Agronegócio em Análise Agosto de 2013 Ganho de renda agrícola neste ano se concentrou no Sul e Centro-Oeste, enquanto o Nordeste sofreu nova perda por conta de estiagem A expectativa de recorde da safra de grãos 2012/13 por conta da queda esperada para os preços das apontada no final de 2012 tem sido confirmada a principais commodities agrícolas. cada levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O relatório deste mês, o O 11º levantamento de grãos, divulgado neste penúltimo antes do término da colheita da safra, mês pela Conab, sugere produção de 186,15 aponta expansão de 12% da produção, o que milhões de toneladas na safra 2012/13. Isso representa aumento de 8,8% da renda agrícola na representa um aumento de 12% frente à produção safra em questão, considerando alguma correção de 166,17 milhões de toneladas da safra 2011/12. baixista dos preços1. O desempenho positivo reflete O incremento estimado é impulsionado pela alta o aumento de área plantada do Centro-Oeste e a de 22,7% e 10% da produção de soja e milho, retomada da produtividade no Sul, diante do clima respectivamente. O recorde de produção brasileira favorável ao plantio. Nesse sentido, o incremento desses produtos, por sua vez, resultou em alguma de renda agrícola está concentrado especialmente correção baixista dos preços dessas commodities nessas regiões. Por outro lado, a seca no Nordeste neste ano, dada a relevância do mercado brasileiro reduziu a produtividade na região pelo segundo ano no cenário mundial. No mercado interno, os preços consecutivo, comprometendo os ganhos agrícolas. médios de soja e milho devem recuar 8% e 5%, Para a safra 2013/14 a expectativa inicial é de nessa ordem 2. Dessa forma, a renda agrícola estabilidade da produção de grãos, com possíveis deve encerrar este ano com crescimento de 8,8%, em R$ milhões no Nordeste. No entanto, para a próxima Fonte: CONAB, DERAL nossos Elaboração: Bradesco ganhos segundo cálculos, atingindo R$ 123,1 RENDA AGRÍCOLA - GRÃOS – ARROZ, ALGODÃO, FEIJÃO, MILHO, TRIGO E SOJA – 2002 - 2013* * Projeção de produção: Conab * Projeção de preços: Bradesco safra, esperamos que a renda agrícola deva recuar bilhões. 140.000 123.100 120.000 113.180 98.783 100.000 Renda agrícola de grãos – em R$ milhões 84.861 80.000 74.018 60.247 60.000 40.000 66.673 69.678 58.052 49.903 45.361 37.057 2012/13* 2011/12 2010/11 2009/10 2008/09 2007/08 2006/07 2005/06 2004/05 2003/04 0 2002/03 20.000 2001/02 Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Priscila Pacheco Trigo Fonte: CONAB, DERAL Elaboração e (*) projeção: CONAB, BRADESCO A renda agrícola é calculada com base na produção e nos preços internos de grãos. Não considera, portanto, as despesas intrínsecas ao cultivo. A despeito da queda dos preços médios entre 2012 e 2013, a cotação da maioria das commodities agrícolas encontra-se em elevado patamar. O movimento reflete o aumento expressivo da safra agrícola brasileira e a expectativa de safra recorde nos EUA, ainda que a demanda por esses produtos mantenha trajetória crescente. 1 2 1 Entretanto, o crescimento da produção agrícola ocorreu de grãos na região totaliza 14 milhões de toneladas. de modo não uniforme entre as regiões produtoras, Somente a produção de soja na região cresceu 61,7%, com destaque para a retomada da produção no Sul. contribuindo com 11,5 milhões de toneladas adicionais. A produção na região havia recuado na safra anterior Com isso, a renda agrícola de grãos no Sul passou em razão de uma severa estiagem em 2012. Com o de R$ 36,3 bilhões na safra passada para R$ 46,7 clima favorável neste ano, a região recuperou sua bilhões na safra 2012/13. Ainda que o resultado total produtividade, o que, aliado ao aumento de 2,6% da seja positivo para a região, a produção de trigo deve VAR. % DA PRODUÇAO DE GRÃOS SAFRA 2012/2013 Fonte: Conab Elaboração: área plantada, garantiu o crescimento de 24,4% da recuar 24,3%, respondendo à queda de área plantada Bradesco produção de grãos no Sul. O incremento na produção (-12,5%) e de produtividade.3 19.950 Brasil 14.083 Sul Variação absoluta da produção de grãos por região – em mil toneladas – safra 2012/2013 5.238 C-Oeste Norte 549 Sudeste 490 Nordeste -409 -1.000 2.000 5.000 8.000 11.000 14.000 17.000 20.000 Fonte e Projeção: CONAB Elaboração: BRADESCO O Centro-Oeste também merece destaque. Na enquanto a produção de algodão deve recuar. Por safra 2012/13 foram adicionados 5,2 milhões de conta da queda de preços, a renda agrícola deve toneladas na região, segundo estimativa da Conab, recuar 0,1%. O resultado, contudo, ainda mantém o que representa aumento de 7,4% da produção em a renda agrícola em elevado patamar, em torno de relação à safra anterior. Neste caso, o resultado R$ 51,3 bilhões. Vale ressaltar que o Centro-Oeste positivo se deve ao aumento da área plantada, concentra mais 40% da renda de grãos no País, da Renda Agrícola por região - Safra 2012/13 Fonte: Conab e Deral Elaboração: Bradesco em 9,4%, com algumaEvolução correção de produtividade. por isso, sua importância para o cenário agrícola Aqui, soja e milho impulsionaram a produção, nacional. 55.000 51.323 51.277 2009/10 46.673 2010/11 2011/12 Agronegócio em Análise 44.000 2012/13* 36.89736.342 Renda agrícola de grãos por região – em R$ milhões 38.355 33.000 28.262 25.969 22.000 11.722 10.239 11.000 6.780 1.961 2.609 0 3 9.467 6.707 9.200 11.820 11.747 3.528 3.864 NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE Fonte: CONAB, DERAL Elaboração e (*) projeção: CONAB, BRADESCO O Sul responde por mais de 90% da produção doméstica de trigo, por isso sua importância. DEPEC 2 As regiões Sudeste e Norte adicionaram cerca de 500 mil Vale a pena comentar que a renda agrícola no toneladas cada uma para a produção agrícola. No Norte, Sudeste é bastante influenciada por outros produtos, a despeito da pequena representatividade da região na além de grãos, como café e cana-de-açúcar. Nesse agricultura brasileira, o crescimento da produção foi de sentido, merece destaque o recorde de produção das 11,1%, respondendo ao avanço de área plantada, em duas culturas, levando em conta ano de bienalidade 4,4%, e aos ganhos de produtividade. O desempenho baixa do café. A produção de cana-de-açúcar na positivo na região está sendo influenciado pelo cultivo da safra 2012/13 deve registrar expansão de 10,7% soja, que deve registrar crescimento de 21,6%. A produção ante a safra passada. No caso do café, a safra atual de grãos na região Sudeste, por sua vez, subiu 2,5%, (2013/14) deve aumentar 11,7% em relação à safra diante do aumento de área (1,5%). O destaque na região 2011/12, para comparar ano de bienalidade baixa. fica para a soja, já que a produção dos demais grãos deve Ainda que a produção seja recorde, os preços de recuar. Assim, a despeito da queda de preços, a renda café e açúcar, no mercado internacional, encontramEm R$ milhõesno Sudeste e Norte deve agrícola subir para R$ 11,8 se em baixo patamar, limitando ganhos de renda FONTE: CONAB ELABORAÇÃO E PROJEÇÃO: VARIAÇÃO BRADESCO DA RENDA AGRÍCOLA DE GRÃOS POR REGIÃO SAFRA 2012/2013 na região. bilhões e R$ 3,9 bilhões, respectivamente. SUL 28,4% 9,5% NORTE 8,8% BRASIL SUDESTE 0,6% CENTRO-OESTE NORDESTE -0,1% -7,5% Agronegócio em Análise -10,0% 0,0% 10,0% 20,0% Em sentido contrário, a produção de grãos no Nordeste na safra atual deve ser menor do que na anterior. A queda estimada pela Conab é de 3,3%, o que corresponde à perda de 409 mil toneladas. Esse será o segundo ano seguido de estiagem, comprometendo a produtividade na região. Ademais, a seca em 2012 desestimulou o plantio, de forma que houve uma ligeira retração da área plantada (-0,3%). O desempenho negativo no campo está concentrado em soja e algodão, uma vez que a produção nas demais culturas deve aumentar. Com isso, a renda agrícola no Nordeste deve sofrer redução de R$ 11,7 bilhões para R$ 9,5 bilhões entre a safra 2010/11 e a atual. Para a próxima safra, 2013/14, as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos Produção Trigo Milho Arroz Algodão Soja Total Renda agrícola de grãos por região na safra 2012/2013 – variação % 2012/13 4,3 77,0 8,2 5,8 82,0 177,3 2013/14 5,0 72,0 8,5 7,0 85,0 177,5 Var absoluta 0,7 -5,0 0,3 1,2 3,0 0,2 30,0% Fonte: CONAB Elaboração e (*) projeção: CONAB, BRADESCO (USDA, na sigla em inglês) sugerem estabilidade da produção de grãos no Brasil. O desempenho resulta da combinação entre recuo da produção de milho e avanço das demais culturas, especialmente soja e algodão. O quadro traçado considera a queda de área de milho, por conta de preços menos atrativos e aumento da produtividade de soja e algodão, afetada hoje pela estiagem no Nordeste. Ademais, a produção de trigo deve retomar na próxima safra, recuperando parte da perda observada na safra 2012/13. Em suma, a redução da produção de milho deve ter reflexo na região Centro-Oeste, maior produtora dessa cultura, enquanto a alta na produção da soja deve ser sentida no Centro-Oeste, Sul e, especialmente, Nordeste, diante da normalização do clima nessa região. Var % 16,3% -6,5% 4,2% 20,7% 3,7% 0,1% Estimativa da produção de grãos no Brasil – em milhões de toneladas Fonte e (*) projeção: USDA Elaboração: BRADESCO DEPEC 3 Agronegócio em Análise Chama atenção o movimento baixista das cotações dessas commodities no mercado internacional, pelo segundo ano seguido. O movimento se respalda na expectativa de uma safra grande e de boa qualidade de grãos nos EUA, como vem sendo apontado pelos relatórios do USDA4. Assim, esperamos uma queda dos preços internacionais médios de milho e soja, da ordem de 21% e 12%, respectivamente, entre 2013 e 2014. Os preços no mercado doméstico tendem a reagir em magnitude diferente, especialmente no caso do milho. A possível queda de produção dessa commodity no Brasil deve limitar o recuo de preços domésticos. Até porque os preços internos de milho já recuaram refletindo o recorde na safra 2012/13. De qualquer forma, o quadro global aponta para queda dos preços dessas commodities. Com isso, embora a produção se mantenha em elevado patamar, com suas diferenças regionais, a renda agrícola brasileira deve ser menor na próxima safra. Para o exportador, essa queda de renda deve ser compensada, em parte, pela depreciação do câmbio, que reduz possíveis perdas com o preço internacional. Por fim, se por um lado a queda das cotações desses grãos favorece a descompressão dos preços de alimentos no próximo ano, por outro, também afeta os investimentos na lavoura e no consumo nas regiões produtoras. Esperamos algum recuo da demanda por tratores e máquinas agrícolas em 2014, respondendo também ao aumento das taxas de juros de financiamento dessas máquinas, com o fim do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).5 Adicionalmente, esse ambiente deve levar a alguma moderação no comércio varejista nessas principais regiões produtoras, que são mais dependentes da geração de renda e emprego no setor. 4 Os últimos relatórios semanais do USDA têm apontado piora das condições consideradas boa e excelente de milho e soja, por conta do clima seco no meio-oeste norte-americano. A despeito disso, a safra de grãos nos EUA ainda deverá ser recorde. É claro que qualquer piora no clima pode resultar em menor propdução de soja e milh na safra 2013/14. 5 Mesmo que o programa continue, esperamos alguma correção altista nas taxas de juros de financiamentos do programa em 2014. DEPEC 4 Agronegócio em Análise Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Economia Doméstica: Pesquisa Proprietária: Análise Setorial: Estagiários: Fabiana D’Atri / Leandro de Oliveira Almeida/ Felipe Wajskop França Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Igor Velecico / Ellen Regina Steter / Priscila Pereira Deliberalli / Andréa Marcos Angelo Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo Fernando Freitas / Ana Maria Bonomi Barufi / Leandro Câmara Negrão André Kengi Alves Hirata / Alex Panoni Furtado / Laura Marsiaj Ribeiro / Klaus Heinz Troetschel / Guilherme Dalla Villa / Guilherme Marinho Lima / Vitor Inocêncio / Mariana Carvalhaes O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). DEPEC 5