AS ORDENANÇAS DA IGREJA
O Cristianismo no Novo Testamento não é uma religião ritualista; a
essência do Cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio do
Espírito. Portanto, não há uma ordem de adoração dogmática e inflexível,
antes permitindo à igreja, em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o
método que lhe seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não
obstante, há duas cerimônias que são essenciais, por serem divinamente
ordenadas, a saber, o batismo nas águas e a Ceia do Senhor. Em razão de
seu caráter sagrado, elas, às vezes, são descritas como sacramentos,
literalmente, "coisas sagradas", ou "juramentos consagrados por um rito
sagrado". Também são elas mencionadas como ordenanças porque são
"ordenadas" pelo próprio Senhor.
O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o
começo da vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a
continuação da vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo
sugere a comunhão com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez,
porque pode haver apenas um começo da vida espiritual; o segundo
é administrado freqüentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser
alimentada.
1. O batismo.
(a) O modo. A palavra "batizar", usada na fórmula de Mateus 28:19.20.
significa literalmente mergulhar ou imergir. Essa interpretação é confirmada
por eruditos da língua grega e pelos historiadores da igreja. Mesmo eruditos
pertencentes a igrejas que batizam por aspersão admitem que a imersão era o
modo primitivo de batizar. Além disso, há razões para crer que para os judeus
dos tempos apostólicos, o mandamento de ser "batizado" sugeriria "batismo de
prosélito", que significava a conversão dum pagão ao Judaísmo. O convertido
estava de pé na água, até ao pescoço, enquanto era lida a lei, depois do que ele
mesmo se submergia na água, como sinal de que fora purificado
das contaminações do paganismo e que começara uma nova vida
como membro do povo da aliança. De onde veio, então, a prática da aspersão e
de derramar a água? Quando a igreja abandonou a simplicidade do Novo
Testamento, e foi influenciada pelas idéias pagãs, atribuiu importância
antibiblica ao batismo nas águas, o qual veio a ser considerado inteiramente
essencial para se alcançar a regeneração. Era, portanto, administrado aos
enfermos e moribundos. Posto que a imersão não era possível em tais casos, o
batismo era administrado por aspersão. Mais tarde, por causa da conveniência
do método, este generalizou-se. Também, por causa da importância da
ordenança, era permitido derramar a água quando não havia suficiente
para praticar a imersão. Notem a seguinte citação dum antigo escritor
do segundo século, agora concernente ao batismo, batiza assim: havendo
ensinado todas essas coisas, batiza em nome do Pai, do Filho, e do Espírito
Santo, em água viva (corrente). E se não tiveres água viva, batiza em outra
água; e se não podes em água fria, então em água morna. Mas se não tiveres
nem uma nem outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em o nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não obstante, o modo bíblico e original é
imersão, o qual corresponde ao significado simbólico do batismo, a saber,
morte, sepultura e ressurreição. (Rom. 6:1-4.)
(b) A fórmula. "Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo" (Mat. 28:19). Como vamos reconciliar isso com o mandamento de
Pedro: "...cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo"? (Atos 2:38).
Estas últimas palavras não representam uma fórmula batismal, porém uma
simples declaração afirmando que recebiam batismo as pessoas que
reconheciam Jesus como Senhor e Cristo. Por exemplo, o "Didaquê", um
documento cristão escrito cerca do ano 100 A.D., fala do batismo
cristão celebrado em nome do Senhor Jesus, mas o mesmo documento,
quando descreve o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária.
Quando Paulo fala que Israel foi batizado no Mar Vermelho "em Moisés", ele
não se refere a uma fórmula que se pronunciasse na ocasião;
ele simplesmente quer dizer que, por causa da passagem milagrosa através do
Mar Vermelho, os israelitas aceitaram Moisés como seu guia e mestre como
enviado do céu. Da mesma maneira, ser batizado em nome de Jesus significa
encomendar-se inteira e eternamente a ele como Salvador enviado do céu, e a
aceitação de sua direção impõe a aceitação da fórmula dada por Jesus no
capítulo 28 de Mateus. A tradução literal de Atos 2:38 é: "seja batizado sobre o
nome de Jesus Cristo". Isso significa, segundo o dicionário de Thayer, que os
judeus haviam de "repousar sua esperança e confiança em sua autoridade
messiânica". Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência.
Aqueles que são batizados em nome do triúno Deus, por esse meio
estão testificando que foram submergidos em comunhão espiritual com a
Trindade. Desse modo pode-se dizer acerca deles: "A graça do Senhor Jesus
Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos"
(2 Cor. 13:13).
(c) O recipiente. Todos os que sinceramente se arrependem de
seu pecado, professam a fé no Senhor Jesus, são elegíveis para o batismo. Na
igreja apostólica o rito era acompanhado das seguintes expressões exteriores:
1) Profissão de fé. (Atos 8:37.)
2) Oração. (Atos 22:16.)
3) Voto de consagração. (1 Ped. 3:21.)
Visto que os infantes não têm pecados de que se arrepender e não podem
exercer a fé, logicamente são excluídos do batismo nas águas. Com isso não os
estamos impedindo que venham a Cristo (Mat. 19:13,14), pois eles podem ser
consagrados a Jesus em culto publico.
(d) A eficácia. O batismo nas águas, em si não tem poder para salvar; as
pessoas são batizadas, não para serem salvas, mas porque já são salvas.
Portanto, não podemos dizer que o rito seja absolutamente essencial para a
salvação. Mas podemos insistir em que seja essencial para a integral
obediência a Cristo. Como a eleição do presidente da nação se completa pela
sua posse do governo, assim a eleição do convertido pela graça e pela glória
de Deus se completa por sua pública admissão como membro da igreja de
Cristo.
(e) O significado. O batismo sugere as seguintes idéias:
1) Salvação. O batismo nas águas é um drama sacro (se nos
permitem falar assim), representando os fundamentos do Evangelho. A
descida do convertido às águas retrata a morte de Cristo efetuada;
a submersão do convertido fala da morte ratificada, ou seja, o
seu sepultamento; o levantamento do converso significa a conquista sobre a
morte, isto é a ressurreição de Cristo.
2) Experiência. O fato de que esses atos são efetuados com o próprio
convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente com Cristo.
A imersão proclama a seguinte mensagem: "Cristo morreu pelo pecado para
que este homem morresse para o pecado." O levantamento do convertido
expressa a seguinte mensagem: "Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de
que este homem pudesse viver uma nova vida de justiça."
3) Regeneração. A experiência do novo nascimento tem sido descrita
como uma, "lavagem" (literalmente "banho", Tito 3:5), porque por meio dela, os
pecados e as contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim como o
lavar com água limpa o corpo, assim também Deus, em união com a morte de
Cristo e pelo Espírito Santo, purifica a alma. O batismo nas águas simboliza
essa purificação. "Levanta-te, e lava os teus pecados (isto é, como sinal do que
já se efetuou)" (Atos 22:16).
4) Testemunho. "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos
revestistes de Cristo" (Gál. 3:27). O batismo nas águas significa que
o convertido, pela fé, "vestiu-se" do caráter de Cristo de modo que os homens
podem ver a Cristo nele, como se vê o uniforme no soldado. Pelo rito de
batismo, o convertido, figurativamente falando, publicamente veste o uniforme
do reino de Cristo.
2. A ceia de Senhor. Pontos principais.
Define-se a Ceia do Senhor ou Comunhão como o rito distintivo
da adoração cristã, instituído pelo Senhor Jesus na véspera de sua morte
expiatória. Consiste na participação solene do pão e vinho, os quais, sendo
apresentados ao Pai em memória do sacrifício inexaurível de Cristo, tornam-se
um meio de graça pelo qual somos incentivados a uma fé mais viva e
fidelidade maior a ele. Os seguintes são os pontos-chave dessa ordenança:
(a) Comemoração. "Fazei isto em memória de mim." Cada ano, no dia 4
de julho, o povo norte-americano recorda de maneira especial o evento que o
fez um povo livre. (*) Cada vez que um grupo de cristãos se congrega para
celebrar a Ceia do Senhor, estão comemorando, dum modo especial, a morte
expiatória de Cristo que os libertou dos pecados. Por que recordar a sua morte
mais do que qualquer outro evento de sua vida? Porque a sua morte foi o
evento culminante de seu ministério e porque somos salvos, não meramente
por sua vida e seus ensinos, embora sejam divinos, mas por seu sacrifício
expiatório.
(b) Instrução. A Ceia do Senhor é uma lição objetiva que expõe os dois
fundamentos do Evangelho:
1) A encarnação. Ao participar do pão, ouvimos o apóstolo João dizer: "E
o Verbo se fez carne e habitou entre nos" (João 1:14); ouvimos o próprio
* Por ser Dia de Independência dos Estados Unidos da América. (Nota do tradutor)
Senhor declarar: "Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida
ao mundo" (João 6:33).
2) A expiação. Mas as bênçãos incluídas na encarnação nos
são concedidas mediante a morte de Cristo. O pão e o vinho simbolizam dois
resultados da morte: a separação do corpo e da vida, e a separação da carne e
do sangue. O simbolismo do pão partido é que o Pão deve ser quebrantado na
morte (Calvário) a fim de ser distribuído entre os espiritualmente famintos; o
vinho derramado nos diz que o sangue de Cristo, o qual é sua vida, deve ser
derramado na morte a fim de que seu poder purificador e vivificante possa ser
outorgado às almas necessitadas.
(c) Inspiração. Os elementos, especialmente o vinho, nos lembram que
pela fé podemos ser participantes da natureza de Cristo, isto é, ter "comunhão
com ele". Ao participar do pão e do vinho da Ceia, o ato nos recorda e nos
assegura que, pela fé, podemos verdadeiramente receber o Espírito de Cristo e
ser o reflexo do seu caráter.
(d) Segurança. Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue"! (1 Cor.
11:25). Nos tempos antigos a forma mais solene de aliança era o pacto de
sangue, que era selado ou firmado com sangue sacrificial. A aliança feita com
Israel no Monto Sinai foi um pacto de sangue. Depois que Deus expôs as suas
condições e o povo as aceitou, Moisés tomou uma bacia cheia de sangue
sacrificial e aspergiu a metade sobre o altar do sacrifício, significando esse ato
que Deus se havia comprometido a cumprir a sua parte do convênio; em
seguida, ele aspergiu o resto do sangue sobre o povo, comprometendo-o, desse
modo, a guardar também a sua parte do contrato (Êxo. 24:3-8). A nova aliança
firmada por Jesus é um pacto de sangue. Deus aceitou o sangue de Cristo
(Heb. ?); portanto, comprometeu-se, por causa de Cristo, a perdoar e salvar a
todos os que vierem a ele. O sangue de Cristo é a divina garantia de que ele
ser benévolo e misericordioso para aquele que se arrepende. A nossa parte
nesse contrato é crer na morte expiatória de Cristo. (Rom. 3:25,26.) Depois,
então poderemos testificar que foram aspergidos com o sangue da nova
aliança. (1Ped. 1:2.)
(e) Responsabilidade. Quem deve ser admitido ou excluído da Mesa do
Senhor? Paulo trata da questão dos que são dignos do sacramento em 1Cor.
11:20-34. "Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber este cálice do
Senhor indignamente, será culpado (uma ofensa ou pecado contra) do corpo e
do sangue do Senhor." Quer isso dizer que somente aqueles que são dignos
podem chegar-se à Mesa do Senhor? Então, todos nós estamos excluídos! Pois
quem dentre os filhos dos homens é digno da mínima das misericórdias de
Deus? Não, o apóstolo não está falando acerca da indignidade das pessoas,
mas da indignidade das ações. Sendo assim, por estranho que pareça, é
possível a uma pessoa indigna participar dignamente. E em certo sentido,
somente aqueles que sinceramente sentem a sua indignidade estão aptos para
se aproximar da Mesa; os que se justificam a si mesmos nunca serão dignos.
Outrossim, nota-se que as pessoas mais profundamente espirituais são as que
mais sentem a sua indignidade. Paulo descreve-se a si mesmo como o
"principal dos pecadores" (1Tim. 1:15). O apóstolo nos avisa contra os atos
indignos e a atitude indigna ao participar desse sacramento. Como pode
alguém participar indignamente? Praticando alguma coisa que nos impeça de
claramente apreciar o significado dos elementos, e de nos aproximarmos
em atitude solene, meditativa e reverente. No caso dos coríntios
o impedimento era sério, a saber, a embriaguez.
Editora Vida, 2006
ISBN 8573671440
Título original: Knowing the Doctrines of the Bible
Tradução: Lawrence Olson
Reeditado por SusanaCap, a partir de arquivo txt encontrado na web. *
Agradecimentos ao Dumane pela digitalização do Cap.VIII, que faltava.
www.semeadores.net
* Obs.: Algumas referências bíblicas estavam ilegíveis e não puderam ser recuperadas
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