BRIGAS ENTRE
ADOLESCENTES NA
ESCOLA:
A ADOLESCÊNCIA,
O MAL-ESTAR E
O OUTRO
PROPOSTA :

CONCEITUAR A ADOLESCÊNCIA;

CONTEXTUALIZAR A ADOLESCÊNCIA;

DENTRO DO CONTEXTO ÉTICO-POLÍTICOECONÔMICO
VIVIDO,
QUAL
É
A
CONCEPÇÃO
DE
SER
HUMANO
EXPERIENCIADA
E
QUAIS
SUAS
IMPLICAÇÕES SOCIAIS?

A ESCOLA E A ADOLESCÊNCIA:
DA PREOCUPAÇÃO INDIVIDUAL À
INDIFERENÇA COLETIVA;

O OUTRO DO PONTO DE VISTA DA
ESCOLA;

A PEDAGOGIA CRÍTICA COMO
POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO
DE UM OUTRO REFERENCIAL DE
SER HUMANO.
Folha de São Paulo, 05/05/04, pág. C-6:
Um estudante de 15 anos teve sua
mandíbula fraturada, passou por cirurgia e
sofreu uma parada cardíaca após ser espancado
por um grupo de quatro adolescentes, um deles
de 14 anos, dentro da escola estadual Domingos
João Baptista Spinelli, em Ribeirão Preto (314
km de SP). [...] A agressão ocorreu na última
quinta, no intervalo das aulas. Foi o quinto caso
de violência em escolas públicas da cidade
no mês. Segundo a mãe da vítima, a donade-casa Aparecida Donizete Antônio dos Reis,
seu filho foi agredido porque teria tentado
defender um amigo que assediou a namorada
do principal agressor. Ele levou um soco, caiu e
recebeu pontapés na cabeça e no rosto...
Folha de São Paulo, de 25/05/04, pág. C-1:
Uma menina de 16 anos matou uma
colega de 17 com uma faca de
açougueiro ontem dentro de uma escola
pública de Planaltina, Distrito Federal,
pela manhã. Segundo Reginaldo Borges,
delegado-chefe do DCA (Delegacia da
Criança e do Adolescente), F., 16, disse
que teve uma briga no sábado com C.,
17, pois estava com um ex-namorado da
vítima numa festa de aniversário. [...] No
domingo, F. teria decidido matar a colega
na escola.
Folha de São Paulo, de 03/06/04, pág. A-15:
A polícia vasculhou e-mails, examinou
mensagens de celular e investigou
relatos sobre
uma disputa no pátio
de uma escola, anteontem, em busca
da razão que levou ao assassinato
sangrento de uma menina de 12 anos, por
uma colega de classe, no sul do Japão.
[...] Na terça-feira, a suposta assassina,
uma menina de 11 anos, levou Satomi
Mitarai a uma sala de aula vazia na hora do
recreio, decepou seu pescoço e seus
braços com um estilete e a deixou sangrar
até morrer.
O diretor da escola, ..., contou que uma
professora
encontrou
o
corpo
ensangüentado de Mitarai numa sala de
aula do terceiro andar depois de a
suspeita ter voltado para baixo, suja de
sangue.
[...] “ Os pais [da suspeita] disseram que
não tiveram trabalho em sua criação, que
suas notas são boas e que é uma menina
confiável e esforçada”...
[...] De acordo com o site do jornal
“Asahi Shimbun”, a suposta assassina
teria dito aos investigadores: “Não achei
graça do que ela escreveu na homepage, então a chamei para fora da sala
de aula. Eu pretendia matá-la” ...
O que é adolescência?
A adolescência é um processo
que ocorre durante o
desenvolvimento evolutivo do
indivíduo, caracterizado por
uma revolução
biopsicossocial.
O processo adolescente marca
a transição do estado infantil
para o estado adulto. As
características
psicológicas
deste movimento evolutivo, sua
expressividade e manifestações
ao nível do comportamento e da
adaptação
social,
são
dependentes da cultura* e da
sociedade em que o processo
se
desenvolve
(Levisky
1998:21).
* Segundo Cohn (2005:19):
Cultura “é aquilo que faz
com que as pessoas possam
viver em sociedade
compartilhando sentidos,
porque eles são formados a
partir de um mesmo sistema
simbólico”.
Qual é o contexto vivido?
É o da Globalização. E o que é isso? É o
movimento constante de acumulação e
internacionalização do capital – próprio
à sua natureza. É hoje a forma
capitalista de expressão históricosocial. Esse movimento e reprodução
constante
do
capital
–
sua
universalização – provoca, de tempos
em tempos, crises sociais. Noções que
foram construídas historicamente tais
como direitos sociais e de igualdade em
sociedades democráticas precisam ser
destruídas
para
garantir
essa
acumulação.
Momento de
estruturação da
subjetividade, de
(re)estruturação da
identidade
Atual forma
capitalista
GLOBALIZAÇÃO
de
acumulação
de capital
O livre mercado é a
solução “natural” para
os problemas sociais
ADOLESCÊNCIA
CONTEXTO
VIVIDO
Reprodução
de um
modelo
identitário,
oferecido
socialmente
Mercantilização da Vida
Solipsismo
O vencedor é o mais
capaz, apto
O que se
torna senso
comum:
Diferentemente da geração dos
anos 60 até meados dos anos
70, os atuais adolescentes
vivenciam um outro paradigma
de ser humano...
Indivíduo
Para os jovens:
a busca por
espaço,
reconhecimento CONSEQÜÊNCIAS
Para as
gerações mais
antigas: a
perplexidade
Além da frustração
inerente ao processo
civilizatório, trabalha-se
com uma concepção de
ser humano que se basta
Único responsável
por seu sucesso e por
seu fracasso...
Indivíduo = Ser Humano
Uno e Isolado
Tempo das Tribos,
dos Iguais
Reforço de uma
Cultura Narcisista
A BUSCA POR RECONHECIMENTO
Entrevistador: Por que o Edson entrou na briga?
Tadeu: _ Porque nós somos quase irmãos, andamos sempre juntos,
onde um está, o outro está também. Se tivermos que apanhar
juntos...
O não reconhecimento da independência, da autonomia, por
parte dos adultos, empurra os jovens à vida gregária*. Entre esses
iguais, os pares, uma vida social. Uma vida que deseja ser
reconhecida, para tanto, esses grupos realizam ações que têm
múltiplos significados. Transgridem para fortalecerem laços grupais,
para marcar espaços, para se afastarem dos adultos.
Corroborando com esse raciocínio:
Entrevistador: Por que vocês acham que ocorrem mais brigas na
escola do que fora dela?
Edson: _ Tem uns que acham que é o PAM [o bom]. Não é nada.
Vilson: _ Eu acho que cada um quer ser alguém conhecido. Aí começa
a rolar disputa, popularidade na escola.
Ou ainda:
Entrevistador: Para vocês é importante que outras pessoas,
meninos e meninas, assistam vocês brigando? Sim ou não e
por quê?
Débora: _ Acho que sim, porque se virem a gente brigar não vão
querer arrumar confusão...
Anita: _ Ganha um certo ibope [prestígio].
Beatriz: _ Do mesmo jeito que você está arrumando briga, você está
evitando com outras pessoas, porque as pessoas que viram não
vão querer brigar com você, sabendo que você bate.
Esse comportamento aponta para buscas, por reconhecimento, por
filiação. É a busca do que está sendo negado socialmente no
cotidiano.
* Existem outras visões de adolescente, tais como o delinqüente, o
toxicômano, aquele que se enfeia e o barulhento que não são objetos
desse estudo. Consultar CALLIGARIS, Contardo, 2000: 35 a 53.
DESCARGA:
Anita: _ Durante a briga, eu senti na hora ódio porque eu vi a cara
da menina, daí foi na hora que eu peguei e já desci o gesso na
cara dela. Daí na hora eu comecei assim... vou falar a verdade:
senti prazer de bater nela e não queria parar de bater.
Edson: _ Na hora [da briga], eu nem penso nada, uma raiva do
caramba, aí a gente nem sente nada, não pensa em nada, soca
tudo, toma outro, aí fica mais nervoso ainda. Na hora nem pensei
em nada, depois fiquei pensando: “O que eu fiz?!”
Ou ainda:
Vilson: _ Eu acho que, eu penso que cumpri minha parte, não dei
uma de otário. Fico pensando isso. Quando eu bato em alguém,
depois de um tempo, eu fico pensando: “Por que eu fiz isso? Deve
ser culpa minha...” Me sinto culpado, assim...
A ESCOLA E O ADOLESCENTE
Para Vilma, respondendo se o diretor ajuda na
reflexão sobre adolescência:
Vilma: _ ... Não há presença nem da direção,
nem da vice-direção na questão desses
problemas que envolvem a sala de aula
propriamente dita; estas questões que são
consideradas mais pedagógicas, então, jogase para o coordenador pedagógico resolver. E
aí fica difícil porque nem sempre a gente tem
autonomia
para
acertar
determinadas
questões, para estar conseguindo um tempo
maior para discussões...
A relação com a direção é marcada por uma
definição bem clara, uns pensam o administrativo,
outros, sem autonomia, devem pensar o pedagógico.
Segundo Paro (2001: 117):
No senso comum de uma sociedade perpassada pela injustiça
social e constituída por
relações de dominação, os termos
direção, coordenação, supervisão, administração, costumam
aparecer associados a relações de mando e submissão, como
se a espécie humana fosse tão incapaz de autogovernar-se a ponto
de os seres humanos não poderem jamais conviver com
autonomia e em cooperação mútua. Mesmo na escola, ouve-se falar
menos em direção ou administração como mediações para a
realização de fins educativos e mais em diretores e em
administradores que mandam e determinam ordens a serem
obedecidas; menos em coordenação pedagógica como função
coletiva visando à melhor utilização de recursos e procedimentos
didáticos e mais em coordenadores ou supervisores pedagógicos,
prescrevendo práticas e prevendo rotinas a serem cumpridas.
A prática, dessa forma, é burocratizada. A vida escolar, o
currículo experienciado, é um fim em si mesmo.
Aparentemente inconseqüente, natural. As ações são
quase sempre individuais, raramente são coletivas.
Entrevistador:
Você acha que a escola, a instituição, o
grupo
de professores tenta
fazer alguma coisa no
sentido de evitar as brigas ou tentar
entender
as
brigas?
A
escola tem esse
olhar, tem essa
preocupação?
Ruth: _ A escola como um grupo não, porque a maioria dos professores
tem atitudes pessoais, cada um quer resolver a sua maneira.
Rosa: _ Eu acho que a escola não. A escola como um todo não.
Olga: _ Não, porque nos Horários de Trabalhos Pedagógicos Coletivos
(HTPC) esse assunto nunca é abordado, nunca é discutido entre o
grupo, é uma coisa que aparece: leva-se para fazer ocorrência, chamase os pais, mas é tratado individualmente, não no coletivo.
A escola Santa Clara do Noroeste tem um perfil autoritário,
já indicado por fala de uma das coordenadoras e essa visão
também é partilhada pelos alunos:
Edson: _ ... e esse diretor é folgado.
Entrevistador: Por quê?
Edson: _ Porque é folgado, é o maior ignorante esse cara.
Entrevistador: Ignorante em que sentido?
Tadeu: _ Eu tenho bronca dele, ele não deixa ninguém
explicar nada, ninguém falar nada.
Edson: _ Só ele está certo.
Nilo: _ Ele chega gritando.
Tadeu: _ Não sabe falar direito. Eu mesmo tenho raiva dele.
ESCOLA
RELAÇÕES
AUTORITÁRIAS
DIREÇÃO /
COORDENAÇÃO
PROFESSORES
ALUNOS
TRIBUTÁRIA
DO
POSITIVISMO
O ADULTO É
RESPONSÁVEL
PELO DEVIR DO
ALUNO
PODE CONTRIBUIR PARA A CONSTRUÇÃO
DE SUBJETIVIDADES COOPERANTES COM
A ORDEM ATUAL DOS VALORES
A
IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA
CRÍTICA PARA A ADOLESCÊNCIA
PARA A PEDAGOGIA
CRÍTICA
PROFESSOR,
PODERÁ SER O
MEDIADOR
DESSA
PASSAGEM
OUTRA, É O ENTENDER A SI
MESMO E ENTENDER A VIDA
CONHECER IMPLICA EM
INTERSUBJETIVIDADE,
INTERCOMUNICAÇÃO
EXIGE DIÁLOGO
PORTANTO, O
RECONHECIMENTO DA
EXISTÊNCIA DE SUJEITOS
ESSA É UMA DAS BUSCAS
DA ADOLESCÊNCIA
CURRÍCULO
CONSTRUÇÃO SOCIAL QUE
PREENCHE A EDUCAÇÃO DE
CONTEÚDOS E ORIENTAÇÕES
PRODUZ IDENTIDADES INDIVIDUAIS E
SOCIAIS PARTICULARES. NÃO É NEUTRO
SE HÁ ESPAÇO
PARA
POSICIONAMENTO,
PARA
QUESTIONAMENTO,
A REALIDADE PODE
SER REINTERPRETADA,
INVENTADA,
CONSTRUÍDA
NA PERSPECTIVA CRÍTICA, PODE
POSSIBILITAR INTERLOCUÇÃO, DANDO
VOZ A UM OUTRO QUE PRECISA SER
CONSIDERADO
DESSA FORMA, É UM DESAFIO NA
CONSTRUÇÃO DO SABER, DO
ENTENDIMENTO DO MUNDO COM
PARTICIPAÇÃO
DIÁLOGO
ABERTURA DO EU
PARA O OUTRO
O OUTRO NÃO
IGUAL
O OUTRO
NÃO IGUAL
DEVE
APARECER
EM TODA
SUA
DIMENSÃO
HUMANA
ABRE A
POSSIBILIDADE DA
CONSTRUÇÃO DE
UM OUTRO
PARADIGMA
PERMITE LEITURAS
CONJUNTAS,
CONSTRUÇÕES DE
ENTENDIMENTOS
COMPARTILHADOS
CRIA CONDIÇÕES
DE RELAÇÕES FACE
A FACE COM
QUALQUER OUTRO
QUE NÃO PODE SER
DESCONSIDERADO
BIBLIOGRAFIA
COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,
2005.
LEVISKY, David Léo. Adolescência – Reflexões Psicanalíticas. São Paulo,
Casa do Psicólogo, 1998.
CALLIGARIS, Contardo. A Adolescência.São Paulo, Publifolha, 2000.
DURKHEIM, Émile.Sociologia, Educação e Moral. Lisboa, RésEditora, 2001.
GUARESCHI, Pedrinho. Alteridade e Relação – Uma Perspectiva Crítica. In:
ARRUDA, Angela (Org.),Representando a Alteridade. Rio de
Janeiro, vozes, 2002.
PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre Educação. São Paulo, Xamã, 2001.
CLAUDEMIRO E. CLAUDIO
E-MAIL: [email protected]
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