A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO AS FEIRAS INTERNACIONAIS COMO CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO NO ESPAÇO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DAS FEIRAS E CONGRESSOS MÉDICOS PARA O COMPLEXO INDUSTRIAL DA SAÚDE FLÁVIO DE CAMPOS VENDRUSCULO1 Resumo: Neste artigo, nosso objetivo é compreender o papel das feiras e congressos médicos internacionais nas conexões entre os agentes econômicos do complexo industrial da saúde (GADELHA, 2003). Com isso em foco, pretendemos apontar que situações de co-presença temporária, tais como as feiras internacionais e congressos, são pontos de conexão de uma geografia da produção cada vez mais fragmentada e dispersa, funcionando como círculos de cooperação no espaço para os circuitos espaciais da produção (SANTOS, 1986) de um dado complexo industrial. Palavras-chave: co-presença temporária, circuitos espaciais da produção, círculos de cooperação no espaço, feiras internacionais, complexo industrial da saúde. Abstract: The objective of this article is to understand the role of trade fairs and medical congresses in the creation of cooperation between economic agents of the health industrial complex (GADELHA, 2003). With this in mind, we intent to point out that international trade fairs are central nodes of an ever more fragmented and scattered global political economy, and by bringing together these parts, trade fairs have the role of cooperation circles in space for the spatial circuits of production (SANTOS, 1986) in a given industrial complex. Key words: temporary co-presence, spatial circuits of production, circles of cooperation in space, international trade fairs, health industrial complex. 1. Introdução Através da constante reorganização das estruturas produtivas, da recriação das bases técnicas da produção social e da renovação das condições sociais de produção, lugares, regiões e países são constantemente postos em conexão. Através desses elementos a história é constantemente perpassada por um arranjo complexo de autonomia e interdependência entre lugares, através dos quais regiões se relacionam. Grosso modo, a expansão do capitalismo produziu uma interdependência crescente entre diferentes subespaços do mundo através de “uma espécie de socialização capitalista territorialmente ampliada” (SANTOS, 2008 [1996]: 254). Tal socialização resulta do movimento conjunto de expansão geográfica e aprofundamento vertical da divisão do trabalho, que abrange cada vez mais lugares e se concentra através de densidades técnicas inéditas. Com a paulatina integração territorial do sistema econômico e a superação do que Harvey (1992) chamou de “fricção da distância” através da incorporação de inovações técnicas nos transportes e comunicações, passou-se a construir uma rede 1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. E-mail de contato: [email protected] 4786 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de relações mais intensa e extensa entre as regiões do mundo. A transição de uma geografia econômica mais dedicada às relações entre agentes restritos à escala regional para outra que envolve agentes de diversas regiões cooperando entre si, demarca a passagem dos circuitos regionais da produção para os circuitos espaciais da produção (CEP) e seus respectivos círculos de cooperação no espaço (CCE) (SANTOS, 1986). A geografia da produção resultante desse processo é cada vez mais fragmentada e dispersa, o que torna mais complexa a distribuição espacial das atividades econômicas no globo terrestre e aumenta a demanda por coordenação e coesão entre esses lugares. A incorporação no espaço de inovações técnicas (transportes) e informacionais (telecomunicações) supre as novas necessidades por articulação e intensifica a interdependência entre os lugares ao criar novas possibilidades de interação e também novas formas de cooperação e controle das ações. Dessa forma, o uso das redes de transporte e de telecomunicação possibilitou a unificação de setores industriais, a mundialização das relações produtivas e o acesso a informações sobre mercados distantes, propiciando uma maior circulação de pessoas, objetos e informações num ritmo cada vez mais acelerado. Atualmente, a interdependência entre grupos sociais, setores econômicos e lugares é uma realidade que reestrutura as condições sociais de solidariedade e demanda uma coesão espacial cuja expressão é a especialização dos lugares (CASTILLO et al, 1997). A globalização da economia e a mundialização das relações, possibilitados pela unicidade técnica planetária, são tributários dessa interdependência entre os lugares numa escala global e os CEP e seus CCE são orgânicos à integração territorial do sistema econômico, pois são o cimento dessa codependência estrutural entre diferentes lugares do planeta. Quanto ao papel do CCE na integração territorial do sistema econômico, Castillo e Frederico (2010) apontam que eles remetem à dinâmica imaterial da produção no território, reunindo o que foi fragmentado pela divisão territorial do trabalho. Para esses autores os círculos de cooperação no espaço tratam da comunicação entre empresas traduzida através da transferência de capitais, ordens e informações, garantindo a articulação entre lugares e agentes geograficamente dispersos. 4787 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Nesta perspectiva os CCE dão coesão a atual organização espacial da produção, tornando-se fundamental reconhecer os principais agentes que formam e estabelecem os CCE. Ou seja, como os diversos agentes que integram CEP se relacionam dentro de círculos de cooperação cada vez mais intensos e extensos. Como aponta Antas Jr (2014: 42), tais círculos encerram peculiaridades ligadas ao ramo produtivo ou mesmo ao complexo industrial em questão, tornando fundamental analisar os círculos de acordo com a especificidade do complexo industrial. Para compreender os CCE de um dado complexo industrial, quais suas formas e como os agentes envolvidos na sua formação organizam a produção, devese prosseguir às formas de interação entre empresas, entre essas e poderes públicos (locais, estaduais e federal) e entre empresas, associações industriais e outras instituições (CASTILLO, FREDERICO, 2010). Portanto, os CCE são constituídos por uma rede de relações através da qual diversos agentes econômicos são postos em conexão. Sob a perspectiva do conceito de complexo industrial da saúde (CIS) (GADELHA, 2003) podemos ter uma visão estruturalista dessa variedade de agentes. O CIS encerra um conjunto altamente diversificado de agentes econômicos num sistema organizado e descentralizado, no qual esses agentes são levados a se relacionar entre si para atingir objetivos diferentes. Plurais, os CCE podem: [...] se dar entre empresas e poderes públicos locais, regionais e nacionais; entre empresas, associações não governamentais e instituições sem fins lucrativos; por financiamentos oferecidos por instituições bancárias; por parcerias com universidades, institutos de pesquisa e certificadoras de qualidade; e com o trabalho de firmas de consultoria jurídica, de mercado e de publicidade, entre outros modos. [...] Podem diversificar produtos, agentes, interesses e origem dos capitais, entre outras variáveis-chave demandadas em cada circuito espacial produtivo. (ANTAS Jr, 2014: 49) As especificidades dos CCE no CIS são variadas como, por exemplo, as relações e trocas de informações entre médicos, institutos de pesquisa/universidades e indústrias. As interdependências entre esses agentes influem diretamente sobre os setores produtivos do CIS extrapolando o entendimento do conceito de cooperação como restrito à produção stricto sensu. Assim, “a concentração da formação médica e do desenvolvimento de pesquisa aplicada [...] são algumas das formas que os círculos de cooperação no espaço assumem na economia da saúde” (ANTAS Jr, 2014: 46). 4788 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Portanto, mesmo que os agentes econômicos não precisem de uma condição de contiguidade territorial (co-presença permanente) para a realização do processo produtivo, sustentamos que as situações de co-presença temporária são necessárias para solucionar problemas oriundos da própria globalização econômica. Nesse sentido, as feiras são instrumentos importantes para a internacionalização da produção e do comércio e para a difusão de informações entre diferentes mercados. 2. As feiras internacionais como círculos de cooperação Em termos gerais, as feiras constituem a concentração temporária de um contingente considerável e diversificado de empresas num mesmo ponto do território para deliberar, negociar e cooperar. Dentre as principais funções desempenhadas pelas feiras internacionais, apontaremos àquela de inserção de agentes, produtos e racionalidades no mercado global (ALMEIDA, BICUDO, 2010), ligando-as, portanto, a interesses corporativos globais que se entrelaçam num círculo complexo e ampliado, onde coexiste cooperação e competição. Nesta perspectiva, Bathelt et al (2013) e Bathelt e Schuldt (2005) apontam que as feiras, principalmente, mas arrolamos os congressos nessas considerações, são espaços relacionais que abrigam formas temporárias de proximidade geográfica, criando um contexto espacial que aproxima agentes que de outra forma estariam distantes geográfica e tecnologicamente. Ademais, Bathelt et al (2013: 10) apontam que essa possibilidade transforma as feiras em situações cruciais através das quais as redes internacionais da produção podem ser mantidas, promovidas e ampliadas. As inúmeras possibilidades de interação entre agentes econômicos durante um curto período de tempo constitui um importante fator de atratividade entre agentes econômicos de diversos lugares. Através dessas interações, as empresas de um dado complexo industrial podem romper os círculos de cooperação locais e regionais aumentando o alcance geográfico de suas ações (vendas, fornecimento de bens finais e/ou intermediários e etc.). As oportunidades de interação com produtos, tecnologias e de acesso a profissionais especializados tornam as feiras situações-chave na promoção de experiências de aprendizado entre técnicos e profissionais de indústrias marcadas 4789 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO pela necessidade de atualização constante de conhecimentos frente ao ritmo de inovação tecnológica num dado complexo industrial. Assim, as feiras, tal como os CCE, possuem um aspecto relacional através do qual agentes econômicos se relacionam ao estabelecer trocas, fluxos de informações, de insumos e bens intermediários e também de valores. O estabelecimento dessa rede de relações depende da criação de contextos espaciais capazes de viabilizar contatos face-a-face (BATHELT, SCHULDT, 2008) com alta capacidade de difusão de objetos técnicos e conhecimento técnico-científico. Para Crocco et al (2006: 212) a aglomeração e intensa interação face-a-face de pessoas para produzir ou emular as vantagens econômicas decorrentes dessa forma de aglomeração, pois “o conhecimento e os processos de aprendizagem e de construção de competências a ele relacionadas, [...] são processos essencialmente interativos e incorporados em pessoas, organizações e relacionamentos”. Santos, por sua vez, enfatiza a influência da co-presença sobre as condições de aprendizado e educação: “a co-presença ensina aos homens a diferença. Quanto maior a cidade,[...], mais vasta e densa a co-presença e também maiores as lições e o aprendizado” (2008 [1994]: 79). Assim, as exigências de articulação e troca de informações que caracterizam a atividade econômica nas cidades e indústrias mais globalizadas, criam necessidades pela criação de novas formas de cooperação e solidariedade. Dentre essas necessidades, incluímos as situações de co-presença temporária entre agentes econômicos de um mesmo complexo industrial. Ademais, conforme apontam Jansson e Power (2008), as feiras e congressos internacionais não são realizados de forma isolada, mas sim organizados num circuito global de feiras das mais diversas naturezas e qualidades que operam uma quantidade significativa de relações entre pessoas, cidades e instituições públicas e privadas. Assim, diversos agentes ampliam suas redes em círculos de cooperação cada vez maiores e diversificados, transformando a copresença nas feiras num alargamento constante dos contextos (SANTOS, 2008 [1996]). Portanto, propomos aqui a visão de que as feiras e congressos são fundamentais para a realização de cooperação, de trocas e de difusão de conhecimento técnico-científico. O argumento central é o de que, não apenas, mas 4790 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO principalmente no caso da indústria da saúde, as feiras e congressos não devem ser considerados como instâncias isoladas da produção de valor, e sim como reuniões temporárias, cíclicas e conectadas entre si que estão inseridos em circuitos globais segmentados por tipos de indústria, conforme veremos adiante. 3. As feiras internacionais para o complexo industrial da saúde Nosso objetivo é compreender o modus operandi das conexões entre agentes econômicos no contexto do CIS (GADELHA, 2003) a partir das feiras e congressos médicos. Com isso em foco, pretendemos demonstrar que situações de co-presença temporária, tais como as feiras e congressos, podem viabilizar a cooperação entre agentes econômicos. Nesse sentido, nosso entendimento dos círculos de cooperação no espaço passa pelas formas através das quais se dão as interações entre empresas, pessoas, instituições e agentes de cooperação no CIS (associações de produtores industriais e de especialidades médicas, por exemplo). Além dos CCE e dos CEP, o conceito de CIS agrega-se ao referencial teórico e metodológico, pois privilegia uma abordagem sistêmica e estruturalista da diversidade de agentes econômicos que compõem a economia da saúde contemporânea. O emprego desse conceito está alinhado, em primeiro plano, a um processo histórico de interdependência entre a ascensão de uma indústria da saúde e a modernização dos serviços de assistência à saúde, uma vez que essa é a co-dependência estrutural que confere organicidade a todo o complexo. Em segundo plano, a diversificação da oferta e demanda por produtos e serviços em saúde, a complexificação dos arranjos entre estado e mercado na economia da saúde e o aprofundamento da divisão técnica e territorial do trabalho, mobilizam uma tipologia específica de fixos e fluxos (SANTOS, 1988( que “supõe a existência de várias empresas postas em comunicação entre si cooperando mais intensivamente” (ANTAS Jr, 2014: 43). Conforme a Figura 01, o CIS divide-se em três grupos de modo que o funcionamento do complexo depende das relações intersetoriais ilustradas. Tais grupos envolvem: a indústria de base química e biotecnologia, as indústrias de base mecânica, eletrônica e de materiais e o setor de prestadores de serviços. 4791 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 01 - Complexo Industrial da Saúde - Caracterização Geral. Fonte: Gadelha (2003: 524) Essa diversidade de agentes econômicos postos mais intimamente em cooperação produz uma complexa divisão territorial do trabalho que nos permite, por sua vez, apontar a existência de determinados circuitos espaciais produtivos da saúde (ANTAS Jr, 2011). Isso nos permite apontar a existência de CCE no CIS que podem ocorrer tanto entre os setores industriais como entre estes e o setor prestador de serviços. Esses dois tipos de círculos são promovidos nas feiras, pois, além da presença de fabricantes e empresas, pode-se notar a presença de representantes de hospitais e de associações de especialidades médicas. Neste ponto, frisamos que as feiras e congressos ilustram empiricamente os CCE apontados, como se emulassem as interdependências entre os grupos do CIS. Contudo, a diferença fundamental entre congressos e feiras é a de que as feiras são eventos voltados para as relações entre empresas e nos congressos as empresas procuram criar relações com os principais intermediários (os médicos) entre elas e os consumidores finais. Nos trabalhos de campo realizados em congressos científicos2 torna-se 2 Foram realizados trabalhos de campo no XVIII Congresso Paulista de Urologia e no XIX Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia. 4792 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO evidente um traço marcante do atual entrelaçamento entre ciência, tecnologia e indústria na economia da saúde, pois a dinâmica de inovação do CIS caracteriza-se pela necessidade de intensa interação entre os produtores de conhecimento técnico-científico e as indústrias da saúde. Nos congressos, além do assédio tecnológico das empresas da saúde em relação aos médicos, há a contrapartida dos médicos que propõem modificações nos produtos, apontam falhas e dificuldades no uso das tecnologias, interferindo diretamente na produção. Portanto, as feiras e congressos médicos ajudam a suprir duas demandas fundamentais do CIS, que são: a interação entre empresas e a interação entre medicina e indústria. A partir disso, o propósito das feiras consiste em disseminar informações produtivas e mercadológicas através da aglomeração temporária dos agentes do CIS, procurando, com isso, diminuir os riscos e incertezas de um mercado global intrinsicamente instável e em busca de informações. De uma pesquisa de 220 feiras internacionais para o CIS, pudemos destacar algumas principais, que são: a Feira Medica, sediada anualmente em Düsseldorf, Alemanha; a Feira Hospitalar, sediada anualmente na cidade de São Paulo; a Arab Health, sediada anualmente em Dubai, emirados Árabes Unidos; a Fime (Florida International Medical Exhibition), sediada anualmente em Miami, EUA; a CMEF (China International Medical Equipment Fair) e o ICMD (International Component Manufacturing & Design Show), ambos na China; e, finalmente, as Feiras Medtec e CPhI. Embora não poderemos abordar todas, sublinhamos que cada uma dessas feiras possui uma função para o CIS, cada uma atua numa escala geográfica diferente (regional, internacional ou global) e num segmento específico do CIS. Dentre elas, destacamos a Medica e a Arab Health, nessas duas feiras todos os setores (industriais e prestador de serviços) do CIS estão presentes e elas representam o encontro entre oferta e demanda global num único ponto do globo. Mesmo assim, a Feira Medica é a que exprime melhor esta característica e é considerada a maior feira do mundo para a indústria da saúde. No ano de 2013 compareceram a Medica 4.682 empresas expositoras, das quais 3.604 (76%) eram estrangeiras e 1.078 (24%) eram alemãs. Da parte dos visitantes, do total de 132.226, 56% é representado por estrangeiros e 44% por 4793 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO visitantes alemães. Dentre os visitantes estrangeiros, há uma predominância de visitantes asiáticos (54% do total), os visitantes oriundos da América do Norte representam 16%, os africanos 15% e os 15% restantes estão divididos entre América Central e do Sul (13%) e Austrália (2%) (MESSE DÜSSELDORF ANNUAL REPORT, 2013: 9). Além da Medica, a Messe Düsseldorf, empresa organizadora dessa feira, promove diversas feiras para o CIS ao redor do mundo, tais como: a Medical Fair Asia, a Medical Fair India, a Medical Fair Thailand, a China Med, a Medical World of Americas e a Mediz SPB Fair (na Rússia). As feiras Medtec e CPhI, ambas organizadas pela UBM (United Business Media), concentram-se em promover plataformas de conexão e contato entre produtores de bens intermediários de dois setores industriais do CIS. A Medtec concentra-se na indústria de base eletrônica e de matérias e a CPhI é especializada no setor farmacêutico e de biotecnologia. O conteúdo dessas feiras compreende a co-presença temporária de profissionais especializados detentores de um conhecimento técnico muito específico. A Medtec, por sua vez, constitui uma marca com edições regionais e internacionais, sendo realizada cerca de 30 feiras ao redor do mundo com esse rótulo. Delas a maior parte está sediada nos EUA3, mas elas estão presentes também na Europa e Ásia4 e também na América do Sul por meio da MedTec Brazil. Essa feira é fundamental para o que temos sustentado ao longo deste a rt igo, pois ela promove a cooperação exclusivamente entre agentes da esfera produtiva e o intercâmbio de informações técnicas e regulatórias. Em trabalho de campo realizado na MedTec Brazil, em São Paulo, foi possível constatar esse perfil através da realização de um inventário de produtos nela ofertados. Pudemos encontrar fornecedoras internacionais e nacionais de: componentes eletrônicos, tecnologias de micro-maquinação, fibras, softwares de design e fabricação, serviços de esterilização, ligas metálicas especializadas, materiais e tecnologias 3 MD&M East (divisão da costa leste dos EUA), MD&M West (divisão da costa oeste dos EUA), MD&M Florida, MD&M Minneapolis, MD&M Philadelphia, MD&M Texas, MEDevice San Diego, Medical Device & Manufacturing (sem cidade-sede fixa), Pharmapack North America. 4 Na Ásia, MEDTEC China, MEDTEC China South, MEDTEC India, MEDTEC Japan, na europa MEDTEC Europe, MEDTEC France, MEDTEC Ireland, MEDTEC Italy, MEDTEC UK – Reino Unido. 4794 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de empacotamento, arames e molas, tecnologias de processamento de plásticos, resinas e matérias-primas, bombas, motores e equipamentos para calibração, dentre outros. De forma semelhante à Medtec, embora dedicada a expor produtos das empresas que compõem os CEP da indústria farmacêutica, a CPhI reúne produtores do circuito de insumos e reagentes químicos, tais como: extratos naturais, fórmulas finalizadas, excipientes (conservantes, emulsificantes, solubilizantes, corantes, flavorizantes) e princípios ativos. Tal como a MedTec, a CPhI possui edições nacionais, multinacionais e mundiais: a CPhI South East Asia, a CPhI Japan, a CPhI Russia, CPhI Istanbul, a CPhI China, a CPhI South America, a CPhI Korea, a CPhI Worldwide, e a CPhI India. Além disso, diversos congressos de especialidades médicas acontecem simultaneamente à CPhI. A Feira Hospitalar, por sua vez, é tida como a segunda maior feira para o CIS no mundo. Apesar de contar com forte presença de expositores internacionais, a Hospitalar possui maior participação de empresas nacionais. Em trabalho de campo realizado na edição de 2014 dessa feira, ela contou com cerca de 91.000 visitantes, dos quais 4.810 (8,5%) eram internacionais. Desse ponto de vista, a Hospitalar revela um caráter nacional mais pronunciado, apesar da considerável presença de empresas e organizações estrangeiras na feira. Segundo dados divulgados pela organização da feira, 11 estados brasileiros são responsáveis por cerca de 90% das visitas. Os visitantes estrangeiros estão distribuídos em 63 países, com destaque para os países da América do Sul, para o México, Panamá e Porto Rico. Segundo dados divulgados pela organizadora dessa feira, hospitais, clínicas e laboratórios são as instituições mais representadas dentre os visitantes, de modo que 23% estão vinculados a elas, 18% representam distribuidores, representantes comerciais (importadores e exportadores), 19,5% representam estudantes e entidades de ensino médico, indústria, engenharia e arquitetura hospitalar e entidades de classes, 13% são enfermeiros, 6% são médicos, 6% trabalham em serviços diversos e 8% são outros profissionais da saúde (técnicos, 4795 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO auxiliares, etc.)5. Estes dados revelam a atratividade que essa feira possui para as empresas brasileiras e latino americanas que atuam na indústria da saúde. Desse modo, as feiras e congressos internacionais para o CIS encerram diversos níveis de CCE que operam mais ou menos organizadamente um emaranhado de relações numa trama global, de modo que a complexidade dessas feiras e congressos está diretamente relacionada à complexidade organizacional e ao nível de internacionalização desse complexo industrial. 4. Considerações preliminares Ao longo desse artigo, procuramos definir as feiras e congressos como fenômenos carregados de significados geográficos, econômicos e históricos cuja potencialidade é transversal ao sistema econômico e todos os complexos industriais que o compõe. Sua particularidade reside nas possibilidades de explorar o potencial comunicacional das situações de co-presença temporária que a concentração de agentes econômicos num mesmo lugar pode gerar. Portanto, a aglomeração temporária de pessoas e empresas de diversas partes do mundo parece ser uma interessante forma de emular as vantagens econômicas decorrentes das chamadas economias de aglomeração (MARSHALL, 1996). Conforme apontado, o potencial das feiras supera a função de plataforma comercial, pois promove a cooperação e coesão de agentes econômicos através da criação redes de relacionamento, da difusão de informações, conhecimento técnico-científico, objetos e, portanto, da difusão de uma psicoesfera e uma tecnoesfera na economia da saúde. Desse modo, as feiras e congressos tornamse pontos de conexão de uma economia política global do CIS ao aglomerar num único lugar os agentes de diversos CEP de uma geografia da produção crescentemente fragmentada e dispersa. BIBLIOGRAFIA: ALMEIDA, Eliza e BICUDO, Edson. Psicoesfera e medicina: Meio construído urbano e congressos médicos na América Latina. Revista Geográfica Venezolana, vol. 51, ano 1, 2010. 5 Informações disponíveis em: http://www.hospitalar.com/index.php. Acessado em 14/10/2014. 4796 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ANTAS Jr, Ricardo. Circuitos espaciais produtivos da saúde, serviços médicohospitalares e transformações da urbanização no território paulista. Anais do IX ENANPEGE, Goiânia, 2011; __. O complexo industrial da saúde no Brasil: uma abordagem a partir dos conceitos de circuito espacial produtivo e círculos de cooperação no espaço. Geographia, Vol. 16, N° 32, p. 38-67, 2014. BATHELT, Harald; GOLFETTO, Francesca e RINALLO, Diego. Trade Shows in the Globalising Knowledge Economy. [Versão Preliminar], 2013. BATHELT, Harald e SCHULDT, Nina. Temporary face-to-face contact and the ecologies of global and virtual buzz. Spaces online (www.spaces-online.com), Vol. 6, Toronto and Heidelberg: 2008. Acessado em 01/11/14. 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