XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
BIOECONOMIA: OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO PARA O AGRONEGÓCIO
BRASILEIRO
Omar Jorge Sabbag1
INTRODUÇÃO
O Brasil caracteriza-se como importante líder na produção animal e vegetal, dentre as quais destacamse o etanol, café, a carne suína e bovina. Neste contexto, existem mais de cinco milhões de propriedades
rurais, representando aproximadamente 27 % do PIB (produto interno bruto) e 35 % dos empregos gerados
pela agropecuária (Cruvinel, 2012).
Atualmente, sob a ótica da inovação, o mundo perpassa por conceitos ligados à química verde e à
energia renovável, que complementam outras ondas da dinâmica do desenvolvimento, aliados à biotecnologia
e à tecnologia da informação, desde os anos 90 (Haddad, 2009).
Neste contexto, conforme Cruvinel (2012), algumas tendências macroambientais são relevantes ao
crescimento para o agronegócio, dentre as quais a mudança do perfil da demanda mundial por alimentos
(exigências do mercado consumidor/rastreabilidade e segurança alimentar), a expansão da demanda mundial
por agroenergia (energia renovável), a relevância do agronegócio para o desenvolvimento econômico do país
e a disseminação de sistemas integrados e rotacionados (integração floresta-lavoura-pecuária-agroenergia).
Como parte destas tendências, a inserção da bioeconomia ainda possui seu conceito em expansão nas
organizações, mostrando que 39% das empresas investem em até 20% para a temática em questão; por outro
lado, 15% representam mais de 80% de investimentos no setor (CNI, 2014).
Desta forma, a presente temática aborda identificar a bioeconomia em sua forma conceitual, com suas
vantagens e benefícios aplicados à produção animal, por meio de exemplos internacionais e do país, expondo
seus impactos econômicos ao agronegócio brasileiro.
BIOECONOMIA X BIOTECNOLOGIA
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e para o Desenvolvimento Econômico), a
bioeconomia é relacionada à produção de bioprodutos, que em sua essência fazem uso de recursos da
biodiversidade e são gerados a partir da biotecnologia moderna. De acordo com Miguel (2007), a
biotecnologia moderna abrange diferentes áreas do conhecimento, incluindo as ciências básicas (biologia
molecular, microbiologia, biologia celular, genética, genômica, embriologia,...), as ciências aplicadas
(técnicas imunológicas, químicas e bioquímicas) e áreas tecnológicas (informática, robótica e controle de
processos).
Neste contexto, a bioeconomia é um conceito mais relacionado à biotecnologia moderna,
apresentando certa limitação para uso na compreensão da realidade local e/ou regional, uma vez que excluiria
grande parte das empresas hoje existentes. Segundo Vasconcellos e Frickman (2007), produtos com um nível
médio de pré-processamento são secos, moídos, triturados ou transformados em polpas, extratos ou óleos
vegetais e/ou essenciais. Outros ainda são transformados diretamente em produtos como sabonetes e
shampoos; entretanto, poucos conseguem se transformar em um produto acabado com alto valor tecnológico
agregado.
Assim, podemos entender que a biotecnologia é a tecnologia baseada na biologia, especialmente
quando usada na agricultura, ciência dos alimentos e medicina, e que em seu mais alto nível, reflete a
bioeconomia em escala tecnológica, possuindo grande participação em atividades voltadas ao agronegócio,
como por exemplo, melhoramento genético e uso de microrganismos na agricultura, conforme demonstra na
Figura 1.
1
Docente da UNESP – campus de Ilha Solteira. Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e
Sócioeconomia. Av. Brasil Centro, 56 – Ilha Solteira/SP – 15.385-000. Área: Economia e Gestão do
Agronegócio. E-mail: [email protected]
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Figura 1. Aplicações da biotecnologia (bioeconomia) voltadas à produção agropecuária.
Ainda inserido na concepção de bioeconomia, Araújo Filho (2010) propõe que os bionegócios sejam
entendidos como atividades com fins econômicos, desenvolvidos por empresas, que tenham como principal
característica o uso intensivo e, portanto, a significativa dependência de insumos da biodiversidade.
Desta forma, a tipologia para bionegócios se resume em quatro principais grupos, dentre os quais:
Grupo I: Uso da biodiversidade no estado in natura ou submetida a processos de beneficiamento simples;
inclui atividades com uso econômico do valor “cultural” da biodiversidade. São exemplos a comercialização
de frutos e peixes frescos, folhas, raízes, cascas, flores, artefatos com ênfase estética ou decorativa, moda,
turismo;
Grupo II: Produtos que utilizam processos baseados em domínio disseminado (extração, concentração,
filtração, destilação, separação, etc.), que podem demandar o uso de boas práticas. Incluem-se alguns
produtos como bebidas, concentrados, doces e polpas;
Grupo III: Abrange processos químicos e/ou biológicos de maior complexidade, em que o desenvolvimento
do produto exige testes ou ensaios. Alcançam as matérias-primas e produtos de perfumaria, cosméticos,
fitoterápicos, bioenergia, reprodução de plantas e alimentos industrializados; e
Grupo IV: Assegurado pelo uso de processos associada à chamada biotecnologia moderna, que tem como
base a biologia molecular e a engenharia genética, com a existência de organismos geneticamente
modificados, e alimentos funcionais.
De maneira geral, a classificação dos grupos refere-se ao grau de especificidade de cada um,
considerando-se que o grupo I tenha menor grau (com aplicação mais apropriada do conceito de bionegócio),
até o maior grau, correspondente ao grupo IV (com maior especificidade tecnológica, corroborando com o
conceito de bioeconomia).
Para a área de agricultura e pecuária, torna-se necessário aumentar massivamente os investimentos
públicos em pesquisa para o desenvolvimento. Segundo Pardey et al. (2006), após algumas décadas de
declínio, serviu para reacender o interesse internacional em relação à agricultura. O crescimento econômico
espetacular realizado nas últimas duas décadas pelos países emergentes como Brasil, China, Índia, Indonésia
e México, foi sustentado por um igualmente espetacular crescimento dos seus setores agrícolas, graças aos
investimentos significativos em pesquisa agrícola.
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Segundo De Negri e Salerno (2005), é possível afirmar que a conduta das empresas diante de um
ambiente competitivo deve ser reforçada por estratégias comumente utilizadas, dentre as quais a inovação
tecnológica tem se apresentado como fundamental para a competitividade.
Apenas como exemplo, a importância voltada ao desenvolvimento da fitoindústria na região norte
do país poderá proporcionar algumas vantagens como estratégia de desenvolvimento regional. A Figura 2
demonstra as composições dos dispêndios do total de empresas inovadoras do setor industrial em atividades
de inovação em Manaus/AM.
Figura 2. Dispêndios das empresas inovadoras por atividade de inovação.
Fonte: SECTI (2013).
A competência estabelecida na biotecnologia, aliado ao domínio dos processos agroindustriais
relacionados com a bioenergia, com as aptidões agrícolas do país (extensão e tecnologia), qualificam o Brasil
como um ator de liderança neste novo cenário com visão bioeconômica (Barros & Neto, 2007).
BIOECONOMIA: BENEFÍCIOS E DESAFIOS
A bioeconomia poderá contribuir significativamente para a atividade econômica. Previsões indicam
que até o ano de 2030, o uso das biotecnologias contribuirá com até 35% da produção industrial de químicos
e de outros produtos que podem ser fabricados por meio de biotecnologia; com até 80% dos produtos
farmacêuticos e de diagnóstico; e com cerca de 50% destinados à produção agrícola (OCDE, 2006).
Neste sentido, o setor agroalimentar tem sido fortemente influenciado, nas últimas décadas, pelos
avanços da bioeconomia, os quais podem ser caracterizados pela ênfase no desenvolvimento de tecnologias,
na regulação governamental e em serviços de extensão, dentre os quais pode-se identificar a melhoria da
eficiência através de técnicas tradicionais de cultivo e reprodução, bem como a industrialização de produtos
alimentícios, baseadas na redução de produtos primários, ou seja, a biotecnologia conduz à produção
industrial de produtos alimentícios como a carne artificial (Horlings & Mardsen, 2011).
Na concepção de eficiência, avaliações de produtividade e eficiência são muito focadas apenas na
produtividade como indicador, e, segundo Gomes (2003), este indicador pode ser equivocado, por não
considerarem outros recursos para a medida de eficiência Neste sentido, um produto formado pode utilizar as
mais variadas combinações dos recursos produtivos, podendo obter resultados diferenciados; desta forma, é
mais eficiente quando consegue obter melhores resultados com o mesmo conjunto de recursos de que dispõe.
A bioeconomia fortalece pelo fato de apresentar inúmeras vantagens, considerando a biodiversidade
existente em toda dimensão territorial do país, aliado a fatores que favorecem a novos produtos em
desenvolvimento, dentre os quais o de possuir incentivo em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo por
constituir de um importante patrimônio genético, bem como os diversos usos no segmento agropecuário,
como a exploração de novos biocombustíveis e o reaproveitamento econômico existente de seus subprodutos,
como a biomassa.
Por outro lado, a baixa interação da empresa com academia e incentivo governamental ainda em
estágio incipiente preponderam como fatores limitantes à bioeconomia no Brasil, aliados à burocracia, como
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
forma de não promoverem mais pesquisas voltadas à inovação em produtos e serviços, o que ainda torna um
grande desafio a ser superado.
A inovação tecnológica é um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento econômico,
pelo qual as nações sempre estiveram vinculadas de perto ao acesso à ciência e tecnologia e à efetiva
exploração de ambas (Freeman & Soete, 2008). Mais especificamente para a saúde humana, está
condicionada a dilemas semelhantes: por um lado, tem potencial para tornar-se uma grande geradora de
lucros, inovação e empregos; por outro, mais direcionada às questões sociais, visa ao atendimento das
necessidades imediatas da população, buscando medicamentos e formas de tratamento mais eficazes,
preferencialmente a custos menores, o que não difere na produção agropecuária.
Com maior especificidade à produção animal, existem inúmeros benefícios, dentre os quais podem-se
destacar a elaboração de composto poliprobiótico utilizado na pecuária leiteira, correspondente à aplicação da
biotecnologia nas práticas, usos e costumes da nossa agricultura. O composto contém espécies de
microrganismos (fungos, leveduras e bactérias), substâncias orgânicas (enzimas), macronutrientes (cálcio e
fósforo) e micronutrientes. Convém destacar que o produto se destina a melhorar o processo digestivo dos
ruminantes, o que implica em melhor aproveitamento dos alimentos e nutrientes, ao tempo em que provoca a
eliminação de bactérias e outros organismos patogênicos.
Vale ressaltar que a educação sanitária é um componente essencial à sanidade animal e vegetal - não
limitada apenas a melhoria de produtos - com o propósito de evitar possíveis danos à saúde pública (oriundas
de zoonoses ou contaminações alimentares), que refletem diretamente no potencial bioeconômico, com a
introdução de novos produtos ofertados nos diferentes mercados, expressos por diferentes cadeias produtivas,
incluindo-se o comércio exterior, por meio das exportações (Figura 3).
Figura 3. Pilares da sanidade agropecuária.
Historicamente, sabemos que a barreiras sanitárias refletem diretamente na queda das exportações
brasileiras, considerando as principais commodities do segmento agropecuário para contribuir à elevação do
PIB no país. Como exemplo clássico, o episódio da febre aftosa (acarretando perda de mercado para a
suinocultura), bem como a síndrome da “vaca louca”, geraram perdas diretas que refletem o custo de um
surto no país de origem, resultando em fatores como redução na produção, abates, erradicações sanitárias,
perda de mercado e redução do preço pago ao produtor. Paralelamente, têm-se ainda as perdas indiretas, que
refletem diretamente a cadeia de suprimentos, o enfoque sócio psicológico do consumidor, bem como
restrições voltadas ao quesito ambiental.
Em contrapartida, caminhamos para um avanço biotecnológico. No Brasil, os bionegócios prometem
tornar-se os componentes mais importantes dos agronegócios no futuro próximo, haja vista que 75% dos
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
ingredientes ativos dos medicamentos mais potentes são derivados de plantas – estas consideradas “fábricas
vivas”, ou foram inspirados em substâncias nelas existentes, com o estabelecimento de algumas parcerias
entre produtores e institutos de pesquisa, como Fapesp, CNPq e Embrapa.
Podemos referenciar a algumas experiências internacionais, como na Europa. Segundo a Fundação
para Tecnologia e Ciência de Portugal, para o ano de 2020, considerando-se como desafios à sociedade
garantir o abastecimento adequado de alimentos seguros e de qualidade e outros produtos de base biológica,
bem como desenvolver sistemas de produção primários produtivos e eficientes na utilização de recursos
(Fernandes, 2015).
Neste sentido, segundo dados da Associação Brasileira de Biotecnologia (Brazil Biomap, 2011), o
Brasil possui mais de 240 empresas na área, sendo 80% delas micro ou pequenas, das quais 70% se mantêm
com repasses governamentais, estimados em R$ 10 bilhões, ou seja, quando o capital escassear, estas
empresas padecerão. Por outro lado, 75% das empresas não exportam os produtos resultantes da pesquisa,
sendo mais focadas ao mercado interno, de maneira a promover o fortalecimento da bioeconomia no Brasil,
considerando que após a atuação na área de saúde humana, a saúde animal encontra-se como a segunda
melhor área de atuação no conjunto de empresas.
BIOECONOMIA E BENEFÍCIOS ECONÔMICOS AO SEGMENTO AGROPECUÁRIO
A biotecnologia constitui um conjunto de tecnologias fundamentais para o desenvolvimento de uma
agropecuária competitiva e sustentável, de forma a serem úteis para uma produção animal e vegetal que
precisam atender uma demanda crescente de alimentos, preocupando-se com a preservação ambiental. O que
se propõe seria o aumento da produtividade e redução de custos, inovações e melhoras na qualidade dos
alimentos e utilização de práticas agrícolas mais ecológicas.
Neste sentido, as biotecnologias modernas (voltadas ao conceito de bioeconomia) são potencialmente
decisivas para o agronegócio, caracterizando-se como a base de inovações de produtos a partir da
manipulação genética e os instrumentos de identificação e valorização de novos princípios ativos – fator
crucial para o Brasil, dada sua biodiversidade, o que reflete em relevante impacto econômico, por exemplo,
de organismos geneticamente modificados, o qual a Argentina e Brasil possuem expressiva participação na
América do Sul, conforme Tabela 1.
Tabela 1. Impacto econômico do uso de OGM (US$ milhões) no período 1996-2009.
Fonte: Brookes & Barfoot, 2011.
Neste contexto, para uma abordagem macro, existem alguns pressupostos globais para o
desenvolvimento na produção animal. Especificamente para a pecuária de corte, sistemas reconhecidos de
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
rastreamento e certificação, eficiência bioeconômica do sistema de produção e programas eficientes de defesa
sanitária são tido como relevantes para o avanço na produção e crescimento para o agronegócio.
Entretanto, em nível micro, torna-se necessário desenvolver modelos bioeconômicos de suporte à
decisão em sistemas de produção, além de analisar o comportamento e o impacto econômico dos principais
recursos biotecnológicos existentes nas unidades de produção agropecuária, identificando quais alternativas
poderiam ser incorporadas, com o propósito de gerar acréscimos de eficiência e rentabilidade ao empresário
rural, bem como adaptação às exigências mercadológicas de comercialização de produtos e preservação
ambiental.
Assim, a quantificação da produtividade e eficiência bioeconômica de sistemas de alimentação para
bovinos são obtidas, por exemplo, variando o nível de produção e os componentes da alimentação,
permitindo a definição e a especialização do sistema de produção de leite de acordo com a disponibilidade de
recursos naturais, características estas da base física do sistema de produção e da disponibilidade de
alimentos. O estudo do potencial de produção de leite, a partir das forrageiras comumente utilizadas nos
sistemas de produção adotados no Brasil, pode auxiliar na escolha do sistema que será adotado, relacionandose também com o potencial produtivo dos animais que compõe determinado sistema (Renno et. al., 2008).
O custo de fontes tradicionais de alimentos para suplementação animal, como os grãos de cereais, tem
se tornado limitante à rentabilidade dos sistemas de produção. A inclusão de fontes energéticas alternativas
em rações tem como principal objetivo baixar os custos de alimentação, mantendo-se os níveis de produção
de leite (Pedroso et al., 2009).
Para se ter uma ideia prática, em uma avaliação bioeconômica dos custos das rações com diferentes
níveis de substituição do milho (25 e 50%) por sorgo em dietas de machos suínos castrados, mostrou que o
custo médio da ração consumida nas diferentes fases de produção obteve um índice máximo de eficiência
econômica na substituição por 50% de sorgo, refletindo assim uma redução aproximada de 5% de custo/kg
de suíno produzido (Moreira et. al, 2014). Leite & Gomes (2001) citaram que a avaliação bioeconômica de
alimentos utilizados para a produção de leite se torna cada vez mais importante, uma vez que a maximização
de lucros se torna uma necessidade a quem produz.
Os subprodutos oriundos da produção de biodiesel surgem também como opção promissora em
função do grande volume a ser gerado, pois, com os incentivos governamentais, a produção do biodiesel
tende a crescer no Brasil. Dessa forma, espera-se o aumento da oferta de subprodutos que podem ser
utilizados na alimentação animal. A torta de dendê é um destes subprodutos, caso esse vegetal seja adotado
como matriz energética. A inclusão de cerca de 10% de torta de dendê na dieta de vacas lactantes é
empregada em vários países e, na Malásia, a inclusão supera 50% (Osman & Hisamuddin, 1999).
Destaca-se ainda que os sistemas agrícola e pecuário são interdependentes, como retrata o trabalho de
Renno et. al. (2008), avaliando-se os animais em lactação, o desempenho das estratégias de alimentação é
influenciado pela qualidade das forrageiras utilizadas, enquanto, na avaliação por unidade de área, a
produção de leite e a receita são fortemente influenciadas pela capacidade de suporte ou pela produtividade
das forrageiras que compõem as estratégias de alimentação.
Em se tratando de modelos bioeconômicos aplicados à produção animal, para fins de cálculo do
desempenho de animais, as receitas e os custos dos sistemas de produção para obtenção de valores
econômicos podem ser adaptados para diferentes situações. Todavia, estes modelos são complexos e
detalhados e nem sempre existe a disponibilidade das informações básicas necessárias. De maneira geral, o
valor econômico (VE) de uma dada característica é dado pela seguinte equação:
VE = ΔL / ΔG
em que: ΔL= Variação no lucro e ΔG = Variação no desempenho da característica em análise.
Em resumo, toda atividade produtiva deve ter por premissa básica a busca por resultados eficientes em
termos produtivos e, sobretudo em termos econômicos.
Reportando-se à importância da relação entre bioeconomia X biotecnologia, a Fundação Biominas
identifica 253 empresas privadas de biociências no Brasil, das quais 43% são de biotecnologia. A Região
Sudeste se destaca e concentra 71,9% das empresas de biociências, sendo que os estados de São Paulo
(37,5%) e Minas Gerais (27,7%) lideram as estatísticas. Em segundo lugar aparece a Região Sul, que abriga
15% das empresas. As principais áreas de atuação são: Saúde Humana (30,8%) e Agricultura (18%).
Na agricultura, o foco das pesquisas direcionam para o desenvolvimento de sementes e plantas
transgênicas, controle de pragas, clonagem de plantas, produção de fertilizantes; da mesma forma na
bioenergia, ao desenvolvimento de tecnologias para produção de etanol e biodiesel. Já na área de saúde
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
animal, apontam-se vacinas e produtos terapêuticos, transferência de embriões e inseminação artificial,
melhoramento genético, clonagem, identificação genética, dentre outros.
Um dos maiores desafios para o Brasil tem sido a agregação de valor à sua importante produção
agrícola e pecuária. Contudo, devem-se priorizar as áreas de atuação bem como estabelecer ações
estruturantes quanto a investimentos, infraestrutura, recursos humanos e marco regulatório (leis). Ademais,
devem ser implementados mecanismos de monitoramento e avaliação de desempenho destas ações.
Como pode ser observada na Figura 4, a área de nutrição encontra-se na segunda posição na cadeia de
bioeconomia em função do seu alto valor agregado, e esta estratégia visa transferir tecnologia do exterior e
gerar, no Brasil, plataformas tecnológicas que possam originar futuramente novas inovações nacionais, e
produzir no território nacional alimentos e insumos cm maior potencial produtivo.
Figura 4. Cadeia da bioeconomia no país.
Fonte: Tonelli & Damasceno (2014).
Desta forma, a sociedade espera da agricultura uma contribuição significativa na produção de energia
renovável, substituindo parte dos finitos recursos para novos usos de produtos e subprodutos da agricultura
na bioquímica e em vastos setores da economia, como propõe a bioeconomia (Lopes & Contini, 2012).
A importância da bioeconomia e a pressão por sistemas produtivos ambientalmente sustentáveis
apontam para a necessidade de se dinamizar os processos de conservação, caracterização, agregação de valor
e uso de recursos genéticos vegetais, animais e microbianos. Como quinto maior país do mundo em termos
de extensão territorial, o Brasil possui um enorme potencial para as atividades agropecuárias, podendo se
beneficiar muito pela adoção das ferramentas de biotecnologia. Aliado ao fato, conta com grandes reservas
de terras, o que possibilita planejar o uso agrícola em bases sustentáveis, sem comprometer os grandes
biomas terrestres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bioeconomia, assim como a ecoeconomia, podem ser vistas como exemplos da teoria de
modernização ecológica.
O embasamento técnico e a natureza da biotecnologia moderna estão possibilitando a criação de uma
nova bioeconomia, com influências em diversos campos do conhecimento e com possibilidades de
desenvolvimento de imensa gama de novos produtos e processos, sobretudo aplicado ao agronegócio.
O Brasil tem à sua frente oportunidades a partir das suas condições naturais. Embora nosso país esteja
em condições favoráveis à liderança do agribusiness mundial, o segmento de bionegócios possui um valor
agregado muito maior que os agronegócios tradicionais, em especial quando substâncias com ação
farmacológica estiverem envolvidas.
Entretanto, desafios devem gradativamente ser superados, como crescimento contínuo da mão de obra
qualificada, as atuais condições de financiamento oferecidas por autarquias, que devem ser redirecionadas ao
maior estabelecimento de parcerias entre o setor privado e agropecuário no tocante à P&D, bem como as
universidades com recursos limitados de transferência de tecnologia (ainda em condições de dependência de
recursos externos).
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Ainda neste sentido, a introdução do conceito de bioeconomia nas agendas políticas dos países latinos
americanos – o qual se inclui o Brasil - tornam pontos de discussão cada vez mais factíveis de serem
adotados para uma melhoria na produção eficiente em sistemas produtivos, com maior rentabilidade, assim
como a projeção de agregar valor à matéria-prima obtida, de forma a fortalecer o agronegócio, limitado ao
destaque da produção de commodities.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO FILHO, G. Iniciativas em bionegócios e o programa Pappe-subvenção no estado do Amazonas.
Revista T&C Amazônia, v. 8, n. 19, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BIOTECNOLOGIA. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Brazil
Biotech
Map
2011.
São
Paulo/SP.
Disponível
em:
<http://www.cebrap.
org.br/v1/upload/pdf/Brazil_Biotec_Map_2011.pdf>. 2011. Acesso em 25 Mar. 2015.
BARROS, G.S.C; NETO, R.M. A velha e a nova bioeconomia: desafios para o desenvolvimento
sustentável.
CEPEA/ESALQ,
2007.
Disponível
em
<http://cepea.esalq.usp.br/bioenergias/A%20NOVA%20BIOECONOMIA_CepeaEsalq.pdf>. Acesso em 17
Mar. 2015.
BROOKES, G; BARFOOT, P. GM crops: global socio-economic and environmental impacts 1996-2009. PG
Economics, United King. 23 p., 2011.
CNI – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS INDÚSTRIAS. Pesquisa sobre bioeconomia no Brasil,
2014. Disponível em <http://www.fiern.org.br/index.php/noticias/noticias-fiern/463-cni-lanca-agenda-compropostas-para-desenvolver-a-bioeconomia-no-brasil>. Acesso em: 16 Mar 2015.
CRUVINEL, P. E. Cenários do agronegócio para o horizonte 2023 e estratégias para o Estado de São
Paulo.
RIPA/Embrapa
(Documento),
2012.
Disponível
em
<www.cnpf.embrapa.br/unidade/.../RIPA_Caderno%20de%20Cenários.pdf>. Acesso em 16 Mar 2015.
DE NEGRI, J.A.; SALERNO, M.S. (Org.). Inovações, padrões tecnológicos e desempenho das firmas
industriais brasileiras. Brasília: IPEA, 728 p., 2005.
FERNANDES, M. J. Segurança alimentar, agricultura e silvicultura sustentável, investigação marinha,
marítima e de águas interiores e a bioeconomia. FCT/ANI. 21 p. 2015.
FREEMAN, C.; SOETE, L. Sistemas Nacionais de Inovações. In: A Economia da Inovação Industrial.
Campinas: UNICAMP, 813 p., 2008.
GOMES, E. G.; SOARES DE MELLO, J. C. C. B.; BIONDI, L. N. Avaliação de Eficiência por Análise de
Envoltória de Dados: conceitos, aplicações à agricultura e integração com sistemas de informação
geográfica. - Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 39 p., 2003.
HADDAD, P. R. Capitais intangíveis e desenvolvimento regional. Revista de Economia. UFPR: Curitiba, v.
35, n. 3 (ano 33), p.119-146, 2009.
HORLINGS, I; MARDSEN, T. Rumo ao desenvolvimento espacial sustentável? Explorando as implicações
da nova bioeconomia no setor agroalimentar e na inovação regional. Sociologias, Porto Alegre, v. 13, n. 27,
p. 142-178, 2011.
LEITE, J.L.B.; GOMES, A.T. Perspectivas futuras dos sistemas de produção de leite. In: GOMES, A.T.;
LEITE, J.L.B.; CARNEIRO, A.V. (Eds.) O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: EMBRAPA Gado
de Leite, p.207-240, 2001.
LOPES, M.A; CONTINI, E. Agricultura, Sustentabilidade e Tecnologia. Agroanalysys (Especial
EMBRAPA), p. 27-34, 2012.
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
MIGUEL, L. M. Uso Sustentável da Biodiversidade na Amazônia Brasileira: experiências atuais e
perspectiva das bioindústrias de cosmético e fitoterápico. São Paulo, USP - Programa de Pós-Graduação em
Geografia Humana, 171 p, 2007.
MOREIRA, F. R. C.; COSTA, A. N.; MARTINS, T. D. D.; SILVA, J. H. V.; MEDEIROS, H. R.; CRUZ, G.
R. B. Substituição parcial do milho por sorgo granífero na alimentação de suínos nas fases de creche,
crescimento e terminação. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.15, n.1, p.94-107, 2014.
OCDE. The bioeconomy to 2030: designing a policy agenda. Paris, 321 p. 2006.
OSMAN, A; HISAMUDDIN, M A. Oil palm and palm oil products as livestock feed. Palm Oil
Familiarization Program. Palm Oil Research Institute of Malaysia, Bangi. 12 p. 1999.
PARDEY P., BEINTEMA N., DEHMER S., WOOD S. Agricultural research: a growing global divide?
Agricultural Science and Technology Indicators Initiative, International Food Policy Research Institute,
Washington, D.C, 32 p. 2006.
PEDROSO, A. M.; SANTOS, F. A. P.; BITTAR, C. M. Substituição do milho em grão por farelo de glúten
de milho na ração de vacas em lactação em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.8, p.
1614-1619, 2009.
RENNO, F. P; PEREIRA, J.C; LEITE, C.A.M; RODRIGUES, M.T; CAMPOS, O.F; FONSECA, D.M.;
RENNÓ, L.N. . Avaliação bioeconômica de estratégias de alimentação em sistemas de produção de leite. 2.
Metodologia alternativa: nível de utilização de capital. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa , v. 37, n. 4,
p. 754-764, 2008.
TONELLI, F.M.P; DAMASCENO, B.L. Biomedicamentos: Oportunidades em Bioquímica e Biotecnologia.
Bioquímica Brasil, 2014. Disponível em http://bioquimicabrasil.blogspot.com.br/2014/08/biomedicamentosoportunidades-em.html>. Acesso em: 26 Mar 2015.
VASCONCELLOS G. A, FRICKMAN S. S. Oportunidades para a inovação e aproveitamento da
biodiversidade amazônica em bases sustentáveis. Revista T&C Amazônia, ano VIII, n. 19, p. 20-28, 2010.
Download

XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015