No 15 - Fevereiro 2012 “A avaliação de marcas é uma ferramenta estratégica e analítica fundamental para suportar análises como, por exemplo, ROI de Comunicação, um dos grandes temas que ocupam hoje os CMOs e Diretores de Marketing” Eduardo Tomiya Eduardo Tomiya Diretor Geral da BrandAnalytics Entrevistado por Fernando Luzio Conversamos com Eduardo Tomiya, Diretor Geral da BrandAnalytics, uma empresa multinacional brasileira de consultoria de marcas, especializada em avaliação financeira de marcas, estratégia, implementação e gestão de branding. Atualmente é parceiro do Grupo WPP na América Latina, na elaboração do mais respeitado ranking de valor de marcas. É também autor do livro “Gestão do Valor da Marca – Como Criar e Gerenciar Marcas Valiosas”, publicado pela Editora Senac do Rio de Janeiro e que se encontra na 2a edição. Tomiya é um empreendedor notável, com vasta experiência em avaliação de empresas e um líder exemplar que tive 1 www.luzio.com.br pessoalmente a oportunidade de conhecer e conviver. A entrevista foi gravada na sede da BrandAnalytics em São Paulo. Apresentamos a seguir trechos da entrevista. A versão completa você poderá ouvir pelo site www.luzio.com.br ou baixar no seu tocador mp3 (iPhone/ iPod ou outros) pelo site da Luzio ou pela iTunes Store (utilize o link no nosso site). Fernando Luzio. Conte um pouco da sua história, para que todos possam te conhecer, nas suas próprias palavras. Eduardo Tomiya. Sou Engenheiro de Produção, Mestre e PhD pela escola Politécnica (USP), então tenho uma formação analítica muito forte. Minha Dissertação de Mestrado, defendida em 1995, foi um modelo financeiro de avaliação de usina de açúcar e álcool, que ganhou o prêmio Unibanco como a melhor tese da época. E na verdade, ela trazia muitas ferramentas analíticas de pesquisa operacional, ferramentas muito sofisticadas de otimização de processos e avaliação de empresas. Neste mesmo ano, ingressei na Trevisan Consultores, de onde me tornei sócio dois anos depois. Lá, eu fazia avaliação de empresas e de negócios – foi quando eu e você tivemos a oportunidade de trabalhar juntos. Fazíamos avaliação de empresas por meio de um método chamado “fluxo de caixa descontado” que rege quase EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 2 todos os processos de valorização – a Trevisan era líder nesse processo. Naquela época, haviam muitos processos de fusões e aquisições. Fazíamos também privatizações e uma série de processos de reestruturação societária. Dentro do valor da empresa, existia um fator chamado marca que, muitas vezes, superava e muito o valor da empresa, ou representava grande parte do valor do acionista. Por exemplo, empresas como a Batavo e a Bombril. O que seria da Bombril sem a marca Bombril? Qual seria a alavanca de valor para a marca Bombril? Isso despertou bastante minha atenção e, a partir daí, por volta de 1997-98, começamos a estudar bastante os intangíveis. Em 2000, fui praticamente o primeiro empregado da Interbrand no Brasil, uma das mais respeitadas empresas de avaliação de marcas. Tive um treinamento bem bacana em Nova Iorque, depois trouxemos a disciplina aqui para o Brasil. Tornei-me Diretor da América Latina, Portugal e Espanha. Abrimos escritórios de brand valuation, lançamos o ranking das marcas brasileiras mais valiosas da América Latina, Portugal e Espanha. Em 2005, por divergências na forma de conduzir o processo e pelo meu empreendedorismo, decidi abrir minha própria empresa, a BrandAnalytics. Me associei a um colega da Interbrand, André Galiano – meu sócio até hoje. Pensávamos na avaliação de marcas como uma ferramenta estratégica e analítica para suportar decisões como, por exemplo, ROI de Comunicação, já que um dos grandes temas que ocupam hoje os CMOs e Diretores de Marketing é: como mensurar e monetarizar o valor de um posicionamento de marca, de uma gestão de marca? E qual o valor agregado de uma comunicação? Foi aí que descobrimos o Grupo WPP, um dos maiores grupos de comunicação do mundo com várias agências, onde esse tema estava sendo exaustivamente discutido. Conquistamos contas importantes como Bradesco, Petrobrás, Vale e uma série de outras. E hoje, temos uma posição de liderança muito boa, suportando empresas na implementação do processo de gestão de branding, com uma linguagem analítico financeira, baseada em pesquisas de mercado – a Millward Brown é uma bela referência em pesquisas de mercado e estudos de equity de força de marca, que quantifica a força da marca na mente dos consumidores, o que gera valor ao acionista. www.luzio.com.br “É muito triste quando temos que desistir de algumas coisas que não fazem parte do nosso core business porque você deixa dinheiro na mesa, mas em alguns casos é um esforço necessário, um passo para trás para dar vários para frente. Até para o mercado poder ter uma visão muito clara do que você faz, de quem você é.” Eduardo Tomiya Esta é a proposta de valor da nossa empresa. Temos 12 funcionários, uma operação em Recife e um de nós em Madrid. Fernando Luzio. Você é um executivo que trabalha muito. E como consultor, sempre percorre uma jornada diária que inclui viagens dentro e fora do Brasil, sofrendo pressão por atender aos clientes num prazo muito curto. Diante deste estilo de vida tão atribulado, o que te inspira e te motiva a trabalhar tão intensamente? Eduardo Tomiya. O que me inspira é fazer o que mais gosto na vida: ser consultor, ir para o cliente diagnosticar um problema e articular um posicionamento, com base nas experiências anteriores e numa construção conjunta. Todo mundo fala em criar posicionamento, mas ninguém cria nada. O que se faz é articular um posicionamento. Dentro da empresa, olhando todos os stakeholders, criamos métricas de gestão de resultados, elaboramos cenários. Para mim, pessoalmente, e para todo mundo aqui na BrandAnalytics, esta é a nossa fonte inspiradora que realmente nos dá muito prazer. A questão é organizar o tempo, você tem razão. Fernando Luzio. E falando em gestão de tempo, como é que você consegue, hoje, administrar as demandas da sua vida pessoal com uma rotina empresarial tão atribulada? Como consegue fazer este balanço tendo um filho, uma família? Eduardo Tomiya. Além de tudo isso, sou diabético, então tenho que tomar cuidado da minha saúde, praticar esportes, fazer ginástica. Busco meu filho na escola, participo da sua educação, acho super importante. Quantas vezes, numa conversa com ele, eu arrumo uma solução para um problema em que estou pensando há um bom tempo! Sou também, professor. É um grande desafio intercalar tudo isso! No fundo, é planejar muito bem o seu tempo. Pergunte a qualquer executivo quanto tempo ocioso não perdemos, às vezes, por coisas bestas que fazemos? Por exemplo, algo que acontece muito: reuniões dessincronizadas! Reunião de surdo e mudo onde você entra sem saber exatamente porquê foi parar ali. Então, tento selecionar bastante minhas reuniões. Não que eu não queira receber ninguém. É porque simplesmente, às vezes, não é eficiente. Procuro me desfazer de atividades que não sejam “fim”. Sou consultor, gosto de fazer o trabalho, mas sempre existe uma forma de se buscar que as pessoas façam o meio de campo, e você estabelece os pontos de controle rigorosos do que está entrando. Para isso, é preciso ter pessoas competentes trabalhando com você – e isso eu tenho aqui na minha equipe. Se não, realmente você não tem como administrar o fluxo. Fernando Luzio. Segundo o articulista Sérgio Fanjul, do Jornal EL País, nós vivemos hoje uma intoxicação pelo excesso de informação. Como é que você consegue selecionar a avalanche de informações que EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 3 certamente acessa diariamente no seu trabalho? Eduardo Tomiya. Não vejo como uma coisa negativa a avalanche de informação. O problema é o quanto você se aprofunda naquela informação que acessa. Diante de um monte de temas super interessantes, costumo selecionar alguns artigos e papers para ler profundamente, com atenção e concentração. Porque, também, não adianta você ter leituras superficiais de tudo, senão você se torna um generalista de nada. Aprendi uma coisa muito legal no meu Mestrado: jamais acredite em tudo o que está escrito naquele paper, mesmo que ele seja em inglês. É preciso fazer uma leitura crítica para poder aprender. Fernando Luzio. Tomiya, na Luzio, definimos estratégia como um conjunto de escolhas e de não escolhas que produzem uma posição única, singular no mercado e geram crescimento sustentável. Você construiu uma empresa de sucesso internacional em um curto espaço de tempo. Quais foram as principais escolhas e não escolhas que geraram o crescimento e a prosperidade da sua empresa? Eduardo Tomiya. Realmente, temos que escolher um caminho e ser persistente nele. Qual que era o ponto mais forte que nós tínhamos? O brand valuation – uma avaliação da marca, algo bastante bastante complexo que exige muito. Estou há 10 anos trabalhando com avaliações de empresas, e há pelo menos 5 anos trabalhando com avaliação de marcas. Então, elegemos o brand valuation para ser nosso primeiro foco. Foi aí que conquistamos a conta do Bradesco e da Petrobrás. A partir daí, escolhemos também um modelo de negócio, porque não ia dar para aplicar brand valuation para todos os mercados. E mostramos uma bela proposta de valor a esses dois clientes, o que criou um paradigma no mercado. Depois de um tempo, todo mundo passou a querer porque viu que havia uma proposta de valor. Muito rapidamente, entrou o Banco Real, que foi um case sensacional. Mesmo depois da aquisição do Santander, estamos lá até hoje trabalhando, estabelecendo métricas para monitoramento do valor da marca. Então, quando você fala em perenidade e proposta de valor, no fundo foi isso o que tentamos fazer: decidimos focar naquilo em que somos bons. Não vamos tentar fazer pesquisa de mercado ou posicionamento de marca, o que até poderia gerar massa crítica. Abdicamos, inclusive, de propostas neste sentido porque não era aquilo que fazíamos. É muito triste quando temos que desistir de algumas coisas que não fazem parte do nosso core business porque você deixa dinheiro na mesa, mas em alguns casos é um esforço necessário, um passo para trás para dar vários para frente. Fernando Luzio. Perder em algumas não escolhas para ganhar nas escolhas centrais. Eduardo Tomiya. Até para o mercado poder ter uma visão muito clara do que você faz, de quem você é. Criar uma percepção externa no mercado é muito difícil. Para criar uma boa imagem você tem de fazer mil coisas bem feitas, e para criar uma imagem ruim basta uma só. Então, você tem de ter um foco muito grande, o que vem acompanhado de renúncias de outras coisas. Fernando Luzio. O que diferencia a estratégia de uma marca da estratégia de singularidade, de diferenciação de uma empresa? Eduardo Tomiya. Na minha avaliação final, essa fronteira entre estratégia de negócios e estratégia de marca é super tênue. www.luzio.com.br Normalmente, quando fazemos uma estratégia de marca, estamos vendo vários stakeholders. É claro que vocês, da Luzio, quando fazem uma estratégia de negócio, também estão olhando vários stakeholders. Então, não acho que a diferença seja por aí. No fundo, quando você fala em um posicionamento de marca, você busca normalmente a percepção externa: quais são os três atributos que me fazem ser percebido, que quando eu falar da minha marca, vão me lembrar dela? Por exemplo: quando eu falo em Volvo. O que te vem à cabeça, Fernando? Fernando Luzio. Segurança. Eduardo Tomiya. Óbvio! E quando se fala em BMW? Fernando Luzio. Design, inovação, sofisticação. Eduardo Tomiya. Mercedes? Fernando Luzio. Segurança, classe. Eduardo Tomiya. Três automóveis da mesma categoria, só que com posicionamentos de marca muito distintos. Então, quando você fala de construção e posicionamento de marca, você busca isso. Agora, um ponto importante para se ter um posicionamento de marca consistente como esse é ter um posicionamento de negócios. A BMW jamais conseguiria criar um posicionamento de marca como o que ela tem se não tivesse acoplado a ela todo o posicionamento do negócio. Um não vive sem o outro. Muitas vezes, quando você fala em missão, visão e valores de marcas muito fortes como, por exemplo, a Natura, é obvio que você está falando em visão e missão da marca. Quando você fala em posicionamento de marca, as consultorias de marcas entram mais nas percepções dos stakeholders e buscam mais evidências. Então, quando a estratégia de negócio é feita baseada na percepção dos stakeholders, numa aspiração, numa ambição, numa visão dos acionistas sobre os stakeholders, ela está muito próxima de um posicionamento de marca. Fernando Luzio. Quero pegar um exemplo para abordar nossa próxima questão, a Apple. Em agosto de 2011, a Apple teve seu valor de mercado avaliado em US$ 353 bilhões, sendo que em meados de 2010, ela valia US$ 223 bilhões. Portanto, em apenas um ano, a empresa aumentou seu valor de mercado em 58%. Como separar o valor de uma marca do valor da empresa? Quais são os principais ativos de uma marca que os diferenciam dos ativos e vantagens competitivas da empresa como um todo? Eduardo Tomiya. Você pegou esses números numa época em que houve um pouco de crise, o mercado caiu um pouquinho e esses caras conseguiram supervalorizar essa empresa e essa marca. Qual é a percepção externa de Apple? No lançamento do iPad, teve gente que ficou dois dias na fila esperando, sem nem saber exatamente o que era, mas pensando que se era algo que vinha do Steve Jobs e da Apple, devia ser bom, algo revolucionário. Então, a percepção externa é a de que tudo que vem da Apple é realmente revolucionário. Por isso que a fronteira entre marca e negócio é muito tênue nesse caso. Como se constrói isso? Tudo é tão consistente na Apple... Por exemplo, você vai numa Apple Store comprar seu computador – comprei um agora, recentemente. A loja é superlotada e o atendimento é fora de série. O profissional que te atende é extremamente conhecedor e quer saber do seu problema para dar uma solução adequada a ele. EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 4 Na época da minha compra, disse ao atendente: “Estou querendo um computador um pouco maior com um HD maior”, “Mas, por que você vai querer HD? Tem uma coisa chamada cloud computing, o MobileMe. Pelo amor de deus, joga isso para a nuvem!”. No final, acabei comprando um computador até menor, mas gastei em um monte de outras coisas, assinei o MobileMe, etc. Ele foi um excelente vendedor e criou uma percepção muito forte para mim. Aí eu abro o computador... Tudo é diferente! Aquele conector de eletricidade tem ímã! Um negócio maluco! Eu disse “Alguém pensou em mim!”. Então, parece que na Apple sempre tem alguém pensando em mim. O padrão de excelência que o Steve Jobs colocou nessa empresa é uma coisa maluca mesmo! Por mais que critiquem seu jeito de ser, ele realmente colocou um jeito Apple onde sempre tem alguém pensando em algo novo. Ele abriu as plataformas, conseguiu fazer a extensão de marca do iPod que, em tese, ia ter uma tecnologia fechada, mas não, ele jogou isso para o iTunes que virou um negócio aberto para PC e Mac. Hoje, você entra no seu Mac e tem Microsoft. Conseguiu quebrar uma série de conceitos. Hoje, a marca Apple está avaliada em US$ 153 bilhões de dólares pela WPP. É a marca global mais valiosa, segundo nosso ranking que saiu agora, em 2011. Grande parte disso é a percepção que as pessoas têm que na Apple, qualquer produto vai ser muito bem representado. O pilar disso, no www.luzio.com.br fundo, é a construção de uma base sólida de negócio. Percepção não vem ao acaso, mas vem com muitos produtos, com uma forma muito tangível de atendimento, e o jeito de ser que acompanha todo esse processo. Fernando Luzio. E na sua visão, é possível que a Apple consiga manter essa cultura revolucionária de excelência, sem o Steve Jobs? Eduardo Tomiya. Ele deve ter pensado nisso. Eu sempre dizia que a maior vantagem competitiva da Apple e, ao mesmo tempo, seu maior risco eram, talvez, o próprio Steve Jobs. Por que? Porque é uma pessoa. Você vê grandes marcas que caem em desgraça depois que seu grande líder sai. No Brasil mesmo, temos o Rolim com a TAM. Foi uma perda tremenda que tivemos com sua saída, tanto que a empresa está buscando sua identidade anterior. Portanto, os corporate kings são algo que temos que olhar com muita atenção. Para se preservarem, eles deveriam estabelecer a cultura como um processo independente da pessoa. A marca tem que conduzir isso. Tudo o que a Apple tem e seu sistema de valores eram muito pessoais. Como será sem Steve Jobs? Este é um grande ponto de interrogação. Fernando Luzio. Tomiya, sei que é complicado falar em metodologia numa entrevista, mas tenho muita curiosidade em entender um pouco como vocês conseguem monetizar a percepção que as pessoas têm da marca. Como conseguem chegar no valor da percepção? Eduardo Tomiya. Partimos de princípios de fusões e aquisições, de um método chamado fluxo de caixa descontado. O valor de marca de qualquer empresa é muito maior do que o valor tangível, patrimonial. Existe um valor de fundo de comércio – o goodwill – que é gerado em função de expectativas de lucros futuros. Pegamos exatamente essa carona: você tem uma empresa que tem valor tangível patrimonial de 20, e vale 100. A diferença de 80 é chamada de mais valia, explicada por alguns ativos intangíveis, dentre eles a marca. Existem modelos matemáticos que quantificam a importância dessa marca. Fazemos um estudo com base em pesquisas de mercado para minimizar o risco de quantificarmos a mais ou a menos. Portanto, calibramos isso com pesquisas quantitativas. Existe um modelo de força de marca, o brand equity da Millward Brown, que nos dá bastante robustez em relação a esse parâmetro. Esta é a base para o ranking das marcas brasileiras mais valiosas, publicado na Isto É Dinheiro. Este ano, a marca mais valiosa é a Petrobrás, seguida da Itaú e Bradesco. Fernando Luzio. Quais são as grandes oportunidades que você vislumbra hoje para sustentar o crescimento da BrandAnalytics nos próximos anos? Eduardo Tomiya. As empresas de capital aberto começaram a entender que a percepção externa gera muito EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 “Há duas coisas que prejudicam muito nós brasileiros: nossa baixa autoestima e nossa desorganização. É impressionante! Você marca um conference call com os ingleses às 11hs, e às 11hs eles estão prontos te esperando. Aqui, o que eu mais escuto é: o trânsito me atrapalhou...”. Eduardo Tomiya valor. Por que uma empresa B2B como a Vale, por exemplo, quer ter uma boa percepção de mercado, junto aos seus stakeholders? Porque, na verdade, eles percebem que isso é uma vantagem competitiva. Não se trata mais de ter uma imagem do mais bonitinho. Trata-se de uma vantagem competitiva de fato, ter uma boa imagem junto à comunidade, à sociedade, ao capital humano e a uma série de outros pontos. Isso tudo ajuda as empresas na decisão de matar ou estabelecer uma marca, e em processos de aquisição ou pós-aquisição. Hoje, inclusive o middle market está começando a vislumbrar grandes possibilidades junto a essa percepção externa, já que ela gera, em muitos casos, as vendas da empresa, os custos mais atrativos, e uma série de vantagens competitivas de longo prazo. Fernando Luzio. O Brasil assumiu, hoje, um novo posicionamento no cenário econômico internacional, atraindo atenções e recursos de investidores internacionais, apesar dos gargalos estruturais que emperram nosso desenvolvimento sustentável. Como empresário e cidadão, qual é sua opinião sobre esse novo momento do Brasil? Eduardo Tomiya. Minha opinião é super positiva. Somos vistos como o país das oportunidades. Hoje, estamos numa mesma sala com japoneses, portugueses, italianos – uma fusão de culturas. Acho essa multiculturalidade muito bacana! A ascensão das classes C e D também é uma realidade, um ganho dos últimos governos. 5 www.luzio.com.br Recentemente, estive em Cambridge, num seminário chamado BRICs and Beyond, apresentando nosso ranking. Empresários ingleses não foram atrás dos chineses, foram atrás dos brasileiros, porque eles já conheciam os chineses e hindus. Já o Brasil é uma coisa muito nova para eles. Além das Olimpíadas e da Copa, que darão resultados mais imediatos, acho que deveríamos atacar em duas linhas de mais longo prazo que darão resultados muito mais eficientes: saúde e educação, que por sua vez fortaleceriam as classes médias (D e C). O Pré-Sal e algumas ampliações da Vale em Carajás vão gerar uma riqueza muito grande. Poderíamos aproveitar esse momento para investir nessas duas frentes. Fernando Luzio. Na sua experiência em avaliação de marcas de empresas brasileiras com projeção internacional, como algumas que você já citou nessa entrevista, quais são os principais aspectos da cultura empresarial brasileira que tornam nossas organizações singulares, no palco da competição global? Que aspectos do nosso jeito de fazer negócios e trabalhar podem contribuir para o comércio internacional? O que faz nossas empresas e marcas únicas em relação às outras? Eduardo Tomiya. É indiscutível nossa inteligência e capacidade para lidar com poucos recursos, e nossa flexibilidade – algo positivo e negativo, quando exacerbada. Somos muito assim, até pela nossa origem de inúmeras raças. EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 Por outro lado, há duas coisas que prejudicam muito a gente: nossa baixa autoestima e desorganização. É impressionante! Você marca um conference call com os ingleses às 11hs, e às 11hs eles estão prontos te esperando. Aqui, o que eu mais escuto é “O trânsito me atrapalhou”. Fernando Luzio. Tomiya, sabemos que a história dos empreendedores de sucesso também contam com fracassos, perdas que provocaram movimento marcantes de superação. Na sua trajetória empreendedora ou vida pessoal, você viveu alguma situação de perda ou fracasso que criou um divisor de águas na sua história? E se isso aconteceu, o que você fez para superar o desafio e retomar sua trajetória de êxito? Eduardo Tomiya. Qualquer profissional, não precisa nem ser empreendedor, sempre teve altos e baixos. Tombos? Um monte, Fernando! Mas, como Jim Collins fala em seu livro, é preciso voltar à sua identidade, ao seu DNA. Quais são seus principais valores? Fernando Luzio. Quer dizer que, ao tomar um tombo, cometer um erro ou fracassar, é fundamental retomar os próprios valores, voltar às origens – uma maneira produtiva de lidar com o ego. Eduardo Tomiya. Acho que é isso! E, às vezes, voltar à sua origem exige um certo esforço, porque é muito comum, em função de uma série de contextos, você mudar um pouco e tomar outros rumos. Então, qual é realmente é o DNA, a essência de marca? Quais são os valores onde você sempre se agarrou para ter sucesso? Fernando Luzio. Quem são as pessoas que influenciaram ou têm influenciado seu pensamento, de um modo geral? Autores ou líderes empresariais, artistas ou amigos pessoais, familiares? Quem que tem feito sua cabeça nos últimos anos? Eduardo Tomiya. Na minha trajetória, tenho conhecido e entrevistado vários executivos que me impressionam. Me impressiona a “Criar uma percepção externa positiva no mercado é muito difícil. Para criar uma boa imagem você tem de fazer mil coisas bem feitas, e para criar uma imagem ruim basta uma só. Então, você tem de ter um foco muito grande, o que vem acompanhado de renúncias de outras coisas.” Eduardo Tomiya 6 www.luzio.com.br capacidade que alguns empresários e executivos brasileiros têm para reverter situações. Pessoalmente, tenho uma admiração muito grande por Luiz Eduardo Falco, ex-diretor de Marketing da TAM. Ele saiu e foi conduzir a estruturação da Oi de maneira brilhante. Foi realmente exemplar. Saiu recentemente da Oi. Um cara simples que cumprimentava todo mundo, uma pessoa super tranquila, muito acessível. Vejo muito essa simplicidade em executivos brasileiros. Eu poderia citar uma série: o Sr. Luiz Trabuco do Bradesco, também com uma carreira fora de série. O Valim, que virou CEO da Serasa Experian no mundo, e hoje é presidente da Oi. Pessoas que realmente inspiram a gente! Fernando Luzio. Apesar de seu otimismo em relação às perspectivas do Brasil, da BrandAnalytics e da sua vida pessoal, alguma coisa te tira o sono? Eduardo Tomiya. Acho que qualquer empresário que tem uma empresa, que tem a responsabilidade por uma operação, responsabilidade pelos seus colaboradores e clientes, têm preocupações. Isso não chega a me tirar o sono, mas me preocupa muito. Me preocupa muito a questão da segurança, da desigualdade social do Brasil que é insustentável, no longo prazo. Não sou socialista, não acho que este seja o caminho, mas acho sim que essa desigualdade exacerbada tem de ter data para acabar. Não tem como uma sociedade sobreviver por tanto tempo dessa maneira. E se o país não é sustentável, minha empresa também não será. Por isso sou um defensor da educação! O resto é trabalho e dedicação – a gente consegue tocar. Fernando Luzio. Você teria alguma mensagem final, algum recado que deixaria para seu filho, como um legado da sua experiência e conhecimento? Alguma recomendação do que você acha fundamental ele prestar atenção para EDUARDO TOMIYA Fevereiro 2012 ser feliz, no futuro? Eduardo Tomiya. Tento passar ao meu filho, Dudu, que seja uma pessoa feliz, e que respeite os outros sem barreiras de discriminação racial, classe econômica, nada disso. Sem dúvida nenhuma, são princípios básicos. Vim de uma família japonesa, e o japonês, por definição, é muito fechado. Que não exista esse tipo de barreira na vida dele. Outro legado pessoal que deixo para ele é “Dudu, papai é engenheiro, mas se você quer estudar música...”. Agora, ele está estudando piano. Então, faça o que você entende que te deixará feliz. Tenho certeza que temos vários técnicos excelentes, e que podem empreender com sucesso como eu consegui. É possível você fazer isso com foco, fazendo o que você mais gosta de fazer. Lógico, obedecendo o mercado, mas tirando proveito do que é, talvez, a sua maior vantagem competitiva. Que, como toda boa vontade competitiva, tem o seu ponto forte e tem o seu ponto fraco. Então, tente tirar isso como sendo um ponto importante. E se capitalizar, porque é viável. PROGRAMA NOVOS INTÉRPRETES Entrevistador: Fernando Luzio Idealização e Direção: Fernando Luzio e Renê Guedes Supervisão Editorial: Patrícia Luzio Edição e Fotografia: Carla Scorzato Apoio: Marcia de Moraes Produção: Luzio Strategy Consulting Luzio Strategy Consulting www.luzio.com.br / [email protected] +55 11 3045-5651 Rua Afonso Braz, 473 - cj. 43 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP 04511-011 Brasil À esquerda, Fernando Luzio e, à direita, Eduardo Tomiya 7 www.luzio.com.br