EDUCAÇÃO 'Acredito na educação como libertação', diz Janine em entrevista O novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou em entrevista à TV Brasil que não vê a educação como mera transmissão de conhecimento. "Acredito na educação como libertação. Não é uma transmissão de conteúdo, uma padronização das pessoas", afirmou ele em entrevista ao programa "Observatório da Imprensa", que foi ao ar na noite desta terça-feira (31). Segundo o jornalista Alberto Dines, apresentador do programa, a entrevista foi gravada na segunda-feira (30), e o convite para que ele participasse do programa foi feito há seis dias, portanto antes do anúncio, na última sexta-feira (29), de que ele havia sido nomeado pela presidente Dilma Rousseff para chefiar o Ministério da Educação. A posse do novo ministro está marcada para a próxima segunda (6). A entrevista durou cerca de uma hora. Nela, Janine, que é professor aposentado de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo (USP), afirmou que não se pronunciaria sobre assuntos específicos do MEC, já que ainda não está empossado no cargo. "Não só não tomei posse como ainda há todos os dossiês, questões específicas que tenho que estudar antes de me pronunciar", explicou ele. Entrevistador e entrevistado, porém, chegaram a discutir aspectos gerais da educação, entre outros temas, como o golpe militar de 31 de março de 1964, que completou 51 anos nesta terça, a mobilização política, a polarização partidária e intolerância na sociedade brasileira atual e a importância tanto das novas mídias como a mídia impressa tradicional. Educação e cultura Janine mencionou o método socrático como uma forma de educação na qual o estudante não é tratado como uma lousa vazia ou um "ignorante que precisa ser corrigido no saber correto". Segundo ele, o método desenvolvido por Sócrates parte do pressuposto de que "todo mundo tem dentro de si uma possibilidade de conhecimento enorme, mas tem que ser orientado, tem que ser extraído, tem que dar à luz". O oposto disso seria a "ideia de professor que sabe tudo, e quer informar os ignorantes que nada sabem, que é uma visão antiga, mas que perdura em vários meios na sociedade", explicou ele. "Não precisamos de uma erradicação da ignorância em substituição de algo pronto." Outra ideia levantada pelo novo chefe da pasta de Educação é incluir elementos complementares no "mundo da educação", que, segundo ele "é muito regulado", com diplomas, currículos e outras estruturas. Ele deu como exemplo um conteúdo de ciências humanas como a questão dos escravos nos Estados Unidos. Em vez de o professor apenas usar uma lousa ou seu discurso para transmitir informações sobre esse assunto, EDUCAÇÃO ele sugere, por exemplo, que os alunos assistam a um filme como "Lincoln", numa tentativa de mesclar os mundos da educação e da cultura. "Conhecer é prazeroso. Por que a gente deixou, ao longo dos séculos, que conhecer se tornasse uma corveia [exigência], uma obrigação, e não um prazer? Dá para a gente puxar mais para esse lado na educação." Papel do professor Em suas respostas, Janine explicou que defende a "substituição de modelo de conhecimento de aprendizagem em que o foco está na pessoa que aprende, e que vai aprender de maneira diferente". Segundo ele, apesar de os estudantes hoje terem acesso a outras fontes de conhecimento – um fenômeno ao qual os professores precisam se adaptar–, o professor continua sendo "fundamental". Para o novo ministro, o papel do professor neste contexto não é ofuscado pelo papel da internet como fonte ilimitada de conhecimento, porque o professor, ao contrário da web, sabe indicar quais informações são incorretas e equivocadas. "Hoje, qualquer aluno pode procurar na internet o que ele quer, e isso é às vezes uma fonte de estresse para o professor, porque o aluno, por um detalhezinho, pode achar que conhece mais do que ele", explicou. "Mas a internet é cheia de mentira, cheia de equívoco." Nomeação O professor de ética foi convidado para o cargo de ministro da Educação na última quinta-feira (28), e agora prepara sua mudança para Brasília. "Estou muito empolgado", disse ele sobre o cargo que vai assumir na próxima segunda. "Foi uma surpresa, eu realmente não esperava. Tinha havido algumas postagens no Facebook em favor do meu nome, mas em favor de outro nomes também, defendendo o nome de um educador. Claro que isso não influencia, a presidenta escolhe quem quiser, dentro de certos critérios. Então não foi totalmente inesperado, mas que foi uma enorme surpresa, foi", explicou. Redes sociais e intolerância Desde a sua nomeação, Janine anunciou que deixaria suas funções de colunista no jornal "Valor Econômico". Porém, ele ainda não disse se abandonaria as publicações em seu perfil pessoal no Facebook, que, em quatro dias, já angariou cerca de 20 mil novos seguidores (na noite desta terça, eles já passavam de 45 mil). EDUCAÇÃO Na entrevista, o novo ministro deu detalhes sobre como reage aos comentários raivosos e afirmou que, embora permita maior liberdade às pessoas, a internet também criou um fenômeno de intolerância por causa da facilidade e velocidade com que qualquer pessoa pode publicar qualquer comentário. "Uma coisa que a gente nota no Facebook é que as pessoas colocam uma metralhadora no comentário. Você posta três, quatro linhas e um link para um texto. E as pessoas discutem as três, quatro linhas", afirmou ele. "Quando você tinha carta, se você ficava irritado, tinha que pegar papel, uma caneta ou uma máquina de escrever. Tinha que escrever, colocar no envelope, colar e postar. Isso te dava tempo para se arrepender", disse, afirmando que já notava essa intolerância no uso do e-mail, mas agora, com o Facebook, isso acontece "mais ainda". Em um tom bem humorado, o novo ministro defende que haja um "delay" (atraso) entre a redação de um comentário e a publicação dele. "Quando termina de escrever um post, dá cinco minutos antes de poder postar. Isso dá um certo tempo. E bate com aquela ideia de conte até dez. Vai respirar, se equilibrar, colocar [a cabeça] mais no eixo, e manter a calma". Fonte: Portal G1/ educação Data: 31 de março