1
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ESPECIALIZAÇÃO latu sensu
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS
BRUCELOSE BOVINA
Daniela Bittencourt Pereira
Rio de Janeiro, out. 2006
2
DANIELA BITTENCOURT PEREIRA
Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em
Bovinos
BRUCELOSE BOVINA
Trabalho monográfico de conclusão do
curso
de
Especialização
latu
sensu
Produção e Reprodução em Bovinos
(TCC),
apresentado
à
UCB
como
requisito parcial para a obtenção do título
de
Especialista
Reprodução
em
em
Produção
Bovinos,
sob
e
a
orientação do Prof. Msc. Athos de
Assumpção Pastore.
Rio de Janeiro, out. 2006
3
BRUCELOSE BOVINA
Elaborado por Daniela Bittencourt Pereira
Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em
Bovinos
Foi analisado e aprovado com
grau: ...................................
Piracicaba, ____ de _______________ de ______.
___________________________
Membro
___________________________
Membro
___________________________
Professor Orientador
Presidente
Rio de Janeiro, out. 2006
ii
4
Lista de Figuras
1. Orquite em Suíno...............................................................................................11
2. Prova do Anel ....................................................................................................13
iv
5
1. INTRODUÇÃO
O conhecimento da freqüência das doenças, dos fatores que
condicionam sua presença e possibilitam sua difusão, são de fundamental
importância na elaboração dos Programas de Saúde. ( Millen, 2003).
Martins et al. (1996), relata uma abordagem do tema sobre critérios para tornar
eficaz o controle das doenças: “A subordinação da estratégia de luta ao
comportamento de uma doença no tempo e no espaço, permite maior
racionalização das atividades, com melhores possibilidades de êxito em menor
prazo e com menor custo”.
Neste trabalho o enfoque principal será Brucella abortus, que infecta
os bovinos. Clinicamente predominam os abortos, retenção de placenta e
infecções intra-uterinas.
Os profissionais, que trabalham com saúde animal têm a obrigação
de saber a prevalência das doenças que causam risco à saúde humana. É
também necessário medir o nível de informação das pessoas envolvidas, como
forma de auxiliar no controle da doença. (Aiello, 2001).
6
A Brucelose é uma zoonose de distribuição mundial responsável por
consideráveis perdas econômicas na população bovina. Em países em
desenvolvimento esta situação é particularmente relevante considerando-se os
muitos entraves na produção animal e as condições em que os produtos de
origem animal são processados e comercializados. Segundo Abreu (1999), no
Brasil os últimos dados sobre a Brucelose datam de 1997, tendo sido detectado
pelos testes sorológicos 3,47% de animais positivos e 1,56% de suspeitos.
“Dado ao impacto econômico e zoonótico da doença existe uma necessidade
definitiva do estabelecimento de programas de controle e erradicação”. (Ferraz,
1999).
7
2. BRUCELOSE
2.1. DEFINIÇÃO
A Brucelose também conhecida como Mal de Bang ou Aborto
infeccioso, é causada por bactérias do gênero Brucella abortus causando aborto
em bovinos e menos comumente em caprinos e ovinos. (Youngquist, 1994; Aiello,
2001; Millen, 2003).
Essa doença de ocorrência cosmopolita causou elevados prejuízos à
criação de bovinos, no período de 1930 - 1945 quando a prevalência atingiu cifras
entre 40-60%. Em 1955 tiveram início, em países com ocorrência endêmica,
programas de erradicação. São livres de brucelose países escandinavos
(Holanda, Suíça e Alemanha) e regiões da Rússia européia graças a programas
de identificação e sacrifício de animais reagentes. Aqueles países que optaram
pela vacinação não conseguiram erradicar a doença. (Ishizuka,2000)
A B. abortus ocorre mais freqüentemente em regiões de clima
temperado com vegetação abundante. A B. melitensis tem maior ocorrência em
regiões de clima mediterrâneo onde a vegetação é escassa e que favorece a
criação de ovinos. Para a B. suis não existe relação entre clima e ocorrência.
(Ishizuka, 2000)
8
2.2. ETIOLOGIA
Bactéria intracelular facultativa (B. abortus) pertencente ao Gênero
Brucella que comporta outras cinco espécies morfologicamente indistinguíveis (B.
suis, B. melitensis, B. neotomae, B. ovis,e B. canis). A distinção das seis espécies
é realizada por provas bioquímicas e sorológicas. (Ishizuka, 2000)
O Subcomitê Taxonômico da FAO admite a existência de nove
biótipos de B. abortus importantes para estudos de epidemiologia molecular
porque são diferentes quanto à patogenicidade e virulência. São bacilos curtos
Gram negativos (0,4 – 3,0 µm x 0,4 – 0,8 µm) que crescem em meios de cultura
em condições microaerófilas. (Ishizuha, 2000)
No dizer de Aiello: Nos bovinos, búfalos e bisões, a doença é
causada quase exclusivamente pela Brucella abortus; no entanto, a B. suis ou a
B. melitenses se envolvem de modo ocasional, em alguns rebanhos bovinos. Em
um rebanho onde a doença é endêmica, uma vaca infectada aborta somente uma
vez depois da exposição, sendo que as gestações e lactações subseqüentes
parecem normais. Depois de uma exposição muitos bovinos tornam-se
bacterêmicos por um curto período. (Aiello, 2001).
2.3. EPIDEMIOLOGIA
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A infecção com B. abortus ocorre naturalmente, por ingestão de
microorganismos brucélicos, não sendo transmitida facilmente entre os bovinos
separados por cercas ou rodovias, em sua maioria, os bezerros infectados por
ocasião do nascimento livram-se da infecção. (Youngquist, 1994; Aiello, 2001).
A brucelose pode ter uma disseminação considerável e, com
freqüência, muito rápida pela progressiva intensificação da produção leiteira e de
corte, assim como pela concentração das criações bovinas, isso ocorre quando
não são tomadas medidas apropriadas de proteção e combate. (Beer, 1988).
A entrada do agente em criações não infectadas é produzida, em
primeiro lugar, pela estabulação de fêmeas gestantes infectadas, ainda, sem
manifestações clínicas. Também é possível mediante a compra de vacas
clinicamente e aparentemente sadias, mas já infectadas, que pouco antes tinham
abortado ou parido um feto morto. Deve ser citada a transmissão do agente
mediante animais recém nascidos em criações afetadas, já que estes eliminam
com as fezes B. abortus, durante um determinado período de tempo, que oscila
entre
sete
dias
e
seis
semanas.
Por
ultimo
devemos
lembrar
que
10
outras Espécies animais podem introduzir o agente numa criação, como os
porcos, cavalos, cães e gatos. (Bathke,1988).
Em uma criação, a quantidade de brucela eliminada durante o aborto
ou o parto de um feto morto, os líquidos e as membranas fetais e os loquios
posteriores representam o maior perigo de transmissão para os animais ainda não
infectados. Os animais infectados podem distribuir as brucelas pelo ambiente,
independentemente do aborto, por exemplo, mediante o leite ou o fluxo vaginal,
esses materiais infectados pelos microorganismos da B. abortus podem ser
ingeridos por bovinos sadios. Apesar de não tão freqüentemente como nos
varrões na brucelose suína, os touros infectados participam da mesma forma na
extensão da brucelose mediante o sêmen contendo brucelas. A transmissão pode
ocorrer por inseminação artificial, quando é depositado sêmen contaminado com
brucelas no útero. .(Youngquist, 1994; Aiello, 2001; Bathke, 1988).
O solo e as paredes contaminados, a cama e o alimento, assim
como os aparelhos e as instalações do estábulo, são freqüentemente, fatores
decisivos na disseminação da brucelose bovina. A eliminação de brucelas,
também traz como conseqüência, a contaminação dos meios de transporte e dos
campos (caminhos e corredores comuns) de forma que estes participem,
freqüentemente, como causa de nova disseminação (Bathke, 1988).
Com relação à saúde humana, a doença é importante porque o
agente pode causar a febre ondulante no homem com a possibilidade da infecção
11
ocorrer pela ingestão do leite contaminado, então é necessário que seja
pasteurizado (Radostitis e Blood 1986).
A importância de enfermidade no ser humano justifica amplamente
sua erradicação. (Radostitis e Blood 1986).
2.4. PATOGENIA
A transmissão se faz por contaminação direta pelo contato com fetos
abortados, placentas e descargas uterinas. A Brucella abortus penetra no
organismo pela mucosa oral nasofaringe, conjuntival ou genital e péle intacta
(Riet-Correa, 1998).
Quando invadem o corpo, os microorganismos passam para o
sangue e são carreados para vários órgãos e tecidos onde eles se multiplicam
livremente (Winkler, 1982). Após a invasão inicial no organismo, a localização
ocorre inicialmente nos linfonodos que drenam a área e, então há a disseminação
para outros tecidos linfóides, incluindo linfonodos esplênicos, mamários e ilíacos.
A infecção congênita pode ocorrer em bezerros recém-nascidos como resultado
de uma infecção uterina e a enfermidade pode persistir em uma pequena
proporção de bezerros, que podem apresentar resultados negativos até que
ocorra o primeiro parto ou aborto. Nas vacas adultas não grávidas, a infecção
localiza-se no úbere, e no útero se ocorrer prenhes, se infecta nas fases de
12
bacteremia
periódicas
originárias
do
úbere.
Os
úberes
infectados
são
clinicamente normais, mas são importantes como fonte de reinfecção uterina,
como fonte de infecção para bezerros e para o homem que ingere o leite. O
eritritol, uma substância produzida pelo feto, é capaz de estimular o crescimento
de Brucella abortus, ocorre naturalmente em grande concentração na placenta e
fluídos fetais e é provável responsável pela localização da infecção nesses
tecidos. O aborto ocorre no terço final da gestação. A Brucella abortus é um
microorganismo que se abriga dentro da célula. É provável que essa localização
seja um importante fator para sua sobrevivência no hospedeiro e pode ser uma
explicação para os títulos transitórios que ocorrem em alguns animais após
episódios isolados de bacteremia e para a ausência de títulos em animais com
infecção latente.( Blood, 1983).
Em certas circunstâncias o microorganismo viverá semanas fora do
corpo. As brucelas tem sido recuperadas do feto e esterco que tem permanecido
no ambiente frio durante mais ou menos dois meses. A exposição à luz direta ao
sol mata o microorganismo em poucas horas (Siegmund et all, 1981).
13
2.5. FISIOPATOLOGIA
A replicação inicial de B. abortus ocorre em linfonodos regionais. A
bacteremia é seguida pela colonização dos linfonodos supramamários, glândula
mamária e útero gravídico. A infecção uterina ocorre durante o segundo trimestre.
Na placenta, as bactérias surgem primeiramente fagossomos de trofoblastos
eritrofagocitarios. A replicação ocorre no reticulo endoplasmático rugoso dos
trofoblastos
corioalantoicos.
A
replicação
preferencial
nos
trofoblastos
corialantoicos foi atribuída ao seu conteúdo de eritrol; contudo, as placentas de
diversos roedores de laboratórios não possuidores de eritrol detectável e ainda
sustentam a replicação de B. abortus. O microorganismo poderá ocorrer também
nas células endoteliais placentárias fetais e lumens capilares, onde estará
associado à vasculite e a destruição das vilosidades alantocorio, envolvendo
cotilédones adicionais com ulceração corioalantoica, necrose dos trofoblastos e
endometrite ulcerativa resultantes. A morte fetal resulta da ruptura placentária e
endotoxemia. Freqüentemente há retenção placentária de um a três dias no útero.
Numerosas bactérias são eliminadas pelo trato genital por ocasião do parto, mas
tal eliminação comumente é interrompida por volta de três semanas após
abortamento. (Youngquist, 1994).
14
No feto é encontrada, às vezes, uma pneumonia de natureza
fibrinosa ou celular. Participam nele histiócitos, linfócitos e eventualmente também
granulócitos e neutrófilos. A partir disso, são formados edemas na pele, pericárdio
e no cordão umbilical, assim como transudatos sero-hemorrágicos nas cavidades
torácica e abdominal e também no pericárdio. (Bathke, 1988).
Na afecção dos órgãos genitais masculinos, as vesículas seminais
podem ter hemorragias e focos necróticos. Em caso crônico, sua parede assim
como o cordão espermático, esta engrossada e endurecida por proliferação
conjuntiva. Os testículos e o epidídimo apresentam focos inflamatórios necróticos
e abscesso de tamanho máximo de uma avelã ou também estão transformados
numa massa homogenia amarelo-palido, como conseqüência da necrose celular.
Em casos crônicos, testículos e epidídimo podem estar muito engrossados,
devido a uma proliferação conjuntiva intensa. (Bathke, 1988).
2.6. ACHADOS CLÍNICOS
O período de incubação é variável, em geral se da entre 14 e 180
dias. O abortamento é o principal sintoma clinico da brucelose bovina e
comumente ocorre após do quinto ao oitavo mês de gestação, mas existem
aquelas que não abortam. Durante o período de gestação também pode ocorrer
uma elevação da temperatura corpórea, mucosa vaginal hiperêmica e fluxo
vaginal branco – acinzentado ou vermelho – acinzentado, mucoso ou
15
mucoporulento, em alguns casos esse muco pode ser hemorrágico, mas sempre
inodoro (Youngquist, 1994; Millen, 2003; Bahke,1988).
As infecções também podem levar os neonatos ou bezerros fracos,
retenção placentária, esterilidade, inflamação das articulações e abscessos
subcutâneos. (Aiello, 2001; Millen, 2003).
Nos machos, pode ocorrer infecção das vesículas seminais,
ampolas, testículos e epidídimos, portanto os microorganismos se encontram no
sêmen, ocasionando orquite (Fig: 1) e epididimite, sendo uni ou bilateral,
geralmente esses animais podem se tornar estéreis (Aiello, 2001; Millen, 2003;
Cattorello, 2002).
Figura 1: Orquite em Suíno (Cattorello, 2002)
A infecção por Br. abortus na vaca, caracteriza-se, em geral, por uma
recuperação de forma relativamente rápida após o aborto e, pela possibilidade de
16
concepção após a cobertura ou a inseminação, que pode terminar tanto com um
novo aborto, como com o nascimento normal de um bezerro. As endometrites que
aparecem freqüentemente depois do aborto implicam em esterilidade de duração
variável. (Bathke, 1988)
O aborto brucélico em grandes criações bovinas deve ser avaliado
como uma praga especialmente desfavorável e custosa, que necessita de muitos
esforços, tanto por parte da direção da criação como dos veterinários, para sua
completa eliminação. (Bathke, 1988).
2.7. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico se baseia na: bacteriologia ou diagnóstico direto
através de tecidos e produtos dos animais infectados (tecidos fetais e
placentários, sangue, útero, testículos, leite, queijo e secreções genitais) e
também na sorologia ou diagnóstico indireto, onde é feito pesquisa de anticorpos
através da sorologia, bem como pela pesquisa da resposta celular pelo teste
cutâneo ou testes in vitro. A Brucella abortus pode ser recuperada a partir da
placenta, porém a recuperação mais conveniente é por meio de cultura pura a
partir do estômago e pulmões de um feto abortado. A maioria das vacas para de
eliminar microorganismos a partir do trato genital quando a involução uterina
termina. Permanecem focos de infecção em algumas partes do sistema
17
reticuloendotelial (especialmente nos linfonodos supramamários) e no úbere. A
Brucella abortus pode ser, em geral, isolada das secreções do úbere não lactante.
(Aiello, 2001; Costa, 2003).
Quando um animal esta infectado de brucelose, uma das
substâncias formadas no sangue para defesa contra enfermidade é aglutinina.
Esta substância é encontrada no soro e a sua quantidade depende da extensão e
atividade da infecção. (Millen, 2003).
Quando tal soro é posto em contato com um antígeno composto de
microorganismos de Brucella, estes sofrem aglutinação. Esta é a base da prova
de aglutinação para diagnóstico de brucelose. Esta prova, que pode ser feita pelo
método lento em tubo ou pelo método rápido em placa ou pelo Ring test, exige
conhecimentos técnicos para a execução e para a interpretação. (Millen, 2003).
A prova do anel (Fig: 2) ou ring-test, é um método rápido para determinar se em
um rebanho existem vacas com brucelose e consiste em um processo especial de
aglutinação para o diagnóstico da Brucella em amostras de leite. Quando
empregada em campanhas de controle deve ser acompanhada da soroaglutinação. No entanto, esse teste pode apresentar resultados falsos negativos.
(Millen, 2003; Cattorello, 2002).
18
Figura 2: Prova do Anel (Cattorello, 2002).
Segundo a legislação nacional, os testes de rotina a serem
realizados são a soroaglutinação rápida e lenta, fixação do complemento,
precipitação pelo rivanol, redução pelo mercapto-etanol e prova de antígeno
acidificado (card test ou rosa bengala). Algumas destas provas (precipitação pelo
rivanol, redução pelo mercapto-etanol, prova do antígeno acidificado) inibem a
reação da IgM, imonoglubina presente em maior quantidade em animais
vacinados ou recentemente infectados. Testes imunoenzimáticos (ELISA indireta
e ELISA de competição) têm sido testados em vários países. Estes testes ainda
são pouco utilizados para o diagnóstico pois existem vários parâmetros de
padronização a nível mundial que ainda não estão estabelecidos. Uma prova de
aglutinação pode ser utilizada, também, para detectar anticorpo no liquido
seminal. (Costa, 2003).
A localização preferencial do agente no testículo e glândulas
acessórias nos machos bovinos, pode gerar a formação de baixos títulos séricos
19
de Ig, dificultando diagnóstico por métodos sorológicos de triagem (Radostitis et
al, 2000).
Olascoaga (1976) assinala que machos bovinos acometidos por
B.abortus podem reagir à infecção com baixos títulos de Ig séricas. Em contraste,
Vasconcellos (1987) e Radostitis (2000) referem à possibilidade de ausência de
aglutininas séricas anti – Brucella abortus em provas de soroaglutinação, embora
o microarganismo esteja presente no sêmen.
Desta forma, na vigência de baixos títulos de aglutininas séricas em
machos bovinos em provas sorológicas de triagem, recomenda-se a confirmação
sorodiagnóstica em testes como 2-ME ou RFC. Adicionalmente pode ser também
confirmado pela técnica de SPA, que se fundamenta na detecção de IgG e IgA no
sêmen, decorrentes da reação inflamatória testicular frente ao agente (Olascoaga,
1976; Sutherland, 1980; Vasconcellos et al, 1987; Crasso & Cardoso, 1998;
Radostitis, 2000).
Segundo ao Ministério da Agricultura do Brasil (1983), machos
bovinos que soroconvertam a títulos iguais ou superiores a 100 UI nas provas de
SAR e SAT devem ser considerados positivos.
Aguir et al (2001) procurou investigar a ocorrência de aglutininas anti
– Brucella abortus nas provas de soroaglutinação rápida em placa, antígeno
acidificado tamponado, 2 –mercaptoetanol e sêmen plasma aglutinação,
associados ao exame andrológico, no diagnóstico da brucelose em machos
bovinos.
20
Aguiar et al (2001) utilizou 191 machos bovinos de diferentes raças e
estados com idade acima de 30 meses, as amostras de soro desses animais
foram testadas nas provas de SAR e 2 –ME. Após a obtenção do sêmen, todos os
animais foram submetidos ao exame andrológico.
Aguiar et al (2001) observou que apesar de diferentes autores
afirmarem que machos bovinos acometidos por B. abortus, possam reagir à
infecção com baixos títulos de Ig séricas, (Olascoaga, 1976), ou mesmo não
reagirem em provas de soroaglutinação (vasconcellos et al, 1987; Radostitis et al
2000), ocorreu que nesse estudo, todos os animais com títulos 25 (29 animais) e
50 (21 animais) na SAR resultaram negativos nas provas de AAT e 2-ME, bem
como no SPA. Esse resultado pode encontrar justificativa na detecção de IgM
pela SAR que determinam reações inespecíficas nesta prova (Corbel, 1985;
Sutherland, 1980)
2.8. TRATAMENTO
O tratamento eficaz contras as brucelas, com quimioterápicos e/ou
antibióticos, assim como a terapêutica com soros hiperimunes, são possíveis e
importantes no animal isolado, apesar de apresentarem como inconveniente os
freqüentes resultados insatisfatórios, mas não tem nenhum sentido considerando
as particularidades epidemiológicas da brucelose bovina considerada no conjunto
da criação. Tão pouco pode ser recomendado o tratamento de touros infectados
21
em centros de inseminação, apesar de existirem algumas informações isoladas
positivas. (Bathke, 1988).
A retenção placentária e a metrite, em geral, ocorrem, em seguida
ao abortamento em casos de brucelose, mas muitas vezes as vacas não abortam
nas gestações subseqüentes. A terapia combinada com oxitetraciclina de longa
ação (20mg/Kg por via intramuscular a cada 3 a 4 dias, para cinco tratamentos) e
estreptomicina (25mg/Kg por via intravenosa ou intramuscular diariamente
durante 7 dias, a partir do início do tratamento com a oxitetraciclina) poderá
eliminar a infecção na maioria das vacas, mas, por causa do programa de
erradicação empregado em muitos países, raramente as vacas infectadas são
tratadas. (Youngquist, 1994).
2.9. PROFILAXIA E CONTROLE
As ações de prevenção podem ser classificadas em dois níveis,
controle e erradicação. O controle visa reduzir a freqüência de ocorrência de uma
doença já presente na população, enquanto que a erradicação busca eliminar
totalmente a doença. (Cortes, 1993)
Os programas de combate à brucelose aplicados cada vez com mais
intensidade em distintos países com base privada, voluntária ou estatal, são
extremamente variados na metódica e no conteúdo, devido à situação em que é
encontrada a doença. O grau de infecção, o estado de desenvolvimento da
22
produção animal, a orientação da produção das criações ou as regiões a sanear,
assim como as peculiaridades territoriais e os condicionamentos econômicos, são
alguns dos fatores que devem ter uma influência decisiva na eleição dos
programas de saneamento e de combate contra a brucelose. (Bathke, 1988)
A determinação global é a mais exata possível da extensão da
doença, tanto na criação, como em regiões mais amplas, é a primeira e, ao
mesmo tempo, a mais importante condição de todo combate contra a brucelose,
cujo objetivo final somente pode ser a eliminação total desta antropozoonose.
Internacionalmente foram consagrados, segundo este princípio, os seguintes
procedimentos, que podem ser utilizados isolados ou, mas freqüentemente, em
combinação: (Bathke, 1988; open ofice internet).
•
Vacinação dos animais jovens com uma vacina viva;
•
Recria de bezerras livres de brucelose;
•
Todos os animais susceptíveis em idade reprodutiva devem ser testados
antes de serem introduzidos em um rebanho. Em fazendas que fazem
parte do Programa Nacional de Erradicação da Brucelose e Tuberculose,
todas as vacas positivas devem ser sacrificadas.
•
Declaração obrigatória e combate antibrucelar estatais;
•
Saneamento de zonas controlado pelo estado.
•
Animais em idade reprodutiva, recém introduzidos no rebanho devem ser
testados ou mantidos em quarentena.
23
Os esforços são direcionados para detecção e prevenção, não se
encontra disponível nenhum tratamento prático. Uma erradicação eventual
depende do teste e da eliminação de reagentes. A doença já foi erradicada de
muitos rebanhos individuais e áreas através desse método. Deve-se testar os
rebanhos em intervalos regulares, até 2 ou 3 testes sucessivos fiquem negativos.
(Aiello, 2001).
Deve-se proteger os rebanhos não infectados. O maior risco provém
dos animais de reposição. As adições no rebanho devem ser bezerros ou novilhas
não prenhes vacinados. Caso se adicione vacas prenhes ou recém paridas, elas
deverão provir de áreas ou de rebanhos livres de brucelose e ser soronegativas.
Deve-se isolar as reposições por 30 dias ou mais e retesta-las antes de
acrescentá-las ao rebanho. (Aiello,2001).
Uma vacinação de bezerras com cepas de 19 ou RB51 da B.
abortus aumenta a resistência a infecção. Essa resistência pode não ser
completa, e alguns bezerras vacinadas podem se infectar, dependendo da
gravidade da exposição. Uma pequena porcentagem das bezerras vacinadas
desenvolve anticorpos persistir por anos e que podem confundir os resultados dos
testes diagnósticos. Para minimizar esse problema, nos EUA, os bezerros são
vacinados com uma vacina que contem 3 a 10 bilhões de microorganismos da
cepa 19 da B. abortus viáveis por dose de 2ml. A cepa RB51 vem substituindo em
larga escala, a cepa 19. Trata-se de uma cepa atenuada e grosseira, que não
24
causa produção de anticorpos, que são detectados através da maioria dos testes
sorológicos. (Aiello, 2001).
Em geral, considera-se cientificamente que a vacinação não leva à
erradicação total da brucelose por si só, mas que apesar de tudo, pode ser um
passo importante na via para o saneamento. Uma redução no número de
reagentes em um rebanho se relaciona, diretamente, com a porcentagem de
animais vacinados. No entanto, quando se muda um programa de controle para
um de erradicação, torna-se necessário um programa de teste e abate. Nos EUA,
a baixa prevalência da brucelose nos bovinos resultou em redução no uso da
vacina com a cepa 19 e foi dada ênfase maior retirada de animais dos rebanhos
infectados. (Aiello, 2001; (Beer, 1988).
No Brasil, os bovinos que apresentarem reação positiva devem ser
marcados com ferro incandescente, no lado esquerdo da cara com um P contido
em um círculo de 8cm. Os bovinos suspeitos ou positivos de brucelose não
podem ser objetos de comércio, salvo quando comprovadamente destinados ao
abate ou a instituições científicas. As filhas de vacas infectadas devem também
ser eliminadas. (Bathke, 1988; Costa, 2003).
A vacinação de adultos deve ser evitada mas, em casos de criações
com alta freqüência de abortos, pode-se optar pela vacinação. Neste caso a
vacinação pode ser feita somente após autorização do responsável pelo
programa de controle da brucelose em seu Estado e o animal vacinado será
marcado, na face direita com um P. (Costa, 2003).
25
A prevenção da brucelose humana é obtida pela educação sanitária
dos profissionais mais expostos (utilização de luvas, utilização de vestimentas
apropriadas, desinfecção de utensílios e locais contaminados, eliminação de
carcaças ou tecidos contaminados), pela pasteurização dos produtos lácteos,
evitando a contaminação da população e pelo controle da doença nos animais
infectados. A vacinação humana (vacina protéica inativa) é feita em alguns países
mas na sua eficácia é muito contestada, não tendo uma grande importância
mundial. (Costa, 2003).
26
3. CONCLUSÃO
Considerando-se a importância dessa doença como zoonose
ocupacional e de origem alimentar, o presente trabalho coloca em evidência, seja
no que se refere à vigilância sanitária de alimentos, seja no que respeita à saúde
animal, uma das mais graves doenças infecciosas dos animais domésticos, que
ainda continua tendo enorme repercussão no campo da saúde pública.
Este trabalho nos mostra que, no Brasil, os esforços são direcionados para
detecção e prevenção, pois não se encontra nenhum tratamento prático. Deve-se
proteger os rebanhos não infectados, vacinando os animais no período correto e
seguir as recomendações técnicas do Programa Nacional de Controle e
Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal – PNCEBT. Com isso tendendo a
chegar a um rebanho apto para reprodução e também sem risco para a saúde
humana.
27
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do Abastecimento, 1999.
AGUIAR, D.M. et al. Soroaglutinação, Sêmen Plasma Aglutinação e Exame
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Paulo: Instituto Biológico, 2001. p. 103 -105.
AIELLO, S.E et al. Manual Merck de veterinária. 8 ed. Trad. Paulo Marcos Agria
de Oliveira. São Paulo. Rocca, 2001. 823-825 p.
BATHKE, W. Brucelose. In: BEER, J. et al. Doenças Infecciosas em Animais
Domésticos. São Paulo: Rocca, 1988. p. 164-178.
28
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Daniela Bittencourt Pereira