1 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ESPECIALIZAÇÃO latu sensu PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS BRUCELOSE BOVINA Daniela Bittencourt Pereira Rio de Janeiro, out. 2006 2 DANIELA BITTENCOURT PEREIRA Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos BRUCELOSE BOVINA Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos (TCC), apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista Reprodução em em Produção Bovinos, sob e a orientação do Prof. Msc. Athos de Assumpção Pastore. Rio de Janeiro, out. 2006 3 BRUCELOSE BOVINA Elaborado por Daniela Bittencourt Pereira Aluna do Curso de Especialização latu sensu Produção e Reprodução em Bovinos Foi analisado e aprovado com grau: ................................... Piracicaba, ____ de _______________ de ______. ___________________________ Membro ___________________________ Membro ___________________________ Professor Orientador Presidente Rio de Janeiro, out. 2006 ii 4 Lista de Figuras 1. Orquite em Suíno...............................................................................................11 2. Prova do Anel ....................................................................................................13 iv 5 1. INTRODUÇÃO O conhecimento da freqüência das doenças, dos fatores que condicionam sua presença e possibilitam sua difusão, são de fundamental importância na elaboração dos Programas de Saúde. ( Millen, 2003). Martins et al. (1996), relata uma abordagem do tema sobre critérios para tornar eficaz o controle das doenças: “A subordinação da estratégia de luta ao comportamento de uma doença no tempo e no espaço, permite maior racionalização das atividades, com melhores possibilidades de êxito em menor prazo e com menor custo”. Neste trabalho o enfoque principal será Brucella abortus, que infecta os bovinos. Clinicamente predominam os abortos, retenção de placenta e infecções intra-uterinas. Os profissionais, que trabalham com saúde animal têm a obrigação de saber a prevalência das doenças que causam risco à saúde humana. É também necessário medir o nível de informação das pessoas envolvidas, como forma de auxiliar no controle da doença. (Aiello, 2001). 6 A Brucelose é uma zoonose de distribuição mundial responsável por consideráveis perdas econômicas na população bovina. Em países em desenvolvimento esta situação é particularmente relevante considerando-se os muitos entraves na produção animal e as condições em que os produtos de origem animal são processados e comercializados. Segundo Abreu (1999), no Brasil os últimos dados sobre a Brucelose datam de 1997, tendo sido detectado pelos testes sorológicos 3,47% de animais positivos e 1,56% de suspeitos. “Dado ao impacto econômico e zoonótico da doença existe uma necessidade definitiva do estabelecimento de programas de controle e erradicação”. (Ferraz, 1999). 7 2. BRUCELOSE 2.1. DEFINIÇÃO A Brucelose também conhecida como Mal de Bang ou Aborto infeccioso, é causada por bactérias do gênero Brucella abortus causando aborto em bovinos e menos comumente em caprinos e ovinos. (Youngquist, 1994; Aiello, 2001; Millen, 2003). Essa doença de ocorrência cosmopolita causou elevados prejuízos à criação de bovinos, no período de 1930 - 1945 quando a prevalência atingiu cifras entre 40-60%. Em 1955 tiveram início, em países com ocorrência endêmica, programas de erradicação. São livres de brucelose países escandinavos (Holanda, Suíça e Alemanha) e regiões da Rússia européia graças a programas de identificação e sacrifício de animais reagentes. Aqueles países que optaram pela vacinação não conseguiram erradicar a doença. (Ishizuka,2000) A B. abortus ocorre mais freqüentemente em regiões de clima temperado com vegetação abundante. A B. melitensis tem maior ocorrência em regiões de clima mediterrâneo onde a vegetação é escassa e que favorece a criação de ovinos. Para a B. suis não existe relação entre clima e ocorrência. (Ishizuka, 2000) 8 2.2. ETIOLOGIA Bactéria intracelular facultativa (B. abortus) pertencente ao Gênero Brucella que comporta outras cinco espécies morfologicamente indistinguíveis (B. suis, B. melitensis, B. neotomae, B. ovis,e B. canis). A distinção das seis espécies é realizada por provas bioquímicas e sorológicas. (Ishizuka, 2000) O Subcomitê Taxonômico da FAO admite a existência de nove biótipos de B. abortus importantes para estudos de epidemiologia molecular porque são diferentes quanto à patogenicidade e virulência. São bacilos curtos Gram negativos (0,4 – 3,0 µm x 0,4 – 0,8 µm) que crescem em meios de cultura em condições microaerófilas. (Ishizuha, 2000) No dizer de Aiello: Nos bovinos, búfalos e bisões, a doença é causada quase exclusivamente pela Brucella abortus; no entanto, a B. suis ou a B. melitenses se envolvem de modo ocasional, em alguns rebanhos bovinos. Em um rebanho onde a doença é endêmica, uma vaca infectada aborta somente uma vez depois da exposição, sendo que as gestações e lactações subseqüentes parecem normais. Depois de uma exposição muitos bovinos tornam-se bacterêmicos por um curto período. (Aiello, 2001). 2.3. EPIDEMIOLOGIA 9 A infecção com B. abortus ocorre naturalmente, por ingestão de microorganismos brucélicos, não sendo transmitida facilmente entre os bovinos separados por cercas ou rodovias, em sua maioria, os bezerros infectados por ocasião do nascimento livram-se da infecção. (Youngquist, 1994; Aiello, 2001). A brucelose pode ter uma disseminação considerável e, com freqüência, muito rápida pela progressiva intensificação da produção leiteira e de corte, assim como pela concentração das criações bovinas, isso ocorre quando não são tomadas medidas apropriadas de proteção e combate. (Beer, 1988). A entrada do agente em criações não infectadas é produzida, em primeiro lugar, pela estabulação de fêmeas gestantes infectadas, ainda, sem manifestações clínicas. Também é possível mediante a compra de vacas clinicamente e aparentemente sadias, mas já infectadas, que pouco antes tinham abortado ou parido um feto morto. Deve ser citada a transmissão do agente mediante animais recém nascidos em criações afetadas, já que estes eliminam com as fezes B. abortus, durante um determinado período de tempo, que oscila entre sete dias e seis semanas. Por ultimo devemos lembrar que 10 outras Espécies animais podem introduzir o agente numa criação, como os porcos, cavalos, cães e gatos. (Bathke,1988). Em uma criação, a quantidade de brucela eliminada durante o aborto ou o parto de um feto morto, os líquidos e as membranas fetais e os loquios posteriores representam o maior perigo de transmissão para os animais ainda não infectados. Os animais infectados podem distribuir as brucelas pelo ambiente, independentemente do aborto, por exemplo, mediante o leite ou o fluxo vaginal, esses materiais infectados pelos microorganismos da B. abortus podem ser ingeridos por bovinos sadios. Apesar de não tão freqüentemente como nos varrões na brucelose suína, os touros infectados participam da mesma forma na extensão da brucelose mediante o sêmen contendo brucelas. A transmissão pode ocorrer por inseminação artificial, quando é depositado sêmen contaminado com brucelas no útero. .(Youngquist, 1994; Aiello, 2001; Bathke, 1988). O solo e as paredes contaminados, a cama e o alimento, assim como os aparelhos e as instalações do estábulo, são freqüentemente, fatores decisivos na disseminação da brucelose bovina. A eliminação de brucelas, também traz como conseqüência, a contaminação dos meios de transporte e dos campos (caminhos e corredores comuns) de forma que estes participem, freqüentemente, como causa de nova disseminação (Bathke, 1988). Com relação à saúde humana, a doença é importante porque o agente pode causar a febre ondulante no homem com a possibilidade da infecção 11 ocorrer pela ingestão do leite contaminado, então é necessário que seja pasteurizado (Radostitis e Blood 1986). A importância de enfermidade no ser humano justifica amplamente sua erradicação. (Radostitis e Blood 1986). 2.4. PATOGENIA A transmissão se faz por contaminação direta pelo contato com fetos abortados, placentas e descargas uterinas. A Brucella abortus penetra no organismo pela mucosa oral nasofaringe, conjuntival ou genital e péle intacta (Riet-Correa, 1998). Quando invadem o corpo, os microorganismos passam para o sangue e são carreados para vários órgãos e tecidos onde eles se multiplicam livremente (Winkler, 1982). Após a invasão inicial no organismo, a localização ocorre inicialmente nos linfonodos que drenam a área e, então há a disseminação para outros tecidos linfóides, incluindo linfonodos esplênicos, mamários e ilíacos. A infecção congênita pode ocorrer em bezerros recém-nascidos como resultado de uma infecção uterina e a enfermidade pode persistir em uma pequena proporção de bezerros, que podem apresentar resultados negativos até que ocorra o primeiro parto ou aborto. Nas vacas adultas não grávidas, a infecção localiza-se no úbere, e no útero se ocorrer prenhes, se infecta nas fases de 12 bacteremia periódicas originárias do úbere. Os úberes infectados são clinicamente normais, mas são importantes como fonte de reinfecção uterina, como fonte de infecção para bezerros e para o homem que ingere o leite. O eritritol, uma substância produzida pelo feto, é capaz de estimular o crescimento de Brucella abortus, ocorre naturalmente em grande concentração na placenta e fluídos fetais e é provável responsável pela localização da infecção nesses tecidos. O aborto ocorre no terço final da gestação. A Brucella abortus é um microorganismo que se abriga dentro da célula. É provável que essa localização seja um importante fator para sua sobrevivência no hospedeiro e pode ser uma explicação para os títulos transitórios que ocorrem em alguns animais após episódios isolados de bacteremia e para a ausência de títulos em animais com infecção latente.( Blood, 1983). Em certas circunstâncias o microorganismo viverá semanas fora do corpo. As brucelas tem sido recuperadas do feto e esterco que tem permanecido no ambiente frio durante mais ou menos dois meses. A exposição à luz direta ao sol mata o microorganismo em poucas horas (Siegmund et all, 1981). 13 2.5. FISIOPATOLOGIA A replicação inicial de B. abortus ocorre em linfonodos regionais. A bacteremia é seguida pela colonização dos linfonodos supramamários, glândula mamária e útero gravídico. A infecção uterina ocorre durante o segundo trimestre. Na placenta, as bactérias surgem primeiramente fagossomos de trofoblastos eritrofagocitarios. A replicação ocorre no reticulo endoplasmático rugoso dos trofoblastos corioalantoicos. A replicação preferencial nos trofoblastos corialantoicos foi atribuída ao seu conteúdo de eritrol; contudo, as placentas de diversos roedores de laboratórios não possuidores de eritrol detectável e ainda sustentam a replicação de B. abortus. O microorganismo poderá ocorrer também nas células endoteliais placentárias fetais e lumens capilares, onde estará associado à vasculite e a destruição das vilosidades alantocorio, envolvendo cotilédones adicionais com ulceração corioalantoica, necrose dos trofoblastos e endometrite ulcerativa resultantes. A morte fetal resulta da ruptura placentária e endotoxemia. Freqüentemente há retenção placentária de um a três dias no útero. Numerosas bactérias são eliminadas pelo trato genital por ocasião do parto, mas tal eliminação comumente é interrompida por volta de três semanas após abortamento. (Youngquist, 1994). 14 No feto é encontrada, às vezes, uma pneumonia de natureza fibrinosa ou celular. Participam nele histiócitos, linfócitos e eventualmente também granulócitos e neutrófilos. A partir disso, são formados edemas na pele, pericárdio e no cordão umbilical, assim como transudatos sero-hemorrágicos nas cavidades torácica e abdominal e também no pericárdio. (Bathke, 1988). Na afecção dos órgãos genitais masculinos, as vesículas seminais podem ter hemorragias e focos necróticos. Em caso crônico, sua parede assim como o cordão espermático, esta engrossada e endurecida por proliferação conjuntiva. Os testículos e o epidídimo apresentam focos inflamatórios necróticos e abscesso de tamanho máximo de uma avelã ou também estão transformados numa massa homogenia amarelo-palido, como conseqüência da necrose celular. Em casos crônicos, testículos e epidídimo podem estar muito engrossados, devido a uma proliferação conjuntiva intensa. (Bathke, 1988). 2.6. ACHADOS CLÍNICOS O período de incubação é variável, em geral se da entre 14 e 180 dias. O abortamento é o principal sintoma clinico da brucelose bovina e comumente ocorre após do quinto ao oitavo mês de gestação, mas existem aquelas que não abortam. Durante o período de gestação também pode ocorrer uma elevação da temperatura corpórea, mucosa vaginal hiperêmica e fluxo vaginal branco – acinzentado ou vermelho – acinzentado, mucoso ou 15 mucoporulento, em alguns casos esse muco pode ser hemorrágico, mas sempre inodoro (Youngquist, 1994; Millen, 2003; Bahke,1988). As infecções também podem levar os neonatos ou bezerros fracos, retenção placentária, esterilidade, inflamação das articulações e abscessos subcutâneos. (Aiello, 2001; Millen, 2003). Nos machos, pode ocorrer infecção das vesículas seminais, ampolas, testículos e epidídimos, portanto os microorganismos se encontram no sêmen, ocasionando orquite (Fig: 1) e epididimite, sendo uni ou bilateral, geralmente esses animais podem se tornar estéreis (Aiello, 2001; Millen, 2003; Cattorello, 2002). Figura 1: Orquite em Suíno (Cattorello, 2002) A infecção por Br. abortus na vaca, caracteriza-se, em geral, por uma recuperação de forma relativamente rápida após o aborto e, pela possibilidade de 16 concepção após a cobertura ou a inseminação, que pode terminar tanto com um novo aborto, como com o nascimento normal de um bezerro. As endometrites que aparecem freqüentemente depois do aborto implicam em esterilidade de duração variável. (Bathke, 1988) O aborto brucélico em grandes criações bovinas deve ser avaliado como uma praga especialmente desfavorável e custosa, que necessita de muitos esforços, tanto por parte da direção da criação como dos veterinários, para sua completa eliminação. (Bathke, 1988). 2.7. DIAGNÓSTICO O diagnóstico se baseia na: bacteriologia ou diagnóstico direto através de tecidos e produtos dos animais infectados (tecidos fetais e placentários, sangue, útero, testículos, leite, queijo e secreções genitais) e também na sorologia ou diagnóstico indireto, onde é feito pesquisa de anticorpos através da sorologia, bem como pela pesquisa da resposta celular pelo teste cutâneo ou testes in vitro. A Brucella abortus pode ser recuperada a partir da placenta, porém a recuperação mais conveniente é por meio de cultura pura a partir do estômago e pulmões de um feto abortado. A maioria das vacas para de eliminar microorganismos a partir do trato genital quando a involução uterina termina. Permanecem focos de infecção em algumas partes do sistema 17 reticuloendotelial (especialmente nos linfonodos supramamários) e no úbere. A Brucella abortus pode ser, em geral, isolada das secreções do úbere não lactante. (Aiello, 2001; Costa, 2003). Quando um animal esta infectado de brucelose, uma das substâncias formadas no sangue para defesa contra enfermidade é aglutinina. Esta substância é encontrada no soro e a sua quantidade depende da extensão e atividade da infecção. (Millen, 2003). Quando tal soro é posto em contato com um antígeno composto de microorganismos de Brucella, estes sofrem aglutinação. Esta é a base da prova de aglutinação para diagnóstico de brucelose. Esta prova, que pode ser feita pelo método lento em tubo ou pelo método rápido em placa ou pelo Ring test, exige conhecimentos técnicos para a execução e para a interpretação. (Millen, 2003). A prova do anel (Fig: 2) ou ring-test, é um método rápido para determinar se em um rebanho existem vacas com brucelose e consiste em um processo especial de aglutinação para o diagnóstico da Brucella em amostras de leite. Quando empregada em campanhas de controle deve ser acompanhada da soroaglutinação. No entanto, esse teste pode apresentar resultados falsos negativos. (Millen, 2003; Cattorello, 2002). 18 Figura 2: Prova do Anel (Cattorello, 2002). Segundo a legislação nacional, os testes de rotina a serem realizados são a soroaglutinação rápida e lenta, fixação do complemento, precipitação pelo rivanol, redução pelo mercapto-etanol e prova de antígeno acidificado (card test ou rosa bengala). Algumas destas provas (precipitação pelo rivanol, redução pelo mercapto-etanol, prova do antígeno acidificado) inibem a reação da IgM, imonoglubina presente em maior quantidade em animais vacinados ou recentemente infectados. Testes imunoenzimáticos (ELISA indireta e ELISA de competição) têm sido testados em vários países. Estes testes ainda são pouco utilizados para o diagnóstico pois existem vários parâmetros de padronização a nível mundial que ainda não estão estabelecidos. Uma prova de aglutinação pode ser utilizada, também, para detectar anticorpo no liquido seminal. (Costa, 2003). A localização preferencial do agente no testículo e glândulas acessórias nos machos bovinos, pode gerar a formação de baixos títulos séricos 19 de Ig, dificultando diagnóstico por métodos sorológicos de triagem (Radostitis et al, 2000). Olascoaga (1976) assinala que machos bovinos acometidos por B.abortus podem reagir à infecção com baixos títulos de Ig séricas. Em contraste, Vasconcellos (1987) e Radostitis (2000) referem à possibilidade de ausência de aglutininas séricas anti – Brucella abortus em provas de soroaglutinação, embora o microarganismo esteja presente no sêmen. Desta forma, na vigência de baixos títulos de aglutininas séricas em machos bovinos em provas sorológicas de triagem, recomenda-se a confirmação sorodiagnóstica em testes como 2-ME ou RFC. Adicionalmente pode ser também confirmado pela técnica de SPA, que se fundamenta na detecção de IgG e IgA no sêmen, decorrentes da reação inflamatória testicular frente ao agente (Olascoaga, 1976; Sutherland, 1980; Vasconcellos et al, 1987; Crasso & Cardoso, 1998; Radostitis, 2000). Segundo ao Ministério da Agricultura do Brasil (1983), machos bovinos que soroconvertam a títulos iguais ou superiores a 100 UI nas provas de SAR e SAT devem ser considerados positivos. Aguir et al (2001) procurou investigar a ocorrência de aglutininas anti – Brucella abortus nas provas de soroaglutinação rápida em placa, antígeno acidificado tamponado, 2 –mercaptoetanol e sêmen plasma aglutinação, associados ao exame andrológico, no diagnóstico da brucelose em machos bovinos. 20 Aguiar et al (2001) utilizou 191 machos bovinos de diferentes raças e estados com idade acima de 30 meses, as amostras de soro desses animais foram testadas nas provas de SAR e 2 –ME. Após a obtenção do sêmen, todos os animais foram submetidos ao exame andrológico. Aguiar et al (2001) observou que apesar de diferentes autores afirmarem que machos bovinos acometidos por B. abortus, possam reagir à infecção com baixos títulos de Ig séricas, (Olascoaga, 1976), ou mesmo não reagirem em provas de soroaglutinação (vasconcellos et al, 1987; Radostitis et al 2000), ocorreu que nesse estudo, todos os animais com títulos 25 (29 animais) e 50 (21 animais) na SAR resultaram negativos nas provas de AAT e 2-ME, bem como no SPA. Esse resultado pode encontrar justificativa na detecção de IgM pela SAR que determinam reações inespecíficas nesta prova (Corbel, 1985; Sutherland, 1980) 2.8. TRATAMENTO O tratamento eficaz contras as brucelas, com quimioterápicos e/ou antibióticos, assim como a terapêutica com soros hiperimunes, são possíveis e importantes no animal isolado, apesar de apresentarem como inconveniente os freqüentes resultados insatisfatórios, mas não tem nenhum sentido considerando as particularidades epidemiológicas da brucelose bovina considerada no conjunto da criação. Tão pouco pode ser recomendado o tratamento de touros infectados 21 em centros de inseminação, apesar de existirem algumas informações isoladas positivas. (Bathke, 1988). A retenção placentária e a metrite, em geral, ocorrem, em seguida ao abortamento em casos de brucelose, mas muitas vezes as vacas não abortam nas gestações subseqüentes. A terapia combinada com oxitetraciclina de longa ação (20mg/Kg por via intramuscular a cada 3 a 4 dias, para cinco tratamentos) e estreptomicina (25mg/Kg por via intravenosa ou intramuscular diariamente durante 7 dias, a partir do início do tratamento com a oxitetraciclina) poderá eliminar a infecção na maioria das vacas, mas, por causa do programa de erradicação empregado em muitos países, raramente as vacas infectadas são tratadas. (Youngquist, 1994). 2.9. PROFILAXIA E CONTROLE As ações de prevenção podem ser classificadas em dois níveis, controle e erradicação. O controle visa reduzir a freqüência de ocorrência de uma doença já presente na população, enquanto que a erradicação busca eliminar totalmente a doença. (Cortes, 1993) Os programas de combate à brucelose aplicados cada vez com mais intensidade em distintos países com base privada, voluntária ou estatal, são extremamente variados na metódica e no conteúdo, devido à situação em que é encontrada a doença. O grau de infecção, o estado de desenvolvimento da 22 produção animal, a orientação da produção das criações ou as regiões a sanear, assim como as peculiaridades territoriais e os condicionamentos econômicos, são alguns dos fatores que devem ter uma influência decisiva na eleição dos programas de saneamento e de combate contra a brucelose. (Bathke, 1988) A determinação global é a mais exata possível da extensão da doença, tanto na criação, como em regiões mais amplas, é a primeira e, ao mesmo tempo, a mais importante condição de todo combate contra a brucelose, cujo objetivo final somente pode ser a eliminação total desta antropozoonose. Internacionalmente foram consagrados, segundo este princípio, os seguintes procedimentos, que podem ser utilizados isolados ou, mas freqüentemente, em combinação: (Bathke, 1988; open ofice internet). • Vacinação dos animais jovens com uma vacina viva; • Recria de bezerras livres de brucelose; • Todos os animais susceptíveis em idade reprodutiva devem ser testados antes de serem introduzidos em um rebanho. Em fazendas que fazem parte do Programa Nacional de Erradicação da Brucelose e Tuberculose, todas as vacas positivas devem ser sacrificadas. • Declaração obrigatória e combate antibrucelar estatais; • Saneamento de zonas controlado pelo estado. • Animais em idade reprodutiva, recém introduzidos no rebanho devem ser testados ou mantidos em quarentena. 23 Os esforços são direcionados para detecção e prevenção, não se encontra disponível nenhum tratamento prático. Uma erradicação eventual depende do teste e da eliminação de reagentes. A doença já foi erradicada de muitos rebanhos individuais e áreas através desse método. Deve-se testar os rebanhos em intervalos regulares, até 2 ou 3 testes sucessivos fiquem negativos. (Aiello, 2001). Deve-se proteger os rebanhos não infectados. O maior risco provém dos animais de reposição. As adições no rebanho devem ser bezerros ou novilhas não prenhes vacinados. Caso se adicione vacas prenhes ou recém paridas, elas deverão provir de áreas ou de rebanhos livres de brucelose e ser soronegativas. Deve-se isolar as reposições por 30 dias ou mais e retesta-las antes de acrescentá-las ao rebanho. (Aiello,2001). Uma vacinação de bezerras com cepas de 19 ou RB51 da B. abortus aumenta a resistência a infecção. Essa resistência pode não ser completa, e alguns bezerras vacinadas podem se infectar, dependendo da gravidade da exposição. Uma pequena porcentagem das bezerras vacinadas desenvolve anticorpos persistir por anos e que podem confundir os resultados dos testes diagnósticos. Para minimizar esse problema, nos EUA, os bezerros são vacinados com uma vacina que contem 3 a 10 bilhões de microorganismos da cepa 19 da B. abortus viáveis por dose de 2ml. A cepa RB51 vem substituindo em larga escala, a cepa 19. Trata-se de uma cepa atenuada e grosseira, que não 24 causa produção de anticorpos, que são detectados através da maioria dos testes sorológicos. (Aiello, 2001). Em geral, considera-se cientificamente que a vacinação não leva à erradicação total da brucelose por si só, mas que apesar de tudo, pode ser um passo importante na via para o saneamento. Uma redução no número de reagentes em um rebanho se relaciona, diretamente, com a porcentagem de animais vacinados. No entanto, quando se muda um programa de controle para um de erradicação, torna-se necessário um programa de teste e abate. Nos EUA, a baixa prevalência da brucelose nos bovinos resultou em redução no uso da vacina com a cepa 19 e foi dada ênfase maior retirada de animais dos rebanhos infectados. (Aiello, 2001; (Beer, 1988). No Brasil, os bovinos que apresentarem reação positiva devem ser marcados com ferro incandescente, no lado esquerdo da cara com um P contido em um círculo de 8cm. Os bovinos suspeitos ou positivos de brucelose não podem ser objetos de comércio, salvo quando comprovadamente destinados ao abate ou a instituições científicas. As filhas de vacas infectadas devem também ser eliminadas. (Bathke, 1988; Costa, 2003). A vacinação de adultos deve ser evitada mas, em casos de criações com alta freqüência de abortos, pode-se optar pela vacinação. Neste caso a vacinação pode ser feita somente após autorização do responsável pelo programa de controle da brucelose em seu Estado e o animal vacinado será marcado, na face direita com um P. (Costa, 2003). 25 A prevenção da brucelose humana é obtida pela educação sanitária dos profissionais mais expostos (utilização de luvas, utilização de vestimentas apropriadas, desinfecção de utensílios e locais contaminados, eliminação de carcaças ou tecidos contaminados), pela pasteurização dos produtos lácteos, evitando a contaminação da população e pelo controle da doença nos animais infectados. A vacinação humana (vacina protéica inativa) é feita em alguns países mas na sua eficácia é muito contestada, não tendo uma grande importância mundial. (Costa, 2003). 26 3. CONCLUSÃO Considerando-se a importância dessa doença como zoonose ocupacional e de origem alimentar, o presente trabalho coloca em evidência, seja no que se refere à vigilância sanitária de alimentos, seja no que respeita à saúde animal, uma das mais graves doenças infecciosas dos animais domésticos, que ainda continua tendo enorme repercussão no campo da saúde pública. Este trabalho nos mostra que, no Brasil, os esforços são direcionados para detecção e prevenção, pois não se encontra nenhum tratamento prático. Deve-se proteger os rebanhos não infectados, vacinando os animais no período correto e seguir as recomendações técnicas do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal – PNCEBT. Com isso tendendo a chegar a um rebanho apto para reprodução e também sem risco para a saúde humana. 27 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, N. J., Brucelose bovina. 1999. Brasília, DF: Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 1999. AGUIAR, D.M. et al. Soroaglutinação, Sêmen Plasma Aglutinação e Exame Andrológico no Diagnóstico da Brucelose em Machos Bovinos. V.68. São Paulo: Instituto Biológico, 2001. p. 103 -105. AIELLO, S.E et al. Manual Merck de veterinária. 8 ed. Trad. Paulo Marcos Agria de Oliveira. São Paulo. Rocca, 2001. 823-825 p. BATHKE, W. Brucelose. In: BEER, J. et al. Doenças Infecciosas em Animais Domésticos. 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