A PRÁTICA DO ESTUDO DE USUÁRIO NA BIBLIOTECA “ACÁCIO JOSÉ SANTA ROSA” (UNESP) Cristiane L. S. Garcia1, Ivanilda de L. R. Lima2, Vânia A. M. Favato3 1 Mestranda, PPG em Ciência da Informação da FFC – UNESP – Campus de Marília 2 Bibliotecária, FCL – UNESP - Campus de Assis 3 Bibliotecária e Mestre em Ciência da Informação - FCL – UNESP – Campus de Assis Resumo A prática de estudos de usuários é uma importante ferramenta para o planejamento e avaliação em bibliotecas. Por isso, foi realizado um estudo dos usuários da biblioteca “Acácio José Santa Rosa” da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus da cidade de Assis, por meio de um questionário estruturado, construído através do site SurveyMonkey, e distribuído aos participantes via endereço eletrônico (e-mail). Para acessar o questionário, disponibilizou-se um link na página da biblioteca, durante o período de 01/06 a 05/07/2009. O questionário foi estruturado com quatro questões, sendo as três primeiras de múltipla escolha e a última questão aberta. Após o período de coleta, os dados foram sistematizados e tabulados em gráficos e tabelas. Os resultados revelaram a opinião de parte dos usuários quanto a elementos da infraestrutura, acervo e características da biblioteca. Palavras-Chave: Estudo de usuário; Biblioteca; Faculdade de Ciências e Letras; UNESP. Abstract The practice of user study is an important tool for the planning and evaluation in libraries. For this reason a study was done with the users of the library “Acácio José Santa Rosa” of Science and Letters College of UNESP Campus of Assis city, using a structured questionnaire, built through the site SurveyMonk and distributed for the participants by electronic address (e-mail). To access the questionnaire, a link in the library’s page was available during the period of 06/01 until 07/05. The questionnaire was structured with four questions, the first three questions were multiple choices and the last one was an open question. After the collection period the data was systematized and tabbed in graphics and tables. The results revealed the opinion of a part of the users about elements of infrastructure, collection and features of the library. Keywords: User Study; Library; Science and Letters College; UNESP. 1 Introdução A prática dos estudos de usuários tem alcançado importante lugar entre as metodologias adotadas por diversos segmentos. Em centros de informação, como as bibliotecas, os estudos de usuários vêm atender às necessidades latentes destes ambientes: entender o usuário, suas dificuldades e anseios, e desenvolver produtos e serviços de maneira a satisfazer às necessidades informacionais. A biblioteca “Acácio José Santa Rosa” da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus da cidade Assis, é fonte de apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão da faculdade, atendendo, além dos usuários locais, os demais usuários da rede de Bibliotecas da UNESP e de outras redes com quem a UNESP coopera e das quais participa. Para melhor desenvolvimento de seus produtos e serviços, considerou importante conhecer a necessidade dos seus usuários em relação ao espaço e aspecto físico da biblioteca. Desta forma, optou-se por um estudo de usuário como forma de coleta de dados. O foco principal foi entender e conhecer suas expectativas, em vista dos problemas percebidos pela comunidade acadêmica nos últimos tempos. 2 Revisão de Literatura Os estudos de usuários buscam, por meio de técnicas planejadas, entender o usuário de uma unidade de informação. Suas necessidades, perfil, anseios podem ser levantados, se o estudo for planejado e aplicado de maneira eficiente. Conforme Baptista e Cunha (2007, p.169), os estudos de usuários visam “coletar dados para criar e/ou avaliar produtos e serviços informacionais, bem como entender melhor o fluxo da transferência da informação”. Ferreira (2002) cita as diversas e diferentes fases de estudos de usuários: a) Inicialmente, final da década de 40, os estudos de usuário tinham como objetivo agilizar e aperfeiçoar serviços e produtos prestados pelas bibliotecas. Estes estudos restringiram-se a área de Ciências Exatas. b) Na década de 50 intensificam-se os estudos sobre o uso da informação entre grupos específicos de usuários, abrangendo já as Ciências Aplicadas. c) Só nos anos de 60 é que se enfatiza o comportamento dos usuários; surgindo estudos de fluxo da informação, canais formais e informais. Os tecnólogos e educadores começam a serem pesquisados. d) Já na década de 70, a preocupação maior passa a ser o usuário e a satisfação de suas necessidades de informação, atendendo outras áreas do conhecimento como: humanidades, ciências sociais e administrativas. Datam dessa década os primeiros trabalhos na literatura especializada sobre o tema. e) A partir de 80, os estudos estão voltados à avaliação de satisfação e desempenho. Levantar e entender as necessidades dos usuários são essenciais para qualquer unidade de informação. Qualquer centro informacional tem, ou ao menos deveria ter, o usuário como foco principal. Figueiredo (1979, p. 79) considera: Estudos de usuários são investigações que se fazem para se saber o que os indivíduos precisam, em matéria de informação, ou então, para saber se as necessidades de informação, por parte dos usuários de um centro de informação estão sendo satisfeitas de maneira adequada. Os estudos de usuários podem ser classificados segundo seus objetivos como: estudo de uso, estudos de demanda, estudos de usuários e estudos de necessidade. No estudo de uso, há a verificação do uso da biblioteca/centro de informação, de seus produtos e serviços. No estudo de demanda, é analisado o que de fato o usuário formaliza quando recorre à biblioteca, pedidos feitos ao sistema, ao bibliotecário. No estudo de necessidade, explora-se a necessidade de informação do usuário, que é diferente do seu desejo; o desejo está mais ligado ao que o usuário está disposto a buscar, e não ao que ele precisa realmente. 3 Materiais e Métodos O estudo de usuário foi realizado por meio de um questionário estruturado, construído através do site SurveyMonkey, e distribuído aos participantes via endereço eletrônico (e-mail). Para acessar o questionário, disponibilizou-se um link na página da biblioteca, durante o período de 01/06 a 05/07/2009. O questionário foi estruturado com quatro questões, sendo as três primeiras de múltipla escolha e a última questão aberta. Baptista e Cunha (2006) definem o questionário como “uma lista de questões formuladas pelo pesquisador a serem respondidas pelos sujeitos pesquisados”. Cunha (1982) aponta as vantagens da aplicação do questionário: é um método rápido em termos de tempo, e de baixo custo; atinge uma grande população dispersa; dá maior grau de liberdade e tempo ao respondente; evita distorções; e permite a obtenção de dados muitas vezes superficiais. O universo foi a Biblioteca “Acácio José Santa Rosa”, e a população alvo, professores, alunos e servidores do Campus. Após o período de coleta, os dados foram sistematizados e tabulados em gráficos e tabelas. 4 Resultados Parciais/Finais Foram obtidas 259 respostas ao questionário, o que equivale a 9,45% do total de usuários da biblioteca (2.741 usuários cadastrados). A primeira questão refere-se ao segmento a que o respondente pertence dentro da universidade. Os resultados mostram que a maior parte dos respondentes são alunos de graduação (72%), seguidos dos docentes (12%), alunos de pósgraduação (10%) e funcionários (6%). Os discentes de graduação constituem a maioria entre os usuários cadastrados na biblioteca. A segunda questão refere-se a aspectos da biblioteca, e traz as opções ‘bom’, ‘regular’, ‘ruim’ ou ‘item desconhecido’, para que o respondente classifique cada um dos aspectos listados. Foram construídas categorias para reunir os 23 aspectos que a questão engloba: • Aspectos relativos à infraestrutura do prédio; • Aspectos relativos ao acervo; • Aspectos relativos à climatização e à iluminação; • Aspectos relativos ao mobiliário e aos computadores. A seguir, os gráficos demonstram as respostas segundo cada uma das categorias estabelecidas para a questão 2: Figura 1: Classificação de aspectos relativos à biblioteca – climatização e iluminação. Fonte: Elaborado pelas autoras. Segundo dados apresentados na Figura 1, para a maioria dos respondentes, os aspectos temperatura, ventilação e ar condicionado são bons. Quanto ao barulho (interno e externo), a maioria concorda que seja ruim. Aproximadamente 40,15% dos respondentes afirmaram que o barulho interno é ruim; 32,43%, regular; e 24,36%, bom. A respeito do barulho externo, os resultados foram similares: 49,80%, ruim; 18,92%, regular; e 25,88%, bom. Estes dados vão de encontro a reclamações frequentes quanto ao excesso de barulho durante o funcionamento da biblioteca, cujas causas são: a falta de espaço reservado para estudo individual e em grupo, o que resulta no uso dos espaços comuns da biblioteca para estudo; e o funcionamento de salas de aulas dentro do mesmo prédio em que a biblioteca está localizada. Figura 2: Classificação de aspectos relativos à biblioteca – infraestrutura do prédio. Fonte: Elaborado pelas autoras. Através das respostas obtidas segundo dados da Figura 2, alguns itens, como sala de obras raras, sistema contra incêndio e auditório, são desconhecidos pela maioria dos respondentes. Outro item que chamou atenção foi o acesso à biblioteca, onde, dos 259 respondentes (78%), 201 declaram ser bom. Quanto à existência de salas de aula no mesmo prédio da biblioteca, 42% responderam ruim; 24%, regular; e 26%, bom. Figura 3: Classificação de aspectos relativos à biblioteca – acervo. Fonte: Elaborado pelas autoras. Quanto à classificação dos itens relacionados ao acervo da biblioteca, a Figura 3 traz os resultados. Em relação aos quatro itens listados (área para leitura de jornais, sinalização, expositor de novas aquisições e disposição das estantes), a maioria das respostas foi “bom”. Figura 4: Classificação de aspectos relativos à biblioteca – mobiliário e computadores. Fonte: Elaborado pela autora. As respostas obtidas quanto ao mobiliário e computadores (Figura 4) revelam que a quantidade de mobília (mesas e cadeiras) para a maioria dos usuários é boa, mas a quantidade de computadores disponíveis é reconhecida pela maioria como ruim. A questão número 3 refere-se à necessidade de itens inexistentes na biblioteca. As alternativas são: muito necessário, necessário, pouco necessário e dispensável. Dos dez itens relacionados, sete foram classificados como muito necessários, com destaque para a sala de estudo individual, sala de estudo em grupo e rampa. Com relação à sala de estudo em grupo, 53,28% disseram ser muito necessário; 34,36% afirmaram ser necessário; 7,33%, pouco necessário; e apenas 3,47% afirmaram ser dispensável. Quanto à sala de estudo individual: 52,12%, muito necessário; 25,48%, necessário; 16,60%, pouco necessário; e 4,63%, dispensável. Quando pesquisado sobre a necessidade de um prédio próprio, a maioria registrou “muito necessário”. Somando-se as respostas dos que declararam ser “necessário” e “pouco necessário” à alternativa “muito necessário”, obter-se-á o total de aproximadamente 87% das respostas, deixando evidente que 87% dos respondentes consideram, com grau de necessidades diferentes, que a biblioteca deve ter um prédio próprio. A seguir, a figura 5 traz a porcentagem das respostas. Figura 5: Necessidade de um prédio novo para as instalações da biblioteca. Fonte: Elaborado pelas autoras. A questão 4 pede que o respondente relacione dados que considera relevantes para melhorar a infraestrutura das bibliotecas. Esta pergunta, apesar de aberta e opcional, foi respondida por 61 usuários, ou seja, 23% do total de respondentes. Com tal adesão, resolveu-se construir categorias que abrangessem todas as respostas de maneira geral. As categorias foram rotuladas como reclamações sobre: 1. Acervo 2. Barulho 3. Infraestrutura do prédio 4. Mobiliário 5. Local reservado para estudo (individual e em grupo) 6. Atendimento por parte funcionários 7. Sistema de automação da biblioteca 8. Computadores para usuários 9. Outros A partir das categorias estabelecidas, foi possível o levantamento de alguns dados relevantes para o presente estudo. A categoria “outros” engloba os itens que foram citados uma ou duas vezes, referentes à insatisfação dos usuários em relação ao: processamento técnico (1 resposta), câmeras de vídeo (1 resposta), inexistência de copiadora (2 respostas), sinalização (1 resposta), política da biblioteca (1 resposta), assinatura de revistas (1 resposta), sistema de cobrança de multas (1 resposta), serviço de empréstimo entre bibliotecas (1 resposta), educação do usuário (1 resposta), guarda-volumes (1 resposta), serviço de empréstimo (1 resposta), obras raras (2) e senha de acesso ao sistema (1 resposta). É importante ressaltar que não se tentou julgar a relevância das respostas agrupadas a categoria “outros”; estas foram assim agrupadas por representarem reivindicações singulares. A figura seguinte traz um gráfico com a representação das respostas extraídas da questão 4: Figura 6 – Outros dados considerados relevantes pelos usuários. Fonte: Elaborado pela autora. 5 Considerações Parciais/Finais A partir do estudo realizado, pôde-se obter a opinião de usuários da biblioteca. Embora não se tenha alcançado todos os usuários, considerou-se que os dados levantados através deste estudo constituem importante instrumento para ações futuras da biblioteca. O estudo de usuário deve ser uma prática constante nas fases de planejamento, execução e avaliação das atividades da biblioteca. O planejamento das atividades da biblioteca deverá ser revisto, considerando as necessidades do usuário. Através deste estudo, foi possível evidenciar reivindicações que já haviam sido feitas pelos próprios usuários, porém de maneira informal. A formalidade resultante dos dados deste estudo possibilita o uso das informações para a administração. 6 Referências BAPTISTA, Sofia Galvão.; CUNHA, Murilo. Bastos. Estudo de usuários: visão global dos métodos de coleta de dados. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 12, n. 2, p. 169, maio/ago. 2007. 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