foram sacrificados 4 horas após os tratamentos. O conteúdo estomacal foi imerso em 10 mL de 0,02%, sacarose 0,16 M Alcian blue/0,05 M, solução de acetato de sódio, pH 5,8, e incubados por 24 h à 20ºC. Após, centrifugar-se a 3.000 RPM × 10 min, a absorção do sobrenadante foi determinada por espectrofotometria em 615 nm, (Spectrophotometer SP 2000 UV, BEL Photonics). O muco livre do conteúdo gástrico foi calculado a partir da quantidade de Alcian blue ligado ao tecido (mg/g de tecido). 32 4.4 Análise estatística Para a análise estatística dos resultados obtidos foi utilizada a análise de variância (ANOVA) e para comparação das médias dos grupos testados foi utilizado o teste de Dunnett, sendo que os valores com **p<0,01 e *p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos (SOKAL; ROHLF, 1995). 33 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Modelo de úlcera induzida por etanol A úlcera gástrica é uma patologia que acomete considerável número de pessoas no mundo. O uso abusivo de álcool e AINEs, o estresse, a hereditariedade, o tabagismo e a infecção por Helicobacter pylori tem sido considerados os principais fatores de risco responsáveis pela lesão da mucosa gástrica (KLEIN-JR et al., 2010). Quando a mucosa perde a capacidade de proteção através da produção de bicarbonato e muco, ocorrem lesões, que são desencadeadas devido a um desequilíbrio entre os agentes agressivos e defensivos, acarretando o surgimento de úlceras (LAM et al., 2007). A atividade gastroprotetora do extrato metanólico de P. niruri foi avaliada no modelo de úlcera aguda induzida por etanol, que é um agente necrosante, da mucosa gástrica, envolvendo a diminuição dos fatores protetores, como muco e bicarbonato, e aumentando os fatores agressores, como ácido clorídrico que inibe a proteção normal do estômago, reduzindo a síntese de prostaglandinas. Além disso, este está entre as principais causas envolvidas na etiologia de úlceras gástricas no homem (KLEIN-JR et al., 2010). Na figura 3 pode ser observado que o tratamento com extrato metanólico de P. niruri nas doses de 125 mg/kg (142,72±29), 250 mg/kg (36,95±34,39) e omeprazol 30 mg/kg (67,23±20,04), reduziram a área total (mm²) de lesões em comparação com o grupo controle negativo (333,71±62,42). Em comparação com o controle positivo (67,23±20,04) a dose de 250 mg/kg (36,95±34,39) obteve menor área de lesão. Na figura 4, na avaliação do percentual de lesão, as doses de 125 mg/kg (13,53±1,46) e 250 mg/kg (3,13±2,83) e omeprazol 30 mg/kg (5,22±1,27) reduziram o percentual (%) de lesão em comparação com o grupo controle negativo (28±4,98). Em relação ao controle positivo (5,22±1,27) a dose de 250 mg/kg (3,13±2,83) obteve menor porcentagem de lesão, demonstrando, que P. niruri apresenta atividade gastroprotetora semelhante ao omeprazol, tanto na redução de área lesada, quanto na porcentagem de lesão em úlcera induzida por etanol. 34 Figura 3 - Área de lesão ulcerativa induzida por etanol. 600 Controle Omeprazol 30 mg/kg P. niruri 50 mg/kg P. niruri 125 mg/kg P. niruri 250 mg/kg mm² 400 * 200 ** ** 0 Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre área total de lesões ulcerativas, induzidas por etanol. Animais controle positivo receberam, v.o., omeprazol (30 mg/kg) e controle negativo, veiculo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. Figura 4 - Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por etanol. 50 Controle Omeprazol 30 mg/kg P. niruri 50 mg/kg P. niruri 125 mg/kg 40 30 % 10 P. niruri 250 mg/kg * 20 ** ** 0 Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a porcentagem de lesões ulcerativas, induzidas por etanol. Animais controle positivo receberam, v.o., omeprazol (30 mg/kg) e controole negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. 35 5.2 Modelo de úlcera induzida por anti-inflamatório não esteroidal A indometacina e outros AINEs atuam inibindo a síntese das prostaglandinas através da inibição da enzima ciclooxigenase-1. As prostaglandinas desempenham um importante papel de proteção, estimulando a secreção de bicarbonato, muco e mantendo o fluxo sanguíneo (KUSHIMA et al., 2009; MALFERTHEINER; CHAN; MCCOLL, 2009). A inibição da síntese das prostaglandinas diminui os fatores protetores da mucosa, diminuindo a sua capacidade de resistir aos agentes agressores (KLEIN-JR et al., 2010). Na figura 5, o tratamento com extrato metanólico de P. niruri nas doses de 50 mg/kg (2,45±1,37), 125 mg/kg (0,59±0,49), 250 mg/kg (4,4±0,58) e a cimetidina 100mg/kg (1,43±0,59), reduziram significativamente (**p<0.01) a área de lesão (mm²) em comparação com o grupo controle (21,4±5,09). A dose de 125 mg/kg (0,59±0,49) obteve menor área de lesão em relação ao controle positivo (1,43±0,59). No percentual (%) de lesão, as doses de 50 mg/kg (0,25±0,14), 125 mg/kg (0,06±0,05), 250 mg/kg (0,5±0,07) e a cimetidina 100 mg/kg (0,40±0,19), reduziram significativamente (**p<0.01) a porcentagem de lesão em comparação com o grupo controle (2,33±0,51), como pode ser observado na figura 6. Em relação ao controle positivo (0,40±0,19) as doses de 50 mg/kg (0,25±0,14) e 125 mg/kg (0,06±0,05) obtiveram menor porcentagem (%) de lesão, demonstrando que P. niruri pode apresentar atividade semelhante à cimetidina. 36 Figura 5 - Área de lesão ulcerativa induzida por AINE. 40 Controle Cimetidina 100 mg/kg P. niruri 50 mg/kg mm² 30 P. niruri 125 mg/kg P. niruri 250 mg/kg 20 10 ** ** ** ** 0 Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a área total de lesões ulcerativas, induzidas por indometacina. Animais controle positivo receberam, v.o., cimetidina (100 mg/kg) e controle negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. Figura 6 - Porcentagem de lesão ulcerativa induzida por AINE. 4 Controle Cimetidina 100 mg/kg % 3 P. niruri 50 mg/kg P. niruri 125 mg/kg 2 P. niruri 250 mg/kg 1 ** ** ** ** 0 Nota: Efeito da administração oral do extrato metanólico de Phyllanthus niruri em diferentes doses (50, 125 e 250 mg/kg), sobre a porcentagem de lesões ulcerativas, induzidas por indometacina. Animais controle positivo receberam, v.o., cimetidina (100 mg/kg) e controle negativo, veículo. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. 37 Após a observação de que o extrato metanólico de P. niruri foi capaz de proteger a mucosa gástrica contra lesões induzidas por etanol e AINEs, passou-se a estudar se este extrato estaria interferindo de alguma maneira sobre a secreção ácida gástrica e a produção de muco, já que os fármacos utilizados na terapia atuam principalmente nesses mecanismos de ação. Deste modo, o modelo de ligadura de piloro foi realizado, a fim de avaliar a secreção ácida e quantificar o muco produzido. 5.3 Ligadura de piloro - Avaliação da secreção gástrica A ligadura de piloro avalia os parâmetros, pH, volume de secreção e concentração de H+, que estão envolvidos na secreção gástrica (LAKSHIMl, 2009). Como podemos observar na tabela 1 os extratos de P. niruri nas doses de 50 mg/kg (51,63±5,49), 125 mg/kg (54,57±1,87) e cimetidina 100 mg/kg (37,62 ± 4,86) apresentaram diminuição significativa (**p<0,01) da concentração de H+ (mEq/l/4h) em relação ao controle (79,49±3,91). Entretanto, o tratamento com extrato metanólico de P. niruri na diferentes doses não elevaram o pH gástrico em comparação com o grupo controle apenas o controle positivo aumentou o pH. Com o aumento da dose de P. niruri observamos o aumento da concentração de H+, consequentemente, diminuição da atividade anti-secretora, provavelmente pelo aumento de algum metabólito secundário que interfere na atividade gastroprotetora. Tabela 1 - Parâmetros avaliados na secreção gástrica. Tratamento Dose Volume (v.o.) (mg/kg) (mL) Controle pH [H+] mEq/l/4h 0,91 ± 0,16 2,97 ± 0,15 79,49 ± 3,91 Cimetidina 100 1,05 ± 0,25 5,44 ± 0,70** 37,62 ± 4,86** P. niruri 50 0,96 ± 0,16 3,29 ± 0,27 51,63 ± 5,49** P. niruri 125 0,99 ± 0,11 3,27 ± 0,11 54,57 ± 1,87** P. niruri 250 0,94 ± 0,13 3,70 ± 0,43 63,43 ± 5,46 Nota: Efeitos da administração intraduodenal de cimetidina e das diferentes doses do extrato metanólico de Phyllanthus niruri nos parâmetros bioquímicos da secreção gástrica de ratos submetidos à ligadura do piloro. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. 38 5.4 Doseamento de muco O muco é o principal agente protetor da mucosa, pois é a única barreira entre o epitélio e o lúmen do estômago, atuando como uma camada que retém o bicarbonato secretado pelas células epiteliais, proporcionando um ambiente com pH próximo a neutralidade, atuando como uma barreira física contra a ação da pepsina e ácido clorídrico do processo de digestão (ALQASOUMI et al., 2009). Como controle positivo, utilizamos carbenoxolona, um terpenóide isolado à partir da Glycyrrhiza glabra L. (alcaçuz). Seu mecanismo de ação está relacionado com o aumento de prostaglandinas que estimulam a produção de muco (KLEIN-JR et al., 2012). No doseamento de muco, pelo modelo de ligadura de piloro, o extrato metanólico na dose de 250 mg/kg (1,91±0,07) aumentou significativamente (p<0,05) o muco produzido (mg/g de tecido) pelo estômago quando comparado ao controle (1,38±0,10) e a carbeneloxona (1,73±0,02), como pode ser observado na tabela 2. Como podemos observar na tabela 2 a Phyllantus niruri obteve valor superior ao controle negativo e ao controle positivo na ligação de alcian blue no tecido, dessa forma, a atividade da P. niruri está relacionada com o aumento da produção de muco, que é a mesma resposta da carbenoxolona. Tabela 2 - Doseamento de muco. Tratamento Dose Alcian blue ligado (v.o.) (mg/kg) (mg/g tecido) Controle 1,38 ± 0,10 Carbenoxolona 200 1,73 ± 0,02 P. niruri 50 1,68 ± 0,11 P. niruri 125 1,77 ± 0,14 P. niruri 250 1,91 ± 0,07* Nota: Efeitos da administração intraduodenal de carbenoxolona e das diferentes doses do extrato metanólico de Phyllanthus niruri nos parâmetros bioquímico do doseamento de muco em ratos submetidos à ligadura do piloro. Diferença significativa em relação ao grupo controle (*p<0,05) (**p<0,01), ANOVA, teste a posteriori de Dunnett. 39 6 CONCLUSÃO Com os resultados dos diferentes testes de indução da úlcera aguda e da ligadura de piloro, conclui-se que: - O extrato metanólico de P. niruri, em diferentes doses, apresenta atividade gastroprotetora, evidenciada pelos efeitos de proteção da mucosa gástrica nos modelos de indução de úlcera por etanol e AINEs; - A atividade antiúlcera de P. niruri não está relacionada com a diminuição da secreção ácida, observamos que não houve dose-resposta na concentração de H+; - No doseamento de muco, o extrato metanólico de P. niruri na dose de 250 mg/kg apresentou aumento na quantidade de muco produzido pelo estômago em comparação ao controle negativo e ao positivo, assim, sendo uma possível via de atividade gastroprotetora da Phyllanthus niruri; - Em relação aos fármacos utilizados na terapêutica, omeprazol e cimetidina, P. niruri apresentou atividade semelhante a esses fármacos nos modelos de úlcera induzida por etanol e AINEs. Enquanto, no modelo de ligadura de piloro, P. niruri não apresentou atividade semelhante à cimetidina; - A gastroproteção deve estar relacionada com os metabólitos secundários presentes na Phyllanthus niruri, que são os terpenos, flavonoides e alcaloides já descritos na literatura com a atividade antiulcerogênica; - Há necessidade de mais estudos para investigar a influência de compostos sulfidrilas e de óxido nítrico que podem estar relacionados à atividade antiúlcera, além de estudos toxicológicos da planta; - Este estudo torna a planta um alvo de estudo para o desenvolvimento de um novo fitoterápico com atividade gastroprotetora. 40 41 REFERÊNCIAS ALONSO, J. Tratado de fitofármacos y nutracéuticos. Rosario: corpus libros, 2004. p. 931-934. ALQASOUMI, S.; AL-SOHAIBANI, M.; AL-HWIRINY, T.; AL-YAHYA, M.; RAFATULLAH, S. Rocket “Eruca sativa”: A salad herb with potential gastric anti-ulcer activity. World Journal of Gastroenterology, v. 15, n. 16, p. 1958-1965, 2009. ALQASOUMI, S.; AL-SOHAIBANI, M.; AL-HWIRINY, T.; AL-YAHYA, M.; RAFATULLAH, S. Rocket “Eruca sativa”: A salad herb with potential gastric anti-ulcer activity. World Journal of Gastroenterology, v. 15, n. 16, p. 1958-1965, 2009. BARRETT, K. E.; RAYBOULD, H. E.; Fase gástrica da resposta integrada à refeição In: KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy Fisiologia.. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Volume 2. cap. 28, p. 509-519. BARROS, M. P.; LEMOS, M.; MAISTRO, E. L.; LEITE, M. F.; SOUSA, J. P. B.; BASTOS, J. K.; ANDRADE, S. F. Evaluation of antiulcer activity of the main phenolic acids found in Brazilian Green Propolis. Journal of Ethnopharmacology, n. 120, p. 372-377, 2008. BRZOZOWSKI, T. Experimental production of peptic ulcer, gastric damage and cancer models and their use in pathophysiological studies and pharmacological treatment – Polish achievements. Journal of Physiology and Pharmacology, n. 54, p. 99-126, 2003. CALAM, J.; BARON, J. H. 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