EVOLUÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CASO SANTA ROSA/RS Marcelo Antonio De Conti Acadêmico de Engenharia Civil – DCEEng - UNIJUÍ [email protected] Djeison Fernando Drey Mestrando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental - UFSM [email protected] Marcelle Engler Bridi Docente Engenharia Civil - UNIJUÍ [email protected] Giuliano Crauss Daronco Docente Engenharia Civil - UNIJUÍ [email protected] Resumo. Este artigo apresenta parte de uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo, realizada como parte do trabalho de conclusão de curso de graduação em engenharia civil acerca da gestão de resíduos sólidos urbanos na cidade de Santa Rosa. São apresentados dados e informações, recentes e históricas sobre resíduos, sua produção e gestão. Analisa-se, ainda, algumas cidades europeias e norte americanas as quais encontram-se em níveis mais avançados de gestão. Por obrigatoriedade ou não, temos que o município encontra-se em melhorias constantes na gestão dos resíduos sólidos, podendo até ser equiparado a municípios de países desenvolvidos se levar em consideração as idades e o processo de formação de ambos. Palavras-chave: Gestão dos Resíduos Sólidos, Saneamento, Coleta Seletiva. 1. INTRODUÇÃO O crescimento da população urbana estimulado pelas fortes industrializações, bem como o aumento do poder aquisitivo vêm instrumentalizando uma acelerada geração de grandes volumes de resíduos sólidos no entorno das cidades, o que chamava-se de lixo. (BIDONE; POVINELLI, 1999). Tendo em vista a legislação existente e o recente surgimento de novas leis e planos na área da gestão de resíduos no país, o Brasil caminha em busca de uma Política de Saneamento mais eficiente e ambientalmente correta. Dessa forma, há a necessidade dos municípios em se adequarem às exigências federais, como no caso de Santa Rosa/RS, o qual também busca uma melhoria contínua em seus processos, acompanhando a legislação vigente. 2. RESÍDUOS SÓLIDOS A NBR 10.004 – Resíduos Sólidos – Classificação (ABNT, 2004), define como resíduos os materiais resultantes de atividades agrícolas, domésticas, hospitalares, industriais ou varrição, em seu estado sólido ou semissólido, bem como os líquidos que não podem ser lançados na rede pública de esgoto ou corpos de água. A ABNT classifica os resíduos sólidos em classes I, II, II A e II B, sendo eles perigosos e não perigosos, inertes e não inertes. Ainda caracteriza-os quanto a sua inflamabilidade pelo seu ponto de fulgor, XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil corrosividade pelo Ph do material, reatividade, toxicidade conforme seus componentes químicos e patogenicidade. Segundo Mendes (2012), os Resíduos Sólidos se caracterizam basicamente em orgânicos, com origem em seres vivos (animais ou vegetais) e inorgânicos, sem origem biológica, surgido a partir do trabalho humano. São constituídos por um conjunto de materiais muitos heterogêneos, havendo a necessidade de reagrupar conforme seus componentes de composição. Desde os tempos remotos, o homem se desfaz do lixo de forma prática, abandonando-o em qualquer local fora de seu alcance de visão (CRUZ, 2005). Isso torna-se um problema somente quando começam a surgir as comunidades onde os resíduos aumentam, tornando-se indispensável a busca por soluções para sua eliminação (CRUZ, 2005). A Revolução Industrial, consequente do desenvolvimento das sociedades, trouxe uma contribuição positiva no que diz respeito ao desenvolvimento econômico e industrial, porém, de forma conjunta, aumentou proporcionalmente o problema da gestão dos resíduos, pois exigiu a geração de resíduos em maiores quantidades e com novas características. (CRUZ, 2005). Cruz (2005), afirma que somente no final do século XIX surgiu na Inglaterra e nos Estados Unidos da América uma “consciência ambiental”, traduzindo-se na responsabilidade governamental de coleta dos resíduos, bem como em normas que regulamentam a disposição final destes resíduos no solo ou no meio hídrico. Segundo a United States Environmental Protection Agency (USEPA, 2014), os americanos geraram no ano de 2000, 231,9 milhões de toneladas de resíduos e, em 2012, foram cerca de 251 milhões de toneladas, destes foram reciclados ou compostados apenas uma taxa de 34,66%, ou seja, apenas 87 milhões de toneladas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008 no Brasil, cerca de 64% dos resíduos produzidos eram depositados em aterros sanitários e a triagem de materiais e a compostagem de materiais orgânicos não somavam 2% do total produzido. 2.1 Gestão dos Resíduos Conforme a Lei nº 9.921 (1993), que dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos nos termos da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, a gestão dos resíduos sólidos é composta pela implantação dos serviços adequados com análise aos aspectos econômicos, técnicos, financeiros, ambientais, sociais e legais, estabelecendo diretrizes desde sua geração até sua disposição final correta. 2.2 Casos Analisados Azevedo (2004), afirma que em Dilbeek na Bélgica se instalou um sistema de pagamento por domicílio, no qual são vendidas embalagens para o armazenamento e transporte dos resíduos. O custo dessas embalagens varia de acordo com o tamanho e volume, e o custo total de disposição varia de acordo com o número de embalagens que se utiliza (AZEVEDO, 2004). Azevedo (2004) afirma que na cidade de Les Soriniéres na França, foram adotadas algumas medidas para uma melhor gestão dos resíduos, dentre elas a obrigatoriedade de separação dos resíduos pelos geradores e a implantação de uma taxa de assinatura de coleta que dá direito ao contratante do “numero” de coletas conforme contratado. Barros Júnior, Tavares e Barros (2003) sugeriram um modelo para a cidade de Maringá/PA, baseado na separação do resíduo na origem, sendo que com a coleta de forma separada, aumentaria o índice de materiais recuperados, formando-se assim uma ideia de recuperação de energia na redução, reutilização e reciclagem de objetos e materiais ao invés da recuperação da energia gerada pela incineração. 2.3 Caso Santa Rosa/RS XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil Santa Rosa é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, integrante da mesorregião Noroeste Rio-Grandense e da microrregião Santa Rosa. Possui uma população de 68.587 (IBGE, 2010), sendo que cerca de 88% da população vive no perímetro urbano da cidade (FEE, 2011), uma proporção muito maior do que se apresentava em 1970, onde mais de 40% da população era rural. Conforme os dados do FEE (2013), a coleta dos resíduos nos domicílios em Santa Rosa vem crescendo de forma significativa, sendo que em 1991 apenas 75,9% dos domicílios eram dispostos pelo serviço, já em 2010, o serviço passou a cobrir quase 96% dos domicílios santa-rosenses. Figura 1: Residências com serviço de coleta de lixo em Santa Rosa/RS própria de coleta e destinação. A partir de 2010 até o presente momento, o município passou da administração de pública para a privada na forma de contratação emergencial. Apesar do município ainda não possuir um plano de gestão integrada de resíduos sólidos, o qual encontra-se em processo de elaboração, o município conta com uma coleta seletiva dos resíduos com a correta destinação dos orgânicos na forma de compostagem em aterro licenciado. Os resíduos secos são separados por catadores e empresas privadas dentro do próprio município sendo que o beneficiamento é efetuado por empresas licenciadas e fora do município. Com a terceirização dos serviços em 2010, o município passou a ter uma despesa maior, tendo em vista que a destinação dos resíduos passou a ser controlada, ambientalmente correta e legal. Essa despesa o município repassa em forma de taxa anual aos proprietários dos imóveis urbanos, sendo que essa cobrança foi repassada somente no presente ano de 2014. Conforme os dados orçamentários do município, as receitas e despesas em relação à coleta de resíduos, são apresentados na Figura 2. Figura 2: Receitas e despesas com a coleta e destinação dos resíduos e Santa Rosa/RS Se analisarmos apenas as residências rurais, temos que em 1991 menos de 1% destas possuíam um sistema de coleta de resíduo, já em 2010, 66% das residências passaram a conter tal serviço. Em virtude do aumento na coleta de resíduos, consequentemente houve uma diminuição das destinações clandestinas como o lançamento a céu aberto que caiu de 4,1% em 1991 para 0,1% em 2010 e o enterro sem tratamento que caiu de 9,3% em 1991 para 0,6% em 2010 (FEE, 2013). Até o ano de 2010 o município possuía uma coleta de resíduos com administração Observa-se que as despesas anuais com a coleta e o tratamento dos resíduos continuaram crescentes até o final do ano de XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil 2014, e que a maior parte das taxas para o ano já foram recolhidas, sendo que os dados são do mês de agosto. Temos ainda que no ano de 2012 foi coletado pela empresa cerca de 14 mil toneladas de resíduo e em 2013 cerca de 15 mil. Para o ano de 2014, até o mês de julho, já passam dos 9,6 mil toneladas, com uma expectativa de chegar a 17 mil toneladas. 3. BARROS JÚNIOR, C.; TAVARES, C. R. G.; BARROS, S. T. D., Modelo de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos – Estudo de caso para o município de Maringá, estado do Paraná. Acta Scientiarum. Tecnology,v.25, nº1, p.17-25, Maringá/PR, 2003. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Cruz (2005), o grau de desenvolvimento de uma nação é entendido não só pelo seu poder aquisitivo ou pela sua cultura, mas também pela aplicação de seus meios financeiros, buscando minimizar ou solucionar os problemas da sociedade, aplicando recursos em saneamento básico, procurando melhorar a qualidade de vida da população. Neste contexto, temos que o município de Santa Rosa apresenta avanços na gestão dos resíduos sólidos, podendo em alguns anos ser comparado a municípios de países desenvolvidos, pois mesmo de forma lenta, comparado às necessidades ambientais, se analisado as situações de municípios com histórico mais longo, Santa Rosa encontra-se em um elevado nível de gestão. Ainda devemos observar que por obrigatoriedade ou não, o município encontra-se em constante melhoria na gestão de seus resíduos sólidos, sendo assim alcançará níveis mais elevados de controle e gestão em um período de tempo menor que alguns países desenvolvidos. 4. Escola Politécnica – Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA, 2004. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos - classificação. Rio de Janeiro, 2004. AZEVEDO, G. O. D., Por Menos Lixo: A minimização dos resíduos sólidos urbanos na cidade de Salvador/Bahia. Mestrado – BIDONE, F. R. A.; POVINELLI, J. Conceitos Básicos de Resíduos Sólidos. 1 ed. 109p, EESC/USP - São Paulo, 1999. CRUZ, M. L. F. R. A Caracterização de Resíduos Sólidos no Âmbito da Sua Gestão Integrada. Escola de Ciências – Faculdade do Minho, Braga – Portugal, 2005. FEE – Fundação de Economia e Estatística. Dados Abertos. Disponível em: < http://www.fee.rs.gov.br/>; acesso em 11/08/2014. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/>; acesso em 02/08/2014. MENDES, P. M. Lúcio. Modelo de Integração de Instrumentos de Gestão Aplicado aos Resíduos Sólidos Urbanos em Serviços Municipais. Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade do Algarve, Faro - Portugal, 2012. RIO GRANDE DO SUL, Assembleia Legislativa, Lei nº9.921 de 27 de julho de 1993: Dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos. Porto Alegre, 1993. USEPA – United States Environmental Protection Agency. Municipal Solid Waste. Disponível em: <http://www.epa.gov>. Acesso em: 16 jul. 2014; XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil