A Boa Nova Boletim Informativo da Diocese de São Carlos Ano 24 • nº 247 • Fevereiro/2015 MENSAGEM DO SANTO PADRE O PAPA FRANCISCO AO POVO BRASILEIRO Queridos irmãos e irmãs do Brasil, estamos iniciando a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa: tempo de penitência, oração e caridade, tempo de renovar nossas vidas, indentificandonos com Jesus através da sua entrega generosa aos irmãos, sobretudo os mais necessitados. Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inspirando-se nas palavras d´Ele “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10,45), propõe como tema da sua habitual Campanha “Fraternidade: Igreja e Sociedade”. De fato a Igreja, enquanto comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam o seu olhar a Jesus, o autor da salvação e princípio da unidade (Constituição Dogmática Lumen Gentium,3), não pode ser indiferente às necessidades daqueles que estão ao seu redor, pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Const. Pastoral Gaudium et Spes 1). Mas, o que fazer? Durante os quarenta dias em que Deus chama o seu povo à conversão, a Campanha da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade - propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II - como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do povo brasileiro. A contribuição da Igreja, no respeito pela laicidade do Estado e sem esquecer a autonomia das realidades terrenas, encontra forma concreta na sua Doutrina Social, com a qual quer “assumir evangelicamente e a partir da perspectiva do Reino, as tarefas prioritárias que contribuem para a edificação do gênero humano e a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem do ser humano” (Doc. de Aparecida, 384). Isso não é um a tarefa exclusiva das instituições; cada um deve fazer a sua parte, começando pela minha casa, no meu trabalho, junto das pessoas com quem me relaciono. E, de modo concreto, é preciso ajudar aqueles que são mais pobres e necessitados. Lembremo-nos que “ cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium 187), sobretudo sabendo acolher, “ porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela - um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos” (Discurso na Comunidade de Varginha - 25/07/2013). Assim, examinemos a nossa consciência sobre o compromisso concreto e efetivo de cada um na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica. Queridos irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz “Eu vim para servir” (cf. Mc. 10,45), nos ensina aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo. Por isso, faço votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, predisponha os corações para a vida nova que Cristo nos oferece e que a força transformadora que brota da sua ressurreição alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de todo coração a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim. Vaticano, 2 de fevereiro de 2015 Papa Francisco A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2015 Tema da Campanha - Fraternidade: Igreja e Sociedade - e o lema “ Eu vim para servir” (Mc. 10,45). O cartaz lembra o lava-pés e mostra a que veio o Papa Francisco: para fazer como Jesus, que lavou os pés de seus discípulos. A MAIS ANTIGA ORAÇÃO À MÃE DE DEUS É a antífona “sub tuum proesidium”, cantada pela santa Igreja na Liturgia das Horas e recitada por muitos fiéis em diversas oportunidades. “À vossa proteção recorremos, santa Mãe de Deus”. Não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”. Inluída desde tempos imemoriais nos ritos Ambrosiano, Copta, Sírio e Armênio, sua antiguidade foi confirmada na primeira metade do século XX, quando se encontrou, no Egito, um papiro do século III, contendo o original grego desta expressiva prece. O início da oração recolhe os ecos da versão grega da Bíblia e associa à Virgem a capacidade protetora atribuída a Deus pelo salmista: “Protegei-me sob a sombra de vossas asas” (Sl. 16,8). E a fórmula “mas livrai-nos sempre de todos os perigos” evoca o pedido feito no Pai Nosso: “mas livrai-nos do mal”. Como tantas outras preces litúrgicas antigas, o “sub tuum proesidium” se destaca por sua nobre simplicidade e sua concisão, aliadas a uma saudável espontaneidade. O pedido de proteção indica que os cristãos estavam em situação de perseguição, talvez a de Valeriano ou de Décio. Por isso, procuram proteção sob o manto da Virgem Maria. A DIOCESE GANHA SETE NOVAS PARÓQUIAS Neste início de ano, Dom Paulo está criando sete novas paróquias. O objetivo principal é estar mais próximo do povo de Deus. O nosso povo se acostumou com tudo perto: o supermercado, a farmácia, o postinho... Também a igreja deve estar mais perto. Uma proximidade não só geográfica mas, sobretudo, presencial. Em Jaú, cidade com mais de 130.000 habitantes, estão sendo criadas duas paróquias, completando treze paróquias (uma para cada 10.000 habitantes). Em São Carlos, estão sendo instaladas mais duas paróquias: a Paróquia São Brás que foi criada no ano passado mas somente agora está sendo instalada e a Paróquia São Cristóvão, desmembrada da paróquia Santa Luzia. A nova paróquia está do outro lado da Washington Luís. São Carlos passa a contar com 24 paróquias. O Santuário da Babilônia será administrado pelo padre Sebastião Pereira e pela Comunidade Cristo Sofredor. Ibaté também contará com mais uma paróquia, a São Francisco, que terá como Pároco o Pe. Carlos Alberto Giacone. Nova América e Tapinas, Distritos de Itápolis, serão sedes de duas Paróquias, embora com o mesmo Pároco, Pe. João Paulo Raimundo da Cruz. NÃO TRANSFORMEM O SANTUÁRIO EM UM MERCADO A liturgia do 3º Domingo da Quaresma, apresenta Jesus no templo revirando as bancas e expulsando os vendedores. Essa parece ser uma imagem diferente daquele Jesus manso e humilde com a qual estamos acostumados. Por isso, vale a pena rezar esse Evangelho, para saber qual a mensagem que Ele nos apresenta para este tempo de Quaresma. O Evangelho começa com a ida de Jesus a Jerusalém para festejar a Páscoa dos judeus. Essa festa deveria celebrar o momento em que o povo judeu foi libertado da escravidão do Egito. Era a festa mais importante para todo o povo, na qual todos deveriam agradecer a Deus por sua misericórdia. Contudo, quando Jesus chega ao templo, Ele encontra, em vez de um lugar para rezar, um mercado; as pessoas, em vez de rezar, queriam fazer umas comprinhas. Assim, podemos imaginar a decepção de Jesus... Hoje em dia, essa situação ainda é muito comum. Lembro quando acompanhei um grupo de pessoas a um santuário. Mal chegamos e alguns me perguntaram onde ficava a lojinha das lembrancinhas... Ora, antes de rezar, aquelas pessoas estavam interessadas no mercado do santuário. Para muita gente, fazer uma peregrinação é apenas um momento de festa no qual também aproveitamos para fazer umas comprinhas. Pe. André Bressane de Oliveira, SJ 02 DIOCESES COM O MAIOR NÚMERO DE PARÓQUIAS Segundo o Anuário Pontifício, no Brasil, a Diocese de São Carlos ocupa o 12º Lugar, em número de paróquias, ao lado da Diocese de Santo Amaro (SP). A nossa Diocese possui mais paróquias que muitas capitais e cidades maiores como: Natal, Manaus, Aracaju, Florianópolis, Maceió, Teresina, Belém e São Luis. E, aqui na região, mais paróquias do que Campinas, Ribeirão Preto, Rio Preto e Santos. É um dado interessante, levando-se em consideração o desejo do Papa Francisco de que a Igreja esteja sempre mais próxima, geográfica e existencialmente, do povo. AS RAZÕES DO FECHAMENTO (temporário) DO SEMINÁRIO MENOR E PROPEDÊUTICO O Reitor do referido Seminário, Pe. Emílio Carlos Mancini, publicou, por ocasião do encerramento das atividades, um justo agradecimento aos colaboradores daquela casa. No comunicado, Pe. Emílio justifica “... por decisão do Conselho Formador, junto ao nosso Bispo”. Faltou dizer que o ‘fechamento’ é temporário e que ele se deve ao pequeno número de seminaristas que iriam ocupar aquela grande casa: três, dos quais, dois vieram para a Casa de Formação de São Carlos e um foi cursar o terceiro ano em casa, retornando, se possível, no ano que vem, para a Filosofia. Aproveito a oportunidade para agradecer às religiosas do Externato Santa Terezinha pelas bolsas de estudos para os nossos seminaristas. Faço-o publicamente, mas espero fazê-lo pessoalmente, quando for a Araraquara. DEUS HABITA A FAMÍLIA Em preparação para o Sínodo da Família, cuja 1ª parte foi realizada em outubro do ano passado e que terá o encerramento com a 2ª parte, em outubro deste ano, em Roma, Dom Paulo está encaminhando às Paróquias um livrinho para encontros de famílias. A publicação contém testemunhos de famílias, dinâmicas que ajudam na participação de todos, especialmente dos jovens e crianças. O conteúdo é rico de ensinamentos e de fácil compreensão; ajuda a aprofundar a questão dos relacionamentos familiares, que o Papa Francisco tem insistido. O livrinho poderá ser vendido a R$ 2,00 (dois reais), preço bastante acessível para que todos possam adquirir. OS PADRES REDENTORISTAS O Pe. Elias, Superior da Casa em Araraquara, acompanhado do Pe. Marcelo de Souza , esteve em visita à Cúria Diocesana de São Carlos, apresentando ao senhor Bispo a relação dos Padres e Irmãos q u e i rã o co m p o r a C o m u n i d a d e Redentorista naquela cidade. O Superior será o Pe. Elias Guimarães; o Pe. Eugênio Antonio Bisinoto (para a alegria da Dagmar e família e também para a alegria de Dom Paulo) está de volta a Araraquara; Pe. Roberto Aparecido de Lima; Pe. Reinaldo Norberto das Graças Tristão; Pe. José Roberto Thuler; Pe. Francisco de Paula Mendes Peixoto; Pe. João Ribeiro de Carvalho; Pe. Antonio Dezidério Frabetti Vieira; Pe. Werner Antonio Anderer; Pe. Carlos Alberto Pereira; Pe. José Anchieta Tavares; Pe. José Pereira; Pe. Sebastião dos Reis Santos; Irmão Osvaldo Ferreira e Irmão Vanderlei Policarpo compõem a Comunidade Redentorista. Muitos deles estão ocupados no projeto missionário, carisma principal dos Redentoristas. VOTOS DE BOAS VINDAS A nossa funcionária, a Altiva, depois de quase um ano, retorna às suas atividades. Ela se encontrava em Goiânia, para uma cirurgia bariátrica. Seja bem-vinda Altiva! Todos nós estão felizes com o seu retorno e com o sucesso da cirurgia. O ANO DA PAZ Na 52ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, em Aparecida-2014, os Bispos acolheram o pedido de proclamar o ano de 2015, o ‘ANO DA PAZ”. Sabemos que a Paz está no centro da religião cristã, uma vez que, para o cristão, proclamar a Paz é anunciar Jesus Cristo. “Ele é a nossa Paz” (Ef. 2, 14). É preciso despertar, nos homens do nosso tempo e das gerações vindouras, o sentido e o amor à Paz, fundada na Justiça, na Liberdade e no Amor. Que da Paz recebida de Jesus Cristo surja uma nova humanidade, alicerçada nos verdadeiros valores que levem os homens a se amarem e a se respeitarem mutuamente. OS EXERCÍCIOS QUARESMAIS DOS LEIGOS, PADRES E BISPOS O texto do Evangelho da Quarta-feira de Cinzas (Mt. 6, 1-6,16,18) nos apresenta Jesus falando sobre o jejum, a esmola e a oração que, a partir das palavras d´Ele, passaram a constituir os nossos “exercícios quaresmais”. Para os leigos e padres tão somente; porque, para os Bispos se acrescenta um quarto exercício: as transferências de padres. Conheci um Bispo que, antes do Concílio, na ordenação presbiteral de um dos seus padres, perguntava ao que estava sendo ordenado, em latim: Prometes obediência e respeito a mim e aos meus sucessores? E, diante do solene “PROMETO”, ele sussurrava: “Videbimus!”, isto é, “veremos! ” O Diretório para o Ministério e a Vida do Presbítero diz-nos que “a obediência é um valor sacerdotal de primária importância”. Poder-se-ía pensar que ela se deve ao fato de, a Igreja, como toda organização, precisar de ordem, de eficácia e unidade e, portanto, de obediência. Mas, não é só isso. Quando o Bispo transfere um padre ou quando vai suprir as necessidades de uma paróquia, o Bispo não age por mero capricho, como alguém que mexe as pedras de um tabuleiro de xadrês. Os motivos e as metas são sempre pastorais e são feitas em clima e em cima de muita oração e de diálogo com as partes. Nunca, em meus 25 anos de episcopado, fiz uma transferência “usando o báculo”, isto é, do meu poder episcopal. Mas, algumas vezes e não raro, há sacerdotes que colocam o Bispo “ em maus lençóis”, falando com a comunidade que está saindo porque o Bispo mandou. Mesmo que assim fosse - mas não é - valeriam aqui as palavras do Livro dos Provérbios, quando diz: “Vir obediens loquetur victoriam” - “O homem obediente cantará sempre vitória”. Essa convicção nos levará a dizer, com Santo Agostinho, o Bispo de Hipona: “Domine, da quod iubes et iubat quod vis”, isto é, Daí-me, Senhor, a força para cumprir o que ordenas e, ordena, Senhor, o que quiseres”. Confesso, senhores padres, que é, para mim, um tempo de martírio a época das transferências e eu só gostaria de contar com a “ transparência” dos padres, para dizer, como Jesus: “ Eu não vim para ser servido, eu vim para servir” (Mc. 10,45) , o que, aliás, é o lema da Campanha da Fraternidade deste ano. NINGUÉM É PADRE SOZINHO E A SALVAÇÃO SE DÁ EM COMUNIDADE Duas idéias muito fortes, recuperadas - porque haviam sido esquecidas - a da comunhão e colegialidade e a da salvação na Igreja (comunidade) Quanto à primeira, São João Bosco, na sua Primeira Missa, lembrava que “o padre não vai sozinho para o céu, ou não vai sozinho para o inferno. Se fizer o bem, irá para o céu com as almas salvas por ele e por meio do seu bom exemplo; se fizer o mal, se der escândalo, irá para a perdição com as almas condenadas pelo seu escândalo”. E, acrescente-se a isso; ‘Ninguém é padre sozinho”. Como posso me alicerçar nos outros, posso ser, também, pedra de escândalo para os outros. Eu posso dizer, diante do Sacrário que nunca sobrepus as minhas convicções pessoais acima das necessidades pastorais. Não foi por acaso que escrevi, por ocasião de meu Jubileu de Prata Episcopal, a Carta Pastoral: “O Pastor com o cheiro das ovelhas “seguindo o que nos ensina o Papa Francisco, por quem tenho uma grande admiração e a quem devo uma inquestionável obediência. E os padres compartilham comigo o pastoreio. Sou, como Bispo, ovelha do rebanho de Cristo; os padres, são ovelhas de Cristo e ovelhas do Bispo; e Cristo, o Bom Pastor, nos quis, Bispos e Padres, compartilhando o pastoreio. Pode parecer paradoxal, mas somos pastores e ovelhas. A segunda idéia diz respeito à salvação. Não posso entender uma salvação individual. Como não posso entender que um pai de família vai, com a esposa e os filhos, a um clube, para um lazer e, lá na portaria, escuta: “ Só o senhor pode entrar; a mulher e os filhos, não”. Duvido que esse pai entre e, se entrar não se sentirá feliz. Troque a palavra “clube” por “céu” e reflita comigo. CONVOCAÇÃO PARA A 53ª ASSEMBLÉIA DA CNBB Dom Paulo recebeu a convocação e já confirmou a sua participação na 53ª Assembleia da CNBB, a realizar-se em Aparecida de 15 a 24 de abril, no Centro de eventos Pe. Vitor Coelho. O tema central será: “Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil - 2015-2019. Esta Assembléia será também eletiva e, nela, serão eleitos o Presidente, Vice-Presidente e Secretário Geral da CNBB, bem como os Presidentes das Comissões Episcopais Pastorais (CONSEP), os Delegados para o Sínodo da Família e os representantes da CNBB no CELAM. Também estão na pauta outros temas prioritários. 03 A VIA-SACRA DE HOJE Um olhar sobre nosso mundo leva-nos à conclusão de que os homens e as mulheres de nosso tempo percorrem uma grande ViaSacra, com muito mais estações do que as tradicionais. A Via-Sacra clássica que você conhece tem catorze estações, que reproduzem e atualizam alguns momentos significativos da Paixão de Cristo, desde Sua condenação à morte até Seu sepultamento. Ora, em nosso tempo, o sofrimento está por toda parte: no Oriente Médio, com seus milhões de refugiados; na Europa, com seus imigrantes vivendo em permanente insegurança; no Nordeste brasileiro, que periodicamente sofre as consequências da seca. Se, percorrendo qualquer rua de nossa cidade, batermos de porta em porta, o que constataremos? Que muitas de nossas casas também são estações da Via-Sacra. Mesmo entre nossos conhecidos, quem não tem alguma história para contar, marcada pelo sofrimento? Basta perguntar a qualquer pessoa se tem algum problema, e, logo, ela nos conta uma longa e dolorosa história. O que a fé nos diz a esse respeito? Na Bíblia, não há grandes explicações sobre o sofrimento. Há, sim, uma série de pessoas que são atingidas por ele e que dão sua resposta concreta. Nem Jesus discorreu sobre o sentido da dor. Mas agiu quando se deparou com ela: curou cegos e aleijados; falou a respeito do bom samaritano, que socorreu um ferido à beira da estrada, e sobre a necessidade de tomarmos a cruz; restituiu a alegria a uma viúva que chorava a perda do filho e deu esperança a uma pecadora que queriam apedrejar; convidou os aflitos a procurá-Lo e prometeu aliviar a dor dos que Lhe entregassem seus problemas. Por que a humanidade sofre? À luz da fé, a resposta é: porque não coloca nas mãos do Senhor suas dores e porque não aprende a reparti-Ia com Ele. Alguém poderia perguntar-me: mas, fazendo isso, os sofrimentos desaparecerão? E a fome? E as injustiças? Muitas vezes, imaginamos e desejamos um Senhor que esteja a nosso serviço e que se adapte a nossos gostos. O que Jesus Cristo nos propõe é diferente: Ele quer que entremos em Seu coração, para que aprendamos a ser como Ele é. Ele foi tudo para todos. Passou a vida repartindo: repartiu Sua filiação divina, dando-nos a possibilidade de sermos filhos de Seu Pai; partilhou conosco Seus segredos; dividiu com os homens Seu jeito de rezar e de ver as pessoas, Sua alegria e Seus dons; e, como síntese desse Seu jeito de ser e agir, deixou-nos Sua Presença na Eucaristia. Voltemos a percorrer as estações da Via-Sacra. Há os que, diante do sofrimento, se consolam: "É vontade de Deus!". Que imagem de Deus essas pessoas trazem no coração! Poderia agradar a Deus o sofrimento de Seus filhos? Não! Nós é que nos refugiamos em desculpas para continuar instalados em nosso egoísmo e apegados aos nossos bens, aos nossos títulos, ao nosso conforto e às nossas ideias. Você já imaginou o mundo que surgiria se, um dia, todos, ao acordarem pela manhã, tomassem a decisão de repartir seus talentos, seu tempo, seu amor e seu dinheiro? Se todos perdoassem de coração a quem os ofendeu? Quanta paz surgiria repentinamente! Se estivéssemos atentos aos necessitados, quantos gestos de amor se multiplicariam! Se praticássemos a justiça em nossa empresa, quantas pessoas seriam beneficiadas! Se... se... Não, Deus não quer o sofrimento. As estações da Via-Sacra não são obras d'Ele, mas nossas. Se tirarmos do mundo o sofrimento causado pelo coração humano - um coração tantas vezes cheio de ódio, de ganância, de sensualidade, de apego ao poder etc. -, o que sobraria? Sobraria aquilo que é do Senhor: a alegria, a paz, a bondade, o perdão, a fidelidade etc. Por isso, se colocarmos em prática seus ensinamentos, o mundo se transformará em uma imensa mesa, em torno da qual todos se sentarão. Haverá pão para todos; haverá mãos unidas; haverá sorriso nos lábios. Esse é o mundo desejado por Deus. Assim é o Seu Reino. Nisso se resume o sonho que tem para nós, Seus filhos. Por que será que nos custa tanto aceitar o Evangelho e entrar nesse Reino? 04 BRASILEIRO PASSA TRÊS MESES POR ANO NA FRENTE DA TELEVISÃO Estudo inédito do Ibope revela um dado impressionante: o brasileiro passa um quarto do seu tempo na frente do televisor. No ano passado, na média nacional, cada telespectador assistiu TV durante 5 horas, 52 minutos e 39 segundos, por dia. Isso quer dizer que o brasileiro passou três meses de 2014 vendo televisão. O consumo de TV está crescendo principalmente na TV paga e voltou a subir na TV aberta, depois de vários anos de queda. Segundo o Ibope, o que mais atrai os brasileiros na TV aberta são as novelas e minisséries, seguidas de transmissões esportivas, filmes e reality shows. NOTAS A RESPEITO DA INTERNET Já tivemos a oportunidade de comentar, através de nosso Informativo Diocesano “A BOA NOVA”, a importância da Internet, inclusive em nossos trabalhos de evangelização, bem como chamamos a atenção para o uso indevido e excessivo deste valioso meio de comunicação. Internet é como “doce de leite”. É gostoso, mas basta uma colher. Chamo a atenção, sobretudo dos padres e seminaristas a esse respeito: tem padres exagerando na “dose”, colocando nos “sites” informações desnecessárias, expondo-se e expondo a Igreja. Pessoalmente, não uso a Internet, por falta de tempo e também de motivação. Muitos poderão dizer: “o bispo também tá velho”. Reconheço as minhas limitações mas é meu direito usar ou não a Internet, como é direito dos mais jovens usá-la. Somente recomendo “Use com moderação”! EU VIM PARA SERVIR Cinquenta anos atrás, quando o Concílio Ecumênico Vaticano II ( 1962-1965) estava terminando, seus participantes aprovaram um documento que marcaria a vida da Igreja nas décadas seguintes. Trata-se da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, “Alegria e Esperança”, sobre a Igreja no mundo de hoje. Esse documento não estava previsto para saer publicado antes do término do Concílio; sua necessidade se impôs, no entanto, à medida que os Bispos foram percebendo que era imprescindível esclarecer a relação da Igreja com o mundo e com os homens e mulheres da época. O início do texto que aprovaram é uma síntese do seu conteúdo: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e das mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração (G.S. 1 ). A Campanha da Fraternidade, que tem à sua frente os Bispos do Brasil, quer verificar, neste ano de 2015, como está e como pode ser aprofundado o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade em nosso país, à luz do lema “Eu vim para servir” ( Mc.10,45 ) Uma primeira certeza se impõe: A MENSAGEM DO EVANGELHO exige dos cristãos o dever - mas também o direito de participar da vida da Sociedade. O que deve mover-nos, nesse serviço, é a missão que recebemos de Jesus, de trabalhar em favor da verdade, da justiça e da fraternidade, em vista do bem comum. Nesse serviço, cabe-nos organizar movimentos em defesa dos direitos das pessoas e no combate às injustiças que atentam contra a dignidade humana, além de programas de assistência aos necessitados. Queremos participar da Sociedade, defendendo valores em favor da vida e da dignidade dos indivíduos, como fez Jesus Cristo em seu tempo. Dom Murilo Krieger - Arcebispo de Salvador