CUSTOS DE GERAÇÃO DE BIOELETRICIDADE NA SAFRA 2013/14* * Haroldo José Torres da Silva1; André Felipe Danelon1; Carlos Eduardo Osório Xavier2 1 Pesquisador do PECEGE/ESALQ/USP; 2CEOX Planejamento e Otimização Venda de eletricidade (kWh/t de cana) A prática da cogeração de energia amplamente difundida no setor sucroenergético brasileiro permite a autossuficiência em energia elétrica das usinas. Desde a década de 1990, tecnologias de maior eficiência de cogeração permitiram o início da exportação de excedentes de eletricidade produzida pelas usinas para às distribuidoras. Contudo, apesar da constante evolução, o potencial elétrico das usinas continua pouco aproveitado. Por outro lado, consistentemente a comercialização de eletricidade tem se incorporado como um vetor mais relevante de geração de receita para as agroindústrias canavieiras. A Figura 1 destaca a tendência de crescimento de importância da quantidade vendida e, consequentemente, da receita gerada, pelas usinas ao longo das safras pesquisadas pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). 47 50 40 35 29 30 30 39 24 17 20 27 14 10 2 16 23 16 4 4 0 0 2008/09 2009/10 Centro-Sul Expansão 2010/11 2011/12 Safra Centro-Sul Tradicional 2012/13 2013/14 Nordeste Figura 1 - Evolução da quantidade de eletricidade vendida, medida em kWh/t de cana processada, nos levantamentos de safra do PECEGE. O desafio para criação do indicador de custo de produção de eletricidade, iniciase com a definição de nível de tecnologia de cogeração de energia elétrica1. Definiram-se 3 grupos característicos de usinas, a partir da produção relativa de energia elétrica, ou seja, quantidade de energia elétrica produzida para cada tonelada de cana processada pela usina. Os três diferentes grupos produzem, respectivamente: (i) entre zero e 40 kWh/t; (ii) entre 40 kWh/t e 80 kWh/t e; (iii) acima de 80 kWh/t. Relacionando esses níveis de produtividade com tecnologias esperadas de cogeração de energia, construiu-se os resultados da Tabela 1, a qual destaca a representatividade da produção relativa de energia elétrica, número total de usinas, moagem e venda de eletricidade de cada classe tecnológica de cogeração. De acordo com a classificação adotada, 42% das usinas foram classificadas como de tecnologia antiga e comercializaram apenas 2% do total da energia exportada da amostra na safra 2013/14. Já 26% das usinas, classificadas como de alta capacidade de 1 Para detalhamento metodológico sugere-se a consulta de PECEGE (2014) em www.pecege.esalq.usp.br/portal. cogeração, foram responsáveis por 57% de toda a eletricidade vendida pela amostra. As usinas com tecnologia retrofit2 de cogeração corresponderam por 32% das usinas amostradas e 41% da eletricidade vendida por essa amostra. Tabela 1 - Caracterização tecnológica da amostra de usinas exportadoras de energia elétrica na safra 2013/14. Produtividade Número de Eletricidade Classe de Moagem Elétrica Usinas vendida tecnologia (% amostra) (kWh/t) (% da amostra) (% da amostra) Antiga 0 a 40 42% 28% 2% Retrofit 40 a 80 32% 42% 41% Moderna 80 ou mais 26% 30% 57% R$/MWh bio-eletricidade As usinas participantes da pesquisa de levantamento de custos do PECEGE na safra 2013/2014 das regiões3 Centro-Sul Expansão, Centro-Sul Tradicional e Nordeste apresentaram produtividades elétricas de 73,5 kWh/t, 62,9 kWh/t e 37,3 kWh/t respectivamente. Na região Tradicional e Expansão estão na faixa de produção característica das usinas com tecnologia retrofit de cogeração enquanto no Nordeste possuem a característica de tecnologia antiga de cogeração. A Figura 2 é possível observar as estimativas de custos da energia comercializada pelas usinas de cada região e os preços médios descontados dos impostos. 200 160 120 80 40 0 RC DEP COE Preço eletricidade CT Tradicional 64,51 43,00 7,12 197,71 114,63 COE DEP Expansão 57,94 38,63 7,05 195,96 103,62 RC Nordeste 10,12 0,00 6,43 178,49 16,54 Preço eletricidade Figura 2 - Custos de produção e preços do MWh nas regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste: safra 2013/14. Nota: Total. RC – Remuneração do capital; DEP – Depreciação; COE – Custo Operacional Efetivo; CT – Custo Os resultados indicam que a região Nordeste apresentou o menor custo, entretanto deve-se avaliar que a usina típica da região possui tecnologia antiga de cogeração, ou seja, 2 Destaca-se o cuidado de não se utilizar os custos de produção de bioeletricidade com utilização da tecnologia retrofit como referência para custos para os custos de produção de bioeletricidade com tecnologia moderna em novos projetos. 3 Os levantamentos de custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar, etanol e bioeletricidade do PECEGE/CNA são realizados anualmente e os dados agregados em três regiões: Centro-Sul Tradicional (SP e PR), Centro-Sul Expansão (MG, GO, MS e MT) e Nordeste (AL, PE, PB). o excedente de eletricidade que pode ser vendido é limitado. Para análises mais adequadas da relevância da receita e custos da comercialização de eletricidade pelas usinas faz sentido observar os valores trazidos a uma base de comparação em R$/t de cana processada, como destaca a Tabela 2. Tabela 2 – Descrição de receita, custos e margem da comercialização de energia elétrica medida em R$/t de cana processada para as regiões avaliadas na safra 2013/14. Regiões Descrição Tradicional Expansão Nordeste R$ R$/t R$ R$/t R$ R$/t Receita 16.947.684 7,68 18.702.001 9,11 3.047.945 2,93 Custos 9.826.117 4,45 9.889.272 4,81 282.526 0,27 Margem econômica 7.121.567 3,23 8.812.729 4,29 2.765.419 2,65 Nota-se que a região mais atrativa, em termos de geração de margem em valores absolutos e relativos foi a Centro-Sul Expansão como consequência da maior produtividade e quantidade vendida de eletricidade. Também note-se que o potencial de geração de receita e margem com a comercialização de eletricidade, ainda é relativamente baixo. Em todas as regiões, a margem de comercialização da eletricidade é inferior, por exemplo, à folha de pagamento industrial das usinas. Embora os custos de produção da eletricidade estejam abaixo do preço pago pela energia, cabe destacar que a avaliação das margens deve ser relativizada devido a se tratar de uma análise para uma usina com tecnologia parcialmente depreciada. Como a geração de bioeletricidade é dependente do processamento de cana, é recomendável a análise conjunta das atividades agroindustriais e de cogeração para a correta avaliação de viabilidade econômica. Para avaliar com maior sensibilidade a viabilidade do investimento em capital para cogeração, é válido considerar a tecnologia mais atualizada disponível no mercado, ou seja, a tecnologia utilizada pelas usinas classificadas como de alta capacidade de cogeração neste relatório. Utilizando-se essa hipótese, note-se que a venda relativa de energia elétrica é de 69,5 kWh/t; 57,0 kWh/t e 52,2 kWh/t nas regiões Expansão, Tradicional e Nordeste, respectivamente. A informação implícita é que, embora a margem seja menor, o maior volume de vendas gera maior receita que a obtida pelas usinas com tecnologia retrofit de cogeração. A Tabela 3 corrobora essa análise. Tabela 3 – Descrição de receita, custos e margem da comercialização de energia elétrica medida em R$/t de cana para as regiões avaliadas na safra 2013/14: tecnologia moderna. Regiões Descrição Tradicional Expansão Nordeste R$/t R$ R$/t R$ R$/t R$ Receita 24.871.345 11,27 27.974.110 13,62 9.706.890 9,32 Custos 15.295.368 6,93 15.407.068 7,50 7.549.448 7,25 Margem econômica 9.575.977 4,34 12.567.042 6,12 2.157.442 2,07 Por fim, destaca-se que a avaliação dos custos de geração de bioeletricidade realizados pelo PECEGE/CNA para a safra 2013/14 está em desenvolvimento metodológico e seus resultados iniciais visam contribuir para a análise do mercado sucroenergético ao apresentar indicadores que possam aprofundar o entendimento dos desafios enfrentados pelas usinas típicas das diferentes regiões do Brasil.