14 Brasil Econômico Quinta-feira, 19 de março, 2015 Ag. Vale ▲ EMPRESAS MINÉRIO DE FERRO Preço na China despenca 5,4% Os preços do minério de ferro no mercado à vista da China afundaram 5,4% ontem, chegando ao menor valor já registrado, em meio a preocupações com a demanda no país asiático. O temor do mercado é de que maiores restrições ambientais na China possam atingir a produção de aço e prejudicar o apetite pela matéria-prima no país que é seu principal consumidor. Reuters João Laet NÚMEROS 3,8 mi Volume de aço, em toneladas, consumido no Brasil nos dois primeiros meses de 2015, queda de 7,4% com relação ao ano anterior 18% Participação das importações no atendimento ao consumo interno, de acordo com dados do IABr. Compras externas aumentaram 24% em janeiro e fevereiro Nascimento, do CRU Group: consumo nacional de aço deve ter queda de 2% em 2014, mas pode reverter tendência já no ano que vem Siderurgia vê queda nas importações Com câmbio alto, aço chinês deve perder participação no mercado interno, segundo especialistas. No primeiro bimestre, porém, as compras no exterior cresceram 24% Nicola Pamplona [email protected] As importações brasileiras de aço continuam em alta, mas a desvalorização do real e as medidas de proteção da indústria nacional devem contribuir para equilibrar a balança comercial do setor e permitir que as siderúrgicas instaladas no país recuperem espaço. A avaliação é do consultor da área de aços semi-acabados e acabados do CRU Group, André Nascimento, que participou ontem da 21ª Conferência Mundial do Aço, no Rio. Segundo ele, o Brasil vai continuar sendo um importador líquido, condição adquirida em 2010, mas o déficit deve se reduzir drasticamente. Dados divulgados ontem pelo Instituto Aço Brasil (IABr) mostram que as importações brasileiras de aço cresceram 24% nos dois primeiros meses do ano, atingindo o volume de 696 mil toneladas — o equivalente a 18% do consumo interno. A maior parte deste volume, segundo Nascimento, vem da China. Por outro lado, o câmbio já vem tendo impacto nas exportações de aço brasileiro, que cresceram 22,7% no mesmo período, para 1,8 milhão de toneladas, “apesar das condições adversas do mercado internacional”, diz o comunicado do IABr. “Não acredito que o Brasil continuará importando tanto, a não ser produtos específicos”, disse o presidente da Imexbra Trading, Osvaldo Sicardi. Segundo ele, muitas siderúrgicas nacionais vinham optando por comprar produtos no exterior a preços menores para cumprir seus contratos no país, movimento que deve ser interrompido com a alta do dólar. “Mas ainda não chegamos a um patamar que pode absorver os aumentos de custos internos, que, para alguns especialistas, é de R$ 3,75”, completou. “ Não acredito que o Brasil continuará importando tanto. Mas ainda não chegamos a um patamar que pode absorver os aumentos de custos internos, que, para especialistas, é de R$ 3,75” Osvaldo Sicardi Presidente da Imexbra Trading A importação de aço chinês é um dos focos de reclamações do setor, uma vez que a siderurgia nacional vive anos de capacidade ociosa — segundo dados apresentados por Sicardi, com capacidade para produzir 48 milhões de toneladas por ano, as 29 usinas brasileiras país produzem hoje 34 milhões de toneladas. O setor alega que não há condições de competir com os produtores chineses — que já levaram ao fechamento de todo o pequeno parque siderúrgico chileno e hoje representam 100% do fornecimento de aços planos àquele país. Nascimento afirmou que não vê, no curto prazo, chances de fechamento de siderúrgicas na China, que poderia reduzir o excesso de capacidade de produção que joga os preços para baixo. Por outro lado, para presidente da CRU na China, John Johnson, não há muitas chances de aumento da capacidade local, uma vez que os proje- tos atuais operam com Ebitda negativo e as restrições ambientais aumentam ainda mais os custos. Segundo Johnson, o consumo chinês de aço ainda apresentará crescimento, embora em ritmo menor, até o fim da década, quando chegará ao seu pico. Para o período entre 2014 e 2019, ele projeta uma alta de 1% ao ano. Por enquanto, o país tem um diferencial de cerca de US$ 100 por tonelada com relação aos preços globais do aço — o que justifica a tomada de mercados de outros grandes produtores. No Brasil, por exemplo, a China respondeu, em 2014, por 70% das importações de aço. Em 2009, a participação chinesa era de 20%. “Espero que as importações diminuam no Brasil, com o câmbio e medidas de proteção ao mercado”, afirmou Nascimento, que vê ainda possibilidade de aumento nas exportações com a nova realidade cambial. Nascimento projeta uma queda de 2% no consumo interno de aço este ano, mas vê reversão da tendência já em 2016. Nos dois primeiros meses do ano, segundo o IABr, o consumo aparente de aço somou 3,8 milhões de toneladas, uma queda de 7,4% com relação ao verificado no mesmo período do ano anterior. Apesar disso, a produção nacional cresceu, com o maior incentivo às exportações: foram 5,6 milhões de toneladas de aço bruto e 4,1 milhões de toneladas de laminados, aumentos de 5,1% e 2,6%, respectivamente, sobre o mesmo período de 2014.