ANÁLISE AUDITIVA/ ACÚSTICA DAS VOGAIS POSTÔNICAS [I, U] NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO
Aluna: Fernanda Wermelinger Rocha
Prof. Orientadora: Adriana S. Marusso
Universidade Federal de Ouro Preto
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi analisar foneticamente a redução vocálica de [I,U] em posição
postônica, caracterizando sua qualidade em seus aspectos auditivo e acústico, cotejando esses
dois aspectos e desvelando conseqüências desta redução nos padrões rítmicos da língua. O foco
de seu esforço analítico se concentra no Português do Brasil, em sua modalidade falada nos
municípios mineiros de Ouro Preto e Mariana. Estas análises vêm a elucidar aspectos peculiares
do dialeto mineiro, enriquecendo assim sua compreensão, auxiliando futuras pesquisas no ramo.
A partir de um embasamento teórico e de treinamentos de extrema importância para o transcorrer
deste trabalho, fizemos a coleta dos dados utilizados - exemplos de palavras bissílabas e
trissílabas com estrutura silábica CVCV (Consoante + Vogal + Consoante + Vogal).
Posteriormente, com esses dados em mão, seguimos para a elaboração do experimento que seria
utilizado para uma gravação em estúdio com frases que continham os exemplos a serem
estudados. Após está etapa, passamos para a busca por informantes do sexo feminino, entre 20 e
40 anos, residentes das cidades de Ouro Preto ou Mariana. Com a gravação pronta, chegamos a
etapa mais densa e delicada desta pesquisa: as análises auditiva e acústica. A análise auditiva,
como o próprio nome diz, consistiu em ouvir as sentenças com os exemplos desejados e analisálos. Já a análise acústica foi feita com o programa de computador PRAAT 4.0.2, desenvolvido
por BOERSMA, P. & WEENINK, D. PRAAT 4.0.2. a system for doing phonetics by computer.
Web site: www.praat.org. Copyright © 1992-2001. SIL encore fonts: © 1992-1998 Summer
Institute of Linguistics, especificamente para este fim. A partir do cotejo de ambas as análises,
todos os objetivos fixados em nosso projeto inicial foram alcançados. Com a análise dos dados
disponíveis, pudemos caracterizar acústica e auditivamente as variantes pós-tônicas de /i/ e /u/ do
português do Brasil, percebendo uma centralização e um fechamento das mesmas, além de
verificar não haver influência das vogais precedentes e seguintes sobre as vogais em estudo,
metas centrais que regeram todo o trabalho.
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ANÁLISE AUDITIVA/ ACÚSTICA DAS VOGAIS POSTÔNICAS [I, U] NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO
Aluna: Fernanda Wermelinger Rocha
Prof. Orientadora: Adriana S. Marusso
Universidade Federal de Ouro Preto
Esta pesquisa foi uma continuidade dos estudos feitos pela Prof. Adriana Marusso em seu
doutorado, e almejou analisar foneticamente a redução vocálica de /i,u/ em posição pós-tônica,
caracterizando sua qualidade/ quantidade em seus aspectos auditivo e acústico. Foram analisadas
as variantes postônicas [I,U] no português padrão falado nas localidades de Ouro Preto e Mariana
– M.G. O objetivo principal desta pesquisa foi analisar a redução vocálica das vogais
supracitadas e suas influências no padrão rítmico da língua.
A primeira parte desta pesquisa foi a leitura de textos teóricos para que tivéssemos o
embasamento necessário para os estudos subseqüentes. Num segundo momento, passamos por
um treinamento, baseado na leitura dos textos: LADEFOGED, P. Acoustic Phonetics. In: A
Course in Phonetics. 3rd edition. Orlando: Harcourt Brace College Publishers, 1993 e
MARUSSO, A. A Redução Vocálica: Estudo de Caso no Português Brasileiro e no Inglês
Britânico. Tese de Doutorado, FALE/UFMG, 2003.
A partir das leituras e do treinamento, foi possível executar a coleta dos dados da pesquisa.
Esta coleta se dividiu em dois momentos. O primeiro foi a elaboração do experimento, e o
segundo, as gravações. Para a elaboração do experimento foi necessário selecionar exemplos para
compor o mesmo. Estes exemplos deveriam ser bissílabos com estrutura silábica CV.CV, com
[I,U] em ambas as sílabas ou apenas terminados em [I,U] (ex.: Bife; Note e Pulo; Gato) e
trissílabos com estrutura silábica final em CV.CV, com [I,U] em todas as sílabas ou apenas em
duas delas (ex.: Nítido; Túmulo). Foram escolhidas estas estruturas para que a análise fosse mais
clara e simples, evitando assim efeitos co-articulatórios. Também foram evitados exemplos como
“ramo”, onde a vogal anterior vem seguida de uma consoante nasal, o que pode interferir na sua
qualidade. O experimento consistiu em uma lista de diversas frases, de vários tipos, intercaladas
com as frases portadoras (ex.: “DIGA _____________ DUAS VEZES.”
e
“ELE
DIZ________?”) onde foram inseridas as palavras que seriam analisadas. Com a leitura destas
frases, não seria possível que o informante percebesse o que estava sendo estudado na pesquisa,
não podendo assim interferir, de alguma forma, na pronúncia dos exemplos.
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As gravações (segundo momento da coleta de dados) foram realizadas em um estúdio da
rádio UFOP, sob a supervisão da Prof. orientadora, com duas informantes voluntárias, entre 20 e
40 anos, nascidas e moradoras nas cidades de Mariana e Ouro Preto. Essas gravações foram
inicialmente registradas em MD, e depois copiadas para um CD-ROM, com intuito de possibilitar
a análise através do programa PRAAT 4.0.2.
A partir desta coleta, foram feitas as análises auditiva e acústica dos dados. Para a análise
auditiva foram ouvidas as sentenças com os exemplos bissílabos que continham as vogais [I] e
[U] em posição tônica e pós-tônica (ex.: Diga BIFE duas vezes.; Ele diz BIFE?), e os exemplos
trissílabos, com as vogais [I] e [U] em posição tônica, pós-tônica medial e final ou apenas em
duas das sílabas (ex.: Diga NÍTIDO duas vezes.; Ele diz NÍTIDO?). Foram analisadas essas
sentenças pois é mais objetivo, seguro e até mesmo simples analisar a qualidade/ duração dessas
vogais em palavras onde as mesmas apareçam em ambas as posições (tônica e pós-tônica), do
que se optássemos por analisá-las em palavras onde essas vogais apareçam “separadas”, por
exemplo, RITA vs. BATE. As sentenças foram ouvidas por três pessoas, em torno de cinco vezes
cada uma, para que pudéssemos observar semelhança/ diferença (caso houvesse) entre a tônica e
a(s) vogal(is) pós-tônica(s). A planilha utilizada para anotações continha quadros para
comparação, indicando se a duração (quantidade) e a qualidade das vogais eram iguais ou
diferentes.
Após a análise auditiva foi possível realizar a análise acústica. Esta análise foi realizada
com o programa PRAAT 4.0.2©1 para que, ao final desta, pudéssemos cotejar ambas as análises
para chegar ao resultado desta pesquisa. Começamos as medições pelos exemplos que tinham I e
U tônicos e postônicos (ex.: bife e muro/ nítido e cúmulo) para que pudéssemos ter os tônicos
como referência e saber se os postônicos eram distintos ou não, para então medirmos os demais
exemplos (ex.; bate e gato/ rótulo).
A partir da análise dos dados mostrados anteriormente, foi possível verificar
quantitativamente que: a partir das médias obtidas, a duração da vogal átona é mais curta do que
a duração da tônica em ambas as posições na sentença, para ambos os grupos de palavras;
comparando a mesma palavra em posição final e medial no enunciado, verificamos uma
compressão tanto da vogal átona quanto da vogal tônica (que se apresenta mais longa em
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desenvolvido por BOERSMA, P. & WEENINK, D. PRAAT 4.0.2. a system for doing phonetics by computer. Web
site: www.praat.org. Copyright © 1992-2001. SIL encore fonts: © 1992-1998 Summer Institute of Linguistics.
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bissílabos do que em trissílabos) - isso nos dá um resultado interessante para posteriores estudos
do ritmo; as postônicas mediais são mais curtas que as postônicas finais; com relação ao
enunciado, verificamos que a postônica final em posição medial no enunciado é mais curta que a
postônica final em posição final no enunciado, fator que acontece devido a influências rítmicas.
Já com relação à qualidade, verificamos dados interessantes que serão mostrados abaixo,
juntamente com os gráficos de dispersão das vogais aqui estudadas. Começaremos pelo gráfico
de /i/ em posição medial no enunciado:
Dispersão de /i/ em posição medial
F2 em Hz
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0
50
150
200
250
F1 em Hz
100
i TÔNICO
I POST. MED.
I POST. FIN.
300
350
400
Observando o gráfico, verificamos que há uma posteriorização da vogal /I/ em posição
postônica medial e final, quando comparadas com a mesma vogal em posição tônica. A partir dos
valores do primeiro e segundo formantes (F1 e F2, respectivamente), pudemos observar que as
vogais postônicas são mais fechadas e centralizadas do que a vogal tônica.
Em seguida temos o gráfico de /i/ em posição final no enunciado:
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Dispersão de /i/ em posição final
F2 em Hz
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0
50
100
200
250
F1 em Hz
150
i TÔNICO
I POST. MED.
I POST. FIN.
300
350
400
450
Observamos uma grande diferença entre este gráfico e o anterior. A partir dos valores de
F1, verificamos que a vogal tônica é mais aberta que a átona. Já com relação ao F2, verificamos
que as vogais postônicas mediais e finais apresentam-se mais centralizadas, enquanto a tônica
apresenta-se anteriorizada.
Agora, observemos o gráfico de /u/ em posição medial no enunciado:
Dispersão de /u/ em posição medial
F2 em Hz
2000
1500
1000
500
0
0
50
150
200
250
F1 em Hz
100
u TÔNICO
U POST. MED.
U POST. FIN.
300
350
400
Verificamos aqui que as vogais postônicas se apresentam mais fechadas que as tônicas
(valores de F1) e que, de acordo com os valores de F2, a tônica apresenta-se mais posterior que a
postônica medial. Esta, por sua vez, apresenta-se mais posterior que a postônica final.
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E finalmente, temos o gráfico de /u/ em posição final no enunciado:
Dispersão de /u/ em posição final
F2 em Hz
2000
1500
1000
500
0
0
50
100
150
200
250
F1 em Hz
2500
u TÔNICO
U POST. MED.
U POST. FIN.
300
350
400
450
Neste gráfico podemos verificar, a partir dos valores de F1 e F2, que a vogal tônica
apresenta-se mais aberta e posterior que as postônicas. Já as postônicas tendem a ser mais
centralizadas. Apesar de a vogal postônica medial compartilhar com a tônica a faixa do F1, seus
valores de F2 são diferentes.
CONCLUSÃO
Verificamos assim a centralização e o fechamento das vogais [I,U] em posição postônica no
Português Brasileiro, em sua modalidade aqui estudada. Isso se dá em função da distinção entre
as vogais [E,O], que são mais centralizadas e abertas.
Quanto à quantidade, verificamos que: a vogal átona é sempre mais curta do que a tônica;
em palavras trissílabas, as postônicas mediais são mais curtas que as postônicas finais; quanto a
posição no enunciado, a redução das postônicas é maior quando estas se encontram no meio da
sentença (do que em posição final na sentença); e devido a fatores prosódicos, a postônica se
assemelha mais a tônica quando está em posição final no enunciado, devido ao alongamento final
e ao alongamento da palavra que carrega o acento frasal.
Cotejando ambas as análises (auditiva e acústica), verificamos que tais observações são
perceptíveis ao ouvido humano e condizentes com a verificação acústica. Assim, temos que as
variantes átonas se diferem das suas correspondentes tônicas no Português Brasileiro, em sua
modalidade aqui estudada.
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Fernanda Wermelinger Rocha