Impresso
Especial
9912258304/2010-DR/CE
CREMEC
INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO CEARÁ - Nº 83 - SETEMBRO/OUTUBRO DE 2010
Editorial
DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE
Em recente passagem pelo Brasil, o renomado bioeticista espanhol, Diego Gracia,
proferiu conferência sobre as manifestações
prévias de vontade dos pacientes acerca, particularmente, do que desejam e autorizam que
seja feito com eles se vierem a se encontrar
em situação que lhes dificulte ou impeça a
expressão do próprio arbítrio. Exemplificando,
alguns pacientes querem deixar estabelecido
que, no caso de terem uma parada cardíaca,
não gostariam de receber atendimento sob a
forma de tentativas de reanimação; ou que,
se forem submetidos a cirurgia, não aceitam
transfusão de sangue. O tema tem frequentado
alguns debates em nosso meio, nomeadamente
quando são analisados os conflitos éticos relacionados com o tratamento dos pacientes em
fase terminal de doença grave e incurável. O
que o ilustre conferencista trouxe a mais na
reflexão sobre a matéria foi a observação de
que, ao longo da história da Medicina, desde os
tempos de Hipócrates, os médicos foram treinados para a identificação dos sinais clínicos
que caracterizam as diferentes enfermidades,
porém não desenvolveram igual atenção no
que se refere aos valores dos pacientes. Em
outras palavras, os esculápios sempre se mostraram empenhados na aquisição, da forma
mais completa possível, do conhecimento das
manifestações objetivas das afecções, entendendo ser este o caminho para a feitura precisa
do diagnóstico e a prescrição da terapêutica. As
manifestações subjetivas, caso se verificassem,
deveriam ser decodificadas e identificadas em
termos de correspondentes objetivos, isto é,
sob a forma de sinais clínicos. Ocorre, no
Recadastramento
é Obrigatório
Pág. 2
entanto, que nas últimas décadas esta concepção foi perdendo força diante da nova atitude
dos doentes, os quais querem cada vez mais
ter voz ativa nas decisões sobre as medidas
propedêuticas ou terapêuticas propostas pelos
médicos. Pleiteiam, ademais, que seu modo
de ver a saúde, a doença e o tratamento seja
devidamente considerado. De tal modo que as
expectativas dos pacientes no caso, digamos, de
dessa maneira, toda uma concepção milenar
segundo a qual era a Medicina que fazia tal
definição. E enfatizando que consideram essa
prerrogativa um direito fundamental.
E é em tais situações que se nota, primeiramente, certo desconforto e perplexidade
dos médicos ante a demanda dos doentes
por um diálogo mais aprofundado a respeito
de aspectos vistos até então pelos profissionais da Medicina como sendo de caráter
exclusivamente técnico, científico; portanto,
O que o ilustre conferencista
da esfera de competência dos doutores. Em
trouxe a mais na reflexão sobre a segundo lugar, fica mais ou menos patente
o despreparo dos médicos para incorporar à
matéria foi a observação de que,
sua prática clínica a avaliação dos valores dos
ao longo da história da Medicina, pacientes. Até mesmo porque não receberam
desde os tempos de Hipócrates, os o necessário adestramento quanto a esta nova
e surpreendente face do exercício profissional.
médicos foram treinados para a
Os médicos foram formados para conhecer
os fatos clínicos. Necessitam agora dar a
identificação dos sinais clínicos
devida importância aos valores e crenças,
que caracterizam as diferentes
desejos e emoções dos doentes, aspectos funenfermidades, porém não
damentais para que sejam tomadas decisões
clínicas apropriadas. Neste contexto, entram
desenvolveram igual atenção no
as diretivas antecipadas de vontade, também
que se refere aos valores dos
chamadas de testamento vital. Que podem
incluir a designação de um representante do
pacientes.
enfermo, investido da prerrogativa de falar
por ele, fazendo prevalecer o que expressa da
uma doença grave, ou na iminência de morte, forma mais fiel possível a tábua de valores
se incorporaram definitivamente à discussão do paciente. Naturalmente, sem que haja
dessas matérias.
agressões ao ordenamento jurídico nem à
E possivelmente tenhamos que ir mais arte médica.
além. Já não é incomum encontrarmos um enfermo que se arroga o direito de definir o que
Dr. Ivan de Araújo Moura Fé
para ele é saúde e o que é doença. Invertendo,
Presidente do CREMEC
Fernando Monte fala
Sobre Medicina e
Política
Pág. 4
Greve Nacional dos
Residentes - Entrevista
Págs.
Pág.45e 5
Artigo: De qual
faculdade saiu o
CRM da Repórter do
Fantástico?
Pág.
Págs.
6 e77
Fechando
Fechandoaaedição
edição
setembro/outubro
de 2010
março/abril
Fórum
e
Julgameto
de 2010
Simulado na Unifor
Pág.
Pág.
8 8
2 Jornal Conselho
[email protected]
RECADASTRAMENTO
CHAMADA FINAL
DATA FINAL DO RECADASTRAMENTO:
11 DE NOVEMBRO DE 2010
Antes de iniciar o seu recadastramento, leia atentamente
as seguintes instruções:
- Apenas as inscrições PRIMÁRIAS deverão sofrer o recadastramento.
- 1º passo: O recadastramento poderá ser feito atráves do site
www.cremec.com.br ou na sede
do CREMEC (Rua Floriano
Peixoto, 2021 - José Bonifácio)
- 2º passo: Dirija-se ao
CREMEC, de posse dos originais e cópias dos seguintes
documentos:
• Carteira de identidade
(RG);
• Título de eleitor;
• CPF;
• Comprovante de residência (recente);
• Diploma;
• Títulos de especialista
(Caso não tenha registro da
especialidade no CREMEC,
trazer cópia autênticada da
Residência Médica ou título
da AMB);
• Carteira profissional (Livro verde);
• Comprovante de sociedade em empresa de serviços
médicos, se for o caso;
• Se médico estrangeiro,
apresentar, também, comprovante de legalidade de permanência no país;
Obs.: Não é necessário o
agendamento do dia e de horário
para execução destes serviços no
CREMEC.
- Foto: colorida, atual e sem
data, 3x4cm, fundo branco ou
cinza-claro, sem qualquer tipo
de mancha, alteração, retoque,
perfuração, deformação ou correção. Não serão aceitas fotografias em que o portador esteja
sorrindo, utilizando óculos, bonés, gorros, chapéus ou qualquer
item de vestuário ou acessório
que cubra parte do rosto ou da
cabeça.
- Você receberá um aviso por
e-mail para retirar a sua nova
carteira, assim que estiver disponível no CREMEC.
O RECADASTRAMENTO É OBRIGATÓRIO
[email protected]
Jornal Conselho 3
ARTIGO
CONSELHEIROS
TRANQUILIZANTES,
PRESCRIÇÕES E PRECONCEITOS
visam ao melhor controle e dispensação desses medicamentos. Tais providências certamente estão sendo
louvadas e aprovadas pela maioria do colégio de médicos que pelo País afora recorre a tais prescrições, já
Na prática clínica do nosso meio o termo se refere que o mau uso deles ou a sua destinação para o vício e
particularmente aos três grupos de medicamentos, a tráfico devem ser por todos abominados e reprovados.
Reconheçamos que de longe tem havido certa
saber:
1) Tranquilizantes menores ou ansiolíticos (os leviandade por parte de médicos quanto a essas presbenzodiazepínicos – tais como alprazolam, clonazepam, crições. Isso tem permitido que o público, de modo
cloxazolam, diazepam, lorazepam etc; não benzodiaze- geral, tenha prevenções para com esses produtos, seja
por ouvir dizer que viciam, seja por indicação médica
pínico – a buspirona etc);
inadequada, seja por eventuais
2) Tranquilizantes maiores
Essas substâncias e similares efeitos colaterais. E não esqueou neurolépticos ( v.g. clorrepresentam, sem dúvida, çamos os preconceitos da sociepromazina, haloperidol, lítio,
o avanço mais que oportuno da dade quanto aos portadores de
olanzapina, periciazina, quefarmacopeia que se desenvolve distúrbios mentais e particulartiapina, risperidona, sulpirida,
desde os primórdios da Medicina mente aos colegas psiquiatras e
ziprazidona etc); e
e que certamente se aprimorará psicólogos, que tanto se empe3) Antidepressivos (v.g.
ad aeternum, seguindo os
nham por minorar os infernos
amitriptilina, bupropiona, cipreceitos da ciência e da Medicina que povoam muitas mentes.
talopram, clomipramina, fluocujo objetivo é a cura das
Tal postura não pode conxetina, milnaciprano, mirtazadoenças ou ao menos o alívio do dizer com a seriedade que deve
pina, nortriptilina, paroxetina,
sofrimento do corpo e da alma. prevalecer no lidar com um
sertralina etc).
Não se devem desconhecer os capítulo tão sensível da MediEssas substâncias e similamaravilhosos e inquestionáveis cina, ou seja, o tratamento dos
res representam, sem dúvida, o
proveitos que esses medicamentos transtornos mentais e psíquiavanço mais que oportuno da
costumam propiciar.
cos que por todas as gerações
farmacopeia que se desenvolve
seguirão acompanhando as sodesde os primórdios da Meciedades, já que os avanços da
dicina e que certamente se aprimorará ad aeternum,
tecnologia, das novas descobertas, das teologias e filoseguindo os preceitos da ciência e da Medicina cujo
sofias não alcançarão o Éden ou o Eldorado, conquanobjetivo é a cura das doenças ou ao menos o alívio do
to sejamos apenas terráqueos padecentes da nossa husofrimento do corpo e da alma. Não se devem desmanidade tão complexa e tão frágil, todos prisioneiros
conhecer os maravilhosos e inquestionáveis proveitos
do Desconhecido e subjugados pela noção da finitude
que esses medicamentos costumam propiciar.
sem prévio aviso.
Recentemente a ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) refez, sem o devido comunicado
à maioria dos médicos, normas e regras para a presJosé Cláudio Bezerra de Menezes
crição dos psicotrópicos. Estabeleceu exigências novas
O dicionário Aulete define psicotrópico como
qualquer substância, medicamento ou planta capaz de
alterar o estado psíquico, a percepção ou o comportamento de um indivíduo.
nos receituários, fez constar dados e informações que
Fique Ligado!
Este é o novo número do
telefone do CREMEC
Cremec 1766
(85) 3230.3080
Aldaíza Marcos Ribeiro
Alessandro Ernani Oliveira Lima
Dagoberto César da Silva
Dalgimar Beserra de Menezes
Erika Ferreira Gomes
Eugênio de Moura Campos
Fernando Queiroz Monte
Francisco Alequy de Vasconcelos Filho
Francisco das Chagas Dias Monteiro
Francisco de Assis Clemente
Francisco Dias de Paiva
Francisco Flávio Leitão de Carvalho Filho
Helena Serra Azul Monteiro
Helly Pinheiro Ellery
Helvécio Neves Feitosa
Ivan de Araújo Moura Fé
José Ajax Nogueira Queiroz
José Albertino Souza
José Fernandes Dantas
José Gerardo Araújo Paiva
José Málbio Oliveira Rolim
José Roosevelt Norões Luna
Lino Antonio Cavalcanti Holanda
Lucio Flávio Gonzaga Silva
Luiz Gonzaga Porto Pinheiro
Maria Neodan Tavares Rodrigues
Ormando Rodrigues Campos Junior
Rafael Dias Marques Nogueira
Regina Lúcia Portela Diniz
Régis Moreira Conrado
Renato Evando Moreira Filho
Roberto César Pontes Ibiapina
Roberto da Justa Pires Neto
Roberto Wagner Bezerra de Araújo
Rômulo César Costa Barbosa
Sylvio Ideburque Leal Filho
Tales Coelho Sampaio
Urico Gadelha de Oliveira Neto
Valéria Góes Ferreira Pinheiro
REPRESENTANTES DO CREMEC
NO INTERIOR DO ESTADO
SECCIONAL DA ZONA NORTE
ARTHUR GUIMARÃES FILHO
FRANCISCO CARLOS NOGUEIRA ARCANJO
FRANCISCO JOSÉ FONTENELE DE AZEVEDO
FRANCISCO JOSÉ MONT´ALVERNE SILVA
JOSÉ RICARDO CUNHA NEVES
RAIMUNDO TADEU DIAS XEREZ
Endereço:
Rua Oriano Mendes - 113 - Centro
CEP: 62.010-370 - Sobral - Ceará
SECCIONAL DO CARIRI
CLÁUDIO GLEIDISTON LIMA DA SILVA
GERALDO WELILVAN LUCENA LANDIM
JOÃO ANANIAS MACHADO FILHO
JOÃO BOSCO SOARES SAMPAIO
JOSÉ FLÁVIO PINHEIRO VIEIRA
JOSÉ MARCOS ALVES NUNES
Endereço:
Rua da Conceição - 536, Sala 309
Ed. Shopping Alvorada - Centro
Fone: 511.3648 - Cep.: 63010-220
Juazeiro do Norte - Ceará
LIMOEIRO DO NORTE
Efetivo: Dr. Michayllon Franklin Bezerra
Suplente: Dr. Ricardo Hélio Chaves Maia
CANINDÉ
Efetivo: Dr. Francisco Thadeu Lima Chaves
Suplente: Dr. Antônio Valdeci Gomes Freire
ARACATI
Efetivo: Dr. Francisco Frota Pinto Júnior
Suplente: Dr. Abelardo Cavalcante Porto
CRATEÚS
Efetivo: Dr. José Wellington Rodrigues
Suplente: Dr. Antônio Newton Soares Timbó
QUIXADÁ
Efetivo: Dr. Maximiliano Ludemann
Suplente: Dr. Marcos Antônio de Oliveira
IGUATU
Efetivo: Dr. Antônio Nogueira Vieira
Suplente: Dr. Ariosto Bezerra Vale
ITAPIPOCA
Efetivo: Dr. Francisco Deoclécio Pinheiro
Suplente: Dr. Nilton Pinheiro Guerra
TAUÁ
Efetivo: Dr. João Antônio da Luz
Suplente: Waltersá Coelho Lima
COMISSÃO EDITORIAL
Dalgimar Beserra de Menezes
Urico Gadelha
Francisco Alequy de Vasconcelos Filho
(Suplente)
CREMEC
Rua Floriano Peixoto, 2021 - José Bonifácio
CEP: 60.025-131
Telefone: (85) 3230.3080
Fax: (85) 3221.6929
www.cremec.com.br
E-mail: [email protected]
Jornalista responsável: Fred Miranda
Projeto Gráfico: Wiron
Editoração Eletrônica: Júlio Amadeu
Impressão: Gráfica Íris
4 Jornal Conselho
[email protected]
Entrevista
FERNANDO MONTE FALA SOBRE
MEDICINA E POLÍTICA
O livro a Política
e a Medicina foi
apresentado pelo
presidente Ivan Moura
Fé na livraria Cultura,
em 24 de setembro de
2010.
Pergunta: Que demandas ensejaram a criação do livro A Política e a Medicina.
Resposta: A leitura do livro do Berlinguer que era senador italiano do partido comunista e que escreveu a Medicina e a Política. Único livro editado no Brasil sobre o assunto. A obra frustra por falta de uma visão sistemática então
eu li para aprender e vi que teria que estudar o assunto para compreender melhor essa relação. Eu li o livro na década
de oitenta e trabalhei nessa obra ora lançada, entre os anos de 2000 e 2006.
Pergunta: Como foi transpor a experiência européia para a cultura latinoamericana?
Resposta: A política é universal não faz essa distinção porque a origem da política vem da Grécia antiga e permanece
com esse sentido. A escrita aqui na América Latina, tem que levar em conta também como a política é feita em todos os
cantos do mundo. A política aqui tem os parâmetros semelhantes a dos países de uma cultura urbana tradicional, fazendo
a ressalva que a nossa cultura ainda é muito ligada às origens campesinas. Quanto ainda as demandas, a gente observa
que o médico de uma maneira geral vê com muita desconfiança a política eu procurei atraves do livro, mostrar a falta
de sensibilidade social de quem pensa assim, dando o recado de que as nossas atividades profissionais estão diretamente
ligadas ao que é determinado politicamente pela sociedade.
Pergunta: O livro A política e a Medicina teve ou tem a preocupação de formar e informar as novas gerações de
profissionais médicos?
Resposta: O ensino em outras décadas era mais dirigido a formação e hoje o médico recebe menos formação porém, recebe um universo muito maior de informação do que recebia antes e isso é reflexo do contexto social na qual o
indivíduo está inserido. Essa mudança fez com que a Medicina passasse a ser mais tecnológica e esquecesse o lado mais
humano. Hoje, a tecnologia é a panacéia de tudo. Que ela, a tecnologia, responde a todos os problemas humanos. E
nesse contexto foi excluído da prática médica, a solidariedade e certos valores humanos, para uma dedicação exclusiva ao
tecnicismo. Esse comportamento fica mais patente depois da onda neoliberal, que tira a representatividade da sociedade
para um mercado que trás a deplorável atitude de transformar o usuário do sistema de saúde em um consumidor de
produto de saúde. Foi aí que aconteceu a virada de formação dos profissionais medicos.
Pergunta: Partindo do princípio de que houve uma virada na formação das novas gerações de médicos, quais seus
desdobramentos?
Resposta: Isso é coerente com o tipo de médico que está saindo atualmente, mais informado e menos formado.
Nesse conflito de interesses entre o paciente e o médico, o médico acha que está agindo muito bem porque tem atrás de
si a tecnologia que ele pode usar e está disponível. Ele acha que a maioria das informações do paciente são desnecesárias
e que a tecnologia irá arrancar mais informações sobre a doença do usuário do que as informações que ele dá. As pessoas
são humanas como eram as pessoas do tempo de Aristóteles e Platão e querem ter uma atenção pessoal para se sentir
também gente e não um número estatístico ou um manipulado pela tecnologia.
Pergunta: E a net, o livro faz algum exercício nesse sentido?
Resposta: Não. No momento neoliberal em a gente vive o paciente é um consumidor dos serviços de saúde. Vi
de uma maneira mais ampla que essa falha, atual, vai ser superada e o meu interesse como humanista é ver a sociedade
antes agora e mais na frente, o que existe atualmente é um momento na história e procurei centrar a maior parte da obra
no sistema de saúde que é o que permeia toda a relação médico paciente e o momento principal. É o caso do paciente
que vai ao médico com milhões de informações e é o reflexo da medicina privada, em que ele vai ao médico checar se
ele tem conhecimento da tecnologia que ele quer ter acesso. É diferente do relacionamento mais humano e pessoal e
que ainda não partilha desse modelo.
Pergunta: Dr. Fernando fale da editoração do livro.
Resposta: O primeiro capítulo é uma introdução do que poderá ser encontrado ao longo do livro, depois vem a
história de como a política entrou na medicina. Os dois tiveram nascimento na mesma época e se encontraram no século
dezenove já muito próximo de nós, quando a medicina começou a ter visibilidade econômica. Depois são mostrada as
relações; a forma como a medicina se relaciona com a política e a política com a medicina. Outro capítulo fala sobre a
resistência que os médicos têm sobre a política. O capítulo maior descreve o sistema de saúde, que é a prática da vida
médica do dia a dia e que tem a intervençao direta da política. Em seguida tem o que eu não considero política mas eu
trato que é a política médica, e por fim a ação dos médicos na política. Nesse capítulo eu discorro como eles se posicionam: se ele é um político médico ou um médico político.
Pergunta: Estamos em outubro de 2010 às vésperas da eleição para a presidência da República. Algo a falar sobre?
Resposta: O que se pode dizer numa eleição como essa é a postura que tem os candidatos. Enquanto que um lado
se propôe a manter e aperfeiçoar a medicina pública tornar mais acessível e tornar mais amplo o acesso, do outro lado,
a restrição dessa política pública e o aumento de interesses da medicina privada.
Pergunta: Mais alguma consideração, Dr. Fernando?
Resposta: Que haja uma reflexão médica sobre a política, a posição da medicina sobre os fatos políticos e que seja
vista menos preconceituosamente a postura política. Que se lute também por uma medicina menos tecnológica evitando
o deslumbramento tecnológico. Tecnologia é excelente mas deve ser dominada pelo indivíduo e não o contrário.
[email protected]
GREVE NACIONAL DOS
MÉDICOS RESIDENTES
Jornal Conselho 5
Entrevista
Ana Cecília e Felipe Sydrião
Pergunta: Ana Cecília que demandas fizeram com que os medicos residentes entrassem em greve?
Resposta: O principal ponto de reinvidicação que uniu o Brasil inteiro foi a questão da remuneração, o valor
da bolsa auxílio que já estava congelado há quatro anos. No entanto, além dessa reinvidicação principal havia e há
uma série de questionamentos, do ponto de vista ético e do ponto de vista de responsabilidade de médico residente,
e principalmente sobre a carga horária que ultrapassa as sessenta horas semanais preconizada pela lei e a questão dos
plantões dos residentes não supervisionados.
Pergunta: Ana Cecília, fale sobre a pauta do movimento grevista.
Resposta: Com relação à bolsa auxílio o aumento que houve entre 2006 e 2007 foi fruto também de uma greve e
a lei que nos rege não contempla uma data base anual de aumento, então a categoria fica à mercê de soluções políticas
para que haja o reajuste da bolsa. O que acontece é que, com o passar dos anos, tudo aumentou, menos os valores da
nossa bolsa. Então a greve foi o nosso último e derradeiro esforço para tentar negociar mesmo sabendo, que essa decisão é extremamente conflituosa no que diz respeito ao atendimento aos usuários do sistema de saúde do nosso País.
Pergunta: Ana Cecília, dentro do movimento sindical é comum a máxima de que usam mão de obra de estagiários
cobrando deles funcionalidade de profissional mas que na hora da remuneração eles voltam à condição de estagiários.
Haveria ulguma interseção com a realidade dos médicos residentes?
Resposta: O que acontece é que historicamente, a especialização médica para a residência surgiu com um médico
mais jovem acompanhando um médico mais experiente no seu trabalho e muitas vezes aquele médico mais velho
morava no hospital para fazer esse acompanhamento, por isso o nome residência médica. Com o passar do tempo e o
surgimento de novas realidades foi necessária uma regulamentação nacional para unificar o conteúdo programático da
residência médica, em todo o Brasil, para que todos saíssem com o mesmo nível de conhecimento e mesma carga horária. Com isso surgiu a lei da residência médica. Acontece é que em muitos programas de residência o médico residente
fica com a responsabilidade de tomar decisões como especialista que ele ainda não é e aí é que está o problema: você
tem que tomar uma decisão que exige uma complexidadede de conhecimento e de habilidades que você não adquiriu
ainda e pior, sem o respaldo de um profissional experiente para ajudar. Você fica exposto e propenso a cometer um erro
médico ou seja, o programa de residência te deixa vulnerável. Existe essa real questão ética. Tanto isso é verdade que no
momento em que eu me formo, tenho a minha inscrição no CREMEC, e sou responsável por todas as minhas atitudes.
Pergunta: Ana Cecília, e a realidade pós greve?
Resposta: Apesar de não termos conseguido o aumento que foi postulado ela foi muito positiva para a categoria
porque ela fez com que as associações dos médicos residentes, que estavam sem muita atuação, reoganizassem as entidades; o que acabou ensejando a criação de uma entidade nacional e o que é melhor, com representatividade. Então como
categoria eu avalio que a greve nos deixou fortalecidos. Recentemente aconteceu em Belo Horizonte o Congresso dos
Médicos Residentes e desse evento foi tirada uma chapa para a Associação Nacional dos Médicos Residentes, na qual eu
faço parte da diretoria executiva. O outro ganho, foi que a gente pôde comparar as realidades e discutir as diferenças
dos programas de residência em cada estado da federação. Constatamos ainda que existem experiências exitosas em
alguns estados, que devem ser utilizadas.
Pergunta: E os desdobramentos da greve param por aí?:
Resposta: Não: O preceptor tem que ter uma remuneração diferenciada porque ele não está na condição de
médico e sim de professor e é bom que fique claro. Nós não estamos contra o preceptor. Ele, o preceptor, precisa ser
valorizado porque está lá ensinando. Nós residentes queremos ter uma relação de ajuda recíproca e de complementação
de tarefas. Não como está occorrendo: um clima de retaliação e disse que disse nos hospitais após a grave nacional. Isso
afeta aos residentes, preceptores e usuários do sistema de saúde.
Resposta de Felipe Sydrião aos desdobramentos da greve: A gente conseguiu, de certa forma, pressionar para
que os diretores e os governantes tenham um olhar mais responsável para os médicos residentes. A lei que nos ordena
está cheia de falhas e lacunas, queremos que seja pelo menos cumprida. Nós residentes temos uma carga horária que
ultrapassa em muito os desígnios das leis trabalhistas e por conta disso nos expomos a diversos riscos de vida e de
saúde, por trabalharmos em diversos locais para complementação de renda. Resultado, nossa qualidade de vida fica
irremediavelmente prejudicada. A greve teve ganhos importantes: deu visibilidade ao movimento, foi fundada a associação que agora congrega todos os médicos residentes do estado do Ceará. Esperamos finalmente, que o movimento
grevista, além de dar visibilidade aos nossos problemas, melhore a qualidade dos serviços que as instituições de saúde
dão ao usuário e essa é na nossa avaliação, o objetivo mais importante.
Pergunta: Felipe Sydrião, qual sua Avaliação do movimento pósgreve?
Resposta: Avaliamos que o movimento grevista aqui no Ceará, em que eu estive à frente, tirou proveitos positivos.
Nacionalmente tivemos em pequena alíquota de reajuste e a promessa de uma mesa de negociação interministerial. É
necessário lembrar que após a greve a residência médica tomou novo rumo. Antes do movimento grevista algumas instituições acabaram abusando do médico residente em virtude do grande número de profissionais médicos no mercado,
esquecendo que o médico residente é um profissional aditivo que está ali no hospital para ser treinado sob supervisão
contínua. Algumas instituições jogam esse médico sozinho, para preencher lacunas e ao mesmo tempo abusam da mão
de obra barata. O outro desdobramento da greve foi a contratação de novos plantonistas para que dêem uma assistência
maior ao médico residente fazendo valer as sessenta horas semanais a que estamos obrigados a trabalhar, na forma da lei.
Registramos, com pesar, o falecimento do Dr.
Felipe Távora Sydrião,
CREMEC 9364, líder,
no Ceará, da recente
greve de residentes,
movimento de âmbito
nacional. Expressamos
nossas condolências à
família enlutada.
Denise P. Evangelista nos envia esta contribuição para honrar o colega; Felipe T.
Sydrião (31.08.1980 /
21.10.2010) em seu último e-mail para amigos:
“A solução está em cada
um de nós, em vivermos
a vida não apenas por
sobreviver, mas para que
possamos deixar marcos
de bondade e fincarmos a
honestidade, a sobriedade, a decência, a moral e
a honra aonde quer que
estivermos!”
6 Jornal Conselho
[email protected]
ARTIGO
DE QUAL FACULDADE SAIU O CRM DA
REPÓRTER DO FANTÁSTICO?
É hilárico, cômico, mas é
trágico...Estando eu sentado na
minha poltrona no domingo do
dia 29/08/2010, assistindo à estréia
do novo programa “É bom pra
quê?” do nosso colega Dr. Dráuzio
Varela no Fantástico, (melhor seria
se eu estivesse lendo a resenha das
novelas no jornal), da metade para o
final do programa fiquei extasiado,
obnubilado, praticamente comatoso
(Glasgow 3!!!). O nosso colega, Dr.
Dráuzio Varela, resolveu analisar um caso clínico de uma repórter do
fantástico.
Acontece que a jovem repórter há algumas semanas sentia dores no
punho, principalmente relacionadas aos movimentos e sem histórico
de trauma, provavelmente uma lesão por esforço repetitivo, patologia
certamente devida à sua árdua função de digitação na redação da Rede
Globo. O Dr. Dráuzio Varela analisou a radiografia de punho da
repórter, que à primeira vista parecia normal, mas com o “zoom” da
câmera, pude observar pequenas calcificações na incidência de perfil,
calcificações estas ao nível do punho.
O nosso colega concluiu que tratava-se de um processo inflamatório
na membrana sinovial, uma sinovite, e que as calcificações denunciavam
o diagnóstico. A nossa repórter, sem ter outra matéria para editar e
fugindo totalmente do escopo do programa, compareceu ao SUS. Cabe
aqui um adendo: Será que o pagamento do plano de saúde de nossa
repórter estava atrasado? O fato é que a mesma foi a três médicos em
emergências e postos de saúde distintos e nos dois primeiros médicos
recebeu um diagnóstico provisório de tendinite. Digo provisório,
porque nas atuais condições do nosso “Universal Health System”, sem
dispor de exames complementares e com uma infinidade de pacientes
para atender, sem a mínima infra-estrutura, o máximo que se pode
chegar num caso desses é a um diagnóstico provisório com posterior
encaminhamento para um especialista.
Acontece que os nobres colegas que a atenderam estavam sendo
filmados sem terem conhecimento disso e foram ultrajados no
programa, pois a repórter comentou na reportagem que os mesmos
haviam errado o diagnóstico, já que o Dr. Dráuzio Varela afirmou
categoricamente que se tratava de uma sinovite e os nobres esculápios
deram o diagnóstico de tendinite. Ora, que me ajudem os colegas
Ortopedistas e Reumatologistas, mas até eu que não sou da especialidade
fico embasbacado. Em primeiro lugar, um diagnóstico de inflamação
na sinóvia dado como certeza apenas pela análise da radiografia? E estas
calcificações não podem ser nos tendões? E ainda, que erro cometeram
os nossos colegas de pronto-atendimento em colocar como diagnóstico
uma tendinite? Não são entidades de um mesmo espectro e que
geralmente andam juntas e que fazem parte de um mesmo diagnóstico
diferencial? E o Dr. Drauzio Varela solicitou uma ultrassonografia
para confirmar o seu diagnóstico? O tratamento nesses dois casos seria
diferenciado? Há algum desmérito nos nossos nobres colegas em afirmar
que se tratava provavelmente de uma tendinite, quando na verdade deve
até mesmo ser este o diagnóstico? Mas não pára por aí.
A nossa repórter, que não se identificou, chegou a um terceiro
médico e proferiu as seguintes palavras: “O terceiro médico também
não me convidou para sentar, mas pelo menos acertou o diagnóstico:
Cisto Sinovial!”. Cara repórter, afinal de contas: o seu diagnóstico é
uma sinovite, um cisto sinovial ou uma tendinite? Você pelo menos
conhece o significado desses termos? Vale ressaltar que sempre nutri
profunda admiração pelo colega Dr. Dráuzio, tendo inclusive lido três
de seus livros.
Este programa infelizmente trouxe minha decepção à tona. Será
que o Dr. Dráuzio Varela não deveria refletir sobre a responsabilidade
dele para com toda esta batalhadora classe médica que ainda resiste a
tudo para providenciar alívio ao sofrimento dos seres humanos e da
qual o mesmo faz parte? Divulgar informações deturpadas e deixar a
cargo de uma repórter a análise de fatos médicos e que a mesma faça
juízo de valores do diagnóstico de nobres colegas que se sujeitam ao
estapafúrdio que é esse nosso sistema público de saúde, e tudo isso em
cadeia nacional no domingo à noite?
Fica aqui encarecidamente o meu mais terno pedido de perdão
se vos pareço rude, mas neste exato momento em que escrevo esse
texto estou praticamente a convulsionar. Em um país em que os atuais
governantes dizem haver uma grande economia e grandes programas
sociais, a porcentagem de recursos destinados à saúde é mínima, menor
que a de países pequenos como o Chile, e a população como um todo é
cega para o fato de que não existe um sistema público de saúde decente
no Brasil e no final das contas, algumas atitudes mal pensadas e mal
revistas ainda fazem com que toda a sociedade ponha grande parte da
culpa sobre os médicos, que são na verdade grandes vítimas de salários
aviltantes e cargas horárias extenuantes.
Fica aqui o meu apelo ao Dr. Dráuzio Varela para que reflita sobre
esta atitude e se desculpe com seus colegas. À repórter, eu como perito
do INSS, não posso deixar de orientar que a mesma solicite à Central
Rede Globo uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que
vá à Previdência Social solicitar um benefício para se recuperar de sua
tendinite e que se redima em público para com toda a categoria.
A proibição de censura é totalmente saudável em um país
democrático. O jornalismo irresponsável não!!!
Dr. João Paulo Aguiar Sampaio
Cirurgião Geral
Cremec 9054
[email protected]
A HISTÓRIA DO MORTO VIVO
Era um final de tarde quente, sem brilho, cheio
de expectativas de visitas domiciliares em uma
localidade às margens do rio Jaguaribe, distante
da unidade de trabalho e, mais ainda, da sede do
município, também distante...
Na ânsia de descobertas de pessoas acamadas,
mais doentes do que sãs, dentro de camas e de redes
tecidas perto dali, via morte se confundir com vida,
olhos sem brilho e um muito de esperança. Casas
escuras, sem luz natural, sem cheiro de vela...
Quando corre perto de mim um menino
franzino, mulato, curioso e tentador a me chamar
pra ver um morto que, ao que tudo indicava, estava
vivo...
O susto que tive na hora me fez relutar a
escolha profissional. E parti de casas sem cheiro de
vela, adentrando noutra com cheiro de vela, calor
humano, frio dos entes, tristezas opacas. Na sala
miúda, o morto, assim esperava-se, muitas pessoas,
a localidade inteira no impasse da decisão. Seria o
diagnóstico mais difícil de minha vida, ainda mais
de uma morte bem morrida!
Ao meu lado, como companheiro de sessão
clinica ou de necrópsia, um agente funerário, com
luvas (e eu sem), bêbado, olhos vermelhos de álcool
e de um pesar profundo laboral. Ele me interroga:
“tá vivo ou morto, doutora?” E eu, sem titubear,
retiro-o do caixão e da sala quente, com perfume
fúnebre das flores típicas de velório misturado com
parafina quente.
Finalmente na cama, eu o Sr Antonio. Esforçome bravamente nas lembranças de unidades
de terapia de urgência dos passos para fechar
diagnóstico de morte e assim o faço com critério.
A família do morto, notadamente a pretensa viúva,
cala-se e um silêncio magistral se faz ao meu redor.
Acodem as reflexões: o currículo paralelo antigo está cada vez mais ativo. Os novos currículos
mínimos suscitam o aparecimento dessas dezenas
de atividades noturnas e diurnas, agora planejadas
pelas diversas ligas, que são oficiais, e que proporcionam e promovem aquilo que tantas vezes
planejou-se evitar, a formação do médico, que seria
chamado há eons de necessário (médico necessário),
pelo viés da especialização precoce.
Sem ilusões, prof Beserra, menos otimista,
sentencia: se é assim, que seja, tiremos proveito e
ajudemos os jovens ansiosos de conhecimentos na
esteira dessa neopedagogia.
Porém, não faltam espíritos danados, a mirar
a coisa de outro modo, como o padre Urbano,
exorcista:
- Tu estás pensando que esses estudantes estão
empenhados em estudar?
És uma besta. Na competição desenfreada
em que acham metidos estão é interessados nos
certificados que essas atividades conferem, tanto as
didáticas quantos as ditas científicas (de apresentação e escritura de trabalho e de livros), que irão
os capacitar mais ou habilitar com vantagem nos
próximos concursos e avaliações, principalmente
as provas de residência.
Prof Beserra responde com a velha sentença
do mestre de todos, na Metafísica: Acredito que
“todos os homens, por natureza, desejam conhecer”, destinam-se ao conhecimento. De si para si,
diz murmurante: O currículo não lhes provê de
Crônica
No entorno, hálito do agente funerário, nas bordas
de minhas calcas pedaços de pétalas e no ar a terrível
dúvida de possibilidade de vida ali existente ao meu
lado na cama imprópria...
Sigo os passos, penso, repenso, checo tudo e a
palavra final, afinal o agente me cobrara a resposta
definitiva! Digo: esta morto, voltemos à sala, ao
caixão, as flores e ao calor terminal da parafina
quente.
O sol já esfriava quando sai dali, fria, duvidosa
de minha escolha. Queria mesmo ser médica de
vivos, nunca pensei em ser legista, nunca pensei
de me encalacrar no leito de vida e de amor de um
morto ainda quente para questionar tal situação!
E dali sai mais fria e hígida que o morto, certa
de seu sepultamento na manhã seguinte!
Kelly Messias
Artigo
FRENESI
Meio panglossiano, prof Beserra se entusiasma
com o que o vê. Vai ao Auditório Waldir Arcoverde da Secretaria de Saúde, de noite, proferir uma
palestra no II Curso de Neurologia e Neurologia;
encontra ali mais de cem estudantes de medicina.
Na mesma semana, e nas subseqüentes, vai ao
Auditório do Colégio Ari de Sá, da Aldeota, novamente de noite, participar de duas sessões clínico-patológicas organizadas em parte por si (casos
de sua prática cotidiana), e em cada uma dessas
atividades, esbarra com duas centenas outras de
estudantes de medicina. Tudo num mesmo mês.
Como diz o dramático e retórico Fulano de
Tal: Pasmem! Paralelamente e ao mesmo tempo,
mais de trezentos acadêmicos de medicina, ávidos
de saber.
Eis que advêm os encontros universitários, desta vez, vai ele ao Pici, e se depara ele, prof Beserra,
com centenas de trabalhos de estudantes; num dos
trabalhos (painel) descobre que não é ele o agente
da organização das sessões clínico-patológicas. Não
se perturba, enfrenta o assunto com ironia, mas
esmaece um tanto seu fervor panglossiano, pela
vertente da ética.
Então, encaminha-se ao Auditório da Biblioteca da UNIFOR, para tomar parte num Julgamento
Simulado. Está lá outra centena de estudantes.
Por si mesmo e ao colher opiniões de colegas,
exclama:
- Eta! moçada estudiosa e vontadosa de
aprender!
Jornal Conselho 7
grandes expectativas de aprendizagem, migram
eles para o currículo paralelo oficializado, ou para
o criptocurrículo, clandestino. E não há como endossar o que dizem os neopedagogos no que falam
em ensino e aprendizagem doces, sem estresse.
Esse corre-corre engendra cada vez mais estresse.
É corre-corre frenético, numa cidade de trânsito
cada vez mais cruel e louco.
Sucedem, entrementes, fatos bizarros. Os
tempos são perversos. O estresse, paroxístico. No
meio desse frenesi, uma estudante procura prof
Beserra pleiteando um certificado de estágio voluntário. Ninguém no setor em que está o velho
mestre-escola, (funcionários e médicos), a conhece,
nem ele mesmo tem plena consciência de sua bela
feição (dela) .
O telefone toca, prof Beserra atende, ouve
voz jovem que se identifica como estudante de
medicina
- Professor, aquele paciente da lesão da faringe,
que o senhor suspeita de amiloidose, tem realmente
amiloidose?
- Tem.
- Oh beleza, vou já-já preparar um trabalho para
publicar, o senhor fotografa as lâminas para mim?
Atalha prof. Beserra:
- Olhe, senhor, que tal primeiramente ver
o que pode fazer para minorar o sofrimento do
paciente?
Cons. Menezes
JURÍDICO/PARECERES/EMENTAS
PARECER CREMEC nº 19/2010
ASSUNTO: Exigência de estudo de imagem
(Raios-X) para comprovar o uso de orteses, próteses,
material especial e síntese (OPMES.)
RELATORES: Francisco Flavio Leitão de Carvalho Filho, Dalgimar Beserra de Menezes
EMENTA: Todo e qualquer método complementar deverá ser utilizado SOMENTE com o objetivo de
esclarecer diagnóstico ou nortear conduta do MÉDICO
ASSISTENTE
PARECER CREMEC nº 25/2010
PARECERISTA – Conselheira Valeria Goes
Ferreira Pinheiro
EMENTA – É dever do médico preencher o
prontuário médico bem como fornecer laudo ao paciente
ou seu representante legal em caso de encaminhamento,
transferência ou solicitação de alta.
PARECER CREMEC Nº 27/2010
Assunto: Abuso Sexual de Menor
Relatora: Dra. Patrícia Maria de Castro Teixeira
EMENTA: Lei N.º 8.069, de 13 de julho de 1990
- Estatuto da Criança e do Adolescente - Inteligência do
Art. 13 – Artigo 74 da Resolução CFM N.º 1.931/2009
– Código de Ética Médica.
8 Jornal Conselho
[email protected]
Fechando a edição - setembro/outubro de 2010
O Cons. José Albertino de Sousa em Lima e no Canadá, defendendo, como sempre, as boas causas.
XVIII FÓRUM DE ÉTICA MÉDICA DO CREMEC EM FORTALEZA
I FÓRUM DE ÉTICA MÉDICA DO NAMI-UNIFOR / JULGAMENTO SIMULADO
21 de outubro de 2010 / Auditório da Biblioteca da UNIFOR
Organização: Helvécio Neves Feitosa e Roberto Wagner Bezerra de Araújo; Presidente da Sessão de Julgamento: Helvécio Neves Feitosa;
Relatora, Valéria Góes Ferreira Pinheiro; Revisor, Roberto Wagner Bezerra de Araújo; Advogado de Acusação, Renato Evando Moreira
Filho; Advogado de Defesa, José Mauro Mendes Gifoni; Julgadores: Dalgimar Beserra de Menezes, Urico Gadelha de Oliveira Neto, Siulmara
Cristina Galera, Joaquim Luiz de Castro Moreira, Ricardo Maria Nobre Othon Sidou, Rafaela Vieira Corrêa, Alexandre Alcântara Holanda,
Rivianny Arrais Nobre, Gentil Claudino de Galiza Neto e Magda Moura de Almeida. Tratava-se o caso julgado (simulação) de Apendicite Aguda, presumivelmente negligenciada pelo médico acusado, resultando em falecimento do paciente. O julgamento ensejou brilhantes
discursos de Gifoni (defesa), de Moreira Filho (acusação) e do julgador Oliveira Neto. O médico acusado acabou absolvido, porém não por
unanimidade dos julgadores.
Download

CREMEC INFORMATIVO_ N 83.indd