ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA
DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO:
Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista
.
São Luís
2007
ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA
DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO:
Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista
Monografia apresentada ao curso de
História Licenciatura da Universidade
Estadual do Maranhão, para obtenção do
grau de Licenciado em História.
Orientador: Profº. Ms. Paulo Roberto Rios
Ribeiro.
São Luís
2007
Silva, André Costa Machado
Direitos humanos e trabalho no Capitalismo: Conflitos e
Contradições na Guarda do Sábado Adventista/André Costa
Machado Silva. - São Luís, 2007.
116 f.
Monografia (Graduação em História) – Curso de História,
Universidade Estadual do Maranhão, 2007.
1. Adventismo. 2. Trabalho. 3. Capitalismo. Ι. Título.
CDU 342.731:286.3
ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA
DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO: Conflitos e
Contradições na Guarda do Sábado Adventista
Monografia apresentada ao curso de
História Licenciatura da Universidade
Estadual do Maranhão, para obtenção do
grau de Licenciado em História.
Aprovada em: ______/______/______
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profº. Ms. Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador)
Mestre em História
Faculdade São Luís
_________________________________________
Profª. Ms. Elizabeth Abrantes
Mestre em História
Universidade Estadual do Maranhão
_________________________________________
Profº. Ms. Carlos Aberto Ximendes
Mestre em História
Universidade Estadual do Maranhão
A Deus, criador dos céus e da terra, pelo dom
da vida, por ser minha eterna fortaleza e por
atender
com
grandeza
às
minhas
necessidades.
Aos meus amados pais, Ademar Machado Silva
e Maria dos Reis Costa Silva, pelo amor,
compreensão, força e dedicação constantes, a
vocês minha eterna gratidão.
AGRADECIMENTOS
A meu orientador Professor Mestre Paulo Rios, pela dedicação, confiança
e competência na orientação deste trabalho.
A minha irmã Andreia Costa, pela cumplicidade e disponibilidade em
ajudar nas situações mais difíceis.
A minha prima Cristhiane Sampaio, pelo companheirismo e amizade.
A toda minha família, tios, primos e avós, pelo, carinho, cuidado e afeto,
em especial a Cleides Machado, Maria da Paz Costa e Salustiano Costa (in
memorian).
A todos os professores do Curso de História da Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA), pelo conhecimento, competência e disponibilidade fornecidos no
decorrer do curso, em especial a Alan Kardec, Helidacy Muniz, Henrique Borralho,
Adriana Zierer, e Marcelo Galves.
À Banca Examinadora, pela importante colaboração no aperfeiçoamento
deste trabalho.
A todos os colegas da turma, pela convivência e experiências partilhadas.
Aos grandes amigos Rafael Serra, Hugo Aurélio, e Eduardo Gomes pelo
companheirismo, alegrias vividas durante a vida acadêmica e por compartilharmos
nossos conhecimentos e expectativas de futuros Historiadores.
A amiga Tatiane Sales, pela força, determinação, cumplicidade e por
todas as alegrias e ajudas fornecidas durante o curso.
A amiga Cleonice, pela coragem, companheirismo e disponibilidade em
ajudar.
As amigas Lellya e Elizangela, pelo apoio, carinho e afeto demonstrados.
A minha querida amiga Pollyana, pelo carinho, companheirismo, e
alegrias vividas durante a vida acadêmica.
A Roberta, Edílson, e Márcio, pela disponibilidade e prontidão.
A José Carlos Ferreira, pela disponibilidade e apoio técnico.
A todos aqueles que disponibilizaram o seu tempo para que esta pesquisa
fosse realizada, permitindo através de sua participação, a elaboração deste estudo e
de possíveis reflexões quanto à questão da liberdade religiosa em nosso Estado.
Principalmente, sobre a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia.
"Toda pessoa tem direito à liberdade de
pensamento, consciência, religião; este direito
inclui a liberdade de mudar de religião ou crença
e a liberdade de manifestar essa religião ou
crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e
pela observância, isolada ou coletiva, em público
ou particular."
(Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos)
RESUMO
Este estudo tem por finalidade mostrar o conflito existente entre a guarda do Sábado
pelos Adventistas do Sétimo Dia e a lógica do controle do capital sobre o trabalho no
Sistema Capitalista. A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia,
tem causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos princípios do
Capitalismo. Uma das características do Capitalismo é o controle sobre o tempo, que
é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a
ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser regido
pelo mundo Capitalista. Daí, ocorrer uma discordância entre o Capitalismo e a Igreja
Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado. Em que, ambos os lados
não flexibilizam suas convicções. Destaca o papel que o Estado exerce nesse
conflito existente entre a Igreja Adventista e o Capitalismo, em relação às leis
existentes, na Constituição Federal. Delimita-se a Igreja Adventista no Maranhão
nesse contexto antagônico entre a guarda do Sábado da Igreja Adventista do Sétimo
Dia e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista. Retrata-se o
comportamento dos Adventistas do Sétimo Dia diante do dilema que enfrentam na
sociedade Capitalista a qual fazem parte: Preservar os seus princípios religiosos, no
caso, guardar o Sábado, ou ceder às pressões do Sistema Capitalista. Através da
realização de entrevistas, mostramos esse conflito nas suas mais variadas formas.
Palavras-chave: Adventismo. Trabalho. Capitalismo.
ABSTRACT
This study intents to show the existing conflict between the Sabbath keeping by
Seventh-day Adventists and the capital control logic on the work in the Capitalism
System. The Sabbath keeping by the Seventh-day Adventist Church has provoked
serious ideological and work conflicts in relation to the Capitalism principle. One of
the Capitalism characteristics is the time control – a primordial action for the
lucrativity increasement. Time of each worker comes to be watched and
chronometred. The day of rest of a worker comes to be ruled by the Capitalist world.
Due to that, there is a divergence between the Capitalism and the Seventh-day
Adventist Church. Both sides don’t flexibilize their convictions. It’s jut in evidence the
State role in that conflict in relation to the laws approved in the Federal Constitution.
It closes the Seventh-day Adventist Church in the Maranhão State in that antagonic
context between the Sabbath keeping by the Seventh-day Adventist Church and the
work importance for the Capitalist System. It portrays the Seventh-day Adventist
behavior before the dileme they face in the Capitalist society they belong: To keep
their religious principles, in this case, to keep the Sabbath, or to release the
pressures of the Capitalist System. Through interviews this antagonism in its several
forms is shown.
Key- words: Adventism. Work. Capitalism.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
2 A HISTÓRIA DA IGREJA ADVENTISTA DO 7° DIA.............................................15
2.1 Antecedentes......................................................................................................15
2.2 Origem, Expansão, e Crises..............................................................................19
2.3 Estrutura Administrativa e Sinopse Doutrinária.............................................23
2.4 O Adventismo no Brasil.....................................................................................27
.
2.5 O Adventismo no Maranhão..............................................................................30
2.6 Incompatibilidade com Outras Doutrinas Evangélicas..................................33
3 O CONFLITO ENTRE O ADVENTISMO E O SISTEMA CAPITALISTA...............40
3.1 Secularização do Estado Brasileiro.................................................................40
3.2 Liberdade e Pluralismo Religioso....................................................................49
3.3 A Relação entre Trabalho e Religião................................................................56
3.4 A Guarda do Sábado na Sociedade Capitalista..............................................60
4 CONFLITOS E CONTRADIÇÕES NA REALIDADE MARANHENSE...................70
4.1 Composição social do Adventismo.................................................................70
4.2 A Posição do Sistema Capitalista....................................................................73
4.3 A Posição da Administração Adventista.........................................................76
4.4 Estado e Sociedade Face ao Adventista.........................................................80
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................85
REFERÊNCIAS.......................................................................................................87
APÊNDICE..............................................................................................................93
1 INTRODUÇÃO
A questão religiosa no Brasil é um assunto que vem atraindo vários
autores das ciências sociais, encantados pelo caso, principalmente antropólogos,
sociólogos e historiadores. Embora o empenho seja grande no propósito de explicar
de modo claro e objetivo o assunto, sempre fica algo a ser compreendido, talvez
pela pluralidade de temas a serem explorados e várias divergências entre os
estudiosos.
No Brasil, a questão religiosa vem sendo abordada por vários estudiosos.
Dentre eles, destacamos GRUMAN (2005a), que vem mostrando que a
secularização na política implicou na separação entre Estado e Igreja. O Estado
brasileiro adquire autonomia em relação ao grupo religioso ao qual estava vinculada,
no caso, a Igreja Católica Romana, estabelecendo a liberdade religiosa e de culto.
Lutherk (2006a) retrata em geral, os estudos sobre a relação evangélicos
e mídia se notabilizando pela apreciação geral que fazem do assunto. Considerando
a situação de
pluralismo religioso
e a sociedade contemporânea como
mercadológica e a necessidade de se estudar as rádios evangélicas do Rio de
Janeiro. Identifica que as mídias religiosas que tem por motivação a livre
concorrência e não a missão e o proselitismo.
BURITY (2006a) faz um crivo da participação política, entendendo-a como
expressão de valores próprios aos grupos e atores religiosos e dos conflitos entre
seus diferentes "mundos", mas também como espaço de encontro da lógica religiosa
com a lógica da negociação, da representação e da pluralidade. Começa com uma
discussão sobre o problema da nomeação, identificação, singularizarão da religião,
salientando a enorme dificuldade de estabilizar, sob conceitos claros e nítidos a
essência do fenômeno ou a autoridade de quem fala em seu nome.
Direcionando-se para o estudo de nosso tema, ou seja, sobre o conflito
existente entre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Sistema Capitalista em relação
ao sábado, SCHEINMAN (2006a), analisa a questão da liberdade religiosa e os seus
limites. Buscando analisar a questão de forma legalista, fazendo considerações
acerca da nova concepção dos direitos humanos, da liberdade do indivíduo e da
liberdade religiosa em espécie. Traça, em linhas gerais, princípios aplicáveis a todas
as situações em que, de alguma forma, por imposição legal, estatutária, hierárquica,
etc., se verifique o cerceamento da liberdade religiosa, no exercício das atividades
normais ou usuais do cidadão.
MANCE (2006a) apresenta como o sistema capitalista atual, em função
da produção de mais valia, necessita produzir subjetividades. A fim de se
compreender conceitualmente este fenômeno ele explicita o que se caracteriza
como "subjetividade" e o que se entende por "capitalismo atual". O instrumental
adotado para tanto advém da semiótica política, razão pela qual ele enfatiza as
mediações sígnicas peculiares ao giro do capital, à produção das mercadorias, à
promoção do consumo e a necessária produção das subjetividades para a
realização deste movimento.
FONSECA (2006a) aborda o sentido primeiro do trabalho e o poder de
determinação,
primeira,
do
trabalho
nas
formas
dos
homens
existirem
historicamente. Tenta mostrar o debate em torno da ontologia do trabalho, como
uma maneira de entendermos que o trabalho cria o homem, a sociedade e a história.
Nosso trabalho se volta para um estudo histórico a nível regional,
analisando o conflito existente da Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Sistema
Capitalista em relação ao dia de Sábado. Dado a sua importância, sentimos a
necessidade de analisar o conflito existente entre a guarda do Sábado dos
Adventistas e a importância do trabalho para o Capitalismo, no Maranhão.
Caracteriza-se por ser um estudo pioneiro, em relação a este tema tão instigante,
em que, tentará apontar e justificar os elementos característicos desse conflito.
O presente trabalho tem por finalidade mostrar, o antagonismo existente
entre a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo e os Dogmas do
Capitalismo. Refletindo sobre o assunto, percebemos que deste o século XIX,
período do surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ocorre uma inflexibilidade
entre as duas filosofias. A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo
Dia, tem causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos
princípios do Capitalismo.
Para os Adventistas, o quarto mandamento da imutável lei de Deus,
requer a observância deste Sábado do Sétimo Dia como o dia de descanso,
adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do
Sábado. Declaram que o Sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus
com seu povo. Crêem que a prazerosa observância deste tempo Sagrado duma
tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos
criadores e redentores de Deus.
Uma das características do Capitalismo é o controle sobre o tempo, que é
primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a
ser regido pelo Sistema Capitalista. Daí, ocorrer esse antagonismo entre o
Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado.
Em que, ambos os lados não flexibilizam suas convicções. Na Sociedade
Contemporânea regido pelo viés Capitalista, é impossível à humanidade parar
simultaneamente um só dia na semana. Exceto quando acontecem greves, mesmo
assim não é simultâneo. Para o Capitalismo se toda a humanidade resolvesse
Guardar o Sábado, seria um caos total em setores imprescindíveis, como a energia
elétrica, saúde, segurança, abastecimento de água, combustíveis e indústrias
diversas.
Este estudo tem por objetivo se reportar a este antagonismo, existente
entre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Mundo Capitalista em relação ao
Sábado. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, os grandes princípios da lei de
Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo.
Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das
relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas.
Escolhemos como objeto de estudo, e pesquisa, o tempo histórico
relacionado aos meados do século XX, em relação ao período de surgimento da
Igreja Adventista no Maranhão. Delimitamos-nos, a Igreja Adventista no Maranhão
nesse contexto de conflito entre a guarda do Sábado da Igreja Adventista do Sétimo
Dia e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista. O comportamento entre
a guarda do Sábado dos Adventistas e a sociedade Capitalista Maranhense.
Conduzimos à elaboração desse estudo, atuando no campo da história
social. O estudo sobre esse tema, tentará mostrar o comportamento dos Adventistas
do Sétimo Dia diante do dilema que enfrentam na sociedade Capitalista a qual
fazem parte. Preservar os seus princípios religiosos, no caso, guardar o Sábado, ou
ceder ás pressões do Sistema Capitalista.
Através da utilização da história oral, método caracterizado pelos fatores
antropológicos, que se preocupa em construir a história de baixo para cima,
adotamos a realização de entrevistas para percebermos o dilema que os membros
da Igreja Adventista do Sétimo Dia enfrentam, em ter que escolher entre seus
princípios religiosos (no caso, a guarda do Sábado, por crer que é o dia descanso
abençoado por Deus) e a necessidade de ter que trabalhar nesse dia para não
perderem os seus empregos. As fontes orais foram de grande importância para
entendermos o antagonismo entre a guarda do Sábado pelos Adventistas e a
importância do trabalho para o Sistema Capitalista, na realidade local.
Os capítulos que compõem este estudo retratam esse antagonismo
presente na sociedade capitalista. O segundo capítulo, A História da Igreja
Adventista do 7° Dia, relata o surgimento, o desenvolvimento, e a estruturação do
movimento Adventista no mundo. Seu surgimento no Brasil, e a formação da Igreja
Adventista no Estado do Maranhão. No capítulo referente ao Conflito existente entre
o Adventismo e o Sistema Capitalista, abordamos sobre a formação da
secularização do Estado Brasileiro, que proporcionou à liberdade religiosa,
consolidando o pluralismo religioso existente no país. Além de analisarmos a guarda
do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia na sociedade capitalista. O quarto
capítulo examina esse Antagonismo no Estado do Maranhão, através de fontes
documentais e principalmente fontes orais, construídas apartir de alguns envolvidos
nesses conflitos.
2 A HISTÓRIA DA IGREJA ADVENTISTA DO 7° DIA
2.1 Antecedentes
Antes de se abordar sobre a história da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
julgou-se conveniente fazer ligeiras considerações sobre fatos que antecederam a
sua história, incluindo-se neste quadro o Movimento Milerita, surgido nos Estados
Unidos na década de 1840, o qual está estreitamente ligada aos Adventistas do
Sétimo Dia.
Guilherme Miller foi um fazendeiro, e um atuante evangelista da Igreja
Batista americana. Seus estudos das Escrituras Sagradas levaram-o a estabelecer
outras crenças: que Cristo voltaria de maneira pessoal e visível, nas nuvens dos
céus no ano de 1844 (séc. XIX), de acordo com as profecias do profeta Daniel,
escrita na Bíblia Sagrada, localizada no Velho Testamento (Daniel 8:14) 1; que os
Justos mortos ressuscitariam incorruptíveis e os Justos vivos seriam transformados
para a imortalidade; que os Santos seriam apresentados a Deus; que a terra seria
destruída pelo fogo; que os Ímpios seriam destruídos e seus espíritos conservados
em prisão até sua ressurreição e condenação; e que o único milênio ensinado na
Bíblia eram os mil anos que se seguiam à ressurreição.
DICK (1976:23) afirma que durante nove anos o Sr. Miller lutou para ver
se podia interessar alguém a apresentar essa mensagem ao público. O Sr. Miller foi
muito bem recebido por suas mensagens, influenciando as pessoas através de suas
pregações. Miller, juntamente com diversos religiosos das mais diferentes
denominações, chegou à seguinte conclusão: que Cristo Jesus voltaria a Terra em
1
Daniel 8:14 – “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhâs, e o santuário será purificado.”
22 de Outubro de 1844, ou seja, o dia da expiação do povo judeu. No verão de
1844, grande número de membros de diversas denominações religiosas por
aceitarem as mensagens de Guillerme Miller, abandonaram suas igrejas ou foram
expulsos por elas.
Em uma campanha na Filadélfia, o movimento Milerita alugou o museu
Chinês que era considerado um dos maiores lugares de reunião da América daquele
período, comportava 15 mil pessoas. Neste evento, Elon Galusha, filho do
Governador Galusha de Vermont, aceitou a mensagem pregada por Miller. Cerca de
100 mil pessoas esperavam Cristo nas nuvens do céu, na data marcada pelo
movimento Milerita, 22 de outubro de 1844.
DOUGLASS (2001:50) destaca que passada a data esperada, nem todos
os mileritas, porém, tinham o mesmo parecer depois do Grande Desapontamento2.
Nem todos podiam dizer que estavam desapontados, mas não desanimados. Por
um lado, idéias radicais geraram comportamentos radicais. Alguns antigos líderes,
crendo que Cristo havia vindo de fato espiritualmente, adotaram “as núpcias
espirituais’’, através das quais renunciavam ao casamento e formavam novas uniões
“espirituais”, destituídos de sexo, com novos parceiros”. Outros, crendo que o
sábado milenar havia começado naquela época, e para mostrar sua fé nessa
crença, não faziam mais nenhuma espécie de trabalho secular. 3
Por outro lado, diferenças doutrinárias começaram a separar os
seguidores de Miller. Eles logo se dividiram em pelo menos quatro grupos. Os
conhecidos como adventistas evangélicos, abandonaram os ensinos proféticos de
Miller e foram absorvidos em outros grupos protestantes ao tornar-se evidente que
quase nada os separava. Outro grupo começou a acreditar que o milênio havia
2
O Grande Desapontamento foi o termo dado ao momento de decepção que passou o movimento Milerita após
22 de outubro de 1844, data prevista para o retorno de Cristo a Terra.
3
Trabalho secular significa todo trabalho com fins materiais para o homem.
ficado no passado, que os mortos agora “dormiam” esperando a ressurreição e que
os ímpios seriam aniquilados. Por fim, esses se tornaram conhecidos como a Igreja
Cristã do Advento, hoje, o maior remanescente não observador do sábado,
proveniente do adventismo milerita.
Centralizado ao redor de Rochester, Nova Iorque, outro grupo via o
milênio como estando ainda no futuro, durante o qual os judeus voltariam para a
Palestina. Contrários à organização formal da igreja, esses adventistas da “Era
Vindoura” nunca se tornaram fortes nem unidos. O quarto grupo ficou conhecido
como os adventistas do “Sábado e da Porta Fechada”. Por meio de oração, estudo
da Bíblia e confirmação divina, eles desenvolveram uma base lógica para os
acontecimentos centralizados em 22 de outubro de 1844. Este grupo disperso
finalmente encontrou sua unidade e missão, vindo a chamar-se Adventistas do
Sétimo Dia, a maior corporação de mileritas hoje existente, como ilustram as
palavras de SARAIVA (2002:31):
“Para os que continuaram perseverando o desapontamento não foi o fim.
Foi apenas o começo. Deste grupo bem pequeno de fiéis, surgiu a Igreja
Adventista do Sétimo Dia. Dentre estes podemos citar Hirão Edson, José
Bates, Tiago White e Ellen Harmon, que mais tarde recebeu sobrenome de
White, quando se casou com Tiago White; e outros”.
Este pequeno grupo de adventistas voltou-se para o estudo da Palavra de
Deus, para descobrirem o porquê do desapontamento. Através do estudo da Bíblia e
de muita oração, eles concluíram que a data de 22 de outubro estava correta,
porém, Guilherme Miller tinha previsto o evento errado para aquele dia. Eles
afirmaram que a profecia de Daniel 8:14 previa não o retorno de Jesus à Terra em
1844, mas que Ele começaria naquela data um ministério especial no Céu para seus
seguidores.4 Assim, este quarto grupo continuou a esperar pelo breve retorno de
Jesus, como fazem os Adventistas do Sétimo Dia até hoje.
Deste pequeno grupo que se recusou a desistir da esperança da segunda
vinda de Cristo, destacam-se como co-fundadores da Igreja Adventista do Sétimo
DIA: Tiago White, Ellen G. White, e José Bates. Tiago James Springer White, em
1846 aceitou a verdade do Sábado e, em 1849, começou a publicar a revista
Present Truth.
À medida que crescia o número dos adventistas guardadores do Sábado,
Thiago White insistiu para que constituíssem uma organização, liderou o
desenvolvimento da obra editorial, educacional e médica da Igreja. Sua esposa Ellen
Gould White, dotada com o dom profético conforme descrito na Bíblia, tornou-se
escritora e oradora ilustre, bem como obreira incansável e bem-sucedida em edificar
e expandir o movimento do advento. José Bates, foi um dos primeiros a aceitar a
doutrina da guarda do Sábado, e também um dos primeiros a defender a reforma de
saúde, abandonando o uso de alimentos cárneos, chá e café.
De acordo com DICK (1976:95), os Adventistas do Sétimo Dia têm fortes
laços históricos com os Batistas do Sétimo Dia. Uma batista do sétimo dia, Raquel
Oaks Preston, comunicou a verdade do Sábado a José Bates, um dos pioneiros da
Igreja Adventista, que depois de um cuidadoso estudo, a aceitou. Os primitivos
mileritas adventistas guardavam o domingo até que estudaram o assunto do Sábado
bíblico, depois de terem sido encaminhados pelos batistas do sétimo dia, onde
passaram a guardar o Sábado bíblico.
4
Para os Adventistas do Sétimo Dia, a profecia de Daniel 8:14, coloca que o ano de 1844 é significativo porque
foi o ano do maior movimento em favor do segundo advento na história eclesiástica. Da mesma importância,
1844 deu inicio a um processo celestial que significa, em última instância, o clímax da purificação final do
pecado no Universo.
2.2 Origem, Expansão, e Crises
No dia 23 de outubro de 1844, dia seguinte após o “Grande
Desapontamento”, Hirão Edson, um jovem seguidor do movimento Milerita, seguia
por um milharal onde foi lhe revelado a explicação do porque que Jesus não voltou
na data prevista por Guilherme Miller. Segundo os Adventistas do Sétimo Dia, Jesus
revelou a Hirão Edson à verdade sobre o Santuário, como relata o teólogo e
historiador MAXWELL (1982:50):
“Detive-me em meio ao campo. O céu parecia abrir-se-me à vista e vi
distante e claramente que em lugar de nosso Sumo Sacerdote sair do lugar
Santíssimo (22 de outubro). Ele pela primeira vez entrava nesse dia no
segundo compartimento desse santuário; e que Ele tinha uma obra para
realizar no Santíssimo antes de vir a terra”.
De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, Jesus Cristo revelou a
Hirão Edson as respostas fundamentais encontradas na Bíblia Sagrada, no Velho
Testamento, no livro de Daniel 75, e no Novo Testamento, nos livros de Hebreus 8 e
96, e de Apocalipse 10:9-117, que até então, o movimento Milerita havia explicado
erroneamente. Após o Grande Desapontamento, a profecia de Daniel tornou-se
obscura para aqueles que aguardavam a volta de Jesus em 22 de outubro. Com a
revelação dada a Hirão Edson no milharal, Thiago White, Ellen G. White, e José
Bates, estudaram e reestudaram a profecia de Daniel, e entenderam que o fim dos
5
O Livro de Daniel 7, encontrado na Bíblia Sagrada no Velho Testamento, relata o sonho que o profeta Daniel
teve a respeito dos animais simbólicos. Para os Adventistas do Sétimo Dia, este capítulo apresenta o grande juízo
no Céu, que leva diretamente à segunda vinda de Jesus e o fim deste mundo como o conhecemos. Em resumo,
em Daniel 7, temos uma apresentação do juízo do pré-advento(julgamento daqueles que professam o nome de
Cristo, antes que aconteça a sua segunda vinda.).
6
De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, os capítulos 8 e 9 do livro de Hebreus, têm como tema central a
idéia do Santuário Celestial, onde Cristo é o Sumo Sacerdote, no contexto do grande plano da salvação.
7
Em Apocalipse 10:9-11, segundo os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, retrata o papel do
remanescente de Deus na proclamação do eterno evangelho de salvação pela fé em Cristo. Ou seja, o
remanescente tem a missão de preparar o mundo para o retorno de Cristo.
2.300 dias não se daria a volta de Cristo, mas o início do Juízo Investigativo8. Ou
seja, nesta data Jesus saiu do lugar Santo e passou ao lugar Santíssimo, no Céu. A
partir dessa nova interpretação a respeito da profecia de Daniel 8:14, surge a Igreja
Adventista do Sétimo Dia.
Segundo MAXWELL (1982:75), a Igreja Adventista do Sétimo Dia surgiu
entre as décadas de 1850 e 1870, concomitantemente nos Estados Unidos e na
Europa. Dentro deste movimento uma atenção especial foi dada ao estudo da Bíblia,
tanto do Novo como do Velho Testamento. O movimento adventista foi alicerçado
por doutrinas tais como; a Volta de Jesus, A Justificação pela Fé em Cristo, O
Santuário, O Sábado, Espírito de Profecia, A Reforma de Saúde, O Estado do
Homem na Morte e outras.
Apesar do nome “Adventista do Sétimo Dia” ter sido escolhido em 1860,
DOUGLASS (2001:253) afirma que a denominação só foi organizada oficialmente
em 21 de maio de 1863, quando o movimento era composto de 125 igrejas e 3.500
membros. A Igreja Adventista, até 1874, concentrava a pregação do evangelho
somente na América do Norte. J. N. Andrews, em 1874 foi enviado como o primeiro
missionário adventista do sétimo dia a países fora da América do Norte. Andrews foi
enviado para a Suíça, primeiro país europeu a receber a mensagem adventista.
Teólogo capaz, fez importantes contribuições para o desenvolvimento de várias
doutrinas da Igreja, inclusive o tempo de iniciar-se e encerrar-se o Sábado. Foi o
terceiro presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
8
Segundo os Adventistas do Sétimo Dia em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Cristo iniciou a
segunda e ultima etapa de Seu ministério expiatório. É a obra do juízo investigativo, conhecido também como
juízo do pré-advento, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado. O juízo investigativo revela aos seres
celestiais quem dentre os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto, Nele, considerado digno de ter parte na
primeira ressurreição. Também torna manifesto quem, dentre os vivos, permanece em Cristo, guardando os
mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que crêem em
Jesus, antes do Segundo Advento.
O continente africano recebeu as primeiras mensagens da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, a partir de 1879, através do recém-convertido na Itália, o
Dr. H. P. Ribton, que se transferiu para o Egito, onde fundou uma escola. O primeiro
país não-protestante a ser atingido pelo movimento adventista foi a Rússia, em 1889
com a chegada de um pastor da Igreja. No ano de 1890, missionários deslocaram-se
para as Ilhas do Pacífico levando a mensagem adventista. Os Adventistas do Sétimo
Dia chegaram a países não-cristãos a partir de 1894 tais como; Costa Dourada,
Gana, África Ocidental, Matabeleland, e África do Sul. Neste mesmo período,
missionários são enviados para a pregação do evangelho na América do Sul. O
primeiro país do mundo Oriental a receber a doutrina adventista foi o Japão, no ano
de 1896.
Um dos principais fatores para o crescimento do Movimento Adventista no
mundo foi a publicação e a distribuição de sua literatura. A primeira casa publicadora
Adventista surgiu em 1855, em Battle Creek, Michigan, e foi incorporada em 1861
com o nome de Associação de Publicações dos Adventistas do Sétimo Dia.
Transcorrido mais de um século de existência da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
atualmente ela proporciona o estabelecimento do Adventismo em 209 países, com
quase 15 milhões de membros ao redor do mundo.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia teve algumas crises e dissidências
durante sua história. Em 1906, houve uma crise denominada Panteísta9, onde vários
lideres da Igreja acreditavam que Deus era uma essência impessoal que permeava
todo o universo. No período da I guerra mundial, por divergências locais da liderança
adventista na Alemanha, foi estabelecido de maneira contrária aos princípios do
não-porte de armas e da atividade no dia de Sábado para os membros da Igreja na
9
O Panteísmo é o sistema filosófico que identifica a divindade com o mundo e segundo o qual, Deus é o
conjunto de tudo quanto existe.
Alemanha. Este episódio proporcionou um movimento dissidente que se tornou a
igreja adventista da reforma, os quais denominam a Igreja Adventista do Sétimo Dia
de Babilônia.
No ano de 1929, o búlgaro-americano Victor Houteff publicou novas
profecias e interpretações que foram rejeitadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Criaram-se várias denominações independentes, como a igreja Adventista do Ramo
Davidiano, dirigida por David Koresh. Na virada do século XIX, a Igreja Adventista
havia rejeitado a corrente que deu origem às igrejas pentecostais. Porém, em 1932 o
pastor adventista João Augusto da Silveira, referiu-se ter apresentado o Dom de
Línguas como crido pelas igrejas pentecostais. Este pastor fundou a igreja
Adventista da Promessa.
Na década de 1970, surgiu um fórum de discussões universitário dentro da
Igreja questionando o método histórico-crítico de interpretação das profecias
bíblicas, bem como o papel de Ellen G. White dentro da Igreja Adventista. A partir da
década de 1990, iniciou-se dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma crise
fundamentalista, onde alguns membros revendo pontos doutrinários da Igreja
Adventista do Sétimo Dia combatem as crenças da Trindade e da Natureza Humana
de Cristo, pertencente as 28 doutrinas fundamentais da Igreja Adventista.
Atualmente no Brasil, devido ao reflexo do movimento fundamentalista
iniciado nos Estados Unidos, há alguns grupos que divergem das crenças
fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Esses grupos possuem
características comuns, tais como: intensa crítica a organização da IASD; crença
anti-trinitariana10; ênfase pós-lapsariana sobre a Natureza de Cristo11; proselitismo
10
Esta crença combate a doutrina da Trindade seguida pela IASD. Afirmam que não há um só Deus; Pai, Filho, e
Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas. Alguns membros da IASD, não concordam que a Pessoa do
Espírito Santo seja uma Pessoa da Divindade e afirmam, que o Filho não tem a mesma autoridade do Pai.
ativo
nas
Igrejas
adventistas
estabelecidas;
e
um
estímulo
ao
sistema
congregacionalista de administração eclesiástica. A administração da Igreja
Adventista no Brasil se opõe a esses movimentos dissidentes, promovendo
congressos e palestras em todo o território brasileiro, no intuito de conscientizar os
membros da Igreja.
2.3 Estrutura Administrativa e Sinopse Doutrinária
A Igreja Adventista do Sétimo Dia possui uma forma de administração
democrática, onde todos os oficiais da Igreja são eleitos a partir dos níveis mais
básicos da Igreja em nível sucessivo e nenhum cargo é permanente, embora possa
haver reeleição. A Igreja local é a estrutura organizacional que constitui a face
pública da Igreja Adventista, em que todo membro batizado tem o poder de voto.
Os cargos existentes na Igreja local, são exercidos, com exceção do
pastor, de forma voluntária. Os cargos de ancião, diácono, tesoureiro, secretário da
Igreja, além de outros departamentos associados, tais como: diaconisas, jovens,
escola sabatina, mulheres, crianças, e adolescentes, são nomeados por voto de
uma comissão composta por membros da Igreja, apontada plenariamente pela Igreja
local. São três os níveis adminstrativos de organização da Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Igrejas e congregações, que formam uma Associação ou Missão;
Associações e Missões que estabelecem uma União; e as Uniões, formando as
Divisões, que formam a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A Associação Geral, possui o seu escritório em Silver Springs, Maryland,
EUA. O presidente da Associação Geral é eleito a cada cinco anos, na reunião da
11
De acordo com os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Jesus Cristo, quando veio a este mundo, sua
formação era composta de 100% humano e 100% Espírito. Porém, existe uma discórdia entre os membros da
Igreja quanto a questão, de Cristo ter tido ou não a possibilidade de pecar.
Conferência Geral, onde são realizadas as decisões gerais da Igreja Adventista,
estabelecendo a escolha de cargos, e é votado e atualizado o Manual da Igreja, que
contém as diretrizes para cada nível administrativo da Igreja, bem como lidar com
situações desde a admissão de um novo membro ou até o desligamento de
membros da Igreja. Atualmente o presidente da Associação Geral da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, é o pastor Jan Paulsen.
Os Adventistas do Sétimo Dia aceitam a Bíblia como seu único credo e
mantém crenças fundamentais como ensinam as Sagradas Escrituras. Os princípios
e normas que estabelecem a base da fé Adventista do Sétimo Dia são 28 crenças
fundamentais, que constituem a percepção e expressão que a Igreja sustenta com
respeito aos ensinos bíblicos. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, as
Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamentos, são a Palavra de Deus escrita,
dada por inspiração Divina por intermédio de santos homens de Deus que falaram e
escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo; há um só Deus: Pai, Filho e
Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas12; Deus, o Eterno Pai, é o
Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação; Deus, o Filho
Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo, e por meio dele foram criadas todas as
coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado
o mundo; Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho
na criação, encarnação e redenção.
Em suas crenças fundamentais os Adventistas afirmam que Deus é o
Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua
atividade criadora; o homem e a mulher foram formados à imagem de Deus com
individualidade e com o poder e a liberdade de pensar e agir; e que toda a
12
As três Pessoas que compõe a Divindade; Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo, sendo onipresente,
onipotente e onisciente, ou seja, são Eternas.
humanidade está agora envolvida num grande conflito entre Cristo e Satanás,
quanto ao caráter de Deus, Sua Lei e Sua soberania sobre o Universo.
Crêem os Adventistas do Sétimo Dia, que a vida de Cristo, de perfeita
obediência à vontade de Deus, e o seu sofrimento, morte e ressurreição, Deus
proveu o único meio de expiação do pecado humano, de modo que os que aceitam
essa expiação, pela fé, possam ter vida eterna, e toda a Criação compreenda melhor
o infinito e santo amor do Criador; em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que
Cristo se tornasse pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus;
que sua morte na cruz, Jesus triunfou sobre as forças do mal; e que a Igreja é a
comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Afirmam em suas crenças; que a Igreja universal compõe-se de todos os
que verdadeiramente crêem em Cristo, mas, nos últimos dias, um remanescente tem
sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.
A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e
povo. Pelo batismo, os Adventistas confessam sua fé na morte e na ressurreição de
Jesus Cristo e atestam sua morte para o pecado e seu propósito de andarem em
novidade de vida, sendo aceitos como membros por Sua Igreja. Acreditam que a
Ceia do Senhor é uma participação nos emblemas do corpo e do sangue de Jesus,
como expressão de fé nele, nosso Senhor e Salvador.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que Deus concede a todos os
membros de sua Igreja, em todas as épocas, dons espirituais; onde um dos dons do
Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma característica da Igreja remanescente e
foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Um dos grandes princípios da Igreja
Adventista é a Lei de Deus incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na
vida de Cristo. O quarto mandamento da imutável Lei de Deus requer a observância
do Sábado, como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o
ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado13.
Os Adventistas reconhecem o direito de propriedade da parte de Deus,
por meio de fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e
dando ofertas para a proclamação de seu evangelho e para a manutenção e o
crescimento de sua Igreja, a serem chamados para ser um povo piedoso, que
pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Crêem os Adventistas do
Sétimo Dia, que há um santuário no Céu, onde Cristo ministra em favor dos crentes.
Para os Adventistas o casamento foi divinamente estabelecido no Éden e
confirmado por Jesus como união vitalícia entre um homem e uma mulher, em
amoroso companheirismo; Crê os Adventistas que o salário do pecado é a morte14,
um estado inconsciente para todas as pessoas.
A bendita esperança da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a segunda
vinda de Cristo nas nuvens do céu, em que concederá vida eterna a seus remidos.
No milênio, o reinado de mil anos de Cristo com seus santos no Céu, entre a
primeira e a segunda ressurreições, serão julgados os ímpios mortos. No fim desse
período, Cristo com Seus Santos e a Cidade Santa descerão do Céu a terra. Os
ímpios mortos serão então ressuscitados e, com Satanás e seus anjos, cercarão a
cidade, mas o fogo de Deus os consumirá e purificará a terra. O Universo ficará
assim eternamente livre do pecado e dos pecadores. Na Nova Terra, em que habita
a justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um ambiente perfeito para a
vida, o amor, a alegria e os aprendizados eternos, em Sua presença.
13
No livro de Mateus 12:8, encontrado na Bíblia Sagrada no Novo Testamento, diz: “Pois o Filho do homem é
Senhor do Sábado”. De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, Se o Filho do Homem é Senhor do Sábado, o
Sábado deve ser o dia do Senhor.
14
De acordo com o livro de Romanos 6:23, escrito na Bíblia Sagrada encontrado no Novo Testamento, afirma:
“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus nosso Senhor”.
2.4 O Adventismo no Brasil
No Brasil, de acordo com BORGES (2000:84), a mensagem Adventista
chegou através de impressos que ingressaram nas colônias de imigrantes alemães
e austríacos, nos estados de Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo. Um livro
bem conhecido, “Der Grosse Kampt” (O grande Conflito)
15
, em alemão, chegou às
mãos do jovem Guillerme Stein Jr., na época, noivo de Maria Krahembuhl. Este livro
descreve a história universal sob o enfoque religioso e bíblico, dando, além do
vislumbre do passado, uma projeção quanto ao futuro, em termos proféticos, tendo
como base especialmente os livros de Daniel e o Apocalipse, encontrados
respectivamente, no Velho e no Novo Testamento da Bíblia Sagrada. As colônias
alemãs contribuíram para os primeiros passos do movimento Adventista no Brasil,
como afirma SCHUNEMANN (2006a):
“A inserção do Adventismo no Brasil enquanto um empreendimento
missionário institucional só ocorreu na década de 1890. O primeiro
missionário foi Albert Stauffer, colportor, vendedor de livros evangélicos.
Vindo para trabalhar na Argentina, no Uruguai e no Brasil, só dispunha,
praticamente, de literatura em alemão e inglês. No caso brasileiro, a
presença de colônias alemãs, que se mantinham relativamente isoladas do
resto do país, propiciou o primeiro contexto favorável para a expansão do
adventismo no Brasil. Conhecendo a existência de colônias alemãs
dispersas pelo país, começou percorrendo os Estados do Espírito Santo e
de São Paulo”.
Após Guilherme Stein Jr. fazer a leitura do livro, O Grande Conflito, este
jovem resolveu unir-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia, e foi batizado no Brasil,
em 1895, nas proximidades de Piracicaba, estado de São Paulo. Nesta ocasião
outros batismos também ocorreram em Santa Catarina.
15
O Grande Conflito foi uma obra escrita por Ellen G. White, Profetiza da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que
retrata o significado do passado e a projeção do futuro da Era Cristã.
Entre as pessoas batizadas estava Guilherme Belz. Este, nasceu na
Pomerânia, Alemanha, em 1835. Veio para o Brasil e estabeleceu-se na região de
Braunchweig (hoje Gaspar Alto), a cerca de 18 quilômetros de Brusque. Certa
ocasião, ao voltar das compras na Vila de Brusque, notou algo de especial nos
papéis envolvidos nas mercadorias. O papel de embrulho trazia um texto escrito em
alemão.
A leitura do impresso deixou Belz pensativo por várias semanas, até que,
ao visitar o irmão Carl, descobriu que este havia comprado um livro vendido pelo
alcoólatra, Frederich Dressler. Livro que "coincidentemente" tratava, dentre outras
coisas, do mesmo assunto do folheto. O livro era o Comentário Sobre o Livro de
Daniel, de Urias Smith e também estava escrito em alemão. Nascido em família
cristã, Guilherme tinha o hábito de ler a Bíblia. Depois de pesquisar profundamente a
Palavra de Deus, aos cinqüenta e quatro anos Guilherme decide-se pela fé
Adventista e se tornou uns dos primeiros Adventistas a ser batizado no Brasil. Belz e
sua família tornaram-se missionários voluntários na região onde moravam, no
interior de Santa Catarina. Pouco tempo depois, algumas famílias já se reuniam para
estudar a Bíblia.
VIEIRA (1995:63) retrata que em maio de 1893, por designação da
Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o missionário Albert B.
Stauffer chegou ao Brasil. Juntamente com outros missionários, Stauffer espalhou a
literatura adventista em Indaiatuba, Rio Claro, Piracicaba e outras localidades.
Assim, os primeiros interessados na mensagem Adventista, em São Paulo, foram
surgindo. O mesmo crescimento aconteceu no Estado do Espírito Santo, onde
Stauffer espalhou vários exemplares do livro O Grande Conflito, da escritora Ellen
White. Os adventistas que viviam em São Paulo e no Espírito Santo, estavam
totalmente alheios à existência dos irmãos de Santa Catarina que há alguns anos
professavam a mesma fé.
Em agosto de 1894, chegou ao Brasil outro missionário adventista: Willian
Henry Thurston. Willian, acompanhado da esposa Florence, veio dos Estados
Unidos com a missão de estabelecer um entreposto de livros denominacionais16 no
Rio de Janeiro, para atender aos missionários no Brasil. Thurston trouxe duas
grandes caixas de livros e revistas impressos em inglês, alemão e pouca coisa em
espanhol. Na época, não havia nada publicado em português, pois a Casa
Publicadora Brasileira só iniciaria suas atividades a partir de 1900. Para chegar ao
seu destino, muitos impressos eram despachados nos navios, outros nos barcos
fluviais a vapor (ou mesmo a remo), outros ainda em carros de boi, em lombo de
burro e, às vezes, em alguns lugares, nas costas dos missionários.
Em 1896 o casal Stein começa a trabalhar no Colégio Internacional de
Curitiba, Paraná, a primeira instituição educacional Adventista do Brasil. Com a
fundação, em Taquari da Casa Publicadora Brasileira, houve o avanço do
adventismo expandindo-se para os demais estados brasileiros. Atualmente no Brasil,
existem mais de um milhão e meio membros da IASD, sendo coordenados por seis
Uniões que administram as Associações e Missões. A Igreja Adventista do Sétimo
Dia do Brasil, juntamente com sete paises da América Latina formam a Divisão Sul
Americana, com sede em Brasília, DF. Hoje existem mais Adventistas no Brasil do
que nos Estados Unidos, país onde surgiu o movimento adventista.
16
Este entreposto de livros denominacionais instalado no Rio de Janeiro, eram obras publicadas pela Igreja
Adventista do Sétimo Dia, referentes à mensagem da Igreja e principalmente, os livros escritos por Ellen G.
White.
2.5 O Adventismo no Maranhão
O movimento Adventista no Maranhão aconteceu por dois segmentos
distintos; o da capital e o do interior do estado. De acordo com SARAIVA (2002:47),
a chegada do movimento Adventista no interior, nem sempre possuiu alguma ligação
direta com os adventistas da capital do estado. Exemplo disso foi o adventista
Sinésio, que levou a mensagem adventista no final da década de trinta a toda região
do Mearim e Pindaré sem nunca ter tido algum contato com os Adventistas da
capital maranhense.
SARAIVA (2002:47) relata que no ano de 1922 chega a São Luís do
Maranhão, Firmo Marinho, pertencente à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Era
barbeiro, logo, ao chegar à capital do Maranhão instalou uma barbearia, localizada
num bairro chamado Baixinha, atualmente pertencente ao bairro da Liberdade.
Através de sua barbearia, Firmo Marinho pregava a mensagem de um
Cristo que foi morto, sepultado, ressurreto, e prestes a vir a este mundo para buscar
o seu povo; e falava do grande amor de Deus pela raça humana. Entre os clientes
de sua barbearia que aceitaram a mensagem adventista destacamos um grupo da
Igreja Batista, que passou a guardar o Sábado: Francisco Oliveira, Antônio Oliveira,
Dona Miruca, Antônio Basílio, Nicodemos, Maria Mourão e outros que passaram a
se reunir na casa de Firmo Marinho, no bairro da Baixinha.
Por volta de 1923, chega a São Luís, Henrique Berger Correia,
considerado o primeiro colportor17 em solo maranhense. Iniciou o seu trabalho,
vendendo livros e revistas da Igreja Adventista e pregando o evangelho no território
maranhense. Em 1927 chega à capital maranhense o colportor alemão Hans Mayr,
17
Colportor é o nome dado ao missionário da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com a missão de expandir a
mensagem e apresentar a publicação da Igreja ao mundo.
no intuito de doutrinar os novos crentes ludovicense e batizá-los, tornando-os
Adventistas do Sétimo Dia. Logo após, o colportor alemão transferiu-se para o
Estado do Pará com o objetivo de fundar uma Igreja Adventista. Firmo Marinho
mudou juntamente com sua barbearia para o bairro do João Paulo, onde começou a
evangelizar novos clientes.
No ano de 1929, o movimento adventista no Maranhão, possuía membros
dispostos a pregar a mensagem Adventista por toda a capital maranhense. Entre os
pioneiros do adventismo no Maranhão destacamos o papel importante para o
crescimento da Igreja Adventista na capital de Antônio Lopes, Abílio Pires, Gregório
Marinho, Maria Gomes, Cota Coelho, Sérgio Vieira de Araújo, Antônio Santos, José
Simplício, Nicodemos, Lusitano, Cirilo Leite, Balbina Leite, Ermita Leite, Antônio
Penha de Jesus, Joaquina Penha de Jesus e outros. Com a mudança de Firmo
Marinho para o Pará, o grupo de adventistas passou a ser dirigido por Sérgio Vieira
de Araújo.
SARAIVA (2002:53) descreve que esse grupo de adventistas durante
trinta anos, andava na casa de cada membro adventista para adorar a Deus. Até a
década de 40 os adventistas existentes em São Luís eram muito pobres. Eram
pescadores, sapateiros, alfaiates, que possuíam dificuldades financeiras. Com o
aumento de membros em 1942, devido a vários projetos de evangelização nesse
período, houve a necessidade de se alugar um casarão na Rua da Paz para
organizar uma Igreja. O primeiro pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em São
Luís foi Walter Streithorst. Nos anos de 1942 a 1948, foram períodos de grande
crescimento para a Igreja Adventista na capital maranhense, devido a várias
conferências realizadas por pastores que chegavam da missão Costa Norte, com
sede em Fortaleza.
No ano de 1949, foi comprado um terreno na Rua Celso Magalhães, com
o objetivo de se construir o Templo Central da Igreja Adventista em São Luís. Nesse
período o pastor da Igreja adventista em São Luís era Gnutzmann. O período de
construção da Igreja foi marcado pelos problemas políticos que o Maranhão
enfrentava com a Greve de 195118. Mesmo assim, a construção da igreja continuou,
sendo inaugurada em 27 de outubro de 1951, sob a liderança do pastor Cândido
Bessa Filho.
Com a construção do Templo Central, o adventismo foi se desenvolvendo
ainda mais na capital. As décadas de 60, 70 e 80 são marcadas pelo surgimento de
várias outras Igrejas Adventistas em São Luís: S. José de Ribamar (1964); São
Cristóvão (1969); São Francisco (1961); João Paulo (1964); Anjo da Guarda (1972);
Monte Castelo (1980); Cohab (1982); Vila Palmeira (1973); Planalto Ateniense
(1987); Maiobão (1985) e outras. Hoje a capital maranhense, possui mais de 170
Igrejas adventistas totalizando mais de 34.000 membros batizados.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Maranhão era até o ano de 1988,
administrada pela missão Costa Norte, pertencente à União Norte Brasileira, com
sede em Fortaleza, atendendo também os Estados do Ceará e Piauí. Com o
crescimento do Adventismo no Maranhão houve a necessidade de se construir a
sede administrativa maranhense da Igreja IASD.
Em 30 de julho de 1988, inaugurou-se a Missão Maranhense da Igreja
Adventista, tendo naquela época como presidente o pastor Izéas dos Santos
Cardoso. Nesse mesmo ano é instalada a Escola Adventista de São Luís ao lado da
Missão Maranhense, antes, funcionando nas dependências da Igreja Central de São
18
De acordo com os relatos do pastor Saraiva, o período de construção da Igreja Adventista Central de São Luís,
foi marcado pelas dificuldades econômicas estabelecida pela Greve de 51. Houve dificuldades nas compras de
materiais para a construção do Templo. Exemplo disso, foi a variedade de modelos de telhas compradas para o
telhado da Igreja.
Luís. Em 2005, com o grande crescimento de membros que a Igreja Adventista
possui no Maranhão, foi construído na cidade de Imperatriz, a Missão Maranhão do
Sul, estabelecendo a divisão do campo, para se melhor administrar. Hoje o
Maranhão possui uma estimativa de mais de 100.000 adventistas, sendo
considerado “O Campo dos Milagres”
19
da União Norte Brasileira, com sede em
Belém, Pará.
2.6 Incompatibilidade com Outras Doutrinas Evangélicas
Diversos pontos doutrinários adventistas são totalmente antagônicos com
a doutrina de outras denominações religiosas. Muitos líderes evangélicos afirmam
que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma seita. De acordo com os adventistas, a
Igreja é genuinamente protestante, já que crê nos mesmos postulados que
caracterizam a fé evangélica. Salvação pela graça, nascimento virginal de Cristo,
sua morte e ressurreição corpórea, por exemplo.
Os evangélicos afirmam que para os adventistas, os ensinos de Ellen
White são uma espécie de “luz menor” para guiar os homens ao conhecimento da
“luz maior”, ou seja, as Sagradas Escrituras. Para os evangélicos, as Escrituras
Sagradas são as únicas regras de fé e prática para a vida do crente. De acordo com
os adventistas, os escritos de Ellen White não constituem um substitutivo para a
Bíblia. Não podem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam
posição única, pois são o único padrão pelo qual os seus escritos, ou qualquer
outros, devem ser julgados e ao qual devem estar subordinados.
19
O Campo dos Milagres foi o termo usado pelo primeiro presidente da Missão Maranhense, Izéas dos Santos
Cardoso, ao grande crescimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Maranhão.
Os Adventistas do Sétimo Dia apóiam plenamente o princípio da Reforma,
“sola scriptura”, a qual vê a Bíblia como seu próprio intérprete e a Bíblia, sozinha,
como base de todas as doutrinas. Os fundadores da Igreja desenvolveram suas
crenças fundamentais através do estudo da Bíblia; não receberam tais doutrinas
através das visões de Ellen White. Seu principal papel durante o desenvolvimento
das doutrinas da Igreja foi orientar a compreensão da Bíblia e confirmar as
conclusões às quais se chegava através do estudo da Bíblia. A própria White
(1995:78) cria e ensinava que a Bíblia representava a norma final da Igreja:
“Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de fé e prática.
Por essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos
“últimos dias”; não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu
povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica”.
Uma das bases da fé evangélica é a crença em Jesus Cristo como único
e suficiente Salvador. Para eles, o plano da salvação foi consumado na morte do
Filho de Deus na cruz. A partir dali, todo aquele que confessar seus pecados diante
do Senhor é perdoado pelo sangue de Cristo. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem
que Jesus Cristo, sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em
nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no
santuário celestial em nosso favor. Na teologia Adventista, Cristo adentrou no
santuário celeste em 1844, para completar a última etapa de sua obra redentora, o
chamado juízo investigativo, acerca de todos os crentes mortos e vivos.
Os Evangélicos entendem que o homem se salva pela graça de Deus, e
não pela observância à lei, uma vez que todos pecaram e são culpados por sua
transgressão. Para outras denominações religiosas, a antiga aliança entre Deus e
Israel, do qual faz parte a lei do Sábado, foi abolido por Cristo, conforme se encontra
no livro de Mateus 12:520, escrito no Novo Testamento da Bíblia Sagrada. Para os
adventistas a salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é
a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e
resulta numa sensação de bem-estar. Segundo os adventistas, é uma evidência de
nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes.
Para os adventistas o próprio Cristo cumpriu a lei, não por destruí-la, mas
por viver obedientemente21. O evangelho de Cristo produziu uma fé que sustentou
firmemente a validade do Decálogo22. No livro de Romanos 3:31, encontrado na
Bíblia Sagrada, o apóstolo Paulo escreveu: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de
maneira nenhuma, antes confirmamos a lei”. Segundo os adventistas, as Escrituras
revelam nos livros de I Coríntios 8:6; Hebreus 1:1 e 2; e S. João 1:3
23
que tão
verdadeiramente quanto o Pai, Cristo foi o Criador. Logo, foi Ele quem separou o
sétimo dia para o descanso da humanidade.
De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, o Sábado ocupa lugar
central em nossa adoração a Deus. Sendo o memorial da Criação, revela as razões
pelas quais, Deus deve ser adorado: Ele é o Criador, e nós Suas criaturas. Os
adventistas afirmam que os dias mencionados no relato bíblico da Criação
encontrado no livro do Gênesis, representam períodos literais de 24 horas. Típica da
forma como o povo de Deus do Antigo Testamento media o tempo, a expressão
“tarde e manhã”, relatado em Gênesis 1:5, 8, 13, 19,23 e 3124, especifica dias
20
Mateus 12:5 – “Ou não lestes na lei que, no Sábado, os sacerdotes no templo violam o dia, e ficam sem
culpa?”.
21
De acordo com as doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, durante todo o seu ministério terrestre, Jesus
exemplificou diante de nós a fiel observância do Sábado. Era seu costume adorar no Sábado. Sua participação
nos serviços sabáticos revela o endosso que Ele ofereceu a esse dia como dia de adoração.
22
O Decálogo significa os Dez mandamentos da Lei de Deus.
23
I Coríntios 8:6 – “... todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um
só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por ele”.
24
Gênesis 1:5 – “E chamou Deus à luz dia, e às trevas, noite. E houve tarde e manhã – o primeiro dia”.
individuais, com o dia iniciando ao pôr-do-sol, descrito na Bíblia nos livros de
Levítico 23:32 e Deuteronômio 16:625.
Os teólogos adventistas declaram que não existe qualquer justificativa
para se dizer que a expressão dia, representa um dia literal em Levítico, por
exemplo, e um período de milhões de anos em Gênesis. A palavra hebraica
traduzida por dia no livro do Gênesis 1, é “yom”. Quando “yom” se faz acompanhar
de um número definido, sempre significa um dia literal de 24 horas. Por exemplo, os
livros de Gênesis 7:11 e Êxodo 16:126, representa outra indicação de que o relato da
Criação está falando de dias literais, de vinte e quatro horas.
Os Adventistas do Sétimo Dia afirmam que os Dez Mandamentos
oferecem outra evidência de que o relato da Criação, no livro do Gênesis, envolve
dias literais. Pois, o quarto mandamento da lei de Deus não faria qualquer sentido se
cada dia da Criação representasse longos períodos de anos. O Sábado de vinte e
quatro horas, portanto, comemora a semana literal da Criação.
Os evangélicos tentam combater os adventistas, com a citação bíblica do
livro de II Pedro 3:8 – “Para com o Senhor, um dia é como mil anos”, tentando provar
que os dias da Criação não representam dias literais de 24 horas. Porém, segundo
os adventistas, os evangélicos ignoram o fato de que a própria porção final do verso
encerra com as palavras: “e mil anos são como um dia”. Para os adventistas aqueles
que vêem nos dias da Criação períodos de milhões ou até mesmo de bilhões de
anos, estão questionando a validade da Palavra de Deus.
O Sábado para os Adventistas do Sétimo Dia possui amplo significado.
Representa o memorial da Criação de Deus. Conforme vimos, o significado
25
Levítico 23:32 – “Sábado de descanso solene vos será, e afligireis as vossas almas. Aos nove do mês à tarde,
de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso Sábado”.
26
Gênesis 7:11 – “No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, aos dezessete dias do mês, romperam-se
todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram,”.
fundamental dos Dez Mandamentos, vinculado ao Sábado, é que ele constitui um
memorial da Criação do mundo. O sétimo dia da semana simboliza a redenção.
Quando Deus libertou os israelitas da escravidão egípcia, o Sábado, que já
funcionava como memorial da criação, se tornou também um memorial da libertação,
de acordo com a referência bíblica do livro de Deuteronômio 5:1527.
Crêem os Adventistas do Sétimo Dia que o Sábado é um sinal do poder
transformador de Deus, um sinal de santidade ou santificação. Da mesma forma
como as pessoas são santificadas pelo sangue de Cristo segundo a passagem
bíblica do livro de Hebreus 13:1228, o Sábado é também um sinal da aceitação, por
parte do cristão, do sangue de Cristo para o perdão dos pecados.
Do mesmo modo como a lealdade de Adão e Eva foi provada por meio da
árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim do Éden,
assim também, para os Adventistas do Sétimo Dia a lealdade de cada ser humano a
Deus será provada pelo mandamento do Sábado, colocado no Decálogo. As
Escrituras Sagradas revelam que antes do segundo advento de Cristo, o mundo
será dividido em duas classes: aqueles que são leais e guardam os mandamentos
de Deus e têm a fé de Jesus e aqueles que adoram a besta e sua imagem, segundo
o texto bíblico do livro do Apocalipse 14:12 e 929.
O Sábado representa para os Adventistas do Sétimo Dia a oportunidade
de vivenciar a presença de Deus. A observância do Sábado para a Igreja Adventista
do Sétimo Dia, revela que desistimos de confiar em nossas próprias obras,
compreendendo que somente Cristo, o Criador, pode nos salvar. A observância do
27
Deuteronômio 5:15 – “Lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali
com mão forte e braço estendido. Pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o Sábado”.
28
Hebreus 13:12 – “E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da
porta”.
29
Apocalipse 14:12 – “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a
fé em Jesus”.
Sábado revela o supremo amor por Jesus Cristo, o Criador e Salvador do homem.
Ao observar o Sábado, o adventista mostra a sua confiança em aceitar a vontade de
Deus para sua vida.
Segundo os evangélicos, o destino do crente após a morte é uma
existência em glória, na presença de Deus. Algumas denominações evangélicas
baseiam-se na crença da reencarnação, doutrina principal do espiritismo Kardecista.
Para os adventistas, a morte não é uma aniquilação completa, é apenas um estado
temporário de inconsciência enquanto a pessoa aguarda a ressurreição. De acordo
com a Igreja Adventista, referindo-se à morte de algumas pessoas, a Bíblia no
Antigo Testamento descreve Davi, Salomão e outros reis de Israel e Judá como
estando a dormir com seus pais, de acordo com os livros de I Reis 2:10; 11:43;
14:20 e 31; 15:8; II Crônicas 21:1; 26:2330.
O Novo Testamento das Escrituras Sagradas utiliza as mesmas figuras.
Ao descrever a condição da filha de Jairo, que estava morta, e Jesus disse que ela
estava dormindo. Jesus referiu-se a Lázaro, já morto, da mesma maneira. Tanto o
apóstolo Paulo quanto o apóstolo Pedro também se referiram à morte como um
sono, segundo os livros de I Coríntios 15:51 e 52; I Tessalonicenses 4:13-17; II S.
Pedro 3:431.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que com a morte o corpo retorna a
terra, e o espírito retorna a Deus. Nas Escrituras Sagradas o rei Salomão afirma que
na morte “o pó volta a terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu”,
segundo o livro de Eclesiastes 12:7. De acordo com os adventistas, muitos têm
pensado que esse texto aponta a evidência de que a essência da pessoa prossegue
30
I Reis 15:8 – “Abias dormiu com seus pais, e o sepultaram na cidade de Davi. E Asa, seu filho, reinou em seu
lugar”.
31
I Coríntios 15:51 – “Eis que vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados,”.
vivendo após a morte. Mas na Bíblia, nem o termo hebraico, nem o termo grego para
espírito (ruach e pneuma, respectivamente) se referem a uma entidade inteligente,
capaz de existência consciente à parte do corpo. Ao contrário, esses termos se
aplicam ao fôlego de vida, princípio vital da existência que anima seres humanos e
animais.
A teologia evangélica não privilegia nenhum grupo como detentor
exclusivo da verdade. Assim, toda igreja que confessa a Jesus Cristo como único
Salvador, prega a salvação pela graça divina mediante a fé e considera a Bíblia
como a Palavra de Deus, têm legitimidade espiritual. Para a Igreja Adventista do
Sétimo Dia o remanescente dos últimos dias não pode ser facilmente confundido. O
apóstolo João descreve no livro do Apocalipse esse grupo em termos bastante
específicos. O grupo apareceria depois dos 1.260 anos de perseguição e é
constituído por aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e têm o
testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17).
3 O CONFLITO ENTRE O ADVENTISMO E O SITEMA CAPITALISTA
3.1 Secularização do Estado Brasileiro
A secularização do Estado Brasileiro foi primordial para a separação entre
o Estado republicano e a Igreja Católica, possibilitando a adoção da liberdade
religiosa e a abertura ao pluralismo religioso no país. O Brasil caracteriza-se por ser
um país que possui uma pluralidade religiosa.
MARIANO (2006a) afirma que a secularização do aparato jurídico-político
constitui um processo histórico de grande importância no desenvolvimento das
sociedades modernas. A secularização do Estado possibilitou sua autonomia em
relação à denominação religiosa ao qual se associava: A Igreja Católica. Com a
separação, o Estado, conseguiu ampliar sua dominação jurídica e política sobre o
campo religioso.
A separação Estado-Igreja, caracterizado pela secularização do Estado e
por sua defesa à liberdade religiosa, favoreceu o encaminhamento de importantes
transformações na esfera religiosa contemporânea. O divórcio entre o Estado e a
Religião, estabelecido principalmente pelos Estados tidos liberais caracterizou-se,
pela “neutralidade” religiosa do Estado; a restrição da religião à vida privada, ou
seja, a religião passou a ser um ato particular das consciências individuais de cada
ser humano; quebra do monopólio religioso que favorecia a Igreja Católica; garantia
da liberdade religiosa, estabelecendo proteção e defesa ao pluralismo religioso; e
liberdade aos seres humanos de decidirem particularmente que fé seguir, mantendo
o mesmo tratamento no plano jurídico a todas as crenças religiosas.
De acordo com GRUMAN (2005a) a racionalização do indivíduo e a
secularização do Estado favoreceram o declínio do monopólio institucional da
Religião. A secularização da política marcou o aparecimento do Estado moderno,
caracterizado pela separação entre Estado e Igreja, quando o indivíduo passa a ter o
direito de escolher sua identidade religiosa. A separação entre o Estado Brasileiro e
a Igreja Católica é essencial para se entender sobre o pluralismo religioso no país.
Como ilustram as palavras de MARIANO (2006a):
“No Brasil, a separação Igreja-Estado rompeu definitivamente o monopólio
católico, abrindo caminho para que outros grupos religiosos, em especial
os mais motivados, militantes e competentes nas artes de atrair, persuadir
e recrutar adeptos e de mantê-los religiosamente mobilizados, pudessem
conquistar espaço, avançar numericamente, adquirir legitimidade social e
consolidar sua presença institucional, mesmo que minoritária, nesse país
cujo campo religioso foi durante a maior parte de sua história dominado por
uma religião hegemônica privilegiada de diversas formas e incontáveis
vezes pelo Estado”.
Com a secularização do Estado, firma-se a separação entre o que se
pensa e o que se faz no espaço público, em contraposição à vida no espaço privado
de cada indivíduo. A religião passou a pertencer ao espaço privado, através de
igrejas, mesquitas, e sinagogas. GRUMAN (2005a) coloca o exemplo da França,
onde o Estado e a religião são separados e firmado pela lei desde 1905. A laicidade
francesa afugenta o religioso dos espaços públicos.
No Brasil, a relação mantida entre o Estado e a Igreja Católica, mesmo
com a publicação do decreto 119A, de 1890, sempre foi caracterizada por agitações
e incertezas. Para Freyre (1933), durante todo o século XVI, entrou todo tipo de
estrangeiro, contanto que católico, argumentando que o que barrava então o
imigrante era a heterodoxia, a mancha de herege na alma.
Segundo GAARDER (2000:300) o Brasil foi um país oficialmente católico
por quase quatro séculos. No período do descobrimento do País, a evangelização
católica caminhava lado a lado com a dominação colonial. Na época colonial, a
Igreja necessitava mais da Coroa Portuguesa que do papado. Nos anos do Império,
o Catolicismo tornou-se, então, a religião oficial do território brasileiro.
O regime de padroado no Brasil foi o principal responsável pelo
monopólio religioso que o catolicismo exerce no país. O vinculo entre o Estado
brasileiro e a Igreja Católica estabelece-se deste o descobrimento dessas terras. O
catolicismo exerceu o papel de religião dos colonizadores, com o intuito de propagar
a fé católica e o império português às populações nativas e aos escravos africanos.
Como esclarece BEOZZO (2000:109) sobre as características políticas e religiosas
do sistema de padroado:
“O resultado prático desta junção entre ‘trono e altar’, na esfera política;
entre ‘a espada e a cruz’, no campo militar; entre ‘estado e trabalho
missionário’ frente às populações consideradas ‘pagãs’ e a serem
obrigatoriamente convertidas e incorporadas ao seio da Igreja Católica, não
é apenas o da união entre a igreja e o estado, mas afeta intimamente a
definição de cidadania. A pessoa não se torna fiel da igreja sem que,
automaticamente, torne-se súdita do rei e do Estado e vice-versa, um
súdito do Estado deve necessariamente tornar-se fiel da igreja”.
Ao retratar sobre o regime de padroado no Brasil MARIANO (2006a),
coloca que o catolicismo era compulsório. A religião Católica era a única religião
legalmente licenciada e apoiada pelo Estado. Não havia liberdade religiosa nem
liberdade de culto. O monopólio católico estendeu-se até a Constituição de 1824, no
período do Império.
Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, ocorreu uma
transformação jurídica na relação do Estado com a Igreja Católica. Os laços
diplomáticos entre a Inglaterra e Portugal, caracterizaram-se não apenas em relação
à abertura dos portos brasileiros, quebrando o monopólio comercial português com
sua colônia. Mas, assegurando a liberdade religiosa aos trabalhadores ingleses
residentes no Brasil. No ano de 1810, o príncipe regente D. João, assinou o tratado
de comércio entre Portugal e Inglaterra, cujo tratado, vigorava em um artigo a
liberdade de culto aos estrangeiros estabelecidos no Brasil.
Durante o Império, o catolicismo tornou-se, então, a religião oficial do
Estado brasileiro. Com a Constituição de 1824, outorgada pelo imperador D. Pedro I,
A Igreja Católica torna-se a religião do Império, alicerçada por vários privilégios
concedidos pelo Estado. Na carta Constitucional de 1824, foi permitida a liberdade
religiosa às outras denominações religiosas, caracterizado por algumas limitações.
Tais como: a proibição da construção de Templos e neles prestar culto ás suas
divindades; liberdade de culto apenas ao espaço doméstico; e tal liberdade abrangia
apenas aos imigrantes estrangeiros, os quais deveriam realizar seus cultos em
língua estrangeira.
No artigo 179, parágrafo 5°, da Constituição de 1824, previa que ninguém
poderia ser perseguido por motivo de religião, desde que respeitasse a do Estado, e
não ofendesse a moral pública. ROMANO (1979:82) afirma que além das restrições
colocadas à liberdade religiosa, os componentes de outras denominações religiosas,
encontravam-se inseridos em outros problemas (econômicos e sociais) ocasionados
pela aliança entre a Igreja Católica e o Estado.
Os protestantes eram desfavorecidos pela fraqueza dos recursos
humanos e burocráticos do Estado. A Igreja Católica dominava a saúde pública; a
educação; as obras assistenciais; e concediam os registros de nascimento,
casamento,
e
óbito.
RIBEIRO
(1973:108)
declara
que
os
mortos
eram
tradicionalmente enterrados nos templos católicos, havendo rejeição por parte da
Igreja de enterrar os acatólicos. Mesmo com a criação dos cemitérios municipais em
1828, por serem administrados pelos sacerdotes católicos, continuava havendo
rejeição pelo sepultamento dos não católicos, considerados hereges.
Durante o período monárquico no Brasil, o casamento considerado legal
era aquele oficializado pelos padres, ou seja, nesse período os casamentos dos
protestantes e os registros de nascimento dos filhos desses protestantes, eram
considerados ilegítimos. MARIANO (2006a) esclarece que a restrição da liberdade
religiosa e os percalços passados por esses protestantes começa a mudar através
da necessidade de se buscar o trabalhador estrangeiro em substituição ao escravo
africano.
Com a proibição do tráfico negreiro em 1850, e da lei do ventre livre em
1871, houve uma grande pressão por parte dos políticos liberais e dos latifundiários,
no intuito do Estado ceder a transformações na legislação, quanto à questão
religiosa no país. Em 1861, entrou em vigor no Brasil, a lei 1.144, concedendo às
outras religiões, o direito legal de efetuar casamentos. Foi estabelecido em 1863, o
decreto 3.069, que possibilitou o registro de óbitos dos não católicos e passariam a
terem lugar nos cemitérios municipais.
VIEIRA (1980:254) declara que antes do decreto 3.069, na região do
Brasil que não existia cemitério protestante, os mortos tidos como protestantes eram
enterrados como cães na mata. Antes da adoção dessas leis no país, os membros
de outras denominações religiosas, devido às várias discriminações com os seus
mortos, resolveram construir seus próprios cemitérios.
A Constituição de 1824, mesmo sendo restrita e deficiente, favoreceu a
imigração de novos grupos religiosos nas terras brasileiras. De acordo com as
palavras de MARIANO (2006a):
“Na primeira metade do século XIX, o crescimento do protestantismo, que
desde então constituía o principal concorrente religioso do catolicismo,
limitou-se praticamente à imigração de anglicanos ingleses e de luteranos
suíços e alemães. Os primeiros missionários protestantes começaram a se
estabelecer no país somente a partir de meados dos anos de 1850. Daí em
diante, missionários congregacionais, metodistas, presbiterianos, batistas e
episcopais conseguiram, por meio da evangelização e conversão de
brasileiros, implantar os primeiros templos protestantes”.
No ano de 1824, é fundada em cidades dos Estados, do Rio de Janeiro e
do Rio Grande do Sul, as primeiras Igrejas Luteranas do país. Em 1855, surge no
Rio de Janeiro a Igreja Congregacional do Brasil. Em 1862, funda-se a primeira
Igreja Presbiteriana no país, na cidade do Rio de Janeiro. No ano de 1886 surge a
Igreja Metodista, no Rio de Janeiro. Na Bahia, em 1882, funda-se a primeira Igreja
Batista. E no ano de 1898, surge no Rio Grande do Sul, a Igreja Episcopal inserida
por missionários norte-americanos.
Na segunda metade do século XIX, esses missionários protestantes,
mesmo com as barreiras impostas pela Igreja Católica, não mediram esforços para
desenvolver sua crença religiosa no país e alcançar o maior número de fieis.
MARIANO (2006a) cita que os governos, norte-americano e britânico, ameaçaram o
governo brasileiro de barrar a entrada da mão-de-obra do imigrante estrangeiro no
Brasil, caso, não fosse concedido à liberdade de praticar suas crenças religiosas.
Pela grande necessidade que o Brasil possuía de substituir a mão-deobra escrava africana pela dos imigrantes, o governo brasileiro se viu pressionado a
realizar mudanças em suas leis com o objetivo de dar proteção aos cultos dos
protestantes. Tal fato ocasiona o declínio do monopólio católico no país, dando os
primeiros passos a consolidação da secularização do Estado brasileiro.
Mesmo que a Constituição de 1824 colocou um fim legal do catolicismo
ao monopólio religioso, na verdade, os favorecimentos jurídicos para a Igreja
Católica, continuavam estabilizados. Se a Igreja Católica se achava prejudicada
pelas novas leis, que propagavam a liberdade de culto às outras religiões,
estabelecidas pelo Estado, a religiosidade festiva do catolicismo estava impregnada
na cultura popular brasileira. As festas e as procissões constituíam e constituem os
principais momentos de lazer do povo brasileiro. As imagens de escultura
consideradas santas, juntamente com os padres e o povo juntam-se para
participarem dos festejos.
SCHWARCZ (1999:292-294) retrata a presença no século XIX de
diversas confrarias estabelecidas por leigo e um imenso calendário de festas
religiosas durante o Império, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, tais como:
procissões, festa do Divino, dia de Reis, cavalhadas, congadas, etc. Durante a
segunda metade do século XIX, a Igreja Católica e o clero brasileiro, passaram por
uma grande transformação ocorrida pelo movimento ultramontano32, que pregava o
alargamento do poder papal sobre os assuntos da Igreja Católica.
Para ROMANO (1979:94), a agressiva política ultramontana, alicerçada
no ano de 1870, através da proclamação da infalibilidade papal pelo Concilio
Vaticano I, o catolicismo brasileiro acabou desafiando a intensificação das investidas
governamentais. No final do século XIX, tanto o regime monárquico quanto a Igreja
Católica eram confrontados pela oposição árdua da maçonaria, e do movimento
liberal e republicano. Os maçons, liberais e republicanos afirmavam que o
catolicismo era muito conservador, passadista. Para eles, a religião Católica era a
grande causadora da inibição do progresso no país, e da permanência do povo
brasileiro na ignorância.
32
O movimento ultramontano reivindicava para a Igreja o controle de toda a cultura, da ciência e de todo o
sistema educacional e condenava a liberdade de consciência e de culto. O ultramontanismo combatia todos os
tipos de liberalismo, o protestantismo, a maçonaria, e medidas liberais estabelecidas pelo estado civil, tais como
a liberdade de religião, o casamento civil, e a liberdade de imprensa, etc.
No início dos anos de 1860, houve uma reação ultramontana segundo
VIEIRA (1980:117, 123), aos missionários protestantes que começaram a pregar em
língua portuguesa aos brasileiros de forma discreta. Porém, mesmo com a Carta
Constitucional do império que proibia atividades religiosas acatólicas realizadas em
língua portuguesa, houve uma recusa por parte do governo imperial, de coibir a
pregação dos protestantes em língua portuguesa aos brasileiros.
O catolicismo só deixou de ser a religião oficial do Estado brasileiro no
final do século XIX, quando a monarquia foi substituída pelo regime republicano, o
qual abriu mão da religião oficial. A separação entre Igreja e Estado de acordo com
GAARDER (2000:301), ato que institucionalizou a neutralidade do Estado em
matéria de religião, foi obra da república proclamada em 1889.
É na república velha que o Estado brasileiro torna-se laico, ou seja,
tornou-se secular a qualquer denominação religiosa. O Estado brasileiro conseguiu
autonomia em relação ao grupo religioso ao qual se aliava, ou seja, a Igreja Católica.
Com a adoção da república brasileira, assegurasse o direito, de liberdade religiosa,
ao livre exercício dos cultos públicos, e insenção fiscal a todas as denominações
religiosas. Como relata SCAMPINI (1978:84):
“Sancionado pelo Governo Provisório da República dos Estados Unidos do
Brasil, o Decreto n. 119A de 7 de janeiro de 1890, de autoria de Rui
Barbosa, separou a Igreja Católica do Estado, extinguiu o padroado, proibiu
os órgãos e autoridades públicos de expedir leis, regulamentos ou atos
administrativos que estabelecessem religião ou a vedassem e instituiu
plena liberdade de culto e religião para os indivíduos e todas as confissões,
igrejas e agremiações religiosas”.
A Constituição brasileira de 1891, alicerçada pelo liberalismo da
Constituição norte-americana, transformou o Estado laico desvinculado legalmente
da Igreja Católica. Mantiveram-se as resoluções do decreto 119A, e instituiu a
separação em diversos segmentos da vida social. Instituiu o casamento civil, criou-
se a educação leiga nas escolas públicas, secularizou os cemitérios municipais,
acabou com a fiscalização do Estado ao culto de religiões não católicas, e
estabeleceu plenos direitos civis e políticos aos cidadãos pertencentes a crenças
acatólicas.
Diante da nova estruturação jurídica republicana, o Estado brasileiro se
viu legalmente forçado a romper com o grupo religioso dominante, e deixar de
defender os seus interesses. Porém, BEOZZO (2000:120) afirma que na pratica,
muito da legislação republicana em matéria religiosa, não passou de letra morta,
devido à tradição do catolicismo na cultura popular do país, e pela falta de cobertura
por parte do Estado em diversas regiões interioranas do Brasil.
A Igreja Católica não queria se separar do Estado brasileiro, pois, não
queria perder seus privilégios, os quais foram eliminados nas novas leis
estabelecidas no vínculo jurídico do Estado republicano brasileiro. De acordo com
MARIANO (2006a) a Igreja Católica durante toda a história da colonização do país e
no decorrer do Império, foi beneficiada pelo Estado brasileiro. E mesmo após a
separação republicana, a Igreja Católica ainda ocupava espaços consideráveis nas
áreas da educação, saúde, lazer e cultura.
Mesmo com a separação entre Igreja e Estado, no governo de Getúlio
Vargas a Igreja Católica recuperou uma serie de privilégios. Vargas admitiu padres
como capelães militares; introduziu crucifixos nas repartições públicas; o casamento
religioso foi inteiramente reconhecido pela lei civil e o divórcio foi proibido; foi
facultada a educação religiosa em escolas públicas durante o período de aulas; e foi
permitido ao Estado financiar escolas da Igreja, seminários, e até hospitais.
GRUMAN (2005a) questiona a laicidade do Estado Brasileiro. Afirma que se
atentarmos para a presença dos feriados religiosos oficiais no país, se evidencia
claramente o monopólio da religião Católica. A separação do Estado brasileiro em
1890, eliminou da Igreja Católica, a condição de religião oficial do país. Porém, o
estado concedeu-lhe plena liberdade de ação, que contribuiu para a romanização
homogeneizadora e grande crescimento institucional do catolicismo.
Embora a separação constitucional entre Igreja-Estado tenha se
consumado há mais de um século. MARIANO (2006a) explica que é só nas ultimas
décadas do século XX, durante o período mais repressivo do Governo Militar (19681974), que o Estado brasileiro se vê confrontado com a hierarquia da Igreja Católica,
afastando-se dela, e se aproximando das outras denominações religiosas em
crescimento, com o propósito de legitimar o protestantismo no país.
Na visão dos seguidores da teoria da secularização, o processo de
modernização da sociedade brasileira, tem caminhado para um lento declínio da
influência da religião na esfera pública. GRUMAN (2005a) afirma que a liberdade
religiosa no Brasil, implica num grau mínimo de pluralização religiosa. O pluralismo
religioso não é apenas resultado, mas fator de secularização. A discussão não é
mais sobre a separação entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica, mas, a
separação entre a religião e o poder estatal.
3.2 Liberdade e Pluralismo Religioso
Incorporado ao princípio da separação republicana, o Estado brasileiro
garantiu o direito à liberdade religiosa dos indivíduos e das denominações religiosas
não católicas, construindo o pluralismo religioso no país. A liberdade religiosa
estabelecida na Constituição desde 1891, pelo Estado Republicano brasileiro,
inspirada pela Assembléia nacional francesa de 1789, e assegurada na Assembléia
Geral das Nações Unidas de 1948, garante de forma legal o direito universal do
homem. Segundo MARIANO (2006a), a liberdade religiosa é a pedra angular da
vasta transformação sofrida no campo religioso brasileiro.
Segundo GAARDER (2000:302), a liberdade de consciência, a liberdade
de culto implica ainda outras tantas liberdades, tão fundamentais para a vida social
quanto à liberdade de pensamento. Para SCHEINMAN (2006a) o direito de liberdade
de consciência e de crença deve ser exercido concomitantemente com o pleno
exercício da cidadania. Toda pessoa têm o direito de não ser forçada a ir contra a
sua própria consciência, e contra os seus princípios religiosos. Não podendo impedir
que um indivíduo aceite ou rejeite uma crença religiosa, ou até mesmo, deixe de
professar tal crença.
Na
Declaração
Universal
dos
Direitos
Humanos
expedido
pela
Organização das Nações Unidas (ONU), em seu artigo 18 declara:
“ARTIGO 18. Todo homem tem direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou
crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino,
pela prática, pelo culto e pela observância isolada ou coletivamente, em
público ou em particular”.
A ONU no intuito de melhor esclarecer a questão da liberdade religiosa,
produziu a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e
Discriminação Baseadas em Religião ou Crença, estabelecida na resolução
n.°36/55. Em que afirma no artigo 1°, que ninguém sera sujeito à coerção por parte
de qualquer Estado, instituição, grupo de pessoas ou pessoas que debilitem sua
liberdade de religião ou crença de sua livre escolha.
Na mesma Declaração no artigo 6°, descreve que o direito à liberdade de
pensamento, consciência, religião ou crença inclui algumas liberdades, tais como
observar um dia de repouso e celebrar feriados e cerimônias de acordo com os
preceitos da sua religião ou crença. Na Declaração Americana sobre os Direitos
Humanos no decreto n.°678, de 6 de novembro de 1992 em seu artigo 12, assegura
a liberdade de consciência e de religião.
Na Constituição Federal brasileira no §2°, do artigo 5°, tais tratados
internacionais são inseridos ao direito pátrio. A Organização das Nações Unidas
(ONU) foi criada com o objetivo de propagar os direitos humanos e as liberdades
essenciais do indivíduo. Esta organização internacional de promoção dos diretos
humanos é alicerçada pela idéia de que toda nação têm por obrigação legal,
respeitar os direitos humanos de seu povo, e que a comunidade internacional, têm
por obrigação denunciar e protestar contra qualquer nação que desrespeitar tais
direitos.
A Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou em 1948, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, afirmando no artigo 1°, que todos os seres
humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos. Atualmente para a grande
parte dos países, a proteção dos direitos de dignidade do individuo, tornou-se uma
proteção moral e jurídica.
Os primeiros momentos de luta pela declaração e reconhecimento dos
direitos humanos aconteceram na Reforma Protestante. SCHEINMAN (2006a)
afirma que a declaração de independência dos Estados Unidos, é identificada
precisamente como a verdadeira certidão de nascimento dos direitos humanos.
Durante a fase revolucionária francesa, em 1789, a Assembléia Nacional francesa
defendeu a universalização dos direitos humanos. Estabelecendo os princípios
supremos do sistema universal dos direitos humanos; liberdade, igualdade, e
solidariedade.
Fazendo uma análise, os direitos humanos, se desenvolve: pelos direitos
de liberdade, que constitui a liberdade que o individuo têm em relação ao Estado;
pelos direitos políticos, onde se amplia à participação da sociedade na esfera
política; e pelos direitos sociais, construindo o bem estar ao individuo,
caracterizando sua liberdade.
A questão da liberdade religiosa é bastante intricada e sensível de se
analisar, pois abrange vários campos da ciências humanas, tais como a ciência
jurídica, a história, a teologia, a antropologia, e a filosofia. De acordo com
SCHEINMAN (2006a), a liberdade religiosa é composta pelas visões; jurídica,
eclesiástica e bíblica. Na visão jurídica a liberdade religiosa compreende o direito
fundamental da pessoa humana. Já na concepção eclesiástica da liberdade
religiosa, ela estabelece os direitos do indivíduo nos parâmetros do catolicismo. A
liberdade religiosa no sentido bíblico, afirma ser um Dom de Deus. Pois o Deus
Criador estabeleceu o livre arbítrio aos seres humanos.
Apesar de todo o desenvolvimento dos direitos humanos no segundo pósguerra, os problemas e dificuldades enfrentados pela liberdade religiosa são ainda
muito lamentáveis, considerando-se os conflitos religiosos vistos no século XX e,
também, nesse inicio de século. Em Estados mulçumanos e teocráticos, por
exemplo, uma mudança de religião pode ser punida com prisão e, até mesmo, com
a morte. Sérios dilemas religiosos ocorrem em países, como Sudão, Iran, Líbia e
Arábia Saudita. Outros países são divididos pela religião, levando-os a conflitos
internos. Caso por exemplo, da Índia, país dividido pelo Hinduísmo e pela religião
Mulçumana.
Como vimos, o Brasil já foi palco de inúmeras violências e perseguições.
Atualmente, porém, os problemas estão muito mais com a discriminação e com o
preconceito religioso. No Brasil, o protestantismo viveu em condições muito piores,
durante o período imperial. Com a proclamação da República Federativa do Brasil, a
liberdade religiosa foi ampliada, com a separação entre a Igreja Católica e o Estado
brasileiro.
A liberdade religiosa está inserida na Constituição Federal do Brasil, no
artigo 5°, em seus incisos VI, VII, e VIII33. A Constituição garantiu o direito
fundamental à liberdade religiosa, declarando o Brasil um país laico. A “neutralidade”
religiosa do Estado brasileiro permitiu o crescimento de crenças religiosas não
católicas, proporcionando o pluralismo religioso no país.
A situação do cenário religioso brasileiro é de uma concorrência pluralista
das mais variadas formas de religiosidades. O cenário é de um pluralismo religioso
competitivo. Surgem novas formas de crenças religiosas em espaço muito curto de
tempo, a construção de novos templos e até mesmo novas religiões genuinamente
brasileiras. Para MONTEIRO (2006a) o pluralismo religioso entendido como
tolerância à variedade de cultos existentes, e respeitando a liberdade de
consciência, foi construído ao contrário no Brasil. Não foi um fundamento do novo
Estado moderno, mas um produto.
No Brasil nunca houve tanta liberdade religiosa como atualmente.
GAARDER (2000:302) declara que os brasileiros fazem de sua nação, uma imagem
multicultural, hibridizada. Daí, possuir uma esfera religiosa pluralista. Esse pluralismo
religioso tem se alicerçado principalmente pela presença das igrejas cristãs no país.
Muitas vezes trazidas de fora por missionários, ou constituídas no próprio território
brasileiro. O Brasil parece se tornar cada vez mais um país totalmente cristão.
33
Artigo 5°. - VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença;
- VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei.
A quebra do monopólio da Igreja Católica com a secularização do Estado
brasileiro, não abalou com o crescimento do cristianismo. No Brasil as religiões
cristãs, são as que possuem o maior número de fiéis. A Igreja Católica, mesmo com
a perda de seus privilégios, continua sendo a igreja cristã predominante, com grande
número de seguidores e detentora da cultura popular do país. Nas palavras de
NOTAKER (2000:304), o Brasil é mesmo, a “Terra de Santa Cruz”, pois a grande
maioria da população pertence a crença do cristianismo. Como relata a descrição
das palavras de PIERUCCI (2000:300):
“O mundo inteiro conhece a gigantesca estátua do Cristo Redentor no Rio
de Janeiro. Inaugurado em 1931 bem no topo do Corcovado, ponto da mais
alta visibilidade e imponência, esse cartão-postal é encarado por todos
como uma imagem da marca do Brasil. Símbolo de um país de cristãos,
sem dúvida. Antes de mais nada, porém, dado que os protestantes
abominam como idolatria o uso que os católicos fazem das imagens
sacras, o Cristo do Corcovado pretende ser o ícone católico de um “país
católico”, só que, hoje cada vez menos católico”.
Com a chegada dos imigrantes estrangeiros na segunda metade do
século XIX, o protestantismo começou a desenvolver-se em território brasileiro, com
um crescimento populacional gigantesco. GAARDER (2000:304) afirma que o
Luteranismo continua sendo a maior das denominações protestantes históricas
presentes
ainda no Brasil.
Através dos
missionários
estrangeiros, outras
comunidades de protestantes históricos chegaram a se constituir no país; os
presbiterianos, os metodistas, os batistas, e os episcopais, com o objetivo de
evangelizar o povo brasileiro às suas crenças.
HELLERN (2000:307) afirma que no final do século XIX, já estavam
praticamente instalados no Brasil, todas as denominações do protestantismo
clássico. Luteranos, anglicanos, metodistas, presbiterianos, congregacionalistas, e
batistas. A partir das primeiras décadas do século XX começaram a desembargar no
Brasil as primeiras igrejas pentecostais. Tornando-se, na segunda metade do século
XX as maiores igrejas do protestantismo brasileiro.
O movimento das igrejas
pentecostais no Brasil se caracteriza em dois segmentos; as igrejas pentecostais
clássicas, e as igrejas neopentecostais.
As igrejas pentecostais clássicas no Brasil, são compostas das seguintes
comunidades religiosas; a Congregação Cristã do Brasil, a Assembléia de Deus, a
Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, a Deus
é
Amor,
e
a
Igreja
Casa
da
Benção.
As
Igrejas
caracterizadas
pelo
neopentecostalismo são; a Igreja de Nova Vida, a Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça
de Deus, e a comunidade religiosa Renascer em Cristo.
Na esfera religiosa brasileira, existem também as religiões não cristãs,
representadas
pelo
Espiritismo
Kardecista
e
as
religiões
Afro-brasileiras,
caracterizadas por serem religiões de transe. E existem no país as religiões não
cristãs com pouca representatividade no cenário religioso. É o caso do Judaísmo,
Islamismo, Budismo, o Hare Krishna, o Xintoísmo, e outras crenças religiosas
oriundas do continente Asiático. Surgem também nesse cenário religioso brasileiro,
as chamadas religiões da Ciência Cristã: os mórmons, as Testemunhas de Jeová, a
Ciência Cristã, e o Racionalismo Cristão.
O Espiritismo Kardecista foi inserido no Brasil, segundo GAARDER
(2000:309), durante a segunda metade do século XIX, caracterizado por usar a
moralização da conduta do indivíduo, e conseguindo seguidores através dos
serviços terapêuticos. As religiões Afro-brasileiras formaram-se em diferentes
lugares do país, através dos escravos trazidos do continente Africano para o Brasil.
O Candomblé, Xangô, Tambor de mina, Batuque, e a macumba, são as principais
crenças do movimento negro no país. Para NOTAKER (2000:319) percebe-se no
Brasil, uma aproximação das mais variadas crenças e tradições religiosas africanas
com as formas populares da Igreja Católica.
Existe também no cenário religioso brasileiro a Igreja Adventista do
Sétimo Dia, uma denominação religiosa de caráter cristão, que possui como uma de
suas principais doutrinas fundamentais, a guarda do Sábado bíblico. Em que,
percebemos certo preconceito e discriminação por parte da sociedade capitalista
atual.
No Brasil, devido ao vasto cenário religioso presente, nota-se uma
competição entre as diversas denominações religiosas por uma maior ampliação na
representação política e na mobilização do sistema judiciário nas resoluções de
questões éticas. O país caracteriza-se pela garantia de liberdade dos grupos
religiosos na disputa por seus direitos na esfera pública. O domínio do espaço
público pela religião, quebrando as barreiras entre o que público e o que é privado,
possibilitou no Brasil a luta na esfera religiosa pela posição na esfera política do
Estado.
3.3 A Relação entre Trabalho e Religião
De acordo com GAARDER (2000:17) a religião é um sentimento ou uma
sensação de absoluta dependência. Significa a relação entre o homem e o poder
sobre-humano. A religião é a convicção de que existem poderes transcendentes,
pessoais ou impessoais.
Karl Marx, afirmava que a religião assim como a arte, a filosofia, as idéias
e a moral, não passavam de uma cobertura por cima da base, que é econômica.
Para Marx, o que comandava a história, era o modo como a produção se organizava
e quem controlava os meios dessa produção, ou seja, as fábricas e as máquinas.
Declarava que a religião possuía esses requisitos básicos. WEBER (2006:110)
aponta para as respectivas contribuições do luteranismo e do calvinismo/puritanismo
para a constituição e conformação do espírito capitalista.
O capitalismo luterano teria aberto a passagem para a valorização do
trabalho e de seus frutos. Enquanto que o calvinismo, através da visão de
predestinação à salvação, permitiu inserir ao trabalho e aos seus ganhos um sentido
de espiritualidade. WEBER (2006:121) demonstra na relação entre as virtudes
puritanas e a ética burguesa, caracterizada pelo incentivo ao trabalho lucrativo, à
condenação da perda de tempo, e às exigências de ordem e disciplina; a relação
entre o protestantismo e o capitalismo.
A sociedade capitalista é dominada pelo capital. A produção de riqueza
no mundo é sustentada pela força de trabalho humano. O presente século mostra
que o mundo é caracterizado por uma sociedade de trabalho. O trabalho forma o
homem, a sociedade que ele está inserido, e a sua história. O poder hegemônico do
trabalho retrata visivelmente que ele não permite outro deus ao seu lado. A
modernização ocidental, alicerçada pelo capitalismo, prega a santidade do trabalho.
Pois, na concepção capitalista o trabalho faz parte da determinação natural do
homem. Como ilustram as palavras de FONSECA (2006a):
“Afirmar que o trabalho está na base da história é afirmar que é o trabalho
(historicamente determinado) que funda a história. O trabalho tem então
uma dimensão ontológica, ou seja, ele está enraizado na existência dos
homens, de tal maneira que sem ele nem homens nem história existiriam.
É o mesmo que dizer que o trabalho tem um caráter de anterioridade, isto
é, ele é anterior e determinante das variadas formas dos homens existirem
e se organizarem socialmente. Por isso a conceituação de trabalho vem
sendo feita ao longo da história dos homens e, ao mesmo tempo em que
vai sendo conceituado e explicado, o trabalho vai determinando a vida e as
organizações humanas”.
O século XXI mostra que a religião está sendo readaptada nas estruturas
do sistema capitalista atual. O capitalismo utiliza a religião como controle da
sociedade, com o objetivo da exploração e expropriação do ser humano. A religião
foi caracterizada como sendo um estilo da vida e da moral privada de cada individuo.
Passou a ser utilizada pelas empresas, explicada como espiritualidade do trabalho.
Para SIQUEIRA (2006a) as tendências e práticas religiosas alternativas,
crescem constantemente no mundo do trabalho, devido a falta de capacidade das
igrejas. No mundo ocidental surgem novas formas de religiosidade, pelas classes
privilegiadas da sociedade, tais como; a acupuntura, a homeopatia, florais, diversos
tipos de massagem, o vegetarianismo, viagem astral, o tarô, e ampla literatura de
auto-ajuda. As grandes empresas têm usado as características dessas novas
religiosidades com os seus funcionários, objetivando aplicar em seus empregados:
uma paz de espírito; o uso da verdade; rejeição a violência; e a implantação do
amor.
Na visão de SIQUEIRA (2006a), as novas formas de religiosidades
implantadas pelo sistema capitalista tendam a valorizar uma postura humanista,
mais do que nas religiões institucionalizadas. Esses novos mecanismos de
espiritualidade no cenário do trabalho, caracteriza-se por um anti-clericalismo, antidogmatismo, e uma anti-hierarquia. O sistema capitalista prega essas novas
religiosidades para o trabalhador produzir, melhores possibilidades de negócios,
ampliação de sua criatividade, e a satisfação pessoal desses trabalhadores.
O mundo capitalista sustenta essa religiosidade por acreditar que ela se
torna essencial para a formação de seus trabalhadores. Instalando no campo do
trabalho, sustentabilidade, igualdade social, individualismo, consciência coletiva, e
capital humano. O cenário do trabalho é um campo muito importante de atuação
humana. Um local onde o conflito é mais presente. A competição, a complexidade, o
ter de ser melhor, estão impregnados. A temperança, o equilíbrio, o bom senso e a
razão, são difíceis de serem postos em prática.
SIQUEIRA (2006a) declara que essas novas religiosidades implantadas
pelo sistema capitalista, trazem ao cenário do trabalho três metas principais: um
ambiente de trabalho pensado como boa conduta; bem-estar, amor, integridade,
verdade, saúde, e felicidade; o trabalho com significado e sentido, em lugar de
relações profissionais; e o trabalhador como referência. O uso dessa religiosidade
pela esfera capitalista, tem como propósito aumentar a produção de seus
trabalhadores, com o objetivo de aumentar os lucros das empresas.
As novas espiritualidades religiosas utilizadas pelo sistema capitalista,
compõem os
atuais
recursos
de dominação,
exploração
e subordinação
estabelecida aos trabalhadores do século XXI. O capitalismo atual disfarça-se por
trás dessas novas espiritualidades para controlar hegemonicamente as relações
entre o trabalho e a religião. Dentro da esfera capitalista não há espaço para a
aceitação de doutrinas das religiões tradicionais. A introdução dos valores universais
da condição humana no sistema capitalista, é para controlar a relação capitaltrabalho. Despersonalizando o modo de produção, como afirma FONSECA (2006a):
“O capitalismo torna possível a concretização do conceito de trabalho
porque o abstrai de cada ato concreto que produz um valor de uso e o
transforma em valor de troca, em mercadoria. O capitalismo despersonaliza
o processo de produção, o qual passa a obedecer ao movimento próprio do
capital. É por isso que o conceito máximo do trabalho só ocorre com a sua
máxima abstração. Trata-se de uma abstração fundamentalmente social,
porque se dá concretamente em meio ao processo de troca”.
3.4 A Guarda do Sábado na Sociedade Capitalista
A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem
causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos princípios do
Capitalismo. Uma das características do Capitalismo, é o controle sobre o tempo,
que é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador
passa a ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser
regido pelo mundo Capitalista.
Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que o bondoso Criador, após os seis
dias da Criação, descansou no Sétimo Dia e instituiu o Sábado para todas as
pessoas como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus,
segundo os Adventistas, requer a observância deste Sábado do Sétimo Dia como o
dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de
Jesus, o Senhor do Sábado. De acordo com os princípios Adventistas, o Sábado é
um dia de deleitosa comunhão com Deus e uns com os outros. Crêem que é um
símbolo de nossa redenção em Cristo, um sinal de nossa santificação, uma prova de
nossa lealdade e um antegozo de nosso futuro eterno no Reino de Deus.
Crêem os Adventistas do Sétimo Dia, que o Sábado é o sinal perpétuo do
eterno concerto de Deus com seu povo. A prazerosa observância deste tempo
Sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração
dos atos criadores e redentores de Deus.
Na sociedade contemporânea regida pelo Sistema Capitalista, é
impossível à humanidade parar simultaneamente um só dia na semana. Para o
Capitalismo se toda a humanidade resolvesse guardar o Sábado, seria um caos total
em setores
imprescindíveis, como
a
energia
elétrica, saúde, segurança,
abastecimento de água, combustíveis e indústrias diversas. Daí, ocorrer o
antagonismo entre o Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à
guarda do Sábado. Em que, ambos os lados não flexibilizam suas convicções.
Para GONZALEZ (2000:120), esta lógica hipotética das dificuldades
mundiais, Jesus responderá: “É lícito fazer o bem no Sábado” (Mateus 12:12). De
acordo com os Adventistas, o Senhor Jesus soluciona o problema, bem como está
reafirmando a santidade deste dia, porque se há algo lícito de se fazer no Sábado, é
porque há algo ilícito proibido de se fazer nele. Nenhum Hospital Adventista no
mundo fecha suas portas no pôr-do-Sol da sexta-feira. Mas, as Escolas,
Universidades, as Fábricas de Alimentos, as Indústrias Panificadoras, as Editoras, o
Setor Administrativo da Igreja, certamente que fecham.
Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, os grandes princípios da lei de
Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo.
Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das
relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas.
Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com seu povo e a norma no
julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o
pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é
inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos
mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa
sensação de bem-estar.
De acordo com os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a
obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece,
portanto, o testemunho cristão. Por obedecerem aos Dez Mandamentos de acordo
com os ensinamentos bíblicos, guardam o Sábado para serem salvos. Para o
Capitalismo, o trabalho é primordial para a manutenção dos meios de produção. Daí,
ocorrer uma incompatibilidade com os Adventistas, quanto á observância da guarda
do Sábado.
Segundo MANCE (2006a), o capitalismo tornou o trabalhador alienado,
isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas,
etc.). Passou a ser controlado pela classe dominante, ou seja, a burguesia. Desse
modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a vender sua força de
trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por essa venda. Como há mais
pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de
aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso
negue, achando que é pouco, uma exploração, o patrão estala os dedos e milhares
de outros aparecem em busca do emprego. Portanto é aceitar ou morrer de fome.
Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas,
além de serem excluídos das decisões gerenciais.
Em relação ao antagonismo existente entre a guarda do sábado pelos
adventistas e a importância do trabalho para o capitalismo, a mesma situação
acontece. Caso o trabalhador Adventista do Sétimo Dia se negue a trabalhar no
sábado, o patrão busca um novo empregado. A santificação e a guarda de um dia
da semana representa um aspecto teológico fundamental para diversas religiões.
Embora o sentido teológico e histórico do dia da guarda ou adoração varie entre as
diferentes religiões, é inegável que a observância de práticas religiosas, em
particular ou em público, possibilite conflitos entre obrigações legais e princípios
religiosos. Segundo SCHEINMAN (2006a):
“É direito fundamental de toda pessoa não ser obrigada a agir contra a
própria consciência e contra princípios religiosos. Segue-se daí, não ser
lícito obrigar-se cidadãos a professar ou a rejeitar qualquer religião, ou
impedir que alguém entre ou permaneça em comunidade religiosa ou
mesmo a abandone. O direito de liberdade de consciência e de crença
deve ser exercido concomitantemente com o pleno exercício da cidadania.
Qualquer tentativa no sentido de pressionar o poder público na elaboração
de leis civis que tenham em conta o dever ou a obrigação de santificar
qualquer dia com o "Dia do Senhor", representa um retrocesso histórico
inaceitável e um atentado contra o direito de liberdade religiosa”.
Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels analisaram mais
intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção
por um grupo de pessoas, os burgueses, e outro grupo expropriado possuindo
apenas seu corpo e capacidade de trabalho, os proletários. Estes são, portanto,
obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente
explorados e os patrões obtém o lucro através da mais-valia. No sistema capitalista,
o trabalho possui um único objetivo, produzir valor. De acordo com OLIVEIRA
(1998:79):
“O trabalhador torna-se apêndice da máquina e a sua capacidade produtiva
condiciona-se à noção de lucro, isto é, pelo que o seu trabalho representa
na consecução do produto. Estabelece-se o domínio do trabalho pelo
capital e a mais-valia torna-se a marca registrada dessa dominação”.
Numa entrevista de um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ao
Sr. Lourenço Silva Gonzalez. Foi lhe perguntado, a sua opinião a respeito dos
prejuízos à carreira profissional acarretados a muitos jovens Adventistas por terem
que observar o Sábado. Sua resposta foi a seguinte, GONZALEZ (2000:13):
“Obedecer não traz prejuízos; somente lucros aqui e na eternidade. José
na corte faraônica assediado pela ímpia mulher de Potifar (Gen. 39:9),
preferiu não transgredir a Lei de Deus(o sétimo mandamento). Teve
prejuízo? Não! Ao contrário, tornou-se o segundo do Império e senhor do
mundo. Eu mesmo, morava num barraquinho no morro do Tuiuti, com
minha mãe viúva e quatro filhos. Aos 18 anos, era membro Batista e fiel na
causa do evangelho. Trabalhava numa Indústria de soldas com doze filiais
no Brasil, e já assumira o cargo de chefe de vendas. Começando a ganhar
melhor, descemos o morro e compramos, no mesmo bairro, uma casa de
alvenaria na favela da Barreira do Vasco, São Cristóvão, RJ.
Porém, como um jovem apaixonado pelo Senhor Jesus e tremendamente
inquiridor, esbarrei-me com a Lei de Deus, a mesma que Daniel, José,
Ananias, Azarias e Mizael obedeceram. Tornei-me Adventista. Quando
pedi o Sábado livre ao meu patrão, este pensou que um jovem
enlouquecera em sua Empresa. A verdade é que subir vertiginosamente
naquela firma. Assumi a gerência e cheguei a ser um dos seus Diretores.
Finalmente saí e montei uma empresa concorrente. Posteriormente deixeia com meus irmãos Afonso e Sérgio e iniciei uma gráfica que hoje é a
nossa querida editora ADOS.
Conheci Marlene, uma preciosa jovem Adventista que, aos dezoito anos,
estava cursando a Faculdade de Direito e algumas vezes solicitou troca de
turma aos professores, por causa das provas do Sábado. Foi-lhe sempre
concedido. Após casar-se, ela fez concurso para o B.N.H.; passou
juntamente com sua irmã que não era e nem é Adventista. Na entrevista
para assumir o desejado cargo, ela soube que o Sábado era livre, todavia
às sextas-feiras o expediente estendia-se ate às 19:00h. Expôs as razões
de sua fé e solicitou a permissão para compensar as horas excedentes do
pôr-do-sol de sexta-feira.
A resposta do Diretor foi:
“Decida: ou o B.N.H. ou sua igreja”.
Aquela preciosa jovem Adventista respondeu:
“Esta decisão já fiz a muito tempo. Pode ceder o cargo para
outra pessoa”.
Marlene, em sua juventude, decidira que Cristo é o Senhor de sua vida.
Sua irmã assumiu o posto no B.N.H., e Marlene continuou uma jovem
desempregada - fiel e confiante. Não demorou muito, o B.N.H. (Banco
Nacional de Habitação) fechou, e sua irmã como concursada, foi
transferida para uma pequena agência da Caixa Econômica no interior.
Marlene inscreveu-se em concurso para Juiz de Direito no Rio de Janeiro.
A primeira prova caiu no Sábado. Não fez. O segundo concurso que
iniciou, também interrompeu, pois algumas provas caíram no Sábado.
Marlene resolveu fazer concurso para o Ministério Público e nenhuma
prova caiu no Sábado. Passou entre os primeiros colocados e tornou-se
uma excelente Promotora de Justiça de Primeira Categoria da Comarca do
Rio de Janeiro. Hoje, Marlene – minha esposa e namorada de trinta e cinco
anos, alcançou o último escalão da Magistratura Pública, tornando-se
Procuradora de Justiça, cargo similar ao de Desembargador. Temos três
preciosos filhos: Priscila – Arquiteta. Samuel – Advogado. Daniel – Diretor
da ADOS.
O Senhor é um Deus que abençoa, mas, a maior alegria para o obediente
não é buscar bênçãos, lucros, posições e espaços sociais, mas é estar em
paz com sua consciência, obedecendo integralmente a palavra dAquele
que por nós, morreu na cruz.”
Segundo GONZALEZ (2000:18), para os Adventistas do Sétimo Dia, ao
observarem o Sábado, revelam disposição de aceitar a vontade de Deus para sua
vida. Crêem as Adventistas, que a observância do Sábado revela que desistimos de
confiar em nossas próprias obras, compreendendo que somente Cristo, o Criador,
pode nos salvar. De acordo com seus princípios, efetivamente, o espírito da
verdadeira observância do Sábado revela supremo amor por Jesus Cristo, o Criador
e Salvador, que nos está transformando em novas criaturas. Ela torna a guarda do
dia correto, da forma correta, um sinal de justificação pela fé.
Os Adventistas explicam que desejam o Sábado livre, por razões
religiosas. Crêem e aceitam que o sétimo dia é o Sábado e que desejam adorar a
Deus exatamente nesse dia. A sua convicção, baseada na Palavra de Deus, é que o
sétimo dia é o Sábado da lei de Deus e que não podem violar a sua consciência.
Essas pessoas não querem perder o seu emprego. Apreciam o patrão ou patrões,
mas desejam ter o direito de prestar culto, desde o pôr-do-sol de sexta-feira ao pôrdo-sol de Sábado. E explicam que se acham dispostos a repor esse tempo no
domingo ou distribuí-lo pelos outros dias da semana.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem constantemente lutado pelo pleno
exercício da liberdade religiosa de todas as pessoas, inclusive observadores do
Sábado. Atualmente a Igreja Adventista opera globalmente para proteger esses
direitos. Através do Dr. John Graz, secretário-geral da Associação Internacional de
Liberdade Religiosa (AILR) e representante da Igreja Adventista do Sétimo Dia na
associação. Apesar dos avanços observados no campo da liberdade religiosa, ainda
existe um longo percurso para caminhar. Destacando as palavras de Hannah Arendt
(apud GRAZ, 2005), “os direitos humanos não são um dado, mas um construído,
uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução”.
A observância do Sábado bíblico ainda é muito preocupante, pois esbarra
no problema da efetividade da atual Constituição Federal de 1988 e, também, na
falta de uma legislação federal que, efetivamente, garanta ao observador do Sábado
o direito de estudar e de trabalhar, sem prejuízo de sua consciência. Muitos jovens
brasileiros encontram dificuldades no ensino fundamental e universitário quanto à
questão de se observar o dia de Sábado.
Nos tribunais do Brasil, há vários casos a respeito da questão dos
concursos aos sábados, garantindo o direito dos adventistas de realizarem a prova
em outro dia da semana. Cita-se exemplificadamente os seguintes casos e as
decisões que foram estabelecidas:
No Estado do Pernambuco, na 2ª Vara da Justiça Federal (Autos n.º
90.5816-3), julgou-se caso que envolvia a Universidade Federal de Pernambuco, a
qual realizava as provas do vestibular nos dias de Sábado, tendo sido concedida
liminar como segue:
"Assim sendo com base no inciso II do art. 7° da Lei n° 1533/51 e inciso
VIII do art. 5° da Constituição Federal, concedo a liminar pleiteada e
determino que o Sr. Presidente da Comissão de Vestibular das
Universidades Federal e Rural de Pernambuco- CONVEST, Sr. Murilo
Cezar Amorim Silva, ou seu substituto legal, tome as providências para
assegurar o direito de os impetrantes submeterem-se às provas do
vestibular, marcadas para o próximo dia 08, Sábado, de tal forma que
sejam respeitadas suas convicções religiosas, ou seja, que possam iniciar
a realização das referidas provas somente após o pôr do sol do
mencionado dia, ou no dia seguinte, a critério da autoridade impetrada,
sem prejuízo evidente da fiscalização. Notifique-se a autoridade impetrada
a apresentar informações no prazo legal. No momento oportuno, ao MPF
para ofertar parecer no prazo legal. Publique-se. Intime-se. Recife, 05 de
dezembro de 1990. Francisco Alves dos Santos Júnior. Juiz Federal 2ª
Vara - PE.".
O Juízo da 11.ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre-RS, concedeu
liminar em mandado de segurança, de acordo com a decisão descrita:
"Impetrante: Valdson Silva Cleto. Mandado de Segurança n° 98.0025525-7.
Impetrada: Diretora Regional da Escola de Administração Fazendária. Pelo
presente mandado de segurança, pretende o impetrante ver assegurado o
direito de realizar as provas do concurso de Auditor-Fiscal do Tesouro
Nacional-AFTN, no próximo dia 17, a partir das 19 horas, após o
crepúsculo vespertino náutico. Narra na inicial que professa sua fé segundo
a Doutrina Adventista, que tem como dia de guarda o Sábado, e que,
portanto, não poderá submeter-se à realização das provas no horário
designado para o dia 17 de outubro (13 horas), já que se trata de período
em que se deve se abster de atividade que não as vinculadas diretamente
à sua religião. Fundamenta seu pedido na liberdade de crença garantida
constitucionalmente. Examino o pedido de liminar. Há relevância nos
fundamentos do impetrante. A Constituição garante, efetivamente, no inciso
VI do art. 5º, a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre
exercício dos cultos religiosos. O impetrante é membro em exercício da
Igreja Adventista do Sétimo Dia, que tem o Sábado como dia de guarda, o
que impõe aos fiéis que se abstenham de atividades seculares do pôr-dosol de Sexta-feira ao pôr-do-sol de Sábado. A falta de simultaneidade não
se constitui em circunstâncias que afetem o interesse público e a isonomia,
pois a prova será realizada pelo requerente no mesmo dia, porém após as
19 horas, com a mesma duração prevista para os demais candidatos e
será preservado o sigilo. Neste contexto, e para resguardar a liberdade de
crença e de consciência, defiro a medida liminar para o efeito de assegurar
ao impetrante a realização da prova do concurso para AFTN, designada
para o próximo Sábado – 17 de outubro, em horário especial – a partir das
19 horas, devendo a autoridade impetrada adotar as providências
necessárias à preservação do candidato em condição de
incomunicabilidade, nas dependências do local onde se realizará a prova, a
partir do horário de início previsto para os demais concorrentes. Oficie-se
para cumprimento e informações. Após, ao Ministério Público Federal,
voltando conclusos para a sentença. Em 16 de outubro de 1998. Taís
Schilling Ferraz. Juíza Federal da 11ª Vara.".
Um mandado de segurança, impetrado por Jefferson Antonio Quimelli,
residente em Curitiba-PR, a Juíza Leda de Oliveira Pinho, da 2.ª Vara Federal,
proferiu a seguinte liminar:
"Mandato de Segurança n° 98.0023378-4. Impetrante: Jefferson Antonio
Quimelli. Impetrado: Diretor da Escola de Administração Fazendária do
Paraná. DECISÃO (em plantão). Trata-se de mandado de segurança com
pedido de liminar para que o impetrado promova condições de o impetrante
realizar a prova marcada para o dia 17/10/98 (Sábado) em horário
compatível com sua crença religiosa, ou seja, após o pôr-do-sol desse dia,
devendo o início da prova se dar a partir de 19:15 e término às 00:05 horas
do dia 18/10/98. Sustenta, com fulcro no art. 5° "caput" e inciso 6°, da
Constituição Federal, seu direito líquido e certo de obrigar a autoridade
coatora a providenciar condições para que participe das provas em horário
compatível com sua convicção religiosa. DECIDO. São relevantes os
fundamentos da impetração. Os princípios constitucionais devem ser
interpretados harmoniosamente. Assim, a norma constitucional que prevê o
acesso aos cargos públicos tão só mediante concurso público, não pode
violar outras garantias constitucionais, tais como o direito de liberdade, de
consciência e de crença, previsto no artigo 5º, inciso VI, da Constituição
Federal. Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da
4ª Região, conforme ementa a seguir transcrita: EMENTA: Administrativo.
Mandado de segurança. Remessa oficial, direito de prestar prova física de
concurso em dia diverso do determinado. Liberdade de crença religiosa. 1.
Não há prejuízo ao interesse público, nem ao procedimento do concurso
público, se, por força de liminar, a impetrante realizou a prova em momento
não conflitante com sua crença religiosa por pertencer a igreja Adventista
do Sétimo Dia que tem o Sábado como dia de guarda. 2. Resguardo do
princípio constitucional que assegura a liberdade de crença e de
consciência bem como aqueles que regem a administração quando se trata
de concurso público. 3. Remessa oficial improvida. (Proc.: REO 040925695/RS, Tribunal: TR4, Turma: 04, REL. JUIZ: Juíza Silvia Goraieb, Decisão:
12/12/1995, unânime, DJ 24/01/96, PG: 02506). O "periculum in mora" é
evidente, porquanto o retardo na prestação jurisdicional ocasionará ao
impetrante grave dano, uma vez que o concurso está marcado para o
próximo dia 17. Pelo exposto, defiro a liminar, nos termos em que
requerida. Oficie-se ao impetrado para que dê cumprimento a esta liminar e
para que, no prazo de 10 dias apresente as informações que tiver. Curitiba,
15 de outubro de 1998. Leda de Oliveira Pinho. Juíza Federal / 2ª Vara em
plantão.".
No Estado de São Paulo, a Juíza Maria de Fátima dos santos Gomes, ao
julgar mandado de segurança impetrado por Frederick Malta Buarque de Gusmão,
médico cardiologista, em decorrência de prova designada para o Sábado (06/06/98),
em concurso da Polícia Militar, proferiu, a seguinte decisão:
"Frederick Malta Buarque de Gusmão, médico cardiologista, impetrou
mandado de segurança, com pedido de liminar, contra o Sr. Coronel Diretor
de Pessoal da Polícia Militar do Estado de São Paulo, alegando em síntese
que a prova foi marcada para um Sábado, dia em que o impetrante não
pode realizar o exame, por força de credo religioso, com amparo
constitucional...Foi deferida a liminar (fls. 34). A autoridade apontada como
coatora prestou informações. O Ministério Público opinou pela denegação;
É o relatório. DECIDO. Trata-se de mandado de segurança interposto por
inscrito em concurso público, insurgindo-se contra o indeferimento de
requerimento para designação de nova data para realização na data
marcada, por força de credo religioso. Malgrado o zelo e o esforço da digna
autoridade coatora, é de rigor a concessão da segurança, merecendo
amparo a pretensão do impetrante. Com efeito, é assegurada
constitucionalmente a liberdade de credo religioso, sendo vedada qualquer
privação de direitos por força de opção religiosa como dispõe o inciso VIII
do art. 5º da Constituição Federal. De fato, nota-se que o impetrante,
preenchendo os requisitos necessários para a participação no concurso,
está impossibilitado de exercer o direito de possibilidade de acesso à
função pública, assegurado a todos os brasileiros no inciso I do art. 37 da
Carta Magna. Assim, a inadequação do concurso público com a liberdade
do credo religioso, apresenta violação aos princípios da acessibilidade à
função pública, da igualdade e da liberdade de credo religioso. Ante o
exposto, por esses fundamentos e por tudo o mais que dos autos constam,
julgo PROCEDENTE o pedido, CONCEDENDO a segurança rogada,
tornando definitiva a liminar concedida, a fim de ser julgada nova data para
realização do exame, arcando o impetrado com as custas e despesas
processuais na forma da lei. São Paulo, 06 de julho de 1998. Maria de
Fátima dos Santos Gomes. Juíza de Direito".
Observa-se nessas decisões que parte do Poder Judiciário são flexíveis
quanto à questão da Santificação e guarda do Sábado pela Igreja Adventista do
Sétimo Dia. Porém, apenas dez estados brasileiros tem legislação que asseguram o
direito de resguardo religioso. As decisões judiciais são ainda muito controversas.
São tomadas de acordo com a interpretação de cada juiz. Muitos juizes afirmam que
a liberdade de crença, assegurada na Constituição Federal, não justifica o uso da
religião como obstáculo ao cumprimento de uma obrigação geral.
Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, ter liberdade religiosa não
significa apenas poder falar de uma igreja, mas assegurar o respeito à vontade e
aos direitos que todo ser humano tem, independente do seu credo.
Segundo os
Adventistas do Sétimo Dia, o resguardo está previsto na própria Bíblia, e não seria
exclusividade da religião Adventista.
4 CONFLITOS E CONTRADIÇÕES NA REALIDADE MARANHENSE
4.1 Composição social do Adventismo
Até a década de 1940, segundo SARAIVA (2002:53), esses primeiros
adventistas
maranhenses
eram muito pobres. A classe social adventista
maranhense era composta de pescadores, sapateiros, alfaiates, que possuíam
dificuldades financeiras. Com a vinda de colportores, pastores evangelistas, em
1942, os quais realizaram várias séries de evangelizações no Maranhão, houve um
crescimento do número de membros, que permitiu a possibilidade de se alugar um
casarão para a realização dos cultos dos adventistas.
Os anos seguintes foram marcados por várias séries de conferências,
realizadas por pastores que vinham da missão Costa Norte, com sede em Fortaleza,
que proporcionou mais e mais, para o crescimento da Igreja Adventista no
Maranhão. Com o desenvolvimento do Adventismo no Maranhão, no ano de 1951 foi
construído o primeiro Templo Adventista em território maranhense. Em 27 de
outubro de 1951, foi inaugurada a Igreja Adventista Central de São Luís-MA, na rua
Celso Magalhães.
Com a instalação da Igreja Adventista Central, o movimento adventista foi
se expandindo ainda mais na capital maranhense. Os anos 60, 70 e 80, é o período
de construções de outras Igrejas Adventistas em São Luís. A Igreja Adventista
instala-se no bairro do São Francisco, no João Paulo, Anjo da Guarda, Monte
Castelo, Cohab, Vila Palmeira, e outros. Concretizando atualmente, com mais de
170 igrejas na capital. Com o desenvolvimento da Igreja Adventista no Maranhão, no
ano de 1988, foi construída a sede administrativa maranhense, antes, administrada
pela missão Costa Norte.
Em 30 de julho de 1988, foi inaugurado a Missão Maranhense. Neste
mesmo ano é instalada a Escola Adventista de São Luís, ao lado da Missão
Maranhense. A estruturação administrativa da Igreja Adventista no Maranhão
cresceu ainda mais. Hoje, existe também a Escola de Natação da IASD, e o Centro
Adventista de Lazer e Treinamento. Devido ao grande crescimento de membros da
Igreja Adventista no Maranhão, em 2005 construiu-se na cidade de Imperatriz a
Missão Maranhão do Sul, com o objetivo de melhor administrar a Igreja no
Maranhão.
Atualmente o Estado do Maranhão possui uma comunidade de
Adventistas com mais de 100.000 membros. Daí, a administração superior da
Missão Maranhense, ou seja, A União Norte Brasileira, denominar o Maranhão de “O
Campo dos Milagres”. Devido ao grande número de batismos realizados por ano. A
Igreja Adventista no Maranhão surgiu pobre e hoje possui grandes dimensões em
termos estruturais. Como relata as palavras de SARAIVA (2002:262):
“A marcha de mil quilômetros começa com um passo”. No Maranhão, o
primeiro passo dessa marcha foi dado por um homem – Firmo Marinho, um
barbeiro pobre, mas rico nas coisas espirituais, que não querendo ficar
sozinho resolveu falar aos outros da mensagem adventista que tinha no
coração. Enquanto cortava o cabelo e raspava a barba de seus fregueses,
falava de Jesus e do grande amor de Deus pelos pecadores. “Hoje, 80
anos depois, já éramos mais de 72 mil membros batizados e mais de 700
Igrejas e Grupos, no início de 2002”.
Mesmo com o grande desenvolvimento do Adventismo no Maranhão,
ainda existem pelo menos, uns 70 municípios no Estado do Maranhão que não tem
nenhum Adventista do Sétimo Dia. Dos municípios com presença de Adventistas no
Maranhão, segundo dados da Missão Maranhense, a composição social atual dos
membros da Igreja Adventista no Estado não é das melhores. No Maranhão, 70%
dos Adventistas pertencem à “classe baixa”. 25% estão inseridos na “classe médiaalta”, e 5% dos membros estão na “classe alta” (GUIMARÃES,2006).
Devido o Estado do Maranhão ser um dos estados mais pobres da
Federação, isso contribui para que os membros da Igreja Adventista do Maranhão
sejam em sua grande maioria desfavorecidos economicamente. Situação que
caracteriza não só a comunidade Adventista Maranhense, mas, também outras
comunidades religiosas presentes no Estado.
4.2 A Posição do Sistema Capitalista
O Estado do Maranhão está inserido no contexto do Sistema Capitalista,
onde o aumento do capital é primordial para o desenvolvimento de um Estado. Para
o Sistema Capitalista se toda a humanidade resolvesse guardar o Sábado ou parar
um dia na semana, seria um caos total em setores imprescindíveis, como a energia
elétrica, a saúde, a segurança, o abastecimento de água, combustíveis e indústrias
diversas.
O Sistema Capitalista tem mais força que a própria religião. O trabalhador
Adventista se não se adaptar às condições da empresa, está fora do mercado de
trabalho. De acordo com o Presidente do SINDMETAL (Sindicato dos Metalúrgicos
do Maranhão), José Maria Araújo, o trabalho tem mais força que a própria religião. O
trabalhador
tem
que
estar
inserido
no
Sistema
Capitalista
sem
muito
questionamento. Segundo José Maria, não há nenhuma cláusula na nova
convenção trabalhista, que permita que a empresa aceite aos princípios religiosos
de cada trabalhador.
Em entrevista ao Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão
(SINDMETAL), a respeito de muitos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia
sofrerem prejuízos materiais na área profissional, por guardarem o Sábado. José
Maria relata a sua posição pessoal e a posição do Sindicato, quanto a esse dilema:
“- A minha posição pessoal é que, eu acho que todos os dias são
santificados, então, a gente não vai ter um em detrimento do outro. E na
Bíblia mesmo, ela diz que o homem foi feito para o Sábado, e não o
Sábado para o homem. Tem aquela comparação. Então a gente não pode
se ajoelhar diante de um dia, diante do outro.
- Agora, minha questão particular, é que eu não sou da religião Adventista,
e por isso eu não concordo. Pessoalmente eu não concordo. Eu acho que
só quem concorda mesmo é quem está na religião.
- Na questão sindical, por direito de maioria, e de categoria, apartir, do
momento que houver demanda a esse respeito, nós vamos estar
prontamente atendendo as necessidades, pra que seja cumprido, na
imprensa, e tudo.
- Agora o que tenho visto, porque não há demanda, é que os próprios
adventistas, pelas necessidades básicas, eles abrem mão do critério
religioso, pela necessidade do trabalho. Essa é a avaliação mais assim...,
do sindicato.”
Muitos adventistas pela dificuldade do mercado de trabalho, acabam
aceitando em trabalhar no Sábado. O Sistema Capitalista demonstra uma
incompatibilidade com Adventistas do Sétimo Dia, em relação a uma de suas
principais doutrinas, a Santificação e Guarda do Sábado. Para o Capitalismo, o
tempo é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador
passa a ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser
regido pelo mundo Capitalista. Daí, ocorrer o conflito entre o Capitalismo e a Igreja
Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado.
De acordo com o Presidente dos Metalúrgicos do Maranhão; para uma
empresa, o trabalhador teve se identificar como um cidadão que necessita de um
emprego. E não como um Adventista do Sétimo Dia, que não trabalha no Sábado.
Atualmente, percebemos que o mercado de trabalho é muito competitivo. Há uma
grande demanda de profissionais, para, poucas oportunidades de emprego. Para o
trabalhador adventista, suas esperanças no mercado de trabalho são limitadas.
Devido, o dia de Sábado ser um dia normal para o Sistema Capitalista.
Caso o trabalhador Adventista do Sétimo Dia negue trabalhar no sábado,
muita das vezes, o patrão busca um novo empregado. A santificação e a guarda de
um dia da semana representa um aspecto teológico fundamental para diversas
religiões. Embora o sentido teológico e histórico do dia da guarda ou adoração varie
entre as diferentes religiões, é inegável que a observância de práticas religiosas, em
particular ou em público, possibilite conflitos entre obrigações legais e princípios
religiosos.
Os conflitos existentes atualmente em nossa sociedade maranhense,
alicerçada pelo Capitalismo, em relação aos Adventistas não trabalharem no
Sábado, é verificado em diversos setores profissionais do mercado maranhense. É
difícil para um Adventista do Sétimo Dia, trabalhar no setor comerciário do
Maranhão. Em supermercados, no São Luís Shopping, no Tropical e no Monumental
Shopping, nas lojas da Rua Grande; pois, o dia de Sábado é um dos dias mais
lucrativos para o comércio.
Para um Adventista do Sétimo Dia trabalhar, por exemplo, na Companhia
Vale do Rio Doce, Alumar, na fábrica da Coca-Cola ou na fábrica da Brahma; causa
um certo transtorno, pelo fato dessas empresas terem turnos aos Sábados. Segundo
o Presidente do SINDMETAL, já houve casos de trabalhadores adventistas que
foram transferidos. Ou seja, a empresa a qual eles pertenciam, concedeu um horário
específico para eles. Ajustando de acordo com a doutrina religiosa deles.
Porém, a grande maioria das empresas capitalistas, mantém-se neutras,
quanto à questão de dar a liberdade de culto aos Sábados para os Adventistas do
Sétimo Dia. São irredutíveis em aceitar tal crença em seu sistema. Na sociedade
capitalista, segundo Marx e Engels, a divisão social decorreu da apropriação dos
meios de produção por um grupo de pessoas, os burgueses, e outro grupo
expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho, os proletários.
Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês.
Os trabalhadores são economicamente explorados e os patrões obtém o
lucro através da mais-valia. No sistema capitalista, o trabalho possui um único
objetivo, produzir valor. É no contexto desse capitalismo atual, que se verifica a
presença do conflito entre, a guarda do sábado dos Adventistas do Sétimo Dia e a
importância do trabalho para o Sistema Capitalista. Inserido em nosso cenário
maranhense.
4.3 A Posição da Administração Adventista
Para os adventistas do Sétimo Dia, o mandamento de Deus, proíbe o
trabalho comum no Sábado porque esse é um dia Santo. Afirmam os Adventistas,
que o dia de Sábado, não é um dia para realização comercial, compra e venda.
Essas atividades não são erradas em si mesmas, porém retiram a Santidade do
Sábado. Engajar-se em compra e venda é profanar o Sábado. Alimentos,
combustível e outras necessidades devem ser comprados na sexta-feira a fim de
que não haja necessidade de adquiri-los no Sábado.
De acordo com a administração da Igreja Adventista do Sétimo Dia, há
muitas circunstâncias em que o cristão necessita trabalhar no Sábado com vistas a
beneficiar seus semelhantes em dificuldades. O doente necessita de cuidados e é
preciso atender suas necessidades. Por exemplo, se alguém está com hemorragia
devido a um acidente, é dever cristão trabalhar arduamente no Sábado para salvar a
vida da vítima, se estiver em sua capacidade fazê-lo. Isso é diferente do trabalho
cotidiano. É um trabalho necessário. Errado é trabalhar desnecessariamente no
Sábado. A chave vital para saber como guardar o Sábado é perguntar se
determinada atividade pode ser feita em outro dia.
Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que o Sábado foi separado para fins
santos. O Sábado deve ser guardado do pôr-do-sol ao pôr-do-sol. Quando o sol se
põe na sexta-feira, entramos nas horas sagradas, e quando ele se põe no Sábado,
estamos no início de uma nova semana. Crê os Adventistas do Sétimo Dia, que a
prazerosa observância deste tempo Sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol
ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus.
Para o pastor aposentado, Emmanuel de Jesus Saraiva, o conflito
existente em relação à guarda do Sábado pelos Adventistas no Estado do Maranhão
e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista, foi muito mais crítico, durante
os primeiros anos do adventismo no Estado. Analisando o início do desenvolvimento
da Igreja no Maranhão, ele afirma que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não era
reconhecida nem pelo nome, e havia muito mais preconceito:
“ - Olha, se analisarmos os 50 anos da história do adventismo, vamos vê
que, naquela época quando a Igreja surgiu no Maranhão, não era
conhecida e havia muito preconceito. Pelo menos, eles nem nos
chamavam pelo nome. Esse nome Adventista do Sétimo Dia, não era
considerado. Nós éramos chamados de sabatistas. Tinha muito
preconceito, não apenas com a Igreja Adventista, mas com todas as
demais Igrejas evangélicas. Havia preconceito e a nossa Igreja era muito
mais perseguida naquela época, do que hoje. Hoje a Igreja Adventista do
Sétimo Dia, é uma igreja respeitada, porque naquele tempo eles nem nos
consideravam evangélicos. Achavam que éramos uma seita, que deveria
ser discriminada, banida.
- A situação do Brasil mudou. Hoje todas as pessoas são mais
respeitadas. Todas as outras religiões são também respeitadas. E nós,
nesse contexto também somos bem respeitados. Há problemas, mas pelo
menos, as leis brasileiras são mais favoráveis a todas as pessoas. A
liberdade de consciência, a liberdade de culto. Hoje a situação no Brasil, é
muito melhor do que há 50 anos atrás.”
De acordo com o pastor Saraiva atualmente as pessoas estão mais
conscientes. No início do movimento Adventista no Maranhão, a Igreja era
considerada uma seita. Era discriminada, banida da sociedade maranhense. Houve
melhoras. O Brasil estabeleceu a liberdade de culto, de consciência, em sua
Constituição. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, atualmente é mais respeitada. No
entanto, como declara o pastor aposentado Sidney Nazareth, há um conflito em
relação à guarda do Sábado dos Adventistas imperceptível, mas existe.
Para o pastor Sidney, a guarda do Sábado, na sociedade em que vivemos
é um divisor de águas:
“- Eu acredito que o Adventista não vive como um religioso fanático. Mas
ele vive dentro da sua norma. De uma robusta fé cristã. Uma referência na
sociedade. Porque o Sábado é um divisor de águas. O Sábado é um sinal,
como diz o próprio Deus, entre seus filhos e Ele. Sem ferir ninguém, mas, a
característica da guarda do Sábado para nós é um sinal divino. Deus no
Sábado, Ele descansou, Ele abençoou, e santificou. É uma referência.”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, crê que a guarda do Sábado é o selo
de Deus sobre o seu povo. Reconhecendo que Ele é o Criador de todas as coisas. E
por isso, abdicam de efetuar qualquer atividade secular no Sábado. O Sábado para
o Adventista é um compromisso com o Dono do Universo. Segundo o pastor
Saraiva, os Adventistas do Sétimo Dia guardam o Sábado, não por uma questão
legalista. Mas, por saberem que o Sábado é o sétimo dia da semana, e representa o
memorial da criação de Deus.
Os membros da Igreja Adventista no Maranhão sofrem muitos prejuízos
materiais, tanto na área profissional como na área educacional, em relação a
guardarem o Sábado. A liberdade religiosa está garantida na Constituição Federal
Brasileira. Todavia, vários setores da área profissional, e também educacional, não
permitem qualquer possibilidade de acordo com os guardadores do Sábado.
A departamental de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista do Sétimo
Dia no Maranhão34, Valterliana Reis Serra, declara que a crença da guarda do
Sábado pelos adventistas na sociedade em que vivemos, alicerçada pelo viés
capitalista, é marcada pela diferença de se ver o mundo:
“– Fazemos parte de uma sociedade que não compartilha a mesma
concepção ideológica acerca de realidades essenciais como tempo,
trabalho, dinheiro e religião. Isso, de certa forma torna quase
incompreensível a postura dos guardadores do sábado, pois não
compartilham da mesma visão de mundo, de valores e diferem também na
maneira de lidar com esses conceitos. Uma sociedade capitalista vê o
descanso semanal como mero cumprimento de leis de trabalho, com
objetivo de não perder a força de trabalho ou ainda como fator de aumento
da produção. A guarda do sábado é uma evidência desse diferencial,
portanto, uma crença que nos identifica”.
A Posição da Administração da Igreja Adventista no Estado do Maranhão,
quanto ao dilema que muitos membros da Igreja sofrem por perderem o emprego,
ou ficarem reprovados nas instituições de ensino que fazem parte, é que, a decisão
deve partir da escolha pessoal do membro da Igreja. Como relata o presidente da
Missão Maranhense, o pastor Ezequias Guimarães, em entrevista:
“- A vida de qualquer um é marcada por escolhas. Nossas escolhas
determinam o nosso futuro. A guarda do Sábado não é uma suposição da
Igreja, mas um mandamento de Deus. Cabe ao membro da Igreja Fazer a
sua escolha: cumprir a ordem de Deus ou rejeitá-la. Contudo, a Igreja deve
orientar e animar o membro a fazer a escolha certa, guardar o Sábado a
despeito de qualquer prejuízo temporal, certo de que receberá o galardão
por ser fiel a Jesus”.
Os princípios da Igreja Adventista do Sétimo declaram que a obediência
aos mandamentos de Deus não pode ser compulsória, mas, voluntária.
Demonstrando intimidade e submissão aos preceitos de Deus. Muitos adventistas
permanecem firmes aos seus princípios religiosos. Outros, devido às pressões
financeiras, acabam cedendo aos valores da sociedade Capitalista. O descanso do
34
Departamental de Liberdade religiosa, é a pessoa responsável em cuidar da proteção dos membros da IASD,
de qualquer discriminação religiosa.
Sábado não pode interferir na perda da força de trabalho ou no aumento do capital.
Em entrevista à administração da Igreja Adventista no Maranhão, vários casos foram
relatados, de adventistas que permaneceram firmes à guarda do Sábado. Mesmo
sofrendo prejuízos materiais, acreditavam que estavam fazendo a coisa certa. Não
queriam ferir suas consciências. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, não obriga
ninguém de não ir trabalhar no Sábado, ou de Guardar o Sábado como dia de
adoração a Deus. Um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia possui a plena
liberdade de escolher, qual caminho seguir.
4.4 Estado e Sociedade face ao Adventista
Atrelado ao princípio da separação republicana, o Estado brasileiro
garantiu o direito à liberdade religiosa dos indivíduos e das denominações religiosas
não católicas, construindo o pluralismo religioso no país. A liberdade religiosa está
inserida na Constituição Federal do Brasil desde 1891, no artigo 5°, em seus incisos
VI, VII, e VIII. A Constituição garantiu o direito fundamental à liberdade religiosa,
declarando o Brasil um país laico.
Porém, mesmo com o desenvolvimento da liberdade de religião no Brasil,
está ainda muito longe da unanimidade a questão do resguardo da guarda do
Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia no país. Ainda não foram criadas no país,
leis trabalhistas que assegurem a permanência do trabalhador Adventista no
mercado de trabalho, sem que possa ferir seu dia de resguardo religioso. Vários
concursos públicos são marcados no dia de Sábado no Brasil. Porém, existem
instituições que avaliam candidatos que sejam Adventistas a parte, depois que o sol
se põe, aos Sábados.
Apenas dez Estados no país, possuem Legislação que asseguram o
direito de resguardo do dia de Sábado para os Adventistas. O Estado do Maranhão
assegura esse direito aos estudantes e professores, por causa de alguns
vestibulares realizados aos Sábados. O projeto de lei n° 104/2000, da deputada
Marly Abdalla, aprovado na época pela então governadora do Estado do Maranhão
Roseana Sarney, estabeleceu a seguinte decisão:
“Dispõe sobre realização de concurso público para provimento de cargos e
exames vestibulares e dá outras providências.
Art.1° - Os concursos públicos e os exames vestibulares promovidos no
Estado do Maranhão, por instituições públicas estaduais serão realizadas
no período de Domingo a Sexta-feira, das 08:00 às 18:00 horas.
Art. 2° - Quando se configurar inviável a promoção dos eventos de que
trata esta lei, a entidade organizadora poderá realizá-los aos sábados,
devendo alternativamente, permitir ao candidato que alegar e provar
convicção religiosa a realização das provas após as 18:00 horas destes
mesmos dias.
Parágrafo Único – Para cumprimento do caput deste artigo, o candidato
ficará incomunicável desde o horário do início da realização do concurso ou
do exame vestibular até o início da realização das provas estabelecido
previamente para ele.
Art. 3° - Os estabelecimentos de ensino da rede pública do Estado do
Maranhão, ficam obrigados a abonar as faltas de alunos que, motivados
por crença religiosa, não possam freqüentar as aulas ministradas às
sextas-feiras após as 18:00 horas.
§ 1° - Para beneficiar-se do disposto deste artigo o aluno apresentará ao
estabelecimento de ensino declaração da congregação religiosa a que
pertence, com firma reconhecida, atestando sua condição de membro da
Igreja.
§ 2° - Na hipótese prevista no parágrafo anterior, o estabelecimento exigirá
do aluno a realização da tarefa alternativa que suprirá a falta abonada...”
No Estado do Maranhão são freqüentes os casos de cristãos que
professam e têm como verdadeiros os princípios contidos nas Sagradas Escrituras
e, sob esse ponto de vista religioso, guardam o Sábado bíblico como aquele dia
especial reservado a adoração e descanso semanal. Por este motivo são
freqüentemente prejudicados e deixam de participar de quaisquer eventos e
concursos realizados nesse dia. Incluindo vestibulares, concursos públicos e
atividades escolares. Ferindo frontalmente os preceitos constitucionais da liberdade
religiosa.
O projeto de lei de autoria da deputada Marly Abdalla, foi aprovado no
ano de 2002, pela então, governadora Roseana Sarney (lei n° 268/2002), devido à
seleção de estudantes para a Universidade Estadual do Maranhão na implantação
dos PASES em 2002. A realização do primeiro dia de provas do PASES em 2002 foi
realizada no dia 05 de janeiro de 2002, ou seja, no Sábado pela manhã.
Prejudicando vários candidatos que eram Adventistas e iriam participar do processo
seletivo da UEMA.
A administração da Igreja Adventista no Maranhão, pediu a COPERSE
(comissão permanente de seletivos) da UEMA, que transferisse o primeiro dia de
prova do PASSES para o domingo, no intuito de não prejudicar os Adventistas do
Sétimo Dia. A idéia de mudança de data do Passes foi negada pela COPERSE. A
solução adotada pela Universidade Estadual do Maranhão, foi que os candidatos
que fossem Adventistas deveriam permanecer na UEMA, incomunicáveis desde o
horário do início da realização do primeiro dia do PASES 2002, até o início da
realização das provas para esses Adventistas, após o pôr-do-sol de Sábado.
Quando seriam realizadas às provas para esses Adventistas após as 18h00min
horas do dia 05 de janeiro de 2002.
Vários Adventistas ficaram em confinamento na UEMA, estudando a
Bíblia e orando a Deus, até o início da aplicação das provas. A lei n° 268/2002,
proporcionou certo respeito aos Adventistas no Estado do Maranhão. Porém, está lei
necessita ser ampliada, pois, trata apenas de concursos públicos e exames
vestibulares estabelecidos pelo Estado do Maranhão.
Em entrevista, a professora Maria Auxiliadora Mesquita, diretora do curso
de Letras da Universidade Estadual do Maranhão, quanto à questão da
aceitabilidade por parte da área educacional, de alunos e professores que sejam
adventistas do Sétimo Dia, os quais guardam o Sábado. Em relação à UEMA, ela
relatou a necessidade de se ter aulas aos Sábados, no intuito de se cumprir a carga
horária do ano letivo:
“- Olha, não há discriminação. Porque quando sai os editais. Eu vou falar
especialmente aqui da Universidade Estadual do Maranhão. Nos editais.
Antes, em 2003, logo assim que eu assumi a direção do curso, tínhamos
alguns problemas em relação aos adventistas. Por quê? No edital não era
especificado que o curso de Letras funcionava aos Sábados. Tinha lá,
funcionamento do curso: Noturno. Como não era especificado que o curso
tinha também aula no Sábado pela manhã, para poder cumprir os duzentos
dias letivos. O aluno depois que se escrevia queria reivindicar, que não
poderia participar das aulas no Sábado. Que não sabia da norma do edital.
Que não tinha feito um curso para estudar na manhã de Sábado.
- O que nós fizemos? Em 2003 ou 2004, não poderia lembrar agora, só
olhando na documentação, uma certa aluna que era adventista, entrou com
uma solicitação dentro do colegiado do curso. O colegiado do curso negou,
e ela ainda foi para a imprensa, se sentido injustiçada. E deste então,
mandamos uma solicitação para a Pro – reitoria de graduação, que no
edital, no manual do vestibulando, saísse que o curso de Letras,
funcionava de segunda à sexta, no turno noturno, e pelo Sábado no turno
matutino. Deste então, nós nunca mais tivemos nenhum problema
relacionado à questão da guarda do Sábado dos adventistas.
- Todo aluno que quer fazer o curso de Letras, que seja adventista, pode
fazer. Até porque nós temos tido o cuidado de evitar repetir a mesma
disciplina no Sábado. Pra que? Pra permitir também, que o adventista que
não assiste aulas no Sábado. Pois, têm alguns adventistas que assistem
aulas no Sábado. Nós já tivemos alunos que eram adventistas, mas que
assistiam aulas no Sábado. Outros não. Que realmente segue os preceitos
da sua religião e não admitem assistir aula dia de Sábado. Pensando
nesses alunos, porque nós temos que ter uma visão assim, geral. Nós
temos que ter uma preocupação com quem é adventista. Ele não é
obrigado a assistir aula dia de Sábado. Mas, ao se escrever no curso, ele
sabe que tem aula dia de Sábado. A pessoa se escreve de livre e
espontânea vontade. Na instituição nós temos aulas de segunda à Sábado.
- Os cursos de licenciatura, eles são obrigados a terem aulas de segunda
à Sábado. Para cumprirem os dias letivos no período correspondente a
integralização curricular. Para cumprir a carga horária nos três anos e
meio, e quatro anos. Nós temos que ter obrigatoriedade em dar aulas no
Sábado, porque se não, nós não conseguimos. É uma norma da própria
instituição”.
Segundo
os
relatos
da
professora
Auxiliadora,
percebemos
as
dificuldades que o estudante Adventista encontra durante a sua formação
educacional. De acordo com o Pastor Saraiva, na cidade de Coroatá, no Estado do
Maranhão, houve um caso que prejudicou vários Adventistas. Várias professoras do
município que eram Adventistas encontraram-se em um dilema estabelecido pelo
prefeito da época. O prefeito estabeleceu um decreto que todos os professores
deveriam trabalhar no Sábado. A administração da IASD no Maranhão teve que
interceder pelos seus membros, e problema foi solucionado.
Para o pastor Ezequias, presidente da Igreja Adventista no Estado do
Maranhão, as leis existentes no país ainda são muito limitadas e restritas à liberdade
ideológica de cada indivíduo. Ainda não existe no Brasil, uma lei que estabeleça a
proteção aos indivíduos que professam em seus princípios religiosos a guarda do
Sábado. Tendo pleno direito de trabalharem ou estudarem mesmo em empresas ou
em instituições que funcionem aos Sábados, possibilitando a guardarem suas
crenças religiosas.
Os Adventistas explicam que desejam o Sábado livre, por razões
religiosas. Crêem e aceitam que o sétimo dia é o Sábado e que desejam adorar a
Deus exatamente nesse dia. A sua convicção, baseada na Palavra de Deus, é que o
sétimo dia é o Sábado da lei de Deus e que não podem violar a sua consciência.
Essas pessoas não querem perder o seu emprego. Apenas, necessitam de um dia
da semana para guardarem seu principio religioso. Observar e guardar o dia de
Sábado, como Deus lhes ordenou.
5 CONCLUSÃO
Estudando sobre o antagonismo existente em relação ao Sábado entre os
Adventistas do Sétimo Dia e o Capitalismo, analisamos algumas causas que levam
ao conflito entre eles, em relação à importância do trabalho para o Capitalismo e a
observância do Sábado para os Adventistas.
O papel que o Estado exerce nesse antagonismo existente entre a Igreja
Adventista e o Capitalismo, em relação às leis existentes, na Constituição Federal,
Legislação Trabalhista, ainda é muito limitado e restrito. Limitando, a observação da
guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia. A guarda do Sábado pela Igreja
Adventista do Sétimo Dia, é vista pela sociedade contemporânea, alicerçada nos
princípios Capitalista, como algo impossível de ser colocado em prática na sua
esfera econômica.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia desempenha várias atividades,
principalmente nas áreas de educação e saúde. Ela administra escolas,
universidades, hospitais e clínicas, emissoras de rádio e televisão. E nenhum
hospital Adventista no mundo fecha as suas portas durante a observância do
Sábado. Para o Sistema Capitalista, o tempo em que vivemos, é impossível à
humanidade parar um só dia na semana para observar a sua guarda. Tornando o
trabalhador Adventista inadequado para o Sistema Capitalista.
Os primeiros Adventistas do Sétimo Dia no Estado do Maranhão,
enfrentaram muitas discriminações em relação, a não trabalharem no Sábado.
Percebemos que hoje em dia, os trabalhadores Adventistas, devido ao que o
Sistema Capitalismo se tornou, enfrentam um conflito muito mais acirrado, no intuito
de guardarem o Sábado. Os Adventistas do Sétimo Dia enfrentam na sociedade
Capitalista a qual fazem parte um dilema. Preservar os seus princípios religiosos, no
caso, guardar o Sábado, ou ceder ás pressões do Sistema Capitalista.
Olhando para a história do Brasil, percebemos que para se conquistar o
direito à liberdade religiosa no país, evidenciaram-se vários conflitos religiosos.
Atualmente, a liberdade religiosa está consolidada em nosso país. Através da
Constituição Federal (Art. 5°, incisos VI, VII, e VIII), que estabelece liberdade de
culto e consciência ao indivíduo. Porém, o país não protege, através de leis federais
e trabalhistas, o indivíduo a ter o direito de escolher o dia de seu resguardo religioso.
A santificação e a guarda de um dia da semana representa um aspecto
teológico fundamental para diversas religiões. Embora o sentido teológico e histórico
do dia da guarda ou adoração varie entre as diferentes religiões, é inegável que a
observância de práticas religiosas, em particular ou em público, possibilite conflitos
entre obrigações legais e princípios religiosos. Em um país cuja forma de governo é
democrática. Onde a sociedade luta em defesa dessa democracia, em todos os
setores, seja nas instituições superiores, ou em movimentos sociais. O conflito
existente em relação à guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo, torna essa
defesa pela democracia contraditória.
O tema constitui um grande desafio pela sua riqueza como fonte de
informações, mas, ainda é pouco explorado pelos estudiosos das ciências sociais.
Espera-se que esse estudo tenha servido para esclarecer o dilema que muitos
Adventistas do Sétimo Dia sofrem por guardarem o Sábado em nossa sociedade,
caracterizada pelos princípios do Capitalismo. Podendo servir de abertura para
novos estudos sobre a questão religiosa no Maranhão.
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ENTREVISTAS REALIZADAS:
- Emmanuel de Jesus Saraiva – Pastor aposentado da Igreja Adventista do 7º Dia.
- Ezequias Melo de Freitas Guimarães – Presidente da Missão Maranhense.
- José Maria Araújo – Presidente do SINDMETAL.
- Maria Auxiliadora Gonçalves de Mesquita – Diretora do Curso de Letras da
Universidade Estadual do Maranhão.
- Sidney Sousa Nazareth – Pastor aposentado da Igreja Adventista do 7º Dia.
- Valterliana Reis Serra – Departamental de Liberdade Religiosa da Missão
Maranhense.
APÊNDICE
APÊNDICE
ENTREVISTA
Departamental de Liberdade Religiosa da Missão Maranhense:
P: - Dados pessoais do entrevistado:
R: - Valterliana Reis Serra, 17/09/1971 – São João Batista – MA
Formada em Pedagogia – UFMA
Metodologia do Ensino Superior – UNIR
Solteira
Atualmente diretora de Educação e Liberdade Religiosa da MMA
Já atuou na supervisão pedagógica das escolas adventistas no Maranhão, Acre e
Rondônia.
Como diretora desses departamentos responde junto à administração do campo
pela promoção da educação cristã nas igrejas e comunidade, pela qualidade do
ensino através da realização de treinamentos e capacitações, além de oferecer
apoio aos estudantes e universitários nas questões que afetam sua crença, seja no
campus ou no trabalho de modo que não haja comprometimento de sua essência e
identidade cristã.
P: - Como você tornou-se Adventista do 7ºDia?
R: – Tornei-me adventista aos 12 anos. Desde criança fui atraída para as profecias
que falavam sobre o fim das angústias, da fome e da desigualdade. Percebi que a
justiça a ser implantada exigia recuperação dos direitos dos oprimidos e castigo aos
opressores e pecadores. No primeiro momento fui movida pelo medo e pela
necessidade de encontrar algo que pudesse me esconder do juízo final. Pouco
tempo depois, ainda adolescente pude experimentar o significado de servir a um
Deus misericordioso. Passei a desfrutar de uma fé mais racional que aos poucos foi
adicionada ao próprio estilo de vida.
P: - Qual o significado de guardar o Sábado?
R: – A experiência do sábado só pode ser compreendida quando não se reduz a
meramente guardá-lo, mas a desfrutar de um estado de espírito que só é possível
na companhia do Senhor do sábado. Esse foi o seu propósito inicial, comunhão com
os seres criados. Esse estado de espírito não tem nenhuma relação com o
misticismo, técnicas de relaxamento ou algo que possamos encontrar dentro de nós
mesmos. Pelo contrário, primeiro precisamos nos esvaziar de nossas preocupações
e deixar de lado a euforia de nossas atividades para confiar inteiramente nos
cuidados de Deus.
- Além disso, com a mesma força que cremos na restauração do mundo,
na vida eterna e fim do pecado, cremos também na recuperação do verdadeiro
sentido do sábado como dia de repouso e encontro com Deus para toda a
eternidade.
P: - Vivemos em um país, cuja forma de governo é democrática, onde a
Constituição estabelece a liberdade religiosa (Art.5º, incisos VI, VII e VIII). Qual
a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil?
R: – A liberdade religiosa está garantida na Constituição Federal Brasileira ao
declarar que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença...” e, ainda, que
“ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa...” (art. 5.º, incisos
VI e VIII, CF/88). No entanto, como tantos outros direitos este também não tem
recebido o devido respeito, sendo muitas vezes claramente desconsiderado.
Existem instituições que se fecham para qualquer oportunidade de negociação com
os guardadores do sábado no que respeita ao não prejuízo no trabalho ou nos
estudos, sem negociar sua crença.
P: - A Igreja Adventista do 7ºDia tem como uma de suas doutrinas
fundamentais a Santificação e Guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o
Sábado. Qual a sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que
vivemos?
R: – Fazemos parte de uma sociedade que não compartilha a mesma concepção
ideológica acerca de realidades essenciais como tempo, trabalho, dinheiro e religião.
Isso, de certa forma torna quase incompreensível a postura dos guardadores do
sábado, pois não compartilham da mesma visão de mundo, de valores e diferem
também na maneira de lidar com esses conceitos. Uma sociedade capitalista vê o
descanso semanal como mero cumprimento de leis de trabalho, com objetivo de não
perder a força de trabalho ou ainda como fator de aumento da produção. A guarda
do sábado é uma evidência desse diferencial, portanto, uma crença que nos
identifica.
P: - Muitos Adventistas do 7ºDia sofrem prejuízos materiais por guardarem o
Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição
da Igreja em relação a esse dilema sofrido pelos membros da Igreja?
R: – Embora os prejuízos, materiais ou não, sejam em conseqüência da obediência
aos mandamentos, os seguidores tem um posicionamento sólido e a igreja também.
A obediência não é compulsória, é voluntária e revela o nível de intimidade e
submissão a Deus. Muitos vacilam pela pressão, resultado direto da fragilidade das
leis que garantem o direito de crença. A existência de uma lei não pode garantir
seguridade para atitudes que decorrem da fé, no entanto os prejuízos espirituais são
os mais temidos.
- Os guardadores são cientes de que não há perda que não seja
compensada. O próprio Jesus orientou quanto a algumas renúncias que seriam
necessárias ao seguidor. Ele disse certa vez: “quem não tomar a sua cruz não é
digno de mim”, e em outro texto: “quem não deixar pai e mãe por minha causa não
será digno de mim”. Significando que mesmo o que nos é mais caro deve ser
deixado de lado se nos impede de fazer a escolha certa: seguir a Cristo de forma
abnegada.
P: - Durante seu período como pastor da Igreja Adventista do 7ºDia, houve
algum caso a respeito desse dilema, que ficou marcado em sua memória?
- em caso afirmativo:
Como foi?
R: – Sou educadora e atuo mais diretamente com as escolas que com igrejas. Mas
recordo-me de um incidente onde alguns amigos tiveram prejuízo por não serem
atendidos no seu pedido de confinamento, pois a prova teve sua data alterada para
um sábado. Os jovens estavam na igreja, meio tristes, mas dando o seu
testemunho. Ao final do sábado tiveram acesso à notícia de que a prova fora adiada
devido a um raio que atingiu um dos estabelecimentos onde a prova estava sendo
realizada. Foi cancelado o vestibular e não mais marcado no sábado. Em jornal de
circulação local foi feita menção aos adventistas que deixaram de fazer a prova com
manchetes dizendo que o Deus dos adventistas intercedeu pelos seus fiéis.
Conheço pessoalmente alguns desses jovens que hoje são profissionais formados,
bem colocados e as situações de trabalho sempre terão a influencia desse fato para
não vacilar depois de terem experimentado tão grande prova da resposta de Deus à
sua fé.
Presidente da Missão Maranhense:
P: - Dados pessoais do entrevistado:
R: - Nome: Ezequias Melo de Freitas Guimarães
Grau de Escolaridade: Superior Completo (Mestrando em Teologia)
Estado Civil: Casado
Filhos: 2
Residência: São Luís do Maranhão
Tempo de Trabalho: 18 ano0s de ministério, sendo 1 e 4 meses no
Maranhão
Função: Presidente da Missão Maranhense da IASD.
P: - Como se tornou Adventista do 7° Dia?
R: - Nasci em um lar Adventista.
P: - Qual o significado de guardar o Sábado?
R: - Fidelidade a um mandamento de Deus que representa o selo do Senhor sobre o
seu povo fiel, bem como o reconhecimento de que Ele é o Criador e separou esse
dia para uma comunhão mais ampla.
P: - Vivemos em um país, cuja forma de governo é democrática, onde a
Constituição estabelece a liberdade religiosa (Art.5º, incisos VI, VII e VIII). Qual
a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil?
R: - Ainda é muito limitada e restrita a liberdade ideológica. Não existe uma forma
legal de proteger os irmãos que precisam trabalhar para sustentar suas famílias e
são impedidos de ingressar em empresas que funcionam nos Sábados.
P: - A Igreja Adventista do 7ºDia tem como uma de suas doutrinas
fundamentais a Santificação e Guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o
Sábado. Qual a sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que
vivemos?
R: - O Sábado é o selo de Deus (Ler Ez. 20: 20). Sua guarda pelos fiéis seguidores
de Jesus mostra de que lado estão. Aqueles que guardam o Sábado também
reafirmam sua crença no Deus Criador diante de uma sociedade cética.
P: - Muitos Adventistas do 7ºDia sofrem prejuízos materiais por guardarem o
Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição
da Igreja em relação a esse dilema sofrido pelos membros da Igreja?
R: - A vida de qualquer é marcada por escolhas. Nossas escolhas determinam o
nosso futuro. A guarda do Sábado não é uma suposição da Igreja, mas um
mandamento de Deus. Cabe ao membro da Igreja Fazer a sua escolha: cumprir a
ordem de Deus ou rejeitá-la. Contudo, a Igreja deve orientar e animar o membro a
fazer a escolha certa, guardar o Sábado a despeito de qualquer prejuízo temporal,
certo de que receberá o galardão por ser fiel a Jesus.
P: - Durante seu período como pastor da Igreja Adventista do 7ºDia, houve
algum caso a respeito desse dilema, que ficou marcado em sua memória?
R: - Sim, um membro que foi forçado a trabalhar no Sábado em uma empresa em
Altamira, se posicionou ao lado de Deus e foi demitido. Logo após ele foi readmitido.
Presidente do SINDMETAL:
P: - Nome completo. Qual função desempenha no Sindicato. E qual papel
desempenha o SINDMETAL?
R: - Meu nome é José Maria Araújo. E sou o presidente do sindicato.
- O papel desempenhado pelo sindicato é trabalhar na categoria a visão
da sociedade, a mudança de comportamento e principalmente o sistema.
- O maior objetivo, o maior trabalho do sindicato é a mudança desse
sistema capitalista. É combater esse sistema que explora, oprimi. É uma situação
injusta para os trabalhadores. Então a gente combate as injustiças, e têm que
orientar os trabalhadores politicamente, para se livrar desse regime.
- Num dia... Para a gente criar uma alternativa de mostrar, quem trabalha
têm mais direito, mais respeito e não ser apenas um objeto, uma coisa assim...
temporária.
P: - Seu José Maria, o senhor estar a quanto tempo, comandando o Sindicato
dos Metalúrgicos?
R: - Eu fui eleito no ano 2000. Tomei posse em outubro do ano 2000. É... em 2003,
nós tivemos uma reeleição, onde eu fui reeleito pro cargo.
- Nós tínhamos um estatuto com uma duração de três anos, e com a
alteração do código civil brasileiro, nós alteramos também, pra ficar de acordo com o
código. Cada mandato de quatro anos.
- Então o primeiro mandato encerrou em 2003, e eu fui reconduzido ao
cargo, ficando até 2007. Porque nesse mandato agora, já estar reformado o estatuto
pra quatro anos. Então todos que vierem, é... nós vamos ter eleição em 2007. E daí,
cada um com o mandato de quatro anos.
P: - Seu José Maria, quanto à questão do meu tema, que é, um tema religioso,
abordando a respeito da guarda do Sábado da Igreja Adventista, seu
antagonismo existente ao sistema capitalista, presente em nossa sociedade.
Como o senhor ver a relação, religião e trabalho no sistema capitalista em que
a gente vive?
R: - Eu diria que o trabalho, tem mais força que a própria religião. Porque aqui nós
não temos tido conflito com essa questão dos adventistas em relação ao trabalho.
E... às vezes eles se adaptam. Ficam no sistema sem muito questionamento. E
também não temos, nenhuma clausula na nova convenção que é..., ter essa
garantia, pra que a empresa tenha que aceitar as condições da religião.
- Geralmente, o que a gente tem como conflito, a gente tenta resolver e
também colocar em clausula. Como isso aí, eu diria que assim, quase inexistente,
dentro da nossa realidade, é... esse conflito religião e trabalho. Nós não temos nem
registro aqui, nem uma clausula específica, muito menos uma reclamação.
P: - Então em sua opinião, por exemplo, o trabalhador adventista ele se adapta
às normas da empresa?
R: - Geralmente tem acontecido isso. Até porque, eu diria assim, que a fração dos
operários adventistas, deve ser muito pequena. Nós não entramos muito na questão
da religião. A gente trata todo mundo da mesma maneira, como empregado. E com
isso, não aparece essa divisão de conflito.
- Na minha opinião, é que, até então, os poucos adventistas que têm,
tem-se, é... conformado, aceito as sanções do capital. Não questionando esse direito
particular da religião.
P: - Seu José Maria, o senhor sabe que nós vivemos em um país, cuja forma de
governo é democrática. E, onde a Constituição estabelece a liberdade religiosa
(art. 5º, incisos VI, VII e VIII), da nossa Constituição. Qual a sua opinião a
respeito da liberdade religiosa no país?
R: - Eu sou a favor, e sou do PCdoB. Foi o PCdoB, se você for ver a história, foi ele
quem deu essa garantia de liberdade de culto e religião no país. Agora, não... eu
diria assim, sempre com os limites. Porque hoje, tem a questão do barulho. E o
barulho, vale pro religioso, e pro não-religioso.
- Algumas pessoas anunciavam numa época, que o presidente LULA,
fecharia igrejas. Isso não foi verdade. Nós nunca concordamos com isso, era só
boato. Porque o que tem de ser garantido é a lei para qualquer cidadão brasileiro,
independentemente de religião.
P: - A Igreja Adventista do Sétimo Dia, ela tem como uma de suas doutrinas
fundamentais, como eu acabei de falar para o senhor, que é a santificação e
guarda do Sétimo Dia da semana, ou seja, o Sábado. Qual a sua opinião a
respeito dessa crença para o mercado de trabalho. E também, como o senhor é
o presidente do sindicato dos Metalúrgicos, qual a opinião do sindicato a
respeito disso?
R: - Eu diria que tem pouca influência. Tanto é que nós não temos tido conflito, não
temos registro, nem cláusula específica. Agora para o sindicato dos Metalúrgicos, a
hora que surgir uma situação como essa, nós vamos atender, dar garantia em
clausula. Assim, como já tem para o portador de uma necessidade especial, assim
como já tem para o portador do HIV, assim como outras leis já dão essa cobertura,
somos favoráveis a liberdade da religião, e que o direito seja garantido.
- Agora geralmente é por reivindicação que a gente consegue alguma
coisa. E ate então para o próprio sindicato não houve demanda.
P: - Muitos adventistas sofrem prejuízos materiais, por guardarem o Sábado,
tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição do
sindicato em relação a esse dilema, e qual a sua posição pessoal?
R: - A minha posição pessoal é que, eu acho que todos os dias são
santificados, então, a gente não vai ter um em detrimento do outro. E na Bíblia
mesmo, ela diz que o homem foi feito para o Sábado, e não o Sábado para o
homem. Tem aquela comparação. Então a gente não pode se ajoelhar diante de um
dia, diante do outro. - Agora, minha questão particular, é que eu não sou da religião
Adventista, e por isso eu não concordo. Pessoalmente eu não concordo. Eu acho
que só quem concorda mesmo é quem estar na religião.
- Na questão sindical, por direito de maioria, e de categoria, apartir, do
momento que houver demanda a esse respeito, nós vamos estar prontamente
atendendo as necessidades, pra que seja cumprido, na imprensa, e tudo.
- Agora o que tenho visto, porque não há demanda, é que os próprios
adventistas, pelas necessidades básicas, eles abrem mão do critério religioso, pela
necessidade do trabalho. Essa é a avaliação mais assim..., do sindicato.
P: - Em sua opinião, atualmente no mercado de trabalho, há uma aceitabilidade
em relação ao trabalhador Adventista do Sétimo Dia?
R: - Eu acredito que há, mas é o seguinte, a maioria das pessoas, acho que numa
entrevista, fosse uma pergunta para uma empresa que emprega, que estar fazendo
uma entrevista com as pessoas, seleção, ela deve ter informação há mais do que
eu.
- Mas as pessoas de repente não se identificam com essa religião, eles se
identificam como um cidadão que necessita de um emprego, e não entram na
questão da religião.
- E as empresas é..., algumas quando a gene repassa fax, solicitando,
alguma coisa sobre política, ou sobre religião, elas são muito claras sobre isso ai. É
um seguinte, olha na questão política, questão religiosa e vários outros temas
polêmicos. Elas não opinam. Então elas não têm opinião formada, não entram em
detalhes, que pra não entrar em um lado, agradar o outro.
- Por exemplo, se eu pedir uma palestra dentro de uma empresa, pra
uma igreja A ou igreja B, com certeza, a empresa não concede. Se eu solicitar
também, um espaço interno de uma empresa pra uma opinião política sobre
candidato A ou B, eles dizem a mesma coisa. Eles não entram em detalhes, e eles
se mantém praticamente neutros nessa questão.
P: - Uma ultima pergunta. Durante seu período de atuação no sindicato dos
Metalúrgicos como presidente, houve algum caso a respeito desse dilema da
Igreja Adventista, que ficou marcado em sua memória?
R: - Não houve. Tivemos informação de terceiros, um caso, que a pessoa foi bem
sucedida. Ele foi transferido. A empresa concedeu um horário especifico pra ele.
Ajustou de acordo com a necessidade dele, religiosa do dia.
- Já houve casos assim, de informações, não de caso concreto, com
registro, ou que gerasse conflito de reclamação, de interesse do sindicato intervir.
Então não houve necessidade já ocorrido.
Pastor Saraiva:
P: - Dados pessoais do Entrevistado:
R: - Meu nome é Emmanuel de Jesus Saraiva. Nasci em 25 de dezembro de 1939.
Tenho, portanto, 67 anos. Casado atualmente com Nilde Fournier. Eu tenho duas
filhas do primeiro casamento. A Raquel e a Leia, que é orientadora educacional do
Colégio Adventista de São Luís-MA.
- Sou maranhense. Nasci e me criei aqui em São Luís. Nasci no bairro da
Liberdade e estudei o meu primário em uma escola pública no Monte Castelo, e o
meu ginásio, eu fiz no Liceu Maranhense. Depois eu fui para Pernambuco, onde fiz a
faculdade de teologia em quatro anos. Depois de formado em teologia trabalhei
como pastor em algumas cidades do Maranhão. Como Bacabal; São Luís, duas
vezes; e Imperatriz. Depois eu fui para Manaus, onde passei oito anos trabalhando
em Manaus. Depois voltei para Fortaleza, onde fui departamental de educação e
jovem. Fui diretor do educandário nordestino Adventista. Naquele tempo, tinha até o
curso superior, o de teologia. Hoje, só tem até o curso médio. Passei seis anos na
África Portuguesa. Estive em Moçambique. Lá eu era professor de Português. E era
também, o diretor dessa escola. Um seminário de teologia.
- Além de fazer teologia, eu também fiz duas outras faculdades. Fiz a
faculdade de Pedagogia, e depois a faculdade de Letras. Portanto eu sou formado
em Teologia, Pedagogia e Letras.
P: - Pastor, como o senhor Tornou-se Adventista do Sétimo Dia?
R: - Eu me tornei adventista ainda criança. A minha mãe morava no bairro da
Liberdade. Foi assistir algumas reuniões e se tornou adventista, e nós éramos
crianças, e fomos com ela para a igreja. Eu tinha naquela época uns 11 a 12 anos
de idade, quando eu ingressei na igreja através da minha mãe, dos meus pais. O
meu pai e também toda família se tornaram adventista.
P: - Quando o senhor sentiu o desejo de ser um pastor da IASD?
R: - Na Igreja Central de São Luís. Certa vez, um pastor da igreja, um Uruguaio
chamado Eduardo Pereira. Ele fez um bonito sermão sobre o romance do ministério.
E no final, ele fez um apelo aos jovens. Quem gostaria de fazer teologia. E eu fui
atraído.
- Anos depois, eu fui para o ENA, em Pernambuco, para cursar a
faculdade de teologia. Não foi fácil. Era muito pobre, já casado, enfrentei muitas
dificuldades para concluir o curso. Lá, num ginásio, não muito distante de Belém de
Maria, eu lecionava à noite, português e matemática, para poder me manter no
curso durante os quatro anos, que eu passei em Pernambuco.
P: - Em sua opinião, qual o significado de guardar o Sábado?
R: - Nós não guardamos o Sábado, por uma questão legalista. Nós guardamos o
Sábado, porque sabemos que o Sábado é o sétimo dia da semana. É a coroação da
Criação de Deus. Deus criou o mundo em seis dias, e no sétimo, o Sábado, Ele
descansou. E deixou para os seus filhos, guardar esse dia, que é um memorial da
criação de Deus.
- Quando nós guardamos o Sábado, nós estamos diretamente nos
relacionando com Deus, porque aceitamos que Ele é o nosso Criador. E se Ele criou
o mundo em seis dias e descansou no Sábado. Ele deixou esse dia como memorial
da criação para que nos lembremos Dele. Por isso, os Adventistas guardam o
Sábado, não por uma questão legalista, mas por amor a Deus, que é o Criador de
todas as coisas. Se todas as pessoas neste mundo guardassem o Sábado, não
haveria neste mundo nenhum ateu. Porque quem guarda o Sábado, é porque crer
que Deus criou o mundo, que ele é o mantenedor desse mundo. E por isso nós
guardamos o Sábado, como memorial da Criação de Deus.
P: - Pastor, nós vivemos em um país democrático, onde sua constituição
estabelece a liberdade religiosa. Qual a sua opinião a respeito da liberdade
religiosa no Brasil?
R: - Olha, se analisarmos os 50 anos da história do adventismo, vamos vê que,
naquela época quando a Igreja surgiu no Maranhão, não era conhecida e havia
muito preconceito. Pelo menos, eles nem nos chamavam pelo nome. Esse nome
Adventista do Sétimo Dia, não era considerado. Nós éramos chamados de
sabatistas. Tinha muito preconceito, não apenas com a Igreja Adventista, mas com
todas as demais Igrejas evangélicas. Havia preconceito e a nossa Igreja era muito
mais perseguida naquela época, do que hoje. Hoje a Igreja Adventista do Sétimo
Dia, é uma igreja respeitada, porque naquele tempo eles nem nos consideravam
evangélicos. Achavam que éramos uma seita, que deveria ser discriminada, banida.
- A situação do Brasil mudou. Hoje todas as pessoas são mais
respeitadas. Todas as ouras religiões são também respeitadas. E nós, nesse
contexto também somos bem respeitados. Há problemas, mas pelo menos, as leis
brasileiras são mais favoráveis a todas as pessoas. A liberdade de consciência, a
liberdade de culto. Hoje a situação no Brasil, é muito melhor do que a 50 anos atrás.
P: - A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem como uma de suas doutrinas
fundamentais, a santificação e guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o
Sábado. Qual sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que
vivemos hoje?
R: - Alguns aceitam, outros rejeitam, e sempre será assim. Porque sempre foi assim.
Mas hoje, as pessoas são mais conscientes. Aqueles que têm uma Bíblia é muito
fácil eles concluírem que o Sábado é o dia do Senhor. Se eles, que tem a Bíblia em
casa forem ler, então, isso despertara nas pessoas interesses em saber por que
devemos guardar o Sábado. Por isso que a IASD, tem crescido. Porque as pessoas
hoje, especialmente os evangélicos, tem tido interesse em pesquisa e aceitar o
Sábado como dia do Senhor.
P: - Pastor, muitos Adventistas do Sétimo Dia, sofrem prejuízos materiais por
guardarem o Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional.
Qual a posição da IASD em relação a esse dilema sofrido pelos membros da
Igreja?
R: - a Igreja em si não obriga ninguém, há não ir ou ir no Sábado assistir uma aula.
A Igreja orienta que cada um tem uma consciência. E dentro dessa consciência, ele
precisa tomar a sua decisão.
- Como pastor, eu nunca eliminei ninguém da Igreja, pelo fato dele ir no
Sábado à escola. Mas, eu sempre orientei os membros da minha Igreja, que é mais
fácil ele vencer sendo fiel a Deus. Sendo leal a Deus, do que simplesmente
fracassar na vida espiritual.
- Um adventista que vai fazer uma prova no Sábado, depois, ele vai ter
mais problemas de consciência, do que, aquele que não foi e até ficou reprovado.
Posso citar o meu caso pessoal: Eu estudava no Liceu Maranhense na década de
50 e 60. E quando fazia o 1° ano científico, caíram varias provas no Sábado, e eu,
não fui. E como conseqüência, fiquei reprovado. Ou seja, repetir o ano. Mas, eu
agradeço a Deus por isso. Porque Deus tem os seus planos e ele quer de nós a
fidelidade. Quando nós somos fiéis a Ele, todos os nossos problemas são
resolvidos.
- É mais fácil vencer na vida cristã ao lado de Deus. É fácil vencer sendo
obediente, do que sendo desobediente aos princípios da lei. E você vai encontrar
quantos jovens, que deixaram de fazer uma prova ou ficaram reprovado, e nem pó
isso, deixaram de se formar. É o meu caso.
P: - Durante seu período como pastor da IASD, houve algum caso a respeito
desse dilema, a questão da guarda do Sábado, que ficou marcado em sua
memória?
R: - O que ficou marcado na minha memória, não posso me esquecer, foi o fato de
eu perder um ano, não foi fácil. Eu vim para casa, naquela sexta-feira a noite que eu
não fui ao Liceu, e depois eu fui lá repetir o ano. Mas, com pouco de um mês, dois
meses, um ano. Quando terminei, aquilo passou. E hoje, não me faz falta o ano, que
eu perdir.
- Em Coroatá, houve um caso de varias professoras que trabalhavam
para a prefeitura. E, o prefeito baixou lá um decreto. Que todos tinham que trabalhar
no Sábado. Foi difícil. A IASD teve que ir lá interceder. Em todos os casos que eu
conheço sempre Deus abre uma porta e vem a solução. Eu não conheço nenhum
caso de alguém que tenha morrido ou sofrido tanto porque foi fiel.
- Quando nós somos fiéis a Deus, Ele resolve o problema. A Bíblia diz:
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele e o mais Ele fará”. Se nós, nos
entregarmos nas mãos de Deus, deixar que Ele resolva, Ele sabe resolver cada
caso.
P: - Qual o significado de ser Adventista, e guardar o Sábado no mundo hoje?
R: - Se analisarmos a historia, Deus sempre teve um povo fiel. E Ele quer que esse
povo hoje, continue sendo fiel, como foi o povo do passado. Por isso, diz a Bíblia:
“Ser fiel até a morte, e de darei a coroa da vida”. Quando nós somos fiéis a Deus,
nós vencemos todos os obstáculos.
Pastor Sidney:
P: - Dados pessoais do Entrevistado:
R: - Meu nome é Sidney Sousa Nazareth. Sou casado com Lurdinéia Miranda
Nazareth. Tenho três filhos; Sidney Junior, formado em engenharia elétrica e
administração de empresas; a Sidnéia, formada em direito e promotora da justiça; e
o Sandy, formado em direito.
- Eu nasci na ilha de São Luís, no bairro do Apicum. A gente chegou a
esse mundo, no dia 12 de março de 1935. Ali no hospital Português. O nome de
meu pai era Laudelino Simão Nazareth, e minha mãe, Edite Esperança de Sousa.
Eles foram casados apenas na Igreja Católica. Isso quando eu já era rapaz.
- Mas, o conhecimento com a IASD, aconteceu quando eu estava numa
fase muito crítica na vida religiosa. Que, aliás, eu nunca fui assim, muito igrejeiro.
Freqüentava a Igreja Católica apenas aos domingos. Eu temia ao Senhor, mas,
assim como um rapaz sem uma diretriz religiosa.
- Acontece que no ano de 1950, houve um incidente. O trabalho que a
gente estava fazendo. Estava trabalhando nesta época na rua das Cajazeiras. Eu
trabalhava de carpinteiro, pois eu era parente do construtor, que era o meu falecido
tio. Então nessa época eu entrei em conflito com a Igreja Católica. Por quê? Porque
os professores no ginásio que a gente estudava nessa época, muitos deles eram
ateus, e começaram a minar a minha mente. Porque eles diziam, por exemplo, que
São Benedito, saiu em procissão, caiu e quebrou. Eles falavam da história de João
Batista, e do próprio Jesus Cristo.
- E nesse contexto, nós começamos a estudar a Bíblia, não no teor
religioso, mas como pesquisador, embora não tivesse essa habilidade.
- Quando foi no ano de 1951, nos ficamos um tempo sem trabalho nas
construções. E, eu tinha dois amigos, que não eram da Igreja Adventista. Um era o
José Bonciano, e o outro era o Raimundo Gonçalvez. Nós tínhamos reuniões nas
manhãs de domingo. Num lugar chamado Alto paraíso. Ali defronte a Igreja de São
Vicente. Nós tínhamos uma espécie de simpósio, umas atividades culturais: musicas
clássicas, exposições históricas. Era muito interessante.
- E num desses encontros no domingo, apareceu um colportor adventista,
chamado Evaldo. Um rapaz que tinha uma facilidade de se expressar. E nos
convidou para uma série de conferencias. Isso é coisa de protestante, comentei com
os meus amigos. O Bonciano e o Raimundo foram, mas eu não fui. Mas, prometi
que iria.
- Fomos até a IASD. Um templo novo, que tinha acabado de ser
inaugurado. Naquela noite, o pastor estava falando sobre Daniel 2, onde começava
a parte profética. Matei aulas durante a semana. Comecei a estudar a Bíblia,
comparando com a história. E não tive para onde fugir. Nunca mais deixei de
freqüentar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Eu fui da primeira turma noturna do
Liceu Maranhense. Ia fazer a terceira série no Liceu, e não passei de ano. Por quê?
Porque comecei a mim identificar com a guarda do Sábado. E quando eu comecei a
guardar o Sábado, eu tinha um professor de matemática, que só dava as provas
mensais no Sábado. Perdir o ano. E em 1955, tive a oportunidade de terminar a
terceira série ginasial no ENA. Por ser um bom aluno de matemática, comecei a dar
aula de matemática particular para os alunos. Fiz o curso de contabilidade e depois,
decidir fazer o curso de teologia.
- Minha família pensava que eu estava louco. E no exercito, quando eu fui
servir, devido o Sábado, fui despensado. A convicção da vida religiosa nasce com a
gente.
P: - Quais funções o senhor ocupou na IASD?
R: - Eu tive só duas funções. Foi como pastor distrital e professor de Bíblia na África.
No fim do meu ministério terminei como pastor distrital da Igreja Adventista Central
de São Luís. Eu fui o responsável pela reconstrução da Igreja.
P: - Pastor, em relação à guarda do Sábado, qual o significado dele ser
guardado?
R: - O Sábado é a marca registrada do povo de Deus, através de todos os tempos.
Ezequiel 20: 12 e 20. Quando Deus criou esse mundo em seis dias, Ele criou mais
um dia que foi o Sábado. Há caprichosamente todos os esforços para se mudar o
calendário gregoriano. Mas, no decorrer da semana sempre tem o Sábado, não
mudou. Os textos bíblicos no velho e no novo testamento indicam que o dia do
Senhor é o Sábado.
- O significado de guardar o Sábado, é uma benção muito grande. O
Sábado para nós é um dia deleitoso. Você tem um compromisso com o Dono do
Universo.
P: - Vivemos em um país cuja forma de governo é democrática. Qual a sua
opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil?
R: - Isso é um assunto muito envolvente. Muito agradável de a gente comentar. Nós
temos na Divisão sul-americana um departamento de deveres cívicos e religiosos.
Na nossa constituição a uma brecha para a liberdade religiosa. Estamos num país
onde você pode professar livremente a sua fé cristã. Embora nós vivamos numa
sociedade marcada pelo dia de repouso universal, que é o domingo, mas isso não
nos omite, nem aos judeus, e aos batistas do sétimo dia, e outros. Todos guardam o
Sábado em nosso país. Aqui em nosso estado, a Deputada Marly Abdalla, justificou
isso como lei.
P: - Qual a sua opinião a respeito da crença do Sábado na sociedade em que
vivemos?
R: - Eu acredito que o Adventista não vive como um religioso fanático. Mas ele vive
dentro da sua norma. De uma robusta fé cristã. Uma referencia na sociedade.
Porque o Sábado é um divisor de águas. O Sábado é um sinal, como diz o próprio
Deus, entre seus filhos e Ele. Sem ferir ninguém, mas, a característica da guarda do
Sábado para nós é um sinal divino. Deus no Sábado, Ele descansou, Ele abençoou,
e santificou. É uma referência.
P: - Muitos adventistas do sétimo dia sofrem prejuízos materiais, tanto na área
profissional, como na área educacional. Qual a posição da administração da
Igreja, quanto a esse dilema?
R: - O monge Martinho Lutero, estava subindo as escadarias do Vaticano de joelhos,
e no meio da escadaria, ele ouviu uma voz, que dizia: “O meu justo viverá pela fé”. O
Adventista, filho de Deus, o único recurso dele, é a fé em Jesus Cristo. Ele não tem
outro ponto de apoio. Ninguém vai de ajudar. É uma decisão sua com o seu Deus.
Ou você crer, ou você não crer. É o mais bonito da vida Cristã. É essa fé, de você
viver com o seu Cristo. Ele que vai determinar a sua vida.
P: - Durante seu período como pastor da IASD, houve algum caso a respeito
desse dilema, que ficou marcado em sua memória?
R: - Tem vários exemplos, mas, eu creio que para o Adventista, ele tem que ser
provado. Nós somos provados. Deus não vai deixar seus filhos mendigar o pão. Ele
só prova quem ama. Há um conflito em relação a guarda do Sábado. Imperceptivo,
mas há.
Diretora do Curso de Letras da UEMA:
P: - Dados pessoais do Entrevistado:
R: - Meu nome é Maria Auxiliadora Gonçalves de Mesquita. Era até o dia 31 de
dezembro de 2006, diretora do curso de Letras. Devo estar assumindo a direção do
CECEN, dia 10 de dezembro de 2007. Sou professora de Língua Portuguesa do
departamento de Letras da Universidade Estadual do Maranhão, e do departamento
de Letras do Centro Universitário do Maranhão.
P: - Professora Auxiliadora, é do seu conhecimento que nós vivemos em um
país cuja forma de governo é democrática. Existe uma liberdade religiosa,
instituída em nossa Constituição Federal (Art. 5°, incisos VI, VII e VIII). Qual a
sua opinião a respeito da liberdade religiosa no país?
R: - Olha, sobre a liberdade de religião no país, o que eu acredito, é que nós temos
toda a liberdade de credo. Já foi muito impedido de seguir está ou aquela religião.
Mas, atualmente não. Nós temos lutado tanto por democracia. Em todas as
instâncias. Nas instituições superiores, nos movimentos sociais. Creio que nós
tenhamos muita liberdade de escolha, em relação à religião.
P: - Em relação a guarda do Sábado pela Igreja Adventista, que é uma das suas
doutrinas fundamentais. Qual a sua opinião sobre essa crença, em nossa
sociedade?
R: - Cada religião tem as suas normas, as suas práticas. Algo interessante a serem
guardado pelos Adventistas. Eles acreditam em que Deus construiu tudo, e no
Sétimo Dia descansou. E por isso guardam o Sábado. É algo perfeitamente
aceitável, respeitável. Não nos incomoda em nada.
P: - Professora em sua opinião, na área educacional, que é a sua área de
atuação. A uma aceitabilidade por parte da área educacional, de alunos e
professores, que sejam adventistas, os quais guardam o Sábado. Ou a uma
rejeição, discriminação?
R: - Olha, não há discriminação. Porque quando sai os editais. Eu vou falar
especialmente aqui da Universidade Estadual do Maranhão. Nos editais, antes, em
2003, logo assim que eu assumi a direção do curso, tínhamos alguns problemas em
relação aos adventistas. Por quê? No edital não era especificado que o curso de
Letras funcionava aos Sábados. Tinha lá, funcionamento do curso: Noturno. Como
não era especificado que o curso tinha também aula no Sábado pela manhã, para
poder cumprir os duzentos dias letivos. O aluno depois que se escrevia queria
reivindicar, que não poderia participar das aulas no Sábado. Que não sabia da
norma do edital. Que não tinha feito um curso para estudar na manhã de Sábado.
- O que nós fizemos? Em 2003 ou 2004, não poderia lembrar agora, só
olhando na documentação, uma cera aluna que era adventista, entrou com uma
solicitação dentro do colegiado do curso. O colegiado do curso negou, e ela ainda foi
para a imprensa, se sentido injustiçada. E deste então, mandamos uma solicitação
para a Pro – reitoria de graduação, que no edital, no manual do vestibulando, saísse
que o curso de Letras, funcionava de segunda à sexta, no turno noturno, e pelo
Sábado no turno matutino. Deste então, nós nunca mais tivemos nenhum problema
relacionado a questão da guarda do Sábado dos adventistas.
- Todo aluno que quer fazer o curso de Letras, que seja adventista, pode
fazer. Até porque nós temos tido o cuidado de evitar repetir a mesma disciplina no
Sábado. Pra que? Pra permitir também, que o adventista que não assiste aulas no
Sábado. Pois, têm alguns adventistas que assistem aulas no Sábado. Nós já
tivemos alunos que eram adventistas, mas que assistiam aulas no Sábado. Outros
não. Que realmente segue os preceitos da sua religião e não admitem assistir aula
dia de Sábado. Pensando nesses alunos, porque nós temos que ter uma visão
assim, geral. Nós temos que ter uma preocupação com quem é adventista. Ele não
é obrigado a assistir aula dia de Sábado. Mas, ao se escrever no curso, ele sabe
que tem aula dia de Sábado. A pessoa se escreve de livre e espontânea vontade.
Na instituição nós temos aulas de segunda à Sábado.
- Os cursos de licenciatura, eles são obrigados a terem aulas de segunda
à Sábado. Para cumprirem os dias letivos no período correspondente a
integralização curricular. Para cumprir a carga horária nos três anos e meio, e quatro
anos. Nós temos que ter obrigatoriedade em dar aulas no Sábado, porque se não,
nós não conseguimos. É uma norma da própria instituição.
P: - Em sua opinião, quem tem culpa quanto a essa questão, de um adventista
querer fazer o curso de Letras, e o curso ser noturno e ter aula no Sábado?
R: - Meu querido, ninguém tem culpa. E a solução está para os dois. Tanto para o
curso quanto para o aluno. Por quê? Porque o curso oferece as disciplinas de
segunda a Sábado. Que no caso dos adventistas, não podem assistir aula nem na
sexta à noite e nem no Sábado de manhã. O que o curso faz, para facilitar a vida do
adventista. Nós não estabelecemos horários definitivos para todos os semestres
letivos. Ema cada semestre letivo, nós mudamos os horários, colocando as
disciplinas, em dias variados. Pra que? Para evitar que o aluno adventista, seja
prejudicado. Por exemplo, nesse período Inglês vai ser Sábado. No outro período
seguinte, quem vai ser Sábado é Literatura brasileira. Nós sempre fazemos esta
modificação.
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(a): André Costa Machado Silva - Outros Tempos