1 FORMAÇÃO INICIAL DE EDUCADORES E EDUCADORAS DO CAMPO: ASPECTOS TEÓRICOS1 Eliane Miranda Costa2 Universidade do Estado do Pará - UEPA [email protected] Resumo: Este estudo procura socializar e discutir o conhecimento produzido na área da Educação do Campo, em especial, da formação inicial de educadores/as do campo, no período entre 2003 a 2010. O recorte temporal aqui selecionado tem como referência a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (2002). O objetivo é construir um inventário acerca das produções acadêmicas publicadas neste campo de investigação, sobretudo, no Estado do Pará, lócus deste estudo, de modo a apresentar e discutir o que vem sendo mais recorrente nas produções tanto em nível local como nacional, assim como evidenciar o que precisa ser explorado em relação à formação de educadores/as do campo. Caracteriza-se como um estudo de caráter bibliográfico, e restrito à produção acadêmica na área de Educação do campo, baseado nas seguintes fontes: produção discente de mestrado e doutorado do banco de resumos de dissertações e teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; artigos científicos no site do Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE, além de livros referentes a essa literatura publicados no período em estudo. Para fundamentar de forma teórica as discussões emitidas recorremos a autores como Arroyo (2010), Molina (2010), Munarim (2006), Hage (2010), entre outros. As discussões e análises das referidas produções levam-nos a inferir que a formação dos educadores/as do campo ainda se encontra no silenciamento, o que pressupõe a necessidade de políticas públicas educacionais que valorize e reafirme os educadores/as do campo como profissionais. Palavras-chave: Educação do campo. Formação Inicial de Educadores/as do campo. Produções acadêmicas. Eixo temático: Educação do Campo e Práticas Pedagógicas 1 O artigo integra a dissertação de mestrado em andamento orientado pela Profa. Drª Albene Lis Monteiro para o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade do Estado do Pará – UEPA. Cabe ressalvar que o conteúdo deste trabalho é de inteira responsabilidade do autor. 2 Pedagoga (UFPA), Especialista em Educação do Campo, Desenvolvimento e Sustentabilidade (UFPA) e discente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da UEPA. 2 INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo socializar e discutir o conhecimento na área de Educação do Campo, em especial, acerca da formação inicial de educadores e educadoras do campo, a partir da revisão de produções acadêmicas no período entre 2003 a 2010. O recorte temporal selecionado tem como referência a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (2002), a fim de se produzir um quadro das produções acadêmicas publicadas neste campo de investigação, sobretudo, no Estado do Pará, lócus específico deste estudo. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfica em que consistiu mapear dissertações e teses disponíveis no banco de dado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, bem como no site do Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino ENDIPE, além de livros referente a essa literatura que foram publicados no período em estudo referente à temática investigada. Nesta revisão procuramos identificar as principais questões presentes na literatura brasileira em relação à formação dos educadores e educadoras do campo, no intuito de apresentar um conjunto de informações sistematizadas sobre como a formação docente se configura no período anteriormente citado a partir das políticas/iniciativas desenvolvidas tanto em nível nacional como estadual. Estruturalmente, o texto apresenta três seções. Em Formação dos Educadores e educadoras do campo: o cenário brasileiro, apresentamos um mapeamento preliminar do cenário brasileiro das produções referentes à formação inicial de educadores/as do campo, a fim de evidenciar os níveis de produção por área, assim como, por instituições e regiões de maior abrangência. Na seção, Formação de educadores e educadoras do campo: o Pará em destaque, identificamos as produções acadêmicas referentes à formação inicial do educador e educadora do campo no Estado do Pará, no intuito de perceber qual o olhar que vem sendo destinado, por parte da academia aos educadores e educadoras do campo no estado do Pará. Ao finalizar, explicitamos o que mais vem sendo investigado e o que mais se precisa investigar acerca da formação dos educadores e educadoras que atuam nas escolas do campo. 3 Formação dos Educadores e educadoras do campo: o cenário brasileiro O cenário educacional presente no campo brasileiro é fruto de um longo processo histórico marcado pelo caráter dicotômico e reducionista resultante da política de manutenção dos interesses do paradigma dominante3. Tal paradigma “projeta o campo como a faceta atrasada da sociedade e a cidade como o lugar ideal para o desenvolvimento” (MUNARIM, 2006, p.19). Romper com essa lógica tem sido a bandeira de luta dos movimentos sociais do campo, em especial, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST que por meio da “Articulação Nacional Por Uma Educação do Campo” após manifestações, reivindicações e lutas tem conseguido colocar na agenda nacional a educação do campo como um direito humano. Para Molina (2010, p.370) “a ruptura com as tradicionais visões fragmentadas do processo de produção de conhecimento, com a disciplinarização da complexa realidade sócioecônomica do meio rural na atualidade, é um dos desafios postos à Educação do Campo”. A aprovação das Diretrizes Operacionais de Educação Básica para as escolas do campo em 2002 possibilitou a legitimação do direito a educação do e no campo, e com isso marcou uma importante conquista na história da educação dos povos que vivem e trabalham no campo. É pertinente ressalvar que a existência da lei por si só não garante a legitimação de uma educação do e no campo, é preciso fazê-la materializar-se, e isso ocorrerá por meio de constantes articulações e organizações dos sujeitos. Como alerta MacLaren (1997, p.72) “a justiça não existe simplesmente porque a lei existe. A justiça necessita ser continuamente criada e conquistada”. Diante da relevância da citada diretriz para o fortalecimento da educação dos sujeitos do campo é que centramos nosso recorte temporal no período de 2003 a 2009, com o objetivo de identificar no que se refere à formação do educador e educadora do campo, o que vem sendo proposto e ao mesmo tempo realizado no sentido de superar o ruralismo pedagógico e a hierarquização de conhecimentos materializados pela visão urbanocêntrica4. Neste sentido, nossas observações iniciais referem-se à quantidade de produções encontradas. Assim sendo, no banco de dados da CAPES encontramos 23 produções, das 3 Conforme Santos (2010), paradigma dominante “é o modelo de racionalidade que preside à ciência moderna constituindo-se a partir da revolução científica do século XVI e desenvolvendo-se nos séculos seguintes basicamente no domínio das ciências naturais (p. 20/21). 4 O termo urbanocêntrico aqui utilizado refere-se à visão de uma educação voltada para a reprodução do modelo didático-pedagógico utilizado nas escolas da cidade para as escolas do campo (HENRIQUES, 2007). 4 quais 18 são dissertações e 05 teses (Quadro 01) e no site do ENDIPE encontramos 07 artigos (Quadro 02). Quadro 01 – Produções: CAPES - Ano de defesa, níveis e totais na área. ANO DE DEFESA 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total DISSERTAÇÃO 02 05 03 05 03 18 TESE 01 03 01 05 TOTAL 01 02 05 06 05 04 23 Fonte: Banco de dados – Capes período: 2003/2009. Área: Educação do campo/Educação rural. Quadro 02 - Publicação dos Anais do XV ENDIPE: Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente, Belo Horizonte, 2010. ANO BASE 2010 Total ARTIGOS 05 02 01 07 INSTITUIÇÃO UFMG UFPA UFRS - REGIÃO Sudeste Norte Sul - Fonte: Banco de dados do Endipe Os dados ajudam a demonstrar que a formação do educador e educadora do campo apesar de ser uma questão reconhecida pelos movimentos sociais como elemento fundante na luta por uma educação do e no campo, ainda se manifesta na academia de forma muito incipiente, uma vez que, apenas 23 produções científicas fora encontradas. Ao considerar as produções (dissertações e teses) é importante ressaltar que todas enfatizam como necessidade a existência de uma formação específica para o professor e professora que atua na escola do campo, e para tanto, as políticas públicas são apontadas como a principal ferramenta. Nesse sentido, Arroyo (2010, p.482/483) nos alerta que “para um projeto econômico, político, social de campo não terá sentido formar educadores(as) docentes genéricos, com domínios de competências genéricos, válidos para qualquer contexto econômico, social, cultural. Sobretudo no tenso contexto político vivido pelos coletivos-povos do campo”. Molina assevera que (2010, p.396), O educador do campo precisa de uma formação que o habilite a refletir sobre sua experiência, comprometido com a luta, que considera o modo de produção da vida com o trabalho com a terra, com a água e com as plantas como digno e bom. O educador do campo precisa ter a compreensão da 5 dimensão do seu papel na construção de alternativas de organização do trabalho escolar. Tudo indica que a formação do educador e educadora do campo é um dos maiores desafios não só para a academia, como para o próprio educador e movimentos sociais. Uma vez que, reconhecer a formação como ferramenta necessária a construção de um campo e uma sociedade mais humana e solidária, é parte fundamental para construção de uma educação, ou melhor, de um profícuo projeto de sociedade capaz de romper com o modelo eurocêntrico positivista que se encontra fortemente presente na educação e na vida de cada sujeito. Podemos dizer que as produções de maneira tímida tende apresentar uma tendência que procura romper com o neutralismo das pesquisas positivistas. Os percursos metodológicos anunciado demonstraram que as produções tendem a seguir caminhos parecidos, isto é, mencionam que a abordagem é qualitativa, muito embora, em algumas explicitem elementos quantitativos, os instrumentos, quase sempre são: narrativas, história oral, entrevistas semiestruturadas, observação participante e questionários. O método informado é o dialético e a pesquisa quase sempre é a documental (Quadro 03). Quadro 03 – Metodologia utilizada nas produções Abordagem Qualitativa Pesquisa Tipo Etnográfico Instrumento/Técnicas Observação Documental Questionário Bibliográfica Entrevista semiestruturada Investigação - ação História de vida Estudo de caso Analise documental Método Dialético Fonte: Banco de dados – Capes período: 2003/2009. Área: Educação do campo/Educação rural. O fato em discussão é reflexo da visão dicotômica que subalterniza o campo e valoriza a cidade, e isso pode ser evidenciado também a partir da quantidade de produções desenvolvidas nas instituições de ensino. Como podemos observar a maioria das instituições só tem uma produção ao longo de 08 anos e quase sempre, em nível de mestrado (78%). Das 20 instituições, apenas 04 (22%) apresentam produções em nível de doutorado (Quadro 04). Quadro 04: Produção científica por instituição de ensino superior. INSTITUIÇÃO UFBA UFES UFRS DISSERTAÇÃO 02 02 - TESE 02 TOTAL 02 02 02 6 PUC-RJ PUC-Campinas PUC-Góias PUC – Minas UC Dom Bosco UR do Noroeste do RS UFRN FUFP UFMS UF Uberlândia UFPB UF Fluminense FUFS UF Pelotas UFPR UFSCar UFC Total Total % 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 18 78 01 01 01 05 22 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 23 100 Fonte: Banco de dados – Capes período: 2003/2009. Área: Educação do campo/Educação rural. O reflexo dessa pouca produção, e porque não dizer da marginalidade pode ser acompanhado também no mapeamento das produções por região. Das cinco regiões brasileiras, o Sudeste é a região mais produtiva do país, isso certamente se dá pelo fato desta ser considerada a região mais desenvolvida do país e concentrar grandes centros de pesquisas, tais como PUC-RJ, PUC-MG, UFSCar, entre outras. A região Norte por sua vez pode ser considerada a região menos produtiva, já que nem se quer aparece neste estudo. É preciso ponderar que nesta região os cursos de pósgraduação stritus senso começaram a ser implantados na última década, o que significa dizer que em termos de pesquisa as instituições nortistas estão apenas começando. No Estado do Pará, as principais universidades públicas, isto é, Universidade Federal do Pará e Universidade do Estado do Pará implantaram seus Programas de pós-graduação stritus senso há pouco tempo. O Programa da UFPA fez dez anos em 2010 e o Programa da UEPA fez 05 anos, o que em termos de pesquisa é um tempo muito reduzido. Porém, embora esses programas não tenham produção relativa à formação inicial do educador do campo, são programas que procuram priorizar em suas pesquisas as peculiaridades da região e de seus sujeitos, o que contribui de maneira significativa com a educação do campo na região e quiçá no país. A falta de produção da região norte, remete de certa maneira a conjuntura histórica que a educação foi submetida ao longo dos tempos para garantir a manutenção do status quo 7 de uma minoria dominante. É evidente que as outras regiões, incluindo a região Sudeste, apresentam poucas produções, o que tende a reforçar o caráter hegemônico (Quadro 05). Quadro 05: Produção científica por região. REGIÃO SUDESTE DISSERTAÇÃO 06 TESE 02 TOTAL 08 NORDESTE SUL CENTRO OESTE TOTAL 06 03 03 18 01 02 05 07 05 03 27 Fonte: Banco de dados – Capes período: 2003/2009. Área: Educação do campo/Educação rural. As produções analisadas indicam a falta de uma formação específica para o educador e educadora do campo, bem como explicitam a necessidade de políticas pública construídas no coletivo e institucionalizada pelo poder público com a participação da sociedade em um permanente processo de articulação, reivindicação, lutas e conquistas. Como mencionamos as produções discentes, ainda são limitadas, até pela dificuldade em fazer pesquisa e mesmo pelo fato da universidade pública dispor de poucas vagas, e também por destinar ao campo, ou melhor, aos seus sujeitos o olhar do colonizador. A herança colonial pode ser acompanhada não só nas dissertações e teses produzidas. Ao contrário, as demais produções, isto é, artigos, ensaios, entre outros, também corresponde a essa característica. Das publicações encontradas no site do ENDIPE, apenas 07 artigos focam a formação do educador e educadora do campo. Desses somente 02 é da região Norte (Quadro 02). Neste sentido, que evidenciamos a formação do educador e educadora do campo, como pauta de discussão por entender que sem uma formação consistente e condizente com a dinâmica social da vida dos sujeitos do campo, pouco poderá ser feito no sentido de romper com o paradigma dominante. Na caminhada em busca de reconhecimento pela educação do campo e rompimento com o paradigma dominante, em termos de produção podemos destacar a “coleção por uma educação do campo”, considerada o carro chefe desse processo, visto que tende apresentar um verdadeiro panorama da situação educacional presente no campo brasileiro. É válido considerar que apesar de se destinar certa visibilidade ao campo, à formação dos educadores e educadoras ainda encontra-se no silenciamento, muito embora, a necessidade de uma formação diferenciada faça parte do discurso defendido. A publicação de livros, específico para formação do educador e educadora do campo também se apresenta em uma fase embrionária, o que certamente é reflexo do sistema 8 excludente que temos, em especial, quando se trata de educação dos povos do campo. O livro “Educação do Campo: Desafios para formação de professores”, organizado por Maria Izabel Antunes-Rocha e Aracy Alves Martins e publicado em (2010) pela editora Autêntica, constitui-se no principal livro encontrado. Este livro traz uma coletânea de artigos de vários autores que enfatizam a formação do educador/a do campo a partir da experiência do Programa de Apoio às Licenciaturas em Educação do Campo (PROCAMPO). Essa é uma publicação, que traz reflexões acerca da formação docente e com isso possibilita desencadear experiências e proposições para a construção de uma formação específica para o campo. O processo educativo descrito demonstra o quanto à formação do/a educador/a do campo necessita ser debatida, refletida, mas, sobretudo, encarada com responsabilidade por parte do poder público. A seguir evidenciaremos tal processo no estado do Pará. Formação de educadores e educadoras do campo: o Pará em destaque A educação do campo no Estado do Pará, não foge a regra do país, isto é, nasce atrelada a manutenção dos interesses dominantes, e, portanto, submetida à mesma lógica estrutural de exclusão e discriminação. Não é atoa que a oferta da educação a população do campo volta-se principalmente para o primeiro segmento do ensino fundamental desenvolvidas, na maioria em classes multisseriadas, o que tem feito deste, o Estado com o maior número de escolas multisseriadas do país. Vale ressaltar, que a educação infantil e o ensino médio se fazem presentes no campo de forma bem incipiente. Essa é uma questão preocupante, pelo fato das escolas multisseridas apresentarem uma série de particularidades que certamente compromete o processo educacional desenvolvido no campo. Conforme Hage (2010, p. 465) Parte significativa das escolas multisseriadas possui infraestrutura precária e funcionam, em muitas situações, sem prédio próprio, na casa do professor, de um morador local ou em salões de festas, barracões, igrejas, etc; sem energia, água, equipamentos e dependências necessárias para o funcionamento adequado. A escola multisserida tem levado o educador e educadora atuarem em múltiplas séries concomitantemente, desenvolvidas em uma única sala de aula, onde os alunos 9 apresentam diferentes níveis de aprendizagem e faixa etária. Além disso, tem o fato desses educadores enfrentarem uma sobrecarga de trabalho, uma vez que “além das atividades docentes, são forçados a assumir outras funções, na escola, como: faxineiro, diretor, secretário, merendeiro, e na comunidade, como: líder comunitário, agente de saúde, parteiro etc” (HAGE, 2010, p. 466). É pertinente salientar que a maioria dos educadores que atuam nas escolas do campo é oriundo da cidade, e ao se deparar com a realidade citada, em geral, por possuir uma formação alicerçada pela visão urbanocêntrica, tende a reproduzir a lógica vigente, o que faz da educação ofertada ao campo “prática de dominação” (FREIRE, 2005, p.76). Verificamos com isso que a formação é uma importante ferramenta na construção da educação, seja no sentido de manter o que está posto como pronto e acabado ou no sentido de romper e contribuir com uma educação voltada para a emancipação crítica dos sujeitos. Diante da importância da formação do professor procuramos evidenciar como essa temática vem sendo tratada pelas universidades, bem como governo e sociedade em geral referente ao educador e educadora do campo no Estado do Pará. Para tanto, recorremos a sites de busca, como o banco de dados da CAPES, ENDIPE, observatório de educação do campo, Portal Educampo do Fórum Paraense de educação do campo (FEPEC), além dos programas de pós-graduação em educação – PPGED da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Estado do Pará (UEPA), onde encontramos apenas 02 artigos. Ambos no site do ENDIPE. Dos artigos encontrados, um evidencia a formação a partir da relação com a prática pedagógica é o caso do artigo “Práticas pedagógicas em escolas multisseriadas: entre tensões e interações, a importância da formação dos Professores” de Salomão Mufarrej Hage (UFPA) e Fábio Josué Souza Dos Santos (UFPA). O outro, intitulado “Formação dos professores da educação do campo: desafios e perspectivas” de Raquel Alves de Carvalho (Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP) e Evandro Costa de Medeiros (UFPA) busca provocar reflexões acerca dos desafios postos à formação de professores, de maneira que contemple as questões vividas pelos povos do campo. Ambos trazem elementos importantes no que diz respeito à produção teórica que servirá de referencial para futuras pesquisas. Quanto a livros, encontramos apenas 01 artigo referente à formação continuada no Pará, porém, mesmo que este estudo não priorize a formação inicial, consideramos pertinente mencioná-lo, uma vez que evidencia a complexidade que o docente enfrenta para exercer sua profissão no campo, em especial, em classes multisseriadas, bem como as contribuições 10 trazidas a esses educadores pelo Programa Educamazônia5, por meio de formação continuada. Trata-se do artigo “Formação continuada de professores de classes multisseriadas do campo: perspectivas, contradições, recuos e continuidades” das professoras Albene Lis Monteiro e Cely do Socorro Costa Nunes publicado em 2010 pela editora Autêntica no livro “Escola de direito: reinventado a escola multisseriada” organizado por Maria Izabel Antunes-Rocha e Salomão Mufarrej Hage. De certo modo, a marginalização da formação do educador e educadora do campo no Pará, continua sendo processada pelo paradigma hegemônico, onde o campo é o celeiro de matéria-prima barata e servil, portanto, precisa ser regulado e a cidade o progresso. Essa é uma visão que apesar da intensa movimentação pelo reconhecimento do campo como lugar de história e vida continua fazendo parte da realidade paraense. Para romper com o paradigma seriado urbano é preciso que o educador reconheça o educando/a do campo como pessoa. Isso quer dizer que o educador precisa se colocar no lugar do educando, não para representá-lo, mas para criar condições de maneira que ele fale por sua própria voz. Como educadoras/es não podemos falar por nossos alunos, nosso compromisso é contribuir com uma formação mais humana e solidária. É neste sentido que a formação não pode ser compreendida apenas na relação com o aluno, mas numa intensa relação com a comunidade, com os sujeitos, com a dinâmica cultural e social de determinada realidade. Isso implica dizer que a formação do educador e educadora do campo não pode dar-se isolada do contexto social, no caso do Pará, da realidade ribeirinha, de estradas, fazendas, quilombos e aldeias, entre outras. CONCLUSÕES: o que se pesquisa e o que mais pesquisar? No caminhar deste estudo, que por ora, chamamos de inventário, percebemos que mesmo depois de oito anos de aprovação das Diretrizes Operacionais do Campo (DOC), a pesquisa acerca da formação do educador e educadora do campo continua no silenciamento. O que torna está temática, mais desafiante. 5 O Programa Educação do Campo na Amazônia paraense: construindo ações inclusivas e multiculturais no campo (EducAmazônia) nasceu em 2005 com o objetivo de fortalecer as bases e ações da educação do campo no Pará. 11 O crescente movimento que vem sendo feito acerca da educação do campo no país, e consequentemente, no Estado do Pará, tem colocado esta educação na agenda nacional e despertado interesse de vários pesquisadores e estudiosos. Com isso, artigos, teses, dissertações, entre outros, trazem o fenômeno da educação do campo como objeto de estudo. Claro que ainda é um tema coadjuvante se formos comparar com a educação urbana, mas já começa a imprimir no meio acadêmico certa força. Contudo, são estudos, que se preocupam com várias questões pertencentes à realidade do campo, mas tem deixado de lado a formação dos educadores e educadoras. De acordo com o Quadro 01, a quantidade de produções relativa a essa temática é muito diminuta em todo o país. No caso, específico do Norte, a situação é pior, visto que nenhuma dissertação ou tese foi encontrada. No Pará, isso só se confirma, vez que apenas 03 artigos foram encontrados. É claro que pode haver produções não disponíveis nos sites que buscamos. Por isso, faz-se necessário ampliar esse estudo em outro momento. Com as análises observamos que as produções acerca da formação inicial do educador/a do campo evidenciam a prática pedagógica a partir da relação teoria e prática, bem como as condições de trabalho, as dificuldades, os desafios da docência no campo, elementos fulcrais para o fortalecimento da formação docente. No entanto, consideramos nevrálgico dar ênfase cada vez mais a esses elementos somados aos saberes docentes, valorização, profissionalização, isto é, elementos que contribuam com a construção teórica e epistemológica de uma formação docente do e no campo, ou seja, de uma formação que se dê a partir da valorização e reconhecimento da cultura, saberes, valores, crenças, ou melhor, da dinâmica social e cultural do homem e da mulher do campo em uma intensa relação dialógica com os saberes e cultura dos povos da cidade, no intuito de contribuir com a constatação da dominação ou não e firmação de um profícuo projeto de sociedade. Referências ARROYO, Miguel González. Educação do Campo: Movimentos Sociais e Formação Docente In: SOARES, Leôncio et al (Orgs.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 12 CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. BANCO DE DADOS. 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