REQUISITOS TÉCNICOS
Óculos escuros – acessórios essenciais e ícones da moda
Todo ano são apreendidos milhões de óculos de sol no Brasil. A grande maioria
desses produtos sequer ingressa no mercado consumidor, pois fica retida pela
Receita Federal, principalmente nas alfândegas dos portos do país. Os ensaios de
óculos de sol contribuem para a garantia da segurança do consumidor
Cláudia L. M. Costa, Muriel A. Souza , Elisama M. da Silva, Juliana F Gomes,
Marcelo B. Guedes, Hans Peter H. Grieneisen e Iakyra B. Couceiro
Embora já se falasse sobre o assunto desde os anos 500 a.C – é possível
encontrar algumas referências à existência dos óculos em algumas citações do
filósofo chinês Confúcio – o estudo aprofundado sobre as lentes aconteceram no
século XIII após experiências óticas de Robert Grosseteste e seu discípulo Roger
Bacon, na Itália. Inicialmente os óculos foram usados na forma de monóculos
(apenas uma lente oftálmica) ou apenas lentes sem armação. Foi em 1784 que
Benjamin Franklin inventou os primeiros óculos com duas lentes à frente de cada
olho, unidas pela armação.
Após a Primeira Guerra Mundial nos anos 20, a indústria de aviões crescia de
forma constante e primava pela construção de aeronaves modernas e capazes de
alcançar altitudes impressionantes para a época. Com isso, os pilotos eram
prejudicados pela claridade excessiva do sol acima das nuvens e sofriam
distorções visuais. Após dez anos de pesquisa, a Baush & Lomb, cria lentes de
cristal verde capazes de refletir e bloquear a luz solar e proteger contra os raios
ultravioleta e infravermelho. Os óculos inicialmente usados pelos pilotos nos ares,
brevemente ganhariam adeptos em terra. Com o passar do tempo, os óculos
viraram sinônimos de erudição e status além de traduzirem o estilo de quem os
usa (figura 1).
Figura 1 – A Atriz Audrey Hepburn em cena do filme Bonequinha de luxo de
1961
Grifes do mundo inteiro passaram a investir neste acessório. Hoje eles
representam modernidade e beleza, são usados por todos independente de faixa
etária e sexo, em todas as épocas do ano e mais, tornaram-se parte do vestuário,
seguindo as tendências da moda.
Óculos de sol são utilizados de forma intensa por uma extensa parcela da
população brasileira e sua importância como instrumento de proteção contra os
efeitos nocivos do sol vem crescendo substancialmente, sobretudo num país como
o Brasil, em que os índices de radiação já chegaram próximos ao nível máximo.
Exatamente por esta última função é que eles devem ser usados com muito
critério. As lentes fazem uma blindagem contra raios luminosos nocivos, evitando
sua incidência na retina. Esses raios, da mesma forma que aumentaram o índice
de doenças de pele, aumentaram a incidência de doenças oculares. Os raios
ultravioletas nocivos podem trazer catarata e doenças degenerativas de retina. A
cor da lente não influi na eficácia em proteger os olhos dos efeitos lesivos do sol.
Preta, verde ou marrom, o que importa é que elas tenham fatores de filtros
específicos.
De fato, o olho humano possui mecanismos de defesa naturais contra a
luminosidade, como a contração da pupila e o cerrar das pálpebras. As lentes
escuras dos óculos inibem tais mecanismos, de modo que, se elas não possuírem
as características necessárias para a proteção do globo ocular, os raios solares,
ao atravessá-las, podem afetar os tecidos dos olhos de forma mais severa do que
nos casos em que não se usa nenhum tipo de proteção. Além disso, a utilização
dos óculos de sol não deve escurecer de tal forma a visão a ponto de prejudicar a
capacidade do usuário de distinguir as cores e mais especificamente, as cores dos
sinais de trânsito.
Propriedades ópticas dos óculos de sol
O espectro da luz solar que chega à Terra inclui, além da luz visível, raios
ultravioletas e infravermelhos, com comprimentos de onda diferentes. Quanto
menor o comprimento de onda das radiações solares, maior é o risco à saúde dos
olhos. Um fator agravante desse risco reside no fato dos raios ultravioleta não
serem percebidos através de nenhum dos sentidos do ser humano, enquanto a
radiação infravermelha oferece a sensação de calor.
Os óculos de sol destinados ao consumidor devem atender a um conjunto de
propriedades e no que se refere ao aspecto das propriedades ópticas dos óculos
estas compreendem propriedades refrativas, de transmitância e de estabilidade
térmica das lentes. No laboratório de Colorimetria e Espectrofotometria do Inmetro
– Lacoe, são feitos os ensaios de propriedades de transmitância empregando-se
um espectrofotômetro UV/VIS/NIR, Varian, Modelo Cary 5000.
Os raios infravermelhos são ondas de calor recebidas do sol. Segundo a norma
brasileira, o ser humano não está sujeito a riscos relacionados a esta faixa de
radiação, a não ser quando exposto de forma prolongada e intensa a esses raios
no desempenho de atividades profissionais específicas, e por essa razão, nenhum
óculos de sol precisa oferecer este tipo de proteção.
O ensaio de proteção contra os raios ultravioleta consiste em incidir luz nas lentes
dos óculos de sol, sob condições controladas, e medir a transmitância (parte da
radiação que atravessou). O ensaio é feito de acordo com a norma que estabelece
o procedimento de ensaio de transmitância em óculos de sol e filtros solares,
ABNT NBR 15111:2004, por espectrofotometria, não abrangendo ensaios em
filtros ou lentes fotocrômicas, polarizadas ou com gradiente.
De acordo com a norma técnica, os limites dessa transmitância dependem do grau
de transparência da lente que pode variar de 0 (lente mais clara) a 4 (lente mais
escura). Quanto mais escura a lente, maior a dilatação da pupila e,
consequentemente, menor deverá ser a transmitância ultravioleta. Na tabela
seguinte são apresentados as categorias de óculos de sol e os limites de
transmitância tolerados. A transmitância UVB corresponde ao percentual tolerado
de radiação que a lente pode deixar passar e do mesmo modo, transmitância
UVA, significa o quanto desses raios podem atingir o olho.
Tabela 4 – Categorias de óculos de sol e limites de transmitância.
Categoria Radiação ultravioleta
Transmitância UVB (%) Trasmitância UVA (%)
0 ( lente mais clara)8,0% a 10,0%
80,0% a 100,0%
1
4,3% a 8,0% 43,0% a 80,0%
2
1,8% a 4,3% 18,0% a 43,0%
3
0,8% a 1,8% 4,0% a 9,0%
4 (lente mais escura)
0,3% a 0,8% 1,5% a 4,0%
De acordo com a Abiótica, a cada ano são apreendidos milhões de óculos de sol
no Brasil. A grande maioria desses produtos sequer ingressa no mercado
consumidor, pois fica retida pela Receita Federal, principalmente nas alfândegas
dos portos do país. Os ensaios de óculos de sol realizados no Lacoe contribuem
para a garantia da segurança do consumidor, que está exposto ao risco de sua
saúde e segurança quando utiliza um produto irregular.
As amostras não atendem aos requisitos da norma técnica, quando não
apresentam as exigências mínimas de proteção contra radiação ultravioleta, nem
tampouco possuem etiquetas, folhetos ou manuais de instrução, com informações
básicas como origem, identificação dos fabricantes e/ou importadores, classe dos
óculos e, nos casos de lentes muito escuras, advertência quanto à condição
inadequada para uso no trânsito.
Bibliografia
1. Efeitos da radiação solar sobre o olho humano: http://satelite.cptec.inpe.br/uv/R-UV_e_olho.html
2. Portarias Inmetro nos 102 de 10/06/1998 e 29 de 10/03/95 – Vocabulário Internacional de
Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia Portaria Inmetro no 29 Altera Vocabulário
Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia (VIM), de 10/03/95
3. BS EN 1836:2005 Personal eye-equipment – Sunglasses filters for general use and filters for
direct observation of the sun
4. Publicação CIE n° 38, Radiometric and Photometric Characteristics of Materials and their
Measurement
Cláudia L. M. Costa, Muriel A. Souza , Elisama M. da Silva, Juliana F Gomes,
Marcelo B. Guedes, Hans Peter H. Grieneisen e Iakyra B. Couceiro são
servidores do Inmetrro.
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