Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 A FORMAÇÃO DE LEITORES LITERÁRIOS: DA ESCOLA PARA A VIDA Mariana Matheus Pereira da Silva (PG-CLCA-UENP/CJ) Rafaela Stopa (Orientadora-CLCA-UENP/CJ) Grupo de Pesquisa Literatura e Ensino Considerando que a literatura é um texto esteticamente organizado, que viabiliza ao leitor o contato com sua cultura e a cultura de outros povos provocando um comportamento mais crítico e humano, é indispensável sua abordagem no ambiente escolar, uma vez que garante ao aluno o direito de conhecer novos mundos através da ficção, suscitando um olhar de inquietação para a sua realidade. Segundo postula Antonio Candido (1995) o acesso à literatura é um direito imprescindível, pois ela exerce um poder indiscriminado sobre os leitores através da palavra organizada. A literatura exprime a humanidade para nela atuar, já que o texto literário nada mais é do que a organização do caos da realidade por meio das palavras, e é esta organização que nos permite estabelecer a ordem de nossos sentimentos e pensamentos, e compreender melhor o mundo em que vivemos. [...] a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar nossa humanidade. (CANDIDO, 1995, p. 256) No entanto, pesquisas na área do ensino de literatura têm revelado que a maneira como a abordagem do texto literário tem se estabelecido na escola está atuando para o afastamento dos jovens em relação aos livros, já que em muitos casos o que prevalece nas aulas são as informações sobre as características e estilos das obras, quando nem mesmo a leitura efetiva dos livros foi realizada. Nesse sentido, vale questionar qual tem sido os resultados obtidos com ensino de literatura na escola nos dias atuais, já que as aulas que deveriam oportunizar aos alunos a leitura das obras para a formação de um repertório de 46 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 leitura que se estenda da escola para sua vida tem se limitado a um estudo estanque das obras literárias. Na obra, A literatura em perigo (2009), Tzvetan Todorov aponta que a escola não tem alcançado êxito na formação de leitores literários, pois a prática da leitura fica em segundo plano, enquanto se prioriza o desenvolvimento do estudo das obras, sem ao menos ter-se estabelecido o contato com elas, contato este que se faz efetivo somente através da leitura É verdade que o sentido da obra não se resume ao juízo puramente subjetivo do aluno, mas diz respeito a um trabalho de conhecimento. Portanto, trilhar esse caminho, poder ser útil ao aluno aprender os fatos da história literária ou alguns princípios resultantes da análise estrutural. Entretanto, em nenhum caso o estudo desses meios de acesso pode substituir o sentido da obra, que é seu fim. [...] (TODOROV, 2009, p. 31). O ensino de Literatura deve estar voltado a uma prática dialógica, em que os alunos em contato com os textos literários possam relacioná-los com a sua realidade. Portanto, a presença da literatura na escola deve estar longe de ser uma prática estanque e limitada ao estudo das obras, sem que estas tenham sido efetivamente lidas. Sabemos da importância do aluno reconhecer a literatura como um texto esteticamente organizado, no entanto o que se deve oportunizar é a compreensão de que os textos literários são obras de arte que se prestam a representação a cultura, ao mesmo tempo em que oferece novos conhecimentos e a descoberta de novos mundos. A abordagem de textos literários deve estar associada às práticas que suscitem a criticidade do leitor, fazendo-o capaz de questionar a sua realidade e o espaço social que ocupa. A obra literária deve ser compreendida como representação da cultura e se oferecer ao jovem como oportunidade de estabelecer contato com os conhecimentos postulado em diferentes épocas. Ao privilegiar o texto literário como modalizador do estudo de língua portuguesa, toma-se como objeto a linguagem em ação, pois, na constante construção de sentidos por meio da palavra que se fundamenta pelo uso da vida social, o ser humano se torna capaz de reconhecer a si mesmo, sua cultura e o mundo em que vive. (FILIPOUSKI; MARCHI, 2009, p. 9) 47 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Sabendo da importância do ensino de literatura, que deve aliar a leitura e estudo das obras literárias com o objetivo de formar leitores, este trabalho, recorte do projeto de pesquisa “Literatura na escola: questões atuais e perspectivas”, desenvolvido no período de setembro de 2011 a julho de 2012, em turmas do terceiro ano do ensino médio de duas escolas públicas situadas no estado de São Paulo e no estado do Paraná, tem como objetivo constatar se a configuração das aulas de literatura resultam na leitura de textos literários fora do ambiente escolar. O desenvolvimento da pesquisa se dividiu em quatro etapas, sendo a primeira destinada atividades como a leitura da bibliografia básica sobre literatura e ensino, teoria e metodologia de ensino de literatura, a segunda parte compreendeu a elaboração dos objetos de apreciação, ou seja, pontos de observação e questionários aos alunos, o terceiro momento foi reservado para a observação das aulas e as entrevistas com os alunos, e a quarta e última etapa foi direcionada à análise dos dados coletados. Para a apresentação dos resultados, primeiramente traremos a sistematização das estratégias utilizadas pelos professores, para posteriormente divulgar os resultados alcançados com o confronto entre a observação das aulas e a aplicação dos questionários direcionados aos alunos com vistas a identificar se a escola atua significativamente na formação de leitores literários. No mês de março foi dado início às observações nos dois estados, entretanto o professor titular do estado do Paraná apresentou problemas no quadro de saúde e solicitou licença médica, o que levou a pesquisa a ser realizada em duas etapas para que não houvesse atraso na análise dos dados coletados. Então, nos meses de março e abril foi observada a realidade do ensino de literatura no estado de São Paulo. A disciplina de Língua Portuguesa no estado de São Paulo é composta por 6 horas/aula semanais, disponíveis para o trabalho com a gramática, a produção textual e a literatura. No entanto, com a sequência de observações realizadas, ficou evidente que o professor privilegia o trabalho com a produção textual, alegando aos alunos que eles devem se aprimorar por meio da prática para responder às exigências do Enem e do vestibular. No que diz respeito à abordagem do texto literário, observou-se atividades que partem do livro didático e outras propostas pelo professor. No desenvolvimento do ensino pautado no livro didático são poucas as oportunidades oferecidas aos discentes para discutir e 48 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 compartilhar as leituras realizadas, atribuindo o poder de discurso quase que exclusivamente ao autor do livro didático, uma vez que não vai além do que pedem os exercícios oferecidos. Somado a essa situação, o docente propôs, para ser realizado em sala de aula, um trabalho de antologia poética de escritores clássicos indicados por ele. Aos alunos coube a seleção dos poemas que foram organizados numa sequência, acompanhados, cada qual, por uma resenha que deveria ser composta pela relação do conteúdo temático com fatos cotidianos. Para a escolha desses poemas o docente disponibilizou o livro didático, o que impediu os alunos de estabelecerem contato direto com as obras literárias dos escritores, além disso, como já é sabido, o material didático traz um número limitado de produções que restringem as obras a um determinado estilo de época e consequentemente delimitam o conhecimento do aluno. Mesmo que a proposta feita tenha restringido o acesso aos livros, teria sido válida pela tentativa de envolvimento do aluno com o universo literário e o espaço concedido para realizar a relação do texto literário com a vida cotidiana, porém como resposta à atividade realizada pelos alunos, o professor teceu diversos comentários referentes à estruturação da resenha produzida por eles, bem como as inadequações da norma culta e da gramática em detrimento ao trabalho com os aspectos plurissignificativo revelados pelo texto literário e a possível troca de experiência entre professor, agente mediador da leitura, e aluno. A abordagem extraclasse do texto literário ofereceu duas propostas de atividades como forma de avaliação bimestral. A primeira foi uma ficha de leitura da obra Os sertões (1902), de Euclides da Cunha e a segunda um trabalho de intertextualidade pautado na “Canção do Exílio” (1843), de Gonçalves Dias. Nas primeiras aulas do bimestre o professor mencionou aos alunos que deveriam realizar tais trabalhos e que os roteiros para a sua produção seriam enviados por email aos representantes de classe que ficaram incumbidos de repassar aos demais colegas. No entanto, o professor não demonstrou a preocupação de contextualizar as obras e aprofundar a explicação sobre as etapas de realização do trabalho para os alunos. Na ficha de leitura, dividida em duas partes, o aluno foi incumbido inicialmente de identificar dados como título da obra, nome do autor, editora, ano da obra, vida e obras escritas pelo autor. Posteriormente, na segunda parte do trabalho, o discente foi encarregado de produzir um resumo do livro, descrever as personagens principais, física e psicologicamente, citar cinco personagens secundárias e suas relações com as personagens 49 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 principais, identificar o espaço e tempo onde se passa a história, relacionar palavras desconhecidas e indicar seus sinônimos, discorrer sobre o estilo do autor, identificar o foco narrativo e exemplificá-lo, destacar um trecho da obra que considere emocionante e expor opinião sobre o livro. O trabalho de intertextualidade associado ao poema de Gonçalves Dias desenvolveu-se com base na pesquisa dos autores europeus do período romântico que influenciaram a produção do poeta brasileiro, bem como os autores brasileiros, que a partir do século XX, foram influenciados pelo poema “Canção do Exílio” (1843), e escreveram paródias e paráfrase tomando como base o seu conteúdo temático. A partir da proposta, os alunos desenvolveram um texto dissertativo, por meio do qual apontaram as possíveis influências dos escritores portugueses na escrita do poeta brasileiro Gonçalves Dias, bem como pesquisaram produções literárias contemporâneas influenciadas pelo poema “Canção do exílio” (1843). Na primeira atividade extraclasse, o professor propõe aos alunos um trabalho de decodificação das informações constantes na superfície dos textos, o que sugere a preocupação pela verificação da leitura, porém como fator positivo pede aos discentes que destaquem da obra um trecho que tenham considerado emocionante, revelando atenção ao caráter subjetivo da obra literária, bem como ao diálogo que cada aluno travou com ela no momento da leitura. Somado a isso, o docente abre espaço para cada estudante expor sua opinião sobre a obra em questão, o que consequentemente possibilita ao professor reconhecer quais foram as dificuldades encontradas para a realização da leitura do texto. O retorno para o aluno no que diz respeito ao seu desempenho incide sobre a devolução dos trabalhos com as devidas observações dos aspectos que foram ou não devidamente atendidos. A segunda atividade transgride as convenções, porque inclui a noção de intertextualidade. A proposta pode viabilizar a percepção do aluno para a proximidade entre as produções, bem como realçar o caráter atemporal do texto literário, sua função simbólica e social. Uma vez apresentado o mesmo conteúdo temático, os textos contemporâneos, que se pautam na realidade de seu tempo, viabilizam a noção social que a literatura reproduz. Depois de realizadas todas as etapas constantes no roteiro disponibilizado como orientação para os alunos, estes tiveram que produzir um texto dissertativo organizando todos os dados coletados pela pesquisa realizada e posteriormente apresentar os resultados ao professor e aos colegas de classe no formato de semanário, em que o professor atuaria realizando intervenções. 50 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Foi possível perceber que, trabalhada em sala de aula, a leitura literária se constrói através de práticas que não possibilitam ao aluno sua identificação como co-produtor de sentidos do texto e parte integrante do processo da produção-recepção. Quando trabalhado extraclasse, o texto literário pode acabar sendo visto pelo aluno como obrigação escolar, que por um lado preza pela decodificação de informações superficiais do texto, mas de outro dá espaço à subjetividade. O trabalho com a intertextualidade revela-se favorável, porém a atividade extraclasse pode não alcançar bons resultados, já que será realizada em distância do professor, e por esse fato o poema deveria ser contextualizado em sala de aula, para que no decorrer da realização da tarefa o discente pudesse alcançar a plurissignificação do texto literário e suas relações dialógicas com os poemas contemporâneos. Encerrado os procedimentos no estado de São Paulo retomamos, no mês de maio e junho, a observação e sistematização das estratégias adotadas pelo professor do estado do Paraná que retornara ao ambiente escolar depois do período em que esteve de licença médica. No estado do Paraná o número de aulas direcionado à disciplina de Língua Portuguesa, se comparada à quantidade de aulas do estado de São Paulo, caem para a metade, sendo apenas 3 horas/aula semanais. Este fato torna ainda mais complicado o trabalho do professor que deve distribuir suas aulas de modo a contemplar as modalidades de produção textual, gramática e literatura. Com a observação destinada aos procedimentos didáticos adotados pelo docente foi possível notar que não há a preocupação em considerar por igual às referidas modalidades da disciplina, pois o norteador único e exclusivo das aulas é o livro didático, e deste modo o trabalho se desenvolve pautado na sequência em que o conteúdo está disponível no material. O trabalho com o texto literário, no período de observação das aulas, não se efetivou através do contato direto com as obras, partiu sempre dos trechos oferecidas pelo livro didático, o que revelou não haver por parte do professor a preocupação em ultrapassar os limites impostos pelo material didático, restringindo o aluno do seu direito de acesso às obras literárias. Além disso, as explanações sobre o conteúdo eram estritamente atreladas ao que o material oferecia, tanto que, quando um aluno apresentava alguma dúvida ao professor, ele simplesmente pedia para que o discente fizesse uma leitura mais atenta do livro didático para alcançar a compreensão, e acabava por não cumprir seu papel de mediador no processo de leitura. Tais acontecimentos revelam o despreparo do docente para as aulas, uma vez que não 51 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 demonstra buscar respaldo nas teorias literárias disponíveis, nem mesmo uma organização das aulas por intermédio de uma metodologia adequada ao alunado. As tarefas relativas ao ensino de literatura propostas em sala também não fugiam à regra, e por este fato, talvez, mesmo o professor abrindo espaço para a participação dos alunos, estes não demonstravam interesse, já que percebiam que os exercícios não eram incrementados com propostas diferenciadas. É importante destacar ainda, a preocupação do docente em cumprir o cronograma dentro do prazo estabelecido, e por isso, em seu retorno da licença médica, percebendo o atraso do conteúdo, decidiu por dispensar o uso do livro didático e recorrer um caderno de resumos que tratava da primeira fase do Modernismo, seu contexto histórico, bem como destacar os escritores mais significativos da escola literária através de suas poesias. Todo esse conteúdo foi passado na lousa para que os alunos fizessem a cópia em seus cadernos, e encerrado tal processo, o professor partiu para a explicação, adicionando ao contexto histórico do movimento literário fatos relevantes da vida dos escritores desta época, visando melhor compreensão por parte dos discentes. Nesta mesma oportunidade o professor aproveitou para indagar os alunos sobre o gosto pela poesia, buscando aproximar os jovens deste tipo de texto literário, o que se revela uma ação positiva de sua parte. A atividade extraclasse relacionada à leitura literária foi definida no início do ano quando o professor pediu aos alunos que fizessem a leitura da obra Helena (1876), de Machado de Assis, com a finalidade de aplicar uma prova no fim do bimestre em caráter de verificação de leitura. No entanto, o docente precisou se ausentar das aulas por motivo de saúde e na sua volta, já no segundo bimestre, averiguou que a maior parte da sala não havia efetuado a leitura e por este fato resolveu cancelar a prova. Para substituir a avaliação de leitura, o professor optou por, mais uma vez, recorrer ao livro didático, resgatando textos dispostos no material para a elaboração da prova bimestral de literatura, que foi composta por oito questões divididas entre dissertativas e objetivas com enfoque no contexto histórico do Modernismo e as características marcantes da escola literária. Apenas duas questões exploravam o papel do aluno como parte integrante do processo de construção do sentido da obra, uma vez que foi aberto a ele espaço para reflexão a partir do texto literário. Com o poema “brasil” de Oswald de Andrade, o professor, em uma questão objetiva, dirige o olhar do aluno a perceber a formação da etnia brasileira composta 52 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 por três povos, o índio, o português e o negro. Em uma questão dissertativa, pede aos alunos que discorram sobre a temática do poema e as características do modernismo que o permeiam. Diante da didática desenvolvida, ficou evidente a falta de contato dos alunos com o texto literário, já que este foi apresentado apenas por intermédio de fragmentos do livro didático. Além disso, o docente não proporcionou atividades que fossem capazes de envolver o aluno, despertando-lhe para a ludicidade e prazer que as obras literárias podem suscitar. A ausência desses fatores acabou por tornar as aulas monótonas e consequentemente desmotivadoras, já que os alunos não se sentiam instigados a participar. A leitura extraclasse proposta pelo professor com a finalidade de realizar a prova bimestral faz com que o ato de ler obras literárias seja associado a uma obrigação e não a uma atividade de reconhecimento da própria identidade cultural, que pode oferecer uma visão crítica sobre o estado atual em que se encontra a sociedade, além disso, a atividade impossibilita, também, a função maior da literatura de humanização. Nota-se que a falta de planejamento das aulas e de busca por uma metodologia que se adequasse as necessidades dos discentes propiciando a elevação de seus conhecimentos, resultou numa prática de ensino de literatura pasteurizada, com o objetivo único de buscar bons resultados no exame vestibular em detrimento de uma abordagem preocupada com a formação de leitores literários. No ensaio “Entre vacas e gansos” (2001), Ana Maria Machado discorre sobre o processo de formação de leitores e defende ser necessário que os professores transmitam aos alunos as emoções que lhes foram despertadas com a leitura de obras literárias. Para a ensaísta é imprescindível que os docentes compartilhem sua paixão pela leitura, pois não há uma receita ou fórmula química que contribua para a formação de jovens leitores, somente pelo exemplo é possível suscitar o entusiasmo e transmitir o prazer de ler. Todavia, o que presenciamos diante das estratégias desenvolvidas é a preocupação relacionada ao ensino da historiografia literária em detrimentos da leitura efetiva dos livros. As leituras, quando realizadas, são pautadas no fragmentarismo do livro didático ou fora do ambiente escolar sem a interferência crítica do professor, importante colaborador na ampliação de sentidos que podem ser atribuídos ao texto. Contudo, na maioria das vezes, o caráter polissêmico próprio do texto literário é suprimido pelas interpretações que partem da perspectiva do autor do livro didático. 53 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Sistematizadas as propostas didáticas desenvolvidas pelos professores, passa-se a apreciação dos dados coletados por intermédio das entrevistas realizadas com os alunos, realizada no estado de São Paulo no mês de maio e no estado do Paraná no mês de junho. O primeiro ponto da investigação foi buscar identificar se os alunos revelavam ou não o gosto pela leitura. No estado do Paraná do total de 34 alunos entrevistados, 71% se declararam leitores, enquanto 29% dos estudantes disseram não cultivar o hábito da leitura. Já no estado de São Paulo essa realidade se mostra um pouco mais favorável, pois dos 24 alunos entrevistados, 96% se declaram leitores e apenas 4% diz não gostar de ler. Diante dos resultados podemos constatar que mais de 70% dos alunos em ambos os estados disseram gostar de ler. Quando questionados se a última leitura de livro realizada foi uma exigência da escola, 82% dos estudantes entrevistados no estado do Paraná disseram que o último livro que leram não foi uma exigência escolar, enquanto 18% dos alunos apontaram a última leitura como uma obrigação. No estado de São Paulo a realidade não se mostra muito diferente, 17% dos alunos disseram que o último livro lido foi por indicação da escola, enquanto 83% dos estudantes alegaram que o último livro selecionado para a leitura partiu de sua própria escolha. Os resultados evidenciam que mais de 80% dos alunos entrevistados, de ambos os estados, revelam um comportamento leitor autônomo. Para averiguar se a escola tem influenciado na formação de leitores literários perguntamos aos jovens o que costumam ler fora do ambiente e exigências escolares. Dentre as alternativas disponíveis, best-sellers; clássicos; poesia; jornal; blog/internet; revistas; livros teóricos e outros, dos alunos entrevistados no estado do Paraná, o maior índice foi destinado à leitura de blog/internet, com o percentual de 28%, em segundo lugar, com 23%, está a leitura de revistas, já a leitura dos clássicos revela um dos índices mais baixos, apenas 6% dos estudantes indicaram os textos literários como leitura de fruição. No estado de São Paulo a leitura de blog/internet também apresentou o maior índice de leitura da turma, com 26%, em segundo lugar, com o percentual de 18%, destacou-se a leitura de bestsellers, e, assim como no estado do Paraná, a leitura de clássicos entre os jovens entrevistados no estado de São Paulo se mostrou com um índice muito baixo, apenas 6%. Diante das constatações feitas com a observação das aulas de literatura em relação abordagem do texto literário em confronto com as entrevistas realizadas com os 54 Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 alunos do estado do Paraná e do estado de são Paulo, a fim de perceber se a escola tem cumprido o seu papel de formar o gosto pela leitura de obras literárias, podemos concluir que as práticas pouco inovadoras para a abordagem da literatura junto à falta de espaço reservado aos estudantes para compartilharem suas experiências de leitura confirmam o que a maior parte das pesquisas da área do ensino de literatura tem apontado: a cisão entre jovens leitores e a literatura. Referências CANDIDO, A. O direito à literatura. In:______. Vários escritos. 3 ed. rev. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995. FILIPOUSKI, A. M. R.; MARCHI, D. M. A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura. Erechim, RS: Edelbra, 2009. MACHADO, A. M. Entre vacas e gansos – escola, leitura e literatura. In:______. Texturas: sobre leituras e escritos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. TODOROV, T. A literatura em perigo. Tradução de Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. Para citar este artigo: SILVA, Mariana Matheus Pereira da. A formação de leitores literários: da escola para a vida. In: X SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2013. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2013. ISSN – 18089216. p. 46 – 55. 55