O envelhecimento da mulher:
políticas para uma clínica
ampliada
Maria Elizabeth Mori
Psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica e Consultora
da PNH, Ministério da Saúde
Pesquisa em 2002: procedimentos
metodológicos
• Pesquisa bibliográfica: estudos teóricos-empiricos
• Levantamento do serviço de atendimento à mulher
de meia-idade na rede pública hospitalar do DF
• Entrevistas com profissionais da área de saúde
pública: enfermagem, ginecologia, psiquiatria,
psicologia e administração hospitalar
• Intervenção Psicológica Grupal em Hospital da
rede pública de saúde do DF
HumanizaSUS: atuação como analista
institucional da Política Nacional de
Humanização, desde 2003
• Campo da Análise institucional => atuação
junto às unidades/serviços de saúde
pública com ênfase nos princípios:
– Indissociabilidade entre os modelos de gestão
e atenção
– Transversalidade: aumento do grau de
comunicação na rede de saúde
– Protagonismo e autonomia dos sujeitos –
produção de saúde e produção de sujeitos
Meia-idade Feminina
• Evento de natureza biopsicossocial: 40 a 60 anos,
aproximadamente
• Perdas da função procriativa, do decréscimo da
juventude, da desvalorização social, do emprego, dos
filhos adultos que saem de casa...
• Conflitos, mudanças, transformações, transição => Crise
é inevitável
• Menopausa: uma etapa natural na vida da mulher, mas
medicalizada como se fosse uma doença
• Possibilidades: redirecionamento dos papéis sociais
desenvolvidos
• Desafio: lidar com envelhecimento => Finitude
• Vivência da meia-idade e da menopausa é diversificada
Aspectos socioculturais: espelho
negativo
• Cultura ocidental:
– enaltece o corpo, a beleza e a juventude
– desvaloriza a velhice => reações negativas e o
aumento de queixas e sintomas
– a juventude a qualquer preço: operações plásticas,
aplicação de botox, cremes demartológicos,
academias
• “Estranheza” diante da própria imagem refletida no
espelho
• A ameaça à integridade “narcísica” afeta a saúde
psicológica
• Atitude em relação ao envelhecer => dependerá da
cultura em que a mulher está inserida
Modelo de Atenção: Políticas de
Saúde da Mulher
• A participação - Movimento de mulheres e
feministas - tem sido fundamental para a
ampliação de programas e políticas de saúde
• As políticas privilegiam atenção à mulher na fase
reprodutiva
• Atendimento ao “climatério” previsto no MSPAISM (década de 80) => ainda não faz parte das
prioridades das políticas estaduais e municipais de
saúde
• Mulher idosa: incluída na “Política Nacional de
Saúde para a pessoa idosa”, MS, 1999=> 2006
Levantamento do Serviço de
Atendimento à Menopausa: 2002
• Rede pública hospitalar do GDF realizam palestras
educativas em “Programas do Climatério”
– dos 32 CS apenas 3
– dos 7 hospitais apenas 2 ( Policlínica de
Taguatinga e HRAS)
• Iniciativas pessoais de especialistas
ginecologistas e enfermeiras
• Consulta médica: 10’ e escuta voltada para as
queixas físicas
• Consulta de enfermagem: 1 hora e escuta voltada
para a orientação psicoeducativa
SES/DF Atuação Profissional ano de 2002
• 4025 vagas destinadas ao corpo médico
(ocupam 2856)
• 205: assistentes sociais
• 1410: enfermeiros
• 76: psicólogos na SES – hoje 175
• Conclusão:
– O trabalho psicológico ainda não é reconhecido
plenamente como saber integrante de equipes
multidisciplinares
– O sistema público inviabiliza a escuta psicológica
Intervenção Psicológica Grupal
• “Falência” das estratégias adotadas para cumprir os
papéis sociais
• Desconforto da menopausa (Visível) => abre espaço
para a comunicar insatisfação com a própria
existência (Invisíveis)
• “Sofrer solitário” encontra canal de expressão X
antidepressivos, ansiolíticos e tranqüilizantes tentam
calar os sintomas
• Temas analisados: O significado da menopausa, a
vivência da sexualidade, os estados depressivos e o
processo de envelhecimento
Menopausa
• Desconhecimento do evento
• Preconceito social: motivo de todos os
problemas enfrentados nessa fase de vida
• Referências negativas: gelada, seca, pode
perder até o marido
• Tudo que se fala é percebido como queixa
• “Os problemas são outros” => relacionados à
história particular de cada uma delas
Sexualidade
• Corpo erotizado => está além do fisiológico
• Permanece ativa sexualmente
• Histórias pessoais de falta de prazer sexual, violência
física e moral, aborto que foram calados
• Relacionamentos afetivos problemáticos, agravados pelas
condições financeiras
• As mulheres costumam ser responsabilizadas pelo
fracasso da vida à dois. No entanto, muitas vezes são eles
que se encontram com a libido baixa (impotentes)
• Vida Sexual insatisfatória: histórias de desilusão amorosa,
desencontros, sentimentos ambivalentes
Reações Depressivas
• Todas já haviam sido diagnosticadas como deprimidas
em algum momento da vida
• A palavra “depressão” e o diagnóstico:
– Precisa ser melhor investigado o sintoma depressivo
– Sintoma social? Expressão de um mal-estar na cultura? Renúncia
ao desejo? Uma vez que tem que estar se “adaptando” às
novidades da economia globalizada...
– Complexidade do sofrimento psíquico => angústia gerada pela
pobreza afetivo-sexual faz com que muitas pessoas adoeçam
• Sabemos que: se a palavra falta, vazio de significação, o
corpo rebate com sintomas
• A medicalização como “promessa” de “atacar os
snitomas” e abreviar o tratamento
Envelhecer
• Participantes não manifestaram o desejo de falar
• Sociedade Contemporânea – Narcisista:
– Freud: Sua majestade o bebê => narcisismo
primário
– A conscientização sobre o envelhecer põe fim à
onipotência infantil, da condição do Pode TUDO
=> Ser NADA
– A usência de papéis sociais, a desvalorização
social do corpo envelhecido acaba com a fantasia
de imutabilidade e imortalidade=> inexorabilidade
da finitude
– Futuro do NÃO-SER pode arrancar violentamente
a pessoa do campo do desejo
Experiência Compartilhada
• Primeira experiência de ser escutada por
psicólogos
• Poder falar de experiências vividas, nunca
falada
• Experiência compartilhada => nova
situação, com ganhos de sentido para a
história de vida pessoal
Profissionais Entrevistados: administradora
hospitalar, psiquiatra, ginecologista,
psicóloga e enfermeira
• Unanimidade sobre a importância da
escuta psicológica para esta fase da vida
da mulher
• Perspectiva da Clínica ampliada: atuação
em equipe multidisciplinar, inclusão dos
aspectos afetivos e sociais, valorização
do saber da mulher da meia-idade
Meia-idade feminina: Clínica reduzida hospitalocêntrica, medicocentrada e
medicalizada
• Visão da menopausa como um evento apenas biológico
=> uma síndrome a ser tratada com medicamentos
• Consultas ginecológicas: indicação de TRH,
antidepressivos e ansiolíticos como solução para as
dificuldades enfrentadas no processo de envelhecimento
• Ausência do profissional de psicologia: em alguns
programas de climatério é a enfermagem que “faz a vez”
do trabalho psicológico
• Indústria farmacêutica: mantém a “formação” do
profissional de medicina – eventos e viagens
proporcionados pelos laboratórios; entrega de amostras
de remédios nos consultórios
O Papel da Escuta
• Vivência subjetiva do sofrimento: singular, história de
vida, contexto sociocultural e o sentido dado à
experiência
• Acolhimento do sofrimento, gerado pela sensação de
exclusão, estranheza (ser diferente)
• Vida adulta e processos de envelhecimentos:
experiências heterogêneas
• Ganhos: possibilidade de reavaliar e reorientar a
própria vida => importância da escuta psicológica
• Inseparabilidade entre clínica e politica
Análise institucional 2003-2008
• Profissionais de saúde: trabalho fragmentado, desconectado da
rede de saúde, ausência do trabalho em equipe e
multidisciplinar
• Presença enfraquecida da Psicologia – tanto na Atenção como
na Gestão
• Paradigma: psicologia /clínica e política não se misturam, tanto
na formação quanto nas práticas em saúde (Regina Benevides,
2005)
• Clínica e processos de produção de subjetividade implica em
experiência de crítica/análise das formas instituídas
• Entendemos que a interface da Psicologia com o SUS: Atuação
no plano do coletivo => plano de produção composto de
elementos diferenciados
• Participação na construção de políticas públicas:
inseparabilidade entre os modos de atender, de cuidar e de gerir
os processos de trabalho
PNH: Clínica Ampliada
• Compromisso com o sujeito e seu coletivo,
estímulo a diferentes práticas terapêuticas e coresponsabilidade de gestores, trabalhadores e
usuários no processo de produção de saúde
• Estimular práticas de atenção compartilhadas e
resolutivas, racionalizar e adequar o uso dos
recursos e insumos, em especial o uso de
medicamentos, eliminando ações
intervencionistas desnecessárias
• Ampliar o diálogo entre trabalhadores e a
população promovendo a gestão compartilhada
dos cuidados/atenção
Avaliando a experiência de ser
ouVida
Descobri que não é só comigo que acontecem essas coisas...
Cheguei em casa com aquilo que foi dito por vocês
martelando minha cabeça...
Eu nunca tinha parado para pensar sobre tudo isso...
Sinto que a partir de nossa fala alguma coisa está mudando...
A nossa conversa aqui me ajudou a ver coisas que nunca
tinha visto...
Avaliando experiência de ser
ouVida
Um dos problemas maiores que a gente tem é de
não ser ouvida...
Quando a gente tem alguém que é de todo ouvidos,
temos que aproveitar e falar.. e, a gente tem tanta
coisa para falar...
As coisas vão sendo deixadas de lado, mas elas
ficam lá...
Pela minha vontade grupos como este deveriam se
propagar pelos centros de saúde do Brasil
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