1 UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”: UM ESTUDO DE CASO NATAL 2012 2 MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação stricto sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre. Linha de Pesquisa e Estratégica de Pessoas. Temática: Gestão Orientadora: Profª. Drª. Lydia Maria Pinto Brito Coorientadora: Profª. Dr ª. Fernanda Fernandes Gurgel NATAL 2012 3 S237D Santos, Maria Érica de Lira. Desenvolvimento Local e “O Maior São João do Mundo”: um estudo de caso / Maria Érica de Lira Santos – Natal, 2006. 63f. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Potiguar. Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. 1. Administração – Dissertação. 2. Desenvolvimento Local. Cultura. Atores Sociais.– Dissertação. I.Título. RN/UnP/BSFP CDU:658(043.3) 4 MARIA ÉRICA DE LIRA SANTOS DESENVOLVIMENTO LOCAL E “O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Potiguar, como requisito parcial para a obtenção do Titulo de Mestre, na área de concentração Gestão Estratégica de Pessoas. Data da aprovação: 23/10/2012 BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Profª. Dr ª. Lydia Maria Pinto Brito Orientadora Universidade Potiguar ___________________________________ Profª. Dr ª. Fernanda Fernandes Gurgel Universidade Potiguar (Coorientadora) ___________________________________ Profª. Dr ª. Patrícia Whebber S. de Oliveira Universidade Potiguar ____________________________________ Profº. Dr º. Washington Jose de Souza UFRN 5 DEDICATÓRIA A Deus, por ser justo e maravilhoso. Aos meus pais José Natalício dos Santos e Maria das Graças de Lira Santos, por me darem suporte em tudo que eu faço na vida, pessoas pelas quais sinto admiração, respeito e orgulho. Ao meu esposo Eder Cavalcante de Souza que está sempre ao meu lado me apoiando e incentivando, pessoa a quem amo muito e tenho profundo orgulho de ser companheira de vida. À Darize, Janice e Driele, irmãs queridas e sempre presentes em meu cotidiano. 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por me guiar em todos os caminhos, por mais que às vezes eu não queira enxergar, sempre esteve comigo. Aos meus pais, pela educação concebida e exemplo de vida que são para mim. Ao meu esposo, sempre presente, em todos os momentos, fonte de força e inspiração. A todos os meus companheiros de mestrado. À professora Lydia Brito, pela atenção e eficiência com que sempre me atendeu e por ser uma pessoa maravilhosa e fonte de inspiração. À professora Fernanda Gurgel, pelo grande suporte e ajuda à pesquisa. Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Potiguar. A Roberto Flávio Guedes Barbosa, pela liberação do trabalho para o mestrado, me incentivando a progredir profissionalmente Aos moradores de Campina Grande – PB, em especial ao Sr. Vando que foi de uma grande presteza em atender e ajudar durante a pesquisa. À Prefeitura Municipal de Campina Grande, em especial ao Prefeito que compreendeu a importância desta pesquisa e nos abriu as portas necessárias para a realização da mesma. 7 RESUMO Para Ribeiro (2008) o Desenvolvimento Local (DL) pode ser entendido como aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que, mediante o alinhamento com a identidade e a cultura do lugar; e o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona determinada é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da comunidade local, num movimento da base comunitária para a cúpula política e administrativa. Nesse contexto, este estudo de campo, de natureza qualitativa e descritiva, tem como ponto de partida o seguinte problema: como os atores sociais percebem a influência do fenômeno cultural para o DL da cidade de Campina Grande-PB. Tem como objetivo geral analisar a percepção dos atores sociais sobre a influência da festa “O Maior São João do Mundo” para o DL da cidade de Campina Grande. Como referencial de análise, utilizou-se a Sociologia do Desenvolvimento a partir de Teisserenc (1994), que defende a importância da emergência de atores sociais e sua articulação em redes de relacionamentos para elaboração de projetos coletivos e criação de instituições viabilizadoras das propostas de interesse do conjunto da comunidade local. A partir deste fenômeno estudado, pode-se aferir que existe um grande potencial no local para a realização de movimentos de influência da base para a cúpula política e administrativa, indícios de possibilidade de concretização de DL. Como sugestão para outras pesquisas indica-se o levantamento de outros dados complementares para estudar o desenvolvimento local sustentável a partir de outros pressupostos não adotados neste estudo como educação, saúde, distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida do conjunto da população. Palavra-Chave: Desenvolvimento Local. Cultura. Atores Sociais. 8 ABSTRACT For Ribeiro (2008) Local Development (DL) can be understood as a process that reactivation of the economy and to foster local company, by aligning with the identity and culture of the place, and the efficient use of internal resources available in a given area is able to stimulate economic growth, create jobs and improve the quality of life of the local community, a community-based movement for political and administrative umbrella. In this context, this field study, qualitative and descriptive, has as its starting point the following problem: how social actors perceive the influence of the cultural phenomenon for the DL of Campina Grande-PB. It aims at analyzing the perception of social actors about the influence of the party "The Greater Saint John of the World" for the DL of Campina Grande. As a benchmark analysis, we used the Sociology of Development from Teisserenc (1994), which argues for the importance of the emergence of social actors and their articulation in social networks for developing collective projects and institution building enablers of proposals of interest the whole local community. From this phenomenon, we might infer that there is great potential in place to perform movements influence the base to the dome and administrative policy, evidence of the possibility of achieving DL. As a suggestion for further research indicates the lifting of other complementary data to study local sustainable development from other assumptions not used in this study as education, health, income distribution and improving the quality of life of the whole population. Keyword: Local Development. Culture. Social Actors. 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – IDHM de Campina Grande (1991/2000).................................................16 Quadro 2 – Estratégias Fundamentais de Ação .......................................................32 Quadro 3 – Características do Desenvolvimento..................................................... 38 Quadro 4– Experiências Internacionais.....................................................................43 Quadro 5 – Sinalizações de Traços da Cultura Brasileira.........................................56 Quadro 6 – Categorias Analíticas..............................................................................58 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Etapas do Desenvolvimento.................................................................... 37 Figura 2 – Compreensão dos Paradoxos................................................................. 40 Figura 3 – Organograma da PMCG para organização do evento............................ 61 11 LISTA DE SIGLAS DL – Desenvolvimento Local IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento AO – Aprendizagem Organizacional ASPJU – Associação Paraibana de Quadrilhas Juninas CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas PMCG – Prefeitura Municipal de Campina Grande ONU – Organização das Nações Unidas OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 14 1.1 Contextualização......................................................................................... 14 1.2 Problema / Questões da Pesquisa............................................................ 15 1.3 Justificativa.................................................................................................. 18 1.4 Objetivos..................................................................................................... 21 1.4.1 Objetivo Geral...................................................................................... 21 1.4.2 Objetivos Específicos.......................................................................... 21 1.5 Estrutura do trabalho.................................................................................. 22 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO................................................................................... 23 2.1 Desenvolvimento: conceitos clássicos de Desenvolvimento e Desenvolvimento Local........................................................................................ 23 2.1.1 Conceitos Clássicos de Desenvolvimento....................................... 24 2.1.2 Desenvolvimento local (DL)............................................................... 27 2.2 Abordagem Sociológica de Desenvolvimento Local..................... ........ 31 2.2.1 Atores Sociais...................................................................................... 45 2.2.2 Rede de Atores Sociais....................................................................... 46 2.2.3 Projeto Coletivo................................................................................... 47 2.2.4 Instituições para Viabilização do Desenvolvimento Local Sustentável........................................................................................................... 50 2.3.Cultura......................................................................................................... 50 2.3.1 Cultura Brasileira................................................................................ 52 3 METODOLOGIA.................................................................................................. 54 3.1 Tipo de Pesquisa........................................................................................ 54 3.2 Área de Abrangência.................................................................................. 55 3.3 Plano de Coleta de Dados......................................................................... 56 3.4 Categoria Analíticas................................................................................... 56 3.5Tratamento dos Dados............................................................................... 58 4 ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................... 61 4.1 Ambiência da Pesquisa............................................................................. 61 4.1.1 São João de Campina Grande: Aspectos Históricos....................... 61 4.1.2 Evolução Histórica do Maior São João do Mundo........................... 62 13 4.2 Caracterização dos Pesquisados............................................................. 63 4.3 Resultados.................................................................................................. 64 4.3.1 O SIGNIFICADO DO “MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO”........................ 64 4.3.2 EMERGÊNCIA DOS ATORES SOCIAIS................................................ 70 4.3.3 FORMAÇÃO DE REDES DE ATORES SOCIAIS................................... 71 4.3.4 PROJETO COLETIVO............................................................................ 74 4.3.5 SISTEMA INSTITUCIONAL.................................................................... 76 4.3.6 CULTURA E CULTURA BRASILEIRA................................................... 78 4.4 Criação de Instituições.............................................................................. 80 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 81 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 83 APÊNDICES.......................................................................................................... 89 APÊNDICE A.......................................................................................................... 90 APÊNDICE B.......................................................................................................... 94 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização Atualmente, discutem-se quais os caminhos do desenvolvimento e de que forma esse desenvolvimento envolve as condições sociais, culturais, ambientais e políticas. Todos esses fatores influenciam na qualidade de vida humana, portanto a participação nas escolhas deve ser de todos. A busca de soluções para os problemas sociais permite que o homem exerça sua cidadania de forma plena, cujos princípios estão norteados por valores como a igualdade, liberdade, justiça econômica e assistência mútua. Portanto, a construção desse ator social passa pelo projeto coletivo que viabiliza a sociabilidade humana em que o maior valor é o exercício pleno da cidadania. No âmbito dessa discussão complexa surge a política do Desenvolvimento Local (DS) que, segundo Brito (2006), é um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração sócio-econômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda. No contexto atual, a necessidade incessante por alternativas que possam impulsionar o desenvolvimento local tem sido objeto de discussões nos últimos tempos. O objetivo está relacionado ao desenvolvimento eficaz que esteja alicerçado num tripé que envolve crescimento econômico, justiça social e preservação ambiental. Essa necessidade se torna ainda mais urgente quando se analisa o desenvolvimento atual dos municípios no Brasil, em especial do Nordeste. Diante disso, a necessidade de desenvolver alternativas para tentar dinamizar o desenvolvimento local torna-se mais urgente por meio da valorização cultural de seu povo. Pode-se inserir a atividade turística como uma possível alternativa para dinamizar o desenvolvimento local e contribuir para que aconteça de forma mais justa e seja realizada por meio de atividades turísticas nos espaços locais. Proporcionaria, dessa maneira, uma possibilidade real para o desenvolvimento, não só no âmbito local, mas também no âmbito regional. 15 Assim, segundo Ribeiro (2007) o desenvolvimento pode ser entendido como aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que, mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da comunidade local. A festa “O Maior São João do Mundo” teve sua institucionalização e seu início na década de 1980 e alcançou expressão massiva, aonde milhares de pessoas de várias partes do país e do exterior vêm objetivando participar desse evento que expressa a cultura nordestina. São trinta dias de festa - um empreendimento público de caráter popular e promocional para o turismo cultural da região. A realização dessa festa, considerada um megaevento na localidade e na região, passou a estabelecer novas relações econômicas, políticas, culturais e turísticas do Estado com a localidade e com os demais municípios da região. 1.2 Problema/Questões de Pesquisa O desenvolvimento de um município depende de suas potencialidades locais e para impulsionar este desenvolvimento é importante conhecer o potencial da região ou município o qual deve ser aproveitado de maneira que contribua para a promoção de um desenvolvimento sustentável. No entanto, para que isso ocorra, há necessidade de desenvolver políticas que tenham como principal objetivo proporcionar a oferta de trabalho e consequentemente renda para a população local, de modo a promover uma melhoria na qualidade de vida dessa população. Existe hoje uma grande discussão sobre as políticas que norteiam o “Desenvolvimento Local Sustentável” que vem ganhando espaço e tornando-se uma alternativa de fonte econômica concreta de renda, visível, principalmente, em países em desenvolvimento, afetados pelo clima desfavorável da economia internacional. Com base nesse contexto de análise é que surgiu a necessidade de se propor a presente pesquisa, voltada especificamente para um dos eventos mais importantes no contexto cultural da cidade de Campina Grande, situada no Estado da Paraíba. 16 Esse evento vem ganhando, a cada ano, uma massiva participação de pessoas de diversos estados brasileiros, como também de pessoas de países estrangeiros. Mesmo reconhecendo o valor cultural que esse evento representa para a sociedade campinense, questionam-se os benefícios do evento para a melhoria das condições de vida dessa população, uma vez que os patrocinadores vinculam apenas uma visão para atenderem às organizações do evento sem haver uma preocupação com investimentos no que diz respeito aos problemas socioeconômicos da comunidade local. Constata-se que a cada ano a população local se mobiliza com o intuito de ganhar seu sustento em apenas trinta e um dias de duração do evento. Diversas são as alternativas e possibilidades que emergem a partir do evento para: vendedores ambulantes, donos das barraquinhas de artesanato, entre outros comerciantes que expõem nesse período, seus produtos e serviços, além dos benefícios para a população local, de uma maneira geral. O município de Campina Grande possui um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM que tem variado nos períodos de 1991 a 2000, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano, verificados no quadro abaixo: Quadro 1 - IDHM de Campina Grande (1991/2000) ANO IDMH Renda Longevidade Educação 1991 0,647 0,614 0,585 0,741 2000 0,721 0,678 0,641 0,844 Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUD (2012) A referida festa junina pode contribuir nesses índices, pois de acordo com os pressupostos teóricos “o desenvolvimento local sustentável é um processo interno de uma determinada localidade capaz de proporcionar a melhoria das condições de vida da sociedade, respeitando os limites e as possibilidades dos seus recursos naturais” (BUARQUE, 1999, p. 35). Neste contexto, esta pesquisa, tem como ponto de partida o seguinte problema: como os atores sociais percebem a influência do “Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande-PB? 17 A Condição da pesquisa se apoiará em algumas questões que embasam expectativas quanto aos resultados a alcançar. Tais questões são apresentadas a seguir: 1. O fenômeno cultural “O Maior São João do Mundo” mobiliza e contribui na emergência de atores sociais em Campina Grande? 2. Existe no contexto do evento a formação de redes de atores sociais e parcerias entre a sociedade civil organizada, poder público e patrocinadores, na viabilidade de um projeto coletivo do fenômeno cultural do “Maior São João do Mundo”? 3. Existe um projeto coletivo no contexto das organizações que realizam o evento cultural em estudo? 4. Que modelo de Sistema Institucional é utilizado na promoção do evento? 5. Quais os elementos da cultura brasileira que permeiam a realização do evento? 18 1.3 Justificativa A relevância desta pesquisa, para a sociedade, se apoia nas premissas da resolução 44/228 da Assembléia Geral de 22 de dezembro de 1989, adotada quando as nações do mundo convocaram a Conferência das Nações Unidas sobre Meio ambiente e Desenvolvimento. Do resultado desses diversos encontros, surgiu o compromisso registrado na Agenda 21 (1989) a qual se dispôs entre outros objetivos, o de voltar-se para os problemas urgentes de hoje, como também, de preparar o mundo para os desafios do próximo século. Assim, reflete um consenso mundial e um acordo político em nível mais alto no que se refere a desenvolvimento e cooperação ambiental. De acordo com a Agenda 21, o êxito de sua execução é responsabilidade, sobretudo, dos Governos e, para concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais. E a cooperação internacional deverá apoiar e complementar tais esforços elaborar uma nova proposta que possa atender aos problemas mais urgentes, entre eles, “o estímulo a políticas econômicas favoráveis ao desenvolvimento sustentável”. Do ponto de vista do conhecimento, esta pesquisa justifica-se pela necessidade de reflexão sobre a mobilização, destinação e utilização eficaz de recursos internos e externos no fomento ao desenvolvimento sustentável. Sabe-se que, na maioria das vezes, utilizam-se os termos desenvolvimento e crescimento como sinônimo, porém o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não condição suficiente. Enquanto o crescimento refere-se a incrementos quantitativos, o desenvolvimento implica melhorias qualitativas (RESENDE, 2000, p. 70). Baseada nesses princípios e reflexões, a temática sobre o Desenvolvimento Local vem ganhando amplo espaço de discussão atualmente e está presente nos discursos e declarações de princípios e estratégias de governo, partidos, empresas, ONGs, fundações, instituições financeiras e dos principais organismos mundiais. Gutierrez (2001, p. 24) argumenta que é preciso ficar alerta com as propostas de “autoajuda” enfatizada pelas ações do Estado e de suas instituições, explicando que: “Há fragilidade econômica principalmente nos aspectos ‘produtivistas’, por não conter elementos suficientes para desenvolver a identidade comunitária e preparar uma transição cultural”. 19 Segundo Gutiérrez (2001), um problema visível e com frequência surge em formas de apaziguamento político, de geração de emprego a baixo custo, de ocupação de mão-de-obra ociosa em terras de baixa produtividade, de transferência de custo de infraestrutura e manutenção, bem como de liberação de custos das cargas sociais. Para Buarque (1998) o Desenvolvimento Local objetiva fortalecer os empreendimentos empresariais associativos e os micros empresários para que gerem empregos sustentáveis. Dessa maneira, é uma resultante direta da capacidade dos atores e das sociedades locais se estruturarem e se mobilizarem, com base em suas potencialidades e em sua matriz cultural, para definir e explorar suas potencialidades e especificidades, buscando competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações. No novo paradigma de desenvolvimento, isto significa, antes de tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica dos recursos humanos, domínio do conhecimento e da informação, elementos centrais da competitividade (BUARQUE, 1999. p. 34). A reflexão de Buarque (1999) evidencia melhor a importância da temática em estudo, na medida em que parte do princípio que o desenvolvimento local sustentável é um processo interno de uma determinada localidade capaz de proporcionar a melhoria das condições de vida da sociedade, respeitando os limites e as possibilidades dos seus recursos naturais. A proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais locais permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no consenso com tais atores, capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os agentes tenham maiores margens de autonomia nas decisões” (CEPAL, 1990, p. 917). A implementação do projeto de Desenvolvimento Local voltado ao fenômeno do “Maior São João do Mundo”, pode trazer benefícios significativos para a cidade, como forma de emergir novos atores compromissados em resignificar a identidade cultural local. Benefícios esses que podem se concretizar por meio da negociação e parcerias com instituições de fomento produtivo empresarial e a sociedade civil, compromissada com a efetivação de uma cultura que promova o desenvolvimento local. Desse modo, justifica-se a importância da realização da pesquisa justamente por reconhecer o valor que esse evento representa para a comunidade local, bem 20 como pela própria dimensão que o evento vem alcançando nos últimos anos e para comunidade acadêmica proporcionando material para futuros estudos sobre o tema. O sucesso na implementação do projeto dependerá da criação de uma cultura coletiva inscrita na memória coletiva e em rede associativa levada pela vontade de se afirmar uma identidade regional. 21 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Geral Analisar a influência do “Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande-PB. 1.4.2 Específicos 1. Investigar se “O Maior São João do Mundo” mobiliza e contribui na emergência de atores sociais em Campina Grande. 2. Verificar a existência de formação de redes de atores sociais. 3. Identificar a existência de um projeto coletivo no contexto das organizações que realizam o evento cultural em estudo. 4. Pesquisar o modelo do sistema institucional utilizado na promoção do evento. 5. Estudar elementos da cultura brasileira que permeiam a realização do evento. 22 1.5 Estrutura do Trabalho A dissertação está organizada por uma introdução que contém a contextualização, a problematização, as questões do estudo, a justificativa e os objetivos: geral e específicos. Na sequência, existe uma revisão de literatura e o referencial construído na temática “Desenvolvimento e Desenvolvimento Local”. Como referencial de análise, tem-se a Sociologia do Desenvolvimento, a partir de Teisserenc (1994), que defende a importância da emergência de atores sociais e sua articulação em redes de relacionamentos para elaboração de projetos coletivos e criação de instituições viabilizadoras das propostas de interesse do conjunto da comunidade local. A parte seguinte do trabalho aborda os procedimentos metodológicos: tipo da pesquisa, área de abrangência, plano da coleta de dados, categorias analíticas e tratamento de dados. Seguem, ainda: Ambiência da Pesquisa, São João de Campina Grande, Evolução Histórica do Maior São João do Mundo, caracterização dos pesquisados e resultados, seguidos pelas conclusões. 23 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Desenvolvimento: conceitos clássicos de Desenvolvimento e Desenvolvimento Local Neste século, várias estratégias adotadas pelos governos do país, como o modelo desenvolvimentista implantado a partir dos anos de 1950, tiveram como objetivo, modificar o modelo capitalista. Verifica-se, no entanto, que após meio século da implantação do modelo de intervenção desenvolvimentista, ainda permanecem os problemas relacionados à má distribuição de riquezas no Brasil e na região Nordeste (BOURDIEU, 1997). A situação vem se agravando nos últimos anos, a partir da década de 1980, com a emergência de novos padrões de acumulação capitalista e das novas determinações do mundo do trabalho que passam a exigir cada vez mais dos mercados a oferta de produtos e serviços de qualidade superior; mão de obra capacitada e em sintonia com o conhecimento; novas formas de organização; novas formas de gestão empresarial; e o acesso à utilização de tecnologia de última geração (BOURDIEU, 1997). Muito já se teorizou sobre a força que o capital adquiriu ao possuir o domínio da ciência e tecnologia, tornando o confronto com a classe trabalhadora numa luta cada vez mais desigual. O capitalismo estabeleceu patamares tecnológicos que vem alcançando nas últimas décadas, o que faz aumentar o fosso que o separa do trabalho e impossibilita qualquer negociação que reverta em redistribuição de renda. Esse fato, além de baixar o poder de barganha da classe trabalhadora, dificulta uma reflexão e uma consequente busca de solução para o crescente desemprego, perdas das conquistas trabalhistas, pauperização e exclusão daqueles que vivem do trabalho (TEIXEIRA, 1996; ANTUNES, 1995; LEITE, 1994; BOURDIEU, 1999). Alguns segmentos da produção do conhecimento, notadamente na área da administração (SENGE, 1995; DRUKER, 1995) defendem que está surgindo uma nova era pós-capitalista cujo poder não é mais o do capital, mas o do conhecimento. O olhar sociológico tem se voltado para esta questão quando passa a investigar as posições que ocupam no espaço social as diversas categorias profissionais a partir do domínio dos diversos capitais simbólicos / capital cultural (BOURDIEU, 1997). 24 2.1.1 Conceitos Clássicos de Desenvolvimento A noção do desenvolvimento e o desenvolvimentismo são criados simbolicamente, na visão de Leher (1998), quando do discurso sobre o Estado da União realizado pelo presidente Harry Truman, dos Estados Unidos, em 1949. Segundo Viscaíno Júnior (2008), nesse discurso, o desenvolvimento é reduzido a um conjunto de técnicas possibilitadas pela utilização da ciência, com crescimento da produtividade e a intensificação do comércio internacional. Com um grande esforço institucional que envolve a criação e implementação acelerada do Plano Marshall, a Organização das Nações Unidas - ONU, Banco Mundial, Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, e a Aliança para o Progresso, promoveram a difusão da nova crença de tornar universais o modo de vida e o sistema econômicopolítico americanos. Na análise realizada por Nascimento (1986) a respeito dos modelos de desenvolvimento econômico, este autor concebe a assimilação dos modelos de desenvolvimento a partir de uma lógica que envolve formas de organização econômica e de estrutura social do trabalho que são mais complexas ou menos complexas. Segundo Viscaíno Júnior (2008) o grau de complexidade dessas estruturas econômicas, nesse caso, envolve o estágio das forças produtivas, o patamar de produção material com uso de tecnologias, a dimensão técnica do trabalho, a geração de riqueza material e suas formas de apropriação e reprodução. Sunkel (2001); Abramovay, Arbix e Zilbovicius (2001) também localizam, no final da 2ª Guerra Mundial, a origem da teoria do desenvolvimento e, de certa forma, com suas particularidades, realizam uma discussão política ao reafirmarem a importância histórica para o pensamento econômico dessa teoria e dos seus formuladores. A ideia que nos passam é a da existência de um movimento em favor do desenvolvimento, e que, além de reunir importantes contribuições teóricas, acima de tudo, foi um movimento político. A análise formulada por Comin (2001), embora com outra preocupação, caminha no mesmo sentido, ou seja, reforça um movimento político e radicalmente ideológico na construção da teoria do desenvolvimento da forma como esta se concretizou no pensamento econômico latino-americano. Dessa forma, sugere a ideia de um processo histórico que se construiu, acima de tudo, 25 como resultado de uma ideologia, de uma convicção movida por desejos de transformações e expressões teóricas e filosóficas. O Desenvolvimento também ocorreu no Brasil; para entender melhor é necessário resgatar parte da história do pensamento econômico brasileiro, caracterizado necessariamente, entre o período de 1945 a 1964. Quando se procura estabelecer as bases do chamado “pensamento econômico”, Bielschowsky (1998) analisa, entre outras questões, que as décadas de 1930, 1940 e 1950 serviram de alicerce para a implementação do sistema industrial brasileiro, nesse período, marcado pela rápida e profunda divisão do trabalho nacional, através de um processo que implementou e difundiu significativamente o sistema produtivo em transformação, “o progresso técnico mundial, até então praticamente confinado aos limites do comércio exterior do país” (BIELSCHOWSK, 1998, p. 5). Ao discutir o conceito de “desenvolvimentismo” na obra “Pensamento Econômico Brasileiro”, Bielschowsky (1998), além de pressupô-lo enquanto proposta ideológica de transformação da sociedade brasileira, definida pelo projeto econômico, mostra alguns aspectos básicos que fundamentam essa corrente, entre eles: a ideia de que a industrialização seria a via de superação da pobreza e do desenvolvimentismo brasileiro; a noção de que não haveria meios de alcançar uma industrialização eficiente e racional no Brasil através de espontaneidade das forças de mercado. A ideia de que o Estado é quem seria o responsável por todo esse planejamento e, consequentemente, viabilizaria a expansão almejada dos setores econômicos e os instrumentos de promoção dessa expansão; e, finalmente, a ideia de que o Estado imporia a execução da expansão, captando e orientando recursos financeiros e promovendo investimentos diretos nos setores em que a iniciativa privada fosse insuficiente. As principais correntes do pensamento econômico que ajudam a entender os pontos de vista dos economistas intelectuais que defendiam determinado interesse econômico, na época, são: a corrente neoliberal que tinha como pressuposto básico a defesa do sistema de mercado como fórmula básica de eficiência econômica; a corrente desenvolvimentista, cujo planejamento da economia visava a intervenção estatal e a socialista, e integrantes objetivavam defender os investimentos estatais em setores básicos da economia e o controle de capital estrangeiro, como etapa histórica de transição para o socialismo (BIELSCHOWSK, 1998, p. 39). 26 No momento, o que interessa para a proposta em estudo é o entendimento sobre a concepção de “Desenvolvimentismo” que, segundo Bielschowsky (1998, p.91) “foi a ideologia econômica de sustentação do projeto de industrialização integral como forma de superação do atraso e da pobreza brasileiros”. Nesse sentido, é possível distinguir dentro dessa abordagem, três correntes que completam o eixo norteador dessa ideologia, a qual objetivava um projeto comum de formar um capitalismo industrial moderno no país e a perspectiva comum de que, para isso, era de fundamental importância planejar a economia e proceder a distintas formas de intervenção governamental. Três são as correntes que subdividem a proposta Desenvolvimentista, a saber: no setor privado e no setor público. Este está compreendido em duas vertentes: os “não-nacionalistas” e os “nacionalistas”. Na sequência dar-se-á ênfase às principais ideias relativas ao contexto político da época, bem como os principais defensores intelectuais das respectivas correntes na visão de (BIELSCHOWSK, 1998). Ao caracterizar as especificidades relacionadas no setor privado, Bielschowsky (1998) relata que neste grupo encontravam-se economistas que defendiam uma posição antiliberal e desenvolvimentista. Estes acreditavam que o setor industrial teria um papel central a cumprir no futuro da economia nacional. Nessa perspectiva, apoiavam o Estado diante da acumulação privada e apresentavam diversas opiniões quanto ao grau de participação estatal que convinha ao processo. No que diz respeito à participação do capital estrangeiro, não é possível distinguir uma posição única e homogênea nessa corrente. No setor público, observa-se que os que seguiam a linhagem dos desenvolvimentistas “não nacionalistas”, combatiam a proliferação dos investimentos estatais alegando que o Estado não deveria ocupar o espaço em que a iniciativa privada pudesse atuar com maior eficiência. Assim demonstravam interesse pelo capital estrangeiro, com preferência ao capital estatal. Entre outras questões ainda davam ênfase à necessidade de controle da inflação e apoio às medidas de estabilização monetária. Como principal mentor dessa proposta econômica encontra-se Roberto Campos, diplomata, graduado em economia pela Universidade de Columbia, onde se destacou nos anos de 1950 como um pensador da posição desenvolvimentista. Trabalhou no projeto de industrialização do país e defendeu o planejamento do desenvolvimento econômico. Além de defender a atração de 27 capitais estrangeiros, como a mineração e energia, atacou solução estatal para investimentos com solução privada. Dentre as principais teses constata-se: a defesa da industrialização; defesa do planejamento; planejamento seccional, ponto de germinação e pontos de estrangulamento (BIELSCHOWSK, 1998, p. 125). As novas formas que está assumindo o capitalismo nos países periféricos não são independentes da evolução global do sistema. Contudo, parece inegável que a periferia terá crescente importância nessa evolução, não só porque cêntricos serão cada vez mais dependentes de recursos naturais não reprodutíveis por ela fornecidos, mas também porque as grandes empresas encontrarão na exploração de sua mão de obra barata um dos principais pontos de apoio para firmar-se no conjunto do sistema (FURTADO, 1974, p. 60). Deste modo, a produção possível diante da fragilidade do meio ambiente não pode ter os espaços estrangeiros como padrão de desenvolvimento. Enquanto a economia humana tem admitido a degradação ambiental desde que os indivíduos possam adquirir bens e rendimentos com a produção negligente quanto à natureza, a degradação, às demais formas de vida não-humanas e o correspondente espaço físico não será relevante aos estudiosos ambientalistas, que tratam das indenizações, pelo princípio poluidor-pagador. O desenvolvimento será considerado sustentável de acordo com a compensação, mesmo que parcial, do dano realizado, pois mais importará que a empresa poluente sinta o peso da multa do que o quanto o ambiente foi abalado devido à dificuldade de cálculo das proporções do dano ambiental (RIBEIRO, 2008). 2.1.2 Desenvolvimento Local Sustentável (DLS) A Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, Estocolmo, 1972, trouxe oficialmente à cena o tema da sobrevivência da humanidade. Relatórios têm também sido apresentados desde então pelo Clube de Roma. Em 1983, a Assembleia Geral da ONU criou a Comissão Mundial para o meio ambiente e Desenvolvimento por Gro Harlem Brundtland, que preparou o “Relatório 28 Brundtland” e cunhou as expressões “desenvolvimento sustentado” e “nova ordem mundial”. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento (Eco-92, Rio de Janeiro) produziu o protocolo conhecido como Agenda 21. Em 1993, foi a vez da Declaração de Kyoto, internacionalmente ainda não validada, sobretudo pela recusa do Governo Bush (EUA) em subscrevê-la. Anunciam-se as próximas adesões da Rússia e do Canadá, o que legitimaria este protocolo. Em 2002, teve lugar em Johannesburgo, África do Sul, a “Conferência Rio+10”. De acordo com Santos (2001) a Agenda 21, da qual são signatários o Brasil e outros 176 países, preconiza a implementação de políticas públicas compatíveis com os princípios do desenvolvimento sustentável, por meio de projetos adaptados nacionalmente e financiados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento- PNUD. Nesse sentido, o desenvolvimento local emerge como uma estratégia importante no processo. No Brasil, o desenvolvimento econômico local surgiu como produto de posicionamentos impulsionados a partir dos governos centrais, e não como consequência de iniciativas territoriais geradas “desde baixo”, capazes de impulsionar atividades de fomento produtivo e empresarial no momento em que as condições econômicas e institucionais estavam experimentando uma mudança radical. As discussões em torno desta temática travavam-se “entre uma corrente que defendia o liberalismo econômico, preocupada em garantir a ‘vocação agrária’ do Brasil, e uma corrente desenvolvimentista, que pregava a intervenção do Estado na economia para implementar a industrialização no país” (MANTEGA, 1987, p.12). Os estudos de caso em países desenvolvidos mostram que nestas duas últimas décadas, ocorreram algumas experiências de desenvolvimento local surgidas de forma espontânea e dispersa. Acselrad (1999) observa que apesar de necessitarem de apoio ou estímulo por parte das instâncias centrais de governo, as quais têm dado prioridade absoluta (e, em certas ocasiões, quase exclusiva) ao controle dos grandes equilíbrios macroeconômicos, analisa que realmente não é solução para todos os problemas. A partir dos anos setenta e oitenta, a crise do modelo de desenvolvimento fordista acabou estimulando um maior interesse na reflexão sobre as iniciativas de desenvolvimento econômico local, ao questionar a visão do processo de desenvolvimento econômico que serviu de base de educação por longas décadas, a 29 qual tende a simplificá-lo como se desenvolvesse unicamente pela via do modelo concentrador, baseado na grande indústria e nos grandes núcleos urbanos (ACSELRAD, 1999). Foram constatadas igualmente as limitações das políticas macroeconômicas formuladas a partir das instâncias centrais, quando se trata de conseguir um crescimento mais equilibrado territorialmente, mais equitativo, do ponto de vista da distribuição da renda, mais ambientalmente sustentável e, em suma, com capacidade para impulsionar o desenvolvimento humano e elevar a qualidade de vida das pessoas. O que inclui a qualidade de vida da população de regiões mais pobres do Brasil. A proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais locais permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no consenso com tais atores, capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os atores tenham maiores margens de autonomia nas decisões” (CEPAL, 1990, p. 917). Igualmente, se abre a possibilidade de promover a criação negociada de instituições de fomento produtivo empresarial em nível local, de gerar um clima de confiança e cooperação entre entidades públicas e setor privado empresarial, e de estimular assim, uma cultura local de desenvolvimento. Deste modo, a identidade própria de cada território se converte em sustentação de seu desenvolvimento social e econômico. Buarque (1998) caracteriza o DL como um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos, capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população. A proximidade dos problemas, necessidades, recursos e atores sociais locais permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no consenso com tais atores, capazes de "introduzir modalidades de ação nas quais os atores tenham maiores margens de autonomia nas decisões" (Cepal, 1990, p. 917). Igualmente, se abre a possibilidade de promover a criação negociada de instituições de fomento produtivo empresarial no contexto local, de produzir um clima de confiança e cooperação entre entidades públicas e setor privado empresarial, e de estimular, assim, uma cultura local de desenvolvimento sustentável. Desse modo, a identidade cultural de cada território se converte em sustentação de seu desenvolvimento social e econômico. Para tanto, o desenvolvimento resulta do compromisso de uma parte significativa da sociedade local e de mudanças básicas em suas atitudes e 30 comportamentos, o que permite substituir a concepção tradicional de "espaço" (como simples espaço físico) pela de um contexto social de cooperação ativa (um "território"). Assim, o desenvolvimento local sustentável pode ser entendido como aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que, mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da comunidade local. É esse potencial interno, quando realizado, que define o desenvolvimento local. Um projeto desse tipo deve ser assegurado mediante a mobilização da população local e seu concurso na formulação, implementação e monitoramento das iniciativas de desenvolvimento. Assim, entende-se que a globalização e o desenvolvimento local são dois polos de um mesmo processo complexo e contraditório, exercendo forças de integração e de segregação, dentro do intenso jogo competitivo mundial. Ao mesmo tempo em que ocorre a mundialização do capital, surgem crescentes iniciativas no nível local, com ou sem integração na dinâmica internacional, o que aponta para a possibilidade de processos diferenciados de desenvolvimento dentro do capitalismo (Cepal, 1990). Para tanto, neste nível, o desenvolvimento é o resultado do compromisso de uma parte significativa da sociedade local e de mudanças básicas em suas atitudes e comportamentos. Assim, o desenvolvimento local sustentável pode ser entendido como aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que, mediante o aproveitamento eficiente dos recursos internos disponíveis em uma zona determinada, é capaz de estimular seu crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da comunidade local. É esse potencial interno quando realizado, que favorece um dos fatores que define o desenvolvimento local. Da mesma forma, um projeto desse tipo deve ser assegurado mediante a mobilização da população local e sua participação na formulação e na implementação das iniciativas de desenvolvimento. Enfim, a globalização tem uma relação com a organização do espaço social. De um lado, demanda e provoca um movimento de uniformização e padronização dos mercados e produtos como forma de integrar os mercados; por outro lado, também provoca a diversificação e a flexibilização das economias e dos mercados locais, cria e produz diversidades, integrando os valores globais com os padrões locais, articulando o local ao global. Assim, nesse jogo, entende-se que o global se alimenta do local. 31 2.2 Abordagem Sociológica de Desenvolvimento Local Em países como o Brasil, em que é significativo o número de pequenos e médios empresários, que ficam à margem não só do capital econômico como do conhecimento produzido pelas classes hegemônicas, a situação é complexa e crítica e a grande questão que se coloca para quem quer fazer uma reflexão sobre a realidade é: quem tem acesso ao conhecimento? Como socializar o conhecimento e a tecnologia entendida em seu sentido mais amplo? Como organizar os pequenos agentes produtivos de forma a lhes facilitar o acesso ao conhecimento, criando uma interação social mais igualitária com o grande capital econômico? Isolado, dependente e distante do capital econômico e do capital cultural, o trabalhador, enquanto empregado, e o pequeno agente produtivo, enquanto empresário, também se distanciam da possibilidade de obtenção de emprego e renda, aumentando a acumulação do capital e o número de desempregados, configurando uma crise sem precedentes, em nível de Estado e sociedade. No início dos anos de 1990, o governo brasileiro tentando administrar a crise que se instalara, formulou, como uma de suas estratégias de ação, a realização de um convênio com a Organização das Nações Unidas para capacitar pequenos produtores rurais e urbanos da região Nordeste do país, para o desenvolvimento empresarial participativo, sob o enfoque do desenvolvimento econômico local (ZAPATA, 1997). A internacionalização do capitalismo acarreta a discussão em torno da oportunidade de mudança na forma de racionalização e intervenção do Estado burguês, e de suas instituições, na economia. É um momento em que é recolocada em pauta as ambivalências da cidadania fundada na propriedade e as coletividades passam a tomar iniciativas de elaboração de projetos coletivos, redimensionando a atividade política e multiplicando os seus sujeitos e as suas arenas. Dessa forma, o processo de desenvolvimento local emerge no instante em que, no conjunto dos países industrializados, o Estado, Poder Político centralizado, e as coletividades locais mudam a forma de relacionamento, conhecem tensões e realizam a descentralização. É um momento em que as instâncias locais reivindicam autonomia e contestam modelos anteriores de desenvolvimento. É um contexto 32 também de crise das finanças locais e de procura de novas regras do jogo e de novas regulações em território, parceiros, Estado e outras coletividades territoriais. O Desenvolvimento Local pode ser se visto como um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração socio-econômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda (ALBUQUERQUE, 1998; p.15). Assim, o processo surge como um fenômeno que coloca em evidência os atores sociais, as redes de cooperação e o sistema institucional que eles conseguem construir; e os projetos coletivos. Objetiva fortalecer os empreendimentos empresariais associativos e os micros empresários para que gerem empregos sustentáveis. uma resultante direta da capacidade dos atores e das sociedades locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e sua matriz cultural, para definir e explorar suas potencialidades e especificidades, buscando competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações. No novo paradigma de desenvolvimento, isto significa, antes de tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica dos recursos humanos, domínio do conhecimento e da informação, elementos centrais da competitividade sistêmica (BUARQUE, 1998; pg.15). O local é entendido como um meio de pertença de uma população que permite reconhecer em si traços característicos, e mesmo laços de solidariedade, que exercem certa influência sobre as mudanças socioeconômicas em favor das formas de intervenção oferecidas pelas instituições governamentais e associativas (JOYAL, 1994). Portanto, pensar em estratégias e a ações que possam ajudar no desenvolvimento local é importante para contribuir nessa mudança. No quadro 2 Joyal (1994) elenca algumas estratégias fundamentais de ação para contribuir nesse desenvolvimento. 33 Quadro 2 Estratégias Fundamentais de Ação Suas estratégias Fundamentais de ação “i. A articulação produtiva do tecido empresarial e das diferentes atividades rural-urbanas, agroindustriais e de serviço do território; ii. O compromisso com a geração de emprego produtivo e o funcionamento do mercado de trabalho local; iii. O conhecimento das tecnologias que melhor se adequem à dotação de recursos e potencialidades territoriais e a atenção às inovações tecnológicas e organizativas apropriadas aos níveis produtivos e empresarial locais; iv. A participação dos trabalhadores locais na redefinição da organização produtiva; v. A adaptação do sistema educativo e de capacitação profissional à problemática produtiva e social territorial; vi. A existência de políticas específicas de apoio à pequena, média e micro empresa (...); vii. O acesso aos serviços avançados de apoio à produção(informação, capacitação empresarial e tecnológica, financiamento da pequena e média empresa e microempresa)” (ALBUQUERQUE,1998;pg.75) Fonte: Joyal (1994) A estratégia está relacionada com atividade local desenvolvida, com o processo educativo, ou seja, como isso é levado adiante seja a curto ou longo prazo, é claro que a adaptação ao meio para dar sustentabilidade ao processo tem grande importância para o desenvolvimento local. Estrategicamente tem como objetivo “criar redes territoriais de serviços avançados de informação, capacitação e financiamento que facilitem às empresas locais e regionais a aquisição de uma adequada ‘flexibilidade produtiva’; esta, por sua vez, não pode reduzir-se à adoção de medidas que conduzam a precarização do emprego, a contenção dos salários ou a exploração e esgotamento de recursos naturais não renováveis, mas deve contemplar o conjunto de atividades vinculadas à geração de valor agregado por parte das empresas, a partir da gestão tecnológica e financeira é a comercialização e o serviço pós-venda, todos susceptíveis de inovação para adaptar-se mais facilmente às freqüentes condições da demanda” (ALBUQUERQUE, 1998; pg.83). Os elementos básicos das iniciativas locais de desenvolvimento são: a coordenação dos diversos agentes públicos e privados que atua no território, o acesso aos serviços estratégicos para incorporação de inovações tecnológicas e 34 empresariais no tecido produtivo territorial, a criação de “incubadoras de empresas” para multiplicação das iniciativas empresariais; pode-se acrescentar a concentração dos serviços elementares (administrativos, contábeis, telecomunicações, formação básica de gestão empresarial) em local cedido pelo próprio município, pela Câmara de Comercio local ou associação de empresários e, fundamentalmente, o estímulo às lideranças emergentes, bem como a capacitação do novo empresário. Nesse processo, cabe ao Estado, o estímulo às iniciativas locais de desenvolvimento já que a “descentralização, longe de desobrigar o Estado de suas responsabilidades, geralmente as põe ainda mais evidentes” (ALBUQUERQUE, 1998; pg.92), sendo-lhe cobrado um papel fundamental na promoção de saúde e capacitação, na sensibilização sobre os conceitos e ações relacionadas ao desenvolvimento sustentável, na disponibilização dos sistemas de ciência e tecnologia, na promoção de serviços de informação e bases de dados de interesse empresarial; no levantamento de mercados externos; no fornecimento de infraestrutura básica de energia, abastecimento d’água, transporte e telecomunicação; e na facilitação do acesso a fontes apropriadas de crédito e capital aos micros, pequenos e médios empresários. As principais características do desenvolvimento local são: o espaço territorial concebido como agente de transformação social e não como mero espaço funcional; a sociedade local não se ajusta de forma passiva aos processos de transformação em curso, mas desenvolve iniciativas próprias, a partir de suas particularidades territoriais nos planos culturais, sociais, econômicos e políticos; os poderes públicos locais e os agentes empresariais privados devem negociar a institucionalidade mais adequada para facilitar a recopilação sistemática das informações e promoção de espaços de intervenção e a existência de capacidade empresarial inovadora em nível local (ALBUQUERQUE, 1998). Os atores sociais do processo de desenvolvimento local são aqueles cujas qualificações e competências os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento, tais como diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores (responsáveis de colocar em prática as políticas); e representantes eleitos, quer sejam incentivadores (TEISSERENC;1994). ou não das políticas de desenvolvimento 35 O ator de desenvolvimento é um novo ator que procura promover a empresa em desenvolvimento social. É parte integrante de um projeto coletivo cujas condições de produção, à imagem do projeto familiar, são tão complexas como é a realidade sociológica da fábrica, da empresa, da organização, e fazem apelo a uma identidade cultural fundamentada no reconhecimento do pluralismo. Eles agem como novas elites locais modernizadoras, conciliadoras e militantes de maneira a produzir uma transformação no seio da coletividade, realizando um trabalho como “um agente que impõe a essa coletividade sua própria transformação interpretando pressões externas para vencer a resistência dos sistemas de reprodução" (TOURAINE, 1984, p.236). O sistema institucional tem como objetivos criar e/ou fortalecer as estruturas encarregadas de promover as políticas de desenvolvimento local, tais como agências de desenvolvimento, serviços de economia de uma coletividade e estruturas intermunicipais; e promover a transformação dos serviços existentes: serviços técnicos das coletividades, serviços do Estado e estruturas municipais e outros organismos de caráter privado ou não governamental. Consiste, assim, num sistema em transformação que tem como características: criação de novas estruturas tais como os distritos urbanos; criação das comunidades distritais; introduz questões relativas ao desenvolvimento econômico e à gestão dos equipamentos coletivos sob a responsabilidade das novas estruturas que escapam parcialmente às instâncias de representação eleitas por sufrágio universal; busca de novas formas de intervenção do Estado mais flexíveis e ativas; tem como consequência fazer do Estado não somente um regulador das relações civis, mas um agente do desenvolvimento econômico e social; a mudança das finalidades da ação pública e de suas orientações aplicadas ao desenvolvimento econômico e à organização do território vai acompanhar-se de uma transformação organizacional. Vem, portanto, substituir um sistema que concede pouco lugar à mobilização social e que possui um alto grau de institucionalização da representação e da consulta que confere aos eleitos uma excepcional legitimidade e um fraco grau de participação dos cidadãos, no sistema político. O novo modelo, não mais fundado na hierarquia política, incentiva núcleos de peritos que privilegiam as categorias e as linguagens científicas para legitimar as ações. Valoriza a mobilidade de grupos de apoio na busca de uma transparência social levando o ator administrativo envolvido nas organizações a desenvolver 36 relações estratégicas e distanciadas, desenvolvendo sua carreira pelo cumprimento de missões sucessivas em estruturas que tendem a organizar-se como redes. Para a sociologia “se o mundo social, com as suas divisões, é qualquer coisa que os agentes sociais têm a fazer, a construir, individual e, sobretudo ‘coletivamente’, na cooperação e no conflito, resta que tais construções se não operem no vazio social”, (BOURDIEU, 1994, p. 13) e sim “na estrutura da distribuição das diferentes espécies de capital, que são também armas, governa as representações desse espaço e as tomadas de posição nas lutas que visam conservá-lo ou transformá-lo” (BOURDIEU, 1994; p. 13). Este modelo implica na gestão das funções de transição tais como: função de estímulo à emergência de novas identidades; função de reconhecimento das lógicas coletivas emanadas de grupos, de comunidades, de novas categorias sociais dentro da empresa; função de confrontação das lógicas a partir do encontro entre atores antigos e novos; uma função de aprendizagem cultural facilitando o acesso a uma outra leitura do processo de identidade, e uma compreensão enriquecida dos valores e culturas dos outros (TEISSERENC, 1994 );e função de institucionalização das estruturas e das regras do sistema social. As redes naturais/ informais (familiares, profissionais e institucionais que formam a trama básica da sociedade), funcionais (relativas à estrutura de funcionamento de uma gama variada de organizações de um mesmo ambiente) e utilitárias (que visam melhorar as intervenções nas redes funcionais) de cooperação mútua consistem no conjunto de atores sociais interdependentes que superam antagonismos locais graças à cooperação mútua construída na prática cotidiana de resolução de problemas e elaboração e execução de programas integrados em parcerias com os poderes públicos territoriais e nacionais. O significado da rede é construído na superação de conflitos e no sentimento de pertença ao grupo e se solidifica na construção do projeto coletivo. Os projetos coletivos apresentam-se como forma de objetivos a alcançar em função de acordos previamente estabelecidos e selecionados que dão significados pessoais e coletivos aos processos de mudança. Eles têm uma importância e significação sociológica fundamental ao fazer a mediatização entre o passado (situação atual) e o futuro (situação desejada) e a intermediação entre os princípios / valores (orientação) e os atos / as escolhas (realização). A partir do projeto, a mobilidade social não é mais compreendida como trajeto socioespacial, mas como 37 trajetória social inspirada por um projeto; o projeto é percebido como um trabalho da subjetividade dentro da qual a imaginação, a vontade, os valores e a identidade têm seu sentido. O Projeto consiste numa representação global do futuro do território; dos principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSERENC, 1994); não se reduz, assim, a um programa de desenvolvimento. É global no sentido em que toca a todos os componentes da vida local (iniciativas culturais, iniciativa de criação de atividades, práticas de solidariedade entre as gerações) e procura levar em conta as numerosas interações entre esses componentes, e a explorá-los como recursos a serviço do desenvolvimento. Dessa forma, o desenvolvimento como transformação da sociedade local consiste no movimento ou processo balizado de etapas que caracteriza a passagem de um estado "cultural" existente para outro. Ocorre mediante o desenvolvimento das seguintes etapas segundo Teisserenc (1994): Figura 1- Etapas do Desenvolvimento Fonte: Teisserenc (1994) O êxito da mobilização e da dinâmica iniciada pelo tecido associativo decorre da aliança realizada entre os líderes associativos e os líderes políticos e da sintonia entre o diagnóstico do território e a qualidade do projeto mobilizador. Observa-se nas 38 experiências estudadas que a manutenção da mobilização implica: no ajuste das relações de forças tradicionais entre os parceiros locais (privados e públicos), e no trabalho sobre as representações do território, que favorecem os debates no seio das estruturas ou comissões criadas pelas circunstâncias. Os instrumentos de desenvolvimento e criação institucional devem responder às seguintes exigências: criação de situações que estimulem o debate nas instâncias de decisão; apreensão global da realidade (diagnóstico) do território interessado na política de desenvolvimento; avaliação em função da eficácia operacional segundo o objeto particular para o qual foram concebidos e gestão da interface das relações entre território e suas vizinhanças. Os mecanismos de regulação deverão possibilitar a reconstituição da identidade local, de uma vivência local coletiva, de um sistema local de decisão; a mobilização das representações, da iniciativa e das populações envolvidas; e o encontro de indivíduos e de grupos, de uma pluralidade de instituições e do central e do local. Os instrumentos viabilizadores do desenvolvimento são as agências de desenvolvimento econômico (gestão das escolas de empresas, prospecção de empresas, ações de sensibilização, ações de conselho para a criação de empresas, incentivo econômico, promoção do território, concepção de centros de recursos); os centros de recursos especializados (sociedades anônimas de capitais mistos associando parceiros privados e públicos, especializados em tecnologias de concepção); associação dos chefes de empresas e Comitê local para o emprego. A política de desenvolvimento e criação institucional tem a função de resgate da identidade cultural, facilitação do tratamento das informações relativas a emprego, facilitação da inserção profissional, qualificação dos recursos humanos locais, reorganização de empresas, transformação dos serviços da coletividade tornando-os parceiros eficazes da política de desenvolvimento, mobilização da população e/ou de seus representantes e articulação da iniciativa privada e as instituições públicas. Os fenômenos de interpelação das identidades coletivas trabalham o problema da adaptação dos conhecimentos e das habilidades antigas às novas condições de produção, ao mesmo tempo em que evitam a marginalização das populações não qualificadas. 39 As pistas de reconstituição das identidades coletivas passam pela identificação em cada localidade da maneira com a qual procedem aos parceiros locais para mobilizar e valorizar as identidades existentes e pela busca na história coletiva dos elementos constitutivos de identidades capazes de impulsionar outro modo de desenvolvimento. Quadro 3 Características do Desenvolvimento As principais características do Desenvolvimento - A iniciativa tem raiz no encontro de uma criação cultural inscrita numa memória coletiva e de uma rede associativa levada pela vontade de se afirmar uma identidade regional; - A mobilização de uma população que se descobre através de sua própria apresentação, desenvolvimento das iniciativas no campo cultural e no campo econômico, política de comunicação, emergência de uma parceria que atinge progressivamente o meio associativo, o mundo político, os sócio- profissionais e, em última instância, os atores econômicos; - A valorização dos produtos locais e iniciativas locais de qualidade que tem como efeito a valorização do território e de seus produtos; - A apropriação dos eventos de fortalecimento das identidades culturais pelos parceiros político e os sócio-profissionais sem prejudicar à dinâmica original. - O exercício do processo de aprendizagem coletiva pela população local que aceita inscrever-se dentro de tal processo, reforçando a mobilização; - A emergência de cidadãos, novos atores, reivindicando uma fixação local; - A dinâmica local desencadeada difundindo-se geograficamente para outros espaços sociais; - A busca de um equilíbrio frágil entre uma promoção não seletiva de produtos locais, que encoraja a maioria dos atores locais (artesãos, comerciantes, agricultores, pecuaristas, profissionais liberais) e uma preocupação de marketing, marcada pelo pensamento de distinção de produtos de qualidade destinados a públicos aos quais deseja atingir. Fonte: Teisserenc (1994) A construção comunitária opera-se a partir de um projeto fundador que mobiliza uma boa parte da população e interpela seu sistema de representações e valores. Observa-se que nas localidades, onde as referências culturais são menos acentuadas e as identidades sociais menos reproduzidas, a política de desenvolvimento visa explicitamente a criar novas identidades coletivas cujo obstáculo cultural mostra-se central, mais que o das capacidades técnicas: é preciso mudar as mentalidades, os comportamentos coletivos, os valores, as regras morais 40 para que as relações entre os homens possam produzir outros resultados (TEISSERENC ,1994). A aprendizagem da complexidade da realidade pelos atores consiste a não mais considerar o território como um espaço a organizar, mas um potencial de recursos a valorizar. Supõe a compreensão dos paradoxos: Figura 2 – Compreensão dos Paradoxos Fonte: Adaptado a partir de Teisserenc (1994) A economia local não é mais entendida como estando essencialmente constituída de relações entre atores econômicos, mas por múltiplas redes socioeconômicas articuladas entre eles por ações transversais. Fundamenta-se, assim, sobre a aceitação de uma divisão de trabalho entre o Estado (competências técnicas) e as coletividades (expressão das necessidades da população), como um poder de resistência às injunções do centro e de filtração da ação burocrática; como encorajador de um tipo particular de iniciativas da parte dos representantes eleitos; e, no exercício da democracia local, caracterizada por uma fraca renovação das elites, nos partidos eletivos, e uma dupla transferência de responsabilidade entre a direção da burocracia territorial (que a autoridade fortalece, domina e utiliza) e os representantes eleitos (que legitimam as intervenções junto à sociedade civil). 41 Finalmente, o paradigma territorial consiste no entendimento de que o território é um conceito flexível, com vários significados (TEISSERENC, 1994). Assim, pode significar Sociedade Local, entendida como o domínio de pequeno, o lugar da diferença e da especificidade, o lugar em que a ação e o pensamento social entram em contato com a matéria (pressionada pelo processo de identidade) em contínua mudança (proteiforme) da sociedade inteira ou o espaço de densidade social de um grupo humano, onde se opera a fusão do singular (território) e do universal, do local e do geral, da tradição e da modernidade. O território também pode significar Desenvolvimento Local, enquanto o movimento geral da sociedade conduz, para as localidades, o desejo e a possibilidade de dinâmicas produtivas nos planos econômico, social e cultural. Finalmente, território também pode ser entendido como um ecossistema evolutivo, capaz de mudar no decorrer do tempo, em sua organização, nas relações entre seus elementos, como dentro de suas fronteiras, de sua extensão e do tamanho de sua população. No centro dessas evoluções está a cultura - entendida como sistema coletivo de representação do mundo; e a técnica - entendida como sistema coletivo de ação sobre o mundo, desempenhando um papel motriz de mediação das relações dos ecossistemas. Dessa forma, os paradoxos e contradições que o território em desenvolvimento pode assumir são: a) lugar de particularidade e da singularidade atravessado pelas lógicas universais do capital, do mercado e da divisão do trabalho; b) objeto de um empenho pessoal e lugar de investigação de estratégias de atores individuais; e c) a eficácia de seu desenvolvimento fundamenta-se na capacidade de gerenciar empenhos e estratégias para produzir o autoconhecimento e traduzi-lo em uma estratégia global. O emprego das políticas de desenvolvimento local tem como efeito acelerar o processo de transformação do sistema político-administrativo, em nível de território. O sistema tem funcionado a partir da regulação pela mobilização de agregados econômicos. O Estado não intervém mais somente como mediador das relações entre as pessoas civis e o regulador das relações econômicas; cada vez mais intervém dentro da regulação social de valores, das normas dos grupos sociais e dos princípios de ações. A ação administrativa não se contenta em manipular agregados: 42 ela empenha-se em agir sobre as instituições, graças ao desenvolvimento dos processos de consulta e de conciliação. O essencial das características desse tipo-ideal da ação administrativa aplicase à administração territorial, desde que ela se encontre envolvida numa política de desenvolvimento. O poder ocupa no novo modelo um lugar central. Sua realidade fundamenta-se mais no domínio do interorganizacional, isto é, nas redes. A mobilização dos atores em torno do projeto de desenvolvimento não tem pertinência a não ser que ela se acompanhe de modalidades de negociação, de decisão, de gestão e de avaliação aptas a permitir ao sistema de ação local responder rapidamente às solicitações e às mudanças inter e intraorganizacionais. Pode-se caracterizar também o local, ou seja, ... o espaço social global como um ‘campo’, quer dizer, ao mesmo tempo como um campo de forças, cuja necessidade se impõe e aos agentes que nele se encontram cometidos, e como um campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados segundo sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para conservar ou para transformar a sua estrutura (BOURDIEU,1994, p. 32). Na análise das experiências internacionais verificam-se contradições básicas do processo conforme quadro 4, segue: 43 Quadro 4 Experiências Internacionais O desenvolvimento local não pode funcionar sem a intervenção exterior; Na França da mesma forma ele não pode arrancar e prosseguir sem vontade e (TEISSERENC; iniciativa locais; e o desenvolvimento local é uma resposta conjuntural à 1994) crise econômica e administrativa, ao mesmo tempo em que é a invenção de um novo modelo social que valoriza as identidades culturais locais; As novas instituições ficam mais perto do povo, como previam os Na Itália (PUTNAM; 1996) idealizadores, entretanto a eficiência administrativa propalada pelos reformadores regionalistas não se propagou; as regiões mais atrasadas se livraram do paralizante domínio das regiões mais adiantadas, no entanto a histórica disparidade entre o Norte e Sul permanece. Ocorreu a criação de pequenas empresas em regiões distantes, diminuindo No Canadá (JOYAL; 1994) custos de infraestrutura, equipamentos coletivos, hospedagens, etc. e aumentando a valorização do patrimônio e da identidade dos ambientes, entretanto permanece a insuficiência de emprego para responder às necessidades da população. Na Espanha/ As pessoas e as famílias do mundo rural adquiriram uma nova dinâmica Barcelona endógena, que lhes permitiu beneficiar-se de uma melhor qualidade de vida (LUZON, 1999) em todos os níveis, sem precisar abandonar os seus lugares de origem. 43 Segundo Putnam (1993), cerca de 20 anos ainda é pouco para se avaliar os resultados da implantação de um modelo que muda culturas centenárias, ou mesmo milenares, como é o caso da Itália, entretanto o que é mais fundamental é o aprendizado por parte das comunidades objetivando o interesse comum. Finalmente pode-se imaginar que os pressupostos da implantação do Desenvolvimento Local Sustentável são: - As políticas de desenvolvimento local devem apoiar-se na mudança, que elas contribuem por acelerar, do habitus ao configurar uma: conjuntura capaz de transformar em ação coletiva os princípios objetivamente coordenados por estarem associados a necessidades objetivas parcial ou totalmente idênticas, quer dizer, engendradas pelas bases econômicas de uma dada formação social” (BOURDIEU, 1998, p. XLIII); - Esta mudança diz respeito à emergência de atores sociais portadores de diversas formas de capital e sua participação e influência no ponto principal da sociedade local e o sistema político administrativo; - A complexidade das relações sociais e a variedade das relações estratégicas que resultam disso são tais, que mudam a forma como é exercido o poder simbólico na comunidade, já que o espaço social local procurar dotar-se de uma capacidade de decisão autônoma, reativando inteiramente a forte interdependência entre os atores e entre os lugares de iniciativas; - Essas relações desenvolvem-se em torno de projetos coletivos que têm, geralmente, por características, mobilizar os recursos locais, materiais e imateriais, utilizando-se, da melhor forma, das especificidades do território. Para Bourdieu (1998), portanto, compreender o desenvolvimento local significa compreender a correlação de forças entre os diversos capitais simbólicos. Concluindo, a contribuição da sociologia para o êxito do Desenvolvimento Local refere-se ao trabalho na dimensão das relações intersubjetivas presentes nas comunidades. Ela tenta desvendar e atuar "na outra cena" aquela que não pode ser quantificada e se constitui um lado não perceptivo e não captável, em equações, médias e estatísticas, mas que é determinante para o êxito de um projeto que envolve mudanças culturais profundas e que estas precisam ser construídas com as pessoas do lugar para ter sustentabilidade e consequências que revertam distribuição dos bens simbólicos e materiais, bem como qualidade de vida. 44 2.2.1 Atores Sociais Em sua analise da modernidade, Touraine (1994) dedicou-se ao estudo da potencialidade política e social daquele que define como sujeito ou ator social. O sujeito, para ele, é aquele que se expressa, age e busca o reconhecimento como ator, forma-se nos processos sociais e na relação com os outros. Não trabalha com a separação entre ator e sistema, enfatiza a inter-relação entre os dois termos, criando, a partir daí, uma sociologia da ação social. Na articulação do singular com o coletivo, a dimensão do sujeito como ator social, como aquele que expressa vontade de agir e o desejo de ser reconhecido (TOURAINE, 1998). A categoria indivíduo essencialmente egoísta e livre, por exemplo, tão decantada pelos teóricos liberais, apenas existe em um plano de abstração que elimine todas as variáveis sociais, históricas, ambientais e culturais que, de fato, condicionam a presença do ator social, não como algo à parte do social (visão esquizofrênica da sociedade), mas como elo de uma rede complexa na realidade vital mutante (MARTINS, 2008 p. 10). Segundo Brito e Ribeiro (2008), a emergência de atores sociais consiste na existência de uma situação favorável ao surgimento de sujeitos (lideranças comunitárias; diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; operadores e representantes eleitos que sejam incentivadores ou não das políticas de desenvolvimento) cujo perfil de competência, em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento. Na condução de nosso estudo, procuramos do evento, atentos aos seus aspectos singulares, a “construção” dos atores sociais, individualmente ou em grupos de pessoas, que articulam processos de interação com os demais agentes envolvidos. Um grupo humano que compõe quadros de vivências específicas que 45 definiram as sociabilidades examinadas, cabendo-nos a observação de diferentes processos desenvolvidos na sua efetiva realidade, de acordo com Nóbrega (2010). 2.2.2 Redes de Atores Sociais As redes sociais constituem um tema da maior atualidade sociológica para se compreender a complexidade da vida social, sobretudo nos tempos presentes cuja sociedade civil mundial exige respostas políticas locais, rápidas e eficazes, para assegurar a ampliação dos direitos de gozo da cidadania. Uma ação econômica é socialmente localizada e não pode ser explicada simplesmente pelas motivações individuais. Ela está enraizada em redes de relações pessoais e não é conduzida por atores atomizados. Entendemos as redes como um conjunto regular de contratos ou conexões sociais entre indivíduos ou grupos. Uma ação por um membro de uma rede é enraizada porque se expressa em interação com outras pessoas (Granovetter e Swedberg, 1992, p. 9). Scherer-Warren (1993) situa a ideia de rede enquanto propagada por atores sociais como conceito positivo, estando referida a uma estratégia de ação coletiva em que a participação cidadã está no eixo da articulação. Essa noção de rede pressupõe que as ONGs, o poder público, os movimentos de bairro, os movimentos religiosos, a iniciativa privada e outras forças vivas do território, possam estar articuladas em torno de interesses locais comuns. O sociólogo italiano Melucci (1994) afirma, por sua vez, que a situação normal dos movimentos, hoje, é de ser, não uma estratégia de atores, mas a de redes, de pequenos grupos imersos na vida cotidiana, na qual os membros, mediante suas experiências e inovações culturais, contribuem para as formas que assumem as redes. Segundo Mance (1999, p. 23), alguns estudiosos consideram como redes de movimentos sociais um amplo conjunto de fóruns e articulações variadas que conectam organizações e entidades populares. Ainda, nesse sentido o autor afirma: 46 A idéia elementar de rede é bastante simples. Trata-se de uma articulação entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada nódulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articulam através de diversos fluxos (MANCE, 1999 p. 24). Castells (1999) percebe que a formação de redes traz flexibilidade para as organizações adaptarem-se às condições de imprevisibilidade introduzidas pela rápida transformação econômica e tecnológica. Para conseguir absorver os benefícios da flexibilidade das redes, a própria empresa teve de tornar-se uma rede e dinamizar cada elemento [...] (CASTELLS, 1999 p. 185). Argumenta Caillé (2002, p. 65) que a rede “é o conjunto de pessoas com as quais o ato de manter relações de amizade ou de camaradagem, permite conservar e esperar confiança e fidelidade”. E, continua afirmando ser importante reconhecer que essas redes, tradicionais ou modernas, são alianças generalizadas, criadas em apostas na dádiva e na confiança. Isto significa dizer que a obrigação social que une os membros de uma rede não tem apenas caráter moral, mas igualmente político, dado pelo interesse dos membros na aliança. Redes sociais referem-se a um conjunto de pessoas (ou organizações ou outras entidades sociais) conectadas por relacionamento sociais, motivados pela amizade e por relações de trabalho ou compartilhamento de informações e, por meio dessas ligações, vão construindo a estrutura social (MARTELETO, 2006, p. 75). Segundo Martins (2008), o objeto rede social responde a uma exigência de complexificação da teoria social, a partir de demandas práticas (novas metodologias de intervenção social, se pensar pelo lado das instituições, ou novas formas de participação e de mobilizações coletivas, se pensarmos pelo lado dos movimentos sociais). No fundo, a teoria da rede social revela a preocupação de explicar o fato social, não a partir da liberdade individual (como insistem sempre os teóricos liberais), mas de uma injunção coletiva que se impõe às vontades individuais 47 (mesmo que esta injunção não elimine a liberdade dos atores de participarem de diversos círculos de trocas) (MARTINS, 2008). A rede tem como elemento estrutural básico o ator, uma unidade discreta que representa uma pessoas ou um conjunto agrupado em uma unidade social, como uma empresa ou associação, que compões a rede são, em geral, caracterizados como “nós”. O conceito de rede como um conjunto de “nós” conectados tem como pressuposto as relações sociais, a interação entre as unidades. Tal concepção permite visualizar a rede social como um conjunto de relacionamento estáveis e de natureza não hierárquica e independente. A constituição da rede se faz mediante o compartilhamento, pelos atores que a compõem, de interesses e objetivos comuns definidos coletivamente (JUNQUIRA; DAPUZZO, 2010, p. 1). A perspectiva que nos interessa aqui diz respeito à proliferação das redes na gestão pública, consequência das transformações nas relações entre Estado e Sociedade. Nesse processo, as redes sociais assumiram um papel privilegiado e representam um conjunto de atores sociais unidos por ideias, valores e interesses compartilhados. 2.2.3 Projeto Coletivo A Gestão Participativa forma gestores locais e regionais, multiplica o conhecimento técnico, científico e humano, dos diversos atores participantes, nos diversos processos promovendo o desenvolvimento local. De acordo com Putnam (1993), essas organizações básicas da vida social são essenciais para o estabelecimento de normas e padrões comuns, para a promoção de confiança social e interpessoal e, finalmente, para o crescimento do engajamento cívico. A suposição básica de Putnam é que membros de associações tendem a ser política e socialmente mais ativos, dando apoio às normas democráticas (FREY, 2003). O desenvolvimento de projetos coletivos - representa a capacidade de formulação de referências conceituais formais e informais, que possam orientar e inspirar o alcance dos objetivos em função de acordos previamente estabelecidos e 48 selecionados, concedendo significados pessoais e coletivos aos processos de mudança, impondo sentido à imaginação, à vontade, aos valores e à identidade cultural local (Brito 2005, apud Teisserenc, 1994); Nesse sentido, Bordenave (1995, p. 22), faz uma discussão sobre participação como algo que significa “fazer parte de algum grupo ou associação”, ou “tomar parte numa determinada atividade ou negócio,” ter parte, fazer diferença, contribuir para construção de um futuro melhor para nós e para as futuras gerações. A participação democrática promove a superação da simples necessidade de associação humana, que pode ser orientada por um sentido individualista e oportunista, mediante distorção ou incompletude da formação humana para uma necessidade de integração do ser humano na sociedade, de se sentir parte dela e por ela ser responsável (LÜCK, 2008, p. 63). Faria (2009) afirma que a participação ocorre quando o individuo se agrega individualmente e colabora com os outros, na execução de uma tarefa, com pleno consentimento e parcial controle. A participação faz parte da natureza social do ser humano e o acompanha desde o início da humanidade até os dias atuais nas diversas formas de organização. Essa interação coletiva possibilita o pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar as coisas e a valorização das pessoas (GUIMARÃES, 2010, p. 42). Os projetos participativos ou projetos coletivos estabelecem laços sociais entre os seus integrantes e deflagram relações intersubjetivas próprias da convivência no campo grupal. Então, podemos concluir que essa trama discursiva dos sujeitos produz laços sociais e constitui redes humanas que se articulam constituindo códigos e leis que vão, para além das vontades individuais, às vontades coletivas (BROIDE, 2010). 49 2.2.4 Instituições para Viabilização do Desenvolvimento Local Sustentável O desenvolvimento local demanda mudanças institucionais que aumentam a governabilidade e a governança das instituições públicas locais, incluindo o município, construindo uma relativa autonomia das finanças públicas e acumulação de excedentes para investimentos sociais e estratégicos para localidade (BUARQUE, 2002). Partindo desse conceito, Buarque (2002) ressalta que a escala municipal e comunitária cria uma grande proximidade entre as instâncias decisórias e os problemas e necessidades da população e da comunidade, permitindo uma maior participação direta da sociedade, reduzindo o peso e as naturais medições dos mecanismos de representação. Isso é importante para fortalecer o poder local e amplia as oportunidades do cidadão na escolha das suas alternativas e na decisão sobre seu destino. Segundo Brito e Ribeiro (2008), a criação de sistema institucional consiste no compromisso de criar estruturas empenhadas em promover as políticas de desenvolvimento local, como sistema social aberto para promover mudanças duráveis, integrar os atores e viabilizar os projetos coletivos, as agências de desenvolvimento, os serviços de economia de uma coletividade e as estruturas intermunicipais. Promove, também, a transformação dos serviços: serviços técnicos das coletividades, serviço do Estado e estruturas municipais e outros organismos de caráter privado ou não governamental. 2.3 Cultura A cultura, objeto da Antropologia Social, é uma dimensão da vida social, que impregna todas as esferas de ações e relações humanas. Todas as atividades humanas comportam a dimensão cultural. É a cultura que lhes confere significações e lhes interpõem condições, injunções motivacionais. A cultura da sociedade mais ampla e a cultura particular das organizações são focos de orientações de 50 comportamentos, são fonte de valores, de modos de ser e modos de ver intervenientes nas ações dos sujeitos e dos grupos que lhe são afetos (FREIRE 2009, p. 103). Várias são as áreas de conhecimento que atualmente discutem o valor semântico da palavra “cultura”. Ao buscar essa compreensão no minidicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001, p. 212) a define como “o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade”. Para Motta (1997, p.34): a cultura fornece aos grupos e às nações um referencial que permite aos homens atribuir um sentido ao mundo no qual vivem e às suas próprias ações. A cultura designa, classifica, corrige, liga e coloca em ordem. (...) A cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida ou decifrada para que seja entendida (...) Toda cultura é caracterizada por algum nível de continuidade. Shein (1991) vislumbra a cultura como um aprendizado coletivo ou compartilhado, que uma unidade social, ou qualquer grupo, desenvolve enquanto sua capacidade para fazer face ao ambiente externo e lidar com suas questões internas. O autor aponta dois mecanismos interativos que a cultura é aprendida: a redução da dor e ansiedade e o reforço/ recompensa positiva. O primeiro mecanismo diz respeito à ansiedade derivada da incerteza que uma pessoa tem, ao encontrar um grupo novo, a respeito de sua capacidade de sobreviver e ser produtivo ou se os membros irão trabalhar bem uns com os outros. A incerteza social e cognitiva é traumática, tornando assim suas vidas mais previsíveis. O problema com este mecanismo de aprendizagem é que uma vez que os indivíduos aprendam a evitar situações penosas, elas continuam a perseguir este curso sem testar se o perigo realmente existe. No segundo mecanismo, as pessoas repetem o que funciona e abandonam o que não funciona. Nesse tipo de mecanismo, as respostas produzidas estão sendo testadas continuamente no ambiente, o que permite maior rapidez de adaptação. No entanto, pode se originar um comportamento resistente à mudança se o ambiente for inconsciente, produzindo sucesso em um momento e fracasso em outro. Essa compreensão se resume diante dos argumentos de Schein (2009, p. 29) ao afirmar que: 51 A cultura é formada pelo o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu, ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar sentir com relação a esses problemas. Mesmo reconhecendo o valor das diversas abordagens sobre o assunto, a presente pesquisa adotará como referência principal os pressupostos teóricos de Freitas (1991), Motta (1997) e Morgan (1996, p. 117) que assim concordam: ...a cultura refere-se tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido nos sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais quotidianos, podendo a palavra também ser usada para fazer referência a um grau de refinamento evidente em tais sistemas de crenças e praticas. Por entender que os fatos sociais não podem ser entendidos isoladamente e por se tratar de uma pesquisa que tem por objeto de estudo a análise de um fenômeno cultural de maior importância no estado da Paraíba, especificamente na cidade de Campina Grande, a riqueza das diversas concepções presentes sobre a temática favorecerá melhor, a identificação da realidade que se propõe a analisar. 2.3.1 Cultura Organizacional Brasileira Segundo Prates e Barros (1997), os principais traços culturais presentes nas empresas brasileiras, são: concentração de poder, flexibilidade, paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, impunidade, tendências a evitar conflito, postura de espectador e formalismo. 52 O Brasil é uma sociedade coletivista, não se colocando, entretanto entre as mais coletivistas. O Brasil é, para Hofstede, mais coletivista que o Japão, país geralmente tido como coletividade por excelência; da mesma forma, nosso país é caracterizado por uma distância de poder muito grande, embora perca para as demais sociedades da América Latina, com exceção da Argentina (MOTTA, 1997, p. 86). Ao se reportarem sobre a cultura brasileira, os autores lançam mão do modelo de Prates e Barros (1997), cuja advertência é que a geração de conhecimento pode encontrar obstáculos a seu pleno exercício, pela concentração de poder associada a outros traços. Para Motta (1997), o Brasil se apresenta com grande distância de poder, traço relacionado à hierarquização social. Nossas origens patriarcais geraram o hábito da obediência irrestrita a uma minoria social, a aceitação da estratificação por cor, dinheiro ou nome de família. Concentração e estratificação têm, certamente, implicações na geração e posse do conhecimento e se contrapõem a um ambiente de valores democráticos e liberais que não restrinjam a informação, a pesquisa e a criatividade. O conhecer surge, como nova forma de estratificação, geralmente associada às anteriores, limitando, mesmo que parcialmente, a produção de conhecimento, bem como seu livre intercâmbio no interior da empresa. Nesse contexto, indivíduos das camadas inferiores da organização tendem a não se sentirem estimulados a produzir novos conhecimentos, reproduzindo o estabelecido. Para Caldas (1997, p. 81), a cultura brasileira é “plural, complexa e multifacetada” e o povo é paradoxal e ambíguo, devido às influências externas que sofreu. Por outro lado, o Brasil é uma “terra de contrastes” (FREYRE, 1984; MOTTA, 1997, p. 37). A análise cultural que aborda as principais características de uma organização de aprendizagem são as seguintes: geração de conhecimento; transferência eficiente de conhecimento através da organização; transformação do conhecimento em resultados práticos; comprometimento das lideranças; existência de objetivos verdadeiramente coletivos; avaliação e refino constantes dos modelos mentais; posicionamento positivo frente aos fracassos e erros; coexistência harmoniosa e produtiva de opiniões distintas; clima de abertura e valorização da verdade; padronização e homogeneização dos meios de comunicação; consistência 53 objetiva das premissas; autocrítica e humildade; busca de visões alternativas; aprendizado em grupo. No Brasil, vários estudos clássicos (CUNHA, 1995; FREIRE,1995; HOLANDA,1994; FAORO,1989; FERNANDES,1987; PRADO JÚNIOR, 1987) foram elaborados no sentido de mapear sinalizações dos traços da cultura brasileira. Quadro 5 Sinalizações de Traços da Cultura Brasileira. Traço Hierarquia Personalismo Malandragem Sensualismo Conservador Características-chave Autoritarismo. Tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais. Distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais (FAORO, 1989). Sociedade baseada em relações afetivas. Paternalismo: domínio moral e econômico. Mistura do público com o privado (HOLANDA, 1994). Flexibilidade e adaptabilidade como meio de navegação social. “Jeitinho” (HOLANDA, 1994). Gosto pelo exótico e sensual nas relações (FREIRE, 1995). Elite burguesa promove mudança para não mudar a situação e o consequente processo de acumulação (FERNANDES, 1987; PRADO JÚNIOR, 1987). Indivíduo busca solução para o problema amparado por uma entidade metafísica Religiosidade e religiosa. Sincretismo religioso. Mistura entre o profano e o sagrado (CUNHA, 1995). Fonte: Brito e Ribeiro 2008. Reconhecer cada um dos traços sinalizados é importante, caracterizar e embasar o perfil que molda as organizações do “Maior São João do Mundo” da cidade de Campina Grande-PB. 54 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de Pesquisa O presente estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa. (BOGDAN & BIKLEN, 1982; DENZIN & LINCOLN, 2006; GASKELL, 2002; GIL, 1987; LAKATOS & MARCONI, 1993; MINAYO, 1992, 1993, 2000). A pesquisa qualitativa trabalha com dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos (DENZIN ET AL, 2006; GIL, 1987; LAKATOS & MARCONI, 1993; LÜDKE & ANDRÉ, 1986; MINAYO, 1993). Nesse sentido, percebe-se que a pesquisa qualitativa desse estudo envolveu a obtenção de dados com as entrevistas realizadas. Esses dados foram obtidos em contato direto do pesquisador na situação de entrevista de pesquisa. Assim, é enfatizado mais o processo do que o produto e, portanto, a preocupação está em retratar a perspectiva dos participantes. Em relação aos objetivos, a pesquisa foi de caráter descritivo e, quanto aos procedimentos, foi realizada uma pesquisa documental e de campo. 3.2 Área de Abrangência Como universo da presente pesquisa foram selecionados os sujeitos envolvidos diretamente no projeto do “Maior São João do Mundo” que atuam diretamente no evento. O quadro a seguir especifica a amostra por conveniência definida para a pesquisa. 55 Tabela 1 Público Alvo da Pesquisa Sujeitos Prefeito de Campina Grande Coordenador de Turismo Gerente de Eventos Quadrilha Mistura Gostosa Coordenador e Marcador de Quadrilha Representante de Escola pública Costureira Representante da Igreja Católica Jornalista – Paraíba online CDL – Câmera de Dirigentes Logística Diretora da Casa do Artesão TOTAL Total 01 01 01 30 01 02 01 01 01 01 01 40 A pesquisa realizou um estudo com atores sociais que estão inseridos no processo de planejamento e execução do fenômeno estudado, caracterizando-se uma pesquisa por conveniências. De acordo com Leite (2008, p.121), a “amostra é qualquer parte de uma população da pesquisa que será realmente investigada”. Desta forma, a amostra da pesquisa foi constituída por representantes atores sociais do processo e que exercem as funções que viabilizam o funcionamento do evento. 3.3 Plano de Coleta de Dados As etapas de realização da pesquisa foram: a) levantamento de dados a partir de visitas em órgãos públicos, municipais e privados e realização de entrevistas semi-estruturadas, que foram gravadas e transcritas, a partir de Preti (2003); b) pesquisa bibliográfica específica e documental - seleção e escolha das principais referências bibliográficas, pesquisa em revistas especializadas, sites e periódicos sobre a evolução do festival folclórico divulgados internacional - na imprensa nacional e visitas às instituições turísticas e bibliotecas da cidade para reconstrução de um quadro panorâmico de caracterização da história/origem do São João de Campina Grande; e c) Tratamento dos dados - codificação, análise de conteúdo (BARDIN, 2000) e interpretação dos dados. 56 3.4 Categorias Analíticas As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos, muitas vezes, sob um título genérico ou agrupamento esses efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 2009). Para este trabalho, foram considerados como indicadores de sucesso da constituição do desenvolvimento local sustentável alguns fatores que funcionam como mecanismos de sustentação do processo indicados no quadro 6 a seguir: 57 Quadro 6 Categorias Analíticas Variáveis Desenvolvimento Local Para Brito (2005) “É um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração sócioeconômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda”. Cultura Categorias Analíticas Indicadores Atores Sociais - “são aqueles cujas qualificações e competências os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento tais como diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores (responsáveis de colocar em prática as políticas); e representantes eleitos quer sejam incentivadores ou não das políticas de desenvolvimento” (TEISSEENC, 1994 apud BRITO, 2005) Redes de Atores Sociais - resultam do apoio integral das redes naturais/informais, funcionais e utilitárias visando a cooperação mútua que consiste no conjunto de atores sociais interdependentes que superam antagonismos locais construídos na prática cotidiana de resolução de problemas e elaboração e execução de programas integrados em parcerias com os poderes públicos territoriais e nacionais (TEISSEENC, 1994 apud BRITO, 2005). Projeto Coletivo - apresenta-se como forma de objetivos a alcançar em função de acordos previamente estabelecidos e selecionados que dão significados pessoais e coletivos aos processos de mudança(...)consiste numa representação global do futuro do território; dos principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSEENC, 1994 apud BRITO, 2005) Sistema Institucional – organizações que viabilizam o DLS Brasileira - Os principais traços culturais presentes nas empresas brasileiras são: concentração de poder, flexibilidade, Para Mota (1997, paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, impunidade, p.34) “a cultura tendências a evitar conflito, postura de espectador e formalismo. fornece aos grupos e as nações um referencial que Organizacional - poderoso mecanismo que visa conformar permite aos condutas, homogeneizar maneira de pensar e viver a homens atribuir organização, introjetar uma imagem positiva da mesma em que um sentido ao todos são iguais, escamoteando as diferenças e anulando a mundo no qual reflexão. vivem e às suas próprias ações”. 58 3.5 Tratamento dos Dados Como metodologia de pesquisa, para a análise dos dados obtidos, utilizou-se a Análise de Conteúdo, proposta por Franco (2008) e por Bardin (2009). Ressalta o primeiro: o ponto de partida para a Análise do Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada. Necessariamente, ela expressa um significado e um sentido (FRANCO, 2008, p. 19). Os dados obtidos na pesquisa foram analisados nessa perspectiva metodológica, apresentada acima pelos autores. A análise de conteúdo foi realizada ao longo de cento e vinte dias de trabalho. O material produzido nas entrevistas foi tabulado e gerou os diversos documentos que permitiram a análise. A interpretação dos dados utilizou parâmetros qualitativos e permitiu inferências que estão descritas no estudo conforme a figura 3. 59 60 A figura 3 acima ilustra o processo metodológico utilizado na pesquisa para alcançar o objetivo proposto. O tratamento dos dados foi feito através de um Primeiro Movimento (M1) e um Segundo Movimento (M2) para obter as caracterizas definidoras para pesquisa descrita abaixo: - Primeiro Movimento (M1) – A FONTE seria o pesquisador que busca comprovação, ou não, da hipótese que gera um PROCESSO DE CODIFICAÇÃO, em que se busca conhecer a mensagem diretamente provocada através das categorias analíticas propostas pelo trabalho; surge a MENSAGEM que descreve as categorias analíticas do estudo; seguem-se, então, a PROCESSO DE DECODIFICAÇÃO que busca descrever a mensagem, as palavras e as categorias; e por fim, surge o RECEPETOR que seria o Ator Social ou pesquisado que busca referências e sentidos das mensagens, palavras e categorias. - Segundo Movimento (M2) – surge com a FONTE: ator social ou pesquisado que através do PROCESSO DE CODIFICAÇÃO apresenta a sua percepção mediante conteúdo manifesto ou conteúdo latente; assim, a MENSAGEM reflete as categorias analíticas do estudo dando início ao PROCESSO DE DECODIFICAÇÃO cujas respostas são interpretadas com relação aos conteúdos manifestos e latentes referenciados pela literatura e, finalmente, o RECEPETOR, ou seja, o pesquisador em face de verificação da hipótese. 61 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 4.1 Ambiência da Pesquisa 4.1.1 São João de Campina Grande: aspectos Históricos No Nordeste do Brasil, as festas juninas sempre estiveram associadas ao mundo rural. É um ciclo de festas transposto da Europa que aqui comemora especialmente a colheita do milho, cuja plantação coincide, mais ou menos, com o dia 19 de março, no qual o Catolicismo homenageia São José. Nesse período, o Catolicismo comemora, ainda, os santos populares: Antônio - 13 de junho, João - 24 de junho e Pedro - 29 de junho. A tradição de acender fogueiras e reunir as famílias motivou o desenvolvimento de uma série de festejos populares onde predominam: uma gastronomia própria, os costumes da dança (principalmente a quadrilha) e música que se adaptaram às condições do clima e ao uso dos fogos, além de brincadeiras às quais a religiosidade popular deu ênfase, também, nas ocorrências da arte de adivinhar. São João é a principal festa de todo Nordeste, se consideradas as manifestações em homenagem ao santo em todos os Estados da região. De origem rural, representa a mudança de estação climática e a chegada do ciclo da fartura proporcionada pela colheita do milho e do feijão, além de marcar a crença no santo que representa a purificação e regeneração da vegetação e das estações (NÓBREGA, 2010 p. 25). O Maior São João do Mundo surge anualmente como acontecimento do período junino que ganhou contornos de um grande evento da região nordeste, tornando-se um produto econômico advindo da cultura regional. 62 4.1.2 Evolução Histórica do Maior São João do Mundo A festa “O Maior São João do Mundo” teve sua institucionalização e seu início na década de 1980 e alcançou expressão massiva, em que milhares de pessoas de várias partes do país e do exterior vêm para participar desse evento, que expressa a cultura nordestina. Na década de 1980 as comemorações de São João passam a ser realizadas de acordo com estratégias decididas pelo poder público municipal. O prefeito Enivaldo Ribeiro (mandato de 1979 a 1982) deslocou o evento dos bairros para centralizá-lo no Palhoção, um grande e rústico barracão montado com madeira e coberto com palhas de coqueiros. A festa começava a atender à lógica do desenvolvimento sustentável, de modo a impulsionar o avanço econômico de CG (NÓBREGA, 2010 p. 46). Os festejos juninos eram comemorados nos bairros de Campina Grande durante o São João do Mundo, de onde surgiu uma infinidade de arraiais e quadrilhas improvisadas; famílias fechavam as ruas para acenderem suas fogueiras e brincar quadrilhas. O Maior São João do Mundo se define num quadro em que a cultura juninofestiva se deriva de uma considerável força popular que foi percebida e aproveitada pela classe política local já há partir de meados da década de 1970, época em que a Prefeitura Municipal começou a institucionalizar o evento. Essa política tomou maiores proporções com as iniciativas do prefeito Ronaldo José da Cunha Lima que, ao assumir a administração local em 1983, começou a implantar, no plano simbólico e em ações práticas, projetos para transformar a festa junina da cidade num grande evento, culminando na criação do Maior São João do Mundo (NÓBREGA, 2010 p. 24-25). Atualmente, O Maior São João do Mundo possui um calendário de trinta dias de festa, um empreendimento público de caráter massivo e promocional para o turismo cultural da região. A realização dessa festa, considerada um megaevento na localidade e na região, passou a estabelecer novas relações econômicas, políticas, culturais e turísticas do Estado com a localidade e com os demais municípios da região. 63 O Maior São João do Mundo, portanto, define-se na utopia de um importante tipo de celebração da atualidade que utiliza a religião apenas como pano de fundo, ao cooptar o plano simbólico histórico e identitário da cultura popular motivada por crenças cristãs e suas derivações, mas na forma de espetáculo transversalmente culturais, de acordo com os modelos da contemporaneidade (NÓBREGA, 2010 p. 48). Portanto, podemos afirma que as dimensões culturais do Maior São João do Mundo englobam a totalidade sociológica, formada pela história social e identitária do mundo junino-nordestino. 4.2 Caracterização dos pesquisados Os atores que compõem o grupo administrativo e técnico são formados por pessoas que exercem cargos formais na estrutura administrativa da cidade, tais como: prefeito, coordenador de evento, presidente de associação, e representantes da escola e da igreja. O grupo dos quadrilheiros pode ser caracterizado como composto por jovens com idade entre 15 e 30 anos de idade, pertencentes à classe trabalhadora de renda baixa, ou seja, de renda familiar, ou seja, entre de 1 e 2 salários mínimos, solteiros em sua maioria, estudantes de nível fundamental e médio. 64 4.3 Resultados 4.3.1 Significado do “Maior São João do Mundo” Considerando que a participação é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo, (BORDENAVE, 1983 p. 16) o evento “O Maior São João do Mundo” de, acordo com a pesquisa realizada, dá sentido à existência dos sujeitos pesquisados; afirmam estes que, a partir dele, podem construir identidade, manifestar toda a sua afetividade, desejo de reconhecimento, de ser especial e de ser valorizado. Tendo por base essas afirmações, buscou-se conhecer o significado do “Maior São João do Mundo” para os entrevistados. Dentre os entrevistados, a palavra “orgulho” foi citada várias vezes, como podemos observar nas falas abaixo, com destaque em negrito1: Chegar no parque do povo e ver mais de cem mil pessoas e não ter uma confusão dá orgulho em saber que você contribuiu com um pedacinho (E21, 2012). Tenho sentimento de orgulho, de muito orgulho. Todos nós falamos com muito orgulho, com muita alegria. Não é simplesmente aquilo que a gente alimenta, não é ufanismo sem razões (E22, 2012). Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples preserva as quadrilhas, e artesanato (E26, 2012). Primeiro tenho sentimento de muito orgulho, porque fazer quadrilha é uma coisa que ta na raiz, no ser humano, não é qualquer um que vai fazer quadrilha (E28, 2012). Há! Você se sente orgulhoso, você se sente artista, você se sente uma pessoa especial, uma pessoa que tem algo a mostrar, algo a ensinar (E30, 2012). 1 Nas demais falas, daremos o destaque necessário às palavras, com a utilização do negrito. 65 A palavra “orgulho” sinaliza um sentimento de satisfação pela capacidade ou realização, ou mesmo pela elevada dignidade pessoal. Se analisado no contexto da pesquisa, o termo “orgulho” pode ser visto como um sentimento positiva, pois a festa realmente pontua a memória da cultura junina tradicional com forte apelo para a identidade regional. O “Maior São João do Mundo” alcança, devido ao seu gigantismo, significativa importância, entre as celebrações juninas do nordeste, conforme afirma E21 o que pode explicar o sentimento de orgulho, pois a festa tem projeção nacional e internacional. As palavras “confraternização” e “união” foram citadas pelos entrevistados, o que evidencia os sentimentos de socialização e compartilhamento feito por todos que participam. É uma festa que reúne e tem seu lado positivo pela enorme confraternização popular, desde a criança ao mais maduro freqüentam o Parque do Povo nesta época (E20, 2012). Existe uma união de todos para fazer roupas de quadrilha (E24, 2012). As festas populares se efetivam como produto de união de forças coletivas, ao dar oportunidade de confraternização para a comunidade, celebrar alguma coisa que tem valor para um povo, oferecer algo a ser compartilhado, com o objetivo de unificar e exaltar o orgulho comunitário (NÓBREGA, 2010). Também foram citadas pelo pesquisados as palavras “felicidade” e “alegria” como expressão de significado para os festejos; esses sentimentos afloram durante o evento que traz satisfação e prazer aos indivíduos de fazerem parte desse megaevento que acontece durante trinta dias. O SJ é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha?Para mim não existe festa melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar balão, pular fogueira (E3, 2012). O sentimento que tenho é de alegria, quando tem concurso de quadrilhas vou atrás para ver os meus vestidos (E24, 2012). 66 É uma festa de alegria. (...) A motivação enche nossos corações de amor, felicidade, paixão e acima de tudo de dedicação, (...) somos quadrilheiros acima de tudo (E11, 2012). A emoção é a principal fonte de consciência. Aparece no discurso dos pesquisados, corresponde às expressões emocionais dos campinenses diante do São João como sendo de grande significância para vida deles, pois “é uma força subjacente ao processo de individualização” (FADIMAN e FRAGER,1986, p.61) e crescimento. O Sâo João é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha? Para mim não existe festa melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar balão, pular fogueira (E3, 2012). O Maior São João do Mundo é viver, amar, sentir e simplesmente se emocionar a cada momento que sinto a alma do São João se aquecer em mim. Sem São João eu não vivo (E18, 2012). O que eu sinto é emoção e a expectativa dos concursos de quadrilha, onde eu participei desde 2009 e não larguei mais (E17, 2012). A “emoção” é uma experiência subjetiva, associada à personalidade, motivação e referência para o individuo que, ao se identificar com os festejos, realiza a ligação entre as ocorrências e sensações físicas e a sua própria vida de forma positiva. A cultura é um dos pontos-chave na compreensão das ações humanas, funcionando como um padrão coletivo que identifica os grupos, suas maneiras de perceber, pensar, sentir e agir (PIRES e MACEDO, 2006). Com relação a considerar que o evento resgata e contribui com a cultura local, foram verificados dois tipos de percepção: o evento valoriza a cultura tradicional do local e o evento não valoriza as raízes culturais da comunidade local. Assim, um grupo percebeu a cultura tradicional do local como algo positivo que está presente no evento. 67 O São João é a festa mais rica em cultura que existe. São vários tipos de danças e várias comidas típicas. (E4, 2012). Significa representar a cultura popular brasileira, a cultura nordestina. Vai além de apenas representar, é mostrar através da cultura e da arte o amor por nossa região e poder passar através da dança todo este amor por nossa terra (E7, 2012). É uma festa cultural que é um símbolo de uma das festas melhores do mundo (E19, 2012). Significa um evento importantíssimo para a cidade do ponto de vista cultural e comercial (E30, 2012). Dessa forma, os festejos populares fazem parte do conjunto de espetáculos para turistas e terminam incorporando os aparatos, o simbolismo e a tecnologia do mercado, para tentar ocupar um espaço na dinâmica do lugar. No entanto, alguns dos entrevistados não percebem a valorização da cultura tradicional que originou e dá sustentação ao evento de acordo com as falas a seguir: Gostaria que a prefeitura abrisse mais as portas para os grupos culturais, que merecem o seu valor na cultura popular, as quadrilhas deveriam ser mais valorizadas (E15, 2012). Pena que as bandas de “forró” de fora, que não têm nada a ver com a tradição e beleza de um Luiz Gonzaga, levem boa parte do dinheiro arrecadado pelo evento (E30, 2012). Essa contradição pode sinalizar que o espetáculo midiático se apropriou dos eventos culturais tradicionais, como a quadrilha, por exemplo, para fomentar o turismo e obter resultados comerciais e econômicos. Ou seja, a administração pública municipal abre espaços para manifestos culturais locais, mas seu grande foco imediato é mercadológico e não o desenvolvimento local. A palavra “família” surgiu nas falas dos pesquisados por diversas vezes, o que evidencia traços da cultura brasileira de acordo com Holanda (1994). 68 [o São João] Leva a família nordestina a alegria, a esperança e a renovação da fé (E2, 2012). (...) participar com a minha família da parte social da festa (E20, 2012). [...] também tem o aspecto da família porque se reúnem como no Natal daí transmitir a parte boa estrutural (E27, 2012). A família, num sentido ampliado, também pode ser vista como grupos sociais, que, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nessa perspectiva, as funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos membros, e o outro, de nível externo, como acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas, de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990). Podemos inferir que “O maior são João do mundo” significa mobilização e articulação das pessoas, renda e retorno financeiro significativo, além de valorização da cultura regional para a cidade e manifestação do orgulho de pertencer à comunidade local. Fica clara a necessidade de o poder político formal da cidade se engajar no processo que vem de baixo para cima, para não perder o apoio popular. Assim, a prefeitura atua estimulando iniciativas locais de desenvolvimento, corroborando o que diz Albuquerque (1998, p.92) e promovendo a divisão de trabalho entre o Estado (competências administrativas e técnicas) e as coletividades (expressão das necessidades da população). As tradições campinenses relativas às festividades do ciclo junino sempre foram bastante expressivas, tanto que inspiraram e legitimaram políticas culturais para a criação do Maior São João do Mundo em moldes de megaevento, cuja realização não solapou a espontaneidade do povo campinense em celebrar à sua maneira, conforme seus próprios costumes. Desse modo, se no Parque do Povo, o principal lugar de realização do evento, acontecem as apresentações artísticas massivas, da indústria cultural, com grande concentração de público visitante, nos bairros e nas casas as comemorações se desenvolvem no âmbito comunitário e familiar (NÓBREGA, 2010 p. 25). 69 Entendendo que a cultura regional é uma dimensão fundamental do evento, é interessante lembrar que algumas falas se referiram à quadrilha como uma dança nobre da corte francesa, o que pode significar a necessidade de valorização do povo campinense, a partir de uma referência externa - o povo francês, e assim, diminuir simbolicamente o distanciamento entre o povo e a elite. Por ocasião das apresentações, os dançarinos, de origem humilde, se vestem com roupas luxuosas (cerca de R$1.000,00 um traje), se transfiguram e são, por breves momentos de sua existência, como “nobres europeus”. Durante a entrevista, um dos dançarinos relatou que quando dança “a alma sai de dentro dele” e que, ao final da apresentação, em êxtase, muitos colegas, como ele, desmaiam. A esse respeito, Motta (1994 p. 4) afirma que: Pela música, pelo canto e, sobretudo, pela dança, somos arrastados na corrente cósmica do ser e da vida e gozamos de uma espécie de imortalidade. O tempo para. Velhice, decadência e morte se anulam. Entramos no fluxo da juventude e da alegria, do triunfo contra o nada e a insignificância. O cardápio com as tradicionais comidas regionais: carne de sol, paçoca, milho, tapioca, cuscuz e queijo de coalho, são agora, acrescido do “creme de galinha” e até estrogonofe, comidas importadas da Europa que, supostamente valorizariam a riqueza da culinária regional. A rica e transbordante afetividade do povo traduzida na criatividade dos inúmeros elementos que compõem o evento, dos adereços e roupas, aos trios “pé de serra” ainda não é valorizada devidamente por todos, quando compartilha, por exemplo, espaços com bandas de “tecno” forró de outros Estados que se apropriam de parte significativa dos recursos que entram na cidade no período junino. Para os participantes das quadrilhas, que é a “alma” do São João, o evento que reúne o sacro e o profano, é uma festa familiar, tradicional, cultural e artística, e representa o amor pela região e o orgulho de ser nordestino – povo forte e trabalhador, e que, portanto, é uma festa que mobiliza emoções positivas como amor, alegria, paixão, entrega e dedicação. O evento dá sentido à existência desses sujeitos que, a partir dele, podem construir identidade, manifestar toda a sua afetividade, desejo de reconhecimento, de ser especial e de ser valorizado. A participação é o caminho natural para o 70 homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo (BORDENAVE, 1983 p. 16). De acordo com a percepção dos pesquisados, o significado do “Maior São João do Mundo” está sinalizado nas palavras: orgulho, alegria, felicidade, união confraternização, emoção, cultura e família. 4.3.2 Emergência dos Atores Sociais A emergência de atores sociais acontece de maneira formal nas escolas de ensino fundamental / públicas municipais, quando os alunos passam, pelo menos, dois meses do ano ensaiando quadrilhas. As escolas privadas e de ensino médio em geral, também costumam estimular os festejos juninos, com quadrilha ou não, com eventos educativos relacionados ao folclore, comidas típicas, música de “raiz”, roupas características, etc. Esse envolvimento ou participação, desde cedo, dos indivíduos, nessas atividades juninas, ou seja, nas atividades culturais, torna-se o contexto ou ambiente que favorece surgimento dos atores sociais. No meu caso particular, sou agente político, sou jornalista e advogado e estou e já tinha trabalhado com o evento São João só que de uma outra forma, com a Pré Turismo, daí o prefeito viu o meu trabalho e me convidou não pela minha competência e mais por dedicação política (E21, 2012. ). A minha historia com as quadrilhas é muito longa. Na verdade cheguei até a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos dentre eles as quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três anos como marcador. (E29, 2012) Sou funcionário publico municipal, trabalhei alguns anos na coordenadoria de cultura e hoje coordeno um projeto Mais Educação nas escolas municipais. Tenho 35 anos, e no São João de Campina estou vivendo há 23 anos, ou seja, mais da metade da minha vida me dediquei ao são João de Campina. (E30, 2012) Começamos a participar nas Quadrilhas das Escolas de Ensino Fundamental e nos bairros onde moramos. (E29,201). 71 Bordenave (1983, p. 12) diz que “a participação facilita o crescimento da consciência crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara para adquirir mais poder na sociedade”. Informalmente, nos bairros, os atores sociais emergem nas quadrilhas de forma espontânea, cerca de três por bairro, somando trezentas quadrilhas cadastradas oficialmente e mais umas cem estimadas que funcionem no período junino. O poder administrativo e formal da cidade reconhece a importância política de valorizar as quadrinhas como forte manifestação popular. Para Buarque (2002), a construção da competitividade nos espaços locais aumenta a importância e necessidade do Estado como organizador dos investimentos. 4.3.3 Formação de redes de Atores Sociais Martins (2009, p. 42) conceitua as redes como: (...) conjunto de contatos que ligam vários atores, nos quais tais contatos podem ser de diferentes tipos, por apresentarem conteúdos diferentes e apresentarem diferentes propriedades estruturais. Portanto, redes sociais são as ligações oriundas da rede de relacionamento estabelecidas pelos indivíduos e/ou organizações, dentro e fora de determinado ambiente analisado. Os relatos sobre a formação de redes de atores sociais também são permeados de contradições: um grupo expressa a valorização das redes, principalmente nas quadrilhas e associações. A minha historia com as quadrilhas é muito longa. Na verdade cheguei até a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos dentre eles as quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três anos como marcador (E28, 2012). 72 Começamos a participar nas Quadrilhas das Escolas de Ensino Fundamental e nos bairros onde moramos (E29, 2012). Isso [redes de atores sociais] nasceu nos bairros. A origem é na base dessa Pirâmide. Agora, o Poder Publico teve que se inserir porque os instrumentos de funcionamento de qualificar e de profissionalizar e dar novos contornos teria que necessariamente ter a apresentação organizacional da Prefeitura, sem perdas daquilo que é sugerido como critica construtiva pelas Comunidades (E, 2012). As redes acontecem nas quadrilhas, depois com as associações, até chegar no poder público. (E28, 2012) Ser hoje líder de uma quadrilha não é tão fácil. Imagine você lidar com muita gente, o nosso grupo já chegou a mais de 100 pessoas. (E30, 2012) Nós formamos nosso relacionamento com os amigos quadrilheiros de forma espontânea e natural na realização das Quadrilhas (E29, 2012) As quadrilhas tradicionais foram substituídas pelas quadrilhas estilizadas, cujos figurinos passaram por modificações e foram se sofisticando; também os figurinos e as coreografias também foram ficando mais elaboradas. Tudo isso foi incentivado pelas competições locais e regionais e pela construção do Parque do Povo, local especifico para apresentações das quadrilhas. Dessa forma, deixaram de ser reuniões familiares, de amigos de uma comunidade, para se transformarem em atração turísticas da festa de Campina Grande. Segundo Dowbor (2005) apud Nóbrega (2010), a competição entre os seres existe, mas que possibilita as espécies sobreviverem é especialmente o ambiente de colaboração que souberam construir. Fonseca e Machado-da-Silva (2002) destacam que, por meio das redes de relacionamento, podem-se observar os valores/crenças e regras, que transmitem conceitos sobre modos apropriados de fazer e agir de um determinado grupo. Outro grupo não se sente integrado pela rede, conforme relatos abaixo: A prefeitura tem sempre aberto espaço para nós da Igreja no sentido de levarmos um conteúdo religioso para o evento. Não é fácil porque a questão religiosa fica "perdida" entre os tantos outros interesses que a festa naturalmente demanda, entre eles, o comércio que é o mais forte a meu ver. Mas há um diálogo próximo entre a Igreja, padres, organizadores e a população que participa (E20, 2012). 73 A exclusão pode ser explicada pelo fato de a organização do evento ser feita pela Prefeitura e que existe participação direta apenas de alguns segmentos sociais. Os relatos parecem indicar que a formação de rede de relacionamentos espontâneos ocorre nas quadrilhas e, no máximo, nas associações. Na dimensão mais ampla, na coordenação do evento como um todo, por exemplo, verifica-se que as redes formais são determinadas e construídas pela prefeitura e empresas que patrocinam o evento. Assim, a formação de redes de relacionamentos se dá em dois níveis, contraditoriamente: num nível horizontal entre os quadrilheiros (dançarinos, músicos, coreógrafos, costureiras, dentre outros) e entre as elites políticas e econômicas do município e do Estado; no nível vertical, da base para a cúpula e vice-versa, entre quadrilheiros, associações, sindicatos e o Estado - poder político e administrativo. Para ressaltar a importância da instituição municipal pública Buarque (2002, p. 54) diz que: (...) A escala municipal e comunitária cria uma grande proximidade entre as instancia decisórias e os problemas e necessidades direta da população e da comunidade, permitindo maior participação direta da sociedade, reduzindo o peso e as naturais mediações dos mecanismos de representação. Fortalece o poder local e amplia as oportunidades do cidadão na escolha das suas alternativas e na decisão sobre seu destino. No atual momento, a prefeitura de Campina Grande está tendo apoio do governo federal, mas não tem recebido, por divergências políticas, verbas do governo estadual da Paraíba, indicativo esse que a formação de redes ainda não é formalizada e depende do personalismo nas relações. No momento em que as redes dos atores sociais estejam interligadas em todos os níveis, nasce a possibilidade, em longo prazo, de se construir um desenvolvimento local. Mance (1999, p. 38) afirma que (...) “As redes de colaboração solidária terão o poder de alcance cada vez maior, podendo interferir democraticamente nas políticas publicas nesses diversos níveis (...)”. Esse crescimento das redes dependerá dos atores sociais, ou melhor, das decisões e do seu comprometimento na construção de um projeto coletivo. 74 4.3.4 Projeto coletivo Para Castells (2002, p. 20), o projeto coletivo “são ações coletivas com um determinado propósito cujo resultado, tanto em caso de sucesso como de fracasso, transforma os valores e instituições da sociedade” Afirma ainda este autor (2002, p. 423): [...] a lógica dominante da sociedade em rede lança seus próprios desafios, na forma de identidades de resistência comunais e de identidades de projeto que podem eventualmente surgir desses espaços, sob determinadas circunstâncias, e por meio de processos específicos a cada contexto institucional e cultural. No caso em questão, o projeto coletivo de acordo, com a percepção dos atores, ainda deixar a desejar, em termos de uma participação efetiva de todos os segmentos sociais, como podemos observar nos relatos: Participam dele muitas Entidades, muitos atores, (...). A Prefeitura é a responsável principal de conduzir o projeto, mas (...) você tem a Comunidade nos seus Bairros, a Associação Comercial, a Câmara dos Dirigentes Lojistas, (...), você tem uma tímida participação do Governo do Estado (E22, 2012). A festa é organizada pela Prefeitura e Empresas que patrocinam o evento (...) [pois a realização do evento demanda uma ] uma estrutura gigantesca, e sempre temos presenciado que há crescimento nesta área. Depois, vejo que é uma possibilidade de ampliar e fazer girar a economia da cidade (E20, 2012). A Secretaria de Turismo é quem faz o planejamento prévio que a cada ano vai acrescentando e melhorando (E27, 2012). O planejamento ocorre de forma coletiva nas quadrilhas, como observado nos relatos, é passado por meio das lideranças de base para as lideranças políticas. É importante resgatar que o êxito da mobilização e da dinâmica iniciada pelo tecido associativo decorre da aliança realizada entre os líderes associativos e os líderes políticos, e da sintonia entre o diagnóstico da situação local existente e a qualidade do projeto mobilizador, ou seja, no “Maior São João do Mundo”. No caso, o projeto 75 se refere apenas ao evento, ou seja, não consiste numa representação global do futuro do território; dos principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSERENC, 1994), embora tenha influência no município como um todo. No projeto Quadrilhação nós atendemos cerca de 40 pessoas na oficina e ai vai, se multiplicado, na verdade um aluno aprende e quando chega em casa passa pro irmão, já passa prá família, então assim, nós não temos noção de quanto é de pessoas que a gente vem atingindo, mais assim, por oficina são 40 e são 6 oficinas que da 240... ai multiplica ( E30, 2012). Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações cada uma faz e as decisões são tomadas pelo sindicato. Ninguém consegue fazer nada sozinho ajudamos nas regras e eles entram com a estrutura dividem as responsabilidades (E29,2012). Do ponto de vista dos entrevistados, a Prefeitura Municipal de Campina Grande - PMCG oferece, no planejamento, embora elaborada apenas pelo órgão, a oportunidade de expressarem suas necessidades para o evento. Bordenave (1983, p. 13) comenta que “(...) os serviços que os organismos oficiais (...) prestam ao povo são melhor aceitos na medida em que correspondem à percepção que se expressa mediante participação.”. Talvez o esforço da PMCG seja, no sentido, de promover um evento que tenha relevância para a população campinense. Os relatos ainda apresentam algumas contradições; alguns dos atores sociais não percebem o evento como um projeto coletivo, sentem-se excluídos, à margem do planejamento e da execução do São João. A gente só escuta conversando ainda não existe por parte dos atores sociais uma organização que faça de fato e de direito o que eles desejam que estejam no projeto do São João ( E21, 2012). Existe um projeto para o evento, no entanto e este é planejado e executado pela PMCG através da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico, tendo apenas a colaboração, em algum momento, das redes de atores sociais, por meio das Associações, como Associação Paraibana de Quadrilhas Juninas- ASPAJU, 76 Câmara de Dirigentes Lojistas- CDL, entre outras, para que sejam ouvidos no que se refere à estrutura física do evento. Para Castells (1999, p. 24): (...) um conjunto de organizações e instituições, bem como uma serie de atores sociais estruturados e organizados, que, embora as vezes conflitante, reproduzem a identidade que racionaliza as fontes de dominação estrutural. Nessa perspectiva, torna-se mais fácil para a instituição que realiza o evento conseguir a aprovação de todos os envolvidos, mesmo que a participação no projeto seja de maneira indireta. Outra observação importante é que, esse planejamento, é para curto prazo, portanto, só atende às necessidades do evento atual. Assim, o planejamento em longo prazo é negligenciado, dando espaço ao improviso que, segundo Dourado Filho (2000, p. 11), “é uma verdadeira instituição brasileira”. 4.3.5 Sistema Institucional Uma sociedade é uma rede de relacionamentos sociais, ou seja, de relacionamento entre os atores sociais, podendo ser ainda um sistema institucional formal materializado em organizações, que surgem da articulação entre esses atores. Na percepção dos pesquisados, essas organizações estariam presentes na figura da prefeitura e das associações de quadrilhas, com a articulação do evento feita pelo poder publico. A coordenação institucional que assumimos em 2005 impunha o dever de absorver a responsabilidade de dar contorno a uma festa que já era consagrada em Campina Grande como festa também consagrada principalmente para nos nordestinos festejos juninos e as particularidades que neles inserido parte cultural expressão musical forró, o que vemos paralelamente o artesanato, gravuras, com o cordel, todas essas expressões que mais são realçadas no período junino.” “(...) uma festa nascida não por uma imposição gestada tão somente do ente publico, mas nascida da presença do envolvimento da própria cidade isso se deu aqui. (E22, 2012). Existe uma Associação de Quadrilhas que englobam todas aquelas que querem algum apoio logístico, por exemplo, da Prefeitura. A Prefeitura tem 77 como conduta não interferir. A Prefeitura tem uma relação onde fazem as reenvidicações e ela ver o que é possível atender. (...) A Prefeitura, portanto se mantém no papel de parceira, ela dar o que for possível ainda acho que pouco na minha visão, porque ela fomenta um objetivo do São João gerar diversão (...) (E21, 2012) (...) Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações cada uma faz e as decisões é tomada pelo sindicato. Ninguém consegue fazer nada sozinho ajudamos nas regras e eles entram com a estrutura dividem as responsabilidades. “ASPJU” surgiu uma instituição uma parceira que está dando muito certo (E29, 2012). Os sujeitos da ação que quem cuida a Secretaria de Turismo que faz planejamento prévio que a cada ano vai acrescentando e melhorando (E27, 2012). Onde surge o dialogo do Poder Publico e Sociedade (E28, 2012). Conforme se observou nos relatos, o sistema de parcerias que constitui a realização do evento está ligado às intuições publicas, tendo esporadicamente apoio de algumas associações, mas está longe de ser uma parceria igualitária; apenas em dados momentos essas associações são ouvidas sobre as questões relacionadas à infraestrutura do evento. Para Buarque (2002, p. 55): (...) os atores locais e suas instituições trabalham com um nível e qualidade de informações limitada ao seu espaço, não captando a complexidade e a relevância dos fatores externos (decisivos para o seu futuro) no que se refere tanto as oportunidades quanto as ameaças. Os entrevistados, em sua maioria, afirmaram que existe alguma interação ou diálogo entre a PMCG e a sociedade, mas que é percebido como um processo organizacional fragmentado. Não ocorre a verdadeira gestão descentralizada que representa a transferência de autonomia, bem como efetivo poder decisório entre instâncias. Ou seja, apenas ocorre a distribuição de responsabilidade executiva de atividades, programas e projetos sem transferência da autoridade e autonomia decisória (BUARQUE, 2002). Ficou claro, nos discursos, que as parcerias têm o compromisso de apoiar a cultura através das quadrilhas, artesões e trios de forró, no intuito de transformar isso em artigo turístico, e que se torna atração, a partir da lógica econômica. . Rosa (2002) afirma que um processo institucional visa somar esforços de coordenar ações, gerando sinergia e potencializando os resultados para o 78 desenvolvimento local. De acordo com o estudo realizado, não existe um objetivo comum construído coletivamente, ou seja, o que se verificou foi que a relação estabelecida entre as instituições públicas e associações, são apenas reuniões para a prefeitura apresentar um projeto já pronto, no intuito de obter comprometimento dos segmentos presentes com os resultados, metas e ações comuns para realização do evento. 4.3.6 Cultura e Cultura Brasileira Para Motta (1997) , a cultura designa, classifica , corrige, liga e organiza. Ela desenvolve princípios de classificação que permitem ordenar a sociedade em grupos distintos e influencia as orientações particulares que assumem os jogos estratégicos pelos quais cada um defende seus interesses e suas convicções, no interior de cada grupo social. Toda a diversidade de etnias e de costumes que deu origem ao povo brasileiro se manifesta em seus traços culturais mais característicos que “representam aqueles pressupostos básicos que cada indivíduo usa para enxergar a si mesmo como brasileiro” (FREITAS, 1997, p. 39). O evento é considerado, pelos entrevistados, como sendo a configuração da cultura nordestina e campinense, no que se refere às quadrilhas. Elas são objeto de admiração e orgulho municipal. Nos discursos apresentados, notou-se que a cultura é um elemento presente, pois é constantemente lembrada como sendo base do evento. O Maior São João do Mundo tem como principais atrativos representações culturais da região e da cidade de Campina Grande. (...) a gente criou a Casa do Artesão, ou seja, novo elemento introduzido no São João de Campina Grande, porque os nossos artesões produzem aquilo que mais se aproxima desse expresso que esta vinculada ao período junino. (E21, 2012). São festas de Santos, a gente passou nesses últimos três anos por garantir aquilo que muitos nem aperceberam o que você celebrar nesse período? 79 Santo Antonio, o casamenteiro, São João, São Pedro e São Paulo (E22, 2012). (...) o São João de Campina Grande, ele acaba sendo uma fonte inesgotável de movimentação cultural (...) nesse sentido buscarmos nesse período voltar a incentivar e a mostrar no parque do povo a estrutura da Literatura de Cordel, dos Santos que originaram isso, as bebidas e comidas típicas que tenham um espaço preservado para que o evento tenha atrações como às Ilhas de Forró, com os trios genuinamente locais (E21, 2012). As quadrilhas hoje buscam vou dar um exemplo um tema “Lampião”, por exemplo, que não deixa de ser a nossa cultura, as raízes é a historia de Lampião e se faz um enredo e apresenta nas ruas, no Parque do Povo, nos concursos (E29, 2012). Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples preserva as quadrilhas, artesanatos (E27,2012). (..)Eu posso falar que o segmento de quadrilha juninas hoje falando culturalmente é o segmento mais bem organizado de todos, ate eventos culturais o pessoal é mencionado.(...) (E30, 2012) Verificamos que os traços da Cultura Brasileira presentes no ambiente e nos discursos da pesquisa, são os seguintes: - Hierarquia – todos relatam que a gestão do evento acontece a partir da PMCG. - Personalismo – a relação entre as instituições, em especial, a PMCG, na fala de todos os entrevistados, principalmente aqueles que ocupam cargos nesta instituição, são da mesma rede de relações pessoais ou políticas; além disso, são acolhedores, hospitaleiros, afetuosos, generosos e valorizam muito a família (características que foram constatadas durante a pesquisa). DaMatta (1997) afirma que a sociedade brasileira possui uma lógica relacional, cujas características são a busca constante pela inclusão, pela maximização das relações e pela crença maior nas relações sociais do que nos próprios indivíduos que lhes dão forma. - Conservador – não houve mudança significativa nos atores que detém o poder, ou seja, representam a mesmos interesses de determinada classe – a classe política dominante. Entretanto verifica-se uma contradição: a prefeitura, ao mesmo tempo, precisa do povo e da base para realizar o evento. A Cultura Brasileira está também presente na coletividade, mas bem distante do poder formal, bem ao estilo do senhor de engenho (MOTTA, 1997). 80 - Religiosidade - de maneira muito discreta os entrevistados ligam a festa aos santos do período. - Malandragem – há uma flexibilidade e adaptabilidade dos atores às situações que foram mudando, dando novos contornos à cultura, contornos modernos. A cultura Brasileira teve influencia de com diversos fatores que contribuíram para formação do pais a exemplo a sua colonização por Portugal, influencias externas sobre a economia e políticas que até hoje moldam o comportamento cultural brasileiro. 4.3.7 Criação de Instituições Com relação à criação de instituições, observa-se que os respondentes só percebem as associações relacionadas às quadrilhas, A “ASPJU” surgiu como uma instituição parceira e está dando muito certo (SIC, gerente de evento), o que sinaliza para a criação de organizações informais de bairros. Estas organizações se articulam em associações que são mobilizadas pela prefeitura. 81 5 Considerações Finais Considerando os objetivos propostos neste estudo e as categorias de análise estudadas, podem-se verificar algumas sinalizações sobre o DL e o evento “Maior São João do Mundo”. Com relação ao objetivo específico “1. Investigar se “O Maior São João do Mundo” mobiliza e contribui na emergência de atores sociais em Campina Grande”, aferimos que o evento, mesmo permeado de percepções contraditórias, favorece a emergência de inúmeros atores sociais provenientes dos festejos juninos, principalmente nas quadrilhas de bairros. Ao investigar o significado do “Maior São João do Mundo” para os atores sociais de Campina Grande observamos, de acordo com a percepção dos pesquisado, que esse significado está sinalizado em palavras positivas e mobilizadoras tais como: orgulho, alegria, felicidade, união confraternização, emoção, cultura e família. Com relação ao objetivo “2. Verificar a existência de formação de redes de atores sociais” notamos que as redes se formam em dois níveis: num nível horizontal entre os quadrilheiros (dançarinos, músicos, coreógrafos, costureiras, dentre outros), e entre as elites políticas e econômicas do município e do Estado; e, no nível vertical, da base para a cúpula e vice-versa, entre quadrilheiros e o Estado - poder político e administrativo, intermediado pelas associações. Atendendo ao objetivo específico “3. Identificar a existência de um projeto coletivo no contexto das organizações que realizam o evento cultural em estudo” percebemos que os projetos coletivos são construídos na base pelos quadrilheiros e tem caráter descentralizado e pulverizado por todos os bairros, entretanto a grande organização e planejamento do evento, como um todo, é viabilizado pelo Estado. Verificamos também que as quadrilhas são a essência do evento e que outros atores sociais importantes da cidade como Associação do Comércio, representantes das escolas ou mesmo a igreja, ainda não estão totalmente engajados no processo. Quanto ao objetivo específico 4 sobre o modelo do sistema institucional utilizado na promoção do evento e as instituições viabilizadoras do processo, observamos que, na percepção dos pesquisados, as instituições podem ser materializadas nas associações que exercem poder político, junto ao poder constituído. 82 No tocante ao objetivo “4. Estudar elementos da Cultura Brasileira que permeiam a realização do evento”, observamos que os traços da cultura brasileira como personalismo – afetividade transbordante em todos os atores sociais, malandragem – flexibilidade para criar e encontrar soluções para os problemas emergentes na realização do vento, sensualismo das músicas e danças, e religiosidade, podem ser observados como elementos fundamentais de concretização do “Maior São João do mundo”. Já o conservadorismo e a hierarquia, à primeira vista, podem ser problematizados, na medida em que convivem contraditoriamente, o São João tradicional e o “tecno” forró”; a hierarquia é, muitas vezes, subvertida quando o desejo de realização e a efetivação do evento surge da base comunitária. Verificamos de acordo com Albuquerque (1998) que a sociedade local não se ajusta de forma passiva às mudanças promovidas na cidade, a partir do evento, mas desenvolve iniciativas próprias específicas, a partir da cultura local. De um modo geral, todos os respondentes percebem o evento como promotor do DL. Podemos concluir, assim, que existe, apesar das contradições, um grande potencial no local para a realização de movimentos, de influência da base para a cúpula política e administrativa, indícios de possibilidade de concretização de DL. Finalmente, a partir do cumprimento dos objetivos específicos e referencial de análise proposto, podemos afirmar que o objetivo geral deste estudo que era “Analisar a percepção dos atores sociais sobre a influência do “O Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande foi atingido; e que, portanto, o problema de pesquisa:” como os atores sociais percebem a influência do “Maior São João do Mundo” para o Desenvolvimento Local da cidade de Campina Grande? Como sugestão para outras pesquisas podemos indicar o levantamento de outros dados complementares para estudar o desenvolvimento local sustentável, a partir de outros pressupostos não adotados neste estudo como educação, saúde, distribuição de renda e melhoria da qualidade de vida do conjunto da população. 83 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY R, ARBIX G, ZILBOVICIUS M, (Org.). Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Editora UNESP/EDUSP; 2001. ACSELRAD, Henry. A construção da sustentabilidade: uma perspectiva democrática sobre o debate europeu. Cadernos de Debate Brasil Sustentável e Democrático. Rio de Janeiro, n. 4, 1999. AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Desenvolvimento (ECO-92). Brasília: Senado Federal, 1989. ALBUQUERQUE, Francisco - Desenvolvimento Local e distribuição do progresso técnico, uma resposta às exigências do ajuste estrutural. Fortaleza: Ed. Banco do Nordeste, 1998. ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995. 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O significado para a cidade? (Melhora? Fica mais alegre? Entra dinheiro?) 3. Considerando os conceitos de Ator Social Ator Social - no contexto do processo de Desenvolvimento Local “são aqueles cujas qualificações e competências os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento tais como diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; lideranças comunitárias; operadores (responsáveis de colocar em prática as políticas); e 91 representantes eleitos, quer sejam incentivadores ou não, das políticas de desenvolvimento” (TEISSERENC, 1994 p.4). Eles agem como novas elites locais modernizadoras, conciliadoras e militantes de maneira a produzir uma transformação no seio da coletividade, realizando um trabalho como “um agente que impõe a essa coletividade sua própria transformação interpretando pressões externas para vencer a resistência dos sistemas de reprodução” (BRITO 2005 Apud TOURAINE, 1984, p. 236) Como você surgiu como liderança / ator social nesse processo? De forma espontânea? Foi convidado? 4. Considerando os conceitos de Redes de Atores Sociais Redes de Atores Sociais - consiste no conjunto de lideranças / atores sociais interdependentes que atuam de forma coletiva e cooperativa para viabilizar o evento e superam antagonismos locais, construindo na prática cotidiana a resolução de problemas e a elaboração e a execução de programas integrados em parcerias com os poderes públicos territoriais e nacionais (TEISSERENC, 1994 apud BRITO, 2005). Existe uma rede de relacionamentos formal ou informal para viabilizar o São João? Quem compõe a rede? Quem determina a participação? Como ocorre a participação? 5. Considerando os conceitos de Projetos coletivos Projetos coletivos: consiste numa representação / documento global, formal ou informal do futuro do São João de Campina Grande; dos principais problemas a resolver; e das qualidades essenciais a obter (TEISSERENC, 1994 apud BRITO, 2005), que tenha sido elaborado de forma coletiva pelos atores sociais. É global no sentido em que toca a todos os componentes da vida local (iniciativas culturais; iniciativas de criação de atividades; práticas de solidariedade entre gerações) e procura levar em conta as numerosas interações entre esses componentes, e a explorá-los como recursos a serviço do desenvolvimento local (BRITO 2005 p. 6). 92 Existe um projeto coletivo (feito por todos – escrito ou não) de gestão (planejamento, execução, acompanhamento e avaliação) do fenômeno cultural do São João? 6. Considerando os conceitos de Sistema Institucional Sistema Institucional – são instituições (órgão, empresa, associações) criadas com o compromisso de viabilizar o São João de Campina Grande. Possuem estrutura, políticas e ações para operacionalização do evento. Existe um Sistema Institucional que viabiliza o processo? Como e por quem ela foi criada? 7. Considerando os conceitos de Desenvolvimento Local Sustentável Desenvolvimento Local – Para Brito (2005) “É um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração sócio-econômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda”. Na sua percepção o fenômeno cultural do São João contribuiu para a melhoria Desenvolvimento Local Sustentável, ou seja, da qualidade de vida do conjunto das pessoas de Campina Grande? 8. Considerando os conceitos de Cultura e traços culturais da cultura brasileira Cultura - Para Mota (1997, p.34) “a cultura fornece aos grupos e as nações um referencial que permite aos homens atribuir um sentido ao mundo no qual vivem e às suas próprias ações. A cultura designa, classifica, corrige, liga e coloca em ordem. (...) A cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados, que serve como mecanismo de controle. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida ou decifrada para que seja entendida (...). Toda cultura é caracterizada por algum nível de continuidade”. 93 Cultura Brasileira - Os principais traços culturais presentes nas organizações brasileiras, segundo Prates e Barros (1997), são: concentração de poder, flexibilidade, paternalismo, lealdade às pessoas, personalismo, impunidade, tendências a evitar conflito, postura de espectador e formalismo” (CARVALHO & LEITÃO, 1999, p.26) Quais os traços da cultura brasileira permeiam a realização do São João de Campina Grande? 94 APÊNDICE B- TRANSCRIÇÃO DOS DISCURSOS DOS ATORES SOCIAIS Qual o significado para você do “Maior São João do Mundo”? E1.O SJ é um folguedo junino que data de séculos. É uma festa popular que tem um grande significado para o povo nordestino. Nele é sempre mantida a tradição de ser uma festa de reunião familiar, na qual está presente uma manifestação cultural espontânea a qual tem movimentação e atração turística. É o grande momento de reencontro com a fogueira, o milho, o balão e todos os ritmos nordestinos: xote, xaxado, baião, arrasta pé e etc. É de uma significância costumeira, onde se reúne o sacro e o profano. E2.O festejo junino é uma realização de grandes sonhos, é nesse período que o povo nordestino pode apresentar com mais garra todo o seu ideal , suas crenças, sua fé e o orgulho de ser este povo tão forte e trabalhador. Não se fala em nordeste sem lembrar-se de uma das mais belas manifestações folclóricas, que é o SJ, que leva a família nordestina a alegria, a esperança e a renovação da fé. É mantendo a tradição que de uma só vez, grupos de danças, através da quadrilha expressa seu orgulho em fazer parte desta festa. E3. O SJ é tudo. O que seria eu sem o forró e a quadrilha?Para mim não existe festa melhor para transmitir alegria, emoção, comer um milho, soltar balão, pular fogueira. Em fim...não tem outra festa melhor. E4.O SJ é a festa mais rica em cultura que existe. São vários tipos de danças e várias comidas típicas. Em si, tem tudo que o brasileiro quer para uma boa festa. Tem quadrilha junina que é a maior representação do maior SJ do mundo. E5.O SJ é uma festa popular que se manifesta na maior parte da região nordeste do Brasil. Entretanto, a cidade de CG sedia uma grande festa junina por volta de 30 dias, onde concentra-se gente de todo o mundo. Portanto para o campinense essa grande festa é de extrema importância, pois trás um capital muito bom e ajuda nos investimentos do Estado.CG na atualidade possui as melhores quadrilhas juninas do Brasil, ser quadrilheiro não é apenas movimentar o corpo e dançar e sim entregar-se de corpo e alma. Nós quadrilheiros temos um ditado: ser quadrilheiro tá na alma, no sangue e no coração. O sangue quadrilheiro segue em nosso sangue [e exige de nós] dedicação extrema. E6. Eu sinto muita emoção, uma vontade muito grande que chegue a hora para ver as barracas, dançar nas palhoças, comer as comidas típicas e curtir as atrações convidadas, e o principal – as quadrilhas. E7.Significa representar a cultura popular brasileira, a cultura nordestina, vai além de apenas representar, é mostrar através da cultura e da arte o amor por nossa região e poder passar através da dança todo este amor por nossa terra. Dançar e fazer parte de uma quadrilha junina, é passar este amor através da dança.O MSJM vai muito além de apenas forró, ali estamos mostrando para todo o Brasil o amor que 95 nós nordestinos temos por nossa cultura e em poucas regiões do país ainda se vê a cultura brasileira permanecer durante o passar do tempo. E8.É a melhor época do ano, pois recebemos turistas de diversos países. E9. O maior SJM é uma festa onde sim podemos levar nossa cultura ao auge, até porque nesse contexto, nós quadrilheiros temos o prazer de sentir o nosso sangue pulsar e mostrar o que tem de mais prazeroso entre nós. Apesar de trabalhar tenho um tempo a parte em relação a quadrilha, afinal é o que eu mais gosto de fazer. E10.Sinto a maior satisfação(...) O São João é uma das festas que eu tenho o prazer de prestigiar e participar e apesar de fazer cursinho, gasto um tempo a mais neste meio cultural e artístico. E11.O São João é uma festa de alegria. Ao chegar o mês de junho a motivação enche nossos corações de amor, felicidade, paixão e acima de tudo de dedicação, pois nós que somos quadrilheiros acima de tudo, temos 6 meses antecipados de dedicação para fazermos um Sj maravilhoso. E12.O MSJM significa para mim uma tradição sem comparação, ao contrário de muita gente que se presta para o carnaval, o quadrilheiro se prepara para o SJ, que é a melhor festa do mundo. E13. O SJ é uma das maiores festas que tem em CG e para nós que dançamos quadrilha é a época que gostamos mais. (...) É uma tensão muito grande quando chega a primeira apresentação. E14. O SJ para mim é a maior festa, pois é onde consigo me divertir, ou seja, é o meu amor maior. E15.Gostaria que a prefeitura abrisse mais as portas para os grupos culturais, que merecem o seu valor na cultura popular, as quadrilhas deveriam ser mais valorizadas. E16. Deus é fiel, amor é raiz. E17.O que eu sinto é emoção e a expectativa dos concursos de quadrilha, onde eu participei desde 2009 e não larguei mais. E18. OMSJM é viver, amar, sentir e simplesmente se emocionar a cada momento que sinto a alma do SJ se aquecer em mim. Sem SJ eu não vivo. E19.É uma festa cultural que é um símbolo de uma das festas melhores do mundo. 96 E20 1.Como você percebe o fenômeno cultural do São João de Campina Grande? O São João de Campina Grande é uma festa que está enraizada no coração da população. Acredito ser a maior comemoração popular em nossa cidade. Porém, apesar de ter suas origens marcadas pela religiosidade popular e a devoção aos santos do mês de junho, infelizmente a festa sempre teve outra conotação mais comercial, social e voltada para o turismo. O turista que chega à Campina Grande tem sempre se perguntado onde está "São João". O que se vê na realidade, são bares, restaurantes e bandas com músicas das mais variadas possíveis e muito pouco se houve o forró tradicional. Mesmo assim, é uma festa que reúne e tem seu lado positivo pela enorme confraternização popular, desde a criança ao mais maduro frequentam o Parque do Povo nesta época. E para não ser injusto, tenho escutado que a preocupação das equipes que preparam o "Maior São João do Mundo" que está havendo uma reflexão no sentido de tentar trazer a essa festa a parte religiosa. Algumas iniciativas foram realizadas, mas sem muita visibilidade, sem muita expressão. 2.O que mais lhe chama a atenção no evento? Em primeiro lugar a capacidade de organização do evento que por demandar uma estrutura gigantesca, sempre temos presenciado que há crescimento nesta área. Depois, vejo que é uma possibilidade de ampliar e fazer girar a economia da cidade. Acredito que é o periodo em que a cidade recebe a maior quantidade de pessoas do Brasil e de outros países. E por último, o que já disse em relação a questão de ser uma grande confraternização que põe Campina Grande em evidência. 3.Como você participa do evento? Além de ter apoiado algumas tentativas de implementar a religiosidade, celebrando a missa de São João, Santo Antônio e São Pedro, levando procissões da Catedral ao Parque, fazendo entronização da Imagem de São João na Capela cenográfica do Parque do Povo, abrindo um espaço que é cedido para colocarmos os santos juninos com explicaçoes de suas histórias, e também gosto de frequentar para participar com a minha família da parte social da festa. 4.Como você se relaciona com os outros atores/ participantes do evento? A festa é organizada pela Prefeitura e Empresas que patrocinam o evento. A prefeitura tem sempre aberto espaço para nós da Igreja no sentido de levarmos um conteúdo religioso para o evento. Não é fácil porque a questão religiosa fica "perdida" entre os tantos outros interesses que a festa naturalmente demanda, entre eles, o comércio que é o mais forte ao meu ver. Mas há um diálogo próximo entre a Igreja, padres, organizadores e a população que participa. 5.Você participa do projeto coletivo que viabiliza o evento? Como? Não. 6. Qual o papel da igreja no evento? Nas questões anteriores disse que a Igreja tem seu espaço, mas é mínimo. O bispo é convidado para a abertura do evento no palco, recebemos uma barraca para fazer 97 a exposição dos santos juninos, já fizemos as procissões da Catedral para o Parque do Povo e missas. 7.Você acha que o evento é importante para o desenvolvimnto local sustentável, ou seja, para a melhoria da qualidade de vida do conjunto das pessoas de Campina Grande? Acredito que ajuda ao comércio sim. Muitos grandes e pequenos comerciantes se beneficiam desta festa. Porém, desenvolvimento sustentável é um conceito que envolve qualidade mais do que quantidade. Não é o simples crescimento econômico que determinará integralmente essa situação. A festa traz à cidade muitas oportunidade, mas em termos de melhorias de vida para o conjunto, não posso afirmar isso porque me faltam dados. Mas na minha opinião outras iniciativas poderiam de forma bem melhor trazer melhorias para a sociedade. Investe-se muito nessa festa, há uma demanda incrível de recursos privados e públicos que se fossem colocados, pelo menos a metade, em outras prioridades básicas, teríamos mais benefícios para o conjunto. E21 A Sociedade como um todo está acostumada com o Estado mandar e as pessoas vão como se fosse manada nas áreas relacionadas à cultura. Eu particularmente tenho uma posição e especificamente no nosso São João o estado não tem como controlar, isso não tem como funcionar em larga escala o estado não tem como controlar a mente das pessoas de modo a fazer com que funcione de maneira circulo produtivo verdadeiro por tanto tempo como é o São João. Então o que acontece, o São João de Campina Grande surgiu muito mais pelo conceito das pessoas, como o campinense é festeiro e com o decorrer do tempo o que era festa coletiva passou a ter o espírito do evento que exatamente coisa que além de levar alegria para pessoas ela faz que os atores sociais que participam desse evento também venham usufruir do mesmo. O que acontece o São João de Campina Grande, ele acaba sendo uma fonte inesgotável de movimentação cultural, econômica, social da cidade na cidade. Apesar de algumas pessoas afirmarem que o São João está muito plástico não tem mais aquelas estruturas arcaicas do inicio do São João. O São João passou nesses oito anos por um processo de remoldado sobre o aspecto de buscar um esqueleto confortável, porque a senhora vier de Fortaleza vai querer um certo conforto atrelado às raízes culturais nesse sentido buscarmos nesse período voltar a incentivar e a mostrar no parque do povo a estrutura da Literatura de Cordel, dos Santos que originaram isso, as bebidas e comidas típicas que tenham um espaço preservado para que o evento tenha atrações como às Ilhas de Forró, com os trios genuinamente locais. No Parque do Povo tem sete palcos, sendo dois principais e cinco menores que estão dispostos em três Ilhas, na Pirâmide que na verdade não é uma Pirâmide, quando o arquiteto fez foi pensando em uma Fogueira Estilizada, poucas pessoas sabem disso e outro está na Vila Nova da Rainha. Sempre com trios que movimenta os turistas. 98 Com Literatura de Cordel fizemos um recrutamento de pessoas que fazem Literatura de Cordel, também temos cerca de 400 empreendimentos, sendo 300 de menor porte que são barracas, 100 são pavilhões maiores. São majoritariamente pessoas da Comunidade que se envolve sugerindo melhorias. Obviamente que ainda existem dificuldades porque nós ainda não estamos acostumados com o cidadão se associar em associativismo para reinvidicar, isso facilitaria muito para missões do poder publico porque você tem um ambiente financeiro quando você mexe de lado o outro pode reclamar com a Associação acaba criando um núcleo que passa para o poder publico as reenvidicações. O São João de Campina Grande tem buscado cada vez mais o vinculo sendo construído com as pessoas e a Comunidade, até porque se não for a Comunidade as pessoas, o povo de Campina Grande ir para o São João não consegue contaminar o restante dos estados brasileiros a virem, quem vem para um lugar onde as pessoas não se veste adequadamente, não participa adequadamente do evento. Se você chega a Campina Grande no São João e não se sente no clima de São João a Prefeitura pode botar a melhor atração do mundo que não vai animar. As quadrilhas que são o charme extra do São João, que tinha um período atrás apagado, hoje têm um investimento e se dependesse de mim teria um investimento ainda mais. O charme da quadrilha é as pessoas se reunirem querer fazer aquela apresentação. Apenas 4% dessas quadrilhas se inscrevem aqui, sendo que as quadrilhas de Escolas, Posto de Saúde e até de Hospital Psiquiátrico não se apresentam no Parque do Povo, mais estão fazendo sua parte seja se apresentando na Praça da Bandeira seja nos Bairros. O Concurso de Quadrilhas é uma coisa absolutamente bela é apenas para quem quer concorrer à esmagadora maioria não quer isso, quer fazer um arraiá na sua rua se apresentar lá se divertir em família que é outro lado não São João. Apesar de ser um evento de mega atrações não é um evento familiar, então você ver as famílias no parque na noite de abertura que tem fogos você ver as famílias voltando cedo por isso às 11 horas é feita a queima de fogos para que as pessoas possam levar seus filhos é natural você chegar de 7ou 8 horas da noite, na estrutura de 42m² (quarenta e dois mil metros quadrado) você vai ver famílias. Existe uma Associação de Quadrilhas que englobam todas aquelas que querem algum apoio logístico, por exemplo, da Prefeitura. A Prefeitura tem como conduta não interferir. A Prefeitura tem uma relação onde fazem as reenvidicações e ela ver o que é possível atender. O concurso, por exemplo, teve o ano passado os jurados escolhidos por eles, tivemos até duas pessoas produtoras do Programa Criança Esperança, que por nossa interferência levaram a quadrilha vencedora a se apresentar na edição de 2011. A Prefeitura, portanto se mantém no papel de parceira, ela dar o que for possível ainda acho que pouca na minha visão, porque ela fomenta um objetivo do São João gerar diversão, de gerar movimentação do hotel ao chaveiro, por exemplo, ele tem um faturamento proporcional ao do Natal, sendo que no Natal tem o 13º, tem o dobro de recurso circulando, no São João não tem então na hora que você estimula a quadrilha você estimula as pessoas comprar o vestido mais estilizado, mais bonito você fazendo que toda a economia local se movimente o engenho produtivo acaba 99 funcionando, a costureira ela vai ter um mês de ganho extra, você tem todo um ciclo produtivo. Na verdade como funciona o São João a parte estrutural do evento é organizada pela Prefeitura, por uma agencia responsável pela captação de recursos e ainda do layout do São João, é feito um processo licitatório pela Prefeitura e a partir do que a Prefeitura deseja a agencia faz a captação e implantação, mais nós costumamos escutar muito os atores sociais, como eles não tem uma estrutura organizada no Parque do Povo, fui a favor que houvesse para dar representatividade a esses atores, como eles não têm agente tenta utilizar órgãos representativos para colher essas informações, por exemplo, o SINE Campina, temos a APRASEL de bares e restaurantes que tem ali enfrentado no bom sentido então o que acontece agente colhe destas entidades os anseios e também escuta. A gente só escuta conversando ainda não existe por parte dos atores sociais uma organização que faça de fato e de direito o que eles desejam que estejam no projeto do São João. No meu caso particular, sou agente político, sou jornalista e advogado e estou Coordenador de Turismo e já tinha trabalhado com o evento São João só que de uma outra forma, a partir daí foi criada relações com a Pré Turismo, daí o prefeito viu o meu trabalho e me convidou não pela minha competência e mais por dedicação política. O São João de Campina está quebrando um preconceito, o Brasil só tinha um grande evento a 20 anos atrás que se chamava o Carnaval que era o que todo mundo lá fora conhecia, hoje já temos no São João o São João da Gente tivemos no ano 2011 quatro dias de transmissão ao vivo para mais de 150 países esse ano serão 10 dias. E o próprio País já olha não só para Campina Grande, mas para o Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e todos os estados que estão fazendo São João já começa a olhar e perceber que o Brasil não é só Carnaval e o ponto chave disso tudo em 2014 temos uma vitrine fenomenal, aonde o São João de Campina Grande ta exatamente na vitrine aonde os turistas virão para cá, mais eles não vão saber o que é Carnaval, eles vem no período Junino, os turistas que vem para Pernambuco terão a oportunidade de conhecer o meu o nosso São João e mais importante que isso vai ter a capacidade de levar essa imagem que deixa de ser apelativa e de cunho sexual, porque é uma festa muito familiar, muito de juntar pessoas e é uma festa de vender também a preocupação e fazer com que todos atendam bem e que este turista volte dizendo que o Brasil tem um evento em junho que é interessante. A copa tem um dado que pouca gente explora de quatro pessoas quem vem à copa três não vão assistir aos jogos elas ficam circulando vai conhecer o país apena uma assiste aos jogos. Sentimento de orgulho extremo em relação ao São João é uma sensação muito gostosa em dançar. Você vê aquilo, as quadrilhas é muito bonito. A gente lidar com algo no monetário que dar orgulho. Este ano esmos querendo fazer a coleta seletiva. Mas você chegar a o parque do povo e ver mais de cem mil pessoas e não ter uma confusão dá orgulho em saber que você contribuiu com um pedacinho. Começamos a trabalhar o São João em março tem reuniões com todos lá no parque tem uma ouvidoria para escutar o que tá bom ou ruim do povo. A abertura foi feita com 400 artistas que invadiram o São João. 100 Quem é fundamental é a população, não é o coordenador o prefeito e sim a população que investe no São João aqui existe uma paixão arraigada nas pessoas. Um exemplo pequeno em Caruaru nosso concorrente resolveu diminuir para 15 dias uma ou outra pessoa reclamou mais, aqui se um gestor resolver ousar fazer uma proposta dessas vai pagar politicamente pelo resto da vida dele. No parque do povo temos três mil empregos diretos e quando desdobra isso temos doze mil empregos indiretos e se a gente for levar em consideração o resto da cidade se multiplica muito mais. Foram investido o ano passado sete milhões de reais, sendo que boa parte é gasto em cachês que vão embora porque as grandes atrações são de fora, Campina Grande não tem essa atrações para vender, tem trios de forró. A movimentação de vendas ficou na faixa de 200 milhões de reais, sendo que o orçamento está em um bilhão, ou seja, só nesse período foi gerado isso. A gente investe sete em uma parte, bom três milhões talvez vá embora, só que de ICMS são 34 milhões de arrecadação nesse período os atores sociais ficam satisfeitos. Os principais atores externos. Temos patrocinadores são o Governo Federal, com 2,5 milhões e a Prefeitura foi 1,8 milhões sendo o resto foi captado pela agencia, aí você tem diversos segmentos, bebidas, cosméticos, bancos, Petrobras. Isso também nos diferencia do carnaval do Rio que tem três grandes contas, aqui é mais pulverizado. O evento é o mais democrático que existe, mesmo que vai para camarotes vai simbolizar o evento pago, têm 10 mil lugares uma forma de financiar o evento para demais, uma festa para 150 mil pessoas. E os lugares não são os melhores para visão o melhor é para o povo. E22 A coordenação institucional que assumimos em 2005 impunha o dever de absorver a responsabilidade de dar contorno a uma festa que já era consagrada em Campina Grande como festa também consagrada principalmente para nos nordestinos festejos juninos e as particularidades que neles inserido parte cultural expressão musical forró, o que vemos paralelamente o artesanato, gravuras, com o cordel, todas essas expressões que mais são realçadas no período junino. A história do São João de Campina Grande não é de agora, historia que começou a quatro décadas, três decanas e meio não é o que o forró só existisse a partir dali mais o conceito do Maior São João do mundo a maneira como ele surgiu é do final dos anos 70 e no inicio dos anos 60 quando a Prefeitura e grupos que realizavam as quadrilhas juninas até então de realizações de ruas. Nos bares se organizaram para ter um espaço maior de exposição foi quando surgiu Parque do Povo o São Nosso era uma grande palhoça mesmo nesse Parque do Povo que vocês devem conhecer. Inclusive está passando por uma ampla reforma de reestruturação exatamente com a proposta de qualificar ainda mais o evento e também qualificar outros eventos porque é um espaço que nos utilizamos para as feiras. Como as feiras de modas, eventos de período de carnaval que Campina realiza com espirituais 101 .Então era uma grande palhoça, mais muito rústico onde as condições não eram atraentes para a profissionalização dele. A partir daí foi ganhando força como você conhece mencionou segundo dos que faziam as quadrilhas juninas, dos que se apresentavam no período junino no mês de junho isso as administrações passando uma para a outra foram colocados novos elementos, o que nos coube foi fazer com que o São João ganhasse contorno e ganhasse características profissionalizadas. Fomos ampliando saiu simplesmente daquele local, um amplo local de 42 mil metros onde nós espalhamos barracas, pavilhões onde há uma batizada de Pirâmide do Parque do Povo, onde há um espaço para as apresentações renomadas, artistas vinculados ao período do São João principalmente os cantores do forró. Nós fomos levar para os Distritos levamos para os Bairros de forma mais forte, de forma mais organizada e no ano que passou nos tivemos um apelo maior porque o São João foi retratado de maneira internacional foi visto em 150 países durante os quatro dias principais da festa, nós chegamos a 158 com transmissão ao vivo do São João. Participam dele muitas Entidades, muitos atores, não apenas os atores institucionais a Prefeitura é a responsável principal de conduzir o projeto, mas para esse projeto você tem a Comunidade nos seus Bairros sabe você Associação Comercial, você tem Câmara dos Dirigentes Lojistas, você tem, e você teve uma tímida participação do Governo do Estado que estimativamente, aqui açula sobraram alguns tipos de rusgas entre instituições. Mas o São João ele é feito de maneira ampla, é essa sua preocupação, esse de ter sido uma festa nascida não por uma imposição gestada tão somente do ente publico, mas nascida da presença do envolvimento da própria cidade isso se deu aqui. Então é uma festa que movimenta milhões de reais, aquece sobre maneira a economia e já próximo ao período do mais forte da nossa economia, ainda a que do período do Natal, mas por se uma festa que particularmente tem trinta dias, ou seja, de primeiro isso não é muito comum nas outras cidades. Campina Grande realiza de maneira forte todos os dias não é apenas do dia 20 ao dia 28 quando você tem o São João e o São Pedro, não você inaugura os festejos no Parque do Povo do dia 1ª como vai acontecer em uma sexta feira e vai ate o ultimo dia de junho com o nível e com a qualidade, com artistas dos mais desejados em termos de apresentações. Verdadeiras multidões que se aglomeram espalhadas. E aí outros contextos, a gente criou a Casa do Artesão, ou seja, novo elemento introduzido no São João de Campina Grande, porque os nossos artesões produzem aquilo que mais se aproxima desse expresso que esta vinculada ao período junino. Nós fomos e criamos outros pontos de visitação turística e a F eira da Prata com as estruturas arquitetônicas edificadas, nó nos servimos dela aos finais de semanas como atração ao turista que vem conhecer a nossa Cultura, Culinária, Literatura de Cordel, isso que é muito próprio da gente. É uma festa espetacular e é uma dos nossos “Estendios” uma das nossas colunas um evento turístico que é uma coluna para nossa economia que tem crescido. A razão a fonte vem das articulações e de uma simples apresentação numa rua, num canto, um bairro até você chegar a um contingente de 300 a 400 quadrilhas juninas como nos temos hoje o que não só se apresenta no próprio bairro, mas que também se apresenta no Parque do Povo. 102 Isso nasceu de bairro, a origem é na base dessa Pirâmide agora o Poder Publico teve que se inserir porque os instrumentos de funcionamento de qualificar e de profissionalizar e dar novos contornos teria que necessariamente ter a apresentação organizacional da Prefeitura sem perdas daquilo que é sugerido como critica construtiva como sugestão abordagem das Comunidades. Agora o são João nasceu em Campina Grade dos próprios cidadãos, daqueles que gostam de forro pé de serra, daqueles que brincavam nas suas ruas, daqueles que brincavam nos seus Bairros, foram se organizando e contaram com a presença do Poder Público. O que todos nós sentimos, todos nos amamos esse evento independentes da fala institucional da fala do político. Mais todos nós, no meu caso particularmente antes de ter a proporção à política eu vivenciei o São João de Campina desde cedo e todos nós, não há qualquer filho nosso que não tenha. Você pode até ter um gosto musical diferente que não o do forró, mas independente do seu gosto predileto que não seja o forró vivencia no período junino da forma mis direto, mas tocante, mas emocionada que Campina Grande vira uma grande arraiá e vira um gigante a expressar aquilo o que é mais forte pra a gente. E a agente abraça essa festa não por sermos megalômicos mais por termos inúmeros fatos expressões da maior festa popular a gente sabe o quanto significa o carnaval a gente sebe tudo isso, mas você não vai encontrar nenhum evento no país que tenha características de uma festa que se faz durante 30 dias é algo assombroso. São trinta dias ininterruptos no Parque do Povo, nossos Distritos, nosso Bairros, nas Casas de Shows particulares são trinta dias. Você tem o carnaval de Salvador que duram 15 dias, o carnaval do Rio muito bonito superestrutura profissionalizadas e internacionalizadas, mas o São João de Campina tem como característica maior o de ser um São João de trinta dias com qualidade de segunda a segunda e você não observa em outro recanto. Tenho sentimento de orgulho, de muito orgulho todos nos falamos com muito orgulho, com muita alegria não é simplesmente aquilo que a gente alimenta não ufanismo sem razões. O São João tem particularidade, elementos que nos dão e nos enchem de envaidecidamente por Campina realizar uma festa que é então realçada e enfatizada por todos e que passa a conquistar a quem quer que nos visite, não há quem não tenha as melhores referencias e as menções quando tem a oportunidade de conhecê-la. Então a palavra que qualquer Campinense não apenas eu e nas condições cidadão de quem gosta de dançar e brincar muito antes de ser prefeito e muito antes de ter sido vereador, a palavra chave pra todos nos é orgulho do campinense de poder realizar a maior festa popular do país. Mas não há duvida que ele contribui para o desenvolvimento local sustentável, repercute na economia em todos os serviços, ou seja, você tem os números fazemos os levantamentos e fazermos nós mesmos institucionalmente através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Podemos ver que se tem de movimentação hoteleira, nos bares, restaurantes na economia informal, nossos turistas e motoristas artesões tem uma mobilização financeira fantástica pra Campina. Há uma dependência nossa nesse período e não se da somente nesses trinta dias, você tem o pré período como vocês tem repercussões desse período no pós evento, 103 para a economia de Campina segundo maior momento é exatamente o São João ficando aquém do Natal. Mas não tão longo porque já ganhou tantos contornos tem evoluído tanto nesse processo de profissionalização que aí todos os Governos querem participar. O Governo Federal, grandes marcas quando você me pergunta quais são as outras instituições e entidades, todo mundo quer colar sua imagem a imagem boa. Então grandes grupos e marcas não apenas de cervejaria, mas enfim as mais variadas desejam estar colando sua imagem do seu produto a um produto que garanta uma venda e que garanta visibilidade tanto é que em media temos trinta anunciantes para cada edição. Nós chegamos ao mês de março com boa parte de parcerias já celebradas, aqueles que vieram do ano retraso renovam com desejo de estar conosco de estar aliando a sua marca a uma marca boa que é rentável comercialmente que é o São João. São festas de Santos, a gente passou nesses últimos três anos por garantir aquilo que muitos nem aperceberam o que você celebrar nesse período? Santo Antonio, o casamenteiro, São João, São Pedro e São Paulo. Sendo que as três principais é a de Santo Antonio, no dia 12, São João no dia 24, e São Pedro no dia 28, e a gente brincava muita festa aqui acolá e nunca demos o devido reconhecimento a aquele que tornaram a festa celebrada nacionalmente que são os Santos. Aí nós desde 2007 ou 2008 mais ou menos, principalmente o ano passado nós criamos o Canto dos Santos Juninos, para lembrar os santos juninos. Também temos a Cavalgada que sai do pátio da igreja e vai até o Parque do Povo é outro elemento que também foi criado trazendo a religiosidade. É impossível centralizar o evento a mais para organizar e instrumentalizar porque é uma festa cara que ganhou dimensões profissionais ela não é mais uma festa amadora, como você se permite atrair milhares de visitantes você tem depois de 20, 30 anos, a quadrilha do matuto foi que deu origem ao evento. O São João é um artigo tão bom e uma marca tão boa, que trás pelo seu sucesso tantos dividendos pra gente, pra nossa economia que se cruza os braços e dizer que sua grandiosidade se faz naturalmente, não tem que ter uma participação do Poder Publico, ele é indutor. Temos um levantamento que mostram melhorias que tem efeito duradouro e existem aquelas melhorias que são temporárias. Se você perguntar se há repercussão na vida social com a realização junina há. De alguém que ta vendendo seu milho, de alguém que ta vendendo sua roupa, que está fazendo seu artesanato, há um fortalecimento e outras estruturas. Isso colabora, há uma imediatidade a realização do São João famílias e pessoas que tem rendas menores e que passam a ter acréscimo evoluindo nessa renda mesmo que seja temporária. O dinheiro fica aqui o São João tem esse troco que prende mais dinheiro do quem nos visita. 104 E23 Eu participo de quadrilha desde pequena. O São João é maravilhoso, tenho sentimento de alegria, percebe quando cresce como a festa é grande, na véspera de São João toda cidade se prepara. Os hotéis recebem os turistas, a população coloca barracas, 90% do que se lucra fica na cidade. Criando uma temática se cria os vestidos e outras roupas valorizando a cultura paraibana. A relação entre as quadrilhas é aflita mais as pessoas se assistem, pois são do mesmo bairro. Tem uma associação de quadrilhas para discutir os assuntos de interesse. Alguns anos atrás as quadrilhas não tinham muito espaço nas associações, hoje tem mais voz. “O São João não funciona sem quadrilhas e as quadrilhas precisam do são João”. Se planejam junto ao São João, por conta das quadrilhas. Nos articulamos com outras pessoas. Exemplo o dono da quadrilha, o trio, os dançarinos. Vem uma relação de anos que vão se conhecendo alguém faz bem vestidos, chapéu, a gente se procura. Ou vamos à Prefeitura perguntar e eles informam. E24 O são João é muito bom, pois ganho dinheiro fazendo esses vestidos. Quando vejo meus vestidos fico muito feliz, me sinto uma artista, crio meus modelos, combino as cores, corto e costuro. Toda vida costurei, fazia sempre roupas há mais de vinte anos começou o São João do jeito que é. Faço mais de dois com outras costureiras. Começo a fazer em janeiro até junho. Os retornos pra cidade todos trabalham dá rendimento para todos até a Prefeitura. O sentimento que tenho é de alegria, quando tem concurso de quadrilhas vou atrás para ver os meus vestidos. Existe uma união de todos, pois para fazer roupas de quadrilha, imagina fazer uns quarenta vestidos e adereços, pois quarenta ou cinqüenta pessoas trabalhando junto. Cada quadrilha tem seu estilo, os vestidos sai relacionando o tema reproduzindo a tradição nordestina na roupa, esse ano vai falar muito de Luis Gonzaga que vai fazer 100 anos. Eu vivi a mudança era pouca quadrilhas, agora tem muitas, quando tem a quadrilhas. Antigamente era comemorada na rua com vestido de chita, agora é todo cheio de adereços é muito bonito quando vai alguém dançar a família vai todos da família o bairro se envolve. E25 Pra mim o são João é bom pra cidade, é uma fonte de renda a mais para a cidade. Quase não participo mais me sinto feliz, alegre. É um sentimento de alegria gosto da festa junina é uma das melhores festas. 105 No colégio percebemos a alegria dos alunos é uma coisa que sai da rotina no mês de junho tendo ensaio de quadrilha de duas semanas. Os professores incentivam, estimula os alunos a dançarem quadrilha. Vemos trabalho folclórico, danças. E26 A cidade de Campina grande vive trinta dias de São João, nesse período a cidade ferve, há um fluxo muito grande de turista do interior. A escola entra no clima decorando a escola, como bom nordestino gostamos de forró, a dança expressa emoção um sentimento. O Nordeste é visto de maneira pejorativa chamado de Paraíba e quando tem esse evento ficamos lisonjeados com os elogios que fazem. Apesar das fogueiras, queima de madeira, fumaça mesmo assim, nada acabará com os festejos adaptados para época, mesmo quando as pessoas dizem o São João não é mais o mesmo as pessoas também não. Os sujeitos da ação que quem cuida a Secretaria de Turismo que faz planejamento prévio que a cada ano vai acrescentando e melhorando. Ainda existe aquela disputa com Caruaru. Aqui já é tradição o povo de Campina tem orgulho, o povo mais simples preserva as quadrilhas, artesanatos. Se a prefeitura dissesse que não ia haver festa seria uma revolução. Acredito que o investimento fica na cidade, já que se investe nos artistas da terra. Comemoramos os três Santos populares é festejado, tendo uma capelinha mais não é tão forte como antes, com o tempo vai se ganhando e perdendo algo. As Escolas tradicionalmente incentivam principalmente as Escolas Municipais. E28 Não sou daqui, sou pernambucana e moro aqui há onze anos e só conhecia o São João de Caruaru e quando vim a passeio inicialmente achei o São João bem diferente de lá, o São João muito diferente, tem muita participação da população. O de Caruaru lá é mais tem muita participação do turista. Aqui realmente as pessoas se programam para passar os trinta dias de São João e tanto, todos os dias têm pessoas, eu acho que meio uma diversão social no São João aqui. Que lá em Pernambuco e Caruaru não existe. Tem três áreas de Show que fica o pessoal mais novo, pessoal em turma, tem a Pirâmide do Forró que fica o pessoal da periferia. O forró é diferente aqui é mais rápido mais animado onde é conhecido popularmente como forró risca faca. E lá em cima fica a parte elitizada onde se encontra os principais restaurantes levando as melhores equipes. E aí você ver a diversidade que existe é importante ter a pamonha, mais aí você tem a pizza, o crepe suíço, o acarajé e aí o pessoal faz a festa e se confraterniza nesse meio. E aí que pode levar o meu filho é interessante uma diversão natural. Que segundo as pessoas e aí a Prefeitura se sensibilizando e pondo as divisões coloca cada um em seu lugar, naturalmente coisa que acontece na Sociedade. 106 Outra coisa interessante é a Vila Nova da Rainha fazem uma referencia ao inicio da cidade, ou seja, quem vem à Campina Grande precisa de ter guia para ensinar e explicar todo aquele espaço ali. Mais acho muito interessante a cidade em resgatar suas origens, sua cultura, colocam cachaça, algumas peças bonita de artesões da terra, fazem o pátio de onde surgiu a cidade e tem até um coreto, reproduzir a parte de tropeiro. Tentando fazer uma comparação com Caruaru, eu não vi isso. Acho muito bacana as quadrilhas estarem ali presentes, fazem apresentação na Pirâmide, vejo o turista ficar cansado com o forro pé de serra que são colocados nas ilhas do forró, deviam colocar mais ilhas para os turistas. A cidade ganha com isso. Toda área de comunicação ganha mais anúncios, os comércio ganha mais, é uma festa econômica, o carnaval são cinco dias, aqui o São João são trinta dias, isso pessoal nas redes sociais, é uma manifestação cultural para confraternizar e se encontrar. Quando cheguei em 2001 estava tendo um racionamento de energia e a festa estava decorada toda de candeeiro, passando a Sociedade à mensagem de economizar energia, quando foi à copa o São João também falava, mexe um pouquinho com a cultura, pequenos detalhes. O campinense se sente orgulhoso o são João faz esse resgate dar aula ensina ser o melhor do mundo em alguma coisa, dar valor isso é importante pra você se afirmar dar valor as suas origens. Não sou campinense e tenho um bebezinho agora campinense me orgulho de ter essa festa de trinta dias, claro que a gente aponta algumas coisas que podem melhorar como as atrações serem mais regional, mais Ilhas do Forró para as pessoas que estão nas barracas. Tai tanta segurança, a questão de segurança aqui em Campina Grande é a origem de tropeiros cada um vindo de sua região. Cidade efervescente. A maioria das pessoas sabe do Maior São João do Mundo, no aspecto social ele faz bem a Sociedade aqui tem pessoas que estão nas quadrilhas há mais de trinta anos guardando a cultura, sem ser estilizada. Em competição, casamento trejeitos a cultura matuto. Quando você está aqui você sente o povo feliz, pra mim o mais importante é o aspecto social fora o econômico e o cultural. É o Maior e o Melhor São João do Mundo. Também tem o aspecto religioso, a questão profana e religiosa. É tão forte essa questão social que no mês de junho já se discute o São João do ano seguinte. Me lembro do ano passado teve uma força muito grande de um grupo de mulheres, mulheres de classe alta chamadas mulheres empresarias no sentido da Associação Comercial, com a influencia dela foram no comercio de comercio em comercio para falar com os empresários para todos enfeitarem a cidade fizessem uma decoração. Pra fazer com que o espírito junino fosse mais evidenciado. Onde surge o dialogo do Poder Publico e Sociedade. Essa minha percepção naturalmente no mês de maio os estoques das lojas começam a se renovar, pois os campinenses quer ir bonito para a festa, às roupas da moda começa a surgir, começa a comprar, os hotéis começam a se capacitar para receber o turista. 107 O São João na área de Comunicação você chega mais próximo das empresas que precisam anunciar que lá tem o xadrez, a bebida, os restaurantes horários especiais para receber. Para a Imprensa e Comunicação é o momento especial. Nós em particular do Paraíba Online fazemos todos os anos parceria com a Rádio Caturité, pois o São João tem esse diferencial ele monta uma estrutura, uma Rua da Imprensa que prioriza a transmissão do que esta acontecendo na festa, à população a Sociedade em si respeita muito esses meios de comunicação, valorizam muito. Praticamente todas as Rádias na Rua da Imprensa. Um mês muito bom economicamente para o portal é praticamente um Natal, também tem o aspecto da família porque se reúnem como no Natal daí transmitir a parte boa estrutural, também quem é da parte política é mais próximo de eleitores. O São João é um palanque maravilhoso e o eleitor forma a sua opinião. Aqui também tem o memorial do Maior São João do Mundo onde tem desde escavadeira é feito pelo material doado pelo povo de Campina. Uma coisa interessante é os músicos que ganham mais, o comercio contrata a todos, ficam orgulhosos. Eu acredito que quando se fala hoje é o primeiro dia do São João mexe com toda a Sociedade. Não sei se existe um planejamento da Secretaria de Turismo para atrair mais que o visitante consegue perceber, é a representação de Campina e de todos da Sociedade. Como existe tem uma divisão em três áreas, a do publico mais animado, a Pirâmide onde estão os populares e as famílias com mais dinheiro eles fazem essa divisão não sei se planejado, deve ser planejado. As Entidades de Classes da Associação Comercial parece que elas tomam fôlego para mostrar serviço, o exemplo é o gasto com pesquisa com turistas para saber o que eles acham. As Entidades de Classes tem que receber o mérito também. O elemento mais forte é o forró que é tocado, você na culinária, você lá no churros, crepes suíço, pizza italiana ouvindo forró que é tipicamente nordestino, o forró que fala das origens do amor de Luis Gonzaga, pé de serra, forró do homem que quer chuva, da inocência do povo, o resgate da musica que fala do sentimento do povo. E29 Na verdade cheguei até a Prefeitura por ter convivência com alguns segmentos dentre eles as quadrilhas, e fiz quadrilha uns 22 a 24 anos e participei mais de três anos como marcador. A minha historia com as quadrilhas é muito longa com relação ao figurino nosso São João vai ganhando contornos cada vez melhor e sempre acontece, acontece que as quadrilhas, vou citar a Mistura Gostosa e Moleca Sem Vergonha e muitas quadrilhas: Brilha São João, Tradições da Serra, enfim tem belo figurino, as pessoas de outros Estados compram e esse figurino usado nesse ano, no ano seguinte vai ser usado em outros Estados e esse dinheiro vai servir para ser investido no ano seguinte. As quadrilhas aqui não sobrevivem somente esses três meses, nesses três meses juninos, mas o ano todo, sendo que essas quadrilhas em Campina Grande são altamente profissional, o nosso concurso não deixa a desejar, não deixa a desejar a ninguém. 108 As quadrilhas aqui já têm galpões próprios para ensaiar, que inicia em outubro onde passam a ver e comprar material para confeccionar roupas e adereços. Nós sabemos que a quadrilha o nome da quadrilha era de um baile feito em Portugal que passou pela França e chegou ao Brasil, que nós criamos nosso próprio estilo. Em campina Grande mantém um estilo de competição. As quadrilhas hoje buscam vou dar um exemplo um tema “Lampião”, por exemplo, que não deixa de ser a nossa cultura, as raízes é a historia de Lampião e se faz um enredo e apresenta nas ruas, no Parque do Povo, nos concursos. Quem vai assistir hoje as quadrilhas de Campina grande a historia do Nordeste da nossa cultura um pedaço da cultura do país, aí vamos supor esse ano vai trabalhar Luis Gonzaga, onde surgiu Luis Gonzaga? Qual foi a importância de Luis Gonzaga no contexto nacional até mesmo internacional? Fazem esse trabalho. Primeiro tenho sentimento de muito orgulho, porque fazer quadrilha é uma coisa que ta na raiz, no ser humano, não é qualquer um que vai fazer quadrilha. Eu comecei a fazer quadrilha na escola, eu comecei dançando quadrilha no Colégio e como comecei a gostar muito fui logo noivo e no ano seguinte de novo. Me sentia um rei, como é bom, maravilhoso e gostosa a sensação de dançar quadrilha. Eu tô fazendo bonito, nossa! Caramba! O pessoal está aplaudindo, a gente fica empolgado. E mais nós fazia-mos passeio de carroça de burro e ia passear dar um passeio como se fosse na roça de carroça de burro e depois voltar para dançar quadrilha. E isso foi me empolgando criando raízes quando saí da escola fiz na minha um ano, outro ano e participar de concurso, a ganhar concurso e as quadrilhas crescendo, crescendo e até em 97 foi o primeiro concurso de quadrilha na Paraíba em Campina Grande e por coincidência minha quadrilha foi campeã e essa mesma quadrilha foi convidada a participar do concurso Nacional em Fortaleza e fomos a 1ª quadrilha paraibana que foi vice-campeã Nacional. As escolas publicas maciçamente fazem quadrilhas, elas tem uma força maior que as escolas particulares que quase não fazem no período junino as crianças pedem na publica é quase uma obrigação quando tem ensaio as crianças ficam animadas. O que me motivava muito naquela época era saber da nossa cultura, falava assim na minha mente ta se aproximando o período junino e as quadrilhas é quase como se fosse a minha identidade, é seu espelho eu tenho que está ali é minha quadrilha. Era que motivava além de outras coisas era uma maneira de se aproximar da menina que você gostava, enfim era uma brincadeira. Varias outras atividades, hoje posso dizer sem sombra de duvida, hoje posso dizer sem sombra de duvida que Campina Grande tem quadrilha de ponta que pode representar em todo país. Em cada quadrilha vai sempre ter um que se destaque por isso ele vai ser o noivo. Hoje a figura do marcador se esconde um pouco, são as musicas que puxam as quadrilhas. Tenho certeza absoluta que são shows, verdadeiro espetáculo e eu vivo isso aqui não fica atrás de nada. Hoje fazemos planejamento em 97 precisamos viajar e tivemos que pedir isso foi horrível isso nos tocou e hoje temos ASQN e hoje temos um relacionamento muito bom com a prefeitura e hoje criou-se uma ajuda de custo e os prêmios são pagos na hora. Existe um planejamento, as quadrilhas ajudam através das Associações cada uma faz e as decisões é tomada pelo sindicato. Ninguém consegue fazer nada sozinho ajudamos nas regras e eles entram com a estrutura dividem as responsabilidades. “ASPJU” surgiu uma instituição uma parceira que está dando muito certo. 109 Cito dois atores de suma importância para o São João de Campina, 1º são as minhas referencias as quadrilhas, São João sem quadrilhas não existe e os trios de forró eles fazem o evento ser mais forte, são em media 150 trios que se subdividem no Parque do Povo em dias alternados. Por exemplo, no São João de Campina tem o Santana, Os Três do Nordeste, Amazam e Tom Oliveira, enfim Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fagner, Calypso atrações internacionais, mas existe além do palco Pirâmide e três Ilhas do Forró e a Vila Nova da Rainha, nessas Ilhas de Forró se apresenta por noite em media de três trios de forró, geralmente são três famílias envolvidas o sanfoneiro, a zabumba e o triangulo, geralmente o pai vem com filho que trás o sobrinho e estão envolvido nesse cenário do São João. Eu acredito esse agente tem dados embasados eu acho que o volume de oportunidade que aumenta nesse período é infinito a gente ver bares, hotéis, restaurantes o transporte, turistas e moto taxistas, pessoas das lojas que confeccionam, vendem tecidos, aviamentos para roupas. As pessoas que confeccionam roupas de quadrilhas só para vender no São João, pessoas que começam a confeccionar vestidos em novembro por acaso minha mãe ela confecciona cerca de cinco mil vestidos e vende tudo. E30 A Mistura gostosa já tem 18 anos, sou funcionário publico municipal, trabalhei alguns anos na coordenadoria de cultura e hoje coordeno um projeto Mais Educação nas escolas municipais. Tenho 35 anos, e no são João de Campina estou vivendo a 23 anos, ou seja, mais da metade da minha vida me dediquei ao são João de Campina. As vezes não somos tão observados, mas sempre estamos ali por trás mantendo nossa tradição que as quadrilhas juninas que é fazer são João de Campina, então, então, assim, eu me sinto honrado em poder participar desta festa em poder levar o nome e a tradição desta festa para outros locais, outros estados. Como eu faço trabalho em Porto velho, faço trabalho no Rio de janeiro, faço trabalho em Caruaru. Pra mim o São João é uma tradição que deve ser mantida e preservada. Eu acredito que um povo sem cultura e tradição não tem historia, não tem sentido. Você chegou a 20, 30 anos e não ter o que contar do seu povo da sua fonte da sua história, então assim, pra mim é muito importante. O São João de Campina hoje e de outros Estados, Caruaru também muito bonito e Sergipe. Mas o de Campina é diferente, é especial, é diferente só quem vive é quem sabe. Desde escola dando quadrilha. Há! Você se sente orgulhoso, você se sente artista, você se senti uma pessoa especial, uma pessoa que tem algo a mostrar, algo a ensinar. Já que agente começou na escola, na quadrilha da escola, quadrilha tradicional que não tinha nenhuma organização era você sair de casa e botar um remendo na calça, na camisa, pintava bigode e ia. Até os chegar hoje com as quadrilhas estilizadas. Quando passou a estilizar aqui em Campina pela história foi praticamente em 96/97 que começou a estilizar em Campina, foi todo um processo de mudança para se chegar em um espetáculo que as quadrilhas do nordeste tem, que é todo um teatro, toda uma assessoria, um adereço, uma coreografia e toda uma historia a se contar. As quadrilhas hoje é todo um espetáculo a parte. É importante ressaltar: nós mantemos a tradição, temos que manter a tradição certo? De você ver, olhar o grupo e ali reconhecer uma quadrilha. O São João de campina quando começou não tinha parque do povo, era barracas com coberturas de palha, então aquela coisa muito regional, aquela coisa 110 tradicional, então mais foi preciso modernizar, foi preciso a cobrir a barraquinha porque quando chovia molhava o povo foi preciso colocar iluminação melhor, preciso botar piso que era chão, tudo moderniza. Hoje uma gama de artista contribui, o apoio que vem geralmente é da prefeitura, apoio privado também, mais os artistas é quem fazem, porque o são João nasceu praticamente das quadrilhas juninas. As quadrilhas começaram o são João de campina, fazendo suas quadrilhas no terreiro, no bairro com fogueirinha e o são João foi expandindo, saindo dos bairros dizia agora ganhou uma posição central na cidade. Dentre de Campina existe uma coisa interessante: nós mesmos, nós campinense somos artistas natos, eu posso dizer assim, aqui se encontra de tudo, então o dinheiro aplicado aqui em Campina é voltado pra cidade e entra. Você quando vem montar algo em Campina, você procura profissionais da terra que tem. Não precisa você trazer de fora, então tudo que vem pra cá agente aproveita, o pessoal daqui mesmo, quer dizer: um recurso que podia trazer alguém de fora nós temos artista daqui maravilhosos, você pode montar qualquer coisa que você quiser. Eu posso falar que o segmento de quadrilha juninas hoje falando culturalmente é o segmento mais bem organizado de todos, ate eventos culturais o pessoal é mencionado. Quadrilhas juninas têm, vou começar por Campina, uma associação campinense, uma federação Paraibana e tem a UNERJE uma união nordestina e tem a CONFEBRATE que é a federação brasileira das quadrilhas juninas. Então assim, nós estamos interligados do município ao país é uma organização que agente se comunica direto, nós temos os sites, nós temos contato direto com organizando nosso estatuto deixando tudo pronto. Prá que tudo que gira no Brasil tanto nordeste, centro-oeste a sede é em Brasília funcione da mesma forma, certo? Hoje as quadrilhas estão muito organizadas nesse sentido. As eleições acontece de 2 em 2 anos, por sinal esse ano tem eleição já fui presidente, já passei pela presidência da associação de Campina Grande e funciona tudo normalmente. Os grupos escolhem dois representantes que votam na pessoa que agente acha que tem condições de ser presidente a criação da associação foi e é muito importante, se agente não tá organizado nada acontece, se vai um grupo, vai outro espalhado agente não consegue nada, mais organizado serve pra gente sugerir soluções para alguns problemas que temos em Campina, levar até os órgãos que possam nos ajudar como: a prefeitura empresa privada ou governo de estado e tentar melhorar cada vez mais o segmento. Nós somos organizado nesse sentido prá que nós chegamos há um ponto comum e nós todos sejamos ajudados. O quadrilarte é um ponto de cultura que funciona em todo Brasil um projeto do governo federal que funciona em parceria com a prefeitura e a associação da Mistura Gostosa. Fora o quadrilhação que é um projeto profissionalizante, o lado social eu nós podemos falar da Mistura Gostosa é que na sema que vem nós teremos o sopão que é na associação de bairro, em abril voltado par o esporte como nós somos desportista estamos fazendo uma copas de vôlei em Campina e também uma minemratona. Fazemos também arrecadação de agasalhos e de roupas usadas para os pobres que aqui tem um período muito chuvoso em campina Grande e já aconteceu até desastre aqui em campina. Fizemos arrecadação de alimentos e tal, então não visa somente cultura tem que ter olhar o social principalmente no bairro onde começa a mistura Gostosa. Surgiu no bairro, nós temos que olhar o bairro então tudo que nosso bairro precisa, então o que podemos ajudar, a mistura Gostosa tá ajudando. Sempre trabalhei em grupos, né! Desde da igreja quando tinha 12 anos e fiz minha formatura, batizei, me crismei e fiz 111 a 1ª eucaristia, então passei a ser catequista e montar um grupo de teatro no bairro, então daí sempre era o mais novo da turma e com idéias boas , idéias legais. Acho que é assim, o líder nasce naturalmente, agente quando menos espera está a frente de algumas coisas, as pessoas me indicaram. Essa pessoa tem uma cabeça boa, tem um pensamento legal para liderar um grupo, então partindo daí fui para bandas marciais onde coreografei em bandas marciais. Ai, vem as quadrilhas, então hoje ensino. É interessante agente não imagina que vai chegar a ser um líder quando você ver você tá dentro, então não tem como você fugir do compromisso se o pessoal lhe dar essa responsabilidade você tem que assumir. Eu sou assim, gosto de responsabilidade, quando me dão eu tenho que fazer. Ser hoje líder de uma quadrilha não é tão fácil você lidar com muitas gente, o grupo já chegou a mais de 100 pessoas quando agente tá viajando chega a 105 pessoas, então assim, você não faz nada só, aqui na mistura temos cargos, mais na verdade todos trabalham por igual, até pessoas que não tem cargos tem as vezes um trabalho mais forte que um próprio coordenador, então assim, não precisa ter nome prá poder trabalhar pode ser uma pessoa ativa. No projeto quadrilhação nós atendemos cerca de 40 pessoas na oficina e ai vai, se multiplicado, porque isso é um multiplicador, na verdade um aluno aprende quando chega em casa passa pro irmão, já passa prá família, então assim, nós não temos noção de quanto é de pessoas que agente vem atingindo, mais assim, por oficina são 40 e são 6 oficinas que dar 240 3 ai multiplica. Um projeto muito bem aceito pelo bairro abraçou tanto que agente descentralizou e saímos do bairro e alcançamos outra localidade de Campina porque o pessoal tava pedindo saiu daqui itinerante levando para outros locais de Campina Grande deu certo demais o projeto. Acho que o são João não é de prefeitura, não é do governo é do povo.