EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO
Amanda Diogo Matos, Eva Pereira Sales, Antonia Thaís Silva Mendes,
Marcelo Campêlo Dantas
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
RESUMO
O ensino de educação ambiental é relevante devido ao quadro de degradação atual,
porém o preparo dos docentes em relação ao tema é falho. Falta conhecimento teórico
para promoção de conhecimento e valores ambientais de modo a superar o respeito puro
e simples da natureza. O presente trabalho teve como objetivo analisar a percepção e
conduta de universitários do curso de ciências biológicas da Faculdade de Educação de
Crateús - CE (FAEC) sobre o tema educação ambiental. Para a coleta de dados, foi
aplicado um questionário semiestruturado a 92 universitários da referida instituição.
Sobre a compreensão dos estudantes a cerca de educação ambiental, 95,0% deles
apresentaram uma visão voltada para a tendência tradicional, em que a limitam a um
conceito resumido e simplista, voltado somente para a natureza. Foi observado que a
maioria dos universitários (68,0%), durante o ensino médio, vira essa temática apenas
na disciplina de biologia, fato que mostra a falta de interdisciplinaridade ainda existente
nas escolas. Já na faculdade, notou-se que o tema é trabalhado em mais disciplinas,
como etnobiologia e educação ambiental, ecologia, flora da caatinga. Todavia, vale
ressaltar que os estudantes são do curso de ciências biológicas, o que torna obrigatório
estudarem tal assunto. Quando indagados a cerca da participação em algum curso
voltado para educação ambiental, apenas 28,0% afirmaram que o fizeram. Tal realidade
é evidenciada nas atitudes cotidianas de grande parte dos estudantes, quando
questionados a cerca do descarte de pilhas feito incorretamente, uso de sacolas plásticas,
quantidade de aparelhos eletrônicos, consumismo exacerbado, tais questões
apresentaram resultados semelhantes, todos voltados à falta de visão ambiental. A
pesquisa mostrou que ainda falta uma unidade teórica dos docentes da Instituição
relacionada ao tema, bem como uma visão simplista do conceito, por possuírem
posturas que retratam essa conclusão.
Palavras-chave: Percepção. Estudantes de Ciências Biológicas. Educação Ambiental.
2
INTRODUÇÃO
Um dos fatores relacionados com o mau andamento do ensino de Educação
Ambiental (EA) nas escolas está relacionado à fragilidade das bases-teóricas utilizadas
pelos professores (MAIA E CABRAL, 2012). Falta conhecimento teórico na formação
para que eles sejam capazes de promover conhecimentos e valores ambientais de modo
a superar o respeito puro e simples da natureza (OLIVEIRA, 2007).
Nesse sentido, a educação para sustentabilidade deve ser trabalhada por todos,
de modo a provocar mudanças no processo educativo para preparar a nova geração
(FREIRE, 2007). Particularmente no Brasil, o processo de progresso para compor uma
universidade ambientalmente sustentável, deverá ter como base: ensino, pesquisa e
desenvolvimento, juntamente com a gestão que deverá agir como facilitador das ações
rumo a um ambiente mais sustentável (MARCOMIN E SILVA, 2009).
A sustentabilidade procura desenvolver-se de forma a superar o reducionismo e
promover pensamentos e valores ambientais fundamentais para fortalecer a interação
sociedade e natureza. Dessa forma, o professor é essencial para transformação da
educação produzindo valores de sustentabilidade em parte de um processo conjunto
(JACOBI, 2003).
Temas relacionados a problemas ambientais locais devem ser trabalhados por
professores e incorporados no cotidiano dos alunos para que possam compreender e
procurar formas de solucionar problemas ambientais de sua região (COMPIANI, 2007).
Desse modo há uma necessidade de formação ambiental continuada tanto para
professores em licenciatura como dos educadores já formados (VERDI E PEREIRA,
2006; NOVICKI E PASSOS, 2013)
Outro fator que dificulta a padronização do ensino sustentável nas escolas é o
modelo socioeconômico do Brasil, o capitalismo. Esse modelo contribui para uma
sociedade voltada para o consumo sendo que o objeto perde o valor antes do tempo.
Esse consumo e o aumento populacional têm ocasionado problemas de grande escala
onde ameaça a vida de todas as espécies sobre o planeta (MONTEIRO ET AL. 2012).
Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo analisar a percepção,
entendimento e conduta de universitários do curso de ciências biológicas da Faculdade
de Educação de Crateús CE (FAEC) sobre o ensino de Educação Ambiental.
3
MATERIAS E MÉTODOS
2.1 Faculdade de Educação de Crateús (FAEC)
A FAEC é uma unidade acadêmica da Universidade Estadual do Ceará (UECE),
localizada no município de Crateús CE, no semiárido brasileiro. Foi criada com o
objetivo de atender às necessidades do desenvolvimento Científico da região do Sertão
dos Inhamuns. Possui três cursos de licenciatura: Pedagogia, Ciências Biológicas e
Química.
2.2 Caracterização da Cidade de Crateús CE
A cidade de Crateús fica localizada entre a Latitude: 05º 10’ 42” S
Longitude: 40º 40' 39" W (IBGE). Compreende uma população de aproximadamente
72.853 habitantes divididos entre 143.195 que vivem na área urbana e 109.315 que
habitam o meio rural de acordo com Anuário Estatístico do Ceará de 2010. E,
conforme a Cartilha do Território Inhamuns/Crateús, abrange uma área demográfica de
32.327 km². O clima é tropical quente semiárido, com chuvas de janeiro a abril com
precipitação pluviométrica média de 697 mm. Apresentados em um relevo formado
por Depressões Sertanejas e Maciças Residuais, com a predominância do Bioma
Caatinga.
2.3 Coleta de dados
Para a coleta de dados foi aplicado um questionário semiestruturado para 92
alunos dos mais diversos semestres do curso de licenciatura plena em Ciências
biológicas da FAEC nos meses de novembro de 2013 a fevereiro de 2014, o qual
abordou informações sobre educação ambiental, consumismo e ações voltadas ao meio
ambiente.
.
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A percepção de EA descrita pelos entrevistados, na sua maioria, apresenta uma
visão voltada para a tendência tradicional, na qual predomina a ideia de preservação do
meio ambiente, conscientização a cerca dos cuidados com a natureza e os principais
aspectos da mesma. Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira et al.
(2007), Bezerra e Gonçalves (2007) e Chaves e Farias (2005) que obtiveram respostas
das quais limitam a EA a um conceito resumido e simplista. Apenas 5,0 % dos
estudantes apresentaram uma visão ampla, isto é, a tendência genérica, integrada, que
não retrata somente a natureza em si, mas engloba a sociedade em interação com o meio
em que vive.
Foi observado que grande parte dos universitários (68,0 %), durante o ensino
médio, vira essa temática apenas na disciplina de biologia, o que evidencia que a EA
ainda é restrita às disciplinas da natureza. Caso que mostra a falta de
interdisciplinaridade existente nas escolas da cidade. De acordo com Maia e Cabral
(2012), 90,0 % dos professores por ele entrevistados disseram que abordam temas
relacionados ao meio ambiente, independente da disciplina lecionada. Esta realidade
não se enquadra nos dados aqui apresentados, visto que apenas uma pequena parcela de
alunos citaram outras disciplinas, além da biologia (TABELA 1).
Já na faculdade, notou-se que o tema é trabalhado em mais disciplinas, como
Etnobiologia e Educação Ambiental, Ecologia, Flora da Caatinga. Todavia, vale
ressaltar que os estudantes são do curso de Ciências Biológicas, o que torna obrigatório
estudarem tal assunto. A interdisciplinaridade é fundamental para inserção de assuntos
complexos como a sustentabilidade no ensino superior (TELES, 2011).
Para entender melhor a percepção dos estudantes concernente à prática
sustentável, procurou-se conhecer a conduta adotada por eles no cotidiano, como a
separação do lixo doméstico, fundamental para o processo de reciclagem, descarte de
pilhas e aparelhos eletrônicos e a utilização de sacolas plásticas.
A princípio foi questionada a separação de lixo seco do úmido, uma prática
bastante simples e fácil de realizar. No entanto, constatou-se que apenas 37,0 %
5
praticavam esta ação. No estudo levantado por Mucelin e Bellini (2008), 59,0 % dos
entrevistados afirmaram fazerem a separação do lixo em suas residências. A mais
comum é separação do lixo seco e resíduos orgânicos.
Afirmaram ainda utilizarem sacolas plásticas para o armazenamento nas
compras em geral (86,0 %). Estes dados já eram esperados, visto que o item referido faz
parte da cultura brasileira, sendo aquelas bastante utilizadas no cotidiano das pessoas.
No trabalho realizado por Fabro et al. (2007), 76,3 % dos entrevistados, de várias faixas
etárias, afirmaram fazerem questão do uso de sacolas plásticas no supermercado, para
eles as sacolas são itens fundamentais das compras.
Isso se dá, por que boa parte da sociedade não conhece os problemas criados
pelas sacolas plásticas, não se possui uma cultura voltada para consciência ambiental,
além das muitas falhas existentes no sistema educacional. Segundo Oliveira et al.
(2012), as sacolas plásticas causam diversos problemas ambientais como degradação do
meio ambiente, morte de animais, poluição, entre outros.
Já a cerca do descarte de pilhas e aparelhos eletrônicos, 72,0 % dos estudantes de
biologia não descartavam corretamente tais objetos. Como mostra a pesquisa
apresentada por Brum e Silveira (2011), onde seus entrevistados usavam o lixo comum
para efetuar o descarte.
Percebe-se que os caminhos trilhados pela humanidade nas últimas décadas estão
provocando um esgotamento dos bens naturais, privação do capital ecológico e
diminuindo a possibilidade futura de vida humana no planeta. Faz-se urgente a
necessidade de novos caminhos que promova a preservação do planeta e a possibilidade
de continuidade de vida da humanidade e de outras espécies (SILVA e SANTOS, 2007;
CIDIN DA SILVA, 2004).
Visando o futuro do planeta, é necessário mudanças no atual modelo de
desenvolvimento, o qual busca somente o acúmulo de riquezas e criar um modelo
voltado para o crescimento econômico sustentável de modo a respeitar o meio ambiente
e utilizá-lo racionalmente. A educação é um elemento chave para a formação de uma
consciência ecológica (GOMES, 2006).
Dos estudantes questionados, 93,0 % afirmaram que suas compras são voltadas
para necessidade. Contudo, quando perguntados a respeito de serem consumistas, 57,0
6
% responderam que se julgavam razoáveis, de forma a evidenciar uma oposição de
ideias. Os dados ainda apresentam que 39,0 % se julgam pouco consumista e apenas
4,0% não se consideram consumistas. Porém, a grande maioria dos entrevistados, cerca
de 86,0 %, afirmou possuírem entre 1 a 5 aparelhos eletrônicos para consumo próprio.
Apenas 10,0 % dos entrevistados disseram que alguns destes aparelhos já não eram
mais necessários (FIGURA 1).
O consumismo não é uma postura de natureza pessoal, mas sim uma prática
intrínseca do modelo econômico adotado no Brasil, o capitalismo. E a mídia, sem
dúvida, é a principal responsável por ampliar uma visão consumista na sociedade. De
um lado, ela mostra a crise no meio ambiente, e do outro ela difunde um modelo de
desenvolvimento socioeconômico, voltado para destruição da natureza, bem como
urbanização, industrialismo, consumismo, dentre outros (RAMOS e RAMALHO,
2002).
Para Pelicioni (1998), a situação de ambiente e saúde do país resulta direta e
indiretamente das políticas públicas, econômicas e sociais e não pode ser considerada
independentemente. Essas precisam basear seus planejamentos no diagnóstico da realidade
local, nas necessidades e interesses da população, nos recursos disponíveis e legislação vigente,
bem como estar associadas à educação em saúde ambiental, que sozinha poderá resolver muito
pouco.
A educação ambiental tem procurado desempenhar a difícil tarefa de resgatar valores,
deixados para trás pela sociedade, como respeito à natureza e à vida, procurando construir uma
sociedade que seja crítica e ética, aptos, portanto, a enfrentar esse paradigma (PELICIONI,
1998). O educador tem a função de mediador na construção de uma visão sustentável na vida do
discente, de maneira que ele venha apresentar uma prática social centrada no conceito da
natureza (JACOBI, 2003).
Cerca de 36,0 % dos universitários se autoavaliaram com nota 7,0, 20,0 % com nota 6,0
e 19,0 % se avaliaram com 8,0. Porém, de acordo com as respostas dadas por eles, há uma
incoerência, pois poucas são as porcentagens que demonstram hábitos voltados para o cuidado
com o meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável só alcançará seu real objetivo quando ocorrer
uma quebra de paradigma e a uma conscientização por todos que o planeta terá grandes
problemas se não for tomadas atitudes sérias de preservação aos recursos naturais ainda
disponíveis (PASSOS et al. 2013).
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CONCLUSÕES
Em suma, nota-se que os estudantes da instituição estudada estão saindo do
ensino superior com uma visão simplista e errônea de EA, sem uma percepção ideal dos
aspectos socioambientais, da relação entre homem e meio ambiente. Além de
apresentarem condutas, que não estão de acordo como perfil de um cidadão consciente,
que se preocupa com o meio ambiente.
A pesquisa, portanto, irá indicar aos professores da instituição, como os de
ensino médio, as principais fragilidades encontradas, servindo assim como método
alternativo para o ensino da região. A partir dos dados alcançados, propor mudanças em
cima da realidade existente.
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9
ANEXOS
TABELA 1- Disciplinas que abordaram Educação Ambiental no Ensino Médio.
Citações
N° Entrevistados
% Entrevistados
Biologia
40
68,0 %
Geografia
7
12,0 %
Química
6
10,0 %
Física
2
3,0 %
Sociologia
2
3,0 %
Português
1
2,0 %
Educação Física
1
2,0 %
Mais de 20
De 13 a 17
De 6 a 12
De 1 a 5
0%
20%
40%
60%
80%
100%
FIGURA 1- Quantidade de aparelhos eletrônicos por pessoa.
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