O SOCIAL PELA LENTE PARODÍSTICA DE GERMANO ALMEIDA
EM O TESTAMENTO DO SENHOR NAPUMOCENO
Eidson Miguel da Silva Marcos
(Universidade Estadual da Paraíba/Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
[email protected]
Amarino Oliveira de Queiroz
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
[email protected]
Tomando como ponto de partida o raciocínio de Antonio Candido (2010, p. 14),
para quem “o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como
significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da
estrutura, tornando-se, portanto, interno”, buscaremos verificar, no decorrer deste
artigo, como o elemento social é captado através da paródia no romance O Testamento
do Sr. Napumoceno, do escritor cabo-verdiano Germano Almeida, assim como
averiguar que leituras este elemento social, captado pela lente do autor, faz emergir da
obra em questão.
Germano de Almeida é natural da ilha de Boa Vista, onde nasceu em 1945.
Autor de mais de 12 romances, entre os quais se destacam Os Dois Irmãos, A Família Trago
e O Mar da Lajinha, enveredou também pela crônica, gênero em que se apura o caráter
humorístico de uma escrita que, para vários estudiosos de sua obra, introduz o discurso
parodístico na moderna literatura do arquipélago. Advogado experiente, ex-procurador
da República e ex-deputado eleito pelo Movimento Para a Democracia de Cabo Verde,
foi também diretor do jornal Agaviva. Seu romance O Testamento do Sr. Napumoceno
apresenta a trajetória de Napumoceno da Silva Araújo, um abastado comerciante da
cidade do Mindelo que, dez anos antes de morrer, escreve um testamento de 387 laudas,
elemento deflagrador da trama Durante sua abertura e leitura pública, ocorrida já no
início da narrativa, vão sendo apresentadas em flash backs outras facetas do ser humano
que existia por trás da imagem de comerciante solteirão e metódico cultivada
socialmente.
Nas várias páginas que lega à posteridade, o Sr. Napumoceno relata toda a sua
trajetória desde a infância descalça, passando pelo enriquecimento através do trabalho,
da sorte e de alguma esperteza, levando o leitor a alguns surpreendentes detalhes de sua
vida privada, marcada por relações amorosas e políticas que chocariam a população
mindelense e esboçariam um particular panorama da cidade cabo-verdiana no período
anterior à independência de Portugal, ou seja, as décadas que precederam o ano de
1975. A narrativa intercala dois momentos temporais: um, que apresenta o
desenvolvimento da vida de algumas personagens já influenciadas pelo conteúdo do
testamento, a exemplo de Carlos Araújo e Maria da Graça, sobrinho e filha bastarda do
falecido, e outro momento, mais recuado, que mostra a vida até então desconhecida e
surpreendente do Sr. Napumoceno.
A maneira como o autor caracteriza e ambienta as personagens, dentre outros
fatores, nos leva a perceber uma proposta de certa conexão com a realidade social na
qual ele próprio se insere, levando-nos
a crer que o autor, ao escrever este romance em particular, estaria movido
pelo intuito de esboçar, através da sua obra, um quadro crítico da realidade
em que vivia, apontando “problemas” (corrupção, promiscuidade etc.) a
partir da análise dos quais se vislumbram soluções possíveis” (MARCOS e
QUEIROZ, 2010, p. 174)
De acordo com a pesquisadora Maria Manuela Lopes Guerreiro, pelo recurso da
ficcionalização “forçosamente existe uma correlação autor/obra, fruto da observação e
vivência pessoal do autor” (GUERREIRO, 1998, p. 45, grifos da autora), uma vez que
Transpondo a realidade para a ficção, o autor através da personagem
principal, Napumoceno da Silva Araújo, dá-nos a conhecer os aspectos
sociais e políticos de Cabo Verde num período de grande agitação antes e
depois de 25 de Abril de 1974, período marcado pela ocorrência de mudanças
profundas naquela sociedade, nomeadamente a independência que teve lugar
a 5 de Julho de 1975. (GUERREIRO, 1998, p. 44). 1
Neste sentido, algumas evidências podem ser depreendidas no próprio discurso
do narrador, onde é esboçado, em perspectiva teórica, o exercício crítico da sociedade
cabo-verdiana, como pode ser observado a seguir:
São Vicente é uma ilha de povoamento recente, feito com recursos aos
naturais das outras ilhas que a seca, a falta de trabalho e outras misérias
forçaram à migração. Ora essas criaturas abandonam ilhas de fortes tradições
próprias e já com enraizadas formas de estar no mundo para de repente se
lançarem num espaço não só agreste como também relativamente hostil e
onde, para sobreviver, são obrigados a miscigenar diferentes culturas
regionais com o conseqüente prejuízo de nenhuma delas ser suficientemente
majoritária para se impor. E é esta circunstância, mais a ausência de uma
ancestral ligação a esta terra, que faz do homem de São Vicente um ser
leviano e fluido... (ALMEIDA, 1996, p. 131).
Ou, ainda, nesta outra passagem:
Mas como se tudo isso já não fosse suficiente, a população que habita esta
ilha, viu-se logo no inicio do processo de formação daquilo que poderia vir a
ser uma sui generis cultura regional, submetida e influenciada por uma outra
cultura, a inglesa, não só poderosa como rígida e dominadora e que por isso
mesmo passou a ser o ponto de referência essencial para todo residente desta
ilha, sem prejuízo, bem entendido, da constante passagem de outras formas
culturais estrangeiras menos notórias mas nem por isso menos marcantes, e a
conseqüência de tudo isto é na verdade de o homem de São Vicente ser o
mais inautêntico de Cabo Verde.” (ALMEIDA, 1996, p. 132).
A hipocrisia de uma sociedade que se esconde por trás das aparências também é
captada pela lente de Germano Almeida, por intermédio de um narrador que penetra no
1
O romance em questão foi levado ao cinema numa parceria inaugural entre Cabo Verde, Brasil e
Portugal que reuniu elenco e técnicos dos três países.
íntimo das personagens e que sabe, por exemplo, que “Carlos fez das tripas coração e
inventou forças para um sorriso e um porra para toda essa merda!” (ALMEIDA, 1996,
p. 12) ao descobrir que não herdara o controle dos negócios do falecido tio, que,
respeitoso e metódico como era, revela no testamento a existência de uma filha
bastarda, Maria da Graça, fruto de uma aventura com uma funcionária, a qual herdaria
não somente o patrimônio acumulado como o efetivo controle dos negócios:
A ligação das personagens com o narrador é muito forte dentro do universo
diegético, dado que por diversas vezes estabelece com elas ligações, emite
juízos de valor a seu respeito, ou formaliza ainda enunciados que funcionam
como elos de ligação” (GUERREIRO, 1998, P. 79).
Carlos, o sobrinho, que antes da leitura do testamento era só lamentos e desejos
de satisfazer as últimas vontades do estimado tio, após a descoberta das indicações do
documento não consegue engolir um “que se foda no inferno o velho danado!”
(ALMEIDA, 1996, p. 12), pelo que recebe a repreensão do amigo. Afinal, “aquelas
palavras e modos desabridos não se coadunavam nem com o homem que ele era e que
todos conheciam nem com o luto carregado que ele trazia” (ALMEIDA, 1996, p. 12). A
lente de Germano Almeida nos mostra o outro lado da aparência, o que não corresponde
à imagem do homem que as pessoas conhecem. Vemos, então, o comportamento social
ser arremedado por meio dessas cenas cômicas, onde os dados da hipocrisia e da falácia
das aparências são captados pela lente parodística e expostos ao leitor.
Nessa tônica, são apresentados aspectos de diversos segmentos da sociedade,
visto que:
O espaço social no Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo,
oferece-nos um quadro dinâmico da cidade de Mindelo, ambiente onde as
personagens se movem e que está organizado como um todo socialmente
funcional.
A estrutura familiar, através dos chamados laços de sangue e que se articula
na obra através das personagens Carlos e Napumoceno, seu tio, conferem um
carácter de proteccionismo e abnegações mútuas, normalmente presentes no
conceito da família tradicional.
Também as estruturas comerciais de Mindelo onde não faltam referências ao
contrabando, e a sua ligação ao Porto Grande, constituem uma verdadeira
instituição social, em torno da qual se orientam grande parte das acções e
onde prevalecem os interesses individuais.
As organizações políticas, nomeadamente nas referências ao PAIGC e à
Câmara Municipal, a cuja vereação Napumoceno ascendeu, são estruturas em
torno das quais, se desenham os contornos de vários contextos políticos,
arquitetando ideias, vaticinando-se futuros e estabelecendo-se comparações
com organizações externas, nomeadamente quando Napumoceno compara o
poder municipal de Cabo Verde ao poder municipal da Ámerica. São os
vários empenhamentos e/ou retracções de Napumoceno que permitem avaliar
os vários momentos da vivência política num dado momento em Cabo
Verde. (GUERREIRO, 1998, pp. 76-77, grifos da autora).
O conteúdo destes fragmentos deixa entrever a proposta do autor de dialogar
com uma dada realidade social, de captá-la em suas lentes para devolver um diagnóstico
de seus males, ou, como afirma Maria Manuela Lopes Guerreiro, reportando-se, para
tanto, a autores como Manuel Ferreira e Gabriel Mariano (grifos da autora):
(...) Manuel Ferreira afirmara que era partidário duma literatura social e que a
sua visão era a de agarrar no social e transformar isso em literatura (...)
uma literatura sem essa parte é uma literatura coxa, uma literatura a que
lhe falta um braço ou coisa parecida.
Partilhando idêntica opinião Gabriel Mariano afirmaria que o escritor é um
ser humano, ou seja, é um ser social, envolvido e condicionado pela cultura
da sua sociedade. A literatura é um fenómeno social e a obra literária é um
modo de comportamento específico do escritor.
Tomando como referência as duas afirmações anteriores provenientes de
duas autoridades do mundo da cultura cabo-verdiana, poderemos afirmar que
elas estão subjacentes às diretrizes que moveram Germano de Almeida ao
escrever O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, dado que
através deste romance conseguiu transmitir uma visão grandiosa da sóciocultura de Cabo Verde. (GUERREIRO, 1998, p. 83).
Para a concretização dos objetivos a que nos propusemos, se faz necessário
compreender até que ponto, e em que grau o elemento social pode estar presente em
uma obra literária para que, como insinuávamos, possa ser analisado. Neste sentido, o
sociólogo e crítico de literatura Antonio Candido entende que
Tomando o fator social, procuraríamos determinar se ele fornece apenas
matéria (ambiente, costumes, traços grupais, idéias), que serve de veículo
para conduzir a corrente criadora (...) ou se, além disso, é elemento que atua
na constituição do que já de essencial na obra enquanto obra de arte.
(CANDIDO 2010, p. 14 e 15).
Em O Testamento do Sr. Napumoceno, percebemos referências a ambientes, a
períodos históricos e costumes, dentre outros aspectos que, captados por uma lente
parodística, norteiam a relação entre o elemento social e o literário da obra. A paródia,
grosso modo, aponta para um texto que dialoga com outro, pervertendo-o e ironizando
seu sentido. Ao moldar personagens forjadas sobre características comuns a tipos
sociais cabo-verdianos, e ao ambientar o romance em um tempo e lugares que remetem
a períodos e espaços reais emblemáticos de Cabo Verde, Germano Almeida capta
aspectos dessa realidade, convertendo-os em elementos estruturais de sua obra,
apresentados sob uma ótica burlesca que mostra o que está por trás das aparências ou,
conforme já havíamos referido em outro momento;
O tempo e o espaço que permeiam a obra coincidem com períodos políticos
emblemáticos na história de Cabo Verde. Essa construção do espaço, do
tempo e das personagens em O Testamento do Sr. Napumoceno, com os
elementos específicos que remetem a certos períodos marcantes da trajetória
da terra natal do autor, certas características de grupos sociais, de figuras da
comunidade, levam o leitor a configurar impressões determinadas, ligadas a
pontos de vista da realidade que contemplam conceitos valorativos da
sociedade em seus vários aspectos morais, sócio-econômicos etc.
(MARCOS e QUEIROZ, 2010, p. 174)
Esse recurso não é exclusividade desta obra de Germano Almeida em especial,
como podemos perceber nas palavras de Queiroz (2007). Ao tecer comentários acerca
dos recursos estilísticos utilizados por Germano no consagrador romance A Família
Trago, mais especificamente sobre o seu foco narrativo, o pesquisador afirma que
Germano Almeida inicia a obra na perspectiva de um autor autodiegético,
que participa da ação não apenas na condição de contador de histórias, mas
efetivamente posicionado como elemento representativo da própria família
Trago. É esse narrador quem, recorrendo à recriação da memória familiar,
realiza uma descrição paródica deste universo, o que torna possível a
constatação de que, já a partir de suas primeiras páginas, o livro aponta para
um signo de comicidade que conduzirá todo o seu desenvolvimento.
QUEIROZ (2007, p. 90).
Seguindo por essa via, e considerando que a arte literária é “comunicação
expressiva, expressão de realidades profundamente radicadas no artista, mais que
transmissão de noções e conceitos” (CANDIDO, 2010, p. 31), podemos acrescentar que
Germano Almeida buscou expressar concepções acerca de um dado recorte sóciohistórico-cultural de Cabo Verde, que tencionou uma proximidade com o social, o que a
presença de teorias acerca da situação da ilha de São Vicente acima referidas reforça,
evidenciando um viés crítico humorístico captado e lançado ao leitor pela sua lente
parodística.
A respeito dessa proximidade com o elemento social, é notória a relação entre tal
elemento - principalmente no tocante ao recente passado colonial e seu legado ao
continente africano - e a atual escrita de inúmeros autores do continente, inclusive caboverdianos. Criadores como estes, estudiosos da(s) literatura(s) africana(s), acentuam em
seus textos a relação da literatura. com os fatores políticos e sócio-econômicos
decorrentes da experiência colonial europeia. Bem a propósito, o sociólogo e crítico de
literatura angolano José Carlos Venâncio defende que “é impossível conceber a
formação do que geralmente designamos de literatura africana (i. e., literatura africana
em línguas europeias) desligada do fenómeno do colonialismo” (VENÂNCIO, 1992, p.
6).
Por sua vez, Queiroz (2007) entende que “torna-se importante atentar para o fato
de que a apreciação crítica do texto literário africano não poderá realizar-se de modo
mais efetivo se o dissociamos de seu respectivo contexto cultural e político” (p. 49-50),
isto porque, após longos períodos de vigência de regimes colonialistas no continente,
cujos processos iniciaram-se desde o século XIV, desenvolveram-se movimentos
artísticos, políticos e milicianos no intuito de promover a independência, a autonomia e
a autodeterminação das colônias africanas de suas metrópoles europeias. Esta
movimentação se acentuaria, como se sabe, durante as décadas de 50 e 70 do século
passado;
É nesta fase de lutas anticolonialistas que começa a se intensificar,
juntamente com o surgimento dos novos Estados nacionais, a conformação
de perfis identitários diferenciados, nos quais a produção literária oral e
escrita desempenharia papel fundamental (QUEIROZ, 2007, p. 49).
Também Moema Parente Augel (2006) assegura que durante e após os regimes
coloniais nos países africanos a literatura aí produzida irá dialogar estreitamente com os
contextos sócio-políticos pelo fato de o escritor africano, imerso nesse ambiente, buscar
captar
as tensões e as antíteses de uma sociedade em que o componente racial
condiciona tanto as relações sociais e políticas quanto as econômicas e
culturais, mostrando-se especialmente hábil em captar os conflitos entre a
mentalidade do colonizador e a dos nacionais (AUGEL, 2006, p. 9).
Em Cabo Verde, inclusive, os movimentos que marcaram o século XX
ocorreram marcadamente no campo artístico/intelectual. Em virtude de fatores como a
insularidade de seu território (SPÍNOLA, 2011:
os trabalhadores não têm tanta força como em outras terras. Não é uma força
tão grande do ponto de vista econômico, porque na nossa terra é
fundamentalmente no campo, que reside a grande força económica. Mas no
campo era quase impossível faze greves” (CABRAL, s/d, p. 22).
Esta luta por autodeterminação se deu principalmente de forma política
clandestina até a independência. Ideais de autonomia começam a se consolidar na
década de 40 do século passado, intensificando-se a partir de 1956, com a criação, na
capital da Guiné Bissau, do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e
Cabo Verde), cujo principal ideólogo e promotor foi Amilcar Cabral.
No que concerne à busca pela cabo-verdianidade, os movimentos literários
foram cruciais nesse aspecto. O movimento dos claridosos, cujo carro chefe era, como
se sabe, a revista literária Claridade, “tinha por ideário programático “fincar os pés na
terra” como imagem lapidar da assunção do real (social, cultural e antropológico)
crioulo” (GOMES, 2008, p. 118) e “tratar os problemas do homem cabo-verdiano (as
estiagens, a decadência do Porto Grande, o encerramento da emigração para os Estados
Unidos da América, a abertura do contrato para as roças de S. Tomé)” (SEMEDO,
2001, p. 256). Fincar os pés na terra era crucial para as aspirações de autonomia, já que,
de acordo com o ideário que norteou este processo, “não é possível lutar de facto pela
independência de um povo, não é possível estabelecer de facto uma luta armada (...)
sem conhecermos a sério a nossa realidade e sem partirmos a sério dessa realidade para
fazer a luta” (CABRAL, p. 21, ).
As relações entre literatura e sócio-cultura em Cabo-Verde são marcantes no
decorrer do processo autonômico e durante/após sua consolidação, atuando no seio de
confrontos político-ideológicos e identitários idealistas (seja refletindo seja refratando o
contexto), marcadamente no âmbito da busca de “reconstrução nacional” por parte das
forças políticas que assumiram a direção dos rumos de Cabo Verde após a proclamação
de sua independência, pois, como nos informa o poeta e crítico literário cabo-verdiano
José Luís Hopffer Almada;
são visíveis os esforços do novo poder no sentido de optimização política da
obra literária (que não do discurso ensaístico e identitário) dos claridosos e
dos neo-claridosos, como Jorge Barbosa, Baltazar Lopes da Silva e Manuel
Lopes, (...) consagrados como autores e elementos nucleares dos currículos
escolares. Os mesmos esforços foram igualmente extensivos à recuperação
política e/ou técnico-administrativa de alguns dos seus eventuais críticos e a
sua seqüente integração quer no sistema de partido único e na “saga da
reconstrução nacional” quer ainda na construção de um discurso de
sedimentação nacionalistas das tragédias dos flagelados do vento leste e da
saga da sobrevivência da nação cabo-verdiana contra todas as calamidades
climatéricas e históricas. ”. (ALMADA, 2007, p. 37) 2.
2
ALMADA, José Luís Hopffer. Das tragédias históricas do povo cabo-verdiano e da saga da sua
constituição
e
da
sua
consolidação
como
nação
crioula
soberana.
In
http://tertuliacrioula.com/2010/01/das-tragedias-historicas-do-povo-caboverdeano/ Acessado em: 28 dez
2010.
Valorizar a língua crioula cabo-verdiana, lançar as bases de uma identidade
cultural própria e afastar os escritores nacionais dos “cânones portugueses e [levá-los a]
exprimir a voz coletiva do povo cabo-verdiano, naquilo que ele possui de mais
autêntico” (LARANJEIRA, 1995, p. 190) estava no escopo de movimentos literários
cabo-verdianos e africanos, evidenciando as estreitas (ou, pelos menos, a busca de)
conexões entre o elemento social e o literário, bem como das perspectivas políticoideológicas de captar o social. através do exercício poético e ficcional.
Assim, percebemos que, no contexto em que se desdobram os fenômenos dos
quais nos ocupamos, a relação entre o elemento social e o literário se faz bem mais
estreita pelo fato de os escritores estarem de tal forma envolvidos nos conflitos que os
marcaram real e simbolicamente.que, por meio de sua arte literária, parecem querer
dialogar, criticar e compreender os lugares e os fenômenos sócio-históricos em que se
inserem.
Pelo exposto, poderemos concluir que, conforme preconiza Antonio Candido
(2008), ao apontar a relação entre o elemento social e o literário, o discurso literário
cabo-verdiano, marcado durante certo tempo por temas como a seca e o subseqüente
imperativo da emigração involuntária, apresenta, no período pós-independência,
possibilidades de apreensão caracterizadas por um viés abertamente humorístico, a
exemplo do elemento social captado pela lente parodística de Germano Almeida em O
Testamento do Sr. Napumoceno, uma vez que “a paródia e o humor se inserem, pela via
ficcional, como importantes elementos de aferição crítica de seu contexto sóciohistórico” (MARCOS e QUEIROZ, 2010, p. 171)
FONTES CONSULTADAS:
ALMADA, José Luís Hopffer. Das tragédias históricas do povo cabo-verdiano e da
saga da sua constituição e da sua consolidação como nação crioula soberana. In
http://tertuliacrioula.com/2010/01/das-tragedias-historicas-do-povo-caboverdeano/
Acessado em: 28 dez 2010.
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ALMEIDA, Germano. O Testamento do Sr. Napumoceno. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
ALMEIDA, Germano. A Família Trago. Lisboa: Caminho, 1998.
ALMEIDA, Germano. Os Dois Irmãos. Lisboa: Editorial Caminho, 1995
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