AS REPRESENTAÇÕES DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA NA FOLHA DE SÃO PAULO NAS ELEIÇÕES DE 1989 E 2002 Maykon da Silva Justino Ferreira Orientador: Prof. Dr. Márcio Santos de Santana RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar as representações do candidato Luís Inácio Lula da Silva nas coberturas realizadas pelo jornal Folha de São Paulo das campanhas presidenciais de 1989 e 2002. Almejamos estabelecer as singularidades das representações presentes em cada campanha, haja vista o candidato se encontrar em momentos distintos, mas centrais para a compreensão de sua trajetória política. Para a consecução dessas finalidades realizaremos, em primeiro lugar, um breve histórico do jornal e, na sequencia, um histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), para podermos compreender como a relação do candidato com a mídia foi construída com o passar do tempo. Palavras chave: Imprensa, Campanha Eleitoral, Projeto Político. 1051 O candidato Luís Inácio Lula da Silva tem sido alvo de grandes debates na historiografia atual, não apenas por sua grande popularidade junto às camadas populares, mas, por ser de fato uma figura bastante emblemática nestes últimos anos. O Partido dos Trabalhadores juntamente com a figura e Luís Inácio Lula da Silva tem sido alvo de debates variados, seja por suas bandeiras ideológicas, seja por suas atuações no cenário político. O Partido dos Trabalhadores (PT), no momento de sua criação, tinha uma composição bem heterogênea, mas que conseguiram consolidar uma aliança, materializada numa frente político-partidária, cuja finalidade era possibilitar que a esquerda obtivesse grande participação nas decisões políticas. Luís Inácio Lula da Silva ao qual tomo liberdade, neste presente trabalho, de tratar apenas como Lula, revela-nos um caso de com as tramas históricas são complexas, na medida em que as representações deste ator histórico sofreram inúmeras mutações nos meios de comunicação, a partir do momento em que esses meios veem seus interesses defendidos ou ameaçados. A Folha de São Paulo se consolidou como um importante veículo de comunicação estabelecido no país. Sua circulação abrange quase todo o território nacional, sendo que suas matérias tem bastante destaque quando esta traz assuntos polêmicos em suas editorias como alguma denuncia ou suspeitas de fraudes. Como historiador o que desejamos é investigar o que acontece com o jornal nos bastidores, ou seja, as tramas que conduzem a elaboração do editorial. As perguntas que movem este trabalho são: Como ocorreu a mudança da Folha de São Paulo em relação ao candidato Lula? Qual a representação que este jornal atribui ao candidato nas duas eleições (1989 e 2002)? Qual é a ideologia política deste jornal? 1052 Porém, para que possamos responder essas perguntas, é necessário que primeiramente faça-se uma contextualização histórica, destes três atores, sendo eles o Partido dos Trabalhadores (PT); a Folha de São Paulo e o próprio candidato Luís Inácio Lula da Silva, a fim de compreender a forma como a Folha de São Paulo irá retratar este candidato. 1) A criação do Partido dos Trabalhadores O Partido dos Trabalhadores (PT), sem duvida nenhuma se tornou objeto de estudos da história, não apenas por ser representa das linhas das ideias de Esquerda, como pelo seu grande êxito na questão eleitoral sendo a terceira vez consecutiva que este é a legenda partidária, do cargo mais importante nas instituições democráticas, ou seja, a Presidência da República. O PT foi criado exatamente em 10 de fevereiro de 1980, ligado diretamente aos grevistas de São Bernardo do Campo, liderado por Luís Inácio Lula da Silva, mas não apenas se deve aos sindicalistas, mas outros, grupos que pensavam que as ideias de esquerda seriam o melhor viés para que o Brasil, pudesse se desenvolver. Segundo o historiador Daniel Aarão Reis o PT, reunia em si as mais variadas vertentes sobre a ideologia de Esquerda, cito: Também desde o início, tomaram parte na iniciativa grupos revolucionários trotskistas, entre os quais, e principalmente, a Convergência Socialista, além de grupos remanescentes de organizações que haviam participado da luta contra a ditadura militar: Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil (AlaPCdoB), Ação Libertadora Nacional (ALN), Ação Popular Marxista-Leninista (AP-ML), Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP). (REIS, 2007, p. 506). 1053 Outro ponto bastante relevante é a participação de outras camadas sociais presente na formação do Partido dos Trabalhadores, a esquerda católica, ligada a Igreja que ao final da ditadura militar esteve contrária a sua manutenção. Todo esse movimento estava ligado à nova vertente chamada de Teologia da Libertação, doutrina que segundo o historiador Daniel Aarão Reis tentava elaborar uma síntese entre o cristianismo e marxismo, marcando uma posição anticapitalista. Dessa maneira criava-se o Partido dos Trabalhadores Assim, na fundação do PT, em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo, encontraram-se reunidas, de mãos dadas, em aliança, lideranças autênticas, revolucionários marxistas-leninistas e militantes cristãos radicais (REIS, 2007, p. 507). É interessante observarmos, que na sua criação o PT reunia consigo várias correntes de pensamento que por mais que divergissem consigo mesmas estariam naquele momento unindo forças para a criação de um partido que ganhasse as massas e com isso mostrar que a esquerda não era um movimento em si desunido, mas que pelo contrário, dava a exata noção de que ao fim da ditadura iria se posicionar como uma alternativa para governar o Brasil. Para o próprio autor esse encontro dava-se de maneira inusitada. Naquele momento várias ideias já começavam a ganhar forças na formação de outros partidos com propostas sedutoras que aos poucos ganhavam forças maiores apoiados por grandes nomes da política nacional destaques por serem oposição ao regime militar, Fernando Henrique Cardoso da grande destaque para aqueles que sonhavam com a criação de um partido que trouxesse consigo a bandeira ideológica da social democracia, porém esta sua ideia ainda no presente momento não traz consigo o rompimento com a legenda MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o que ocorre depois quando este mesmo cria aliado com mais alguns o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). 1054 Outra vertente partidária que se inicia esta relacionada ao politico exiliado pelo regime militar Leonel Brizola, quando este ainda no exilio lança as bases para a refundação do Partido Trabalhista Brasileiro, que fora idealizado e criado por Getúlio Vargas, Leonel Brizola traz para o PTB a atualização de algumas de suas ideologias sem deixar de lado o trabalhador brasileiro, principal alvo do PTB. Como já visto o Brasil naquele momento passava por grandes mudanças politicas e ideológicas. O Partido dos Trabalhadores, não estava neutro nessas mudanças, como já vimos a sua formação deu-se em um processo que trazia consigo várias formas de pensar na formação e organização de uma frente sindical em forma de partido. Para que isto pudesse ocorrer era necessário que algumas ideias fossem deixadas de lado para que uma frente maior pudesse ser alcançada, e obviamente não foi fácil. A presidência do Partido dos Trabalhadores ficou a cargo dos sindicalistas, devido a eles terem se organizado primeiramente, a presidência foi concedida em maior escala como um justo reconhecimento pelos seus atos na defesa da classe proletária. Porém, com a chegada dos sindicalistas na presidência do partido foi necessário que houvesse certo esquecimento de alguns deslizes cometidos por estes, principalmente pelo próprio Lula, que em 1989 seria o candidato do partido a Presidência da República, no qual, a própria Folha de São Paulo categoriza algumas de suas falas como deslizes e derrapagens. Outra grande pressão foi para que acabassem com algumas atitudes inesperadas do próprio Lula, como dos sindicalistas, já que estas despertavam grandes críticas, tornando tais ideias longes dos debates políticos. Os sindicalistas não conseguiram uma adesão unilateral do partido, já que os artigos e textos produzidos ficariam sobre a responsabilidade dos revolucionários inflamados com a ideia de Karl Marx e Lênin. Com isto, o partido trazia consigo a corrente internacional com um discurso em que a 1055 principal bandeira é a independência da classe, e a ideia total de um anticapitalismo. A grande discussão era de que o partido defendia uma posição socialista, mas, que não ficou livre de certas indagações como nos mostra o autor Daniel Aarão Reis: Por exemplo: o partido declarava-se socialista, mas que tipo de socialismo exatamente pretendia? E por que meios? Reforma ou revolução? E de que formas de lutas? Pressões e movimentos sociais? Lutas inconstitucionais? E a atitude em relação aos marcos legais? Respeito escrupuloso, ou infração, se, e quando, fosse o caso? Como se combinariam na prática a unidade de ação e a pluralidade de tendências constituintes? Como funcionaria a democracia interna? Questões candentes, não resolvidas cabalmente no ato da fundação. (REIS, 2007, p. 510). Estas indagações foram sendo respondidas não com uma resposta clara, mas, a partir das movimentações desde mesmo partido. O PT sofre com o passar dos anos sofre algumas transformações durante os anos que se segue, cuja consequência destas, se dará em 20021 com o que podemos chamar de triunfo do PT. O PT durante essas transformações passa a se firmar como um partido que representa a classe trabalhadora, um exemplo clássico disto é em 1983 quando se cria a CUT (Central Única dos Trabalhadores) órgão ligado aos trabalhadores e que é considerado por alguns como braço direito do PT, porém oficialmente independente do PT. O que realmente impressiona a todos os críticos e outros líderes partidários é a grande expressão que o PT mostra durante o seu 1 Refere-se a eleições para à Presidência da República, no qual, Luís Inácio Lula da Silva é eleito presidente no 2º turno das eleições realizado em 27/10/02. 1056 primeiro pleito eleitoral no qual disputa cargos nacionais e estaduais e nas eleições municipais: Os resultados, considerando-se a inexperiência e a falta de recursos e de tradição, não foram medíocres. O PT elegeu oito deputados federais, 12 estaduais e 117 vereadores em todo o país, além de alcançar importantes votações para os governos dos estados, destacando-se a votação de Lula, embora derrotado, para o governo do Estado de São Paulo (REIS, 2007, p. 512). Os resultados realmente mostram que o PT, não estava em má situação comparada a outros partidos que já possuíam tradição com os trabalhadores sendo estes o PDT e o PTB. Após esses resultados novamente o Brasil seria inflamado por um novo movimento as Diretas-já, que exigia primeiramente eleições diretas para Governador e logo após para Presidente. Neste momento, o PT não só defende as diretas como também se utiliza da campanha para a sua própria promoção a nível nacional, isto se evidencia a partir do ponto em que podemos ver a bandeira do partido tremulando em meio às multidões. Para Daniel Aarão Reis o movimento das diretas serviu para que houvesse uma unificação ainda que temporariamente das ideias a fim de que realmente colocasse em xeque a ditadura e ai possibilitar a sua queda, algo que ficara bastante em evidencia logo após isso, pois sua militância será conhecida pelo seu grande poder de união para brigar por suas bandeiras. A grande marca que o PT deixa a primeiro momento é a grande recusa feita por suas lideranças em relação à chapa encabeçada por Tancredo Neves-Jose Sarney, que para o PT em sua visão ideológica, Tancredo Neves havia traído a causa. O neoliberalismo torna-se outra bandeira do PT, mas, para o lado contrário. Desde o inicio desta vertente o PT se coloca contra, pois em sua 1057 visão a tendência de neoliberalismo nada mais é do que enfraquecer o Estado passando para os capitalistas o poder de controlar a economia. O grande problema enfrentado pelo PT é que esta corrente ganhava cada vez mais forças no mundo devido aos grandes sucessos de algumas privatizações principalmente no setor das telecomunicações. 2) Folha de São Paulo e a sua trajetória A Folha de São Paulo, sem duvida nenhuma é um dos maiores jornais de circulação do Brasil, seus editorias chegam a quase todo o território nacional, sendo também conhecida pelo seu grande pode de repercussão junto ao publico que a acompanha. Segundo uma pesquisa encomendada pela a Associação Nacional de Jornais, a qual realizada pelo o Instituto Verificador de Circulação, ano de 2011, a Folha de São Paulo ficou em segundo lugar em circulação nacional, com uma média de 286.398, perdendo para outro periódico com sede em Minas Gerais o Super Notícia com média de circulação de 293.572 jornais. A Folha de São Paulo foi criada em 19 de fevereiro de 1921, com o nome de Folha da Noite pelo jornalista Olívio Olavo de Olival Costa, juntamente com outras pessoas, no qual, ainda trabalhavam para outro periódico O Estado de São Paulo. Segundo seu próprio fundador e primeiro editor-chefe a Folha da Noite, deveria ter o papel de informar os cidadãos, para ele o jornal deveria ter um cunho, no qual, ele deveria mostrar-se destinado as classes medias, ou seja, aos funcionários públicos e pequenos comerciantes da cidade de São Paulo. Outro grande fator em sua demonstração de como é que deveria ser esse jornal, é de que ele deveria ser fiscalista em relação às esferas politicas, sempre informando aos cidadãos as decisões do Governo. Em 1930, ocorre no Brasil às eleições para Presidente da Republica, no qual, sua maior disputa acontecerá entre dois candidatos Júlio 1058 Prestes2 e Getúlio Vargas3. A chapa liderada por Getúlio Vargas embora a favorita para ganhar a disputa devido ao seu grande apoio politico perde as eleições, sendo que o candidato Júlio Prestes apoiado pelo presidente Washington Luís, ganhará as eleições. Com a vitória de Júlio Prestes cria-se dentro das esferas de oposição um desejo de “revolução”, no qual, culminara em 1930, com a derrubada do presidente, e o governo provisório chefiado por Getúlio Vargas. Sendo assim, as Folhas que se julgam como democráticas adotam uma posição contrária a esse movimento. Após esse episódio a Folha de São Paulo foi empastelada, sendo comprada por Pedro Cunha, no qual dará as Folhas um caráter ruralista, no qual chamará o jornal com a “voz dos lavradores”. Neste período as Folhas sem envolvem poucas vezes diretamente com a politica, sendo que o único de seus envolvimentos acontece na crítica em relação à nacionalização da economia, no qual eles defendem uma economia liberal, sem a intervenção do Estado, todo o dinheiro deveria segundo eles circular livremente, para que o Brasil pudesse se desenvolver. Em 1945, as Folhas são repassadas há outro grupo, que dará as Folhas um novo perfil, devido ao que acontece no Brasil, durante os anos de 1945 a 19464, este grupo será liderado por José Nabantino Reis, que ficará a frente da Folha de São Paulo até os anos de 1962. Este grupo deseja dar as Folhas um perfil politico como Centro, no qual, segundo José Reis dará as Folhas uma maior imparcialidade em relação algumas questões a serem debatidas como nos mostra, MOTTA & CAPELATO (1981). A Folha de São Paulo, nesse período irá tentar agradar ambos os lados, como se exercesse um papel de mediadora das mais variadas vertentes politicas. O período ao qual Nabantino Reis esteve a frente da Folha foi de fato um dos maiores reveses da história devido ao fato de seu tom 2 Candidato apoiado pelo PRP (Partido Republicano Paulista). Candidato apoiado pelo PRM (Partido Republicano Mineiro), pelo Partido Republicano da Paraíba, pelo Partido Republicano do Rio Grande do Sul e pelo Partido Democrático, formado por dissidentes do Partido Republicano Paulista. 4 Deposição de Getúlio Vargas e eleição do Marechal Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD e PTB. 3 1059 “fiscalista”, as Folhas terão problemas protagonizados entre o governador de São Paulo Jânio Quadros e o jornalista Armando Jimenez. Em 13 de agosto de 1962, a Folha de São Paulo, recebe uma nova diretoria, no qual, seus editores chefes são: Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho. Segundo o próprio jornal por mais que houvesse a mudança na diretoria a Folha de São Paulo, continuaria firme em relação de estar a serviço do Brasil. Este período que começa a partir de 1962 é sem duvida nenhuma o mais intrigante devido ao fato de nele encontrarmos a base e verificação do apoio ao golpe militar de 1964, sendo que a mesma Folha mostrará seu apoio à volta da democracia em 1984, em seus editoriais. O Brasil, então com 80 milhões de habitantes, seria sacudido de seu sonho reformista. Jango seria apeado o poder e a “Folha” seria envolvida – mais tarde – nas malhas do autoritarismo. Durante certo tempo, chegará a suspender seus editoriais em face das pressões que recebia do regime implantado pelo golpe de 1964. Isso apesar de ter apoiado o movimento na primeira hora, dadas as posições antijanguistas. (MOTTA & CAPELATO, 1981, p. 191-192). O que realmente causara grande perplexidade na Folha de São Paulo é o Ato Institucional nº 2, que restringira a liberdade da imprensa, como nos mostra MOTTA & CAPELATO (1981, p. 192): O AI-2 deixara explícito o cerceamento à liberdade de expressão, modificando a última alínea do parágrafo 5.º do artigo 141 da Constituição de 1946, no dispositivo em que assegurava a liberdade de expressão de pensamento. A partir de então, tudo podia ser considerado “propaganda de subversão”. 1060 Além da questão política a Folha de São Paulo, será marcada pela sua autonomia financeira, sendo que esta passara por algumas modificações em todo o seu jornal impresso. Durante a ditadura militar várias vezes a Folha de São Paulo, não circulara devido a problemas com o governo, porém, isto não impedira seu grande avanço em relação às vendas do jornal. Com o final da ditadura militar a Folha de São Paulo insere-se nos grandes debates em relação às questões sociais como a terra, politica, emprego entre outras vertentes, o que se dá de fato é que na questão politica ela joga a ditadura como se fosse algo obsoleto e atrasado e que a nova democracia nada mais atende os interesses da sociedade. O que se pode perceber através de documentos mostrados no livro de Carlos Guilherme Motta e Maria Helena Capelato, é que a Folha de São Paulo, assume uma característica até hoje perceptível em seus editoriais “fiscalista”, ao ponto de ver o que o governo tem feito de bom ou ruim, “informante”, no que se referem aos assuntos trazidos dos mais variados temas. 3) O pleito de 1989 e sua análise O ano de 1989 é realmente as respostas aos mais variados anseios da população, especificamente para os eleitores da eleição presidencial do ano. Os candidatos se apresentam a fim de conquistar corações e mentes dos eleitores. A disputa de 1989 é bastante esperada já que a eleição presidencial de 1985, o povo não pode participar diretamente.5 A maioria dos candidatos foram figuras importantes desde o período de Getúlio Vargas, passando pela ditadura, como os casos de Leonel Brizola, Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Melo entre outros. A grande questão deste trabalho, porém é como o jornal Folha de São Paulo irá tratar o candidato Luís Inácio Lula da Silva neste pleito logo após no pleito de 2002. Para que se possa realizar nesta análise trabalharemos 5 Eleição para Presidente indireta, na qual, foi eleito Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral. 1061 com o conceito de representação, pensado pelo o historiador Roger Chartier, ao qual, ele designa como: As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de que os utiliza. (CHARTIER, 1990, p.17) Roger Chartier nos traz essa relação ao fazermos as discussões acerca de representações, a Folha de São Paulo em 1989, trata o candidato Lula, como um candidato que não poderia ter condições de ser eleito. O periódico faz questão de logo em seus primeiros editoriais trazer aos seus eleitores como sendo um candidato despreparado para comandar o Brasil com tanto desafios a serem superados. Uma ideia clara que a Folha de São Paulo traz em seus editoriais com o nome Diretas-89, faz com que tenhamos a clara impressão que seu maior interesse naquele momento é que o candidato seja um politico hábil, já que ele tem a responsabilidade de fazer a limpeza dos que ainda sobraram da ditadura militar. No primeiro momento a Folha de São Paulo, não adere a nenhuma das candidaturas ali estabelecidas, todas as candidaturas vinham com propostas voltadas para o desenvolvimento dos menos favorecidos, sem que nenhum representasse a grande elite. Quando o candidato Fernando Color de Mello apareceu como um esportista, e principalmente alinhou-se aos interesses dos grandes empresários a Folha de São Paulo o coloca em destaque em seus editoriais sendo que algumas vezes cogitasse a possibilidade de ele ganhar em primeiro turno. 1062 Fernando Color de Mello é um empresário do estado de Alagoas, sem dono da retransmissora da Rede Globo no estado, seu principal lema na campanha era o combate aos marajás que se instalaram no poder durante a ditadura militar. Luís Inácio Lula da Silva era colocado como um inexperiente devido a sua falta de estudos e as ideias que ao olhar da classe média e alta eram revolucionárias demais, como a defesa a reforma agrária, entre outros pontos. A Folha de São Paulo no decorrer das eleições aponta que se houver um segundo turno ele se dará entre Fernando Color de Mello e Leonel Brizola, ligado ao antigo grupo de Getúlio Vargas. O que acontece no decorrer das semanas em que se faz a cobertura é que o candidato Luís Inácio Lula da Silva começa a receber apoio de diversos grupos da sociedade fazendo com que este cresça nas pesquisas de intenções de voto. Outro ponto também colocado pelo jornal é o encontro entre Lula e Fidel Castro, com isto o jornal passa além de seu “único” serviço que é de informar, tentando colocar que Lula deseja fazer do Brasil um país socialista, no qual, não se defende a propriedade privada, mas um bem coletivo. A Folha de São Paulo defende que o candidato ideal além do dever de ser forte para enfrentar os desafios ele deve ser legalista em relação ao respeito por aquilo que se defende na constituição de 1988, outro ponto ao qual o Lula, não parece ser o mais indicado para tal funcionalidade. Ao encaminhar-se para a reta final o jornal, cada vez mais expõe Collor como o candidato melhor preparado e ainda que Lula cresça nas eleições ele ainda é considerado fora do segundo turno. Lula só será reconhecido como provável candidato ao segundo turno na reta final da campanha, ou seja, duas semanas ante do pleito eleitoral, pois o jornal deseja mostrar ao leitor que em seu editorial não está contido uma 1063 vertente que coloca preferidos, mas um jornal independente, no qual, ele destina-se a mostrar as tendências da sociedade e informar sobre as possíveis noticias de amanhã. Quando chega o dia seguinte ao do resultado para a disputa do segundo turno, a Folha de São Paulo noticia, como algo que já era previsível e que acabou a acertando o resultado do pleito. De fato como nos mostra a cobertura que a Folha de São Paulo faz nas eleições de 1989, é que a vertente pretendida pelo jornal não está contida na questão geral entre esquerda e direita, mas sim, naquele que defenderá melhor os interesses de grupos mais elevados economicamente, o que o jornal deseja é que seja assegurado um ritmo econômico em que o Estado nem esteja diretamente ligado ao Governo Federal, mas que este deixe a economia fluir por si só, como nos anos de 1945 a 1962, no qual, a Folha de São Paulo conseguiu atingir sua independência financeira. Quando o candidato Luís Inácio Lula da Silva aparece com as propostas de um Estado mais intervencionista ele se coloca contrária a essas ideias, define que aquele como Collor se apresentou como um defensor do neoliberalismo que concerne mais numa desestatização de alguns setores esta tem consigo que ele é melhor na defesa desses interesses. 4) O pleito de 2002 e sua análise O ano de 2002 nasce com a perspectiva da mudança na condução política do país, devido ao fato de nova eleição presidencial estar chegando6, mais uma vez o que se tem são candidatos sendo formados dos amplos setores da sociedade, uns representando as classes mais elevadas, ou seja, altas e outros as classes menos favorecidas, médias e baixas. Em 2002, o que acontece é a disputa entre duas grandes correntes politicas, uma delas ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e outra 6 Eleições realizadas em Outubro de 2002. 1064 ligada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O PSDB já havia estado no poder durante oito anos na administração de Fernando Henrique Cardoso7, ao qual, tentaria permanecer sendo escolhido como candidato José Serra. O PT ainda sonhará com a Presidência da República, já que nas eleições de 1989, Lula perdeu para Collor. Para isto mais uma vez será indicado para a disputa Luís Inácio Lula da Silva. A campanha de 2002 tem na Folha de São Paulo um caderno especial no qual, chamavam-se Eleições 2002, para a Folha de São Paulo o candidato José Serra era o melhor preparado para a disputa eleitoral, porém, Lula vinha com uma transformação de sua imagem. Enquanto Serra se mostrava como continuidade do governo de Fernando Henrique Cardoso já que era por ele apoiado, Lula mostrava-se como a primeira possibilidade daquele mais humilde ser representado na esfera política. Lula estrutura a sua campanha como uma aliança de amplos setores, uma das maiores características é a escolha de seu vice o empresário José Alencar8, no qual, evidenciava a maior aliança já vista entre o que representava o empregado e o patrão. A Folha de São Paulo, só começara a ver Lula como um provável vencedor após algumas pesquisas por ela encomendada ao Instituto Datafolha ao qual lhe pertence, e a carta aos brasileiros em que tanto Lula como o PT se comprometem a continuar as politicas fiscais e ampliar as sociais sem atrapalhar a economia. Mesmo com todo este aparato, a Folha de São Paulo em seus editoriais não deixam de destacar que para o cargo o candidato deveria estar apto aos desafios que por ele deveriam ser enfrentados e que somente com estudo e habilidade ele o poderia fazer. A imagem de Lula passa por uma transformação estética ao qual, nunca tinha se visto em relação a ele mesmo nas outras eleições. Uma 7 Eleito na eleição de 1994 e reeleito na eleição de 1998. Empresário mineiro ligado ao setor de tecidos com produtos nacionais e exportação par fora do país, à marca de sua empresa é Santista. 8 1065 das principais constatações é que o candidato que antes era acostumado em ser visto com roupas mais simples agora era visto com terno, barba aparada, uma fala mais cautelosa, o que antes não era percebido. A questão da imagem não é o foco de análise deste trabalho, mas contribui para que se compreenda melhor essa mudança. O que Lula representa de fato para a Folha de São Paulo, neste momento é um candidato que por mais que não defenda os direitos dos empresários, não fará mudanças catastróficas devido de seu vice ser ligado ao grande empresariado. Segundo a própria Folha de São Paulo a vitória em primeiro turno poderia ocorrer, mas o jornal através de seu periódico tentava colocar que um segundo turno seria melhor para que se estudassem as propostas. Com isto o que se tem de fato é um periódico no qual, a visão ideológica nada mais é do que a defesa dos interesses das elites, no qual, a população participa do jornal, porem seus anseios são decodificados sobre uma nova estrutura. 1066 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p.17. MOTA, Carlos Guilherme & CAPELATO, Maria H. R. História da Folha de São Paulo: 1921-1981. São Paulo: Impres, 1981. REIS, Daniel Aarão. O Partido dos Trabalhadores: trajetória, metamorfoses, perspectivas. In: Jorge Ferreira e Daniel Reis (Orgs). As esquerdas no Brasil vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 503-540. 1067