UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DOUGLAS JOSÉ DA SILVA DEPOSIÇÃO DE DIAMANTE NANOCRISTALINO (NCD) EM SUBSTRATO DE SILÍCIO VIA DEPOSIÇÃO QUÍMICA À VAPOR POR FILAMENTO QUENTE (HFCVD): ÊNFASE NO PRÉTRATAMENTO SUPERFICIAL FLORIANÓPOLIS - 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DOUGLAS JOSÉ DA SILVA DEPOSIÇÃO DE DIAMANTE NANOCRISTALINO (NCD) EM SUBSTRATO DE SILÍCIO VIA DEPOSIÇÃO QUÍMICA À VAPOR POR FILAMENTO QUENTE (HFCVD): ÊNFASE NO PRÉTRATAMENTO SUPERFICIAL Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais de Santa Catarina para obtenção do título de Engenheiro de Materiais. Orientadores: Professor Rui F. Silva Professora Florinda Mendes da Costa Professora Lia de Oliveira Co-orientador: Doutora Margarida Isabel S. Amaral FLORIANÓPOLIS - 2009 ii DOUGLAS JOSÉ DA SILVA DEPOSIÇÃO DE DIAMANTE NANOCRISTALINO (NCD) EM SUBSTRATO DE SILÍCIO VIA DEPOSIÇÃO QUÍMICA À VAPOR POR FILAMENTO QUENTE (HFCVD): ÊNFASE NO PRÉTRATAMENTO SUPERFICIAL Este Trabalho de Graduação foi julgado adequado para obtenção do título de Engenheiro de Materiais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina. __________________________________ Prof. Fernando Cabral Coordenador Banca Examinadora: __________________________________ Prof. Lia de Oliveira Orientadora __________________________________ Prof. Dylton do Vale Pereira Filho __________________________________ Prof. André Avelino Pasa iii Ficha Catalográfica SILVA, Douglas José da, 1983Deposição de diamante nanocristalino (NCD) em substrato de silício via deposição química à vapor por filamento quente (HFCVD): Ênfase no pré-tratamento superficial / Douglas José da Silva. – 2009. 39 f. : il. color. ; 30 cm Orientador (a): Lia de Oliveira Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Engenharia de Materiais, 2009. 1. NCD. 2. HFCVD. 3. Pré-tratamento superficial. I. SILVA, Douglas José da. II. Universidade Federal de Santa Catarina. III. Título. iv “Aprendizado sem reflexão é perdido; reflexão sem aprendizado é perigoso.” Confúcio, século VI a.C. “Toda ciência nada mais é que o refinamento de pensamentos cotidianos.” Albert Einstein v Agradecimentos Agradeço à Universidade Federal de Santa Catarina por todo o suporte dado ao longo do curso. À Universidade de Aveiro – Portugal, local onde toda a parte experimental do trabalho foi desenvolvido. Aos meus orientadores da Universidade de Aveiro, professores Rui Silva e Florinda pelo apoio dado e pelas orientações de grande ajuda e valia. Aos meus colegas de laboratório da Universidade de Aveiro, em especial à doutora Margarida Amaral pela grande amizade e por estar sempre disposta à sanar minhas inúmeras dúvidas no decorrer do desenvolvimento do trabalho. À professora Lia de Oliveira do departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina pela orientação e ajuda na redação deste trabalho. Aos meus amigos, Marcel Dias da Silva, Gabriel Giannini de Cunto, Diogo Kaoru Ito e Thiago Soares Pereira pela grande amizade desenvolvida no decorrer do curso e pelas ajudas pertinentes nas horas necessárias. Por fim, a minha família (meus pais) e a minha namorada Márcia Bronislawski por estarem sempre ao meu lado me dando o suporte necessário. I Resumo Diamante nanocristalino (NCD) tem sido largamente estudado devido as suas propriedades intrínsecas como alta dureza, alta resistência ao desgaste e à corrosão, baixa rugosidade superficial, biocompatibilidade e baixo coeficiente de atrito. Para a obtenção de filmes de diamante nanocristalino com baixa espessura, contínuos e de boa aderência ao substrato, é essencial o controle da densidade de nucleação. Utilizando, para a deposição de NCD, substrato de silício “virgem” obtêm-se baixas densidades de nucleação, não originando filmes contínuos. Para incrementar a densidade de nucleação do diamante são muito utilizados pré-tratamentos que promovem a modificação superficial do substrato. Podem-se citar, como exemplos, a riscagem da superfície com partículas de diamante e o bombardeamento da superfície com partículas de diamante pela imersão do substrato em uma suspensão de diamante seguido de agitação ultrassônica. No presente trabalho, os substratos foram submetidos a condições de crescimento de diamante anterior à riscagem por bombardeamento da superfície em suspensão de diamante visando aumentar a densidade de nucleação na deposição de diamante. Este processo é chamado neste trabalho de ativação superficial (SA). Para a etapa de pré-tratamento e crescimento dos filmes de NCD foram utilizadas a técnica de HFCVD (Hot Filament Chemical Vapour Deposition). Parâmetros como a temperatura do substrato no pré-tratamento e na deposição e composição da mistura gasosa foram controladas e variadas durante o processo. A superfície do substrato de silício (Si) é modificada quando são submetidas a condições de crescimento de filmes de diamante. E, após a riscagem por agitação ultrassônica em suspensão de diamante em etanol ou n-hexano houve a formação de uma camada de carbono amorfo na superfície do substrato. As melhores densidades de nucleação foram alcançadas utilizando-se uma baixa temperatura de substrato durante o pré-tratamento (700 ºC) seguida de riscagem em suspensão de diamante em etanol e deposição com uma temperatura de substrato intermediária (750 ºC). A temperaturas de deposição inferiores à 750 ºC têm-se uma menor densidade de nucleação e a temperaturas superiores há formação de uma camada nanoestruturada de DLC com uma moderada densidade de nucleação de diamante. II Abstract Nanocrystalline diamond (NCD) has been object of several studies due to its intrinsic properties, namely high hardness, high wear and corrosion resistance, low surface roughness, biocompatibility and low friction coefficient. To obtain nanocrystalline diamonds films ultrathin, continuous and well adhered, is essential the control of the nucleation density. Using, for the NCD deposition, virgin substrates of silicon obtain low nucleation densities, does not producing a continuous films. For increase the nucleation density of diamond are used pretreatments that improved a surface modification of substrate. For example, abrading the surface with diamond particles and bombarding the surface with diamond particles by immersing the substrate in a diamond suspension followed by ultrasonic agitation. In the present work, the substrates were submitted under growth conditions before the rising surface in diamond suspension for increased the density nucleation of diamond, and this process called surface activation (SA). For the pre-treatments and NCD growth steps were used the HFCVD technique (Hot Filament Chemical Vapour Deposition). Parameters like substrate temperature on the pre-treatments and deposition, and gas mixture ratio were controlled and changed on the process. The Si surface is modified during exposure to typical CVD diamond growth conditions. After the rising of surface by ultrasonic agitation on diamond suspension in ethanol or n-hexane produce an amorphous carbon layer on the surface of substrate. The densest NCD films were obtained for the surface activation step done using a lower temperature (700 ºC) followed of rising on diamond suspension in ethanol and deposition with a intermediate substrate temperature (750 ºC). Using substrate temperature lower to 750 ºC the nucleation density decrease and for higher ones produce a DLC nanostructured layer along with moderate NCD nucleation density of diamond. III Lista de Figuras Figura 1. (A)Estrutura unitária de um cristal de diamante [10] (B) Posições atômicas dos átomos de carbono………………………………………………... 6 Figura 2. Esquema do processo de deposição/crescimento de filmes de diamante pelo método de CVD…………………………………………………. 11 Figura 3. Esquema de um típico reator de HFCVD……………………………. 13 Figura 4. Crescimento e morforlogia do diamante…………………………….. 16 Figura 5. Esquema da superfície no processo de crescimento de diamante: hidrogênio estabilizando o diamante superficial; criação de sítios radicalares pela captação de hidrogênio; criação de diamante pelo radical metil…………... 17 Figura 6. Estrutura cristalina tipo diamante, célula unitária do silício………… 20 Figura 7. Espectro µ-Raman característico do diamante………………………. 22 Figura 8. Espectro Raman característico da Grafita…………………………… 23 Figura 9. Reator de HFCVD utilizado nos experimentos……………………… 25 Figura 10. Micrografias obtidas via Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) das amostras processadas com 8,8 (baixo %Ar) e 81,2% (alto %Ar) de argônio, respectivamente……………………………………………………….. 28 Figura 11. Espectro µ-Raman das amostras processadas com 8,8 (baixo %Ar) e 81,2% (alto %Ar) de argônio…………………………………………………. 29 Figura 12. Micrografia obtida via MEV de alta resolução da superfície de silício sem pré-tratamento………………………………………………………. 30 Figura 13. Micrografias obtidas via MEV da superfície de silício após a etapa de pré-tratamento, antes da deposição. a) à b) após exposição à condições de deposição em HFCVD utilizando duas diferentes condições SAI e SAII; seguido por agitação ultrassônica em suspenção de pó de diamante IV nanométrico em etanol (A) c) e d); e em n-hexano (B) e) e f)………………….. 30 Figura 14. Micrografias obtidas via MEV de alta resolução da superfície das amostras após a deposição de diamante nanocristalino utilizando uma Ts = 750 ºC. (a) e (b) são amostras que onde não houve pré-tratamento em reator de HFCVD, apenas riscagem em solução contendo pó de diamante em suspensão no etanol (A) e n-hexano (B), respectivamente………………………………… 32 Figura 15. Micrografias obtidas via MEV das amostras na condição de prétratamento SAI – A, mostrando a influência da temperatura do substrato na deposição do diamante nanocristalino, utilizando misturas gasosas ricas em argônio. Abaixo espectro µ-Raman da região em detalhe da amostra obtida a temperatura de substrato de 800 ºC……………………………………………... 35 Figura 16. Espectro µ-Raman das amostras obtidas com deposições a diferentes temperaturas de substrato……………………………………………. 36 V Lista de Tabelas Quadro 1. Principais propriedades do diamante [2] ...................................................................5 Quadro 2. Propriedades do Silício [23, 24] ..............................................................................17 Quadro 3. Parâmetros utilizados no pré-tratamento das amostras............................................24 Quadro 4. Parâmetros utilizados no processamento das amostras ...........................................25 VI Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos Co: Elemento químico cobalto CVD: Deposição Química de Fase Vapor DLC: Carbono como Diamante HFCVD: Deposição Química de Fase Vapor por Filamento Quente HPHT: Alta Pressão, Alta Temperatura MCD: Diamante Microcristalino MEV: Microscopia Eletrônica de Varredura MWCVD: Deposição Química de Fase Vapor por Micro-ondas NCD: Diamante Nanocristalino Ni: Elemento químico Níquel NNP: New Nucleation Process SA: Ativação Superficial SAI: Ativação Superficial I SAII: Ativação Superficial II UNCD: Diamante Ultra-nanocristalino VII Sumário 1. Introdução.....................................................................................................................1 1.1. Objetivos....................................................................................................................3 1.1.1. Objetivo Geral ....................................................................................................3 1.1.2. Objetivos Específicos .........................................................................................3 2. Revisão Bibliográfica ...................................................................................................4 2.1. Diamante: Uma Revisão........................................................................................4 2.1.1. Estrutura .........................................................................................................4 2.1.2. Propriedades e Aplicações..............................................................................5 2.1.3. Fontes .............................................................................................................6 2.1.4. Depósitos naturais ..........................................................................................6 2.1.5. Sínteses HPHT................................................................................................6 2.1.6. Deposição Química à Vapor (CVD)...............................................................6 2.2. HFCVD..................................................................................................................9 2.3. Diamante nanocristalino (NCD)..........................................................................12 2.3.1. Crescimento e nucleação de diamante nanocristalino ..................................12 2.4. Silício...................................................................................................................17 2.4.1. Estrutura .......................................................................................................18 2.5. Técnicas de caracterização ..................................................................................20 2.5.1. Espectroscopia de Espalhamento Raman .....................................................20 2.5.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ..............................................21 3. Procedimento Experimental .......................................................................................23 4. Resultados e Discussões .............................................................................................26 4.1. Composição dos gases .........................................................................................26 4.2. Pré-tratamento .....................................................................................................28 4.3. Temperatura do substrato ....................................................................................32 5. Conclusões..................................................................................................................35 5.1. Sugestões para trabalhos futuros .........................................................................36 VIII 6. Referências .................................................................................................................37 IX 1. Introdução Filmes de diamante nanocristalino (NCD) têm sido investigados intensivamente devido à combinação de baixa rugosidade superficial com algumas propriedades importantes do diamante, como a resistência ao desgaste e a estabilidade química. Características típicas como baixa rugosidade, baixo coeficiente de atrito, elevada dureza e maior condutividade elétrica quando comparado com diamante microcristalino, abriram as portas para a pesquisa do NCD visando a utilização destes filmes em tribosistemas, em aplicações biomédicas, catodos frios, eletrodos eletroquímicos, revestimentos em dispositivos com microsistemas eletromecânicos [1]. Os filmes de diamante nanocristalino são formados por deposição à vapor em processos conhecidos como CVD (Chemical Vapour Deposition), os quais são baseados na decomposição de gases reativos presentes na atmosfera próxima ao substrato quente. No processo de CVD ocorrem as seguintes etapas: (1) transporte de espécies gasosas reativas para a superfície da amostra; (2) adsorção das espécies; (3) reação heterogênea na superfície; (4) difusão superficial das espécies para sítios de crescimento; (5) nucleação e crescimento do filme; (6) desadsorção dos produtos de reações gasosas e transporte para fora da superfície [2]. A técnica de deposição de fase vapor por filamento quente (HFCVD – Hot Filament Chemical Vapour Deposition) é uma das técnicas mais comuns para deposição de filmes de diamante policristalinos. A sua simplicidade, versatilidade e baixo custo de operação tornam esta técnica muito atrativa para aplicações industriais [3]. Muitas pesquisas foram desenvolvidas para estudar os efeitos da composição dos gases, temperatura do filamento e do substrato no processo de deposição dos filmes de diamante nanocristalino [4]. Outras técnicas utilizadas para a deposição de filmes de nanodiamante são a deposição de fase vapor por microondas (MWCVD – Micro Wave Chemical Vapour Deposition) e a combustão por chama. Os gases utilizados na deposição, assim como a percentagem de cada um na mistura, influenciam diretamente nas taxas de nucleação e crescimento e na qualidade do filme de diamante formado. Misturas gasosas envolvendo Ar-H2-CH4 são geralmente utilizadas para o 1 crescimento de filmes de diamante nanocristalino. A taxa de crescimento e o tamanho dos cristais são incrementadas com a adição de Ar quando a sua concentração é menor que 50% [5]. Para valores superiores tanto a taxa de crescimento como o tamanho dos cristais diminuem com a adição de argônio [5]. Uma possível justificativa para tal fenômeno pode ser a diluição de espécies que favorecem o crescimento do diamante, como o radical metil (CH3) e o hidrogênio atômico (H), aumentando a re-nucleação de diamante ao invés do crescimento das cristalites [4]. Quanto ao grau de cristalinidade do diamante depositado, pode-se avaliá-lo através da presença de picos correspondentes a ligações do tipo sp2 em espectroscopia µRaman, sendo que quanto maior a concentração de argônio maior é a fração de carbono do tipo sp2, diminuindo assim a cristalinidade do filme formado [5]. Em todos os substratos, assim como ocorre no silício (100), a densidade de nucleação do diamante é muito baixa e precisa ser promovida por tratamentos que modifiquem a sua superfície criando zonas onde o diamante irá nuclear preferencialmente. Assim sendo, controlar a densidade de nucleação inicial via pré-tratamentos superficiais é a chave para obter filmes de diamante contínuos, melhorando as propriedades mecânicas dos mesmos. Consequentemente, alguns métodos têm sido reportados para incrementar a densidade de nucleação influenciando na qualidade do diamante [6-9]. O presente trabalho avalia a influência de um pré-tratamento inspirado em “NNP” (New Nucleation Process) comparando-o com o habitual pré-tratamento de riscagem por agitação ultrassônica na nucleação de NCD utilizando a técnica de HFCVD. A identificação e a caracterização dos filmes de NCD foram feitas por espectroscopia µ-Raman e microscopia eletrônica de varredura de alta resolução (MEV – Alta Resolução). 2 1.1. Objetivos 1.1.1. Objetivo Geral Avaliar a influência do pré-tratamento de ativação superficial (SA), assim como o solvente utilizado na riscagem ultrassônica, na densidade de nucleação do diamante nanocristalino depositado em substrato de silício via HFCVD. 1.1.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos deste trabalho são: • Obter uma composição gasosa utilizando CH4, H2 e Ar que favoreça uma baixa nucleação para avaliação deste parâmetro com a utilização do prétratamento de ativação superficial (SA); • Avaliar a influência do solvente utilizado na riscagem ultrassônica do substrato de silício; • Avaliar a influência da temperatura do substrato no pré-tratamento de SA na densidade de nucleação do diamante obtida na deposição em sistema de HFCVD; • Avaliar a influência da temperatura do substrato utilizada na deposição de diamante nanocristalino em reator de HFCVD. 3 2. Revisão Bibliográfica 2.1. Diamante: Uma Revisão 2.1.1. Estrutura Diamante e grafita são as formas de carbono puro mais comumente encontradas na natureza. A grafita é a forma sólida mais estável de carbono já descoberta. Cada átomo de carbono da grafita é ligado a outros três átomos de carbono de forma covalente, utilizando seus orbitais atômicos hibridizados do tipo sp2. A estrutura da grafita é formada por camadas paralelas de folhas hexagonais de carbono empilhadas formando uma estrutura 3D. Estas camadas são ligadas entre si por fracas forças do tipo Van der Waals. A fraqueza destas ligações entre as camadas são responsáveis pela sua principal característica, sua baixa resistência ao desgaste/atrito. Diamante é a forma alotrópica do carbono que atrai mais atenção devido a sua aparência e as suas excelentes propriedades. A estrutura do diamante é formado pela interpenetração de duas estruturas cúbicas de face centrada deslocadas de um quarto da diagonal do cubo [10], figura 1. Os atomos de carbono são unidos por ligações covalentes, onde cada átomo se liga a outros quatro átomos formando uma geometria tetraédrica, utilizando seus orbitais atômicos do tipo sp3. (A) (B) Figura 1. (A)Estrutura unitária de um cristal de diamante [10]. (B) Posições atômicas dos átomos de carbono. 4 Diamante e grafita mesmo sendo formas alotrópicas do carbono, são materais completamente diferentes ocupando lados extremos em diversas aplicações, enquanto o diamante é um abrasivo a grafita é um bom lubrificante. 2.1.2. Propriedades e Aplicações A combinação das propriedades mecânicas, físicas e químicas do diamante é resultado das suas fortes ligações interatômicas. O diamante apresenta a mais alta dureza, condutividade térmica, módulo de elasticidade e velocidade de propagação do som de todos os materiais conhecidos atualmente, enquanto a sua compressibilidade é a mais baixa já conhecida [10]. O diamante é quimicamente inerte e um bom isolante elétrico mas pode ser dopado tornando-se semicondutor do tipo p e do tipo n. O diamante é transparente às radiações no espectro visível e no infravermelho e tem uma baixa constante dielétrica [11]. Devido às suas excelentes propriedades (quadro 1), o diamante é um material com potencial para aplicação em diversas áreas, como eletrônica e médica. Quadro 1. Principais propriedades do diamante [2] Propriedade Valor Unidade Dureza 10(7000) Mohs(Knoop) Módulo de Elasticidade 800-925 GPa Limite de Resistência à Tração 800-1400 MPa > 110 GPa Resistência à Compressão Velocidade do som 4 1,8 x 10 m/s Densidade 3,52 g/cm Temperatura de Fusão 4000 ºC Coeficiente de expansão térmica Condutividade térmica Constante dielétrica Mobilidade eletrônica GAP Resistividade -6 3 -1 1,1 x 10 (ºC) 3140 W/m.K 5,7 Adimensional 2000 - 2200 cm V s 5,45 eV 13 16 10 - 10 2 -1 Ω cm -1 -1 5 2.1.3. Fontes Atualmente, existem três fontes onde pode-se obter o diamante: • Depósitos naturais; • Síntese à alta pressão e temperatura (HPHT); • Síntese de uma fase gasosa à baixa pressão em condições termodinâmicas metaestáveis (Deposição Química à Vapor – métodos CVD). 2.1.4. Depósitos naturais Diamante natural pode ser formado apenas a 150 km abaixo da superfície terrestre onde pressões chegam a milhares de atmosferas e as temperaturas ultrapassam mil graus Celsius. Os diamantes emergem para a superfície terrestre através de erupções vulcânicas, permanecendo na forma meta-estável quando a pressão é removida devido ao rápido resfriamento. Pepitas de diamante podem ser encontradas na África do Sul e diamante aluvião é encontrado em minas situadas em leitos de rios. Devido a sua raridade, possui um alto valor comercial [11]. 2.1.5. Sínteses HPHT O método HPHT (High Pressure High Temperature) foi proposto em 1955 pela General Electric Company (GE). Este método de síntese reproduz as condições que geram os diamantes abaixo da superfície terrestre e é apropriado para produzir cristais para aplicações abrasivas [11,12]. Porém necessita de temperaturas iguais ou superiores à 1670 K e de pressões altíssimas, da ordem de 5 x 109 Pa (50 kbar). 2.1.6. Deposição Química à Vapor (CVD) A técnica de CVD foi proposta na segunda metade dos anos de 1950 por W. G. Eversole que patenteou o processo [10,11]. Este método recebeu uma grande atenção pois permite novas aplicações para o diamante, devido à produção por HPHT ser de difícil 6 implementação e muito onerosa. O processo de CVD produz diamante em revestimentos finos que podem cobrir grandes áreas em uma grande variedade de formas. O método de CVD é uma técnica muito utilizada para deposição de filmes finos. Além de filmes de diamante, é também utilizada para produzir diferentes tipos de revestimentos como níquel, tungstênio, cromo e filmes de carboneto de titânio [13]. Este processo é baseado na decomposição de gases reativos provenientes da atmosfera próxima ao substrato quente para formar filmes sólidos, nanopartículas, nanofios e nanotubos. As principais etapas que ocorrem no processo CVD são as seguintes: (1) transporte de espécies gasosas reativas para a superfície da amostra; (2) adsorção das espécies; (3) reação heterogênea na superfície; (4) difusão superficial das espécies para sítios de crescimento; (5) nucleação e crescimento do filme; (6) desadsorção dos produtos de reações gasosas e transporte para fora da superfície [2]. Na deposição química à vapor para se obter diamante, as misturas de gases reativos sempre incluem uma fonte de carbono, e tipicamente incluem hidrogênio, embora as quantidades utilizadas variem muito, dependendo do tipo de diamante a ser crescido [14]. Os filmes produzidos pelo técnica de CVD apresentam alta pureza e densidade, excelente uniformidade, e altas taxas de deposição [15]. Outras vantagens desta técnica são a simplicidade de aparatos, a capabilidade de revestimentos de formas complexas e possibilidade de produção em larga escala. O gás reativo pode ser ativado através da técnica de CVD por diferentes fontes: • Elétrica (corrente contínua (DC), radio frequência (RF), e discargas de microondas (mW)); • Térmica (filamentos metálicos); • Química (tocha de oxigênio-acetileno) No CVD por ativação elétrica o plasma gerado age na criação do hidrogênio atômico e para produzir precursores de carbono para o crescimento do diamante [11,15]. 7 Já no processo de CVD por ativação térmica, os gases reativos podem ser aquecidos próximos ao substrato pelos filamentos quentes dentro do reator. Este método é conhecido como Deposição Química à Vapor por Filamento Quente (HFCVD) [12,15]. No processo de CVD por ativação química, uma tocha de acetileno-oxigênio é utilizada para oxidar uma mistura gasosa de C2H2 e O2. Este método apresenta altas taxas de crescimento, porém a qualidade dos filmes de diamante produzidos são piores que a dos outros processos de CVD, por ativação elétrica e térmica [10,11]. 8 2.2. HFCVD O processo de HFCVD (Hot Filament Chemical Vapour Deposition) foi proposto pela primeira vez por Matsumoto e co-autores em 1982. Um filamento de tungstênio (W) foi aquecido à temperatura acima de 2000 ºC e o hidrogênio molecular (H2) que passou entre os filamentos aquecidos foi dissociado em hidrogênio atômico (H) [10]. A produção de H atômico simultaneamente com dissociação do hidrocarboneto (metano) levam à deposição de diamante enquanto a formação de grafita é suprimida, dependendo dos parâmetros utilizados no processo. A dissociação do H2 na superfície quente de tungstênio foi descoberto por Langmuir, na primeira década de 1900 [11]. A figura 2 apresenta um aspecto geral das reações que ocorrem no interior do reator de HFCVD. Figura 2. Esquema do processo de deposição/crescimento de filmes de diamante pelo método de CVD 1 Entre 1986 e 1900, foi descoberto que o filamento de tungstênio reage com o gases hidrocarbonetos e sofre carburização [11]. Este processo altera a estrutura do filamento e em conjunto com a fragilização causada pelo hidrogênio reduz drasticamente seu tempo de vida. Devido o processo de carburização consumir carbono, o mesmo afeta diretamente o processo 1 Esquema geral utilizando H2 e CH4 como mistura gasosa. Para crescimento de filmes de NCD utiliza-se argônio (Ar) na mistura gasosa: Ar + calor = Ar* (argônio energético) 9 de deposição. Por esta razão é recomendado fazer a carburização dos filamentos antes que se inicie a deposição de diamante. Além do tungstênio, outros metais refratários também podem ser utilizados como filamentos, como o tântalo (Ta) e o rênio (Re) [10,11]. O filamento de tântalo também reage com o carbono formando um carboneto metálico como ocorre com o filamento de tungstênio. Já o filamento de rênio é o único que não forma carboneto, apresentando um tempo de vida muito superior aos filamentos de tungstênio e tântalo, entretanto devido ao seu alto custo é pouco utilizado [12]. Devido a sua simplicidade e baixo capital para implementação e manutenção, o método de deposição química à vapor por filamento quente (HFCVD) se tornou muito popular nas indústrias onde é essencial a redução dos custos para produção de diamante. O processo de HFVCD possui a habilidade de se ajustar a uma grande variedade de fontes de carbono como metano (CH4), etano (C2H6), propano (C3H8), e outros hidrocarbonetos [10]. A principal limitação do processo de HFCVD é o limite à alta temperatura imposta pelos filamentos, o que resulta em taxas de crescimento inferiores a processos em que se utilizam plasma. Outra importante desvantagem da utilização do processo de HFCVD é a possível contaminação do diamante depositado com elementos oriundos dos filamentos, que afetam as propriedades semicondutoras e mecânicas do diamante [11]. A figura 3 ilustra o esquema de um típico reator de HFCVD. Deposição química à vapor para se obter diamante tem grandes vantagens comparando com processos HPHT (alta temperatura, alta pressão) como a capacidade de crescer filmes sobre um substrato, a habilidade de crescimento em grandes áreas, a capacidade de controlar as propriedades dos filmes produzidos, e o seu baixo custo. E um atributo importante do processo de crescimento de diamante por CVD é a capacidade de se controlar as propriedades do filme pelo monitoramento de parâmetros como a composição e pressão dos gases reativos da atmosfera e a temperatura de crescimento [11,12]. 10 Figura 3. Esquema de um típico reator de HFCVD 11 2.3. Diamante nanocristalino (NCD) O crescimento de filmes de diamante se inicia com a nucleação em sítios preferenciais, e estes filmes podem ser depositados com diferentes tamanhos de grãos e são usualmente chamados de microcristalinos (MCD) para tamanhos entre 1-10 µm [15] ou nanocristalinos (NCD) se as cristalites estiverem situadas entre 10-100 nm [16]. Os filmes com cristalites menores que 10 nm recebem o nome de ultrananocristalino (UNCD). Dentre as razões pelas quais o NCD tem sido muito investigado nos dias atuais é que o mesmo supera um dos grandes problemas para se padronizar o diamante microcristalino (MCD): a rugosidade superficial. A morfologia facetada do MCD limita o seu uso em algumas aplicações onde baixa rugosidade é requerida como em aplicações tribológicas e biomédicas [2]. Conforme descrito anteriormente, várias são as técnicas utilizadas para o crescimento de filmes de NCD, sendo que dentre as técnicas mais comumentes utilizadas estão MWCVD e HFCVD. 2.3.1. Crescimento e nucleação de diamante nanocristalino 2.3.1.1. Nucleação Em todos os substratos, assim como ocorre no silício (100), a densidade de nucleação do diamante é muito baixa e precisa ser promovida por tratamentos que modifiquem a sua superfície criando zonas onde o diamante irá nuclear preferencialmente. Em substratos sem pré-tratamentos (substratos “virgens”) de silício a densidade de nucleação alcançada é de 104 – 106 núcleos/cm2 [9]. Logo, controlar a densidade de nucleação inicial via pré-tratamentos superficiais é a chave para obter filmes de diamante contínuos, aumentando as propriedades mecânicas dos mesmos. Melhorando a nucleação do diamante têm-se um incremento na qualidade da aderência na interface substrato/filme. 12 Os pré-tratamentos superficiais mais comumente utilizados para incrementar a nucleação do diamante envolvem a modificação superficial da superfície do substrato por abrasão da superfície com partículas de diamante ou bombardeando a superfície com partículas de diamante pela imersão do substrato numa suspensão contendo diamante seguida por agitação ultrassônica [6]. Com a agitação ultrassônica, partículas de diamante aderem à superfície devido à interações tipo van der Waal’s. Sendo que por estes métodos, moderadas densidades de nucleação são atingidas, ~ 109 – 1011 núcleos/cm2[8]. Devido à importância da etapa de nucleação para as propriedades finais do filme de diamante obtido, alguns métodos têm sido estudados para incrementar a densidade de nucleação e afetar a qualidade do diamante [6-9]. Recentemente J. E. Butler et al. se baseou em um processo desenvolvido por S. Rotter [6] em 1999 conhecido na literatura como “New Nucleation Process” (NNP) em que havia conseguido densidades de nucleação superiores a 1012 núcleos/cm2 para o crescimento de filmes NCD em silício (100) em reator de plasma por microondas [7]. Neste processo concluiu-se que há uma correlação entre supersaturação de metano durante a fase de prétratamento (anterior à deposição), promovendo a formação de uma camada carbonácea nãodiamante na superfície do substrato, e a nucleação de diamante. O processo baseado em NNP consistiu de duas etapas. A primeira, referenciada como etapa do tratamento em plasma, envolve a exposição do substrato às condições de deposição de diamante por um curto período de tempo usando parâmetros já conhecidos de crescimentos de filmes de diamante exceto por uma alta concentração de metano. Na etapa posterior de riscagem, o substrato de Si é sujeito à agitação ultrassônica em solução de álcool contendo pó nanométrico de diamante [17]. As principais diferenças entre o NNP e o processo utilizado por J. E. Butler et al. são os parâmetros utilizados no tratamento de plasma e na subsequente riscagem. A nucleação é um estágio crítico no crescimento de NCD. As combinações de densidade de nucleação com tempo de deposição podem originar diferentes morfologias de filmes de diamante, figura 4. E esta morfologia é determinada pela densidade de nucleação primária e pela espessura do filme. Com uma baixa densidade de nucleção e um curto tempo de crescimento, apenas alguns cristais ou nódulos são observados. Aumentando a densidade de nucleação têm-se o coalescimento dos cristais ou nódulos formando um filme contínuo. O filme de diamante microcristalino possui um crescimento colunar com aspecto facetado, o que reflete diretamente na rugosidade superficial e no aspecto dos cristais depositados (figura 4), 13 sendo que uma maior densidade de nucleação influencia diretamente na rugosidade superficial. Já para o diamante nanocristalino, os cristais possuem uma microestrutura tipo couve-flor, formando um filme com uma baixa rugosidade superficial. Para filmes de MCD, o crescimento é colunar e o tamanho de grão aumenta com a espessura do filme. O tamanho da cristalite, para o NCD, é independente da espessura do filme, que se consegue utilizando uma alta e constante taxa de nucleação [2]. Baixa densidade de Alta densidade de nucleação (Filme fino) nucleação (Filme espesso) nucleação Filme NCD Filme MCD Baixa densidade de Figura 4. Crescimento e morforlogia do diamante [2] 2.3.1.2. Mecanismos de crescimento A fonte de carbono para a deposição de diamante nanocristalino é proveniente da mistura gasosa inserida no reator de HFCVD. Esta mistura é também responsável pela qualidade do filme depositado e pela cinética da deposição. A mistura gasosa CH4/H2/Ar é comumente utilizada para crescimento de filmes de diamante nanocristalino, sendo que cada gás possui uma função específica para o crescimento do diamante. Alta concentração de átomos de hidrogênio próximo ao substrato é crucial para o processo de deposição devido as várias funções realizadas pelo mesmo. Primeiro, átomos de H podem atacar carbono grafítico (sp2) presente na superfície muitas vezes mais rápido do 14 que o ataque ao carbono tipo diamante (hibridização tipo sp3). Segundo, os átomos de H ajudam a terminar as ‘ligações pendentes’ na superfície do diamante, estabilizando a superfície enquanto o crescimento ocorre. Além disso, átomos de H reagem com grande parte dos fragmentos de hidrocarbonetos em fase gasosa, fracionando-os em tamanhos menores, impedindo assim a acumulação de polímero [18]. Finalmente, H atômico cria radicais ativos na superfície pela captação de hidrogênio superficial (alguns hidrogênios terminais são removidos). Estas reações propiciadas pelo hidrogênio atômico estão ilustradas na figura 5, onde o H atômico reage com os hidrogênios terminais gerando defeitos onde radicais metil, também gerados pela reação com o H atômico, se ligam, e por meio de reações sucessivas o filme de diamante é crescido. Figura 5. Esquema da superfície no processo de crescimento de diamante: hidrogênio estabilizando o diamante superficial; criação de sítios radicalares pela captação de hidrogênio; criação de diamante pelo radical metil. Acredita-se que a principal espécie responsável pelo crescimento de diamante pelo método de CVD é o radical metil (CH3), o qual é adicionado à superfície de deposição por etapas sucessivas de captação de hidrogênio por átomos de hidrogênio atômico [18]. Então, 15 uma alta concentração de hidrogênio atômico na superfície é um pré-requisito para o sucesso da deposição de diamante. A concentração de argônio comumente adicionada na mistura gasosa em HFCVD para crescimento de diamante nanocristalino varia entre 10 e 90%. O argônio excitado pelo filamento pode contribuir para a formação de hidrogênio atômico através da troca energética entre o argônio excitado e o H2. Isto é útil pois mantém o crescimento do diamante em detrimento à criação de grafita [19]. Logo, o argônio é um importante fator na formação do diamante nanocristalino, porém pouco se sabe sobre os mecanismos propiciados pelo argônio no sistema HFCVD. A taxa de crescimento dos filmes e o tamanho do cristal aumentam com a adição de argônio (Ar) quando esta concentração é inferior a 50%. Acima deste valor, a taxa de crescimento e o tamanho do cristal diminuem com a adição de Ar [5], além de melhorar a qualidade dos filmes formados [19]. 16 2.4. Silício O diamante não pode ser depositado em todos os tipos de substratos. Metais ferrosos e materiais contendo Ni ou Co, como carboneto de tungstênio, são substratos incompatíveis. Estes materiais não se ligam quimicamente com o carbono, dissolvendo-o ou promovendo a formação da grafita em detrimento ao diamante [2]. A adesão do filme ao substrato é o fator mais importante a se considerar no sistema revestimento/substrato. Deve-se optar por um substrato que possua um coeficiente de expansão térmica próximo do diamante para evitar a introdução de elevadas tensões térmicas durante o resfriamento. O substrato de sílicio é muito utilizado para estudos sobre deposição de diamantes devido à similaridade entre os coeficientes de dilatação térmica (1,1x10-6 ºC-1 para o diamante e 2,5x10-6 ºC-1 para o silício), estrutura cristalina e facilidade de aquisição. As principais propriedades do silício estão dispostas no quadro 2. A adesão do diamante ao substrato é promovida por pré-tratamentos superficiais anteriores à deposição, e acredita-se que espécies carbonáceas reajam com o sílicio superficial do substrato formando uma camada de carbono grafítico. Os átomos exteriores ao plano grafítico são sítios ativos para a nucleação do diamante. Consequentemente, os núcleos de diamante crescem principalmente às expensas da absorção das espécies carbonáceas que difundem na superfície, num processo que compete a formação de material grafítico orientado e novos núcleos de diamante [2]. Quadro 2. Propriedades do Silício [20, 21] Propriedade Limite de Resistência à Tração Módulo de Elasticidade Dureza Densidade Condutividade Térmica Coeficiente de Expansão Térmica Temperatura de Fusão Resistividade Elétrica Valor Unidade 130 129 850 2,33 141 2,5 x 10-6 1410 2500 Mpa Gpa Knoop g/cm3 W/m.K (ºC)-1 ºC Ω.m 17 2.4.1. Estrutura O silício monocristalino é utilizado na fabricação de 99% de todos os dispositivos eletrônicos. Dispositivos estes utilizados em TV’s, refrigeradores, microondas, rádios, equipamentos de comunicação como celulares, e controles para carros, mísseis, entre outros. A bolacha de silício é uma chapa formada por silício monocristalino de alta pureza (>99,99% de pureza) quase isenta de defeitos. Um dos processos para obtenção de bolachas de silício monocristalino com alta pureza foi desenvolvido pelo químico polonês Jan Czochralski, recebendo o nome de crescimento Czochralski. Neste processo, de um lingote cilíndrico são cortadas as bolachas que são polidas. Quando as bolachas são cortadas, sua superfície é alinhada em uma das diversas direções conhecidas como orientações cristalinas. Ao final, as bolachas são lavadas com ácidos fracos para remover partículas de impurezas. Em um monocristal de silício, cada átomo está ligado a quatro outros átomos por ligações covalentes [22] e sua estrutura é do tipo diamante (figura 6), característica dos sólidos com quatro ligações covalentes simétricas. Para a célula unitária do silício o parâmetro de rede é de aproximadamente 0,543 nm (5,43 Angstrons). Figura 6. Estrutura cristalina tipo diamante, célula unitária do silício [23] A orientação cristalina é definida pelo índice de Miller, e para as bolachas comercializadas os cristais são geralmente crescidos nas direções [100] e [111]. A orientação 18 é importante pois muitas propriedades eletrônicas são extremamente anisotrópicas. A clivagem da bolacha ocorre tipicamente nas direções cristalográficas. 19 2.5. Técnicas de caracterização 2.5.1. Espectroscopia de Espalhamento Raman A espectroscopia de espalhamento Raman é uma técnica muito utilizada para caracterização de materiais devido a sua extrema sensibilidade ao ambiente molecular das espécies analisadas. As vibrações moleculares podem gerar informações estruturais, de orientação e químicas, que podem definir o ambiente molecular de interesse com alto grau de precisão. O espectro Raman de um cristal responde melhor a detalhes de defeitos e desordem do que a traços de impurezas e imperfeições químicas relacionadas [24]. Esta técnica de caracterização que possui como princípio o efeito Raman é baseado no espalhamento inelástico da luz, que surge das interações de fótons com as vibrações da rede ou fônons. Alguns fótons serão emitidos dos dipolos oscilantes, que podem ter a mesma frequência do feixe inicial ou terem suas frequências deslocadas por uma quantidade igual a frequência vibracional da rede. A frequência deslocada é o espalhamento Raman. Os modos vibracionais são dependentes das ligações atômicas presentes no sólido e, por este motivo, servem para interpretar as estruturas nos sólidos [25]. A espectroscopia Raman é uma técnica muito utilizada para caracterizar filmes de diamante depositados por CVD devido a cada alótropo do carbono ter picos Raman específicos. O diamante, por exemplo, apresenta um fino pico em 1332 cm-1 (figura 7). Figura 7. Espectro µ-Raman característico do diamante [9]. 20 A grafita apresenta duas bandas, uma à 1357 e outra à 1580 cm-1, atribuídos à banda D e banda G, respectivamente (figura 8). Figura 8. Espectro Raman característico da Grafita. Uma característica importante da técnica de caracterização por espectroscopia de espalhamento Raman é o seu caráter não-destrutivo e facilidade na preparação das amostras, o que requer pouca ou nenhuma preparação das mesmas. Pode-se analisar de forma localizada uma pequena região de um filme heterogêneo. 2.5.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A técnica conhecida como Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) permite a análise/visualização de uma superfície através da varredura por um feixe de elétrons. A imagem obtida via MEV é gerada pelo mapeamento das interações que ocorrem entre os elétrons da superfície estudada e o feixe de elétrons incidido. Para se analisar uma superfície, a amostra é varrida por um feixe colimado de elétrons (elétrons primários) e, através de interações elásticas e inelásticas com os átomos da amostra ocorrem sucessivas trocas energéticas gerando elétrons retroespalhados e elétrons secundários. Os produtos das interações inelásticas do feixe de elétrons primários com a amostra, elétrons secundários, são modulados e geram a imagem do objeto. Esta técnica permite a obtenção de imagens de superfícies polidas e rugosas com grande resolução, chegando a 1 nm para o Microscopio Eletrônico de Varredura de Alta Resolução (MEV – Alta Resolução). As imagens geradas apresentam aspecto tridimensional e permitem aumentos de até 500.000 vezes, evidenciando detalhes dos microcristais e contornos de grãos. Esta técnica é 21 muito utilizada para analisar a morfologia superficial das amostras, permitindo em seções transversais a visualização da interface substrato/revestimento. Quando utilizado em conjunto com um detector de Energia Dispersiva de Raios-X (EDS), pode se obter informações relativas à composição química superficial. Isto ocorre devido aos elétrons mais energéticos ejetados da amostra decaírem ao seu estado fundamental emitindo um fóton de raio-X característico que contém informações sobre o objeto de estudo. 22 3. Procedimento Experimental Para a deposição de diamante nanocristalino (NCD) através da técnica de HFCVD foram utilizados, para deposição, amostras de silício monocristalino orientadas <100> (10 x 10 x 1 mm). Anterior a introdução das amostras no reator de HFCVD, todos os filamentos de tungstênio utilizados (4 filamentos por ensaio, diâmetro = 0,25 mm, comprimento = 66 mm) foram pré-carburizados durante 30 minutos numa atmosfera de H2 com 2% de CH4 para evitar contaminação dos filmes depositados pelo tungstênio oriundos dos filamentos. O reator de HFCVD utilizado nos experimentos está disposto na figura 9. Reator HFCVD Pirômetro Bomba de Vácuo Figura 9. Reator de HFCVD utilizado nos experimentos. Fonte: Autor. CICECO – Aveiro. Todos os ensaios foram realizados utilizando uma distância filamento/amostra de 5 mm, um fluxo de gás de 100 ml/min, uma pressão de 50000 Pa (50 mbar) e uma temperatura de filamento de 2300 ºC. 23 Inicialmente, escolheu-se duas composições de gases para promover a formação de um filme de NCD afim de se optar, para o restante dos experimentos, pela composição que resultasse na menor densidade de nucleação de diamante, afim de se estudar fatores que influenciam na mesma. Após a escolha da composição dos gases e anteriormente à deposição de NCD, os substratos de silício foram pré-tratados em duas etapas. Na primeira etapa, as amostras de Si foram sujeitas a dois diferentes tratamentos de ativação superficial (SAI, SAII) por 30 minutos no reator de HFCVD; sendo que as condições utilizadas estão dispostas no quadro 3. Estes pré-tratamentos foram baseados no trabalho pioneiro desenvolvido por S. Rotter [6]. Na segunda etapa, as amostras foram imersas em uma suspenção de pó de diamante de tamanho 0,5 - 1µm utilizando etanol (A) e n-hexano (B) como solvente e foram submetidas a agitação ultrassônica por 30 minutos. Ao final do pré-tratamento, as amostras foram lavadas com etanol e secadas ao ar. Quadro 3. Parâmetros utilizados no pré-tratamento das amostras SAI SAII Ts (ºC) H2 (ml.min-1) CH4 (ml.min-1) Ar (ml.min-1) Tf (ºC) P (mbar) t (min) 700 800 98.5 98.5 1.5 1.5 - 2300 2300 50 50 30 30 Os parâmetros estudados e controlados no trabalho presentes nos quadro 4 e 5 são: Ts (Temperatura do Substrato), composição dos gases, Tf (Temperatura do Filamento), P (pressão interna) e t (tempo). Crescimentos de filmes de NCD foram amplamente estudados anteriormente à realização deste trabalho no mesmo reator de HFCVD. E, as condições utilizadas no prétratamento superficial assim como no processamento das amostras estão dispostos nos quadros 3 e 4. As temperaturas do filamento e do substrato foram medidos com um pirômetro de duas cores RAYTEK (RAYMR1-SCSF) e um termopar tipo-K inserido no porta amostra, respectivamente. 24 Quadro 4. Parâmetros utilizados no processamento das amostras Pré-tratamentos Deposição Ts Ar H2 CH4 Tf P SA Riscagem -1 -1 -1 (ºC) (ºC) (mbar) (ml.min ) (ml.min ) (ml.min ) - B B A,B I A,B II A,B 700 700 750 700 750 800 750 td (h) 8,8 87,2 3,6 2300 50 3 81,2 18 0,8 2300 50 3 I – Condições de crescimento de filmes de diamante microcristalinos (MCD) em HFCVD: fluxo de gás em 100 ml.min-1 (98,5% de H2, 1,5% de CH4), pressão de 50 mbar, Ts de 700 ºC, Tf de 2300 ºC e td de 30 minutos. II – Condições de crescimento de filmes de diamante microcristalinos (MCD) em HFCVD: fluxo de gás em 100 ml.min-1 (98,5% de H2, 1,5% de CH4), pressão de 50 mbar, Ts de 800 ºC, Tf de 2300 ºC e td de 30 minutos. Para caracterizar as amostras foram utilizadas a microscopia eletrônica de varredura (MEV – alta resolução) e a espectroscopia µ-Raman UV (325 nm de um laser He-Cd). 25 4. Resultados e Discussões 4.1. Composição dos gases Todas as deposições foram realizadas mantendo-se a relação CH4/H2 fixa em 0,04, uma vez que em estudos anteriores foi verificado como sendo a melhor relação entre CH4/H2 em misturas de gases Ar/CH4/H2. Os filmes obtidos nessas condições apresentam tamanho de cristais de ~15nm, taxa de crescimento de ~1µm h-1 e menor quantidade de material grafítico [4]. No presente trabalho verificou-se que aumentando a percentagem de argônio na mistura gasosa se conduz a uma redução na taxa de nucleação/crescimento, como pode ser verificado ao analisar a figura 10. Estes resultados estão de acordo com o estudo realizado por Loh et al para percentuais de Ar superiores a 50% [5]. ↓ % Ar ↑ % Ar Figura 10. Micrografias obtidas via Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) das amostras processadas com 8,8 (baixo %Ar) e 81,2% (alto %Ar) de argônio, respectivamente. A pureza das fases assim como o tipo de diamante formado podem ser verificados analisando os espectros de micro-Raman presentes na figura 11. A altura do pico entre 1500 e 1600 cm-1 permite avaliar a quantidade de fase grafítica (banda ‘G’) presente na amostra, referente ao carbono tipo sp2 [5]. As bandas localizadas em 1170 e em 1470 cm-1 são atribuídas ao trans-poliacetileno, que é um composto químico polimérico formado no contorno de grão de dimensões nanométricas e estão sempre presente em filmes de diamante nanocristalino [26]. Já aos 1332 cm-1 tem-se o pico característico do diamante, e em ~13501370 cm-1 o pico referente à banda ‘D’ desordenada da grafita [4,26]. Na figura 11, nota-se utilizando uma menor percentagem de argônio o NCD crescido apresenta um espectro com maior quantidade de fases não-diamante (picos referentes ao trans-poliacetileno, banda D e G da grafite). Já para uma maior percentagem de argônio o filme de NCD possui um espectro 26 mais próximo de um diamante microcristalino, com um pico mais intenso referente ao diamante em ~1332 cm-1 [26] e um pico menos pronunciado referente ao trans-poliacetileno em ~1170 cm-1. Como um dos objetivos deste trabalho é estudar a influência do pré-tratamento na nucleação de NCD, a mistura gasosa escolhida para o decorrer do trabalho foi a que utilizou 81,2% de argônio, 18% de hidrogênio (H2) e 0,8% de metano (CH4), ou seja, a que ocasiona uma menor densidade de nucleação do diamante. 1332 Intensidade (u.a.) 1580 1370 1170 Alto %Ar Baixo %Ar 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 -1 Raman Shift (cm ) Figura 11. Espectro µ-Raman das amostras processadas com 8,8 (baixo %Ar) e 81,2% (alto %Ar) de argônio. 27 4.2. Pré-tratamento Para se verificar a influência do pré-tratamento de ativação superficial (SA) na nucleação e no crescimento de filmes de diamante nanocristalino, as amostras foram analisadas após os pré-tratamentos superficiais e após a deposição dos filmes de NCD. Os parâmetros utilizados no pré-tratamento estão presentes na tabela 3 e os mesmos já haviam sido previamente estudados para o crescimento de filmes utilizando a técnica de HFCVD. Na figura 12 está disposta a micrografia da superfície do silício sem pré-tratamento obtida via MEV de alta resolução. Figura 12. Micrografia obtida via MEV de alta resolução da superfície de silício sem pré-tratamento. Na figura 13, estão dispostas as micrografias obtidas via Microscopia Eletrônica de Varredura de Alta Resolução ilustrando as diferentes condições superficiais depois dos prétratamentos realizados e anteriores à deposição do NCD. SAI a SAI-A c SAI-B e SAII b SAII-A d SAII-B f 200 nm Figura 13. Micrografias obtidas via MEV da superfície de silício após a etapa de pré-tratamento, antes da deposição. a) à b) após exposição à condições de deposição em HFCVD utilizando duas diferentes condições SAI e SAII; seguido por agitação ultrassônica em suspenção de pó de diamante nanométrico em etanol (A) c) e d); e em n-hexano (B) e) e f). 28 As amostras 13(a) e 13(b) foram submetidas apenas ao tratamento de ativação superficial, anteriores à riscagem em ultrassons. Nota-se que houve uma alteração na superfície em comparação ao estado inicial, figura 12. Analisando as micrografias fica evidente que houve uma alteração mais pronunciada na superfície relativa ao pré-tratamento SAI, 13(a), onde nota-se a deposição de partículas da ordem de 20 nm. Anterior à deposição de NCD, os substratos são submetidos à segunda etapa do prétratamento, que consiste na riscagem das amostras imergindo-as em uma suspensão contendo partículas de diamante em etanol (A) e em n-hexano (B) por 30 minutos em ultrasson. As micrografias referentes às amostras após a riscagem são 13(c) e (d) (riscagem em etanol) e 13(e) e (f) (riscagem em n-hexano). Analisando as micrografias, nota-se que a maior eficiência da riscagem ocorre quando se utilizou como solvente o etanol (A). Esta maior eficiência do etanol como solvente pode ser atribuída à maior viscosidade do mesmo (η=1.19x10-3 Pa.s) em relação ao n-hexano (η=3,26x10-4 Pa.s), o que força as partículas de diamante a ficarem em suspensão, aumentando assim a eficiência na riscagem. Após agitação ultrassônica, a superfície limpa do substrato apresenta uma fina camada contínua, no caso do SAI, como pode ser evidenciado nas figuras 13(c) e (e). Para o pré-tratamento SAII não houve a formação de um filme carbonáceo contínuo, figura 13 (d) e (f). Diferentes modificações superficiais promovem nucleações e crescimentos de filmes de NCD distintas, e os filmes crescidos estão dispostos na figura 14. Para se avaliar a real influência dos pré-tratamentos utilizados foram processadas amostras onde não houve prétratamento adicional, apenas riscagem utilizando diamante em suspensão no etanol (A) e no n-hexano (B), figuras 14(a) e (b), respectivamente. Através da figura 14, pode-se analisar os pré-tratamentos realizados e compará-los com as amostras depositadas sem o pré-tratamento em reator. Nesta análise fica evidenciada a influência do pré-tratamento de ativação superficial (SA) ao se comparar as figuras 14(a) e (b) com as demais. Com o pré-tratamento de ativação superficial nota-se um incremento na densidade de nucleação do diamante. Este procedimento aumenta significativamente a densidade de nucleação de 109 – 1010 núcleos/cm2 [8], para a riscagem sem pré-tratamento, para densidades superiores a 1012 núcleos/cm2 para as amostras que são submetidas a prétratamentos similares ao realizado [7]. Esta maior eficácia na deposição pode ser atribuída à formação de uma fina camada carbonácea na superfície das amostras que age como uma 29 camada protetora ao ataque inicial do hidrogênio atômico [9], aumentando assim a eficiência da deposição de filmes de diamante nanocristalino. Esta fina camada de carbono amorfo permite que partículas de diamante sejam uniformemente distribuídas pelo substrato durante o crescimento do filme [21]. Este filme carbonáceo está presente nos substratos em que fez-se o pré-tratamento de ativação superficial SAI (figura 14 (c) e (d)). A a B b I-A c I-B d II-B f II-A e 10 µm Figura 14. Micrografias obtidas via MEV de alta resolução da superfície das amostras após a deposição de diamante nanocristalino utilizando uma Ts = 750 ºC. (a) e (b) são amostras que onde não houve prétratamento em reator de HFCVD, apenas riscagem em solução contendo pó de diamante em suspensão no etanol (A) e n-hexano (B), respectivamente. Comparando os dois tratamentos de ativação superficial, nota-se que o SAI é o que induz ao maior número de aglomerados de diamante após 3 horas de deposição, figuras 14(c) e (d). Porém, mesmo utilizando o SAII têm-se uma maior densidade de nucleação em relação ao pré-tratamento convencional (figura 14 (a) e (b)). 30 Ao se analisar o solvente utilizado para riscagem, comparando (A) com (B) nota-se uma maior eficiência para a riscagem com etanol com exceção do pré-tratamento SAII em que a riscagem em n-hexano se mostrou mais eficiente. 31 4.3. Temperatura do substrato A temperatura do substrato no pré-tratamento influencia diretamente na densidade de nucleaçao do NCD. Comparando os pré-tratamentos SAI e SAII, em que única diferença entre ambos é a temperatura de substrato, no primeiro 700 ºC e 800 ºC no segundo, nota-se uma maior densidade de nucleação para as amostras submetidas ao pré-tratamento de ativação superficial SAI (Ts = 700 ºC). Com o incremento da temperatura houve uma redução significativa na densidade de nucleação. A temperatura do substrato influencia diretamente na difusão superficial e nos efeitos de recombinação de espécies ativas; além do incremento da temperatura propiciar uma maior mobilidade destas espécies na superfície da amostra. Com isto, pode-se formar uma menor quantidade de carbono amorfo o que acarretará em uma menor densidade de nucleação. Para o pré-tratamento em que se obteve os melhores resultados, SAI, foram utilizadas três temperaturas de substrato distintas (700, 750 e 800 ºC) para deposição do diamante nanocristalino em substrato de silício utilizando a técnica de HFCVD. As micrografias obtidas via microscopia eletrônica de varredura (MEV) encontram-se dispostas na figura 15. A temperatura do substrato na deposição tem importância significativa na taxa de crescimento de filmes de NCD, assim como na qualidade do mesmo. Segundo Loh et al [5], a temperatura do substrato deve ser reduzida durante a deposição quando se utiliza alto teor de argônio na mistura gasosa, para evitar a deposição de grafita. No presente estudo a temperatura ótima do substrato na deposição foi de 750 ºC, figura 15. Esta característica pode ser visualizada analisando os espectros de µ-Raman presentes na figura 16, pois quando a temperatura do substrato foi elevada para 800 ºC houve a formação de uma camada de carbono não-diamante (espectro em detalhe, figura 15), e apenas alguns cristais de diamante sobre esta camada. 32 700ºC 750ºC 800ºC 800ºC Intensidade (u.a.) 1580 1370 986 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 -1 Raman Shift (cm ) Figura 15. Micrografias obtidas via MEV das amostras na condição de pré-tratamento SAI – A, mostrando a influência da temperatura do substrato na deposição do diamante nanocristalino, utilizando misturas gasosas ricas em argônio. Abaixo espectro µ-Raman da região em detalhe da amostra obtida a temperatura de substrato de 800 ºC. A temperatura do substrato, além de efeitos de recombinação e difusão superficial, influencia na temperatura dos gases, devido a pequena distância entre os filamentos e o substrato [4]. O espectro de µ-Raman da camada inferior da amostra obtida com uma temperatura de substrato de 800 ºC (figura 15) é característico de um material conhecido como DLC “Diamond Like Carbon”, consistindo em um pico pouco intenso representando a banda D e um proeminente pico representando a banda G. Este material possui ligações entre carbono do tipo sp2 e uma elevada dureza, porém sua resitência mecânica é menor que a do 33 diamante. No mesmo espectro nota-se a ausência do pico atribuído ao diamante, ~1332 cm-1; o incremento no ruído do sinal deve-se à redução da espessura da camada depositada. O pico a aproximadamente 984 cm-1 representa a segunda ordem do silício (Si) referindo-se ao substrato utilizado no experimento. 1580 Intensidade (u.a.) 1332 1370 1170 800ºC 750ºC 700ºC 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 -1 Raman Shift (cm ) Figura 16. Espectro µ-Raman das amostras obtidas com deposições à diferentes temperaturas de substrato. 34 5. Conclusões No desenvolvimento do trabalho concluiu-se que altos teores de argônio conduzem a baixas taxas de crescimento de diamante nanocristalino (NCD). Os pré-tratamentos de ativação superficial utilizados nos experimentos aumentam o número de “sementes” responsáveis pelo aumento na densidade de nucleação. Aliado ao pré-tratamento SAI, a riscagem em ultrassons utilizando como solvente o álcool etílico se mostrou mais eficiente quanto ao aumento na densidade de nucleação do diamante nanocristalino. Utilizando uma temperatura 700 ºC (Ts) no pré-tratamento obteve-se uma maior deposição de diamante sobre o substrato de silício. A temperatura do substrato que se mostrou mais eficiente na deposição de NCD foi 750 ºC. Abaixo desta temperatura não houve a formação de um filme e acima desta se formou um filme de DLC “Diamond Like Carbon”. 35 5.1. Sugestões para trabalhos futuros Estudar a influência do pré-tratamento de ativação superficial (SA) em outros substratos, como no de Nitreto de Silício (Si3N4), para o crescimento de filmes de diamante nanocristalinos (NCD), microcristalinos (MCD) e ultrananocristalinos (UNCD) em reatores de CVD por filamento quente. Estudar as composições gasosas utilizadas no pré-tratamento de SA assim como o tempo em reator de HFCVD visando estabelecer os parâmetros ótimos de densidade de nucleação do diamante nanocristalino. Verificar a melhoria nas propriedades de adesão filme/substrato com e sem a utilização do pré-tratamento de ativação superficial (SA) para filmes de diamante. 36 6. Referências [1] VILA, M.; AMARAL, M.; OLIVEIRA, F.J.; SILVA, R.F.; FERNANDES, A.J.S.; SOARES, M. R.; Residual stress minimum in nanocrystalline diamond films. Applied Physics Letters 89, 2006. [2] AMARAL, M.; Revestimentos de diamante nanocristalino para aplicações biomédicas. 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