LITERATURA INFANTIL NO BRASIL – FIGUEIREDO PIMENTEL
SILVA, Fernanda Rachel Camargo da Silva1 - UEPG
Resumo: Este trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão sobre o processo de inserção da
literatura infantil no Brasil, levantando seus aspectos históricos e abordando de uma maneira crítica
sobre como este processo se concretizou, abordando qual era o real objetivo de se trabalhar a
literatura com as crianças brasileiras. Visando que os elementos que incentivaram esta inserção se
deram através de um projeto de modernização da imagem deste país, transformando assim o modo
atrasado pelo qual o Brasil era visto pela Europa. O trabalho abrange ainda um dos precursores da
introdução da literatura brasileira que é Alberto Figueiredo Pimentel, conhecido como Figueiredo
Pimentel. Suas obras começaram a ser produzidas a partir de 1894, solidificando-se como um marco
desta introdução. O trabalho foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica, buscando
compreender a perspectiva da literatura de Pimentel para o Brasil, obtendo como conclusão que as
obras apresentadas pelo autor são ricas de sensibilidades, contendo fantasias e lirismos, tendo como
base as tradições populares luso-brasileiras e, que através de suas traduções as obras se
concretizaram em forma dos famosos Contos da Carochinha, das cantigas de berços e de rodas e
das brincadeiras infantis. Suas obras também contêm valores da formação da nova mentalidade,
abrangendo novos questionamentos, buscando construir novos valores para conhecer o mundo da
leitura.
Palavras-Chave: texto literário; infância; Contos da Carochinha.
Introdução
A literatura infantil foi implantada no Brasil com chegada de João VI em
1808, através da Imprensa Régia. Neste momento os contos eram as traduções dos
livros de Charles Perrault2 e dos Irmãos Grimm3.
Foi no final do século XIX que se iniciou uma preocupação com este gênero
literário, pois o país estava caminhando para o processo de modernização e dessa
maneira a imagem do Brasil precisava ser apresentada como algo grande,
poderoso, com cidadãos críticos, nacionalistas e civilizados.
Para isso se concretizar o espaço escolar se tornou um fator importante, era
ali que começou a circulação de obras de exaltação do país, assim, iniciou-se a
produção didática e literária destinada ao público infantil que seriam os futuros
cidadãos do Brasil.
Nesse sentido discussões acerca do material para o público infantil são
levantadas, pois a leitura era realizada através das adaptações européias, e as
1
Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG; [email protected];
2
Escritor fabulista francês, nascido em Paris em 1628 e falecido em 1703, em Paris. Seus trabalhos apresentam situações
dos conflitos humanos, e também contém um vasto mundo da simbologia. Uma das suas histórias conhecidas é
Chapeuzinho Vermelho).
3
Jacob Ludwing e Wilheim Carl Grimm nasceram em 1785 e 1786, respectivamente, em Hanau, Alemanha. Valorização as
histórias populares, seus trabalhos envolvem contos de encantamento, uma das obras conhecidas é O flautista de
Hamelin.
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edições que aqui circulavam eram portuguesas e “se distanciava bastante da língua
materna dos leitores brasileiros”4, dessa forma houve
a necessidade do abrasileiramento dos
textos,
aumentando
sua
penetração junto às crianças, o início da literatura infantil brasileira fica
marcado pelo transplante de temas e textos europeus adaptados à
linguagem brasileira.5
Com essa adaptação as exigências do Estado apontavam para que os
materiais destinados às crianças abrangessem o culto cívico, o nacionalismo, o culto
a língua pátria, o intelectualismo, o moralismo e a religiosidade, dessa maneira a
literatura brasileira inicia neste momento uma função ideologicamente conservadora
de formação patriótica das crianças.
Alberto Figueiredo Pimentel
Um dos primeiros autores desta época que passou a adaptar os contos
europeus foi Alberto Figueiredo Pimentel, nascido no Rio de Janeiro em 1869 e
falecido em 19146, foi poeta, romancista, cronista, jornalista, autor de literatura
infantil e tradutor.7
Alberto Figueiredo Pimentel se tornou Figueiredo Pimentel, pseudônimo que
utilizava para publicar as histórias infantis trazidas especialmente de Portugal.
Figueiredo trabalhava com as tradições luso-brasileiras, com cantigas de berços e
de rodas, foi o divulgador das traduções dos contos de Charles Perrault, dos Irmãos
Grimm e de Hans Christian Andersen, em suas obras Contos da Carochinha (1894),
Histórias da Avózinha (1896), Histórias da Baratinha (1896) e Contos de Fada
(1896)8.
Segundo Gracioto, os contos de Figueiredo eram diferenciados do que
estava sendo trabalhando no âmbito educacional, pois os mesmos resgatavam o
4
ALBINO, Lia Cupertino Duarte. A literatura infantil no Brasil: origem, tendências e ensino. p. 2. Disponível em:
www.litteratu.com.br/literatura_infantil.pdf Acesso em: 5 set. 2010.
5
ALBINO, loc cit.
6
Disponível em: www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/figueire.htm Acesso em 5 set. 2010.
7
Disponível em: www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor_nav.php?autor=4661 Acesso em 5 set. 2010
8
SILVA, Rosa Maria Gracioto. Os Contos de Fadas no Mundo
http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/1800/1567 Acesso em 5 set. 2010.
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2
Lobatiano.
p.
2.
Disponível
em:
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popular e o mundo mágico, “através de uma linguagem solta, livre, espontânea e
bem brasileira, para o tempo, subvertendo, assim, os cânones da época” 9
Contos da Carochinha
O termo carochinha vem de Portugal, que significa baratinha, e no território
luso os contos eram chamados de Contos da Dona Baratinha. Aqui no Brasil Dona
Carochinha representa uma velhinha bondosa contadora de histórias, porém
segundo o dicionário carocha signifique besouro, barata, mas para que os contos
tivessem mais encanto, Monteiro Lobato, famoso escritor brasileiro de literatura
infantil, transformou o termo em Contos da Dona Carochinha, nos quais contém as
histórias populares, tradicionais, e os contos do mundo encantado.
Figueiredo Pimentel organizou em seus Contos da Carochinha 61 contos, e
obteve êxito em seu trabalho, pois esta sua primeira “obtivera entre 1894 e 1931, o
número de cem mil exemplares colocados no mercado”.10
Nestes contos podemos encontrar as histórias européias que falavam das
fadas encantadas, as histórias de origem portuguesa, “e também narrativas
contadas pelas escravas que cuidavam das crianças brasileiras no século XIX” 11.
Os escritos de Figueiredo Pimentel, além de proporcionar o trabalho com a
imaginação, tinham um cunho socializador, trabalhava-se com exaltações à pátria, o
discurso também continha valores moral, de forma sistematizadora, pois era a
ordem vigente da época.
Os Contos da Carochinha de Pimentel eram compostos, por exemplo, de
uma das versões sobre A Festa lá no Céu, na qual o autor narra a história sobre O
cágado e o urubu, há também A Casa Mal-assombrada, A onça e o gato, A Bela e a
Fera e o Patinho Aleijado, entre outros.
Patinho Aleijado é uma tradução da obra de Hans Christian Andersen, em
que Figueiredo aborda a imaginação pessoal, os costumes tradicionais, através dos
bichos, demonstrando também um lado humanitário da história.
9
ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1986 apud SILVA, loc. cit.
10
ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para as crianças: para conhecer a literatura infantil brasileira:
histórias, autores e textos. São Paulo: Global, 1986 apud SILVA, loc. cit.
11
BARBOSA, Ângela Márcia Damasceno Teixeira. Antigos Contos, Novas Histórias na Literatura Infantil Brasileira.
Disponível em: www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_007/LINGUAGEM/Antigos%20Contos.pdf
Acesso em: 6 set. 2010.
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O conto apresenta os valores vigentes da época para a criança no âmbito
educacional. Podemos perceber o trabalho com as questões dos adjetivos, a
questão do bonito versus o feio, em que o bonito está relacionado com o correto, e
o feio não deve estar incluído na sociedade, o feio no sentido de não pertencer
àquele espaço.
Aponta para a formação ideal de comportamento, produzidos pelos ideias
moralistas da família burguesa e da Igreja Católica, o comportamento deveria ser
regido de acordo com o que foi construído historicamente como correto.
Porém neste conto essas questões levantadas não servem como lições
doutrinárias, pois a moral confunde-se com a beleza e o lirismo do conto.
Figueiredo como Andersen trabalhou também os fatores da sensibilidade e da
fantasia. Através desse conto o autor penetrou nas reações humanas, fazendo uma
reflexão sobre a exclusão das pessoas, a questão do ser humano se colocar no
lugar do outro nas diversas situações do cotidiano, demonstrando que todas as
pessoas possuem ou já se sentiram como um patinho aleijado.
Mas a mensagem real é transmitida através de uma bela simbologia que
aponta para a verdadeira beleza que todos possuem, a interior, e que não são as
aparências que ditam o que uma pessoa é ou deixa de ser.
Referências
Alberto Figueiredo Pimentel. Disponível em:
www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor_nav.php?autor=4661 Acesso em 5 set. 2010
ALBINO, Lia Cupertino Duarte. A literatura infantil no Brasil: origem, tendências e ensino.
Disponível em: www.litteratu.com.br/literatura_infantil.pdf Acesso em: 5 set. 2010.
BARBOSA, Ângela Márcia Damasceno Teixeira. Antigos Contos, Novas Histórias na Literatura
Infantil Brasileira. Disponível em:
www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_007/LINGUAGEM/Antigos
%20Contos.pdf Acesso em: 6 set. 2010.
Literatura Infantil (1880-1910). Disponível em:
www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/figueire.htm Acesso em 5 set. 2010.
PIMENTEL, Figueiredo. Histórias da Avozinha. p.14-17 Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000137.pdf Acesso em: 7 set. 2010.
SILVA, Rosa Maria Gracioto. Os Contos de Fadas no Mundo Lobatiano. Disponível em:
http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/1800/1567 Acesso em 5 set. 2010.
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