MONÓXIDO DE CARBONO NO PEITO DO PÉ DA BOTINA (Crônicas de um interiorano na “capitar”) Gabriel Trizoglio 2010 2007 - UM DIA DIFERENTE EM TEMPOS DE CRISE Sexta-feira. Quinze de junho de dois mil e sete. Uma semana antes, eu vibrava ao saber por telefone que fui escolhido para fazer curso pela Secretaria em São Paulo. * Madrugada: Não dormi aquela noite, pois sabia que a ansiedade não ia permitir. E também fiquei com receio de dormir e não conseguir acordar. Fiquei acordado até as duas da madruga. Comi uns pães, tomei café recém-feito pelo meu pai, que bondoso como sempre, se levantou de madrugada para fazer. Me dirigi ao laboratório do Centro de Saúde, onde já esperavam minha colega Enfermeira e o marido. Em seguida, chegaram outra colega, Chefe de Laboratório e as demais funcionárias daquele setor, que iriam participar de feira de aparelhos hospitalares no Shopping Center Norte. Chegou a van, aquela van legalzinha da Prefeitura, mas não deu para dormir, pois além da ansiedade, havia o aperto e desconforto da van. Percebemos que já havia algumas pessoas dentro da van. Uma família oriental, uma moça com os filhos. Foi quando, durante a conversa, escutei a moça falar que as crianças estavam indo disputar campeonato de caratê no Ibirapuera. E iriam representar o Brasil no Pan! * Graal!: Graal... viajar para Campinas, Sampa ou outra cidade e não dar uma passada no Graal é um ato “inconstitucional”! É uma das coisas essenciais, senão a viagem fica incompleta! No Graal havia uma banca de revistinhas da turma da Mônica em promoção! Comprei duas do Chico Bento, só pra contrariar! A sede tava maior que a fome, e sentir sede é um perigo para formadores de cálculo renal! Comprei bolachinha, guaraná e água. E só. Como eu tinha dado aquele belo trato na pança antes de sair de casa, não tinha muita fome. Procurei, garimpei entre as revistas e não achei revista MAD! Uma viagem para cidades grandes pra mim não fica completa se eu não comprar uma Mad! Paciência... * Sampa: Ao nos aproximarmos, já no perímetro urbano, os primeiros bairros, nasce aquela sensação de ansiedade que me ocorre desde criança. Toda vez que vou para São Paulo, é batata, acontece! Adentrando a capital, aquela paisagem tão interessante a este interiorano... a sofisticação dos prédios mais ricos dividindo quarteirões com os rústicos sobrados e casas mais pobres... a sensação de 'volta ao tempo' impregnada na sujeira, amarelamento e rachaduras das velhas janelas de madeira, que um dia foram brancas, fachadas e telhados das casas... Uma cena tão rara no interior e tão comum na capital: aviões decolando. Havia até esquecido deste detalhe! Quando a van parou no sinal vermelho em uma avenida, vi um senhor já com seus sessenta e poucos anos PENDURANDO pacotes de amendoim no retrovisor dos carros! 'Será que o velhinho tá distribuindo?' - perguntou este pobre mancebo ingênuo... segundos antes de abrir o sinal, o homem recolheu os pacotes, com uma precisão de dar inveja para alemão! Recolhido o último pacote do último retrovisor de carro, o verdinho do semáforo acendeu. A experiência com as vendas nas ruas deu ao velhinho o tempo exato do paresiga dos cruzamentos! Seguimos para o Ibirapuera para os japonesinhos desembarcarem para o campeonato de caratê. Em seguida, demos uma parada numa das milhares de avenidas movimentadas. Depois de alguns minutos de espera, embarcou a filha e o neto do motorista, para se juntarem ao grupo da van. * Luz Amarela 'Atenção ao atravessar sob a "luz amarela" '. Esta é a frase que eu li numa placa, que fez meu cérebro entrar em parafuso. Pedi à passageira recém-chegada (que tava passando uns dias em Sampa) para 'traduzir' aquela frase pra gente. Ela explicou que a tal luz amarela era um semáforo exclusivo para pedestres e que só tinha a luz (adivinha de que cor!) piscando. O aparelho servia para manter a atenção dos pedestres durante a travessia, recurso bem parecido com o utilizado pelo 'pisca-pisca' de estacionamentos, que alertam os motoristas quando um carro está de saída. * Ônibus sanfona Nas ruas de São Paulo circulam veículos que parecem o resultado do casamento de ônibus convencional com vagão de trem. Ônibus de duas e até três partes, divididos por uma espécie de 'sanfona', que serve para articular o veículo durante as curvas. Procuramos observar para descobrir se no espaço interno da sanfona podiam ou não viajar os passageiros, porém não tivemos sucesso. * Árvores com cavalete Eis que durante o trajeto, visualizamos de dentro da van uma solução no mínimo de gosto duvidoso, influenciada pelo 'jeitinho brasileiro' de resolver os problemas. Na frente de um bonito prédio ornado por um belo gramado havia uma dezena de palmeiras, que, a se notar pelas folhas, estavam todas doentes. Cada uma destas palmeiras tinha o tronco escorado por três toras de madeira, formando um tripé, dando a entender que também os troncos ficaram enfraquecidos pela tal doença! Acho que ficava menos feio ter cortado as palmeiras e dado jeito de redecorar o local... * Trilha sonora O som estava uma merda. O motorista sintonizou numa rádio 'povão', a Tropical FM, que é uma equivalente à Clube FM de Ribeirão Preto. Apesar do meu conhecido espírito esportivo, cheguei a ficar de mal humor com o ar sendo estragado por Leonardo, Inimigos da HP, Daniel, Exaltasamba e outras porcarias do tipo. Apenas à tardezinha, numa pequena interferência eu consegui escutar alguns trechos da Plush, do Stone Temple Pilots. Que saudade do meu rock... * Instituto de Saúde Ao adentrarmos o Instituto, aquela bela surpresa: mulheres! Noventa por cento das pessoas fazendo curso eram mulheres e a maioria, bonitas! Gente do estado todo e até de outros estados. Profissionais da Bahia e do Alagoas também marcaram presença. Quanto ao curso, o conteúdo foi ao idêntico ao qual participei ano passado, mas em cidade vizinha à minha! Até os gestos, interjeições e brincadeiras das palestrantes! Para mim, teve efeito mais de 'jogo da memória' do que 'novo aprendizado'. Como não deu pra 'tirar uma paia' na van... o sono chegou violento durante o curso. Nem aquele ambiente agradável, repleto de mulheres foi capaz de me deixar acordado. Uma tonelada de café para tentar reverter a situação. Não resolveu! Tive que dar uma agitada nos músculos, dando uns rolezinhos no quarteirão! O quarteirão do Instituto é gigante e nele há vários restaurantes e bares, no Bela Vista, centrão nervoso de São Paulo. Aproveitei para dar uma olhada e pechinchar alguns DVDs com um camelô, que montou seu stand 'maneiro' bem em cima de uma das pontes por quais passei. Era impressionante a insistência dele, eu pedia DVD de rock e ele tentava me empurrar os pornôs! Não ia ser nada agradável voltar a uma sala repleta de mulheres carregando uma renca de DVDs do Buttman... * A 'janela TV' Ao ir pela primeira vez ao banheiro, notei uma grande janela no fim do corredor. Tinha certeza que ao lá chegar, teria uma vista legal. Não fui até lá de imediato, havia já algumas pessoas, inclusive fumando! Aproveitei um momento em que todos estavam concentrados no curso e dei uma escapadinha. E não estava errado em minha suposição. A janela dava para um edifício enfrente, e cada uma das janelas deste edifício continha uma atração diferente. Eu poderia ficar horas observando e tenho certeza que as cenas ali sempre mudariam, com aquelas dezenas de janelas disponíveis. * Pantera-Tigre De manhã fomos informados que o curso iria até as três da tarde e não mais até as cinco, já que o pessoal estava adiantado no curso. Nosso motorista estava em outra localidade. Ao desembarcarmos no Instituto, ele seguiu rumo ao Center Norte, para levar as funcionárias do Laboratório. Durante o intervalo do coffee-break, minha colega e eu resolvemos ligar para o motorista para que ele viesse nos buscar mais cedo. Detalhe: o motorista era conhecido como 'Pantera'. Fomos ali perto, no ProntoAtendimento à Mulher para utilizar o orelhão interno (dica do segurança, era menos barulhento). A colega discou o número do celular do motorista, que logo atendeu. - 'Pantera', nós vamos sair mais cedo. - Como? - Sou eu, 'Pantera', a enfermeira! O curso vai terminar às três da tarde! - Com quem você quer falar? - Com 'Pantera'. - Aqui não tem nenhum 'Pantera', nem tigre, nem bicho nenhum, você ligou errado. Tamanha grosseria do interlocutor nos fez cair na gargalhada em plena recepção de Pronto-Socorro (sim, momentos depois, nos tocamos e disfarçamos)! Ao cessarem as risadas, ela checou o papel com o número anotado e viu que não estava errado. Só que ela esqueceu de colocar o DDD da nossa região! A ligação provavelmente caiu no celular de um morador de São Paulo, e este deve ter pensado se tratar de um trote! A ligação errada comeu quase que todos os créditos do cartão e ficamos com apenas duas unidades. Iríamos ter que improvisar ali na hora um palavreado relâmpago de repentista nordestino para falar com o 'Pantera'! Felizmente, a talentosa enfermeira conseguiu dar o recado para o motorista. Nem bem o relógio apitou três horas e lá estava nosso querido motorista! Embarcamos na van e seguimos para o Center Norte. * Feira Pois é, amiguinhos, não era ilusão das fotos, o Center Norte é gigantesco, é uma cidade! E a feira não era diferente, com uma estrutura de primeira e equipe idem, coisa de primeiro mundo. Afinal, o mundo inteiro estava ali, na forma de representantes em stands de divulgação de produtos oriundos de diversos países. Assim que chegamos, o objetivo era dar um rolezinho rápido, tentar encontrar as colegas na feira (achar agulha no palheiro) e ir embora por volta das seis da tarde. Lá fomos nós, e à medida que nos aproximávamos da mega-entrada do evento (multi-evento, cinco exposições numa só!) ficava mais difícil transitar, devido ao grande número de pessoas circulando nas imediações. Quando estávamos quase recebendo as credenciais, ao mencionarmos o nome de nossa cidade e os olhos do recepcionista brilharam! 'O povo desta cidade mora no meu coração', disse aquele conterrâneo radicado em São Paulo, para nossa alegria e surpresa! Encontrar uma pessoa da mesma cidade naquele mundaréu de gente... chegou a ser absurda tal coincidência! Logo depois, percebi que tinha deixado a carteira na van! Aí o “atleta” aqui pediu licença à colega e foi correndo buscar (sorte que a van não tava muito longe). Durante o passeio, pudemos ver pessoas de praticamente todas as raças e vários idiomas, o ponto comum só foi mesmo o sorriso de empreendedor e os trajes de executivo. Os stands com toda aquela parafernália, aparelhos, máquinas, ultrasom, raio-x, não me fizeram prestar muita atenção, já que eu não entendia bulhufas da coisa. Só fui mesmo ligar as antenas ao passar enfrente os stands de informática! Estavam sendo divulgados sistemas informatizados especializados para a área de Saúde, e vi alguns nomes e marcas bem conhecidos nacional e internacionalmente. * Os perdidos Como não conseguíamos encontrar as colegas (era necessário acontecer um milagre), resolvemos esperá-las na porta de entrada. E, após aquela pernada incessante, não conseguíamos mais localizar a porta de entrada! Ficamos rodando uns vinte minutos até encontrá-la e ser informados por um dos recepcionistas que não poderíamos sair por ali, já que se tratava de 'porta de entrada'. Teríamos que sair pela 'porta de saída'! Naquele momento tive a certeza de que as pessoas que estavam ali próximas descobriram que sou do interior quando deixei escapar a expressão 'aôôôô 'trapaiação dus inferrrrrno!'. Procurei rebater os olhares curiosos com minha cara lavada de paisagem enquanto íamos para a tal 'porta de saída'. Chegamos acidentalmente à praça de alimentação e como o estômago vazio já tinha cantado várias músicas, fomos dar uma conferida nos preços. E eu tinha certeza que era tudo caro! Será que eu sou um ser tão malvado para ter que passar pela penitência de pagar seis reais por um crepe suíço? Três reais uma coxinha! Seguramos um pouco mais o apetite para comer depois, bem longe da feira e bem mais barato. Havia um grupo de profissionais fazendo massagem num stand ali próximo à área de alimentação. Foi só na segunda olhada e prestando mais atenção que vimos o cartaz nos informando que se tratava de pessoas com deficiência visual especializadas em massagem! Interessantíssimo, eles procuravam os pontos de massagem no corpo dos pacientes através da intuição e tato! E tenho certeza de que se eles enxergassem, ficariam também alegres como eu fiquei ao ver as simpáticas caricaturas deles nos banners! Encontramos a porta de saída e decidimos esperar o pessoal na van. E eu a vi circulando ali pelo quarteirão. Suspeitamos que o motorista estivesse nos procurando e fizemos o sentido contrário no quarteirão. Deu certo, ele nos encontrou. Informou-nos que os Agentes de fiscalização avisaram que não era permitido estacionar no local onde a van estava! Embarcamos no veículo e ficamos naquele 'carrossel' até que as moças do laboratório apareceram! O sono acumulado chegou de vez e não quis ir embora. Apesar da fome, apaguei ali no banco. Finalmente dormi, depois de mais de trinta horas acordado! * On the road Acordei com a parada da van, o estômago doía de fome. Ao olhar pela janela, vi um prédio que deduzi ser um outro Graal. Ao me aproximar, descobri que era um Shopping: Serra Azul, perto de Jundiaí (descobri depois, na van). Era um lugar pequeno, mas 'ajeitadinho', e contava com lojas da rede 'Frango Assado', MC Donalds, banca (não achei MAD! De novo!), loja de cds e uma estupenda loja de artesanato oriental! Bom, depois de um belo 'tira-atraso' na pança, estava eu a fuçar nas prateleiras de CDs de uma loja. Ao lado da loja havia um extenso balcão. Visto de longe, parecia um daqueles balcões típicos de bar de rodoviária, mas tratava-se de uma lotérica. Entre o balcão e a loja, havia uma janela. Ao olhar pelo vidro, vi uma estrada, bem 'lá embaixo' e os carros passando por baixo do Shopping! Não estava entendendo aquilo direito... foi quando percebi que estava no segundo ou terceiro andar, apesar de não ter subido qualquer escada ou elevador (?). Aquilo me intrigou de tal forma que eu já estava saindo do shopping para verificar que raio de prédio era aquele. Antes de sair, eu vi um banner com uma foto aérea do Shopping. A edificação é uma espécie de ponte! Era como se o Shopping fosse um misto de viaduto com prédio! Que coisa mais louca! Fiquei tão impressionado que acabei perdendo a noção do tempo, e corri até a van! Quando cheguei, todo mundo já tinha embarcado e estavam esperando o molenga atrasildo aqui! Embarquei na van, o sono veio como que automático e apaguei de novo. Quando acordei, já havíamos chegado em minha cidade. Nestas últimas vezes que fui até o lugar onde nasci, São Paulo, ao ver toda aquela paisagem agressiva, assustadora, estressante, doente, cheguei a uma conclusão: não me arrependo de não ter trilhado o caminho aventureiro do jovem interiorano, que vai para a cidade grande atrás de uma boa oportunidade de emprego. Felizmente consegui aqui mesmo em minha cidadezinha um trabalho legal. Não ganho o salário que ganharia numa cidade maior, evidentemente. Mas eu, pelo menos por enquanto, na condição de solteiro e sem filhos, prefiro muito mais a qualidade de vida de uma cidade do interior a um bom emprego com bom salário em uma cidade maior. É situação que aumentaria minha renda mas colocaria em risco minha segurança e saúde. Sim, amiguinhos. Prefiro ficar por aqui mesmo. Mesmo consciente do fato desta ser uma cidade que sofre com o excesso de pessoas arrogantes. Mesmo sabendo que aqui é a cidade da expressão 'você é filho de quem?'. São Paulo é ótimo. Mas para visitar. Dar um rolê, ver coisas diferentes, comer coisas diferentes, ir a eventos culturais, shows, andar de metrô... mas nos dias de hoje, diferentemente do passado, eu não consigo me ver em São Paulo por mais de um mês. Descobri estes últimos anos que sou um feliz matuto do interior! 2008 - EMPOLGAÇÃO ZERO Partimos de minha cidade às duas da manhã, da frente do Posto de Saúde, como em 2007. Tivemos um contratempo: o motorista se atrasou. Fomos buscar uma paciente em um bairro da periferia e fomos até cidade vizinha apanhar uma colega Enfermeira, que me acompanharia durante o curso. Ao chegarmos à citada cidade vizinha, presenciamos a polícia imobilizando um brigão, provavelmente muito louco de droga. Indo para Sampa, o motorista parou em um posto que não era o Graal! Abro este parágrafo, ao invés de parênteses, para dizer que quando vou para "a cidade grande" (seja lá qual for), não podem faltar os seguintes elementos na viagem: - passar no Graal, ndependente de mastigar alguma guloseima por lá - comprar revista Mad (isto é, quando, nas vezes que viajo, a revista está sendo publicada) - comprar revistinha do Chico Bento. Sim, tem que ser do Chico. Não serve Cascão, nem Cebolinha, nem Magali. Tem que ser do guri capiau. Ir até a metrópole e comprar no caminho revista caipira! Só pra contrariar, sacou? Mesma coisa que dirigir-se à SP Fashion Week ou à feira tecnológica e comprar uma Globo Rural para ler. É para não perder o vínculo com as raízes, acho. Bom... lógico que ser um grande fã do Chico Bento ajuda barbaridade! Depois da explicação, volto então ao ponto da história em que o motorista parou num postinho furreca. Foi estranho até. Primeira vez que eu ia para Sampa e não carimbava com a sola do pisante o tapete de entrada do Graal com a sujeira de minha pequena cidade. Black Again. Além de ser nome de uma música do Stone Temple Pilots, é uma expressão gringa que combinava com meu astral naquele dia. Havia acabado de passar por uma desilusão. E para combinar com o sentimento e a trilha sonora, nada melhor que ser surpreendido por uma chuva torrencial que caía já duas horas antes de chegarmos à capital. E vendo as águas, me veio uma outra música, de álbum que acabara de conhecer. Born Again, do álbum homônimo do Black Sabbath. Ian Gillan, do Deep Purple participou do álbum, presenteando os fãs com sua voz neste grande disco. 1983 foi o ano do lançamento e fui conhecer este petardo exatamente vinte e cinco anos depois. O toró só foi minguar quando chegamos lá no meio da zurra de fumaça, luzes e buzinas. A primeira parada foi em um hospital. Lá desembarcou a paciente que nos acompanhava. Combinado o horário da volta e o local de encontro, partimos para o Instituto de Saúde. Chegamos bastante adiantados e cochilamos um pouco lá enfrente nos confortáveis bancos do carro. Pouco depois, acordei e passei o tempo apreciando a beleza rústica da movimentação dos diferentes elementos que compunham a rua Santo Antônio naquela manhã. Escutávamos - eu, pela primeira vez - uma estação de rádio em que a única atração e assunto era o trânsito! Eu achava que era trote, pegadinha, mas confirmei a história com o motorista. Uma emissora que se dedicava ao avassalador trânsito de São Paulo, informando aos motoristas ocorrências de congestionamentos, acidentes e afins. Tempos modernos... Algum tempo mais tarde, entramos na sala para o curso. Tudo igual! Conteúdo idêntico ao do ano de 2007. Até as piadinhas! até os improvisos! Ou, pelo menos, o que até então eu considerava improviso. Cada detalhe ensaiado com bastante talento! O único ponto da palestra diferente do ano passado foi a dinâmica, no início. Havia representantes de várias cidades, a maioria do estado de São Paulo. Porém, alguns vinham de longe, de municípios da Bahia e de Minas Gerais. A brincadeira consistia no preenchimento de um pequeno formulário, informando, entre outras coisa, nome, município e profissão. Depois de preenchidos, os papéis dos formulários eram inseridos em bexigas e estas cheias pelos próprios participantes. Foram dados nós nas delicadas bolinhas de borracha para que a turma brincasse de "vôlei" com elas. Depois de algum tempo "embaralhando-as", a palestrante solicitou que a dupla de cada cidade formada por profissional de Saúde e profissional do Administrativo - ficasse com uma bexiga e a estourasse. O microfone foi passado para uma das duplas para que eles pudessem ler as informações no formulário "sorteado". Os colegas mencionados, por sua vez, diziam no microfone as informações contidas no papelzinho da bexiga capturada por eles e assim por diante. Desinteressei-me por todo o resto e saí da sala para ir ver a "TV Janela", que havia descrito no texto de 2007. E, por falar nisso, a exemplo do ano anterior, também dei umas "escapadas" para rebater o sono dando uns rolês. A excessiva quantidade ingerida de café não ajudava muito e cada vez mais eu me sentia um zumbi no meio daquela gentarada. Em uma das "fugas", eu vi um "sebo-móvel". Uma espécie de trailer montado num trailer (!), acredite se quiser. De longe dava para sentir o cheiro de mofo que vinha dos livros. O odor chegou às minhas narinas e, longe ainda, antes que eu pudesse visualizar tudo com nitidez (estava sem meus óculos de grau) já criei a imagem na cabeça, com a ajuda do olfato apenas. Mentalizei prateleiras com livros envelhecidos, páginas amareladas, alguns caídos, meio tortos. Abandonados. A imagem real era quase idêntica à que imaginei através do cheiro, com exceção de um detalhe apenas. Aliás, um senhor detalhe! Fiquei paralisado! Como num sonho, ele, estático, aquele sorriso estarrecedor, psicótico, me dando boas vindas! Gritava "me leva para sua casa!", o Jack Nicholson! Senão para os meus ouvidos, apenas para o meu coração! A emoção me acertou em cheio quando eu vi aquela capa branca, brilhante, do DVD do clássico "O iluminado". Eu já procurava este filme como um pirata falido buscando desesperadamente o baú do tesouro orientando-se por mapa fajuto adquirido no Brás. - Quanto custa, moço? - apontei para o DVD me sentindo um garoto de cinco anos, com boné virado e língua de fora, babando por um novo modelo de videogame. - Dez mangos. - Que beleza! - Mas é pirata, hein? - advertiu-me estranhamente o vendedor. - Não importa! Este filme aí, vai até pirata! Um dia ainda compro o original, mas por hora levo este. Voltei para o Instituto. Na hora do almoço queria muito comer em algum restaurante ali do Bixiga, mas fiquei com medo dos preços. Minha colega e eu resolvemos ir a um lugar mais simples, comer um bifão. Depois do rango, perguntamos ao proprietário do restaurante onde podíamos encontrar uma LAN House ali perto. Passada a informação, fomos até lá para eu mandar um beijo para a garota que eu gostava na época. Ao sair do estabelecimento, escutamos helicópteros e sirenes. Uma barulheira infernal de polícia lá adiante. Ao passar enfrente um bar, soubemos pelos comentários dos frequentadores que havia acontecido há poucos minutos um assalto a banco! Pânico em SP! Na volta, o motorista parou em um posto diferente. Não era o Graal, mas era muito legal! A rima final foi intencional, entende, general? Havia inúmeros stands charmosos instalados na área externa. Parecia uma mini-cidade! Finalmente consegui comprar uma revistinha do Chico Bento! Chegamos de viagem por volta das onze da noite. Mais um dia na selva de pedra! 2009 - SOBREVIVENDO NO DESCONHECIDO * Antes da viagem Sábado, 25-09-2009 Eu já vinha planejando ir até a capital novamente há um bom tempo. Casa dos parentes, casa de amigos, "jornada informal"... qualquer que fosse o destino eu estava disposto a traçar. Certo dia, uma bela moça, cujo perfil eu tinha visitado uma vez, me mandou uma mensagem dizendo que tinha me visto no pub. Confirmou com um amigo em comum que era eu mesmo o cara da internet que a encontrou. Conversamos por alguns dias, houve piadas, histórias e até discussão! Fomos nos conhecendo mais, até que um dia acabamos combinando de nos encontrar. Foi nesta mesma noite que eu estava acabando de escutar o novo CD do Alice In Chains e fiquei bastante comovido com duas músicas: "private hell" e "black gives way to blue". Lindas músicas... E foi estranho. Era pra eu estar animado, vibrando por poder ter a chance de conhecer uma pessoa legal em São Paulo, mas eu chorava sem parar. As músicas me levavam às lembranças de momentos difíceis. Eu as escutava no escuro e as "cenas" chegavam flutuando como balões. Acontecia novamente: cenas, sons e palavras invadindo minha mente como se o conjunto daquilo fosse uma entidade me implorando para escrever uma mensagem. Só que desta vez foi diferente: quando eu acendia a luz para escrever algo as "cenas" iam embora. E mesmo que eu conseguisse me lembrar de algo, não conseguiria escrever com meus olhos inundados. Domingo, 26-09-2009 Logo de manhã liguei no hotel para fazer reserva e pesquisei possíveis horários de ida e volta no site da Danúbio Azul. Avisei a garota, dando detalhes e procurei adiantar bastante os afazeres da semana. Deu certo! A IDA Segunda, 27-09-2009 Acordei de manhãzinha e, como de costume, fiz as listas. Lista de objetos na mochila, lista de lembretes, lista de percurso, horários, preços, tudo perfeitamente planejado e organizado para evitar imprevistos. Pensei em pegar o ônibus das 13:10, que tinha previsão para chegar por volta das 19:00, mas fiquei com receio de atrasar a hora de chegada combinada no hotel, 21:00. Peguei então o ônibus das 10:50. Consegui dormir um pouco durante a viagem e foi um prazer a clássica passagem pelo "Castelo" em São Carlos... e lá se vão mais de vinte anos parando neste mesmo posto nas incontáveis viagens. Só que a ANTA aqui comeu no posto e esqueceu de comprar água para o restante da viagem! Totalmente desaconselhável para formadores de pedra! Cheguei em São Paulo por volta das 17:10, fui até o banheiro trocar a camisa por uma de mangas, redistribuir os acessórios nos bolsos e escutei uma conversa hilária de um homem de sotaque nordestino que certamente estava a falar no celular: "eles tão cagando ainda na casa dela, acredita? Filhos da puta! Vamo lá! Vamo lá um dia, esconder, catar os caras fazendo o serviço!...". Eu chorei largado enfrente a privada. Apesar de querer providenciar mais algumas coisas, minha preocupação era chegar logo à Conceição. Fui até um dos funcionários do Metrô perto da bilheteria e chequei uma suposta dúvida com ele de um jeito um tanto quanto peculiar... comprei o tiquetezinho que parece trident de baunilha e fui pra roleta. Entrei no metrô, dei uma olhada no "mapa" de percurso das estações e quase chorei. Era a penúltima estação, lá já meio "perto da casa do Judas, que perdeu as botas no meio do caminho". Pus o mp3 no colo e escutei uma pá de sons enquanto observava as manjadas caras desconsoladas de quem vive a vida daquele formigueiro brutal. Quando finalmente cheguei à estação, passei num Habib's ali perto para jantar. Fui até uma loja para comprar um presentinho e também à Lan House enfrente uma unidade do Carrefour, algumas quadras dali. Voltei para perto da estação já lá pelas oito da noite. Quando eu pensei em sacar o cartão do bolso para ligar para a menina, o clarão dum relâmpago surtiu como um apito inicial de jogo em que as gotas d'água são os atletas. Uma bela d'uma chuva e eu lá preocupado em proteger a mochila, ao invés de ficar de ceroula e brincar no aguaceiro. Esperei uns bons minutos embaixo do toldo de um trailer, acompanhei centenas de pessoas circulando às pressas, andando pelas calçadas e se molhando em pontos de ônibus sem cobertura. Quando a chuva enfraqueceu, liguei para ela, que ficou surpresa quando eu disse que JÁ ESTAVA na estação! Fiquei enfrente o Habib's e minutos depois ela chegou. Buzinava sem sucesso pois graças ao emaranhado de buzinas loucas daquele trânsito, eu não a percebi ali. Não conseguia esconder minha alegria! Ela me levou até o hotel e combinamos de nos ver mais tarde. Cheguei ao hotel EXATAMENTE NA HORA marcada! Parecia coisa de filme do Jason Bourne! Ao chegar no hotel, fui informado que eles NÃO ACEITAM Mastercard. É mole? Perguntei à recepcionista se existia ATM do Santander ali por perto. Ela me explicou que o mais próximo era o do Aeroporto, umas duas quadras dali. Lá estava eu fazendo percurso de desenho "cabo de guarda-chuva" para chegar ao Aeroporto. Parecia impossível chegar até lá sem ir pela passarela, a não ser que eu escalasse os canteiros e arriscasse rasgar os braços. Como eu não estava em horário de expediente, não me interessei em correr este risco. Preferi correr outro risco, o "composto": atravessar a passarela, dizer "boa noite" a um canão sorridente, ter um colapso lá no meio da passarela ou cair da mesma, ao tentar dar tchauzinho para os carros. Chegando, apressado, dei uma checada pra localizar os caixas ao mesmo tempo que dava uma ol4hadela nas lojas. Vi uma loja de brinquedos e entrei para ver se tinha algum presente por ali. Conversei com a vendedora, perguntando onde ficavam os caixas eletrônicos. Ela me ensinou o caminho. Localizei os ATMs de praticamente qualquer banco que exista nos grandes centros. Ali também, o caixa resolveu me comer uns metros de paciência. Pensei que era só o do Shopping de minha cidade que tinha este hábito. Conversei com o infeliz até ele soltar a grana, como de costume. E também como de costume, pessoas olharam com receio, ou, no mínimo, curiosidade. Tive que manter o nível na "conversa duradoura" apenas. O stand da polícia militar era BEM AO LADO, então descer a porrada na encrenca da máquina, nem pensar. Quando finalmente a máquina fez o favor de liberar o dinheiro, fui embora. Quer dizer, ia. Fui até o banheiro, pus uma parte da grana na "carteira falsa" e distribuí o restante entre bolsos e meias. Passei novamente na loja de brinquedos comprei o presente. Quando fui pagar, algo me chamou a atenção: moedas de chocolate no formato de UM REAL! Perguntei à moça quanto custava e dei risada quando ela respondeu. "Vinte e cinco centavos, moço". Eu disse: "que injustiça, a moeda de chocolate vale menos que a própria moeda!". Obviamente era uma brincadeira, pois se um bombom vale entre setenta e oitenta centavos, não teria cabimento um "disquinho pequeno de chocolate" valer mais que isso. De volta ao hotel, deixei a diária paga, fui até o 241 e examinei-o. Era ajeitadinho e confortável, gostei. Mas o que gostei de verdade era a vista da sacada. Dali conseguia uma panorâmica quase que cem por cento das idas e vindas dos Tams, Gols e similares a Congonhas. Tomei banho e desci para ligar para a moça. Algum tempinho depois ela chegou e fomos até um barzinho especializado em servir peixes. Como estávamos sem fome, pedimos uma Bohemia. Conversamos bastante e o papo foi tão agradável quanto os da Internet. E teríamos conversado mais no estabelecimento não fosse um atendente infeliz nos informar que as crianças o esperavam em casa e que o toque de recolher Hugochaveziano tinha expirado já há dez minutos. Saímos dali e tentamos ir até uma padaria que pensávamos ser 24 horas, mas não era. Acho que era umas vinte apenas. Havia funcionários na porta impedindo a entrada. Cheguei a pensar que a Hebe Camargo estava comprando algo no lugar e que aqueles eram seguranças. Mas o ridículo nome do estabelecimento costurado no lado esquerdo do peito fez desaparecer minha intriga e brotar a surpresa. Não eram tantos assim os locais "24 horas" como eu imaginava. Não encontramos nenhum outro lugar, então continuamos o papo ali na frente do hotel. Depois de algum tempo, não deu mais para segurar a vontade: cheguei perto e... bom, o resto é história. Ali ficamos por algum tempo. Depois ela foi para casa. Infelizmente. Ficaria ali com aquela moça horas e horas desfrutando da companhia agradável e do perfume dela... Entrei no hotel e conversei com o recepcionista por algum tempo. Peguei uma garrafa de água, subi as escadas e encontrei a faxineira na porta, que tinha acabado de limpar meu quarto. Ela estava surpresa! "Tava limpinho e organizado, muito raro achar hóspedes assim". Eu expliquei para ela que minha mãe ensinou meu irmão e eu desde pequenos a fazermos as coisas em casa, afinal ela trabalhava. A faxineira foi embora e eu fui até a sacada, escutar um pouco de rádio e apreciar o movimento da rua e dos aviões. Escutei uma rádio muito boa, que ainda não conhecia: Alpha FM. Programação bastante agradável, semelhante à da Diário FM, de Ribeirão. Escutei também algumas outras que eu já conhecia bem: Kiss FM, Brasil, Antena 1 e a Sulamérica Trânsito. Uma outra que me chamou a atenção foi uma tal de "Mitsubishi FM", que, pelos anúncios, parecia ser rádio para a elite da elite da elite: campos de golf, safras chianti em oferta, hugo boss (anúncio de PERFUME em RÁDIO... achei o cúmulo). Quando o movimento ficou menor, entrei e assisti um pouco do filme "Dr. Dolittle" (Eddie Murphy) no Universal Channel e dormi. Terça, 28-09-2009 - Café Acordei e fui descendo as escadas, procurando plaquinha que dizia algo como "café da manhã por aqui" ou "salão do café". Cheguei ao térreo e à esquerda do balcão da recepção, algumas mesas e pessoas comendo. Não vi nenhuma estufa, nem mesa com alimentos ou qualquer coisa do tipo, então perguntei à recepcionista: "onde é servido o café?". Ela respondeu: "aí mesmo onde você entrou". Quando eu virei para ver de novo percebi um outro cômodo. Lá estavam os mantimentos matinais me esperando em silêncio! Por eu não ter observado a outra sala, concluí o quanto a pergunta soou idiota. Imaginem o perigo! Se alguém escuta, acha engraçado, gargalha com a boca cheia e engasga. Eu ia ficar com remorso! - Aeroporto Depois da refeição, fui até o aeroporto dar mais uma volta e conhecer outras partes onde, na pressa, não tive condições de ver no dia anterior. Novamente fiz o "desenho de cabo de guarda-chuva": andei duas quadras na Washington Luís, peguei a passarela para atravessar e adentrei o local. Eu fiquei paralisado ao escutar uma voz feminina nos falantes anunciando voo. Era uma voz mole, de entonação ridícula, de quem fazia aquilo contra a vontade e sem experiência alguma. Não estamos falando de uma feira, nem teatrinho escolar, nem rádio pirata! Trata-se de um importante Aeroporto Internacional e, por isso mesmo, não acreditei na precariedade sonora que presenciei! Situação semelhante se passou ao escutar avisos em inglês. Esta sim, uma boa voz, masculina, com boa entonação e compassada. Mas o sotaque era de matar! Parecia coisa de aluno preguiçoso de aulinha de inglês do Ensino Fundamental! Quase fui lá na sala dos comunicadores me oferecer para fazer os anúncios voluntariamente! Tava duro de escutar! Eu ri de uma outra coisa que observei. Quase chorei mesmo quando, ao subir a escada e ver os dois painéis virtuais verticais próximos à entrada de embarque. No dia anterior, havia uma apresentação animada bastante interessante, cuja marca ou produto já não consigo me lembrar. Mas hoje flagrei uma telona preta do WINDOWS XP carregando! Mais anti-ético, impossível! Eles podiam manter os painéis apagados antes do computador carregar o aplicativo dos anúncios! No mínimo! Passando novamente pelo corredor das lojas, vi uma bomboniére com uma funcionária/modelo/manequim que me chocou pela forma que trabalhava. Ela usava uniforme com o logotipo da marca de um chocolate (não me lembro qual) e permanecia simplesmente parada, como um boneco, como se para, por meio da beleza fabricada, chamar a atenção dos magnatas cachorrões que pudessem passar na frente da loja. Estranhíssimo. A moça se mexia MUITO POUCO. Quase não mudava a expressão e nunca conversava. Só mexia um pouquinho para ajeitar a bolsa a tiracolo, tipo estudante, sabe se lá pra quê servia aquele raio de bolsa. Estranhíssimo... Circulando pelo aeroporto, escutei vários idiomas, observei estilos bastante variados de se vestir: europeus, muçulmanos, judeus, orientais. Alguns brasileiríssimos também, todos pareciam ser músicos, com suas roupas coloridas, colares, acessórios, cabelos e calçados. Por falar nisso, próximo do corredor de desembarque, me deparo com, nada mais nada menos que CHICO CÉSAR chegando! Ele estava com roupas tão simples e quase idênticas às minhas: camiseta, calça jeans, jaqueta jeans e tênis baixo. O rapaz já não é nada bonito e com aquela expressão de "se chegar perto, dou uma porrada!", dava medo! E por isso eu entendi perfeitamente porque ele circula SEM SEGURANÇAS. Parei um pouco para descansar e me sentei em um dos bancos enfrente uma das saídas do Aeroporto, que dava acesso aos pontos de táxi. Aproveitei para escutar um pouco das FMs de São Paulo que gosto. Entre as trocas de estação uma bela surpresa! "Black Hole Sun" do Soundgarden, tocando provavelmente na Kiss FM! Grande som, tinha saudade desta música... - Lan House Perguntei à recepcionista onde eu poderia encontrar local para acesso à Internet. Ela disse: "no Aeroporto". Eu disse: "que interessante... acabo de vir de lá", enquanto pensava: "oooooooo caraio de asa!". Ela me deu as dicas: "no Aeroporto é mais caro. No supermercado (que não me lembro o nome) custa menos". Não fui em nenhum dos dois. Fui até uma outra LAN House com o nome nada criativo de"Cyber Café". Ao pedir uma máquina para usar, a moça me pediu RG e CPF para o cadastro. Perguntei se era realmente necessário. Ela disse que sim, citando o regulamento e também uma lei (que desconheço). Em contrapartida, pedi nota fiscal do serviço, para ter como prova. Na nota tem o número do CNPJ da empresa. Antes de utilizar o PC para qualquer outro tipo de serviço, salvei telas da lista do gerenciador de processos e mandei pro e-mail. Só mesmo sendo "computeiro" para entender o porquê desta ação. - Vistorias Voltei para o hotel. Quando subia as escadas, reparei algumas portas diferentes, de vidro, nos andares. Devido à claridade, pareciam ser conexões para áreas externas. Disfarçadamente fui até a porta do primeiro andar e experimentei a maçaneta. Estava aberta. O espírito de "caçafantasma" encheu meu bucho de coragem e frenesi. Não tinha nenhuma placa de "entrada proibida", portanto, não hesitei e entrei. Encontrei algumas latas com água e virei, xingando os funcionários do hotel. Dali dava para ver a área de alguns edifícios próximos. Encontrei uma fonte com um pouco de água. Ambiente propício, chuva, calor, centenas de pessoas de outras regiões possivelmente assoladas pela Dengue. Olha só a merda feita! Perigosíssimo! Após verificar as outras portas transparentes, desci até a recepção querendo falar um monte pros caras. No entanto, pensei duas vezes e achei que isto poderia complicar minha vida. Se eles encontrassem posteriormente algo quebrado ou roubassem algo do hotel, poderiam pensar que o culpado era o "fução" do 241. Então, ao invés de falar com eles, fui direto à sala de café da manhã (em plena TARDE!) para pegar uns vinte sachês de SAL para tratar a água da fonte. Infelizmente não tinha sal, só açúcar! Não tive condições de fazer nada. Horas mais tarde, no ônibus, voltando para minha cidade, dei um cascudo em mim mesmo e falei "que burro!". Eu deveria ter ido até a fachada do edifício da fonte, anotado o número do telefone e falado severamente com quem atendesse. Às vezes o "miolo" não funciona tão eficientemente quanto a gente gostaria. - Padaria Saí de novo. Estava muito nervoso para ficar no hotel. Resolvi ir à padaria petiscar. Tem uma padaria perto do hotel que parecia ser boa. E é! Pedi um assado quatro queijos e um expresso. E foi o melhor assado de queijo que já comi na vida! E um preço relativamente baixo! Gostei tanto que pedi outro. Raramente como dois salgados. Um dos atendentes, um garoto pernambucano fazia um comparativo da situação das drogas na capital paulista e na pernambucana. Ele dizia que lá existiam grandes plantações de maconha e que ninguém se atrevia a acabar com elas. Eu citei o caso de uma idosa cigana da região que apareceu no jornal por causa de um fato que fizeram se transformar em escândalo. Ela tinha um pezinho de maconha no quintal e fazia uso recreacional da planta. A polícia foi arrancar a muda e levaram a idosa até a delegacia para prestar esclarecimentos. Expressei a indignação que tive ao saber que tal coisa aconteceu com esta pessoa que não fazia mal a ninguém e usava a erva quieta no canto dela. Os garotos da padaria riram da história! Ou da minha opinião, sei lá... Fui até o caixa, paguei a conta, comprei uma "aquarium", um pacote de bolacha e uma trufa. Quando voltava da padaria, liguei para a garota. Ela disse que viria até o hotel depois do almoço. Aproveitei para assistir um pouco de TV. O Rock Gol da MTV estava hilário. Depois vi alguns clipes na própria MTV, na Multishow e na VH1. Anotei o nome de algumas músicas que gostei. - Visita Logo tocou o telefone e a recepcionista informava que a moça estava subindo. Abri um sorriso de orelha a orelha e fui até a porta. Lá estava ela, linda, sorridente e perfumada. Perguntei se ela gostaria de conversar ali no hotel ou preferia ir para outro lugar. Ela respondeu que tanto fazia, então sugeri ficarmos no quarto. Quando ela se sentou, entreguei a trufa e começamos a conversar. E passamos mais algumas horas agradabilíssimas juntos. E a esta altura, uma das raras coisas que eu tenho para reclamar desta minha estadia na capital: o pouquíssimo tempo que tive para poder desfrutar da presença dela. Eu já tinha isto em mente, mas nem ficava lembrando para não ficar triste. Mostrei a ela algumas músicas que eu tinha gravado e ainda não tinha publicado na Internet. As horas passavam como minutos. O motivo de escrever este texto pouco tempo após os acontecimentos foi recordar o máximo dos detalhes de cada situação. Fiz para não correr o risco de esquecer, caso escrevesse algum tempo depois. E é exatamente por este motivo que os momentos em que passei junto da companhia dela dispensam maiores detalhes. Estava chegando a hora de ir e eu comecei a arrumar as coisas. Depois de checar uma, duas, CINCO vezes cada cantinho do quarto para ver se não esquecia nada, a gente desceu as escadas. - Despedida Definitivamente, o momento chato de qualquer encontro. Ainda mais chato despedir-se de uma pessoa tão agradável! Agradeci a ela pela companhia, atenção, carinho e fui até a estação. Comprei o tíquete e fui até a "Tietê", fazendo o percurso contrário e, novamente, escutando várias músicas enquanto a "régua" de estações ia correndo. *A VOLTA Chegando ao Terminal, certifiquei-me do horário e plataforma para não haver qualquer imprevisto. Como tinha algum tempo ainda para o ônibus, me dirigi até o espaço de diversões eletrônicas. Na Lan House, para utilizar quinze minutos de internet, pagava-se TRÊS REAIS! Caralho, isso é que eu chamo de roubo! Fui até a área dos fliperamas. Quase chorei! Quase chorei! De novo! Uma versão arcade do Guitar Hero! Paga-se um real por uma ficha para jogar por cinco minutos! As pessoas que jogavam escolhiam bandas que eu adorava! Iggy Pop and the Stooges, Guns N'Roses, Alice in Chains! Ao passar por outras máquinas, outras boas surpresas: algumas delas eram equipadas com tecnologia (inédita até o momento, para mim) de sensores que detectam os movimentos do corpo. Havia máquina de tiro e outra de boxe. Na de tiro, o jogador podia literalmente agachar e desviar de lado para evitar os tiros. E a de boxe, a pessoa podia se esquivar dos golpes da máquina com movimentos reais do corpo. Lá havia também uma "ala" de jogos clássicos, de quinze, vinte anos atrás. Os primeiros do Street Fighter, o primeiríssimo Mortal Kombat, algumas versões dos antigos King Of Fighters e uma que eu não acreditei quando vi: um fliperama do SPACE INVADERS! Atari! Jogo de mais de trinta anos atrás, ali, junto com outros moderníssimos! Passei por uma loja de souvenirs e vi umas katanas e foices chinesas MARAVILHOSAS! Se eu tivesse uns mil e quinhentos sobrando, levava uma, de baia bordada com fios dourados. Lindíssima! Passei numa loja de discos mas não encontrei nenhum álbum interessante. A vendedora (que parecia ser dona) colocava só música evangélica para tocar. O saião e o cabelão dela evidenciavam tudo. Quando colocou música diferente, aí cagou de vez: Eduardo Costa! Eu ia dizer que hábitos do tipo podiam afugentar clientes, mas aí certamente ela ia querer discursar sobre a importância e intocabilidade dos louvores de Cristo. Ficaríamos lá até três da manhã trocando argumentos. "Vazei na braquiara". Dez para as dez da noite o Danubião tava lá, chegando. Embarquei e fiquei acordado, escutando o MP3 até passar pelo perímetro urbano. Depois apaguei e fui acordar três da madruga, na rodoviária da minha cidade. FIM COLETÂNEA 'SAMPA' (trilha sonora sugerida) Ozzy Osbourne Ozzy Osbourne Ozzy Osbourne Ozzy Osbourne Guns N Roses Black Sabbath Black Sabbath Black Sabbath Stone Temple Pilots Led Zeppelin Nirvana Nirvana Nirvana The Smiths Alphaville Soft Cell Soundgarden Soundgarden Soundgarden Jerry Cantrell Jerry Cantrell Legião Urbana Alice in Chains Alice in Chains - I Just Want You Over the Mountain Back on Earth Mr. Crowley Back Off Bitch Iron Man Born Again Sabbath Bloody Sabbath Plush Black Dog Lounge Act Dumb Very Ape How Soon is Now Big Japan Tainted Love Outshined Jesus Christ Pose Black Hole Sun Solitude Psychotic Break Monte Castelo Lesson Learned Private Hell