1
UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS
DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”:
UM ESTUDO DE CASO
NATAL
2012
2
MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS
DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”:
UM ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação stricto sensu em Administração, da
Universidade Potiguar, como requisito para
obtenção do título de Mestre.
Linha de Pesquisa e
Estratégica de Pessoas.
Temática:
Gestão
Orientadora: Profª. Drª. Lydia Maria Pinto Brito
Coorientadora: Profª. Dr ª. Fernanda Fernandes
Gurgel
NATAL
2012
3
S237D Santos, Maria Érica de Lira.
Desenvolvimento Local e “O Maior São João do Mundo”: um estudo de caso /
Maria Érica de Lira Santos – Natal, 2006.
63f.
Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Potiguar. Pró-reitoria de
Pesquisa e Pós-Graduação.
1. Administração – Dissertação. 2. Desenvolvimento Local. Cultura. Atores
Sociais.– Dissertação. I.Título.
RN/UnP/BSFP
CDU:658(043.3)
4
MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS
DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”: UM
ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade
Potiguar, como requisito parcial para a
obtenção do Titulo de Mestre, na área de
concentração Gestão Estratégica de Pessoas.
Data da aprovação: 23/10/2012
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Profª. Dr ª. Lydia Maria Pinto Brito
Orientadora
Universidade Potiguar
___________________________________
Profª. Dr ª. Fernanda Fernandes Gurgel
Universidade Potiguar (Coorientadora)
___________________________________
Profª. Dr ª. Patrícia Whebber S. de Oliveira
Universidade Potiguar
____________________________________
Profº. Dr º. Washington Jose de Souza
UFRN
5
DEDICATÓRIA
A Deus, por ser justo e maravilhoso.
Aos meus pais José Natalício dos Santos e Maria das Graças de Lira Santos, por me
darem suporte em tudo que eu faço na vida, pessoas pelas quais sinto admiração,
respeito e orgulho.
Ao meu esposo Eder Cavalcante de Souza que está sempre ao meu lado me
apoiando e incentivando, pessoa a quem amo muito e tenho profundo orgulho de ser
companheira de vida.
À Darize, Janice e Driele, irmãs queridas e sempre presentes em meu cotidiano.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me guiar em todos os caminhos, por mais que às vezes eu não queira
enxergar, sempre esteve comigo.
Aos meus pais, pela educação concebida e exemplo de vida que são para mim.
Ao meu esposo, sempre presente, em todos os momentos, fonte de força e
inspiração.
A todos os meus companheiros de mestrado.
À professora Lydia Brito, pela atenção e eficiência com que sempre me atendeu e
por ser uma pessoa maravilhosa e fonte de inspiração.
À professora Fernanda Gurgel, pelo grande suporte e ajuda à pesquisa.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Potiguar.
A Roberto Flávio Guedes Barbosa, pela liberação do trabalho para o mestrado, me
incentivando a progredir profissionalmente
Aos moradores de Campina Grande – PB, em especial ao Sr. Vando que foi de uma
grande presteza em atender e ajudar durante a pesquisa.
À Prefeitura Municipal de Campina Grande, em especial ao Prefeito que
compreendeu a importância desta pesquisa e nos abriu as portas necessárias para a
realização da mesma.
7
RESUMO
Para Ribeiro (2008) o Desenvolvimento Local (DL) pode ser entendido como aquele
processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que, mediante o
alinhamento com a identidade e a cultura do lugar; e o aproveitamento eficiente dos
recursos internos disponíveis em uma zona determinada é capaz de estimular seu
crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da
comunidade local, num movimento da base comunitária para a cúpula política e
administrativa. Nesse contexto, este estudo de campo, de natureza qualitativa e
descritiva, tem como ponto de partida o seguinte problema: como os atores sociais
percebem a influência do fenômeno cultural para o DL da cidade de Campina
Grande-PB. Tem como objetivo geral analisar a percepção dos atores sociais sobre
a influência da festa “O Maior São João do Mundo” para o DL da cidade de Campina
Grande. Como referencial de análise, utilizou-se a Sociologia do Desenvolvimento
a partir de Teisserenc (1994), que defende a importância da emergência de atores
sociais e sua articulação em redes de relacionamentos para elaboração de projetos
coletivos e criação de instituições viabilizadoras das propostas de interesse do
conjunto da comunidade local. A partir deste fenômeno estudado, pode-se aferir que
existe um grande potencial no local para a realização de movimentos de influência
da base para a cúpula política e administrativa, indícios de possibilidade de
concretização de DL.
Como sugestão para outras pesquisas indica-se o
levantamento de outros dados complementares para estudar o desenvolvimento
local sustentável a partir de outros pressupostos não adotados neste estudo como
educação, saúde, distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida do conjunto
da população.
Palavra-Chave: Desenvolvimento Local. Cultura. Atores Sociais.
8
ABSTRACT
For Ribeiro (2008) Local Development (DL) can be understood as a process that
reactivation of the economy and to foster local company, by aligning with the identity
and culture of the place, and the efficient use of internal resources available in a
given area is able to stimulate economic growth, create jobs and improve the quality
of life of the local community, a community-based movement for political and
administrative umbrella. In this context, this field study, qualitative and descriptive,
has as its starting point the following problem: how social actors perceive the
influence of the cultural phenomenon for the DL of Campina Grande-PB. It aims at
analyzing the perception of social actors about the influence of the party "The
Greater Saint John of the World" for the DL of Campina Grande. As a benchmark
analysis, we used the Sociology of Development from Teisserenc (1994), which
argues for the importance of the emergence of social actors and their articulation in
social networks for developing collective projects and institution building enablers of
proposals of interest the whole local community. From this phenomenon, we might
infer that there is great potential in place to perform movements influence the base to
the dome and administrative policy, evidence of the possibility of achieving DL. As a
suggestion for further research indicates the lifting of other complementary data to
study local sustainable development from other assumptions not used in this study as
education, health, income distribution and improving the quality of life of the whole
population.
Keyword: Local Development. Culture. Social Actors.
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – IDHM de Campina Grande (1991/2000).................................................16
Quadro 2 – Estratégias Fundamentais de Ação .......................................................32
Quadro 3 – Características do Desenvolvimento..................................................... 38
Quadro 4– Experiências Internacionais.....................................................................43
Quadro 5 – Sinalizações de Traços da Cultura Brasileira.........................................56
Quadro 6 – Categorias Analíticas..............................................................................58
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Etapas do Desenvolvimento.................................................................... 37
Figura 2 – Compreensão dos Paradoxos................................................................. 40
Figura 3 – Organograma da PMCG para organização do evento............................ 61
11
LISTA DE SIGLAS
DL – Desenvolvimento Local
IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
AO – Aprendizagem Organizacional
ASPJU – Associação Paraibana de Quadrilhas Juninas
CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas
PMCG – Prefeitura Municipal de Campina Grande
ONU – Organização das Nações Unidas
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 14
1.1 Contextualização......................................................................................... 14
1.2 Problema / Questões da Pesquisa............................................................ 15
1.3 Justificativa.................................................................................................. 18
1.4 Objetivos..................................................................................................... 21
1.4.1 Objetivo Geral...................................................................................... 21
1.4.2 Objetivos Específicos.......................................................................... 21
1.5 Estrutura do trabalho.................................................................................. 22
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO................................................................................... 23
2.1 Desenvolvimento: conceitos clássicos de Desenvolvimento e
Desenvolvimento Local........................................................................................ 23
2.1.1 Conceitos Clássicos de Desenvolvimento....................................... 24
2.1.2 Desenvolvimento local (DL)............................................................... 27
2.2 Abordagem Sociológica de Desenvolvimento Local..................... ........ 31
2.2.1 Atores Sociais...................................................................................... 45
2.2.2 Rede de Atores Sociais....................................................................... 46
2.2.3 Projeto Coletivo................................................................................... 47
2.2.4 Instituições para Viabilização do Desenvolvimento Local
Sustentável...........................................................................................................
50
2.3.Cultura......................................................................................................... 50
2.3.1 Cultura Brasileira................................................................................ 52
3 METODOLOGIA.................................................................................................. 54
3.1 Tipo de Pesquisa........................................................................................ 54
3.2 Área de Abrangência.................................................................................. 55
3.3 Plano de Coleta de Dados......................................................................... 56
3.4 Categoria Analíticas................................................................................... 56
3.5Tratamento dos Dados............................................................................... 58
4 ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................... 61
4.1 Ambiência da Pesquisa............................................................................. 61
4.1.1 São João de Campina Grande: Aspectos Históricos....................... 61
4.1.2 Evolução Histórica do Maior São João do Mundo........................... 62
13
4.2 Caracterização dos Pesquisados............................................................. 63
4.3 Resultados.................................................................................................. 64
4.3.1 O SIGNIFICADO DO “MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”........................ 64
4.3.2 EMERGÊNCIA DOS ATORES SOCIAIS................................................ 70
4.3.3 FORMAÇÃO DE REDES DE ATORES SOCIAIS................................... 71
4.3.4 PROJETO COLETIVO............................................................................
74
4.3.5 SISTEMA INSTITUCIONAL....................................................................
76
4.3.6 CULTURA E CULTURA BRASILEIRA...................................................
78
4.4 Criação de Instituições.............................................................................. 80
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................
81
REFERÊNCIAS....................................................................................................
83
APÊNDICES..........................................................................................................
89
APÊNDICE A.......................................................................................................... 90
APÊNDICE B.......................................................................................................... 94
14
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
Atualmente, discutem-se quais os caminhos do desenvolvimento e de que
forma esse desenvolvimento envolve as condições sociais, culturais, ambientais e
políticas. Todos esses fatores influenciam na qualidade de vida humana, portanto a
participação nas escolhas deve ser de todos. A busca de soluções para os
problemas sociais permite que o homem exerça sua cidadania de forma plena, cujos
princípios estão norteados por valores como a igualdade, liberdade, justiça
econômica e assistência mútua. Portanto, a construção desse ator social passa pelo
projeto coletivo que viabiliza a sociabilidade humana em que o maior valor é o
exercício pleno da cidadania.
No âmbito dessa discussão complexa surge a política do Desenvolvimento
Local (DS) que, segundo Brito (2006), é um processo de articulação, coordenação e
inserção
dos
empreendimentos
empresariais,
associativos
e
individuais,
comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração sócio-econômica
de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda.
No contexto atual, a necessidade incessante por alternativas que possam
impulsionar o desenvolvimento local tem sido objeto de discussões nos últimos
tempos. O objetivo está relacionado ao desenvolvimento eficaz que esteja alicerçado
num tripé que envolve crescimento econômico, justiça social e preservação
ambiental.
Essa necessidade se torna ainda mais urgente quando se analisa o
desenvolvimento atual dos municípios no Brasil, em especial do Nordeste. Diante
disso, a necessidade de desenvolver alternativas para tentar dinamizar o
desenvolvimento local torna-se mais urgente por meio da valorização cultural de seu
povo. Pode-se inserir a atividade turística como uma possível alternativa para
dinamizar o desenvolvimento local e contribuir para que aconteça de forma mais
justa e seja realizada por meio de atividades turísticas nos espaços locais.
Proporcionaria, dessa maneira, uma possibilidade real para o desenvolvimento, não
só no âmbito local, mas também no âmbito regional.
15
Assim, segundo Ribeiro (2007) o desenvolvimento pode ser entendido como
aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que,
mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona
determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e
melhorar a qualidade de vida da comunidade local.
A festa “O Maior São João do Mundo” teve sua institucionalização e seu início
na década de 1980 e alcançou expressão massiva, aonde milhares de pessoas de
várias partes do país e do exterior vêm objetivando participar desse evento que
expressa a cultura nordestina. São trinta dias de festa - um empreendimento público
de caráter popular e promocional para o turismo cultural da região. A realização
dessa festa, considerada um megaevento na localidade e na região, passou a
estabelecer novas relações econômicas, políticas, culturais e turísticas do Estado
com a localidade e com os demais municípios da região.
1.2 Problema/Questões de Pesquisa
O desenvolvimento de um município depende de suas potencialidades locais
e para impulsionar este desenvolvimento é importante conhecer o potencial da
região ou município o qual deve ser aproveitado de maneira que contribua para a
promoção de um desenvolvimento sustentável.
No entanto, para que isso ocorra, há necessidade de desenvolver políticas
que tenham como principal objetivo proporcionar a oferta de trabalho e
consequentemente renda para a população local, de modo a promover uma
melhoria na qualidade de vida dessa população.
Existe hoje uma grande discussão sobre as políticas que norteiam o
“Desenvolvimento Local Sustentável” que vem ganhando espaço e tornando-se uma
alternativa de fonte econômica concreta de renda, visível, principalmente, em países
em desenvolvimento, afetados pelo clima desfavorável da economia internacional.
Com base nesse contexto de análise é que surgiu a necessidade de se propor
a presente pesquisa, voltada especificamente para um dos eventos mais importantes
no contexto cultural da cidade de Campina Grande, situada no Estado da Paraíba.
16
Esse evento vem ganhando, a cada ano, uma massiva participação de pessoas de
diversos estados brasileiros, como também de pessoas de países estrangeiros.
Mesmo reconhecendo o valor cultural que esse evento representa para a sociedade
campinense, questionam-se os benefícios do evento para a melhoria das condições
de vida dessa população, uma vez que os patrocinadores vinculam apenas uma
visão para atenderem às organizações do evento sem haver uma preocupação com
investimentos no que diz respeito aos problemas socioeconômicos da comunidade
local. Constata-se que a cada ano a população local se mobiliza com o intuito de
ganhar seu sustento em apenas trinta e um dias de duração do evento. Diversas são
as alternativas e possibilidades que emergem a partir do evento para: vendedores
ambulantes, donos das barraquinhas de artesanato, entre outros comerciantes que
expõem nesse período, seus produtos e serviços, além dos benefícios para a
população local, de uma maneira geral.
O município de Campina Grande possui um Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal – IDHM que tem variado nos períodos de 1991 a 2000, de acordo
com o Atlas de Desenvolvimento Humano, verificados no quadro abaixo:
Quadro 1 - IDHM de Campina Grande (1991/2000)
ANO
IDMH
Renda
Longevidade
Educação
1991
0,647
0,614
0,585
0,741
2000
0,721
0,678
0,641
0,844
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD (2012)
A referida festa junina pode contribuir nesses índices, pois de acordo com os
pressupostos teóricos “o desenvolvimento local sustentável é um processo interno
de uma determinada localidade capaz de proporcionar a melhoria das condições de
vida da sociedade, respeitando os limites e as possibilidades dos seus recursos
naturais” (BUARQUE, 1999, p. 35).
Neste contexto, esta pesquisa, tem como ponto de partida o seguinte
problema: como os atores sociais percebem a influência do “Maior São João do
Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande-PB?
17
A Condição da pesquisa se apoiará em algumas questões que embasam
expectativas quanto aos resultados a alcançar. Tais questões são apresentadas a
seguir:
1. O fenômeno cultural “O Maior São João do Mundo” mobiliza e contribui na
emergência de atores sociais em Campina Grande?
2. Existe no contexto do evento a formação de redes de atores sociais e
parcerias entre a sociedade civil organizada, poder público e patrocinadores,
na viabilidade de um projeto coletivo do fenômeno cultural do “Maior São João
do Mundo”?
3. Existe um projeto coletivo no contexto das organizações que realizam o
evento cultural em estudo?
4. Que modelo de Sistema Institucional é utilizado na promoção do evento?
5. Quais os elementos da cultura brasileira que permeiam a realização do
evento?
18
1.3 Justificativa
A relevância desta pesquisa, para a sociedade, se apoia nas premissas da
resolução 44/228 da Assembléia Geral de 22 de dezembro de 1989, adotada
quando as nações do mundo convocaram a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio ambiente e Desenvolvimento. Do resultado desses diversos encontros, surgiu o
compromisso registrado na Agenda 21 (1989) a qual se dispôs entre outros
objetivos, o de voltar-se para os problemas urgentes de hoje, como também, de
preparar o mundo para os desafios do próximo século. Assim, reflete um consenso
mundial e um acordo político em nível mais alto no que se refere a desenvolvimento
e cooperação ambiental. De acordo com a Agenda 21, o êxito de sua execução é
responsabilidade, sobretudo, dos Governos e, para concretizá-la, são cruciais as
estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais. E a cooperação
internacional deverá apoiar e complementar tais esforços elaborar uma nova
proposta que possa atender aos problemas mais urgentes, entre eles, “o estímulo a
políticas econômicas favoráveis ao desenvolvimento sustentável”.
Do ponto de vista do conhecimento, esta pesquisa justifica-se pela
necessidade de reflexão sobre a mobilização, destinação e utilização eficaz de
recursos internos e externos no fomento ao desenvolvimento sustentável. Sabe-se
que, na maioria das vezes, utilizam-se os termos desenvolvimento e crescimento
como
sinônimo,
porém
o
crescimento
é
condição
indispensável
para
o
desenvolvimento, mas não condição suficiente. Enquanto o crescimento refere-se a
incrementos quantitativos, o desenvolvimento implica melhorias qualitativas
(RESENDE, 2000, p. 70).
Baseada nesses princípios e reflexões, a temática sobre o Desenvolvimento
Local vem ganhando amplo espaço de discussão atualmente e está presente nos
discursos e declarações de princípios e estratégias de governo, partidos, empresas,
ONGs, fundações, instituições financeiras e dos principais organismos mundiais.
Gutierrez (2001, p. 24) argumenta que é preciso ficar alerta com as propostas de
“autoajuda” enfatizada pelas ações do Estado e de suas instituições, explicando que:
“Há fragilidade econômica principalmente nos aspectos ‘produtivistas’, por não
conter elementos suficientes para desenvolver a identidade comunitária e preparar
uma transição cultural”.
19
Segundo Gutiérrez (2001), um problema visível e com frequência surge em
formas de apaziguamento político, de geração de emprego a baixo custo, de
ocupação de mão-de-obra ociosa em terras de baixa produtividade, de transferência
de custo de infraestrutura e manutenção, bem como de liberação de custos das
cargas sociais.
Para Buarque (1998) o Desenvolvimento Local objetiva fortalecer os
empreendimentos empresariais associativos e os micros empresários para que
gerem empregos sustentáveis. Dessa maneira, é uma resultante direta da
capacidade dos atores e das sociedades locais se estruturarem e se mobilizarem,
com base em suas potencialidades e em sua matriz cultural, para definir e explorar
suas potencialidades e especificidades, buscando competitividade num contexto de
rápidas e profundas transformações. No novo paradigma de desenvolvimento, isto
significa, antes de tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica dos recursos
humanos, domínio do conhecimento e da informação, elementos centrais da
competitividade (BUARQUE, 1999. p. 34).
A reflexão de Buarque (1999) evidencia melhor a importância da temática
em estudo, na medida em que parte do princípio que o desenvolvimento local
sustentável é um processo interno de uma determinada localidade capaz de
proporcionar a melhoria das condições de vida da sociedade, respeitando os limites
e as possibilidades dos seus recursos naturais.
A proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais
locais permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no
consenso com tais atores, capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os
agentes tenham maiores margens de autonomia nas decisões” (CEPAL, 1990, p.
917).
A implementação do projeto de Desenvolvimento Local voltado ao fenômeno
do “Maior São João do Mundo”, pode trazer benefícios significativos para a cidade,
como forma de emergir novos atores compromissados em resignificar a identidade
cultural local. Benefícios esses que podem se concretizar por meio da negociação e
parcerias com instituições de fomento produtivo empresarial e a sociedade civil,
compromissada com a efetivação de uma cultura que promova o desenvolvimento
local.
Desse modo, justifica-se a importância da realização da pesquisa justamente
por reconhecer o valor que esse evento representa para a comunidade local, bem
20
como pela própria dimensão que o evento vem alcançando nos últimos anos e para
comunidade acadêmica proporcionando material para futuros estudos sobre o tema.
O sucesso na implementação do projeto dependerá da criação de uma cultura
coletiva inscrita na memória coletiva e em rede associativa levada pela vontade de
se afirmar uma identidade regional.
21
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 Geral
Analisar a influência do “Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento
Local da cidade de Campina Grande-PB.
1.4.2 Específicos
1. Investigar se “O Maior São João do Mundo” mobiliza e contribui na emergência de
atores sociais em Campina Grande.
2. Verificar a existência de formação de redes de atores sociais.
3. Identificar a existência de um projeto coletivo no contexto das organizações que
realizam o evento cultural em estudo.
4. Pesquisar o modelo do sistema institucional utilizado na promoção do evento.
5. Estudar elementos da cultura brasileira que permeiam a realização do evento.
22
1.5 Estrutura do Trabalho
A dissertação está organizada por uma introdução que contém a
contextualização, a problematização, as questões do estudo, a justificativa e os
objetivos: geral e específicos.
Na sequência, existe uma revisão de literatura e o referencial construído na
temática “Desenvolvimento e Desenvolvimento Local”. Como referencial de análise,
tem-se a Sociologia do Desenvolvimento, a partir de Teisserenc (1994), que defende
a importância da emergência de atores sociais e sua articulação em redes de
relacionamentos para elaboração de projetos coletivos e criação de instituições
viabilizadoras das propostas de interesse do conjunto da comunidade local.
A parte seguinte do trabalho aborda os procedimentos metodológicos: tipo da
pesquisa, área de abrangência, plano da coleta de dados, categorias analíticas e
tratamento de dados.
Seguem, ainda: Ambiência da Pesquisa, São João de Campina Grande,
Evolução Histórica do Maior São João do Mundo, caracterização dos pesquisados e
resultados, seguidos pelas conclusões.
23
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Desenvolvimento: conceitos clássicos de Desenvolvimento e
Desenvolvimento Local
Neste século, várias estratégias adotadas pelos governos do país, como o
modelo desenvolvimentista implantado a partir dos anos de 1950, tiveram como
objetivo, modificar o modelo capitalista. Verifica-se, no entanto, que após meio
século da implantação do modelo de intervenção desenvolvimentista, ainda
permanecem os problemas relacionados à má distribuição de riquezas no Brasil e na
região Nordeste (BOURDIEU, 1997). A situação vem se agravando nos últimos
anos, a partir da década de 1980, com a emergência de novos padrões de
acumulação capitalista e das novas determinações do mundo do trabalho que
passam a exigir cada vez mais dos mercados a oferta de produtos e serviços de
qualidade superior; mão de obra capacitada e em sintonia com o conhecimento;
novas formas de organização; novas formas de gestão empresarial; e o acesso à
utilização de tecnologia de última geração (BOURDIEU, 1997).
Muito já se teorizou sobre a força que o capital adquiriu ao possuir o domínio
da ciência e tecnologia, tornando o confronto com a classe trabalhadora numa luta
cada vez mais desigual. O capitalismo estabeleceu patamares tecnológicos que vem
alcançando nas últimas décadas, o que faz aumentar o fosso que o separa do
trabalho e impossibilita qualquer negociação que reverta em redistribuição de renda.
Esse fato, além de baixar o poder de barganha da classe trabalhadora, dificulta uma
reflexão e uma consequente busca de solução para o crescente desemprego,
perdas das conquistas trabalhistas, pauperização e exclusão daqueles que vivem do
trabalho (TEIXEIRA, 1996; ANTUNES, 1995; LEITE, 1994; BOURDIEU, 1999).
Alguns segmentos da produção do conhecimento, notadamente na área da
administração (SENGE, 1995; DRUKER, 1995) defendem que está surgindo uma
nova era pós-capitalista cujo poder não é mais o do capital, mas o do conhecimento.
O olhar sociológico tem se voltado para esta questão quando passa a investigar as
posições que ocupam no espaço social as diversas categorias profissionais a partir
do domínio dos diversos capitais simbólicos / capital cultural (BOURDIEU, 1997).
24
2.1.1 Conceitos Clássicos de Desenvolvimento
A noção do desenvolvimento e o desenvolvimentismo são criados
simbolicamente, na visão de Leher (1998), quando do discurso sobre o Estado da
União realizado pelo presidente Harry Truman, dos Estados Unidos, em 1949.
Segundo Viscaíno Júnior (2008), nesse discurso, o desenvolvimento é reduzido a
um conjunto de técnicas possibilitadas pela utilização da ciência, com crescimento
da produtividade e a intensificação do comércio internacional. Com um grande
esforço institucional que envolve a criação e implementação acelerada do Plano
Marshall, a Organização das Nações Unidas - ONU, Banco Mundial, Organização do
Tratado do Atlântico Norte - OTAN, e a Aliança para o Progresso, promoveram a
difusão da nova crença de tornar universais o modo de vida e o sistema econômicopolítico americanos.
Na análise realizada por Nascimento (1986) a respeito dos modelos de
desenvolvimento econômico, este autor concebe a assimilação dos modelos de
desenvolvimento a partir de uma lógica que envolve formas de organização
econômica e de estrutura social do trabalho que são mais complexas ou menos
complexas. Segundo Viscaíno Júnior (2008) o grau de complexidade dessas
estruturas econômicas, nesse caso, envolve o estágio das forças produtivas, o
patamar de produção material com uso de tecnologias, a dimensão técnica do
trabalho, a geração de riqueza material e suas formas de apropriação e reprodução.
Sunkel (2001); Abramovay, Arbix e Zilbovicius (2001) também localizam, no
final da 2ª Guerra Mundial, a origem da teoria do desenvolvimento e, de certa forma,
com suas particularidades, realizam uma discussão política ao reafirmarem a
importância histórica para o pensamento econômico dessa teoria e dos seus
formuladores. A ideia que nos passam é a da existência de um movimento em favor
do desenvolvimento, e que, além de reunir importantes contribuições teóricas, acima
de tudo, foi um movimento político. A análise formulada por Comin (2001), embora
com outra preocupação, caminha no mesmo sentido, ou seja, reforça um movimento
político e radicalmente ideológico na construção da teoria do desenvolvimento da
forma como esta se concretizou no pensamento econômico latino-americano. Dessa
forma, sugere a ideia de um processo histórico que se construiu, acima de tudo,
25
como resultado de uma ideologia, de uma convicção movida por desejos de
transformações e expressões teóricas e filosóficas.
O Desenvolvimento também ocorreu no Brasil; para entender melhor é
necessário resgatar parte da história do pensamento econômico brasileiro,
caracterizado necessariamente, entre o período de 1945 a 1964. Quando se procura
estabelecer as bases do chamado “pensamento econômico”, Bielschowsky (1998)
analisa, entre outras questões, que as décadas de 1930, 1940 e 1950 serviram de
alicerce para a implementação do sistema industrial brasileiro, nesse período,
marcado pela rápida e profunda divisão do trabalho nacional, através de um
processo que implementou e difundiu significativamente o sistema produtivo em
transformação, “o progresso técnico mundial, até então praticamente confinado aos
limites do comércio exterior do país” (BIELSCHOWSK, 1998, p. 5).
Ao discutir o conceito de “desenvolvimentismo” na obra “Pensamento
Econômico Brasileiro”, Bielschowsky (1998), além de pressupô-lo enquanto proposta
ideológica de transformação da sociedade brasileira, definida pelo projeto
econômico, mostra alguns aspectos básicos que fundamentam essa corrente, entre
eles: a ideia de que a industrialização seria a via de superação da pobreza e do
desenvolvimentismo brasileiro; a noção de que não haveria meios de alcançar uma
industrialização eficiente e racional no Brasil através de espontaneidade das forças
de mercado. A ideia de que o Estado é quem seria o responsável por todo esse
planejamento e, consequentemente, viabilizaria a expansão almejada dos setores
econômicos e os instrumentos de promoção dessa expansão; e, finalmente, a ideia
de que o Estado imporia a execução da expansão, captando e orientando recursos
financeiros e promovendo investimentos diretos nos setores em que a iniciativa
privada fosse insuficiente.
As principais correntes do pensamento econômico que ajudam a entender os
pontos de vista dos economistas intelectuais que defendiam determinado interesse
econômico, na época, são: a corrente neoliberal que tinha como pressuposto básico
a defesa do sistema de mercado como fórmula básica de eficiência econômica; a
corrente desenvolvimentista, cujo planejamento da economia visava a intervenção
estatal e a socialista, e integrantes objetivavam defender os investimentos estatais
em setores básicos da economia e o controle de capital estrangeiro, como etapa
histórica de transição para o socialismo (BIELSCHOWSK, 1998, p. 39).
26
No momento, o que interessa para a proposta em estudo é o entendimento
sobre a concepção de “Desenvolvimentismo” que, segundo Bielschowsky (1998,
p.91) “foi a ideologia econômica de sustentação do projeto de industrialização
integral como forma de superação do atraso e da pobreza brasileiros”. Nesse
sentido, é possível distinguir dentro dessa abordagem, três correntes que completam
o eixo norteador dessa ideologia, a qual objetivava um projeto comum de formar um
capitalismo industrial moderno no país e a perspectiva comum de que, para isso, era
de fundamental importância planejar a economia e proceder a distintas formas de
intervenção governamental.
Três são as correntes que subdividem a proposta Desenvolvimentista, a
saber: no setor privado e no setor público. Este está compreendido em duas
vertentes: os “não-nacionalistas” e os “nacionalistas”. Na sequência dar-se-á ênfase
às principais ideias relativas ao contexto político da época, bem como os principais
defensores intelectuais das respectivas correntes na visão de (BIELSCHOWSK,
1998).
Ao
caracterizar
as
especificidades
relacionadas
no
setor
privado,
Bielschowsky (1998) relata que neste grupo encontravam-se economistas que
defendiam uma posição antiliberal e desenvolvimentista. Estes acreditavam que o
setor industrial teria um papel central a cumprir no futuro da economia nacional.
Nessa perspectiva, apoiavam o Estado diante da acumulação privada e
apresentavam diversas opiniões quanto ao grau de participação estatal que
convinha ao processo. No que diz respeito à participação do capital estrangeiro, não
é possível distinguir uma posição única e homogênea nessa corrente.
No setor público, observa-se que os que seguiam a linhagem dos
desenvolvimentistas “não nacionalistas”, combatiam a proliferação dos investimentos
estatais alegando que o Estado não deveria ocupar o espaço em que a iniciativa
privada pudesse atuar com maior eficiência. Assim demonstravam interesse pelo
capital estrangeiro, com preferência ao capital estatal. Entre outras questões ainda
davam ênfase à necessidade de controle da inflação e apoio às medidas de
estabilização monetária. Como principal mentor dessa proposta econômica
encontra-se Roberto Campos, diplomata, graduado em economia pela Universidade
de Columbia, onde se destacou nos anos de 1950 como um pensador da posição
desenvolvimentista. Trabalhou no projeto de industrialização do país e defendeu o
planejamento do desenvolvimento econômico. Além de defender a atração de
27
capitais estrangeiros, como a mineração e energia, atacou solução estatal para
investimentos com solução privada. Dentre as principais teses constata-se: a defesa
da industrialização; defesa do planejamento; planejamento seccional, ponto de
germinação e pontos de estrangulamento (BIELSCHOWSK, 1998, p. 125).
As novas formas que está assumindo o capitalismo nos países periféricos
não são independentes da evolução global do sistema. Contudo, parece
inegável que a periferia terá crescente importância nessa evolução, não só
porque cêntricos serão cada vez mais dependentes de recursos naturais
não reprodutíveis por ela fornecidos, mas também porque as grandes
empresas encontrarão na exploração de sua mão de obra barata um dos
principais pontos de apoio para firmar-se no conjunto do sistema
(FURTADO, 1974, p. 60).
Deste modo, a produção possível diante da fragilidade do meio ambiente
não pode ter os espaços estrangeiros como padrão de desenvolvimento. Enquanto a
economia humana tem admitido a degradação ambiental desde que os indivíduos
possam adquirir bens e rendimentos com a produção negligente quanto à natureza,
a degradação, às demais formas de vida não-humanas e o correspondente espaço
físico não será relevante aos estudiosos ambientalistas, que tratam das
indenizações, pelo princípio poluidor-pagador. O desenvolvimento será considerado
sustentável de acordo com a compensação, mesmo que parcial, do dano realizado,
pois mais importará que a empresa poluente sinta o peso da multa do que o quanto
o ambiente foi abalado devido à dificuldade de cálculo das proporções do dano
ambiental (RIBEIRO, 2008).
2.1.2 Desenvolvimento Local Sustentável (DLS)
A Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente,
Estocolmo, 1972, trouxe oficialmente à cena o tema da sobrevivência da
humanidade. Relatórios têm também sido apresentados desde então pelo Clube de
Roma. Em 1983, a Assembleia Geral da ONU criou a Comissão Mundial para o meio
ambiente e Desenvolvimento por Gro Harlem Brundtland, que preparou o “Relatório
28
Brundtland” e cunhou as expressões “desenvolvimento sustentado” e “nova ordem
mundial”. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e
Desenvolvimento (Eco-92, Rio de Janeiro) produziu o protocolo conhecido como
Agenda 21. Em 1993, foi a vez da Declaração de Kyoto, internacionalmente ainda
não validada, sobretudo pela recusa do Governo Bush (EUA) em subscrevê-la.
Anunciam-se as próximas adesões da Rússia e do Canadá, o que legitimaria este
protocolo. Em 2002, teve lugar em Johannesburgo, África do Sul, a “Conferência
Rio+10”.
De acordo com Santos (2001) a Agenda 21, da qual são signatários o Brasil
e outros 176 países, preconiza a implementação de políticas públicas compatíveis
com os princípios do desenvolvimento sustentável, por meio de projetos adaptados
nacionalmente e financiados pelo Programa das Nações Unidas para
o
Desenvolvimento- PNUD. Nesse sentido, o desenvolvimento local emerge como
uma estratégia importante no processo.
No Brasil, o desenvolvimento econômico local surgiu como produto de
posicionamentos impulsionados a partir dos governos centrais, e não como
consequência de iniciativas territoriais geradas “desde baixo”, capazes de
impulsionar atividades de fomento produtivo e empresarial no momento em que as
condições econômicas e institucionais estavam experimentando uma mudança
radical. As discussões em torno desta temática travavam-se “entre uma corrente que
defendia o liberalismo econômico, preocupada em garantir a ‘vocação agrária’ do
Brasil, e uma corrente desenvolvimentista, que pregava a intervenção do Estado na
economia para implementar a industrialização no país” (MANTEGA, 1987, p.12).
Os estudos de caso em países desenvolvidos mostram que nestas duas
últimas décadas, ocorreram algumas experiências de desenvolvimento local
surgidas de forma espontânea e dispersa. Acselrad (1999) observa que apesar de
necessitarem de apoio ou estímulo por parte das instâncias centrais de governo, as
quais têm dado prioridade absoluta (e, em certas ocasiões, quase exclusiva) ao
controle dos grandes equilíbrios macroeconômicos, analisa que realmente não é
solução para todos os problemas.
A partir dos anos setenta e oitenta, a crise do modelo de desenvolvimento
fordista acabou estimulando um maior interesse na reflexão sobre as iniciativas de
desenvolvimento econômico local, ao questionar a visão do processo de
desenvolvimento econômico que serviu de base de educação por longas décadas, a
29
qual tende a simplificá-lo como se desenvolvesse unicamente pela via do modelo
concentrador, baseado na grande indústria e nos grandes núcleos urbanos
(ACSELRAD, 1999).
Foram constatadas igualmente as limitações das políticas macroeconômicas
formuladas a partir das instâncias centrais, quando se trata de conseguir um
crescimento mais equilibrado territorialmente, mais equitativo, do ponto de vista da
distribuição da renda, mais ambientalmente sustentável e, em suma, com
capacidade para impulsionar o desenvolvimento humano e elevar a qualidade de
vida das pessoas. O que inclui a qualidade de vida da população de regiões mais
pobres do Brasil.
A proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais
locais permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no
consenso com tais atores, capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os
atores tenham maiores margens de autonomia nas decisões” (CEPAL, 1990, p. 917).
Igualmente, se abre a possibilidade de promover a criação negociada de instituições
de fomento produtivo empresarial em nível local, de gerar um clima de confiança e
cooperação entre entidades públicas e setor privado empresarial, e de estimular
assim, uma cultura local de desenvolvimento. Deste modo, a identidade própria de
cada território se converte em sustentação de seu desenvolvimento social e
econômico.
Buarque (1998) caracteriza o DL como um processo endógeno registrado em
pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos, capaz de promover o
dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. A
proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais locais
permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no consenso com
tais atores, capazes de "introduzir modalidades de ação nas quais os atores tenham
maiores margens de autonomia nas decisões" (Cepal, 1990, p. 917). Igualmente, se
abre a possibilidade de promover a criação negociada de instituições de fomento
produtivo empresarial no contexto local, de produzir um clima de confiança e
cooperação entre entidades públicas e setor privado empresarial, e de estimular,
assim, uma cultura local de desenvolvimento sustentável. Desse modo, a identidade
cultural de cada território se converte em sustentação de seu desenvolvimento social
e econômico. Para tanto, o desenvolvimento resulta do compromisso de uma parte
significativa da sociedade local e de mudanças básicas em suas atitudes e
30
comportamentos, o que permite substituir a concepção tradicional de "espaço"
(como simples espaço físico) pela de um contexto social de cooperação ativa (um
"território"). Assim, o desenvolvimento local sustentável pode ser entendido como
aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que,
mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona
determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e
melhorar a qualidade de vida da comunidade local. É esse potencial interno, quando
realizado, que define o desenvolvimento local. Um projeto desse tipo deve ser
assegurado mediante a mobilização da população local e seu concurso na
formulação, implementação e monitoramento das iniciativas de desenvolvimento.
Assim, entende-se que a globalização e o desenvolvimento local são dois polos de
um mesmo processo complexo e contraditório, exercendo forças de integração e de
segregação, dentro do intenso jogo competitivo mundial. Ao mesmo tempo em que
ocorre a mundialização do capital, surgem crescentes iniciativas no nível local, com
ou sem integração na dinâmica internacional, o que aponta para a possibilidade de
processos diferenciados de desenvolvimento dentro do capitalismo (Cepal, 1990).
Para tanto, neste nível, o desenvolvimento é o resultado do compromisso de
uma parte significativa da sociedade local e de mudanças básicas em suas atitudes
e comportamentos. Assim, o desenvolvimento local sustentável pode ser entendido
como aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local
que, mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma
zona determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego
e melhorar a qualidade de vida da comunidade local. É esse potencial interno
quando realizado, que favorece um dos fatores que define o desenvolvimento local.
Da mesma forma, um projeto desse tipo deve ser assegurado mediante a
mobilização da população local e sua participação na formulação e na
implementação das iniciativas de desenvolvimento.
Enfim, a globalização tem uma relação com a organização do espaço social.
De um lado, demanda e provoca um movimento de uniformização e padronização
dos mercados e produtos como forma de integrar os mercados; por outro lado,
também provoca a diversificação e a flexibilização das economias e dos mercados
locais, cria e produz diversidades, integrando os valores globais com os padrões
locais, articulando o local ao global. Assim, nesse jogo, entende-se que o global se
alimenta do local.
31
2.2 Abordagem Sociológica de Desenvolvimento Local
Em países como o Brasil, em que é significativo o número de pequenos e
médios empresários, que ficam à margem não só do capital econômico como do
conhecimento produzido pelas classes hegemônicas, a situação é complexa e crítica
e a grande questão que se coloca para quem quer fazer uma reflexão sobre a
realidade é: quem tem acesso ao conhecimento? Como socializar o conhecimento e
a tecnologia entendida em seu sentido mais amplo? Como organizar os pequenos
agentes produtivos de forma a lhes facilitar o acesso ao conhecimento, criando uma
interação social mais igualitária com o grande capital econômico?
Isolado, dependente e distante do capital econômico e do capital cultural, o
trabalhador, enquanto empregado, e o pequeno agente produtivo, enquanto
empresário, também se distanciam da possibilidade de obtenção de emprego e
renda, aumentando a acumulação do capital e o número de desempregados,
configurando uma crise sem precedentes, em nível de Estado e sociedade.
No início dos anos de 1990, o governo brasileiro tentando administrar a crise
que se instalara, formulou, como uma de suas estratégias de ação, a realização de
um convênio com a Organização das Nações Unidas para capacitar pequenos
produtores rurais e urbanos da região Nordeste do país, para o desenvolvimento
empresarial participativo, sob o enfoque do desenvolvimento econômico local
(ZAPATA, 1997).
A internacionalização do capitalismo acarreta a discussão em torno da
oportunidade de mudança na forma de racionalização e intervenção do Estado
burguês, e de suas instituições, na economia. É um momento em que é recolocada
em pauta as ambivalências da cidadania fundada na propriedade e as coletividades
passam a tomar iniciativas de elaboração de projetos coletivos, redimensionando a
atividade política e multiplicando os seus sujeitos e as suas arenas.
Dessa forma, o processo de desenvolvimento local emerge no instante em
que, no conjunto dos países industrializados, o Estado, Poder Político centralizado, e
as coletividades locais mudam a forma de relacionamento, conhecem tensões e
realizam a descentralização. É um momento em que as instâncias locais reivindicam
autonomia e contestam modelos anteriores de desenvolvimento. É um contexto
32
também de crise das finanças locais e de procura de novas regras do jogo e de
novas regulações em território, parceiros, Estado e outras coletividades territoriais.
O Desenvolvimento Local pode ser se visto como
um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos
empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a
uma nova dinâmica de integração socio-econômica de reconstrução do
tecido social de geração de emprego e renda (ALBUQUERQUE, 1998;
p.15).
Assim, o processo surge como um fenômeno que coloca em evidência os
atores sociais, as redes de cooperação e o sistema institucional que eles conseguem
construir; e os projetos coletivos. Objetiva fortalecer os empreendimentos
empresariais associativos e os micros empresários para que gerem empregos
sustentáveis.
uma resultante direta da capacidade dos atores e das sociedades locais se
estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e sua
matriz cultural, para definir e explorar suas potencialidades e
especificidades, buscando competitividade num contexto de rápidas e
profundas transformações. No novo paradigma de desenvolvimento, isto
significa, antes de tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica dos
recursos humanos, domínio do conhecimento e da informação, elementos
centrais da competitividade sistêmica (BUARQUE, 1998; pg.15).
O local é entendido como um meio de pertença de uma população que
permite reconhecer em si traços característicos, e mesmo laços de solidariedade,
que exercem certa influência sobre as mudanças socioeconômicas em favor das
formas de intervenção oferecidas pelas instituições governamentais e associativas
(JOYAL, 1994).
Portanto, pensar em estratégias e a ações que possam ajudar no
desenvolvimento local é importante para contribuir nessa mudança. No quadro 2
Joyal (1994) elenca algumas estratégias fundamentais de ação para contribuir nesse
desenvolvimento.
33
Quadro 2 Estratégias Fundamentais de Ação
Suas estratégias Fundamentais de ação
“i. A articulação produtiva do tecido empresarial e das diferentes atividades rural-urbanas,
agroindustriais e de serviço do território;
ii. O compromisso com a geração de emprego produtivo e o funcionamento do mercado de
trabalho local;
iii. O conhecimento das tecnologias que melhor se adequem à dotação de recursos e
potencialidades territoriais e a atenção às inovações tecnológicas e organizativas apropriadas
aos níveis produtivos e empresarial locais;
iv. A participação dos trabalhadores locais na redefinição da organização produtiva;
v. A adaptação do sistema educativo e de capacitação profissional à problemática produtiva e
social territorial;
vi. A existência de políticas específicas de apoio à pequena, média e micro empresa (...);
vii. O acesso aos serviços avançados de apoio à produção(informação, capacitação
empresarial e tecnológica, financiamento da pequena e média empresa e microempresa)”
(ALBUQUERQUE,1998;pg.75)
Fonte: Joyal (1994)
A estratégia está relacionada com atividade local desenvolvida, com o
processo educativo, ou seja, como isso é levado adiante seja a curto ou longo prazo,
é claro que a adaptação ao meio para dar sustentabilidade ao processo tem grande
importância para o desenvolvimento local.
Estrategicamente tem como objetivo “criar redes territoriais de serviços
avançados de informação, capacitação e financiamento que facilitem às
empresas locais e regionais a aquisição de uma adequada ‘flexibilidade
produtiva’; esta, por sua vez, não pode reduzir-se à adoção de medidas que
conduzam a precarização do emprego, a contenção dos salários ou a
exploração e esgotamento de recursos naturais não renováveis, mas deve
contemplar o conjunto de atividades vinculadas à geração de valor
agregado por parte das empresas, a partir da gestão tecnológica e
financeira é a comercialização e o serviço pós-venda, todos susceptíveis de
inovação para adaptar-se mais facilmente às freqüentes condições da
demanda” (ALBUQUERQUE, 1998; pg.83).
Os elementos básicos das iniciativas locais de desenvolvimento são: a
coordenação dos diversos agentes públicos e privados que atua no território, o
acesso aos serviços estratégicos para incorporação de inovações tecnológicas e
34
empresariais no tecido produtivo territorial, a criação de “incubadoras de empresas”
para multiplicação das iniciativas empresariais; pode-se acrescentar a concentração
dos serviços elementares (administrativos, contábeis, telecomunicações, formação
básica de gestão empresarial) em local cedido pelo próprio município, pela Câmara
de Comercio local ou associação de empresários e, fundamentalmente, o estímulo
às lideranças emergentes, bem como a capacitação do novo empresário.
Nesse processo, cabe ao Estado, o estímulo às iniciativas locais de
desenvolvimento já que a “descentralização, longe de desobrigar o Estado de suas
responsabilidades, geralmente as põe ainda mais evidentes” (ALBUQUERQUE,
1998; pg.92), sendo-lhe cobrado um papel fundamental na promoção de saúde e
capacitação, na sensibilização sobre os conceitos e ações relacionadas ao
desenvolvimento sustentável, na disponibilização dos sistemas de ciência e
tecnologia, na promoção de serviços de informação e bases de dados de interesse
empresarial; no levantamento de mercados externos; no fornecimento de
infraestrutura
básica
de
energia,
abastecimento
d’água,
transporte
e
telecomunicação; e na facilitação do acesso a fontes apropriadas de crédito e capital
aos micros, pequenos e médios empresários.
As principais características do desenvolvimento local são: o espaço territorial
concebido como agente de transformação social e não como mero espaço funcional;
a sociedade local não se ajusta de forma passiva aos processos de transformação
em curso, mas desenvolve iniciativas próprias, a partir de suas particularidades
territoriais nos planos culturais, sociais, econômicos e políticos; os poderes públicos
locais e os agentes empresariais privados devem negociar a institucionalidade mais
adequada para facilitar a recopilação sistemática das informações e promoção de
espaços de intervenção e a existência de capacidade empresarial inovadora em
nível local (ALBUQUERQUE, 1998).
Os atores sociais do processo de desenvolvimento local são aqueles cujas
qualificações e competências os predestinam a representar um papel particular na
realização das políticas de desenvolvimento, tais como diretores de serviços ou de
agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de
funções; gerentes de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores
(responsáveis de colocar em prática as políticas); e representantes eleitos, quer
sejam
incentivadores
(TEISSERENC;1994).
ou
não
das
políticas
de
desenvolvimento
35
O ator de desenvolvimento é um novo ator que procura promover a empresa
em desenvolvimento social. É parte integrante de um projeto coletivo cujas
condições de produção, à imagem do projeto familiar, são tão complexas como é a
realidade sociológica da fábrica, da empresa, da organização, e fazem apelo a uma
identidade cultural fundamentada no reconhecimento do pluralismo.
Eles agem como novas elites locais modernizadoras, conciliadoras e
militantes de maneira a produzir uma transformação no seio da coletividade,
realizando um trabalho como “um agente que impõe a essa coletividade sua própria
transformação interpretando pressões externas para vencer a resistência dos
sistemas de reprodução" (TOURAINE, 1984, p.236).
O sistema institucional tem como objetivos criar e/ou fortalecer as estruturas
encarregadas de promover as políticas de desenvolvimento local, tais como
agências de desenvolvimento, serviços de economia de uma coletividade e
estruturas intermunicipais; e promover a transformação dos serviços existentes:
serviços técnicos das coletividades, serviços do Estado e estruturas municipais e
outros organismos de caráter privado ou não governamental. Consiste, assim, num
sistema em transformação que tem como características: criação de novas
estruturas tais como os distritos urbanos; criação das comunidades distritais;
introduz questões relativas ao desenvolvimento econômico e à gestão dos
equipamentos coletivos sob a responsabilidade das novas estruturas que escapam
parcialmente às instâncias de representação eleitas por sufrágio universal; busca de
novas formas de intervenção do Estado mais flexíveis e ativas; tem como
consequência fazer do Estado não somente um regulador das relações civis, mas
um agente do desenvolvimento econômico e social; a mudança das finalidades da
ação pública e de suas orientações aplicadas ao desenvolvimento econômico e à
organização do território vai acompanhar-se de uma transformação organizacional.
Vem, portanto, substituir um sistema que concede pouco lugar à mobilização social e
que possui um alto grau de institucionalização da representação e da consulta que
confere aos eleitos uma excepcional legitimidade e um fraco grau de participação
dos cidadãos, no sistema político.
O novo modelo, não mais fundado na hierarquia política, incentiva núcleos de
peritos que privilegiam as categorias e as linguagens científicas para legitimar as
ações. Valoriza a mobilidade de grupos de apoio na busca de uma transparência
social levando o ator administrativo envolvido nas organizações a desenvolver
36
relações estratégicas e distanciadas, desenvolvendo sua carreira pelo cumprimento
de missões sucessivas em estruturas que tendem a organizar-se como redes.
Para a sociologia “se o mundo social, com as suas divisões, é qualquer coisa
que os agentes sociais têm a fazer, a construir, individual e, sobretudo
‘coletivamente’, na cooperação e no conflito, resta que tais construções se não
operem no vazio social”, (BOURDIEU, 1994, p. 13) e sim “na estrutura da
distribuição das diferentes espécies de capital, que são também armas, governa as
representações desse espaço e as tomadas de posição nas lutas que visam
conservá-lo ou transformá-lo” (BOURDIEU, 1994; p. 13).
Este modelo implica na gestão das funções de transição tais como: função de
estímulo à emergência de novas identidades; função de reconhecimento das lógicas
coletivas emanadas de grupos, de comunidades, de novas categorias sociais dentro
da empresa; função de confrontação das lógicas a partir do encontro entre atores
antigos e novos; uma função de aprendizagem cultural facilitando o acesso a uma
outra leitura do processo de identidade, e uma compreensão enriquecida dos
valores e culturas dos outros (TEISSERENC, 1994 );e função de institucionalização
das estruturas e das regras do sistema social.
As redes naturais/ informais (familiares, profissionais e institucionais que
formam a trama básica da sociedade), funcionais (relativas à estrutura de
funcionamento de uma gama variada de organizações de um mesmo ambiente) e
utilitárias (que visam melhorar as intervenções nas redes funcionais) de cooperação
mútua consistem no conjunto de atores sociais interdependentes que superam
antagonismos locais graças à cooperação mútua construída na prática cotidiana de
resolução de problemas e elaboração e execução de programas integrados em
parcerias com os poderes públicos territoriais e nacionais. O significado da rede é
construído na superação de conflitos e no sentimento de pertença ao grupo e se
solidifica na construção do projeto coletivo.
Os projetos coletivos apresentam-se como forma de objetivos a alcançar em
função de acordos previamente estabelecidos e selecionados que dão significados
pessoais e coletivos aos processos de mudança. Eles têm uma importância e
significação sociológica fundamental ao fazer a mediatização entre o passado
(situação atual) e o futuro (situação desejada) e a intermediação entre os princípios /
valores (orientação) e os atos / as escolhas (realização). A partir do projeto, a
mobilidade social não é mais compreendida como trajeto socioespacial, mas como
37
trajetória social inspirada por um projeto; o projeto é percebido como um trabalho da
subjetividade dentro da qual a imaginação, a vontade, os valores e a identidade têm
seu sentido.
O Projeto consiste numa representação global do futuro do território; dos
principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSERENC,
1994); não se reduz, assim, a um programa de desenvolvimento. É global no sentido
em que toca a todos os componentes da vida local (iniciativas culturais, iniciativa de
criação de atividades, práticas de solidariedade entre as gerações) e procura levar
em conta as numerosas interações entre esses componentes, e a explorá-los como
recursos a serviço do desenvolvimento.
Dessa forma, o desenvolvimento como transformação da sociedade local
consiste no movimento ou processo balizado de etapas que caracteriza a passagem
de um estado "cultural" existente para outro. Ocorre mediante o desenvolvimento
das seguintes etapas segundo Teisserenc (1994):
Figura 1- Etapas do Desenvolvimento
Fonte: Teisserenc (1994)
O êxito da mobilização e da dinâmica iniciada pelo tecido associativo decorre
da aliança realizada entre os líderes associativos e os líderes políticos e da sintonia
entre o diagnóstico do território e a qualidade do projeto mobilizador. Observa-se nas
38
experiências estudadas que a manutenção da mobilização implica: no ajuste das
relações de forças tradicionais entre os parceiros locais (privados e públicos), e no
trabalho sobre as representações do território, que favorecem os debates no seio
das estruturas ou comissões criadas pelas circunstâncias.
Os instrumentos de desenvolvimento e criação institucional devem responder
às seguintes exigências: criação de situações que estimulem o debate nas
instâncias de decisão; apreensão global da realidade (diagnóstico) do território
interessado na política de desenvolvimento; avaliação em função da eficácia
operacional segundo o objeto particular para o qual foram concebidos e gestão da
interface das relações entre território e suas vizinhanças.
Os mecanismos de regulação deverão possibilitar a reconstituição da
identidade local, de uma vivência local coletiva, de um sistema local de decisão; a
mobilização das representações, da iniciativa e das populações envolvidas; e o
encontro de indivíduos e de grupos, de uma pluralidade de instituições e do central e
do local.
Os instrumentos viabilizadores do desenvolvimento são as agências de
desenvolvimento econômico (gestão das escolas de empresas, prospecção de
empresas, ações de sensibilização, ações de conselho para a criação de empresas,
incentivo econômico, promoção do território, concepção de centros de recursos); os
centros de recursos especializados (sociedades anônimas de capitais mistos
associando parceiros privados e públicos, especializados em tecnologias de
concepção); associação dos chefes de empresas e Comitê local para o emprego.
A política de desenvolvimento e criação institucional tem a função de resgate
da identidade cultural, facilitação do tratamento das informações relativas a
emprego, facilitação da inserção profissional, qualificação dos recursos humanos
locais, reorganização de empresas, transformação dos serviços da coletividade
tornando-os parceiros eficazes da política de desenvolvimento, mobilização da
população e/ou de seus representantes e articulação da iniciativa privada e as
instituições públicas.
Os fenômenos de interpelação das identidades coletivas trabalham o
problema da adaptação dos conhecimentos e das habilidades antigas às novas
condições de produção, ao mesmo tempo em que evitam a marginalização das
populações não qualificadas.
39
As pistas de reconstituição das identidades coletivas passam pela
identificação em cada localidade da maneira com a qual procedem aos parceiros
locais para mobilizar e valorizar as identidades existentes e pela busca na história
coletiva dos elementos constitutivos de identidades capazes de impulsionar outro
modo de desenvolvimento.
Quadro 3 Características do Desenvolvimento
As principais características do Desenvolvimento
- A iniciativa tem raiz no encontro de uma criação cultural inscrita numa memória
coletiva e de uma rede associativa levada pela vontade de se afirmar uma identidade
regional;
- A mobilização de uma população que se descobre através de sua própria
apresentação, desenvolvimento das iniciativas no campo cultural e no campo
econômico, política de comunicação, emergência de uma parceria que atinge
progressivamente o meio associativo, o mundo político, os sócio- profissionais e, em
última instância, os atores econômicos;
- A valorização dos produtos locais e iniciativas locais de qualidade que tem como
efeito a valorização do território e de seus produtos;
- A apropriação dos eventos de fortalecimento das identidades culturais pelos
parceiros político e os sócio-profissionais sem prejudicar à dinâmica original.
- O exercício do processo de aprendizagem coletiva pela população local que aceita
inscrever-se dentro de tal processo, reforçando a mobilização;
- A emergência de cidadãos, novos atores, reivindicando uma fixação local;
- A dinâmica local desencadeada difundindo-se geograficamente para outros espaços
sociais;
- A busca de um equilíbrio frágil entre uma promoção não seletiva de produtos locais,
que encoraja a maioria dos atores locais (artesãos, comerciantes, agricultores,
pecuaristas, profissionais liberais) e uma preocupação de marketing, marcada pelo
pensamento de distinção de produtos de qualidade destinados a públicos aos quais
deseja atingir.
Fonte: Teisserenc (1994)
A construção comunitária opera-se a partir de um projeto fundador que
mobiliza uma boa parte da população e interpela seu sistema de representações e
valores. Observa-se que nas localidades, onde as referências culturais são menos
acentuadas e as identidades sociais menos reproduzidas,
a política de
desenvolvimento visa explicitamente a criar novas identidades coletivas cujo
obstáculo cultural mostra-se central, mais que o das capacidades técnicas: é preciso
mudar as mentalidades, os comportamentos coletivos, os valores, as regras morais
40
para que as relações entre os homens possam produzir outros resultados
(TEISSERENC ,1994).
A aprendizagem da complexidade da realidade pelos atores consiste a não
mais considerar o território como um espaço a organizar, mas um potencial de
recursos a valorizar. Supõe a compreensão dos paradoxos:
Figura 2 – Compreensão dos Paradoxos
Fonte: Adaptado a partir de Teisserenc (1994)
A economia local não é mais entendida como estando essencialmente
constituída de relações entre atores econômicos, mas por múltiplas redes
socioeconômicas articuladas entre eles por ações transversais.
Fundamenta-se, assim, sobre a aceitação de uma divisão de trabalho entre o
Estado (competências técnicas) e as coletividades (expressão das necessidades da
população), como um poder de resistência às injunções do centro e de filtração da
ação burocrática; como encorajador de um tipo particular de iniciativas da parte dos
representantes eleitos; e, no exercício da democracia local, caracterizada por uma
fraca renovação das elites, nos partidos eletivos, e uma dupla transferência de
responsabilidade entre a direção da burocracia territorial (que a autoridade fortalece,
domina e utiliza) e os representantes eleitos (que legitimam as intervenções junto à
sociedade civil).
41
Finalmente, o paradigma territorial consiste no entendimento de que o
território é um conceito flexível, com vários significados (TEISSERENC, 1994).
Assim, pode significar Sociedade Local, entendida como o domínio de pequeno, o
lugar da diferença e da especificidade, o lugar em que a ação e o pensamento social
entram em contato com a matéria (pressionada pelo processo de identidade) em
contínua mudança (proteiforme) da sociedade inteira ou o espaço de densidade
social de um grupo humano, onde se opera a fusão do singular (território) e do
universal, do local e do geral, da tradição e da modernidade.
O território também pode significar Desenvolvimento Local, enquanto o
movimento geral da sociedade conduz, para as localidades, o desejo e a
possibilidade de dinâmicas produtivas nos planos econômico, social e cultural.
Finalmente, território também pode ser entendido como um ecossistema evolutivo,
capaz de mudar no decorrer do tempo, em sua organização, nas relações entre seus
elementos, como dentro de suas fronteiras, de sua extensão e do tamanho de sua
população. No centro dessas evoluções está a cultura - entendida como sistema
coletivo de representação do mundo; e a técnica - entendida como sistema coletivo
de ação sobre o mundo, desempenhando um papel motriz de mediação das
relações dos ecossistemas.
Dessa
forma,
os
paradoxos
e
contradições
que
o
território
em
desenvolvimento pode assumir são:
a) lugar de particularidade e da singularidade atravessado pelas lógicas
universais do capital, do mercado e da divisão do trabalho;
b) objeto de um empenho pessoal e lugar de investigação de estratégias de
atores individuais; e
c) a eficácia de seu desenvolvimento fundamenta-se na capacidade de
gerenciar empenhos e estratégias para produzir o autoconhecimento e traduzi-lo em
uma estratégia global.
O emprego das políticas de desenvolvimento local tem como efeito acelerar o
processo de transformação do sistema político-administrativo, em nível de território.
O sistema tem funcionado a partir da regulação pela mobilização de agregados
econômicos. O Estado não intervém mais somente como mediador das relações
entre as pessoas civis e o regulador das relações econômicas; cada vez mais
intervém dentro da regulação social de valores, das normas dos grupos sociais e dos
princípios de ações. A ação administrativa não se contenta em manipular agregados:
42
ela empenha-se em agir sobre as instituições, graças ao desenvolvimento dos
processos de consulta e de conciliação.
O essencial das características desse tipo-ideal da ação administrativa aplicase à administração territorial, desde que ela se encontre envolvida numa política de
desenvolvimento. O poder ocupa no novo modelo um lugar central. Sua realidade
fundamenta-se mais no domínio do interorganizacional, isto é, nas redes. A
mobilização dos atores em torno do projeto de desenvolvimento não tem pertinência
a não ser que ela se acompanhe de modalidades de negociação, de decisão, de
gestão e de avaliação aptas a permitir ao sistema de ação local responder
rapidamente às solicitações e às mudanças inter e intraorganizacionais.
Pode-se caracterizar também o local, ou seja,
... o espaço social global como um ‘campo’, quer dizer, ao mesmo tempo
como um campo de forças, cuja necessidade se impõe e aos agentes que
nele se encontram cometidos, e como um campo de lutas, no interior do
qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados segundo sua
posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para conservar
ou para transformar a sua estrutura (BOURDIEU,1994, p. 32).
Na análise das experiências internacionais verificam-se contradições básicas
do processo conforme quadro 4, segue:
43
Quadro 4 Experiências Internacionais
O desenvolvimento local não pode funcionar sem a intervenção exterior;
Na França
da mesma forma ele não pode arrancar e prosseguir sem vontade e
(TEISSERENC;
iniciativa locais; e o desenvolvimento local é uma resposta conjuntural à
1994)
crise econômica e administrativa, ao mesmo tempo em que é a invenção
de um novo modelo social que valoriza as identidades culturais locais;
As novas instituições ficam mais perto do povo, como previam os
Na Itália
(PUTNAM; 1996)
idealizadores,
entretanto
a
eficiência
administrativa
propalada
pelos
reformadores regionalistas não se propagou; as regiões mais atrasadas se
livraram do paralizante domínio das regiões mais adiantadas, no entanto a
histórica disparidade entre o Norte e Sul permanece.
Ocorreu a criação de pequenas empresas em regiões distantes, diminuindo
No Canadá
(JOYAL; 1994)
custos de infraestrutura, equipamentos coletivos, hospedagens, etc. e
aumentando a valorização do patrimônio e da identidade dos ambientes,
entretanto permanece a insuficiência de emprego para responder às
necessidades da população.
Na Espanha/
As pessoas e as famílias do mundo rural adquiriram uma nova dinâmica
Barcelona
endógena, que lhes permitiu beneficiar-se de uma melhor qualidade de vida
(LUZON, 1999)
em todos os níveis, sem precisar abandonar os seus lugares de origem.
43
Segundo Putnam (1993), cerca de 20 anos ainda é pouco para se avaliar os
resultados da implantação de um modelo que muda culturas centenárias, ou mesmo
milenares, como é o caso da Itália, entretanto o que é mais fundamental é o
aprendizado por parte das comunidades objetivando o interesse comum.
Finalmente pode-se imaginar que os pressupostos da implantação do
Desenvolvimento Local Sustentável são:
- As políticas de desenvolvimento local devem apoiar-se na mudança, que elas
contribuem por acelerar, do habitus ao configurar uma:
conjuntura capaz de transformar em ação coletiva os princípios
objetivamente coordenados por estarem associados a necessidades
objetivas parcial ou totalmente idênticas, quer dizer, engendradas pelas
bases econômicas de uma dada formação social” (BOURDIEU, 1998, p.
XLIII);
- Esta mudança diz respeito à emergência de atores sociais portadores de diversas
formas de capital e sua participação e influência no ponto principal da sociedade
local e o sistema político administrativo;
- A complexidade das relações sociais e a variedade das relações estratégicas que
resultam disso são tais, que mudam a forma como é exercido o poder simbólico na
comunidade, já que o espaço social local procurar dotar-se de uma capacidade de
decisão autônoma, reativando inteiramente a forte interdependência entre os atores
e entre os lugares de iniciativas;
- Essas relações desenvolvem-se em torno de projetos coletivos que têm,
geralmente, por características, mobilizar os recursos locais, materiais e imateriais,
utilizando-se, da melhor forma, das especificidades do território. Para Bourdieu
(1998), portanto, compreender o desenvolvimento local significa compreender a
correlação de forças entre os diversos capitais simbólicos.
Concluindo, a contribuição da sociologia para o êxito do Desenvolvimento
Local refere-se ao trabalho na dimensão das relações intersubjetivas presentes nas
comunidades. Ela tenta desvendar e atuar "na outra cena" aquela que não pode ser
quantificada e se constitui um lado não perceptivo e não captável, em equações,
médias e estatísticas, mas que é determinante para o êxito de um projeto que
envolve mudanças culturais profundas e que estas precisam ser construídas com as
pessoas do lugar para ter sustentabilidade e consequências que revertam
distribuição dos bens simbólicos e materiais, bem como qualidade de vida.
44
2.2.1 Atores Sociais
Em sua analise da modernidade, Touraine (1994) dedicou-se ao estudo da
potencialidade política e social daquele que define como sujeito ou ator social. O
sujeito, para ele, é aquele que se expressa, age e busca o reconhecimento como
ator, forma-se nos processos sociais e na relação com os outros. Não trabalha com
a separação entre ator e sistema, enfatiza a inter-relação entre os dois termos,
criando, a partir daí, uma sociologia da ação social. Na articulação do singular com o
coletivo, a dimensão do sujeito como ator social, como aquele que expressa vontade
de agir e o desejo de ser reconhecido (TOURAINE, 1998).
A categoria indivíduo essencialmente egoísta e livre, por exemplo, tão
decantada pelos teóricos liberais, apenas existe em um plano de abstração
que elimine todas as variáveis sociais, históricas, ambientais e culturais que,
de fato, condicionam a presença do ator social, não como algo à parte do
social (visão esquizofrênica da sociedade), mas como elo de uma rede
complexa na realidade vital mutante (MARTINS, 2008 p. 10).
Segundo Brito e Ribeiro (2008), a emergência de atores sociais consiste na
existência de uma situação favorável ao surgimento de sujeitos (lideranças
comunitárias;
diretores
de
serviços
ou
de
agências
de
desenvolvimento;
representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos;
empresários; operadores e representantes eleitos que sejam incentivadores ou não
das políticas de desenvolvimento) cujo perfil de competência, em termos de
conhecimentos, habilidades e atitudes, os predestinam a representar um papel
particular na realização das políticas de desenvolvimento.
Na condução de nosso estudo, procuramos do evento, atentos aos seus
aspectos singulares, a “construção” dos atores sociais, individualmente ou em
grupos de pessoas, que articulam processos de interação com os demais agentes
envolvidos. Um grupo humano que compõe quadros de vivências específicas que
45
definiram as sociabilidades examinadas, cabendo-nos a observação de diferentes
processos desenvolvidos na sua efetiva realidade, de acordo com Nóbrega (2010).
2.2.2 Redes de Atores Sociais
As redes sociais constituem um tema da maior atualidade sociológica para se
compreender a complexidade da vida social, sobretudo nos tempos presentes cuja
sociedade civil mundial exige respostas políticas locais, rápidas e eficazes, para
assegurar a ampliação dos direitos de gozo da cidadania.
Uma ação econômica é socialmente localizada e não pode ser explicada
simplesmente pelas motivações individuais. Ela está enraizada em redes de
relações pessoais e não é conduzida por atores atomizados. Entendemos
as redes como um conjunto regular de contratos ou conexões sociais entre
indivíduos ou grupos. Uma ação por um membro de uma rede é enraizada
porque se expressa em interação com outras pessoas (Granovetter e
Swedberg, 1992, p. 9).
Scherer-Warren (1993) situa a ideia de rede enquanto propagada por atores
sociais como conceito positivo, estando referida a uma estratégia de ação coletiva
em que a participação cidadã está no eixo da articulação. Essa noção de rede
pressupõe que as ONGs, o poder público, os movimentos de bairro, os movimentos
religiosos, a iniciativa privada e outras forças vivas do território, possam estar
articuladas em torno de interesses locais comuns.
O sociólogo italiano Melucci (1994) afirma, por sua vez, que a situação normal
dos movimentos, hoje, é de ser, não uma estratégia de atores, mas a de redes, de
pequenos grupos imersos na vida cotidiana, na qual os membros, mediante suas
experiências e inovações culturais, contribuem para as formas que assumem as
redes.
Segundo Mance (1999, p. 23), alguns estudiosos consideram como redes de
movimentos sociais um amplo conjunto de fóruns e articulações variadas que
conectam organizações e entidades populares. Ainda, nesse sentido o autor afirma:
46
A idéia elementar de rede é bastante simples. Trata-se de uma articulação
entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos
entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em
novas unidades, as quais, por sua vez, permitindo-lhe expandir-se em novas
unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada nódulo da rede
representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se
articulam através de diversos fluxos (MANCE, 1999 p. 24).
Castells (1999) percebe que a formação de redes traz flexibilidade para as
organizações adaptarem-se às condições de imprevisibilidade introduzidas pela
rápida transformação econômica e tecnológica. Para conseguir absorver os
benefícios da flexibilidade das redes, a própria empresa teve de tornar-se uma rede
e dinamizar cada elemento [...] (CASTELLS, 1999 p. 185).
Argumenta Caillé (2002, p. 65) que a rede “é o conjunto de pessoas com as
quais o ato de manter relações de amizade ou de camaradagem, permite conservar
e esperar confiança e fidelidade”. E, continua afirmando ser importante reconhecer
que essas redes, tradicionais ou modernas, são alianças generalizadas, criadas em
apostas na dádiva e na confiança. Isto significa dizer que a obrigação social que une
os membros de uma rede não tem apenas caráter moral, mas igualmente político,
dado pelo interesse dos membros na aliança.
Redes sociais referem-se a um conjunto de pessoas (ou organizações ou
outras entidades sociais) conectadas por relacionamento sociais, motivados
pela amizade e por relações de trabalho ou compartilhamento de
informações e, por meio dessas ligações, vão construindo a estrutura social
(MARTELETO, 2006, p. 75).
Segundo Martins (2008), o objeto rede social responde a uma exigência de
complexificação da teoria social, a partir de demandas práticas (novas metodologias
de intervenção social, se pensar pelo lado das instituições, ou novas formas de
participação e de mobilizações coletivas, se pensarmos pelo lado dos movimentos
sociais).
No fundo, a teoria da rede social revela a preocupação de explicar o fato
social, não a partir da liberdade individual (como insistem sempre os teóricos
liberais), mas de uma injunção coletiva que se impõe às vontades individuais
47
(mesmo que esta injunção não elimine a liberdade dos atores de participarem de
diversos círculos de trocas) (MARTINS, 2008).
A rede tem como elemento estrutural básico o ator, uma unidade discreta
que representa uma pessoas ou um conjunto agrupado em uma unidade
social, como uma empresa ou associação, que compões a rede são, em
geral, caracterizados como “nós”. O conceito de rede como um conjunto de
“nós” conectados tem como pressuposto as relações sociais, a interação
entre as unidades. Tal concepção permite visualizar a rede social como um
conjunto de relacionamento estáveis e de natureza não hierárquica e
independente. A constituição da rede se faz mediante o compartilhamento,
pelos atores que a compõem, de interesses e objetivos comuns definidos
coletivamente (JUNQUIRA; DAPUZZO, 2010, p. 1).
A perspectiva que nos interessa aqui diz respeito à proliferação das redes na
gestão pública, consequência das transformações nas relações entre Estado e
Sociedade. Nesse processo, as redes sociais assumiram um papel privilegiado e
representam um conjunto de atores sociais unidos por ideias, valores e interesses
compartilhados.
2.2.3 Projeto Coletivo
A Gestão Participativa forma gestores locais e regionais, multiplica o
conhecimento técnico, científico e humano, dos diversos atores participantes, nos
diversos processos promovendo o desenvolvimento local.
De acordo com Putnam (1993), essas organizações básicas da vida social
são essenciais para o estabelecimento de normas e padrões comuns, para a
promoção de confiança social e interpessoal e, finalmente, para o crescimento do
engajamento cívico. A suposição básica de Putnam é que membros de associações
tendem a ser política e socialmente mais ativos, dando apoio às normas
democráticas (FREY, 2003).
O desenvolvimento de projetos coletivos - representa a capacidade de
formulação de referências conceituais formais e informais, que possam orientar e
inspirar o alcance dos objetivos em função de acordos previamente estabelecidos e
48
selecionados, concedendo significados pessoais e coletivos aos processos de
mudança, impondo sentido à imaginação, à vontade, aos valores e à identidade
cultural local (Brito 2005, apud Teisserenc, 1994);
Nesse sentido, Bordenave (1995, p. 22), faz uma discussão sobre
participação como algo que significa “fazer parte de algum grupo ou associação”, ou
“tomar parte numa determinada atividade ou negócio,” ter parte, fazer diferença,
contribuir para construção de um futuro melhor para nós e para as futuras gerações.
A participação democrática promove a superação da simples necessidade
de associação humana, que pode ser orientada por um sentido
individualista e oportunista, mediante distorção ou incompletude da
formação humana para uma necessidade de integração do ser humano na
sociedade, de se sentir parte dela e por ela ser responsável (LÜCK, 2008, p.
63).
Faria (2009) afirma que a participação ocorre quando o individuo se agrega
individualmente e colabora com os outros, na execução de uma tarefa, com pleno
consentimento e parcial controle.
A participação faz parte da natureza social do ser humano e o acompanha
desde o início da humanidade até os dias atuais nas diversas formas de
organização. Essa interação coletiva possibilita o pensamento reflexivo, o prazer de
criar e recriar as coisas e a valorização das pessoas (GUIMARÃES, 2010, p. 42).
Os projetos participativos ou projetos coletivos estabelecem laços sociais
entre os seus integrantes e deflagram relações intersubjetivas próprias da
convivência no campo grupal. Então, podemos concluir que essa trama discursiva
dos sujeitos produz laços sociais e constitui redes humanas que se articulam
constituindo códigos e leis que vão, para além das vontades individuais, às vontades
coletivas (BROIDE, 2010).
49
2.2.4
Instituições
para
Viabilização
do
Desenvolvimento
Local
Sustentável
O desenvolvimento local demanda mudanças institucionais que aumentam a
governabilidade e a governança das instituições públicas locais, incluindo o
município, construindo uma relativa autonomia das finanças públicas e acumulação
de excedentes para investimentos sociais e estratégicos para localidade
(BUARQUE, 2002).
Partindo desse conceito, Buarque (2002) ressalta que a escala municipal e
comunitária cria uma grande proximidade entre as instâncias decisórias e os
problemas e necessidades da população e da comunidade, permitindo uma maior
participação direta da sociedade, reduzindo o peso e as naturais medições dos
mecanismos de representação. Isso é importante para fortalecer o poder local e
amplia as oportunidades do cidadão na escolha das suas alternativas e na decisão
sobre seu destino.
Segundo Brito e Ribeiro (2008), a criação de sistema institucional consiste no
compromisso de criar estruturas empenhadas em promover as políticas de
desenvolvimento local, como sistema social aberto para promover mudanças
duráveis, integrar os atores e viabilizar os projetos coletivos, as agências de
desenvolvimento, os serviços de economia de uma coletividade e as estruturas
intermunicipais. Promove, também, a transformação dos serviços: serviços técnicos
das coletividades, serviço do Estado e estruturas municipais e outros organismos de
caráter privado ou não governamental.
2.3 Cultura
A cultura, objeto da Antropologia Social, é uma dimensão da vida social, que
impregna todas as esferas de ações e relações humanas. Todas as atividades
humanas comportam a dimensão cultural. É a cultura que lhes confere significações
e lhes interpõem condições, injunções motivacionais. A cultura da sociedade mais
ampla e a cultura particular das organizações são focos de orientações de
50
comportamentos, são fonte de valores, de modos de ser e modos de ver
intervenientes nas ações dos sujeitos e dos grupos que lhe são afetos (FREIRE
2009, p. 103).
Várias são as áreas de conhecimento que atualmente discutem o valor
semântico da palavra “cultura”. Ao buscar essa compreensão no minidicionário da
Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001, p. 212) a define como “o complexo dos
padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações
artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade”.
Para Motta (1997, p.34):
a cultura fornece aos grupos e às nações um referencial que permite aos
homens atribuir um sentido ao mundo no qual vivem e às suas próprias
ações. A cultura designa, classifica, corrige, liga e coloca em ordem. (...) A
cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve
como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada,
lida ou decifrada para que seja entendida (...) Toda cultura é caracterizada
por algum nível de continuidade.
Shein (1991) vislumbra a cultura como um aprendizado coletivo ou
compartilhado, que uma unidade social, ou qualquer grupo, desenvolve enquanto
sua capacidade para fazer face ao ambiente externo e lidar com suas questões
internas. O autor aponta dois mecanismos interativos que a cultura é aprendida: a
redução da dor e ansiedade e o reforço/ recompensa positiva. O primeiro
mecanismo diz respeito à ansiedade derivada da incerteza que uma pessoa tem, ao
encontrar um grupo novo, a respeito de sua capacidade de sobreviver e ser
produtivo ou se os membros irão trabalhar bem uns com os outros. A incerteza
social e cognitiva é traumática, tornando assim suas vidas mais previsíveis. O
problema com este mecanismo de aprendizagem é que uma vez que os indivíduos
aprendam a evitar situações penosas, elas continuam a perseguir este curso sem
testar se o perigo realmente existe. No segundo mecanismo, as pessoas repetem o
que funciona e abandonam o que não funciona. Nesse tipo de mecanismo, as
respostas produzidas estão sendo testadas continuamente no ambiente, o que
permite maior rapidez de adaptação. No entanto, pode se originar um
comportamento resistente à mudança se o ambiente for inconsciente, produzindo
sucesso em um momento e fracasso em outro.
Essa compreensão se resume diante dos argumentos de Schein (2009, p.
29) ao afirmar que:
51
A cultura é formada pelo o conjunto de pressupostos básicos que um grupo
inventou, descobriu ou desenvolveu, ao aprender a lidar com os problemas
de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o
suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros
como a forma correta de perceber, pensar sentir com relação a esses
problemas.
Mesmo reconhecendo o valor das diversas abordagens sobre o assunto, a
presente pesquisa adotará como referência principal os pressupostos teóricos de
Freitas (1991), Motta (1997) e Morgan (1996, p. 117) que assim concordam:
...a cultura refere-se tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido nos
sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais
quotidianos, podendo a palavra também ser usada para fazer referência a
um grau de refinamento evidente em tais sistemas de crenças e praticas.
Por entender que os fatos sociais não podem ser entendidos isoladamente e
por se tratar de uma pesquisa que tem por objeto de estudo a análise de um
fenômeno cultural de maior importância no estado da Paraíba, especificamente na
cidade de Campina Grande, a riqueza das diversas concepções presentes sobre a
temática favorecerá melhor, a identificação da realidade que se propõe a analisar.
2.3.1 Cultura Organizacional Brasileira
Segundo Prates e Barros (1997), os principais traços culturais presentes nas
empresas brasileiras, são: concentração de poder, flexibilidade, paternalismo,
lealdade às pessoas, personalismo, impunidade, tendências a evitar conflito, postura
de espectador e formalismo.
52
O Brasil é uma sociedade coletivista, não se colocando, entretanto entre as
mais coletivistas. O Brasil é, para Hofstede, mais coletivista que o Japão,
país geralmente tido como coletividade por excelência; da mesma forma,
nosso país é caracterizado por uma distância de poder muito grande,
embora perca para as demais sociedades da América Latina, com exceção
da Argentina (MOTTA, 1997, p. 86).
Ao se reportarem sobre a cultura brasileira, os autores lançam mão do
modelo de Prates e Barros (1997), cuja advertência é que a geração de
conhecimento pode encontrar obstáculos a seu pleno exercício, pela concentração
de poder associada a outros traços. Para Motta (1997), o Brasil se apresenta com
grande distância de poder, traço relacionado à hierarquização social. Nossas origens
patriarcais geraram o hábito da obediência irrestrita a uma minoria social, a
aceitação da estratificação por cor, dinheiro ou nome de família. Concentração e
estratificação têm, certamente, implicações na geração e posse do conhecimento e
se contrapõem a um ambiente de valores democráticos e liberais que não restrinjam
a informação, a pesquisa e a criatividade. O conhecer surge, como nova forma de
estratificação,
geralmente
associada
às
anteriores,
limitando,
mesmo
que
parcialmente, a produção de conhecimento, bem como seu livre intercâmbio no
interior da empresa. Nesse contexto, indivíduos das camadas inferiores da
organização
tendem
a
não
se
sentirem
estimulados
a
produzir
novos
conhecimentos, reproduzindo o estabelecido.
Para Caldas (1997, p. 81), a cultura brasileira é “plural, complexa e
multifacetada” e o povo é paradoxal e ambíguo, devido às influências externas que
sofreu. Por outro lado, o Brasil é uma “terra de contrastes” (FREYRE, 1984; MOTTA,
1997, p. 37).
A análise cultural que aborda as principais características de uma
organização de aprendizagem são as seguintes: geração de conhecimento;
transferência eficiente de conhecimento através da organização; transformação do
conhecimento em resultados práticos; comprometimento das lideranças; existência
de objetivos verdadeiramente coletivos; avaliação e refino constantes dos modelos
mentais; posicionamento positivo frente aos fracassos e erros; coexistência
harmoniosa e produtiva de opiniões distintas; clima de abertura e valorização da
verdade; padronização e homogeneização dos meios de comunicação; consistência
53
objetiva das premissas; autocrítica e humildade; busca de visões alternativas;
aprendizado em grupo.
No Brasil, vários estudos clássicos (CUNHA, 1995; FREIRE,1995;
HOLANDA,1994;
FAORO,1989;
FERNANDES,1987; PRADO JÚNIOR, 1987)
foram elaborados no sentido de mapear sinalizações dos traços da cultura brasileira.
Quadro 5 Sinalizações de Traços da Cultura Brasileira.
Traço
Hierarquia
Personalismo
Malandragem
Sensualismo
Conservador
Características-chave
Autoritarismo. Tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais.
Distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais (FAORO, 1989).
Sociedade baseada em relações afetivas. Paternalismo: domínio moral e
econômico. Mistura do público com o privado (HOLANDA, 1994).
Flexibilidade e adaptabilidade como meio de navegação social. “Jeitinho”
(HOLANDA, 1994).
Gosto pelo exótico e sensual nas relações (FREIRE, 1995).
Elite burguesa promove mudança para não mudar a situação e o consequente
processo de acumulação (FERNANDES, 1987; PRADO JÚNIOR, 1987).
Indivíduo busca solução para o problema amparado por uma entidade metafísica
Religiosidade
e religiosa. Sincretismo religioso. Mistura entre o profano e o sagrado (CUNHA,
1995).
Fonte: Brito e Ribeiro 2008.
Reconhecer cada um dos traços sinalizados é importante, caracterizar e
embasar o perfil que molda as organizações do “Maior São João do Mundo” da
cidade de Campina Grande-PB.
54
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Pesquisa
O presente estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa.
(BOGDAN & BIKLEN, 1982; DENZIN & LINCOLN, 2006; GASKELL, 2002; GIL,
1987; LAKATOS & MARCONI, 1993; MINAYO, 1992, 1993, 2000). A pesquisa
qualitativa trabalha com dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos,
hábitos (DENZIN ET AL, 2006; GIL, 1987; LAKATOS & MARCONI, 1993; LÜDKE &
ANDRÉ, 1986; MINAYO, 1993).
Nesse sentido, percebe-se que a pesquisa qualitativa desse estudo envolveu
a obtenção de dados com as entrevistas realizadas. Esses dados foram obtidos em
contato direto do pesquisador na situação de entrevista de pesquisa. Assim, é
enfatizado mais o processo do que o produto e, portanto, a preocupação está em
retratar a perspectiva dos participantes.
Em relação aos objetivos, a pesquisa foi de caráter descritivo e, quanto aos
procedimentos, foi realizada uma pesquisa documental e de campo.
3.2 Área de Abrangência
Como universo da presente pesquisa foram selecionados os sujeitos
envolvidos diretamente no projeto do “Maior São João do Mundo” que atuam
diretamente no evento.
O quadro a seguir especifica a amostra por conveniência definida para a
pesquisa.
55
Tabela 1 Público Alvo da Pesquisa
Sujeitos
Prefeito de Campina Grande
Coordenador de Turismo
Gerente de Eventos
Quadrilha Mistura Gostosa
Coordenador e Marcador de Quadrilha
Representante de Escola pública
Costureira
Representante da Igreja Católica
Jornalista – Paraíba online
CDL – Câmera de Dirigentes Logística
Diretora da Casa do Artesão
TOTAL
Total
01
01
01
30
01
02
01
01
01
01
01
40
A pesquisa realizou um estudo com atores sociais que estão inseridos no
processo de planejamento e execução do fenômeno estudado, caracterizando-se
uma pesquisa por conveniências. De acordo com Leite (2008, p.121), a “amostra é
qualquer parte de uma população da pesquisa que será realmente investigada”.
Desta forma, a amostra da pesquisa foi constituída por representantes atores sociais do processo e que exercem as funções que viabilizam o
funcionamento do evento.
3.3 Plano de Coleta de Dados
As etapas de realização da pesquisa foram: a) levantamento de dados a partir
de visitas em órgãos públicos, municipais e privados e realização de entrevistas
semi-estruturadas, que foram gravadas e transcritas, a partir de Preti (2003); b)
pesquisa bibliográfica específica e documental - seleção e escolha das principais
referências bibliográficas, pesquisa em revistas especializadas, sites e periódicos
sobre a evolução do festival folclórico divulgados
internacional -
na imprensa nacional e
visitas às instituições turísticas e bibliotecas da cidade para
reconstrução de um quadro panorâmico de caracterização da história/origem do São
João de Campina Grande; e c) Tratamento dos dados - codificação, análise de
conteúdo (BARDIN, 2000) e interpretação dos dados.
56
3.4 Categorias Analíticas
As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de
elementos, muitas vezes, sob um título genérico ou agrupamento esses efetuado em
razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 2009).
Para este trabalho, foram considerados como indicadores de sucesso da
constituição do desenvolvimento local sustentável alguns fatores que funcionam
como mecanismos de sustentação do processo indicados no quadro 6 a seguir:
57
Quadro 6 Categorias Analíticas
Variáveis
Desenvolvimento
Local
Para Brito (2005)
“É um processo
de
articulação,
coordenação
e
inserção
dos
empreendimentos
empresariais,
associativos
e
individuais,
comunitários,
urbanos e rurais,
a
uma
nova
dinâmica
de
integração sócioeconômica
de
reconstrução do
tecido social de
geração
de
emprego e renda”.
Cultura
Categorias Analíticas
Indicadores
Atores Sociais - “são aqueles cujas qualificações e
competências os predestinam a representar um papel particular
na realização das políticas de desenvolvimento tais como
diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento;
representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes
de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores
(responsáveis de colocar em prática as políticas); e
representantes eleitos quer sejam incentivadores ou não das
políticas de desenvolvimento” (TEISSEENC, 1994 apud BRITO,
2005)
Redes de Atores Sociais - resultam do apoio integral das redes
naturais/informais, funcionais e utilitárias visando a cooperação
mútua que consiste no conjunto de atores sociais
interdependentes que superam antagonismos locais construídos
na prática cotidiana de resolução de problemas e elaboração e
execução de programas integrados em parcerias com os poderes
públicos territoriais e nacionais (TEISSEENC, 1994 apud BRITO,
2005).
Projeto Coletivo - apresenta-se como forma de objetivos a
alcançar em função de acordos previamente estabelecidos e
selecionados que dão significados pessoais e coletivos aos
processos de mudança(...)consiste numa representação global do
futuro do território; dos principais problemas a resolver; e das
qualidades essenciais a obter (TEISSEENC, 1994 apud BRITO,
2005)
Sistema Institucional – organizações que viabilizam o DLS
Brasileira - Os principais traços culturais presentes nas
empresas brasileiras são: concentração de poder, flexibilidade,
Para Mota (1997,
paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, impunidade,
p.34) “a cultura
tendências a evitar conflito, postura de espectador e formalismo.
fornece
aos
grupos
e
as
nações
um
referencial
que Organizacional - poderoso mecanismo que visa conformar
permite
aos condutas, homogeneizar maneira de pensar e viver a
homens
atribuir organização, introjetar uma imagem positiva da mesma em que
um sentido ao todos são iguais, escamoteando as diferenças e anulando a
mundo no qual reflexão.
vivem e às suas
próprias ações”.
58
3.5 Tratamento dos Dados
Como metodologia de pesquisa, para a análise dos dados obtidos, utilizou-se
a Análise de Conteúdo, proposta por Franco (2008) e por Bardin (2009). Ressalta o
primeiro:
o ponto de partida para a Análise do Conteúdo é a mensagem, seja ela
verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou
diretamente provocada. Necessariamente, ela expressa um significado e um
sentido (FRANCO, 2008, p. 19).
Os dados obtidos na pesquisa foram analisados nessa perspectiva
metodológica, apresentada acima pelos autores.
A análise de conteúdo foi realizada ao longo de cento e vinte dias de trabalho.
O material produzido nas entrevistas foi tabulado e gerou os diversos documentos
que permitiram a análise. A interpretação dos dados utilizou parâmetros qualitativos
e permitiu inferências que estão descritas no estudo conforme a figura 3.
59
60
A figura 3 acima ilustra o processo metodológico utilizado na pesquisa para
alcançar o objetivo proposto. O tratamento dos dados foi feito através de um
Primeiro Movimento (M1) e um Segundo Movimento (M2) para obter as caracterizas
definidoras para pesquisa descrita abaixo:
- Primeiro Movimento (M1) – A FONTE seria o pesquisador que busca
comprovação, ou não, da hipótese que gera um PROCESSO DE CODIFICAÇÃO,
em que se busca conhecer a mensagem diretamente provocada através das
categorias analíticas propostas pelo trabalho; surge a MENSAGEM que descreve as
categorias
analíticas
do
estudo;
seguem-se,
então,
a
PROCESSO
DE
DECODIFICAÇÃO que busca descrever a mensagem, as palavras e as categorias; e
por fim, surge o RECEPETOR que seria o Ator Social ou pesquisado que busca
referências e sentidos das mensagens, palavras e categorias.
- Segundo Movimento (M2) – surge com a FONTE: ator social ou pesquisado que
através do PROCESSO DE CODIFICAÇÃO apresenta a sua percepção mediante
conteúdo manifesto ou conteúdo latente; assim, a MENSAGEM reflete as categorias
analíticas do estudo dando início ao PROCESSO DE DECODIFICAÇÃO cujas
respostas são interpretadas com relação aos conteúdos manifestos e latentes
referenciados pela literatura e, finalmente, o RECEPETOR, ou seja, o pesquisador
em face de verificação da hipótese.
61
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1 Ambiência da Pesquisa
4.1.1 São João de Campina Grande: aspectos Históricos
No Nordeste do Brasil, as festas juninas sempre estiveram associadas ao
mundo rural. É um ciclo de festas transposto da Europa que aqui comemora
especialmente a colheita do milho, cuja plantação coincide, mais ou menos, com o
dia 19 de março, no qual o Catolicismo homenageia São José. Nesse período, o
Catolicismo comemora, ainda, os santos populares: Antônio - 13 de junho, João - 24
de junho e Pedro - 29 de junho. A tradição de acender fogueiras e reunir as famílias
motivou o desenvolvimento de uma série de festejos populares onde predominam:
uma gastronomia própria, os costumes da dança (principalmente a quadrilha) e
música que se adaptaram às condições do clima e ao uso dos fogos, além de
brincadeiras às quais a religiosidade popular deu ênfase, também, nas ocorrências
da arte de adivinhar.
São João é a principal festa de todo Nordeste, se consideradas as
manifestações em homenagem ao santo em todos os Estados da região. De
origem rural, representa a mudança de estação climática e a chegada do
ciclo da fartura proporcionada pela colheita do milho e do feijão, além de
marcar a crença no santo que representa a purificação e regeneração da
vegetação e das estações (NÓBREGA, 2010 p. 25).
O Maior São João do Mundo surge anualmente como acontecimento do
período junino que ganhou contornos de um grande evento da região nordeste,
tornando-se um produto econômico advindo da cultura regional.
62
4.1.2 Evolução Histórica do Maior São João do Mundo
A festa “O Maior São João do Mundo” teve sua institucionalização e seu início
na década de 1980 e alcançou expressão massiva, em que milhares de pessoas de
várias partes do país e do exterior vêm para participar desse evento, que expressa a
cultura nordestina.
Na década de 1980 as comemorações de São João passam a ser
realizadas de acordo com estratégias decididas pelo poder público
municipal. O prefeito Enivaldo Ribeiro (mandato de 1979 a 1982) deslocou o
evento dos bairros para centralizá-lo no Palhoção, um grande e rústico
barracão montado com madeira e coberto com palhas de coqueiros. A festa
começava a atender à lógica do desenvolvimento sustentável, de modo a
impulsionar o avanço econômico de CG (NÓBREGA, 2010 p. 46).
Os festejos juninos eram comemorados nos bairros de Campina Grande
durante o São João do Mundo, de onde surgiu uma infinidade de arraiais e
quadrilhas improvisadas; famílias fechavam as ruas para acenderem suas fogueiras
e brincar quadrilhas.
O Maior São João do Mundo se define num quadro em que a cultura juninofestiva se deriva de uma considerável força popular que foi percebida e
aproveitada pela classe política local já há partir de meados da década de
1970, época em que a Prefeitura Municipal começou a institucionalizar o
evento. Essa política tomou maiores proporções com as iniciativas do
prefeito Ronaldo José da Cunha Lima que, ao assumir a administração local
em 1983, começou a implantar, no plano simbólico e em ações práticas,
projetos para transformar a festa junina da cidade num grande evento,
culminando na criação do Maior São João do Mundo (NÓBREGA, 2010 p.
24-25).
Atualmente, O Maior São João do Mundo possui um calendário de trinta dias
de festa, um empreendimento público de caráter massivo e promocional para o
turismo cultural da região. A realização dessa festa, considerada um megaevento na
localidade e na região, passou a estabelecer novas relações econômicas, políticas,
culturais e turísticas do Estado com a localidade e com os demais municípios da
região.
63
O Maior São João do Mundo, portanto, define-se na utopia de um
importante tipo de celebração da atualidade que utiliza a religião apenas
como pano de fundo, ao cooptar o plano simbólico histórico e identitário da
cultura popular motivada por crenças cristãs e suas derivações, mas na
forma de espetáculo transversalmente culturais, de acordo com os modelos
da contemporaneidade (NÓBREGA, 2010 p. 48).
Portanto, podemos afirma que as dimensões culturais do Maior São João do
Mundo englobam a totalidade sociológica, formada pela história social e identitária
do mundo junino-nordestino.
4.2 Caracterização dos pesquisados
Os atores que compõem o grupo administrativo e técnico são formados por
pessoas que exercem cargos formais na estrutura administrativa da cidade, tais
como: prefeito, coordenador de evento, presidente de associação, e representantes
da escola e da igreja. O grupo dos quadrilheiros pode ser caracterizado como
composto por jovens com idade entre 15 e 30 anos de idade, pertencentes à classe
trabalhadora de renda baixa, ou seja, de renda familiar, ou seja, entre de 1 e 2
salários mínimos, solteiros em sua maioria, estudantes de nível fundamental e
médio.
64
4.3 Resultados
4.3.1 Significado do “Maior São João do Mundo”
Considerando que a participação é o caminho natural para o homem exprimir
sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a
natureza e o mundo, (BORDENAVE, 1983 p. 16) o evento “O Maior São João do
Mundo” de, acordo com a pesquisa realizada, dá sentido à existência dos sujeitos
pesquisados; afirmam estes que, a partir dele, podem construir identidade,
manifestar toda a sua afetividade, desejo de reconhecimento, de ser especial e de
ser valorizado.
Tendo por base essas afirmações, buscou-se conhecer o significado do
“Maior São João do Mundo” para os entrevistados. Dentre os entrevistados, a
palavra “orgulho” foi citada várias vezes, como podemos observar nas falas abaixo,
com destaque em negrito1:
Chegar no parque do povo e ver mais de cem mil pessoas e não ter uma
confusão dá orgulho em saber que você contribuiu com um pedacinho
(E21, 2012).
Tenho sentimento de orgulho, de muito orgulho. Todos nós falamos com
muito orgulho, com muita alegria. Não é simplesmente aquilo que a gente
alimenta, não é ufanismo sem razões (E22, 2012).
Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples
preserva as quadrilhas, e artesanato (E26, 2012).
Primeiro tenho sentimento de muito orgulho, porque fazer quadrilha é uma
coisa que ta na raiz, no ser humano, não é qualquer um que vai fazer
quadrilha (E28, 2012).
Há! Você se sente orgulhoso, você se sente artista, você se sente uma
pessoa especial, uma pessoa que tem algo a mostrar, algo a ensinar (E30,
2012).
1
Nas demais falas, daremos o destaque necessário às palavras, com a utilização do negrito.
65
A palavra “orgulho” sinaliza um sentimento de satisfação pela capacidade ou
realização, ou mesmo pela elevada dignidade pessoal. Se analisado no contexto da
pesquisa, o termo “orgulho” pode ser visto como um sentimento positiva, pois a festa
realmente pontua a memória da cultura junina tradicional com forte apelo para a
identidade regional.
O “Maior São João do Mundo” alcança, devido ao seu gigantismo, significativa
importância, entre as celebrações juninas do nordeste, conforme afirma E21 o que
pode explicar o sentimento de orgulho, pois a festa tem projeção nacional e
internacional.
As palavras “confraternização” e “união” foram citadas pelos entrevistados, o
que evidencia os sentimentos de socialização e compartilhamento feito por todos
que participam.
É uma festa que reúne e tem seu lado positivo pela enorme
confraternização popular, desde a criança ao mais maduro freqüentam o
Parque do Povo nesta época (E20, 2012).
Existe uma união de todos para fazer roupas de quadrilha (E24, 2012).
As festas populares se efetivam como produto de união de forças coletivas,
ao dar oportunidade de confraternização para a comunidade, celebrar alguma coisa
que tem valor para um povo, oferecer algo a ser compartilhado, com o objetivo de
unificar e exaltar o orgulho comunitário (NÓBREGA, 2010).
Também foram citadas pelo pesquisados as palavras “felicidade” e “alegria”
como expressão de significado para os festejos; esses sentimentos afloram durante
o evento que traz satisfação e prazer aos indivíduos de fazerem parte desse
megaevento que acontece durante trinta dias.
O SJ é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha?Para mim não existe
festa melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar balão,
pular fogueira (E3, 2012).
O sentimento que tenho é de alegria, quando tem concurso de quadrilhas
vou atrás para ver os meus vestidos (E24, 2012).
66
É uma festa de alegria. (...) A motivação enche nossos corações de amor,
felicidade, paixão e acima de tudo de dedicação, (...) somos quadrilheiros
acima de tudo (E11, 2012).
A emoção é a principal fonte de consciência. Aparece no discurso dos
pesquisados, corresponde às expressões emocionais dos campinenses diante do
São João como sendo de grande significância para vida deles, pois “é uma força
subjacente ao processo de individualização” (FADIMAN e FRAGER,1986, p.61) e
crescimento.
O Sâo João é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha? Para mim não
existe festa melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar
balão, pular fogueira (E3, 2012).
O Maior São João do Mundo é viver, amar, sentir e simplesmente se
emocionar a cada momento que sinto a alma do São João se aquecer em
mim. Sem São João eu não vivo (E18, 2012).
O que eu sinto é emoção e a expectativa dos concursos de quadrilha, onde
eu participei desde 2009 e não larguei mais (E17, 2012).
A “emoção” é uma experiência subjetiva, associada à personalidade,
motivação e referência para o individuo que, ao se identificar com os festejos, realiza
a ligação entre as ocorrências e sensações físicas e a sua própria vida de forma
positiva.
A cultura é um dos pontos-chave na compreensão das ações humanas,
funcionando como um padrão coletivo que identifica os grupos, suas maneiras de
perceber, pensar, sentir e agir (PIRES e MACEDO, 2006).
Com relação a considerar que o evento resgata e contribui com a cultura
local, foram verificados dois tipos de percepção: o evento valoriza a cultura
tradicional do local e o evento não valoriza as raízes culturais da comunidade local.
Assim, um grupo percebeu a cultura tradicional do local como algo positivo
que está presente no evento.
67
O São João é a festa mais rica em cultura que existe. São vários tipos de
danças e várias comidas típicas. (E4, 2012).
Significa representar a cultura popular brasileira, a cultura nordestina. Vai
além de apenas representar, é mostrar através da cultura e da arte o amor
por nossa região e poder passar através da dança todo este amor por nossa
terra (E7, 2012).
É uma festa cultural que é um símbolo de uma das festas melhores do
mundo (E19, 2012).
Significa um evento importantíssimo para a cidade do ponto de vista
cultural e comercial (E30, 2012).
Dessa forma, os festejos populares fazem parte do conjunto de espetáculos
para turistas e terminam incorporando os aparatos, o simbolismo e a tecnologia do
mercado, para tentar ocupar um espaço na dinâmica do lugar.
No entanto, alguns dos entrevistados não percebem a valorização da cultura
tradicional que originou e dá sustentação ao evento de acordo com as falas a seguir:
Gostaria que a prefeitura abrisse mais as portas para os grupos
culturais, que merecem o seu valor na cultura popular, as quadrilhas
deveriam ser mais valorizadas (E15, 2012).
Pena que as bandas de “forró” de fora, que não têm nada a ver com a
tradição e beleza de um Luiz Gonzaga, levem boa parte do dinheiro
arrecadado pelo evento (E30, 2012).
Essa contradição pode sinalizar que o espetáculo midiático se apropriou dos
eventos culturais tradicionais, como a quadrilha, por exemplo, para fomentar o
turismo e obter resultados comerciais e econômicos. Ou seja, a administração
pública municipal abre espaços para manifestos culturais locais, mas seu grande
foco imediato é mercadológico e não o desenvolvimento local.
A palavra “família” surgiu nas falas dos pesquisados por diversas vezes, o
que evidencia traços da cultura brasileira de acordo com Holanda (1994).
68
[o São João] Leva a família nordestina a alegria, a esperança e a
renovação da fé (E2, 2012).
(...) participar com a minha família da parte social da festa (E20, 2012).
[...] também tem o aspecto da família porque se reúnem como no Natal daí
transmitir a parte boa estrutural (E27, 2012).
A família, num sentido ampliado, também pode ser vista como grupos sociais,
que, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e
socialização dos seus membros como resposta às necessidades da sociedade
pertencente. Nessa perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos,
sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos membros, e o outro, de
nível externo, como acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve
então, responder às mudanças externas e internas, de modo a atender às novas
circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um
esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990).
Podemos inferir que “O maior são João do mundo” significa mobilização e
articulação das pessoas, renda e retorno financeiro significativo, além de valorização
da cultura regional para a cidade e manifestação do orgulho de pertencer à
comunidade local. Fica clara a necessidade de o poder político formal da cidade se
engajar no processo que vem de baixo para cima, para não perder o apoio popular.
Assim, a prefeitura atua estimulando iniciativas locais de desenvolvimento,
corroborando o que diz Albuquerque (1998, p.92) e promovendo a divisão de
trabalho entre o Estado (competências administrativas e técnicas) e as coletividades
(expressão das necessidades da população).
As tradições campinenses relativas às festividades do ciclo junino sempre
foram bastante expressivas, tanto que inspiraram e legitimaram políticas
culturais para a criação do Maior São João do Mundo em moldes de
megaevento, cuja realização não solapou a espontaneidade do povo
campinense em celebrar à sua maneira, conforme seus próprios costumes.
Desse modo, se no Parque do Povo, o principal lugar de realização do
evento, acontecem as apresentações artísticas massivas, da indústria
cultural, com grande concentração de público visitante, nos bairros e nas
casas as comemorações se desenvolvem no âmbito comunitário e familiar
(NÓBREGA, 2010 p. 25).
69
Entendendo que a cultura regional é uma dimensão fundamental do evento, é
interessante lembrar que algumas falas se referiram à quadrilha como uma dança
nobre da corte francesa, o que pode significar a necessidade de valorização do povo
campinense, a partir de uma referência externa - o povo francês, e assim, diminuir
simbolicamente o distanciamento entre o povo e a elite. Por ocasião das
apresentações, os dançarinos, de origem humilde, se vestem com roupas luxuosas
(cerca de R$1.000,00 um traje), se transfiguram e são, por breves momentos de sua
existência, como “nobres europeus”. Durante a entrevista, um dos dançarinos relatou
que quando dança “a alma sai de dentro dele” e que, ao final da apresentação, em
êxtase, muitos colegas, como ele, desmaiam. A esse respeito, Motta (1994 p. 4)
afirma que:
Pela música, pelo canto e, sobretudo, pela dança, somos arrastados na
corrente cósmica do ser e da vida e gozamos de uma espécie de
imortalidade. O tempo para. Velhice, decadência e morte se anulam.
Entramos no fluxo da juventude e da alegria, do triunfo contra o nada e a
insignificância.
O cardápio com as tradicionais comidas regionais: carne de sol, paçoca,
milho, tapioca, cuscuz e queijo de coalho, são agora, acrescido do “creme de
galinha” e até estrogonofe, comidas importadas da Europa que, supostamente
valorizariam a riqueza da culinária regional. A rica e transbordante afetividade do
povo traduzida na criatividade dos inúmeros elementos que compõem o evento, dos
adereços e roupas, aos trios “pé de serra” ainda não é valorizada devidamente por
todos, quando compartilha, por exemplo, espaços com bandas de “tecno” forró de
outros Estados que se apropriam de parte significativa dos recursos que entram na
cidade no período junino.
Para os participantes das quadrilhas, que é a “alma” do São João, o evento
que reúne o sacro e o profano, é uma festa familiar, tradicional, cultural e artística, e
representa o amor pela região e o orgulho de ser nordestino – povo forte e
trabalhador, e que, portanto, é uma festa que mobiliza emoções positivas como
amor, alegria, paixão, entrega e dedicação.
O evento dá sentido à existência desses sujeitos que, a partir dele, podem
construir identidade, manifestar toda a sua afetividade, desejo de reconhecimento,
de ser especial e de ser valorizado. A participação é o caminho natural para o
70
homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo
e dominar a natureza e o mundo (BORDENAVE, 1983 p. 16).
De acordo com a percepção dos pesquisados, o significado do “Maior São
João do Mundo” está sinalizado nas palavras: orgulho, alegria, felicidade, união
confraternização, emoção, cultura e família.
4.3.2 Emergência dos Atores Sociais
A emergência de atores sociais acontece de maneira formal nas escolas de
ensino fundamental / públicas municipais, quando os alunos passam, pelo menos,
dois meses do ano ensaiando quadrilhas. As escolas privadas e de ensino médio em
geral, também costumam estimular os festejos juninos, com quadrilha ou não, com
eventos educativos relacionados ao folclore, comidas típicas, música de “raiz”,
roupas características, etc. Esse envolvimento ou participação, desde cedo, dos
indivíduos, nessas atividades juninas, ou seja, nas atividades culturais, torna-se o
contexto ou ambiente que favorece surgimento dos atores sociais.
No meu caso particular, sou agente político, sou jornalista e advogado e
estou e já tinha trabalhado com o evento São João só que de uma outra
forma, com a Pré Turismo, daí o prefeito viu o meu trabalho e me
convidou não pela minha competência e mais por dedicação política (E21,
2012. ).
A minha historia com as quadrilhas é muito longa. Na verdade cheguei até
a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos dentre eles as
quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três anos
como marcador. (E29, 2012)
Sou funcionário publico municipal, trabalhei alguns anos na
coordenadoria de cultura e hoje coordeno um projeto Mais Educação nas
escolas municipais. Tenho 35 anos, e no São João de Campina estou
vivendo há 23 anos, ou seja, mais da metade da minha vida me dediquei ao
são João de Campina. (E30, 2012)
Começamos a participar nas Quadrilhas das Escolas de Ensino
Fundamental e nos bairros onde moramos. (E29,201).
71
Bordenave (1983, p. 12) diz que “a participação facilita o crescimento da
consciência crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara
para adquirir mais poder na sociedade”.
Informalmente, nos bairros, os atores sociais emergem nas quadrilhas de
forma espontânea, cerca de três por bairro, somando trezentas quadrilhas
cadastradas oficialmente e mais umas cem estimadas que funcionem no período
junino. O poder administrativo e formal da cidade reconhece a importância política
de valorizar as quadrinhas como forte manifestação popular. Para Buarque (2002), a
construção da competitividade nos espaços locais aumenta a importância e
necessidade do Estado como organizador dos investimentos.
4.3.3 Formação de redes de Atores Sociais
Martins (2009, p. 42) conceitua as redes como:
(...) conjunto de contatos que ligam vários atores, nos quais tais contatos
podem ser de diferentes tipos, por apresentarem conteúdos diferentes e
apresentarem diferentes propriedades estruturais.
Portanto, redes sociais são as ligações oriundas da rede de relacionamento
estabelecidas pelos indivíduos e/ou organizações, dentro e fora de determinado
ambiente analisado.
Os relatos sobre a formação de redes de atores sociais também são
permeados de contradições: um grupo expressa a valorização das redes,
principalmente nas quadrilhas e associações.
A minha historia com as quadrilhas é muito longa. Na verdade cheguei
até a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos dentre eles as
quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três anos
como marcador (E28, 2012).
72
Começamos a participar nas Quadrilhas das Escolas de Ensino
Fundamental e nos bairros onde moramos (E29, 2012).
Isso [redes de atores sociais] nasceu nos bairros. A origem é na base dessa
Pirâmide. Agora, o Poder Publico teve que se inserir porque os instrumentos
de funcionamento de qualificar e de profissionalizar e dar novos contornos
teria que necessariamente ter a apresentação organizacional da Prefeitura,
sem perdas daquilo que é sugerido como critica construtiva pelas
Comunidades (E, 2012).
As redes acontecem nas quadrilhas, depois com as associações, até
chegar no poder público. (E28, 2012)
Ser hoje líder de uma quadrilha não é tão fácil. Imagine você lidar com
muita gente, o nosso grupo já chegou a mais de 100 pessoas. (E30, 2012)
Nós formamos nosso relacionamento com os amigos quadrilheiros de forma
espontânea e natural na realização das Quadrilhas (E29, 2012)
As quadrilhas tradicionais foram substituídas pelas quadrilhas estilizadas,
cujos figurinos passaram por modificações e foram se sofisticando; também os
figurinos e as coreografias também foram ficando mais elaboradas. Tudo isso foi
incentivado pelas competições locais e regionais e pela construção do Parque do
Povo, local especifico para apresentações das quadrilhas. Dessa forma, deixaram de
ser reuniões familiares, de amigos de uma comunidade, para se transformarem em
atração turísticas da festa de Campina Grande. Segundo Dowbor (2005) apud
Nóbrega (2010), a competição entre os seres existe, mas que possibilita as espécies
sobreviverem é especialmente o ambiente de colaboração que souberam construir.
Fonseca e Machado-da-Silva (2002) destacam que, por meio das redes de
relacionamento, podem-se observar os valores/crenças e regras, que transmitem
conceitos sobre modos apropriados de fazer e agir de um determinado grupo.
Outro grupo não se sente integrado pela rede, conforme relatos abaixo:
A prefeitura tem sempre aberto espaço para nós da Igreja no sentido de
levarmos um conteúdo religioso para o evento. Não é fácil porque a
questão religiosa fica "perdida" entre os tantos outros interesses que a
festa naturalmente demanda, entre eles, o comércio que é o mais forte
a meu ver. Mas há um diálogo próximo entre a Igreja, padres,
organizadores e a população que participa (E20, 2012).
73
A exclusão pode ser explicada pelo fato de a organização do evento ser feita
pela Prefeitura e que existe participação direta apenas de alguns segmentos sociais.
Os relatos parecem indicar que a formação de rede de relacionamentos
espontâneos ocorre nas quadrilhas e, no máximo, nas associações. Na dimensão
mais ampla, na coordenação do evento como um todo, por exemplo, verifica-se que
as redes formais são determinadas e construídas pela prefeitura e empresas que
patrocinam o evento.
Assim, a formação de redes de relacionamentos se dá em dois níveis,
contraditoriamente: num nível horizontal entre os quadrilheiros (dançarinos, músicos,
coreógrafos, costureiras, dentre outros) e entre as elites políticas e econômicas do
município e do Estado; no nível vertical, da base para a cúpula e vice-versa, entre
quadrilheiros, associações, sindicatos e o Estado - poder político e administrativo.
Para ressaltar a importância da instituição municipal pública Buarque (2002,
p. 54) diz que:
(...) A escala municipal e comunitária cria uma grande proximidade entre as
instancia decisórias e os problemas e necessidades direta da população e
da comunidade, permitindo maior participação direta da sociedade,
reduzindo o peso e as naturais mediações dos mecanismos de
representação. Fortalece o poder local e amplia as oportunidades do
cidadão na escolha das suas alternativas e na decisão sobre seu destino.
No atual momento, a prefeitura de Campina Grande está tendo apoio do
governo federal, mas não tem recebido, por divergências políticas, verbas do
governo estadual da Paraíba, indicativo esse que a formação de redes ainda não é
formalizada e depende do personalismo nas relações.
No momento em que as redes dos atores sociais estejam interligadas em
todos os níveis, nasce a possibilidade, em longo prazo, de se construir um
desenvolvimento local. Mance (1999, p. 38) afirma que (...) “As redes de colaboração
solidária
terão
o
poder de
alcance
cada
vez maior,
podendo
interferir
democraticamente nas políticas publicas nesses diversos níveis (...)”.
Esse crescimento das redes dependerá dos atores sociais, ou melhor, das
decisões e do seu comprometimento na construção de um projeto coletivo.
74
4.3.4 Projeto coletivo
Para Castells (2002, p. 20), o projeto coletivo “são ações coletivas com um
determinado propósito cujo resultado, tanto em caso de sucesso como de fracasso,
transforma os valores e instituições da sociedade”
Afirma ainda este autor (2002, p. 423):
[...] a lógica dominante da sociedade em rede lança seus próprios desafios,
na forma de identidades de resistência comunais e de identidades de
projeto que podem eventualmente surgir desses espaços, sob determinadas
circunstâncias, e por meio de processos específicos a cada contexto
institucional e cultural.
No caso em questão, o projeto coletivo de acordo, com a percepção dos
atores, ainda deixar a desejar, em termos de uma participação efetiva de todos os
segmentos sociais, como podemos observar nos relatos:
Participam dele muitas Entidades, muitos atores, (...). A Prefeitura é a
responsável principal de conduzir o projeto, mas (...) você tem a
Comunidade nos seus Bairros, a Associação Comercial, a Câmara dos
Dirigentes Lojistas, (...), você tem uma tímida participação do Governo do
Estado (E22, 2012).
A festa é organizada pela Prefeitura e Empresas que patrocinam o
evento (...) [pois a realização do evento demanda uma ] uma estrutura
gigantesca, e sempre temos presenciado que há crescimento nesta área.
Depois, vejo que é uma possibilidade de ampliar e fazer girar a economia da
cidade (E20, 2012).
A Secretaria de Turismo é quem faz o planejamento prévio que a cada
ano vai acrescentando e melhorando (E27, 2012).
O planejamento ocorre de forma coletiva nas quadrilhas, como observado nos
relatos, é passado por meio das lideranças de base para as lideranças políticas. É
importante resgatar que o êxito da mobilização e da dinâmica iniciada pelo tecido
associativo decorre da aliança realizada entre os líderes associativos e os líderes
políticos, e da sintonia entre o diagnóstico da situação local existente e a qualidade
do projeto mobilizador, ou seja, no “Maior São João do Mundo”. No caso, o projeto
75
se refere apenas ao evento, ou seja, não consiste numa representação global do
futuro do território; dos principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais
a obter (TEISSERENC, 1994), embora tenha influência no município como um todo.
No projeto Quadrilhação nós atendemos cerca de 40 pessoas na oficina e
ai vai, se multiplicado, na verdade um aluno aprende e quando chega em
casa passa pro irmão, já passa prá família, então assim, nós não temos
noção de quanto é de pessoas que a gente vem atingindo, mais assim, por
oficina são 40 e são 6 oficinas que da 240... ai multiplica ( E30, 2012).
Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações
cada uma faz e as decisões são tomadas pelo sindicato. Ninguém
consegue fazer nada sozinho ajudamos nas regras e eles entram com a
estrutura dividem as responsabilidades (E29,2012).
Do ponto de vista dos entrevistados, a Prefeitura Municipal de Campina
Grande - PMCG oferece, no planejamento, embora elaborada apenas pelo órgão, a
oportunidade de expressarem suas necessidades para o evento. Bordenave (1983,
p. 13) comenta que “(...) os serviços que os organismos oficiais (...) prestam ao povo
são melhor aceitos na medida em que correspondem à percepção que se expressa
mediante participação.”. Talvez o esforço da PMCG seja, no sentido, de promover
um evento que tenha relevância para a população campinense.
Os relatos ainda apresentam algumas contradições; alguns dos atores sociais
não percebem o evento como um projeto coletivo, sentem-se excluídos, à margem
do planejamento e da execução do São João.
A gente só escuta conversando ainda não existe por parte dos atores
sociais uma organização que faça de fato e de direito o que eles
desejam que estejam no projeto do São João ( E21, 2012).
Existe um projeto para o evento, no entanto e este é planejado e executado
pela PMCG através da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico, tendo
apenas a colaboração, em algum momento, das redes de atores sociais, por meio
das Associações, como Associação Paraibana de Quadrilhas Juninas- ASPAJU,
76
Câmara de Dirigentes Lojistas- CDL, entre outras, para que sejam ouvidos no que se
refere à estrutura física do evento. Para Castells (1999, p. 24):
(...) um conjunto de organizações e instituições, bem como uma serie de
atores sociais estruturados e organizados, que, embora as vezes conflitante,
reproduzem a identidade que racionaliza as fontes de dominação estrutural.
Nessa perspectiva, torna-se mais fácil para a instituição que realiza o evento
conseguir a aprovação de todos os envolvidos, mesmo que a participação no projeto
seja de maneira indireta. Outra observação importante é que, esse planejamento, é
para curto prazo, portanto, só atende às necessidades do evento atual. Assim, o
planejamento em longo prazo é negligenciado, dando espaço ao improviso que,
segundo Dourado Filho (2000, p. 11), “é uma verdadeira instituição brasileira”.
4.3.5 Sistema Institucional
Uma sociedade é uma rede de relacionamentos sociais, ou seja, de
relacionamento entre os atores sociais, podendo ser ainda um sistema institucional
formal materializado em organizações, que surgem da articulação entre esses
atores. Na percepção dos pesquisados, essas organizações estariam presentes na
figura da prefeitura e das associações de quadrilhas, com a articulação do evento
feita pelo poder publico.
A coordenação institucional que assumimos em 2005 impunha o dever de
absorver a responsabilidade de dar contorno a uma festa que já era
consagrada em Campina Grande como festa também consagrada
principalmente para nos nordestinos festejos juninos e as particularidades
que neles inserido parte cultural expressão musical forró, o que vemos
paralelamente o artesanato, gravuras, com o cordel, todas essas
expressões que mais são realçadas no período junino.” “(...) uma festa
nascida não por uma imposição gestada tão somente do ente publico, mas
nascida da presença do envolvimento da própria cidade isso se deu aqui.
(E22, 2012).
Existe uma Associação de Quadrilhas que englobam todas aquelas que
querem algum apoio logístico, por exemplo, da Prefeitura. A Prefeitura tem
77
como conduta não interferir. A Prefeitura tem uma relação onde fazem as
reenvidicações e ela ver o que é possível atender. (...) A Prefeitura, portanto
se mantém no papel de parceira, ela dar o que for possível ainda acho que
pouco na minha visão, porque ela fomenta um objetivo do São João gerar
diversão (...) (E21, 2012)
(...) Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações
cada uma faz e as decisões é tomada pelo sindicato. Ninguém consegue
fazer nada sozinho ajudamos nas regras e eles entram com a estrutura
dividem as responsabilidades. “ASPJU” surgiu uma instituição uma parceira
que está dando muito certo (E29, 2012).
Os sujeitos da ação que quem cuida a Secretaria de Turismo que faz
planejamento prévio que a cada ano vai acrescentando e melhorando (E27,
2012).
Onde surge o dialogo do Poder Publico e Sociedade (E28, 2012).
Conforme se observou nos relatos, o sistema de parcerias que constitui a
realização do evento está ligado às intuições publicas, tendo esporadicamente apoio
de algumas associações, mas está longe de ser uma parceria igualitária; apenas em
dados momentos essas associações são ouvidas sobre as questões relacionadas à
infraestrutura do evento. Para Buarque (2002, p. 55):
(...) os atores locais e suas instituições trabalham com um nível e qualidade
de informações limitada ao seu espaço, não captando a complexidade e a
relevância dos fatores externos (decisivos para o seu futuro) no que se
refere tanto as oportunidades quanto as ameaças.
Os entrevistados, em sua maioria, afirmaram que existe alguma interação ou
diálogo entre a PMCG e a sociedade, mas que é percebido como um processo
organizacional fragmentado. Não ocorre a verdadeira gestão descentralizada que
representa a transferência de autonomia, bem como efetivo poder decisório entre
instâncias. Ou seja, apenas ocorre a distribuição de responsabilidade executiva de
atividades, programas e projetos sem transferência da autoridade e autonomia
decisória (BUARQUE, 2002).
Ficou claro, nos discursos, que as parcerias têm o compromisso de apoiar a
cultura através das quadrilhas, artesões e trios de forró, no intuito de transformar
isso em artigo turístico, e que se torna atração, a partir da lógica econômica.
. Rosa (2002) afirma que um processo institucional visa somar esforços de
coordenar ações, gerando sinergia e potencializando os resultados para o
78
desenvolvimento local. De acordo com o estudo realizado, não existe um objetivo
comum construído coletivamente, ou seja, o que se verificou foi que a relação
estabelecida entre as instituições públicas e associações, são apenas reuniões para
a prefeitura apresentar um projeto já pronto, no intuito de obter comprometimento
dos segmentos presentes com os resultados, metas e ações comuns para realização
do evento.
4.3.6 Cultura e Cultura Brasileira
Para Motta (1997) , a cultura designa, classifica , corrige, liga e organiza. Ela
desenvolve princípios de classificação que permitem ordenar a sociedade em grupos
distintos e influencia as orientações particulares que assumem os jogos estratégicos
pelos quais cada um defende seus interesses e suas convicções, no interior de cada
grupo social.
Toda a diversidade de etnias e de costumes que deu origem ao povo
brasileiro se manifesta em seus traços culturais mais característicos que
“representam aqueles pressupostos básicos que cada indivíduo usa para enxergar a
si mesmo como brasileiro” (FREITAS, 1997, p. 39).
O evento é considerado, pelos entrevistados, como sendo a configuração da
cultura nordestina e campinense, no que se refere às quadrilhas. Elas são objeto de
admiração e orgulho municipal.
Nos discursos apresentados, notou-se que a cultura é um elemento presente,
pois é constantemente lembrada como sendo base do evento. O Maior São João do
Mundo tem como principais atrativos representações culturais da região e da cidade
de Campina Grande.
(...) a gente criou a Casa do Artesão, ou seja, novo elemento introduzido no
São João de Campina Grande, porque os nossos artesões produzem aquilo
que mais se aproxima desse expresso que esta vinculada ao período junino.
(E21, 2012).
São festas de Santos, a gente passou nesses últimos três anos por garantir
aquilo que muitos nem aperceberam o que você celebrar nesse período?
79
Santo Antonio, o casamenteiro, São João, São Pedro e São Paulo (E22,
2012).
(...) o São João de Campina Grande, ele acaba sendo uma fonte
inesgotável de movimentação cultural (...) nesse sentido buscarmos nesse
período voltar a incentivar e a mostrar no parque do povo a estrutura da
Literatura de Cordel, dos Santos que originaram isso, as bebidas e comidas
típicas que tenham um espaço preservado para que o evento tenha
atrações como às Ilhas de Forró, com os trios genuinamente locais (E21,
2012).
As quadrilhas hoje buscam vou dar um exemplo um tema “Lampião”, por
exemplo, que não deixa de ser a nossa cultura, as raízes é a historia de
Lampião e se faz um enredo e apresenta nas ruas, no Parque do Povo, nos
concursos (E29, 2012).
Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples
preserva as quadrilhas, artesanatos (E27,2012).
(..)Eu posso falar que o segmento de quadrilha juninas hoje falando
culturalmente é o segmento mais bem organizado de todos, ate eventos
culturais o pessoal é mencionado.(...) (E30, 2012)
Verificamos que os traços da Cultura Brasileira presentes no ambiente e nos
discursos da pesquisa, são os seguintes:
- Hierarquia – todos relatam que a gestão do evento acontece a partir da PMCG.
- Personalismo – a relação entre as instituições, em especial, a PMCG, na fala de
todos os entrevistados, principalmente aqueles que ocupam cargos nesta instituição,
são da mesma rede de relações pessoais ou políticas; além disso, são acolhedores,
hospitaleiros, afetuosos, generosos e valorizam muito a família (características que
foram constatadas durante a pesquisa). DaMatta (1997) afirma que a sociedade
brasileira possui uma lógica relacional, cujas características são a busca constante
pela inclusão, pela maximização das relações e pela crença maior nas relações
sociais do que nos próprios indivíduos que lhes dão forma.
- Conservador – não houve mudança significativa nos atores que detém o poder, ou
seja, representam a mesmos interesses de determinada classe – a classe política
dominante. Entretanto verifica-se uma contradição: a prefeitura, ao mesmo tempo,
precisa do povo e da base para realizar o evento. A Cultura Brasileira está também
presente na coletividade, mas bem distante do poder formal, bem ao estilo do senhor
de engenho (MOTTA, 1997).
80
- Religiosidade - de maneira muito discreta os entrevistados ligam a festa aos santos
do período.
- Malandragem – há uma flexibilidade e adaptabilidade dos atores às situações que
foram mudando, dando novos contornos à cultura, contornos modernos.
A cultura Brasileira teve influencia de com diversos fatores que contribuíram
para formação do pais a exemplo a sua colonização por Portugal, influencias
externas sobre a economia e políticas que até hoje moldam o comportamento
cultural brasileiro.
4.3.7 Criação de Instituições
Com relação à criação de instituições, observa-se que os respondentes só
percebem as associações relacionadas às quadrilhas, A “ASPJU” surgiu como uma
instituição parceira e está dando muito certo (SIC, gerente de evento), o que sinaliza
para a criação de organizações informais de bairros. Estas organizações se
articulam em associações que são mobilizadas pela prefeitura.
81
5 Considerações Finais
Considerando os objetivos propostos neste estudo e as categorias de análise
estudadas, podem-se verificar algumas sinalizações sobre o DL e o evento “Maior
São João do Mundo”.
Com relação ao objetivo específico “1. Investigar se “O Maior São João do
Mundo” mobiliza e contribui na emergência de atores sociais em Campina Grande”,
aferimos que o evento, mesmo permeado de percepções contraditórias, favorece a
emergência de inúmeros atores sociais provenientes dos festejos juninos,
principalmente nas quadrilhas de bairros. Ao investigar o significado do “Maior São
João do Mundo” para os atores sociais de Campina Grande observamos, de acordo
com a percepção dos pesquisado, que esse significado está sinalizado em palavras
positivas
e
mobilizadoras
tais
como:
orgulho,
alegria,
felicidade,
união
confraternização, emoção, cultura e família.
Com relação ao objetivo “2. Verificar a existência de formação de redes de
atores sociais” notamos que as redes se formam em dois níveis: num nível horizontal
entre os quadrilheiros (dançarinos, músicos, coreógrafos, costureiras, dentre outros),
e entre as elites políticas e econômicas do município e do Estado; e, no nível
vertical, da base para a cúpula e vice-versa, entre quadrilheiros e o Estado - poder
político e administrativo, intermediado pelas associações.
Atendendo ao objetivo específico “3. Identificar a existência de um projeto
coletivo no contexto das organizações que realizam o evento cultural em estudo”
percebemos que os projetos coletivos são construídos na base pelos quadrilheiros e
tem caráter descentralizado e pulverizado por todos os bairros, entretanto a grande
organização e planejamento do evento, como um todo, é viabilizado pelo Estado.
Verificamos também que as quadrilhas são a essência do evento e que outros atores
sociais importantes da cidade como Associação do Comércio, representantes das
escolas ou mesmo a igreja, ainda não estão totalmente engajados no processo.
Quanto ao objetivo específico 4 sobre o modelo do sistema institucional
utilizado na promoção do evento e as instituições viabilizadoras do processo,
observamos que, na percepção dos pesquisados, as instituições podem ser
materializadas nas associações que exercem poder político, junto ao poder
constituído.
82
No tocante ao objetivo “4. Estudar elementos da Cultura Brasileira que
permeiam a realização do evento”, observamos que os traços da cultura brasileira
como personalismo – afetividade transbordante em todos os atores sociais,
malandragem – flexibilidade para criar e encontrar soluções para os problemas
emergentes na realização do vento, sensualismo das músicas e danças, e
religiosidade,
podem
ser
observados
como
elementos
fundamentais
de
concretização do “Maior São João do mundo”. Já o conservadorismo e a hierarquia,
à primeira vista, podem ser problematizados, na medida em que convivem
contraditoriamente, o São João tradicional e o “tecno” forró”; a hierarquia é, muitas
vezes, subvertida quando o desejo de realização e a efetivação do evento surge da
base comunitária.
Verificamos de acordo com Albuquerque (1998) que a sociedade local não se
ajusta de forma passiva às mudanças promovidas na cidade, a partir do evento, mas
desenvolve iniciativas próprias específicas, a partir da cultura local. De um modo
geral, todos os respondentes percebem o evento como promotor do DL. Podemos
concluir, assim, que existe, apesar das contradições, um grande potencial no local
para a realização de movimentos, de influência da base para a cúpula política e
administrativa, indícios de possibilidade de concretização de DL.
Finalmente, a partir do cumprimento dos objetivos específicos e referencial de
análise proposto, podemos afirmar que o objetivo geral deste estudo que era
“Analisar a percepção dos atores sociais sobre a influência do “O Maior São João do
Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande foi atingido; e
que, portanto, o problema de pesquisa:” como os atores sociais percebem a
influência do “Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade
de Campina Grande?
Como sugestão para outras pesquisas podemos indicar o levantamento de
outros dados complementares para estudar o desenvolvimento local sustentável, a
partir de outros pressupostos não adotados neste estudo como educação, saúde,
distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida do conjunto da população.
83
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ZAPATA, Tânia. A capacitação, o associativismo e o desenvolvimento local.
Série Cadernos Técnicos no. 1.Fortaleza: Banco do Nordeste.1997.
89
APÊNDICES
90
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA
Objetivo - Analisar a influência do “Maior São João do Mundo” para o
Desenvolvimento Local da cidade de Campina grande.
A- Identificação
1.Nome:________________________________________________________
2.Atribuições_________________________________________________________
3.Tempo de atuação na Associação_______________________________________
4 .É remunerado?____ Você executa outras atividades remuneradas?___________
5.Profissão______________________________________________________
B- Percepção do fenômeno cultural do São João
1. O que significa o “São João de Campina Grande” para você?
2. O que mais lhe chama atenção no evento?
A organização? (Como ela acontece? Quem coordena? Como coordena?)
O evento em si? (as coreografias? As danças? As músicas? As roupas? A
participação das pessoas?)
O significado para a cidade? (Melhora? Fica mais alegre? Entra dinheiro?)
3. Considerando os conceitos de Ator Social
Ator Social - no contexto do processo de Desenvolvimento Local “são aqueles
cujas qualificações e competências os predestinam a representar um papel
particular na realização das políticas de desenvolvimento tais como diretores de
serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais;
encarregados
de
funções;
gerentes
de
projetos;
empresários;
lideranças
comunitárias; operadores (responsáveis de colocar em prática as políticas); e
91
representantes eleitos, quer sejam incentivadores ou não, das políticas de
desenvolvimento” (TEISSERENC, 1994 p.4). Eles agem como novas elites locais
modernizadoras,
conciliadoras
e
militantes
de
maneira
a
produzir
uma
transformação no seio da coletividade, realizando um trabalho como “um agente
que impõe a essa coletividade sua própria transformação interpretando pressões
externas para vencer a resistência dos sistemas de reprodução” (BRITO 2005 Apud
TOURAINE, 1984, p. 236)
Como você surgiu como liderança / ator social nesse processo? De forma
espontânea? Foi convidado?
4. Considerando os conceitos de Redes de Atores Sociais
Redes de Atores Sociais - consiste no conjunto de lideranças / atores sociais
interdependentes que atuam de forma coletiva e cooperativa para viabilizar o evento
e superam antagonismos locais, construindo na prática cotidiana a resolução de
problemas e a elaboração e a execução de programas integrados em parcerias com
os poderes públicos territoriais e nacionais (TEISSERENC, 1994 apud BRITO,
2005).
Existe uma rede de relacionamentos formal ou informal para viabilizar o São João?
Quem compõe a rede? Quem determina a participação? Como ocorre a
participação?
5. Considerando os conceitos de Projetos coletivos
Projetos coletivos: consiste numa representação / documento global, formal ou
informal do futuro do São João de Campina Grande; dos principais problemas a
resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSERENC, 1994 apud BRITO,
2005), que tenha sido elaborado de forma coletiva pelos atores sociais. É global no
sentido em que toca a todos os componentes da vida local (iniciativas culturais;
iniciativas de criação de atividades; práticas de solidariedade entre gerações) e
procura levar em conta as numerosas interações entre esses componentes, e a
explorá-los como recursos a serviço do desenvolvimento local (BRITO 2005 p. 6).
92
Existe um projeto coletivo (feito por todos – escrito ou não) de gestão
(planejamento, execução, acompanhamento e avaliação) do fenômeno cultural do
São João?
6. Considerando os conceitos de Sistema Institucional
Sistema Institucional – são instituições (órgão, empresa, associações) criadas com
o compromisso de viabilizar o São João de Campina Grande. Possuem estrutura,
políticas e ações para operacionalização do evento.
Existe um Sistema Institucional que viabiliza o processo? Como e por quem ela foi
criada?
7. Considerando os conceitos de Desenvolvimento Local Sustentável
Desenvolvimento Local – Para Brito (2005) “É um processo de articulação,
coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais, associativos e
individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração
sócio-econômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda”.
Na sua percepção o fenômeno cultural do São João contribuiu para a melhoria
Desenvolvimento Local Sustentável, ou seja, da qualidade de vida do conjunto
das pessoas de Campina Grande?
8. Considerando os conceitos de Cultura e traços culturais da cultura brasileira
Cultura - Para Mota (1997, p.34) “a cultura fornece aos grupos e as nações um
referencial que permite aos homens atribuir um sentido ao mundo no qual vivem e às
suas próprias ações. A cultura designa, classifica, corrige, liga e coloca em ordem.
(...) A cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve
como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida ou
decifrada para que seja entendida (...). Toda cultura é caracterizada por algum nível
de continuidade”.
93
Cultura Brasileira - Os principais traços culturais presentes nas organizações
brasileiras, segundo Prates e Barros (1997), são: concentração de poder,
flexibilidade, paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, impunidade,
tendências a evitar conflito, postura de espectador e formalismo” (CARVALHO &
LEITÃO, 1999, p.26)
Quais os traços da cultura brasileira permeiam a realização do São João de
Campina Grande?
94
APÊNDICE B- TRANSCRIÇÃO DOS DISCURSOS DOS ATORES SOCIAIS
Qual o significado para você do “Maior São João do Mundo”?
E1.O SJ é um folguedo junino que data de séculos. É uma festa popular que tem um
grande significado para o povo nordestino. Nele é sempre mantida a tradição de ser
uma festa de reunião familiar, na qual está presente uma manifestação cultural
espontânea a qual tem movimentação e atração turística. É o grande momento de
reencontro com a fogueira, o milho, o balão e todos os ritmos nordestinos: xote,
xaxado, baião, arrasta pé e etc. É de uma significância costumeira, onde se reúne o
sacro e o profano.
E2.O festejo junino é uma realização de grandes sonhos, é nesse período que o
povo nordestino pode apresentar com mais garra todo o seu ideal , suas crenças,
sua fé e o orgulho de ser este povo tão forte e trabalhador.
Não se fala em nordeste sem lembrar-se de uma das mais belas manifestações
folclóricas, que é o SJ, que leva a família nordestina a alegria, a esperança e a
renovação da fé. É mantendo a tradição que de uma só vez, grupos de danças,
através da quadrilha expressa seu orgulho em fazer parte desta festa.
E3. O SJ é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha?Para mim não existe festa
melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar balão, pular fogueira.
Em fim...não tem outra festa melhor.
E4.O SJ é a festa mais rica em cultura que existe. São vários tipos de danças e
várias comidas típicas. Em si, tem tudo que o brasileiro quer para uma boa festa.
Tem quadrilha junina que é a maior representação do maior SJ do mundo.
E5.O SJ é uma festa popular que se manifesta na maior parte da região nordeste do
Brasil. Entretanto, a cidade de CG sedia uma grande festa junina por volta de 30
dias, onde concentra-se gente de todo o mundo. Portanto para o campinense essa
grande festa é de extrema importância, pois trás um capital muito bom e ajuda nos
investimentos do Estado.CG na atualidade possui as melhores quadrilhas juninas do
Brasil, ser quadrilheiro não é apenas movimentar o corpo e dançar e sim entregar-se
de corpo e alma. Nós quadrilheiros temos um ditado: ser quadrilheiro tá na alma, no
sangue e no coração. O sangue quadrilheiro segue em nosso sangue [e exige de
nós] dedicação extrema.
E6. Eu sinto muita emoção, uma vontade muito grande que chegue a hora para ver
as barracas, dançar nas palhoças, comer as comidas típicas e curtir as atrações
convidadas, e o principal – as quadrilhas.
E7.Significa representar a cultura popular brasileira, a cultura nordestina, vai além de
apenas representar, é mostrar através da cultura e da arte o amor por nossa região
e poder passar através da dança todo este amor por nossa terra. Dançar e fazer
parte de uma quadrilha junina, é passar este amor através da dança.O MSJM vai
muito além de apenas forró, ali estamos mostrando para todo o Brasil o amor que
95
nós nordestinos temos por nossa cultura e em poucas regiões do país ainda se vê a
cultura brasileira permanecer durante o passar do tempo.
E8.É a melhor época do ano, pois recebemos turistas de diversos países.
E9. O maior SJM é uma festa onde sim podemos levar nossa cultura ao auge, até
porque nesse contexto, nós quadrilheiros temos o prazer de sentir o nosso sangue
pulsar e mostrar o que tem de mais prazeroso entre nós.
Apesar de trabalhar tenho um tempo a parte em relação a quadrilha, afinal é o que
eu mais gosto de fazer.
E10.Sinto a maior satisfação(...) O São João é uma das festas que eu tenho o prazer
de prestigiar e participar e apesar de fazer cursinho, gasto um tempo a mais neste
meio cultural e artístico.
E11.O São João é uma festa de alegria. Ao chegar o mês de junho a motivação
enche nossos corações de amor, felicidade, paixão e acima de tudo de dedicação,
pois nós que somos quadrilheiros acima de tudo, temos 6 meses antecipados de
dedicação para fazermos um Sj maravilhoso.
E12.O MSJM significa para mim uma tradição sem comparação, ao contrário de
muita gente que se presta para o carnaval, o quadrilheiro se prepara para o SJ, que
é a melhor festa do mundo.
E13. O SJ é uma das maiores festas que tem em CG e para nós que dançamos
quadrilha é a época que gostamos mais. (...) É uma tensão muito grande quando
chega a primeira apresentação.
E14. O SJ para mim é a maior festa, pois é onde consigo me divertir, ou seja, é o
meu amor maior.
E15.Gostaria que a prefeitura abrisse mais as portas para os grupos culturais, que
merecem o seu valor na cultura popular, as quadrilhas deveriam ser mais
valorizadas.
E16. Deus é fiel, amor é raiz.
E17.O que eu sinto é emoção e a expectativa dos concursos de quadrilha, onde eu
participei desde 2009 e não larguei mais.
E18. OMSJM é viver, amar, sentir e simplesmente se emocionar a cada momento
que sinto a alma do SJ se aquecer em mim. Sem SJ eu não vivo.
E19.É uma festa cultural que é um símbolo de uma das festas melhores do mundo.
96
E20
1.Como você percebe o fenômeno cultural do São João de Campina Grande?
O São João de Campina Grande é uma festa que está enraizada no coração da
população. Acredito ser a maior comemoração popular em nossa cidade. Porém,
apesar de ter suas origens marcadas pela religiosidade popular e a devoção aos
santos do mês de junho, infelizmente a festa sempre teve outra conotação mais
comercial, social e voltada para o turismo. O turista que chega à Campina Grande
tem sempre se perguntado onde está "São João". O que se vê na realidade, são
bares, restaurantes e bandas com músicas das mais variadas possíveis e muito
pouco se houve o forró tradicional. Mesmo assim, é uma festa que reúne e tem seu
lado positivo pela enorme confraternização popular, desde a criança ao mais maduro
frequentam o Parque do Povo nesta época. E para não ser injusto, tenho escutado
que a preocupação das equipes que preparam o "Maior São João do Mundo" que
está havendo uma reflexão no sentido de tentar trazer a essa festa a parte religiosa.
Algumas iniciativas foram realizadas, mas sem muita visibilidade, sem
muita expressão.
2.O que mais lhe chama a atenção no evento?
Em primeiro lugar a capacidade de organização do evento que por demandar uma
estrutura gigantesca, sempre temos presenciado que há crescimento nesta área.
Depois, vejo que é uma possibilidade de ampliar e fazer girar a economia da
cidade. Acredito que é o periodo em que a cidade recebe a maior quantidade de
pessoas do Brasil e de outros países. E por último, o que já disse em relação a
questão de ser uma grande confraternização que põe Campina Grande
em evidência.
3.Como você participa do evento?
Além de ter apoiado algumas tentativas de implementar a religiosidade, celebrando
a missa de São João, Santo Antônio e São Pedro, levando procissões da Catedral
ao Parque, fazendo entronização da Imagem de São João na Capela cenográfica do
Parque do Povo, abrindo um espaço que é cedido para colocarmos os santos
juninos com explicaçoes de suas histórias, e também gosto de frequentar para
participar com a minha família da parte social da festa.
4.Como você se relaciona com os outros atores/ participantes do evento?
A festa é organizada pela Prefeitura e Empresas que patrocinam o evento. A
prefeitura tem sempre aberto espaço para nós da Igreja no sentido de levarmos um
conteúdo religioso para o evento. Não é fácil porque a questão religiosa fica
"perdida" entre os tantos outros interesses que a festa naturalmente demanda, entre
eles, o comércio que é o mais forte ao meu ver. Mas há um diálogo próximo entre a
Igreja, padres, organizadores e a população que participa.
5.Você participa do projeto coletivo que viabiliza o evento? Como?
Não.
6. Qual o papel da igreja no evento?
Nas questões anteriores disse que a Igreja tem seu espaço, mas é mínimo. O bispo
é convidado para a abertura do evento no palco, recebemos uma barraca para fazer
97
a exposição dos santos juninos, já fizemos as procissões da Catedral para o Parque
do Povo e missas.
7.Você acha que o evento é importante para o desenvolvimnto local sustentável, ou
seja, para a melhoria da qualidade de vida do conjunto das pessoas de Campina
Grande?
Acredito que ajuda ao comércio sim. Muitos grandes e pequenos comerciantes se
beneficiam desta festa. Porém, desenvolvimento sustentável é um conceito que
envolve qualidade mais do que quantidade. Não é o simples crescimento econômico
que determinará integralmente essa situação. A festa traz à cidade
muitas oportunidade, mas em termos de melhorias de vida para o conjunto, não
posso afirmar isso porque me faltam dados. Mas na minha opinião outras iniciativas
poderiam de forma bem melhor trazer melhorias para a sociedade. Investe-se muito
nessa festa, há uma demanda incrível de recursos privados e públicos que se
fossem colocados, pelo menos a metade, em outras prioridades básicas, teríamos
mais benefícios para o conjunto.
E21
A Sociedade como um todo está acostumada com o Estado mandar e as pessoas
vão como se fosse manada nas áreas relacionadas à cultura.
Eu particularmente tenho uma posição e especificamente no nosso São João o
estado não tem como controlar, isso não tem como funcionar em larga escala o
estado não tem como controlar a mente das pessoas de modo a fazer com que
funcione de maneira circulo produtivo verdadeiro por tanto tempo como é o São
João.
Então o que acontece, o São João de Campina Grande surgiu muito mais pelo
conceito das pessoas, como o campinense é festeiro e com o decorrer do tempo o
que era festa coletiva passou a ter o espírito do evento que exatamente coisa que
além de levar alegria para pessoas ela faz que os atores sociais que participam
desse evento também venham usufruir do mesmo.
O que acontece o São João de Campina Grande, ele acaba sendo uma fonte
inesgotável de movimentação cultural, econômica, social da cidade na cidade.
Apesar de algumas pessoas afirmarem que o São João está muito plástico não tem
mais aquelas estruturas arcaicas do inicio do São João.
O São João passou nesses oito anos por um processo de remoldado sobre o
aspecto de buscar um esqueleto confortável, porque a senhora vier de Fortaleza vai
querer um certo conforto atrelado às raízes culturais nesse sentido buscarmos nesse
período voltar a incentivar e a mostrar no parque do povo a estrutura da Literatura
de Cordel, dos Santos que originaram isso, as bebidas e comidas típicas que
tenham um espaço preservado para que o evento tenha atrações como às Ilhas de
Forró, com os trios genuinamente locais.
No Parque do Povo tem sete palcos, sendo dois principais e cinco menores que
estão dispostos em três Ilhas, na Pirâmide que na verdade não é uma Pirâmide,
quando o arquiteto fez foi pensando em uma Fogueira Estilizada, poucas pessoas
sabem disso e outro está na Vila Nova da Rainha.
Sempre com trios que movimenta os turistas.
98
Com Literatura de Cordel fizemos um recrutamento de pessoas que fazem Literatura
de Cordel, também temos cerca de 400 empreendimentos, sendo 300 de menor
porte que são barracas, 100 são pavilhões maiores.
São majoritariamente pessoas da Comunidade que se envolve sugerindo melhorias.
Obviamente que ainda existem dificuldades porque nós ainda não estamos
acostumados com o cidadão se associar em associativismo para reinvidicar, isso
facilitaria muito para missões do poder publico porque você tem um ambiente
financeiro quando você mexe de lado o outro pode reclamar com a Associação
acaba criando um núcleo que passa para o poder publico as reenvidicações.
O São João de Campina Grande tem buscado cada vez mais o vinculo sendo
construído com as pessoas e a Comunidade, até porque se não for a Comunidade
as pessoas, o povo de Campina Grande ir para o São João não consegue
contaminar o restante dos estados brasileiros a virem, quem vem para um lugar
onde as pessoas não se veste adequadamente, não participa adequadamente do
evento.
Se você chega a Campina Grande no São João e não se sente no clima de São
João a Prefeitura pode botar a melhor atração do mundo que não vai animar.
As quadrilhas que são o charme extra do São João, que tinha um período atrás
apagado, hoje têm um investimento e se dependesse de mim teria um investimento
ainda mais.
O charme da quadrilha é as pessoas se reunirem querer fazer aquela apresentação.
Apenas 4% dessas quadrilhas se inscrevem aqui, sendo que as quadrilhas de
Escolas, Posto de Saúde e até de Hospital Psiquiátrico não se apresentam no
Parque do Povo, mais estão fazendo sua parte seja se apresentando na Praça da
Bandeira seja nos Bairros.
O Concurso de Quadrilhas é uma coisa absolutamente bela é apenas para quem
quer concorrer à esmagadora maioria não quer isso, quer fazer um arraiá na sua rua
se apresentar lá se divertir em família que é outro lado não São João.
Apesar de ser um evento de mega atrações não é um evento familiar, então você ver
as famílias no parque na noite de abertura que tem fogos você ver as famílias
voltando cedo por isso às 11 horas é feita a queima de fogos para que as pessoas
possam levar seus filhos é natural você chegar de 7ou 8 horas da noite, na estrutura
de 42m² (quarenta e dois mil metros quadrado) você vai ver famílias.
Existe uma Associação de Quadrilhas que englobam todas aquelas que querem
algum apoio logístico, por exemplo, da Prefeitura.
A Prefeitura tem como conduta não interferir.
A Prefeitura tem uma relação onde fazem as reenvidicações e ela ver o que é
possível atender.
O concurso, por exemplo, teve o ano passado os jurados escolhidos por eles,
tivemos até duas pessoas produtoras do Programa Criança Esperança, que por
nossa interferência levaram a quadrilha vencedora a se apresentar na edição de
2011.
A Prefeitura, portanto se mantém no papel de parceira, ela dar o que for possível
ainda acho que pouca na minha visão, porque ela fomenta um objetivo do São João
gerar diversão, de gerar movimentação do hotel ao chaveiro, por exemplo, ele tem
um faturamento proporcional ao do Natal, sendo que no Natal tem o 13º, tem o
dobro de recurso circulando, no São João não tem então na hora que você estimula
a quadrilha você estimula as pessoas comprar o vestido mais estilizado, mais bonito
você fazendo que toda a economia local se movimente o engenho produtivo acaba
99
funcionando, a costureira ela vai ter um mês de ganho extra, você tem todo um ciclo
produtivo.
Na verdade como funciona o São João a parte estrutural do evento é organizada
pela Prefeitura, por uma agencia responsável pela captação de recursos e ainda do
layout do São João, é feito um processo licitatório pela Prefeitura e a partir do que a
Prefeitura deseja a agencia faz a captação e implantação, mais nós costumamos
escutar muito os atores sociais, como eles não tem uma estrutura organizada no
Parque do Povo, fui a favor que houvesse para dar representatividade a esses
atores, como eles não têm agente tenta utilizar órgãos representativos para colher
essas informações, por exemplo, o SINE Campina, temos a APRASEL de bares e
restaurantes que tem ali enfrentado no bom sentido então o que acontece agente
colhe destas entidades os anseios e também escuta.
A gente só escuta conversando ainda não existe por parte dos atores sociais uma
organização que faça de fato e de direito o que eles desejam que estejam no projeto
do São João.
No meu caso particular, sou agente político, sou jornalista e advogado e estou
Coordenador de Turismo e já tinha trabalhado com o evento São João só que de
uma outra forma, a partir daí foi criada relações com a Pré Turismo, daí o prefeito viu
o meu trabalho e me convidou não pela minha competência e mais por dedicação
política.
O São João de Campina está quebrando um preconceito, o Brasil só tinha um
grande evento a 20 anos atrás que se chamava o Carnaval que era o que todo
mundo lá fora conhecia, hoje já temos no São João o São João da Gente tivemos no
ano 2011 quatro dias de transmissão ao vivo para mais de 150 países esse ano
serão 10 dias.
E o próprio País já olha não só para Campina Grande, mas para o Ceará, Rio
Grande do Norte, Pernambuco e todos os estados que estão fazendo São João já
começa a olhar e perceber que o Brasil não é só Carnaval e o ponto chave disso
tudo em 2014 temos uma vitrine fenomenal, aonde o São João de Campina Grande
ta exatamente na vitrine aonde os turistas virão para cá, mais eles não vão saber o
que é Carnaval, eles vem no período Junino, os turistas que vem para Pernambuco
terão a oportunidade de conhecer o meu o nosso São João e mais importante que
isso vai ter a capacidade de levar essa imagem que deixa de ser apelativa e de
cunho sexual, porque é uma festa muito familiar, muito de juntar pessoas e é uma
festa de vender também a preocupação e fazer com que todos atendam bem e que
este turista volte dizendo que o Brasil tem um evento em junho que é interessante.
A copa tem um dado que pouca gente explora de quatro pessoas quem vem à copa
três não vão assistir aos jogos elas ficam circulando vai conhecer o país apena uma
assiste aos jogos.
Sentimento de orgulho extremo em relação ao São João é uma sensação muito
gostosa em dançar.
Você vê aquilo, as quadrilhas é muito bonito.
A gente lidar com algo no monetário que dar orgulho.
Este ano esmos querendo fazer a coleta seletiva.
Mas você chegar a o parque do povo e ver mais de cem mil pessoas e não ter uma
confusão dá orgulho em saber que você contribuiu com um pedacinho.
Começamos a trabalhar o São João em março tem reuniões com todos lá no parque
tem uma ouvidoria para escutar o que tá bom ou ruim do povo.
A abertura foi feita com 400 artistas que invadiram o São João.
100
Quem é fundamental é a população, não é o coordenador o prefeito e sim a
população que investe no São João aqui existe uma paixão arraigada nas pessoas.
Um exemplo pequeno em Caruaru nosso concorrente resolveu diminuir para 15 dias
uma ou outra pessoa reclamou mais, aqui se um gestor resolver ousar fazer uma
proposta dessas vai pagar politicamente pelo resto da vida dele.
No parque do povo temos três mil empregos diretos e quando desdobra isso temos
doze mil empregos indiretos e se a gente for levar em consideração o resto da
cidade se multiplica muito mais.
Foram investido o ano passado sete milhões de reais, sendo que boa parte é gasto
em cachês que vão embora porque as grandes atrações são de fora, Campina
Grande não tem essa atrações para vender, tem trios de forró.
A movimentação de vendas ficou na faixa de 200 milhões de reais, sendo que o
orçamento está em um bilhão, ou seja, só nesse período foi gerado isso. A gente
investe sete em uma parte, bom três milhões talvez vá embora, só que de ICMS são
34 milhões de arrecadação nesse período os atores sociais ficam satisfeitos.
Os principais atores externos.
Temos patrocinadores são o Governo Federal, com 2,5 milhões e a Prefeitura foi 1,8
milhões sendo o resto foi captado pela agencia, aí você tem diversos segmentos,
bebidas, cosméticos, bancos, Petrobras. Isso também nos diferencia do carnaval do
Rio que tem três grandes contas, aqui é mais pulverizado.
O evento é o mais democrático que existe, mesmo que vai para camarotes vai
simbolizar o evento pago, têm 10 mil lugares uma forma de financiar o evento para
demais, uma festa para 150 mil pessoas.
E os lugares não são os melhores para visão o melhor é para o povo.
E22
A coordenação institucional que assumimos em 2005 impunha o dever de absorver a
responsabilidade de dar contorno a uma festa que já era consagrada em Campina
Grande como festa também consagrada principalmente para nos nordestinos
festejos juninos e as particularidades que neles inserido parte cultural expressão
musical forró, o que vemos paralelamente o artesanato, gravuras, com o cordel,
todas essas expressões que mais são realçadas no período junino.
A história do São João de Campina Grande não é de agora, historia que começou a
quatro décadas, três decanas e meio não é o que o forró só existisse a partir dali
mais o conceito do Maior São João do mundo a maneira como ele surgiu é do final
dos anos 70 e no inicio dos anos 60 quando a Prefeitura e grupos que realizavam as
quadrilhas juninas até então de realizações de ruas.
Nos bares se organizaram para ter um espaço maior de exposição foi quando surgiu
Parque do Povo o São Nosso era uma grande palhoça mesmo nesse Parque do
Povo que vocês devem conhecer.
Inclusive está passando por uma ampla reforma de reestruturação exatamente com
a proposta de qualificar ainda mais o evento e também qualificar outros eventos
porque é um espaço que nos utilizamos para as feiras.
Como as feiras de modas, eventos de período de carnaval que Campina realiza com
espirituais
101
.Então era uma grande palhoça, mais muito rústico onde as condições não eram
atraentes para a profissionalização dele.
A partir daí foi ganhando força como você conhece mencionou segundo dos que
faziam as quadrilhas juninas, dos que se apresentavam no período junino no mês de
junho isso as administrações passando uma para a outra foram colocados novos
elementos, o que nos coube foi fazer com que o São João ganhasse contorno e
ganhasse características profissionalizadas.
Fomos ampliando saiu simplesmente daquele local, um amplo local de 42 mil metros
onde nós espalhamos barracas, pavilhões onde há uma batizada de Pirâmide do
Parque do Povo, onde há um espaço para as apresentações renomadas, artistas
vinculados ao período do São João principalmente os cantores do forró.
Nós fomos levar para os Distritos levamos para os Bairros de forma mais forte, de
forma mais organizada e no ano que passou nos tivemos um apelo maior porque o
São João foi retratado de maneira internacional foi visto em 150 países durante os
quatro dias principais da festa, nós chegamos a 158 com transmissão ao vivo do
São João.
Participam dele muitas Entidades, muitos atores, não apenas os atores
institucionais a Prefeitura é a responsável principal de conduzir o projeto, mas para
esse projeto você tem a Comunidade nos seus Bairros sabe você Associação
Comercial, você tem Câmara dos Dirigentes Lojistas, você tem, e você teve uma
tímida participação do Governo do Estado que estimativamente, aqui açula sobraram
alguns tipos de rusgas entre instituições.
Mas o São João ele é feito de maneira ampla, é essa sua preocupação, esse de ter
sido uma festa nascida não por uma imposição gestada tão somente do ente
publico, mas nascida da presença do envolvimento da própria cidade isso se deu
aqui.
Então é uma festa que movimenta milhões de reais, aquece sobre maneira a
economia e já próximo ao período do mais forte da nossa economia, ainda a que do
período do Natal, mas por se uma festa que particularmente tem trinta dias, ou seja,
de primeiro isso não é muito comum nas outras cidades.
Campina Grande realiza de maneira forte todos os dias não é apenas do dia 20 ao
dia 28 quando você tem o São João e o São Pedro, não você inaugura os festejos
no Parque do Povo do dia 1ª como vai acontecer em uma sexta feira e vai ate o
ultimo dia de junho com o nível e com a qualidade, com artistas dos mais desejados
em termos de apresentações.
Verdadeiras multidões que se aglomeram espalhadas.
E aí outros contextos, a gente criou a Casa do Artesão, ou seja, novo elemento
introduzido no São João de Campina Grande, porque os nossos artesões produzem
aquilo que mais se aproxima desse expresso que esta vinculada ao período junino.
Nós fomos e criamos outros pontos de visitação turística e a F eira da Prata com as
estruturas arquitetônicas edificadas, nó nos servimos dela aos finais de semanas
como atração ao turista que vem conhecer a nossa Cultura, Culinária, Literatura de
Cordel, isso que é muito próprio da gente.
É uma festa espetacular e é uma dos nossos “Estendios” uma das nossas colunas
um evento turístico que é uma coluna para nossa economia que tem crescido.
A razão a fonte vem das articulações e de uma simples apresentação numa rua,
num canto, um bairro até você chegar a um contingente de 300 a 400 quadrilhas
juninas como nos temos hoje o que não só se apresenta no próprio bairro, mas que
também se apresenta no Parque do Povo.
102
Isso nasceu de bairro, a origem é na base dessa Pirâmide agora o Poder Publico
teve que se inserir porque os instrumentos de funcionamento de qualificar e de
profissionalizar e dar novos contornos teria que necessariamente ter a apresentação
organizacional da Prefeitura sem perdas daquilo que é sugerido como critica
construtiva como sugestão abordagem das Comunidades.
Agora o são João nasceu em Campina Grade dos próprios cidadãos, daqueles que
gostam de forro pé de serra, daqueles que brincavam nas suas ruas, daqueles que
brincavam nos seus Bairros, foram se organizando e contaram com a presença do
Poder Público.
O que todos nós sentimos, todos nos amamos esse evento independentes da fala
institucional da fala do político.
Mais todos nós, no meu caso particularmente antes de ter a proporção à política eu
vivenciei o São João de Campina desde cedo e todos nós, não há qualquer filho
nosso que não tenha.
Você pode até ter um gosto musical diferente que não o do forró, mas independente
do seu gosto predileto que não seja o forró vivencia no período junino da forma mis
direto, mas tocante, mas emocionada que Campina Grande vira uma grande arraiá e
vira um gigante a expressar aquilo o que é mais forte pra a gente.
E a agente abraça essa festa não por sermos megalômicos mais por termos
inúmeros fatos expressões da maior festa popular a gente sabe o quanto significa o
carnaval a gente sebe tudo isso, mas você não vai encontrar nenhum evento no país
que tenha características de uma festa que se faz durante 30 dias é algo
assombroso.
São trinta dias ininterruptos no Parque do Povo, nossos Distritos, nosso Bairros, nas
Casas de Shows particulares são trinta dias.
Você tem o carnaval de Salvador que duram 15 dias, o carnaval do Rio muito bonito
superestrutura profissionalizadas e internacionalizadas, mas o São João de Campina
tem como característica maior o de ser um São João de trinta dias com qualidade de
segunda a segunda e você não observa em outro recanto.
Tenho sentimento de orgulho, de muito orgulho todos nos falamos com muito
orgulho, com muita alegria não é simplesmente aquilo que a gente alimenta não
ufanismo sem razões.
O São João tem particularidade, elementos que nos dão e nos enchem de
envaidecidamente por Campina realizar uma festa que é então realçada e enfatizada
por todos e que passa a conquistar a quem quer que nos visite, não há quem não
tenha as melhores referencias e as menções quando tem a oportunidade de
conhecê-la.
Então a palavra que qualquer Campinense não apenas eu e nas condições cidadão
de quem gosta de dançar e brincar muito antes de ser prefeito e muito antes de ter
sido vereador, a palavra chave pra todos nos é orgulho do campinense de poder
realizar a maior festa popular do país.
Mas não há duvida que ele contribui para o desenvolvimento local sustentável,
repercute na economia em todos os serviços, ou seja, você tem os números
fazemos os levantamentos e fazermos nós mesmos institucionalmente através da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
Podemos ver que se tem de movimentação hoteleira, nos bares, restaurantes na
economia informal, nossos turistas e motoristas artesões tem uma mobilização
financeira fantástica pra Campina.
Há uma dependência nossa nesse período e não se da somente nesses trinta dias,
você tem o pré período como vocês tem repercussões desse período no pós evento,
103
para a economia de Campina segundo maior momento é exatamente o São João
ficando aquém do Natal.
Mas não tão longo porque já ganhou tantos contornos tem evoluído tanto nesse
processo de profissionalização que aí todos os Governos querem participar.
O Governo Federal, grandes marcas quando você me pergunta quais são as outras
instituições e entidades, todo mundo quer colar sua imagem a imagem boa.
Então grandes grupos e marcas não apenas de cervejaria, mas enfim as mais
variadas desejam estar colando sua imagem do seu produto a um produto que
garanta uma venda e que garanta visibilidade tanto é que em media temos trinta
anunciantes para cada edição.
Nós chegamos ao mês de março com boa parte de parcerias já celebradas, aqueles
que vieram do ano retraso renovam com desejo de estar conosco de estar aliando a
sua marca a uma marca boa que é rentável comercialmente que é o São João.
São festas de Santos, a gente passou nesses últimos três anos por garantir aquilo
que muitos nem aperceberam o que você celebrar nesse período? Santo Antonio, o
casamenteiro, São João, São Pedro e São Paulo.
Sendo que as três principais é a de Santo Antonio, no dia 12, São João no dia 24, e
São Pedro no dia 28, e a gente brincava muita festa aqui acolá e nunca demos o
devido reconhecimento a aquele que tornaram a festa celebrada nacionalmente que
são os Santos.
Aí nós desde 2007 ou 2008 mais ou menos, principalmente o ano passado nós
criamos o Canto dos Santos Juninos, para lembrar os santos juninos.
Também temos a Cavalgada que sai do pátio da igreja e vai até o Parque do Povo é
outro elemento que também foi criado trazendo a religiosidade.
É impossível centralizar o evento a mais para organizar e instrumentalizar porque é
uma festa cara que ganhou dimensões profissionais ela não é mais uma festa
amadora, como você se permite atrair milhares de visitantes você tem depois de 20,
30 anos, a quadrilha do matuto foi que deu origem ao evento.
O São João é um artigo tão bom e uma marca tão boa, que trás pelo seu sucesso
tantos dividendos pra gente, pra nossa economia que se cruza os braços e dizer que
sua grandiosidade se faz naturalmente, não tem que ter uma participação do Poder
Publico, ele é indutor.
Temos um levantamento que mostram melhorias que tem efeito duradouro e existem
aquelas melhorias que são temporárias.
Se você perguntar se há repercussão na vida social com a realização junina há.
De alguém que ta vendendo seu milho, de alguém que ta vendendo sua roupa, que
está fazendo seu artesanato, há um fortalecimento e outras estruturas.
Isso colabora, há uma imediatidade a realização do São João famílias e pessoas
que tem rendas menores e que passam a ter acréscimo evoluindo nessa renda
mesmo que seja temporária.
O dinheiro fica aqui o São João tem esse troco que prende mais dinheiro do quem
nos visita.
104
E23
Eu participo de quadrilha desde pequena.
O São João é maravilhoso, tenho sentimento de alegria, percebe quando cresce
como a festa é grande, na véspera de São João toda cidade se prepara.
Os hotéis recebem os turistas, a população coloca barracas, 90% do que se lucra
fica na cidade.
Criando uma temática se cria os vestidos e outras roupas valorizando a cultura
paraibana.
A relação entre as quadrilhas é aflita mais as pessoas se assistem, pois são do
mesmo bairro.
Tem uma associação de quadrilhas para discutir os assuntos de interesse.
Alguns anos atrás as quadrilhas não tinham muito espaço nas associações, hoje tem
mais voz.
“O São João não funciona sem quadrilhas e as quadrilhas precisam do são João”.
Se planejam junto ao São João, por conta das quadrilhas.
Nos articulamos com outras pessoas. Exemplo o dono da quadrilha, o trio, os
dançarinos.
Vem uma relação de anos que vão se conhecendo alguém faz bem vestidos,
chapéu, a gente se procura. Ou vamos à Prefeitura perguntar e eles informam.
E24
O são João é muito bom, pois ganho dinheiro fazendo esses vestidos.
Quando vejo meus vestidos fico muito feliz, me sinto uma artista, crio meus modelos,
combino as cores, corto e costuro.
Toda vida costurei, fazia sempre roupas há mais de vinte anos começou o São João
do jeito que é.
Faço mais de dois com outras costureiras.
Começo a fazer em janeiro até junho.
Os retornos pra cidade todos trabalham dá rendimento para todos até a Prefeitura.
O sentimento que tenho é de alegria, quando tem concurso de quadrilhas vou atrás
para ver os meus vestidos.
Existe uma união de todos, pois para fazer roupas de quadrilha, imagina fazer uns
quarenta vestidos e adereços, pois quarenta ou cinqüenta pessoas trabalhando
junto.
Cada quadrilha tem seu estilo, os vestidos sai relacionando o tema reproduzindo a
tradição nordestina na roupa, esse ano vai falar muito de Luis Gonzaga que vai fazer
100 anos.
Eu vivi a mudança era pouca quadrilhas, agora tem muitas, quando tem a
quadrilhas.
Antigamente era comemorada na rua com vestido de chita, agora é todo cheio de
adereços é muito bonito quando vai alguém dançar a família vai todos da família o
bairro se envolve.
E25
Pra mim o são João é bom pra cidade, é uma fonte de renda a mais para a cidade.
Quase não participo mais me sinto feliz, alegre.
É um sentimento de alegria gosto da festa junina é uma das melhores festas.
105
No colégio percebemos a alegria dos alunos é uma coisa que sai da rotina no mês
de junho tendo ensaio de quadrilha de duas semanas.
Os professores incentivam, estimula os alunos a dançarem quadrilha.
Vemos trabalho folclórico, danças.
E26
A cidade de Campina grande vive trinta dias de São João, nesse período a cidade
ferve, há um fluxo muito grande de turista do interior.
A escola entra no clima decorando a escola, como bom nordestino gostamos de
forró, a dança expressa emoção um sentimento.
O Nordeste é visto de maneira pejorativa chamado de Paraíba e quando tem esse
evento ficamos lisonjeados com os elogios que fazem.
Apesar das fogueiras, queima de madeira, fumaça mesmo assim, nada acabará com
os festejos adaptados para época, mesmo quando as pessoas dizem o São João
não é mais o mesmo as pessoas também não.
Os sujeitos da ação que quem cuida a Secretaria de Turismo que faz planejamento
prévio que a cada ano vai acrescentando e melhorando.
Ainda existe aquela disputa com Caruaru.
Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples preserva as
quadrilhas, artesanatos.
Se a prefeitura dissesse que não ia haver festa seria uma revolução.
Acredito que o investimento fica na cidade, já que se investe nos artistas da terra.
Comemoramos os três Santos populares é festejado, tendo uma capelinha mais não
é tão forte como antes, com o tempo vai se ganhando e perdendo algo.
As Escolas tradicionalmente incentivam principalmente as Escolas Municipais.
E28
Não sou daqui, sou pernambucana e moro aqui há onze anos e só conhecia o São
João de Caruaru e quando vim a passeio inicialmente achei o São João bem
diferente de lá, o São João muito diferente, tem muita participação da população.
O de Caruaru lá é mais tem muita participação do turista.
Aqui realmente as pessoas se programam para passar os trinta dias de São João e
tanto, todos os dias têm pessoas, eu acho que meio uma diversão social no São
João aqui.
Que lá em Pernambuco e Caruaru não existe.
Tem três áreas de Show que fica o pessoal mais novo, pessoal em turma, tem a
Pirâmide do Forró que fica o pessoal da periferia. O forró é diferente aqui é mais
rápido mais animado onde é conhecido popularmente como forró risca faca.
E lá em cima fica a parte elitizada onde se encontra os principais restaurantes
levando as melhores equipes.
E aí você ver a diversidade que existe é importante ter a pamonha, mais aí você tem
a pizza, o crepe suíço, o acarajé e aí o pessoal faz a festa e se confraterniza nesse
meio.
E aí que pode levar o meu filho é interessante uma diversão natural.
Que segundo as pessoas e aí a Prefeitura se sensibilizando e pondo as divisões
coloca cada um em seu lugar, naturalmente coisa que acontece na Sociedade.
106
Outra coisa interessante é a Vila Nova da Rainha fazem uma referencia ao inicio da
cidade, ou seja, quem vem à Campina Grande precisa de ter guia para ensinar e
explicar todo aquele espaço ali.
Mais acho muito interessante a cidade em resgatar suas origens, sua cultura,
colocam cachaça, algumas peças bonita de artesões da terra, fazem o pátio de onde
surgiu a cidade e tem até um coreto, reproduzir a parte de tropeiro.
Tentando fazer uma comparação com Caruaru, eu não vi isso.
Acho muito bacana as quadrilhas estarem ali presentes, fazem apresentação na
Pirâmide, vejo o turista ficar cansado com o forro pé de serra que são colocados nas
ilhas do forró, deviam colocar mais ilhas para os turistas.
A cidade ganha com isso.
Toda área de comunicação ganha mais anúncios, os comércio ganha mais, é uma
festa econômica, o carnaval são cinco dias, aqui o São João são trinta dias, isso
pessoal nas redes sociais, é uma manifestação cultural para confraternizar e se
encontrar.
Quando cheguei em 2001 estava tendo um racionamento de energia e a festa
estava decorada toda de candeeiro, passando a Sociedade à mensagem de
economizar energia, quando foi à copa o São João também falava, mexe um
pouquinho com a cultura, pequenos detalhes.
O campinense se sente orgulhoso o são João faz esse resgate dar aula ensina ser
o melhor do mundo em alguma coisa, dar valor isso é importante pra você se afirmar
dar valor as suas origens.
Não sou campinense e tenho um bebezinho agora campinense me orgulho de ter
essa festa de trinta dias, claro que a gente aponta algumas coisas que podem
melhorar como as atrações serem mais regional, mais Ilhas do Forró para as
pessoas que estão nas barracas.
Tai tanta segurança, a questão de segurança aqui em Campina Grande é a origem
de tropeiros cada um vindo de sua região.
Cidade efervescente.
A maioria das pessoas sabe do Maior São João do Mundo, no aspecto social ele faz
bem a Sociedade aqui tem pessoas que estão nas quadrilhas há mais de trinta anos
guardando a cultura, sem ser estilizada.
Em competição, casamento trejeitos a cultura matuto.
Quando você está aqui você sente o povo feliz, pra mim o mais importante é o
aspecto social fora o econômico e o cultural.
É o Maior e o Melhor São João do Mundo.
Também tem o aspecto religioso, a questão profana e religiosa.
É tão forte essa questão social que no mês de junho já se discute o São João do
ano seguinte.
Me lembro do ano passado teve uma força muito grande de um grupo de mulheres,
mulheres de classe alta chamadas mulheres empresarias no sentido da Associação
Comercial, com a influencia dela foram no comercio de comercio em comercio para
falar com os empresários para todos enfeitarem a cidade fizessem uma decoração.
Pra fazer com que o espírito junino fosse mais evidenciado.
Onde surge o dialogo do Poder Publico e Sociedade.
Essa minha percepção naturalmente no mês de maio os estoques das lojas
começam a se renovar, pois os campinenses quer ir bonito para a festa, às roupas
da moda começa a surgir, começa a comprar, os hotéis começam a se capacitar
para receber o turista.
107
O São João na área de Comunicação você chega mais próximo das empresas que
precisam anunciar que lá tem o xadrez, a bebida, os restaurantes horários especiais
para receber.
Para a Imprensa e Comunicação é o momento especial.
Nós em particular do Paraíba Online fazemos todos os anos parceria com a Rádio
Caturité, pois o São João tem esse diferencial ele monta uma estrutura, uma Rua da
Imprensa que prioriza a transmissão do que esta acontecendo na festa, à população
a Sociedade em si respeita muito esses meios de comunicação, valorizam muito.
Praticamente todas as Rádias na Rua da Imprensa.
Um mês muito bom economicamente para o portal é praticamente um Natal, também
tem o aspecto da família porque se reúnem como no Natal daí transmitir a parte boa
estrutural, também quem é da parte política é mais próximo de eleitores.
O São João é um palanque maravilhoso e o eleitor forma a sua opinião.
Aqui também tem o memorial do Maior São João do Mundo onde tem desde
escavadeira é feito pelo material doado pelo povo de Campina.
Uma coisa interessante é os músicos que ganham mais, o comercio contrata a
todos, ficam orgulhosos.
Eu acredito que quando se fala hoje é o primeiro dia do São João mexe com toda a
Sociedade.
Não sei se existe um planejamento da Secretaria de Turismo para atrair mais que o
visitante consegue perceber, é a representação de Campina e de todos da
Sociedade.
Como existe tem uma divisão em três áreas, a do publico mais animado, a Pirâmide
onde estão os populares e as famílias com mais dinheiro eles fazem essa divisão
não sei se planejado, deve ser planejado.
As Entidades de Classes da Associação Comercial parece que elas tomam fôlego
para mostrar serviço, o exemplo é o gasto com pesquisa com turistas para saber o
que eles acham.
As Entidades de Classes tem que receber o mérito também.
O elemento mais forte é o forró que é tocado, você na culinária, você lá no churros,
crepes suíço, pizza italiana ouvindo forró que é tipicamente nordestino, o forró que
fala das origens do amor de Luis Gonzaga, pé de serra, forró do homem que quer
chuva, da inocência do povo, o resgate da musica que fala do sentimento do povo.
E29
Na verdade cheguei até a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos
dentre eles as quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três
anos como marcador.
A minha historia com as quadrilhas é muito longa com relação ao figurino nosso São
João vai ganhando contornos cada vez melhor e sempre acontece, acontece que as
quadrilhas, vou citar a Mistura Gostosa e Moleca Sem Vergonha e muitas
quadrilhas: Brilha São João, Tradições da Serra, enfim tem belo figurino, as pessoas
de outros Estados compram e esse figurino usado nesse ano, no ano seguinte vai
ser usado em outros Estados e esse dinheiro vai servir para ser investido no ano
seguinte.
As quadrilhas aqui não sobrevivem somente esses três meses, nesses três meses
juninos, mas o ano todo, sendo que essas quadrilhas em Campina Grande são
altamente profissional, o nosso concurso não deixa a desejar, não deixa a desejar a
ninguém.
108
As quadrilhas aqui já têm galpões próprios para ensaiar, que inicia em outubro onde
passam a ver e comprar material para confeccionar roupas e adereços.
Nós sabemos que a quadrilha o nome da quadrilha era de um baile feito em Portugal
que passou pela França e chegou ao Brasil, que nós criamos nosso próprio estilo.
Em campina Grande mantém um estilo de competição. As quadrilhas hoje buscam
vou dar um exemplo um tema “Lampião”, por exemplo, que não deixa de ser a nossa
cultura, as raízes é a historia de Lampião e se faz um enredo e apresenta nas ruas,
no Parque do Povo, nos concursos.
Quem vai assistir hoje as quadrilhas de Campina grande a historia do Nordeste da
nossa cultura um pedaço da cultura do país, aí vamos supor esse ano vai trabalhar
Luis Gonzaga, onde surgiu Luis Gonzaga? Qual foi a importância de Luis Gonzaga
no contexto nacional até mesmo internacional? Fazem esse trabalho.
Primeiro tenho sentimento de muito orgulho, porque fazer quadrilha é uma coisa que
ta na raiz, no ser humano, não é qualquer um que vai fazer quadrilha.
Eu comecei a fazer quadrilha na escola, eu comecei dançando quadrilha no Colégio
e como comecei a gostar muito fui logo noivo e no ano seguinte de novo.
Me sentia um rei, como é bom, maravilhoso e gostosa a sensação de dançar
quadrilha. Eu tô fazendo bonito, nossa! Caramba! O pessoal está aplaudindo, a
gente fica empolgado.
E mais nós fazia-mos passeio de carroça de burro e ia passear dar um passeio
como se fosse na roça de carroça de burro e depois voltar para dançar quadrilha.
E isso foi me empolgando criando raízes quando saí da escola fiz na minha um ano,
outro ano e participar de concurso, a ganhar concurso e as quadrilhas crescendo,
crescendo e até em 97 foi o primeiro concurso de quadrilha na Paraíba em Campina
Grande e por coincidência minha quadrilha foi campeã e essa mesma quadrilha foi
convidada a participar do concurso Nacional em Fortaleza e fomos a 1ª quadrilha
paraibana que foi vice-campeã Nacional.
As escolas publicas maciçamente fazem quadrilhas, elas tem uma força maior que
as escolas particulares que quase não fazem no período junino as crianças pedem
na publica é quase uma obrigação quando tem ensaio as crianças ficam animadas.
O que me motivava muito naquela época era saber da nossa cultura, falava assim
na minha mente ta se aproximando o período junino e as quadrilhas é quase como
se fosse a minha identidade, é seu espelho eu tenho que está ali é minha quadrilha.
Era que motivava além de outras coisas era uma maneira de se aproximar da
menina que você gostava, enfim era uma brincadeira.
Varias outras atividades, hoje posso dizer sem sombra de duvida, hoje posso dizer
sem sombra de duvida que Campina Grande tem quadrilha de ponta que pode
representar em todo país. Em cada quadrilha vai sempre ter um que se destaque por
isso ele vai ser o noivo.
Hoje a figura do marcador se esconde um pouco, são as musicas que puxam as
quadrilhas. Tenho certeza absoluta que são shows, verdadeiro espetáculo e eu vivo
isso aqui não fica atrás de nada. Hoje fazemos planejamento em 97 precisamos
viajar e tivemos que pedir isso foi horrível isso nos tocou e hoje temos ASQN e hoje
temos um relacionamento muito bom com a prefeitura e hoje criou-se uma ajuda de
custo e os prêmios são pagos na hora.
Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações cada uma
faz e as decisões é tomada pelo sindicato. Ninguém consegue fazer nada sozinho
ajudamos nas regras e eles entram com a estrutura dividem as responsabilidades.
“ASPJU” surgiu uma instituição uma parceira que está dando muito certo.
109
Cito dois atores de suma importância para o São João de Campina, 1º são as
minhas referencias as quadrilhas, São João sem quadrilhas não existe e os trios de
forró eles fazem o evento ser mais forte, são em media 150 trios que se subdividem
no Parque do Povo em dias alternados.
Por exemplo, no São João de Campina tem o Santana, Os Três do Nordeste,
Amazam e Tom Oliveira, enfim Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fagner, Calypso
atrações internacionais, mas existe além do palco Pirâmide e três Ilhas do Forró e a
Vila Nova da Rainha, nessas Ilhas de Forró se apresenta por noite em media de três
trios de forró, geralmente são três famílias envolvidas o sanfoneiro, a zabumba e o
triangulo, geralmente o pai vem com filho que trás o sobrinho e estão envolvido
nesse cenário do São João.
Eu acredito esse agente tem dados embasados eu acho que o volume de
oportunidade que aumenta nesse período é infinito a gente ver bares, hotéis,
restaurantes o transporte, turistas e moto taxistas, pessoas das lojas que
confeccionam, vendem tecidos, aviamentos para roupas.
As pessoas que confeccionam roupas de quadrilhas só para vender no São João,
pessoas que começam a confeccionar vestidos em novembro por acaso minha mãe
ela confecciona cerca de cinco mil vestidos e vende tudo.
E30
A Mistura gostosa já tem 18 anos, sou funcionário publico municipal, trabalhei alguns
anos na coordenadoria de cultura e hoje coordeno um projeto Mais Educação nas
escolas municipais. Tenho 35 anos, e no são João de Campina estou vivendo a 23
anos, ou seja, mais da metade da minha vida me dediquei ao são João de Campina.
As vezes não somos tão observados, mas sempre estamos ali por trás mantendo
nossa tradição que as quadrilhas juninas que é fazer são João de Campina, então,
então, assim, eu me sinto honrado em poder participar desta festa em poder levar o
nome e a tradição desta festa para outros locais, outros estados.
Como eu faço trabalho em Porto velho, faço trabalho no Rio de janeiro, faço trabalho
em Caruaru. Pra mim o São João é uma tradição que deve ser mantida e
preservada. Eu acredito que um povo sem cultura e tradição não tem historia, não
tem sentido. Você chegou a 20, 30 anos e não ter o que contar do seu povo da sua
fonte da sua história, então assim, pra mim é muito importante.
O São João de Campina hoje e de outros Estados, Caruaru também muito bonito e
Sergipe. Mas o de Campina é diferente, é especial, é diferente só quem vive é quem
sabe. Desde escola dando quadrilha. Há! Você se sente orgulhoso, você se sente
artista, você se senti uma pessoa especial, uma pessoa que tem algo a mostrar, algo
a ensinar. Já que agente começou na escola, na quadrilha da escola, quadrilha
tradicional que não tinha nenhuma organização era você sair de casa e botar um
remendo na calça, na camisa, pintava bigode e ia. Até os chegar hoje com as
quadrilhas estilizadas.
Quando passou a estilizar aqui em Campina pela história foi praticamente em 96/97
que começou a estilizar em Campina, foi todo um processo de mudança para se
chegar em um espetáculo que as quadrilhas do nordeste tem, que é todo um teatro,
toda uma assessoria, um adereço, uma coreografia e toda uma historia a se contar.
As quadrilhas hoje é todo um espetáculo a parte. É importante ressaltar: nós
mantemos a tradição, temos que manter a tradição certo? De você ver, olhar o grupo
e ali reconhecer uma quadrilha.
O São João de campina quando começou não tinha parque do povo, era barracas
com coberturas de palha, então aquela coisa muito regional, aquela coisa
110
tradicional, então mais foi preciso modernizar, foi preciso a cobrir a barraquinha
porque quando chovia molhava o povo foi preciso colocar iluminação melhor, preciso
botar piso que era chão, tudo moderniza.
Hoje uma gama de artista contribui, o apoio que vem geralmente é da prefeitura,
apoio privado também, mais os artistas é quem fazem, porque o são João nasceu
praticamente das quadrilhas juninas. As quadrilhas começaram o são João de
campina, fazendo suas quadrilhas no terreiro, no bairro com fogueirinha e o são
João foi expandindo, saindo dos bairros dizia agora ganhou uma posição central na
cidade.
Dentre de Campina existe uma coisa interessante: nós mesmos, nós campinense
somos artistas natos, eu posso dizer assim, aqui se encontra de tudo, então o
dinheiro aplicado aqui em Campina é voltado pra cidade e entra. Você quando vem
montar algo em Campina, você procura profissionais da terra que tem. Não precisa
você trazer de fora, então tudo que vem pra cá agente aproveita, o pessoal daqui
mesmo, quer dizer: um recurso que podia trazer alguém de fora nós temos artista
daqui maravilhosos, você pode montar qualquer coisa que você quiser. Eu posso
falar que o segmento de quadrilha juninas hoje falando culturalmente é o segmento
mais bem organizado de todos, ate eventos culturais o pessoal é mencionado.
Quadrilhas juninas têm, vou começar por Campina, uma associação campinense,
uma federação Paraibana e tem a UNERJE uma união nordestina e tem a
CONFEBRATE que é a federação brasileira das quadrilhas juninas. Então assim,
nós estamos interligados do município ao país é uma organização que agente se
comunica direto, nós temos os sites, nós temos contato direto com organizando
nosso estatuto deixando tudo pronto. Prá que tudo que gira no Brasil tanto nordeste,
centro-oeste a sede é em Brasília funcione da mesma forma, certo?
Hoje as quadrilhas estão muito organizadas nesse sentido. As eleições acontece de
2 em 2 anos, por sinal esse ano tem eleição já fui presidente, já passei pela
presidência da associação de Campina Grande e funciona tudo normalmente. Os
grupos escolhem dois representantes que votam na pessoa que agente acha que
tem condições de ser presidente a criação da associação foi e é muito importante,
se agente não tá organizado nada acontece, se vai um grupo, vai outro espalhado
agente não consegue nada, mais organizado serve pra gente sugerir soluções para
alguns problemas que temos em Campina, levar até os órgãos que possam nos
ajudar como: a prefeitura empresa privada ou governo de estado e tentar melhorar
cada vez mais o segmento.
Nós somos organizado nesse sentido prá que nós chegamos há um ponto comum e
nós todos sejamos ajudados. O quadrilarte é um ponto de cultura que funciona em
todo Brasil um projeto do governo federal que funciona em parceria com a prefeitura
e a associação da Mistura Gostosa. Fora o quadrilhação que é um projeto
profissionalizante, o lado social eu nós podemos falar da Mistura Gostosa é que na
sema que vem nós teremos o sopão que é na associação de bairro, em abril voltado
par o esporte como nós somos desportista estamos fazendo uma copas de vôlei em
Campina e também uma minemratona. Fazemos também arrecadação de agasalhos
e de roupas usadas para os pobres que aqui tem um período muito chuvoso em
campina Grande e já aconteceu até desastre aqui em campina. Fizemos
arrecadação de alimentos e tal, então não visa somente cultura tem que ter olhar o
social principalmente no bairro onde começa a mistura Gostosa. Surgiu no bairro,
nós temos que olhar o bairro então tudo que nosso bairro precisa, então o que
podemos ajudar, a mistura Gostosa tá ajudando. Sempre trabalhei em grupos, né!
Desde da igreja quando tinha 12 anos e fiz minha formatura, batizei, me crismei e fiz
111
a 1ª eucaristia, então passei a ser catequista e montar um grupo de teatro no bairro,
então daí sempre era o mais novo da turma e com idéias boas , idéias legais. Acho
que é assim, o líder nasce naturalmente, agente quando menos espera está a frente
de algumas coisas, as pessoas me indicaram. Essa pessoa tem uma cabeça boa,
tem um pensamento legal para liderar um grupo, então partindo daí fui para bandas
marciais onde coreografei em bandas marciais. Ai, vem as quadrilhas, então hoje
ensino. É interessante agente não imagina que vai chegar a ser um líder quando
você ver você tá dentro, então não tem como você fugir do compromisso se o
pessoal lhe dar essa responsabilidade você tem que assumir. Eu sou assim, gosto
de responsabilidade, quando me dão eu tenho que fazer.
Ser hoje líder de uma quadrilha não é tão fácil você lidar com muitas gente, o grupo
já chegou a mais de 100 pessoas quando agente tá viajando chega a 105 pessoas,
então assim, você não faz nada só, aqui na mistura temos cargos, mais na verdade
todos trabalham por igual, até pessoas que não tem cargos tem as vezes um
trabalho mais forte que um próprio coordenador, então assim, não precisa ter nome
prá poder trabalhar pode ser uma pessoa ativa. No projeto quadrilhação nós
atendemos cerca de 40 pessoas na oficina e ai vai, se multiplicado, porque isso é
um multiplicador, na verdade um aluno aprende quando chega em casa passa pro
irmão, já passa prá família, então assim, nós não temos noção de quanto é de
pessoas que agente vem atingindo, mais assim, por oficina são 40 e são 6 oficinas
que dar 240 3 ai multiplica. Um projeto muito bem aceito pelo bairro abraçou tanto
que agente descentralizou e saímos do bairro e alcançamos outra localidade de
Campina porque o pessoal tava pedindo saiu daqui itinerante levando para outros
locais de Campina Grande deu certo demais o projeto. Acho que o são João não é
de prefeitura, não é do governo é do povo.
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Maria Erica De Lira Santos