SOBRE DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS ELETRÔNICAS: UMA ANÁLISE TEÓRICA DO MODELO DE SINERGIA PARA COMPETÊNCIAS ELETRÔNICAS Fernanda Roda de Souza Araújo Cassundé 1 - UNIVASF José Ricardo Costa de Mendonça 2 - UFPE Milka Alves Correia Barbosa3 - UFAL Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CNPq Resumo Um novo panorama educacional caracterizado por emergente paradigma de utilização de tecnologias da informação e comunicação (TICs) provoca transformações nos costumes da sociedade, reestruturando aspectos metodológicos relativos ao processo de ensinoaprendizagem. O uso das TICs viabiliza inúmeras novas atividades na educação, e verifica-se, impacto não somente nas instituições de ensino superior, como também no trabalho do professor. A passagem de um modelo educacional que não contemplava a integração com TICs para o atual, mediado por tecnologias, envolve aspectos que vão além de mudanças organizacionais, culturais, institucionais, de modelos de gestão, de infraestrutura e de processos de educação. O novo cenário de ensino-aprendizagem envolve, sobretudo, mudança de competências e de formação do professor do ensino superior: desenvolvimento acadêmica sólido, experiência profissional e competência pedagógica. Este ensaio apresenta um modelo de sinergia para o desenvolvimento das competências que passaram a ser fundamentais ao se considerar os contextos de eLearning, e pretende contribuir para diminuir esta lacuna no conhecimento e buscar consolidar modelos -learning nas IESs. Um aspecto importante apresentado no modelo é que a eficiência de um cenário de curso específico, depende, em grande parte, do grau de adaptação das competências de professores e de alunos nos processos de ensino e de aprendizagem. Assim, tal modelo apresenta os principais componentes que precisam ser levados em consideração na construção de competências eletrônicas para professores e alunos, servindo como ferramenta viável para as universidades no sentido de contribuir para a definição deperfis nos cenáriosespecíficos de e-learning. 1Doutora em Administração pela UFPE. Professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail: [email protected]. 2Doutorem Administração pela UFRGS. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Administração (PROPAD/UFPE). E-mail: [email protected]. 3Doutoranda em Administração pela UFPE. Professora da Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 6154 Palavras-chave: Competências. Eletrônicas de sinergia. Desenvolvimento acadêmico. Ensino Superior. Introdução , mas também nos espaços educacio discutir a formação dos profissionais que serão responsáveis por atender a demanda dessa nova conjuntura. Os ambientes de trabalho eletrônicos nas Universidades possibilitam novos e inovativos formatos para as atividades de ensino e de a TICs aos processos de ensino e aprendizagem nas IESs. Entretanto, apesar da importância da educação superior para o país em diversos aspectos, a área de gestão universitária ainda carece de estudos aprofundados que contribuam para a formação de um corpo teórico específico (MEYER Jr.; MEYER, 2011). Salienta-se no contexto da educação superior no Brasil a expansão da modalidade da Educação a Distância (EAD), principalmente em sua versão online. Acredita-se que o destaque dado a EAD nas políticas públicas educacionais no país impacta e é impactada por fatores econômicos, sociais, tecnológicos e ligados às novas abordagens educacionais. Com isso, a EAD tem proporcionado modelos de ensino inovadores e cada vez mais vem ganhando espaço em cursos de graduação e de pós-graduação no país. Maia e Meirelles (2002) afirmam que os cursos online de graduação têm matriculado um número significativo de estudantes e que o desafio é aprender com a experiência para avaliar e incentivar a inovação educacional. De um modo geral, o preconceito em relação à EAD vem diminuindo, à medida que pesquisas relatam a seriedade dos profissionais envolvidos e a satisfação dos estudantes (TEPERINO et al., 2006). A eficiência e instantaneidade dos meios de comunicação, os recursos editoriais, a velocidade dos transportes, a telemática e, principalmente, a internet, são condições extraordinárias que possibilitam, hoje, trabalhar com a Educação a Distância de forma sistematizada e confiável (BELLONI, 1999; PRADO; ALMEIDA, 2003). Para Moore e 6155 Kearsley (2010), é uma modalidade de ensino que ocorre fora do campus e da sala de aula com estudantes e professores em locais diferentes durante todo ou em grande parte do tempo em que aprendem e ensinam. Segundo os autores, essa modalidade exige o uso de técnicas especiais de criação do curso e de ensino, de comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais. Por estarem em locais distintos, os professores e estudantes dependem de algum tipo de tecnologia para que as informações sejam transmitidas e para que um meio de interação lhes seja proporcionado (MOORE; KEARSLEY,2010). No atual contexto, ao se falar em EAD e na tecnologia empregada nessa modalidade evoca- se o uso das chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Contudo, a EAD além de não se restringir apenas ao uso das TICs, é uma modalidade que se desenvolveu junto com os meios de comunicação. As TICs são um condutor e um acelerador da mudança da cultura de aprendizagem nas universidades, quando duas condições são encontradas o potencial das necessidades tecnológicas de serem coerentemente identificadas para os cenários específicos de ensino e aprendizagem; e as TICs precisam agregar valor pedagógico a estes cenários (SCHNECKENBERG, 2007). Devido às suas características próprias como a diferença do tempo e do espaço e de ser mediada em sua maioria por tecnologias, a EAD exige que tais especificidades sejam consideradas na discussão pedagógica (SANAVRIA, 2008). Observa-se, portanto, a importância das tecnologias para a EAD, e que, através dos tempos, essas tecnologias, na medida em que evoluem, também ampliam e modificam o papel do professor na formação de seus estudantes. Percebe-se que, além de uma nova configuração da EAD, os novos paradigmas educacionais rejeitam uma prática dominadora, mecanicista e centralizadora. O professor não é mais o único detentor do conhecimento e seu papel não é mais apenas transmitir informações e cobrar de seus estudantes a repetição de informações. Nos cursos a distância, atualmente, o professor não somente corrige as tarefas e aprova ou reprova seus estudantes. Ele precisa muito mais do que deter informações para repassar para os discentes. Argumentase que para ultrapassar essa prática mecanicista, o professor de EAD precisa ter formação específica para tal. Contudo, poucos cursos preparam os professores para essa atuação, principalmente no que tange as questões pedagógicas associadas às TICs, um dos fatores diferenciadores de sua atuação neste contexto de ensino. É necessário, portanto, investir em 6156 formações continuadas para que os professores reflitam e desenvolvam as competências necessárias para atuarem de forma efetiva na EAD. Surge então um desafio para os gestores universitários e para as instituições responsáveis pela formação do profissional professor do ensino superior, o qual necessita de competências variadas, não apenas o domínio do conteúdo, para exercer sua profissão que não se restringe apenas à prática docente, em outras palavras, às atividades ligadas diretamente ao processo de ensino- aprendizagem. Assim sendo, observa-se ser necessário compreender que a dinâmica do processo de ensino-aprendizagem por intermédio da EAD muda em relação à modalidade presencial no que se refere: aos papéis e às competências do professor e de seus estudantes, a uma nova realidade da sala de aula virtual e interativa e a um novo currículo no contexto da aprendizagem aberta. Portanto, considerando a importância do desenvolvimento de competências específicas para esse novo contexto de ensino que se põe diante dos professores, Schneckenberg e Wildt (2006) definiram um modelo de sinergia para competências eletrônicas, a partir da identificação dos seguintes componentes principais: o professor universitário; os cenários de ensino e aprendizagem; e os alunos que interagem com o professor em momento específico no cenário de aprendizagem. A análise desse modelopermite uma melhor compreensão do processo de integração estratégica das TICs nos processos de ensino-aprendizagem, sobretudo na modalidade a distância, mas levando em consideração a tendência mundial à convergência entre as modalidades presencial e a distâncias (blended learning) e o uso das TICs na educação presencial. o e-learning nas IESs. (Re)Visitando o conceito de competência para ação A compreensão do modelo proposto por Schneckenberg e Wildt (2006) pressupõe que seja feita uma discussão anterior sobre o conceito de competências. Assim, esta seção (re)visita o conceito de competência para ação, por entender que o sistema de disposições e as competências essenciais, componentes-chave do modelo de competência para ação, são importantes para a compreensão do modelo de sinergia para competências eletrônicas apresentado na seção a seguir e que base para discussão neste estudo. 6157 O conceito de competência é, muitas vezes, apresentado de maneira difusa na literatura especializada, o que parece indicar que ainda está em construção (ADELSBERGER; EHLERS; SCHNECKENBERG, 2008;FLEURY; FLEURY, 2001; LE BOTERF, 2003, 2008; PAIVA, 2007;SANTOS; COELHO JUNIOR; MOURA, 2011; SCHNECKENBERG, 2006a, 2010b; SCHNECKENBERG; WILDT, 2006;). Diversos são os campos de saber que estão se voltando para analisar minuciosamente esse termo, a exemplo da psicologia organizacional, “ ó ” S í J M 2011 2 O início dos debates sobre competências, em administração, por exemplo, remonta à década de 70 do século XX nos Estados Unidos, com a publicação do artigo Testing for Competence rather than Intelligence de McClelland (FLEURY; FLEURY, 2001). Já nessa época era possível diferenciar competência de aptidões, de habilidades e de conhecimento, ressaltam os autores. Mendonça et al (2012b, p.3) acrescentam ainda que é possível também “ enquanto a primeira é reconhecida pelos resultados que o sujeito efetivamente apresenta, a segunda relaciona-se ao que o indivíduo é capaz de fazer ou está formalmente habilitado (por ” Neste artigo, foca-se um conceito específico de competência, como proposto por Adelsberger, Ehlers e Schneckenberg (2008) e Schneckenberg (2010b), que está relacionado à competência para ação. Baseado em Dejoux (1996), Euler e Hahn (2004) e Weinert (1999), Adelsberger, Ehlers e Schneckenberg (2008) e Schneckenberg (2010b) definem competência para ação como a combinação de componentes cognitivos e motivacionais em um sistema holístico de conhecimentos, habilidades e atitudes. Ou seja, competência para ação está relacionada com a capacidade de agir dentro de um determinado contexto de uma maneira responsável e adequada, integrando conhecimento complexo, habilidades e atitudes, complementam os autores, referindo-se à definição proposta por Van der Blij (2002). Essa definição apresenta, ainda, consonância com o entendimento que Fleury e Fleury (2001) tiveram do conceito que propõe Le Boterf (1995). Desse modo, é possível identificar seis componentes como principais blocos de construção para a competência para ação, quais sejam: aprendizagem, sistema de disposições (que inclui conhecimentos, habilidades e atitudes), motivação, desempenho, contexto e competências essenciais. Os pressupostos básicos para cada componente-chave do modelo de competência para ação estão apresentados no quadro 1. 6158 Quadro 1 – Principais componentes e pressupostos básicos do modelo de competência para ação Componente chave Pressuposto básico É o cerne de qualquer desenvolvimento de competências - não há o Aprendizagem desenvolvimento de competências sem aprendizagem. São conhecimentos, habilidades e atitudes orientados para ação adequada nos Sistema de disposições contextos complexos. O sistema de disposições faz ação competente possível. É a condição essencial para as competências baseadas no desempenho – é possível ser competente, mas se não está motivado a agir, não haverá ação. Motivação Não é um componente integral da competência, mas fator de influência independente. Os pressupostos implícitos sobre as competências têm de ser validados e Desempenho interpretados por meio da observação do desempenho real. Em primeiro lugar, os contextos de desempenho definem e especificam as competências necessárias para atuar de forma adequada em cada situação - não é possível especificar competências sem uma análise dos requisitos específicos que Contexto estão incluídos no contexto. Em segundo lugar, o grau de complexidade dentro do contexto de desempenho é considerado um gatilho para o processo de aprendizagem. As competências essenciais são: de conteúdo específico, metodológica, social e Competências essenciais pessoal, que integradas, formam a competência para ação. Fonte: Adelsberger, Ehlers e Schneckenberg (2008, p.4); Schneckenberg (2010b, p.265) Competências e competências eletrônicas para a EAD no ensino superior Em Schneckenberg (2007), é possível encontrar uma classificação mais detalhada das competências docentes para o ensino superior, frequentemente utilizadas nas pesquisas sobre o tema, conforme descrito por Mendonça et al (2012a), e que estão apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 – Classificação das competências docentes para o ensino superior Tipo de competência Atributos da competência - Solução de problemas na área tema Conteúdo específico - Conhecimento qualificado - Conhecimento valorizado - Planejamento criativo de métodos em tarefas e soluções Metodológica - Aplicação eficiente de métodos em tarefas e soluções - Estruturação eficiente de procedimentos cognitivos - Comunicação, cooperação e interação eficiente dentro do grupo Social - Comportamento adequado de acordo com as orientações coletivas - Autoavaliação crítica - Desenvolvimento de atitudes, orientação para valores, motivos e autopercepção Pessoal produtivas e positivas - Revelar talento pessoal, motivação e ambição - Aprender a desenvolver-se dentro e além do contexto de trabalho Fonte: Schneckenberg (2007, p.83) Com base nessa classificação, Erpenbeck e Heyse (1999), citados por Schneckenberg (2007), combinam os quatro tipos de competências em um modelo integrador de competências e ações, e isso inclui a capacidade de integrar um conjunto de competências (conteúdos específicos, metodológica, social e pessoal) dentro de um processo de desempenho individual. 6159 Ao se considerar, entretanto, o novo contexto educacional estabelecido pelo avanço ó í A “ -se ser de fundamental importância a consideração de competências tecnológicas no exercício da ” M N ONÇA 2012 7 Assim, os professores, além de reforçarem as competências que já possuem, precisam, também adquirir novas competências que lhes permitam conhecer e julgar por que, quando e como utilizar as TIC na educação (SCHNECKENBERG, 2010b; VOLK; KELLER, 2010). Isso porque a EAD em muito difere no tempo e espaço da tradicional educação presencial, e o professor passa a ser um mediador no acesso à informação durante o processo de ensinoaprendizagem, exigindo desse profissional novas competências, uma vez que ele precisa ser sensibilizado e preparado para utilizar todo o potencial educativo das tecnologias disponíveis para a EAD e, assim, provavelmente, novos saberes vão sendo construídos (ARRUDA, 2007; GILBERTO, 2013; HARRY; DESMOND; JONH, 2006;JAKOBSDÓTTIR; MCKEOWN; HOVEN, 2010;MARTINS, 2008; SANAVRIA, 2008; SOUZA; SARTORI; ROESLER, 2008; VOLK; KELLER, 2010). Paiva (2007) acrescenta que os avanços tecnológicos afetam diretamente o professor, permanecendo como um ponto questionável de sua atividade, uma “ ó ‘ ó ” (CUNHA, 2001, p.87). O fato é que o ensino na modalidade a distância é um desafio para a maioria dos docentes, exemplificam Moore e Kearsley (2011), especialmente por esse ser intermediado por uma tecnologia, permeando as práticas pedagógicas na EAD. Mesmo que os professores do ensino superior não tenham passado por um treinamento formal para exercer a regência na modalidade presencial, a maioria consegue moldar seu comportamento em sala de aula com base nos professores que teve enquanto foi aluno. Porém, até recentemente, dificilmente, uma “ o sobre como ensinar usando a tecnologia. As pessoas que se tornam instrutores na EAD [...] precisam aprender, õ ” 147 j , geralmente, deparam-se com situações não vivenciadas anteriormente enquanto aluno, uma vez que a maioria se formou no ensino presencial (GILBERTO, 2013; SOUZA; SARTORI; ROESLER, 2008). Outros autores (LATCHEN, 2010; SCHNECKENBERG, 2008a) também corroboram essa ideia ao afirmarem que são poucos os cursos que preparam os professores para a EAD, especialmente no que se refere às questões pedagógicas associadas às TICs. O 6160 que se percebe, portanto, muitas vezes, é uma formação inadequada dos professores justamente para integração das TICs aos processos de ensino. Essas circunstâncias reforçam, portanto, a necessidade do desenvolvimento de competências específicas (LATCHEN, 2010), as chamadas competências eletrônicas, para o docente atuar na EAD, pois essa modalidade tem proporcionado modelos de ensino inovadores e cada vez mais vem ganhando espaço em cursos de graduação e pós-graduação no país. Mendonça et al (2012b) apresentam um quadro resumo com a classificação, atributos e sustentação das competências-chave do professor em EAD (quadro 5 abaixo). Este quadro foi elaborado a partir da síntese das contribuições de Konrath, Tarouco e Behar (2009) e Schneckenberg (2007), fundamentada na classificação de Schneckenberg (2007), analisada à luz do modelo de Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2000) adaptado por Paiva (2007). Quadro 5 – Classificação, atributos e sustentação das competências-chave do professor em EAD Tipo de competência Atributos da competência Solução de problemas na área tema Conhecimento qualificado Conhecimento valorizado Planejamento criativo de métodos em tarefas e soluções Aplicação eficiente de métodos em tarefas e Metodológica soluções Estruturação eficiente de procedimentos cognitivos Comunicação, cooperação e interação eficiente dentro do grupo Social Comportamento adequado de acordo com as orientações coletivas Autoavaliação crítica Desenvolvimento de atitudes, orientação para valores, motivos e autopercepção produtivas e positivas Pessoal Revelar talento pessoal, motivação e ambição Aprender a desenvolver-se dentro e além do contexto de trabalho Fonte: Mendonça et al (2012b, p.10) Conteúdo específico Principais componentes das competências que sustentam a ação Funcional Cognitiva Cognitiva Cognitiva, funcional Cognitiva, funcional Cognitiva, funcional Comportamental Comportamental, ética Funcional, ética Funcional, ética Comportamental, política Cognitiva, funcional, comportamental No entendimento de Schneckenberg (2007, 2010b), as competências eletrônicas significam um dos aspectos de um debate mais amplo sobre os modelos que permitem a integração de novas tecnologias às universidades, tendo em vista que um novo contexto eletrônico está paulatinamente envolvendo e modificando o ambiente de trabalho do docente no ensino superior. Embora as competências eletrônicas tenham um foco tecnológico, salienta 6161 o autor (2006a, 2010b), as competências necessárias para o docente não se limitam apenas ao componente eletrônico. Não se está lidando com o nível de conhecimento de cada professor sobre aplicativos e softwares específicos, é algo mais amplo. Diz respeito às competências educacionais que necessitam para fazer julgamentos adequados para integração efetiva das TICs no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, faz-se necessário compreender que a dinâmica do processo ensinoaprendizagem, quando intermediada pelas TICs, difere quando comparada com a modalidade presencial, especialmente com relação aos papéis e às competências do professor e também dos alunos, à nova realidade da sala de aula (que passa a ser virtual, interativa e tecnológica) e a um novo currículo no contexto de aprendizagem aberta. A eficiência desse processo (de ensino-aprendizagem) depende diretamente do ambiente de aprendizagem em que professores e alunos estão situados que, por sua vez, depende em grande parte do ajuste das competências eletrônicas dos docentes neste cenário (SCHNECKENBERG, 2007). Schneckenberg e Wildt (2006) definiram um modelo de sinergia para competências eletrônicas, a partir da identificação dos seguintes componentes principais: o professor universitário (com competência individual específica definida a partir de sua disposição para ação de forma adequada); os cenários de ensino e aprendizagem (que incorporam ou se baseiam na utilização das TICs em um contexto particular em que o desempenho do professor universitário está situado) e os alunos que interagem com o professor em momento específico no cenário de aprendizagem (a principal diferença entre o professor e os estudantes não está contida na dimensão cognitiva, mas na dimensão de desempenho. O objetivo principal do professor é ensinar; o objetivo principal do aluno é aprender). Mendonça et al (2012b)incluíram a competência avaliativa na relação de competências individuais dos professores, sugerindo, assim, uma adaptação a esse modelo, (figura 5).Esta competência específica, a qual se distingue das competências de conteúdo específico e das competências metodológicas, encontra sustentação nas funções do educador na EAD propostas por Moore e Kearsley (2010), ao considerar que uma das funções do educador na EAD é desenvolver o estudante, o que compreende atividades de avaliar a aprendizagem e proporcionar feedback sobre o processo. 6162 Quadro 6 – Classificação, atributos e sustentação das competências-chave do professor em EAD, incluindo a competência avaliativa Tipo de competência Atributos da competência Monitorar e acompanhar a aprendizagem, notificando o aluno Avaliativa Monitorar e acompanhar a eficácia das atividades do curso, notificando as instâncias responsáveis Fonte: Adaptado de Mendonça et al (2012b, p.10) Principais componentes das competências que sustentam a ação Cognitiva, funcional, ética Funcional Figura 5 – Modelo de competências dos professores e discentes no cenário específico de EAD AÇÃO COMPETENTE Competências de conteúdo específico Competências metodológicas Competências avalia vas Competências sociais e comunica vas Competências pessoais Disposições individuais para a aula Cenário de EAD MODELO DE ENSINO OPÇÕES DE TICs Modelo pedagógico que determina as opções de ensino e aprendizagem Espectro de TICs que estão disponíveis e são adequadas ao modelo pedagógico AÇÃO COMPETENTE Competências de conteúdo específico Competências metodológicas Competências sociais e comunica vas Competências pessoais Disposições grupais dos discentes da classe Fonte: adaptado por Mendonça et al (2012b)a partir de Schneckenberg e Wildt (2006, p.33). Um aspecto importante nesta relação é a eficiência de um cenário de curso específico, que depende, em grande parte, do grau de adaptação das competências de professores e de alunos nos processos de ensino e de aprendizagem. Desta forma, embora os papéis na interação entre professores e alunos estejam situados em locais opostos do processo de ensino e aprendizagem, eles se complementam. A competência eletrônica pessoal de cada aluno descreve a habilidade no uso das TICS em atividades de aprendizagem. A combinação das competências eletrônicas de cada aluno resume as disposições grupais dos discentes da classe para utilização adequada das TICS na 6163 aprendizagem. A combinação de competências eletrônicas do professor, por sua vez, resume sua disposição individual para a aula. Considerações finais Não somente a educação, a partir da inserção das TICs, como também o trabalho docente está sendo reconfigurado nos últimos anos (BARRETO, 2004; BOLFER, 2008). O advento das tecnologias de informação e comunicação e suas diversas potencialidades provocaram evoluções significativas no trabalho do professor, quais sejam: reestruturação de seu perfil, metodologia utilizada em sala de aula, inserção e uso de equipamentos/tecnologias para auxílio da regência (ENS; GISI; EYNG, 2010; MERCADO, 2002; ZANOTELLI, 2009). Isto significa que os professores precisaram se identificar com um novo perfil de educador, redefinido a partir da complexidade exigida em função de suas tarefas, em um mundo cada vez mais informacional e informatizado (BELLONI, 1998). Deste modo, as novas práticas educativas só puderam se concretizar a partir do desenvolvimento de uma consciência crítica “ nserir as mídias ó ” ensino-aprendizagem (BOLFER, 2008; GUIMARÃES, 2007, p.155). Este novo papel de atuação docente exigiu dos professores uma adaptação do antigo perfil de educador e o desenvolvimento de novas habilidades e competências para a bimodalidade (blended learning), ou seja, valorizar a diversidade de ferramentas tecnológicas disponíveis para a educação a distância (EAD) online. Por isto que Backes e Schlemmer (2013) defendem que as capacitações dos docentes precisam ser desenvolvidas de maneira que se possam vivenciar situações em que seja ofertado ao professor aprender os conhecimentos do processo formativo utilizando as tecnologias, e não apenas aprender a utilizá-las com seus estudantes. A formação dos professores, segundo Mercado (2002), para este novo contexto tecnológico tem sido crítica, pois, não tem sido privilegiada, de maneira eficiente, pelas políticas públicas em educação nem, tampouco, pelas Universidades. Um estudo sobre as “ í profissionais da educação a distância apontou um hiato entre o discurso e a realidade ” das TICs (GILBERTO, 2013, p.276). Portanto, o principal desafio que é posto às universidades é definir o conjunto de cenários de e-learning que melhor se ajuste as necessidades educacionais, bem como definir 6164 estratégias para o desenvolvimento de competênciaseletrônicas com base nosperfisde competências docenteespecificadospara os cenáriosde e-learning institucionalmentedefinidos. Esta abordagem, provavelmente,nãoé viávelpara professores e cursosindividuais,em quecada cenárioe-learning é único e incluium conjunto diferente devariáveis. Assim, é importante dizer que as medidas institucionais são importantes para criar um impacto duradouro em termos de aprendizagem e desenvolvimento de competências de professores. Isto posto, e considerando-se componentes fundamentais inerentes ao conceito de competência eletrônica, quais sejam: o professor, o modelo pedagógico, as opções de TICs e do grupo de estudantes, Mendonça et al (2012b)a partir de Schneckenberg e Wildt (2006, p.33) apresenta um modelo holístico de competências dos professores e discentes no cenário específico de EAD. Tal modelo apresenta os principais componentes que precisam ser levados em consideração na construção de competências eletrônicas para professores e alunos; ele, no entanto, não especifica os perfis de competências dos professores em cenários específicos de e-learning.De um pontode vistametodológico, o modelo pode ser considerado uma ferramenta viável para as universidades no sentido de contribuir para a definição deperfis nos cenáriosespecíficos de e-learning. REFERÊNCIAS ADELSBERGER, Heimo; EHLERS, Ulf-Daniel; SCHNECKENBERG, Dirk. 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