ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO: Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista . São Luís 2007 ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO: Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista Monografia apresentada ao curso de História Licenciatura da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em História. Orientador: Profº. Ms. Paulo Roberto Rios Ribeiro. São Luís 2007 Silva, André Costa Machado Direitos humanos e trabalho no Capitalismo: Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista/André Costa Machado Silva. - São Luís, 2007. 116 f. Monografia (Graduação em História) – Curso de História, Universidade Estadual do Maranhão, 2007. 1. Adventismo. 2. Trabalho. 3. Capitalismo. Ι. Título. CDU 342.731:286.3 ANDRÉ COSTA MACHADO SILVA DIREITOS HUMANOS E TRABALHO NO CAPITALISMO: Conflitos e Contradições na Guarda do Sábado Adventista Monografia apresentada ao curso de História Licenciatura da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em História. Aprovada em: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________ Profº. Ms. Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador) Mestre em História Faculdade São Luís _________________________________________ Profª. Ms. Elizabeth Abrantes Mestre em História Universidade Estadual do Maranhão _________________________________________ Profº. Ms. Carlos Aberto Ximendes Mestre em História Universidade Estadual do Maranhão A Deus, criador dos céus e da terra, pelo dom da vida, por ser minha eterna fortaleza e por atender com grandeza às minhas necessidades. Aos meus amados pais, Ademar Machado Silva e Maria dos Reis Costa Silva, pelo amor, compreensão, força e dedicação constantes, a vocês minha eterna gratidão. AGRADECIMENTOS A meu orientador Professor Mestre Paulo Rios, pela dedicação, confiança e competência na orientação deste trabalho. A minha irmã Andreia Costa, pela cumplicidade e disponibilidade em ajudar nas situações mais difíceis. A minha prima Cristhiane Sampaio, pelo companheirismo e amizade. A toda minha família, tios, primos e avós, pelo, carinho, cuidado e afeto, em especial a Cleides Machado, Maria da Paz Costa e Salustiano Costa (in memorian). A todos os professores do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), pelo conhecimento, competência e disponibilidade fornecidos no decorrer do curso, em especial a Alan Kardec, Helidacy Muniz, Henrique Borralho, Adriana Zierer, e Marcelo Galves. À Banca Examinadora, pela importante colaboração no aperfeiçoamento deste trabalho. A todos os colegas da turma, pela convivência e experiências partilhadas. Aos grandes amigos Rafael Serra, Hugo Aurélio, e Eduardo Gomes pelo companheirismo, alegrias vividas durante a vida acadêmica e por compartilharmos nossos conhecimentos e expectativas de futuros Historiadores. A amiga Tatiane Sales, pela força, determinação, cumplicidade e por todas as alegrias e ajudas fornecidas durante o curso. A amiga Cleonice, pela coragem, companheirismo e disponibilidade em ajudar. As amigas Lellya e Elizangela, pelo apoio, carinho e afeto demonstrados. A minha querida amiga Pollyana, pelo carinho, companheirismo, e alegrias vividas durante a vida acadêmica. A Roberta, Edílson, e Márcio, pela disponibilidade e prontidão. A José Carlos Ferreira, pela disponibilidade e apoio técnico. A todos aqueles que disponibilizaram o seu tempo para que esta pesquisa fosse realizada, permitindo através de sua participação, a elaboração deste estudo e de possíveis reflexões quanto à questão da liberdade religiosa em nosso Estado. Principalmente, sobre a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia. "Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência, religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletiva, em público ou particular." (Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) RESUMO Este estudo tem por finalidade mostrar o conflito existente entre a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia e a lógica do controle do capital sobre o trabalho no Sistema Capitalista. A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos princípios do Capitalismo. Uma das características do Capitalismo é o controle sobre o tempo, que é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser regido pelo mundo Capitalista. Daí, ocorrer uma discordância entre o Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado. Em que, ambos os lados não flexibilizam suas convicções. Destaca o papel que o Estado exerce nesse conflito existente entre a Igreja Adventista e o Capitalismo, em relação às leis existentes, na Constituição Federal. Delimita-se a Igreja Adventista no Maranhão nesse contexto antagônico entre a guarda do Sábado da Igreja Adventista do Sétimo Dia e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista. Retrata-se o comportamento dos Adventistas do Sétimo Dia diante do dilema que enfrentam na sociedade Capitalista a qual fazem parte: Preservar os seus princípios religiosos, no caso, guardar o Sábado, ou ceder às pressões do Sistema Capitalista. Através da realização de entrevistas, mostramos esse conflito nas suas mais variadas formas. Palavras-chave: Adventismo. Trabalho. Capitalismo. ABSTRACT This study intents to show the existing conflict between the Sabbath keeping by Seventh-day Adventists and the capital control logic on the work in the Capitalism System. The Sabbath keeping by the Seventh-day Adventist Church has provoked serious ideological and work conflicts in relation to the Capitalism principle. One of the Capitalism characteristics is the time control – a primordial action for the lucrativity increasement. Time of each worker comes to be watched and chronometred. The day of rest of a worker comes to be ruled by the Capitalist world. Due to that, there is a divergence between the Capitalism and the Seventh-day Adventist Church. Both sides don’t flexibilize their convictions. It’s jut in evidence the State role in that conflict in relation to the laws approved in the Federal Constitution. It closes the Seventh-day Adventist Church in the Maranhão State in that antagonic context between the Sabbath keeping by the Seventh-day Adventist Church and the work importance for the Capitalist System. It portrays the Seventh-day Adventist behavior before the dileme they face in the Capitalist society they belong: To keep their religious principles, in this case, to keep the Sabbath, or to release the pressures of the Capitalist System. Through interviews this antagonism in its several forms is shown. Key- words: Adventism. Work. Capitalism. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10 2 A HISTÓRIA DA IGREJA ADVENTISTA DO 7° DIA.............................................15 2.1 Antecedentes......................................................................................................15 2.2 Origem, Expansão, e Crises..............................................................................19 2.3 Estrutura Administrativa e Sinopse Doutrinária.............................................23 2.4 O Adventismo no Brasil.....................................................................................27 . 2.5 O Adventismo no Maranhão..............................................................................30 2.6 Incompatibilidade com Outras Doutrinas Evangélicas..................................33 3 O CONFLITO ENTRE O ADVENTISMO E O SISTEMA CAPITALISTA...............40 3.1 Secularização do Estado Brasileiro.................................................................40 3.2 Liberdade e Pluralismo Religioso....................................................................49 3.3 A Relação entre Trabalho e Religião................................................................56 3.4 A Guarda do Sábado na Sociedade Capitalista..............................................60 4 CONFLITOS E CONTRADIÇÕES NA REALIDADE MARANHENSE...................70 4.1 Composição social do Adventismo.................................................................70 4.2 A Posição do Sistema Capitalista....................................................................73 4.3 A Posição da Administração Adventista.........................................................76 4.4 Estado e Sociedade Face ao Adventista.........................................................80 5 CONCLUSÃO.........................................................................................................85 REFERÊNCIAS.......................................................................................................87 APÊNDICE..............................................................................................................93 1 INTRODUÇÃO A questão religiosa no Brasil é um assunto que vem atraindo vários autores das ciências sociais, encantados pelo caso, principalmente antropólogos, sociólogos e historiadores. Embora o empenho seja grande no propósito de explicar de modo claro e objetivo o assunto, sempre fica algo a ser compreendido, talvez pela pluralidade de temas a serem explorados e várias divergências entre os estudiosos. No Brasil, a questão religiosa vem sendo abordada por vários estudiosos. Dentre eles, destacamos GRUMAN (2005a), que vem mostrando que a secularização na política implicou na separação entre Estado e Igreja. O Estado brasileiro adquire autonomia em relação ao grupo religioso ao qual estava vinculada, no caso, a Igreja Católica Romana, estabelecendo a liberdade religiosa e de culto. Lutherk (2006a) retrata em geral, os estudos sobre a relação evangélicos e mídia se notabilizando pela apreciação geral que fazem do assunto. Considerando a situação de pluralismo religioso e a sociedade contemporânea como mercadológica e a necessidade de se estudar as rádios evangélicas do Rio de Janeiro. Identifica que as mídias religiosas que tem por motivação a livre concorrência e não a missão e o proselitismo. BURITY (2006a) faz um crivo da participação política, entendendo-a como expressão de valores próprios aos grupos e atores religiosos e dos conflitos entre seus diferentes "mundos", mas também como espaço de encontro da lógica religiosa com a lógica da negociação, da representação e da pluralidade. Começa com uma discussão sobre o problema da nomeação, identificação, singularizarão da religião, salientando a enorme dificuldade de estabilizar, sob conceitos claros e nítidos a essência do fenômeno ou a autoridade de quem fala em seu nome. Direcionando-se para o estudo de nosso tema, ou seja, sobre o conflito existente entre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Sistema Capitalista em relação ao sábado, SCHEINMAN (2006a), analisa a questão da liberdade religiosa e os seus limites. Buscando analisar a questão de forma legalista, fazendo considerações acerca da nova concepção dos direitos humanos, da liberdade do indivíduo e da liberdade religiosa em espécie. Traça, em linhas gerais, princípios aplicáveis a todas as situações em que, de alguma forma, por imposição legal, estatutária, hierárquica, etc., se verifique o cerceamento da liberdade religiosa, no exercício das atividades normais ou usuais do cidadão. MANCE (2006a) apresenta como o sistema capitalista atual, em função da produção de mais valia, necessita produzir subjetividades. A fim de se compreender conceitualmente este fenômeno ele explicita o que se caracteriza como "subjetividade" e o que se entende por "capitalismo atual". O instrumental adotado para tanto advém da semiótica política, razão pela qual ele enfatiza as mediações sígnicas peculiares ao giro do capital, à produção das mercadorias, à promoção do consumo e a necessária produção das subjetividades para a realização deste movimento. FONSECA (2006a) aborda o sentido primeiro do trabalho e o poder de determinação, primeira, do trabalho nas formas dos homens existirem historicamente. Tenta mostrar o debate em torno da ontologia do trabalho, como uma maneira de entendermos que o trabalho cria o homem, a sociedade e a história. Nosso trabalho se volta para um estudo histórico a nível regional, analisando o conflito existente da Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Sistema Capitalista em relação ao dia de Sábado. Dado a sua importância, sentimos a necessidade de analisar o conflito existente entre a guarda do Sábado dos Adventistas e a importância do trabalho para o Capitalismo, no Maranhão. Caracteriza-se por ser um estudo pioneiro, em relação a este tema tão instigante, em que, tentará apontar e justificar os elementos característicos desse conflito. O presente trabalho tem por finalidade mostrar, o antagonismo existente entre a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo e os Dogmas do Capitalismo. Refletindo sobre o assunto, percebemos que deste o século XIX, período do surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ocorre uma inflexibilidade entre as duas filosofias. A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos princípios do Capitalismo. Para os Adventistas, o quarto mandamento da imutável lei de Deus, requer a observância deste Sábado do Sétimo Dia como o dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado. Declaram que o Sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com seu povo. Crêem que a prazerosa observância deste tempo Sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus. Uma das características do Capitalismo é o controle sobre o tempo, que é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a ser regido pelo Sistema Capitalista. Daí, ocorrer esse antagonismo entre o Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado. Em que, ambos os lados não flexibilizam suas convicções. Na Sociedade Contemporânea regido pelo viés Capitalista, é impossível à humanidade parar simultaneamente um só dia na semana. Exceto quando acontecem greves, mesmo assim não é simultâneo. Para o Capitalismo se toda a humanidade resolvesse Guardar o Sábado, seria um caos total em setores imprescindíveis, como a energia elétrica, saúde, segurança, abastecimento de água, combustíveis e indústrias diversas. Este estudo tem por objetivo se reportar a este antagonismo, existente entre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Mundo Capitalista em relação ao Sábado. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Escolhemos como objeto de estudo, e pesquisa, o tempo histórico relacionado aos meados do século XX, em relação ao período de surgimento da Igreja Adventista no Maranhão. Delimitamos-nos, a Igreja Adventista no Maranhão nesse contexto de conflito entre a guarda do Sábado da Igreja Adventista do Sétimo Dia e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista. O comportamento entre a guarda do Sábado dos Adventistas e a sociedade Capitalista Maranhense. Conduzimos à elaboração desse estudo, atuando no campo da história social. O estudo sobre esse tema, tentará mostrar o comportamento dos Adventistas do Sétimo Dia diante do dilema que enfrentam na sociedade Capitalista a qual fazem parte. Preservar os seus princípios religiosos, no caso, guardar o Sábado, ou ceder ás pressões do Sistema Capitalista. Através da utilização da história oral, método caracterizado pelos fatores antropológicos, que se preocupa em construir a história de baixo para cima, adotamos a realização de entrevistas para percebermos o dilema que os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia enfrentam, em ter que escolher entre seus princípios religiosos (no caso, a guarda do Sábado, por crer que é o dia descanso abençoado por Deus) e a necessidade de ter que trabalhar nesse dia para não perderem os seus empregos. As fontes orais foram de grande importância para entendermos o antagonismo entre a guarda do Sábado pelos Adventistas e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista, na realidade local. Os capítulos que compõem este estudo retratam esse antagonismo presente na sociedade capitalista. O segundo capítulo, A História da Igreja Adventista do 7° Dia, relata o surgimento, o desenvolvimento, e a estruturação do movimento Adventista no mundo. Seu surgimento no Brasil, e a formação da Igreja Adventista no Estado do Maranhão. No capítulo referente ao Conflito existente entre o Adventismo e o Sistema Capitalista, abordamos sobre a formação da secularização do Estado Brasileiro, que proporcionou à liberdade religiosa, consolidando o pluralismo religioso existente no país. Além de analisarmos a guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia na sociedade capitalista. O quarto capítulo examina esse Antagonismo no Estado do Maranhão, através de fontes documentais e principalmente fontes orais, construídas apartir de alguns envolvidos nesses conflitos. 2 A HISTÓRIA DA IGREJA ADVENTISTA DO 7° DIA 2.1 Antecedentes Antes de se abordar sobre a história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, julgou-se conveniente fazer ligeiras considerações sobre fatos que antecederam a sua história, incluindo-se neste quadro o Movimento Milerita, surgido nos Estados Unidos na década de 1840, o qual está estreitamente ligada aos Adventistas do Sétimo Dia. Guilherme Miller foi um fazendeiro, e um atuante evangelista da Igreja Batista americana. Seus estudos das Escrituras Sagradas levaram-o a estabelecer outras crenças: que Cristo voltaria de maneira pessoal e visível, nas nuvens dos céus no ano de 1844 (séc. XIX), de acordo com as profecias do profeta Daniel, escrita na Bíblia Sagrada, localizada no Velho Testamento (Daniel 8:14) 1; que os Justos mortos ressuscitariam incorruptíveis e os Justos vivos seriam transformados para a imortalidade; que os Santos seriam apresentados a Deus; que a terra seria destruída pelo fogo; que os Ímpios seriam destruídos e seus espíritos conservados em prisão até sua ressurreição e condenação; e que o único milênio ensinado na Bíblia eram os mil anos que se seguiam à ressurreição. DICK (1976:23) afirma que durante nove anos o Sr. Miller lutou para ver se podia interessar alguém a apresentar essa mensagem ao público. O Sr. Miller foi muito bem recebido por suas mensagens, influenciando as pessoas através de suas pregações. Miller, juntamente com diversos religiosos das mais diferentes denominações, chegou à seguinte conclusão: que Cristo Jesus voltaria a Terra em 1 Daniel 8:14 – “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhâs, e o santuário será purificado.” 22 de Outubro de 1844, ou seja, o dia da expiação do povo judeu. No verão de 1844, grande número de membros de diversas denominações religiosas por aceitarem as mensagens de Guillerme Miller, abandonaram suas igrejas ou foram expulsos por elas. Em uma campanha na Filadélfia, o movimento Milerita alugou o museu Chinês que era considerado um dos maiores lugares de reunião da América daquele período, comportava 15 mil pessoas. Neste evento, Elon Galusha, filho do Governador Galusha de Vermont, aceitou a mensagem pregada por Miller. Cerca de 100 mil pessoas esperavam Cristo nas nuvens do céu, na data marcada pelo movimento Milerita, 22 de outubro de 1844. DOUGLASS (2001:50) destaca que passada a data esperada, nem todos os mileritas, porém, tinham o mesmo parecer depois do Grande Desapontamento2. Nem todos podiam dizer que estavam desapontados, mas não desanimados. Por um lado, idéias radicais geraram comportamentos radicais. Alguns antigos líderes, crendo que Cristo havia vindo de fato espiritualmente, adotaram “as núpcias espirituais’’, através das quais renunciavam ao casamento e formavam novas uniões “espirituais”, destituídos de sexo, com novos parceiros”. Outros, crendo que o sábado milenar havia começado naquela época, e para mostrar sua fé nessa crença, não faziam mais nenhuma espécie de trabalho secular. 3 Por outro lado, diferenças doutrinárias começaram a separar os seguidores de Miller. Eles logo se dividiram em pelo menos quatro grupos. Os conhecidos como adventistas evangélicos, abandonaram os ensinos proféticos de Miller e foram absorvidos em outros grupos protestantes ao tornar-se evidente que quase nada os separava. Outro grupo começou a acreditar que o milênio havia 2 O Grande Desapontamento foi o termo dado ao momento de decepção que passou o movimento Milerita após 22 de outubro de 1844, data prevista para o retorno de Cristo a Terra. 3 Trabalho secular significa todo trabalho com fins materiais para o homem. ficado no passado, que os mortos agora “dormiam” esperando a ressurreição e que os ímpios seriam aniquilados. Por fim, esses se tornaram conhecidos como a Igreja Cristã do Advento, hoje, o maior remanescente não observador do sábado, proveniente do adventismo milerita. Centralizado ao redor de Rochester, Nova Iorque, outro grupo via o milênio como estando ainda no futuro, durante o qual os judeus voltariam para a Palestina. Contrários à organização formal da igreja, esses adventistas da “Era Vindoura” nunca se tornaram fortes nem unidos. O quarto grupo ficou conhecido como os adventistas do “Sábado e da Porta Fechada”. Por meio de oração, estudo da Bíblia e confirmação divina, eles desenvolveram uma base lógica para os acontecimentos centralizados em 22 de outubro de 1844. Este grupo disperso finalmente encontrou sua unidade e missão, vindo a chamar-se Adventistas do Sétimo Dia, a maior corporação de mileritas hoje existente, como ilustram as palavras de SARAIVA (2002:31): “Para os que continuaram perseverando o desapontamento não foi o fim. Foi apenas o começo. Deste grupo bem pequeno de fiéis, surgiu a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Dentre estes podemos citar Hirão Edson, José Bates, Tiago White e Ellen Harmon, que mais tarde recebeu sobrenome de White, quando se casou com Tiago White; e outros”. Este pequeno grupo de adventistas voltou-se para o estudo da Palavra de Deus, para descobrirem o porquê do desapontamento. Através do estudo da Bíblia e de muita oração, eles concluíram que a data de 22 de outubro estava correta, porém, Guilherme Miller tinha previsto o evento errado para aquele dia. Eles afirmaram que a profecia de Daniel 8:14 previa não o retorno de Jesus à Terra em 1844, mas que Ele começaria naquela data um ministério especial no Céu para seus seguidores.4 Assim, este quarto grupo continuou a esperar pelo breve retorno de Jesus, como fazem os Adventistas do Sétimo Dia até hoje. Deste pequeno grupo que se recusou a desistir da esperança da segunda vinda de Cristo, destacam-se como co-fundadores da Igreja Adventista do Sétimo DIA: Tiago White, Ellen G. White, e José Bates. Tiago James Springer White, em 1846 aceitou a verdade do Sábado e, em 1849, começou a publicar a revista Present Truth. À medida que crescia o número dos adventistas guardadores do Sábado, Thiago White insistiu para que constituíssem uma organização, liderou o desenvolvimento da obra editorial, educacional e médica da Igreja. Sua esposa Ellen Gould White, dotada com o dom profético conforme descrito na Bíblia, tornou-se escritora e oradora ilustre, bem como obreira incansável e bem-sucedida em edificar e expandir o movimento do advento. José Bates, foi um dos primeiros a aceitar a doutrina da guarda do Sábado, e também um dos primeiros a defender a reforma de saúde, abandonando o uso de alimentos cárneos, chá e café. De acordo com DICK (1976:95), os Adventistas do Sétimo Dia têm fortes laços históricos com os Batistas do Sétimo Dia. Uma batista do sétimo dia, Raquel Oaks Preston, comunicou a verdade do Sábado a José Bates, um dos pioneiros da Igreja Adventista, que depois de um cuidadoso estudo, a aceitou. Os primitivos mileritas adventistas guardavam o domingo até que estudaram o assunto do Sábado bíblico, depois de terem sido encaminhados pelos batistas do sétimo dia, onde passaram a guardar o Sábado bíblico. 4 Para os Adventistas do Sétimo Dia, a profecia de Daniel 8:14, coloca que o ano de 1844 é significativo porque foi o ano do maior movimento em favor do segundo advento na história eclesiástica. Da mesma importância, 1844 deu inicio a um processo celestial que significa, em última instância, o clímax da purificação final do pecado no Universo. 2.2 Origem, Expansão, e Crises No dia 23 de outubro de 1844, dia seguinte após o “Grande Desapontamento”, Hirão Edson, um jovem seguidor do movimento Milerita, seguia por um milharal onde foi lhe revelado a explicação do porque que Jesus não voltou na data prevista por Guilherme Miller. Segundo os Adventistas do Sétimo Dia, Jesus revelou a Hirão Edson à verdade sobre o Santuário, como relata o teólogo e historiador MAXWELL (1982:50): “Detive-me em meio ao campo. O céu parecia abrir-se-me à vista e vi distante e claramente que em lugar de nosso Sumo Sacerdote sair do lugar Santíssimo (22 de outubro). Ele pela primeira vez entrava nesse dia no segundo compartimento desse santuário; e que Ele tinha uma obra para realizar no Santíssimo antes de vir a terra”. De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, Jesus Cristo revelou a Hirão Edson as respostas fundamentais encontradas na Bíblia Sagrada, no Velho Testamento, no livro de Daniel 75, e no Novo Testamento, nos livros de Hebreus 8 e 96, e de Apocalipse 10:9-117, que até então, o movimento Milerita havia explicado erroneamente. Após o Grande Desapontamento, a profecia de Daniel tornou-se obscura para aqueles que aguardavam a volta de Jesus em 22 de outubro. Com a revelação dada a Hirão Edson no milharal, Thiago White, Ellen G. White, e José Bates, estudaram e reestudaram a profecia de Daniel, e entenderam que o fim dos 5 O Livro de Daniel 7, encontrado na Bíblia Sagrada no Velho Testamento, relata o sonho que o profeta Daniel teve a respeito dos animais simbólicos. Para os Adventistas do Sétimo Dia, este capítulo apresenta o grande juízo no Céu, que leva diretamente à segunda vinda de Jesus e o fim deste mundo como o conhecemos. Em resumo, em Daniel 7, temos uma apresentação do juízo do pré-advento(julgamento daqueles que professam o nome de Cristo, antes que aconteça a sua segunda vinda.). 6 De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, os capítulos 8 e 9 do livro de Hebreus, têm como tema central a idéia do Santuário Celestial, onde Cristo é o Sumo Sacerdote, no contexto do grande plano da salvação. 7 Em Apocalipse 10:9-11, segundo os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, retrata o papel do remanescente de Deus na proclamação do eterno evangelho de salvação pela fé em Cristo. Ou seja, o remanescente tem a missão de preparar o mundo para o retorno de Cristo. 2.300 dias não se daria a volta de Cristo, mas o início do Juízo Investigativo8. Ou seja, nesta data Jesus saiu do lugar Santo e passou ao lugar Santíssimo, no Céu. A partir dessa nova interpretação a respeito da profecia de Daniel 8:14, surge a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Segundo MAXWELL (1982:75), a Igreja Adventista do Sétimo Dia surgiu entre as décadas de 1850 e 1870, concomitantemente nos Estados Unidos e na Europa. Dentro deste movimento uma atenção especial foi dada ao estudo da Bíblia, tanto do Novo como do Velho Testamento. O movimento adventista foi alicerçado por doutrinas tais como; a Volta de Jesus, A Justificação pela Fé em Cristo, O Santuário, O Sábado, Espírito de Profecia, A Reforma de Saúde, O Estado do Homem na Morte e outras. Apesar do nome “Adventista do Sétimo Dia” ter sido escolhido em 1860, DOUGLASS (2001:253) afirma que a denominação só foi organizada oficialmente em 21 de maio de 1863, quando o movimento era composto de 125 igrejas e 3.500 membros. A Igreja Adventista, até 1874, concentrava a pregação do evangelho somente na América do Norte. J. N. Andrews, em 1874 foi enviado como o primeiro missionário adventista do sétimo dia a países fora da América do Norte. Andrews foi enviado para a Suíça, primeiro país europeu a receber a mensagem adventista. Teólogo capaz, fez importantes contribuições para o desenvolvimento de várias doutrinas da Igreja, inclusive o tempo de iniciar-se e encerrar-se o Sábado. Foi o terceiro presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 8 Segundo os Adventistas do Sétimo Dia em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Cristo iniciou a segunda e ultima etapa de Seu ministério expiatório. É a obra do juízo investigativo, conhecido também como juízo do pré-advento, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado. O juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto, Nele, considerado digno de ter parte na primeira ressurreição. Também torna manifesto quem, dentre os vivos, permanece em Cristo, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que crêem em Jesus, antes do Segundo Advento. O continente africano recebeu as primeiras mensagens da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a partir de 1879, através do recém-convertido na Itália, o Dr. H. P. Ribton, que se transferiu para o Egito, onde fundou uma escola. O primeiro país não-protestante a ser atingido pelo movimento adventista foi a Rússia, em 1889 com a chegada de um pastor da Igreja. No ano de 1890, missionários deslocaram-se para as Ilhas do Pacífico levando a mensagem adventista. Os Adventistas do Sétimo Dia chegaram a países não-cristãos a partir de 1894 tais como; Costa Dourada, Gana, África Ocidental, Matabeleland, e África do Sul. Neste mesmo período, missionários são enviados para a pregação do evangelho na América do Sul. O primeiro país do mundo Oriental a receber a doutrina adventista foi o Japão, no ano de 1896. Um dos principais fatores para o crescimento do Movimento Adventista no mundo foi a publicação e a distribuição de sua literatura. A primeira casa publicadora Adventista surgiu em 1855, em Battle Creek, Michigan, e foi incorporada em 1861 com o nome de Associação de Publicações dos Adventistas do Sétimo Dia. Transcorrido mais de um século de existência da Igreja Adventista do Sétimo Dia, atualmente ela proporciona o estabelecimento do Adventismo em 209 países, com quase 15 milhões de membros ao redor do mundo. A Igreja Adventista do Sétimo Dia teve algumas crises e dissidências durante sua história. Em 1906, houve uma crise denominada Panteísta9, onde vários lideres da Igreja acreditavam que Deus era uma essência impessoal que permeava todo o universo. No período da I guerra mundial, por divergências locais da liderança adventista na Alemanha, foi estabelecido de maneira contrária aos princípios do não-porte de armas e da atividade no dia de Sábado para os membros da Igreja na 9 O Panteísmo é o sistema filosófico que identifica a divindade com o mundo e segundo o qual, Deus é o conjunto de tudo quanto existe. Alemanha. Este episódio proporcionou um movimento dissidente que se tornou a igreja adventista da reforma, os quais denominam a Igreja Adventista do Sétimo Dia de Babilônia. No ano de 1929, o búlgaro-americano Victor Houteff publicou novas profecias e interpretações que foram rejeitadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Criaram-se várias denominações independentes, como a igreja Adventista do Ramo Davidiano, dirigida por David Koresh. Na virada do século XIX, a Igreja Adventista havia rejeitado a corrente que deu origem às igrejas pentecostais. Porém, em 1932 o pastor adventista João Augusto da Silveira, referiu-se ter apresentado o Dom de Línguas como crido pelas igrejas pentecostais. Este pastor fundou a igreja Adventista da Promessa. Na década de 1970, surgiu um fórum de discussões universitário dentro da Igreja questionando o método histórico-crítico de interpretação das profecias bíblicas, bem como o papel de Ellen G. White dentro da Igreja Adventista. A partir da década de 1990, iniciou-se dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma crise fundamentalista, onde alguns membros revendo pontos doutrinários da Igreja Adventista do Sétimo Dia combatem as crenças da Trindade e da Natureza Humana de Cristo, pertencente as 28 doutrinas fundamentais da Igreja Adventista. Atualmente no Brasil, devido ao reflexo do movimento fundamentalista iniciado nos Estados Unidos, há alguns grupos que divergem das crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Esses grupos possuem características comuns, tais como: intensa crítica a organização da IASD; crença anti-trinitariana10; ênfase pós-lapsariana sobre a Natureza de Cristo11; proselitismo 10 Esta crença combate a doutrina da Trindade seguida pela IASD. Afirmam que não há um só Deus; Pai, Filho, e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas. Alguns membros da IASD, não concordam que a Pessoa do Espírito Santo seja uma Pessoa da Divindade e afirmam, que o Filho não tem a mesma autoridade do Pai. ativo nas Igrejas adventistas estabelecidas; e um estímulo ao sistema congregacionalista de administração eclesiástica. A administração da Igreja Adventista no Brasil se opõe a esses movimentos dissidentes, promovendo congressos e palestras em todo o território brasileiro, no intuito de conscientizar os membros da Igreja. 2.3 Estrutura Administrativa e Sinopse Doutrinária A Igreja Adventista do Sétimo Dia possui uma forma de administração democrática, onde todos os oficiais da Igreja são eleitos a partir dos níveis mais básicos da Igreja em nível sucessivo e nenhum cargo é permanente, embora possa haver reeleição. A Igreja local é a estrutura organizacional que constitui a face pública da Igreja Adventista, em que todo membro batizado tem o poder de voto. Os cargos existentes na Igreja local, são exercidos, com exceção do pastor, de forma voluntária. Os cargos de ancião, diácono, tesoureiro, secretário da Igreja, além de outros departamentos associados, tais como: diaconisas, jovens, escola sabatina, mulheres, crianças, e adolescentes, são nomeados por voto de uma comissão composta por membros da Igreja, apontada plenariamente pela Igreja local. São três os níveis adminstrativos de organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Igrejas e congregações, que formam uma Associação ou Missão; Associações e Missões que estabelecem uma União; e as Uniões, formando as Divisões, que formam a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A Associação Geral, possui o seu escritório em Silver Springs, Maryland, EUA. O presidente da Associação Geral é eleito a cada cinco anos, na reunião da 11 De acordo com os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Jesus Cristo, quando veio a este mundo, sua formação era composta de 100% humano e 100% Espírito. Porém, existe uma discórdia entre os membros da Igreja quanto a questão, de Cristo ter tido ou não a possibilidade de pecar. Conferência Geral, onde são realizadas as decisões gerais da Igreja Adventista, estabelecendo a escolha de cargos, e é votado e atualizado o Manual da Igreja, que contém as diretrizes para cada nível administrativo da Igreja, bem como lidar com situações desde a admissão de um novo membro ou até o desligamento de membros da Igreja. Atualmente o presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, é o pastor Jan Paulsen. Os Adventistas do Sétimo Dia aceitam a Bíblia como seu único credo e mantém crenças fundamentais como ensinam as Sagradas Escrituras. Os princípios e normas que estabelecem a base da fé Adventista do Sétimo Dia são 28 crenças fundamentais, que constituem a percepção e expressão que a Igreja sustenta com respeito aos ensinos bíblicos. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, as Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamentos, são a Palavra de Deus escrita, dada por inspiração Divina por intermédio de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo; há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas12; Deus, o Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação; Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo, e por meio dele foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo; Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na criação, encarnação e redenção. Em suas crenças fundamentais os Adventistas afirmam que Deus é o Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua atividade criadora; o homem e a mulher foram formados à imagem de Deus com individualidade e com o poder e a liberdade de pensar e agir; e que toda a 12 As três Pessoas que compõe a Divindade; Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo, sendo onipresente, onipotente e onisciente, ou seja, são Eternas. humanidade está agora envolvida num grande conflito entre Cristo e Satanás, quanto ao caráter de Deus, Sua Lei e Sua soberania sobre o Universo. Crêem os Adventistas do Sétimo Dia, que a vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, e o seu sofrimento, morte e ressurreição, Deus proveu o único meio de expiação do pecado humano, de modo que os que aceitam essa expiação, pela fé, possam ter vida eterna, e toda a Criação compreenda melhor o infinito e santo amor do Criador; em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo se tornasse pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus; que sua morte na cruz, Jesus triunfou sobre as forças do mal; e que a Igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Afirmam em suas crenças; que a Igreja universal compõe-se de todos os que verdadeiramente crêem em Cristo, mas, nos últimos dias, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e povo. Pelo batismo, os Adventistas confessam sua fé na morte e na ressurreição de Jesus Cristo e atestam sua morte para o pecado e seu propósito de andarem em novidade de vida, sendo aceitos como membros por Sua Igreja. Acreditam que a Ceia do Senhor é uma participação nos emblemas do corpo e do sangue de Jesus, como expressão de fé nele, nosso Senhor e Salvador. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que Deus concede a todos os membros de sua Igreja, em todas as épocas, dons espirituais; onde um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma característica da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Um dos grandes princípios da Igreja Adventista é a Lei de Deus incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. O quarto mandamento da imutável Lei de Deus requer a observância do Sábado, como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado13. Os Adventistas reconhecem o direito de propriedade da parte de Deus, por meio de fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e dando ofertas para a proclamação de seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de sua Igreja, a serem chamados para ser um povo piedoso, que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Crêem os Adventistas do Sétimo Dia, que há um santuário no Céu, onde Cristo ministra em favor dos crentes. Para os Adventistas o casamento foi divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus como união vitalícia entre um homem e uma mulher, em amoroso companheirismo; Crê os Adventistas que o salário do pecado é a morte14, um estado inconsciente para todas as pessoas. A bendita esperança da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a segunda vinda de Cristo nas nuvens do céu, em que concederá vida eterna a seus remidos. No milênio, o reinado de mil anos de Cristo com seus santos no Céu, entre a primeira e a segunda ressurreições, serão julgados os ímpios mortos. No fim desse período, Cristo com Seus Santos e a Cidade Santa descerão do Céu a terra. Os ímpios mortos serão então ressuscitados e, com Satanás e seus anjos, cercarão a cidade, mas o fogo de Deus os consumirá e purificará a terra. O Universo ficará assim eternamente livre do pecado e dos pecadores. Na Nova Terra, em que habita a justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um ambiente perfeito para a vida, o amor, a alegria e os aprendizados eternos, em Sua presença. 13 No livro de Mateus 12:8, encontrado na Bíblia Sagrada no Novo Testamento, diz: “Pois o Filho do homem é Senhor do Sábado”. De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, Se o Filho do Homem é Senhor do Sábado, o Sábado deve ser o dia do Senhor. 14 De acordo com o livro de Romanos 6:23, escrito na Bíblia Sagrada encontrado no Novo Testamento, afirma: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus nosso Senhor”. 2.4 O Adventismo no Brasil No Brasil, de acordo com BORGES (2000:84), a mensagem Adventista chegou através de impressos que ingressaram nas colônias de imigrantes alemães e austríacos, nos estados de Santa Catarina, São Paulo e Espírito Santo. Um livro bem conhecido, “Der Grosse Kampt” (O grande Conflito) 15 , em alemão, chegou às mãos do jovem Guillerme Stein Jr., na época, noivo de Maria Krahembuhl. Este livro descreve a história universal sob o enfoque religioso e bíblico, dando, além do vislumbre do passado, uma projeção quanto ao futuro, em termos proféticos, tendo como base especialmente os livros de Daniel e o Apocalipse, encontrados respectivamente, no Velho e no Novo Testamento da Bíblia Sagrada. As colônias alemãs contribuíram para os primeiros passos do movimento Adventista no Brasil, como afirma SCHUNEMANN (2006a): “A inserção do Adventismo no Brasil enquanto um empreendimento missionário institucional só ocorreu na década de 1890. O primeiro missionário foi Albert Stauffer, colportor, vendedor de livros evangélicos. Vindo para trabalhar na Argentina, no Uruguai e no Brasil, só dispunha, praticamente, de literatura em alemão e inglês. No caso brasileiro, a presença de colônias alemãs, que se mantinham relativamente isoladas do resto do país, propiciou o primeiro contexto favorável para a expansão do adventismo no Brasil. Conhecendo a existência de colônias alemãs dispersas pelo país, começou percorrendo os Estados do Espírito Santo e de São Paulo”. Após Guilherme Stein Jr. fazer a leitura do livro, O Grande Conflito, este jovem resolveu unir-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia, e foi batizado no Brasil, em 1895, nas proximidades de Piracicaba, estado de São Paulo. Nesta ocasião outros batismos também ocorreram em Santa Catarina. 15 O Grande Conflito foi uma obra escrita por Ellen G. White, Profetiza da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que retrata o significado do passado e a projeção do futuro da Era Cristã. Entre as pessoas batizadas estava Guilherme Belz. Este, nasceu na Pomerânia, Alemanha, em 1835. Veio para o Brasil e estabeleceu-se na região de Braunchweig (hoje Gaspar Alto), a cerca de 18 quilômetros de Brusque. Certa ocasião, ao voltar das compras na Vila de Brusque, notou algo de especial nos papéis envolvidos nas mercadorias. O papel de embrulho trazia um texto escrito em alemão. A leitura do impresso deixou Belz pensativo por várias semanas, até que, ao visitar o irmão Carl, descobriu que este havia comprado um livro vendido pelo alcoólatra, Frederich Dressler. Livro que "coincidentemente" tratava, dentre outras coisas, do mesmo assunto do folheto. O livro era o Comentário Sobre o Livro de Daniel, de Urias Smith e também estava escrito em alemão. Nascido em família cristã, Guilherme tinha o hábito de ler a Bíblia. Depois de pesquisar profundamente a Palavra de Deus, aos cinqüenta e quatro anos Guilherme decide-se pela fé Adventista e se tornou uns dos primeiros Adventistas a ser batizado no Brasil. Belz e sua família tornaram-se missionários voluntários na região onde moravam, no interior de Santa Catarina. Pouco tempo depois, algumas famílias já se reuniam para estudar a Bíblia. VIEIRA (1995:63) retrata que em maio de 1893, por designação da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o missionário Albert B. Stauffer chegou ao Brasil. Juntamente com outros missionários, Stauffer espalhou a literatura adventista em Indaiatuba, Rio Claro, Piracicaba e outras localidades. Assim, os primeiros interessados na mensagem Adventista, em São Paulo, foram surgindo. O mesmo crescimento aconteceu no Estado do Espírito Santo, onde Stauffer espalhou vários exemplares do livro O Grande Conflito, da escritora Ellen White. Os adventistas que viviam em São Paulo e no Espírito Santo, estavam totalmente alheios à existência dos irmãos de Santa Catarina que há alguns anos professavam a mesma fé. Em agosto de 1894, chegou ao Brasil outro missionário adventista: Willian Henry Thurston. Willian, acompanhado da esposa Florence, veio dos Estados Unidos com a missão de estabelecer um entreposto de livros denominacionais16 no Rio de Janeiro, para atender aos missionários no Brasil. Thurston trouxe duas grandes caixas de livros e revistas impressos em inglês, alemão e pouca coisa em espanhol. Na época, não havia nada publicado em português, pois a Casa Publicadora Brasileira só iniciaria suas atividades a partir de 1900. Para chegar ao seu destino, muitos impressos eram despachados nos navios, outros nos barcos fluviais a vapor (ou mesmo a remo), outros ainda em carros de boi, em lombo de burro e, às vezes, em alguns lugares, nas costas dos missionários. Em 1896 o casal Stein começa a trabalhar no Colégio Internacional de Curitiba, Paraná, a primeira instituição educacional Adventista do Brasil. Com a fundação, em Taquari da Casa Publicadora Brasileira, houve o avanço do adventismo expandindo-se para os demais estados brasileiros. Atualmente no Brasil, existem mais de um milhão e meio membros da IASD, sendo coordenados por seis Uniões que administram as Associações e Missões. A Igreja Adventista do Sétimo Dia do Brasil, juntamente com sete paises da América Latina formam a Divisão Sul Americana, com sede em Brasília, DF. Hoje existem mais Adventistas no Brasil do que nos Estados Unidos, país onde surgiu o movimento adventista. 16 Este entreposto de livros denominacionais instalado no Rio de Janeiro, eram obras publicadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, referentes à mensagem da Igreja e principalmente, os livros escritos por Ellen G. White. 2.5 O Adventismo no Maranhão O movimento Adventista no Maranhão aconteceu por dois segmentos distintos; o da capital e o do interior do estado. De acordo com SARAIVA (2002:47), a chegada do movimento Adventista no interior, nem sempre possuiu alguma ligação direta com os adventistas da capital do estado. Exemplo disso foi o adventista Sinésio, que levou a mensagem adventista no final da década de trinta a toda região do Mearim e Pindaré sem nunca ter tido algum contato com os Adventistas da capital maranhense. SARAIVA (2002:47) relata que no ano de 1922 chega a São Luís do Maranhão, Firmo Marinho, pertencente à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Era barbeiro, logo, ao chegar à capital do Maranhão instalou uma barbearia, localizada num bairro chamado Baixinha, atualmente pertencente ao bairro da Liberdade. Através de sua barbearia, Firmo Marinho pregava a mensagem de um Cristo que foi morto, sepultado, ressurreto, e prestes a vir a este mundo para buscar o seu povo; e falava do grande amor de Deus pela raça humana. Entre os clientes de sua barbearia que aceitaram a mensagem adventista destacamos um grupo da Igreja Batista, que passou a guardar o Sábado: Francisco Oliveira, Antônio Oliveira, Dona Miruca, Antônio Basílio, Nicodemos, Maria Mourão e outros que passaram a se reunir na casa de Firmo Marinho, no bairro da Baixinha. Por volta de 1923, chega a São Luís, Henrique Berger Correia, considerado o primeiro colportor17 em solo maranhense. Iniciou o seu trabalho, vendendo livros e revistas da Igreja Adventista e pregando o evangelho no território maranhense. Em 1927 chega à capital maranhense o colportor alemão Hans Mayr, 17 Colportor é o nome dado ao missionário da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com a missão de expandir a mensagem e apresentar a publicação da Igreja ao mundo. no intuito de doutrinar os novos crentes ludovicense e batizá-los, tornando-os Adventistas do Sétimo Dia. Logo após, o colportor alemão transferiu-se para o Estado do Pará com o objetivo de fundar uma Igreja Adventista. Firmo Marinho mudou juntamente com sua barbearia para o bairro do João Paulo, onde começou a evangelizar novos clientes. No ano de 1929, o movimento adventista no Maranhão, possuía membros dispostos a pregar a mensagem Adventista por toda a capital maranhense. Entre os pioneiros do adventismo no Maranhão destacamos o papel importante para o crescimento da Igreja Adventista na capital de Antônio Lopes, Abílio Pires, Gregório Marinho, Maria Gomes, Cota Coelho, Sérgio Vieira de Araújo, Antônio Santos, José Simplício, Nicodemos, Lusitano, Cirilo Leite, Balbina Leite, Ermita Leite, Antônio Penha de Jesus, Joaquina Penha de Jesus e outros. Com a mudança de Firmo Marinho para o Pará, o grupo de adventistas passou a ser dirigido por Sérgio Vieira de Araújo. SARAIVA (2002:53) descreve que esse grupo de adventistas durante trinta anos, andava na casa de cada membro adventista para adorar a Deus. Até a década de 40 os adventistas existentes em São Luís eram muito pobres. Eram pescadores, sapateiros, alfaiates, que possuíam dificuldades financeiras. Com o aumento de membros em 1942, devido a vários projetos de evangelização nesse período, houve a necessidade de se alugar um casarão na Rua da Paz para organizar uma Igreja. O primeiro pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em São Luís foi Walter Streithorst. Nos anos de 1942 a 1948, foram períodos de grande crescimento para a Igreja Adventista na capital maranhense, devido a várias conferências realizadas por pastores que chegavam da missão Costa Norte, com sede em Fortaleza. No ano de 1949, foi comprado um terreno na Rua Celso Magalhães, com o objetivo de se construir o Templo Central da Igreja Adventista em São Luís. Nesse período o pastor da Igreja adventista em São Luís era Gnutzmann. O período de construção da Igreja foi marcado pelos problemas políticos que o Maranhão enfrentava com a Greve de 195118. Mesmo assim, a construção da igreja continuou, sendo inaugurada em 27 de outubro de 1951, sob a liderança do pastor Cândido Bessa Filho. Com a construção do Templo Central, o adventismo foi se desenvolvendo ainda mais na capital. As décadas de 60, 70 e 80 são marcadas pelo surgimento de várias outras Igrejas Adventistas em São Luís: S. José de Ribamar (1964); São Cristóvão (1969); São Francisco (1961); João Paulo (1964); Anjo da Guarda (1972); Monte Castelo (1980); Cohab (1982); Vila Palmeira (1973); Planalto Ateniense (1987); Maiobão (1985) e outras. Hoje a capital maranhense, possui mais de 170 Igrejas adventistas totalizando mais de 34.000 membros batizados. A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Maranhão era até o ano de 1988, administrada pela missão Costa Norte, pertencente à União Norte Brasileira, com sede em Fortaleza, atendendo também os Estados do Ceará e Piauí. Com o crescimento do Adventismo no Maranhão houve a necessidade de se construir a sede administrativa maranhense da Igreja IASD. Em 30 de julho de 1988, inaugurou-se a Missão Maranhense da Igreja Adventista, tendo naquela época como presidente o pastor Izéas dos Santos Cardoso. Nesse mesmo ano é instalada a Escola Adventista de São Luís ao lado da Missão Maranhense, antes, funcionando nas dependências da Igreja Central de São 18 De acordo com os relatos do pastor Saraiva, o período de construção da Igreja Adventista Central de São Luís, foi marcado pelas dificuldades econômicas estabelecida pela Greve de 51. Houve dificuldades nas compras de materiais para a construção do Templo. Exemplo disso, foi a variedade de modelos de telhas compradas para o telhado da Igreja. Luís. Em 2005, com o grande crescimento de membros que a Igreja Adventista possui no Maranhão, foi construído na cidade de Imperatriz, a Missão Maranhão do Sul, estabelecendo a divisão do campo, para se melhor administrar. Hoje o Maranhão possui uma estimativa de mais de 100.000 adventistas, sendo considerado “O Campo dos Milagres” 19 da União Norte Brasileira, com sede em Belém, Pará. 2.6 Incompatibilidade com Outras Doutrinas Evangélicas Diversos pontos doutrinários adventistas são totalmente antagônicos com a doutrina de outras denominações religiosas. Muitos líderes evangélicos afirmam que a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma seita. De acordo com os adventistas, a Igreja é genuinamente protestante, já que crê nos mesmos postulados que caracterizam a fé evangélica. Salvação pela graça, nascimento virginal de Cristo, sua morte e ressurreição corpórea, por exemplo. Os evangélicos afirmam que para os adventistas, os ensinos de Ellen White são uma espécie de “luz menor” para guiar os homens ao conhecimento da “luz maior”, ou seja, as Sagradas Escrituras. Para os evangélicos, as Escrituras Sagradas são as únicas regras de fé e prática para a vida do crente. De acordo com os adventistas, os escritos de Ellen White não constituem um substitutivo para a Bíblia. Não podem ser colocados no mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única, pois são o único padrão pelo qual os seus escritos, ou qualquer outros, devem ser julgados e ao qual devem estar subordinados. 19 O Campo dos Milagres foi o termo usado pelo primeiro presidente da Missão Maranhense, Izéas dos Santos Cardoso, ao grande crescimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Maranhão. Os Adventistas do Sétimo Dia apóiam plenamente o princípio da Reforma, “sola scriptura”, a qual vê a Bíblia como seu próprio intérprete e a Bíblia, sozinha, como base de todas as doutrinas. Os fundadores da Igreja desenvolveram suas crenças fundamentais através do estudo da Bíblia; não receberam tais doutrinas através das visões de Ellen White. Seu principal papel durante o desenvolvimento das doutrinas da Igreja foi orientar a compreensão da Bíblia e confirmar as conclusões às quais se chegava através do estudo da Bíblia. A própria White (1995:78) cria e ensinava que a Bíblia representava a norma final da Igreja: “Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos “últimos dias”; não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica”. Uma das bases da fé evangélica é a crença em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador. Para eles, o plano da salvação foi consumado na morte do Filho de Deus na cruz. A partir dali, todo aquele que confessar seus pecados diante do Senhor é perdoado pelo sangue de Cristo. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que Jesus Cristo, sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Na teologia Adventista, Cristo adentrou no santuário celeste em 1844, para completar a última etapa de sua obra redentora, o chamado juízo investigativo, acerca de todos os crentes mortos e vivos. Os Evangélicos entendem que o homem se salva pela graça de Deus, e não pela observância à lei, uma vez que todos pecaram e são culpados por sua transgressão. Para outras denominações religiosas, a antiga aliança entre Deus e Israel, do qual faz parte a lei do Sábado, foi abolido por Cristo, conforme se encontra no livro de Mateus 12:520, escrito no Novo Testamento da Bíblia Sagrada. Para os adventistas a salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. Segundo os adventistas, é uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. Para os adventistas o próprio Cristo cumpriu a lei, não por destruí-la, mas por viver obedientemente21. O evangelho de Cristo produziu uma fé que sustentou firmemente a validade do Decálogo22. No livro de Romanos 3:31, encontrado na Bíblia Sagrada, o apóstolo Paulo escreveu: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei”. Segundo os adventistas, as Escrituras revelam nos livros de I Coríntios 8:6; Hebreus 1:1 e 2; e S. João 1:3 23 que tão verdadeiramente quanto o Pai, Cristo foi o Criador. Logo, foi Ele quem separou o sétimo dia para o descanso da humanidade. De acordo com os Adventistas do Sétimo Dia, o Sábado ocupa lugar central em nossa adoração a Deus. Sendo o memorial da Criação, revela as razões pelas quais, Deus deve ser adorado: Ele é o Criador, e nós Suas criaturas. Os adventistas afirmam que os dias mencionados no relato bíblico da Criação encontrado no livro do Gênesis, representam períodos literais de 24 horas. Típica da forma como o povo de Deus do Antigo Testamento media o tempo, a expressão “tarde e manhã”, relatado em Gênesis 1:5, 8, 13, 19,23 e 3124, especifica dias 20 Mateus 12:5 – “Ou não lestes na lei que, no Sábado, os sacerdotes no templo violam o dia, e ficam sem culpa?”. 21 De acordo com as doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, durante todo o seu ministério terrestre, Jesus exemplificou diante de nós a fiel observância do Sábado. Era seu costume adorar no Sábado. Sua participação nos serviços sabáticos revela o endosso que Ele ofereceu a esse dia como dia de adoração. 22 O Decálogo significa os Dez mandamentos da Lei de Deus. 23 I Coríntios 8:6 – “... todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por ele”. 24 Gênesis 1:5 – “E chamou Deus à luz dia, e às trevas, noite. E houve tarde e manhã – o primeiro dia”. individuais, com o dia iniciando ao pôr-do-sol, descrito na Bíblia nos livros de Levítico 23:32 e Deuteronômio 16:625. Os teólogos adventistas declaram que não existe qualquer justificativa para se dizer que a expressão dia, representa um dia literal em Levítico, por exemplo, e um período de milhões de anos em Gênesis. A palavra hebraica traduzida por dia no livro do Gênesis 1, é “yom”. Quando “yom” se faz acompanhar de um número definido, sempre significa um dia literal de 24 horas. Por exemplo, os livros de Gênesis 7:11 e Êxodo 16:126, representa outra indicação de que o relato da Criação está falando de dias literais, de vinte e quatro horas. Os Adventistas do Sétimo Dia afirmam que os Dez Mandamentos oferecem outra evidência de que o relato da Criação, no livro do Gênesis, envolve dias literais. Pois, o quarto mandamento da lei de Deus não faria qualquer sentido se cada dia da Criação representasse longos períodos de anos. O Sábado de vinte e quatro horas, portanto, comemora a semana literal da Criação. Os evangélicos tentam combater os adventistas, com a citação bíblica do livro de II Pedro 3:8 – “Para com o Senhor, um dia é como mil anos”, tentando provar que os dias da Criação não representam dias literais de 24 horas. Porém, segundo os adventistas, os evangélicos ignoram o fato de que a própria porção final do verso encerra com as palavras: “e mil anos são como um dia”. Para os adventistas aqueles que vêem nos dias da Criação períodos de milhões ou até mesmo de bilhões de anos, estão questionando a validade da Palavra de Deus. O Sábado para os Adventistas do Sétimo Dia possui amplo significado. Representa o memorial da Criação de Deus. Conforme vimos, o significado 25 Levítico 23:32 – “Sábado de descanso solene vos será, e afligireis as vossas almas. Aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso Sábado”. 26 Gênesis 7:11 – “No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, aos dezessete dias do mês, romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram,”. fundamental dos Dez Mandamentos, vinculado ao Sábado, é que ele constitui um memorial da Criação do mundo. O sétimo dia da semana simboliza a redenção. Quando Deus libertou os israelitas da escravidão egípcia, o Sábado, que já funcionava como memorial da criação, se tornou também um memorial da libertação, de acordo com a referência bíblica do livro de Deuteronômio 5:1527. Crêem os Adventistas do Sétimo Dia que o Sábado é um sinal do poder transformador de Deus, um sinal de santidade ou santificação. Da mesma forma como as pessoas são santificadas pelo sangue de Cristo segundo a passagem bíblica do livro de Hebreus 13:1228, o Sábado é também um sinal da aceitação, por parte do cristão, do sangue de Cristo para o perdão dos pecados. Do mesmo modo como a lealdade de Adão e Eva foi provada por meio da árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim do Éden, assim também, para os Adventistas do Sétimo Dia a lealdade de cada ser humano a Deus será provada pelo mandamento do Sábado, colocado no Decálogo. As Escrituras Sagradas revelam que antes do segundo advento de Cristo, o mundo será dividido em duas classes: aqueles que são leais e guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus e aqueles que adoram a besta e sua imagem, segundo o texto bíblico do livro do Apocalipse 14:12 e 929. O Sábado representa para os Adventistas do Sétimo Dia a oportunidade de vivenciar a presença de Deus. A observância do Sábado para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, revela que desistimos de confiar em nossas próprias obras, compreendendo que somente Cristo, o Criador, pode nos salvar. A observância do 27 Deuteronômio 5:15 – “Lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido. Pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o Sábado”. 28 Hebreus 13:12 – “E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta”. 29 Apocalipse 14:12 – “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”. Sábado revela o supremo amor por Jesus Cristo, o Criador e Salvador do homem. Ao observar o Sábado, o adventista mostra a sua confiança em aceitar a vontade de Deus para sua vida. Segundo os evangélicos, o destino do crente após a morte é uma existência em glória, na presença de Deus. Algumas denominações evangélicas baseiam-se na crença da reencarnação, doutrina principal do espiritismo Kardecista. Para os adventistas, a morte não é uma aniquilação completa, é apenas um estado temporário de inconsciência enquanto a pessoa aguarda a ressurreição. De acordo com a Igreja Adventista, referindo-se à morte de algumas pessoas, a Bíblia no Antigo Testamento descreve Davi, Salomão e outros reis de Israel e Judá como estando a dormir com seus pais, de acordo com os livros de I Reis 2:10; 11:43; 14:20 e 31; 15:8; II Crônicas 21:1; 26:2330. O Novo Testamento das Escrituras Sagradas utiliza as mesmas figuras. Ao descrever a condição da filha de Jairo, que estava morta, e Jesus disse que ela estava dormindo. Jesus referiu-se a Lázaro, já morto, da mesma maneira. Tanto o apóstolo Paulo quanto o apóstolo Pedro também se referiram à morte como um sono, segundo os livros de I Coríntios 15:51 e 52; I Tessalonicenses 4:13-17; II S. Pedro 3:431. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que com a morte o corpo retorna a terra, e o espírito retorna a Deus. Nas Escrituras Sagradas o rei Salomão afirma que na morte “o pó volta a terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu”, segundo o livro de Eclesiastes 12:7. De acordo com os adventistas, muitos têm pensado que esse texto aponta a evidência de que a essência da pessoa prossegue 30 I Reis 15:8 – “Abias dormiu com seus pais, e o sepultaram na cidade de Davi. E Asa, seu filho, reinou em seu lugar”. 31 I Coríntios 15:51 – “Eis que vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados,”. vivendo após a morte. Mas na Bíblia, nem o termo hebraico, nem o termo grego para espírito (ruach e pneuma, respectivamente) se referem a uma entidade inteligente, capaz de existência consciente à parte do corpo. Ao contrário, esses termos se aplicam ao fôlego de vida, princípio vital da existência que anima seres humanos e animais. A teologia evangélica não privilegia nenhum grupo como detentor exclusivo da verdade. Assim, toda igreja que confessa a Jesus Cristo como único Salvador, prega a salvação pela graça divina mediante a fé e considera a Bíblia como a Palavra de Deus, têm legitimidade espiritual. Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia o remanescente dos últimos dias não pode ser facilmente confundido. O apóstolo João descreve no livro do Apocalipse esse grupo em termos bastante específicos. O grupo apareceria depois dos 1.260 anos de perseguição e é constituído por aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Apocalipse 12:17). 3 O CONFLITO ENTRE O ADVENTISMO E O SITEMA CAPITALISTA 3.1 Secularização do Estado Brasileiro A secularização do Estado Brasileiro foi primordial para a separação entre o Estado republicano e a Igreja Católica, possibilitando a adoção da liberdade religiosa e a abertura ao pluralismo religioso no país. O Brasil caracteriza-se por ser um país que possui uma pluralidade religiosa. MARIANO (2006a) afirma que a secularização do aparato jurídico-político constitui um processo histórico de grande importância no desenvolvimento das sociedades modernas. A secularização do Estado possibilitou sua autonomia em relação à denominação religiosa ao qual se associava: A Igreja Católica. Com a separação, o Estado, conseguiu ampliar sua dominação jurídica e política sobre o campo religioso. A separação Estado-Igreja, caracterizado pela secularização do Estado e por sua defesa à liberdade religiosa, favoreceu o encaminhamento de importantes transformações na esfera religiosa contemporânea. O divórcio entre o Estado e a Religião, estabelecido principalmente pelos Estados tidos liberais caracterizou-se, pela “neutralidade” religiosa do Estado; a restrição da religião à vida privada, ou seja, a religião passou a ser um ato particular das consciências individuais de cada ser humano; quebra do monopólio religioso que favorecia a Igreja Católica; garantia da liberdade religiosa, estabelecendo proteção e defesa ao pluralismo religioso; e liberdade aos seres humanos de decidirem particularmente que fé seguir, mantendo o mesmo tratamento no plano jurídico a todas as crenças religiosas. De acordo com GRUMAN (2005a) a racionalização do indivíduo e a secularização do Estado favoreceram o declínio do monopólio institucional da Religião. A secularização da política marcou o aparecimento do Estado moderno, caracterizado pela separação entre Estado e Igreja, quando o indivíduo passa a ter o direito de escolher sua identidade religiosa. A separação entre o Estado Brasileiro e a Igreja Católica é essencial para se entender sobre o pluralismo religioso no país. Como ilustram as palavras de MARIANO (2006a): “No Brasil, a separação Igreja-Estado rompeu definitivamente o monopólio católico, abrindo caminho para que outros grupos religiosos, em especial os mais motivados, militantes e competentes nas artes de atrair, persuadir e recrutar adeptos e de mantê-los religiosamente mobilizados, pudessem conquistar espaço, avançar numericamente, adquirir legitimidade social e consolidar sua presença institucional, mesmo que minoritária, nesse país cujo campo religioso foi durante a maior parte de sua história dominado por uma religião hegemônica privilegiada de diversas formas e incontáveis vezes pelo Estado”. Com a secularização do Estado, firma-se a separação entre o que se pensa e o que se faz no espaço público, em contraposição à vida no espaço privado de cada indivíduo. A religião passou a pertencer ao espaço privado, através de igrejas, mesquitas, e sinagogas. GRUMAN (2005a) coloca o exemplo da França, onde o Estado e a religião são separados e firmado pela lei desde 1905. A laicidade francesa afugenta o religioso dos espaços públicos. No Brasil, a relação mantida entre o Estado e a Igreja Católica, mesmo com a publicação do decreto 119A, de 1890, sempre foi caracterizada por agitações e incertezas. Para Freyre (1933), durante todo o século XVI, entrou todo tipo de estrangeiro, contanto que católico, argumentando que o que barrava então o imigrante era a heterodoxia, a mancha de herege na alma. Segundo GAARDER (2000:300) o Brasil foi um país oficialmente católico por quase quatro séculos. No período do descobrimento do País, a evangelização católica caminhava lado a lado com a dominação colonial. Na época colonial, a Igreja necessitava mais da Coroa Portuguesa que do papado. Nos anos do Império, o Catolicismo tornou-se, então, a religião oficial do território brasileiro. O regime de padroado no Brasil foi o principal responsável pelo monopólio religioso que o catolicismo exerce no país. O vinculo entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica estabelece-se deste o descobrimento dessas terras. O catolicismo exerceu o papel de religião dos colonizadores, com o intuito de propagar a fé católica e o império português às populações nativas e aos escravos africanos. Como esclarece BEOZZO (2000:109) sobre as características políticas e religiosas do sistema de padroado: “O resultado prático desta junção entre ‘trono e altar’, na esfera política; entre ‘a espada e a cruz’, no campo militar; entre ‘estado e trabalho missionário’ frente às populações consideradas ‘pagãs’ e a serem obrigatoriamente convertidas e incorporadas ao seio da Igreja Católica, não é apenas o da união entre a igreja e o estado, mas afeta intimamente a definição de cidadania. A pessoa não se torna fiel da igreja sem que, automaticamente, torne-se súdita do rei e do Estado e vice-versa, um súdito do Estado deve necessariamente tornar-se fiel da igreja”. Ao retratar sobre o regime de padroado no Brasil MARIANO (2006a), coloca que o catolicismo era compulsório. A religião Católica era a única religião legalmente licenciada e apoiada pelo Estado. Não havia liberdade religiosa nem liberdade de culto. O monopólio católico estendeu-se até a Constituição de 1824, no período do Império. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, ocorreu uma transformação jurídica na relação do Estado com a Igreja Católica. Os laços diplomáticos entre a Inglaterra e Portugal, caracterizaram-se não apenas em relação à abertura dos portos brasileiros, quebrando o monopólio comercial português com sua colônia. Mas, assegurando a liberdade religiosa aos trabalhadores ingleses residentes no Brasil. No ano de 1810, o príncipe regente D. João, assinou o tratado de comércio entre Portugal e Inglaterra, cujo tratado, vigorava em um artigo a liberdade de culto aos estrangeiros estabelecidos no Brasil. Durante o Império, o catolicismo tornou-se, então, a religião oficial do Estado brasileiro. Com a Constituição de 1824, outorgada pelo imperador D. Pedro I, A Igreja Católica torna-se a religião do Império, alicerçada por vários privilégios concedidos pelo Estado. Na carta Constitucional de 1824, foi permitida a liberdade religiosa às outras denominações religiosas, caracterizado por algumas limitações. Tais como: a proibição da construção de Templos e neles prestar culto ás suas divindades; liberdade de culto apenas ao espaço doméstico; e tal liberdade abrangia apenas aos imigrantes estrangeiros, os quais deveriam realizar seus cultos em língua estrangeira. No artigo 179, parágrafo 5°, da Constituição de 1824, previa que ninguém poderia ser perseguido por motivo de religião, desde que respeitasse a do Estado, e não ofendesse a moral pública. ROMANO (1979:82) afirma que além das restrições colocadas à liberdade religiosa, os componentes de outras denominações religiosas, encontravam-se inseridos em outros problemas (econômicos e sociais) ocasionados pela aliança entre a Igreja Católica e o Estado. Os protestantes eram desfavorecidos pela fraqueza dos recursos humanos e burocráticos do Estado. A Igreja Católica dominava a saúde pública; a educação; as obras assistenciais; e concediam os registros de nascimento, casamento, e óbito. RIBEIRO (1973:108) declara que os mortos eram tradicionalmente enterrados nos templos católicos, havendo rejeição por parte da Igreja de enterrar os acatólicos. Mesmo com a criação dos cemitérios municipais em 1828, por serem administrados pelos sacerdotes católicos, continuava havendo rejeição pelo sepultamento dos não católicos, considerados hereges. Durante o período monárquico no Brasil, o casamento considerado legal era aquele oficializado pelos padres, ou seja, nesse período os casamentos dos protestantes e os registros de nascimento dos filhos desses protestantes, eram considerados ilegítimos. MARIANO (2006a) esclarece que a restrição da liberdade religiosa e os percalços passados por esses protestantes começa a mudar através da necessidade de se buscar o trabalhador estrangeiro em substituição ao escravo africano. Com a proibição do tráfico negreiro em 1850, e da lei do ventre livre em 1871, houve uma grande pressão por parte dos políticos liberais e dos latifundiários, no intuito do Estado ceder a transformações na legislação, quanto à questão religiosa no país. Em 1861, entrou em vigor no Brasil, a lei 1.144, concedendo às outras religiões, o direito legal de efetuar casamentos. Foi estabelecido em 1863, o decreto 3.069, que possibilitou o registro de óbitos dos não católicos e passariam a terem lugar nos cemitérios municipais. VIEIRA (1980:254) declara que antes do decreto 3.069, na região do Brasil que não existia cemitério protestante, os mortos tidos como protestantes eram enterrados como cães na mata. Antes da adoção dessas leis no país, os membros de outras denominações religiosas, devido às várias discriminações com os seus mortos, resolveram construir seus próprios cemitérios. A Constituição de 1824, mesmo sendo restrita e deficiente, favoreceu a imigração de novos grupos religiosos nas terras brasileiras. De acordo com as palavras de MARIANO (2006a): “Na primeira metade do século XIX, o crescimento do protestantismo, que desde então constituía o principal concorrente religioso do catolicismo, limitou-se praticamente à imigração de anglicanos ingleses e de luteranos suíços e alemães. Os primeiros missionários protestantes começaram a se estabelecer no país somente a partir de meados dos anos de 1850. Daí em diante, missionários congregacionais, metodistas, presbiterianos, batistas e episcopais conseguiram, por meio da evangelização e conversão de brasileiros, implantar os primeiros templos protestantes”. No ano de 1824, é fundada em cidades dos Estados, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, as primeiras Igrejas Luteranas do país. Em 1855, surge no Rio de Janeiro a Igreja Congregacional do Brasil. Em 1862, funda-se a primeira Igreja Presbiteriana no país, na cidade do Rio de Janeiro. No ano de 1886 surge a Igreja Metodista, no Rio de Janeiro. Na Bahia, em 1882, funda-se a primeira Igreja Batista. E no ano de 1898, surge no Rio Grande do Sul, a Igreja Episcopal inserida por missionários norte-americanos. Na segunda metade do século XIX, esses missionários protestantes, mesmo com as barreiras impostas pela Igreja Católica, não mediram esforços para desenvolver sua crença religiosa no país e alcançar o maior número de fieis. MARIANO (2006a) cita que os governos, norte-americano e britânico, ameaçaram o governo brasileiro de barrar a entrada da mão-de-obra do imigrante estrangeiro no Brasil, caso, não fosse concedido à liberdade de praticar suas crenças religiosas. Pela grande necessidade que o Brasil possuía de substituir a mão-deobra escrava africana pela dos imigrantes, o governo brasileiro se viu pressionado a realizar mudanças em suas leis com o objetivo de dar proteção aos cultos dos protestantes. Tal fato ocasiona o declínio do monopólio católico no país, dando os primeiros passos a consolidação da secularização do Estado brasileiro. Mesmo que a Constituição de 1824 colocou um fim legal do catolicismo ao monopólio religioso, na verdade, os favorecimentos jurídicos para a Igreja Católica, continuavam estabilizados. Se a Igreja Católica se achava prejudicada pelas novas leis, que propagavam a liberdade de culto às outras religiões, estabelecidas pelo Estado, a religiosidade festiva do catolicismo estava impregnada na cultura popular brasileira. As festas e as procissões constituíam e constituem os principais momentos de lazer do povo brasileiro. As imagens de escultura consideradas santas, juntamente com os padres e o povo juntam-se para participarem dos festejos. SCHWARCZ (1999:292-294) retrata a presença no século XIX de diversas confrarias estabelecidas por leigo e um imenso calendário de festas religiosas durante o Império, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, tais como: procissões, festa do Divino, dia de Reis, cavalhadas, congadas, etc. Durante a segunda metade do século XIX, a Igreja Católica e o clero brasileiro, passaram por uma grande transformação ocorrida pelo movimento ultramontano32, que pregava o alargamento do poder papal sobre os assuntos da Igreja Católica. Para ROMANO (1979:94), a agressiva política ultramontana, alicerçada no ano de 1870, através da proclamação da infalibilidade papal pelo Concilio Vaticano I, o catolicismo brasileiro acabou desafiando a intensificação das investidas governamentais. No final do século XIX, tanto o regime monárquico quanto a Igreja Católica eram confrontados pela oposição árdua da maçonaria, e do movimento liberal e republicano. Os maçons, liberais e republicanos afirmavam que o catolicismo era muito conservador, passadista. Para eles, a religião Católica era a grande causadora da inibição do progresso no país, e da permanência do povo brasileiro na ignorância. 32 O movimento ultramontano reivindicava para a Igreja o controle de toda a cultura, da ciência e de todo o sistema educacional e condenava a liberdade de consciência e de culto. O ultramontanismo combatia todos os tipos de liberalismo, o protestantismo, a maçonaria, e medidas liberais estabelecidas pelo estado civil, tais como a liberdade de religião, o casamento civil, e a liberdade de imprensa, etc. No início dos anos de 1860, houve uma reação ultramontana segundo VIEIRA (1980:117, 123), aos missionários protestantes que começaram a pregar em língua portuguesa aos brasileiros de forma discreta. Porém, mesmo com a Carta Constitucional do império que proibia atividades religiosas acatólicas realizadas em língua portuguesa, houve uma recusa por parte do governo imperial, de coibir a pregação dos protestantes em língua portuguesa aos brasileiros. O catolicismo só deixou de ser a religião oficial do Estado brasileiro no final do século XIX, quando a monarquia foi substituída pelo regime republicano, o qual abriu mão da religião oficial. A separação entre Igreja e Estado de acordo com GAARDER (2000:301), ato que institucionalizou a neutralidade do Estado em matéria de religião, foi obra da república proclamada em 1889. É na república velha que o Estado brasileiro torna-se laico, ou seja, tornou-se secular a qualquer denominação religiosa. O Estado brasileiro conseguiu autonomia em relação ao grupo religioso ao qual se aliava, ou seja, a Igreja Católica. Com a adoção da república brasileira, assegurasse o direito, de liberdade religiosa, ao livre exercício dos cultos públicos, e insenção fiscal a todas as denominações religiosas. Como relata SCAMPINI (1978:84): “Sancionado pelo Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, o Decreto n. 119A de 7 de janeiro de 1890, de autoria de Rui Barbosa, separou a Igreja Católica do Estado, extinguiu o padroado, proibiu os órgãos e autoridades públicos de expedir leis, regulamentos ou atos administrativos que estabelecessem religião ou a vedassem e instituiu plena liberdade de culto e religião para os indivíduos e todas as confissões, igrejas e agremiações religiosas”. A Constituição brasileira de 1891, alicerçada pelo liberalismo da Constituição norte-americana, transformou o Estado laico desvinculado legalmente da Igreja Católica. Mantiveram-se as resoluções do decreto 119A, e instituiu a separação em diversos segmentos da vida social. Instituiu o casamento civil, criou- se a educação leiga nas escolas públicas, secularizou os cemitérios municipais, acabou com a fiscalização do Estado ao culto de religiões não católicas, e estabeleceu plenos direitos civis e políticos aos cidadãos pertencentes a crenças acatólicas. Diante da nova estruturação jurídica republicana, o Estado brasileiro se viu legalmente forçado a romper com o grupo religioso dominante, e deixar de defender os seus interesses. Porém, BEOZZO (2000:120) afirma que na pratica, muito da legislação republicana em matéria religiosa, não passou de letra morta, devido à tradição do catolicismo na cultura popular do país, e pela falta de cobertura por parte do Estado em diversas regiões interioranas do Brasil. A Igreja Católica não queria se separar do Estado brasileiro, pois, não queria perder seus privilégios, os quais foram eliminados nas novas leis estabelecidas no vínculo jurídico do Estado republicano brasileiro. De acordo com MARIANO (2006a) a Igreja Católica durante toda a história da colonização do país e no decorrer do Império, foi beneficiada pelo Estado brasileiro. E mesmo após a separação republicana, a Igreja Católica ainda ocupava espaços consideráveis nas áreas da educação, saúde, lazer e cultura. Mesmo com a separação entre Igreja e Estado, no governo de Getúlio Vargas a Igreja Católica recuperou uma serie de privilégios. Vargas admitiu padres como capelães militares; introduziu crucifixos nas repartições públicas; o casamento religioso foi inteiramente reconhecido pela lei civil e o divórcio foi proibido; foi facultada a educação religiosa em escolas públicas durante o período de aulas; e foi permitido ao Estado financiar escolas da Igreja, seminários, e até hospitais. GRUMAN (2005a) questiona a laicidade do Estado Brasileiro. Afirma que se atentarmos para a presença dos feriados religiosos oficiais no país, se evidencia claramente o monopólio da religião Católica. A separação do Estado brasileiro em 1890, eliminou da Igreja Católica, a condição de religião oficial do país. Porém, o estado concedeu-lhe plena liberdade de ação, que contribuiu para a romanização homogeneizadora e grande crescimento institucional do catolicismo. Embora a separação constitucional entre Igreja-Estado tenha se consumado há mais de um século. MARIANO (2006a) explica que é só nas ultimas décadas do século XX, durante o período mais repressivo do Governo Militar (19681974), que o Estado brasileiro se vê confrontado com a hierarquia da Igreja Católica, afastando-se dela, e se aproximando das outras denominações religiosas em crescimento, com o propósito de legitimar o protestantismo no país. Na visão dos seguidores da teoria da secularização, o processo de modernização da sociedade brasileira, tem caminhado para um lento declínio da influência da religião na esfera pública. GRUMAN (2005a) afirma que a liberdade religiosa no Brasil, implica num grau mínimo de pluralização religiosa. O pluralismo religioso não é apenas resultado, mas fator de secularização. A discussão não é mais sobre a separação entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica, mas, a separação entre a religião e o poder estatal. 3.2 Liberdade e Pluralismo Religioso Incorporado ao princípio da separação republicana, o Estado brasileiro garantiu o direito à liberdade religiosa dos indivíduos e das denominações religiosas não católicas, construindo o pluralismo religioso no país. A liberdade religiosa estabelecida na Constituição desde 1891, pelo Estado Republicano brasileiro, inspirada pela Assembléia nacional francesa de 1789, e assegurada na Assembléia Geral das Nações Unidas de 1948, garante de forma legal o direito universal do homem. Segundo MARIANO (2006a), a liberdade religiosa é a pedra angular da vasta transformação sofrida no campo religioso brasileiro. Segundo GAARDER (2000:302), a liberdade de consciência, a liberdade de culto implica ainda outras tantas liberdades, tão fundamentais para a vida social quanto à liberdade de pensamento. Para SCHEINMAN (2006a) o direito de liberdade de consciência e de crença deve ser exercido concomitantemente com o pleno exercício da cidadania. Toda pessoa têm o direito de não ser forçada a ir contra a sua própria consciência, e contra os seus princípios religiosos. Não podendo impedir que um indivíduo aceite ou rejeite uma crença religiosa, ou até mesmo, deixe de professar tal crença. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos expedido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em seu artigo 18 declara: “ARTIGO 18. Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância isolada ou coletivamente, em público ou em particular”. A ONU no intuito de melhor esclarecer a questão da liberdade religiosa, produziu a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Baseadas em Religião ou Crença, estabelecida na resolução n.°36/55. Em que afirma no artigo 1°, que ninguém sera sujeito à coerção por parte de qualquer Estado, instituição, grupo de pessoas ou pessoas que debilitem sua liberdade de religião ou crença de sua livre escolha. Na mesma Declaração no artigo 6°, descreve que o direito à liberdade de pensamento, consciência, religião ou crença inclui algumas liberdades, tais como observar um dia de repouso e celebrar feriados e cerimônias de acordo com os preceitos da sua religião ou crença. Na Declaração Americana sobre os Direitos Humanos no decreto n.°678, de 6 de novembro de 1992 em seu artigo 12, assegura a liberdade de consciência e de religião. Na Constituição Federal brasileira no §2°, do artigo 5°, tais tratados internacionais são inseridos ao direito pátrio. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada com o objetivo de propagar os direitos humanos e as liberdades essenciais do indivíduo. Esta organização internacional de promoção dos diretos humanos é alicerçada pela idéia de que toda nação têm por obrigação legal, respeitar os direitos humanos de seu povo, e que a comunidade internacional, têm por obrigação denunciar e protestar contra qualquer nação que desrespeitar tais direitos. A Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, afirmando no artigo 1°, que todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos. Atualmente para a grande parte dos países, a proteção dos direitos de dignidade do individuo, tornou-se uma proteção moral e jurídica. Os primeiros momentos de luta pela declaração e reconhecimento dos direitos humanos aconteceram na Reforma Protestante. SCHEINMAN (2006a) afirma que a declaração de independência dos Estados Unidos, é identificada precisamente como a verdadeira certidão de nascimento dos direitos humanos. Durante a fase revolucionária francesa, em 1789, a Assembléia Nacional francesa defendeu a universalização dos direitos humanos. Estabelecendo os princípios supremos do sistema universal dos direitos humanos; liberdade, igualdade, e solidariedade. Fazendo uma análise, os direitos humanos, se desenvolve: pelos direitos de liberdade, que constitui a liberdade que o individuo têm em relação ao Estado; pelos direitos políticos, onde se amplia à participação da sociedade na esfera política; e pelos direitos sociais, construindo o bem estar ao individuo, caracterizando sua liberdade. A questão da liberdade religiosa é bastante intricada e sensível de se analisar, pois abrange vários campos da ciências humanas, tais como a ciência jurídica, a história, a teologia, a antropologia, e a filosofia. De acordo com SCHEINMAN (2006a), a liberdade religiosa é composta pelas visões; jurídica, eclesiástica e bíblica. Na visão jurídica a liberdade religiosa compreende o direito fundamental da pessoa humana. Já na concepção eclesiástica da liberdade religiosa, ela estabelece os direitos do indivíduo nos parâmetros do catolicismo. A liberdade religiosa no sentido bíblico, afirma ser um Dom de Deus. Pois o Deus Criador estabeleceu o livre arbítrio aos seres humanos. Apesar de todo o desenvolvimento dos direitos humanos no segundo pósguerra, os problemas e dificuldades enfrentados pela liberdade religiosa são ainda muito lamentáveis, considerando-se os conflitos religiosos vistos no século XX e, também, nesse inicio de século. Em Estados mulçumanos e teocráticos, por exemplo, uma mudança de religião pode ser punida com prisão e, até mesmo, com a morte. Sérios dilemas religiosos ocorrem em países, como Sudão, Iran, Líbia e Arábia Saudita. Outros países são divididos pela religião, levando-os a conflitos internos. Caso por exemplo, da Índia, país dividido pelo Hinduísmo e pela religião Mulçumana. Como vimos, o Brasil já foi palco de inúmeras violências e perseguições. Atualmente, porém, os problemas estão muito mais com a discriminação e com o preconceito religioso. No Brasil, o protestantismo viveu em condições muito piores, durante o período imperial. Com a proclamação da República Federativa do Brasil, a liberdade religiosa foi ampliada, com a separação entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro. A liberdade religiosa está inserida na Constituição Federal do Brasil, no artigo 5°, em seus incisos VI, VII, e VIII33. A Constituição garantiu o direito fundamental à liberdade religiosa, declarando o Brasil um país laico. A “neutralidade” religiosa do Estado brasileiro permitiu o crescimento de crenças religiosas não católicas, proporcionando o pluralismo religioso no país. A situação do cenário religioso brasileiro é de uma concorrência pluralista das mais variadas formas de religiosidades. O cenário é de um pluralismo religioso competitivo. Surgem novas formas de crenças religiosas em espaço muito curto de tempo, a construção de novos templos e até mesmo novas religiões genuinamente brasileiras. Para MONTEIRO (2006a) o pluralismo religioso entendido como tolerância à variedade de cultos existentes, e respeitando a liberdade de consciência, foi construído ao contrário no Brasil. Não foi um fundamento do novo Estado moderno, mas um produto. No Brasil nunca houve tanta liberdade religiosa como atualmente. GAARDER (2000:302) declara que os brasileiros fazem de sua nação, uma imagem multicultural, hibridizada. Daí, possuir uma esfera religiosa pluralista. Esse pluralismo religioso tem se alicerçado principalmente pela presença das igrejas cristãs no país. Muitas vezes trazidas de fora por missionários, ou constituídas no próprio território brasileiro. O Brasil parece se tornar cada vez mais um país totalmente cristão. 33 Artigo 5°. - VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença; - VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. A quebra do monopólio da Igreja Católica com a secularização do Estado brasileiro, não abalou com o crescimento do cristianismo. No Brasil as religiões cristãs, são as que possuem o maior número de fiéis. A Igreja Católica, mesmo com a perda de seus privilégios, continua sendo a igreja cristã predominante, com grande número de seguidores e detentora da cultura popular do país. Nas palavras de NOTAKER (2000:304), o Brasil é mesmo, a “Terra de Santa Cruz”, pois a grande maioria da população pertence a crença do cristianismo. Como relata a descrição das palavras de PIERUCCI (2000:300): “O mundo inteiro conhece a gigantesca estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1931 bem no topo do Corcovado, ponto da mais alta visibilidade e imponência, esse cartão-postal é encarado por todos como uma imagem da marca do Brasil. Símbolo de um país de cristãos, sem dúvida. Antes de mais nada, porém, dado que os protestantes abominam como idolatria o uso que os católicos fazem das imagens sacras, o Cristo do Corcovado pretende ser o ícone católico de um “país católico”, só que, hoje cada vez menos católico”. Com a chegada dos imigrantes estrangeiros na segunda metade do século XIX, o protestantismo começou a desenvolver-se em território brasileiro, com um crescimento populacional gigantesco. GAARDER (2000:304) afirma que o Luteranismo continua sendo a maior das denominações protestantes históricas presentes ainda no Brasil. Através dos missionários estrangeiros, outras comunidades de protestantes históricos chegaram a se constituir no país; os presbiterianos, os metodistas, os batistas, e os episcopais, com o objetivo de evangelizar o povo brasileiro às suas crenças. HELLERN (2000:307) afirma que no final do século XIX, já estavam praticamente instalados no Brasil, todas as denominações do protestantismo clássico. Luteranos, anglicanos, metodistas, presbiterianos, congregacionalistas, e batistas. A partir das primeiras décadas do século XX começaram a desembargar no Brasil as primeiras igrejas pentecostais. Tornando-se, na segunda metade do século XX as maiores igrejas do protestantismo brasileiro. O movimento das igrejas pentecostais no Brasil se caracteriza em dois segmentos; as igrejas pentecostais clássicas, e as igrejas neopentecostais. As igrejas pentecostais clássicas no Brasil, são compostas das seguintes comunidades religiosas; a Congregação Cristã do Brasil, a Assembléia de Deus, a Igreja do Evangelho Quadrangular, a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, a Deus é Amor, e a Igreja Casa da Benção. As Igrejas caracterizadas pelo neopentecostalismo são; a Igreja de Nova Vida, a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, e a comunidade religiosa Renascer em Cristo. Na esfera religiosa brasileira, existem também as religiões não cristãs, representadas pelo Espiritismo Kardecista e as religiões Afro-brasileiras, caracterizadas por serem religiões de transe. E existem no país as religiões não cristãs com pouca representatividade no cenário religioso. É o caso do Judaísmo, Islamismo, Budismo, o Hare Krishna, o Xintoísmo, e outras crenças religiosas oriundas do continente Asiático. Surgem também nesse cenário religioso brasileiro, as chamadas religiões da Ciência Cristã: os mórmons, as Testemunhas de Jeová, a Ciência Cristã, e o Racionalismo Cristão. O Espiritismo Kardecista foi inserido no Brasil, segundo GAARDER (2000:309), durante a segunda metade do século XIX, caracterizado por usar a moralização da conduta do indivíduo, e conseguindo seguidores através dos serviços terapêuticos. As religiões Afro-brasileiras formaram-se em diferentes lugares do país, através dos escravos trazidos do continente Africano para o Brasil. O Candomblé, Xangô, Tambor de mina, Batuque, e a macumba, são as principais crenças do movimento negro no país. Para NOTAKER (2000:319) percebe-se no Brasil, uma aproximação das mais variadas crenças e tradições religiosas africanas com as formas populares da Igreja Católica. Existe também no cenário religioso brasileiro a Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma denominação religiosa de caráter cristão, que possui como uma de suas principais doutrinas fundamentais, a guarda do Sábado bíblico. Em que, percebemos certo preconceito e discriminação por parte da sociedade capitalista atual. No Brasil, devido ao vasto cenário religioso presente, nota-se uma competição entre as diversas denominações religiosas por uma maior ampliação na representação política e na mobilização do sistema judiciário nas resoluções de questões éticas. O país caracteriza-se pela garantia de liberdade dos grupos religiosos na disputa por seus direitos na esfera pública. O domínio do espaço público pela religião, quebrando as barreiras entre o que público e o que é privado, possibilitou no Brasil a luta na esfera religiosa pela posição na esfera política do Estado. 3.3 A Relação entre Trabalho e Religião De acordo com GAARDER (2000:17) a religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta dependência. Significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano. A religião é a convicção de que existem poderes transcendentes, pessoais ou impessoais. Karl Marx, afirmava que a religião assim como a arte, a filosofia, as idéias e a moral, não passavam de uma cobertura por cima da base, que é econômica. Para Marx, o que comandava a história, era o modo como a produção se organizava e quem controlava os meios dessa produção, ou seja, as fábricas e as máquinas. Declarava que a religião possuía esses requisitos básicos. WEBER (2006:110) aponta para as respectivas contribuições do luteranismo e do calvinismo/puritanismo para a constituição e conformação do espírito capitalista. O capitalismo luterano teria aberto a passagem para a valorização do trabalho e de seus frutos. Enquanto que o calvinismo, através da visão de predestinação à salvação, permitiu inserir ao trabalho e aos seus ganhos um sentido de espiritualidade. WEBER (2006:121) demonstra na relação entre as virtudes puritanas e a ética burguesa, caracterizada pelo incentivo ao trabalho lucrativo, à condenação da perda de tempo, e às exigências de ordem e disciplina; a relação entre o protestantismo e o capitalismo. A sociedade capitalista é dominada pelo capital. A produção de riqueza no mundo é sustentada pela força de trabalho humano. O presente século mostra que o mundo é caracterizado por uma sociedade de trabalho. O trabalho forma o homem, a sociedade que ele está inserido, e a sua história. O poder hegemônico do trabalho retrata visivelmente que ele não permite outro deus ao seu lado. A modernização ocidental, alicerçada pelo capitalismo, prega a santidade do trabalho. Pois, na concepção capitalista o trabalho faz parte da determinação natural do homem. Como ilustram as palavras de FONSECA (2006a): “Afirmar que o trabalho está na base da história é afirmar que é o trabalho (historicamente determinado) que funda a história. O trabalho tem então uma dimensão ontológica, ou seja, ele está enraizado na existência dos homens, de tal maneira que sem ele nem homens nem história existiriam. É o mesmo que dizer que o trabalho tem um caráter de anterioridade, isto é, ele é anterior e determinante das variadas formas dos homens existirem e se organizarem socialmente. Por isso a conceituação de trabalho vem sendo feita ao longo da história dos homens e, ao mesmo tempo em que vai sendo conceituado e explicado, o trabalho vai determinando a vida e as organizações humanas”. O século XXI mostra que a religião está sendo readaptada nas estruturas do sistema capitalista atual. O capitalismo utiliza a religião como controle da sociedade, com o objetivo da exploração e expropriação do ser humano. A religião foi caracterizada como sendo um estilo da vida e da moral privada de cada individuo. Passou a ser utilizada pelas empresas, explicada como espiritualidade do trabalho. Para SIQUEIRA (2006a) as tendências e práticas religiosas alternativas, crescem constantemente no mundo do trabalho, devido a falta de capacidade das igrejas. No mundo ocidental surgem novas formas de religiosidade, pelas classes privilegiadas da sociedade, tais como; a acupuntura, a homeopatia, florais, diversos tipos de massagem, o vegetarianismo, viagem astral, o tarô, e ampla literatura de auto-ajuda. As grandes empresas têm usado as características dessas novas religiosidades com os seus funcionários, objetivando aplicar em seus empregados: uma paz de espírito; o uso da verdade; rejeição a violência; e a implantação do amor. Na visão de SIQUEIRA (2006a), as novas formas de religiosidades implantadas pelo sistema capitalista tendam a valorizar uma postura humanista, mais do que nas religiões institucionalizadas. Esses novos mecanismos de espiritualidade no cenário do trabalho, caracteriza-se por um anti-clericalismo, antidogmatismo, e uma anti-hierarquia. O sistema capitalista prega essas novas religiosidades para o trabalhador produzir, melhores possibilidades de negócios, ampliação de sua criatividade, e a satisfação pessoal desses trabalhadores. O mundo capitalista sustenta essa religiosidade por acreditar que ela se torna essencial para a formação de seus trabalhadores. Instalando no campo do trabalho, sustentabilidade, igualdade social, individualismo, consciência coletiva, e capital humano. O cenário do trabalho é um campo muito importante de atuação humana. Um local onde o conflito é mais presente. A competição, a complexidade, o ter de ser melhor, estão impregnados. A temperança, o equilíbrio, o bom senso e a razão, são difíceis de serem postos em prática. SIQUEIRA (2006a) declara que essas novas religiosidades implantadas pelo sistema capitalista, trazem ao cenário do trabalho três metas principais: um ambiente de trabalho pensado como boa conduta; bem-estar, amor, integridade, verdade, saúde, e felicidade; o trabalho com significado e sentido, em lugar de relações profissionais; e o trabalhador como referência. O uso dessa religiosidade pela esfera capitalista, tem como propósito aumentar a produção de seus trabalhadores, com o objetivo de aumentar os lucros das empresas. As novas espiritualidades religiosas utilizadas pelo sistema capitalista, compõem os atuais recursos de dominação, exploração e subordinação estabelecida aos trabalhadores do século XXI. O capitalismo atual disfarça-se por trás dessas novas espiritualidades para controlar hegemonicamente as relações entre o trabalho e a religião. Dentro da esfera capitalista não há espaço para a aceitação de doutrinas das religiões tradicionais. A introdução dos valores universais da condição humana no sistema capitalista, é para controlar a relação capitaltrabalho. Despersonalizando o modo de produção, como afirma FONSECA (2006a): “O capitalismo torna possível a concretização do conceito de trabalho porque o abstrai de cada ato concreto que produz um valor de uso e o transforma em valor de troca, em mercadoria. O capitalismo despersonaliza o processo de produção, o qual passa a obedecer ao movimento próprio do capital. É por isso que o conceito máximo do trabalho só ocorre com a sua máxima abstração. Trata-se de uma abstração fundamentalmente social, porque se dá concretamente em meio ao processo de troca”. 3.4 A Guarda do Sábado na Sociedade Capitalista A observância do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem causado sérios conflitos ideológicos e trabalhistas em relação aos princípios do Capitalismo. Uma das características do Capitalismo, é o controle sobre o tempo, que é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser regido pelo mundo Capitalista. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que o bondoso Criador, após os seis dias da Criação, descansou no Sétimo Dia e instituiu o Sábado para todas as pessoas como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus, segundo os Adventistas, requer a observância deste Sábado do Sétimo Dia como o dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado. De acordo com os princípios Adventistas, o Sábado é um dia de deleitosa comunhão com Deus e uns com os outros. Crêem que é um símbolo de nossa redenção em Cristo, um sinal de nossa santificação, uma prova de nossa lealdade e um antegozo de nosso futuro eterno no Reino de Deus. Crêem os Adventistas do Sétimo Dia, que o Sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com seu povo. A prazerosa observância deste tempo Sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus. Na sociedade contemporânea regida pelo Sistema Capitalista, é impossível à humanidade parar simultaneamente um só dia na semana. Para o Capitalismo se toda a humanidade resolvesse guardar o Sábado, seria um caos total em setores imprescindíveis, como a energia elétrica, saúde, segurança, abastecimento de água, combustíveis e indústrias diversas. Daí, ocorrer o antagonismo entre o Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado. Em que, ambos os lados não flexibilizam suas convicções. Para GONZALEZ (2000:120), esta lógica hipotética das dificuldades mundiais, Jesus responderá: “É lícito fazer o bem no Sábado” (Mateus 12:12). De acordo com os Adventistas, o Senhor Jesus soluciona o problema, bem como está reafirmando a santidade deste dia, porque se há algo lícito de se fazer no Sábado, é porque há algo ilícito proibido de se fazer nele. Nenhum Hospital Adventista no mundo fecha suas portas no pôr-do-Sol da sexta-feira. Mas, as Escolas, Universidades, as Fábricas de Alimentos, as Indústrias Panificadoras, as Editoras, o Setor Administrativo da Igreja, certamente que fecham. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que, os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com seu povo e a norma no julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. De acordo com os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece, portanto, o testemunho cristão. Por obedecerem aos Dez Mandamentos de acordo com os ensinamentos bíblicos, guardam o Sábado para serem salvos. Para o Capitalismo, o trabalho é primordial para a manutenção dos meios de produção. Daí, ocorrer uma incompatibilidade com os Adventistas, quanto á observância da guarda do Sábado. Segundo MANCE (2006a), o capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.). Passou a ser controlado pela classe dominante, ou seja, a burguesia. Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por essa venda. Como há mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso negue, achando que é pouco, uma exploração, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego. Portanto é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além de serem excluídos das decisões gerenciais. Em relação ao antagonismo existente entre a guarda do sábado pelos adventistas e a importância do trabalho para o capitalismo, a mesma situação acontece. Caso o trabalhador Adventista do Sétimo Dia se negue a trabalhar no sábado, o patrão busca um novo empregado. A santificação e a guarda de um dia da semana representa um aspecto teológico fundamental para diversas religiões. Embora o sentido teológico e histórico do dia da guarda ou adoração varie entre as diferentes religiões, é inegável que a observância de práticas religiosas, em particular ou em público, possibilite conflitos entre obrigações legais e princípios religiosos. Segundo SCHEINMAN (2006a): “É direito fundamental de toda pessoa não ser obrigada a agir contra a própria consciência e contra princípios religiosos. Segue-se daí, não ser lícito obrigar-se cidadãos a professar ou a rejeitar qualquer religião, ou impedir que alguém entre ou permaneça em comunidade religiosa ou mesmo a abandone. O direito de liberdade de consciência e de crença deve ser exercido concomitantemente com o pleno exercício da cidadania. Qualquer tentativa no sentido de pressionar o poder público na elaboração de leis civis que tenham em conta o dever ou a obrigação de santificar qualquer dia com o "Dia do Senhor", representa um retrocesso histórico inaceitável e um atentado contra o direito de liberdade religiosa”. Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas, os burgueses, e outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho, os proletários. Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados e os patrões obtém o lucro através da mais-valia. No sistema capitalista, o trabalho possui um único objetivo, produzir valor. De acordo com OLIVEIRA (1998:79): “O trabalhador torna-se apêndice da máquina e a sua capacidade produtiva condiciona-se à noção de lucro, isto é, pelo que o seu trabalho representa na consecução do produto. Estabelece-se o domínio do trabalho pelo capital e a mais-valia torna-se a marca registrada dessa dominação”. Numa entrevista de um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ao Sr. Lourenço Silva Gonzalez. Foi lhe perguntado, a sua opinião a respeito dos prejuízos à carreira profissional acarretados a muitos jovens Adventistas por terem que observar o Sábado. Sua resposta foi a seguinte, GONZALEZ (2000:13): “Obedecer não traz prejuízos; somente lucros aqui e na eternidade. José na corte faraônica assediado pela ímpia mulher de Potifar (Gen. 39:9), preferiu não transgredir a Lei de Deus(o sétimo mandamento). Teve prejuízo? Não! Ao contrário, tornou-se o segundo do Império e senhor do mundo. Eu mesmo, morava num barraquinho no morro do Tuiuti, com minha mãe viúva e quatro filhos. Aos 18 anos, era membro Batista e fiel na causa do evangelho. Trabalhava numa Indústria de soldas com doze filiais no Brasil, e já assumira o cargo de chefe de vendas. Começando a ganhar melhor, descemos o morro e compramos, no mesmo bairro, uma casa de alvenaria na favela da Barreira do Vasco, São Cristóvão, RJ. Porém, como um jovem apaixonado pelo Senhor Jesus e tremendamente inquiridor, esbarrei-me com a Lei de Deus, a mesma que Daniel, José, Ananias, Azarias e Mizael obedeceram. Tornei-me Adventista. Quando pedi o Sábado livre ao meu patrão, este pensou que um jovem enlouquecera em sua Empresa. A verdade é que subir vertiginosamente naquela firma. Assumi a gerência e cheguei a ser um dos seus Diretores. Finalmente saí e montei uma empresa concorrente. Posteriormente deixeia com meus irmãos Afonso e Sérgio e iniciei uma gráfica que hoje é a nossa querida editora ADOS. Conheci Marlene, uma preciosa jovem Adventista que, aos dezoito anos, estava cursando a Faculdade de Direito e algumas vezes solicitou troca de turma aos professores, por causa das provas do Sábado. Foi-lhe sempre concedido. Após casar-se, ela fez concurso para o B.N.H.; passou juntamente com sua irmã que não era e nem é Adventista. Na entrevista para assumir o desejado cargo, ela soube que o Sábado era livre, todavia às sextas-feiras o expediente estendia-se ate às 19:00h. Expôs as razões de sua fé e solicitou a permissão para compensar as horas excedentes do pôr-do-sol de sexta-feira. A resposta do Diretor foi: “Decida: ou o B.N.H. ou sua igreja”. Aquela preciosa jovem Adventista respondeu: “Esta decisão já fiz a muito tempo. Pode ceder o cargo para outra pessoa”. Marlene, em sua juventude, decidira que Cristo é o Senhor de sua vida. Sua irmã assumiu o posto no B.N.H., e Marlene continuou uma jovem desempregada - fiel e confiante. Não demorou muito, o B.N.H. (Banco Nacional de Habitação) fechou, e sua irmã como concursada, foi transferida para uma pequena agência da Caixa Econômica no interior. Marlene inscreveu-se em concurso para Juiz de Direito no Rio de Janeiro. A primeira prova caiu no Sábado. Não fez. O segundo concurso que iniciou, também interrompeu, pois algumas provas caíram no Sábado. Marlene resolveu fazer concurso para o Ministério Público e nenhuma prova caiu no Sábado. Passou entre os primeiros colocados e tornou-se uma excelente Promotora de Justiça de Primeira Categoria da Comarca do Rio de Janeiro. Hoje, Marlene – minha esposa e namorada de trinta e cinco anos, alcançou o último escalão da Magistratura Pública, tornando-se Procuradora de Justiça, cargo similar ao de Desembargador. Temos três preciosos filhos: Priscila – Arquiteta. Samuel – Advogado. Daniel – Diretor da ADOS. O Senhor é um Deus que abençoa, mas, a maior alegria para o obediente não é buscar bênçãos, lucros, posições e espaços sociais, mas é estar em paz com sua consciência, obedecendo integralmente a palavra dAquele que por nós, morreu na cruz.” Segundo GONZALEZ (2000:18), para os Adventistas do Sétimo Dia, ao observarem o Sábado, revelam disposição de aceitar a vontade de Deus para sua vida. Crêem as Adventistas, que a observância do Sábado revela que desistimos de confiar em nossas próprias obras, compreendendo que somente Cristo, o Criador, pode nos salvar. De acordo com seus princípios, efetivamente, o espírito da verdadeira observância do Sábado revela supremo amor por Jesus Cristo, o Criador e Salvador, que nos está transformando em novas criaturas. Ela torna a guarda do dia correto, da forma correta, um sinal de justificação pela fé. Os Adventistas explicam que desejam o Sábado livre, por razões religiosas. Crêem e aceitam que o sétimo dia é o Sábado e que desejam adorar a Deus exatamente nesse dia. A sua convicção, baseada na Palavra de Deus, é que o sétimo dia é o Sábado da lei de Deus e que não podem violar a sua consciência. Essas pessoas não querem perder o seu emprego. Apreciam o patrão ou patrões, mas desejam ter o direito de prestar culto, desde o pôr-do-sol de sexta-feira ao pôrdo-sol de Sábado. E explicam que se acham dispostos a repor esse tempo no domingo ou distribuí-lo pelos outros dias da semana. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, tem constantemente lutado pelo pleno exercício da liberdade religiosa de todas as pessoas, inclusive observadores do Sábado. Atualmente a Igreja Adventista opera globalmente para proteger esses direitos. Através do Dr. John Graz, secretário-geral da Associação Internacional de Liberdade Religiosa (AILR) e representante da Igreja Adventista do Sétimo Dia na associação. Apesar dos avanços observados no campo da liberdade religiosa, ainda existe um longo percurso para caminhar. Destacando as palavras de Hannah Arendt (apud GRAZ, 2005), “os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução”. A observância do Sábado bíblico ainda é muito preocupante, pois esbarra no problema da efetividade da atual Constituição Federal de 1988 e, também, na falta de uma legislação federal que, efetivamente, garanta ao observador do Sábado o direito de estudar e de trabalhar, sem prejuízo de sua consciência. Muitos jovens brasileiros encontram dificuldades no ensino fundamental e universitário quanto à questão de se observar o dia de Sábado. Nos tribunais do Brasil, há vários casos a respeito da questão dos concursos aos sábados, garantindo o direito dos adventistas de realizarem a prova em outro dia da semana. Cita-se exemplificadamente os seguintes casos e as decisões que foram estabelecidas: No Estado do Pernambuco, na 2ª Vara da Justiça Federal (Autos n.º 90.5816-3), julgou-se caso que envolvia a Universidade Federal de Pernambuco, a qual realizava as provas do vestibular nos dias de Sábado, tendo sido concedida liminar como segue: "Assim sendo com base no inciso II do art. 7° da Lei n° 1533/51 e inciso VIII do art. 5° da Constituição Federal, concedo a liminar pleiteada e determino que o Sr. Presidente da Comissão de Vestibular das Universidades Federal e Rural de Pernambuco- CONVEST, Sr. Murilo Cezar Amorim Silva, ou seu substituto legal, tome as providências para assegurar o direito de os impetrantes submeterem-se às provas do vestibular, marcadas para o próximo dia 08, Sábado, de tal forma que sejam respeitadas suas convicções religiosas, ou seja, que possam iniciar a realização das referidas provas somente após o pôr do sol do mencionado dia, ou no dia seguinte, a critério da autoridade impetrada, sem prejuízo evidente da fiscalização. Notifique-se a autoridade impetrada a apresentar informações no prazo legal. No momento oportuno, ao MPF para ofertar parecer no prazo legal. Publique-se. Intime-se. Recife, 05 de dezembro de 1990. Francisco Alves dos Santos Júnior. Juiz Federal 2ª Vara - PE.". O Juízo da 11.ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre-RS, concedeu liminar em mandado de segurança, de acordo com a decisão descrita: "Impetrante: Valdson Silva Cleto. Mandado de Segurança n° 98.0025525-7. Impetrada: Diretora Regional da Escola de Administração Fazendária. Pelo presente mandado de segurança, pretende o impetrante ver assegurado o direito de realizar as provas do concurso de Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional-AFTN, no próximo dia 17, a partir das 19 horas, após o crepúsculo vespertino náutico. Narra na inicial que professa sua fé segundo a Doutrina Adventista, que tem como dia de guarda o Sábado, e que, portanto, não poderá submeter-se à realização das provas no horário designado para o dia 17 de outubro (13 horas), já que se trata de período em que se deve se abster de atividade que não as vinculadas diretamente à sua religião. Fundamenta seu pedido na liberdade de crença garantida constitucionalmente. Examino o pedido de liminar. Há relevância nos fundamentos do impetrante. A Constituição garante, efetivamente, no inciso VI do art. 5º, a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos. O impetrante é membro em exercício da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que tem o Sábado como dia de guarda, o que impõe aos fiéis que se abstenham de atividades seculares do pôr-dosol de Sexta-feira ao pôr-do-sol de Sábado. A falta de simultaneidade não se constitui em circunstâncias que afetem o interesse público e a isonomia, pois a prova será realizada pelo requerente no mesmo dia, porém após as 19 horas, com a mesma duração prevista para os demais candidatos e será preservado o sigilo. Neste contexto, e para resguardar a liberdade de crença e de consciência, defiro a medida liminar para o efeito de assegurar ao impetrante a realização da prova do concurso para AFTN, designada para o próximo Sábado – 17 de outubro, em horário especial – a partir das 19 horas, devendo a autoridade impetrada adotar as providências necessárias à preservação do candidato em condição de incomunicabilidade, nas dependências do local onde se realizará a prova, a partir do horário de início previsto para os demais concorrentes. Oficie-se para cumprimento e informações. Após, ao Ministério Público Federal, voltando conclusos para a sentença. Em 16 de outubro de 1998. Taís Schilling Ferraz. Juíza Federal da 11ª Vara.". Um mandado de segurança, impetrado por Jefferson Antonio Quimelli, residente em Curitiba-PR, a Juíza Leda de Oliveira Pinho, da 2.ª Vara Federal, proferiu a seguinte liminar: "Mandato de Segurança n° 98.0023378-4. Impetrante: Jefferson Antonio Quimelli. Impetrado: Diretor da Escola de Administração Fazendária do Paraná. DECISÃO (em plantão). Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar para que o impetrado promova condições de o impetrante realizar a prova marcada para o dia 17/10/98 (Sábado) em horário compatível com sua crença religiosa, ou seja, após o pôr-do-sol desse dia, devendo o início da prova se dar a partir de 19:15 e término às 00:05 horas do dia 18/10/98. Sustenta, com fulcro no art. 5° "caput" e inciso 6°, da Constituição Federal, seu direito líquido e certo de obrigar a autoridade coatora a providenciar condições para que participe das provas em horário compatível com sua convicção religiosa. DECIDO. São relevantes os fundamentos da impetração. Os princípios constitucionais devem ser interpretados harmoniosamente. Assim, a norma constitucional que prevê o acesso aos cargos públicos tão só mediante concurso público, não pode violar outras garantias constitucionais, tais como o direito de liberdade, de consciência e de crença, previsto no artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal. Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, conforme ementa a seguir transcrita: EMENTA: Administrativo. Mandado de segurança. Remessa oficial, direito de prestar prova física de concurso em dia diverso do determinado. Liberdade de crença religiosa. 1. Não há prejuízo ao interesse público, nem ao procedimento do concurso público, se, por força de liminar, a impetrante realizou a prova em momento não conflitante com sua crença religiosa por pertencer a igreja Adventista do Sétimo Dia que tem o Sábado como dia de guarda. 2. Resguardo do princípio constitucional que assegura a liberdade de crença e de consciência bem como aqueles que regem a administração quando se trata de concurso público. 3. Remessa oficial improvida. (Proc.: REO 040925695/RS, Tribunal: TR4, Turma: 04, REL. JUIZ: Juíza Silvia Goraieb, Decisão: 12/12/1995, unânime, DJ 24/01/96, PG: 02506). O "periculum in mora" é evidente, porquanto o retardo na prestação jurisdicional ocasionará ao impetrante grave dano, uma vez que o concurso está marcado para o próximo dia 17. Pelo exposto, defiro a liminar, nos termos em que requerida. Oficie-se ao impetrado para que dê cumprimento a esta liminar e para que, no prazo de 10 dias apresente as informações que tiver. Curitiba, 15 de outubro de 1998. Leda de Oliveira Pinho. Juíza Federal / 2ª Vara em plantão.". No Estado de São Paulo, a Juíza Maria de Fátima dos santos Gomes, ao julgar mandado de segurança impetrado por Frederick Malta Buarque de Gusmão, médico cardiologista, em decorrência de prova designada para o Sábado (06/06/98), em concurso da Polícia Militar, proferiu, a seguinte decisão: "Frederick Malta Buarque de Gusmão, médico cardiologista, impetrou mandado de segurança, com pedido de liminar, contra o Sr. Coronel Diretor de Pessoal da Polícia Militar do Estado de São Paulo, alegando em síntese que a prova foi marcada para um Sábado, dia em que o impetrante não pode realizar o exame, por força de credo religioso, com amparo constitucional...Foi deferida a liminar (fls. 34). A autoridade apontada como coatora prestou informações. O Ministério Público opinou pela denegação; É o relatório. DECIDO. Trata-se de mandado de segurança interposto por inscrito em concurso público, insurgindo-se contra o indeferimento de requerimento para designação de nova data para realização na data marcada, por força de credo religioso. Malgrado o zelo e o esforço da digna autoridade coatora, é de rigor a concessão da segurança, merecendo amparo a pretensão do impetrante. Com efeito, é assegurada constitucionalmente a liberdade de credo religioso, sendo vedada qualquer privação de direitos por força de opção religiosa como dispõe o inciso VIII do art. 5º da Constituição Federal. De fato, nota-se que o impetrante, preenchendo os requisitos necessários para a participação no concurso, está impossibilitado de exercer o direito de possibilidade de acesso à função pública, assegurado a todos os brasileiros no inciso I do art. 37 da Carta Magna. Assim, a inadequação do concurso público com a liberdade do credo religioso, apresenta violação aos princípios da acessibilidade à função pública, da igualdade e da liberdade de credo religioso. Ante o exposto, por esses fundamentos e por tudo o mais que dos autos constam, julgo PROCEDENTE o pedido, CONCEDENDO a segurança rogada, tornando definitiva a liminar concedida, a fim de ser julgada nova data para realização do exame, arcando o impetrado com as custas e despesas processuais na forma da lei. São Paulo, 06 de julho de 1998. Maria de Fátima dos Santos Gomes. Juíza de Direito". Observa-se nessas decisões que parte do Poder Judiciário são flexíveis quanto à questão da Santificação e guarda do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Porém, apenas dez estados brasileiros tem legislação que asseguram o direito de resguardo religioso. As decisões judiciais são ainda muito controversas. São tomadas de acordo com a interpretação de cada juiz. Muitos juizes afirmam que a liberdade de crença, assegurada na Constituição Federal, não justifica o uso da religião como obstáculo ao cumprimento de uma obrigação geral. Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, ter liberdade religiosa não significa apenas poder falar de uma igreja, mas assegurar o respeito à vontade e aos direitos que todo ser humano tem, independente do seu credo. Segundo os Adventistas do Sétimo Dia, o resguardo está previsto na própria Bíblia, e não seria exclusividade da religião Adventista. 4 CONFLITOS E CONTRADIÇÕES NA REALIDADE MARANHENSE 4.1 Composição social do Adventismo Até a década de 1940, segundo SARAIVA (2002:53), esses primeiros adventistas maranhenses eram muito pobres. A classe social adventista maranhense era composta de pescadores, sapateiros, alfaiates, que possuíam dificuldades financeiras. Com a vinda de colportores, pastores evangelistas, em 1942, os quais realizaram várias séries de evangelizações no Maranhão, houve um crescimento do número de membros, que permitiu a possibilidade de se alugar um casarão para a realização dos cultos dos adventistas. Os anos seguintes foram marcados por várias séries de conferências, realizadas por pastores que vinham da missão Costa Norte, com sede em Fortaleza, que proporcionou mais e mais, para o crescimento da Igreja Adventista no Maranhão. Com o desenvolvimento do Adventismo no Maranhão, no ano de 1951 foi construído o primeiro Templo Adventista em território maranhense. Em 27 de outubro de 1951, foi inaugurada a Igreja Adventista Central de São Luís-MA, na rua Celso Magalhães. Com a instalação da Igreja Adventista Central, o movimento adventista foi se expandindo ainda mais na capital maranhense. Os anos 60, 70 e 80, é o período de construções de outras Igrejas Adventistas em São Luís. A Igreja Adventista instala-se no bairro do São Francisco, no João Paulo, Anjo da Guarda, Monte Castelo, Cohab, Vila Palmeira, e outros. Concretizando atualmente, com mais de 170 igrejas na capital. Com o desenvolvimento da Igreja Adventista no Maranhão, no ano de 1988, foi construída a sede administrativa maranhense, antes, administrada pela missão Costa Norte. Em 30 de julho de 1988, foi inaugurado a Missão Maranhense. Neste mesmo ano é instalada a Escola Adventista de São Luís, ao lado da Missão Maranhense. A estruturação administrativa da Igreja Adventista no Maranhão cresceu ainda mais. Hoje, existe também a Escola de Natação da IASD, e o Centro Adventista de Lazer e Treinamento. Devido ao grande crescimento de membros da Igreja Adventista no Maranhão, em 2005 construiu-se na cidade de Imperatriz a Missão Maranhão do Sul, com o objetivo de melhor administrar a Igreja no Maranhão. Atualmente o Estado do Maranhão possui uma comunidade de Adventistas com mais de 100.000 membros. Daí, a administração superior da Missão Maranhense, ou seja, A União Norte Brasileira, denominar o Maranhão de “O Campo dos Milagres”. Devido ao grande número de batismos realizados por ano. A Igreja Adventista no Maranhão surgiu pobre e hoje possui grandes dimensões em termos estruturais. Como relata as palavras de SARAIVA (2002:262): “A marcha de mil quilômetros começa com um passo”. No Maranhão, o primeiro passo dessa marcha foi dado por um homem – Firmo Marinho, um barbeiro pobre, mas rico nas coisas espirituais, que não querendo ficar sozinho resolveu falar aos outros da mensagem adventista que tinha no coração. Enquanto cortava o cabelo e raspava a barba de seus fregueses, falava de Jesus e do grande amor de Deus pelos pecadores. “Hoje, 80 anos depois, já éramos mais de 72 mil membros batizados e mais de 700 Igrejas e Grupos, no início de 2002”. Mesmo com o grande desenvolvimento do Adventismo no Maranhão, ainda existem pelo menos, uns 70 municípios no Estado do Maranhão que não tem nenhum Adventista do Sétimo Dia. Dos municípios com presença de Adventistas no Maranhão, segundo dados da Missão Maranhense, a composição social atual dos membros da Igreja Adventista no Estado não é das melhores. No Maranhão, 70% dos Adventistas pertencem à “classe baixa”. 25% estão inseridos na “classe médiaalta”, e 5% dos membros estão na “classe alta” (GUIMARÃES,2006). Devido o Estado do Maranhão ser um dos estados mais pobres da Federação, isso contribui para que os membros da Igreja Adventista do Maranhão sejam em sua grande maioria desfavorecidos economicamente. Situação que caracteriza não só a comunidade Adventista Maranhense, mas, também outras comunidades religiosas presentes no Estado. 4.2 A Posição do Sistema Capitalista O Estado do Maranhão está inserido no contexto do Sistema Capitalista, onde o aumento do capital é primordial para o desenvolvimento de um Estado. Para o Sistema Capitalista se toda a humanidade resolvesse guardar o Sábado ou parar um dia na semana, seria um caos total em setores imprescindíveis, como a energia elétrica, a saúde, a segurança, o abastecimento de água, combustíveis e indústrias diversas. O Sistema Capitalista tem mais força que a própria religião. O trabalhador Adventista se não se adaptar às condições da empresa, está fora do mercado de trabalho. De acordo com o Presidente do SINDMETAL (Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão), José Maria Araújo, o trabalho tem mais força que a própria religião. O trabalhador tem que estar inserido no Sistema Capitalista sem muito questionamento. Segundo José Maria, não há nenhuma cláusula na nova convenção trabalhista, que permita que a empresa aceite aos princípios religiosos de cada trabalhador. Em entrevista ao Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão (SINDMETAL), a respeito de muitos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia sofrerem prejuízos materiais na área profissional, por guardarem o Sábado. José Maria relata a sua posição pessoal e a posição do Sindicato, quanto a esse dilema: “- A minha posição pessoal é que, eu acho que todos os dias são santificados, então, a gente não vai ter um em detrimento do outro. E na Bíblia mesmo, ela diz que o homem foi feito para o Sábado, e não o Sábado para o homem. Tem aquela comparação. Então a gente não pode se ajoelhar diante de um dia, diante do outro. - Agora, minha questão particular, é que eu não sou da religião Adventista, e por isso eu não concordo. Pessoalmente eu não concordo. Eu acho que só quem concorda mesmo é quem está na religião. - Na questão sindical, por direito de maioria, e de categoria, apartir, do momento que houver demanda a esse respeito, nós vamos estar prontamente atendendo as necessidades, pra que seja cumprido, na imprensa, e tudo. - Agora o que tenho visto, porque não há demanda, é que os próprios adventistas, pelas necessidades básicas, eles abrem mão do critério religioso, pela necessidade do trabalho. Essa é a avaliação mais assim..., do sindicato.” Muitos adventistas pela dificuldade do mercado de trabalho, acabam aceitando em trabalhar no Sábado. O Sistema Capitalista demonstra uma incompatibilidade com Adventistas do Sétimo Dia, em relação a uma de suas principais doutrinas, a Santificação e Guarda do Sábado. Para o Capitalismo, o tempo é primordial para o aumento da lucratividade. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e cronometrado. O dia de descanso do trabalhador passa a ser regido pelo mundo Capitalista. Daí, ocorrer o conflito entre o Capitalismo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia, em relação à guarda do Sábado. De acordo com o Presidente dos Metalúrgicos do Maranhão; para uma empresa, o trabalhador teve se identificar como um cidadão que necessita de um emprego. E não como um Adventista do Sétimo Dia, que não trabalha no Sábado. Atualmente, percebemos que o mercado de trabalho é muito competitivo. Há uma grande demanda de profissionais, para, poucas oportunidades de emprego. Para o trabalhador adventista, suas esperanças no mercado de trabalho são limitadas. Devido, o dia de Sábado ser um dia normal para o Sistema Capitalista. Caso o trabalhador Adventista do Sétimo Dia negue trabalhar no sábado, muita das vezes, o patrão busca um novo empregado. A santificação e a guarda de um dia da semana representa um aspecto teológico fundamental para diversas religiões. Embora o sentido teológico e histórico do dia da guarda ou adoração varie entre as diferentes religiões, é inegável que a observância de práticas religiosas, em particular ou em público, possibilite conflitos entre obrigações legais e princípios religiosos. Os conflitos existentes atualmente em nossa sociedade maranhense, alicerçada pelo Capitalismo, em relação aos Adventistas não trabalharem no Sábado, é verificado em diversos setores profissionais do mercado maranhense. É difícil para um Adventista do Sétimo Dia, trabalhar no setor comerciário do Maranhão. Em supermercados, no São Luís Shopping, no Tropical e no Monumental Shopping, nas lojas da Rua Grande; pois, o dia de Sábado é um dos dias mais lucrativos para o comércio. Para um Adventista do Sétimo Dia trabalhar, por exemplo, na Companhia Vale do Rio Doce, Alumar, na fábrica da Coca-Cola ou na fábrica da Brahma; causa um certo transtorno, pelo fato dessas empresas terem turnos aos Sábados. Segundo o Presidente do SINDMETAL, já houve casos de trabalhadores adventistas que foram transferidos. Ou seja, a empresa a qual eles pertenciam, concedeu um horário específico para eles. Ajustando de acordo com a doutrina religiosa deles. Porém, a grande maioria das empresas capitalistas, mantém-se neutras, quanto à questão de dar a liberdade de culto aos Sábados para os Adventistas do Sétimo Dia. São irredutíveis em aceitar tal crença em seu sistema. Na sociedade capitalista, segundo Marx e Engels, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas, os burgueses, e outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho, os proletários. Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados e os patrões obtém o lucro através da mais-valia. No sistema capitalista, o trabalho possui um único objetivo, produzir valor. É no contexto desse capitalismo atual, que se verifica a presença do conflito entre, a guarda do sábado dos Adventistas do Sétimo Dia e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista. Inserido em nosso cenário maranhense. 4.3 A Posição da Administração Adventista Para os adventistas do Sétimo Dia, o mandamento de Deus, proíbe o trabalho comum no Sábado porque esse é um dia Santo. Afirmam os Adventistas, que o dia de Sábado, não é um dia para realização comercial, compra e venda. Essas atividades não são erradas em si mesmas, porém retiram a Santidade do Sábado. Engajar-se em compra e venda é profanar o Sábado. Alimentos, combustível e outras necessidades devem ser comprados na sexta-feira a fim de que não haja necessidade de adquiri-los no Sábado. De acordo com a administração da Igreja Adventista do Sétimo Dia, há muitas circunstâncias em que o cristão necessita trabalhar no Sábado com vistas a beneficiar seus semelhantes em dificuldades. O doente necessita de cuidados e é preciso atender suas necessidades. Por exemplo, se alguém está com hemorragia devido a um acidente, é dever cristão trabalhar arduamente no Sábado para salvar a vida da vítima, se estiver em sua capacidade fazê-lo. Isso é diferente do trabalho cotidiano. É um trabalho necessário. Errado é trabalhar desnecessariamente no Sábado. A chave vital para saber como guardar o Sábado é perguntar se determinada atividade pode ser feita em outro dia. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que o Sábado foi separado para fins santos. O Sábado deve ser guardado do pôr-do-sol ao pôr-do-sol. Quando o sol se põe na sexta-feira, entramos nas horas sagradas, e quando ele se põe no Sábado, estamos no início de uma nova semana. Crê os Adventistas do Sétimo Dia, que a prazerosa observância deste tempo Sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus. Para o pastor aposentado, Emmanuel de Jesus Saraiva, o conflito existente em relação à guarda do Sábado pelos Adventistas no Estado do Maranhão e a importância do trabalho para o Sistema Capitalista, foi muito mais crítico, durante os primeiros anos do adventismo no Estado. Analisando o início do desenvolvimento da Igreja no Maranhão, ele afirma que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não era reconhecida nem pelo nome, e havia muito mais preconceito: “ - Olha, se analisarmos os 50 anos da história do adventismo, vamos vê que, naquela época quando a Igreja surgiu no Maranhão, não era conhecida e havia muito preconceito. Pelo menos, eles nem nos chamavam pelo nome. Esse nome Adventista do Sétimo Dia, não era considerado. Nós éramos chamados de sabatistas. Tinha muito preconceito, não apenas com a Igreja Adventista, mas com todas as demais Igrejas evangélicas. Havia preconceito e a nossa Igreja era muito mais perseguida naquela época, do que hoje. Hoje a Igreja Adventista do Sétimo Dia, é uma igreja respeitada, porque naquele tempo eles nem nos consideravam evangélicos. Achavam que éramos uma seita, que deveria ser discriminada, banida. - A situação do Brasil mudou. Hoje todas as pessoas são mais respeitadas. Todas as outras religiões são também respeitadas. E nós, nesse contexto também somos bem respeitados. Há problemas, mas pelo menos, as leis brasileiras são mais favoráveis a todas as pessoas. A liberdade de consciência, a liberdade de culto. Hoje a situação no Brasil, é muito melhor do que há 50 anos atrás.” De acordo com o pastor Saraiva atualmente as pessoas estão mais conscientes. No início do movimento Adventista no Maranhão, a Igreja era considerada uma seita. Era discriminada, banida da sociedade maranhense. Houve melhoras. O Brasil estabeleceu a liberdade de culto, de consciência, em sua Constituição. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, atualmente é mais respeitada. No entanto, como declara o pastor aposentado Sidney Nazareth, há um conflito em relação à guarda do Sábado dos Adventistas imperceptível, mas existe. Para o pastor Sidney, a guarda do Sábado, na sociedade em que vivemos é um divisor de águas: “- Eu acredito que o Adventista não vive como um religioso fanático. Mas ele vive dentro da sua norma. De uma robusta fé cristã. Uma referência na sociedade. Porque o Sábado é um divisor de águas. O Sábado é um sinal, como diz o próprio Deus, entre seus filhos e Ele. Sem ferir ninguém, mas, a característica da guarda do Sábado para nós é um sinal divino. Deus no Sábado, Ele descansou, Ele abençoou, e santificou. É uma referência.” A Igreja Adventista do Sétimo Dia, crê que a guarda do Sábado é o selo de Deus sobre o seu povo. Reconhecendo que Ele é o Criador de todas as coisas. E por isso, abdicam de efetuar qualquer atividade secular no Sábado. O Sábado para o Adventista é um compromisso com o Dono do Universo. Segundo o pastor Saraiva, os Adventistas do Sétimo Dia guardam o Sábado, não por uma questão legalista. Mas, por saberem que o Sábado é o sétimo dia da semana, e representa o memorial da criação de Deus. Os membros da Igreja Adventista no Maranhão sofrem muitos prejuízos materiais, tanto na área profissional como na área educacional, em relação a guardarem o Sábado. A liberdade religiosa está garantida na Constituição Federal Brasileira. Todavia, vários setores da área profissional, e também educacional, não permitem qualquer possibilidade de acordo com os guardadores do Sábado. A departamental de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Maranhão34, Valterliana Reis Serra, declara que a crença da guarda do Sábado pelos adventistas na sociedade em que vivemos, alicerçada pelo viés capitalista, é marcada pela diferença de se ver o mundo: “– Fazemos parte de uma sociedade que não compartilha a mesma concepção ideológica acerca de realidades essenciais como tempo, trabalho, dinheiro e religião. Isso, de certa forma torna quase incompreensível a postura dos guardadores do sábado, pois não compartilham da mesma visão de mundo, de valores e diferem também na maneira de lidar com esses conceitos. Uma sociedade capitalista vê o descanso semanal como mero cumprimento de leis de trabalho, com objetivo de não perder a força de trabalho ou ainda como fator de aumento da produção. A guarda do sábado é uma evidência desse diferencial, portanto, uma crença que nos identifica”. A Posição da Administração da Igreja Adventista no Estado do Maranhão, quanto ao dilema que muitos membros da Igreja sofrem por perderem o emprego, ou ficarem reprovados nas instituições de ensino que fazem parte, é que, a decisão deve partir da escolha pessoal do membro da Igreja. Como relata o presidente da Missão Maranhense, o pastor Ezequias Guimarães, em entrevista: “- A vida de qualquer um é marcada por escolhas. Nossas escolhas determinam o nosso futuro. A guarda do Sábado não é uma suposição da Igreja, mas um mandamento de Deus. Cabe ao membro da Igreja Fazer a sua escolha: cumprir a ordem de Deus ou rejeitá-la. Contudo, a Igreja deve orientar e animar o membro a fazer a escolha certa, guardar o Sábado a despeito de qualquer prejuízo temporal, certo de que receberá o galardão por ser fiel a Jesus”. Os princípios da Igreja Adventista do Sétimo declaram que a obediência aos mandamentos de Deus não pode ser compulsória, mas, voluntária. Demonstrando intimidade e submissão aos preceitos de Deus. Muitos adventistas permanecem firmes aos seus princípios religiosos. Outros, devido às pressões financeiras, acabam cedendo aos valores da sociedade Capitalista. O descanso do 34 Departamental de Liberdade religiosa, é a pessoa responsável em cuidar da proteção dos membros da IASD, de qualquer discriminação religiosa. Sábado não pode interferir na perda da força de trabalho ou no aumento do capital. Em entrevista à administração da Igreja Adventista no Maranhão, vários casos foram relatados, de adventistas que permaneceram firmes à guarda do Sábado. Mesmo sofrendo prejuízos materiais, acreditavam que estavam fazendo a coisa certa. Não queriam ferir suas consciências. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, não obriga ninguém de não ir trabalhar no Sábado, ou de Guardar o Sábado como dia de adoração a Deus. Um membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia possui a plena liberdade de escolher, qual caminho seguir. 4.4 Estado e Sociedade face ao Adventista Atrelado ao princípio da separação republicana, o Estado brasileiro garantiu o direito à liberdade religiosa dos indivíduos e das denominações religiosas não católicas, construindo o pluralismo religioso no país. A liberdade religiosa está inserida na Constituição Federal do Brasil desde 1891, no artigo 5°, em seus incisos VI, VII, e VIII. A Constituição garantiu o direito fundamental à liberdade religiosa, declarando o Brasil um país laico. Porém, mesmo com o desenvolvimento da liberdade de religião no Brasil, está ainda muito longe da unanimidade a questão do resguardo da guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia no país. Ainda não foram criadas no país, leis trabalhistas que assegurem a permanência do trabalhador Adventista no mercado de trabalho, sem que possa ferir seu dia de resguardo religioso. Vários concursos públicos são marcados no dia de Sábado no Brasil. Porém, existem instituições que avaliam candidatos que sejam Adventistas a parte, depois que o sol se põe, aos Sábados. Apenas dez Estados no país, possuem Legislação que asseguram o direito de resguardo do dia de Sábado para os Adventistas. O Estado do Maranhão assegura esse direito aos estudantes e professores, por causa de alguns vestibulares realizados aos Sábados. O projeto de lei n° 104/2000, da deputada Marly Abdalla, aprovado na época pela então governadora do Estado do Maranhão Roseana Sarney, estabeleceu a seguinte decisão: “Dispõe sobre realização de concurso público para provimento de cargos e exames vestibulares e dá outras providências. Art.1° - Os concursos públicos e os exames vestibulares promovidos no Estado do Maranhão, por instituições públicas estaduais serão realizadas no período de Domingo a Sexta-feira, das 08:00 às 18:00 horas. Art. 2° - Quando se configurar inviável a promoção dos eventos de que trata esta lei, a entidade organizadora poderá realizá-los aos sábados, devendo alternativamente, permitir ao candidato que alegar e provar convicção religiosa a realização das provas após as 18:00 horas destes mesmos dias. Parágrafo Único – Para cumprimento do caput deste artigo, o candidato ficará incomunicável desde o horário do início da realização do concurso ou do exame vestibular até o início da realização das provas estabelecido previamente para ele. Art. 3° - Os estabelecimentos de ensino da rede pública do Estado do Maranhão, ficam obrigados a abonar as faltas de alunos que, motivados por crença religiosa, não possam freqüentar as aulas ministradas às sextas-feiras após as 18:00 horas. § 1° - Para beneficiar-se do disposto deste artigo o aluno apresentará ao estabelecimento de ensino declaração da congregação religiosa a que pertence, com firma reconhecida, atestando sua condição de membro da Igreja. § 2° - Na hipótese prevista no parágrafo anterior, o estabelecimento exigirá do aluno a realização da tarefa alternativa que suprirá a falta abonada...” No Estado do Maranhão são freqüentes os casos de cristãos que professam e têm como verdadeiros os princípios contidos nas Sagradas Escrituras e, sob esse ponto de vista religioso, guardam o Sábado bíblico como aquele dia especial reservado a adoração e descanso semanal. Por este motivo são freqüentemente prejudicados e deixam de participar de quaisquer eventos e concursos realizados nesse dia. Incluindo vestibulares, concursos públicos e atividades escolares. Ferindo frontalmente os preceitos constitucionais da liberdade religiosa. O projeto de lei de autoria da deputada Marly Abdalla, foi aprovado no ano de 2002, pela então, governadora Roseana Sarney (lei n° 268/2002), devido à seleção de estudantes para a Universidade Estadual do Maranhão na implantação dos PASES em 2002. A realização do primeiro dia de provas do PASES em 2002 foi realizada no dia 05 de janeiro de 2002, ou seja, no Sábado pela manhã. Prejudicando vários candidatos que eram Adventistas e iriam participar do processo seletivo da UEMA. A administração da Igreja Adventista no Maranhão, pediu a COPERSE (comissão permanente de seletivos) da UEMA, que transferisse o primeiro dia de prova do PASSES para o domingo, no intuito de não prejudicar os Adventistas do Sétimo Dia. A idéia de mudança de data do Passes foi negada pela COPERSE. A solução adotada pela Universidade Estadual do Maranhão, foi que os candidatos que fossem Adventistas deveriam permanecer na UEMA, incomunicáveis desde o horário do início da realização do primeiro dia do PASES 2002, até o início da realização das provas para esses Adventistas, após o pôr-do-sol de Sábado. Quando seriam realizadas às provas para esses Adventistas após as 18h00min horas do dia 05 de janeiro de 2002. Vários Adventistas ficaram em confinamento na UEMA, estudando a Bíblia e orando a Deus, até o início da aplicação das provas. A lei n° 268/2002, proporcionou certo respeito aos Adventistas no Estado do Maranhão. Porém, está lei necessita ser ampliada, pois, trata apenas de concursos públicos e exames vestibulares estabelecidos pelo Estado do Maranhão. Em entrevista, a professora Maria Auxiliadora Mesquita, diretora do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão, quanto à questão da aceitabilidade por parte da área educacional, de alunos e professores que sejam adventistas do Sétimo Dia, os quais guardam o Sábado. Em relação à UEMA, ela relatou a necessidade de se ter aulas aos Sábados, no intuito de se cumprir a carga horária do ano letivo: “- Olha, não há discriminação. Porque quando sai os editais. Eu vou falar especialmente aqui da Universidade Estadual do Maranhão. Nos editais. Antes, em 2003, logo assim que eu assumi a direção do curso, tínhamos alguns problemas em relação aos adventistas. Por quê? No edital não era especificado que o curso de Letras funcionava aos Sábados. Tinha lá, funcionamento do curso: Noturno. Como não era especificado que o curso tinha também aula no Sábado pela manhã, para poder cumprir os duzentos dias letivos. O aluno depois que se escrevia queria reivindicar, que não poderia participar das aulas no Sábado. Que não sabia da norma do edital. Que não tinha feito um curso para estudar na manhã de Sábado. - O que nós fizemos? Em 2003 ou 2004, não poderia lembrar agora, só olhando na documentação, uma certa aluna que era adventista, entrou com uma solicitação dentro do colegiado do curso. O colegiado do curso negou, e ela ainda foi para a imprensa, se sentido injustiçada. E deste então, mandamos uma solicitação para a Pro – reitoria de graduação, que no edital, no manual do vestibulando, saísse que o curso de Letras, funcionava de segunda à sexta, no turno noturno, e pelo Sábado no turno matutino. Deste então, nós nunca mais tivemos nenhum problema relacionado à questão da guarda do Sábado dos adventistas. - Todo aluno que quer fazer o curso de Letras, que seja adventista, pode fazer. Até porque nós temos tido o cuidado de evitar repetir a mesma disciplina no Sábado. Pra que? Pra permitir também, que o adventista que não assiste aulas no Sábado. Pois, têm alguns adventistas que assistem aulas no Sábado. Nós já tivemos alunos que eram adventistas, mas que assistiam aulas no Sábado. Outros não. Que realmente segue os preceitos da sua religião e não admitem assistir aula dia de Sábado. Pensando nesses alunos, porque nós temos que ter uma visão assim, geral. Nós temos que ter uma preocupação com quem é adventista. Ele não é obrigado a assistir aula dia de Sábado. Mas, ao se escrever no curso, ele sabe que tem aula dia de Sábado. A pessoa se escreve de livre e espontânea vontade. Na instituição nós temos aulas de segunda à Sábado. - Os cursos de licenciatura, eles são obrigados a terem aulas de segunda à Sábado. Para cumprirem os dias letivos no período correspondente a integralização curricular. Para cumprir a carga horária nos três anos e meio, e quatro anos. Nós temos que ter obrigatoriedade em dar aulas no Sábado, porque se não, nós não conseguimos. É uma norma da própria instituição”. Segundo os relatos da professora Auxiliadora, percebemos as dificuldades que o estudante Adventista encontra durante a sua formação educacional. De acordo com o Pastor Saraiva, na cidade de Coroatá, no Estado do Maranhão, houve um caso que prejudicou vários Adventistas. Várias professoras do município que eram Adventistas encontraram-se em um dilema estabelecido pelo prefeito da época. O prefeito estabeleceu um decreto que todos os professores deveriam trabalhar no Sábado. A administração da IASD no Maranhão teve que interceder pelos seus membros, e problema foi solucionado. Para o pastor Ezequias, presidente da Igreja Adventista no Estado do Maranhão, as leis existentes no país ainda são muito limitadas e restritas à liberdade ideológica de cada indivíduo. Ainda não existe no Brasil, uma lei que estabeleça a proteção aos indivíduos que professam em seus princípios religiosos a guarda do Sábado. Tendo pleno direito de trabalharem ou estudarem mesmo em empresas ou em instituições que funcionem aos Sábados, possibilitando a guardarem suas crenças religiosas. Os Adventistas explicam que desejam o Sábado livre, por razões religiosas. Crêem e aceitam que o sétimo dia é o Sábado e que desejam adorar a Deus exatamente nesse dia. A sua convicção, baseada na Palavra de Deus, é que o sétimo dia é o Sábado da lei de Deus e que não podem violar a sua consciência. Essas pessoas não querem perder o seu emprego. Apenas, necessitam de um dia da semana para guardarem seu principio religioso. Observar e guardar o dia de Sábado, como Deus lhes ordenou. 5 CONCLUSÃO Estudando sobre o antagonismo existente em relação ao Sábado entre os Adventistas do Sétimo Dia e o Capitalismo, analisamos algumas causas que levam ao conflito entre eles, em relação à importância do trabalho para o Capitalismo e a observância do Sábado para os Adventistas. O papel que o Estado exerce nesse antagonismo existente entre a Igreja Adventista e o Capitalismo, em relação às leis existentes, na Constituição Federal, Legislação Trabalhista, ainda é muito limitado e restrito. Limitando, a observação da guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo Dia. A guarda do Sábado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, é vista pela sociedade contemporânea, alicerçada nos princípios Capitalista, como algo impossível de ser colocado em prática na sua esfera econômica. A Igreja Adventista do Sétimo Dia desempenha várias atividades, principalmente nas áreas de educação e saúde. Ela administra escolas, universidades, hospitais e clínicas, emissoras de rádio e televisão. E nenhum hospital Adventista no mundo fecha as suas portas durante a observância do Sábado. Para o Sistema Capitalista, o tempo em que vivemos, é impossível à humanidade parar um só dia na semana para observar a sua guarda. Tornando o trabalhador Adventista inadequado para o Sistema Capitalista. Os primeiros Adventistas do Sétimo Dia no Estado do Maranhão, enfrentaram muitas discriminações em relação, a não trabalharem no Sábado. Percebemos que hoje em dia, os trabalhadores Adventistas, devido ao que o Sistema Capitalismo se tornou, enfrentam um conflito muito mais acirrado, no intuito de guardarem o Sábado. Os Adventistas do Sétimo Dia enfrentam na sociedade Capitalista a qual fazem parte um dilema. Preservar os seus princípios religiosos, no caso, guardar o Sábado, ou ceder ás pressões do Sistema Capitalista. Olhando para a história do Brasil, percebemos que para se conquistar o direito à liberdade religiosa no país, evidenciaram-se vários conflitos religiosos. Atualmente, a liberdade religiosa está consolidada em nosso país. Através da Constituição Federal (Art. 5°, incisos VI, VII, e VIII), que estabelece liberdade de culto e consciência ao indivíduo. Porém, o país não protege, através de leis federais e trabalhistas, o indivíduo a ter o direito de escolher o dia de seu resguardo religioso. A santificação e a guarda de um dia da semana representa um aspecto teológico fundamental para diversas religiões. Embora o sentido teológico e histórico do dia da guarda ou adoração varie entre as diferentes religiões, é inegável que a observância de práticas religiosas, em particular ou em público, possibilite conflitos entre obrigações legais e princípios religiosos. Em um país cuja forma de governo é democrática. Onde a sociedade luta em defesa dessa democracia, em todos os setores, seja nas instituições superiores, ou em movimentos sociais. O conflito existente em relação à guarda do Sábado pelos Adventistas do Sétimo, torna essa defesa pela democracia contraditória. O tema constitui um grande desafio pela sua riqueza como fonte de informações, mas, ainda é pouco explorado pelos estudiosos das ciências sociais. Espera-se que esse estudo tenha servido para esclarecer o dilema que muitos Adventistas do Sétimo Dia sofrem por guardarem o Sábado em nossa sociedade, caracterizada pelos princípios do Capitalismo. Podendo servir de abertura para novos estudos sobre a questão religiosa no Maranhão. REFERÊNCIAS BARROS, José D’Assunção. Breve Introdução ao Estudo dos Campos da História. Disponível na Internet. http://www.revistaautor.com.br/ensaios/htm. Acesso em 21 mai. 2005. BEOZZO, José Oscar. Religião e Estado na história do Brasil. 1. ed. Belo Horizonte: Veredas, 2000. BORGES, Michelson. A Chegada do Adventismo ao Brasil. 1. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000. BURITY, Joanildo A. Religião, Mercado e Política: Tolerância, Conformismo e Ativismo Religioso. Disponível na Internet. http://www.fundaj.gov.br. Acesso em 27 abr. 2006. CARDOSO, Ciro e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História. 1. ed. Rio de Janeiro: Campos, 1997. CARVALHO, Alonso Bezerra de. 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APÊNDICE APÊNDICE ENTREVISTA Departamental de Liberdade Religiosa da Missão Maranhense: P: - Dados pessoais do entrevistado: R: - Valterliana Reis Serra, 17/09/1971 – São João Batista – MA Formada em Pedagogia – UFMA Metodologia do Ensino Superior – UNIR Solteira Atualmente diretora de Educação e Liberdade Religiosa da MMA Já atuou na supervisão pedagógica das escolas adventistas no Maranhão, Acre e Rondônia. Como diretora desses departamentos responde junto à administração do campo pela promoção da educação cristã nas igrejas e comunidade, pela qualidade do ensino através da realização de treinamentos e capacitações, além de oferecer apoio aos estudantes e universitários nas questões que afetam sua crença, seja no campus ou no trabalho de modo que não haja comprometimento de sua essência e identidade cristã. P: - Como você tornou-se Adventista do 7ºDia? R: – Tornei-me adventista aos 12 anos. Desde criança fui atraída para as profecias que falavam sobre o fim das angústias, da fome e da desigualdade. Percebi que a justiça a ser implantada exigia recuperação dos direitos dos oprimidos e castigo aos opressores e pecadores. No primeiro momento fui movida pelo medo e pela necessidade de encontrar algo que pudesse me esconder do juízo final. Pouco tempo depois, ainda adolescente pude experimentar o significado de servir a um Deus misericordioso. Passei a desfrutar de uma fé mais racional que aos poucos foi adicionada ao próprio estilo de vida. P: - Qual o significado de guardar o Sábado? R: – A experiência do sábado só pode ser compreendida quando não se reduz a meramente guardá-lo, mas a desfrutar de um estado de espírito que só é possível na companhia do Senhor do sábado. Esse foi o seu propósito inicial, comunhão com os seres criados. Esse estado de espírito não tem nenhuma relação com o misticismo, técnicas de relaxamento ou algo que possamos encontrar dentro de nós mesmos. Pelo contrário, primeiro precisamos nos esvaziar de nossas preocupações e deixar de lado a euforia de nossas atividades para confiar inteiramente nos cuidados de Deus. - Além disso, com a mesma força que cremos na restauração do mundo, na vida eterna e fim do pecado, cremos também na recuperação do verdadeiro sentido do sábado como dia de repouso e encontro com Deus para toda a eternidade. P: - Vivemos em um país, cuja forma de governo é democrática, onde a Constituição estabelece a liberdade religiosa (Art.5º, incisos VI, VII e VIII). Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil? R: – A liberdade religiosa está garantida na Constituição Federal Brasileira ao declarar que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença...” e, ainda, que “ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa...” (art. 5.º, incisos VI e VIII, CF/88). No entanto, como tantos outros direitos este também não tem recebido o devido respeito, sendo muitas vezes claramente desconsiderado. Existem instituições que se fecham para qualquer oportunidade de negociação com os guardadores do sábado no que respeita ao não prejuízo no trabalho ou nos estudos, sem negociar sua crença. P: - A Igreja Adventista do 7ºDia tem como uma de suas doutrinas fundamentais a Santificação e Guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o Sábado. Qual a sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que vivemos? R: – Fazemos parte de uma sociedade que não compartilha a mesma concepção ideológica acerca de realidades essenciais como tempo, trabalho, dinheiro e religião. Isso, de certa forma torna quase incompreensível a postura dos guardadores do sábado, pois não compartilham da mesma visão de mundo, de valores e diferem também na maneira de lidar com esses conceitos. Uma sociedade capitalista vê o descanso semanal como mero cumprimento de leis de trabalho, com objetivo de não perder a força de trabalho ou ainda como fator de aumento da produção. A guarda do sábado é uma evidência desse diferencial, portanto, uma crença que nos identifica. P: - Muitos Adventistas do 7ºDia sofrem prejuízos materiais por guardarem o Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição da Igreja em relação a esse dilema sofrido pelos membros da Igreja? R: – Embora os prejuízos, materiais ou não, sejam em conseqüência da obediência aos mandamentos, os seguidores tem um posicionamento sólido e a igreja também. A obediência não é compulsória, é voluntária e revela o nível de intimidade e submissão a Deus. Muitos vacilam pela pressão, resultado direto da fragilidade das leis que garantem o direito de crença. A existência de uma lei não pode garantir seguridade para atitudes que decorrem da fé, no entanto os prejuízos espirituais são os mais temidos. - Os guardadores são cientes de que não há perda que não seja compensada. O próprio Jesus orientou quanto a algumas renúncias que seriam necessárias ao seguidor. Ele disse certa vez: “quem não tomar a sua cruz não é digno de mim”, e em outro texto: “quem não deixar pai e mãe por minha causa não será digno de mim”. Significando que mesmo o que nos é mais caro deve ser deixado de lado se nos impede de fazer a escolha certa: seguir a Cristo de forma abnegada. P: - Durante seu período como pastor da Igreja Adventista do 7ºDia, houve algum caso a respeito desse dilema, que ficou marcado em sua memória? - em caso afirmativo: Como foi? R: – Sou educadora e atuo mais diretamente com as escolas que com igrejas. Mas recordo-me de um incidente onde alguns amigos tiveram prejuízo por não serem atendidos no seu pedido de confinamento, pois a prova teve sua data alterada para um sábado. Os jovens estavam na igreja, meio tristes, mas dando o seu testemunho. Ao final do sábado tiveram acesso à notícia de que a prova fora adiada devido a um raio que atingiu um dos estabelecimentos onde a prova estava sendo realizada. Foi cancelado o vestibular e não mais marcado no sábado. Em jornal de circulação local foi feita menção aos adventistas que deixaram de fazer a prova com manchetes dizendo que o Deus dos adventistas intercedeu pelos seus fiéis. Conheço pessoalmente alguns desses jovens que hoje são profissionais formados, bem colocados e as situações de trabalho sempre terão a influencia desse fato para não vacilar depois de terem experimentado tão grande prova da resposta de Deus à sua fé. Presidente da Missão Maranhense: P: - Dados pessoais do entrevistado: R: - Nome: Ezequias Melo de Freitas Guimarães Grau de Escolaridade: Superior Completo (Mestrando em Teologia) Estado Civil: Casado Filhos: 2 Residência: São Luís do Maranhão Tempo de Trabalho: 18 ano0s de ministério, sendo 1 e 4 meses no Maranhão Função: Presidente da Missão Maranhense da IASD. P: - Como se tornou Adventista do 7° Dia? R: - Nasci em um lar Adventista. P: - Qual o significado de guardar o Sábado? R: - Fidelidade a um mandamento de Deus que representa o selo do Senhor sobre o seu povo fiel, bem como o reconhecimento de que Ele é o Criador e separou esse dia para uma comunhão mais ampla. P: - Vivemos em um país, cuja forma de governo é democrática, onde a Constituição estabelece a liberdade religiosa (Art.5º, incisos VI, VII e VIII). Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil? R: - Ainda é muito limitada e restrita a liberdade ideológica. Não existe uma forma legal de proteger os irmãos que precisam trabalhar para sustentar suas famílias e são impedidos de ingressar em empresas que funcionam nos Sábados. P: - A Igreja Adventista do 7ºDia tem como uma de suas doutrinas fundamentais a Santificação e Guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o Sábado. Qual a sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que vivemos? R: - O Sábado é o selo de Deus (Ler Ez. 20: 20). Sua guarda pelos fiéis seguidores de Jesus mostra de que lado estão. Aqueles que guardam o Sábado também reafirmam sua crença no Deus Criador diante de uma sociedade cética. P: - Muitos Adventistas do 7ºDia sofrem prejuízos materiais por guardarem o Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição da Igreja em relação a esse dilema sofrido pelos membros da Igreja? R: - A vida de qualquer é marcada por escolhas. Nossas escolhas determinam o nosso futuro. A guarda do Sábado não é uma suposição da Igreja, mas um mandamento de Deus. Cabe ao membro da Igreja Fazer a sua escolha: cumprir a ordem de Deus ou rejeitá-la. Contudo, a Igreja deve orientar e animar o membro a fazer a escolha certa, guardar o Sábado a despeito de qualquer prejuízo temporal, certo de que receberá o galardão por ser fiel a Jesus. P: - Durante seu período como pastor da Igreja Adventista do 7ºDia, houve algum caso a respeito desse dilema, que ficou marcado em sua memória? R: - Sim, um membro que foi forçado a trabalhar no Sábado em uma empresa em Altamira, se posicionou ao lado de Deus e foi demitido. Logo após ele foi readmitido. Presidente do SINDMETAL: P: - Nome completo. Qual função desempenha no Sindicato. E qual papel desempenha o SINDMETAL? R: - Meu nome é José Maria Araújo. E sou o presidente do sindicato. - O papel desempenhado pelo sindicato é trabalhar na categoria a visão da sociedade, a mudança de comportamento e principalmente o sistema. - O maior objetivo, o maior trabalho do sindicato é a mudança desse sistema capitalista. É combater esse sistema que explora, oprimi. É uma situação injusta para os trabalhadores. Então a gente combate as injustiças, e têm que orientar os trabalhadores politicamente, para se livrar desse regime. - Num dia... Para a gente criar uma alternativa de mostrar, quem trabalha têm mais direito, mais respeito e não ser apenas um objeto, uma coisa assim... temporária. P: - Seu José Maria, o senhor estar a quanto tempo, comandando o Sindicato dos Metalúrgicos? R: - Eu fui eleito no ano 2000. Tomei posse em outubro do ano 2000. É... em 2003, nós tivemos uma reeleição, onde eu fui reeleito pro cargo. - Nós tínhamos um estatuto com uma duração de três anos, e com a alteração do código civil brasileiro, nós alteramos também, pra ficar de acordo com o código. Cada mandato de quatro anos. - Então o primeiro mandato encerrou em 2003, e eu fui reconduzido ao cargo, ficando até 2007. Porque nesse mandato agora, já estar reformado o estatuto pra quatro anos. Então todos que vierem, é... nós vamos ter eleição em 2007. E daí, cada um com o mandato de quatro anos. P: - Seu José Maria, quanto à questão do meu tema, que é, um tema religioso, abordando a respeito da guarda do Sábado da Igreja Adventista, seu antagonismo existente ao sistema capitalista, presente em nossa sociedade. Como o senhor ver a relação, religião e trabalho no sistema capitalista em que a gente vive? R: - Eu diria que o trabalho, tem mais força que a própria religião. Porque aqui nós não temos tido conflito com essa questão dos adventistas em relação ao trabalho. E... às vezes eles se adaptam. Ficam no sistema sem muito questionamento. E também não temos, nenhuma clausula na nova convenção que é..., ter essa garantia, pra que a empresa tenha que aceitar as condições da religião. - Geralmente, o que a gente tem como conflito, a gente tenta resolver e também colocar em clausula. Como isso aí, eu diria que assim, quase inexistente, dentro da nossa realidade, é... esse conflito religião e trabalho. Nós não temos nem registro aqui, nem uma clausula específica, muito menos uma reclamação. P: - Então em sua opinião, por exemplo, o trabalhador adventista ele se adapta às normas da empresa? R: - Geralmente tem acontecido isso. Até porque, eu diria assim, que a fração dos operários adventistas, deve ser muito pequena. Nós não entramos muito na questão da religião. A gente trata todo mundo da mesma maneira, como empregado. E com isso, não aparece essa divisão de conflito. - Na minha opinião, é que, até então, os poucos adventistas que têm, tem-se, é... conformado, aceito as sanções do capital. Não questionando esse direito particular da religião. P: - Seu José Maria, o senhor sabe que nós vivemos em um país, cuja forma de governo é democrática. E, onde a Constituição estabelece a liberdade religiosa (art. 5º, incisos VI, VII e VIII), da nossa Constituição. Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no país? R: - Eu sou a favor, e sou do PCdoB. Foi o PCdoB, se você for ver a história, foi ele quem deu essa garantia de liberdade de culto e religião no país. Agora, não... eu diria assim, sempre com os limites. Porque hoje, tem a questão do barulho. E o barulho, vale pro religioso, e pro não-religioso. - Algumas pessoas anunciavam numa época, que o presidente LULA, fecharia igrejas. Isso não foi verdade. Nós nunca concordamos com isso, era só boato. Porque o que tem de ser garantido é a lei para qualquer cidadão brasileiro, independentemente de religião. P: - A Igreja Adventista do Sétimo Dia, ela tem como uma de suas doutrinas fundamentais, como eu acabei de falar para o senhor, que é a santificação e guarda do Sétimo Dia da semana, ou seja, o Sábado. Qual a sua opinião a respeito dessa crença para o mercado de trabalho. E também, como o senhor é o presidente do sindicato dos Metalúrgicos, qual a opinião do sindicato a respeito disso? R: - Eu diria que tem pouca influência. Tanto é que nós não temos tido conflito, não temos registro, nem cláusula específica. Agora para o sindicato dos Metalúrgicos, a hora que surgir uma situação como essa, nós vamos atender, dar garantia em clausula. Assim, como já tem para o portador de uma necessidade especial, assim como já tem para o portador do HIV, assim como outras leis já dão essa cobertura, somos favoráveis a liberdade da religião, e que o direito seja garantido. - Agora geralmente é por reivindicação que a gente consegue alguma coisa. E ate então para o próprio sindicato não houve demanda. P: - Muitos adventistas sofrem prejuízos materiais, por guardarem o Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição do sindicato em relação a esse dilema, e qual a sua posição pessoal? R: - A minha posição pessoal é que, eu acho que todos os dias são santificados, então, a gente não vai ter um em detrimento do outro. E na Bíblia mesmo, ela diz que o homem foi feito para o Sábado, e não o Sábado para o homem. Tem aquela comparação. Então a gente não pode se ajoelhar diante de um dia, diante do outro. - Agora, minha questão particular, é que eu não sou da religião Adventista, e por isso eu não concordo. Pessoalmente eu não concordo. Eu acho que só quem concorda mesmo é quem estar na religião. - Na questão sindical, por direito de maioria, e de categoria, apartir, do momento que houver demanda a esse respeito, nós vamos estar prontamente atendendo as necessidades, pra que seja cumprido, na imprensa, e tudo. - Agora o que tenho visto, porque não há demanda, é que os próprios adventistas, pelas necessidades básicas, eles abrem mão do critério religioso, pela necessidade do trabalho. Essa é a avaliação mais assim..., do sindicato. P: - Em sua opinião, atualmente no mercado de trabalho, há uma aceitabilidade em relação ao trabalhador Adventista do Sétimo Dia? R: - Eu acredito que há, mas é o seguinte, a maioria das pessoas, acho que numa entrevista, fosse uma pergunta para uma empresa que emprega, que estar fazendo uma entrevista com as pessoas, seleção, ela deve ter informação há mais do que eu. - Mas as pessoas de repente não se identificam com essa religião, eles se identificam como um cidadão que necessita de um emprego, e não entram na questão da religião. - E as empresas é..., algumas quando a gene repassa fax, solicitando, alguma coisa sobre política, ou sobre religião, elas são muito claras sobre isso ai. É um seguinte, olha na questão política, questão religiosa e vários outros temas polêmicos. Elas não opinam. Então elas não têm opinião formada, não entram em detalhes, que pra não entrar em um lado, agradar o outro. - Por exemplo, se eu pedir uma palestra dentro de uma empresa, pra uma igreja A ou igreja B, com certeza, a empresa não concede. Se eu solicitar também, um espaço interno de uma empresa pra uma opinião política sobre candidato A ou B, eles dizem a mesma coisa. Eles não entram em detalhes, e eles se mantém praticamente neutros nessa questão. P: - Uma ultima pergunta. Durante seu período de atuação no sindicato dos Metalúrgicos como presidente, houve algum caso a respeito desse dilema da Igreja Adventista, que ficou marcado em sua memória? R: - Não houve. Tivemos informação de terceiros, um caso, que a pessoa foi bem sucedida. Ele foi transferido. A empresa concedeu um horário especifico pra ele. Ajustou de acordo com a necessidade dele, religiosa do dia. - Já houve casos assim, de informações, não de caso concreto, com registro, ou que gerasse conflito de reclamação, de interesse do sindicato intervir. Então não houve necessidade já ocorrido. Pastor Saraiva: P: - Dados pessoais do Entrevistado: R: - Meu nome é Emmanuel de Jesus Saraiva. Nasci em 25 de dezembro de 1939. Tenho, portanto, 67 anos. Casado atualmente com Nilde Fournier. Eu tenho duas filhas do primeiro casamento. A Raquel e a Leia, que é orientadora educacional do Colégio Adventista de São Luís-MA. - Sou maranhense. Nasci e me criei aqui em São Luís. Nasci no bairro da Liberdade e estudei o meu primário em uma escola pública no Monte Castelo, e o meu ginásio, eu fiz no Liceu Maranhense. Depois eu fui para Pernambuco, onde fiz a faculdade de teologia em quatro anos. Depois de formado em teologia trabalhei como pastor em algumas cidades do Maranhão. Como Bacabal; São Luís, duas vezes; e Imperatriz. Depois eu fui para Manaus, onde passei oito anos trabalhando em Manaus. Depois voltei para Fortaleza, onde fui departamental de educação e jovem. Fui diretor do educandário nordestino Adventista. Naquele tempo, tinha até o curso superior, o de teologia. Hoje, só tem até o curso médio. Passei seis anos na África Portuguesa. Estive em Moçambique. Lá eu era professor de Português. E era também, o diretor dessa escola. Um seminário de teologia. - Além de fazer teologia, eu também fiz duas outras faculdades. Fiz a faculdade de Pedagogia, e depois a faculdade de Letras. Portanto eu sou formado em Teologia, Pedagogia e Letras. P: - Pastor, como o senhor Tornou-se Adventista do Sétimo Dia? R: - Eu me tornei adventista ainda criança. A minha mãe morava no bairro da Liberdade. Foi assistir algumas reuniões e se tornou adventista, e nós éramos crianças, e fomos com ela para a igreja. Eu tinha naquela época uns 11 a 12 anos de idade, quando eu ingressei na igreja através da minha mãe, dos meus pais. O meu pai e também toda família se tornaram adventista. P: - Quando o senhor sentiu o desejo de ser um pastor da IASD? R: - Na Igreja Central de São Luís. Certa vez, um pastor da igreja, um Uruguaio chamado Eduardo Pereira. Ele fez um bonito sermão sobre o romance do ministério. E no final, ele fez um apelo aos jovens. Quem gostaria de fazer teologia. E eu fui atraído. - Anos depois, eu fui para o ENA, em Pernambuco, para cursar a faculdade de teologia. Não foi fácil. Era muito pobre, já casado, enfrentei muitas dificuldades para concluir o curso. Lá, num ginásio, não muito distante de Belém de Maria, eu lecionava à noite, português e matemática, para poder me manter no curso durante os quatro anos, que eu passei em Pernambuco. P: - Em sua opinião, qual o significado de guardar o Sábado? R: - Nós não guardamos o Sábado, por uma questão legalista. Nós guardamos o Sábado, porque sabemos que o Sábado é o sétimo dia da semana. É a coroação da Criação de Deus. Deus criou o mundo em seis dias, e no sétimo, o Sábado, Ele descansou. E deixou para os seus filhos, guardar esse dia, que é um memorial da criação de Deus. - Quando nós guardamos o Sábado, nós estamos diretamente nos relacionando com Deus, porque aceitamos que Ele é o nosso Criador. E se Ele criou o mundo em seis dias e descansou no Sábado. Ele deixou esse dia como memorial da criação para que nos lembremos Dele. Por isso, os Adventistas guardam o Sábado, não por uma questão legalista, mas por amor a Deus, que é o Criador de todas as coisas. Se todas as pessoas neste mundo guardassem o Sábado, não haveria neste mundo nenhum ateu. Porque quem guarda o Sábado, é porque crer que Deus criou o mundo, que ele é o mantenedor desse mundo. E por isso nós guardamos o Sábado, como memorial da Criação de Deus. P: - Pastor, nós vivemos em um país democrático, onde sua constituição estabelece a liberdade religiosa. Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil? R: - Olha, se analisarmos os 50 anos da história do adventismo, vamos vê que, naquela época quando a Igreja surgiu no Maranhão, não era conhecida e havia muito preconceito. Pelo menos, eles nem nos chamavam pelo nome. Esse nome Adventista do Sétimo Dia, não era considerado. Nós éramos chamados de sabatistas. Tinha muito preconceito, não apenas com a Igreja Adventista, mas com todas as demais Igrejas evangélicas. Havia preconceito e a nossa Igreja era muito mais perseguida naquela época, do que hoje. Hoje a Igreja Adventista do Sétimo Dia, é uma igreja respeitada, porque naquele tempo eles nem nos consideravam evangélicos. Achavam que éramos uma seita, que deveria ser discriminada, banida. - A situação do Brasil mudou. Hoje todas as pessoas são mais respeitadas. Todas as ouras religiões são também respeitadas. E nós, nesse contexto também somos bem respeitados. Há problemas, mas pelo menos, as leis brasileiras são mais favoráveis a todas as pessoas. A liberdade de consciência, a liberdade de culto. Hoje a situação no Brasil, é muito melhor do que a 50 anos atrás. P: - A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem como uma de suas doutrinas fundamentais, a santificação e guarda do sétimo dia da semana, ou seja, o Sábado. Qual sua opinião a respeito dessa crença na sociedade em que vivemos hoje? R: - Alguns aceitam, outros rejeitam, e sempre será assim. Porque sempre foi assim. Mas hoje, as pessoas são mais conscientes. Aqueles que têm uma Bíblia é muito fácil eles concluírem que o Sábado é o dia do Senhor. Se eles, que tem a Bíblia em casa forem ler, então, isso despertara nas pessoas interesses em saber por que devemos guardar o Sábado. Por isso que a IASD, tem crescido. Porque as pessoas hoje, especialmente os evangélicos, tem tido interesse em pesquisa e aceitar o Sábado como dia do Senhor. P: - Pastor, muitos Adventistas do Sétimo Dia, sofrem prejuízos materiais por guardarem o Sábado, tanto na área profissional, quanto na área educacional. Qual a posição da IASD em relação a esse dilema sofrido pelos membros da Igreja? R: - a Igreja em si não obriga ninguém, há não ir ou ir no Sábado assistir uma aula. A Igreja orienta que cada um tem uma consciência. E dentro dessa consciência, ele precisa tomar a sua decisão. - Como pastor, eu nunca eliminei ninguém da Igreja, pelo fato dele ir no Sábado à escola. Mas, eu sempre orientei os membros da minha Igreja, que é mais fácil ele vencer sendo fiel a Deus. Sendo leal a Deus, do que simplesmente fracassar na vida espiritual. - Um adventista que vai fazer uma prova no Sábado, depois, ele vai ter mais problemas de consciência, do que, aquele que não foi e até ficou reprovado. Posso citar o meu caso pessoal: Eu estudava no Liceu Maranhense na década de 50 e 60. E quando fazia o 1° ano científico, caíram varias provas no Sábado, e eu, não fui. E como conseqüência, fiquei reprovado. Ou seja, repetir o ano. Mas, eu agradeço a Deus por isso. Porque Deus tem os seus planos e ele quer de nós a fidelidade. Quando nós somos fiéis a Ele, todos os nossos problemas são resolvidos. - É mais fácil vencer na vida cristã ao lado de Deus. É fácil vencer sendo obediente, do que sendo desobediente aos princípios da lei. E você vai encontrar quantos jovens, que deixaram de fazer uma prova ou ficaram reprovado, e nem pó isso, deixaram de se formar. É o meu caso. P: - Durante seu período como pastor da IASD, houve algum caso a respeito desse dilema, a questão da guarda do Sábado, que ficou marcado em sua memória? R: - O que ficou marcado na minha memória, não posso me esquecer, foi o fato de eu perder um ano, não foi fácil. Eu vim para casa, naquela sexta-feira a noite que eu não fui ao Liceu, e depois eu fui lá repetir o ano. Mas, com pouco de um mês, dois meses, um ano. Quando terminei, aquilo passou. E hoje, não me faz falta o ano, que eu perdir. - Em Coroatá, houve um caso de varias professoras que trabalhavam para a prefeitura. E, o prefeito baixou lá um decreto. Que todos tinham que trabalhar no Sábado. Foi difícil. A IASD teve que ir lá interceder. Em todos os casos que eu conheço sempre Deus abre uma porta e vem a solução. Eu não conheço nenhum caso de alguém que tenha morrido ou sofrido tanto porque foi fiel. - Quando nós somos fiéis a Deus, Ele resolve o problema. A Bíblia diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele e o mais Ele fará”. Se nós, nos entregarmos nas mãos de Deus, deixar que Ele resolva, Ele sabe resolver cada caso. P: - Qual o significado de ser Adventista, e guardar o Sábado no mundo hoje? R: - Se analisarmos a historia, Deus sempre teve um povo fiel. E Ele quer que esse povo hoje, continue sendo fiel, como foi o povo do passado. Por isso, diz a Bíblia: “Ser fiel até a morte, e de darei a coroa da vida”. Quando nós somos fiéis a Deus, nós vencemos todos os obstáculos. Pastor Sidney: P: - Dados pessoais do Entrevistado: R: - Meu nome é Sidney Sousa Nazareth. Sou casado com Lurdinéia Miranda Nazareth. Tenho três filhos; Sidney Junior, formado em engenharia elétrica e administração de empresas; a Sidnéia, formada em direito e promotora da justiça; e o Sandy, formado em direito. - Eu nasci na ilha de São Luís, no bairro do Apicum. A gente chegou a esse mundo, no dia 12 de março de 1935. Ali no hospital Português. O nome de meu pai era Laudelino Simão Nazareth, e minha mãe, Edite Esperança de Sousa. Eles foram casados apenas na Igreja Católica. Isso quando eu já era rapaz. - Mas, o conhecimento com a IASD, aconteceu quando eu estava numa fase muito crítica na vida religiosa. Que, aliás, eu nunca fui assim, muito igrejeiro. Freqüentava a Igreja Católica apenas aos domingos. Eu temia ao Senhor, mas, assim como um rapaz sem uma diretriz religiosa. - Acontece que no ano de 1950, houve um incidente. O trabalho que a gente estava fazendo. Estava trabalhando nesta época na rua das Cajazeiras. Eu trabalhava de carpinteiro, pois eu era parente do construtor, que era o meu falecido tio. Então nessa época eu entrei em conflito com a Igreja Católica. Por quê? Porque os professores no ginásio que a gente estudava nessa época, muitos deles eram ateus, e começaram a minar a minha mente. Porque eles diziam, por exemplo, que São Benedito, saiu em procissão, caiu e quebrou. Eles falavam da história de João Batista, e do próprio Jesus Cristo. - E nesse contexto, nós começamos a estudar a Bíblia, não no teor religioso, mas como pesquisador, embora não tivesse essa habilidade. - Quando foi no ano de 1951, nos ficamos um tempo sem trabalho nas construções. E, eu tinha dois amigos, que não eram da Igreja Adventista. Um era o José Bonciano, e o outro era o Raimundo Gonçalvez. Nós tínhamos reuniões nas manhãs de domingo. Num lugar chamado Alto paraíso. Ali defronte a Igreja de São Vicente. Nós tínhamos uma espécie de simpósio, umas atividades culturais: musicas clássicas, exposições históricas. Era muito interessante. - E num desses encontros no domingo, apareceu um colportor adventista, chamado Evaldo. Um rapaz que tinha uma facilidade de se expressar. E nos convidou para uma série de conferencias. Isso é coisa de protestante, comentei com os meus amigos. O Bonciano e o Raimundo foram, mas eu não fui. Mas, prometi que iria. - Fomos até a IASD. Um templo novo, que tinha acabado de ser inaugurado. Naquela noite, o pastor estava falando sobre Daniel 2, onde começava a parte profética. Matei aulas durante a semana. Comecei a estudar a Bíblia, comparando com a história. E não tive para onde fugir. Nunca mais deixei de freqüentar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Eu fui da primeira turma noturna do Liceu Maranhense. Ia fazer a terceira série no Liceu, e não passei de ano. Por quê? Porque comecei a mim identificar com a guarda do Sábado. E quando eu comecei a guardar o Sábado, eu tinha um professor de matemática, que só dava as provas mensais no Sábado. Perdir o ano. E em 1955, tive a oportunidade de terminar a terceira série ginasial no ENA. Por ser um bom aluno de matemática, comecei a dar aula de matemática particular para os alunos. Fiz o curso de contabilidade e depois, decidir fazer o curso de teologia. - Minha família pensava que eu estava louco. E no exercito, quando eu fui servir, devido o Sábado, fui despensado. A convicção da vida religiosa nasce com a gente. P: - Quais funções o senhor ocupou na IASD? R: - Eu tive só duas funções. Foi como pastor distrital e professor de Bíblia na África. No fim do meu ministério terminei como pastor distrital da Igreja Adventista Central de São Luís. Eu fui o responsável pela reconstrução da Igreja. P: - Pastor, em relação à guarda do Sábado, qual o significado dele ser guardado? R: - O Sábado é a marca registrada do povo de Deus, através de todos os tempos. Ezequiel 20: 12 e 20. Quando Deus criou esse mundo em seis dias, Ele criou mais um dia que foi o Sábado. Há caprichosamente todos os esforços para se mudar o calendário gregoriano. Mas, no decorrer da semana sempre tem o Sábado, não mudou. Os textos bíblicos no velho e no novo testamento indicam que o dia do Senhor é o Sábado. - O significado de guardar o Sábado, é uma benção muito grande. O Sábado para nós é um dia deleitoso. Você tem um compromisso com o Dono do Universo. P: - Vivemos em um país cuja forma de governo é democrática. Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no Brasil? R: - Isso é um assunto muito envolvente. Muito agradável de a gente comentar. Nós temos na Divisão sul-americana um departamento de deveres cívicos e religiosos. Na nossa constituição a uma brecha para a liberdade religiosa. Estamos num país onde você pode professar livremente a sua fé cristã. Embora nós vivamos numa sociedade marcada pelo dia de repouso universal, que é o domingo, mas isso não nos omite, nem aos judeus, e aos batistas do sétimo dia, e outros. Todos guardam o Sábado em nosso país. Aqui em nosso estado, a Deputada Marly Abdalla, justificou isso como lei. P: - Qual a sua opinião a respeito da crença do Sábado na sociedade em que vivemos? R: - Eu acredito que o Adventista não vive como um religioso fanático. Mas ele vive dentro da sua norma. De uma robusta fé cristã. Uma referencia na sociedade. Porque o Sábado é um divisor de águas. O Sábado é um sinal, como diz o próprio Deus, entre seus filhos e Ele. Sem ferir ninguém, mas, a característica da guarda do Sábado para nós é um sinal divino. Deus no Sábado, Ele descansou, Ele abençoou, e santificou. É uma referência. P: - Muitos adventistas do sétimo dia sofrem prejuízos materiais, tanto na área profissional, como na área educacional. Qual a posição da administração da Igreja, quanto a esse dilema? R: - O monge Martinho Lutero, estava subindo as escadarias do Vaticano de joelhos, e no meio da escadaria, ele ouviu uma voz, que dizia: “O meu justo viverá pela fé”. O Adventista, filho de Deus, o único recurso dele, é a fé em Jesus Cristo. Ele não tem outro ponto de apoio. Ninguém vai de ajudar. É uma decisão sua com o seu Deus. Ou você crer, ou você não crer. É o mais bonito da vida Cristã. É essa fé, de você viver com o seu Cristo. Ele que vai determinar a sua vida. P: - Durante seu período como pastor da IASD, houve algum caso a respeito desse dilema, que ficou marcado em sua memória? R: - Tem vários exemplos, mas, eu creio que para o Adventista, ele tem que ser provado. Nós somos provados. Deus não vai deixar seus filhos mendigar o pão. Ele só prova quem ama. Há um conflito em relação a guarda do Sábado. Imperceptivo, mas há. Diretora do Curso de Letras da UEMA: P: - Dados pessoais do Entrevistado: R: - Meu nome é Maria Auxiliadora Gonçalves de Mesquita. Era até o dia 31 de dezembro de 2006, diretora do curso de Letras. Devo estar assumindo a direção do CECEN, dia 10 de dezembro de 2007. Sou professora de Língua Portuguesa do departamento de Letras da Universidade Estadual do Maranhão, e do departamento de Letras do Centro Universitário do Maranhão. P: - Professora Auxiliadora, é do seu conhecimento que nós vivemos em um país cuja forma de governo é democrática. Existe uma liberdade religiosa, instituída em nossa Constituição Federal (Art. 5°, incisos VI, VII e VIII). Qual a sua opinião a respeito da liberdade religiosa no país? R: - Olha, sobre a liberdade de religião no país, o que eu acredito, é que nós temos toda a liberdade de credo. Já foi muito impedido de seguir está ou aquela religião. Mas, atualmente não. Nós temos lutado tanto por democracia. Em todas as instâncias. Nas instituições superiores, nos movimentos sociais. Creio que nós tenhamos muita liberdade de escolha, em relação à religião. P: - Em relação a guarda do Sábado pela Igreja Adventista, que é uma das suas doutrinas fundamentais. Qual a sua opinião sobre essa crença, em nossa sociedade? R: - Cada religião tem as suas normas, as suas práticas. Algo interessante a serem guardado pelos Adventistas. Eles acreditam em que Deus construiu tudo, e no Sétimo Dia descansou. E por isso guardam o Sábado. É algo perfeitamente aceitável, respeitável. Não nos incomoda em nada. P: - Professora em sua opinião, na área educacional, que é a sua área de atuação. A uma aceitabilidade por parte da área educacional, de alunos e professores, que sejam adventistas, os quais guardam o Sábado. Ou a uma rejeição, discriminação? R: - Olha, não há discriminação. Porque quando sai os editais. Eu vou falar especialmente aqui da Universidade Estadual do Maranhão. Nos editais, antes, em 2003, logo assim que eu assumi a direção do curso, tínhamos alguns problemas em relação aos adventistas. Por quê? No edital não era especificado que o curso de Letras funcionava aos Sábados. Tinha lá, funcionamento do curso: Noturno. Como não era especificado que o curso tinha também aula no Sábado pela manhã, para poder cumprir os duzentos dias letivos. O aluno depois que se escrevia queria reivindicar, que não poderia participar das aulas no Sábado. Que não sabia da norma do edital. Que não tinha feito um curso para estudar na manhã de Sábado. - O que nós fizemos? Em 2003 ou 2004, não poderia lembrar agora, só olhando na documentação, uma cera aluna que era adventista, entrou com uma solicitação dentro do colegiado do curso. O colegiado do curso negou, e ela ainda foi para a imprensa, se sentido injustiçada. E deste então, mandamos uma solicitação para a Pro – reitoria de graduação, que no edital, no manual do vestibulando, saísse que o curso de Letras, funcionava de segunda à sexta, no turno noturno, e pelo Sábado no turno matutino. Deste então, nós nunca mais tivemos nenhum problema relacionado a questão da guarda do Sábado dos adventistas. - Todo aluno que quer fazer o curso de Letras, que seja adventista, pode fazer. Até porque nós temos tido o cuidado de evitar repetir a mesma disciplina no Sábado. Pra que? Pra permitir também, que o adventista que não assiste aulas no Sábado. Pois, têm alguns adventistas que assistem aulas no Sábado. Nós já tivemos alunos que eram adventistas, mas que assistiam aulas no Sábado. Outros não. Que realmente segue os preceitos da sua religião e não admitem assistir aula dia de Sábado. Pensando nesses alunos, porque nós temos que ter uma visão assim, geral. Nós temos que ter uma preocupação com quem é adventista. Ele não é obrigado a assistir aula dia de Sábado. Mas, ao se escrever no curso, ele sabe que tem aula dia de Sábado. A pessoa se escreve de livre e espontânea vontade. Na instituição nós temos aulas de segunda à Sábado. - Os cursos de licenciatura, eles são obrigados a terem aulas de segunda à Sábado. Para cumprirem os dias letivos no período correspondente a integralização curricular. Para cumprir a carga horária nos três anos e meio, e quatro anos. Nós temos que ter obrigatoriedade em dar aulas no Sábado, porque se não, nós não conseguimos. É uma norma da própria instituição. P: - Em sua opinião, quem tem culpa quanto a essa questão, de um adventista querer fazer o curso de Letras, e o curso ser noturno e ter aula no Sábado? R: - Meu querido, ninguém tem culpa. E a solução está para os dois. Tanto para o curso quanto para o aluno. Por quê? Porque o curso oferece as disciplinas de segunda a Sábado. Que no caso dos adventistas, não podem assistir aula nem na sexta à noite e nem no Sábado de manhã. O que o curso faz, para facilitar a vida do adventista. Nós não estabelecemos horários definitivos para todos os semestres letivos. Ema cada semestre letivo, nós mudamos os horários, colocando as disciplinas, em dias variados. Pra que? Para evitar que o aluno adventista, seja prejudicado. Por exemplo, nesse período Inglês vai ser Sábado. No outro período seguinte, quem vai ser Sábado é Literatura brasileira. Nós sempre fazemos esta modificação.