AS REPRESENTAÇÕES DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA NA FOLHA DE
SÃO PAULO NAS ELEIÇÕES DE 1989 E 2002
Maykon da Silva Justino Ferreira
Orientador: Prof. Dr. Márcio Santos de Santana
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar as representações do candidato Luís Inácio
Lula da Silva nas coberturas realizadas pelo jornal Folha de São Paulo das
campanhas presidenciais de 1989 e 2002. Almejamos estabelecer as
singularidades das representações presentes em cada campanha, haja vista o
candidato se encontrar em momentos distintos, mas centrais para a
compreensão de sua trajetória política. Para a consecução dessas finalidades
realizaremos, em primeiro lugar, um breve histórico do jornal e, na sequencia,
um histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), para podermos compreender
como a relação do candidato com a mídia foi construída com o passar do
tempo.
Palavras chave: Imprensa, Campanha Eleitoral, Projeto Político.
1051
O candidato Luís Inácio Lula da Silva tem sido alvo de grandes
debates na historiografia atual, não apenas por sua grande popularidade junto
às camadas populares, mas, por ser de fato uma figura bastante emblemática
nestes últimos anos. O Partido dos Trabalhadores juntamente com a figura e
Luís Inácio Lula da Silva tem sido alvo de debates variados, seja por suas
bandeiras ideológicas, seja por suas atuações no cenário político.
O Partido dos Trabalhadores (PT), no momento de sua criação,
tinha uma composição bem heterogênea, mas que conseguiram consolidar
uma aliança, materializada numa frente político-partidária, cuja finalidade era
possibilitar que a esquerda obtivesse grande participação nas decisões
políticas.
Luís Inácio Lula da Silva ao qual tomo liberdade, neste
presente trabalho, de tratar apenas como Lula, revela-nos um caso de com as
tramas históricas são complexas, na medida em que as representações deste
ator histórico sofreram inúmeras mutações nos meios de comunicação, a partir
do momento em que esses meios veem seus interesses defendidos ou
ameaçados.
A Folha de São Paulo se consolidou como um importante
veículo de comunicação estabelecido no país. Sua circulação abrange quase
todo o território nacional, sendo que suas matérias tem bastante destaque
quando esta traz assuntos polêmicos em suas editorias como alguma denuncia
ou suspeitas de fraudes. Como historiador o que desejamos é investigar o que
acontece com o jornal nos bastidores, ou seja, as tramas que conduzem a
elaboração do editorial. As perguntas que movem este trabalho são: Como
ocorreu a mudança da Folha de São Paulo em relação ao candidato Lula? Qual
a representação que este jornal atribui ao candidato nas duas eleições (1989 e
2002)? Qual é a ideologia política deste jornal?
1052
Porém, para que possamos responder essas perguntas, é
necessário que primeiramente faça-se uma contextualização histórica, destes
três atores, sendo eles o Partido dos Trabalhadores (PT); a Folha de São Paulo
e o próprio candidato Luís Inácio Lula da Silva, a fim de compreender a forma
como a Folha de São Paulo irá retratar este candidato.
1) A criação do Partido dos Trabalhadores
O Partido dos Trabalhadores (PT), sem duvida nenhuma se
tornou objeto de estudos da história, não apenas por ser representa das linhas
das ideias de Esquerda, como pelo seu grande êxito na questão eleitoral sendo
a terceira vez consecutiva que este é a legenda partidária, do cargo mais
importante nas instituições democráticas, ou seja, a Presidência da República.
O PT foi criado exatamente em 10 de fevereiro de 1980, ligado
diretamente aos grevistas de São Bernardo do Campo, liderado por Luís Inácio
Lula da Silva, mas não apenas se deve aos sindicalistas, mas outros, grupos
que pensavam que as ideias de esquerda seriam o melhor viés para que o
Brasil, pudesse se desenvolver.
Segundo o historiador Daniel Aarão Reis o PT, reunia em si as
mais variadas vertentes sobre a ideologia de Esquerda, cito:
Também desde o início, tomaram parte na
iniciativa grupos revolucionários trotskistas,
entre
os
quais,
e
principalmente,
a
Convergência Socialista, além de grupos
remanescentes de organizações que haviam
participado da luta contra a ditadura militar: Ala
Vermelha do Partido Comunista do Brasil (AlaPCdoB), Ação Libertadora Nacional (ALN),
Ação Popular Marxista-Leninista (AP-ML),
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
(PCBR), Movimento de Emancipação do
Proletariado (MEP). (REIS, 2007, p. 506).
1053
Outro ponto bastante relevante é a participação de outras
camadas sociais presente na formação do Partido dos Trabalhadores, a
esquerda católica, ligada a Igreja que ao final da ditadura militar esteve
contrária a sua manutenção. Todo esse movimento estava ligado à nova
vertente chamada de Teologia da Libertação, doutrina que segundo o
historiador Daniel Aarão Reis tentava elaborar uma síntese entre o cristianismo
e marxismo, marcando uma posição anticapitalista. Dessa maneira criava-se
o Partido dos Trabalhadores
Assim, na fundação do PT, em 10 de fevereiro
de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo,
encontraram-se reunidas, de mãos dadas, em
aliança, lideranças autênticas, revolucionários
marxistas-leninistas e militantes cristãos
radicais (REIS, 2007, p. 507).
É interessante observarmos, que na sua criação o PT reunia
consigo várias correntes de pensamento que por mais que divergissem consigo
mesmas estariam naquele momento unindo forças para a criação de um
partido que ganhasse as massas e com isso mostrar que a esquerda não era
um movimento em si desunido, mas que pelo contrário, dava a exata noção de
que ao fim da ditadura iria se posicionar como uma alternativa para governar o
Brasil. Para o próprio autor esse encontro dava-se de maneira inusitada.
Naquele momento várias ideias já começavam a ganhar forças
na formação de outros partidos com propostas sedutoras que aos poucos
ganhavam forças maiores apoiados por grandes nomes da política nacional
destaques por serem oposição ao regime militar, Fernando Henrique Cardoso
da grande destaque para aqueles que sonhavam com a criação de um partido
que trouxesse consigo a bandeira ideológica da social democracia, porém esta
sua ideia ainda no presente momento não traz consigo o rompimento com a
legenda MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o que ocorre depois quando
este mesmo cria aliado com mais alguns o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB).
1054
Outra vertente partidária que se inicia esta relacionada ao
politico exiliado pelo regime militar Leonel Brizola, quando este ainda no exilio
lança as bases para a refundação do Partido Trabalhista Brasileiro, que fora
idealizado e criado por Getúlio Vargas, Leonel Brizola traz para o PTB a
atualização de algumas de suas ideologias sem deixar de lado o trabalhador
brasileiro, principal alvo do PTB.
Como já visto o Brasil naquele momento passava por grandes
mudanças politicas e ideológicas. O Partido dos Trabalhadores, não estava
neutro nessas mudanças, como já vimos a sua formação deu-se em um
processo que trazia consigo várias formas de pensar na formação e
organização de uma frente sindical em forma de partido. Para que isto pudesse
ocorrer era necessário que algumas ideias fossem deixadas de lado para que
uma frente maior pudesse ser alcançada, e obviamente não foi fácil.
A presidência do Partido dos Trabalhadores ficou a cargo dos
sindicalistas, devido a eles terem se organizado primeiramente, a presidência
foi concedida em maior escala como um justo reconhecimento pelos seus atos
na defesa da classe proletária. Porém, com a chegada dos sindicalistas na
presidência do partido foi necessário que houvesse certo esquecimento de
alguns deslizes cometidos por estes, principalmente pelo próprio Lula, que em
1989 seria o candidato do partido a Presidência da República, no qual, a
própria Folha de São Paulo categoriza algumas de suas falas como deslizes e
derrapagens. Outra grande pressão foi para que acabassem com algumas
atitudes inesperadas do próprio Lula, como dos sindicalistas, já que estas
despertavam grandes críticas, tornando tais ideias longes dos debates
políticos.
Os sindicalistas não conseguiram uma adesão unilateral do
partido, já que os artigos e textos produzidos ficariam sobre a responsabilidade
dos revolucionários inflamados com a ideia de Karl Marx e Lênin. Com isto, o
partido trazia consigo a corrente internacional com um discurso em que a
1055
principal bandeira é a independência da classe, e a ideia total de um
anticapitalismo.
A grande discussão era de que o partido defendia uma posição
socialista, mas, que não ficou livre de certas indagações como nos mostra o
autor Daniel Aarão Reis:
Por exemplo: o partido declarava-se socialista,
mas que tipo de socialismo exatamente
pretendia? E por que meios? Reforma ou
revolução? E de que formas de lutas? Pressões
e movimentos sociais? Lutas inconstitucionais?
E a atitude em relação aos marcos legais?
Respeito escrupuloso, ou infração, se, e
quando, fosse o caso? Como se combinariam
na prática a unidade de ação e a pluralidade de
tendências constituintes? Como funcionaria a
democracia interna? Questões candentes, não
resolvidas cabalmente no ato da fundação.
(REIS, 2007, p. 510).
Estas indagações foram sendo respondidas não com uma
resposta clara, mas, a partir das movimentações desde mesmo partido. O PT
sofre com o passar dos anos sofre algumas transformações durante os anos
que se segue, cuja consequência destas, se dará em 20021 com o que
podemos chamar de triunfo do PT.
O PT durante essas transformações passa a se firmar como um
partido que representa a classe trabalhadora, um exemplo clássico disto é em
1983 quando se cria a CUT (Central Única dos Trabalhadores) órgão ligado
aos trabalhadores e que é considerado por alguns como braço direito do PT,
porém oficialmente independente do PT.
O que realmente impressiona a todos os críticos e outros
líderes partidários é a grande expressão que o PT mostra durante o seu
1
Refere-se a eleições para à Presidência da República, no qual, Luís Inácio Lula da Silva é eleito
presidente no 2º turno das eleições realizado em 27/10/02.
1056
primeiro pleito eleitoral no qual disputa cargos nacionais e estaduais e nas
eleições municipais:
Os resultados, considerando-se a inexperiência
e a falta de recursos e de tradição, não foram
medíocres. O PT elegeu oito deputados
federais, 12 estaduais e 117 vereadores em
todo o país, além de alcançar importantes
votações para os governos dos estados,
destacando-se a votação de Lula, embora
derrotado, para o governo do Estado de São
Paulo (REIS, 2007,
p. 512).
Os resultados realmente mostram que o PT, não estava em má
situação comparada a outros partidos que já possuíam tradição com os
trabalhadores sendo estes o PDT e o PTB. Após esses resultados novamente
o Brasil seria inflamado por um novo movimento as Diretas-já, que exigia
primeiramente eleições diretas para Governador e logo após para Presidente.
Neste momento, o PT não só defende as diretas como também se utiliza da
campanha para a sua própria promoção a nível nacional, isto se evidencia a
partir do ponto em que podemos ver a bandeira do partido tremulando em meio
às multidões.
Para Daniel Aarão Reis o movimento das diretas serviu para
que houvesse uma unificação ainda que temporariamente das ideias a fim de
que realmente colocasse em xeque a ditadura e ai possibilitar a sua queda,
algo que ficara bastante em evidencia logo após isso, pois sua militância será
conhecida pelo seu grande poder de união para brigar por suas bandeiras. A
grande marca que o PT deixa a primeiro momento é a grande recusa feita por
suas lideranças em relação à chapa encabeçada por Tancredo Neves-Jose
Sarney, que para o PT em sua visão ideológica, Tancredo Neves havia traído a
causa.
O neoliberalismo torna-se outra bandeira do PT, mas, para o
lado contrário. Desde o inicio desta vertente o PT se coloca contra, pois em sua
1057
visão a tendência de neoliberalismo nada mais é do que enfraquecer o Estado
passando para os capitalistas o poder de controlar a economia. O grande
problema enfrentado pelo PT é que esta corrente ganhava cada vez mais
forças no mundo devido aos grandes sucessos de algumas privatizações
principalmente no setor das telecomunicações.
2) Folha de São Paulo e a sua trajetória
A Folha de São Paulo, sem duvida nenhuma é um dos maiores
jornais de circulação do Brasil, seus editorias chegam a quase todo o território
nacional, sendo também conhecida pelo seu grande pode de repercussão junto
ao publico que a acompanha. Segundo uma pesquisa encomendada pela a
Associação Nacional de Jornais, a qual realizada pelo o Instituto Verificador de
Circulação, ano de 2011, a Folha de São Paulo ficou em segundo lugar em
circulação nacional, com uma média de 286.398, perdendo para outro periódico
com sede em Minas Gerais o Super Notícia com média de circulação de
293.572 jornais.
A Folha de São Paulo foi criada em 19 de fevereiro de 1921,
com o nome de Folha da Noite pelo jornalista Olívio Olavo de Olival Costa,
juntamente com outras pessoas, no qual, ainda trabalhavam para outro
periódico O Estado de São Paulo. Segundo seu próprio fundador e primeiro
editor-chefe a Folha da Noite, deveria ter o papel de informar os cidadãos, para
ele o jornal deveria ter um cunho, no qual, ele deveria mostrar-se destinado as
classes medias, ou seja, aos funcionários públicos e pequenos comerciantes
da cidade de São Paulo. Outro grande fator em sua demonstração de como é
que deveria ser esse jornal, é de que ele deveria ser fiscalista em relação às
esferas politicas, sempre informando aos cidadãos as decisões do Governo.
Em 1930, ocorre no Brasil às eleições para Presidente da
Republica, no qual, sua maior disputa acontecerá entre dois candidatos Júlio
1058
Prestes2 e Getúlio Vargas3. A chapa liderada por Getúlio Vargas embora a
favorita para ganhar a disputa devido ao seu grande apoio politico perde as
eleições, sendo que o candidato Júlio Prestes apoiado pelo presidente
Washington Luís, ganhará as eleições. Com a vitória de Júlio Prestes cria-se
dentro das esferas de oposição um desejo de “revolução”, no qual, culminara
em 1930, com a derrubada do presidente, e o governo provisório chefiado por
Getúlio Vargas. Sendo assim, as Folhas que se julgam como democráticas
adotam uma posição contrária a esse movimento. Após esse episódio a Folha
de São Paulo foi empastelada, sendo comprada por Pedro Cunha, no qual dará
as Folhas um caráter ruralista, no qual chamará o jornal com a “voz dos
lavradores”.
Neste período as Folhas sem envolvem poucas vezes
diretamente com a politica, sendo que o único de seus envolvimentos acontece
na crítica em relação à nacionalização da economia, no qual eles defendem
uma economia liberal, sem a intervenção do Estado, todo o dinheiro deveria
segundo eles circular livremente, para que o Brasil pudesse se desenvolver.
Em 1945, as Folhas são repassadas há outro grupo, que dará as Folhas um
novo perfil, devido ao que acontece no Brasil, durante os anos de 1945 a
19464, este grupo será liderado por José Nabantino Reis, que ficará a frente da
Folha de São Paulo até os anos de 1962. Este grupo deseja dar as Folhas um
perfil politico como Centro, no qual, segundo José Reis dará as Folhas uma
maior imparcialidade em relação algumas questões a serem debatidas como
nos mostra, MOTTA & CAPELATO (1981). A Folha de São Paulo, nesse
período irá tentar agradar ambos os lados, como se exercesse um papel de
mediadora das mais variadas vertentes politicas.
O período ao qual Nabantino Reis esteve a frente da Folha foi
de fato um dos maiores reveses da história devido ao fato de seu tom
2
Candidato apoiado pelo PRP (Partido Republicano Paulista).
Candidato apoiado pelo PRM (Partido Republicano Mineiro), pelo Partido Republicano da Paraíba, pelo
Partido Republicano do Rio Grande do Sul e pelo Partido Democrático, formado por dissidentes do
Partido Republicano Paulista.
4
Deposição de Getúlio Vargas e eleição do Marechal Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD e PTB.
3
1059
“fiscalista”, as Folhas terão problemas protagonizados entre o governador de
São Paulo Jânio Quadros e o jornalista Armando Jimenez. Em 13 de agosto de
1962, a Folha de São Paulo, recebe uma nova diretoria, no qual, seus editores
chefes são: Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho. Segundo o
próprio jornal por mais que houvesse a mudança na diretoria a Folha de São
Paulo, continuaria firme em relação de estar a serviço do Brasil.
Este período que começa a partir de 1962 é sem duvida
nenhuma o mais intrigante devido ao fato de nele encontrarmos a base e
verificação do apoio ao golpe militar de 1964, sendo que a mesma Folha
mostrará seu apoio à volta da democracia em 1984, em seus editoriais.
O Brasil, então com 80 milhões de habitantes,
seria sacudido de seu sonho reformista. Jango
seria apeado o poder e a “Folha” seria
envolvida – mais tarde – nas malhas do
autoritarismo. Durante certo tempo, chegará a
suspender seus editoriais em face das pressões
que recebia do regime implantado pelo golpe de
1964. Isso apesar de ter apoiado o movimento
na primeira hora, dadas as posições
antijanguistas. (MOTTA & CAPELATO, 1981, p.
191-192).
O que realmente causara grande perplexidade na Folha de São Paulo é
o Ato Institucional nº 2, que restringira a liberdade da imprensa, como nos
mostra MOTTA & CAPELATO (1981, p. 192):
O AI-2 deixara explícito o cerceamento à
liberdade de expressão, modificando a última
alínea do parágrafo 5.º do artigo 141 da
Constituição de 1946, no dispositivo em que
assegurava a liberdade de expressão de
pensamento. A partir de então, tudo podia ser
considerado “propaganda de subversão”.
1060
Além da questão política a Folha de São Paulo, será marcada
pela sua autonomia financeira, sendo que esta passara por algumas
modificações em todo o seu jornal impresso. Durante a ditadura militar várias
vezes a Folha de São Paulo, não circulara devido a problemas com o governo,
porém, isto não impedira seu grande avanço em relação às vendas do jornal.
Com o final da ditadura militar a Folha de São Paulo insere-se nos grandes
debates em relação às questões sociais como a terra, politica, emprego entre
outras vertentes, o que se dá de fato é que na questão politica ela joga a
ditadura como se fosse algo obsoleto e atrasado e que a nova democracia
nada mais atende os interesses da sociedade. O que se pode perceber através
de documentos mostrados no livro de Carlos Guilherme Motta e Maria Helena
Capelato, é que a Folha de São Paulo, assume uma característica até hoje
perceptível em seus editoriais “fiscalista”, ao ponto de ver o que o governo tem
feito de bom ou ruim, “informante”, no que se referem aos assuntos trazidos
dos mais variados temas.
3) O pleito de 1989 e sua análise
O ano de 1989 é realmente as respostas aos mais variados
anseios da população, especificamente para os eleitores da eleição
presidencial do ano. Os candidatos se apresentam a fim de conquistar
corações e mentes dos eleitores. A disputa de 1989 é bastante esperada já que
a eleição presidencial de 1985, o povo não pode participar diretamente.5 A
maioria dos candidatos foram figuras importantes desde o período de Getúlio
Vargas, passando pela ditadura, como os casos de Leonel Brizola, Luís Inácio
Lula da Silva, Fernando Collor de Melo entre outros.
A grande questão deste trabalho, porém é como o jornal Folha
de São Paulo irá tratar o candidato Luís Inácio Lula da Silva neste pleito logo
após no pleito de 2002. Para que se possa realizar nesta análise trabalharemos
5
Eleição para Presidente indireta, na qual, foi eleito Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral.
1061
com o conceito de representação, pensado pelo o historiador Roger Chartier,
ao qual, ele designa como:
As representações do mundo social assim
construídas, embora aspirem à universalidade
de um diagnóstico fundado na razão, são
sempre determinadas pelos interesses de grupo
que as forjam. Daí, para cada caso, o
necessário relacionamento dos discursos
proferidos com a posição de que os utiliza.
(CHARTIER, 1990, p.17)
Roger Chartier nos traz essa relação ao fazermos as
discussões acerca de representações, a Folha de São Paulo em 1989, trata o
candidato Lula, como um candidato que não poderia ter condições de ser
eleito. O periódico faz questão de logo em seus primeiros editoriais trazer aos
seus eleitores como sendo um candidato despreparado para comandar o Brasil
com tanto desafios a serem superados.
Uma ideia clara que a Folha de São Paulo traz em seus
editoriais com o nome Diretas-89, faz com que tenhamos a clara impressão
que seu maior interesse naquele momento é que o candidato seja um politico
hábil, já que ele tem a responsabilidade de fazer a limpeza dos que ainda
sobraram da ditadura militar.
No primeiro momento a Folha de São Paulo, não adere a
nenhuma das candidaturas ali estabelecidas, todas as candidaturas vinham
com propostas voltadas para o desenvolvimento dos menos favorecidos, sem
que nenhum representasse a grande elite. Quando o candidato Fernando Color
de Mello apareceu como um esportista, e principalmente alinhou-se aos
interesses dos grandes empresários a Folha de São Paulo o coloca em
destaque em seus editoriais sendo que algumas vezes cogitasse a
possibilidade de ele ganhar em primeiro turno.
1062
Fernando Color de Mello é um empresário do estado de
Alagoas, sem dono da retransmissora da Rede Globo no estado, seu principal
lema na campanha era o combate aos marajás que se instalaram no poder
durante a ditadura militar.
Luís Inácio Lula da Silva era colocado como um inexperiente
devido a sua falta de estudos e as ideias que ao olhar da classe média e alta
eram revolucionárias demais, como a defesa a reforma agrária, entre outros
pontos.
A Folha de São Paulo no decorrer das eleições aponta que se
houver um segundo turno ele se dará entre Fernando Color de Mello e Leonel
Brizola, ligado ao antigo grupo de Getúlio Vargas. O que acontece no decorrer
das semanas em que se faz a cobertura é que o candidato Luís Inácio Lula da
Silva começa a receber apoio de diversos grupos da sociedade fazendo com
que este cresça nas pesquisas de intenções de voto. Outro ponto também
colocado pelo jornal é o encontro entre Lula e Fidel Castro, com isto o jornal
passa além de seu “único” serviço que é de informar, tentando colocar que Lula
deseja fazer do Brasil um país socialista, no qual, não se defende a
propriedade privada, mas um bem coletivo.
A Folha de São Paulo defende que o candidato ideal além do
dever de ser forte para enfrentar os desafios ele deve ser legalista em relação
ao respeito por aquilo que se defende na constituição de 1988, outro ponto ao
qual o Lula, não parece ser o mais indicado para tal funcionalidade. Ao
encaminhar-se para a reta final o jornal, cada vez mais expõe Collor como o
candidato melhor preparado e ainda que Lula cresça nas eleições ele ainda é
considerado fora do segundo turno.
Lula só será reconhecido como provável candidato ao segundo
turno na reta final da campanha, ou seja, duas semanas ante do pleito eleitoral,
pois o jornal deseja mostrar ao leitor que em seu editorial não está contido uma
1063
vertente que coloca preferidos, mas um jornal independente, no qual, ele
destina-se a mostrar as tendências da sociedade e informar sobre as possíveis
noticias de amanhã. Quando chega o dia seguinte ao do resultado para a
disputa do segundo turno, a Folha de São Paulo noticia, como algo que já era
previsível e que acabou a acertando o resultado do pleito.
De fato como nos mostra a cobertura que a Folha de São Paulo
faz nas eleições de 1989, é que a vertente pretendida pelo jornal não está
contida na questão geral entre esquerda e direita, mas sim, naquele que
defenderá melhor os interesses de grupos mais elevados economicamente, o
que o jornal deseja é que seja assegurado um ritmo econômico em que o
Estado nem esteja diretamente ligado ao Governo Federal, mas que este deixe
a economia fluir por si só, como nos anos de 1945 a 1962, no qual, a Folha de
São Paulo conseguiu atingir sua independência financeira.
Quando o candidato Luís Inácio Lula da Silva aparece com as
propostas de um Estado mais intervencionista ele se coloca contrária a essas
ideias, define que aquele como Collor se apresentou como um defensor do
neoliberalismo que concerne mais numa desestatização de alguns setores esta
tem consigo que ele é melhor na defesa desses interesses.
4) O pleito de 2002 e sua análise
O ano de 2002 nasce com a perspectiva da mudança na
condução política do país, devido ao fato de nova eleição presidencial estar
chegando6, mais uma vez o que se tem são candidatos sendo formados dos
amplos setores da sociedade, uns representando as classes mais elevadas, ou
seja, altas e outros as classes menos favorecidas, médias e baixas.
Em 2002, o que acontece é a disputa entre duas grandes
correntes politicas, uma delas ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e outra
6
Eleições realizadas em Outubro de 2002.
1064
ligada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O PSDB já havia
estado no poder durante oito anos na administração de Fernando Henrique
Cardoso7, ao qual, tentaria permanecer sendo escolhido como candidato José
Serra. O PT ainda sonhará com a Presidência da República, já que nas
eleições de 1989, Lula perdeu para Collor. Para isto mais uma vez será
indicado para a disputa Luís Inácio Lula da Silva.
A campanha de 2002 tem na Folha de São Paulo um caderno
especial no qual, chamavam-se Eleições 2002, para a Folha de São Paulo o
candidato José Serra era o melhor preparado para a disputa eleitoral, porém,
Lula vinha com uma transformação de sua imagem. Enquanto Serra se
mostrava como continuidade do governo de Fernando Henrique Cardoso já que
era por ele apoiado, Lula mostrava-se como a primeira possibilidade daquele
mais humilde ser representado na esfera política. Lula estrutura a sua
campanha como uma aliança de amplos setores, uma das maiores
características é a escolha de seu vice o empresário José Alencar8, no qual,
evidenciava a maior aliança já vista entre o que representava o empregado e o
patrão.
A Folha de São Paulo, só começara a ver Lula como um
provável vencedor após algumas pesquisas por ela encomendada ao Instituto
Datafolha ao qual lhe pertence, e a carta aos brasileiros em que tanto Lula
como o PT se comprometem a continuar as politicas fiscais e ampliar as sociais
sem atrapalhar a economia. Mesmo com todo este aparato, a Folha de São
Paulo em seus editoriais não deixam de destacar que para o cargo o candidato
deveria estar apto aos desafios que por ele deveriam ser enfrentados e que
somente com estudo e habilidade ele o poderia fazer.
A imagem de Lula passa por uma transformação estética ao
qual, nunca tinha se visto em relação a ele mesmo nas outras eleições. Uma
7
Eleito na eleição de 1994 e reeleito na eleição de 1998.
Empresário mineiro ligado ao setor de tecidos com produtos nacionais e exportação par fora do país, à
marca de sua empresa é Santista.
8
1065
das principais constatações é que o candidato que antes era acostumado em
ser visto com roupas mais simples agora era visto com terno, barba aparada,
uma fala mais cautelosa, o que antes não era percebido.
A questão da imagem não é o foco de análise deste trabalho,
mas contribui para que se compreenda melhor essa mudança. O que Lula
representa de fato para a Folha de São Paulo, neste momento é um candidato
que por mais que não defenda os direitos dos empresários, não fará mudanças
catastróficas devido de seu vice ser ligado ao grande empresariado. Segundo a
própria Folha de São Paulo a vitória em primeiro turno poderia ocorrer, mas o
jornal através de seu periódico tentava colocar que um segundo turno seria
melhor para que se estudassem as propostas. Com isto o que se tem de fato é
um periódico no qual, a visão ideológica nada mais é do que a defesa dos
interesses das elites, no qual, a população participa do jornal, porem seus
anseios são decodificados sobre uma nova estrutura.
1066
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p.17.
MOTA, Carlos Guilherme & CAPELATO, Maria H. R. História da Folha de São
Paulo: 1921-1981. São Paulo: Impres, 1981.
REIS, Daniel Aarão. O Partido dos Trabalhadores: trajetória, metamorfoses,
perspectivas. In: Jorge Ferreira e Daniel Reis (Orgs). As esquerdas no Brasil
vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 503-540.
1067
Download

AS REPRESENTAÇÕES DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA NA