UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
PROGRAMA DE PÓS–GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MARISA EULÁLIO ROCHA
HUMANIZAÇÃO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR: ANÁLISE DOS
HOSPITAIS DA REDE SARAH KUBITSCHEK DE JOÃO FILGUEIRAS
LIMA (LELÉ)
SÃO PAULO – SP
2011
MARISA EULÁLIO ROCHA
HUMANIZAÇÃO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR: ANÁLISE DOS
HOSPITAIS DA REDE SARAH KUBITSCHEK DE JOÃO FILGUEIRAS
LIMA (LELÉ)
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie, para a obtenção do
título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. Rafael Antônio Cunha
Perrone.
SÃO PAULO – SP
2011
R672h Rocha Maria Eulálio, Maria Eulálio.
Humanização do edifício hospitalar: análise dos hospitais da
rede Sarah Kubitschek de João Filgueiras Lima (Lelé) / Maria
Eulálio Maria Eulálio. – 2010.
259 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f. 245-250.
1. João Filgueiras Lima. 2. Lelé. 3. Humanização hospitalar.
Dedico este trabalho aos meus queridos pais, José Omar e Karenina
e aos meus irmãos Marina e Severo, pessoas que me confortam, me
apóiam e me estimulam com suas vibrações positivas.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, por sempre iluminar e guiar o meu caminho; Ao Prof. Dr.
Rafael Antônio Cunha Perrone, pelas sábias orientações, competência, disposição e
confiança, sempre presentes durante a realização deste trabalho; À Prof. Dra. Ana
Gabriela Godinho Lima e Prof. Dra. Rosana Helena Miranda, pela atenção, carinho,
sugestões e comentários apontados, essenciais para o crescimento deste trabalho;
Aos amigos pelo companheirismo e incentivo constante, em especial à Ianna e
Carla, amigas com quem divido esta conquista;
Obrigada!
RESUMO
Durante muito tempo, e até hoje, o hospital é encarado de uma forma negativa,
como sendo um local de morte, dor, sofrimento, dentre outros sentimentos. O
arquiteto brasileiro João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé, que hoje se
destaca na área da arquitetura hospitalar, apresenta um novo olhar sobre as
instituições de saúde. O arquiteto propõe medidas projetuais que tornam os espaços
hospitalares menos frios e hostis, a fim de melhorar o bem-estar do paciente e
acelerar no seu processo de cura. A pesquisa, por sua vez, discorre sobre o
percurso do Lelé na consolidação dos hospitais da Rede Sarah, objeto de estudo
deste trabalho, com base nos conceitos da humanização do edifício hospitalar.
Descreve as transformações dos edifícios hospitalares ao longo do tempo e as
questões que foram enfrentadas por Lelé para a produção de uma arquitetura
hospitalar de maior qualidade.
Palavras Chave: João Filgueiras Lima, Lelé; Humanização Hospitalar; Rede Sarah
Kubitschek;
ABSTRACT
For a long time and even today, the hospital is perceived in a negative way, as a
place of death, pain, suffering, among other feelings. The Brazilian architect João
Filgueiras Lima, known as Lele, who now stands out in the field of hospital
architecture, presents a fresh look at health institutions. The architect proposes
measures projective spaces that make hospitals less cold and hostile in order to
improve the welfare of the patient and speed up the healing process. The research,
in turn, discusses the journey of Lele in the consolidation of the Rede Sarah
Kubitschek of Hospitals, the object of the present study, based on the concept of the
humanization of the hospital building. Describes the transformation of the hospital
buildings over time and the issues that were faced by Lele to produce a higher quality
of hospital architecture.
Keywords: João Filgueiras Lima, Lelé; Humanização Hospitalar; Rede Sarah
Kubitschek.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1. HUMANIZAÇÃO ................................................................................................... 17
1.1. Saúde e Humanização ....................................................................................... 17
1.1.1. Definindo humanização ................................................................................... 17
1.2. As primeiras iniciativas de humanização do edifício hospitalar .......................... 20
1.3. O edifício hospitalar no Brasil ............................................................................. 27
1.4. Humanização da saúde pública do Brasil........................................................... 30
1.4.1. Programa Nacional De Humanização do Ambiente Hospitalar (PNHAH) ....... 31
1.4.2. Humaniza SUS ................................................................................................ 32
2. DIRETRIZES PARA A HUMANIZAÇAO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR ............... 36
2.1. O papel do arquiteto de edifícios hospitalares .................................................... 38
2.2. Atributos para a humanização do ambiente hospitalar ....................................... 40
2.2.1 Controle do ambiente ....................................................................................... 43
2.2.2. Suporte social .................................................................................................. 45
2.2.3. Distrações positivas ........................................................................................ 47
2.2.4.Luz.................................................................................................................... 51
2.2.6 Textura ............................................................................................................. 58
2.2.7 Aroma ............................................................................................................... 59
2.2.8 Som .................................................................................................................. 60
2.2.9 Forma ............................................................................................................... 62
2.3 Percepção/Psicologia Ambiental ......................................................................... 65
2.4. Exemplo de humanização: “The healing enviroment” ........................................ 69
2.4.1 The Pebble Project ........................................................................................... 70
3. JOÃO FILGUEIRAS LIMA “LELÉ”: ..................................................................... 73
3.1. Considerações sobre o arquiteto ........................................................................ 74
3.2. Lelé e os hospitais da rede Sarah Kubitcheck .................................................... 77
3.3. A concepção arquitetônica dos hospitais da rede Sarah .................................... 80
4. ESTUDO DE CASOS/HOSPITAIS DA REDE SARAH KUBITSCHEK ................ 86
4.1 Hospital distrital de Taguatinga: a experiência .................................................... 89
4.2 Hospital Sarah Kubitschek Brasília ..................................................................... 90
4.2.1. Projeto de arquitetura .................................................................................... 114
4.2.2. Ampliações do hospital Sarah Kubitschek Brasília – CTRS – Brasília, DF, 1995
– 1997 ..................................................................................................................... 119
4.2.3. Humanização do hospital Sarah-Brasília....................................................... 123
4.3 Hospital Sarah Kubitschek Salvador ................................................................. 136
4.3.1 Projeto de arquitetura ..................................................................................... 151
4.3.2. HUMANIZAÇÃO DO HOSPITAL SARAH – SALVADOR .............................. 165
4.3.3 Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubitschek – CTRS ............................ 182
4.4 Hospital Sarah Kubitschek Lago – Norte ........................................................... 189
4.4.1 Humanização Sarah Lago Norte .................................................................... 200
4.5 Hospital Sarah Kubitschek Rio de Janeiro ........................................................ 217
4.5.1 Humanização do Hospital Sarah – Rio de Janeiro ......................................... 231
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 242
APÊNDICES ........................................................................................................... 249
LISTA DE ABREVIATURAS
AEDET – Achieving Excelent Design Evaluation
APM – Associação Paulista de Medicina
APS – Associação das Pioneiras Sociais
ASPECT – A Staff and Patient Environment Calibration Tool
BA – Bahia
CEPLAN – Centro de Planejamento
CTRS – Centro de Tecnologia da Rede Sarah
DF – Distrito Federal
EUA – Estados Unidos da América
FAEC – Fábrica de Equipamentos Comunitários
HDAL – Hospital do Aparelho Locomotor
CIACs – Centro Integrado de Apoio à Criança
PNHAH – Programa Nacional de Humanização do Ambiente Hospitalar
PNH – Programa Nacional de Humanização
PNI – Psiconeuroimunologia
RENURB – Companhia de Renovação Urbana de Salvador
RJ – Rio de Janeiro
SMHS – Setor Médico Hospitalar Sul
SUS – Sistema Único de Saúde
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNB – Universidade de Brasília
TCU – Tribunal de Contas da União
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Royal Naval Hospital ............................................................................. 22
Figura 1.2 – Hospital Hotel – Dieu de Paris .............................................................. 23
Figura 1.3 – Enfermaria Nightingale .......................................................................... 24
Figura 1.4 – Modelo hospital pavilhonar/ Hospital Labosiére. ................................... 25
Figura 1.5 – Centro Médico de Cornell em Nova York. ............................................. 25
Figura 1.6 – Santa Casa São Paulo .......................................................................... 28
Figura 2.1 e 2.2 – Antes e depois da reforma do quartos do Eisenhower Memorial
Hospital, Rancho Milagres, Califórnia, EUA. ............................................................. 45
Figura 2.3 – Exemplo de Sala de Espera que promove a socialização. Hospital Carol
Ann Breast Health Center, Oakland, CA. .................................................................. 46
Figuras 2.4 e 2.5 – Área destinada para oração e Livraria. Hospital Carol Ann Breast
HealtCenter, Oakland, CA e Eisenhower Memorial Hospital, Rancho Milagres,
Califórnia, EUA. ......................................................................................................... 47
Figura 2.6 – Sala de Espera de Hospital Infantil. Derbyshire Children’s Hospital, UK.
.................................................................................................................................. 48
Figura 2.7 – Valley Children’s Medical Center, Madera, Califórnia, EUA. ................. 49
Figura 2.8 – Dental Clinic, Los Angelis, California, EUA. .......................................... 49
Figura 2.9 e 2.10 – Scripp’s Memorial Hospital Women’s Care, California. .............. 53
Figura 2.11 – Consultório do Scripp’s Memorial Hospital Women’s Care, California.53
Figura 2.12 – Scripp’s Memorial Hospital Women’s Care, California. ....................... 54
Figura 2.13: Espectro visível das cores ..................................................................... 56
Figura 2.14 e 2.15 – Sala para Crianças / ................................................................. 56
Sala espera adultos. Cores quentes x Cores Frias. .................................................. 56
Figura 2.16 – Kettering Health Network Skymore Hospital, EUA .............................. 57
Figura 2.17 – Ohta Nishinouchi Hospital, Japão. ...................................................... 57
Figura 2.18 – Eisenhower Medical Center, Rancho Alegre, CA. ............................... 59
Figura 2.19 – Eisenhower Medical Center, Rancho Alegre, CA. ............................... 59
Figura 2.20 – Zen Garden, Esenhower Medical Center, Rancho Milagre, CA. ......... 61
Figura 2.21 – Zen Fountain in Garden, UCF Faculty Dental Practice, Los Angeles,
CA. ............................................................................................................................ 61
Figura 2.22 – Kiryu Kosei General Hospital, Japão. .................................................. 62
Figura 2.23 – Rainbow Babies and Children´s Hospital Cleveland, Ohio, EUA......... 63
Figura 2.24 e 2.25 – Corredor do Medical Clinic and Wellness Center/ Dental Clinic
.................................................................................................................................. 64
Figura 2.27 – Sala de Crianças do Ambulatory Care, San Diego, CA ....................... 64
Figura 2.26 – Espera do Eisenhower Medical Center, Rancho Milagre, CA. ............ 64
Figura 2.28 e 2.29 – Rady Children’s Hospital & Health Center, San Diego, CA. ..... 72
Figura 3.1 – Lelé. ...................................................................................................... 73
Figura 3.3 – Trolley também concebida por Lelé. ..................................................... 80
Figura 3.2 – Cama-Maca concebida por Lelé............................................................ 80
Figura 4.1 – Hospital de Taguatinga. ........................................................................ 89
Figura 4.2 – Fachada Sarah Brasília. ........................................................................ 90
Figura 4.3 – Vista aérea do plano piloto. Localização do Sarah Central em Vermelho.
.................................................................................................................................. 94
Figura 4.4 – Vista do espaço de internação. Divisões do espaço através de biombos
ou persianas móveis. ................................................................................................ 98
Figura 4.5 – Esquema pilar duplo. Instalações ocorrem entre um pilar outro. .......... 99
Figura 4.6 – Esquema explicativo de instalações acopladas à laje nervurada. ....... 100
Figura 4.7 e 4.8 – Viga vierendeel em dois momentos. No primeiro caso, aplicada na
parede da varanda. No segundo, aproveitando o pé direito duplo da varanda, são
colocadas ao longo dos corredores do nível superior. ............................................ 101
Figura 4.9 e 4.10 – Iluminação da circulação através da abertura da viga vierendeel.
Vista da viga e o fechamento com o caixilho de vidro. ............................................ 101
Figura 4.11 – Vista da enfermaria. Macas dispostas de frente para as aberturas da
viga, permitindo a visão do exterior. ........................................................................ 102
Figura 4.12 – Detalhe proposta inicial da montagem da estrutura. ......................... 103
Figura 4.13 – Detalhe das instalações. ................................................................... 104
Figura 4.14 – Vigas vierendeel fundidas separadamente e moldadas sobre
escoramento provisório. .......................................................................................... 104
Figura 4.15 e 4.16 – Detalhe da montagem das vigas e foto da viga vierendeel
moldada in loco. ...................................................................................................... 105
Figura 4.17 – Desenho esquemático das instalações. ............................................ 106
Figura 4.18 – Desenho esquemático das instalações. ............................................ 106
Figura 4.19 e 4.20 – Calhas embutidas entre as vigas duplas por onde passam as
fiações. Painéis de distribuição. .............................................................................. 107
Figura 4.21 e 4.22 – Luminárias fixadas nas eletrocalhas. Vista das vigas duplas no
teto da circulação do hospital. ................................................................................. 107
Figura 4.23 – Esquema instalações de águas e esgotos. ....................................... 109
Figura 4.24 – Esquema instalações de ar condicionado. ........................................ 109
Figura 4.25 – Esquema instalação de ar condicionado. .......................................... 110
Figura 4.26 – Proposta inicial pra o shed. ............................................................... 111
Figura 4.27 e 4.28 – Sheds Sarah Central. ............................................................. 112
Figura 4.29 – Sobreposição do shed proposto (preto) e do atual (vermelho). ........ 112
Figura 4.30 e 4.31 – Sala de Espera e Ambulatório. ............................................... 114
Figura 4.32 – Proposta atual do pavimento térreo. ................................................. 115
Figura 4.33; 4.34; 4.35 – Alojamento para acompanhantes. Vista do Corredor, vista
do boxe com beliche e banheiro.............................................................................. 116
Figura 4.36 – Planta baixa....................................................................................... 117
Figura 4.37 – Planta baixa....................................................................................... 118
Figura 4.38 – Detalhe da treliça metálica na cobertura do auditório. Peças préfabricadas produzidas no CTRS Salvador. ............................................................. 121
Figura 4.39 – Corte esquemático. ........................................................................... 122
Figura 4.40 e 4.41 – Vista interna auditório e circulação interna. ............................ 122
Figura 4.42; 4.43; 4.44; 4.45 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no
Sarah Brasília. ......................................................................................................... 127
Figura 4.46; 4.47 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah
Brasília. ................................................................................................................... 128
Figura 4.48; 4.49; 4.50 – Integração dos ambientes com espaços verdes. ............ 128
Figura 4.51; 4.52; 4.53 – Integração dos ambientes com espaços verdes. ............ 129
Figura 4.54; 4.55; 4.56 – Integração dos ambientes com espaços verdes. ............ 129
Figura 4.57; 4.58 – Vista da Enfermaria. Pacientes na varanda assistindo à uma
apresentação musical ............................................................................................. 130
Figura 4.59; 4.60 – Integração das enfermarias com va randas. ............................ 130
Figura 4.61; 4.62; 4.63 – Viga vierendeel, shed e brises móveis. ........................... 131
Figura 4.64; 4.65 – Quadros produzidos por pacientes. .......................................... 132
Figura 4.66 – Ônibus adaptado ............................................................................... 133
Figura 4.67; 4.68; 4.69; 4.70; 4.71 – Comunicação Visual. ..................................... 135
Figura 4.72 – Sarah Salvador.................................................................................. 136
Figura 4.73 – Sarah Salvador.................................................................................. 136
Figura 4.74 – Implantação do Sarah Salvador. ....................................................... 138
Figura 4.75 e 4.76 – Topografia do terreno onde foi implantado o Sarah Salvador.
................................................................................................................................ 139
Figura 4.77 – Vista aérea da implantação do Sarah Salvador. ............................... 140
Figura 4.78 – Planta baixa térreo. ........................................................................... 141
Figura 4.79 – Planta baixa galeria. .......................................................................... 142
Figura 4.80 – Esquema da ventilação no Sarah Salvador. ..................................... 146
Figura 4.81 – Esquema de Ventilação do Sarah Salvador. ..................................... 147
Figura 4.82 e 4.83 – Esquema de ventilação através da tomada de ar do exterior
pelas galerias. Imagem interna da galeria. .............................................................. 148
Figura 4.84 – Imagem externa das galerias de arrimo. ........................................... 148
Figura 4.85 e 4.86 – Muros de Arrimo Sarah Salvador. .......................................... 149
Figura 4.87 – Configuração final do muro de arrimo. .............................................. 149
Figura 4.88 – Esquema das instalações do Sarah Salvador. Andar térreo e galeria
semi-enterrada. ....................................................................................................... 150
Figura 4.89 – Planta Baixa. ..................................................................................... 151
Figura 4.90 e 4.91 – Vista do posto de enfermagem para a enfermaria. ................ 152
Figura 4.92 e 4.93 – Corredor Principal e Rampa de acesso ao pavimento de
serviços. .................................................................................................................. 152
Figura 4.94 – Planta Baixa. ..................................................................................... 153
Figura 4.95 – Vista para a entrada do centro de estudos. ....................................... 153
Figura 4.96 e 4.97 – Vista interna da Biblioteca e Vista Interna do Auditório. ......... 154
Figura 4.98 e 4.99 – Salão Social e Hidroterapia com piscina interna. ................... 154
Figura 4.100 – Planta Baixa. ................................................................................... 155
Figura 4.101 e 4.102 – Hidroterapia: Piscina externa e Solário da Enfermaria. ...... 155
Figura 4.103 – Planta Baixa. ................................................................................... 156
Figura 4.104 e 4.105 – Vista do Ambulatório. ......................................................... 157
Figura 4.106 e 4.107 – Vista do Ambulatório para o salão social e para a entrada
principal. .................................................................................................................. 157
Figura 4.108 – Planta Baixa. ................................................................................... 158
Figura 4.109 – A administração tem acesso pela admissão. .................................. 158
Figura 4.110 – Planta Baixa. ................................................................................... 159
Figura 4.111 – Planta Baixa. ................................................................................... 160
Figura 4.112 – Planta Baixa. ................................................................................... 161
Figura 4.113 – Planta Baixa. ................................................................................... 162
Figura 4.114; 4.115; 4.116; 4.117; 4.118; 4.119 – Imagens do Refeitório. .............. 163
Figura 4.120 e 4.121 – Lavanderia e Expurgo de roupa suja do centro cirúrgico na
lavanderia. ............................................................................................................... 164
Figura 4.122 – Pavimento de Serviços Gerais. ....................................................... 165
Figura 4.123 – Esquema da ventilação através das galerias. ................................. 168
Figura 4.124 e 4.125 – Vista interna da galeria. ...................................................... 169
Figura 4.126 e 4.127 – Vista interna do hospital. Cobertura de sheds que favorecem
no conforto dos ambientes. Vista interna da galeria................................................ 169
Figura 4.128 – Esquema da ventilação nas enfermarias. ....................................... 170
Figura 4.129 – Vista interna a enfermaria. .............................................................. 170
Figura 4.130 e 4.131 – Saídas de ar presentes na enfermaria. .............................. 170
Figura 4.132 e 4.133 – Vista das canaletas de ventilação nas paredes. Ventiladores
acoplados às calhas pra otimizar o conforto dos ambientes. .................................. 171
Figura 4.134 e 4.135 – Muros me argamassa armada com detalhes coloridos criados
por Athos Bulcão. .................................................................................................... 172
Figura 4.136; 4.137; 4.138; 4.139 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão
no Sarah Salvador................................................................................................... 172
Figura 4.140 e 4.141 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah
Salvador. ................................................................................................................. 173
Figura 4.142; 4.143; 4.144; 4.145 – Áreas verdes nos arredores do edifício. ......... 173
Figura 4.146 e 4.147 – Imagens do elevador. ......................................................... 174
Figura 4.148 e 4.149 – Vistas da área verde........................................................... 174
Figura 4.150; 4.151; 4.152; 4.153; 4.154; 4.155 – Vistas da área verde. ................ 175
Fonte: Arquivo Pessoal. .......................................................................................... 175
Figura 4.156; 4.157; 4.158; 4.159 – Integração da Biblioteca com o exterior. ........ 176
Figura 4.160 e 4.161 – Vista das varandas das enfermarias. ................................. 177
Figura 4.162 e 4.163 – Área externa integrada aos corredores do Sarah Salvador.
................................................................................................................................ 177
Figura 4.164 e 4.165 – Hidroterapia. ....................................................................... 178
Figura 4.166 e 4.167 – Auditório Sarah Salvador.................................................... 178
Figura 4.168; 4.169; 4.170; 4.171 – Imagens do centro de criatividade e de quadros
produzidos pelos pacientes. .................................................................................... 179
Figura 4.172 e 4.173 – Troyller. .............................................................................. 180
Figura 4.174 – Implantação do CTRS. .................................................................... 183
Figura 4.175 – CTRS Salvador. .............................................................................. 183
Figura 4,176; 4.177 – Corredor de entrada para o CTRS e encosta da colina onde
está implantado o Hospital Sarah............................................................................ 183
Figura 4.178 e 4.179 – Mobiliário produzido no CTRS. ........................................... 184
Figura 4.180 e 4.181 – Oficina de Plásticos. ........................................................... 184
Figura 4.182 e 4.183 – Salas do setor técnico. ....................................................... 184
Figura 4.184 e 4.185 – Circulação. ......................................................................... 185
Figura 4.186 e 4.187 – Oficina de Metalurgia.......................................................... 185
Figura 4.188 e 4.189 – 1 modelo de 1974 e 2 modelo de 1997. ............................. 186
Figura 4.190 e 4.191 – 3 modelo de 2001 e 4 modelo de 2007. ............................ 186
Figura 4.192 – O uso da cama - maca. ................................................................... 186
Figura 4.193 – Outros equipamentos do Hospital Sarah desenvolvidos pelo CTRS.
................................................................................................................................ 187
Figura 4.194 – Sarah Lago Norte. ........................................................................... 189
Figura 4.195 – Implantação do Sarah Lago Norte................................................... 191
Figura 4.196 – Bloco Principal................................................................................. 192
Figura 4.197 e 4.198 – Centro de Estudos e Escola de Excepcionais. ................... 192
Figura 4.199 e 4.200 – Centro de Estudos e Auditório. ........................................... 192
Figura 4.201 e 202. Planta baixa............................................................................. 193
Figura 4.201 e 4.202 – Planta baixa. ....................................................................... 193
Figura 4.203 e 4.204 – Croqui explicativo dos sheds da enfermaria e ginásio........ 194
Figura 4.205 e 4.206 – Croqui explicativo dos sheds da enfermaria e ginásio........ 195
Figura 4.207 e 4.208 – Croqui e Imagem do galpão dos barcos. ............................ 195
Figura 4.209 e 4.210 – Imagens da montagem da estrutura de aço. ...................... 195
Figura 4.211 e 4.212 – Imagens do cais/pier. ......................................................... 196
Figura 4.213 e 4.214 – Imagem da montagem e imagem final da escola de
excepcionais............................................................................................................ 196
Figura 4.215 e 4.216 – Imagem interna e externa da escola de excepcionais. ....... 196
Figura 4.217; 4.218; 4.219 – Ginásio e Espaços de internação. ............................. 197
Figura 4.220 e 4.221 – Hidroterapia e Boxes de Atendimento individual. ............... 198
Figura 4.222 e 4.223 – Esquadrias de vidro e shed. ............................................... 198
Figura 4.224; 4.225; 4.226 – Corredor de acesso aos espaços/Imagem da parede
vazada no galpão destinado ao tratamento dos pacientes. .................................... 199
Figura 4.227 e 4.228 – Detalhe da viga dupla e da ................................................. 200
luminária acoplada à calha. ..................................................................................... 200
Figura 4.229 e 4.230 – Vista a partir da guarita. ..................................................... 201
Figura 4.231; 4.232 – Vista do nível mais alto onde estão o centro de estudos e a
escola de excepcionais para o nível inferior, onde está o bloco principal. .............. 201
Figura 4.233 e 4.234 – Vista do acesso de veículos e da escada para pedestres. . 202
Figura 4.235 e 4.236 – Acesso do nível inferior para o nível superior e vice versa. 202
Figura 4.237 e 4.238 – Detalhe do elevador. .......................................................... 203
Figura 4.239 e 4.240 – Vista entrada principal. ....................................................... 203
Figura 4.241 e 4.242 – Vista da Recepção. ............................................................ 204
Figura 4.243 e 4.244 – Brises móveis para o controle da incidência solar. ............. 204
Figura 4.245 - Integração da recepção com espaços verdes. ................................. 204
Figura 4.246; 4.247; 4.248 – Imagens da entrada da exposição............................. 205
Figura 4.249; 4.250; 4.251; 4.252; 4.253; 4.254 – Imagens da exposição. ............. 206
Figura 4.255 – Planta Baixa. ................................................................................... 207
Figura 4.256 e 4.257 – Ginásio. .............................................................................. 207
Figura 4.258; 4.259; 4.260; 4.261 – Produtos desenvolvidos por Lelé, produzidos
pelo próprio Sarah. .................................................................................................. 208
Figura 4.262; 4.263; 4.264 – Mobiliário infantil desenvolvido por Lelé e desenvolvidos
na própria instituição. .............................................................................................. 209
Figura 4.265 e 4.266 – Vista do pier. ...................................................................... 210
Figura 4.267; 4.268 – Hidroterapia. Cadeiras de roda produzidas no Sarah. ......... 210
Figura 4.269 e 4.270 – Vista da varanda e do píer. Vista aproximada da varanda em
frente a ala infantil. .................................................................................................. 211
Figura 4.271; 4.272; 4.273 – Atividades desenvolvidas no lago.............................. 211
Figura 4.274 e 4.275 – Vista da área da piscina e do piso para treino de marcha. . 212
Figura 4.276 – Planta Baixa. ................................................................................... 212
Figura 4.277; 4.278; 4.279; 4.280 – Imagens da Sala de Convivência. .................. 213
Figura 4.281 e 4.282 – Vista do corredor e detalhe do quadro produzido por
pacientes. ................................................................................................................ 213
Figura 4.283 e 4.284 – Sala de Avaliação dos Pacientes. ...................................... 214
Figura 4.285; 4.286; 4.287; 4.288 e 4.289 – Vista da Casa Simulada. ................... 215
Figura 4.290 – Refeitório Adaptado......................................................................... 216
Figura 4.291 e 4.292 – Trabalhos de Athos Bulcão. ............................................... 216
Figura 4.295 – Centro de Reabilitação Infantil marcado em vermelho e Hospital
Sarah marcado em laranja. ..................................................................................... 218
Figura 4.293 e 294 – 1 Maquete do primeiro projeto. 2. Vista do Centro de
Reabilitação............................................................................................................. 218
Figura 4.296 – Hospital Sarah Rio de Janeiro. ........................................................ 219
Figura 4.297 – Implantação do Sarah Rio. .............................................................. 221
Figura 4.298 – Corte Esquemático. ......................................................................... 222
Figura 4.299 – Planta Baixa Sarah Rio. .................................................................. 224
Figura 4.300 – Planta Baixa piso técnico Sarah Rio. ............................................. 225
Figura 4.301 – Cortes e elevações/Sem escala. ..................................................... 226
Figura 4.302 – Sistema construtivo do Hospital Sarah do Rio. Desenho de Lelé. .. 227
Figura 4.303 – Esquema da cobertura me arco móvel. ........................................... 228
Figura 4.304 – Vista da rampa desde o Segundo nível, sob a cobertura em arco
móvel e Vista dos arcos móveis sob a cobertura. ................................................... 228
Figura 4.305 – Desenho esquemático da estrutura do auditório. ............................ 229
Figura 4.306 – Maquete da cúpula do auditório e vista da montagem do auditório.229
Figura 4.307 – Montagem da cúpula. ...................................................................... 230
Figura 4.308 e 4.309 – Vista interna e externa do auditório. ................................... 230
Figura 4.310 – Esquema do Shed do Sarah Rio. .................................................... 232
Figura 4.311 – Sistema de ventilação do hospital Sarah Rio. ................................. 232
Figura 4.312 – Esquema de ventilação no interior do Sarah Rio. ........................... 233
Figura 4.313 – Vista dos espelhos d`água que circundam o edifício e dos sheds. 234
Figura 4.314 – Vista dos espelhos d`água que circundam o edifício e do auditório.
................................................................................................................................ 234
Figura 4.315 – Centro de convivência e jardim interno do hospital Sarah Rio. ....... 235
Figura 4.316 – Vista das superfícies translúcidas que envolvem o hospital. ........... 235
Figura 4.317 – Superfície translúcida no teto. ......................................................... 235
Figura 4.318 – Painel de Athos Bulcão. .................................................................. 236
14
INTRODUÇÃO
A arquitetura hospitalar vem passando por um processo de transformação
nos últimos anos, visando melhorias na qualidade espacial e aumentando o bem
estar de pacientes e funcionários através de mudanças nas suas instalações, bem
como, em incrementos que são positivos ao tratamento de saúde. Tudo isso é
proposto de forma a afastar o aspecto hostil e institucional que sempre predominou
na instituição hospitalar.
A humanização, por sua vez, é um assunto emergente que aponta novas
diretrizes para os projetos de estabelecimentos de atenção à saúde, a fim de que
estes estejam centrados na figura do paciente, fazendo com que seus ambientes
desenvolvam atividades que poderão, além de cumprir seu papel de prestação de
cuidados para a cura de enfermidades, agregar qualidade e senso de humanismo no
contato com os usuários. A atuação do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, na
elaboração de projetos hospitalares, em especial os da Rede Sarah, é de grande
importância no que diz respeito à preocupação que este profissional demonstra em
conceber espaços que possam ser benéficos e estimulantes para a manutenção dos
níveis de produtividade e de conforto psicológico para todos os usuários envolvidos.
Primeiramente são abordados os conceitos de humanização e a passagem
dos diferentes tipos de hospitais, que vão desde a antiguidade, passando pelo
modelo pavilhonar, até os mais recentes, caracterizados pelo monobloco vertical,
muito presentes nos dias de hoje. Facilita na compreensão da evolução desses
modelos de hospital e na contribuição dos mesmos na consolidação do hospital de
hoje.
No que diz respeito à arquitetura hospitalar de Lelé, este arquiteto trabalha
as duas formas: pavilhonar (térreo) e monobloco vertical. No entanto, diferente do
que se vê na maioria das instituições de saúde da atualidade, Lelé acredita no
modelo de hospital térreo como mais eficaz em detrimento do bloco vertical,
considerado pelo mesmo como uma desvantagem nos requisitos: organização
espacial, custo de produção e eficiência térmica e luminosa da edificação.
15
Ao contrário do que foi abordado como desvantagem em relação ao modelo
pavilhonar , onde os percursos são questionados por serem muito extensos, Lelé
trabalha a circulação dos hospitais de tal forma a evitar percursos e fluxos
indesejados.
O único hospital da Rede que possui o caráter de verticalização é o hospital
do aparelho locomotor de Brasília, devido a sua construção ser pré-estabelecida por
uma instituição já presente e pelo lote reduzido no qual se encontrava,
impossibilitando na implantação do hospital térreo. Para tanto, o arquiteto se viu na
obrigação de driblar este fator, o qual considera adverso, adotando medidas que não
prejudicasse no bom funcionamento desse hospital.
Em seguida aborda os conceitos e os parâmetros de humanização do
edifício hospitalar e, a partir deles, de que forma estes conceitos são utilizados por
Lelé no desenvolvimento dos projetos hospitalares da Rede Sarah. Para isso, faz-se
uma análise dos atributos que são necessários para a humanização do edifício
hospitalar e são apontados alguns programas que vêm estudando a questão da
humanização como fator relevante na cura dos pacientes e comprovando a sua
eficácia nesse processo.
No terceiro capítulo, este foi dedicado para uma compreensão da trajetória
profissional de Lelé até a elaboração dos projetos da Rede Sarah. Enfatiza na
importância dos conceitos adquiridos pelo arquiteto desde os trabalhos que este
realizou ao lado de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa na construção de Brasília,
passando pela CEPLAN, onde aprendeu e pesquisou sobre a técnica da pré
moldagem, até a contribuição com projetos da FAEC, onde passa a trabalhar com a
técnica da argamassa armada. No estudo dos hospitais, estes conceitos aparecem
bastante claros: o arquiteto transporta os conhecimentos adquiridos nesses anos em
que trabalhou com essas intervenções de escala mais urbanas, passando pela
construção de creches e escolas, para a concepção dos hospitais.
Por fim, a apresentação da análise dos hospitais. Inicialmente o Hospital
Distrital de Taguatinga, como primeira experiência de Lelé na arquitetura hospitalar,
que serve de base para a construção do Sarah Central Brasília, que por sua vez é
modelo para o de Salvador e assim por diante. Cada um com suas características
16
particulares, evoluídas de acordo com as necessidades e o surgimento de novas
tecnologias.
Este estudo possibilita na compreensão da humanização da arquitetura
hospitalar de Lelé, que não se restringe apenas em dotar os espaços dos hospitais
com características que garantam conforto e bem estar aos usuários, mas também,
no cuidado e na preocupação de como conceber estes espaços. Ou seja, a
humanização nos hospitais da Rede Sarah se dá desde a concepção do projeto,
passando pela construção, até a finalização, com a escolha de acabamentos, a
utilização de cores,a inclusão de obras de arte, etc.
A visita aos hospitais, por sua vez, foi de fundamental importância no sentido
de garantir mais consistência à pesquisa, onde a teoria pode ser vivenciada. Os
fatores estudados no capítulo 2 como atributos para a humanização são percebidos
claramente nas unidades. Os ambientes se adéquam perfeitamente aos objetivos
pelo qual foram criados: promover a cura; a tecnologia é empregada a favor dos
usuários; o edifício se desliga de padrões e prima por soluções menos onerosas e
ecologicamente mais corretas, como a substituição de ar condicionado pela
iluminação e ventilação natural , por exemplo.
Com essa pesquisa, uma contribuição para os estudos da humanização do
edifício hospitalar e a inserção do arquiteto João Filgueiras Lima nesse contexto. Um
arquiteto que descarta conceitos e modismos na elaboração de qualquer projeto,
buscando a seu modo a concepção de uma arquitetura melhor, mais humana,
focada no usuário.
17
1. HUMANIZAÇÃO
Neste capítulo pretende-se estudar os conceitos de humanização que irão
nortear esta pesquisa. Para tanto, além das suas definições, viu-se necessário fazer
um breve histórico sobre a história do edifício hospitalar e as suas primeiras
iniciativas de humanização, bem como a contextualização do edifício hospitalar do
Brasil nesse panorama. Em seguida, são apresentados os programas de
humanização da saúde pública do Brasil, elaborados pelo Ministério da Saúde.
1.1. Saúde e Humanização
Saúde, ao contrário do que pensamos, não é apenas o estado de ausência
de doenças no ser humano e de longevidade ou ausência do risco de morte, é muito
mais abrangente e está ligado às premissas que definem qualidade de vida
(COSTEIRA, 2004).
Entendida inicialmente apenas como ausência de doenças e menor risco de
morrer prematuramente, a saúde passou a ser considerada como
capacidade de realizar trabalho produtivo, e, portanto, recurso estratégico
do processo de desenvolvimento. Mais recentemente, a saúde vem sendo
destacada também como componente indissociável da qualidade de vida,
expressão de elementos positivos determinados pelas condições materiais
de existência ou associados a questões subjetivas, decorrentes das
relações dos indivíduos entre si e com a sociedade (COSTEIRA, 2004 apud
IPEA, 2001).
Nesse sentido, novas diretrizes vêm sendo adotadas para os projetos de
estabelecimentos de atenção à saúde, a fim de que estes estejam centrados na
figura do paciente, fazendo com que seus ambientes desenvolvam atividades que
poderão, além de cumprir seu papel de prestação de cuidados para a cura de
enfermidades, agregar qualidade e senso de humanismo no contato com os
usuários.
1.1.1. Definindo humanização
Humanizar, segundo o dicionário, significa elevar à altura do homem; tornar
mais humano, mais saciável, civilizar. Significa dar condições humanas a qualquer
coisa ou lugar (VASCONCELOS, 2004).
18
Do ponto de vista da arquitetura é tratar o espaço de forma a garantir não
apenas a sua funcionalidade, mas a capacidade de oferecer bem estar aos usuários.
É possibilitar esse bem estar, seja pelo tratamento, comunicação e interação entre
profissionais e usuários, entre equipes de profissionais e gestores das diversas
instâncias, seja pelo ambiente propriamente dito.
É acima de tudo compreender o ser humano e o significado da vida. “O ser
humano e suas múltiplas dimensões integram espaços, condições e expressões
singulares” que devem ser levados em conta (BETTINELLI, WASKIEVICK,
ERDMANN, 2003). Deve-se conhecer a atmosfera do ser humano a quem será
destinado o espaço a ser projetado. É importante que se conheçam as necessidades
e expectativas dos usuários para que seja possível conceber um ambiente capaz de
supri-las e superá-las, tomando-o mais próximo de sua natureza, dos seus
sentimentos, pensamentos e valores pessoais. “Qualquer empreendimento humano,
para ter sucesso, deve atingir a mente, o coração e o espírito” (VASCONCELOS,
2004 apud MEZZOMO, 2002).
Backes, Lunardi, Lunardi (2006), em artigo publicado para a revista da
escola de Enfermagem da USP, definem a humanização segundo relatos de
constituintes da equipe de humanização:
A humanização significa criar um clima organizacional para um bom
atendimento ao usuário. É um processo que não se resume no atendimento
técnico e mecânico do paciente, mas na compreensão e cuidado do
paciente como um todo. Para que o paciente possa ser atendido de forma
integral, a equipe necessita trabalhar de forma integrada e, para que uma
equipe possa atuar de forma integrada, necessita melhorar a comunicação
entre os profissionais; promover os trabalhadores, no sentido de valorizar
iniciativas e compartilhar idéias, colocando ênfase na socialização das
ações humanas para estabelecer um melhor convívio.
Mezzomo (2002) também coloca o respeito à vida humana como fator
determinante para que haja a humanização e a define como:
Humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais,
indissociáveis dos aspectos físicos na intervenção em saúde. Humanizar é
adotar uma prática em que profissionais e usuários consideram o conjunto
dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à
saúde. Humanizar refere-se à possibilidade de assumir uma postura ética
de respeito ao outro, de acolhimento e de reconhecimento dos limites.
Humanizar é fortalecer este comportamento ético de articular o cuidado
técnico e científico, com o inconsolável, o diferente e singular. Humanizar é
repensar as práticas das instituições de saúde, buscando opções de
19
diferentes formas de atendimento e de trabalho, que preservem este
posicionamento ético no contato pessoal.
O cuidado à vida, portanto, só pode ser entendido se o ser humano for
compreendido em sua totalidade, nas suas diferenças, no pluralismo e na sua
diversidade. Assim, as mensagens e seus significados revelam peculiaridades de
um mundo vivido e uma experiência ontológica, construída na relação entre os
profissionais e as pessoas cuidadas (BETTINELLI, WASKIEVICK, ERDMANN,
2003).
No que diz respeito ao espaço arquitetônico, a humanização consiste na
qualificação do espaço a fim de promover aos usuários tanto um conforto físico,
como psicológico para a realização de suas atividades (VASCONCELOS, 2004). O
papel e a responsabilidade do arquiteto, por sua vez, são de extrema importância,
ao pensar um projeto que se adéque ao uso do homem.
Esses espaços podem provocar modificações imprevisíveis nas respostas
sensoriais dos usuários. Del Rio, Duarte e Rheigantz afirmam que:
Uma vez admitidas essas inter-relações – homem, espaço –, pode-se
entender porque ambientes construídos com pouca qualidade físicoespacial são, comumente, vandalizados em toda parte do mundo (...). Não
sem razão, os cidadãos expressam seu descontentamento ou o seu
descuido com o ambiente construído de nossas cidades, especialmente
aqueles grupos mais sacrificados da sociedade. Sacrifício esse que não fica
apenas na dimensão socioeconômica, mas que é cotidianamente reiterado
pela qualidade do ambiente físico em que são obrigados a viver.
Sendo assim, o planejamento do espaço, obviamente gera impactos na
funcionalidade e na qualidade plástica do local, mas tão importantes quanto, são as
percepções psicológicas provenientes desse ambiente. O depoimento de um usuário
descrito a seguir evoca o poder inerente do ambiente físico:
Eu comecei a entender que a sensação (que eu sentia) estava ligada à
experiência da beleza. Era uma sensação de dignidade que eu tinha
naquele lugar... Pela primeira vez, eu vi claramente o efeito inacreditável e o
impacto do ambiente. Naquele momento... eu entendi que pessoas podem
se sentir mortais ou divinas pela simples influência do seu ambiente físico
(...) (MALKIN, 1991)
No ambiente arquitetônico, portanto, tudo se relaciona e se interage. É
preciso que elementos como, cor, luz, cheiro, som, morfologia, dentre outros, sejam
levados em conta no projeto arquitetônico, “resultando num conjunto que interage na
20
percepção do usuário de forma agradável ou desagradável. Esses elementos nada
mais são, que atributos de humanização agregando valor pessoal ao espaço físico”
(VASCONCELOS, 2004).
A humanização nada mais é que a mudança de atitudes e comportamentos
por parte de gestores e profissionais, contribuindo com novas ideias e iniciativas a
fim de garantir uma melhoria no atendimento dos usuários, além da melhoria no
espaço arquitetônico, visto que este influencia diretamente na qualidade de vida e na
satisfação de trabalhadores e usuários.
1.2. As primeiras iniciativas de humanização do edifício hospitalar
A história do Edifício Hospitalar vem desde a antiguidade. “Ele já existia na
Grécia de Esculápio e na Roma antiga. Na China, no Ceilão, no Egito, antes e
depois de Cristo, há registro de hospedarias, hospitais e hospícios (...).” (RIBEIRO,
2004, p.23)
No período que se estende da Antiguidade à Idade Média, a medicina tinha
um caráter espiritual e a assistência aos enfermos era prestada em caráter oficial por
sacerdotes das ordens religiosas ou por leigos que praticavam uma medicina
popular, desenvolvida em mosteiros ou em anexos construídos com essa finalidade.
(TOLEDO, 2004, p.93)
De acordo com Toledo (2004), “a missão desses hospitais era oferecer
conforto espiritual e assistência aos pobres e enfermos ali internados. Mas os
procedimentos de caráter curativo raramente eram praticados.” A palavra “hospital”
vem do latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes, (hóspedes, estrangeiro,
viajante, conviva). Por extensão, o que dá agasalho, que hospeda (GOÉS, 2004, p.
07).
O significado da palavra “hospital”, portanto, justifica a intenção desses
ambientes que eram destinados aos enfermos àquela época. Os hospitais
funcionavam apenas como estruturas de separação e exclusão dos pobres e
enfermos, minimizando eventuais riscos sociais e epidemiológicos (TOLEDO, 2004,
p.93).
21
O hospital permanece com esse caráter até o começo do séc. XVIII, onde
surge um novo conceito de hospital: o “hospital terapêutico”, considerado uma
invenção relativamente nova por Michel Foucault em sua célebre conferência “O
Nascimento do Hospital”. A partir daí, a doença já passa a ser reconhecida como um
fato patológico e a preocupação com as questões espaciais e funcionais tornam-se
mais importantes.
É clara a utilização da ciência e da razão como bases conceituais, assim
como a preocupação com o Homem, e não apenas uma busca de recuperar a alma
como realizado anteriormente pelas unidades hospitalares religiosas. (PARUCKER,
2008, P.85)
Com base nessa forma diferente de se ver o mundo, houve uma mudança
na maneira de se organizar o hospital que, até então, utilizava-se a forma
do claustro, comum nas comunidades religiosas. Essa forma de
organização dos hospitais é banida em proveito de um espaço que deve ser
organizado medicamente. Além disso, se o regime alimentar, a ventilação, o
ritmo das bebidas e outras variáveis ambientais são fatores de cura, o
médico, controlando o regime dos doentes, assume, até certo ponto, o
funcionamento econômico do hospital, até então de privilégio das ordens
religiosas. (FOUCAULT, 2006, P.109)
Para Foucault (2006), “o primeiro fator de transformação foi, não a busca de
uma ação positiva do hospital sobre o doente ou a doença, mas simplesmente a
anulação dos efeitos negativos do hospital.”
Segundo Miquelin (1992), no fim do séc. XVIII, os hospitais e asilos urbanos
de proporções gigantescas, com níveis desumanos de mortalidade, insalubridade e
promiscuidade, são objetos de pesquisa de Tugot, Necker e Tenon, que lançam uma
nova morfologia de edificações para hospitais: o modelo pavilhonar.
Os resultados desses estudos revelaram a precariedade das unidades
hospitalares pesquisadas e, pela primeira vez, chamaram a atenção para a
relação existente entre o espaço hospitalar e as elevadas taxas de
mortalidade dos pacientes. (...) Assim, essas taxas são pela primeira vez
relacionadas a questões espaciais, apontando-se como causas possíveis de
contaminação a proximidade entre determinadas áreas funcionais, tais
como enfermarias de feridos e de parturientes, e a ocorrência de fluxos de
materiais contaminados, como roupas, lençóis e panos utilizados como
bandagens. (TOLEDO, 2004, P.94-95)
O Royal Naval Hospital, de Rovehead em Stonehouse, Plymouth, Inglaterra,
considerado por Mignot (1983), como protótipo do hospital pavilhonar, é um
paradigma desse novo modelo de hospital. Tem uma configuração pavilhonar, cujos
22
princípios influenciarão todo o design na saúde pelos próximos 250 anos.
(MIQUELIN, 1992, p.42)
Figura 1.1 – Royal Naval Hospital
Fonte: http://www.andrewcusack.com/2005/04/02/greenwich-hospital/
Segundo Miquelin (1992), os princípios básicos que influenciariam as formas
hospitalares futuras seriam:
A redução do número total de leitos do Hospital;
A separação dos pacientes em “pequenos” grupos de 20 pessoas por
enfermaria;
O conceito pavilhonar que melhora as chances de iluminação e
ventilação naturais.
Em 1778 o relatório da Academia de Ciências composta entre outros por,
Lavoisier, Laplace, Tenon e Daubeton, reconhece os méritos do Royal Hospital,
indicando-o como uma forma que segundo Miquelin (1992), “...vinha demonstrando
atender os mesmos standards sanitários que os da Academia de Ciências para os
hospitais franceses.” Para a reconstrução do layout do Hotel-Dieu de Paris, adota-se
os conceitos de iluminação do Royal Naval Hospital de Plymouth.
23
Assim a mudança do paradigma dos hospitais se fez frente a esse
panorama em que se inseria o Hotel-Dieu de Paris. Em 1777, foi organizada
uma comissão, da qual participaram figuras ilustres como Lavoisier, Laplace
e Jacques René Tenon, para resolver o problema. Esta comissão realizou
sérios estudos e foram desenvolvidas e apresentadas várias propostas para
o complexo Hotel-Dieu de Paris. O modelo do hospital pavilhonar proposto
por Jacques René Tenon foi aprovado. No entanto, o novo modelo de
hospital proposto por Tenon não chegou a ser construído devido à
Revolução Francesa. Porém, “mesmo assim”, o projeto de Jacques René
Tenon continuou exercendo um forte fascínio sobre toda uma geração de
médicos, arquitetos, administradores e outros profissionais vinculados aos
hospitais. (PARUCKER apud ANTUNES, 2008, p. 82)
Figura 1.2 – Hospital Hotel – Dieu de Paris
Fonte: http://www.sciencemuseum.org.uk/broughttolife/people/hoteldieu.aspx
Do ponto de vista arquitetônico, esse projeto foi responsável pela introdução
do pavilhão hospitalar, forma que predominou nos hospitais até o início do século
XIX. (PARUCKER apud ANTUNES, 2008).
Os hospitais terapêuticos, então, sofrem mudanças significativas na
concepção dos seus espaços, tais como: a divisão da unidade hospitalar em
diversos pavilhões, na busca de aumentar a iluminação e ventilação, diminuindo a
insalubridade; o estudo do número de leitos por enfermaria com relação à
iluminação e ventilação; estudo com relação ao número de andares da unidade,
sendo que fora estabelecido o número máximo de três andares, com escadas bem
ventiladas; a divisão dos pavilhões em categorias de enfermidades, sendo que cada
pavilhão tinha local destinado para seus próprios serviços, evitando-se assim, o
contágio inter-pavilhonar; a divisão dos pavilhões em duas alas, separando os
24
sexos; e a proibição do leito coletivo e adoção obrigatória do leito individual.
(PARUCKER apud ANTUNES, 2008, P. 88).
Durante esse período de estudos e discussões sobre as formas hospitalares,
entre os séc. XVIII e XIX, formam o cenário sobre o qual surge a morfologia
pavilhonar baseada na enfermaria aberta ou mais tarde conhecida como “enfermaria
Nightingale.” (MIQUELIN, 1992, P.44)
Figura 1.3 – Enfermaria Nightingale
Fonte: mtarquitetura.com.br/conteúdo/publicações/HOSPITAL_TERAPEUTICO.pdf
A defesa do modelo pavilhonar na Inglaterra é feita, entre outros, por
Florense Nightingale, cujas ideias revolucionárias sobre as técnicas de enfermagem,
na segunda metade do século XIX, ajudariam a reduzir drasticamente as taxas de
mortalidade nos hospitais. (TOLEDO, 2004 ,P.96)
(...) a enfermeira Florense Nightingale questionava e sugeria que os defeitos
dos hospitais existentes residiam principalmente na falta de estandares
adequados de iluminação e ventilação naturais, áreas mínimas por leito e
na própria superlotação. A partir das observações sobre o sistema
pavilhonar ela estabeleceu as bases e dimensões do que ficou
posteriormente conhecida como “enfermaria nightingale”. (...) vai tornar-se o
modelo de espaço de internação a partir de 1867 por no mínimo 50 anos.
Constitui-se no elemento mais importante e característico da anatomia do
hospital no final do século XIX. Essa anatomia dividia as funções de
internação, cirurgia e diagnósticos, consultórios para atendimento
ambulatorial e de casualidades, administração e serviços de apoio em
edifícios/ construções específicas e mais apropriadas a cada uso. Esse
“modelo” tem exemplares espalhados por todo o mundo ocidental.
(MIQUELIN, 1992, P.46)
O hospital Lariboisiere, em Paris, é um exemplo dessa safra de edifícios e
está ligada à destruição do caótico edifício no qual de transformou o Hotel Dieu de
Paris ao longo dos séculos e é apontado por Florense Nightingale como modelo
25
exemplar. (MIQUELIN 1992, P.44-46) Este hospital marca a consolidação do modelo
pavilhonar na Europa. (TOLEDO, 2004, P.96).
Figura 1.4 – Modelo hospital pavilhonar/ Hospital Labosiére.
Fonte: mtarquitetura.com.br/conteúdo/publicações/HOSPITAL_TERAPEUTICO.pdf
As concepções e teorias de
Jacques
René
Tenon
e
Florense
Nightingale associados à utilização do
modelo pavilhonar de construção de
hospitais se disseminaram por todo o
ocidente. Na mesma época em que o
sistema pavilhonar se consolidava na
Europa como a forma mais perfeita da
arquitetura Hospitalar, na América do
Norte
o
modelo
começava
a
ser
substituído por um novo paradigma: o
partido arquitetônico de bloco compacto,
Figura 1.5 – Centro Médico de Cornell em Nova York.
Fonte: mtarquitetura.com.br/conteúdo/publicações/
HOSPITAL_TERAPEUTICO.pdf
com vários pisos, também conhecido
com o modelo vertical. (TOLEDO, 2004,
p. 97)
Aliado às inovações tecnológicas da época, tais como, a utilização estrutura
do ferro e do aço, a construção de elevadores mais potentes que possibilitavam o
transporte vertical em distâncias maiores, abriu o espaço para o desenvolvimento de
26
edifícios mais altos e a conseqüente discussão sobre o modelo pavilhonar de
construção de hospitais. (PARUCKER, 2008, p. 94)
Fatores como economia na construção, facilidade operacional de controles
de acesso, gestão de pessoal, distribuição de fluxos, como alimentos, medicação,
roupas e de pessoas, fazem com que cada vez mais fosse questionada a
implantação do hospital pavilhonar.
Miquelin (1992), aponta as principais críticas que constroem o cenário
apropriado para o aparecimento dos hospitais verticais:
Custo crescente dos terrenos urbanos;
A partir da Primeira Grande Guerra, a maior mobilização das
organizações sindicais, põe em cheque a questão dos custos de
construção civil e operação da instituição hospitalar. O hospital
pavilhonar passa a ser criticado seja porque mobiliza canteiros muito
vastos, onde fundações e instalações são proporcionalmente menos
econômicas; ou seja, porque implica em mais recursos humanos;
Escassez de mão de obra na área de enfermagem – aparentemente, isso
é um problema crônico, pois o quadro ainda hoje não é muito diferente. A
verticalização nesse caso era apontada como uma saída para reduzir
percursos. As viagens de elevador e percursos pelas escadas eram
tratadas com tolerância;
Domínio tecnológico da estrutura metálica, da construção vertical e do
transporte vertical mecanizado;
A questão da inadequação dos grandes corredores de intercomunicação
ao rigoroso clima das áreas setentrionais da América do Norte também é
apontada como uma desvantagem dos edifícios pavilhonares para a
região;
Edifícios pavilhonares, mesmo de dois ou três andares, estendem-se por
áreas muito grandes. Quando existem elevadores, é quase impossível
concentrá-los eficazmente num só ponto. Por esse motivo, embora
pareça paradoxal, requerem um maior número de elevadores do que
planos verticais compactos. O custo operacional maior decorrente deste
aumento não é desprezado nas críticas ao modelo pavilhonar;
27
Finalmente, os “progressos terapêuticos” estão reduzindo drasticamente
a
média
de
permanência
dos
pacientes
internados.
Muitos
administradores e mesmo médicos passam, então, a ser mais tolerantes
com a diminuição da qualidade de alguns aspectos das condições
ambientais – presença de jardins, iluminação e ventilação naturais, por
exemplo.
O surgimento desse novo partido em bloco, na América do Norte, por sua
vez,
explica-se
pelas
críticas
ao
modelo
pavilhonar
e,
sobretudo,
pelo
desenvolvimento acelerado da tecnologia da construção, no país que inventaria o
arranha-céu (TOLEDO, 2004, p.97).
Segundo Miquelin (1992), os hospitais dispostos em “monobloco vertical”,
nada mais eram que um empilhamento de enfermarias Nightingale, com um
elevador ligando todos os andares.
Construídos na década de 20, organizavam as funções hospitalares em
cinco setores básicos: no subsolo os serviços de apoio, no térreo os
consultórios médicos, o pronto atendimento e os serviços de raio X (então
chamados de eletro-medicina), no primeiro andar o laboratório e os serviços
administrativos, nos pavimentos intermediários as áreas de internação, no
último o bloco operatório. O sótão era usualmente ocupado pelos residentes
médicos e de enfermagem. (TOLEDO apud MIQUELIN, 2004, p.98)
Devido à conjugação de novas descobertas, de novas tecnologias e avanço
das ciências médicas, os edifícios hospitalares vêm transformando a sua imagem.
Apesar de assuntos como flexibilidade e modulação estrutural ainda serem pouco
discutidos, por exemplo, abrem caminhos para que novas transformações e
conseqüentes melhorias sejam empregadas aos futuros hospitais.
1.3. O edifício hospitalar no Brasil
De acordo com Toledo (2004), depois do México, o Brasil foi o segundo país
da América do Sul a construir uma edificação destinada exclusivamente a receber
enfermos: o Hospital da Santa Cruz da Misericórdia de Santos, criado por Braz
Cubas em 1543.
28
No Brasil, a assistência hospitalar teve início logo após o Descobrimento.
Portugal tinha o hábito de transferir para as colônias todo o seu acervo cultural e no
período do descobrimento encontrava-se em evolução o sistema criado pela rainha
D. Leonor de Lancastre, que deu origem a obras de misericórdia, cultivando com as
instituições das Santas Casas. (GOÉS, 2004, P.10)
Figura 1.6 – Santa Casa São Paulo
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Santa_Casa_Sao_Paulo.jpg
A passagem no Brasil, do modelo pavilhonar para o partido arquitetônico de
monobloco pode ser visualizada numa mesma obra, a do engenheiro Luiz de Morais
Júnior, primeiro profissional em nosso país a se especializar no projeto de unidades
laboratoriais e hospitalares. (TOLEDO, 2004 p.98)
Seus primeiros projetos incorporaram às antigas regras da arquitetura
pavilhonar, codificada em fins do séc. XVIII, o saber e a tecnologia médica
oriundos da revolução pausteriana. Combinam o gosto e o apuro estético,
predominantes em sua época, na distribuição dos volumes e fachadas, com
a mais rigorosa funcionalidade na distribuição interna dos espaços,
estruturados de modo a funcionarem como dispositivos neutralizadores do
contágio e propiciadores da cura. Suas últimas construções hospitalares,
posteriores a 1930, já obedecem a uma lógica médica e a parâmetros
formais e construtivos inteiramente diversos: além de se terem modificado
as noções sobre contágio das doenças infecciosas, a complexidade das
práticas e tecnologias médico-terapêuticas já não se coaduna com os
29
modelos clássicos da arquitetura pavilhonar, gestados na Europa. Estes
hospitais incorporam, então, as normas construtivas desenvolvidas nos
Estados Unidos, precursores das construções verticais, em monobloco,
utilizando o concreto armado (TOLEDO apud BECHIMOL, 2004, p.99).
O monobloco vertical irá se tornar dominante no traço modernista de
arquitetos como Rino Levi e Roberto Cerqueira César, Oscar Niemeyer e Helio
Uchoa, Jorge Moreira e Aldary Toledo, Ari Garcia Rosa, Oscar Waldetaro e Roberto
Nadalutti.
A qualidade projetual desses arquitetos e de profissionais como João Carlos
Bross, Pompeu de Souza, Irineu Breitman, Siegbert Zanettini, entre outros,
decorreria não só de um amplo domínio do projeto arquitetônico, como
também de um profundo conhecimento das questões técnico- operacionais
das unidades projetadas, especialmente no que se refere à infra- estrutura e
à gestão hospitalar (TOLEDO, 2004, P.100).
Segundo Bross (2002), os edifícios de saúde no Brasil, tem ganhado novo
conceito e novo formato, acompanhando as transformações sociais, voltadas para a
saúde, e não para a doença.
A partir disso Dalla (2003), afirma que:
As pessoas estão buscando cuidados preventivos, incluindo a nutrição,
ginástica, plástica, fisioterapia, cosmetologia, inclusive a medicina
alternativa, entre outras. A tendência são os edifícios de saúde, e não mais
de doenças. Afinal os hospitais estão mudando o gerenciamento da saúde,
passando a adotar o que se chama atualmente de redes hierarquizadas, ou
seja por níveis de complexidade. Onde as pessoas serão induzidas a
procurar, conforme o grau de necessidade, desde os serviços mais simples
aos mais complexos, seja uma clínica especializada ou um sistema
hospitalar.
Dentre os arquitetos que se dedicaram à arquitetura hospitalar no Brasil,
destaca-se João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé. Segundo Costeira (2004):
No Brasil, destacamos o inegável talento e as edificação do arquiteto João
Filgueiras Lima para estabelecer parâmetros e tecnologias apropriadas à
nossa realidade e para vencer o permanente desafio da arquitetura de
encontrar soluções adequadas ao panorama socioeconômico do nosso
país, incorporando conceitos de conforto ambiental e de racionalização do
projeto e da construção aos projetos dos hospitais da Rede Sarah.
A contribuição desse arquiteto, portanto, está no que diz respeito à
relevância dos seus projetos para edificação hospitalar no processo de cura dos
seus pacientes, podendo isto ser observado nos hospitais da Rede Sarah
Kubitscheck, especializados em medicina do aparelho locomotor.
30
A obra de Lelé é considerada como uma das maiores contribuições da
arquitetura brasileira contemporânea. Extremamente diversificada, sua produção
arquitetônica encontra-se espalhada por todo o Brasil, abrangendo desde grandes
centros administrativos, como o da Bahia, até experiências na produção de
elementos de mobiliário urbano projetados não só para a cidade formal, mas
também para serem implantados em nossas favelas. Sua produção, “voltada para a
nova tecnologia do pré-moldado”, como lembra Lúcio Costa, reveste-se de enorme
conteúdo social e adquire um nível de excelência ao tratar de programas
educacionais (os CIACs – Centro Integrado de Apoio à Criança - e as escolinhas em
argamassa armada) e de assistência à saúde. Ao nos debruçarmos sobre sua obra,
somos atraídos por temas como: arquitetura /pré-fabricação, arquitetura/meio
ambiente, domínio da execução da obra, design de equipamentos vinculados a obra,
inclusive médico-hospitalares, incorporação de obras de arte ao projeto, entre muitos
outros (TOLEDO, 2002).
De há uns dez anos pra cá, o Brasil tem dado ainda mais atenção ao
atendimento da saúde no país, estabelecendo alguns programas através do
Ministério da Saúde, que tem como foco principal a humanização no atendimento à
Saúde nos hospitais.
1.4. Humanização da saúde pública do Brasil
O desenvolvimento da humanização como uma prática no Sistema Único de
Saúde, o SUS, pode ser dividido em três grandes momentos: o primeiro se refere à
criação de Programas Municipais de Humanização do Parto; o segundo momento
trata da implantação do Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar (PNHAH), desenvolvido pelo Ministério da Saúde, representando, assim,
o estágio de ampliação da discussão para todo o SUS e de inserção do Estado na
elaboração de um único programa que atendesse igualitariamente a toda a rede; o
terceiro momento é constituído por uma política transversal aplicada ao SUS que
tem em vista a reestruturação da gestão hospitalar a fim de garantir a humanização
do trabalho em saúde, por meio da implantação da Política Nacional de
Humanização, o PNH. Este é o atual momento da saúde, de modificação das
31
estruturas organizacionais dos hospitais do SUS, que, entretanto, ainda busca
espaço para sua concretização (PINHO, 2005).
1.4.1. Programa Nacional De Humanização do Ambiente Hospitalar (PNHAH)
O primeiro programa que aborda humanização dos hospitais do sistema
público de saúde no Brasil foi o Programa Nacional de Humanização do Ambiente
Hospitalar, o PNHAH, criado pelo Sistema Único de Saúde em maio do ano de 2000.
No corpo do texto do documento não se evidencia um conceito para humanização,
mas a questão da valorização do ser humano é apontada quando ele afirma a
necessidade de respeitar “o outro como um ser singular e digno” (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2001).
Inicia-se a discussão baseada na insatisfação dos usuários quanto aos
serviços públicos de saúde, onde o Ministério da Saúde afirma que, “ao identificar o
número significativo de queixas dos usuários referentes aos maus tratos nos
hospitais (...)”, viu-se na necessidade de elaborar uma proposta de trabalho voltada
à humanização dos serviços hospitalares públicos de saúde (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2001).
Aponta o homem como um ser dotado de linguagem, o que o diferencia de
outros seres vivos, capaz de transformar essa linguagem em significados, que
compartilhada entre semelhantes, estabelece uma identidade cultural (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2001).
Este programa aborda, principalmente, as relações entre os profissionais e
os pacientes, dos funcionários entre si e do hospital com a comunidade, com o
intuito de alertar para que exista uma melhor comunicação entre os mesmos.
No entanto, a comunicação quando feita através da palavra, uma vez
desrespeitado o estatuto ético desta, pode-se criar condições de arbítrio e violência.
Quando a palavra fracassa somos também capazes das maiores arbitrariedades.
Portanto, deve-se garantir à palavra a sua dignidade ética, ou seja, o sofrimento
humano e as percepções de dor ou prazer devem ser reconhecidos pelo outro.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
32
Segundo Deslandes (2004), daí pode surgir uma (im)possibilidade
comunicacional, visto que, se o ser humano é potencialmente capaz de
compreender outro ser humano, porque ambos são dotados de linguagem, pode
ocorrer impeditivos para esse diálogo, quando desconsideradas as diferenças
sociais, de saber-poder, de trabalho e de gênero e de status, por exemplo.
Quanto menor for a integração, a comunicação, o vínculo e o
reconhecimento mútuo entre profissionais e usuários, entre equipes de profissionais
e gestores das diversas instâncias do sistema de saúde, menor será a eficácia no
atendimento à população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
O objetivo do PNHAH, portanto, é criar uma cultura de humanização,
baseada
em
uma
filosofia
organizacional
–
respeito,
solidariedade
e
desenvolvimento da solidariedade e cidadania dos agentes envolvidos e usuários –
que promova a conjugação cotidiana do verbo humanizar, sendo que as
continuidades dessa, supere as descontinuidades que as mudanças de direção,
chefia ou governo geralmente provocam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
1.4.2. Humaniza SUS
Como já visto o PNHAH tem como meta “promover uma mudança na cultura
de atendimento em saúde no Brasil” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Em 2003, por
sua vez, outro programa é criado pelo Ministério da Saúde, o Humaniza SUS, com
base na humanização, onde “lança mão de ferramentas e dispositivos para
consolidar redes, vínculos e a co-responsabilização entre usuários, trabalhadores e
gestores” e, além disso, também destaca o conceito de ambiência, ressaltando o
tratamento dado ao espaço físico “entendido como espaço social, profissional e de
relações interpessoais, que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e
humana” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Ao fazê-lo, identificou uma série de obstáculos a serem vencidos para que
possam ser alcançados os objetivos de integralidade, universalidade e eqüidade
defendidos pelo SUS, são eles:
33
Fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os
diferentes profissionais;
Fragmentação da rede assistencial dificultando a complementaridade
entre a rede básica e o sistema de referência;
Precária interação nas equipes e despreparo para lidar com a dimensão
subjetiva nas práticas de atenção;
Sistema Público de saúde burocratizado e verticalizado;
Baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, especialmente no
que se refere à gestão participativa e ao trabalho em equipe;
Poucos dispositivos de fomento à co-gestão e à valorização e inclusão
dos gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de
saúde;
Desrespeito aos direitos dos usuários;
Formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação
da política;
Controle social frágil dos processos de atenção e gestão do SUS;
Modelo de atenção centrado na relação queixa/conduta.
O conceito de humanização se dá pela compreensão e valorização dos
diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Quanto à oferta
de tecnologias e dispositivos para a configuração e fortalecimento das redes de
saúde, “a humanização aponta para o estabelecimento de novos arranjos e pactos
sustentáveis, envolvendo trabalhadores e gestores do Sistema, e fomentando a
participação coletiva da população, provocando inovações em termos de
compartilhamento de todas as práticas de cuidado e de gestão” (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004). Portanto, essa política visa atingir todos os níveis de atenção à
saúde, entendendo a humanização como uma transformação cultural.
No caso dos serviços que prestam atenção básica, o Humaniza SUS
propõe-se à elaboração de projetos terapêuticos individuais e coletivos para os
usuários e sua rede social, formas de acolhimento e inclusão de clientela, práticas
que incentivem a diminuição do consumo de medicação, fortalecimento das relações
entre as equipes de saúde e os usuários, além do estabelecimento de ambiente
acolhedor (SIMÕES, RODRIGUES, TAVARES, RODRIGUES, 2007).
34
O Programa Nacional de Humanização, o PNH, outro programa, que faz
parte do Humaniza SUS aborda o termo “ambiência”, como sendo o ”tratamento
dando ao espaço físico entendido como espaço social, profissional e de relações
interpessoais que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Dessa forma, pode-se qualificar o ambiente além de sua “composição
técnica, simples e formal” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004), considerando diversos
outros fatores que implicam no melhor funcionamento dos espaços, tais como, ao
grupo que será destinado com seus valores culturais e relações sociais.
De acordo com a cartilha do Humaniza SUS (2009), o conceito de ambiência
segue primordialmente três eixos:
O espaço que visa a à confortabilidade, focada na privacidade e
individualidade dos sujeitos envolvidos, valorizando elementos do
ambiente que interagem com as pessoas – cor, cheiro, som, iluminação,
morfologia...-, e garantindo conforto aos trabalhadores e usuários.
O espaço que possibilita a produção de subjetividades – encontro de
sujeitos – por meio da ação e reflexão sobre os processos de trabalho.
O espaço usado como ferramenta facilitadora do processo de trabalho,
favorecendo a otimização de recursos, o atendimento humanizado,
acolhedor e resolutivo.
Para tanto, aponta a arquitetura como ferramenta facilitadora de mudança do
processo de trabalho, uma vez que esta pode garantir aos ambientes algo que vai
além da arquitetura normativa e projetada exclusivamente para comportar alta
tecnologia. Os espaços podem vir a ser otimizados, aumentando a possibilidade de
acomodações, além de tratados com elementos como cor, cheiro, som, arte, dentre
outros, que o tornam mais acolhedores e menos estressantes.
O cenário que se vê hoje no Brasil, ainda é de precariedade no atendimento
aos pacientes, principalmente aos menos favorecidos. A criação desses programas
é importante, pois vem despertando interesse entre aqueles que se preocupam com
a questão da saúde e estabelece diretrizes para que se recupere o papel e a
responsabilidade, através da arquitetura, as condições funcionais de conforto
35
necessárias ao bom desempenho das práticas médicas, assim como o bem-estar e
a auto-estima dos usuários dos edifícios de saúde. Assim atuando, certamente os
arquitetos contribuirão para o processo de cura dos pacientes (TOLEDO, 2005).
Esses programas surgem como um impulso para a construção do “hospital
humanizado”, tomando o que se tem hoje para que possa ser moldado, assim
construindo o hospital do futuro.
Para tanto, é preciso criar novos paradigmas, exercer a criatividade, a
reflexão coletiva, o agir comunicativo, a participação democrática na busca de
soluções que sejam úteis para cada realidade singular, a fim de transformar as
instituições de assistência a saúde em organizações mais dinâmicas, harmônicas e
solidárias.
No capítulo seguinte serão apontadas as diretrizes e parâmetros
estabelecidos para a humanização do hospital, bem como o papel e a importância
do arquiteto de edifícios hospitalares na elaboração de um projeto mais humanizado.
A finalização deste se dá com a descrição sobre a importância do Healling
Enviroment, exemplificado pelo The Pebble Project, que através de suas pesquisas
comprovam a influência do espaço físico no processo de cura dos pacientes.
36
2. DIRETRIZES PARA A HUMANIZAÇAO DO EDIFÍCIO HOSPITALAR
Este capítulo aborda a importância do arquiteto de edifícios hospitalares na
promoção do bem estar dos pacientes, funcionários e médicos. Além disso, destaca
as diretrizes para a humanização do edifício hospitalar, baseado em parâmetros pré
- estabelecidos em pesquisas já realizadas. No final deste, apresenta-se o The
Peeble Project, como exemplo de humanização e a importância que este aponta
para o design como influenciador na recuperação do paciente.
De acordo com João C. Mezzomo (2002), “parece paradoxal falar-se em
“humanização do hospital” como se sua vocação não fosse essencialmente humana.
Ocorre, porém, que o hospital, à semelhança de outras instituições públicas,
esquece facilmente a finalidade pela qual foi criado”. Muitas vezes se encontra em
condições desfavoráveis, com falhas na estrutura física, o que prejudica diretamente
no trabalho de profissionais e na recuperação de pacientes.
Por serem “os hospitais empreendimentos complexos, que abrigam pessoas
em confronto com emoções e incerteza, nos momentos mais críticos da existência
humana, como nascimento, sofrimento profundo, risco de vida, dor, doença, cura,
qualidade de vida, morte” (MIQUELIN, 1992), a sua arquitetura deverá ajudar
psicologicamente na melhoria dos pacientes.
Surge então a necessidade de criar projetos arquitetônicos que visem a
melhoria e otimização dos espaços, valorizando o bem-estar e o acolhimento do
usuário e dos profissionais de saúde, sem perder de vista o baixo custo.
Os novos ambientes de saúde devem buscar a individualidade e o
aconchego, causando a sensação de ser um local familiar. Devem proporcionar
liberdade, com a valorização de espaços de convivência, entretanto sem
desconsiderar a privacidade do individuo, respeitando a dignidade deste para que
não se sinta violado.
Segundo Bittar (1996), são também especialmente importantes para um bom
planejamento de projeto de um edifício hospitalar, o organograma e o fluxograma. O
organograma, estrutura organizacional, demonstra a hierarquia das diversas áreas e
37
subáreas da organização. A organização cuida das atividades, das atribuições, dos
fluxos e das relações do ambiente interno.
O fluxograma, por sua vez, é a representação gráfica da seqüência de uma
ou mais atividades, caracterizando as fases, as operações e os agentes executores.
Inclusive é um instrumento imprescindível para o estudo dos relacionamentos e do
fluxo
(trânsito),
das
pessoas
(funcionários,
pacientes,
visitantes,
pessoal
terceirizado, vendedores, estudantes, pesquisadores), e dos materiais (permanentes
e de consumo); facilitando, agilizando e evitando os cruzamentos indesejados, como
exemplo, o lixo hospitalar (DALLA, 2003).
Outro fator relevante no desenvolvimento de espaços hospitalares é o que
trata da qualidade do ar. A importância da qualidade do ar no interior das unidades
de saúde pode melhorar a qualidade de vida do paciente, quando a arquitetura
proporciona uma boa ventilação e climatização desses ambientes. “Hospitais são
ocupados por pessoas predispostas, ou mais sensíveis, a problemas associados à
qualidade do ar interior.” (VOELKER, 1994).
Dessa forma, o planejamento arquitetônico é de suma importância, pois é
através de um planejamento prévio que se levantam todas as funções essenciais
para o bom funcionamento do hospital, além de alternativas, que agregadas ao
projeto, contemplem características que contribuam para o desempenho terapêutico
do hospital, não causando, dessa forma, nenhum dano ao paciente que ali
permanece em tratamento. Caso contrário, podem aparecer no decorrer do tempo,
tanto problemas técnicos quanto funcionais, o que acarreta na insatisfação de
usuários, funcionários e gestores, alem do aumento de gastos para a obra.
Sendo assim, existem quatro requisitos a se observar na elaboração de
projetos arquitetônicos para edifícios de saúde (PINHO, 2005, p.40 apud
ARCOWEB, 2005):
Ergonômicos – Atender as condições ambientais mais adequadas à saúde
dos funcionários e dos usuários;
Psicológicos – Relevar os fatores psicológicos que influenciam no bem-estar;
38
Tecnológicos – Permitir a incorporação das novas tecnologias que dão
suporte
ao
funcionamento
do
hospital
e
ao
tratamento,
diagnóstico
e
acompanhamento dos usuários;
Econômicos – Atender ao orçamento existente da melhor forma possível.
Portanto, desenvolver um projeto arquitetônico para hospitais, deve-se
pensar fatores como, fluxo, setorização, circulação, flexibilidade, iluminação,
ventilação, cor, dentre outros, que farão do edifício hospitalar uma instituição melhor
e mais humanizada.
2.1. O papel do arquiteto de edifícios hospitalares
Em se tratando de projetos de edifícios destinados à saúde, o arquiteto se
depara com inúmeras questões que devem ser consideradas em conjunto. Além das
normas técnicas vigentes para a elaboração de projetos hospitalares, o orçamento
especificado para cada obra, dentre outros aspectos burocráticos, o arquiteto deve
estar ciente da verdadeira medida de sucesso para esses estabelecimentos, que é a
promoção da saúde, a cura e a esperança proporcionada para os usuários.
O sucesso, no entanto, se faz presente quando ocorrem planejamentos
prévios e o arquiteto deve estar inserido nesse contexto. “A humanização dos
ambientes deve-se principalmente ao partido arquitetônico adotado durante o seu
planejamento” (VASCONCELOS, 2004, p.33).
Para Martins (2004), o arquiteto de projetos hospitalares, além de conhecer
toda a complexidade do funcionamento de um hospital, deve propor soluções que
atendam as suas necessidades técnicas e de humanização, ou seja, o edifício
precisa ser flexível e expansível para atender todas as demandas das inovações
tecnológicas, sem, no entanto, descartar a subjetividade dos quais utilizarão desses
espaços hospitalares.
Deve, portanto, trabalhar em conjunto com outros profissionais que possam,
juntos, desvendar as respostas aos desafios que existem para a execução de um
ambiente hospitalar funcional e, não menos importante, humanizado.
39
O arquiteto passa a ter um papel de consultor, conselheiro e avaliador do
desempenho
do
espaço,
com
ampla
visão
das
especialidades
médicas,
tecnológicas, espaciais e poder aquisitivo. Além de planejar espaços, deve induzir o
cliente a novas perspectivas e tendências (DALLA, 2003, p.26).
De acordo com Malkin (1991), a maioria dos hospitais parece ser
competentemente planejado. Ser funcional, atender à população e responder à
missão médica, no entanto, não é suficiente. O arquiteto de projetos hospitalares
deve unir a técnica à criatividade e a partir daí contribuir para que outros atributos
realcem e complementem as práticas médicas e a tecnologia usada para atingir a
cura.
Costeira (2004) apud Voelker (1994), afirma que:
Existem diversos elementos a serem incorporados aos projetos que buscam
estabelecer bases para um ambiente apropriado às ações de assistência à
saúde, com conforto visual e acústico – iluminação adequada, carpetes para
absorção de ruídos, cores suaves e obras de arte para tornar a atmosfera
acolhedora e caseira – e a possibilidade de delegar aos pacientes o controle
de luzes, temperatura e alguns equipamentos, como televisor, aparelhos
sonoros, etc., facilmente controlados a partir do leito. Os pacientes são
encorajados para trazer a esses ambientes suas músicas, seus objetos
favoritos e pertences pessoais, além de contarem com áreas comunitárias
para os seus familiares prepararem seus pratos prediletos e de disporem de
itens que reproduzam o conforto usufruído em suas casas (COSTEIRA,
2002, p.82).
De acordo com essa afirmação, deve-se destacar a diferença entre a “beleza
da humanização hospitalar” e a “eficiência da humanização hospitalar”. Vasconcelos
(2004) alerta o fato de o arquiteto trabalhar a humanização com o propósito da cura.
Portanto, humanizar, não é apenas tratar o espaço de forma a torná-lo agradável,
confortável e com elementos que remetam ao ambiente familiar.
É preciso muito mais. É preciso ter conhecimento das razões científicas
pelas quais certos elementos fazem bem ou mal aos pacientes, é preciso
entender porque algumas sensações são provocadas pelo espaço físico e
como os pacientes podem percebê-las, é preciso saber a respeito da
doença que atinge o usuário daquele espaço para poder proporcionar a ele
um ambiente que influencie positivamente na sua recuperação”
(VASCONCELOS, 2004, p.34).
Alguns arquitetos associam aos hospitais algumas características a fim de
definir o que seria a humanização dos ambientes hospitalares. Alguns defendem que
esta ocorre quando o hospital passa a ser comparado com um hotel, analogia muito
40
freqüente na arquitetura hospitalar americana contemporânea. Outros acreditam que
para atingir o grau de hospital humanizado, este deve estar integrado com a
natureza e deve possuir obras de arte espalhadas pelos espaços. Há também os
que acreditam que o ambiente hospitalar deve ser associado ao lar e a possibilidade
de intimidade. Por fim, alguns arquitetos defendem a ideia de que o hospital deve
buscar a sua própria anatomia e estética. “Ultimamente, hospitais minimamente
bem-vestidos e com padrão de serviços razoável têm sido comparados a hotéis.
Esses exemplos têm se caracterizado pela valorização do design de interiores e do
detalhe que mima o paciente (...)” (LOPES; MATTOS, 2003, p. 80).
O hospital, no entanto, deve ser uma instituição que prioriza a saúde
humana no seu sentido mais completo, não só a física, mas também a mental. A
partir disso, o arquiteto de edifícios hospitalares além de garantir funcionalidade,
beleza e competitividade ao seu projeto, deve contribuir para proporcionar espaços
que ajudem na promoção da cura dos pacientes.
No tópico a seguir serão apontados atributos norteadores para que o
arquiteto produza um ambiente hospitalar humanizado.
2.2. Atributos para a humanização do ambiente hospitalar
A humanização dos ambientes de assistência a saúde ainda é um tema
muito recente. Muitas de suas teorias são baseadas nas pesquisas de Roger S.
Ulrich, diretor do Center of Health Systems and Design no College of Architecture at
Texas A&M University, dos Estados Unidos.
Em trabalho apresentado no ano de 1990, no The National Symposium on
Health Care Design, esse autor relata a ineficiência das instalações em ambientes
hospitalares tradicionais, classificando-os como espaços “psicologicamente duros”.
Pesquisadores deste campo emergente tem acumulado evidências que
subsidiam grandes alterações necessárias na aparência dos ambientes hospitalares,
bem como na sua funcionalidade e na promoção de espaços que melhorem o bem
estar dos pacientes. No entanto, não existe um padrão e nem uma definição exata
de como deve ser um ambiente destinado para a cura, mas sim, alguns atributos
41
que balizam gestores e arquitetos para a elaboração de espaços mais humanos,
menos hostis.
De acordo com Vasconcelos (2004), “alterando o espaço hospitalar através
da redução do estresse ambiental, pode-se melhorar o processo dos cuidados com
a saúde, e ainda reduzir os custos dos tratamentos”.
O estresse é um problema que atinge não só os pacientes, mas também
todos os funcionários envolvidos na atmosfera hospitalar. O ambiente deve estimular
os pacientes, naturalmente já atingidos pelo estresse causado pela doença e
proporcionar a funcionários e médicos o prazer do trabalho.
A pouca qualidade físico espacial do ambiente hospitalar pode causar
manifestações negativas no corpo humano, tais como: fisiológicas (a mudança do
sistema corporal, o aumento da pressão arterial, o aumento da tensão muscular e o
aumento da circulação dos hormônios de estresse), psicológicas (ansiedade e
depressão) e comportamentais (variadas reações que afetam o bem-estar, como a
explosão verbal, o isolamento social, a passividade, a sonolência, o abuso de álcool
ou drogas, e as complicações com medicamentos, principalmente em doenças
crônicas) (VASCONCELOS, 2004, p. 35). Portanto, um dos requisitos para o bom
funcionamento do hospital é que este seja provido de características que contribuam
para afastar o estresse dos seus usuários.
Ulrich (1990), atribui três fatores considerados como atributos que
promovem a humanização do ambiente hospitalar, são eles: controle do ambiente;
suporte social possibilitado pelo ambiente; distrações positivas do ambiente. São,
portanto, considerados fundamentais para evitar o estresse e garantir a melhoria de
bem estar.
Em pesquisa mais recente feita na Inglaterra, a ASPECT (A Staff and Patient
Environment Calibration Tool), órgão responsável por avaliar a qualidade do
ambiente hospitalar e o impacto causado pelo mesmo em pacientes e funcionários,
também aborda atributos que promovem a humanização nos hospitais, tais como: a
privacidade; as vistas; a integração do edifício com a natureza; conforto e controle
dos ambientes; legibilidade do lugar; aparência interior; facilidades; a relação
42
paciente/funcionários e funcionários/funcionários; Alguns destes se inserem entre os
três já apontados por Ulrich.
Uma outra entidade que se baseia na humanização do ambiente e da
relação do paciente com o corpo clínico é a Planetree, organização sem fins
lucrativos, criada na Califórnia, EUA, em 1978, por Angélica Thierot, uma paciente
insatisfeita com o tratamento pouco humanizado e traumatizante a que foi submetida
durante a sua internação em um hospital em São Francisco. A partir do Planetree
surge o Pacient-Centered Care (cuidados focados no paciente).
Segundo relato da própria criadora dessa entidade, “enquanto era cercada
de cuidados que se valiam da mais alta tecnologia médica, o relacionamento, com a
equipe de médicos de enfermagem, era apavorante” (TOLEDO, 2004, p.80).
De acordo com esse autor, os princípios que fundamentam a assistência à
saúde do Pacient-Centered Care são os seguintes:
A estrutura física do estabelecimento é vital para o processo de cura e
deve ser desenhada para promovê-la, assim como para estimular a
participação do paciente e de sua família durante a internação;
O suporte de um ambiente confortável, ameno e acolhedor é um
componente essencial para a dispensa de cuidados à saúde de alta
qualidade;
Os pacientes têm o direito de receber informações claras e verdadeiras,
num ambiente caloroso e acolhedor;
Os pacientes também tem o direito ao livre acesso à informação sobre
todos os aspectos de sua saúde, agravos e hospitalização, incluindo o
livre acesso a receitas e prescrições médicas a seu respeito;
Todos os atores – pacientes, família e equipe de profissionais –
desempenham um papel único e vital no cenário da prestação de
cuidados;
Os pacientes possuem múltiplas facetas: físicas, emocionais, intelectuais,
espirituais e estéticas; e não são unidades isoladas, mas membros de
famílias, comunidades e culturas;
43
Pacientes são únicos nos seus direitos, responsabilidades e escolhas, no
que se refere à saúde e ao estilo de vida.
A experiência da doença pode se transformar em um fator de
crescimento individual para o paciente; pode ser usado como um tempo
de reavaliação dos valores de vida, redimensionando prioridades e
redefinindo potencialidades.
Quanto à avaliação da percepção do espaço, destaca-se a AEDET
(Achieving Excelent Design Evaluation), desenvolvida na Inglaterra em 2002 e que
se propõe a avaliar e verificar a qualidade dos espaços de edifícios de saúde além
da percepção, quanto à função e técnica.
É sob a ótica desses parâmetros abordados nas pesquisas de Ulrich, da
ASPECT e da AEDET, nos princípios estabelecidos pelo Pacient-Centered Care,
assim como nas questões apontadas pelos programas criados pelo SUS, descritos
no primeiro capítulo, que se baseia esta pesquisa, classificando cada fator desse e a
sua importância na recuperação dos pacientes hospitalizados.
2.2.1 Controle do ambiente
Um dos atributos importantes para que o nível de estresse dos pacientes
seja evitado é a possibilidade dos mesmos poderem controlar os ambientes que o
cercam.
Alguns estudos demonstram que um hospital barulhento, confuso, sem
privacidade e que não permite ao indivíduo controlar seu ambiente imediato,
prejudica o paciente reduzindo sua sensação de autonomia, o que pode causar
depressão, passividade, aumentar a pressão arterial e reduzir a funcionalidade do
sistema imunológico (ULRICH, 1990).
Portanto, deve ser delegada ao paciente, a possibilidade de controlar o
ambiente no qual está inserido. O paciente deve ter o direito de mudar o canal da
televisão, colocar a temperatura do ar-condicionado que lhe é confortável, controlar
o volume do som, por exemplo. A existência de controladores de interfone, luz, som
e televisão, devem estar ao alcance do paciente para que possam se sentir mais
44
seguros. “Situações e condições que não se pode controlar, são aversivas e causam
estresse em qualquer ambiente, não só no hospitalar” (VASCONCELOS, 2004, p.
36).
Malkin (1991), confirma essa afirmação acima:
Tem sido demonstrado que em qualquer estabelecimento, não apenas em
hospitais, o controle do ambiente reduz o estresse. Quando você sabe que
tem uma opção, por menor que seja, você se sente melhor (...) As
conseqüências para os ambientes de saúde são enormes: pacientes que
podem controlar a temperatura e a iluminação do seu próprio quarto, a
privacidade necessária, a hora e a quantidade de refeições que têm durante
o dia, demonstram menor estresse e apresentam recuperação mais rápida
(MALKIN, 1991, p. 14-15).
Malkin (1991), também confirma o discurso de Ulrich, defendendo que
soluções arquitetônicas podem combater o nível do estresse dos usuários de um
hospital, aumentando a sensação de controle do ambiente. Destaca a importância
de medidas que garantam: a privacidade visual para pacientes vestirem-se em salas
de imagens; o controle do canal e do volume da televisão tanto nos quartos como
nas salas de visitas; a inclusão de jardins ou pátios acessíveis a pacientes; a criação
de um local onde os pacientes possam dedicar-se a coisas de seu interesse ou a
algum hobby; e dar aos pacientes a possibilidade de escolha no contato com
visitantes ou outros pacientes;
Vasconcelos (2004), aponta o Eisenhower Memorial Hospital (Figuras 2.1 e
2.2), localizado em Rancho Milagre, na Califórnia, como exemplo de instituição que
reformulou seus leitos levando em conta o controle do ambiente pelo paciente. Para
o controle da iluminação foi colocado um abajur ao lado da cama e o controle da
abertura das persianas é feita através de controle remoto, possibilitando assim, de
acordo com a vontade do paciente, a entrada ou não de luz. Também foi colocado
um telefone/interfone ao lado do leito para solicitar a presença de médicos e/ou
enfermeiros; mobiliário variado que oferece opção entre ter as refeições na cama ou
na mesa, por exemplo; e um ambiente muito mais agradável com cores e materiais
variados que retiraram a monotonia e o caráter institucional que havia antes no local.
45
Figura 2.1 e 2.2 – Antes e depois da reforma do
quartos do Eisenhower Memorial Hospital, Rancho
Milagres, Califórnia, EUA.
Fonte: www.jainmalkin.com
Pode-se observar a partir das afirmações acima, que o controle do ambiente
faz com que o paciente se sinta menos passivo, mais auto-suficiente. Assim, pode
funcionar como um estímulo para a melhora do indivíduo e contribuir para o controle
da ansiedade do mesmo.
2.2.2. Suporte social
O suporte social é possibilitado a partir da criação de espaços dentro dos
hospitais que possibilitem a integração entre o paciente e os familiares, pacientes e
amigos ou entre os próprios pacientes, obtendo assim, benefícios para seu estado
físico e emocional.
Segundo Ulrich (1991), estudos da medicina comportamental e da psicologia
clínica, apontam, dentre uma variada gama de situações que envolvem ambientes
de saúde, que pacientes que tem algum tipo de suporte social apresentam menores
níveis de estresse do que aqueles que não dispõem de contatos entre familiares,
amigos ou sociedade.
Em conferência descrita no livro O Projeto do Lugar de Del Rio, Duarte e
Rheingantz, sobre o Desenvolvimento e a Aplicação dos Conceitos de Espaço
46
Pessoal, Robert Sommer, psicólogo e professor titular da Universidade da Califórnia,
confirma:
É um edifício típico, com as cadeiras dispostas ao longo das paredes, com
seus ambientes pintados de cores institucionais e seus corredores sem fim.
Quando nos deslocamos para cima ou para baixo, sofremos com a variação
de iluminação, e a disposição das cadeiras nos corredores e nas salas
dificulta a socialização dos pacientes (DEL RIO, DUARTE E RHEINGANTZ,
2002, p. 22).
Uma vez sentados lado a lado, os pacientes não conversam, dificultando a
possibilidade de comunicação entre os mesmos. Esses estudos, portando, admitem
que o arranjo de mesas e cadeiras, de fato, impedem no processo de socialização
entre os pacientes.
O arranjo físico do hospital pode influenciar no favorecimento ou não do
suporte social. Se feito de forma flexível, que possibilite rearranjos, que seja
confortável e aconchegante, o ambiente pode aumentar a interação entre pacientessociedade e entre pacientes - pacientes aumentando o suporte social.
Figura 2.3 – Exemplo de Sala de Espera que promove a socialização. Hospital Carol Ann Breast
Health Center, Oakland, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
47
Essa sala de espera é representada de forma agradável, seja pela
disposição do mobiliário – que permite a mobilidade dos mesmos – e assim
possibilita uma maior socialização entre os indivíduos, seja pelos artifícios de design
utilizado pela arquiteta. Cores vibrantes e obras de arte contemplam o espaço de
forma a torná-lo mais aconchegante e acolhedor.
Além das salas de espera e dos quartos, outros espaços devem ser
propostos pelos arquitetos para que aumente o suporte social, tais como ambientes
de reuniões, livrarias, espaços para lazer e, até mesmo, espaços para orações.
Figuras 2.4 e 2.5 – Área destinada para oração e Livraria. Hospital Carol Ann Breast HealtCenter,
Oakland, CA e Eisenhower Memorial Hospital, Rancho Milagres, Califórnia, EUA.
Fonte: www.jainmalkin.com
O design interior dos ambientes, no entanto, deve ser elaborado de forma a
não forçar o contato social entre os indivíduos, pois isso pode ferir a privacidade do
indivíduo, tornando o ambiente, no que deveria ser um local agradável, estressantes
e agentes contra o bem estar.
2.2.3. Distrações positivas
A distração positiva é proporcionada por um ambiente formado por
elementos que provocam sentimentos positivos no paciente, prendendo sua atenção
e despertando seu interesse para outras coisas além da sua doença, o que reduz ou
48
até mesmo bloqueia os pensamentos ruins (ULRICH, 1991, p.228). Ou seja,
ambientes com boa qualidade físico - espacial podem ser estimulantes.
Evans e McCoy (1998), definem a “estimulação” como sendo a dimensão
que descreve a quantidade de informação imposta para o usuário. As qualidades
ambientais estimulantes podem ser categorizadas levando-se em conta fatores
como intensidade, variedade, complexidade, mistério e novidade.
Segundo Ulrich (1991), estudos feitos no campo da psicologia ambiental
associam sensação de bem estar a um ambiente físico que favoreça grau moderado
de estimulação positiva.
Sobre a afirmação acima, Clemesha (2007), complementa:
A falta dessa estimulação, pode causar, portando, tédio, e em casos
extremos, a privação sensorial. Caso contrário, quando em excesso, pode
causar distração e interferir em processos cognitivos que demandem
concentração ou esforço; a superestimulação torna difícil fixar a atenção e
interrompe ações continuadas (CLEMESHA, 2007, p.61).”
A sala de espera do Derbyshire Children’s Hospital apresenta diversos
elementos para distrair as crianças. Um ambiente acolhedor, criado com o uso de
cores e texturas e com mobiliário que foram construídos na forma de escultura brinquedos, que fazem parte do imaginário das crianças britânicas e que as distraem
a ponto de esquecerem que estão em um hospital.
Figura 2.6 – Sala de Espera de Hospital Infantil. Derbyshire Children’s Hospital, UK.
Fonte: http://portal.uninove.br/marketing/cope/pdfs_revistas/exacta/exactav5n1/exacta_v5n1_3d25.pdf
49
Outro exemplo de sala de espera projetada para hospital infantil que possui
elementos para promover bem estar às
crianças é o Valley Children’s Medical
Center, Madera, Califórnia, EUA. Aí estão
presentes desde a mescla de cores frias
com cores vibrantes, até aquários e
brinquedos
como,
por
exemplo,
um
escorregador.
Figura 2.7 – Valley Children’s Medical Center, Madera, Califórnia, EUA.
Fonte: http://www.posarq.ufsc.br/defesas/ dissertacao007.pdf
No consultório odontológico do
Dental
Clinic,
em
Los
Angeles,
na
California, um retroprojetor foi colocado
no teto, com a intenção de distrair os
pacientes enquanto são atendidos.
Chegar ao senso comum do grau de
estimulação, no entanto, não é tarefa fácil. É
necessário
que
se
conheça
as
características da população que utilizará o
espaço, como, por exemplo, idade, sexo,
nível cultural e social, e também tomar
conhecimento de quais atividades serão
desenvolvidas no local.
Figura 2.8 – Dental Clinic, Los Angelis, California, EUA.
Fonte: http://www.jainmalkin.com/
50
Segundo Vasconcelos (2004), algumas soluções podem transformar o
espaço em um local que promova distrações positivas, são elas:
Presença de átrios, jardins externos ou espaços abertos ao exterior;
Uso de elementos como água, fogo, uso de fontes, lareiras e aquários;
Janelas baixas que permitem a visão do exterior pelos pacientes;
Iluminação e uso de cores adequadas;
Integração com a natureza, que apresenta todos os elementos
necessários para estimular o usuário e prender sua atenção através dos sentimentos
positivos que causa;
Dentro desse conceito, pode-se incluir a Psiconeurimunologia (PNI), que
nada mais é do que uma das vertentes de vanguarda da pesquisa médica que
comprova que sentimentos e emoções refletem no sistema imunológico promovendo
saúde ou doença mental e/ ou física, e conseqüentes alterações de comportamento.
Diante da afirmação acima, os emergentes estudos no campo da
humanização e da psiconeuroimunologia comprovam o respaldo positivo quando
elementos
são
aplicados de
forma
corretamente,
tornando
um
ambiente
incrivelmente agradável, mesmo em se tratando de edifícios hospitalares.
Esse termo foi criado pelo psicólogo experimental, Robert Ader, que
constatou que o sistema imunológico era livre e soberano e tinha vínculo com a
mente. “Se refere à todas emoções que estão em jogo na patenogia das doenças
físicas que se associam às disfunções imunológicas, especialmente doenças
associadas a estados de relativa incompetência imunológica como câncer, infecções
e doenças alérgicas” (VASCONCELOS, 2004, p. 47).
Acreditava que a doença não se deve a um único fator fisiológico ou
psicológico, mas é psicossomática e nasce de uma constelação de
elementos e circunstâncias, tanto fisiológicas quanto psicológicas. Ader
chegou a estas conclusões a partir de experiências efetuadas com ratos
que levados a um confinamento, por exemplo, tinham condições de
desenvolver lesões no estômago, porque estavam perturbados ou
estressados devido a baixa atividade (MONTERO, 2006).
51
A psiconeuroimunologia é, portanto, a ciência que estuda os fatores que
ajudam na melhoria do aspecto físico dos ambientes a fim de melhorar a saúde e o
bem estar de pacientes, acelerando o seu processo de cura. Estuda os estímulos
sensoriais, os elementos do ambiente que os causam, e as relações entre estresse
e saúde. Seus estudos demonstram que a variação na quantidade de estímulos
sensoriais é necessária, pois a condição de monotonia permanente induz a
distúrbios patológicos (VASCONCELOS, 2004, p. 46 apud GAPPELL, 1991).
Nesse sentido, segundo Gapell (1991), existem seis fatores que afetam o
bem estar físico e emocional dos pacientes, são eles: luz, cor, textura, aroma, forma
e som. A deficiência de um projeto arquitetônico de um edifício hospitalar que não
adote esses seis fatores de forma adequada pode gerar desconforto nos usuário e
atrapalhar no processo de cura dos mesmos, ao passo de que, aplicando
corretamente esses fatores, pode ser considerada parte importante no tratamento.
Nos tópicos a seguir, serão estudados cada um desses seis fatores e a
contribuição destes para a humanização dos hospitais.
2.2.4.Luz
A iluminação é fator determinante para um bom projeto de arquitetura,
influencia não só na qualidade do projeto, mas também, no equilíbrio fisiológico e
psicológico dos usuários.
Não se considera mais o projeto de iluminação apenas como uma função
visual, onde a quantidade e a qualidade da luz são fundamentais. Estudos já
revelaram que a luz traz benefícios à saúde e “influencia o controle endócrino, o
relógio biológico, o desenvolvimento sexual, a regulamentação do estresse e fadiga
e a supressão da melatonina” (VASCONCELOS, 2004, p. 48 apud FONSECA,
2000).
Tanto a luz natural quanto a luz artificial devem ser empregadas, visando a
qualificação dos espaços hospitalares, “principalmente quando o estado fragilizado
dos pacientes e sua longa permanência na instituição são considerados”
(VASCONCELOS, 2004, p.48).
52
Dois parâmetros de iluminação devem ser considerados: o de quantidade de
iluminação e o de qualidade desta. Portanto, a combinação da iluminação natural
com a artificial deve estar dentro desses dois parâmetros, sendo o primeiro ao que
corresponde aos aspectos normativos, com nível de iluminância mínimo e o outro,
que visa o bem estar do paciente.
Centenas de funções do corpo humano são influenciadas pela luz do dia e
algumas tem ritmos que seguem o ciclo que alterna noite e dia. Permitir
visuais externas e utilizar adequadamente a luz natural e artificial é um fator
fundamental para a manutenção dos níveis de produtividade e de conforto
psicológico para todos os usuários do edifício. O uso equilibrado da
iluminação natural e artificial introduz benefícios, inclusive terapêuticos, para
o paciente Monog_Pos_Mariza v7(MIQUELIN, 1992, p. 209).
Dessa forma, além de iluminar o ambiente, a luz proporciona sensações aos
usuários do edifício. Uma vez mal empregada, a iluminação pode afetar diretamente
no bem estar do paciente, dificultando assim, na recuperação do mesmo. Ela pode
provocar emoções positivas ou negativas.
Segundo Vasconcelos (2004), a luz do sol é importante para a absorção do
cálcio e do fósforo, para o crescimento e fortalecimento dos ossos, para o controle
de profilaxia viral e de infecções e para a melhora da capacidade física, diminuindo a
pressão arterial e aumentando a quantidade de oxigênio.
Por outro lado, em ambientes onde a luz fria é empregada, pode causar o
desconforto e consequentemente uma certa impaciência por parte do usuário,
despertando a vontade de ir embora. Esta sensação de “frieza” de um ambiente, no
entanto, pode ser amenizada com o uso de cores, abajures e elementos de
comunicação visual.
Ribeiro (2004) apud Corbiolli (2003), descreve que de acordo com a
arquiteta e lighting designer Neide Senzi, existem recursos para humanizar os
ambientes hospitalares a partir da iluminação. A utilização de filtros permite a
suavidade da luz e também pode ser empregado como elemento de comunicação
visual, marcando salas de exames e consultórios. A criação de focos de interesse no
teto pode contribuir para a distração dos pacientes, especialmente nas salas
pediátricas.
53
A figura a seguir mostra detalhes de iluminação propostos para o teto de
salas de exames:
Figura 2.9 e 2.10 – Scripp’s Memorial Hospital Women’s
Care, California.
Fonte: www.jainmalkin.com
Outro artifício a ser considerado pelo arquiteto visando à humanização é o
contato com o ambiente exterior, sendo as janelas, as principais responsáveis por
isso. Proporciona além de conforto visual, conforto térmico e psicológico aos
pacientes. Através dessas aberturas, pode garantir ao paciente contato com o
ambiente exterior, com a natureza e também proporcionam a capacidade dos
mesmos de acompanharem a variação da luz durante o dia.
Logicamente não se deve esquecer da iluminação no seu ponto de vista
funcional, que deve assegurar bons índices de reprodução de cores e atender às
especificidades referentes à avaliação clínica e aos procedimentos médicos.
Na figura a seguir, nota-se a
combinação de luz natural e artificial em
um dos consultórios do Scripp’s Memorial
Hospital Women’s Center, em La Jolla,
California, idealizado pelo arquiteto James
Leary.
Figura 2.11 – Consultório do Scripp’s Memorial Hospital Women’s Care, California.
Fonte: www.jainmalkin.com
54
Na sala de quimioterapia do North Country
Oncology Chemoterapy Infusion, em Vista, também
na California, a iluminação natural é utilizada através
de uma clarabóia no teto, que além de permitir a
entrada de luz natural, permite o contato do interior
com o exterior.
Figura 2.12 – Scripp’s Memorial Hospital Women’s Care, California.
Fonte: www.jainmalkin.com
Uma questão apontada por Vasconcelos (2004) é a necessidade de adequar
a iluminação do ambiente de acordo com cada tipo de paciente. A quantidade de luz
varia a partir das necessidades de cada grupo. Os idosos, por exemplo, necessitam
de mais luz do que os jovens para realizar suas atividades, no entanto, os espaços
projetados para esse grupo devem possuir mais luz.
Infere-se que para garantir o bem-estar do usuário através da iluminação,
além do aspecto visual, é necessário que se utilize níveis de iluminação de acordo
com exigências do conforto humano; sistemas de iluminação que podem ser direto,
indireto ou misto; tipo de fonte de luz adequada; eficiência luminosa e boa
reprodução de cor.
No caso dos hospitais, os diferentes tipos de usuários e as atividades requerem
iluminação específica. É importante, também, delegar ao paciente a autonomia do
controle da iluminação, que permitem acender ou apagar as lâmpadas e abrir ou
fechar os elementos de proteção contra a luz solar, tais como, brises, persianas ou
cortinas.
55
2.2.5 Cor
As cores exercem grande influência no ambiente, modificando-o, animandoo ou transformando-o, e assim, elas podem alterar a comunicação, as atitudes e a
aparência das pessoas presentes. Nos ambientes hospitalares, essa deve ser usada
de forma adequada para que cause o bem estar de pacientes, familiares e
profissionais, onde direta, ou indiretamente, possa influenciar de forma positiva no
processo de cura.
Segundo Boccanera (2006), a utilização das cores para fins de cura é um
processo não agressivo sobre o organismo, não é maléfica, não causa efeitos
colaterais e não atua como agente de pressão sobre o corpo. A cromoterapia atua
diretamente na base da doença, procurando restaurar o equilíbrio entre as energias
vibratórias do corpo. A todo instante estamos em contato com as cores, elas fazem
parte da vida e, sem elas, o mundo seria diferente.
A cor é um elemento fundamental na vida humana. É um item essencial na
composição arquitetônica, seja interna ou externamente. Portanto, deve haver
conhecimento prévio sobre o uso das cores, não podendo ser escolhidas de forma
aleatória, pois atuam direta e intensamente sobre as pessoas, muitas vezes de
forma estática, sem possibilitar a diluição nos seus efeitos como ocorrem na
visualização externa. Uma vez utilizadas de forma errada, podem trazer problemas
para a instituição de saúde, afetando negativamente os pacientes.
Cunha (2004) aponta que a harmonia visual, bem como o equilíbrio
cromático, depende do tamanho e da forma da área revestida. Assim, algumas cores
atraem, outras repelem – isso quando a cor utilizada não for apropriada àquele
espaço – podendo, também, transmitir sensações de calor ou de frio, agitar ou inibir
as pessoas.
O grau de reflexão dos efeitos das cores sobre as pessoas é grande, seja no
campo de trabalho, em uma área de repouso, ou em um leito de hospital. Caso
ocorram contrastes excessivos e intensos nos ambientes, pode causar desconforto
para o usuário desse determinado espaço.
56
Os efeitos psicológicos causados pela cor são, em parte, associações
inconscientes com experiências já vividas ou vistas. O tédio, causado por
um ambiente monótono, é uma reação do organismo a uma situação pobre
em estímulos ou com pequenas variações. Os mais importantes sintomas
do tédio são os sinais de fadiga, sonolência, falta de disposição e
diminuição da atenção. Cientes disso, ao se escolher cores para os
ambientes, deve-se observar cada lugar específico, pois as cores sofrem
influências da posição solar – se no hemisfério norte ou sul, se as janelas
estão voltadas para o norte, o sul, o leste ou o oeste, se existem janelas ou
há iluminação artificial (CUNHA, 2004, p.59).
As cores classificam-se em quentes e frias. As quentes são representadas
pelo vermelho, laranja e pequena parte do amarelo e do roxo, já as frias, fazem
parte as que integram grande parte do amarelo e do roxo, os verdes e azuis. “As
cores quentes parecem dar uma sensação de proximidade, calor, densidade,
proximidade, secura, além de serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias
parecem distantes, frias, leves, transparentes, úmidas, aéreas, e são calmantes”
(VASCONCELOS, 2004, p. 52 apud MODESTO, 1986).
Cores Quentes
Cores Frias
Figura 2.13: Espectro visível das cores
Fonte: http://www.posarq.ufsc.br/defesas/dissertacao007.pdf
Por meio das cores é possível criar ambientes mais alegres, aconchegantes
e confortáveis podendo causar distrações positivas nos pacientes, como já foi
abordado anteriormente.
Figura 2.14 e 2.15 – Sala para Crianças /
Sala espera adultos. Cores quentes x Cores Frias.
Fonte: www.jainmalkin.com
57
A cor também pode afetar na percepção dos objetos e dos espaços. Ao
utilizar cores frias, os espaços parecem maiores, mais amplos, os pesos parecem
mais leves e os objetos parecem menores, como no caso da sala de espera do
Kettering Health Network Skymore Hospital, nos EUA. Nos ambientes onde
predominam cores quentes, por sua vez, causam efeito contrário, ai exemplificado
pelo Ohta Nishinouchi Hospital, no Japão.
Figura 2.16 – Kettering Health Network Skymore
Hospital, EUA
Fonte: Medical Facilities, 1995.
Figura 2.17 – Ohta Nishinouchi Hospital, Japão.
Fonte: Medical Facilities, 1995.
Outra característica das cores quentes e frias á a capacidade que elas tem
de afetar no conforto térmico dos ambientes. Embora a temperatura seja a mesma
as pessoas tendem a sentir mais frio em ambientes com tonalidades frias e calor em
ambientes com tonalidades mais quentes. As cores, portanto, são determinantes,
quando usadas corretamente, para amenizar o aspecto frio a que se associa o
hospital.
A percepção da cor é alterada pela idade. Crianças respondem melhor aos
contrastes, preto e branco, cores primárias e secundárias, diferentes saturações e
sombras. Os idosos, devido ao amarelamento das lentes dos olhos, têm a
percepção das cores alterada, não podendo mais distinguir tão bem os tons de azul
e verde (VASCONCELOS, 2004, p. 55 apud MODESTO, 1986).
Portanto, não existem regras pré - estabelecidas fixas para o uso da cor.
Deve-se adequar a cada tipo de situação, considerando fatores como idade, cultura,
intensidade solar, tamanho do espaço e as atividades a que serão destinadas para
cada espaço.
58
2.2.6 Textura
O arquiteto, ao projetar, deve decidir quais os materiais que irão compor os
ambientes. De acordo com Atoniades (1992), essa decisão é baseada em duas
categorias de materiais: (1) aqueles que podem afetar o sistema estrutural e a
organização funcional e (2) aqueles que podem afetar a micro-escala da arquitetura,
a textura externa, interna, os detalhes e os acabamentos.
Além do caráter estrutural, da proporção, dos custos, as duas categorias
também podem ter outras características técnicas, formais e simbólicas que devem
ser analisadas por ocasião do projeto, visto que influenciarão na qualidade da forma
e do espaço arquitetônico (AFONSO, HEIDTMANN JUNIOR, 2007, p. 04). Os
materiais, além de suas qualidades técnicas, podem ser escolhidos em função das
associações que eles carregam.
Por meio do uso, alguns materiais podem estar associados a tipos
arquitetônicos específicos. Os materiais podem parecer frágeis ou
resistentes, flexíveis ou duros, frios ou temperados, suaves ou ásperos,
foscos ou brilhosos, evocar opulência ou austeridade, temporalidade ou
eternidade, podem ser vegetais, minerais ou misturas artificiais, industriais
ou artesanais (AFONSO, HEIDTMANN JUNIOR, 2007, p. 04).
As texturas para a arquitetura são como a moda para o corpo. A função das
nossas vestimentas não está apenas associada à proteção do corpo, mas existem aí
características intrínsecas que dizem respeito, por exemplo, à personalidade, à
cultura, dentre outros fatores relacionados a cada pessoa. Segundo Afonso,
Heidtmann Junior (2007), na arquitetura, as texturas utilizadas podem comunicar aos
usuários das edificações a sua época de construção, a época em que a intervenção
foi feita, ou uma nova função ou efeito plástico que se queira fazer identificável.
Dentro dos ambientes, o conforto do corpo humano é assegurado pela
escolha adequada das texturas e materiais utilizados. Pelos mesmos, pode-se
garantir qualidades táteis ao espaço, caso contrário, no caso do hospital, por
exemplo, pode causar estresse e ansiedade no paciente e contribuir para a
sensação de insegurança e dependência (VASCONCELOS, 2004, p. 59).
Os significados, conotações e associações, transmitidos pelos materiais, se
devem não somente às suas características formais ou visuais, mas também às
suas características sonoras, tácteis e olfativas (AFONSO,HEIDTMANN JUNIOR,
59
2007, p. 06 apud REIS, 2002) Portanto, os espaços podem ser enriquecidos pelo
uso adequado de determinadas superfícies, proporcionando conforto.
Na
figura
a
seguir
pode-se
verificar que com o uso adequado das
texturas
nas
superfícies,
tem-se
um
ambiente acolhedor e agradável, como
esse exemplo de quarto do Eisenhower
Medical Center, em Rancho Milagre, na
Califórnia.
Figura 2.18 – Eisenhower Medical Center, Rancho Alegre, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
Outra opção para estimular positivamente
o corpo humano é pelo uso de texturas naturais
situadas dentro do ambiente hospitalar. O uso de
plantas seja dentro dos ambientes, seja com o
contato externo, proporciona um ambiente menos
frio, mas humanizado. Na figura abaixo, plantas
são inseridas no interior do hospital, quebrando a
hostilidade do corredor.
Figura 2.19 – Eisenhower Medical Center, Rancho Alegre, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
2.2.7 Aroma
Geralmente associa-se o hospital ao cheiro desagradável e forte dos
produtos farmacêuticos. O aroma pode ser positivo ou negativo. “É, na verdade, uma
persuasão silenciosa que influencia a mente, o corpo e o espírito” (VASCONCELOS,
2004, p. 57).
A tensão e o medo podem ser driblados através do cheiro, é por este motivo
que, ultimamente, os hospitais vem adotando a aromatização com o intuito de
eliminar esse desconforto causado pelo cheiro característico do qual o associam.
60
Segundo Gappel (1991), o cheiro é o mais evocativo dos sentidos, tem uma
relação muito íntima com o lado emocional, e faz o caminho mais rápido de ligação
com o cérebro estimulando-o a resgatar memórias.
Algumas alternativas, por sua vez, podem ser utilizadas para aromatizar os
ambientes hospitalares, tais como o uso de saches, de aromatizantes de ambientes,
de arranjos florais e da própria vegetação. “As plantas, além de exalar bons aromas,
podem purificar o ar interno absorvendo toxinas, alegrando o ambiente e
promovendo o contato com a natureza” (VASCONCELOS, 2004, p. 57).
2.2.8 Som
O ouvido humano é um sofisticado sensor acústico, e devido à deterioração
do sistema auditivo pela prolongada exposição ao ruído, é necessário
conhecer em evitar esses danos, além dos oriundos das vibrações. Som e
ruído não são sinônimos. Um ruído é apenas um tipo de som, mas a
recíproca não é verdadeira. O conceito de ruído é associado a um som
desagradável e indesejável. O som é definido como a variação da pressão
atmosférica dentro dos limites de amplitude e banda de freqüências aos
quais o ouvido humano responde (PIETROBON, SOARES, 1995, p. 01)
Além dos cuidados com as cores, texturas, formas, etc., favoráveis à
composição dos ambientes hospitalares, deve-se levar em conta os sons diretos,
ecos, a reverberação, favoráveis a uma boa audição, a um timbre harmonioso.
“Um trauma auditivo, além de causar estresse, produz mudanças fisiológicas
na estrutura capilar sangüínea impedindo a circulação do sangue e obstruindo o
canal vascular, e tem como resultado pressão alta, doenças do coração e úlceras”
(VASCONCELOS, 2004, p. 55 apud GAPPEL, 1991).
O barulho ou o som desagradável pode causar estresse tanto aos pacientes
quanto à equipe de trabalho, podendo diminuir a produtividade e o limiar da dor.
Portanto, a permanência em ambientes com ruído constante é prejudicial para a
saúde de qualquer pessoa.
Os ruídos podem ser evitados com a utilização de superfícies isolantes que
não refletem ou amplificam as ondas sonoras. Paredes e tetos podem ser
trabalhados com superfícies irregulares para a absorção do som; carpetes podem
ser dispostos pelo chão; tecidos, madeiras e painéis acústicos também podem ser
utilizados para proporcionar ambientes mais quietos e tranqüilos.
61
Além disso, o uso de fontes e jardins internos no interior de hospitais,
possibilitam, além de efeitos visuais agradáveis, efeitos sonoros. Sons naturais
possuem efeito calmante e relaxante, possibilitando a melhoria do bem estar dos
pacientes.
Figura 2.20 – Zen Garden, Esenhower Medical
Center, Rancho Milagre, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
Figura 2.21 – Zen Fountain in Garden, UCF Faculty
Dental Practice, Los Angeles, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
A música, que estimula a liberação da endorfina e diminui o batimento
cardíaco, tem efeito similar. Ela está sendo utilizada com um artifício para a
humanização hospitalar, como o caso do programa criado pela APM (Associação
Paulista de Medicina) e Sonofis – Aventis em parceria com o Ministério da Cultura,
que tem como objetivo de levar concertos eruditos para os hospitais de São Paulo.
De acordo com o presidente da APM, o médico José Cury, “o ambiente hospitalar é
muito tenso e carregado e a APM quer favorecer um ambiente mais solidário e a
música é uma das maneiras para se conseguir isso”.
O som proveniente das diversas fontes e a eliminação de ruídos fazem do
ambiente mais tranqüilo, reduzindo dores e sofrimento dos pacientes, acalmando-os.
O som pode amenizar as características naturais dos hospitais, evocando uma
resposta emocional, alterando o humor e aguçando outros sentidos.
62
2.2.9 Forma
O espaço engloba constantemente o nosso ser. Suas formas visuais, suas
dimensões e escala, a qualidade de sua luz, todas essas qualidades dependem de
nossa percepção dos limites espaciais definidos pelos elementos da forma (CHING,
2002, p. 92).
O ser humano geralmente está inserido em um espaço e este provoca
sensações positivas ou negativas nos usuários, sendo a forma um dos fatores
influenciadoras desse processo.
Sobre a forma arquitetônica, Oscar Niemeyer defende que:
Diante dessa evolução contínua e inevitável e dos programas que surgem,
criados pela vida e pelo progresso, o arquiteto vem concebendo, através
dos tempos, o seu projeto: frio e monótono ou belo e criador, conforme seu
temperamento e sua sensibilidade. Para alguns, é a função que conta; para
outros, inclui a beleza, a fantasia, a surpresa arquitetural que constitui, para
mim, a própria arquitetura (NIEMEYER, 2005, p. 18).
A forma nos ambientes hospitalares pode interferir direta ou indiretamente
no processo de tratamento dos pacientes, ajudando ou inibindo o
seu
desenvolvimento. Alguns indivíduos requerem privacidade para seus momentos de
tensão e alterações comportamentais, por isso quartos individuais são importantes
(CUNTO, HOVERICZ, 2007, p. 21).
Quando isso não ocorre, o arquiteto deve planejar suportes que promovam
esse “isolamento”, tais como, cortinas fixadas no teto (Figura 2.22), biombos, ou até
mesmo elementos do mobiliário (Figura 2.23), que da maneira em que são
dispostos, podem funcionar como uma divisória.
Figura 2.22 – Kiryu Kosei General Hospital, Japão.
Fonte:http://www.posarq.ufsc.br/defesas/
dissertacao007.pdf
63
Figura 2.23 – Rainbow Babies and Children´s Hospital Cleveland, Ohio, EUA.
Fonte: http://www.posarq.ufsc.br/defesas/dissertacao007.pdf
O desenho da planta arquitetônica é outro aspecto a considerar na
elaboração de um projeto de hospital. Assim como Cunto, Hovericz (2007),
exemplificam, quando a planta é radial, onde a enfermaria fica no meio e os quartos
ao redor, os pacientes podem se sentir mais seguros por se encontrarem próximos
aos enfermeiros.
Um dos vilões nos hospitais são os corredores que parecem ser infinitos. A
disposição dos leitos deve ocorrer de forma a diminuir o percurso nesses corredores,
que tanto causam medo e ansiedade nos pacientes. Os corredores devem receber
um tratamento especial, para que fiquem mais agradáveis e causem a distração dos
que por ele transita. É o caso do corredor e circulação do Medical Clinic and
Wellness Center, na Califórnia, que por sinal, recebeu a certificação Gold do LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design) e do corredor da Dental Clinic,
também na California. (Figura 2.24 e 2.25)
64
Figura 2.24 e 2.25 – Corredor do Medical Clinic and Wellness Center/ Dental Clinic
Fonte: www.jainmalkin.com
Outro aspecto a considerar é a utilização de formas variadas num mesmo
espaço, provocando estimulação sensorial e criando distração positiva no ambiente.
As formas podem ser destacadas pelo uso de cores, podem ser educativas ou
recreativas nos hospitais infantis, por exemplo, ou ainda, podem simplesmente
despertar a atenção através da força das formas puras. (VASCONCELOS, 2004,
p.61).
Nas figuras abaixo, pode-se perceber o destaque para as formas puras e
suas cores, que além de possuírem design diferenciado, garante um ambiente mais
alegre, mais leve, mesmo se tratando do interior de ambientes hospitalares.
Figura 2.26 – Espera do Eisenhower
Medical Center, Rancho Milagre, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
Figura 2.27 – Sala de Crianças do Ambulatory
Care, San Diego, CA.
Fonte: www.jainmalkin.com
65
Todos os fatores escritos acima, no entanto, são baseados em padrões
norte-americanos, visto que se tratando de pesquisas recentes, no Brasil ainda não
existem esses padrões definidos. Por essa razão, alguns pontos não podem ser
absorvidos de forma efetiva como positivos para um hospital brasileiro.
Pelo estudo dos hospitais da Rede Sarah, é possível perceber como estes
fatores são aplicados no Brasil e quais outros atributos adotados pelo arquiteto que
possibilitam a humanização desses hospitais.
2.3 Percepção/Psicologia Ambiental
Uma vez inserido em um espaço, o ser humano estabelece relações com o
mesmo. Este espaço abriga todas as necessidades, expectativas e desejos do ser
humano, onde o homem recebe os estímulos do ambiente e reage a eles. Sendo
assim, como afirma Almeida (1995), o homem nada mais é que o sujeito desse
espaço e o espaço arquitetural é esse espaço vivenciado no cotidiano.
Assim, ocorre a apropriação dos espaços e a conseqüente ambientação dos
mesmos, sendo esta, o conjunto de elementos que qualificam o ambiente para a
condição humana (VASCONCELOS, 2004, p.64). “Nesse processo o homem se
apropria dos espaços humanizando-os, modificando-os para dotá-los de sua própria
natureza. Humanizar espaços significa torná-los adequados ao uso dos humanos;
torná-los apropriados e apropriáveis.” (MALARD, 1993)
No livro A Dimensão Oculta de Edward Hall, 1977, embora tenha sido
escrito há mais de quarenta anos, já aponta para o fato de psicologia e arquitetura
se complementarem, considerando que ocorrem inter-relações entre o homem e o
ambiente e, portanto, não podendo se estudar isoladamente cada fator envolvido
nessa complexa equação. Existe uma interdisciplinaridade aí, onde arquitetos, além
de projetarem, devem entender não só a atmosfera daquele ambiente que vai ser
concebido, mas também, para quem vai ser destinado. Uma vez que nem a
psicologia e nem a arquitetura, isoladamente, conseguem abarcar totalmente a
relação pessoa-ambiente, torna-se inevitável a procura de um espaço comum entre
ambas.
66
Psicologia e Arquitetura, portanto, são áreas proximamente ligadas ao
estudo das relações pessoa-ambiente. A área da psicologia amplia a abrangência
dos seus estudos que passa, além de estudar o indivíduo, a ter uma preocupação
com o social e o ambiente no qual este está inserido, “redefinindo e
complementando seu objeto de estudo de modo a abarcar as interações ambientecomportamento, e contribuindo para um conhecimento mais amplo da realidade
através de um enfoque ecológica e humanamente mais consistente” (ELALI, 1997).
Na arquitetura, por sua vez, além da relevância dos aspectos, tais como,
culturais, estéticos, construtivos e funcionais, considera-se também os fatores como
a percepção, satisfação dos usuários e “as implicações das intervenções em termos
de paisagem, propiciando a elaboração de propostas mais centradas no indivíduo
e/ou no social e nas implicações ecológicas das interferências realizadas” (ELALI,
1997).
Psicologia Ambiental, por sua vez, é essa área de estudos que existe em
comum entre os dois setores, Psicologia e Arquitetura, constituindo-se lócus, onde a
soma entre o conhecimento psicológico e o arquitetônico pode alimentar a produção
de um espaço mais humanizado (ELALI, 1997). Ela ainda afirma que:
Enquanto campo nitidamente multidisciplinar, centrado no objeto de estudo,
e não numa área específica de conhecimento, a Psicologia Ambiental, pode
desempenhar o papel de “ponte” que, enfatizando e valorizando
semelhanças e diferenças entre conhecimentos arquitetônicos e
psicológicos, possibilita as necessárias trocas, enriquecendo a ambos,
através da soma de conceitos, experiências e métodos de trabalho, além de
abrir-se à contribuição de áreas afins (como Geografia, Sociologia e
Antropologia, entre outras), o que amplia a abrangência e a potencialidade
dos estudos a serem realizados.
O objeto de estudo da Psicologia Ambiental é a percepção do espaço
construído, “onde o edifício deixa de ser encarado apenas a partir das suas
características físicas (construtivas) e passa a ser avaliado/discutido enquanto
espaço "vivencial", sujeito à ocupação, leitura, reinterpretação e/ou modificação
pelos usuários” (ELALI, 1997).
A partir disso, o arquiteto de projetos hospitalares, deve se aliar à percepção
ambiental para conceber seus projetos, na busca de ambientes mais satisfatórios
para os pacientes, funcionários e usuários. Ao serem submetidos a tratamentos em
hospitais, dependendo da qualidade física do ambiente, pode-se melhorar o
67
processo de recuperação dos pacientes, quando os ambientes propiciam conforto,
ou dificultar, quando as condições físicas da instituição não servem de estímulo para
o paciente.
Portanto, quanto mais se conhece as implicações que o corpo humano sofre
pelo ambiente que o cerca, mais fácil será o planejamento de espaços que vão
proporcionar ao usuário qualidade ambiental e qualidade de vida (VASCONCELOS,
2004, p. 65).
Não se trata apenas de respostas emocionais, puramente psicológicas no
sentido mais popular da expressão, pois segundo DEL RIO (2000) existem
conseqüências neuropsicológicas e neuroendocrinológicas geradas pela percepção
e pelos estímulos ambientais, já que eles causam respostas neuro-hormonais e
imunológicas com potencial de inter-relacionar respostas afetivas a estes ambientes.
Admitindo esta inter-relação percebe-se a necessidade de um acréscimo ao estudo
do ambiente hospitalar, para o melhor conforto, saúde mental e auto-estima do
usuário.
Gomes (1999) afirma que a percepção é o primeiro momento psicológico do
ser humano. Os estímulos externos alimentam mecanismos perceptivos, que são
captados através dos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar (FLEMMING,
2000). Uma vez inseridos em determinado ambiente, o usuário exprime fatores
como, necessidades, humores, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e
expectativas, sendo que cada um percebe a realidade de forma individualizada, visto
que dois seres distintos não vêem as mesmas coisas, porque a realidade não é
percebida verdadeiramente, e sim como é sentida por cada um (DALLA, 2003).
A configuração físico-espacial, por meio de iluminação, cores, ventilação,
dentre outros aspectos relevantes para o bom funcionamento de um hospital,
influenciam no aspecto psicológico do paciente, agravando ou melhorando o seu
ânimo. Portanto, além do tratamento médico e a metodologia da equipe médica, a
arquitetura também é fundamental para melhorar, dentre outros aspectos, o
psicológico dos pacientes (MONTERO, 2006).
Dalla (2003), afirma que:
68
O ser humano necessita melhorar a qualidade do universo, tornar a
sociedade mais receptiva, criando espaços inteligentes, auto - sustentáveis,
bem implantados, arejados, iluminados, enfim, bem projetados, propiciando
aos usuários (pacientes, médicos, enfermeiros e acompanhantes), uma
percepção positiva do mesmo, tirando partido da arquitetura, para chegar a
um ambiente saudável, higiênico, que favoreça a auto-estima, o “self”, a
melhoria da saúde mental e física do indivíduo.
A qualidade do espaço é de fundamental importância. Segundo Dalla (2000),
alguns ambientes cujo uso é previamente conhecido, condicionam o usuário a
determinados estados emotivos. Como exemplo, pode-se citar o uso de
composições cromáticas com predominância de tons verdes, em áreas relacionadas
ao tratamento da saúde. O verde através dos tempos, sempre esteve associado à
esperança, à fertilidade, ao nascimento e ao renascimento. Na Índia é considerado
uma cor sagrada. O seu uso, nas situações que envolvem tratamento de saúde, é
bastante comum, sendo aceito. Pode-se fazer então uma relação entre uma situação
em que se deseja o sentimento de esperança e dos arquétipos a ela relacionados,
como no caso de hospitais, e a utilização de matizes verdes nos ambientes como
apoio às atividades ali exercidas (DALLA, 2003).
No entanto, a arquitetura não deve ser entendida na unidade de seus
componentes como totalidade, visto que pressupõe a existência de outros
componentes, tais como: filosóficos, científicos, sociais, econômicos, culturais,
dentre outros. “Entendida como forma de pensar e criar, no universo fenomenológico
da arte, “como bloco de sensações”, a arquitetura, conceitualmente pressupõe ainda
mais diferenças do que unidades” (MAGNAVITA, 2008)
Assim sendo, a arquitetura nada mais é do que um instrumento que
possibilita ser adaptável a diferentes tipos de situações, possibilitando causar
sensações nos usuários, atores desse espaço arquitetônico. Esses ambientes, por
sua vez, devem ter a capacidade de aliar, além de funcionalidade, informações que
pertençam ao contexto social e cultural do indivíduo que ali está inserido.
Sendo o usuário peça fundamental para a avaliação da qualidade físicoespacial de um edifício arquitetônico, o arquiteto assume uma posição frente à
sociedade em que ele não será o responsável pela palavra final acerca do projeto,
mas sim exige do mesmo uma nova abordagem para a relação com seu cliente
69
comunitário, para a definição de problemas, para a geração e escolha de soluções,
bem como para a sua execução e avaliação.
2.4. Exemplo de humanização: “The healing enviroment”
O Healing Enviroment é uma forma de cuidado à saúde que envolve a
influência do espaço físico na recuperação do paciente, incluindo a percepção do
espaço pelos diferentes usuários como forma de promover um ambiente construído
“saudável”.
Tem como objetivo a criação de espaços para o cuidado do paciente que
reduzam as fontes externas causadoras de estresse, proporcionando paz,
esperança, motivação, alegria, reflexão e consolo, propondo a otimização do entorno
do cuidado com o paciente (GUELLI, ZUCCHI, 2005, p. 44).
Nada mais é do que propor uma transformação na imagem do hospital,
garantindo espaços que abriguem o espírito humano e que dêem suporte aos
pacientes e familiares, ajudando-os positivamente, de forma a transcender a doença.
Essa influência positiva do espaço na recuperação dos pacientes foi feita
segundo estudos do Center of Health Design, organização sem fins lucrativos focada
na pesquisa e promoção do Healthcare Design. Além de proporcionar maior
satisfação dos pacientes, os estudos demonstram outras vantagens, tais como:
Reduzir o custo dos tratamentos, diminuindo o tempo de permanência;
Reduzir o uso de medicamentos compensatórios;
Reduzir o tempo de enfermagem por paciente, aumentando o moral de
prestadores de serviços ao redor destes;
Reduzir os custos do treinamento e recrutamento pela maior aderência
dos colaboradores à instituição.
Alguns novos edifícios de saúde estão incorporando, baseados nessa
discussão, os elementos do Healing Enviroments, encorajados pelo
crescimento das pesquisas que demonstram os benefícios positivos na
recuperação dos pacientes e como forma de acompanhar a tendência do
mercado de atender o desejo do consumidor e competir pela excelência”
(GUILLI, ZUCCHI, 2005, p. 45 apud COLIE, 2003).
70
Iniciativas como a do Center of Health Design estão promovendo o
desenvolvimento de uma nova ciência chamada de Evidence Based Design, que
propõe que se examine e teste minuciosamente os benefícios do espaço físico na
atenção à saúde.
Em 1998, o Center of Health Design propõe a busca do maior número de
publicações que tratasse do ambiente de atenção e saúde e seu benefício
terapêutico, sendo que os pesquisadores encontraram limitações para demonstrar
cientificamente esses benefícios.
Numa revisão de 78.761 estudos publicados a partir de 1966, apenas 1.219
artigos descreviam a investigação do impacto do meio ambiente na recuperação dos
pacientes, e destes, 84 associaram especificadamente o espaço físico, sendo que
apenas 3 foram realizados através de ensaios controlados e randomizados (GUILLI,
ZUCCHI, 2005, p.45). Nota-se, portanto, a carência de embasamentos científicos
que demonstrem a relação do espaço físico na recuperação do paciente.
Foi com base nessas pesquisas que o Center of Health Design decide
chamar atenção para a importância de aprimorar o grau da evidência da influência
do espaço na recuperação dos pacientes estimulando instituições, através do The
Pebble Project, a realizarem estudos de casos que relatem a importância do Healing
Enviroment na qualidade do cuidado, através de suas experiências e resultados.
2.4.1 The Pebble Project
Lançado em 2000, o The Pebble Project é uma iniciativa de investigação do
Center of Health Design que tem como objetivo a criação de uma mudança no setor
de saúde, fornecendo pesquisas e documentando exemplos de unidades de saúde,
cujo design tem feito a diferença na melhoria dos pacientes e na eficiência do
trabalho dos profissionais.
Estes estudos baseados em evidências que busca a comprovação científica
da evidência da efetividade de uma intervenção através de ensaios
randomizados, revisões sistemáticas da literatura e metanálises, estão
testando a maneira como o entorno do cuidado com o paciente interfere
com o cuidado médico, a doença e os atributos do paciente (GUILLI,
ZUCCHI, 2005, p.45).
71
Dentre os parceiros deste projeto estão vários hospitais, localizados em
vários estados norte-americanos, cada um com sua especialidade e seu público
alvo. Esses hospitais vem demonstrando que o design da instituição pode melhorar
a qualidade dos cuidados com o paciente, atrair mais pacientes, recrutar e manter a
equipe de trabalho, aumentar o apoio filantrópico, comunitário e corporativo, além de
enfatizar a eficiência operacional e a produtividade da instituição.
Os maiores benefícios que os parceiros do Pebble Project recebem são o
acesso à informação e aos conhecimentos tecnológicos dos profissionais
envolvidos. Reuniões com outros parceiros e com o quadro de associados do The
Center of Health Design proporcionam a difusão de conhecimento e a oportunidade
de bons negócios para ambos. Um alto nível de consultoria e assistência técnica
também são fornecidos para facilitar as pesquisas, bem como uma metodologia de
projeto específico para cada situação.
Outro benefício do Pebble Project é o reconhecimento e a visibilidade. Todos
os seus parceiros são co-autores dos resultados das pesquisas feitas e são
promovidos através do website do The Center of Health Design, de programas
educacionais e de relações públicas internacionais.
Segundo Vasconcelos (2004) apud Marberreey (2002), quatro instituições
associadas a este projeto já vem há alguns anos medindo, documentando e
avaliando as evidências baseadas no design dos seus ambientes e apresentam
resultados satisfatórios.
Dentre eles pode-se citar o Rady Children’s Hospital & Health Center,
localizado em San Diego, na California, que tem como missão restaurar, manter e
melhorar a saúde e o potencial de desenvolvimento das crianças através da
excelência no atendimento e do cuidado com a instalação física da instituição.
No Rady Children’s Hospital & Health Center foram implantados programas
que envolvem a música e a arte, diversos jardins e esculturas com a intenção de
promover refúgio e tranqüilidade para os pacientes e familiares, além de funcionar
72
como um convite à criança a brincar, estimular sua criatividade, promover seu
desenvolvimento físico, emocional, mental e espiritual.
Figura 2.28 e 2.29 – Rady Children’s Hospital & Health Center, San Diego, CA.
Fonte: www.rchsd.org
Segundo Vasconcelos (2004), outros hospitais participantes do projeto já
apresentam resultados avaliados e concluídos. O Barbara Ann Karmanos Cancer
Institute de Detroit, por exemplo, teve aumento de 18% na satisfação do paciente,
menor variação dos custos diários, redução do uso de medicação para a dor, 30%
de redução dos erros médicos – devido principalmente ao aumento de área dos
ambientes médicos, sua melhor localização e organização, padronização da
sinalização visual e tratamento acústico para diminuir o nível de ruído – e 6% de
redução nas quedas dos pacientes que é resultado da melhor visualização do
paciente devido ao ângulo de abertura das portas, melhoria da iluminação e do
layout do quarto.
A importância dessas pesquisas e dos resultados satisfatórios obtidos por
estas instituições são importantes, pois além de influenciarem gestores e arquitetos
a promoverem mudanças nos edifícios hospitalares, comprovam a eficácia da
qualidade do espaço físico na recuperação dos pacientes e no melhor desempenho
dos profissionais, através dos aspectos ergonômicos que facilitam suas atividades.
73
3. JOÃO FILGUEIRAS LIMA “LELÉ”:
São inúmeras as publicações e artigos
referentes à este arquiteto e à sua obra, visto
a sua importância significativa no contexto
arquitetônico do Brasil. Apresentam diversos
aspectos de seu trabalho, que vão desde a
sua participação na construção de Brasília,
quando
inicia
a
sua
carreira,
até
o
desenvolvimento da argamassa no Brasil, a
produção em série e o pré-fabricado.
Figura 3.1 – Lelé.
Fonte: observador. blogbrasil.com
No entanto, com relação ao tema referente à humanização, há poucas
informações e documentos específicos que descrevam a contribuição do arquiteto
em tornar os hospitais da Rede Sarah, objeto de estudo deste trabalho, instituições
mais bem planejadas e preparadas para atender aos seus usuários.
O fato desse arquiteto ainda estar exercendo a sua profissão, enriquece
sobremodo esta pesquisa, pois ele e sua equipe continuam criando e refletindo
sobre novas possibilidades e soluções.
Neste capítulo, pretende-se contextualizar a produção de Lelé, estudar o
percurso adotado pelo mesmo, para poder entender a sua forma de construir. Já
dizia Eco (1991) que para podermos explicar e entender um autor, é necessário
inserirmos em um panorama.
Diante disso, faz-se necessário conhecer sua geração, seus pensamentos e
referências, através da descrição de sua vida, da sua formação acadêmica, as
concepções de projeto adotadas pelo arquiteto, enfim, conhecer a sua metodologia
de trabalho, para que se possa entender com mais transparência as suas obras. Em
especial, aos hospitais da Rede Sarah e a sua contribuição no que diz respeito à
humanização, que será retomada na última parte deste trabalho.
74
3.1. Considerações sobre o arquiteto
João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé, nasceu no Rio de Janeiro,
em 1932, no bairro do Encantado, e passou a maior parte da sua infância na Ilha do
Governador. Formou-se em arquitetura pela Universidade do Brasil (atual
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), em 1955, bastante influenciado
nessa época pelo arquiteto e pintor Aldari Toledo.
Lelé, ao falar de sua formação, afirma que:
No período em que estudei, a faculdade era muito técnica (...) Nossa
formação era mais voltada para a técnica do que para a artística, o que se
cobrava era o desenvolvimento técnico do estudante, com a parte artística
correndo paralela: a gente tinha que se virar por conta própria (...) E Aldari
Toledo me ajudou, felizmente, a começar a explorar essa outra parte, foi
uma pessoa fundamental para que eu tenha podido entender a arquitetura
nessa fase (MENEZES, 2004, p.30).
Apesar dessa deficiência na parte artística, a faculdade de arquitetura dava
ao aluno a oportunidade de se informar a respeito de tudo. Era um momento de
grande efervescência intelectual, onde a arquitetura brasileira vivia um momento
glorioso, importante, de retomada. Le Corbusier tinha visitado o Brasil anos antes, a
arquitetura moderna já surgira por aqui (MENEZES, 2004, p. 32).
Os arquitetos importantes então no Brasil eram: Vila Nova Artigas, Rino Levi,
Affonso Reidy e os três irmãos Roberto Marcelo, Maurício e Milton. Oscar Niemeyer
e Lucio Costa, naturalmente, e Carlos Leão. Mas os únicos a qual Lelé teve acesso
na época da faculdade foram Aldari Toledo e um pouco, Jorge Morera.
Recém formado, em 1957, muda-se para Brasília, sob influência de Oscar
Niemeyer e Nauro Esteves. Nessa época, o Brasil vivia uma fase de renovação e de
ideias revolucionárias que estimulavam o espírito nacionalista. A construção de
Brasília, por sua vez, foi um exemplo de ação com vistas ao desenvolvimento do
pais e a abertura à novas oportunidades para jovens arquitetos, entre eles, o Lelé.
Guimarães (2003) relata o início da atuação de Lelé, naqueles anos que
marcaram a história do Brasil, bem como a vida profissional do jovem arquiteto:
75
Pode-se dizer que a história da vida profissional do arquiteto Lelé foi sendo
esboçada concomitantemente às primeiras edificações erigidas em Brasília.
A oportunidade de participar de uma experiência de tal magnitude foi crucial
para seu amadurecimento, pois a complexa realidade apresentada
determinou que sua formação teórica seguisse empiricamente, em função
do conhecimento prático apreendido durante a execução das obras
(GUIMARÃES, 2003, p. 17).
E mais adiante:
Portanto, vale ressaltar que Brasília, para Lelé, tem uma conotação mais
concisa que a de uma simples conquista nacional. (...) A construção de uma
nova capital representou o ponto de partida, pois, ao participar dessa
história, Lelé conseguiu incorporar os conceitos de pré-fabricação que
orientaram os projetos executados durante a criação do CEPLAN e travar
um diálogo com os grandes mestres cariocas- Lúcio Costa e Oscar
Niemeyer, aprendendo avidamente a desconfiar o tipo de linguagem e as
ideias difundidas naquele dado momento (GUIMARÃES, 2003, p. 40).
Nesse período, construiu, projetou e colaborou com Oscar Niemeyer,
atuando em sua equipe, inicialmente no desenvolvimento do projeto de urbanismo
da UnB (Universidade de Brasília). Com pouca experiência e muita vontade,
enfrentou todas as dificuldades com as quais se defrontou na construção da nova
cidade.
Lúcio Cota, na apresentação do livro sobre a obra de Lelé afirma que ele
chegou na hora certa para preencher uma lacuna no desenvolvimento da arquitetura
brasileira, visto que ele enfrenta e resolve de forma racional, econômica e com
apurado teor arquitetônico os mais variados e complexos desafios que a sociedade
moderna programa e impõe.
O cargo de secretário executivo do CEPLAN, Centro de Planejamento dos
Edifícios da UnB, por indicação de Oscar Niemeyer, foi fator relevante na carreira de
Lelé. O arquiteto encarregou-se de obras como a própria sede do CEPLAN,
utilizando elementos pré-fabricados, na época muito utilizado nos países
desenvolvidos.
O CEPLAN tinha por filosofia promover a pesquisa e procurar novas
tecnologias como a do pré-fabricado, para aplicá-las na construção de Brasília. Com
esse intuito, Lelé foi enviado à Europa e União Soviética, para conhecer mais sobre
o assunto. Considera-se que essa viagem marcou o começo de sucessivas obras
com características similares – coberturas com sheds, ventilação natural, jardins e
outros dispositivos que se acredita sejam produto de um olhar arquitetônico
76
amadurecido, resultado de sua visita à países europeus (MONTERO, 2006, p. 3132).
Nesse contexto, na Europa, grandes mestres erguiam edifícios, tais como:
Mies Van der Rohe, Le Corbusier, Frank Loyd Wright e Alvar Aalto, servindo de
referencia e inspiração para Lelé. Mas Fernando Minho (2006), membro da equipe
do CTRS (Centro de Tecnologia da Rede Sarah), acredita ser Alvar Aalto a sua
principal influência e destaca a importância que Lelé dava ao desenho a mão e ao
detalhamento como a principal similaridade com a obra de Alvar Aalto.
Ao descrever a sua experiência na Finlândia, um dos países em que visitou,
Lelé fala sobre Alvar Aalto e da sua admiração pelas obras desse arquiteto:
É a preocupação com o detalhe. O que enriquece muito a arquitetura do
Alvar Aalto é a preocupação com as funções em um prédio e com os
detalhes. Eu acho que ninguém faz isso com mais propriedade do que ele.
O detalhe é fundamental, isso você aprende com Aalto, com Chacowiski e
vários arquitetos importantes dessa geração (LIMA, 2000, p. 30).
Depois do concreto pré-moldado, a partir de 1979 Lelé passa a trabalhar
com argamassa armada, ou ferro-cimento- influência do estudo das obras do
engenheiro italiano Pier Luigi Nervi – na urbanização e melhoria de algumas áreas
de ocupação irregular nas encostas de Salvador. Assim, usando placas de
argamassa armada (nata de cimento e malha de ferro) para desenvolver peças mais
leves e flexíveis, que fossem fáceis de transportar e instalar, ele conseguiu elaborar
obras públicas menos invasivas. Afastado dos projetos públicos nos anos 1970, Lelé
voltou a fazer intervenções públicas com o projeto da FAEC (Fábrica de
Equipamentos Comunitários) na década seguinte: desde bancos e contenções de
jardim, passando pelas passarelas de pedestres até a construção de escolas e
creches. Dentro da Faec, o arquiteto colaborou com o projeto de revitalização do
Centro Histórico de Salvador, comandado por Lina Bo Bardi, e produziu obras de
intervenção na Casa do Benin e na Ladeira da Misericórdia, também na capital
baiana (BOTIN, 2008).
Sua atuação na arquitetura hospitalar começa quando conhece o então
médico Aloysio Campos da Paz. Devido a um acidente automobilístico que teve com
a sua mulher Alda Rebello Cunha, Lelé estabelece uma relação com o mesmo, o
que profissionalmente abriu-lhe a oportunidade de trabalho na Rede Sarah,
77
considerada pelo mesmo como a melhor de sua vida. Dentre os amigos que
conhece em Brasília, também, ganha destaque o artista Athos Bulcão, que se torna
parceiro de Lelé nos seus trabalhos. São desse artista, a portas e painéis coloridos
que compõem as suas obras.
Em depoimento à Cynara Menezes no livro O Que é Ser Arquiteto, 2004,
Lelé fala sobre Aloysio Campos da Paz e justifica a sua relação com o médico:
Aloysio tem uma formação sólida, vê a medicina como um instrumento de
cura de cada indivíduo (...). Essa generalização da medicina, de tratar todos
de modo igual, é complicada. Às vezes, a cura para determinado sujeito não
é a mesma para aquele outro, dependendo até da vida que leva.
Principalmente na questão da recuperação motora. E ele tem essa visão de
que o mais importante é o ser humano- daí esta identidade que se
estabeleceu entre nós. Com essa visão, pude vir a trabalhar no Sarah: a de
que o ser humano tem de ser tratado de uma forma geral abrangente, não
como reflexo de uma aplicação tecnológica de última geração (MENEZES,
2004, p. 27-28).
Nesse depoimento Lelé já demonstrava a visão mais criteriosa com que
pretendia tratar os estabelecimentos de saúde. É sob esse olhar que o arquiteto
concebe os hospitais da Rede Sarah, sob um ponto de vista mais humanizado,
tendo como foco acima de qualquer tecnologia, a valorização do ser humano.
3.2. Lelé e os hospitais da rede Sarah Kubitcheck
Para que se possa fazer uma análise mais precisa, se faz necessário, antes
de tudo, entender como que surgiu a Rede Sarah de hospitais. Destacam-se pelo
inovador sistema de tratamento conhecido como progressive care, onde o paciente,
de acordo com a sua evolução, vai mudando de sala, o que ajuda a melhorar
também o psicológico dos mesmos, mediante o tratamento com equipamentos e
procedimentos médicos específicos, em ambientes adequados. Esses ambientes
são exatamente o foco do estudo e análise dessa pesquisa, ilustrando as vantagens
que Lelé introduziu no sistema construtivo desses hospitais e que, portanto,
possibilitam provocar sensações agradáveis em pacientes e funcionários.
A Rede Sarah, financiada pelo Ministério da Saúde, nasce de um plano
elaborado por Lelé, Aloysio Campos da Paz, Eduardo Kertész e Fernando Minho. A
proposta consistia, inicialmente, na construção do Sarah de Brasília, ainda sem
78
pretensões explícitas de se expandir pelo resto do país. A Rede, no entanto, se
concretiza, com a construção dos hospitais em Salvador e São Luis.
Em 1963, quando sofre o acidente automobilístico junto com sua esposa,
Lelé fica internado dois meses em um hospital e passa a ter contatos freqüentes
com o médico Aloysio Campos da Paz, que na ocasião acabara de chegar da
Inglaterra e dirigia o serviço de ortopedia.
Lelé conta que aprendeu muito sobre tratamentos, principalmente sobre os
espaços de ortopedia, onde esteve internado. Ele discutiu muito sobre o
funcionamento dos espaços de recuperação e de fisioterapia e desenvolveu um
grande conhecimento sobre os tratamentos de medicina hospitalar (MONTERO,
2006). Nota-se, portanto, que o arquiteto não se atém apenas a arquitetura, mas
conta com as opiniões de outros profissionais para a elaboração de seus projetos.
Isso é válido, na medida em que Lelé pensa em para quem o espaço está sendo
construído.
Em depoimento do próprio arquiteto, se evidencia a importância que Lelé
dava ao trabalho em conjunto:
Sem dúvida [o maior problema no centro cirúrgico], é o sistema de ar
condicionado. Ninguém consegue limpar os dutos direito, mesmo com os
robôs. No novo hospital da Rede Sarah no Rio, já projetamos os dutos
correndo pelo teto e com a possibilidade de ser abertos para limpeza e
desinfecção. (...) Usamos a ventilação natural, pelas janelas, que têm até
sistema de abertura motorizado. Na Rede Sarah trabalhamos em conjunto
com os médicos e estamos sempre discutindo esses problemas (MOURA,
2006).
A primeira experiência de Lelé com arquitetura hospitalar foi em 1967, com o
Hospital de Taguatinga, que indiscutivelmente serve de base para que o arquiteto
pudesse conceber o primeiro projeto de hospital da Rede Sarah, que foi o de
Brasília, em 1980.
Aí, nesse primeiro hospital, já aparecem as preocupações do arquiteto
dentro do conceito de extensibilidade e flexibilidade. Latorraca (1999), falando sobre
o Hospital de Taguatinga aponta que:
As instalações em geral são aparentes ou correm por canaletas e galerias
visitáveis. O sistema adotado se ajusta à filosofia da obra quanto à
flexibilidade e extensibilidade, mas também visa criar facilidades para os
serviços de manutenção (LATORRACA, 1999, p. 46)
79
Quando descreve esses primeiros hospitais, já atribui a contribuição de
Aloysio Campos da Paz em suas obras:
Evidentemente, eu tinha que transferir, de uma certa maneira, a minha
vivência com esses médicos para projetos que eu fizesse. O Hospital de
Taguatinga já veio com a carga enorme dessa influência, não diria
influência, mas uma forma diferente de ver o Hospital. Isso só foi se
consolidar na construção do Sarah Brasília. Isso se deve também ao
convívio enorme com os médicos, principalmente com Aloysio Campos, que
era um deles. O Aloysio também foi quem propiciou toda a revolução que a
gente fez. Eu acho que o Sarah Brasília foi uma revolução no tratamento
médico, desde a forma de os médicos atenderem, pois ainda hoje são
acostumados a ficar no seu consultório, à espera do paciente. No entanto o
Sarah oferece uma forma diferente e dinâmica de o médico atuar junto com
o paciente, onde se observa o envolvimento de três ou quatro médicos
numa só equipe para atender o mesmo paciente. É uma coisa totalmente
nova, principalmente para a época. Então, isso foi fruto dessa vivência. É
lógico que eu jamais poderia ter aplicado todas essas coisas, se não fosse o
esforço de Aloysio. A responsabilidade maior dessa atitude revolucionária
quanto ao tratamento médico é dele (LIMA, 2003, p.)
Outro diferencial de Lelé diz respeito ao baixo custo e curto prazo de suas
obras. Seus projetos para a construção de edifícios – em particular hospitais – são
todos com custos muitos reduzidos, aspecto relevante apenas para um raro grupo
de arquitetos que, além de dominarem o ofício de criar e construir, valorizam o lado
social das obras (BOTIN, 2008).
Ainda em seu artigo, Botin (2008) cita a pesquisadora e professora da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Escola da Cidade, Anália Amorim, onde a
mesma considera Lelé como sendo um dos mais importantes e significativos
arquitetos da atualidade. Ela afirma que "sua principal qualidade é aliar a construção
de prédios à formalização do elemento que compõe o próprio edifício. Ele pensa,
desde a maca que será utilizada pelo paciente no hospital até na espessura da viga
que sustenta o prédio. E ainda produz os materiais envolvidos nos dois processos".
Diante disso, percebe-se que Lelé adota uma filosofia diferente e inovadora
para lidar com a recuperação motora e a saúde geral do paciente. Trata-se,
portanto, de um empreendimento da maior relevância no panorama do atendimento
médico-hospitalar nacional no país.
80
3.3. A concepção arquitetônica dos hospitais da rede Sarah
Assim como já foi dito anteriormente, Lelé possui uma forma diferenciada de
tratar os seus projetos hospitalares. Utiliza de maneira singular recursos que tornam
suas obras especiais.
Lelé considera todas as etapas para a concepção de um edifício, que vão
desde o programa à concepção espacial, passando pelo partido estrutural à
racionalidade da obra, do detalhamento rigoroso das peças ao processo construtivo
propriamente dito- incluindo materiais, mão-de-obra, manutenção e conservação-,
coisa rara nos arquitetos contemporâneos em geral (PAZ apud SAMPAIO, 2006).
A ousadia do arquiteto vai além da construção do edifício. Concebe e produz
também o mobiliário e os diversos equipamentos, como elevadores, teleféricos,
ventiladores, luminárias, e as famosas camas-macas que permitem o deslocamento
do paciente ortopédico, em geral submetido a longos períodos de imobilidade, por
todo o hospital e até fora dele, nesse caso usando um veículo também por ele
projetado.
Figura 3.2 – Cama-Maca concebida por Lelé.
Fonte: Rebello e Leite, 2008.
Figura 3.3 – Trolley também concebida por Lelé.
Fonte: Google Earth
O arquiteto também é reconhecido pelo aproveitamento dos recursos
naturais, mesmo antes da questão da sustentabilidade vir à tona. Lelé já ressaltava
a importância da preservação, encaradas, também, como forma de humanização
dos projetos. "Não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões
ambientais", assim afirma o arquiteto à reportagem da PINIweb.
81
Lelé ainda diz que:
As pessoas falam de sustentabilidade como se tivessem descoberto a
pólvora. Os índios já construíam suas ocas com as matérias-primas
disponíveis, sem qualquer caráter depredatório. Havia uma economia
naquilo, uma lógica para o aproveitamento dos espaços e a intenção de
criar ambientes ventilados. Então, nada disso é novo, mas é claro que a
tecnologia atual evoluiu muito, e os arquitetos deveriam usar esse
instrumental para fazer uma arquitetura bem melhor em relação às
construções dos povos primitivos. A sustentabilidade é um recurso que não
se sustenta, porque é mentiroso (PEIXOTO, 2010, p. 86).
Questões como flexibilidade, criação de espaços verdes, iluminação e
conforto, a integração entre a arquitetura e obras de arte, por exemplo, são atributos
que o arquiteto utiliza como possibilidade de humanização de hospitais. A ideia de
priorizar sistemas naturais começa com seu trabalho no ambiente hospitalar. Nessa
época, há uns trinta anos atrás, a questão da sustentabilidade ainda não era
pensada e não existia problema energético. Com isso, se reconhece a posição
visionária do arquiteto diante às questões ambientais.
Ribeiro (2007), define a importância da flexibilidade na obra de Lelé:
Lelé possibilita, em suas obras, uma flexibilidade estrutural por meio do uso
de materiais e sistemas construtivos de tal forma que proporcione uma
maior adaptabilidade dos ambientes, fazendo com que o edifício hospitalar
não fique obsoleto, ultrapassado, pois permite mudanças sem afetar a
estrutura. O partido arquitetônico em construções modulares, além da
possibilidade da produção em série, possibilita a fácil manutenção e
instalações e o uso de paredes não estruturais ou divisórias removíveis
(RIBEIRO, 2007, p. 05).
A pré – fabricação também é característica marcante nas obras de Lelé.
Rebello e Leite comparam os elementos pré – fabricados produzidos por Lelé “às
notas e acidentes de clave das escalas melódicas, com as quais se podem elaborar
infinitas composições, cada qual com sua identidade, concretizando a célebre frase
de Goethe1: “arquitetura é música petrificada.”
Assim, os autores citados acima ainda afirmam que essas peças tornam-se
executáveis por qualquer pessoa, em qualquer lugar, que queira fazer uso de seus
sistemas construtivos para resolver as necessidades arquitetônicas específicas da
obra em questão.
1
Foi um dos mais importantes escritores da literatura alemã.
82
Para Lelé:
(...) estruturas que sempre me fascinaram pelo inusitado de serem como um
lego gigante, peças que se encaixavam, que podiam ser montadas e
desmontadas. Em qualquer lugar, se poderiam fazer escolas, postos de
saúde, parques, equipamentos comunitários (...) (MENESES, 2004, p.73).
Segundo o arquiteto, apesar de os edifícios hospitalares serem projetos
extremamente rigorosos em relação à funcionalidade, a beleza não deve ser
excluída. A beleza é vista por Lelé como a chave para a humanização, visto que, em
suas próprias palavras, ela “alimenta o espírito”. Deve-se, portanto, possibilitar no
projeto de arquitetura hospitalar a junção destes dois fatores: humanização, através
da beleza, e funcionalidade (LUKIANTCHUKI, SOUZA, 2010).
A humanização, portanto, é fator relevante na obra deste arquiteto. Lelé
trabalha muito bem as formas, cores, ambientação, ventilação, luz, dentre outros
atributos que fazem com que o usuário se sinta mais confortável. “Com esse olhar
mais criterioso sobre essa questão, o arquiteto consegue melhorias no conforto
ambiental, relacionadas com a temperatura, velocidade e umidade do ar, que podem
ser benéficas e estimulantes para a manutenção dos níveis de produtividade e de
conforto psicológico para todos os usuários” (RIBEIRO, 2007, p.05).
Ainda em depoimento à jornalista Cynara Meneses, 2004, Lelé discorre
sobre este assunto:
Ninguém se cura somente da dor física, tem de curar a dor espiritual
também. Acho que os centros de saúde que temos feito provam ser
possível existir um hospital mais humano, sem abrir mão da funcionalidade.
Passamos a pensar a funcionalidade como uma palavra mais abrangente: é
funcional criar ambientes em que o paciente esteja à vontade, que
possibilitem sua cura psíquica. Porque a beleza pode não alimentar a
barriga, mas alimenta o espírito (MENEZES, 2004, p. 50).
O arquiteto preocupa-se em respeitar o homem e os espaços por ele
ocupados. Busca a humanização através da inserção de amplos espaços coletivos
no programa da arquitetura hospitalar a fim de garantir ao edifício uma melhor
capacidade no processo de cura.
Sejam eles jardins, integrados aos espaços, e obras de arte espalhadas pelo
hospital, melhorando a qualidade espacial e a conseqüente melhoria do bem estar
do paciente, seja a utilização de iluminação e ventilação naturais, que possibilitam,
83
além
do
conforto
ambiental,
evitar
os
freqüentes
espaços
herméticos,
proporcionando ambientes mais humanos, além de contribuir no combate à infecção
hospitalar e na economia de energia.
Outra característica marcante nos hospitais da Rede Sarah é a parceria do
Lelé com o artista plástico brasileiro Athos Bulcão, com o uso de painéis coloridos,
muros de argamassa armada, pinturas, murais, entre outros. Lelé sempre busca a
aproximação da sua arquitetura com elementos artísticos, transformando os
ambientes, tornando-os mais alegres, mais bonitos e despertando interesse entre os
pacientes.
Sobre os painéis e equipamentos criados por Athos Bulcão, presentes nos
hospitais da Rede, Lelé afirma que são usados como uma contribuição integrada à
arquitetura do local. “Os painéis de Athos fazem parte do ambiente. O paciente vai
se sentir valorizado, mais respeitado, quando convive com uma obra de arte”
(MENEZES, 2004, p. 50).
Segundo o arquiteto Jorge Ricardo Santos de Lima Costa2, “o hospital é o
símbolo da possibilidade de reformulação corporal e mental e, portanto, seus
espaços devem ser configurados a partir do ponto de vista de seus usuários”.
Portanto, os espaços têm que ter uma ideia de lar, de intimidade.
O paciente, no ambiente familiar, encontra-se sujeito a espaços mais
reduzidos, mais acolhedores. Ao se depararem com os grandes espaços dos
hospitais, com corredores muito extensos, que transformam o espaço em um local
distante, estranho e impessoal, provocam respostas sensoriais nos usuários,
impedindo assim, a sua apropriação. Além disso, Costa (2001) aponta que “o
problema do paciente é socializado, ou seja, o seu corpo é invadido por ações e
pensamentos dos profissionais da saúde deixando o indivíduo submetido às forças e
normas desse espaço.”
Lelé trabalha muito bem essa questão da escala do ser humano, reduzindo
dessa forma a distância entre o hospital e o paciente. Esta aproximação, por sua
vez, não diz respeito apenas a redução da escala dos seus compartimentos. A
2
Arquiteto e Professor adjunto do curso de Comunicação/Cinema da UniverCidade. Doutor em Psicologia Social
pela Uerj. Texto disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.118/3372
84
impessoalidade desses equipamentos podem ser fatores que impeçam esta
aproximação. “Sem possibilidade de apropriar-se e identificar-se com espaço em
que estão hospedados, a angústia dos pacientes amplia-se. O sentimento de
estarem em um local estranho prejudica o processo da cura, tanto física quanto
emocional” (COSTA, 2001).
Os hospitais da Rede Sarah proporcionam aos pacientes essa intimidade
maior com o espaço no qual estão internados. Além de buscar sensibilizá-los e
estimulá-los com as diferentes cores e formas, propõem oficinas de arte na qual os
próprios pacientes possam produzir trabalhos que servirão para enfeitar as paredes
do centro. Nesse caso, a questão da impessoalidade é trabalhada e “a ausência de
personalização dos ambientes são contrapostas pela possibilidade de identificação
do paciente a estes espaços e de sua aproximação ao ambientes familiares”
(LUKIANTCHUKI, SOUZA, 2010).
No que diz respeito à tecnologia, Lelé enfatiza o seu emprego adequado e o
uso correto do nível de automação nos diversos campos de trabalho. Condena os
hospitais modernos pelo emprego indiscriminado de equipamentos sofisticados e
caros, que algumas vezes se origina nos interesses das grandes indústrias
internacionais em ampliar e diversificar suas atividades dentro de uma filosofia
nitidamente voltada para o consumo (LIMA, 2000, p.125).
Sobre a crítica à tecnologia exacerbada, principalmente na década de 1950,
Lelé fala que,
(...) o hospital passou a ser uma coisa simplesmente funcional, com
ambientes herméticos, horríveis, desumanos, mas cheios de equipamentos
modernos, que supostamente iam curar, e na verdade, matavam o cara da
cabeça (MENEZES, 2004, p. 50).
Guimarães (2003) destaca que “talvez a maior contribuição dada por Lelé à
história da arquitetura contemporânea resida nas conquistas obtidas no campo da
industrialização da construção, evidenciadas nos modelos sofisticados que aliam
tecnologia de ponta à criatividade”.
Atualmente, utiliza componentes como o aço, plástico e argamassa armada,
que são produzidos no CTRS (Centro de Tecnologia da Rede Sarah). Esses
componentes são caracterizados pela facilidade na montagem, garantindo assim,
85
um canteiro de obras limpo e organizado, formando ainda uma composição estética
e estrutural.
Rebello e Leite, em artigo publicado pra a revista AU apontam algumas
características acerca dos Hospitais da Rede:
Nos Hospitais da Rede Sarah, a ousadia construtiva de Lelé vai ao extremo.
Além dos edifícios, concebe e produz também o mobiliário e os diversos
equipamentos, como elevadores, teleféricos, ventiladores, luminárias, e as
famosas camas-macas que permitem o deslocamento do paciente
ortopédico, em geral submetido a longos períodos de imobilidade, por todo
o hospital e até fora dele, nesse caso usando um veículo também por ele
projetado.
Outros atributos referentes às obras desses hospitais são: as aberturas que
deixam a luz solar passar (mesmo em um país tropical como o Brasil, ele consegue
realizar interação das condições ambientais do local com as necessidades
ambientais do ser humano), o uso de sheds e do brise-soleil, espaços ventilados
naturalmente, com pés direitos amplos e dispositivos para refrescá-los, como as
galerias de ventilação com nebulizadores e espelhos d`água, assim como a
incorporação de jardins internos.
Lelé é, no entanto, um arquiteto construtor. É um dos raros exemplos de
arquitetos no mundo em que resolve efetiva e integralmente a construção. “elabora
uma arquitetura que tem por necessidade ser comunicável e compreensível aos
seus auxiliares e aos futuros usuários, com um grau de universalidade que talvez só
a arte seja capaz de atingir”, afirma Rebello e Leite.
A obra desse arquiteto caracteriza-se, portanto, por soluções arquitetônicas
que se adéquam a cada contexto e programa e, por conseguinte, à valorização da
cultura do coletivo que atende.
86
4. ESTUDO DE CASOS/HOSPITAIS DA REDE SARAH KUBITSCHEK
A Rede Sarah Kubitscheck é uma homenagem à dona Sarah, esposa do
presidente Juscelino Kubitscheck. Desde a época do seu governo, em Minas Gerais,
mantinha uma entidade Filantrópica – Associação das Voluntárias do Estado de
Minas Gerais - que atendia aos necessitados por meio de campanhas de
conscientização e caridade (RIBEIRO, 2004, P.143).
A rede Sarah, gerida pela Associação das Pioneiras Sociais (APS), foi
criada em 1976 com o nome de Subsistema de Saúde na Área do Aparelho
Locomotor, tendo seu primeiro hospital construído no intervalo entre os anos de
1976 – 1980, em Brasília, DF.
O projeto de Lelé para esse hospital foi fruto de treze anos de discussões
com o médico Aloysio Campos da Paz, co – fundador da rede juntamente
com o economista e engenheiro Eduardo Kértesz. A concepção do edifício
foi prenúncio da arquitetura adotada posteriormente nas demais unidades
da Rede, especialmente no que tange à organização espacial voltadas para
terapias baseadas na mobilidade dos pacientes e na permanência ao ar
livre (WESTPHAL, 2007, p.08).
O programa de trabalho plurianual da Associação tem os seguintes objetivos
gerais:
1.
Prestar serviço médico público e qualificado na área da medicina do
aparelho locomotor;
2.
Formar recursos humanos e promover a produção de conhecimento
científico;
3.
Gerar informações nas áreas de epidemiologia, gestão hospitalar,
controle de qualidade e de custos dos serviços prestados;
4.
Exercer ação educacional e preventiva visando à redução das
causas
das
principais
patologias
atendidas
pela
Rede.
Na medida em que define claramente os objetivos a serem atingidos
em determinado período de tempo, o Contrato de Gestão fornece ao
Estado os instrumentos de aferição dos resultados da Instituição.
87
O controle da instituição é feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU),
com ênfase na avaliação dos resultados finais dos investimentos garantidos por
recursos públicos. A qualidade dos serviços é aferida pelo Centro Nacional de
Controle de Qualidade, com padrões universais nas áreas ambulatorial e hospitalar.
Disponível em: < http://www.sarah.br/> Acesso em 09 de setembro de 2010.
Com a crescente demanda de hospitais da Rede espalhados por várias
regiões do país, Lelé optou pela criação do CTRS a fim de desenvolver sistemas
construtivos mais racionais, com a criação de sistemas construtivos pré – fabricados
e em argamassa armada produzidos em Salvador e transportados para as demais
regiões do país.
De acordo com Lelé (1999), as funções básicas do Centro de Tecnologia da
Rede Sarah são as seguintes:
Construir os novos edifícios destinados à expansão da Rede;
Ajustar permanentemente os espaços hospitalares às eventuais
modificações de funcionamento, decorrentes da introdução de novas
tecnologias;
Desenvolver projetos e fabricar equipamentos adequados à manutenção
das técnicas de tratamento desenvolvidas na Rede;
Efetuar a manutenção predial dos equipamentos da Rede.
Ainda, de acordo com esse autor, para atender a essas funções básicas, foi
implementado em Salvador um conjunto de edifícios com as seguintes destinações
industriais:
Metalurgia pesada – execução de estruturas em chapas de aço dobrada;
Metalurgia leve – confecção de componentes metálicos leves para os
edifícios e os equipamentos;
Marcenaria – confecção de componentes para a construção dos edifícios
(portas, etc.) e mobiliários em geral;
Argamassa armada – confecção de componentes para a construção dos
edifícios (divisórias, galerias e peças estruturais, etc.);
88
Plásticos – execução de pequenos componentes incorporados aos
equipamentos
e
equipamentos
complementares
(ventiladores,
luminárias, caixas de som, etc.);
Modelos e fibra de vidro – confecções de modelos em geral e fabricação
semi – artesanal de peças em fibra de vidro.
Pode-se perceber, portanto, que por trás da construção dos hospitais da
Rede, tem uma complexa estrutura a fim de desenvolver com minúcia cada
elemento da construção, conferindo caráter particular em cada uma dessas
instituições.
Cada unidade hospitalar da Rede Sarah se origina em projeto único, como
um grande jogo de montar que emprega os diversos componentes
construtivos modulados, levando em conta os condicionantes do terreno,
insolação e ventilação. Os hospitais tomam forma, empregando
fechamentos, esquadrias, revestimentos e até mesmo mobiliários
produzidos no CTRS. Embora os diferentes condicionantes de terreno e
localização exijam soluções diferentes, o emprego de componentes
produzidos em série e o próprio programa caracterizam padrões de
articulação dos componentes construtivos e do espaço, respectivamente
(WESTPHAL, 2007, p.09).
Este capítulo consiste na análise do objeto de estudo, os hospitais da Rede
Sarah Kubitschek, dando ênfase nos atributos de humanização presentes nessas
instituições. Serão analisados três hospitais da Rede (Brasília 1976-1980, Salvador
1987-1991 e Rio de Janeiro 2000-2009), construídos em um intervalo de tempo de
aproximadamente dez anos, para que se possa avaliar quais os progressos e o
percurso do arquiteto para a elaboração de projetos cada vez mais humanizados.
É notável que ao longo dos anos as resoluções construtivas implementadas
pelo arquiteto foram aos poucos se moldando em função das novas exigências
programáticas, mas também pela crescente sofisticação dos sistemas construtivos
empregados para garantir, dentre outros aspectos, melhores resultados quanto ao
desempenho ambiental e energético da edificação (PEIXOTO, 2010, p.90).
89
4.1 Hospital distrital de Taguatinga: a experiência
Antes do Sarah Brasília,em 1967, Lelé teve a experiência de projetar o
Hospital Distrital de Taguatinga a convite da secretaria de saúde de Brasília.
Figura 4.1 – Hospital de Taguatinga.
Fonte: Secretaria de Saúde do DF. Disponível em:
http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttC
D_CHAVE=28775. Acesso em: 07/10/2010
Tais diretrizes propunham: a flexibilidade dos espaços internos, sempre que
possível, ligados a áreas verdes; a independência das circulações de pacientes e
pessoal; a facilidade de manutenção, tanto dos espaços quanto das instalações, e a
previsão para os acréscimos futuros.
Segundo Lelé, nesse hospital foi possível experimentar algumas ideias que
foram aplicadas posteriormente à Rede Sarah.
A execução da estrutura utiliza a técnica da pré moldagem. As instalações
em geral são aparentes ou correm por canaletas e galerias visitáveis. O
sistema adotado se ajusta à filosofia da obra quanto a flexibilidade e
extensibilidade,mas também visa criar facilidades para os serviços de
manutenção (MINIOLI, 2007 apud LELÉ, 1973, p.03).
O partido geral foi proposto em quatro blocos - sendo os três primeiros
articulados à mesma circulação vertical - implantados em níveis distintos, criados a
partir do escalonamento do terreno, caracterizado por um declive acentuado. No
primeiro nível localiza-se o bloco de internação; no segundo, os serviços gerais; no
terceiro, os serviços complementares, a emergência, o arquivo médico e o bloco
cirúrgico e obstetrício; no quarto nível, o ambulatório (PEIXOTO, 1996, p.52).
O hospital de Taguatinga já apresenta características que serão presentes
nos hospitais da Rede Sarah. Segundo Peixoto (1996), o sistema construtivo baseiase no uso de elementos pré-moldados em concreto armado. No bloco de internação,
por exemplo, os pavimentos foram escalonados a fim de garantir uma reserva de
90
áreas para possíveis ampliações, bem como para proporcionar terraços ajardinados
de ação terapêutica.
O uso da iluminação zenital, através do uso de sheds, também foi mantido
nos hospitais da Rede, no entanto, alterado o seu material e o tamanho das suas
aberturas a fim de aumentar a iluminação e a ventilação naturais.
Outros conceitos também foram aprimorados tais como: flexibilidade e
extensibilidade
da
construção
e
instalações,
padronização
dos
elementos
construtivos e criação de espaços adequados ao tratamento hospitalar mais
humanizado (MINIOLI, 2007, p. 03).
Como afirma Peixoto (1996), neste hospital já se pode identificar a
linguagem característica de Lima, em especial, no design minucioso das peças e na
tendência em diversificá-la.
4.2 Hospital Sarah Kubitschek Brasília
INTRODUÇÃO
O Hospital Sarah Kubitschek de Brasília
surgiu a partir do Centro de Reabilitação
Sarah Kubitschek, projetado no ano de
1960, pelo arquiteto carioca Glauco
Campello. Esse projeto foi fruto da
Fundação
das
Pioneiras
Sociais,
fundada em 22 de março de 1960, com o
objetivo de dotar a capital federal e a
zona circundante de um centro de
reabilitação de nível internacional.
Figura 4.2 – Fachada Sarah Brasília.
Fonte: www.sarah.br
No ano de 1968, o médico Dr. Aloysio Campos da Paz assume a
presidência da fundação e a direção do centro de reabilitação. Em 1969, esse
hospital passa a funcionar também como hospital cirúrgico, com 66 leitos, como
centro de pesquisa e produção científica e de formação de recursos humanos. Já
em 1972, “o governo federal propôs à Organização Panamericana da Saúde, ser
91
atribuído como Centro de Treinamento para o pessoal de reabilitação em todos os
níveis e que serviria a todas as regiões do norte, nordeste e centro-oeste do Brasil”
(MINIOLI, 2007 apud PAZ, 1977, p. 05).
Em 1975, é reconhecida a necessidade de construir uma nova planta física
para o centro de reabilitação. Dr. Aloysio Campos da Paz, juntamente com o
arquiteto João Filgueiras Lima e o então coordenador dos Programas de Saúde do
Ministério do Planejamento esboçam um projeto que visa não só as funções do
centro de reabilitação, como também a criação de 300 leitos.
No ano seguinte, esse projeto obteve fundos para a sua criação e o projeto
de arquitetura executivo começa a ser desenvolvido.
Em 12 de setembro de 1980 é inaugurado, constituindo-se como Centro
Nacional de Formação de Recursos Humanos e produtor de equipamentos
hospitalares especializados. Em 1987, em ata assinada pelo presidente da época,
José Sarney, a Rede Sarah passa a existir.
O Hospital Sarah Kubitschek de Brasília foi o que deu origem à Rede Sarah
e o primeiro trabalho realizado por Lelé para a Associação das Pioneiras Sociais
(APS), sendo construído no período que se estende entre 1976 e 1980. Segundo
Lelé (1999), aí foram introduzidas, pela primeira vez, as técnicas de terapia
baseadas na possibilidade de grande mobilidade do paciente.
Acumula as funções de Hospital, Centro de Administração e Gestão
Hospitalar, Centro de Ensino e Pesquisas, Centro de Pesquisas em Educação e
Prevenção, Centro de Controle de Qualidade e Centro de Formação dos Recursos
Humanos. Aí também funciona o Curso de Mestrado em Ciências da Reabilitação,
constituindo assim, uma infra - estrutura singular em instituições médicas do país,
voltada para o conhecimento e avanço da medicina.3
Representa um avanço em relação ao Hospital Distrital de Taguatinga pela
incorporação do sistema “progressive care”, que consiste na equação formulada,
proporcionalmente, entre as necessidades reais do paciente e o oferecimento de
3
Disponível em: www.sarah.br. Acesso em 05/10/2010.
92
recursos em aparelhagem e atendimento médico (PEIXOTO, 1996, p.89). É a
transferência sucessiva do paciente para locais com recursos específicos, de acordo
com a evolução do seu quadro clínico, objetivando oferecer as condições
necessárias para a recuperação do paciente, ao mesmo tempo em que visava
racionalizar os gastos em recursos (MINIOLI, 2007, p. 05). O tratamento, dessa
forma, seria organizado em três estágios:
Primeiro estágio – alta concentração de recursos humanos e materiais;
Segundo estágio – intermediária, com salas de cuidado hospitalar;
Terceiro estágio – pacientes diurnos, ambulatório e reabilitação.
Segundo o arquiteto, esse sistema permitia melhor flexibilidade na
distribuição dos serviços e do pessoal médico, proporcionando a permanência de
pacientes mais necessitados próximos ao centro cirúrgico, garantindo um
atendimento especializado e à medida que este vai se recuperando, deslocando-o
para outros pavimentos, onde os equipamentos e os serviços são mais rarefeitos.
Para Lelé, a questão básica na elaboração do programa do hospital do
aparelho locomotor de Brasília, seria a criação de ambientes adequados à
recuperação de pacientes imobilizados em seus leitos hospitalares. Segundo Minioli
(2007), visava a criação de um ambiente que estimulasse a reintegração do paciente
à sociedade, incluindo extensas áreas verdes dentro do complexo e áreas para
atividades sociais e culturais.
Para atender a essas premissas, Lelé também desenvolve equipamentos
para o hospital, tais como, as camas – maca, de tal forma a acompanhar o interno
no seu restabelecimento, indispensável para a mobilidade do paciente requerida
com a técnica de tratamento do “progressive care”. Segundo Peixoto (1996), essa
maca pode ser submetida a uma rigorosa desinfecção a vapor, diminuindo os riscos
de contaminação hospitalar.
No Brasil, atualmente, existem oito hospitais, três centros de reabilitação,
dois centros de tecnologia e um centro comunitário da Rede Sarah.
93
FICHA TÉCNICA
Nome do Projeto: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK – BRASÍLIA – DOENÇAS DO
APARELHO LOCOMOTOR
Local: SMHS – Qd 101 – Bloco n.45 – Asa Sul – CEP 70334-900 – BRASÍLIA – DF
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1976
Data de Execução: 1976-1980
Área do Terreno: 48.696,16m²
Área Construída: 45.409,32m²
Arquitetura (equipe): Claudio Bois; Haroldo Pinheiro; Jacó Sanowcz; José Lourenço
de Souza; Kristian Schiel; Marlene Aparecida Freire; Marco Antônio Pinheiro;
Rubens Lara Arruda;
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: Joaquim Cambraia
(obra); Equiphos Equipamentos Hospitalares;
Paisagismo: Alda Rabello
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Valter Felipe
Estrutura: Carlos Fregelli
Especialidades: Cirurgia ortopédica; Lesado Medular; Lesado Cerebral; Reabilitação;
Equipe multidisciplinar de Atendimento;
Maquete: Joaquim Anacleto4
4
Dados retirados da dissertação de mestrado de RIBEIRO, Gislene Passos. Conforto Ambiental e
Sustentabilidade na Obra de João da Gama Filgueiras Lima (Lelé): Os Hospitais da Rede Sarah.
94
IMPLANTAÇÃO
Figura 4.3 – Vista aérea do
plano piloto. Localização do
Sarah Central em Vermelho.
Fonte: Google Earth
O Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor (HDAL) foi planejado para
ser a sede, em Brasília, do núcleo coordenador de uma rede de serviços de
saúde de sua especialidade, a ser construída futuramente nas regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiro. O projeto ocuparia a área livre do
lote em que foi construído,na década de 1960, o Centro de Reabilitação
Sarah Kubitschek (MINIOLI, 2007, p.08).
A implantação desse hospital se dá em um terreno situado na área central
de Brasília, no setor Médico Hospitalar Sul (SMHS), com dimensões reduzidas, se
comparado aos lotes de outros hospitais da Rede. Portanto, segundo Guimarães
(2010), constitui um fator adverso, concorrendo para a necessidade da verticalização
de parte do edifício, não podendo ser utilizadas as tipologias horizontais que
apresentam maiores vantagens quanto à organização espacial, custo de produção e
eficiência térmica e luminosa da edificação.
Além desses fatores, em entrevista à revista AU – Arquitetura e Urbanismo,
Lelé fala da verticalização dos hospitais e aponta também o fator da integração
como ponto fraco nessa tipologia de hospitais:
Combatemos um pouco a verticalização porque ela setoriza e dificulta a
integração. Aparece um grupo de médicos que ocupa um andar e acha que
é o seu pavimento. Já começa a idéia de propriedade: o que é meu é meu,
aqui é meu consultório. E isso não pode existir. É o pior veneno para o
5
trabalho em equipe.
Por essa razão coube ao arquiteto Lelé o desafio de elaborar medidas
projetuais que fossem alternativas viáveis para o ajuste da estrutura ao esquema
5
Entrevista do arquiteto Lelé à revista AU, disponível em:
urbanismo/175/imprime104612.asp. Acesso em 04/10/2010.
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-
95
verticalizado do bloco de internação, quanto à esta integração e à determinação do
conforto ambiental requerido pela arquitetura.
Segundo Latorraca (1998), os seguintes princípios gerais foram levados em
conta para a elaboração do projeto:
Interligação com o prédio existente
A criação de uma necessária estrutura unificada para todo o conjunto
hospitalar abrangendo a infra-estrutura (serviços gerais, abastecimento, cozinha,
lavanderia, esterilização central, etc.), arquivo médico, setor de marcação de
consultas, serviços técnicos (laboratórios, raio-X, centro de estudos, etc.)
determinará um fluxo constante e intenso de circulação entre o prédio novo e o
existente. Torna-se indispensável que esse fato seja examinado levando-se em
conta a necessária independência das circulações de “out-patients”, pessoal médico,
paramédico e “in-patients”, serviços gerais (limpeza, cozinha, lavanderia, etc.)
Flexibilidade e extensibilidade da construção
A natural fragilidade dos programas organizados a partir de uma rotina de
funcionamento pré-fixada e, com base na utilização de técnicas e equipamentos,
que a tecnologia modifica a cada dia, torna desejável que o sistema construtivo
adotado permita a obtenção de espaços flexíveis e que cada setor possa crescer,
com independência, sem prejuízo das circulações internas. É de se prever, ainda,
para atender à condição do hospital de núcleo de um subsistema, que seu número
de leitos possa ser ampliado no futuro, desde que garantidas sua capacidade
operacional e a ocupação racional da área urbana que lhe foi destinada.
Criação de Espaços verdes
As características do hospital exigem, como complementação terapêutica e
pela própria conceituação de treinamento dos técnicos, o acesso fácil dos doentes
(“out-patients” e “in-patients”) a espaços verdes adjacentes às áreas de tratamento e
internação que permitam a administração de exercícios ao ar livre.
Urbanização da área
96
A construção do novo prédio determinará um remanejamento do prédio
existente e uma reformulação dos atuais acessos. A conseqüente urbanização
deverá criar um zoneamento que favoreça o trânsito de veículos e pedestres e a
reintegração do local da escola de excepcionais à área destinada ao estar e
recreação dos pacientes.
Flexibilidade das Instalações
O emprego de tubulações visitáveis de fácil acesso, necessário à utilização
flexível dos espaços internos, especialmente no caso de hospitais, deve permitir que
cada setor, nele instalado, se mantenha atualizado com relação às inovações que a
tecnologia proporciona. É necessário prever, ainda, que a instalação de alguns
sistemas planejados, considerada inviável por fatores econômicos ou por
impossibilidade de mobilização de pessoal técnico especializado, na primeira fase
de implantação, possa ser feita gradativamente sem incorrência de prejuízos
materiais ou de funcionamento do edifício.
Iluminação Natural e Conforto Térmico dos Ambientes
A indispensável proximidade de alguns setores de atividades, com a
conseqüente redução das áreas de circulação, explica em parte, a grande tendência
nos hospitais modernos de certos pavimentos do edifício serem transformados em
massa compacta de cubículos, com iluminação e conforto térmico controlados
artificialmente.
Segundo esse autor, o clima em Brasília não justifica o emprego
generalizado de sistemas de ar condicionado, pois onerariam inutilmente o custo
inicial da obra, além de criar problemas para futura manutenção do prédio.
Assim, a adoção de sistemas simples de iluminação e ventilação naturais,
além de proporcionar o conforto desejado aos ambientes, tornará os espaços
amenos e acolhedores.
Padronização de Elementos da Construção
As características de funcionamento de um hospital e, no caso, as grandes
proporções do edifício, acarretam sempre dificuldades aos serviços de manutenção.
97
No sentido de facilitar esse tipo de rotina administrativa, torna-se essencial um
rigoroso estudo de padronização dos elementos de construção (estrutura, vedação,
divisórias, equipamentos fixos e móveis, luminárias, etc.). Além disso, o princípio de
repetição desses elementos utilizados, para aplicação de uma metodologia de
construção específica, a cada caso, poderá ser de interesse como fator de redução
do custo da obra.
SISTEMA CONSTRUTIVO
“Lelé é o arquiteto em que arte e tecnologia se encontram e se entrosam – o
construtor. Com seu trabalho Lelé resgata a figura do arquiteto construtor
em contraposição ao arquiteto desenhador. (...) Lelé chegou na hora certa
para preencher uma grave lacuna no desenvolvimento da arquitetura
brasileira, visto que ele enfrenta e resolve de forma racional, econômica e
com apurado teor arquitetônico os mais variados e complexos desafios que
a sociedade moderna programa e impõe.”
(Rebello, Leite, 2008 apud Lúcio Costa, 2000)
É com essa afirmação de um dos mais renomados arquitetos brasileiros que
pretende-se iniciar a análise do sistema construtivo do hospital Sarah Brasília, que
mostra além do resultado e produto final dessa obra, a importância que Lelé da ao
processo de projeto, estudando e criando possibilidades que promovam uma
arquitetura de melhor qualidade, principalmente, em se tratando de hospitais, locais
onde pacientes vivem em constantes conflitos de emoções.
O sistema construtivo do Sarah Kubitschek Brasília foi baseado no conceito
da padronização dos seus elementos, bem como na utilização da flexibilidade e
extensibilidade da construção, visando atender às contingências de funcionamento
atuais e futuros de uma unidade hospitalar.
A justificativa para a necessidade de um projeto hospitalar flexível e
extensível, para Lelé, se dá pelas possíveis mudanças sofridas pelos hospitais ao
longo do tempo, seja em função do surgimento de novas técnicas de tratamento,
seja por possíveis ajustes decorrentes de outros fatores, que geram a necessidade
constante da atualização física do hospital. Já a padronização dos elementos
construtivos facilita a funcionalidade e manutenção dos espaços, visto à alta
complexidade do uso de um hospital.
“O projeto estrutural original é exemplo dessa premissa. Deve atender ao
programa, que varia ao longo do tempo, exigindo o que ele chama de
flexibilidade do espaço existente. Além disso, a mudança dos espaços
98
também exige reformulações e ampliações. Então o partido deveria permitir
sua repetição, com o objetivo de simplificar e dar unidade à construção, sem
perder a sua característica ao longo do tempo, pelas mudanças nas funções
dos ambientes” (MINIOLI, 2007, p. 62).
No Sarah Brasília, os espaços praticamente não possuem divisórias fixas, o
que favorece qualquer possível mudança no layout dos ambientes. São espécies de
grandes galpões, onde espaços são separados através de estruturas de madeiras e
cortinas.
Figura 4.4 – Vista do espaço de internação. Divisões do espaço através de biombos ou persianas
móveis.
Fonte: Arquivo pessoal.
Esse partido justifica a flexibilidade tão defendida por Lelé. Apesar de ter
sido construído no final dos anos 70 e começo dos anos 80, o arquiteto já tinha a
visão de que possíveis mudanças ocorreriam visto o aparecimento de novas
técnicas e tecnologias, por exemplo.
99
E de fato ocorrem. Funcionários garantem que o hospital está em constante
mudança e em conseqüência, sofrendo constantes reformas.6 No entanto, não
impede no bom funcionamento do hospital e nem causam estresses decorrentes de
quebradeiras e indesejáveis ruídos que a reforma possa causar.
Isso se deve pelo fato de o hospital já prever em sua estrutura eventuais
mudanças, diferentemente de outros hospitais que qualquer pequena reforma
poderia causar grandes transtornos.
A padronização, por sua vez, explica a utilização em larga escala de
elementos pré-fabricados, sendo este um fator ponderável na redução dos custos da
obra, na garantia da qualidade dos acabamentos e na diminuição dos prazos de
execução.
SISTEMA DE PILARES E VIGAS DUPLAS
Segundo Minioli (2007), no anteprojeto desenvolvido para esse hospital,
Lelé utiliza o mesmo sistema construtivo para o andar térreo (ambulatório), subsolo
1 (serviços técnicos) e subsolo 2 (serviços gerais), escalonados no terreno. A
modulação inicial estabelecida era a modulação ortogonal de dimensões 1,15m x
1,15m e as instalações prediais acoplam-se junto à estrutura.
Ao longo do edifício, longitudinalmente, pode-se perceber os pórticos e
pilares formados por pilares e vigas duplas, com seis módulos de vãos moldados in
loco. É no espaço formado entre esses pilares e vigas que o arquiteto propõe a
passagem das instalações prediais, tais como, espaço para coleta de águas pluviais,
bem como as instalações elétricas.
6
Dados obtidos na visita guiada aos hospitais Sarah.
Figura 4.5 – Esquema pilar duplo. Instalações ocorrem entre um pilar outro.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.63.
100
No sentido transversal do prédio, unindo os pórticos, percebe-se a existência
de elementos pré fabricados de laje (laje nervurada), com 60cm de altura e 1,15 m
de largura, vencendo vãos variáveis, sendo o menor de 7 módulos e o maior de 12
módulos, permitindo além dos pisos, a criação de terraços-jardins, passagem de
tubulações e acoplagem de peças intercambiáveis (sheds) para iluminação e
ventilação naturais, quando posicionados distantes entre si (RIBEIRO, 2007, p.09).
Figura 4.6 – Esquema explicativo de instalações acopladas à laje nervurada.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.63.
Através da utilização desse sistema, é possibilitada tanto a flexibilidade do
layout, como a integração com o exterior, nas áreas limítrofes de cada pavimento,
por meio de fachadas envidraçadas voltadas para jardins, pois a parede externa não
é estrutural (MINIOLI, 2007, p.63).
SISTEMA DA VIGA VIERENDEEL
Outro sistema estrutural adotado por Lelé foi o que se baseia no uso de
elementos pilar – viga – laje, com grandes dimensões e vãos. Esse sistema adotado
para a construção do prédio de internação é intencional, visto a necessidade que o
arquiteto tem em garantir amplos espaços internos, com possibilidade de
flexibilidade do mesmo, além de sua integração a espaços verdes, em escala
adequada e com pé direito duplo.
101
O desenho e a disposição das vigas ao longo das fachadas fornece, por um
lado, a necessária proteção dos terraços contra o devassamento externo, já que o
hospital está implantado em área urbana, o que favorece, no que diz respeito à
privacidade do usuário; por outro lado, livra totalmente a parte superior do pé direito
duplo, permitindo a penetração generosa do sol (LATORRACA, 1999, p.128).
Figura 4.7 e 4.8 – Viga vierendeel em dois momentos. No primeiro caso, aplicada na parede da varanda.
No segundo, aproveitando o pé direito duplo da varanda, são colocadas ao longo dos corredores do
nível superior.
Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 4.9 e 4.10 – Iluminação da circulação através da abertura da viga vierendeel. Vista da viga e o
fechamento com o caixilho de vidro.
Fonte: Arquivo Pessoal.
102
Ao longo das circulações dos pavimentos, os vazios das vigas recebem
caixilhos de vidro formando grandes janelas que possibilitam a integração do visual
com o espaço verde do piso inferior.
Ainda, segundo Latorraca (1999), o emprego desse elemento estrutural
elimina pilares nas enfermarias, aumentando as condições de flexibilidade
requeridas.
Nesse sentido, esse tipo de viga com aberturas sextavadas permitem a
iluminação e ventilação natural das enfermarias. Estas foram integradas aos
terraços - jardins adjacentes, dispostos de maneira alternada para proteger as
fachadas, regular a incidência do sol, além de garantir o funcionamento adequado
das áreas de terapia e convívio social (GUIMARÃES, 2010, p. 90).
Os jardins de ambientação, integrados às áreas de internação e tratamento,
foram quase sempre implantados em terraços nas coberturas dos respectivos
pavimentos inferiores Os terraços são contíguos às enfermarias e podem ser usados
como solários pelos pacientes, já que o sol constitui uma fonte de terapia auxiliar.
Figura 4.11 – Vista da enfermaria. Macas dispostas de frente para as aberturas da viga, permitindo a visão
do exterior.
Fonte: Arquivo Pessoal.
103
Lelé afirma que a verticalização do setor das enfermarias é uma solução
adequada, desde que sejam tomados alguns cuidados com a definição dos vãos,
que tem implicações na estrutura, como em relação à iluminação e ventilação
naturais. Lelé afirmou, em entrevista, que a iluminação natural distribuída
igualmente em todo o pavimento não é tão importante quanto nas outras partes do
hospital. A iluminação lateral, com janelas, é suficiente. Nessa condição de
verticalização, a única forma de obter ventilação natural é cruzada. Assim, a
largura do prédio não pode ser grande, criando a ventilação cruzada muito longa.
Dessa forma, as bactérias são carregadas de um lado para outro. Essa
configuração cria zonas muito escuras no centro do prédio (MINIOLI, 2007, p.65).
Segundo Minioli (2007), essa solução de enfermarias com terraços
alternados visa permitir a insolação natural, porém de maneira controlada. A faixa
interna das enfermarias possui 9 módulos de vão, que são protegidos da iluminação
direta pelos terraços, que tem 5 módulos para um lado e recuo do limite do prédio no
outro lado.
Esses vãos são vencidos através do piso formado por laje nervurada
também de 60 cm de altura x 1,15 de largura, dispostas no sentido transversal do
prédio.
Primeiramente, no anteprojeto, a viga vierendeel possuía acabamentos
distintos nas suas extremidades. Na parte inferior possuía uma dobra, espécie de
console para receber a laje, formando uma viga invertida. Na parte superior, quem
possui a dobra é a laje, para poder apoiar-se na viga do pavimento inferior.
Figura 4.12 – Detalhe proposta
inicial
da
montagem
da
estrutura.
Fonte: MINIOLI, p.66.
104
Dessa forma, a laje do terraço se
penduraria na vierendeel externa e se
apoiaria na interna. A laje do interior do
pavimento iria se apoiar nesta viga, que
estaria no andar de baixo, e iria pendurarse na outra vierendeel interna, que estaria
no mesmo andar. Entre a laje e a viga
ainda existe um espaço onde servem de
Figura 4.13 – Detalhe das instalações.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.66.
passagem para as instalações prediais.
Minioli (2007) explica as adaptações sofridas no projeto com relação a esse
sistema:
Com a mudança das lajes para moldagem in loco, elas não seriam mais
apoiadas posteriormente nas vigas, mas passariam a ser concretadas
juntamente com elas, tornando o sistema engastado. A laje do terraço
continua pendurando-se na vierendeel externa (pois a traciona) e apoiandose na viga vierendeel interna (pois a comprime). Porém, no trecho interno
ao pavimento, a laje, que já estava pendurada na vierendeel do mesmo
pavimento, passou a estar pendurada também na viga vierendeel do
pavimento inferior, que é uma solução mais incomum ainda. Nesta viga de
baixo foi feita uma dobra, com 1,25 m (mesa de compressão) em sua parte
superior, fazendo com que a laje seja engastada nessa dobra em seu berço
superior, e não diretamente na viga, deixando um afastamento de 30 cm
entre ela e a laje. Segundo Lelé, em termos da estrutura esse detalhe não
seria necessário, mas foi usado para criar um nicho para abrigar as
instalações prediais (MINIOLI, 2007, p. 69).
Figura 4.14 – Vigas vierendeel fundidas separadamente e moldadas sobre escoramento provisório.
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 66.
105
Figura 4.15 e 4.16 – Detalhe da montagem das vigas e foto da viga vierendeel moldada in loco.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.66 e Arquivo Pessoal.
INSTALAÇÕES PREDIAIS
Na obra do Lelé, pode-se perceber que todo o sistema construtivo é
pensado nos mínimos detalhes com o intuito de lograr um edifico que seja prático,
funcional e que acarrete em menores gastos com a manutenção.
No Sarah Brasília não foi diferente. As instalações são postas de forma que
não fiquem estanques, permitindo, assim como nos ambientes, certa flexibilidade.
Apesar de não serem vistas, estas estão presentes de tal forma a serem acessíveis.
Minioli (2007), afirma que às obras de Lelé tem uma linguagem industrial, embora
não aparente como tal.
As descrições das instalações a seguir, apresentadas por Minioli (2007), são
baseadas nas informações adquiridas através do anteprojeto feito para este hospital.
Instalações elétricas, telefônicas e de intercomunicação
No piso térreo, as fiações principais percorrem o sentido longitudinal do
prédio, entre as vigas duplas, em sua parte inferior. Há ramificações no sentido
106
transversal a cada 1,15 m, nas lajes nervuradas. O trânsito vertical das instalações
se dá entre os pilares duplos.
Figura 4.17 – Desenho esquemático das instalações.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.71.
Figura 4.18 – Desenho esquemático das instalações.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.71.
Nos pavimentos escalonados, com exceção do centro cirúrgico em que se
prevê no teto o emprego de forro de gesso para obtenção de superfícies lisas de
fácil assepsia, essas instalações correm em canaletas de ferro aparentes, fixadas
nas lajes na etapa de fundição.
Essas canaletas são conectadas a outras contidas nas vigas duplas e que
por sua vez ligam-se aos quadros parciais de distribuição fixados no bojo dos pilares
duplos.
107
As fiações de luz e força das canaletas alimentam os aparelhos de
iluminação de disposição também flexível e ramais verticais correndo nos montantes
dos painéis divisórios onde são fixados interruptores e tomadas. Estas últimas
poderão também ficar embutidas nos rodapés.
Figura 4.19 e 4.20 – Calhas embutidas entre as vigas duplas por onde passam as fiações. Painéis de
distribuição.
Fonte: Arquivo Pessoal.
As luminárias são fixadas junto das eletrocalhas e podem ser movidas e
parafusadas em outro trecho da eletrocalha conforme necessidade de iluminação do
ambiente em função de mudança de layout.
Figura 4.21 e 4.22 – Luminárias fixadas nas eletrocalhas. Vista das vigas duplas no teto da circulação do
hospital.
Fonte: Arquivo Pessoal.
108
A distribuição das fiações nos andares superiores segue o mesmo conceito:
nos pavimentos das enfermarias a distribuição das fiações principais se faz através
de canaletas fixadas no teto ao longo das circulações. As ramificações, no sentido
transversal, ocorrem em canaletas embutidas nas lajes nervuradas, a cada 1,15
metro.
Instalações de esgotos, águas pluviais, água e especiais
Os ramais principais desenvolvem-se nas galerias de tubulações projetadas
nos níveis -7 m e -9 m, que recebem as tubulações dos pavimentos, conforme
descrito a seguir.
No térreo e nos andares inferiores as águas pluviais correm no sentido
transversal do prédio sobre as lajes nervuradas, até os eixos longitudinais do prédio
entre as vigas duplas, em sua parte superior. Os condutores descem entre os pilares
duplos.
Os esgotos sanitários, tubulações de água e instalações especiais também
estão embutidas nos berços superiores das lajes, no sentido transversal, e entre as
vigas duplas, no sentido longitudinal, podendo esses trechos serem acessados para
fácil manutenção e reformulações.
Nos andares-tipo, como os terraços são abertos para o exterior, as águas
pluviais atravessam as frestas entre as placas do piso, escorrem sobre as lajes
nervuradas até uma calha situada na faixa de apoio das lajes na viga vierendeel
externa. Os condutores estão localizados nas torres de circulação vertical.
Na parte interior do prédio também existem canaletas com acessos
previstos no sentido longitudinal do prédio, nas áreas de apoio das lajes sobre as
vigas vierendeel internas, para passagem de esgotos sanitários, tubulações de água
e instalações especiais.
Instalação de ar condicionado
Os dutos de ar condicionado (insuflação e retorno) correm nas galerias de
tubulações do nível -7m. Os ramais secundários, nos quais se inserem as grelhas de
insuflação e retorno, estão contidos em paredes duplas específicas (percursos
verticais) e no berço inferior das lajes (percursos horizontais).
109
Figura 4.23 – Esquema instalações de águas e esgotos.
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 72.
Figura 4.24 – Esquema instalações de ar condicionado.
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 72.
Nas peças em que se prevê a instalação de ar condicionado foram
projetados forros de gesso fixados na parte inferior das lajes (Figura 4.25).
A hierarquia da distribuição das instalações prediais foi mantida: instalações
principais na direção longitudinal, junto das vigas, e ramificações na transversal
pelas lajes nervuradas.
No pavimento tipo, o encontro entre a viga vierendeel e a laje nervurada
possui um afastamento entre eles com a função de alojar as instalações. No interior
do prédio, esse nicho corre no sentido longitudinal do prédio, na faixa da circulação.
No Projeto Executivo, este nicho passou do piso para o teto. No terraço,
esse nicho permaneceu no chão, recolhendo águas pluviais.
110
Atualmente, devido ao aumento das instalações, as canaletas estão com
sua capacidade ocupada próximo do limite.
Figura 4.25 – Esquema instalação de ar condicionado.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.72.
SHEDS
Os sheds são características marcantes presentes na estrutura dos
hospitais projetados por Lelé, desde o primeiro, de Taguatinga, empregado em
seguida no Sarah Brasília e mais tarde nos demais hospitais da Rede.
São elementos pré – fabricados, que são acoplados às lajes nervuradas e
possuem abertura que possibilita iluminação e ventilação naturais.
Nesse caso do hospital Sarah de Brasília o desenho dos sheds proposto
para o anteprojeto não é o que está presente no edifício atual.
111
Figura 4.26 – Proposta inicial pra o shed.
Fonte: MINIOLI, 2007, p.76.
Em entrevista a Minioli (2007), Haroldo Pinheiro, colaborador de projetos de
Lelé desde a época do anteprojeto desse hospital, conta como se deu o processo de
definição desse modelo:
Esse elemento, o shed, seria produzido em ferro-cimento, o que hoje é
como sinônimo de argamassa armada. As técnicas são parecidas, mas a
rigor, no ferro-cimento são usadas mais armaduras que na argamassaarmada. Essas técnicas possibilitam fazer peças com uma polegada de
espessura (25,4 mm). O shed teria um desenho curvo e seria composto de
uma casca-dupla (uma casca e outra sobrecasca), espaçadas entre si, com
a função de criar um colchão de ar, contribuindo para o controle da entrada
de radiação solar (controle da temperatura), pela movimentação de ar
dentro desse espaço (MINIOLI, 2007, p.76)
Na época, no entanto, não existia ainda a cultura no uso do ferro – cimento,
argamassa armada. Os sheds, por sua vez, necessitavam ter uma forma e execução
que permitissem durabilidade às peças para que futuramente fossem evitados
qualquer tipo de problemas, tais como, fissuras, infiltrações e trincas.
O engenheiro Joaquim Cambraia, que tinha trabalhado com Lelé desde a
construção do hospital de Taguatinga, sugere que o arquiteto adote o mesmo
sistema de sheds que fora implantado nesse hospital.
Lelé, no entanto, considerava a solução de Taguatinga ineficiente. Mas
também, à época da construção do Sarah Central, em Brasília, o arquiteto não
estava acompanhando a obra diretamente e isso dificultava as possibilidades dele
poder tornar viável a proposta apresentada no anteprojeto, assim como o controle
das etapas da construção dessa obra.
A solução encontrada pelo arquiteto visto a impossibilidade de executar o
que já havia sido proposto, mas também sem retomar à adotada no hospital de
Taguatinga que já fora considerada ineficiente, desenvolve-se um modelo de shed
112
com faces retas e cantos arredondados, executado em um concreto leve, de
espessura de 3 cm, com armação comum e com caixilho de vidro, com abertura para
ventilação.
Porém, segundo Lelé, esses componentes não foram bem executados, visto
que, ao longo dos anos foram apresentando problemas de infiltração. Como o reparo
em cada peça acarretaria em gastos muito elevados – já que não se sabia ao certo
de onde estava vindo a infiltração – a solução foi uma capa metálica sobre toda a
estrutura existente.
Figura 4.27 e 4.28 – Sheds Sarah Central.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.29 – Sobreposição do shed proposto (preto) e do atual (vermelho).
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 77.
113
Guimarães (2010), explica que ainda existem deficiências nos espaços do
bloco vertical, quanto à ventilação e luminosidade:
Devido à verticalização dos pavimentos e rigidez do sistema estrutural do
bloco de internação, os espaços das enfermarias, embora fluidos, valeramse apenas do sistema passivo de ventilação cruzada para amenizar as
temperaturas internas. Além disso, a incidência lateral da luz solar por meio
das aberturas das vigas não resultou satisfatória (...). Vários trechos das
enfermarias apresentam diferentes níveis de luminosidade ao longo do dia,
causando desconforto visual e prejuízo ao desenvolvimento das atividades
realizadas no local” (GUIMARÃES, 2010, p.94).
O hospital Sarah de Brasília, portanto, abre discussões a serem resolvidas
nos hospitais seguintes, pois, apesar de oferecer padrões aceitáveis de conforto,
ainda não resolve todas as questões bioclimáticas que um programa dessa natureza
necessita.
Justificando a afirmação acima o próprio arquiteto diz em entrevista à
Guimarães (2010):
O hospital de Brasília construído com concreto armado e ferro cimento, não
apresenta uma solução boa no ponto de vista do conforto. O edifício está
funcionando bem, porque o esquema de circulação é coerente, mas não
acho que ele sirva de referência para outros projetos da Rede. Mas tudo
mudou a partir do projeto de Salvador, quando nós decidimos integrar
componentes pré - fabricados de argamassa armada e estruturas metálicas.
Isso garantiu um maior rigor técnico e flexibilidade da construção, além de
facilitar a introdução de um novo repertório de formas e soluções mais
adequadas para os problemas de arquitetura (GUIMARÃES, 2010, p. 95).
Lelé ainda acrescenta que:
Na media em que se pode fazer sheds curvos, dimensionados para
acompanhar a aerodinâmica dos ventos, assim como eliminar a abertura
das janelas que impõem certa dificuldade de execução em se tratando da
tecnologia da argamassa armada, tudo isso é bastante positivo. Com a
tecnologia do aço tudo se tornou possível (GUIMARÃES, 2010, p. 96).
Foi a partir da construção do Sarah Salvador que Lelé começa a
desenvolver os projetos utilizando elementos da argamassa armada e aço,
desenvolvendo estratégias de conforto térmico e luminoso, que serviram de
referência para outros projetos da Rede, especialmente àqueles destinados às
regiões de clima quente e úmido, a exemplo das cidades litorâneas do nordeste
brasileiro.
114
Com esse exemplo, vemos que as soluções são refinadas a cada projeto.
Os conceitos são mantidos, mesmo com mudanças requeridas durante o
desenvolvimento e detalhamento de um projeto arquitetônico. O trabalho realizado
com outros profissionais exige certas adaptações. A postura do arquiteto é de
promover, dentro das condições possíveis, um avanço em relação aos projetos
anteriores (MINIOLI, 2007, p.76).
4.2.1. Projeto de arquitetura
TÉRREO
É neste piso que se localiza a entrada principal do prédio. Aí são destinados
atendimentos aos pacientes do terceiro estágio (pacientes externos), devido ao seu
fácil acesso.
Os pacientes têm acesso a esse hospital através de uma entrada coberta e
a partir dela, acessa-se todas as áreas do térreo, tais como: setor de marcação de
consultas, ambulatório – espera e consultas - , a rampa para o subsolo 1, a parte
administrativa do hospital, de acesso ao público, e os elevadores que levam às
enfermarias e à residência médica (MINIOLI, 2007, p. 30).
Na área destinada à espera, são organizados grupos definidos pela cor das
cadeiras. Estas são dispostas lado a lado e funcionam como uma forma de fácil
comunicação entre funcionários e pacientes, sendo cada um, de acordo com o seu
tratamento, destinado a uma cor das cadeiras de espera. Localizado em frente à
espera, está o ambulatório. Nesse espaço, são distribuídos boxes, onde ocorrem as
consultas. Cada ala do ambulatório também possui diferenciação através de cores,
referentes a cada grupo de espera, presentes na porta de acesso, nas cortinas dos
boxes e nas placas. (Figuras 4.30 e 4.31)
Figura 4.30 e
4.31 – Sala de
Espera
e
Ambulatório.
Fonte: Arquivo
Pessoal.
115
Figura 4.32 – Proposta atual do pavimento térreo.
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 35
116
PAVIMENTO TIPO
No bloco verticalizado, do primeiro ao quinto andar são destinados às enfermarias,
enquanto no sexto andar se encontra a residência médica.
ENFERMARIAS
Segundo Minioli (2007), os andares das enfermarias são ocupados da
seguinte forma:
 Primeiro andar – pediatria;
 Segundo andar – oncologia e primeiro estágio (equivalente à UTI de
outros hospitais);
 Terceiro andar – ortopedia;
 Quarto andar – lesado cerebral, além da neuroclínica;
 Quinto andar – lesado medular;
No primeiro pavimento, onde fica a pediatria, foi criada uma área com
beliches para pernoite dos pais ou acompanhantes dos pacientes, o que não existe
nos outros pavimentos.
Figura 4.33; 4.34; 4.35 – Alojamento para acompanhantes. Vista do Corredor, vista do boxe com beliche e
banheiro.
Fonte: Arquivo Pessoal
Abaixo, a planta baixa do pavimento tipo, destinado às enfermarias, que
corresponde com a mesma configuração do primeiro ao quinto piso. A outra planta
corresponde ao sexto piso, destinado à residência médica.
117
Figura 4.36 – Planta baixa.
Fonte: MINIOLI, 2007, p. 52
118
Figura 4.37 – Planta baixa.
Fonte: MINIOLI, 2007,p. 52
119
RESIDÊNCIA MÉDICA
Este andar é destinado aos médicos convidados pelo hospital Sarah, já que
atualmente, o hospital não oferece moradia para os médicos residentes (MINIOLI,
2007, p. 58).
Todos os alojamentos possuem banheiro no seu interior e os terraços desse
andar, por serem descobertos e sujeitos a intempéries, receberam cobertura
translúcida sobre estrutura metálica.
4.2.2. Ampliações do hospital Sarah Kubitschek Brasília – CTRS – Brasília, DF, 1995
– 1997
Quinze anos após a construção do Sarah Brasília percebeu-se que esta
unidade precisava de novas instalações e melhorias em geral.
FICHA TÉCNICA
Local: SMHS – Qd 101 – Bloco n. 45 – Asa Sul – CEP 70334-900 – BRASÍLIA – DF
Autores: Joaão Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1995
Data de Execução: 1995 – 1997
Área do Terreno: 48.696,16m²
Área Construída: 11.963,22m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Ribeiro; Haroldo Pinheiro; Hurandy Matos; José
Fernando Minho;
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: CTRS
Paisagismo: Alda Rebello
Integração de obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Eustáquio Ribeiro e George Raulino
120
Estrutura: Paulo Roberto Freitas
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia Leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Maquete: Joaquim Anacleto7
CENTRO DE ESTUDOS
O Centro de Estudos do Sarah Brasília estava se tornando, de forma
gradual, inadequado ao desenvolvimento do atual programa de atividades culturais,
de treinamento e de ensino (RIBEIRO, 2007, p.160).
O auditório, com capacidade para 100 lugares, não suporta as grandes
reuniões de rotina, com mais de 200 participantes. Outro problema aí é que quando
foi concebido era apenas um local para discussões clínicas do corpo médico e
paramédico, portanto, suas características arquitetônicas não permitem que seja
utilizado para espetáculos de teatro, balé, etc, envolvendo a participação de
pacientes em cadeiras de rodas ou camas – macas. Além do auditório, a biblioteca
também passa por transformações, visto que inicialmente foi projetada apenas para
atender às necessidades técnicas específicas do hospital, não possuindo área
suficiente para a implantação do atual programa que amplia sua utilização para
pacientes e para a própria comunidade (LATORRACA, 1999, p.215).
AUDITÓRIO
Este auditório foi criado devido à necessidade de aumentar a capacidade do
mesmo, pela constante realização de reuniões e a quantidade de participantes
acima da capacidade do auditório existente. Além disso, surge como uma alternativa
de inclusão dos portadores de deficiência física, proporcionando a participação de
pacientes em cadeiras de rodas ou camas – macas, em espetáculos de teatro,
ballet, etc, dentro das atividades do hospital (MINIOLI, 2007, p.23).
7
Dados retirados da dissertação de mestrado de RIBEIRO, Gislene Passos. Conforto Ambiental e
Sustentabilidade na Obra de João da Gama Filgueiras Lima (Lelé): Os Hospitais da Rede Sarah.
121
Minioli (2007) afirma que a biblioteca passou também a incorporar os
pacientes e a própria comunidade como usuários, necessitando, dessa forma,
ocupar uma área maior.
Segundo Latorraca (1999), é uma construção independente, composta por
dois níveis, sendo constituído de três corpos que abrigam o nível superior – caixa de
palco, platéia e foyer, respectivamente – no nível inferior, camarins, depósito do
teatro, sanitários, estúdios, videoteca, etc. No corpo da platéia previu-se 320 lugares
em poltronas convencionais e 40 postos para pacientes em camas – macas e
cadeiras de rodas.
A super estrutura desse prédio foi projetada em chapas dobradas de aço,
sendo as divisórias e contenções em peças pré - fabricadas de argamassa armada.
A cobertura do corpo da platéia e a do foyer é constituída de vigas porticadas e as
paredes laterais do corpo do palco são treliçadas com o intuito de absorver as
cargas de vento e os empuxos dos pórticos do corpo da platéia (LATORRCA, 1999,
p. 215).
A boca do palco tem um vão livre de 24m, vencido por treliça metálica
apoiada em pilares contidos nas paredes laterais do corpo do palco.
Figura 4.38 – Detalhe da treliça metálica na cobertura do
auditório. Peças pré-fabricadas produzidas no CTRS Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
122
Figura 4.39 – Corte esquemático.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Nas figuras abaixo pode-se ter uma ideia da configuração do espaço interno
desse novo auditório e de como a circulação é trabalhada.
Figura 4.40 e 4.41 – Vista interna auditório e circulação interna.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Percebe-se, portanto, a preocupação de Lelé em sempre transformar os
espaços em locais mais agradáveis, trabalhando a favor da inclusão social, aliandose à arte de Athos Bulcão proporcionando espaços mais alegres, trabalhando muito
bem as circulações, além de lutar pela iluminação e ventilação naturais, bem como a
integração dos espaços internos com o exterior e o uso do verde no interior da
123
edificação, aproximando o edifício da natureza e, certamente, tornando esses
espaços mais humanizados.
4.2.3. Humanização do hospital Sarah-Brasília
Ao entrar na unidade Sarah Central de Brasília, vê-se painéis dispostos ao
longo das paredes. Dentre eles, os escritos com as palavras do Dr. Aloysio Campos
da Paz, cirurgião - chefe dos hospitais Sarah e um dos idealizadores dessa iniciativa
para a criação da Rede.
A partir da leitura desses painéis, compreende-se a intenção e o
compromisso dessa instituição com a sociedade, tratando o doente de forma
coerente e colocando o hospital à disposição dos mesmos, longe de preconceitos e
a favor do seu maior ideal: a cura.
Segundo Dr. Aloysio, este hospital foi construído com o intuito de concretizar
os seguintes ideais, estabelecidos por esse médico como norteadores para a
consolidação de um hospital mais humano.
Criar: um centro especializado de saúde que entenda o ser humano
como sujeito da ação e não como objeto sobre o qual se aplicam
técnicas;
Vivenciar: a medicina do aparelho locomotor como um conjunto de
conhecimentos e técnicas unificadas, destinados ao restituir ao
incapacitado físico o direito universal de ir e vir;
Atuar: na sociedade para prevenir a incapacidade e a deformidade,
combatendo, ao mesmo tempo, preconceitos quanto à deficiência física,
pois o que caracteriza a vida é a infinita variação da forma que no tempo
muda;
Defender: o princípio de que nenhum homem pode ser discriminado por
ser diferente da média em sua forma física ou maneira própria de realizar
uma atividade;
124
Libertar-se: da dependência tecnológica pela utilização do potencial
criador de nossa cultura, rejeitando a atitude passiva diante do
consumismo e da imitação;
Desenvolver: uma atitude crítica diante de modelos importados,sejam
técnicas, sejam comportamentos.
Simplificar: técnicas e procedimentos para adaptá-los às necessidades
reais apresentadas pelos contrastes econômicos e culturais das regiões
brasileiras; simplificação é a síntese crítica de sistemas e processos mais
complexos: “não se simplifica aquilo que não se conhece”;
Valorizar: a iniciativa inovadora e a troca de experiências no ensino e na
pesquisa, estimulando a criatividade de pessoas e grupos, “o indivíduo é
a Instituição”, e cada um por ela responde, a ela dedicando sua vida;
Viver: para a saúde e não sobreviver da doença;
Transformar: cada pessoa em agente de sua própria saúde;
Trabalhar: para que a utopia deste hospital seja educar para a saúde, de
tal modo, até que todos, protegidos da doença, dele não mais
necessitem;
A comunidade é a principal responsável por esta obra cuja finalidade é a
realização de sua vontade. Cabe, portanto, como dever de todos, cobrar
desta Instituição, o compromisso hoje consolidado.
Vinte anos após a inauguração do Sarah, também com as palavras do Dr.
Aloysio, outro painel confirma o compromisso da instituição com a sociedade onde
diz que:
Este espaço de concreto, aço e vidro existe para que qualquer ser humano,
rico ou pobre, seja atendido com dignidade e competência, de modo
rigorosamente gratuito e igualitário. Nenhum serviço que aqui se realiza,
pode ser cobrado (...). Caso você perceba a mínima tentativa deste princípio
fundamental, saiba que este espaço de entrega e de amor ao próximo terá
sido corrompido. Logo, não hesite: Saia, proteste! Não permita a violação do
seu direito de cidadania. Todos os que aqui trabalham, como verdadeiros
servidores públicos, devem retornar a você em serviços qualificados, o
imposto que você paga, como cidadão. Este é o princípio maior desta
instituição.
125
Ainda nesses painéis um texto escrito pelo médico, chamado “Dicotomia”. Aí
ele evidencia a proposta da instituição, onde tem o respeito e o paciente como
principal foco, atribuindo-lhes tratamentos que reafirmem a sua dignidade.
“Existe uma dicotomia que contribui perversamente para impedir que
pessoas com alguma forma de incapacidade sejam reabilitadas: os médicos
julgam os doentes a partir do que as doenças lhes fez perder; o que deixou
de existir.
A verdadeira reabilitação avalia o doente pelo que lhes restou, pelo seu
potencial, por onde há espaço para investir. Essa visão, aparentemente
ingênua tem velhas raízes: reporta-se às origens da medicina.
Historicamente, a reabilitação é recente.Podemos localizar sua origem com
alguma precisão a partir da II Guerra Mundial, quando milhares de pessoas
se viram privadas de algo absolutamente essencial: a capacidade e o
arbítrio de ir e vir.
Paralelamente, formou-se uma sociedade consumista, altamente
preconceituosa, que busca padrões de perfeição dissociados da realidade,
esquecendo que é a diversidade que caracteriza a natureza e o homem. E a
incapacidade é uma forma particular de diversidade.
Preconceitos nascidos dessas circunstâncias, segregam quem foi privado
de alguma função, seja motora, seja intelectual, em guetos hospitalares,
como no passado foram segregados quem os regimes totalitários
consideravam “imperfeitos”.
Mesmo antes disso, a literatura já tinha o mau hábito de associar a vilania
de alguns personagens às diferenças físicas, particularmente aquelas vistas
como deformações.
Para estabelecer e privilegiar uma atitude humanista, é necessário, como
aconteceu após a II Guerra Mundial, considerar o incapacitado- vitima
muitas vezes da violência urbana- com o mesmo respeito que merecem
soldados condecorados em capôs de batalha. São heróis de hoje,
frequentemente vitimas da injustiça social. Heróis sem medalhas, mas
heróis que merecem respeito.”
A partir dos textos acima, nota-se a preocupação com o paciente e a
valorização do mesmo, como um ser humano dotado de capacidades, que por um
momento foram interrompidas, mas que possuem possibilidades de retorno.
No entanto, o sucesso da reabilitação do paciente depende da forma em
que este é posto dentro da instituição, do tratamento que recebe. Não menos
importante, aliás, fator determinante para a humanização do tratamento dos
doentes, a arquitetura colabora, nesse caso, de forma positiva, oferecendo conforto
e bem estar e, consequentemente, estimulando na vontade de progredir.
O Sarah Brasília, portanto, é a complementação entre os princípios
idealizados por Dr. Aloysio Campos da Paz e a arquitetura de Lelé, dotada de
humanismo, pensada para o usuário, desde a montagem da sua estrutura, até a
finalização do edifício, coroando os espaços com cores e obras de arte.
126
A obra de Lelé, por sua vez, é uma conversa entre arquitetura, engenharia e
design. O arquiteto busca usar a tecnologia a favor dos seus projetos, criando
soluções que respondam às expectativas para a finalidade com o qual o hospital foi
criado.
No Sarah Brasília há uma sintonia entre as peças criadas por Lelé com a
arquitetura como um todo. Além da função para qual são criadas, aliam beleza ao
edifício, característica considerada por Lelé, como fundamental, para um projeto de
arquitetura.
No trabalho de Lelé existe uma simbiose entre arte, arquitetura e
construção a ponto de não saber se a arte condiciona a arquitetura e a construção
ou vice-versa.
Além do trabalho desenvolvido por Lelé buscando soluções de conforto pro
Sarah Brasília, o arquiteto incorpora arte ao ambiente hospitalar com o intuito de
garantir beleza à instituição, melhorando seu aspecto e, em conseqüência, o bem
estar dos pacientes.
É com esse intuito que Lima firma parceria com o artista plástico Athos
Bulcão, responsável por dar vida às superfícies lisas das paredes dos hospitais da
Rede Sarah, onde esse arquiteto acredita e aposta nas cores vibrantes como
alternativas para transformar os espaços em ambientes mais alegres, sendo
paradigmático e contra a psicologia hospitalar que ditava a predominância de cores
neutras para acalmar o paciente.
E o artista Athos Bulcão sabia muito bem como usar a cor:
(...) compreende a importância da cor e se transforma num alquimista da
palheta cromática. Como bom artista, não copia, tenta desvendar os
mistérios da luminosidade, pesquisando sempre. Embora tenha assimilado
os princípios com Portinari, aprendeu o segredo da criação da cor sozinho,
observando, estudando, testando. Por exemplo, encontrou na pintura de
Matisse as mesmas cores da pintura hindu do século VIII - o azul ultramar, o
amarelo, o ocre e o laranja – e passou a usá-las em suas obras. Com os
impressionistas, aprendeu que a sombra de uma cor contém a cor
complementar. Se você usa um amarelo, deve fazer a sombra lilás. Isto
ajuda o amarelo a vibrar. É possível que tenha sofrido influência de Paul
Klee, Fernand Léger ou de Joan Miró, mas sua produção é extremamente
original e reflete sempre sua condição de autodidata (PORTO, 2009, p. 05).
127
Nesse hospital, assim como se vê nos outros da Rede, Athos encontrou
espaços para executar o seu talento, transmitido por meio da cor, da qual o artista
tem grande domínio.
A simplicidade da arquitetura de Lelé permite uma sintonia com a arte de
Athos Bulcão. Para Lelé, as intervenções de Athos não são meramente decorativas,
elas se incorporam ao processo de projeto, tendo função importante tanto quanto a
de qualquer outro elemento criado pelo arquiteto, interferindo na sua concepção de
arquitetura.
No Sarah Brasília, os trabalhos de Bulcão buscam, além de enriquecê-los,
atenuar o peso do ambiente, inserir vibrações de cor, sugerir uma relação mais
saudável com o espaço.
Figura 4.42; 4.43; 4.44; 4.45 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Brasília.
Fonte: Arquivo Pessoal.
128
Figura 4.46; 4.47 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Brasília.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Outra característica marcante da obra de Lelé que está presente neste
hospital é a integração dos ambientes com espaços verdes. Ao longo dos
corredores, na recepção, nas enfermarias, ambulatórios e nos espaços de
internação, todos são tratados e dispostos de maneira que o verde possa estar
integrado.
Essa integração com o espaço verde tem função significativa para o
hospital, visto que, além de tornar o ambiente mais leve, mais bonito, é essencial
para aliviar a sensação se enclausuramento que o hospital pode causar não só ao
paciente, mas para todas as pessoas envolvidas nesse ambiente, tais como
médicos, funcionários e familiares.
Figura 4.48; 4.49; 4.50 – Integração dos ambientes com espaços verdes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
129
Figura 4.51; 4.52; 4.53 – Integração dos ambientes com espaços verdes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.54; 4.55; 4.56 – Integração dos ambientes com espaços verdes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
A integração do interior com o exterior também é característica marcante
nesse hospital, sendo importante pelo fato de o paciente poder ter contato com a
paisagem, além de poderem realizar atividades externas, o que torna o fato da
internação menos monótona.
O melhor exemplo dessa integração do ambiente interno como o externo,
nesse hospital, pode-se ver nas enfermarias e espaços de internação, presentes em
um mesmo ambiente, ladeados por varandas, que funcionam como espaço de
refeição, banho de sol, ou até mesmo como um espaço para atrações culturais.
130
Figura 4.57; 4.58 – Vista da Enfermaria. Pacientes na varanda assistindo à uma apresentação
musical
Fonte: MINIOLI, 2007. Integração interior x exterior. Fonte: Arquivo Pessoal.
,
Figura 4.59; 4.60 – Integração das enfermarias com va randas.
Fonte: MINIOLI, 2007. Integração interior x exterior. Fonte: Arquivo Pessoal.
Além disso, ventilação e iluminação natural são pressupostos importantes
para a garantia do conforto dos espaços internos no Sarah Brasília.
Com exceção do centro cirúrgico – que necessita que seu ambiente seja
hermeticamente fechado para evitar contaminações –, salas para exames e àquelas
que abrigam muitas máquinas, todos os outros espaços não possuem ar
condicionado. Por esses ambientes não precisarem de ventilação e iluminação
natural, ficam dispostos no subsolo.
A ventilação é feita através de aberturas dispostas ao longo do hospital, seja
pelos sheds, seja pela abertura das vigas vierendeel, sendo a temperatura atenuada
também através da vegetação sempre presente.
131
Lelé também criou brises móveis, dispostos ao longo das paredes, a fim de
evitar a penetração direta do sol nos ambientes. A cor, tão defendida pelo arquiteto
está aí presente, quando o amarelo vibrante é atribuído para dar cor a este
elemento.
Figura 4.61; 4.62; 4.63 – Viga vierendeel, shed e brises móveis.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Os hospitais da Rede Sarah também tem, imbuído na sua característica, o
suporte social oferecido ao paciente, buscando a integração deste com a sociedade
e a sua inclusão nela.
Dentre as atividades que oferecem suporte social aos pacientes nessa
instituição estão:
A participação de familiares no tratamento do paciente: treinamento
de acompanhantes a fim de torná-los aptos a realizarem algumas
funções que dêem continuidade ao tratamento, quando os pacientes
vão para casa.
Muitos dos pacientes que estão internados no Sarah Brasília vêm de
outros estados, portanto diferentemente de outros, que vão receber o tratamento e
no final da tarde retornam a suas casas, têm que dormir e permanecer ali até que
recebam alta.
Por conta disso, o hospital deveria oferecer suporte para que os
acompanhantes pudessem dormir ali. Inicialmente, eram utilizadas camas que eram
132
montadas ao lado do paciente. Depois, viu-se a necessidade da criação de
alojamentos no hospital.
Estes estão localizados no mesmo local de internação e das enfermarias. É
uma espécie de corredor, onde de um lado e de outro, boxes, isolados por divisória
de madeira e cortinas, abrigam apenas uma beliche e um criado mudo. No final
desse corredor, um banheiro foi instalado para atender aos acompanhantes.
(Figuras 4.33, 4.34 e 4.35)
Arte x Paciente: disponibilizam atividades aos pacientes de modo que
estes possam desenvolver seus lados criativos e imaginação. Ao longo
dos corredores do hospital, quadros, criados pelos próprios pacientes,
são dispostos como obras de arte. Essa iniciativa gera retorno positivo
tanto para o hospital, quanto para o paciente que além da distração
oferecida por essa atividade, sentem seus trabalhos valorizados.
Figura 4.64; 4.65 – Quadros produzidos por pacientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Auditório: oferece atividades culturais, tais como peças, filmes, dentre
outras apresentações que distraem os pacientes ao ponto de
esquecerem, por um momento, que estão internados em um hospital. Na
unidade de Brasília, todas as sextas feiras tem sessão de cinema para os
pacientes.
O auditório tem capacidade para 320 lugares, além do espaço destinado
aos pacientes em camas-maca e cadeiras de roda.
133
Além disso, às segundas e quartas, o auditório é utilizado por alunos de
escolas que vão ao hospital assistir palestras sobre educação no trânsito, visto que,
segundo informações adquiridas no hospital, acidentes de trânsito são os principais
fatores que levam pessoas a receberem tratamento de reabilitação no Sarah.
Segundo depoimento de um funcionário que cuida do auditório, a visita
dessas crianças trazem vida ao hospital e a presença delas favorece o contato dos
pacientes com outras pessoas.
Socialização através de passeios turísticos: o hospital dispõe de um
ônibus completamente adaptado para o transporte dos pacientes. Assim,
os que estão aptos a saírem das dependências do hospital, utilizam esse
ônibus para conhecerem a cidade (no caso dos pacientes que vem de
fora) ou até mesmo simplesmente pelo fato da distração que o passeio
oferece, pelo contato com outras pessoas e pela mudança de ambientes
que favorecem a diminuição do nível de estresse do paciente.
Figura 4.66 – Ônibus adaptado
Fonte: Arquivo Pessoal.
No que diz respeito ao controle do ambiente no hospital Sarah Brasília se dá
através da garantia de privacidade e autonomia do paciente.
Ao questionar a um funcionário da instituição sobre necessidade de
equipamentos que garantam ao paciente o controle do ambiente no qual estão
inseridos, este falou que os próprios pacientes os dispensavam, visto que a
enfermaria está presente no mesmo ambiente das internações e o paciente está
134
sempre assistido por um funcionário, tendo acesso aos mesmos com facilidade e
possibilitando-os comunicar-lhes possíveis insatisfações.8
Por serem as enfermarias, espaços coletivos, os pacientes são colocados
lado a lado. Para garantir privacidade ao paciente, quando necessário, uma espécie
de persiana móvel, pendurada no teto, pode ser fechada de um lado e outro da
cama-maca, possibilitando certo isolamento, de um paciente, dos demais.
A comunicação visual também é outra característica marcante nesse
hospital. Lelé utiliza a comunicação visual de forma a facilitar a leitura dos ambientes
e facilitar o deslocamento das pessoas dentro da instituição.
Essa comunicação é feita tanto por placas indicativas, como através de
cores, como no caso da recepção, que as cores da cadeira determinam a posição de
cada paciente de acordo com o atendimento que este vai receber.
As portas, placas e as cortinas dos ambulatórios, portanto, também
recebem cores específicas para que facilite na compreensão da divisão de cada
área.
Ao lado de cada elevador e escada, existem placas fixadas às paredes,
indicando qual o tipo de material pode ser transportado por essas circulações ou
possíveis restrições quanto à utilização das mesmas pelas pessoas que estão no
hospital.
Nas áreas onde existe qualquer tipo de perigo, tais como as salas que
contenham radiação intensa, placas advertem a entrada de pessoas nesses
ambientes.
Em salas de exame, como raio X, por exemplo, além da placa fixada à porta
indicando entrada restrita no ambiente, possui uma luminária , que quando acesa
(emitindo luz vermelha), indica que a sala está em uso e, portanto, a proibição da
entrada na mesma.
8
Dados obtidos na visita ao hospital.
135
Figura 4.67; 4.68; 4.69; 4.70; 4.71 – Comunicação Visual.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Nesse hospital todas as circulações são trabalhadas de modo a evitar fluxos
desagradáveis. Pacientes, funcionários, lixo hospitalar, doadores de sangue, por
exemplo, todos possuem acessos específicos de circulação no hospital.
Cada escada e cada elevador possui placas especificando qual o tipo de
uso, visto que algumas circulações verticais são restritas.
As circulações de uso comum, por sua vez, são diferenciadas.
Diferentemente de hospitais tradicionais, recebem por vezes, iluminação e
ventilação natural ou obras de arte, a fim de transformar este espaço, que apesar de
não ser um local de permanência contínua, em um local mais agradável.
136
4.3 Hospital Sarah Kubitschek Salvador
INTRODUÇÃO
O Hospital Sarah Kubitschek de
Salvador foi projetado no período em que
Lelé
esteve
na
(Companhia
de
direção
da
Renovação
RENURB
Urbana
de
Salvador), em 1987, porém, sua construção
foi efetivada apenas no ano de 1991.
Nessa época, portanto, após quatro
anos da proposta deste projeto, Lelé viu a
Figura 4.72 – Sarah Salvador.
Fonte: www.sarah.br
necessidade de uma reformulação do
mesmo, onde previsto para ser construído com componentes em argamassa
armada, foi reproposto a partir da associação de técnicas diversas, o conjunto
portante e a cobertura em metal e os vedos, em alvenaria ou argamassa armada
(PEIXOTO, 1996; LATORRACA, 1999;).
Foi a primeira unidade da Rede
construída na vigência do contrato de
gestão entre Fundação das Pioneiras
Sociais e Governo Federal. Esse contrato
que, graças à determinação de Aloysio
Campos da Paz, foi aprovado por lei
específica
do
estabeleceu
uma
Congresso
nova
Nacional,
forma
de
administração pública, em que a APS,
Figura 4.73 – Sarah Salvador.
Fonte: www.sarah.br
instituição de interesse privado, assumiu o compromisso de gerir o patrimônio
público de uma rede de hospitais na área do aparelho locomotor (LATORRACA,
1999, p. 199).
A inauguração dessa segunda unidade da Rede Sarah acontece no ano de
1994, com capacidade inicial instalada de 157 leitos.
137
FICHA TÉCNICA
Nome do Projeto: HOSPITAL DO APARELHO LOCOMOTOR SARAH KUBITSCHEK
Loca: Av. Presidente Tancredo Neves, 2782, Caminho das Árvores, CEP 41820090
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1991
Data de Execução: 1992 – 1994
Área do Terreno: 128.395,84m²
Área Construída: 27.000,00m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Martins Monteiro; Haroldo Pinheiro;
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: CTRS
Paisagismo: Beatriz Secco
Integração de obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Eustáquio Ribeiro; George Paulino;
Estrutura: Lucílio Vittorino; Roberto Vittorino;
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Programa: 178 leitos
Especialidades: Lesador Medular; Lesado Cerebral; Reabilitação;
Maquete: Joaquim Anacleto
Fotografias: Celso Brandão
Fotografias da Maquete: Celso BrandãoFotografias da Obra: Celso Brandão e
Ângelo Sá.
138
IMPLANTAÇÃO
Figura 4.74 – Implantação do Sarah Salvador.
Fonte: Google Earth
Localiza-se entre as avenidas Tancredo Neves e Luis Viana Filho, também
conhecida como Av. Paralela.
O terreno escolhido com cerca de 70.000m², localizado numa cumeada
típica do relevo do recônavo, foi cedido pelo Ministério da Previdência e Assistência
Social e desmembrado de uma área de 270.000m² na zona geográfica central da
cidade, no começo da Avenida Paralela.9
As condições extremamente favoráveis do terreno onde foi implantado
tornaram possível a concretização do projeto de um hospital horizontal, adequado à
reabilitação e considerado por Lelé como a disposição mais favorável para esse tipo
de hospitais.
A proposta de implantação do prédio se assemelha as da arquitetura
colonial do recôncavo, ou seja, uma construção baixa, no alto da cumeada,
desfrutando da vista e da brisa que vem do mar. Os planos nivelados de
9
Dados retirados de textos expostos no CTRS Salvador.
139
assentamento do prédio se ligam diretamente ao solo, e para isso, a topografia foi
levemente corrigida com cortes no topo das elevações e com pequenos arrimos que
sublinham delicadamente a paisagem, sem danificar a flora circunvizinha, mantida
com toda a sua pujança natural.10
Figura 4.75 e 4.76 – Topografia do terreno onde foi implantado o Sarah Salvador.
Fonte: arquivo CTRS
A topografia do terreno foi organizada de forma que todo o nível do térreo
permaneceu na cota 40 e os serviços gerais na cota 35,40. Pelo esquema acima,
pode-se perceber que o local de implantação do Sarah Salvador está a 20m acima
do nível da rua.
Na figura a seguir, a implantação real do hospital, circundada pelo verde
natural já presente na região e a Av. Paralela que margeia a edificação.
10
Dados retirados de textos expostos no CTRS Salvador.
140
Figura 4.77 – Vista aérea da implantação do Sarah Salvador.
Fonte: Google Earth
PARTIDO
O hospital Sarah Salvador difere do HDAL de Brasília por ter sido construído
em um terreno de dimensões maiores, o que possibilitou a distribuição de todos os
setores dessa unidade, em um único pavimento.
É composto por apenas um bloco horizontal disposto sobre galerias
subterrâneas que funcionam como um andar técnico e ao mesmo tempo como um
túnel de ventilação que distribui o ar por todo o andar térreo.
141
Figura 4.78 – Planta baixa térreo.
Fonte: LATORRACA, 1999.
142
Figura 4.79 – Planta baixa galeria.
Fonte: LATORRACA, 1999.
143
Os princípios gerais para a elaboração do projeto Sarah Brasília descritos
por Latorraca (1999) também se aplicam no de Salvador. Flexibilidade e
expansibilidade da construção, criação de espaços verdes, flexibilidade das
instalações, iluminação natural e conforto térmico dos ambientes, bem como a
padronização das construções, são fatores que foram levados em conta em todo o
processo construtivo dessa nova unidade.
Nessa unidade, porém, esses princípios ganham em valor por terem sido
construídos em grandes áreas, permitindo um contato mais próximo entre os
espaços internos e externos, privilegiados por grandes jardins e matas preservadas
(PEIXOTO, 1996; LATORRACA, 1999;)
SISTEMA CONSTRUTIVO
O sistema construtivo dessa unidade se assemelha ao do Sarah Brasília,
porém, com algumas modificações. Ainda assim, o arquiteto se baseia nos mesmos
ideais já abordados para a primeira construção da Rede.
A flexibilidade e a expansibilidade são fatores considerados pelo arquiteto,
que pensa no funcionamento do hospital hoje, mas também, nas possíveis
mudanças que este possa sofrer no futuro.
É inevitável que no decorrer dos anos, surja a necessidade de ampliações,
adaptações ou mudanças no hospital, devido a fatores como, o avanço da medicina
e o desenvolvimento da tecnologia, por exemplo, que requerem espaço adequado
na edificação. O Sarah Salvador, por sua vez, foi construído e preparado para
atender a essas premissas.
Dessa forma, as atividades do hospital, que são baseadas em uma rotina
pré-estabelecida e no uso de técnicas e equipamentos (que estão mudando
constantemente), torna-se desejável que o sistema construtivo adotado deva permitir
a obtenção de espaços flexíveis. Cada setor pode ser capaz de crescer de forma
independente, sem prejuízo para a circulação interna, juntamente com as
possibilidades de aumentar no futuro o número de leitos, desde que a capacidade
operacional seja mantido e a ocupação racional garantida.
144
A padronização dos elementos construtivos também está presente na
construção do Sarah Salvador.
As características de trabalho de um hospital e, neste caso a grande
dimensão do edifício, cria dificuldades para os serviços de
manutenção. Para facilitar este tipo de rotina administrativa, um estudo
rigoroso da padronização dos elementos de construção foi fundamental
(estrutura, equipamentos divisões, fixos e móveis, luminárias, etc). O
princípio da repetição dos elementos, reduziu os custos trabalhistas, custos
de capital inicial e deu a produção da maioria das partições no local,
reduzindo também os custos de transporte e de energia incorporada dos
materiais (LATORRACA, 1999, p.126).
E foi baseado nesse princípio de construção adotado por Lelé, que se
pensou o CTRS, implantado em Salvador, paralelo ao hospital, com o objetivo de
executar obras com base nos princípios da industrialização, visando a economia, a
velocidade na construção e criação de unidade construtiva conveniente entre todos
os edifícios da Rede. Junto com isso, também projetar equipamentos hospitalares.
Praticamente todos os mobiliários presentes no hospital são criados e desenvolvidos
no CTRS.
Em se tratando da estrutura do hospital, nessa segunda unidade da Rede
Sarah, Lelé integra componentes de argamassa armada e estruturas metálicas,
garantindo maior rigor técnico e flexibilidade da construção, além de introduzir novas
possibilidades de formas e soluções mais adequadas aos problemas da arquitetura.
A argamassa armada é obtida através da incorporação de malha de aço
difusa a argamassas com alto teor de cimento, garantindo às peças executadas com
pequenas espessuras, estanqueidade e flexibilidade.
A produção industrial em argamassa armada se dá em oito momentos:
1. Confecção das armaduras: são utilizadas telas de aço industrializadas.
Vergalhões de aço especial são incorporadas para combater esforços
mecânicos específicos;
2. Produção e distribuição da argamassa: a argamassa de cimento e areia
é misturada nas argamassadeiras e distribuídas mecanicamente para os
postos de fundição;
145
3. Fundição: a argamassa é injetada por gravidade nos moldes metálicos.
Vibradores acoplados aos moldes garantem a distribuição homogenia da
argamassa;
4. Cura: os moldes preenchidos são transportados por pórticos e imersos
em tanques de água aquecida a 60°C;
5. Desmoldagem: após oito horas de cura os moldes são transferidos para
um sistema mecânico de translação ao longo do qual se realiza a
desmoldagem. Após a desforma, os moldes seguem no sistema de
translação e as peças são transferidas para o controle de qualidade;
6. Montagem dos Moldes Metálicos: a limpeza e remontagem dos moldes
metálicos são efetuados ao longo dos sistemas de translação e seguem
para nova fundição;
7. Controle de Qualidade: As peças são transferidas do sistema de
translação mecanicamente e selecionadas para duas linhas de reparos:
a superior, com postos de estacionamento para reparos de longa
duração e a inferior, para a limpeza e estucagem de poros;
8. Estocagem: as peças são armazenadas e “paletizadas” em estruturas
metálicas nas quais são transportadas para as obras;
O uso da argamassa armada leva vantagem quando comparado ao
concreto armado. Apesar de possuir qualidades de resistência e conservação
semelhantes à do concreto, a argamassa tem espessura e peso menores. Isso,
portanto, facilita a sua montagem “in-loco” e diminui os custos de transporte das
peças, permitindo centralizar sua produção e levá-las a grandes distâncias.11
Dentre as características presentes nas obras do Lelé, destacam-se as
coberturas de sheds, que referenciam a linguagem arquitetônica de todos os
hospitais da rede. No Sarah Salvador não foi diferente, o arquiteto toma essa
estrutura como partido que favorece a iluminação e a ventilação natural do edifício.
11
Disponível em: http://www.piniweb.com.br/construcao/premio-pini/artigo113380-1.asp Pesquisado em: 27 de
novembro de 2010.
146
A ventilação natural em um país de clima tropical como o Brasil, é uma
estratégia para atingir conforto térmico e reduzir o consumo de energia, além disso,
em se tratando de um ambiente hospitalar, também é positivo no que diz respeito às
condições agradáveis a qual o ambiente é submetido, bem como à saúde dos seus
ocupantes, uma vez que permite a constante renovação do ar interno dos
ambientes.
Visando a melhoria da eficiência dos sheds, esses elementos mudam a sua
geometria em cada projeto.
No caso de Salvador, os sheds favorecem a sucção do efeito do ar, visto
que estes são orientados na direção oposta a dos ventos dominantes. O vento
penetra nas galerias e é expulsado pela abertura da parte superior dos sheds,
favorecendo a circulação do ar no interior dos ambientes.
Figura 4.80 – Esquema da ventilação no Sarah Salvador.
Fonte: LUKIANTCHUKI et al, 2010, p.04. Disponível em: http://nceub.commoncense.info/uploads/58-0114-Lukiantchuki.pdf
Além disso, adaptou-se ao shed uma pestana (testeira - peça de metal
acoplada ao shed) que funciona como brise, protegendo os ambientes internos da
iluminação solar direta. Essa proposta de shed teve alguns problemas, por exemplo:
147
a pestana sofria dilatações, devido ao calor, que deformavam a peça e, quando
chovia, havia problemas de infiltração (PERÉN, GRECO, CARAM, 2007, p. 04).
Figura 4.81 – Esquema de Ventilação do Sarah Salvador.
Fonte: PERÉN, GRECO, CARAM. Disponível em: http://arquiteturabioclimatica.com/
_artigos/Art%20B%20Sheds.pdf
Esses autores afirmam que diante disso, a superfície côncava, próxima à
boca da pestana, foi pintada de azul para minimizar o calor refletido para dentro do
ambiente. Ademais, colocou-se sob os brises (material termo-acústico conhecido
como “Bidim12”) de gramatura 600g/m2 da pestana para reduzir o calor e o ruído,
ocasionado pela chuva.
Trabalhando junto com os sheds, para essa unidade, Lelé utiliza pela
primeira vez o sistema de ventilação através de galerias semi – enterradas que
funcionam não só para captar os ventos dominantes e dispor as tubulações do
hospital, mas também como fundação.
12
O Bidim é uma manta não tecida de filamento de poliéster parecida com um feltro.
148
Figura 4.82 e 4.83 – Esquema de ventilação através da tomada de ar do exterior pelas galerias.
Imagem interna da galeria.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Figura 4.84 – Imagem externa das galerias de arrimo.
Fonte: LATORRACA, 1999.
O muro de arrimo, como se vê na figura acima, tem o objetivo de conter o
solo, armando-o. O princípio consiste em evitar o rompimento do solo por
cisalhamento, colocando entre suas camadas uma armação adequada.
149
“No caso do arrimo projetado por Lelé essas armações são fixadas em um
dos extremos em placas, de argamassa armada, pré-moldadas. Cada placa
é composta por dois losangos. As peças pré-moldadas são encaixadas
umas nas outras, formando a parede. A criatividade de Lelé expressa-se
não só na forma de dispor as armações nas placas pré-moldadas, como
também em suas formas. Note-se que o desenho final é bastante agradável,
longe dos visuais enfadonhos das paredes nuas dos arrimos convencionais”
(REBELLO, 2008, p.124)
Figura 4.85 e 4.86 – Muros de Arrimo Sarah Salvador.
Fonte: REBELLO, 1008. Disponível em: ftp://www.usjt.br/pub/revint/119_53.pdf. Acesso em: 27 de
novembro de 2010.
Figura 4.87 – Configuração final do muro de arrimo.
Fonte: EKERMAN, 2005. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.064/423.
Acesso em: 27 de novembro de 2010.
150
Na figura abaixo percebe-se como a distribuição das instalações ocorrem no
Sarah Salvador. Lelé segue o mesmo raciocínio aplicado no hospital Sarah de
Brasília, onde ele propõe que todas as instalações possam ter fácil acesso, visto
possíveis reparos que possam vir a ocorrer.
O sistema de pilares e vigas duplas permanece na arquitetura desse
hospital, onde pelo espaço formado entre um pilar e outro ou entre uma viga e outra,
passam algumas instalações.
Figura 4.88 – Esquema das instalações do Sarah Salvador. Andar térreo e galeria semi-enterrada.
Fonte: Arquivo CTRS.
151
4.3.1 Projeto de arquitetura
INTERNAÇÃO13
Com o objetivo de melhorar a distribuição da hospedagem dos pacientes, foram
previsto três tipos diferentes de espaços físicos de internação: apartamentos com
acompanhante, quinze leitos ou 10% do total; enfermarias de oito leitos; enfermarias
de doze leitos ou dez leitos para o lesado medular.
Entrada
Principal
Circulação Principal
Apartamentos Enfermaria
Enfermarias
Posto de Enfermagem
Solário
Rampa
13
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
Figura 4.89 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
152
A disposição dos ambientes oferece duas grandes vantagens sobre o HDAL
de Brasília:
1. Do posto de enfermagem é possível a observação visual de cada
paciente;
2. Pelo fato de ser um hospital térreo, as áreas ajardinadas destinadas aos
pacientes são bem mais generosas.
A circulação principal da internação se comunica com o pavimento de
serviço por rampa situada próximo à cozinha, lavanderia e setor de limpeza. Foi
previsto também um montacarga para transporte de carrinhos que se localiza em
compartimento específico com acesso à circulação principal da internação.
Figura 4.90 e 4.91 – Vista do posto de enfermagem para a enfermaria.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.92 e 4.93 – Corredor Principal e Rampa de acesso ao pavimento de serviços.
Fonte: Arquivo Pessoal.
153
CENTRO DE ESTUDOS – RESIDÊNCIA14
O centro de estudos e a residência foram projetados como um conjunto
independente que se comunica com o setor de internação através de passagem
coberta.
Entrada
Principal
Circulação Principal
Figura 4.94 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Residência Médica
Biblioteca
Auditório
Figura 4.95 – Vista para a entrada do
centro de estudos.
Fonte: Arquivo Pessoal.
14
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
154
Figura 4.96 e 4.97 – Vista interna da Biblioteca e Vista Interna do Auditório.
Fonte: Arquivo Pessoal.
SALÃO SOCIAL, FISIOTERAPIA E HIDROTERAPIA15
O salão social se incorpora ao trecho da circulação principal. Além de
funcionar como área de recreação, constitui o núcleo de triagem de pacientes e
acompanhantes aos setores de fisioterapia, internação e alta e centro cirúrgico.
A fisioterapia, freqüentada por pacientes internos e externos está interligada
ao salão social. Do lado oposto se integra ao terraço – jardim e piscina protegida
parcialmente pela própria cobertura do edifício.
A hidroterapia localiza-se do lado oposto à fisioterapia. Possui piscina
interna e externa e está ligada com a varada da enfermaria.
Figura 4.98 e 4.99 – Salão Social e Hidroterapia com piscina interna.
Fonte: Arquivo Pessoal.
15
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
155
Entrada
Principal
Circulação Principal
Figura 4.100 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Salão Social
Fisioterapia
Hidroterapia
Varanda da Enfermaria
Figura 4.101 e 4.102 – Hidroterapia: Piscina externa e Solário da Enfermaria.
Fonte: Arquivo Pessoal.
156
AMBULATÓRIO16
O ambulatório localiza-se na entrada principal do hospital. Assim como
acontece no HDAL de Brasília, foi dotado de um sistema de circulações internas que
isolam o trânsito de pacientes do trânsito de médicos e serviços.
Os boxes de exames, embora com a mesma área dos presentes no hospital
de Brasília, por serem mais largos (2,50m ao invés de 2,20m), oferecem melhores
condições de funcionamento.
As salas de espera sempre integradas a terraços ajardinados se distribuem
ao longo de ampla galeria, no fim da qual foi previsto o playground.
Entrada
Principal
Circulação Principal
Ambulatório
Espera do Ambulatório
16
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
Figura 4.103 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
157
Figura 4.104 e 4.105 – Vista do Ambulatório.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.106 e 4.107 – Vista do Ambulatório para o salão social e para a entrada principal.
Fonte: Arquivo Pessoal.
RAIO X17
A localização do Raio X , próxima a outros setores de diagnóstico como a
eletromiografia e a eletroencefalografia permite o eventual deslocamento de
pacientes e das equipes médicas de um setor para o outro sempre que necessário.
Foram previstas circulações distintas para o acesso de pacientes aos
vestiários, para o deslocamento de pacientes para as salas dos aparelhos, para a
atividade de técnicos e para pessoal em geral.
Junto à espera interna do setor e ao lado da secretaria e do arquivo de
chapas, foi projetada para discussão médica, sala ampla com negatoscópio18.
17
18
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
Aparelho dotado de iluminação especial para perfeita observação dos negativos ou chapas radiográficas.
158
Figura 4.108 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Circulação Principal
Raio X
ADMINISTRAÇÃO19
A administração está localizada próxima à circulação interna principal. As
salas destinadas à chefia, tesouraria e contabilidades foram projetadas com acessos
independentes para pessoal e visitantes.
Figura 4.109 – A administração tem acesso pela admissão.
Fonte: Arquivo Pessoal.
19
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
159
Circulação Principal
Administração
Figura 4.110 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
INTERNAÇÃO E ALTA20
Está localizado junto ao salão social. Esse setor apresenta duas
modificações básicas em relação à solução de Brasília.
1. Foi previsto acesso externo aos pacientes em ambulâncias transferidos
de outro hospital;
2. O serviço de desinfecção de macas, ao invés de estar situado no nível
dos serviços gerais, foi projetado em espaço contíguo e interligado ao
próprio setor de internação e alta, de modo a evitar o deslocamento de
camas – macas desocupadas ao longo das rampas.
20
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
160
Circulação Principal
Internação e Alta
Figura 4.111 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
INTERNAÇÃO – 1 ESTÁGIO21
No primeiro estágio concentra-se a assistência médica mais rigorosa e os
equipamentos mais sofisticados de tratamento.
Os pacientes que são submetidos a cirurgia, após liberados do pós
operatório, quase sistematicamente passam pelo menos as primeiras horas nesse
setor. Por essa razão, sua localização, assim como ocorre no HDAL de Brasília, é
próxima ao centro cirúrgico.
Nesse projeto foram corrigidas algumas distorções de funcionamento
existentes no de Brasília, inclusive com relação à proporção do número de leitos
para o restante da internação, que neste hospital é pouco mais de 6%, enquanto em
Brasília é de quase 10%.
21
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
161
Embora os pacientes internados nesse setor tenham quase sempre pouca
condição de convívio social e da utilização das áreas externas, o arquiteto propôs a
integração desses ambientes com terraços ajardinados, que atuam sobretudo como
fator de amenização ambiental.
Entrada
Principal
Circulação Principal
Internação 1 estágio
Figura 4.112 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
CENTRO CIRÚRGICO22
A solução do centro cirúrgico oferece uma desvantagem em relação ao de
Brasília: devido às proporções menores, torna-se antieconômico e injustificável o
seu seccionamento em dois conjuntos, de modo a permitir a limpeza e esterilização
de qualquer um dos dois, sem impedir no funcionamento do outro.
Em compensação, foi introduzida junto ao centro cirúrgico uma circulação de
saída de material sujo das salas, que permite desenvolvimento de técnicas de
assepsia mais eficazes e que, no caso de cirurgia infectada, deve ser utilizada para
retorno do pessoal médico e paramédico aos vestuários.
22
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
162
Entrada
Principal
Circulação Principal
Figura 4.113 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Centro Cirúrgico
SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO23
Este serviço está localizado no nível dos serviços gerais. Compreende as
áreas de armazenagem de gêneros, de preparo dos alimentos, de expedição e
armazenagem de carros térmicos.
A cozinha se comunica com o pátio de serviços para o abastecimento
externo e saída de lixo.
Foram projetadas duas áreas de distribuição:
1. Destinada ao abastecimento de carros térmicos;
2. Destinada ao balcão térmico de distribuição de bandejas.
O refeitório, por sua vez, está localizado no fim do corredor do setor de
serviços gerais. Este espaço cercado pelo verde, além de refeitório, funciona como
espaço de convívio social.
23
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
163
Na visita feita ao hospital durante a realização da pesquisa, a cozinha
passava por reformas, mas o funcionamento da mesma não foi interrompido.
Figura 4.114; 4.115; 4.116; 4.117; 4.118; 4.119 – Imagens do Refeitório.
Fonte: Arquivo Pessoal.
LAVANDERIA24
Localiza-se próximo à central de vapor, à rampa e a sub-circulação que dá
acesso aos compartimentos de montacarga do setor de internação.
24
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
164
,
Figura 4.120 e 4.121 – Lavanderia e Expurgo de roupa suja do centro cirúrgico na lavanderia.
Fonte: Arquivo Pessoal.
SERVIÇOS DE LIMPEZA25
Junto com os depósitos de carrinhos e lixo, fica localizado próximo à rampa
e com acesso ao pátio de serviço. Na área externa foi previsto incinerador para
material infectado.
CENTRAL DE MATERIAL26
Localiza-se na projeção do centro cirúrgico com o qual se comunica através
de montacargas. Para o controle rigoroso da assepsia do ar, assim como feito no
centro cirúrgico, foi previsto um sistema de ar condicionado abastecido por unidade
fan - coil27 exclusiva.
ALMOXARIFADOS, FARMÁCIA E SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO
São setores mais isolados dos serviços gerais, sem comunicação direta ou
específica com qualquer outro setor do hospital. Por essa razão, estão localizados
25
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
Idem
27
É um condicionador de ar que utiliza água gelada ao invés de gás refrigerante.
26
165
na situação mais extrema dos pavimentos dos serviços gerais, tendo acesso interno
para a circulação principal e externo para o pátio de serviços.
Na figura abaixo o esquema de distribuição dos serviços no pavimento de
serviços gerais.
Figura 4.122 – Pavimento de Serviços Gerais.
Fonte: Arquivo CTRS
4.3.2. HUMANIZAÇÃO DO HOSPITAL SARAH – SALVADOR
O hospital Sarah Kubitschek Salvador reafirma os ideais de humanização
abordados por Lelé no Sarah Brasília. No entanto, apresenta melhorias segundo
alguns aspectos construtivos, o que mostra que para o arquiteto, cada hospital
concebido é um experimento e a cada nova unidade, um novo projeto objetivando
avanços e melhorias.
Ao entrar no Sarah Salvador, painéis também se encontram pelas paredes,
dentre eles o que descreve os princípios fundamentais a qual a instituição está
submetida. São eles:28
Princípio da Legitimidade: pelo respeito aos direitos humanos, às
instituições nacionais, à ordem jurídica vigente, aos fundamentos morais
e espirituais da nacionalidade e das comunidades a que servem;
28
Texto retirados dos painéis dispostos na entrada do Sarah Salvador.
166
Princípio da Cidadania: pela evidência de que na rede hospitalar da APS,
os serviços não são propriamente gratuitos, mas na realidade pagos com
a moeda mais justa e pessoal de um povo – os recursos do cidadão
contribuinte -, repassados pela União, merecendo, portanto, todos os
usuários, igualdade de atenção, de consideração, de respeito;
Princípio da Eficiência: pelo propósito de significação e valorização do
emprego dos recursos postos à disposição da APS, de forma econômica
e produtiva, com ordenação e disciplina, a fim de que sejam alcançados,
incessante e inconformadamente, os mais altos padrões de eficiência;
Princípio da Competência Profissional: pelo imperativo de ampliação e
aprofundamento de conhecimentos, de aperfeiçoamento de métodos e
processos, feitos através da vivência hospitalar, da pesquisa, do estudo,
do debate, do intercâmbio científico;
Princípio da Ação: pela permanente atitude de assegurar o primado do
entusiasmo, da vigilância, da energia, do ânimo otimista, todas as
formas, enfim, do espírito empreendedor, sobre a rotina, a inércia, o
marasmo, o comodismo, a acomodação;
Princípio da Criatividade: pelo gosto da descoberta, da criatividade e da
invenção, sempre temperados pelo realismo, pela simplicidade, pela
objetividade, e a serviço da eficiência;
Princípio da Renovação: pela coragem e gosto de conviver com as ideias
novas, de aceitar seus desafios, discutí-los, comprovar sua viabilidade e
colocá-los a serviço da instituição;
Princípio da Liberdade de Expressão: pela compreensão da necessidade
de tudo fazer para manter e estimular a influência da informação e da
liberdade de expressão dentro da instituição, temperadas pelo respeito
mútuo e pela disciplina intelectual;
Princípio da Dedicação exclusiva: pela total consagração à instituição e
aos seus usuários, extinguindo os conflitos de interesses;
167
Princípio da Integração Institucional: pela integração e fidelidade à
instituição, de forma que, a dedicação à Casa, a coesão e o espírito de
equipe sejam características identificadoras dos Recursos Humanos da
Associação das Pioneiras Sociais;
Este hospital é fruto da fé no Brasil e da possibilidade do fazer. É
testemunha completa de que uma instituição pública, e somente ela, pode
fazer da assistência médica um exercício submetido apenas ao interesse de
servir. Filho da experiência, ele é universo aberto ao experimentalismo.
Aplicador da ciência, ele é parceiro da criatividade. Acessível a todos, é
espaço plural da mais real das utopias: a da igualdade entre os homens.
Aqui se vive para a saúde e jamais para sobreviver da doença.
(ASSOCIAÇÃO DAS PIONEIRAS SOCIAIS).
Os textos acima afirmam o princípio de humanização ao qual a Rede Sarah
está submetida. E o espaço arquitetônico, por sua vez, tem papel significativo na
promoção da humanização do tratamento nesses hospitais. Abaixo pode-se
destacar algumas características que fazem desse hospital uma instituição
humanizada.
O clima da cidade de Salvador possibilita a manutenção de níveis
convenientes de conforto e assepsia do ar para a maioria dos ambientes, sem que
haja a necessidade de usos onerosos de ventilação mecânica. Para tanto, o
arquiteto explora os recursos naturais, tais como os da irradiação solar e da brisa do
mar que sopra permanentemente nas cumeadas.29
Evitou-se deliberadamente os recursos da ventilação cruzada que sempre
aumentam os riscos de disseminação de infecção e optou-se por um sistema de
fluxos verticais.
O hospital Sarah de Salvador apresenta, pela primeira vez, o sistema de
ventilação proveniente das galerias semi – enterradas, que também funcionam como
fundação e como via de redes de instalações. Nas suas extremidades são insufladas
mecanicamente, abertas ao ar livre.
Esse mecanismo funciona através do recebimento de pulverização de água,
onde o ar conduzido promove o rebaixamento da temperatura e da retenção de
partículas de poeira em suspensão.
29
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
168
Figura 4.123 – Esquema da ventilação através das galerias.
Fonte: Arquivo CTRS.
O fluxo vertical de baixo para cima é garantido por dois efeitos associados:30
1. Efeito de convecção, ou seja, o ar frio injetado na zona inferior do
ambiente, sobe gradualmente na medida em que é aquecido e, atingindo
os bolsões dos sheds da cobertura, é expulso através de aberturas
controladas por lâminas horizontais metálicas.
2. Efeito de sucção, ou seja, o ar dos bolsões do shed é extraído pela
sucção provocada pela corrente de ar externa. A velocidade de sucção é
aumentada pela insulfação de ar impulsionado pela brisa, através de
pequenas aberturas dispostas na superfície do shed oposta a das
aberturas das lâminas metálicas.
Para o melhor desempenho desse sistema, foram adotados pé – diretos
mais elevados, sendo a altura mínima na parte superior dos sheds de 4,50m e na
face inferior da viga com 3m.
30
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
169
Figura 4.124 e 4.125 – Vista interna da galeria.
Fonte: Arquivo Pessoal.
,
Figura 4.126 e 4.127 – Vista interna do hospital. Cobertura de sheds que favorecem no conforto dos
ambientes. Vista interna da galeria.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Fonte: Arquivo Pessoal.
170
A partir das galerias, entradas de captação elevam o ar até saídas em
diversos ambientes do hospital, como nas enfermarias, onde a renovação é
garantida por um fluxo vertical de exaustão através da cobertura em sheds,
minorando risco de contaminação hospitalar, pela ventilação cruzada.
Figura 4.128 – Esquema da ventilação nas enfermarias.
Fonte: Arquivo CTRS.
Figura 4.129 – Vista interna a enfermaria.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Essas saídas de ar são feitas através de canaletas fixadas nas paredes.
Sempre onde estas canaletas estão presentes, as paredes recebem coloração em
tom alaranjado.
Figura 4.130 e 4.131 – Saídas de ar presentes na enfermaria.
Fonte: Arquivo Pessoal.
171
Pelas saídas de ar presentes nos ambientes dos hospitais, percebe-se a
ventilação proveniente das galerias. Porém, apesar disso, por Salvador ser uma
cidade situada no nordeste do Brasil, com temperatura média anual de 27°C,
necessita-se do uso de ventiladores em alguns espaços.
Figura 4.132 e 4.133 – Vista das canaletas de ventilação nas paredes. Ventiladores acoplados às
calhas pra otimizar o conforto dos ambientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Todos esses ventiladores são produzidos no CTRS, sendo estes fixados nas
calhas presentes entre as vigas duplas.
O sistema de ventilação artificial só ocorre em lugares onde deve haver
controle rigoroso de temperatura do ambiente ou qualidade do ar, como no caso do
centro cirúrgico, setor de imagem e primeiro estágio. O sistema de ar condicionado
constituído de uma central frigorígena, distribui água gelada para as unidades fan –
coil situadas junto às galerias e próximas aos locais de consumo do pavimento
superior.
No Sarah Salvador, mais uma vez, o trabalho do artista plástico Athos
Bulcão entra em conjunto com a obra arquitetônica de Lelé. Os muros coloridos de
argamassa armada, que são marcas da Rede Sarah, além de painéis, quadros e até
pinturas em peças de mobiliário, dão vida a esta instituição. Lelé ressalta que: “(...)
ou o arquiteto cria o local para a obra de arte existir ou então é melhor que ela nem
exista.”31
31
Entrevista concedida à PORTO, Cláudia Estrela, em 15 de abril de 2009, Brasília. Disponível em:
http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/168.pdf. Acesso em: 29 de novembro de 2010.
172
Figura 4.134 e 4.135 – Muros me argamassa armada com detalhes coloridos criados por Athos Bulcão.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.136; 4.137; 4.138; 4.139 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
173
Figura 4.140 e 4.141 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
A implantação do Sarah Salvador favorece a integração dos ambientes
internos com espaços verdes. Praticamente todo o hospital, com exceção dos
ambientes em que necessitam de um maior cuidado com a assepsia, assim como no
centro cirúrgico, possui áreas verdes associadas aos seus espaços.
Figura 4.142; 4.143; 4.144; 4.145 – Áreas verdes nos arredores do edifício.
Fonte: Arquivo Pessoal.
174
Indiscutivelmente, a área mais especial representada pelo verde, nos
arredores da instituição, é a que os elevadores verticais, desenvolvidos pelo
arquiteto, dão acesso. Esses elevadores de plano inclinado, deslocam-se sobre
quatro vigas de aço patinável de maior resistência mecânica, que vencem vãos em
torno de 15m e tem inclinação de 45 graus ao longo das encostas.32
Figura 4.146 e 4.147 – Imagens do elevador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
É uma espécie de floresta inserida em um cenário urbano, que serve para o
desfrute de pacientes, bem como alternativa de acesso ao CTRS e à guarita.
Figura 4.148 e 4.149 – Vistas da área verde.
Fonte: Arquivo Pessoal.
32
Disponível em http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/175/imprime104898.asp. Acesso: 29 de
novembro de 2010.
175
Figura 4.150; 4.151; 4.152; 4.153; 4.154; 4.155 – Vistas da área verde.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Através do seu efeito terapêutico, o verde proporciona melhoras nas
condições de saúde do paciente e na prestação de serviços das equipes que
trabalham no ambiente hospitalar. Além disso, proporciona um visual agradável e
favorece na amenização do clima nos ambientes.
Sendo um dos ideais de projeto da arquitetura hospitalar de Lelé, a
integração dos ambientes internos com o exterior está presente no Sarah Salvador.
176
O paciente parece estar dentro do espaço do hospital e ao mesmo tempo
fora dele, devido o arquiteto evitar o enclausuramento dos espaços, diminuindo e
disfarçando a monotonia que é a internação de um hospital.
Corredores, enfermarias, biblioteca, fisioterapia, hidroterapia, recepção,
todos estes espaços são trabalhados de forma que o paciente tenha contato com o
exterior.
Figura 4.156; 4.157; 4.158; 4.159 – Integração da Biblioteca com o exterior.
Fonte: Arquivo Pessoal.
As enfermarias são ladeadas por varandas externas que possibilitam o
convívio social entre pacientes e acompanhantes e também a realização de algumas
atividades.
177
Figura 4.160 e 4.161 – Vista das varandas das enfermarias.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Os corredores também são contemplados com o visual externo e a
integração com jardins, o que fazem com que esse vilão dos hospitais, que por
vezes causam isolamento e medo nos pacientes, se torne um local de passagem
mais agradável e menos agressivo.
Figura 4.162 e 4.163 – Área externa integrada aos corredores do Sarah Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
A hidroterapia também está ligada com o espaço externo, onde se localiza a
piscina descoberta.
178
Figura 4.164 e 4.165 – Hidroterapia.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O suporte social no Sarah Salvador é similar ao que acontece no Sarah
Brasília.
Os familiares que fazem o acompanhamento dos pacientes são treinados
para que possam dar continuidade ao tratamento dos mesmos quando estes
retornam às suas casas.
O auditório permite que cadeirantes e pacientes em camas – maca possam
participar das apresentações culturais que ali ocorrem. Da mesma forma que
acontece com o auditório do Sarah Brasília, o de Salvador também é utilizado para a
realização de palestras sobre educação no trânsito.
Figura 4.166 e 4.167 – Auditório Sarah Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
179
Outro fator importante nessa instituição é a aproximação do paciente com a
arte. Os pacientes desenvolvem pinturas em quadros que posteriormente são
fixados em todas as dependências do hospital.
No Sarah Salvador foi criado um centro de criatividade para que os
pacientes possam aprender e desenvolver suas atividades artísticas.
Figura 4.168; 4.169; 4.170; 4.171 – Imagens do centro de criatividade e de quadros produzidos
pelos pacientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
180
Outra contribuição importante do hospital de Salvador é o veículo projetado
especialmente para transportar os pacientes, em suas camas – maca, pelo circuito
da pista que circunda os edifícios. O veículo tem, por característica, oferecer uma
visão ampliada da paisagem, por meio de grandes superfícies de vidro, tendo sido
projetado para ajustar-se às guias e aos passeios, facilitando a locomoção do
pacientes (PEIXOTO, 1996; LATORRACA, 1999).
Figura 4.172 e 4.173 – Troyller.
Fonte: Arquivo Pessoal.
A
maior
importância
dessa
experiência
reside,
no
entanto,
no
desenvolvimento de pesquisas realizadas pelo Equiphos, o setor de design da Rede
Sarah, que entre outros equipamentos médicos, foi responsável pelo projetos da
cama – maca utilizada, primeiramente no Sarah Brasília. Lelé teve participação no
desenvolvimento desses dois projetos, mas assinala que estes foram trabalhos,
realizados em equipe, destacando a contribuição essencial dos designers Alex
Peirano, na concepção da cama – maca, e de Cláudio Blois, no veículo (PEIXOTO,
1996; LATORRACA, 1999)
Os setores do hospital Sarah Salvador se distribuem em duas circulações
principais:
A do nível 35,4m, destinada aos serviços gerais (cozinha, lavanderia,
centrais
de
instalações,
central
de
manutenção), sem circulação de pacientes;
esterilização,
almoxarifado,
181
A do nível 40m, destinada aos demais setores do hospital, com exceção
da escolinha de excepcionais localizada no nível 36m e tratada como um
prédio independente.
O hall principal, na cota 40, distribui pacientes e visitantes por todas as
dependências do hospital, no final deste, a rampa de acesso que chega no hall de
nível 35,4m, que distribui funcionários pelos setores dos serviços gerais.
Para esse hospital foram previstos acessos externos independentes e
específicos. São eles:
Para pacientes e acompanhantes à oficina ortopédica;
Para pacientes e acompanhantes à escolinha de excepcionais;
Para pacientes em ambulância ao setor de internação e alta;
Para visitantes ao centro de estudos e à residência médica;
Para o pessoal aos vestiários;
Para abastecimento, limpeza e manutenção de serviços;
Para acesso de parentes à sala de preparo de cadáveres da anatomia
patológica.
As circulações do hospital são importantes por diferenciarem as de uso
comum e as de uso restrito a funcionários, evitando fluxos desagradáveis.
Assim observa-se que, além da experiência adquirida com a humanização
dos outros hospitais da rede Sarah, o Sarah Salvador apresenta, do ponto de vista
de seu zoneamento, circulação, acessibilidade, relação de ambientes como exterior
e interior, conforto,soluções de projeto que revelam uma arquitetura, plenamente,
sintonizada com os conceitos de humanização hospitalar.
Em Salvador, destaca-se ainda a construção do Centro de Tecnologia da
Rede Sarah, na área contígua ao hospital de Salvador. Nesse centro, que possui um
setor destinado à fabricação de pré – moldados e de um setor de siderurgia, Lelé
182
continua a realizar suas pesquisas, tornando-se não só um referencial para
estudiosos dos processos de racionalização e industrialização da construção civil,
mas também, de uma arquitetura de qualidade, comprometida com as questões
ecológicas e humanitárias (RIBEIRO, 2004, p.183).
4.3.3 Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubitschek – CTRS
INTRODUÇÃO
O CTRS surge da necessidade de cumprir a meta de ampliação da Rede,
estabelecidas no contrato de gestão, onde o Equiphos transforma-se em um grande
centro de tecnologia, localizado em Salvador (LATORRACA, 1999, p.199).
Inicia suas atividades em instalações provisórias a partir da retomada da
construção do hospital em Salvador, em 1992. A partir de 1993, começam a ser
implantadas as instalações definitivas desse centro, que conta com cerca de 800m
de comprimento e largura média de 100m, ao longo da encosta da colina onde se
localiza o hospital. Atualmente ocupa área de aproximadamente 20.000m², onde
foram montadas oficinas de metalurgia pesada, metalurgia leve, marcenaria,
argamassa armada e plásticos (LATORRACA, 1999, p.199).
Ainda segundo esse autor, a construção do Sarah Salvador tornou-se,
assim, o embrião de um centro tecnológico, tendo como principais objetivos:
Projetar e executar as obras destinadas à implantação da Rede, com
base em princípios de industrialização, visando economia, rapidez na
construção e criação de conveniente unidade construtiva entre todas as
edificações da associação;
Projetar e executar, interagindo com as equipes médicas e paramédicas
da associação, os equipamentos necessários ao desenvolvimento de
novas técnicas de tratamentos introduzidas nos hospitais da Rede;
Executar a manutenção dos prédios, equipamentos e instalações de
todas as unidades da Rede;
183
Manter cursos de treinamento em sua área de atuação através de
convênios com as universidades e outras instituições do gênero;
Promover a divulgação dos trabalhos realizados em manter intercâmbio
tecnológico com outras instituições que atuassem no mesmo campo de
pesquisas.
As oficinas se desenvolvem em um projeto de prédios térreos interligados,
com pé direito duplo (6m) e com mezaninos ocupando parte da projeção do
pavimento térreo, destinados aos setores técnicos, administrativos e vestiários. A
interligação das oficinas se faz através de galerias com 5m de largura, que se
desenvolvem em dois níveis superpostos: a do nível superior, servindo aos
escritórios e vestiários, ao longo da qual são expostos os trabalhos executados pelo
centro; a do nível inferior, destinada ao abastecimento e intercomunicação dos
setores de produção (LATORRACA, 1999, p.199).
Figura 4.174 – Implantação do CTRS.
Fonte: Google Earth
Figura 4.175 – CTRS Salvador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4,176; 4.177 – Corredor de entrada para o CTRS e encosta da colina onde está implantado o
Hospital Sarah.
Fonte: Arquivo Pessoal.
184
Figura 4.178 e 4.179 – Mobiliário produzido no CTRS.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.180 e 4.181 – Oficina de Plásticos.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.182 e 4.183 – Salas do setor técnico.
Fonte: Arquivo Pessoal.
185
Figura 4.184 e 4.185 – Circulação.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.186 e 4.187 – Oficina de Metalurgia.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Um dos equipamentos desenvolvidos pelo CTRS é a cama – maca, já
mencionada anteriormente.
As principais modificações nas técnicas de tratamento introduzidas nesse
hospital se apoiaram principalmente na grande mobilidade dos pacientes. Para isso,
o conceito convencional de leito foi substituído pelo de cama – maca, ou seja, houve
a troca de um equipamento semi-fixo por outro de grande mobilidade. Em
conseqüência, na medida em que o paciente passou a poder se deslocar para todos
os setores de diagnóstico e tratamento em sua própria cama, a estrutura física do
hospital e as próprias técnicas médicas mudaram radicalmente.33
Nas figuras abaixo os quatro modelos de cama-maca desenvolvidos até os
dias de hoje.
33
Trecho extraído do texto do ante-projeto do hospital Sarah Brasília. Fonte: Arquivo do CTRS.
186
Figura 4.188 e 4.189 – 1 modelo de 1974 e 2 modelo de 1997.
Fonte: Arquivo CTRS.
Figura 4.190 e 4.191 – 3 modelo de 2001 e 4 modelo de 2007.
Fonte: Arquivo CTRS.
Figura 4.192 – O uso da cama - maca.
Fonte: Arquivo CTRS.
187
Figura 4.193 – Outros equipamentos do Hospital Sarah desenvolvidos pelo CTRS.
Fonte: Arquivo CTRS.
FICHA TÉCNICA
Nome do Projeto: CENTRO DE TECNOLOGIA DA REDE SARAH KUBITSCHEK –
CTRS – SALVADOR
Local: Av. Presidente Tancredo Neves, 2782, Caminho das Árvores – CEP 41820090 – SALVADOR-BA
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Data do Projeto: 1993
Data de execução: 1993 – 1997
Área do Terreno: 130.953,04m²
Área Construída: 18.217,00m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Martins Monteiro; José Fernando Minho
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: CTRS
188
Paisagismo: Beatriz Secco
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão;
Instalações: Kouzo NIchiguti
Estrutura: Roberto Vitorino
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia Leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Programa: Não se aplica
Especialidades: Projeto e execução de edifícios industrializados; desenvolvimento
de equipamentos e mobiliários hospitalares
Maquete: Joaquim Anacleto
Fotografias: Celso Brandão
Fotografias da Maquete: Celso Brandão
Fotografias da Obra: Celso Brandão; Ângelo Sá; Esequias Freitas;
Desenhos Técnicos: Plantas, cortes e fachadas.
A seguir será apresentado o Hospital Sarah Kubitschek Lago Norte,
segunda unidade construída em Brasília.
189
4.4 Hospital Sarah Kubitschek Lago – Norte
Inaugurado em dezembro de 2003, o SARAH – Lago Norte possui
capacidade instalada inicial de 49 leitos. Foi construído devido à necessidade de
novas instalações do Sarah – Brasília, visando melhorias em geral.
Figura 4.194 – Sarah Lago
Norte.
Fonte: www.sarah.br
O Sarah Lago Norte é um importante centro de apoio a pesquisas
avançadas na área de reabilitação e a intensificação dos programas de tratamento
de pacientes, visando reintegrá-los ao meio de origem. Sarah Lago Norte como é
conhecido o Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação é, hoje, a principal
ponte de intercâmbio de estudos e pesquisas com os grande centros de
investigação nas áreas de ciência e saúde e tem aproximado, cada vez mais, os
pesquisadores
estrangeiros
para
trocas
de
experiências
com
os
nossos
pesquisadores. Vários estudos e pesquisas estão em curso, com intercâmbios
internacionais, ampliando as áreas de estudos do cérebro.34
É um hospital onde o paciente tem um espaço para se preparar às
atividades diárias depois de uma lesão cerebral ou motora, que associa convívio
com a família, natureza e equipamentos especiais. É uma extensão do hospital
Sarah Kubitschek, mas sem característica de hospital, sendo esse centro dedicado à
primeira e terceira etapa do processo de reabilitação do paciente.
34
Disponível em: www.sarah.br. Acesso em 05/10/2010.
190
O início das obras desse hospital começa, aproximadamente, quinze anos
após a construção do Sarah Central, sendo que teve conclusão apenas em 2003.
O longo prazo, entre o início da construção e sua inauguração, não se deu
por conta de problemas com as obras, mas sim pela necessidade de treinamentos
entre os profissionais, a fim de os tornarem aptos a receber a estrutura.
FICHA TÉCNICA
Local: SHI – Norte – Qd 13 – Lago Norte – CEP 71536000 – BRASÍLIA – DF
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1995
Data de Execução: 1998 – 2001
Área do Terreno: 80.750,00m²
Área Construída: 25.241,00m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Monteiro; André Borém; Neuton Barcelar; Sônia
Almeida;
Projetos, construção e equipamentos hospitalares: CTRS e Equiphos
Paisagismo: Beatriz Secco
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Eustáquio Ribeiro, George Raulino e Kouzo Nischiguti
Estrutura: Roberto Vitorino
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia Leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Porte: 160 leitos
Especialidades: Reabilitação e Neurociências
191
Maquete: Joaquim Anacleto
Fotografias: Celso Brandão
Fotografias da obra: Sílvio Pereira
Desenhos técnicos: Maristela Carvalho Oliveira; Sônia Almeida; Paulo Magalhães;35
INTRODUÇÃO
A necessidade da implantação do Sarah Lago Norte se deu pelo fato do
Sarah Central estar localizado em uma área urbana, de lote reduzido, não dispondo
de áreas verdes e parques circunvizinhos que permitissem o desenvolvimento de
técnicas adequadas ao tratamento do grande incapacitado físico (LATORRACA,
1999, p. 212).
Esse problema foi se agravando nos últimos anos, com o aumento
significativo do número de pacientes portadores de lesão de medula em
conseqüência, sobretudo, dos acidentes de tráfego (RIBEIRO, 2007, p. 166).
Segundo Latorraca (1999), o Sarah Lago Norte foi construído para atender a
essa demanda, com a intenção da implantação de um setor específico de tratamento
em um terreno ideal, situado às margens do lago de Brasília e doado à APS pelo
governo do Distrito Federal.
IMPLANTAÇÃO
O Sarah Lago Norte está inserido em uma área
privilegiada de Brasília, na QL13 do Lago Norte, às
margens do lago Paranoá. Diferentemente do Sarah
Centro, essa unidade é, na sua totalidade, disposta
horizontalmente,
se
adequando
perfeitamente
à
questão da expansibilidade tão defendida por Lelé.
Figura 4.195 – Implantação do Sarah Lago Norte.
Fonte: www.sarah.br
35
Dados retirados da dissertação de mestrado de RIBEIRO, Gislene Passos. Conforto Ambiental e
Sustentabilidade na Obra de João da Gama Filgueiras Lima (Lelé): Os Hospitais da Rede Sarah.
192
PARTIDO
O conjunto arquitetônico é formado por um complexo de edifícios, composto
por três blocos que se articulam: bloco principal, onde estão localizados os setores
de serviço, internação e ambulatório, o conjunto conta com mais duas edificações: o
centro de estudos e a escola de excepcionais.
Os
blocos
são
térreos,
mas
implantados
acompanhando a topografia do terreno.
Figura 4.196 – Bloco Principal.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.197 e 4.198 – Centro de Estudos e Escola de Excepcionais.
Fonte: Arquivo Pessoal;
Figura 4.199 e 4.200 – Centro de Estudos e Auditório.
Fonte: Arquivo Pessoal.
em
níveis
diferentes,
193
Figura 4.201 e 202. Planta baixa.
Fonte: Latorraca, 1999.
1.Estacionamento;
2.Serviço;
3.Internação;
4.Vestiários;
5.Ambulatório;
6.Ginásio;
7.Cais;
8.Palco Flutuante;
9.Galerias;
10.Escola de excepcionais;
194
É uma estrutura contemporânea que, por sua beleza chama a atenção. O
teto, composto por sheds em alumínio e um galpão privilegiado pela iluminação
natural mostram que a praticidade e a criatividade fazem a diferença em uma
edificação quando se quer poupar dinheiro público.
SISTEMA ESTRUTURAL
O Sistema estrutural do Sarah Lago Norte também é baseado na
flexibilidade e expansibilidade dos espaços, assim como também, na padronização
dos elementos estruturais.
Aqui, Lelé já tem um maior domínio da tecnologia, imprimindo as técnicas da
argamassa armada, numa dimensão nunca experimentada antes no Brasil. O
domínio dessa tecnologia aliada ao uso do aço e do concreto atinge um grande
desenvolvimento no hospital Sarah Lago Norte, onde a industrialização possibilita
uma construção mais rápida e eficiente.
A estrutura dos três blocos, (bloco principal, centro de estudos e escola de
excepcionais) são em elementos pré fabricados em aço e argamassa armada; o
concreto armado aparece apenas nas cintas fundidas no local e em algumas
sapatas isoladas (PORTO, 2007, p.12)
Os sheds das coberturas possibilitam a incidência controlada do sol nos
ambientes internos, o que constitui fator decisivo no combate à infecção
(LATORRACA, 1999, p.62).
Segundo Porto (2007), os sheds proporcionam abertura para iluminação e
ventilação que são feitas através de vigas longitudinais em chapa dobrada onde
treliças são apoiadas.
Figura 4.203 e 4.204 – Croqui explicativo dos sheds da enfermaria e ginásio.
Fonte: Latorraca, 1999. Foto interna enfermaria e ginásio. Fonte: Arquivo Pessoal.
195
Figura 4.205 e 4.206 – Croqui explicativo dos sheds da enfermaria e ginásio.
Fonte: Latorraca, 1999.
Foto interna enfermaria e ginásio. Fonte: Arquivo Pessoal.
A cobertura do galpão dos barcos é feita através de arcos que encontram
apoio por um lado no próprio terreno e, por outro, nos pilares situados ao longo da
varanda.
Figura 4.207 e 4.208 – Croqui e Imagem do galpão dos barcos.
Fonte: Latorraca, 1999; Arquivo Pessoal
Figura 4.209 e 4.210 – Imagens da montagem da estrutura de aço.
Fonte: Latorraca, 1999.
196
Figura 4.211 e 4.212 – Imagens do cais/pier.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O destaque dessa obra está no bloco intermediário circular, destinado à
fisioterapia infantil, cujo espaço é moldado por 64 vigas radiais que se apóiam num
anel periférico circular e se lançam para o alto, encontrando um anel central aberto
para a extração do ar quente.
Figura 4.213 e 4.214 – Imagem da montagem e imagem final da escola de excepcionais.
Fonte: http://abcdesign.com.br/design-de-produto/ate-1909-mostra-fabrica-e-invencao/
Figura 4.215 e 4.216 – Imagem interna e externa da escola de excepcionais.
Fonte: www.sarah.br
197
Todos esses elementos que constituem a estrutura desses blocos são préfabricadas produzidas no CTRS de Salvador, transportadas e montadas no local da
construção.
O auditório, localizado no bloco do centro de estudos, é composto por uma
estrutura especial, formado por vigas também treliçadas, vencendo vãos de 28
metros. Porto (2007) descreve a estrutura:
“Os pilares tubulares em aço da estrutura, por onde escorrem as águas
pluviais, se apóiam ora em sapatas isoladas de concreto, ora em galerias
para a passagem de tubulações, executadas em argamassa armada. Todos
os elementos verticais, que sejam as paredes externas dos diversos blocos
ou as divisórias internas, são também constituídos neste mesmo material”
(PORTO, 2007, p.12).
Assim como nos outros hospitais da Rede, no Sarah Lago Norte, Lelé
propõe um grande espaço, sem divisórias fixas. Nesse espaço estão localizadas,
além do ginásio, as alas destinadas para cada tipo de pacientes, crianças, jovens e
adultos, de acordo com a gravidade do problema de cada paciente e o tipo de
tratamento que irão receber.
Nas imagens abaixo verifica-se como se dá o funcionamento desses
espaços. No ginásio, que é o primeiro desse galpão, percebe-se a presença do
biombo de madeira ao fundo, que por trás já se configura outro espaço. Na segunda
e terceira imagem, os espaços de tratamento entre cada biombo. E nas duas outras,
o espaço destinado à hidroterapia, último espaço que configura esse galpão, com os
boxes de atendimento.
Figura 4.217; 4.218; 4.219 – Ginásio e Espaços de internação.
Fonte: Arquivo Pessoal.
198
Figura 4.220 e 4.221 – Hidroterapia e Boxes de Atendimento individual.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Todos esses espaços acima recebem iluminação e ventilação natural,
proporcionadas pelos sheds instalados na cobertura e pelas aberturas laterais que
são proporcionadas pelas esquadrias de correr de vidro. No teto formado pelos
sheds foram instaladas lâmpadas fluorescentes, que quando acesas durante o dia,
havendo necessidade, dão impressão de serem rasgos no teto iluminados pela luz
natural.
Figura 4.222 e 4.223 – Esquadrias de vidro e shed.
Fonte: Arquivo pessoal.
Do lado oposto às esquadrias de vidro, Lelé propôs uma parede vazada,
toda colorida, que forma um corredor, que dá acesso a todos os espaços do
hospital.
199
Figura 4.224; 4.225; 4.226 – Corredor de acesso aos espaços/Imagem da parede vazada no galpão
destinado ao tratamento dos pacientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Nesse hospital, o sistema de pilares e vigas duplas também ocorre de modo
que o espaço formado entre eles é utilizado para a passagem das instalações.
200
É através das calhas formadas entre as vigas que se dá a fixação das
luminárias, algumas, desenhadas pelo próprio arquiteto.
Figura 4.227 e 4.228 – Detalhe da viga dupla e da
luminária acoplada à calha.
Fonte: Arquivo Pessoal.
4.4.1 Humanização Sarah Lago Norte
Essa nova unidade projetada por Lelé também foi construída segundo os
princípios da humanização, a fim de garantir aos usuários maior conforto e maior
possibilidade de reabilitação.
Segundo a neuropsicóloga dinamarquesa Anne-Lise Crhistesen36, considera
o Centro Internacional de Neurociências, sediado no Sarah de Brasília, “um sonho”
para qualquer paciente em reabilitação. “Não há outro como este no mundo. A
filosofia humanista idealista faz este lugar diferente. É fascinante ter pesquisadores
em neurociências que clinicam aqui37.”
E a atmosfera positiva do hospital é passada a todos os que adentram esta
unidade desde a guarita. Um conjunto de edificações predominantemente brancas,
com detalhes em cores primárias, inseridos em uma paisagem
Deslumbrante, cercada pelo verde e pelo lago. O terreno acidentado faz com
que a edificação fique em dois platôs distintos: o mais alto, onde estão o centro de
36
Anne-Lise Crhistesen fundou o Centro de Neurociências de Copenhague, na Dinamarca, em 1985.
Dados da Secretaria de Saúde do DF. Disponível em:
http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=24496 Acesso em: 05/10/2010.
37
201
estudos e a escola de excepcionais e um mais baixo, onde está localizado o bloco
principal.
Figura 4.229 e 4.230 – Vista a partir da guarita.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.231; 4.232 – Vista do nível mais alto onde estão o centro de estudos e a escola de
excepcionais para o nível inferior, onde está o bloco principal.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O acesso de um nível para o outro, portanto, se dá através de uma rampa,
para o uso de veículos e escadas, para o deslocamento dos pedestres.
202
Figura 4.233 e 4.234 – Vista do acesso de veículos e da
escada para pedestres.
Fonte: Arquivo pessoal.
Por se tratar de um hospital de reabilitação e visto a grande quantidade de
pessoas com incapacidades físicas, o arquiteto Lelé, assim como ele propôs ao
Sarah Salvador, desenhou uma espécie de elevador em plano inclinado que
proporciona o transporte de cadeirantes de um nível para o outro do conjunto.
Figura 4.235 e 4.236 – Acesso do nível inferior para o nível superior e vice versa.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O funcionamento se dá através de duas cabines, cada uma em um dos
patamares que correm por um trilho em sentidos opostos. Ao chegar no destino, a
porta da cabine abre automaticamente e o trajeto é finalizado em um abrigo formado
por uma estrutura de aço e uma cobertura translúcida.
203
Figura 4.237 e 4.238 – Detalhe do elevador.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Uma marquise vermelha e os muros com formas coloridas em argamassa
armada dão vida à entrada principal da unidade Sarah Lago Norte.
Figura 4.239 e 4.240 – Vista entrada principal.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Logo na entrada está localizada a recepção. As cadeiras para a espera são
na cor branca, laranja, amarela e azul, porém, diferentemente do Sarah Central, não
diferenciam o tipo de tratamento que o paciente vai receber. É um espaço bem
amplo, iluminado e ventilado naturalmente através da cobertura formada pelos
sheds e das esquadrias de vidro que rodeiam o espaço.
204
Figura 4.241 e 4.242 – Vista da Recepção.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Para o controle da incidência de sol indesejada, brises móveis são instalados
em toda a extensão da esquadria de vidro que fica posicionada a frente da
recepção.
Figura 4.243 e 4.244 – Brises móveis para o controle da incidência solar.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 4.245 - Integração da recepção com espaços verdes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
205
A integração com espaços verdes também acontece na área da recepção,
possibilitando um visual agradável ao ambiente.
Outro aspecto interessante desse ambiente, é que o espaço da recepção
também é utilizado como espaço de exposição. São trabalhos realizados pelos
próprios pacientes que são reunidos e podem ser contemplados por todos os que
passam por este espaço.
Abaixo imagens da entrada da exposição presente no mês de outubro de
2010, que tem como tema “Obstáculo Zero”.
Figura 4.246; 4.247; 4.248 – Imagens da entrada da exposição.
Fonte: Arquivo Pessoal.
206
Figura 4.249; 4.250; 4.251; 4.252; 4.253; 4.254 – Imagens da exposição.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O espaço destinado ao tratamento dos pacientes é composto pelo ginásio,
onde desenvolvem atividades que ajudam na recuperação motora do paciente, por
quatro alas diferenciadas, onde fazem fisioterapia, de acordo com o tipo de paciente
207
e o espaço destinado à hidroterapia. Estão dispostos longitudinalmente na
edificação, com vista para o lago Paranoá.
Figura 4.255 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Cada espaço é equipado com elementos que auxiliam na recuperação dos
pacientes. O ginásio possibilita a prática de esportes, tais como, tênis, basquete e
futebol de salão.
Figura 4.256 e 4.257 – Ginásio.
Fonte: Arquivo Pessoal.
208
Nas alas de tratamento, além das camas – macas, existem outros diversos
tipos de produtos desenvolvidos pelo arquiteto e pela equipe do hospital que
auxiliam no tratamento dos pacientes. São produtos desenvolvidos para exercitar o
equilíbrio e a recuperação motora dos pacientes.
Figura 4.258; 4.259; 4.260; 4.261 – Produtos
desenvolvidos por Lelé, produzidos pelo próprio Sarah.
Fonte: Arquivo Pessoal.
209
Aí também estão presentes elementos do mobiliário produzidos por Lelé.
Além da cama – maca, já citada na análise do Sarah Central Brasília, aparecem
elementos do mobiliário infantil, tais como mesinhas e cadeirinhas e uma cadeirinha
para alimentação, todos produzidos no CTRS do Sarah.
Figura 4.262; 4.263; 4.264 – Mobiliário infantil desenvolvido por Lelé e desenvolvidos na própria
instituição.
Fonte: Arquivo Pessoal.
210
Figura 4.265 e 4.266 – Vista do pier.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Na hidroterapia, piscinas coloridas enchem o espaço de vida. O arquiteto
desenvolveu cadeiras de rodas que podem ser utilizadas dentro da água, também
produzidas no CTRS do Sarah.
Figura 4.267; 4.268 – Hidroterapia. Cadeiras de roda produzidas no Sarah.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Todos esses espaços descritos acima possuem integração com o exterior,
ladeados por uma varanda, de onde se dá o acesso ao píer.
211
Figura 4.269 e 4.270 – Vista da varanda e do píer. Vista aproximada da varanda em frente a ala infantil.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O lago também é utilizado no auxílio à recuperação do paciente. Assim
como o troyller, um barco foi desenvolvido para que passeios possam ser feitos no
lago. Além disso, atividades como canoagem, caiaque e barco a vela podem ser
desenvolvidas pelos pacientes.
Figura 4.271; 4.272; 4.273 –
Atividades desenvolvidas no
lago.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Entre o bloco de tratamento e o de internação, existe mais uma piscina para
hidroterapia e piso com diferentes acabamentos, construído para o treino de marcha.
212
Figura 4.274 e 4.275 – Vista da área da piscina e do piso para treino de marcha.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Logo após essa área descoberta descrita acima, localiza-se o espaço de
internação e serviços.
O acesso se dá por uma sala de convivência, onde os pacientes podem
utilizar os computadores, jogos e TV. Nas paredes desse espaço, assim como na
circulação interna, que dá acesso ao bloco de tratamentos, são fixados quadros
produzidos pelos próprios pacientes.
Figura 4.276 – Planta Baixa.
Fonte: LATORRACA, 1999.
213
Figura 4.277; 4.278; 4.279; 4.280 – Imagens da Sala de Convivência.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Um corredor interno liga esse espaço ao bloco de internação. É nesse
corredor que se tem acesso às salas de exames.
Figura 4.281 e 4.282 – Vista do corredor e detalhe do quadro produzido por pacientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
214
Somente essas salas destinadas para exames dos pacientes são
refrigeradas artificialmente. Nas imagens a seguir, percebe-se o altíssimo nível de
tratamento no qual os pacientes são submetidos. Câmeras acopladas nas laterais e
no teto das salas captam os movimentos dos pacientes, que são lidos por um
computador, gerando gráficos que indicam o nível do paciente em relação à pessoas
que não apresentam dificuldades motoras.
Figura 4.283 e 4.284 – Sala de Avaliação dos Pacientes.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Na nova unidade, o paciente aprende como se tornar mais independente,
mesmo se locomovendo com a ajuda de cadeiras de roda. A idéia é fazer o local
funcionar como se fosse a própria casa. ''Em um hospital tradicional, o paciente faz a
cirurgia e depois recebe alta. Aqui, ele passa pela reabilitação antes de ir para casa'',
afirma o cirurgião chefe da Rede Sarah, Aloyzio Campos da Paz.38
Para isso, um espaço foi desenvolvido simulando os espaços de uma casa,
para que o paciente saía do hospital apto a realizar as atividades mais comuns
dentro de casa, tais como: deitar e levantar da cama, usar o banheiro, a cozinha e a
lavanderia.
38
Dados da Secretaria de Saúde do DF. Disponível em:
http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=24496 Acesso em: 05/10/2010.
215
Figura 4.285; 4.286; 4.287; 4.288 e 4.289 – Vista da Casa Simulada.
Fonte: Arquivo Pessoal.
216
Um refeitório adaptado também foi desenvolvido para que o paciente possa
ter conforto na hora das refeições. Algumas atividades gastronômicas também são
praticadas pelos pacientes nessa instituição.
Figura 4.290 – Refeitório Adaptado.
Fonte: Arquivo Pessoal.
No Sarah Lago Norte tembém existe o trabalho conjunto de Lelé com o
artista Athos Bulcão. É desse artista os muros que rodeiam a unidade, os painéis
dispostos nas paredes, a parede vazada colorida do bloco de tratamento, as pinturas
e os jacarés em fibra de vidro da área externa. Todos esses elementos, juntos à
arquitetura limpa de Lelé, embelezam os espaços e dão uma atmosfera mais lúdica
e leve aos ambientes.
Figura 4.291 e 4.292 – Trabalhos de Athos Bulcão.
Fonte: Arquivo Pessoal.
217
O hospital Sarah Lago Norte também trabalha em conjunto com a família do
paciente para que esses possam acompanhar o tratamento e desenvolver algumas
atividades com os familiares em casa.
Assim como no Sarah Central Brasília, o arquiteto desenvolveu alojamentos
para que os acompanhantes pudessem permanecer no hospital durante a noite.
Na opinião do professor da Universidade de Toulain (EUA), Marc Forman, o
que torna o novo Sarah único no mundo é o trabalho holístico desenvolvido pelos
profissionais. O cientista diz que há nos Estados Unidos tecnologia similar, mas falta
humanismo no tratamento. ''Aqui o paciente está perto da natureza, da família e
conta com tecnologia de ponta. Não há lugar melhor para que ele consiga a
reabilitação'', elogia.39
4.5 Hospital Sarah Kubitschek Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO
Essa mais nova unidade, última da Rede a ser construída, foi inaugurada em
maio de 2009. O atendimento desse hospital é focado na reabilitação, que dá
chances ao paciente à reinserção no seu cotidiano, com qualidade de vida.
O primeiro projeto realizado contemplava, num mesmo conjunto, o Hospital e
o Centro de Reabilitação Infantil, no entanto, foi impedido pela legislação, por ocupar
mais de 80% da Ilha de Pombeba.
39
Dados da Secretaria de Saúde do DF. Disponível em:
http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=24496 Acesso em: 05/10/2010.
218
Figura 4.295 – Centro de Reabilitação Infantil marcado em vermelho e Hospital Sarah marcado em
laranja.
Fonte: Google Earth.
Figura 4.293 e 294 – 1 Maquete do primeiro projeto. 2. Vista do Centro de Reabilitação.
Fonte: PERÉN, 2006.
Devido a essa proibição, o hospital foi implantado em um terreno situado
próximo ao centro de reabilitação infantil, construído em 2002, na Ilha de Pombeba.
Assim como no Sarah Salvador, esse hospital é resultado de um conjunto de
metas firmadas no âmbito do contrato de gestão estabelecido entre a Associação
das Pioneiras Sociais e o Governo Federal.
219
Figura 4.296 – Hospital Sarah Rio de Janeiro.
Fonte: www.sarah.br
FICHA TÉCNICA
Nome
do
Projeto:
CENTRO
INTERNACIONAL
SARAH
DE
NEURORREABILITAÇÃO E NEUROCIÊNCIAS
Local: Av. Embaixador Abelardo Bueno N. 1500 – Jacarepaguá – Rio de Janeiro –
RJ
Autor: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data de Projeto: 2001 (data do ante-projeto, o projeto se desenvolve durante a
execução da obra)
Data de início da obra: 2002
Data prevista para a finalização: 2007
Área do Terreno: 87.000m²
Área Construída: 54.376m² (incluindo o pavimento técnico)
Arquitetura: Centro de tecnologia da Rede Sarah – João Filgueiras Lima
(coordenador geral); Francisco A. N. Filho (superintendente); Walmir Bulhon
(coordenador administrativo / Rio); Adriana Filgueiras Lima (coordenadora
220
administrativa da obra); Ana Amélia Monteiro (coordenadora técnica do projeto);
José Otávio Veiga, Antônio Eduardo Noronha, André Borem, Neuton Bacelar,
Josenias dos Santos e Sônia Imeida (equipe técnica da obra);
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: Centro de Tecnologia da
Rede Sarah
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Kouso Nishiguti, Renato Messia e Antônio Leão Lírio
Estrutura: Roberto Vitorino
Conforto Térmico: George Raulino;
Gerência de oficina do CTRS: Hrandy Matos (metalurgia leve); Waldyr Silveira
(Metalurgia Pesada); Jurandir Amorim (fibra de vidro, marcenaria); Tomaz Bacelar
(pré-moldados); Inês Ribeiro Alves (comunicação visual);
Fotos: Celso Brandão
Especialidades: doença do aparelho locomotor e reabilitação.
IMPLANTAÇÃO
Localiza-se em um terreno de 80.000 m², com lote que ocupa uma quadra,
próximo à Lagoa de Jacarepaguá, em uma região baixa e parcialmente inundada.
Tem uma ligação pavimentada de cerca de 700 m de comprimento com a Avenida
Salvador Allende e entrada principal pela Avenida Embaixador Abelardo Bueno, que
servirá de ligação entre o Hospital e o Centro de Reabilitação.
Com 52.000 m de área construída impressiona, sobretudo, pela riqueza e
diversidade da plástica do conjunto. O edifício mantém as premissas adotadas em
outros hospitais da Rede, tais como o de Salvador e o do Lago Norte, estudados
anteriormente, que adotam a solução horizontal como ideal.
221
Figura 4.297 – Implantação do Sarah Rio.
Fonte: www.sarah.br
PARTIDO
Além da solução horizontal de implantação desse edifício, outras premissas,
que são marcas do arquiteto, contemplam essa unidade, tais como: a flexibilidade
dos espaços internos, potencializada em função das dimensões do complexo; e o
sistema de iluminação natural para todas as áreas, com exceção do centro cirúrgico
e das salas de equipamentos, cuja necessidade imperiosa de assepsia, entre outras
razões técnicas, teve de receber luz artificial; sistemas alternativos de ventilação
natural e ar – condicionado, privilegiando o primeiro de modo a permitir que os
ambientes se mantenham abertos durante a maior parte do ano; criação, na cota 2m
recomendada, um pavimento técnico em toda a extensão do hospital, evitando-se os
aterros onerosos, que seriam necessários no caso do emprego de galerias
semelhantes à dos demais hospitais da Rede.40
Baseando-se nessas diretrizes, o arquiteto projetou grandes coberturas com
pé direito variável, tendo o mais baixo 8m de altura, formando imensos sheds cuja
disposição é totalmente desvinculada da organização dos espaços internos. Os
40
Trecho do texto Técnica e Arte a Serviço da Cura, de LEAL, Ledy Valporto, retirado do site
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/175/imprime104830.asp, Acesso em: 03/12/10.
222
forros planos por sua vez são constituídos de peças basculantes de policarbonato,
guarnecidas por caixilhos metálicos. Os espaços compreendidos entre os forros e as
coberturas, com pé direito sempre superior a 4m, compõem, num só tempo, um
grande colchão de ar, ventilado e um difusor de luz solar que penetra pelos sheds.41
Figura 4.298 – Corte Esquemático.
Fonte: Arquivo CTRS
Leal (2008) descreve que os apartamentos da internação se desenvolvem em
dois níveis e suas respectivas circulações se integram a um espaço central de
convivência com pé-direito duplo, servido por rampa com traçado ondulado. Um teto
em arco cobre esse ambiente, assim como os espaços contíguos destinados a
fisioterapia e hidroterapia, guarnecidos por caixilhos de policarbonato que se abrem
por um sistema motorizado de correr, permitindo a ventilação natural de todos os
locais.
Outra característica da obra de Lelé para os hospitais da Rede Sarah, que
também acontece no Sarah Rio, é a setorização dos ambientes de modo que,
aqueles que requerem uma assepsia maior, ficam contíguos uns anos outros, ao
passo que aqueles com menos restrições técnicas (temperatura, umidade e
pressão), são adjacentes a jardins e espaços abertos.
O hospital é constituído de quatro edifícios interligados e com a seguinte
destinação:
Serviços Técnicos;
Internação;
41
Trecho do texto Técnica e Arte a Serviço da Cura, de LEAL, Ledy Valporto, retirado do site
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/175/imprime104830.asp, Acesso em: 03/12/10.
223
Serviços Gerais;
Centro de Estudos, residência e auditório;
O terreno, que era parcialmente alagado, foi aterrado até atingir a conta
1,80m acima do nível da Lagoa de Jacarepaguá. Nessa cota está situado o piso
técnico, que ocupa a projeção dos serviços técnicos, internação e serviços gerais.
Como precaução adicional contra eventuais enchentes foi criado um lago
artificial ao longo da faixa central do terreno que recebe todas as águas pluviais do
lote e as descarrega diretamente no Arroio Pavuna, junto à sua foz na Lagoa de
Jacarepaguá.
O centro de estudos, residência e pavimentos inferior do auditório também
estão situados na cota 1,80m. Os demais setores dos blocos estão na cota 5,20m.
Os apartamentos do bloco da internação estão localizados em dois níveis
superpostos: o inferior na cota 5,20m e o superior na cota 8,40m.42
42
Dados retirados de textos do CTRS Salvador
224
Figura 4.299 – Planta Baixa Sarah Rio.
Fonte: PERÉN, 2006.
225
Figura 4.300 – Planta Baixa piso técnico Sarah Rio.
Fonte: PERÉN, 2006.
226
Figura 4.301 – Cortes e elevações/Sem escala.
Fonte: Perén, 2006.
227
SISTEMA CONSTRUTIVO
A estrutura do piso técnico é constituída de lajes pré-moldadas de
argamassa armada com 2,50m, 3,125m e 3,75m apoiadas em vigamento metálico
vencendo vãos máximos de 5m e descarregando em uma trama de pilares metálicos
engastados nas sapatas de concreto.43 Essa estrutura é apoiada em pilares também
metálicos que recebem, por sua vez, as cargas das lajes pré-fabricadas em
argamassa armada com 0,625m de largura e comprimentos variáveis de 1,875m,
2,50m, 3,125m ou 3,75m. Essas lajes possuem armação de incorporação ao
contrapiso armado executado após sua montagem (LEAL, 2008).
Todos os espaços do hospital são totalmente flexíveis. Os pilares que
suportam as vigas do teto são fixados sobre o piso em acabamento de porcelanato.
As instalações ocorrem em geral no piso técnico. Os circuitos elétricos destinados à
iluminação se distribuem em canaletas visitáveis nas vigas dos tetos. As divisórias
em argamassa armada são duplas, ou seja, estão constituídas de duas peças
isoladas entre si com calços de borracha, de modo a se obter melhor isolamento
termo-acústico entre dois ambientes contíguos (PERÉN 2006, p.207).
Figura 4.302 – Sistema construtivo do Hospital Sarah do Rio. Desenho de Lelé.
Fonte: Arquivo CTRS.
A cobertura, além dos sheds, possui um sistema de forro em arco móvel,
com o intuito de favorecer a iluminação natural e a possibilidade de um sistema de
43
Dados retirados de textos do CTRS Salvador.
228
ventilação flexível: quando está muito quente, este sistema é fechado, de modo a
evitar a entrada direta da luz do sol, o que provoca mais calor e quando a
temperatura está mais agradável, é aberto (PERÉN, 2006, p. 207).
Segundo esse autor, essas coberturas possibilitam pés direito maiores,
ideais nas áreas de fisioterapia e convívio. Essas coberturas em arco variam de
tamanho devido os vãos da estrutura que tem dimensões diferentes (2,50m; 3,125m
e 3,75m). As coberturas são compostas por quatro painéis com esquadrias e placas
de policarbonato alveolar translúcido, sendo que os dois do centro do arco se
recolhem sobre os dois das extremidades, que são fixos. Para facilitar o manuseio, o
sistema de abertura é automatizado. As tubulações de ar condicionado correm por
cima do vigamento principal da cobertura.
Figura 4.303 – Esquema da cobertura me arco móvel.
Fonte: PERÉN, 2006.
Figura 4.304 – Vista da rampa desde o Segundo nível, sob a cobertura em arco
móvel e Vista dos arcos móveis sob a cobertura.
Fonte: PERÉN, 2006.
229
A estrutura do auditório possui vigamento radial de dupla curvatura
engastado em anel metálico superior e em anel de concreto inferior, apoiados
também, em pilares de concreto (LEAL, 2008).
Figura 4.305 – Desenho esquemático da estrutura do auditório.
Fonte: Arquivo CTRS.
Figura 4.306 – Maquete da cúpula do auditório e vista da montagem do auditório.
Fonte: PERÉN, 2006.
230
Figura 4.307 – Montagem da cúpula.
Fonte: Arquivo CTRS.
Figura 4.308 e 4.309 – Vista interna e externa do auditório.
Fonte: Aline Missau. Disponível em:
http://arktetonix.com.br/index.php/2010/11/08/ark-inspiration-53%E2%80%93-hospital-sarah- Acesso em kubitschek/ Acesso
em: 06/12/2010.
A estrutura do solário, por sua vez, é composta por plataformas que são
engastadas em cada um dos lados de um pilar de treliça metálica, rotulado ao nível
do solo. O sistema estrutural do solário é completado por quatro tirantes ancorados
no solo e no topo do mastro e que constituem também os apoios laterais das
plataformas.
231
Lelé afirma que a cada hospital o processo evolui, mas não com a intenção
de criar uma marca arquitetônica, mas sim a humanização dos hospitais.44
4.5.1 Humanização do Hospital Sarah – Rio de Janeiro
O último hospital da Rede representa o desdobramento dos estudos
desenvolvidos para os hospitais da Rede Sarah desde 1980, quando o Sarah
Brasília é inaugurado, passando para aqueles construídos em argamassa armada,
Curitiba, São Luis e Salvador, destacando esse último, primeira unidade construída
a partir da linha de produção industrial do Centro de Tecnologia da Rede Sarah,
projetado e dirigido por Lelé.
O projeto do Sarah Rio não é apenas a persistência ou manutenção de um
sistema construtivo adotado para os outros hospitais Sarah, mas a constatação da
potência de uma arquitetura que, a cada projeto, reafirma sua inequívoca
capacidade de atualização. Em entrevista à revista Veja, Lelé afirma que a cada
hospital o processo evolui, mas não com a intenção de criar uma marca
arquitetônica, mas sim a humanização dos hospitais.45
Para tanto, Lelé coloca em prática mais uma vez seus ideais para a
construção de um hospital humanizado. Flexibilidade e extensibilidade da
construção, padronização dos elementos construtivos, iluminação e ventilação
natural, integração dos espaços com áreas verdes, bem como a integração do
interior e exterior são aplicadas na elaboração do projeto para esse hospital.
O sistema de ventilação do hospital ocorre de forma diferente da que foi
aplicada nos outros hospitais da Rede, devido ao clima excessivamente quente e
úmido da cidade do Rio, introduzindo sistemas mais sofisticados.
Embora o emprego do ar condicionado tenha sido generalizado em quase
todo o hospital, os ambientes também são dotados de alternativas que privilegiem o
uso de iluminação e ventilação natural.
44
45
Entrevista de Lelé à revista Veja, edição 1736 de 30 de janeiro de 2002.
Entrevista de Lelé à revista Veja, edição 1736 de 30 de janeiro de 2002.
232
O controle da iluminação e ventilação natural de cada ambiente se faz
através de esquadrias localizadas em seus respectivos tetos, independente do
sistema de iluminação e ventilação permanente, criado pelos sheds da cobertura.
Figura 4.310 – Esquema do Shed do Sarah Rio.
Fonte: PERÉN, 2006.
Além disso, as unidades do tipo fan-coil do sistema de ar-condicionado,
captam o ar do piso técnico, também dotado de ampla ventilação natural, e os
insuflam nos ambientes através dos próprios dutos de ar condicionado. Nos
períodos quentes, os basculantes do teto são fechados, e as unidades fan-coil,
abastecidas pelo sistema de água gelada, passam a gerar ar refrigerado, que é
insuflado em cada unidade. O retorno do ar às unidades fan-coil é feita através de
dutos, também localizados no piso técnico.
Figura 4.311 – Sistema de
ventilação do hospital Sarah
Rio.
Fonte: PERÉN, 2006.
233
Lelé afirma que cidades com o clima similar ao do Rio de Janeiro, o uso do ar
condicionado é indispensável. No entanto, deve-se haver a preocupação em poupar
o uso desse equipamento, visto o alto custo do mesmo e também a probabilidade de
trazer consigo problemas respiratórios.
Segundo Perén (2006), a ventilação e o conforto térmico nos ambientes
desse hospital acontecem de três formas distintas:
Ventilação natural, exclusivamente pelos basculantes do teto ou pelas
grandes aberturas dos tetos em arco, previstos no salão central de
convivência, na fisioterapia e na hidroterapia;
Ventilação natural forçada, através de dutos visitáveis, que insuflam nos
ambientes o ar captado por unidades fan-coil no piso técnico. A extração
do ar é feito através dos basculantes do teto, parcialmente abertos;
O ar refrigerado insuflado através dos mesmos dutos da alternativa
anterior, impulsionado pelas unidades fan-coil, que passam a receber
circulação de água gelada produzida na central frigorígena localizada no
pátio de serviço. Nesse caso, os basculantes do teto e as aberturas dos
tetos em arcos do salão central da internação, da fisioterapia e da
hidroterapia, serão fechados através do sistema motorizado, acionado
por interruptores ou controle remoto;
Além disso, os espelhos d’água que foram projetados ao redor do edifício,
além de captar as águas da chuva, funcionando com o uma espécie de reservatório,
para evitar alagamentos, provocam também conforto térmico, suavizando o calor
nos ambientes.
Figura 4.312 – Esquema de ventilação no interior do Sarah Rio.
Fonte: PERÉN, 2006.
234
Figura 4.313 – Vista dos espelhos d`água que
circundam o edifício e dos sheds.
Fonte: www.sarah.br
No centro cirúrgico, nas salas de equipamentos do setor de imagem e em
alguns ambientes especiais, os basculantes de policarbonato serão substituídos por
forros metálicos e sua iluminação será sempre artificial. No auditório circular também
foi prevista a alternativa de iluminação e ventilação naturais através da abertura de
semi-esfera com 13 m de diâmetro, localizada no topo da cobertura. O ar externo
penetra no piso técnico em toda a fachada ao longo do qual se desenvolve um
jardim de água que recebe as águas pluviais de todo o lote, lançando-as diretamente
na Lagoa de Jacarepaguá (PERÉN, 2006 apud RAULINO, 2004).
Figura 4.314 – Vista dos espelhos d`água que circundam o edifício e
do auditório.
Fonte: www.sarah.br
Os espaços de internação, bem como da fisioterapia são constituídos de
cobertura em arco, com vãos variáveis e sistema de iluminação e ventilação
semelhantes ao do espaço de convivência.
235
O corredor-varanda da área de internação, adjacente à área de convivência,
estabelece um contato direto entre os dois níveis, o que favorece e valoriza a
integração visual, ora direta entre pacientes, equipe médica e demais usuários do
hospital.
“Os pacientes internos podem sair para o corredor e observar todas as
atividades que acontecem na área de convivência, que, muito embora
sendo um ambiente interno do hospital, possui farta iluminação natural, o
que dá maior vivacidade e boas energias a esse ambiente. Sua cobertura
em arco, em policarbonato translúcido, tem sistema mecanizado de controle
de abertura interessante, principalmente, por possibilitar a entrada de luz
natural, mesmo quando a cobertura está fechada, em períodos quentes,
para ativação do sistema de ar condicionado” (PERÉN, 2006, p.210).
Além
disso,
espaços
verdes
integram todos os ambientes do hospital,
tornando
os
agradáveis,
espaços
adjacentes
amenizando
o
mais
calor
característico da forte insolação do Rio de
Janeiro. Esses espaços verdes também são
utilizados para desenvolver atividades de
fisioterapia.
Figura 4.315 – Centro de convivência e jardim
interno do hospital Sarah Rio.
Fonte: www.sarah.br
A integração interior x exterior também está presente nesse hospital. A
maioria das superfícies laterais e do teto são compostas por superfícies translúcidas,
que integram o ambiente interno e o ambiente externo.
Figura 4.316 – Vista das superfícies translúcidas
que envolvem o hospital.
Fonte: http://www.jornaloimparcial.com.br/?p=13397 .
Acesso: 06/12/10.
Figura 4.317 – Superfície translúcida no teto.
Fonte: Aline Missau
236
A arquitetura limpa, predominantemente branca é coroada com as obras de
Athos Bulcão, uma das suas últimas participações antes de sua morte no ano de
2008. Na figura abaixo o painel colorido desenvolvido por Athos.
Figura 4.318 – Painel de Athos Bulcão.
Fonte: Arquivo CTRS.
Um conjunto arquitetônico leve, colorido e alegre, perfeitamente integrado à
encantadora paisagem circundante, chama ainda mais atenção quando se sabe que
ali funciona um hospital público. A beleza, segundo Lelé, é um dos quesitos para
que haja a humanização.
O complexo impressiona não só pelas suas dimensões excepcionais e pela
diversidade do tratamento plástico do conjunto, mas pela compatibilidade com o
amplo espectro de atendimento pretendido.
O Sarah Rio de Janeiro, portanto, fecha esse ciclo da arquitetura hospitalar
projetada por Lelé para os hospitais da Rede Sarah, atingindo uma importância
relevante, pois sintetiza a experiência de uma vida dedicada à compreensão da
arquitetura na amplitude do seu campo de conhecimento, realizando com maestria a
237
conjugação entre a arte e a técnica (PEIXOTO,1996; LATORRACA, 1999; RIBEIRO,
2004).
Indiscutivelmente, uma arquitetura paradigmática, que comprova sim que “a
medicina pública pode ser viabilizada, mantendo-se um alto nível de qualidade e, ao
mesmo tempo, expondo à crítica o modelo de medicina privada praticada no país”
(RIBEIRO, 2004, p.203).
Os hospitais da Rede Sarah Kubitschek são referência em arquitetura
hospitalar não só no Brasil, mas no mundo, devido à excelência das suas
arquiteturas. Atualmente esses hospitais são objetos de estudo da pesquisa do
professor Lars Henrik Stahl da Lund University, na Suécia, sobre o Healing
Enviroment e o efeito placebo – do latim placere, que significa “agradarei” – que é
como se denomina o procedimento inerte, e que apresenta efeitos terapêuticos
devido aos efeitos fisiológicos da crença do paciente que está a ser tratado.
Certamente,
se
fossem
ser
construídos
mais
hospitais
da
Rede,
independente de qualquer fator adverso, Lelé construiria uma arquitetura capaz de
ser compreendida e assimilada por todos, atendendo às necessidades físicas e
psicológicas dos usuários, com o intuito da promoção da cura.
238
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois do estudo sobre a trajetória profissional de Lelé e a análise mais
específica de alguns de seus hospitais, percebe-se o compromisso que esse
arquiteto tem para com os seus projetos. Lelé não faz a arquitetura só por fazer. Aí
está embutido o compromisso social e a arte, presentes, dentre outras experiências
realizadas pelo arquiteto, nos hospitais projetados por ele, desde o primeiro, em
Taguatinga, até os hospitais da Rede Sarah, exemplos de instituições humanizadas
e referência em todo o mundo.
A humanização da arquitetura hospitalar é um tema que vem sendo
abordado recentemente por algumas instituições no Brasil e no mundo, com o intuito
de promover uma arquitetura que beneficie o conforto e a sensação de bem estar
entre pacientes e funcionários.
No entanto, é necessário que se entenda o processo de humanização dos
hospitais, buscando, em primeiro lugar, compreender o significado da vida do ser
humano, tarefa que não é fácil, pois envolve vários fatores, tais como os princípios
éticos que regem cada sociedade, os aspectos culturais, econômicos, sociais e
educacionais.
É a partir desse raciocínio que Lelé se destaca, por saber tratar de forma tão
coerente uma arquitetura que se adéqüe a todos, mesmo se tratando de usuários
com pensamentos, classe social e culturas por vezes, tão diferentes.
No transcurso desse trabalho, quando se apresentam os atributos para a
humanização do edifício hospitalar, todos os fatores estudados estão presentes nas
obras dos hospitais projetados por Lelé, mas verifica-se que ele vai muito além. Para
Lelé, a humanização não é apenas o cuidado plástico com o ambiente, mas também
uma arquitetura moldada para oferecer outras prioridades necessárias ao bem estar
do usuário.
A questão da humanização, bem como da sustentabilidade, aparecem na
obra de Lelé não como meros fatores coadjuvantes, mas como protagonistas de
uma arquitetura que está sempre em busca de uma melhor qualidade. Referindo-se
à sustentabilidade, Lelé a defende por meio de uma racionalização e controle de
239
recursos materiais e tecnologias de pouco impacto. No caso dos hospitais, Lelé
elimina o molde convencional com ar-condicionado, e busca soluções alternativas
que diminuam o custo da energia elétrica, que segundo o próprio arquiteto, não
fosse assim, esse custo aumentaria em dez vezes a cada mês.
As soluções sustentáveis adotadas nos projetos da Rede Sarah também
colaboram positivamente para a humanização dessas instituições. As alternativas de
ventilação e iluminação naturais, por exemplo, eliminam os ambientes herméticos.
Nos hospitais projetados por Lelé, esse tipo de ambiente só acontece quando exige
um nível de assepsia elevado, tal como o centro cirúrgico.
O que diferencia a obra de Lelé de outros hospitais que adotam a
humanização como marca a ser seguida, é que esta nasce junto com o projeto,
presente desde as soluções construtivas, até as soluções plásticas. O arquiteto
também não detém de normas pré-estabelecidas para a elaboração do programa de
necessidades para os hospitais da Rede.
É por isso que se pode considerar a sua arquitetura hospitalar como
paradigmática. O arquiteto elimina os ambulatórios tradicionais, o atendimento
médico em consultórios, as enfermarias fechadas e os apartamentos individuais.
O atendimento médico em consultório, por exemplo, foi substituído por
boxes, solução justificada pelo arquiteto como uma alternativa que favorece a
mobilidade das equipes médicas, o que torna o setor bastante mais compacto e
elimina, através do funcionamento integrado do pessoal e da simultaneidade da
utilização dos diversos locais de trabalho, as áreas e equipamentos ociosos que
quase sempre proliferam nos consultórios tradicionais.
As enfermarias, por sua vez, são coletivas nesses hospitais. Os pacientes
dividem o mesmo espaço, cercados por um posto de enfermagem, de onde se tem a
visão de toda a enfermaria, tornando dessa forma o atendimento mais ágil e
deixando o paciente mais seguro, por estar sendo observado pelos profissionais o
tempo todo.
Outra característica desse arquiteto é a sua dedicação à pesquisa sobre os
processos de industrialização da construção em prol do experimento e do avanço de
240
cada projeto. Com esse intuito foi que Lelé viajou para o leste europeu em busca do
conhecimento sobre a nova técnica construtiva que se utilizava por lá, a tecnologia
de racionalização do uso do concreto armado, utilizada naqueles países para a
construção em massa, durante o período de recuperação da segunda guerra,
considerada pelo arquiteto como ideal para ser aplicada no Brasil, enquanto um país
que não dominava a técnica da construção metálica.
Foi com essa técnica de pré-fabricação que foi construído o Hospital Distrital
de Taguatinga e o primeiro hospital da Rede Sarah, o Sarah Central de Brasília.
Logo depois, já na construção do Sarah salvador, o arquiteto já começa a utilizar a
técnica do pré-fabricado em argamassa armada, um material bem mais leve e
flexível, fácil de transportar e instalar, utilizando mão de obra de baixa
especialização.
Esses processos de racionalização e industrialização dos componentes
utilizados na construção civil instigaram o arquiteto a ir mais além. Lelé constrói o
CTRS (Centro de Tecnologia da Rede Sarah) em Salvador, onde administra e
desenvolve pesquisas no campo da pré-fabricação, aliado da tecnologia, para a
produção das peças a serem empregadas em, dentre outras obras, na construção e
manutenção dos hospitais da Rede Sarah. Lá se desenvolvem também
equipamentos médicos, peças do mobiliário que são utilizados nos hospitais, como
as camas-macas, até os troyllers, automóveis adaptados utilizados para o transporte
dos pacientes.
Para a concepção tanto da arquitetura, quanto desses elementos produzidos
no CTRS, Lelé conta com a participação de uma equipe de projeto. Para ele, todo
projeto de arquitetura é um trabalho em equipe e, portanto, resulta de um esforço
coletivo, onde na sua visão, o que interessa é a obra em si.
Diante dessas considerações abordadas acima, pode-se considerar Lelé
como um arquiteto de experimentação, ou seja, a cada projeto um novo avanço. É
isso que ocorre nos hospitais da Rede Sarah.
Tem-se o Hospital Distrital de Taguatinga modelo que norteia a construção
dos hospitais da Rede. Nesse primeiro hospital, já se propunha a flexibilidade dos
espaços internos sempre que possível ligados a áreas verdes; a independência de
241
circulações de pacientes e pessoal; a facilidade de manutenção, tanto dos espaços
quanto das instalações e a previsão para possíveis acréscimos futuros.
No Sarah Central de Brasília, segundo hospital projetado por Lelé e primeiro
da
Rede
Sarah,
algumas
mudanças
já
começam
a
aparecer
e
assim
sucessivamente em todos os outros hospitais projetados em seguida, por uma
questão de evolução dos estudos de Lelé. Assim como afirma o arquiteto, a cada
hospital que está sendo projetado: “Não quero dizer que este modelo seja o melhor,
mas é nesse que estamos evoluindo.”
O que não se pode negar é a vontade do arquiteto de fazer uma arquitetura
hospitalar mais humana. Após várias leituras sobre a evolução da arquitetura
hospitalar e a humanização de hospitais, percebe-se que os hospitais da Rede
Sarah se adequavam perfeitamente nesse contexto, daí a necessidade e o desejo
de estudá-los.
No entanto, nada mais importante do que vivenciar esses conceitos
estudados e experimentar as sensações causadas por eles. As visitas, realizadas
durante a pesquisa, aos hospitais Sarah Central de Brasília, Sarah Lago Norte e
Sarah Salvador, foram sem dúvida, essenciais para a conclusão deste estudo, sob o
ponto de vista da humanização.
A cada instituição nota-se o trabalho minucioso do arquiteto, que se apega a
cada detalhe para conceber sua arquitetura e uma arquitetura que é para todos.
Indiscutivelmente, um arquiteto que deixou seu legado, uma referência para a
arquitetura brasileira.
E como ele mesmo diz: “A arquitetura só é boa para mim, se for boa para
todos, ai sim, me sinto realizado.”
242
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ct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=3d331065e1805ef0d
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VOELKER, Rebecca. “Pebbles” Cast ripples in health care design. Medical
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VASCONCELOS, Renata Thaís Bomm (2004). “Humanização de Ambientes
Hospitalares: Características Arquitetônicas Responsáveis pela Integração
Interior/Exterior.” Pesquisado em 22/09/09. Disponível em: <
http://www.posarq.ufsc.br/defesas/dissertacao007.pdf>
APÊNDICES
APÊNDICE A
FICHA TÉCNICA HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASÍLIA
Nome do Projeto: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK – BRASÍLIA – DOENÇAS DO
APARELHO LOCOMOTOR
Local: SMHS – Qd 101 – Bloco n.45 – Asa Sul – CEP 70334-900 – BRASÍLIA – DF
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1976
Data de Execução: 1976-1980
Área do Terreno: 48.696,16m²
Área Construída: 45.409,32m²
Arquitetura (equipe): Claudio Bois; Haroldo Pinheiro; Jacó Sanowcz; José Lourenço
de Souza; Kristian Schiel; Marlene Aparecida Freire; Marco Antônio Pinheiro;
Rubens Lara Arruda;
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: Joaquim Cambraia
(obra); Equiphos Equipamentos Hospitalares;
Paisagismo: Alda Rabello
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Valter Felipe
Estrutura: Carlos Fregelli
Especialidades: Cirurgia ortopédica; Lesado Medular; Lesado Cerebral; Reabilitação;
Equipe multidisciplinar de Atendimento;
Maquete: Joaquim Anacleto
APÊNDICE B
FICHA TÉCNICA HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK SALVADOR
Nome do Projeto: HOSPITAL DO APARELHO LOCOMOTOR SARAH KUBITSCHEK
Loca: Av. Presidente Tancredo Neves, 2782, Caminho das Árvores, CEP 41820090
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1991
Data de Execução: 1992 – 1994
Área do Terreno: 128.395,84m²
Área Construída: 27.000,00m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Martins Monteiro; Haroldo Pinheiro;
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: CTRS
Paisagismo: Beatriz Secco
Integração de obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Eustáquio Ribeiro; George Paulino;
Estrutura: Lucílio Vittorino; Roberto Vittorino;
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Programa: 178 leitos
Especialidades: Lesador Medular; Lesado Cerebral; Reabilitação;
Maquete: Joaquim Anacleto
Fotografias: Celso Brandão
Fotografias da Maquete: Celso BrandãoFotografias da Obra: Celso Brandão e
Ângelo Sá.
APÊNDICE C
FICHA TÉCNICA HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK LAGO NORTE
Local: SHI – Norte – Qd 13 – Lago Norte – CEP 71536000 – BRASÍLIA – DF
Autores: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data do Projeto: 1995
Data de Execução: 1998 – 2001
Área do Terreno: 80.750,00m²
Área Construída: 25.241,00m²
Arquitetura (equipe): Ana Amélia Monteiro; André Borém; Neuton Barcelar; Sônia
Almeida;
Projetos, construção e equipamentos hospitalares: CTRS e Equiphos
Paisagismo: Beatriz Secco
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Eustáquio Ribeiro, George Raulino e Kouzo Nischiguti
Estrutura: Roberto Vitorino
Gerência de Oficinas do CTRS: Metalurgia Pesada – Waldir Silveira; Metalurgia Leve
– Hurandy Matos; Marcenaria – Jurandir Amorim; Pré – Moldados – Tomaz Aragão;
Plásticos – Joaquim Anacleto;
Porte: 160 leitos
Especialidades: Reabilitação e Neurociências
Maquete: Joaquim Anacleto
Fotografias: Celso Brandão
Fotografias da obra: Sílvio Pereira
Desenhos técnicos: Maristela Carvalho Oliveira; Sônia Almeida; Paulo Magalhães
APÊNDICE D
FICHA TÉCNICA HOSPITAL SARAH KUBITCHEK RIO DE JANEIRO
Nome do Projeto: CENTRO INTERNACIONAL SARAH DE
NEURORREABILITAÇÃO E NEUROCIÊNCIAS
Local: Av. Embaixador Abelardo Bueno N. 1500 – Jacarepaguá – Rio de Janeiro –
RJ
Autor: João Filgueiras Lima (Lelé)
Categoria de Uso: Hospitalar
Data de Projeto: 2001 (data do ante-projeto, o projeto se desenvolve durante a
execução da obra)
Data de início da obra: 2002
Data prevista para a finalização: 2007
Área do Terreno: 87.000m²
Área Construída: 54.376m² (incluindo o pavimento técnico)
Arquitetura: Centro de tecnologia da Rede Sarah – João Filgueiras Lima
(coordenador geral); Francisco A. N. Filho (superintendente); Walmir Bulhon
(coordenador administrativo / Rio); Adriana Filgueiras Lima (coordenadora
administrativa da obra); Ana Amélia Monteiro (coordenadora técnica do projeto);
José Otávio Veiga, Antônio Eduardo Noronha, André Borem, Neuton Bacelar,
Josenias dos Santos e Sônia Imeida (equipe técnica da obra);
Projeto, construção e parte dos equipamentos hospitalares: Centro de Tecnologia da
Rede Sarah
Integração de Obras de Arte: Athos Bulcão
Instalações: Kouso Nishiguti, Renato Messia e Antônio Leão Lírio
Estrutura: Roberto Vitorino
Conforto Térmico: George Raulino;
Gerência de oficina do CTRS: Hrandy Matos (metalurgia leve); Waldyr Silveira
(Metalurgia Pesada); Jurandir Amorim (fibra de vidro, marcenaria); Tomaz Bacelar
(pré-moldados); Inês Ribeiro Alves (comunicação visual);
Fotos: Celso Brandão
Especialidades: doença do aparelho locomotor e reabilitação.
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Marisa Eulalio Rocha - início