GAZETA DE PIRACICABA PIRACICABA, QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2015 CIDADE 3 9º Congresso Empresarial Acipi Líderes proativos No mundo pós-moderno, a inovação é a única alternativa para as empresas Del Rodrigues ADRIANA FEREZIM Da Gazeta de Piracicaba [email protected] psicanalista Jorge Forbes fez uma análise sobre a crise empresarial e as mudanças de comportamento necessárias para superá-la em um mundo pós-moderno. Ele apresentou a palestra Liderar em Tempos de Crise a um público que lotou o teatro da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). O evento faz parte do 9º Congresso Empresarial da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi), que tem patrocínio do Sebrae-SP, SicoobCocre, e apoio cultural da Gazeta de Piracicaba. Hoje, será apresentada no congresso a palestra da executiva do Facebook no Brasil, Camila Fusco. O tema é Facebook para negócios: como estabelecer sua presença on-line em um mundo cada vez mais conectado e sem fronteiras. O início do evento é às 19h30, na Unimep. Forbes argumentou que o maior problema dos empresários é que o planeta está em um novo momento, que ele chama de Terra 2, que apresenta uma série de novos sintomas. “Geograficamente, a Terra 2 é igual à Terra 1, com a mesma vegetação, animais, mas os empresários querem resolver os problemas da Terra 2, com os remédios da Terra 1, um exemplo é o pensamento do empresário com relação ao governo”, afirmou. Segundo ele, será cada vez menor a influência do governo sobre as empresas. “Todos os líderes e todas as empresas dizem que estão perdidos porque não entendem esse governo. É verdade. Está bastante confusa a situação política, mas independente de mensa- O Jorge Forbes: ‘A empresa hoje tem de ser fazedora de cultura e o empresário aprendeu que ela era fazedora de produtos’ lão e lava jatos. Há um aspecto fundamental na passagem de Terra 1 para Terra 2, teremos cada vez mais um Estado menos provedor. O filho espera a providência do pai. Eles terão de saber que terão de viver num mundo independente da posição do governo, terão de ser proativos, que inventar antes de cumprir a expectativa”. Forbes ressaltou ainda outros dois aspectos que estão afetando os líderes e as empresas, além da providência, que são a liderança e a sedução dos colaboradores. “Se ele passa a ser proativo e não espera a providência do Estado, ele passa a mandar, que é uma característica do empresário. O líder de hoje não manda. Até pouco tempo, isso acontecia. Hoje, ele tem de falar com conselho, steakholders (acionistas) e as pessoas (consumidores). O poder que ele pensava conservar é reduzido. Aí ele parte para seduzir seus liderados, oferecen- do plano de carreira incrível, aumento salarial, bônus, carro. Ele vê que os meninos trainees em grandes empresas se demitem um ou dois anos depois de contratados. Nosso empresário está absolutamente desesperado. Não consegue ser líder e comandar os liderados. A empresa, hoje, tem de ser fazedora de cultura e o empresário aprendeu que ela era fazedora de produtos. O caminho é fazer uma verdadeira revolução cultural”. Mesmo com toda essa mudança, o empresário terá de apresentar resultados e será cobrado. “Com sorte, ele terá um ótimo resultado econômico, mas verá que não será suficiente, porque é preciso um resultado cultural. As empresas hoje que se baseiam somente no estereótipo do resultado econômico irão sair do mercado”. NOVA FORMA Forbes explicou que o mercado globalizado é a passagem da modernidade para a pósmodernidade. “É besteira as pessoas ficarem pensando que ‘vamos parar a globalização, vamos cerceá-la, criar impostos, erigir muros nas fronteiras, controlar a internet, não deixar que a informação circule’. Todos os países que estão nesse caminho vão se dar mal. Nós não voltaremos mais atrás. Estamos no 5º período do laço social humano. O 1º foi o do cosmo (natureza). Para os gregos, o homem era natural. O 2º foi o religioso; o 3º, racional (período do Iluminismo), o 4º foi o da desconstrução de todos, e teve início o século 21, com um novo humanismo, e essa marcha da história é irrefreável. É preciso descobrir de que maneira vou produzir, frequentar e habitar esse mercado”. Segundo ele, o século 21 vai exigir um líder pós-moderno e uma nova política. “Ela não será centralizada em Brasília. Esse tipo de política que conhecemos até hoje. As ruas já estão nos mostrando isso. Se em 1968 e em 1974 as pessoas protestavam por um motivo, em 2013 houve uma multiplicidade de vozes. Os meninos mostraram que essas vozes têm de ser captadas da mesma maneira que um viral, e não em uma ordem única de uma bandeira de luta”. Para ele e os pensadores que buscam um conceito para o século 21, ele terá uma sociedade de apostas, sem garantias. “Terá a necessidade de dar campo à inovação responsável”. Nesse novo contexto, as novas relações entre patrões e empregados estão seguindo novos modelos, as pessoas não ficam mais na empresa pelo futuro corporativo. Elas buscam um futuro singular. “O espírito empreendedor é um espírito do tempo, porque num mundo não padronizado é preciso inventar e quem inventa é um empreendedor. A posição dele é, por excelência, necessária a esse novo mundo”. No momento, o setor mais sensível às mudanças é o tecnológico. “São meninos fazendo startups. É preciso ressaltar que um dos aplicativos mais eficientes de trânsito, o Waze, não foi criado pela Mercedes ou Ford. Quem inventou o Iphone não foi uma companhia telefônica. Isso quer dizer que as empresas estão emburrecendo, envelhecendo, declinando. O novo está fora. Se o novo continuar fora, quem vai perder são as empresas. O empresário tem consciência dos problemas, mas estamos longe da solução. A mudança não vai demorar, porque as empresas vão falir se não romperem com a Terra 1. Como exemplo de que essa mudança é possível, temos Richard Branson, da Virgin, e Steve Jobs, da Apple. Eles romperam com a Terra 1”.