Brazilian Journal of Biomotricity ISSN: 1981-6324 [email protected] Universidade Iguaçu Brasil Baumer Tromm, Camila; Bom, Karoliny; Moreira da Silva, Douglas; Wingist Guerro, Gabriela; Laurentino da Rosa, Guilherme; Pinho, Ricardo Aurino de; Acordi da Silva, Luciano SUPLEMENTAÇÃO COM TAURINA REDUZ ESTRESSE OXIDATIVO EM SORO APÓS EXERCÍCIO EXCÊNTRICO Brazilian Journal of Biomotricity, vol. 5, núm. 1, marzo, 2011, pp. 34-44 Universidade Iguaçu Itaperuna, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=93018594005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br ORIGINAL PAPER (ARTIGO ORIGINAL) SUPLEMENTAÇÃO COM TAURINA REDUZ ESTRESSE OXIDATIVO EM SORO APÓS EXERCÍCIO EXCÊNTRICO Taurine supplementation decreases serum oxidative stress after eccentric exercise Camila Baumer Tromm1, Karoliny Bom1, Douglas Moreira da Silva1, Gabriela Wingist Guerro1, Guilherme Laurentino da Rosa1, Ricardo Aurino de Pinho1, Luciano Acordi da Silva1 1 Corresponding author: Camila Baumer Tromm Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício Unidade de Ciências da Saúde Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC Av. Universitária, 1105 – Bairro Universitário – CEP: 88806-000 – Criciúma/ SC/Brasil. Fone: (48) 3431-2773 E-mail: [email protected] Submitted for publication: Oct 2010 Accepted for publication: Jan 2011 RESUMO TROMM, C. B.; BOM, K.; SILVA, D. M.; GUERRO. G. W.; ROSA, G. L.; PINHO, R. A.; SILVA, L. A. Suplementação com taurina reduz estresse oxidativo em soro após exercício excêntrico. Brazilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011. Os efeitos da suplementação com antioxidantes sobre marcadores de estresse oxidativo tem sido alvo de diversos estudos. O objetivo do estudo foi investigar os efeitos da suplementação com taurina sobre biomarcadores de estresse oxidativo após exercício excêntrico (EE). Ratos Wistar machos (200 – 250g) foram divididos em quatro grupos (n=6): grupo controle (GC); exercício excêntrico (EE); exercício + taurina (ET); exercício + salina (ES). Após 14 dias de suplementação (300mg/kg/dia de taurina), foi realizada uma sessão exercício excêntrico (corrida declive -16º graus). Quarenta e oito horas após EE os animais foram mortos e o soro separado e armazenado em freezer -80°C. A atividade da creatina quinase (CK), formação de hidroperóxidos, carbonilação de proteínas (CP), conteúdo de tióis totais (TT) e atividade da catalase foram analisados. Nossos achados demonstram um aumento significativo da CK (384,6 ± 55,3U/L), do conteúdo de hidroperóxidos (0,5 ± 0,06; 0,3 ± 0,03nmol/mg/proteina), CP (5,4 ± 0,7; 5,4 ± 0,5nmol/mg/proteína) e catalase (33,8 ± 8,9; 31,7 ± 3,3U/mg/proteína) em ambos os grupos (EE e ES respectivamente) quando comparado ao GC (0,2 ± 0,01nmol/mg/proteína; 2,6 ± 0,2nmol/mg/proteína; 12,4 ± 2,9U/mg/proteína), e uma diminuição no grupo ET (0,1 ± 0,03nmol/mg/proteína; 2,9 ± 0,8nmol/mg/proteína; 10,8 ± 0,6U/mg/proteina) em relação ao EE. Os TT reduziram em ambos os grupos (61,3 ± 10,3DTNB/mg/proteína; 31,3 ± 2,0DTNB/mg/proteína) (EE e ES respectivamente) quando comparado ao GC (152,8 ± 21,9DTNB/mg/proteina) e aumentaram no grupo ET razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício – Unidade de Ciências da Saúde Universidade do Extremo Sul Catarinense – SC, Brasil. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br (140 ± 10,8DTNB/mg/proteína). Em conclusão, a suplementação de taurina reduz dano oxidativo em soro após a lesão muscular induzida por EE. Palavras-chave: Estresse oxidativo, exercício excêntrico, taurina. ABSTRACT TROMM, C. B.; BOM, K.; SILVA, D. M.; GUERRO. G. W.; ROSA, G. L.; PINHO, R. A.; SILVA, L. A. Taurine supplementation decreases serum oxidative stress after eccentric exercise. Brazilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011. The effects of antioxidant supplementation on oxidative stress markers have been the target of several studies. The aim of this study was to investigate the effects of taurine supplementation on biomarkers of oxidative stress after eccentric exercise (EE). Male Wistar rats (200 - 250g) were divided into four groups (n = 6): control group (CG), eccentric exercise (EE), exercise taurine (ET); exercise saline (ES). After 14 days of supplementation (300mg/kg/day taurine), a session of eccentric exercise was performed (downhill running -16 degrees). Forty-eight hours after, EE animals were killed and the serum separated and stored at -80 ° C. The activity of creatine kinase (CK), formation of hydroperoxides, protein carbonyls (CP), total thiol (TT) and catalase activity were analyzed. Our findings demonstrate a significant increase in CK (384.6 ± 55.3U/L), hydroperoxide content (0.5 ± 0.06, 0.3 ± 0.03nmol/mg/protein), CP (5,4 ± 0.7, 5.4 ± 0.5nmol/mg/protein) and catalase (33.8 ± 8.9, 31.7 ± 3.3U/mg/protein) in both groups (EE and ES respectively ) when compared to CG (0.2 ± 0.01nmol/mg/protein, 2.6 ± 0.2nmol/mg/protein, 12.4 ± 2.9U/mg/protein), and a decrease in the ET group (0.1 ± 0.03nmol/mg/ protein, 2.9 ± 0.8 nmol/mg/protein, 10.8 ± 0.6 U/mg/protein) compared to EE. The TT decreased in both groups (61.3 ± 10.3 DTNB/mg/protein, 31.3 ± 2.0 DTNB/mg/protein) (ES and ES respectively), when compared with the CG (152.8 ± 21.9DTNB/mg/protein) and increased in the ET group (140 ± 10.8DTNB/mg/protein). In conclusion, taurine supplementation reduces oxidative damage in serum after muscle injury induced by EE. Key words: Oxidative stress, eccentric exercise, taurine. O exercício excêntrico vem chamando a atenção da comunidade científica, pelo seu efeito deletério nas fibras musculares esqueléticas de indivíduos treinados (LEE et al., 2002; BEATON et al., 2002a) e destreinados (SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2008). Estes exercícios são caracterizados por ação muscular dupla de alongamento e contração no mesmo instante (APPEL et al., 1992). Desta forma, o número de unidades motoras recrutadas neste tipo de exercício durante a fase excêntrica é menor quando comparado à fase concêntrica (ARMSTRONG et al., 1991). Esta tensão imposta ao músculo é responsável por uma maior produção de força por fibra muscular e por um alongamento excessivo, podendo acarretar em lesão muscular e dor tardia (FAULKNER et al., 1993). As respostas de lesão muscular e dor tardia no exercício excêntrico podem estar associadas com a formação de espécies reativas de oxigênio (ERO) (BYER & GOLDFARB, 2006; PASCHALIS et al., 2007; SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2008). ERO são compostos químicos resultantes de processos de óxido-redução, podendo ser radicalares ou não. São produzidas na cadeia respiratória mitocondrial, em processos inflamatórios, no catabolismo de ácidos graxos, na ativação da xantina oxidase entre outros. A produção excessiva de ERO é capaz de provocar danos a biomoléculas como lipídios, proteínas e ácidos nucléicos, podendo levar à morte celular (HALLIWELL & GUTTERIDGE, 2007). O aumento na produção de ERO induzido por exercícios excêntricos pode influenciar na quebra da homeostase do íon de Ca +2 acarretando fadiga (SAHECK et al., 2003;), potencializando o dano muscular através do aumento da permeabilidade da membrana aos ataques de ERO (ZHANG et al., 2004). Adicionalmente, após o exercício excêntrico ocorre um aumento no recrutamento das células inflamatórias circulantes, como neutrófilos, monócitos e linfócitos que são recrutados para o local de inflamação, onde produzem ERO. Todos estes fatores podem estar envolvidos na redução do desempenho físico tardio. Na tentativa de reduzir estes efeitos deletérios provocados pelas ERO, produzidas pelo razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) INTRODUÇÃO Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br exercício excêntrico, diversos estudos têm sugerido a suplementação com antioxidantes (SILVA et al., 2009; SILVA et al., 2008; SAHECK et al., 2003;). A taurina é um aminoácido intracelular produzido a partir da metionina que vem demonstrando possuir efeito antioxidante protetor contra as ERO (LOURENCO & CAMILO, 2002; BIRDSALL, 1998; DAWSON, et al., 2002) Experimentos clínicos têm demonstrado que a taurina tem efeitos estabilizantes nas membranas celulares, sendo reguladora da homeostase de Ca+2, além de ser scavenger (seqüestradora) de radicais livres (TANG et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2010) e também atua na inibição do retorno de macrófagos e neutrófilos durante a respiratory burst, reduzindo a formação de ERO (BIRDSALL, 1998). Poucos estudos têm avaliado diretamente o potencial antioxidante da taurina contra os efeitos deletérios do estresse oxidativo em resposta ao EE (ZHANG et al., 2004). Assim, o objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da suplementação com taurina sobre biomarcadores de estresse oxidativo após exercício excêntrico em soro de ratos. MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados 24 ratos Wistar machos (60 dias de idade, pesando 200 – 250g), provenientes do biotério da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Os animais foram agrupados em gaiolas com acesso livre a água e comida, em temperatura ambiente de 23ºC graus e ciclo de claro e escuro de 12h. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com “Guiding Principles in the Care and Uses Animals” (OLERT et al., 1993) e aprovados pelo comitê de Ética local. Os ratos foram divididos randomicamente em quatro grupos (n=6): grupo controle (GC); grupo exercício excêntrico (EE); grupo Exercício + taurina (ET); grupo Exercício + salina (ES). Protocolo de Exercício Todos os animais foram adaptados em esteira ergométrica durante seis dias consecutivos, uma vez ao dia por 10 minutos, com velocidade de 0,6 km/h, sem inclinação. Após 72h do período de adaptação, os animais foram submetidos a uma sessão de corrida excêntrica (-16º graus) de longa duração (90min), com velocidade constante de 1,0 km/h. Todos os animais completaram o exercício. Tratamento com Taurina O modelo de suplementação com taurina foi adaptado do estudo de Miyazaki et al. (2004). A taurina foi administrada por gavagem (300mg/kg/dia) diluída em 1ml de água, durante 14 dias consecutivos antes da sessão de exercício. Sacrifício dos animais Quarenta e oito horas após a sessão de exercício excêntrico os animais foram mortos por decapitação e o sangue foi coletado. Imediatamente após a colheita, o sangue foi centrifugado por 10 min a 10,000 rpm para separação do soro. As amostras de soro foram armazenadas em freezer -80ºC para posteriores análises. Ensaios Bioquímicos - Creatina Quinase (CK) - Os níveis de CK (U/L) foram determinados em soro com auxílio de kit específico fornecido pela Labtest Diagnóstica SA., seguindo as orientações técnicas observada na bula do referido kit. - Xilenol Laranja (XL) - A formação de hidroperóxidos (nmol/mg/proteína) foi determinada através da oxidação de íons ferrosos, de acordo com o método xilenol laranja (XL) de razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Animais Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br (JIANG et al., 1991), lido espectrofotometricamente em 560nm. Este ensaio está baseado na oxidação de Fe II na presença de um pigmento complexador de Fe III, o laranja xilenol. - Carbonilação de Proteínas (CP) - Os danos oxidativos em proteínas (nmol/mg/proteína) foram mensurados pela determinação de grupos carbonil baseados na reação com dinitrofenilhidrazina como previamente descrito por Levine et al. (1990). O conteúdo de carbonil foi determinado espectrofotometricamente em 370nm usando um coeficiente 22.0000 Molar. - Tióis Totais - O conteúdo total de tióis (DTNB/mg/proteína) foi determinado numa reação dos grupos tióis com 5,5 ditióbis (ácido nitro-benzóico) (DTNB), gerando um derivado de coloração amarela e lido espectrofotometricamente a 412nm (AKSENOV & MARKESBERYA, 2001). - Catalase (CAT) - A atividade enzimática da CAT em eritrócitos (U/mg/proteína) foi determinada pela diminuição na absorbância (240nm) correspondente ao consumo de peróxido de hidrogênio, conforme previamente descrito em AEBI (1984). - Determinação da Proteína - A quantidade de proteínas, nos ensaios de xilenol laranja, carbonilação de proteínas, conteúdo de tióis totais e atividade da catalase foi mensurado usando a técnica de Lowry et al. (1951). Os dados foram expressos em média e erro padrão médio e analisados estatisticamente pela análise de variância (ANOVA) one-way, seguido pelo teste post hoc Tukey. O nível de significância estabelecido para o teste estatístico foi de p<0,05. Foi utilizado o programa SPSS (Statical Package for the Social Sciences) versão 15.0 como pacote estatístico. RESULTADOS Creatina Quinase (CK): De acordo com a figura 1, nossos resultados demonstraram um aumento nos níveis da CK no soro nos grupos EE (384,6±55,3U/L) e ES (377,8±54,4U/L)) em relação ao grupo GC (151,2±28,0 U/L). No grupo suplementado com taurina (232,1±40,8 U/L) houve redução desta atividade em relação ao grupo EE e ES. Figura 1. Creatina quinase. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Análise Estatística Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br Xilenol laranja (XL): Conforme Figura 2, os resultados demonstraram um aumento significativo na formação de hidroperóxidos após exercício excêntrico nos grupos EE (0,5±0,06 nmol/mg/proteina) e ES (0,3±0,03 nmol/mg/proteina) quando comparados ao GC (0,2±0,01 nmol/mg/proteina). A suplementação com taurina (0,1±0,03 nmol/mg/proteina) reduziu a formação de hidroperóxidos quando comparado ao EE e ES. Carbonilação de Proteínas (CP): De acordo com a figura 3, nossos resultados demonstraram um aumento na carbonilação de proteínas nos grupos EE (5,4±0,7nmol/mg/proteina) e ES (5,4±0,5 nmol/mg/proteina) após exercício excêntrico, quando comparados ao GC (2,6±0,2 nmol/mg/proteina). A suplementação com taurina (2,9±0,8 nmol/mg/proteina) reduziu estes valores quando comparado com o EE e ES. Figura 3. Carbonilação de proteínas Conteúdo de Tióis Totais (TT): Conforme figura 4 os resultados demonstraram redução no conteúdo de tióis totais nos grupos EE (61,3±10,3 DTNB/mg/proteína) e ES (31,3±2,0 DTNB/mg/proteína) em relação ao GC (152,8±21,9). A suplementação com taurina (140±10,8 DTNB/mg/proteína) aumentou o conteúdo de tióis totais em relação ao EE e ES. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Figura 2. Xilenol laranja. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br Figura 4. Conteúdo de Tióis totais. Figura 5. Atividade da catalase. DISCUSSÃO Diversos estudos demonstraram que o exercício excêntrico provoca dano muscular (SILVA et al., 2008; SILVA et al., 2009 BLOOMER et al., 2004;). No presente estudo nós demonstramos que a suplementação com taurina reduz dano muscular oxidativo, mas não altera a atividade antioxidante enzimática em soro de animais. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Catalase (CAT): De acordo com a figura 5 nossos resultados demonstraram um aumento significativo na atividade da catalase nos grupos EE (33,8±8,9 U/mg/proteína) e ES (31,7±3,3 U/mg/proteína) em comparação ao GC (12,4±2,9 U/mg/proteína). No grupo suplementado (10,8±0,6 U/mg/proteína) houve redução em relação ao grupo EE. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br Durante o exercício excêntrico ocorre um aumento na produção de ATP, com concomitante elevação das ERO, como o ânion superóxido (O2•-), peróxido de hidrogênio (H2O2) e radical hidroxil (HO•-). Especificamente as ERO podem ser geradas através das reações da xantina oxidase (XO) e NAPDH oxidase, que são ativadas com o exercício excêntrico de alta intensidade (MCHUGH, 1999; CHILDS et al. 2001; GOLDFARB et al., 2005). Demonstramos em nosso estudo que o exercício físico excêntrico causou dano oxidativo em ratos, e que a suplementação com taurina atenuou estes danos (XL e CP). Como parâmetros de dano oxidativo nós avaliamos a formação de hidroperóxidos (figura 2) e a carbonilação de proteínas (figura 3). Nossos resultados estão de acordo com outros trabalhos (SILVA et al., 2009; DAWSON et al. 2002; GOLDFARB et al., 2005), demonstrando aumento na peroxidação lipídica e oxidação de proteínas após EE. Durante a fase de propagação da peroxidação lipídica ocorre a formação do radical peroxil (LOO•) e hidroperóxido, que, em decomposição, formam produtos citotóxicos, como os aldeídos (GUTERRIDGE & HALLIWELL, 1984). No entanto, a suplementação com taurina reduziu o dano oxidativo devido a sua eficaz habilidade para seqüestrar LOO• (OLIVEIRA et al., 2010). Corroborando com nossos resultados, PRUTZ (1996) demonstrou que a taurina é um seqüestrador eficaz de radicais livres, que pode impedir a geração de superóxido pelo sistema mitocondrial e outros sistemas como a XO, reduzindo os efeitos deletérios aos constituintes celulares. Os resultados do conteúdo total de tióis (figura 4) demonstraram uma diminuição nas proteínas não oxidadas após o exercício excêntrico. Nossos resultados convergem com MAGALHÃES et al. 2007, que encontrou redução nas proteínas sulfidrila após exercício exaustivo. O exercício intenso provoca condições isquêmicas musculares que ativam a rota da XO, formando ácido úrico. Durante esse processo ocorre aumento na concentração de cálcio intramuscular que ativam proteases, que ao serem oxidadas diminuem o conteúdo dos tióis totais (HELLSTEN et al., 2000). No grupo suplementado com taurina houve aumento destes valores. Estes resultados pressupõem que a taurina pode afetar a hiperexcitabilidade celular, aumentando a condutividade da membrana de íons potássio e cloreto, possivelmente através da modulação da disponibilidade de cálcio intracelular, promovendo uma conservação de tióis totais para manter a integridade celular (GALLER & HUTZLER,1990; FRANCONI et al., 2004). Em contrapartida, a atividade enzimática antioxidante (CAT) (figura 5) demonstrou razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) Como marcador de dano muscular, avaliamos a atividade da CK sérica (figura 1). A CK no músculo esquelético catalisa a reação reversível da quebra da fosfocreatina. O aumento na atividade da CK no soro tem sido usado como marcador de lesão da musculatura esquelética após os exercícios. Nossos resultados em estão de acordo com outros estudos (GOLDFARB et al., 2005; MASTALOUDIS et al., 2006), que demonstraram aumento da CK após exercícios exaustivos. O mecanismo que contribui para o dano muscular inclui o processo de formação de ERO, que pode desempenhar um papel central na etiologia do dano ao músculo. Isto ocorre através da oxidação dos sistemas de transporte de íons, levando a ruptura da homeostase do íon de Ca2+ e prejudicando a respiração mitocondrial com conseqüente disfunção celular (SAHECK et al., 2003). No grupo com suplementação houve uma redução significativa da atividade da CK. Isto pode ser atribuído ao potencial antioxidante da taurina em seqüestrar espécies reativas de oxigênio e nitrogênio e modular a homeostase de Ca2+ celular (OLIVEIRA et al. 2010; GALLER & HUTZLER, 1990). Outro mecanismo, segundo SCHURR e RIGOR (1987), é que a taurina pode ter efeito sobre o tônus vascular através da vasodilatação, melhorando assim o fluxo sanguíneo e a oferta de oxigênio, diminuindo o processo de isquemia e a produção de ERO. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br redução no grupo suplementado quando comparado ao grupo EE. A catalase é uma enzima antioxidante que catalisa o peróxido de hidrogênio (H2O2), a água e oxigênio molecular. Vários estudos têm demonstrado que o exercício regular resulta no aumento da atividade das enzimas antioxidantes, aumentando a proteção contra ERO (NAVARRO & SANCHEZ, 1998). No entanto, a atividade das enzimas antioxidantes pode ser reduzida temporariamente após exercício agudo, mas pode aumentar durante a recuperação, como resultado do insulto inicial pró-oxidante (STEINBERG et al.,2006; WATSON et al.,2005). Desta forma, a atividade da CAT no grupo EE pode estar relacionada com uma maior produção de ERO com conseqüente elevação da atividade durante o período de recuperação. A redução desta atividade no grupo com suplementação apresenta-se de acordo com os resultados de dano oxidativo, sugerindo uma menor produção de RL e ERO, devido a taurina atuar em níveis fisiológicos como eficaz antioxidante contra insultos celulares, incluindo dano oxidativo. É possível ainda que a taurina possa melhorar a atividade da glutationa peroxidase (GPX) por aumentar a síntese de cisteína e outras proteínas que contêm grupos sulfidrila, participando do metabolismo da glutationa (GHOSH et al., 2009) . No entanto, a dosagem de outras enzimas como a superóxido dismutase e a glutationa peroxidase poderiam esclarecer ainda mais os mecanismos antioxidantes da taurina. Em conclusão, demonstramos que a suplementação com taurina é capaz de reduzir o dano oxidativo após exercício excêntrico. Em termos práticos, a suplementação com taurina após o exercício excêntrico pode reduzir o dano oxidativo em soro de ratos. Talvez num futuro próximo este suplemento possa ser utilizado com o propósito de acelerar o processo de recuperação após uma lesão por exercício excêntrico. Contudo é necessário testar em humanos o efeito antioxidante deste nutriente. AGRADECIMENTOS CAPES, CNPq, UNESC. REFERÊNCIAS AEBI H. Catalase in vitro. Methods Enzymol, v. 105, p. 151-126, 1984. AKSENOV, M. Y.; MARKESBERYA, W. R. Changes in thiol content and expression of glutathione redox system genes in the hippocampus and cerebellum in Alzheimer's disease. Neuroscience Letters, v. 302, p. 151-145, 2001. ARMSTRONG, R. B; WARREN, G. L; WARREN, J. A. Mechanisms of exercise-induced muscle fiber injury. Sports Medicine, v. 12, p. 184-207, 1991. APPEL, H. J; SOARES, J. M. C; DUARTE, J. A. R. Exercise muscle damage and fatigue. Sports Medicine. v. 13, p. 108-115, 1992. BEATON, L. J; ALLAN, D. A; TARNOPOLSKY, M. A; TIIDIUS, P. M; PHILLIPS, S. M. Contractions-induced muscle damage is unaffected by vitamin E supplementation. Medicine & Science in Sports & Exercise. v. 34, p. 798-805, 2002. BIRDSALL, T.C. Therapeutic applications of taurine. Alternative Medicine Review, v. 3, p. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) APLICAÇÕES PRATICAS Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br 128-36, 1998. BLOOMER, R.J.; GOLDFARB, A.H.; MCKENZIE, M.J; YOU, T.; NGUYEN, L. Effects of antioxidant therapy in women exposed to eccentric exercise. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, v. 14, p. 377-88, 2004. BYER, S. C; GOLDFARB, A. H. Effect of high dose vitamin C Supplementation on muscle Soreness, damage, function, and oxidative stress to eccentric exercise. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, v. 16, p. 270-280, 2006. CHILDS, A.; JACOBS, C.; KAMINSKI, T.; HALLIWELL, B.; LEEUWENBURGH, C. Supplementation with vitamin C and N-acetylcysteine increases oxidative stress in humans after an acute muscle injury induced by eccentric exercise. Free Radical Biology and Medicine, v. 31, p. 745-753, 2001. DAWSON, R. J.; BIASETTI, M.; MESSINA, S., DOMINY, J. The cytoprotective role of taurine in exercise-induced muscle injury. Amino Acids, v. 22, p. 309-24, 2002. FAULKNER, J. A.; BROOKS, S. V.; OPITECK, J. A. Injury to skeletal muscle fibers during contractions: conditions of occurrence and prevention. Physical Therapy. n.73, 911-921, 1993. GALLER, S.; HUTZLER, C. Effects of taurine on Ca2+-dependent force development of skinned muscle fibre preparations. Journal of Experimental Biology, v. 152, p. 255-64, 1990. GOLDFARB, A.H.; BLOOMER, R.J.; MCKENZIE, M.J. Combined antioxidant treatment effects on blood oxidative stress after eccentric exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 37, p. 234-39, 2005. GHOSH, J.; DAS, J.; MANNA, P.; SIL, P.C. Taurine prevents arsenic-induced cardiac oxidative stress and apoptotic damage: role of NF-kappa B, p38 and JNK MAPK pathway. Toxicology and Applied Pharmacology, v. 240, p. 73-87, 2009. GUTTERRIDGE, M.C.; HALLIWELL, B. Oxygen toxicity, oxygen radicals, transitions metals and disease. Biochemical Journal, v. 219, p. 1-14, 1984. HALLIWELL, B.; GUTTERIDGE, M.C. Free radicals in biology and medicine. Oxford: University Press; 2007. HELLSTEN, Y. The role of xanthine oxidase in exercise. Sen CK, Parker L, Hanninen O. editors. Handbook of oxidants and antioxidants in exercise. Basel: Elsevier Science BV; p.153-176, 2000. JIANG, Z.Y.; WOOLLARD, A.C.; WOLFF, S.P. Lipid hydroperoxide measurement by oxidation of Fe2+ in the presence of xylenol orange. Comparison with the TBA assay and an iodometric method. Lipids, v. 26, p. 853-60, 1991. LEE, J.; GOLDFARB, A. H.; RESCINO, M. H.; HEGDE, S.; PATRICK; APPERSON, K. Eccentric exercise effect on blood oxidative stress markers and delayed onset of muscle soreness. Medicine & Science in Sports & Exercise, n.34, p. 443-448, 2002. LEVINE, R.L.; GARLAND, D.; OLIVER, C.N.; AMICI, A.; CLIMENT, I.; LENZ, A.G. et al. Determination of carbonyl content in oxidatively modified proteins. Methods Enzymol, v. 186, p. 464-478, 1990. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) FRANCONI, F.; DI LEO, M.; BENNARDINI, F.; GHIRLANDA, G. Is taurine beneficial in reducing riks factors for diabetes mellitus? Neurochemical Research, v.29, p. 143-150, 2004. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br LOURENCO, R.; CAMILO, M. E. Taurine: a conditionally essential amino acid in humans? An overview in health and disease. Nutrición Hospitalaria, n. 17, p. 262-70, 2002. LOWRY, O.H.; ROSEBOUGH, N.G.; FARR, A.L.; RANDALL, R.J. Protein measurement with the folin phenol reagent. Journal of Biological Chemistry, v. 193, p. 265-275, 1951. MAGALHÃES, J.; FERREIRA, R.; MARQUES, F.; OLIVEIRA, E.; SOARES, J; ASCENÇÃO. Indoor climbing elicits plasma oxidative stress. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 39, p. 955-963, 2007. MASTALOUDIS, A.; TRABER, M.G.; CARSTENSEN, K.; WIDRICK J.J. Antioxidants did not prevent muscle damage in response to an ultramarathon run. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 38, p. 72-80, 2006. MCHUGH, M. P; CONNOLLY, D. A. J; ESTON, R. G; GLEIM, G. W. Exercise induced muscle damage and potential mechanisms for the repeated bout effect. Sports Medicine, v.27, p.157-170, 1999. MIYAZAKI, T.; MATSUZAKI, Y.; IKEGAMI, T.; MIYAKAWA, S.; DOY, M.; TANAKA, N. et al. Optimal and effective oral dose of taurine to prolong exercise performance in rat. Amino Acids, v. 27, p. 291-8, 2004. NAVARRO-AREVALO, A.; SANCHEZ-DEL-PINO, M.J. Age and exercise-related changes in lipid peroxidation and superoxide dismutase activity in liver and soleus muscle tissues of rats. Mechanisms of Ageing and Development, v. 104. p. 91-102, 1998. OLIVEIRA, M.W. S.; MINOTTO, J.B.; OLIVEIRA, M.R.; ZANOTTO, A.; BEHR, G.A.; ROCHA, R.F.; MOREIRA, J.C. F.; KLAMT, F. Scavenging and antioxidant potential of physiological taurine concentrations against different reactive oxygen/nitrogen species. Pharmacological Reports, v. 62, p.185-193, 2010. PASCHALIS, V.; GIAKAS, G.; BALTZOPOULOS, V.; JAMURTAS, A. Z.; THEOHARIS, V.; KOTZAMANIDIS, C.; KOUTEDAKIS, Y. The effects of muscle damage following eccentric exercise on gait biomechanics. Gait Posture, v. 25, p. 236-42, 2007. PRUTZ, W.A. Hypochlorous acid interactions with thiols, nucleotides, DNA, and other biological substrates. Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 332, p. 110–120, 1996. SAHECK, J. M.; PAUL, E. M.; CANNON, J. G.; RONENN, R.; BLUMBERG, J.B. Effect of vitamin E and eccentric exercise on selected biomarkers of oxidative stress in young and elderly men. Free Radical Biology & Medicine, n.34, p.1575-1588, 2003. SILVA, L.A.; PINHO, C.A.; SILVEIRA, P.C. L.; TUON, T.; SOUZA, C.T.; DAL-PIZZOL, F.; PINHO, R.A. Vitamin E supplementation decreases muscular and oxidative damage but not inflammatory response induced by eccentric contraction. Journal of Physiological Science, v. 60, p.51–57, 2009. SILVA, L.A.; SILVEIRA, P,C.; PINHO, C.A.; TUON, T.; DAL-PIZZOL, F.; PINHO, R.A. Nacetylcysteine supplementation and oxidative damage and inflammatory response after eccentric exercise. International Journal of Sports Nutrition and Exercise Metabolism, v. 18, p. 379-88, 2008. SCHURR, A,; RIGOR, B.M. The mechanism of neuronal resistance and adaptation to hypoxia. FEBS Letters, v. 16, p. 4-8, 1987. STEINBERG, J.G.; DELLIAUX, S.; JAMMES, Y. Reliability of different blood indices to razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) OLERT, E.D.; CROSS, B.M.; MCWILLIANS, A.A. Guide to care and use of experimental animals canadian council on animal. Ottawa, 1993. Tromm et al.: Taurina e estresse oxidativo induzido pelo exercício www.brjb.com.br explore the oxidative stress in response to maximal cycling and static exercises. Clinical Physiology and Functional Imaging, v. 26, p. 106-112, 2006. TANG, X. C.; RAO, M. R.; HU, G.; WANG, H. Alterations of amino acid levels from striatum, hippocampus, and cerebral ischemia in gerbil. Acta Pharmacologica Sinica,. n.21, p.819-823, 2000. WATSON, T.A.; CALLISTER, R.; TAYLOR, R.D.; SIBBRITT, D.W.; MACDONALD-WICKS, L.K.; GARG, M.L. Antioxidant restriction and oxidative stress in short-duration exhaustive exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 37, p. 63-71, 2005. razilian Journal of Biomotricity, v. 5, n. 1, p. 34-44, 2011 (ISSN 1981-6324) ZHANG, M.; IZUMI, I.; KAGAMIMORI, S.; SOKEJIMA, S.; YAMAGAMI, T.; LIU, Z.;, QI, B. Role of taurine supplementation to prevent exercise-induced oxidative stress in healthy young men. Amino Acids, v. 26, p. 203-207, 2004.