Apontamentos: Escudo Volume 1: Portugal (1910-1932) Nuno Couto Apontamentos: Escudo Para a Renata 1 Apontamentos: Escudo 2 Apontamentos: Escudo Introdução A compreensão e o estudo de uma colecção são algo nunca terminados. A capacidade de compreender o porquê de determinadas escolhas em termos de metais e volume de emissões só se compreendem pelo estudo do estado económico e financeiro do momento. Por outro lado, é importante compreender e perceber o porquê de determinados símbolos usados nas moedas e nas notas e a razão de determinadas referências a certas figuras e momentos da nossa história. Assim, para melhor acompanhar a minha colecção pessoal, meti mãos à obra para melhor compreender o que tinha à minha frente. Desta forma, a colecção tem não só as histórias relacionadas com a aquisição desta ou daquela peça, mas também se é capaz de explicar porque surgiram moedas de ferro, ou porque são tantas as moedas comemorativas do tempo dos descobrimentos. Não será um guia completo, será mais uma pequena introdução. Será como que um resumo tipo American Express®, passe a publicidade para uma qualquer viagem, um bom ponto de partida. A organização foi cronológica, procurando-se explicar os símbolos colocados em cada moeda, as comemorações e as suas características técnicas. Cada moeda tem uma ficha técnica com numeração pessoal. As notas surgem de acordo com a sua introdução (data impressa) fazendo-se uma descrição das várias assinaturas presentes, características técnicas e por fim, descrição da bibliografia da personagem invocada. Tal como nas moedas foi colocado uma caixa de ficha técnica por chapa. Embora não sejam notas, foi dada atenção às Cédulas da Casa da Moeda e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa aceites para todo o país em determinado momento. Como para compreender estas peças é necessário compreender os seus autores, foi colocada uma curta biografia dos escultores destas belas peças. Em relação às notas optou-se por descrição das tipografias responsáveis pela produção das notas. Sempre que surgiu um tipo de metal ou liga novo foi também feito a sua caracterização. Organizou-se para mais fácil consulta toda a obra em vários volumes: Portugal 1910-1932, Portugal 1933-1986, Portugal 1987-2001, Portugal – Emissões especiais, erros e variações e outras curiosidades e Legislação. Será posteriormente produzidos volumes referentes às emissões realizadas nas Colónias no mesmo período. Espero que a sua leitura seja tão interessante como a sua produção. 3 Apontamentos: Escudo 4 Apontamentos: Escudo Lei de 22 de Maio de 1911 Os subscritores do decreto fundador do escudo (da esquerda para a direita): Teófilo Braga, António José de Almeida, Bernardino Machado, José Relvas, António Xavier Correia Barreto, Amaro de Azevedo Gomes, Manuel de Brito Camacho. Após a substituição de todos os grandes símbolos de regime, faltava substituir a moeda corrente. De facto, é sem grande fantasia que se pode imaginar algumas das grandes figuras do regime republicano a discutir a vergonha que poderia transparecer de um regime republicano ter como moeda o Real com bustos de antigos monarcas. José Simões de Almeida O antigo sistema criado cinco séculos antes embora tendo sofrido várias evoluções e revoluções estava caduco e era perfeitamente desadequado. Tal como é referido no decreto fundador, era já desadequado o sistema, o toque de moedas de prata e ouro. De facto, o valor de 1 real era irrisório, levando a utilização para valores correntes a um mínimo de dois zeros. Para além deste facto a moeda estava muito desvalorizada quando comparada com as moedas das grandes potências europeias (fruto das desvalorizações após a crise do Ultimato). Assim, a nova moeda, teria o valor nominal equivalente a 1000 réis. Escultor português (1880-1950) formado na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1903, onde trabalhou como docente posteriormente. Responsável pelo busto oficial da República e por várias obras em monumentos nacionais (como o Palácio de São Bento, Câmara Municipal de Lisboa ou Monumento ao Marquês de Pombal). A sua ligação ao desenvolvimento do busto oficial levou-o a participar no concurso para as primeiras moedas de escudo, tendo o estudo sido escolhido para as moedas de prata então criadas. O sistema foi totalmente revolucionado com novas moedas em ouro (1$, 2$, 5$ e 10$), em prata ($10, $20, $50 e 1$) e bronze-níquel (4, 2, 1 e 0,5 centavos). Destas as de ouro nunca seriam produzidas e as de bronze-níquel sofreriam ainda várias alterações até serem produzidas. Outro dos problemas invocados em relação ao Real, era a existência de diferentes toques de prata na amoedação e ser este toque pouco conveniente para a produção aquela época de moeda (916/1000 para as moedas de 500 e 1000 réis; 835/1000 para as restantes). Assim, definiu-se para as de 1$ toque de 900 milésimas (semelhante ao utilizado na Espanha) e de 835 milésimas para as restantes. Este toque seria depois reformulado (lei 220 de 30/06/1914) passando as de 1$ também a ter toque de 835 milésimas. Embora definindo cuidadosamente os custos de produção da nova numária a lei não enumerou vários pontos importantes: quando entrariam em circulação as novas moedas (pressupõese que poderia ser a partir da data da sua publicação, mas as primeiras moedas só começam a circular em 1913), data de recolha da numária monárquica, possível período de transição (é referido um período de três a quatro anos para toda a nova numária ser produzida, algo impossível com as condições financeiras do estado e capacidade produtiva da Casa da Moeda à época), regras e datas para os concursos a abrir para os novos desenhos (situação que conduziria a grande celeuma posteriormente), a questão das moedas de ouro poderem ser cunhadas a título particular (trocando ouro puro por moeda) sem qualquer definição do aspeto da moe- 5 Apontamentos: Escudo da ou volumes de circulação (de facto, estas moedas nunca passaram das provas). Todas estas indefinições são um bom exemplo da incapacidade de governar um país verdadeiramente ingovernável e será verdadeiramente visível para incapacidade de cumprir em praticamente todos os pontos esta lei criadora do Escudo. Fica no entanto para a história este documento como o primeiro do Escudo moeda que quase chegou aos cem anos de vida e acompanhou Portugal em praticamente todo o século XX. Das moedas previstas neste decreto só seriam produzidas as de prata ($10, $20, $50 e 1$). Em relação às moedas de 1$, refira-se novamente a reforma em relação ao toque em prata ocorrido posteriormente. As moedas com autoria de José Simões de Almeida eram muito semelhantes entre si. Assim, no anverso surgia o valor facial na base do escudo republicano envolvido por ramos de oliveira. O reverso apresentava a legenda “Republica Portuguesa”, a era de cunhagem na base e no campo a efígie da República com barrete frígio com ramos de trigo a olhar à esquerda. O Brasão de Armas O Brasão de Armas de Portugal pode ser descrito heraldicamente do seguinte modo: “(…)de prata, com cinco escudetes de azul, postos em cruz, cada um carregado por cinco besantes de prata, postos em aspa; bordadura de vermelho carregada de sete castelos de ouro; o escudo sobreposto a uma esfera armilar, rodeada por dois ramos de oliveira de ouro, atados por uma fita verde e vermelha» Quanto ao seu significado, a explicação lendária do escudo de prata carregado de escudetes azuis besantados de prata nasceria da mítica batalha de Ourique, na qual segunda a lenda, Cristo teria aparecido a D. Afonso Henriques prometendo-lhe a vitória, se adotasse por armas as suas chagas (em número de cinco, donde os cinco escudetes); sobre a origem dos besantes, diz-se ser a representação dos trinta dinheiros pelos quais Judas vendeu Jesus aos romanos (dobrando-se o número cinco no escudete central, por forma a totalizar trinta e não vinte cinco). Contudo, sabe-se pelos selos régios e numismática que o número de besantes mudou bastante ao longo da primeira dinastia, logo havendo um significado heráldico, não poderia ser esse. Outros afirmam ser a prova da soberania portuguesa face a Leão, pelo direito que assistia ao soberano de cunhar moeda própria - de que os besantes mais não são que a constatação heráldica desse facto. A bordadura de vermelho carregada de sete castelos de ouro representa, segundo a tradição, o antigo reino mouro do Algarve, conquistado por Afonso III em 1249; a sua origem, porém, é muito mais obscura, sendo que, por Afonso III ser irmão de Sancho II, não podia usar armas limpas - e dessa forma, para marcar a diferença face às armas do pai e do irmão, foi buscar às armas maternas (de Castela), o elemento central para o distinguir (os castelos em bordadura vermelha, tal como as armas de Castela eram um castelo de ouro sobre fundo vermelho). Para além disso, a bordadura, em certos momentos da história, já possuiu mais do que os sete castelos atuais. Por fim, a esfera armilar de ouro, símbolo pessoal de D. Manuel I representa a expansão marítima dos Portugueses ao longo dos séculos XV e XVI. Historicamente, a associação da esfera 6 Apontamentos: Escudo armilar a D. Manuel deu-se aquando da sua investidura no Ducado de Beja por D. João II, em 1484, logo após o assassínio do seu irmão D. Diogo, Duque de Viseu, tendo D. João concedido a D. Manuel, por empresa a esfera armilar, e por mote a misteriosa palavra Spera (que, pela confusão entre o p e o dígrafo ph, com valor de f, acabou sendo lida como Sfera, criando um jogo de palavras entre a esfera, como representação do mundo, e a espera de D. Manuel para alcançar um trono ao qual nunca havia pensado chegar). Efígie da República A imagem da República foi adotada como símbolo da República Portuguesa, na sequência da implantação do novo regime, a 5 de Outubro de 1910. A imagem da República Portuguesa foi representada de várias formas, seguindo o modelo genérico da Liberdade de Eugéne Delacroix, individualizando-se, apenas, pelas cores vermelha e verde das suas roupas (cores da nova Bandeira Nacional). A partir de 1912 o busto da República, esculpido por Simões de Almeida, torna-se o padrão oficial da imagem da República Portuguesa, sendo usado como efígie nas moedas de escudo e de centavos e colocado nas repartições públicas. O busto da República passou a ser considerado um dos símbolos nacionais de Portugal, a par do retrato oficial do Presidente da República, do brasão de armas, da bandeira e do hino. Tornou-se obrigatória a existência de uma reprodução do busto da República, em local de destaque, em todos os edifícios públicos. Entretanto, ao contrário do que aconteceu com os restantes símbolos nacionais, o uso da imagem da República foi caindo em desuso, sendo, hoje, raro. Ficha Técnica Peso: 2,5 g Diâmetro: 20 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: José Simões de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano 1915 Cunhagem 3 419 000 Código 005.01 7 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 5 g Diâmetro: 24 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: José Simões de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano 1913 1916 Cunhagem 539 775 706 225 Código 002.01 002.02 Ficha Técnica Peso: 12,5 g Diâmetro: 30 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: José Simões de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano 1912 1913 1914 1916 Cunhagem 1 695 000 4 443 298 4 991 790 5 079 935 Código 001.01 001.02 001.03 001.04 5$00 Ch. 1 Alexandre Herculano Inocêncio Camacho Rodrigues 8 António José Gomes Netto João Pereira Cardoso Henrique Matheus dos Santos João da Mota Gomes Júnior José Paixão Castanheira das Neves José Félix da Costa Apontamentos: Escudo Augusto José Cunha Manuel António Dias Ferreira Duarte Augusto Abrantes Bizarro Ruy Ennes Ulrich Francisco Maria da Costa A introdução da nova numária, bem como das novas notas era tudo menos simples. As dificuldades em criar novas notas associada às necessidades impostas pela falta de dinheiro metálico levaram ao lançamento para a circulação em 7/1911 e 12/1912 de duas chapas de notas em réis (5000 réis chapa 7 e 20000 réis chapa 9) já fabricadas e em armazém na Casa da Moeda com o carimbo “República Portuguesa” sobre o escudo monárquico. Foi neste contexto que surgiu o aproveitamento das notas criadas para o valor de 5000 réis com a Bradbury Wilkinson & Co Ltd efígie de Alexandre Herculano previamente produzidas em Londres Antiga companhia inglesa de produção (Bradbury, Wilkinson & Co Ltd) alterando o valor monetário para o atual 5$. de notas, selos e certificados de ações. A companhia original foi fundada em Neste contexto nasceu a primeira nota republicana (5$00 Ouro chapa 1 1856 por Henry Bradbury (1831-60). Alexandre Herculano com data de 29 de Julho de 1913) emitida a partir de Em 1861 a companhia estabeleceu-se em New Malden no Surrey onde se 10 de Outubro de 1914. Esta nota tal como outras de baixo valor emitidas neste período (durante a Primeira Grande Guerra e nos anos de pós-guerra) tiveram como objetivo minimizar os problemas causados pela falta de moeda metálica. A profusão de chapas em diferentes valores (alguns a sobreporem-se à moeda metálica) assim como de posteriormente de cédulas levou praticamente ao colapso do sistema financeiro português só resolvido com a reforma de Salazar. manteve até 1986 quando a De La Rue a adquiriu. A Bradbury Wilkinson foi a firma criadora das notas de polímero com o material Tyvek da Du Pont. Esta nova forma de fazer notas foi utilizada pela primeira vez nas notas de 1 pound para a Ilha de Man. As chapas foram gravadas na casa londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltdque ficou responsável pela estampagem. O desenho do retrato de Alexandre Herculano e da Torre de Belém (verso) foram da autoria do gravador da Casa da Moeda Armando Pedroso. A frente com estampagem calcográfica em violeta sobre fundo tipográfico azul e amarelo de linhas ondeadas que se cruzam. Em ambos os processos foram aplicada ornamentação em guilhoché em linha branca e preta. O reverso em castanho, é totalmente em técnica calcográfica com trabalho de torno geométrico em linha branca, fundo tipográfico com linhas ondulantes paralelas verticais, ao centro em amarelo o qual se esbate para verde nos lados. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) impresso tipograficamente, foi inicialmente aposto nas oficinas do Banco de Portugal mas nas edições posteriores a 12/01/1921 foi realizado após novo contrato na firma estampadora. O papel foi fabricado pelo papeleiro francês Perrigot-Masurede d’Arches nos Vosgues. Como único elemento de segurança a marca de água com uma cabeça de Minerva, de perfil a olhar o centro e à esquerda, em baixo, legenda “Banco de Portugal” em letra sombreadas bordadas de um reflexo claro. 9 Apontamentos: Escudo Alexandre Herculano Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, foi um poeta, historiador, jornalista português da era do romantismo (natural de Lisboa 1810 – Santarém 1877). Marcado na infância pelas invasões francesas e consequente influxo de ideais liberais que estiveram na base da Revolução de 1820 foi aluno do Colégio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Nery, então instalados no Convento das Necessidades em Lisboa até aos 15 anos. Aqui recebeu uma formação de índole essencialmente clássica, mas aberta às novas ideias científicas. Impedido de prosseguir estudos universitários (o pai cegou em 1827, ficando impossibilitado de prover ao sustento da família) 10 Apontamentos: Escudo ficou disponível para adquirir uma sólida formação literária que passou pelo estudo de inglês, francês, italiano e alemão, línguas que foram decisivas para a sua obra literária. Com apenas 21 anos, participou, em circunstâncias nunca inteiramente esclarecidas, na revolta de 21 de Agosto de 1831 do Regimento n.º 4 de Infantaria de Lisboa contra o governo ditatorial de D. Miguel I, o que o obrigará, após o fracasso daquela revolta militar, a refugiar-se num navio francês fundeado no Tejo e posteriormente ao exílio em Inglaterra e França. Mais tarde juntou-se a D. Pedro IV na Ilha Terceira, alistado como soldado no Regimento dos Voluntários da Rainha. Neste contexto combateu no cerco do Porto, tendo como soldado, participado em ações de elevado risco e mérito militar. Nomeado por D. Pedro IV como segundo bibliotecário da Biblioteca do Porto, aí permaneceu até ter sido convidado a dirigir a Revista Panorama, de Lisboa, revista de carácter artístico e científico de que era proprietária a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, patrocinada pela própria rainha, de que foi redator principal de 1837 a 1839. Em 1842 retomou o papel de redator principal e publicou o Eurico o Presbítero, obra maior do romance histórico em Portugal no século XIX. Mas a obra que vai transformar Alexandre Herculano num dos maiores portugueses do século XIX é a sua História de Portugal, cujo primeiro volume é publicado em 1846. Obra que introduz a historiografia científica em Portugal, não podia deixar de levantar enorme polémica, sobretudo com os sectores mais conservadores, encabeçados pelo clero. O prestígio que a História de Portugal lhe granjeara leva a Academia das Ciências de Lisboa a nomeá-lo seu sócio efetivo e a encarregá-lo do projeto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica (recolha de documentos valiosos dispersos pelos cartórios conventuais do país), projeto que empreende de 1853 a 1854. Herculano permanecerá fiel aos seus ideais políticos e à Carta Constitucional não aderindo ao movimento do Setembrismo. Apesar de estreitamente ligado aos círculos do novo poder Liberal (foi deputado às Cortes e preceptor do futuro Rei D. Pedro V), recusou fazer parte do primeiro Governo da Regeneração, chefiado pelo Duque de Saldanha. Recusou honrarias e condecorações e, a par da sua obra literária e científica, de que nunca se afastou inteiramente, preferiu retirar-se progressivamente para um exílio que tinha tanto de vocação como de desilusão. Ainda desempenhando o cargo de Presidente da Câmara de Belém (1854 de 1855), cargo que abandona rapidamente. Em 1867, após o seu casamento com D. Mariana Meira, retira-se definitivamente para a sua quinta de Vale de Lobos (arredores de Santarém) para se dedicar (quase) inteiramente à agricultura e a uma vida de recolhimento espiritual. Em Vale de Lobos, Herculano exerce um autêntico magistério moral sobre o País. Na verdade, este homem frágil e pequeno, mas dono de uma energia e de um carácter inquebrantáveis era um exemplo de fidelidade a ideais e a valores que contrastavam com o pântano da vida pública portuguesa. Aquando da segunda viagem do Imperador do Brasil a Portugal, em 1867, Herculano entendeu retribuir, em Lisboa, a visita que o monarca lhe fizera em Vale de Lobos, mas devido à sua débil saúde contraiu uma pneumonia dupla de que viria a falecer, em Vale de Lobos, em 13 de Setembro de 1877.Encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos. 11 Apontamentos: Escudo Torre de Belém A Torre de Belém é um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Localiza-se na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém. Inicialmente cercada pelas águas em todo o seu perímetro, progressivamente foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje à terra firme. O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna). Originalmente sob a invocação de São Vicente, padroeiro da cidade de Lisboa, designada no século XVI pelo nome de Baluarte de São Vicente a par de Belém e por Baluarte do Restelo, esta fortificação integrava o plano defensivo da barra do rio Tejo projetado à época de D. João II de Portugal (1481-95), integrado na margem direita do rio pelo Baluarte de Cascais e, na esquerda, pelo Baluarte da Caparica. A estrutura só viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de D. Manuel I de Portugal (14951521), tendo como arquiteto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas águas do rio, fronteiro à antiga praia de Belém, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as Índias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca que, à época, também dirigia as já adiantadas obras do vizinho Mosteiro dos Jerónimos. Concluída em 1520, foi seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a função no ano seguinte.Com a evolução dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi, gradualmente, perdendo a sua função defensiva original. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Os seus paióis foram utilizados como masmorras para presos políticos durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580-1598), e, mais tarde, por D. João IV de Portugal (1640-1656). Sofreu várias reformas ao longo dos séculos, principalmente a do século XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim. Classificada como Monumento Nacional por Decreto de 10 de Janeiro de 1907, é considerada como Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Naquele mesmo ano integrou a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura. 12 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 5$00 Chapa: 1 Frente: Alexandre Herculano Verso: Torre de Belém Marca de água: Cabeça de Minerva Medidas: 146x95 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:10-10-1914 Última emissão: 22-08-1928 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data Emissão Combinações de Assinaturas 29-07-1913* 1 900 000 10 30-10-1914 2 100 000 12 31-10-1916 2 100 000 10 26-03-1918 1 900 000 11 17-06-1919 1 200 000 12 25-06-1920 2 000 000 12 01-02-1923 10 540 000 10 * Existe com a palavra OURO a preto e a vermelho. As Primeiras Moedas de 1 Escudo Manuel de Arriaga (Presidente da República) e António dos Santos Lucas, ministro das Finanças em 1914, subscritores das leis 220 e 927 de 1914, a primeira que altera o toque de prata das moedas de 1$ e cria a moeda comemorativa de Implantação da República, a segunda que autoriza a emissão da moeda comemorativa. Curiosamente as primeiras moedas de 1 escudo surgem apenas em 1914. Embora previstas na lei 122 fundadora do escudo, as dificuldades financeiras tinham já provocado uma pequena alteração no toque de prata (dos iniciais 900 milésimas passou a 835 milésimas como as restantes) publicado no ponto 20 da lei 220 de 1914 (lei do orçamento de estado desse ano). As restantes características técnicas (peso, diâmetro) mantiveram-se, facto que permitia poupar uma percentagem de prata não desprezível em cada peça. As dificuldades no contexto da primeira grande guerra faziam-se sentir e embora estivesse previsto que as moedas de mais baixo valor tivessem cunho próprio para comemoração da implantação da república, na verdade apenas o primeiro milhão de moedas de 1 escudo teve essa benesse. Os ganhos obtidos com esta amoedação (descrito na mesma lei em 613 616$, após retirados os custos respetivamente de 21 980 kg prata 377 640$, 4 145 kg de cobre 1 244$ e custos de produção 7 500$ à receita de 1 000 000$). Este lucro significativo à época explica o abandono de moedas comemorativas em valores monetários inferiores conforme inicialmente previsto. Estes valores monetários foram empregues em despesas com a defesa nacional. 13 Apontamentos: Escudo A necessidade de encontrar rapidamente o tema a ser colocado nas novas moedas (a lei tinha sido publicada em Fevereiro e as moedas deveriam sair em Outubro) Francisco dos Santos Escultor português (1878-1930). Aluno decorreu um concurso para a seleção do desenho para a nova moede Simões de Almeida (tio), na Escola da. Esse concurso provocaria grande celeuma por incumprimento de de Belas-Artes de Lisboa onde se matriculou em 1893. Em 1903 partiu datas de apresentação de alguns dos concorrentes. A seleção inicialpara Paris, onde frequentou o atelier mente teria recaído sobre moeda com o tema Pátria, ficando o tema de Charles Verlet e, mais tarde, em Roma. Aí, em 1906, executou a estátua Alvorada em segundo. Por motivos desconhecidos, o certo é que Crepúsculo (hoje no Museu do Chiado). vingou o segundo tema. Este de autoria de Francisco Santos é uma Regressou a Portugal em 1909 e bela composição do novo estilo art noveau. Nesta composição, uma participou, no ano seguinte, no concurso da Câmara Municipal de Lisboa das mais belas da numária da República encontramos um fundo com para eleição do busto oficial da Repúo nascer do Sol, e em primeiro plano a figura da esfinge da República blica portuguesa, do qual saiu vencedor. vestida com a nova bandeira republicana e ostentando na mão direiEm 1913 esculpiu Salomé, considerada a sua obra-prima (também no Museu ta uma tocha. A Republica Portuguesa como a luz e guia de uma nova do Chiado). Entre 1915 e 1917 realiza era. Um Beijo e Nina (no mesmo Museu) e, em 1920, concebeu Prometeu (no Jardim Constantino, frente à Assembleia Distrital de Lisboa). O curioso foi o reverso selecionado ter também ficado em segundo lugar no concurso (mas no concurso para as moedas de ouro terminado em 5 de Dezembro de 1913). Neste reverso o escudo nacional assenta num fascio romano e é circundado por vergônteas de louro e carvalho. Foi assim criada a primeira moeda comemorativa do escudo, curiosamente com dois autores. As duas primeiras moedas cunhadas em 28 de Agosto de 1914 encontram-se atualmente no Museu Numismático da Casa da Moeda. As moedas de 1 escudo apresentavam 37 mm de diâmetro, 25 g de peso e bordo serrilhado. As moedas correntes com autoria de José Simões de Almeida eram semelhantes às de $10, $20 e $50 já referidas. A moeda comemorativa, apresentava no anverso à direita do campo, tendo em fundo o Sol nascente sobre a Terra, a figura simbólica da República, de meio corpo à esquerda, envolvida na bandeira nacional e empunhando uma tocha acesa na mão direita, tendo por baixo a inscrição “5 de Outubro de 1910”, em três linhas e, na orla superior, a legenda “República Portuguesa”, entre pares de estrelas. O reverso apresentava ao centro do campo, o escudo das Armas Nacionais assente num fascio romano de varas e machado, circundado por vergônteas de louro e de carvalho entrelaçadas em baixo por um laço e, na orla inferior, o valor “1 Escudo”. Implantação da República A República Portuguesa foi proclamada em Lisboa a 5 de Outubro de 1910. Nesse dia foi organizado um governo provisório, que tomou o controlo da administração do país, chefiado por Teófilo Braga, um dos teorizadores do movimento republicano nacional. Iniciava-se um processo que culminou na implantação de um regime republicano, que definitivamente afastou a monarquia. Este governo, pelos decretos de 14 de Março, 5, 20 e 28 de Abril de 1911, impôs as novas regras da eleição dos deputados da Assembleia Constituinte, reunida pela primeira vez a 19 de Junho desse ano, numa sessão onde foi sancionada a revolução republicana; foi abolido o direito da monarquia; e foi decretada uma república democrática, que veio a ser dotada de uma nova Constituição, ainda em 1911. 14 Apontamentos: Escudo A implantação da República é resultante de um longo processo de mutação política, social e mental, onde merecem lugares de destaque os defensores da ideologia republicana, que conduziram à formação do Partido Republicano Português (PRP), no final do século XIX. O Ultimato inglês, de 11 de Janeiro de 1890 e a atitude da monarquia portuguesa perante este cato precipitaram o desenvolvimento deste partido no nosso país. De 3 de Abril de 1876, quando foi eleito o Diretório Republicano Democrático, até 1890, altura em que se sentia a reação contra o Ultimato e a crítica da posição da monarquia, a oposição ao regime monárquico era heterogénea e desorganizada. Contudo a “massa eleitoral” deste partido conseguiu uma representação no Parlamento em 1879, apesar de pouco significativa, numa altura em que a oposição ao regime era partilhada nomeadamente com os socialistas, também eles pouco influentes entre a população. Em 1890, o partido surgiu quase do vazio, para um ano depois do Ultimato publicar um manifesto, elaborado pelo Diretório, em que colaboraram: Azevedo e Silva; Bernardino Pinheiro; Francisco Homem Cristo; Jacinto Nunes; Manuel de Arriaga e Teófilo Braga. Este manifesto saiu a 11 de Janeiro de 1891, umas semanas antes da tentativa falhada de implantar a República de 31 de Janeiro. Após o desaire desta tentativa, o partido enfrentou grandes dificuldades; no entanto, a 13 de Outubro de 1878, fora eleito o primeiro representante republicano, o deputado José Joaquim Rodrigues de Freitas. Nos últimos quinze anos de vida da monarquia portuguesa o Diretório do Porto e o P.R.P., apesar de algumas divergências, trabalharam em conjunto. Na cidade do Porto o periódico A Voz Pública desempenhou um papel importante em prol da propagação dos ideais republicanos, tal como os de Duarte Leite, lente da Academia Politécnica. Em Lisboa circulavam O Mundo, desde 1900, e A Luta, desde 1906. Após um período de grande repressão, o movimento republicano entrou de novo na corrida das legislativas em 1900, conseguindo quatro deputados: Afonso Costa, Alexandre Braga, António José de Almeida e João Meneses. Nas eleições de 28 de Agosto de 1910 o partido teve um resultado arrasador, elegendo dez deputados por Lisboa. E a 5 de Outubro desse ano era proclamada a República Portuguesa, na sequência de revolução militar com início em Lisboa. A revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 foi preparada por elementos da burguesia, profissionais liberais com um nível de instrução elevado, muitos deles ligados à Maçonaria ou à Carbonária, e alguns oficiais de patente relativamente baixa. Com o eclodir do golpe a 4 de 15 Apontamentos: Escudo Outubro, outras camadas da população lisboeta aderiram, prestando auxílio aos revoltosos e negando-o aos fiéis à monarquia. No que diz respeito às operações militares, a queda do regime monárquico foi decidida num pequeno ponto da capital. Concentrados na Rotunda sob o comando de Machado Santos, os poucos efetivos da revolta contaram com a ajuda preciosa da população, que espontaneamente colaborava com informações, expressões de estímulo e mesmo o desejo de combater a seu lado, a ponto de, a certa altura, não haver armas para todos os que aderiam. Em várias localidades do País, levadas as notícias pelo telégrafo, a República ia sendo proclamada, quando era ainda incerto o desfecho dos acontecimentos em Lisboa. Os combates duraram menos de dia e meio. Desmoralizado desde o Regicídio, e com D. Manuel II a partir apressadamente para o exílio, o regime monárquico quase não foi capaz de se defender. O único resistente digno de referência foi Henrique de Paiva Couceiro, que ainda chegou a pôr em perigo as posições dos revolucionários. A adesão da Marinha ao golpe, porém, foi decisiva no assegurar da vitória republicana. Ficha Técnica Peso: 25 g Diâmetro: 37 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: José Simões de Almeida Decreto-lei: 122 de 26/05/1911 e 220 de 30/06/1914 Ano e taxa de recolha: 1932 (0,3%) Ano 1915 1916 16 Cunhagem 1 817587 4 406 374 Código 006.01 006.02 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 25 g Diâmetro: 37 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor:Francisco dos Santos e José Simões de Almeida Decreto-lei: 220 de 30/06/1914 e 927 de 03/10/1914 Ano 1914 (ND) Cunhagem 1 000 000 Código 004.01 20$00 Ch. 1 Almeida Garrett Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos Augusto José Cunha José Paixão Castanheira das Neves Duarte Augusto Abrantes Bizarro Júlio Oliveira Bastos Francisco Maria da Costa João Pereira Cardoso Manuel António Dias Ferreira João da Mota Gomes Júnior Ruy Ennes Ulrich José Félix da Costa A falta de moeda metálica agravou-se com o despoletar da Primeira Grande Guerra. Para suprir essa necessidade foram criadas várias novas notas. A primeira chapa criada sobre os auspícios da República (dado que a anterior foi herdada da Monarquia), foi a Chapa 1 de 20$00 que prestou homenagem a Almeida Garrett. 17 Apontamentos: Escudo Carimbo Reino de Portugal No seguimento do assassinato do Presidente da República, Sidónio Pais, em14/12/1918, aumentou consideravelmente a instabilidade políticomilitar em Portugal.No dia 19/01/1919, no Porto, foi proclamada a Monarquia, a chamada Monarquia do Norte, ficando Paiva Couceiro àfrente da designada Junta Governativa do Reino. Este movimento de restauração damonarquia teve grande acolhimento em todas as cidades do norte do país, exceptoChaves. Terminou em 13/02/1919com a entrada dos exércitos republicanos no Porto.Neste curto período de menos de um mês, a Junta Governativa do Reino mandoucarimbar algumas notas da república, em escudos, e são conhecidos exemplares deste cato em Chapas 1 de 20$00, com os carimbos “Reino de Portugal” e “19 de Janeiro de 1919”.A título de curiosidade, refere-se ainda que a Monarquia do Norte emitiu também umasérie filatélica. 18 Nesta chapa surge na frente o retrato oval do poeta, romancista, autor dramático e político português Almeida Garrett (1799-1854) ladeado por figuras simbólicas da Glória e da Justiça ladeiam. O desenho foi realizado nas oficinas do Banco de Portugal pelo gravador Armando Pedroso e incluído depois nas chapas elaboradas pela casa Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, de Londres, quetambém procedeu à estampagem das notas. Na frente, sobre um fundo multicolor irisado impresso tipograficamente e composto de pontos, linhas ondulantes verticais e trabalho de torno geométrico em linha escura, está estampado por processo calcográfico (talhe-doce) um desenho com os motivos principais, a castanho, com aplicações de guilhoché, em linha branca. Em cada um dos lados da nota, a meio, observa-se uma cabeça numismática de perfil para o centro. O verso tem um fundo retangular, impresso tipograficamente em cores irisadas, com uma composição em moiré. Sobre este fundo sobressai um grande ornato. Estampado calcograficamente, a azul, com larga aplicação de guilhoché em linha branca. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado na Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte- Apontamentos: Escudo Marie, de França. Fazia parte de um contrato, assinado em Lisboa em 19/11/1915, que englobava também papel para as notas: 50$00 (Ch. 2); 20$00 (Ch 2) e 5$00 (Ch 3). Como elementos de segurança a marca de água na parte superior à direita com um desenho em claro e escuro de uma cabeça simbolizando a Primavera, voltada para a direita, e na inferior, a meio, a legenda “Banco de / Portugal”, em duas linhas retas e em letras escuras sobre fundo claro. Almeida Garrett Escritor romântico português (1799-1854). Iniciador do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno e da prosa moderna, jornalista, político, legislador, Garrett é um exemplo de aliança inseparável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta. É considerado, por muitos autores, como o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários. João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu em 1799 no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebeu uma educação clássica e ilumi- 19 Apontamentos: Escudo nista, orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor. Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e otimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, representa o Catão e publica em Coimbra O Retrato de Vénus, obras marcadas ainda por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos, em 1829, na Lírica de João Mínimo. Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reação miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo inglês, e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vítor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Mme de Staël), redescobre Shakespeare e influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro. Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano. Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel, mais moderada que o programa vintista. Dedica-se ao jornalismo político nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1829, publica em Londres a Lírica de João Mínimo e o tratado Da Educação. Em 1830, publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira, incorporase no exército liberal, e participa no desembarque em Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Santana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas. Em 1834, é nomeado cônsul-geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos), onde contacta com a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe). Também exerceu funções diplomáticas em Londres e em Paris. Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, após a Revolução de Setembro, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma ação notável, dirigindo a Inspeção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projeto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Deville, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará o Frei Luís de Sousa). Em 1838, torna-se deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. No ano de 1843 publica o 1.º volume do Romanceiro, uma recolha de poesias de tradição popular. Em 1845, lança o livro de poesias líricas Flores sem Fruto e o 1.º volume do romance histórico O Arco de Sant'Ana. Em 1846, sai em volume o "inclassificável" livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso. Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de visconde e reassume o seu papel de depu- 20 Apontamentos: Escudo tado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias líricas Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muitos souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos vítima de cancro. Ficha Técnica Valor: 20$00 Chapa: 1 Frente: Almeida Garrett Verso: Escudo da República Portuguesa Marca de água: figura simbólica da Primavera Medidas: 184x121 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:14-10-1916 Última emissão: 12-11-1919 Retirada de circulação: 24-06-1929 Data 05-01-1915 14-04-1915 27-04-1917 14-12-1917 26-03-1918 Emissão 520 000 960 000 520 000 500 000 400 000 Combinações de Assinaturas 11 11 10 10 10 Reforma das Pequenas Bernardino Machado (Presidente da República) e António José de Almeida, Ministro das Finanças em 1917, subscritores da lei 679 de 1917, a qual reformulou as características das moedas de $01, $02 e $04 escudos. Na reforma da liga de bronze operada em 1920 (lei 950) António José de Almeida era o presidente e o novo Ministro das Finanças era António Joaquim Ferreira da Fonseca. A falta de numerário corrente e a dificuldade de implementar várias das decisões previstas no decreto fundador do escudo, surgiu em 1917 a necessidade de reformular as moedas de menor valor. Estas circunstâncias eram agudizadas pelas dificuldades impostas pela Primeira Grande Guerra e seriam seguidas da introdução de Cédulas para fazer face à grande carência de numerário e de Notas de pequeno valor ($50 e 1$) pois as moedas de prata entretanto produzidas escasseavam dado que o seu valor do peso em prata da moeda era já muito superior ao valor previsto. 21 Apontamentos: Escudo Assim, o primeiro passo para esta reforma que visava resolver a falta de numerário circulante oficial (dada a proliferação de cédulas das mais diversas proveniências sem curso legal oficial), foi a reforma das pequenas moedas previstas no decreto fundador. Desta forma, suspendeu-se a moeda de 0,5 centavos. As moedas de $01 e $02 passaram a ser em bronze, mantendo-se apenas a de $04 no previsto cuproníquel. Domingos Alves do Rego Gravador da Casa da Moeda e Papel Selado (1873-c. 1960), natural de Leiria. Foi admitido na CMPS em Novembro de 1894, tendo sido nomeado 2.º gravador em Janeiro de 1910 e posteriormente promovido a 1.º gravador em Abril de 1914 (devido à aposentação de Venâncio Alves), onde ficaria como chefe da oficina de gravura até 1931. Uma das suas primeiras obras foi o retrato de D. Manuel II para as estampilhas postais, seria depois o gravador responsável por dar vida às primeiras moedas do Escudo republicano, em todos os metais, prata, bronze e até nos cunhos do ouro de 1920, que nunca chegaria a circular. As moedas de 1 e 2 centavos a nível de desenho foram semelhantes, sendo produzidas de acordo com desenho do gravador da Casa da Moeda Alves do Rego. As moedas apresentavam no anverso o valor facial em posição central no campo sobre a legenda “CENTAVOS”. Em legenda envolvente “REPÚBLICA PORTUGUESA” e na base o ano de cunhagem. O reverso apresentava o escudo nacional. As moedas de 4 centavos diferiam por apresentar no reverso a efígie da República em perfil a olhar a esquerda. As moedas de 4 centavos foram desenvolvidas tendo em consideração desenho aprovado em concurso aberto de acordo com a lei de 1911 de autoria de Francisco dos Santos. Estas moedas teriam no entanto, vida curta. Tal esteve na génese de uma das histórias mais interessantes da numismática republicana. Assim, em 1922 surge ordem de recolha destas moedas, cujo valor em metal e custo de produção era bem superior ao valor representado. A verdade é que algumas moedas de centavo de 1922 acabaram por sair da Casa da Moeda (conhecendo-se atualmente seis exemplares) sendo atualmente a moeda mais rara e cara da República (curiosamente a de menor valor corrente). Nestas moedas surgiu ainda uma variante que vale a pena atentar. Assim, a moeda de 1 centavo de 1920 apresenta uma variante com P aberto. Para se reparar deve-se atentar no P da palavra Portuguesa, o qual em algumas peças não está fechado. Ficha Técnica Peso: 8 g Diâmetro: 19 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Sn 20 Zn 20 (em 1920-21: Cu 960 Zn 40) Autor:Alves do Rego Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 e 950 de 28/02/1920 Ano e taxa de recolha: 1927 (42,9%) Ano 1917 1918 1920 1921 22 Cunhagem 2 250 000 22 996 000 12 535 000 4 949 000 Código 007.01 007.02 007.03 007.04 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 5,5 g Diâmetro: 23 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Sn 20 Zn 20 (em 1920-21: Cu 960 Zn 40) Autor:Alves do Rego Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 e 950 de 28/02/1920 Ano e taxa de recolha: 1927 (48,8%) Ano 1918 1920 1921 Cunhagem 4 295 000 10 108 000 678 500 Código 010.01 010.02 010.03 Ficha Técnica Peso: 7 g Diâmetro: 25 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Cuproníquel Composição: Cu 750 Ni 250 Autor:Anv – Alves do Rego, Rev – Francisco dos Santos Decreto-lei: 679 de 21/04/1917 Ano e taxa de recolha: 1927 (44,4%) Ano 1917 1919 Cunhagem 4 980 750 10 066 673 Código 008.01 008.02 O Regresso das Cédulas I Bernardino Machado (Presidente do Concelho), Afonso Costa (Ministro das Finanças), Artur R. Almeida Ribeiro (Ministro do Interior) e Alexandre Braga (Ministro da Justiça e dos Cultos), subscritores do decreto 3296 de 15 de Agosto de 1917. A falta de dinheiro circulante era uma situação gritante. A incapacidade para responder a este problema com a produção de novo numerário era igualmente grande. Tal resultou na proliferação em todo o país com produção sobre a responsabilidade das mais diversas entidades (públicas como Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia), Santas Casas e empresas privadas (lojas e indústria). A necessidade aguçou o engenho e surgiram soluções bastante originais 23 Apontamentos: Escudo desde as simples cédulas, a moedas de porcelana (Câmara de Vila Nova de Gaia) a alguns tokens feitos com peças plásticas e selos. Estes meios de urgência de colmatar a falta de moeda proliferaram em Portugal primeiro após o Ultimato de Inglaterra, e novamente após o final da Primeira Grande Guerra. Uma tentativa de regulamentar esta situação surgiu com o Decreto 3296 de 15 de Agosto de 1917. Neste decreto foram retiradas de circulação as moedas de prata monárquicas ainda em curso e para melhor substituir estas eram criadas por decreto cédulas a serem produzidas em séries pela Casa da Moeda do valor de $02 e $10 (só as segundas seriam criadas) e pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa cédulas de $05. As moedas de menor valor ainda do tempo da Monarquia tinham ordem de ser recolhidas com troca pelas novas moedas de bronze e cuproníquel recém-criadas e pelas novas cédulas. Este decreto faz ainda menção no artigo 4.º à proibição de outras instituições de produzir e emitir para circulação cédulas, o que indicia a grande proliferação deste meio de pagamento. A verdade é que esta proibição teve pouca importância dado ainda ser possível encontrar diversos exemplos em todo o país deste modo de pagamento. De acordo com este decreto foram produzidas cédulas de 1917 a 1922. A Santa Casa da Misericórdia só emitiria um tipo de cédulas pois reforma legislativa posterior retirou-lhe o poder de emissão. A Casa da Moeda emitiria 4 tipos de cédulas de $10 baseando-se neste decreto, acompanhando a regência de três governadores da Casa da Moeda. A Santa Casa da Misericórdia emitiu com data de 20 de Agosto as suas séries de cédulas de 5 centavos. Com base verde apresentava a identificação da Santa Casa da Misericórdia, o decreto de 15 de Agosto de 1917, o valor facial (5 centavos 5), data de emissão e assinatura dos responsáveis pela Santa Casa. O verso, apresentava cor semelhante e era preenchido pelo número de série em posição central (em numeração árabe e por extenso), no alto a legenda República Portuguesa a envolver o escudo nacional, sobre o valor facial por extenso Cinco centavos. Na base várias representações aludindo à atividade caritativa da Santa Casa no campo da Saúde. Estas cédulas apresentavam em posição lateral área não impressa com selo branco com o emblema da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. As cédulas da Casa da Moeda começaram a ser produzidas sob a governação de Santos Lucas (o qual assinou o primeiro tipo, classificado como MAS 2). Esta cédula teve por base chapa utilizada em cédulas de 500 réis produzidas após o Ultimato Inglês. Na frente surgia uma bela composição com o corpo central preenchido por um lençol com as legendas: Casa da Moeda; Dez Centavos envolvido pelas palavras Bronze, identificação do decreto que autorizava e a assinatura do Presidente do Concelho de Administração António Santos Lucas e a identificação da série e número respetivo. Este lençol era segurado por duas figuras simbólicas. De realçar 24 Apontamentos: Escudo que o escudo apresentado era coroado (à semelhança da cédula monárquica). O reverso apresentava belo trabalho de guilhoché com o escudo a ocupar posição central. Em 1919 sob a presidência de José da Costa Pereira Silva foi produzida nova série de cédulas de 10 centavos. Estas de maiores dimensões apresentavam um desenho simples. Na frente o escudo laureado republicano ocupava posição central no cimo do desenho e no campo principal as informações habituais. O reverso apresentava uma construção com referências ao estilo manuelino. A terceira série de 10 centavos surgiu em 1920 sob a presidência interina de Aníbal Lúcio de Azevedo. Esta série apresentava uma bela representação com a frente fazendo referência ao comércio, navegação e indústria. O reverso com construção com a efígie da República em posição central. Pela primeira vez nas cédulas de 10 centavos aparece a assinatura do desenhador no canto inferior esquerdo (D. Mota). 25 Apontamentos: Escudo A quarta e última série de cédulas de 10 centavos regida pelo decreto de 1917 foi produzida a partir de 1921 também sob a presidência de Aníbal Lúcio Azevedo. Uma das mais belas cédulas da República. Na frente região central em guilhoché verde e a envolver construção figurativa em base azul com presença de dois elementos simbólicos representando a indústria e o comércio femininos. O reverso surgia desenho em azul com elementos figurativos representando a indústria e o comércio masculinos. Santa Casa da Misericórdia de Lisboa A Santa Casa da Misericórdia é uma irmandade com a missão de tratamento e sustento de enfermos e inválidos. A instituição foi criada em 1498 pelo Frei Miguel de Contreiras com o patrocínio da rainha D. Leonor. Inicialmente tinha como objetivo o apoio da população mais necessitada (alimentar os famintos, assistir aos enfermos, consolar os tristes, educar os enjeitados e sepultar os mortos), mais tarde passa ainda a prestar assistência aos expostos (recémnascidos abandonados na roda, aos quais não eram conhecidos os pais). Atualmente a instituição existe em todo o país, sendo a de Lisboa a de maior porte. Foi concedida à instituição o 26 Apontamentos: Escudo direito de monopolizar o jogo no país obtendo recursos económicos a partir das Lotarias, Euromilhões, Totoloto, Totobola, Joker, Loto 2. Casa da Moeda Provavelmente o estabelecimento fabril mais antigo do país em laboração contínua, já que foi estabelecida pelo menos no século XIII. Criada por D. Dinis existe referência à sua existência junto à Porta da Cruz (atual Santa Apolónia). No século XIV mudou-se para o local onde viria a ser a Cadeia do Limoeiro, junto à Sé e no reinado de D. João I vamos encontrá-la na Rua Nova defronte à ermida da Nossa Senhora das Oliveiras. Em todos estes momentos a sua atividade baseava-se na produção de moeda sob o sistema manual do martelo, em cunho fixo sobre o qual era colocado o disco monetário, depois o moedeiro encostava, seguro por uma das mãos o cunho móvel que recebia a pancada do martelo, empunhado pela outra mão. Em meados do século XVI foi transferida para a Rua da Calceteria próximo ao Paço da Ribeira onde permaneceu até 1720. Nesta fase iniciou-se uma nova forma de produção monetária com a utilização de processos mecânicos. Estes evoluíram no século XVII com a introdução do fabrico com balancés de parafuso com força motriz de início humana mas substituída em 1835 pelo vapor (primeira máquina a vapor do país comprada à firma inglesa Boulton and Watt de máquina idêntica à utilizada pela Royal Mint de Londres). Em 12 de Setembro de 1720 foi novamente transferida para a Rua de São Paulo permanecendo neste local até 1941 quando passou a ocupar o edifício actual projetado pelo Arquiteto Jorge Segurado. Em 1866 evoluiu com a aquisição de prensas monetárias da marca Ulhorn antepassada das atuais. O primeiro regimento conhecido da Casa da Moeda remonta ao reinado de D. Manuel I (1498). Este regimento foi reformulado por D. Pedro II em 1686 e novamente em 1845 (decreto de 28 de Julho) com a fusão da Casa da Moeda com a Repartição do Papel Selado passando a denominar-se Casa da Moeda e Papel Selado. Durante o século XX sofreu reestruturações sucessivas em 1911, 1920, 1929 e 1938. Em 1972 deu-se a fusão com a Imprensa Nacional surgindo do INCM atual. Ficha Técnica Valor: $05 MSA: 1 Frente:Dados gerais Verso: Figuras simbólicas caritativas da Santa Casa Misericórdia Carimbo branco: Emblema Santa Casa Misericórdia Lisboa Medidas: 73x38 mm Impressão:Santa Casa da Misericórdia Lisboa Primeira emissão:20-08-1917 27 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: $10 MSA: 2 Frente:Figura simbólicas Verso: Escudo da República Medidas: 89x53 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: António Santos Lucas Decreto:15-08-1917 Ficha Técnica Valor: $10 MSA: 4 Frente:Dados gerais da cédula Verso: Construção com referências manuelinas Medidas: 96x51 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: José da Costa Pereira Silva Decreto:15-08-1917 Ficha Técnica Valor: $10 MSA: 6 Frente:Elementos figurativos representado a industria, o comércio e a navegação Verso: Efígie da República Medidas: 88x52 mm Impressão:Casa da Moeda Desenho: A. Mota Assinatura: Aníbal Lúcio Azevedo Decreto:15-08-1917 Ficha Técnica Valor: $10 MSA: 8 Frente:Elementos figurativos representando a indústria e o comércio Verso: Elementos figurativos representando a indústria e o comércio Medidas: 65x50 mm ou 63x46 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: Aníbal Lúcio Azevedo Decreto:15-08-1917 28 Apontamentos: Escudo 1$00 Ch. 1 Figuração Literatura Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos Augusto José Cunha José Paixão Castanheira das Neves Duarte Augusto Abrantes Bizarro João Pereira Cardoso Francisco Maria da Costa João da Mota Gomes Júnior Manuel António Dias Ferreira José Félix da Costa Ruy Ennes Ulrich Esta emissão constituiu como que um reforço da anterior emissão de 1.000 réis – Chapa 3, posta a circular uns meses antes, para obviar a falta de moeda metálica que se fez sentir durante a Primeira Grande Guerra e assim satisfazer as necessidades momentâneas do comércio. Embora com designações diferentes (réis e escudos) a existência destas notas esteve sempre ligada, desde os objetivos com que foram criadas até à simultânea retirada de circulação. 29 Apontamentos: Escudo A nota de 1 escudo chapa 1, teve praticamente toda a sua produção em Londres na firma Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, a qual fez as chapas (matrizes e reproduções) e impressão das notas. Na frente, sobre um fundo policromo em íris, impresso tipograficamente e composto por linhas ondulantes cruzadas, um ornato central com cores sobrepostas que formam outras cores (sistema duplex), e um ponteado, também irisado, que ocupa o espaço da marca de água, estão estampados, por técnica calcográfica, uma figura que simboliza a Literatura e os demais desenhos, a violeta-escuro. O verso tem uma estampagem calcográfica, a sépia, que engloba uma figura que simboliza a Poesia. O fundo, em íris, de castanho-claro esbatendo para violeta, tem também no espaço ocupado pela marca de água um ponteado nas mesmas cores. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi aposto, a preto, nas oficinas do Banco e na firma estampadora. O papel era de fabrico francês na Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie. A marca de água apresentava à direita uma cabeça simbólica com capacete, virada para o centro e na parte inferior em toda a largura a legenda “Banco de Portugal” numa única linha em letras escuras. Literatura Portuguesa – Poesia A Língua portuguesa serviu de desde sempre para base de escrita de belos textos que representam a visão do povo à beira mar plantado. Desde o início da fundação de Portugal, com os poetas galaico-portugueses e a sua poesia com Cantigas de Amigo, Escárnio e Mal Dizer. Em 1516 deu-se a edição do Cancioneiro Geral compilado por Garcia de Resende com obras palacianas das cortes de D. Afonso V a D. Manuel I. Em 1521 surge Sá de Miranda com influências do classicismo em voga na Itália. O grande salto deu-se com nomes como Luís de Camões e a sua obra Os Lusíadas, a mais bela obra poética portuguesa (1572). Durante o século posterior a poesia portuguesa decresceu de qualidade, contribuindo para isso a ocupação espanhola. De destacar a compilação Fénix Renascida publicado em 1716-28 com influências já barrocas com obras de diversos autores selecionadas por Matias Pereira da Silva. No entanto, só em 1811 com a publicação da obra completa de Bocage se observa novamente o impacto do génio literário português. O século XIX assistiu ao renascimento da literatura portuguesa e em 1836 30 Apontamentos: Escudo António Feliciano de Castilho publicou a sua obra A Noite do Castelo e Os Ciúmes do Bardo um dos marcos do romantismo português, em 1865 Antero de Quental publica as suas Odes Modernas e depois Sonetos Completos (1886). Cesário Verde destaca-se como poeta de transição com obra publicada postumamente em 1887. Em 1890 surge o simbolismo em Portugal com Eugénio de Castro e o Modernismo é vivido e experimentado por autores como Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa. Durante todo o século XX vários nomes despontam cada um com características muito próprias como Raul Brandão, José Régio, Alves Redol, Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade ou Herberto Hélder. Ficha Técnica Valor: 1$00 Chapa: 1 Frente: Figura simbólica da literatura Verso: Figura simbólica da poesia Marca de água: figura simbólica feminina com capacete Medidas: 127x82 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Primeira emissão:26-04-1918 Última emissão: 24-01-1929 Retirada de circulação: 30-01-1929 Data 07-09-1917 29-11-1918 25-06-1920 Emissão 17 000 000 500 000 14 980 000 Combinações de Assinaturas 10 10 10 2$50 Ch. 1 D. Nuno Álvares Pereira Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos Francisco Maria da Costa José Paixão Castanheira das Neves Manuel António Dias Ferreira João Pereira Cardoso Ruy Ennes Ulrich João da Mota Gomes Júnior António José Pereira Júnior José Félix da Costa José Caetano Lobo D’Ávila da Silva Lima Duarte Augusto Abrantes Bizarro 31 Apontamentos: Escudo Tal como nas moedas de 1$, a criação deste tipo de nota foi também motivada pela falta de trocos em espécie metálica, durante e a seguir à Guerra de 1914-18. Para esta foi selecionada a figura de D. Nuno Álvares Pereira, um dos grandes nomes da história nacional. Os preparativos necessários (chapas, matrizes, rolos de transfer, duplicados, etc.) e a estampagem das notas foram executados pela firma londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, com exceção da gravura de D. Nuno Álvares Pereira, que foi fornecida pelo Banco. Na frente, sobre um fundo impresso tipograficamente em íris vertical, verde e lilás na parte central, esbatendo para verde e amarelo nos lados, vê-se estampado calcograficamente, em tom escuro, o desenho principal que é composto pela citada efígie, as legendas “Banco de Portugal” e “Dois Escudos e Cincoenta Centavos” e ornatos de guilhoché em linha branca. O verso tem um fundo tipográfico, em gravura mecânica, impresso levemente avermelho ao centro e a verde em ambos os lados. Sobre este fundo vê-se estampado calcograficamente todo o desenho, a preto, que inclui uma figura simbolizando a Geografia, legendas e um ornato de guilhoché em linha branca. O texto complementar (data, chapa, série, letras-chave, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi aposto tipograficamente, a preto. O papel utilizado foi mais uma vez oriundo da empresa francesa Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie. Como elemento de segurança surgia a marca de água à esquerda uma cabeça alegórica, de perfil para o centro, modelada em claro e escuro, e, na parte inferior, a legenda “Banco de Portugal”, em linhas escuras dispostas numa linha reta. 32 Apontamentos: Escudo D. Nuno Álvares Pereira Cavaleiro militar português, nascido em 1360, em Cernache do Bonjardim, filho ilegítimo do Prior da Ordem Militar do Hospital. A sua educação foi feita segundo os ideais da cavalaria medieval. Aos 13 anos foi apresentado na corte, onde logo se fizeram notar as suas qualidades e o seu génio militar, e tornou-se escudeiro da rainha D. Leonor Teles, esposa do rei D. Fernando. Aos 16 anos, por imposição do pai e apesar da sua resistência, casou com D. Leonor Alvim, senhora de grandes terras, de quem teve três filhos, entre eles D. Beatriz, que veio a casar com o príncipe D. Afonso, filho de D. João I, e que viria a ser o 1.o duque de Bragança. Entretanto, Nuno Álvares Pereira tomou contacto com as tropas inglesas estacionadas em Portugal, o que refinaria ainda mais as suas grandes qualidades de estratega militar. Com a morte de D. Fernando, em 1383 e estando em causa a independência nacional, gera-se a revolta popular e todo um processo de luta contra as pretensões castelhanas em que Nuno Álvares Pereira vai ter um papel preponderante. Segue-se um período de lutas constantes entre os partidários de Castela e os defensores da independência de Portugal. A sua primeira grande vitória dá-se na Batalha dos Atoleiros, em 1384. Em 1385, nas Cortes de Coimbra, o Mestre de Avis é aclamado rei de Portugal e Nuno Álvares Pereira é nomeado Condestável do Reino. A luta contra os opositores de D. João I continua e dá-se a batalha decisiva de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. Apesar da desigualdade de forças entre os dois exércitos, os portugueses obtêm uma vitória esmagadora, graças ao génio militar do Condestável, que pôs em prática as novas táticas de guerra que aprendera com os ingleses, além de ter escolhido o melhor local para o embate e tendo os combatentes portugueses uma confiança ilimitada no seu comando. Em Outubro de 1385, em Valverde, alcança nova vitória sobre os castelhanos, e continua a participar nos sucessivos confrontos, cada vez mais raros, que entretanto se verificaram, até que, em 1411, Castela reconheceu a independência de Portugal. 33 Apontamentos: Escudo Com o consolidar da paz com Castela, Nuno Álvares Pereira, que entretanto fora cumulado com sucessivas doações de terras e bens, vai dedicar-se a obras de caridade. Em 1393 distribui muitas das suas terras pelos companheiros de armas. Estando ele viúvo desde 1388, em 1414 morre-lhe a filha, D. Beatriz. Vai dar então novo rumo à sua vida, dedicando-se mais aos trabalhos agrícolas nos seus domínios de Vila Viçosa. Entretanto, ainda participou, em 1415, na conquista de Ceuta. Mas em 1422 reparte pelos netos os seus títulos e bens e em 1423 professa no Convento do Carmo, que ajudara a construir, tomando o nome de Nuno de Santa Maria, onde passa os últimos anos da sua vida, entregue à penitência e servindo os pobres. Veio a falecer em 1431. Já em vida era conhecido como o Santo Condestável e foi beatificado pela Igreja em 23 de Janeiro de 1918, sendo venerado a 6 de Novembro. Em 26 de Abril de 2009 foi canonizado pelo Papa Bento XVI. Ficha Técnica Valor: 2$50 Chapa: 1 Frente: D. Nuno Álvares Pereira Verso: Figura simbólica da geografia Marca de água: cabeça alegórica Medidas: 135x90 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Primeira emissão:22-12-1920 Última emissão: 24-08-1923 Retirada de circulação: 24-06-1929 Data 07-09-1917 25-06-1920 34 Emissão 10 000 000 860 000 Combinações de Assinaturas 10 10 Apontamentos: Escudo Moeda de Ferro Sidónio Pais, ditador no período da Primeira Guerra Mundial, associado ao seu governo (João Tamagnini de Sousa Barbosa, Alberto Osório de Castro, Joaquim Mendes do Amaral, Amílcar de Castro Abreu e Mota, João do Canto e Castro Silva Antunes, Joaquim do Espírito Santo Lima, Alexandre José Botelho de Vasconcelos e Sá, José Alfredo Mendes de Magalhães, Henrique Forbes de Bessa, Eduardo Fernandes de Oliveira) autores do decreto 4849 de 9 de Setembro que permitiu moeda de ferro. O ferro dada a sua fraqueza quando em contacto com o meio rico em oxigénio e fácil perda das suas características pelo processo de oxidação (a ferrugem) não é habitualmente uma escolha para metal de cunhagem monetária. No entanto, em situações de crise a sua aplicação foi relativamente comum sendo vários os exemplos, entre os quais a moeda de $02 de 1918. Num contexto de grande falha de numerário (que se tentava ultrapassar também com moeda-papel) foi dada ordem para substituir as moedas de bronze e cuproníquel já previstas por outras semelhantes mas em ferro. Do projeto inicial que previa moedas de 1, 2 e 4 centavos, só seriam produzidas algumas de 2 centavos com cunho igual à moeda de bronze. No entanto, a sua raridade (taxa de recolha superior a 50%) e dificuldade em manter as moedas em muito bom estado de conservação (decorrente da ação do ar sob o ferro) faz dela um dos ex-líbris da numismática republicana. Ferro Do latim ferrum elemento químico com símbolo Fe. À temperatura ambiente encontra-se na fase sólida, sendo extraído da natureza na forma de minério de ferro, o qual após passar pelo estágio de ferro-gusa, através de processos de transformação é usado sob a forma de lingotes. È um dos elementos mais comuns do Universo e constituinte do núcleo terrestre conferindo-lhe assim as suas características magnéticas. O Homem utiliza-o desde a Idade do Ferro (4000 a.C.) na produção de ferramentas, armas, desde a Revolução Industrial, pontes, edifícios, navios… Na Natureza apresenta grande importância biológica, destacando-se no caso dos mamíferos o facto de ser componente essencial da hemoglobina responsável pelo transporte do oxigénio. A sua necessidade na alimentação torna-se evidente em casos de anemia. A aplicação na numismática foi comum aquando da Primeira e Segunda Grandes Guerras pela falta de outros metais habitualmente utilizados na produção de moeda. Em Portugal só se aplicou em moedas de 2 centavos em 1918. Composição: Fe 1000 35 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 4,6 g Diâmetro: 23 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Ferro Composição: Fe 1000 Autor:Alves do Rego Decreto: 4849 de 09/09/1918 Ano e taxa de recolha: 1927 (48,8%) Ano 1918 Cunhagem 170 000 Código 009.01 O Regresso das Cédulas II Sidónio Pais, ditador no período da Primeira Guerra Mundial, associado ao seu governo (Henrique Forbes de Bessa, Martinho Nobre de Melo, Francisco Xavier Esteves, José Carlos da Maia, Manuel José Pinto Osório, João Tamagnini de Sousa Barbosa, José Alfredo Mendes de Magalhães, José Feliciano da Costa Júnior, Eduardo Fernandes de Oliveira, António Maria de Azevedo Machado Santos) subscritores do decreto 4120 de 5 de Abril suspendeu as cédulas da Santa Casa da Misericórdia substituindo-as por cédulas de igual valor da Casa da Moeda. A necessidade de numerário circulante era enorme e a incapacidade de dar resposta era gritante. Na tentativa de aumentar de forma mais consistente, esse numerário e uniformizar o mesmo, suspendeu-se a ordem anterior de permitir à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de produzir cédulas, passando o valor de $05 a ser da responsabilidade também da Casa da Moeda. A primeira emissão em 1919 sobre a presidência de José Costa Pereira Silva, corresponde à cédula com código Mário S. Almeida 3. Tal como nas cédulas de 10 centavos, a primeira cédula de 5 centavos da Casa da Moeda aproveitou chapas de cédulas da monarquia. 36 Apontamentos: Escudo A necessidade levou a nova série de cédulas em 1920 e 1921 agora sobre a presidência de Aníbal Lúcio de Azevedo. Estas cédulas correspondem às MAS 5 e 7. Embora de desenhos simples são peças de grande harmonia de distribuição na composição, destacando-se a segunda pela complexidade do desenho com presença de vários elementos figurativos 37 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: $05 MSA: 3 Frente:Informação geral Verso: Valor facial Medidas: 82x54 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: José da Costa Pereira Silva Decreto:05-04-1918 Ficha Técnica Valor: $05 MSA: 5 Frente:Informação geral e elementos figurativos relacionados com a República Verso: Escudo República Portuguesa Medidas: 88x53 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: Aníbal Lúcio de Azevedo Decreto:05-04-1918 38 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: $05 MSA: 7 Frente:Informação geral Verso: Valor facial Medidas: 78x45 mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: Aníbal Lúcio de Azevedo Decreto:05-04-1918 $50 Ch. 1 Navegação Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos Duarte Augusto Abrantes Bizarro José Paixão Castanheira das Neves Francisco Maria da Costa João Pereira Cardoso Manuel António Dias Ferreira João da Mota Gomes Júnior Ruy Ennes Ulrich José Félix da Costa António José Pereira Júnior Augusto José da Cunha Tal como as emissões anteriores de notas e de cédulas, a emissão de notas de 50 centavos visava um reforço da moeda corrente. Neste caso foi mesmo um reforço da emissão da Chapa 3 de 500 Réis com o carimbo República Portuguesa posto a circular me 1917, para obviar a já crónica falta de moeda metálica. A produção ficou a cargo da firma britânica Bradbury, Wilkinson & Co Ltd a qual executou todo trabalho desde a elaboração das chapas até à estampagem. A aposição tipográfica do texto complementar (data, chapa, série, numeração, letras-chave, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi as únicas atividades realizadas nas oficinas do Banco (em algumas das séries). Na frente surgia a figura simbólica da Navegação e os desenhos que aparecem a preto na frente da nota foram estampados por processo calcográfico. O fundo é constituído por linhas ondulantes, paralelas, de duas cores, um ponteado na zona da marca de água, também bicolor, e um ornato central policromo, tudo impresso por processo tipográfico. O verso apresentava 39 Apontamentos: Escudo uma figura simbólica da Justiça e um grande ornato de guilhoché em linha branca estampados a preto por calcografia. O fundo do verso, impresso tipograficamente em íris laranja e verde, tem no espaço ocupado pela marca de água um ponteado também em íris naquelas duas cores. Embora uma nota representativa de pequeno valor, patenteia esmerado apuro técnico. De referir a existência de notas com a numeração de série em duas linhas e numa só linha na data de primeira emissão (05-07-1918). O papel foi fabricado na francesa Perrigot-Masure, Papeteries d´Arches. Como marca de água surgia à direita uma cabeça de Minerva, de perfil para a esquerda, modelada em claro e escuro e, na parte inferior a legenda “Banco de Portugal”, numa linha reta, em letras escuras. Navegação em Portugal Portugal é desde a sua fundação um país de navegadores. As referências em Cantigas de Amigo e de Amor a motivos relacionados com o oceano e viagens marítimas são frequentes. A Marinha de Guerra embora não num sentido organizado moderno existe desde os tempos de D. Afonso Henriques, sendo o seu primeiro almirante o famoso e quase mitológico D. Fuas Roupi- 40 Apontamentos: Escudo nho. Esta rota estaria ligada à defesa de Lisboa dos constantes ataques de piratas mouros e participou em ações de ataque. Era composta fundamentalmente por galés (barcos semelhantes aos utilizados pelos romanos) pouco dados a viagens longas e longe da linha costeira por dependerem da força dos remos para se moverem e devido à incipiente ciência da navegação. A evolução e sedimentação da capacidade navegadora prosseguiram em toda a primeira dinastia. Do tempo de D. Afonso IV conhecem-se relatos da presença dos portugueses nas Ilhas Canárias, D. Fernando fez publicar legislação protetora para os marinheiros e comerciantes que utilizavam esta via. No entanto, é na segunda dinastia que Portugal atinge o seu apogeu como potência marítima tendo sido a primeira grande potência global, controlando a navegação do Atlântico e do Índico o que valeria a D. Manuel I o título (entre outros) de Senhor dos Mares. Esta capacidade possibilitada pelo avanço técnico português ao nível da construção naval e do armamento perdeu-se posteriormente, entrando Portugal em grande decaimento como potência naval. No entanto, essa época gloriosa ainda é relembrada como a Época de Ouro da Nação Portuguesa. Ficha Técnica Valor: $50 Chapa: 1 Frente: Figura simbólica da navegação Verso: Figura simbólica da justiça Marca de água: cabeça de minerva Medidas: 125x75 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Primeira emissão:24-12-1918 Última emissão: 24-01-1929 Retirada de circulação: 05-02-1930 Data 05-07-1918 25-06-1920 Emissão 33 080 000 18 560 000 Combinações de Assinaturas 11 10 100$00 Ch. 1 Pedro Álvares Cabral Inocêncio Camacho Rodrigues José Pereira Cardoso Henrique Matheus dos Santos João da Mota Gomes Júnior José Paixão Castanheira das Neves José Félix da Costa 41 Apontamentos: Escudo Augusto José da Cunha Manuel António Dias Ferreira Duarte Augusto Abrantes Bizarro Ruy Ennes Ulrich Francisco Maria da Costa António José Pereira Júnior Datadas de 1918 foram ainda produzidas as belas notas da chapa 1 de 100$00. O motivo escolhido foi a Descoberta do Brasil, fazendo-se homenagem ao capitão da frota responsável por esse feito: Pedro Álvares Cabral. Louis-Eugène Mouchon Gravador francês natural de Paris (1843-1914). Responsável pelo desenho de selos, que pela sua qualidade e grande utilização foram denominados do tipo Mouchon. A sua qualidade foi ainda alvo de contratação por nações estrangeiras. Assim, na Bélgica entre 1884 e 1900 os timbres com a efígie do rei Leopoldo II são da sua autoria. Fez ainda trabalhos na Holanda (1898 a 1923 seriam utilizados os seus desenhos da rainha Guilhermina a ser coroada). Em 1882 surgem nos serviços postais portugueses trabalhos da sua caneta. Primeiro com a última emissão postal de D. Luís e em 1895 com o rei D. Carlos. Também em Portugal essas emissões foram denominadas do tipo Mouchon. O quadro alegórico da descoberta do Brasil, patente na frente desta nota de expressivo conteúdo artístico, foi desenhado pelo francês Eugène Mouchon e gravado em chapa de aço nas oficinas do Banco, pelo gravador Armando Pedroso, o responsável pela gravação da maioria das notas desta época. Da gravura da frente só o medalhão com o retrato de Pedro Álvares Cabral foi executado em Inglaterra, nas oficinas da casa londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, que também procedeu à elaboração das chapas para os fundos da frente e do verso e à estampagem das notas. Na frente, o motivo principal está estampado, por calcografia, a azulescuro sobre fundo impresso tipograficamente em cambiantes verde, amarelo, rosa e violeta. Todo o trabalho de gravação para a estampagem calcográfica do verso foi feito nas oficinas do Banco, tendo sido aproveitada, em tamanho reduzido, uma gravura já utilizada noutra nota (100 000 Réis, Chapa 2, desenhada por Eugène Mouchon e gravada por Otto Reim), que representava a partida de Pedro Álvares Cabral para o descobrimento do Brasil, na presença do Rei D. Manuel I. O verso tem um fundo policromo formado por trechos geométricos de guilhoché, impresso por processo tipográfico em cambiantes amarelo e violeta ao meio, verde e rosa aos lados, e azul e castanho nas extremidades. Sobre este fundo sobressai, num tom mais forte, a estampagem calcográfica da gravura central e as duas cabeças numismáticas colocadas aos lados e voltadas para dentro. O texto complementar (chapa, data, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco, assim como o selo branco, de fundo amarelado, colocado a meio da nota. 42 Apontamentos: Escudo O papel utilizado nestas notas teve origem na francesa Perrigot-Masure, Papeteries d´Archesdos Vosges. A Marca de água surgia na parte superior, a meio da nota, em claroescuro, a legenda “Banco de / Portugal”, em duas linhas retas paralelas, e à direita o busto de Pedro Álvares Cabral de perfil para dentro. 43 Apontamentos: Escudo 44 Apontamentos: Escudo Pedro Álvares Cabral Navegador português, a quem é atribuída a descoberta do Brasil, nasceu em Belmonte, em 1467 ou 1468, filho do alcaide-mor daquela localidade. Com cerca de 10 anos foi para a corte e, uns anos mais tarde, viria a casar-se com uma sobrinha de Afonso de Albuquerque. Sabe-se que D. João II lhe concedeu uma tença, embora se ignorem os motivos. Depois do regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, Pedro Álvares Cabral foi nomeado comandante de uma frota de treze navios que partiram em Março de 1500 com destino à Índia. Seguiu a rota indicada por Vasco da Gama, mas ao passar por Cabo Verde sofreu um desvio maior para sudoeste, atingindo, a 22 de Abril de 1500, a costa brasileira. Mandou um navio a Portugal com a nova da descoberta e seguiu para a Índia, chegando a Calecut a 13 de Setembro de 1500. Vários barcos se perderam, entre eles o de Bartolomeu Dias, que naufragou perto do Cabo da Boa Esperança, que ele próprio dobrara anos antes pela primeira vez. Depois de cumprir a sua missão no Oriente, Pedro Álvares Cabral regressou em 1501 e foi fixar-se nos seus domínios, na zona de Santarém, onde acabaria por falecer em 1520. Descoberta do Brasil "Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães, escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza (...) (...) do que hei-de falar começo e digo: a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março. Sábado, 14 do dito mês, entre as oito e as nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã-Canária, onde andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas (...) E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril (...) topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves a que chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome, o Monte Pascoal, e à terra, a Terra de Vera Cruz (...) Pela manhã fizemos vela e seguimos direitos à terra (...) avistámos homens que andavam pela praia. Afonso Lopes (...) meteu-se logo no batel e tomou dois deles. Um deles trazia um arco e 45 Apontamentos: Escudo seis ou sete flechas (...) Trouxe-os logo ao capitão em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festim. A feição deles é serem pardos (...) avermelhados, de bons rostos e bons narizes (...) Andam nus (...) os seus cabelos são corredios (...) e um deles trazia uma espécie de cabeleira de penas de ave (...) O capitão (...) estava com um colar de oiro ao pescoço. Um deles pôs o olho no colar do capitão e começou de acenar com a mão para terra e depois para o colar como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para o castiçal de prata e assim mesmo acenava para terra (...) Mostraram-lhes um papagaio; tomaram-no logo na mão e acenaram para terra (...) Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela (...) Estavam na praia (...) obra de 60 (...) Vieram logo para nós sem se esquivarem (...) Pareceu-me gente de tal inocência que se homem os entendesse e eles a nós seriam logo cristãos (...)" Carta de Pêro Vaz de Caminha (adaptação). Ficha Técnica Valor: 100$00 Chapa: 1 Frente: Retrato de Pedro Álvares Cabral Verso: Gravura representando a partida de Cabral para a Índia Marca de água: Pedro Álvares Cabral Medidas: 209x130 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Desenho: Eugène Mouchon Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:03-12-1918 Última emissão: 24-12-1926 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data 13-08-1918 05-02-1920 Emissão 820 000 2 985 000 Combinações de Assinaturas 10 10 10$00 Ch. 1 Afonso de Albuquerque Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos 46 José Paixão Castanheira das Neves Apontamentos: Escudo José Pereira Cardoso Francisco Maria da Costa João da Mota Gomes Júnior Manuel António Dias Ferreira José Félix da Costa Ruy Ennes Ulrich Duarte Augusto Abrantes Bizarro António José Pereira Júnior O lançamento de novas chapas prosseguiu em 1919. Desta vez inaugurou-se novo valor numismático (10$00). Para homenagear foi selecionada uma das maiores figuras da história dos descobrimentos: Afonso de Albuquerque. A chapa da frente, com o retrato de Afonso de Albuquerque (o mais ilustre dos homens de guerra portugueses do século XVI) e o quadro representativo da conquista de Goa, e a do verso, com a cabeça simbolizando a República e o grupo central que representam os rios Tejo e Douro, foram fornecidas pelo Banco de Portugal à firma estampadora Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, de Londres. Voltou a estar patente o conjunto que simboliza os nossos principais rios, tema já observado em outras notas do Banco de Portugal (da Monarquia), como também do Banco de Lisboa. O retrato de Afonso de Albuquerque já tinha sido utilizado para ilustrar outra nota (2 500 réis, Chapa 4), embora com desenho diferente. A firma estampadora Bradbury, Wilkinson & Co Ltd encarregou-se de preparar as chapas para a impressão dos fundos e da aposição do texto complementar. Os desenhos que aparecem na frente da nota, a azul, foram estampados por processo calcográfico (talhe doce). O fundo, em guilhoché, é impresso em íris, verde-claro ao centro, esbatendo em sépia-claro para os lados. O verso tem uma estampagem calcográfica, a sépia, com trabalho de torno geométrico em linha branca, sobre fundo de técnica tipográfica impresso em íris, sépia-claro ao centro, esbatendo em amarelo-escuro para os lados. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “Ouro”, “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) é impresso tipograficamente, a preto. O papel teve origem francesa na Perrigot-Masure, d´Arches (nos Vosgues). Como elemento de segurança, a marca de água que representava uma cabeça com capacete, de perfil para a esquerda, e, ao meio, a legenda com letras luminosas “Banco” em linha curva, “de / Portugal” em duas linhas retas. 47 Apontamentos: Escudo Afonso de Albuquerque Militar português, nasceu em Alhandra por volta de 1462, de família aristocrática, sendo educado na corte de D. Afonso V. Em 1476 acompanhou o futuro rei D. João II nas guerras com 48 Apontamentos: Escudo Castela, esteve em Arzila e Larache em 1489, e em 1490 faz parte da guarda de D. João II, tendo voltado novamente a Arzila em 1495. Em 1503 é enviado à Índia, no comando de três naus, tendo participado em várias batalhas, erguido a fortaleza de Cochim e estabelecido relações comerciais com Coulão. Regressou a Portugal em 1504, onde expôs a D. Manuel I a sua visão de um império no Oriente, tendo por base a conquista de posições estratégicas nos mares do Índico. Tendo sido aceite o seu plano, seguiu para a Índia em 1506 como capitão-mor do mar da Arábia. Conquistou Omã e submeteu Ormuz (1507). Nomeado por D. Manuel governador da Índia em 1508, veio a ocupar o cargo no ano seguinte. Já como vice-rei da Índia, em substituição de D. Francisco de Almeida, conquistou Goa (1510) e Malaca (1511) e entrou no Mar Vermelho em 1513. Com a construção da fortaleza de Ormuz em 1515 concluiu o seu plano de domínio dos pontos estratégicos que permitiam o controlo marítimo e o monopólio comercial da Índia. Ao mesmo tempo, seguiu uma política de miscigenação, favorecendo o casamento das indianas com soldados e marinheiros portugueses, que depois ficavam a servir na administração Afonso de Albuquerque foi um grande marinheiro e estratega militar, além de ter uma grande capacidade como diplomata, que criou as bases do Império Português do Oriente. Faleceu no ano de 1515. Rio Douro Um dos maiores rios da Península Ibérica, com o comprimento total de 938 quilómetros, dos quais 200 se encontram em Portugal. Nasce em Espanha, na serra de Urbião, e drena uma área de 94 500 km2, da qual 18 600 km2 são em Portugal. Depois de ter atravessado o extenso planalto de Castela-a-Velha, e com um curso bastante regularizado até Samora, toma a direção nordeste-sudoeste e serve de fronteira entre Portugal e Espanha numa extensão de 122 quilómetros - o troço do Douro Internacional -, desde Paradela, Miranda do Douro, até Barca de Alva. Tem, nesta secção, um forte declive, com um vale encaixado, de margens abruptas. Em Barca de Alva, entra em Portugal e toma novamente a direção este-oeste. O curso é agora mais regularizado, navegável, mas continuando o rio a correr por um vale apertado até à foz, no oceano Atlântico, junto da cidade do Porto. O escoamento anual do rio Douro é, em média, de 22 860 hm3, correspondendo 9 200 hm3 a Portugal e o restante a Espanha. Estima-se que a bacia hidrográfica do rio Douro, em território nacional, apresente uma capacidade total de armazenamento de recursos hídricos de 1 078 hm3, em regime regularizado. A bacia hidrográfica do rio Douro é a bacia nacional que apresenta o maior valor de escoamento na sua foz, em termos de volume de águas. Tem numerosos afluentes em território nacional, sendo os mais importantes, na margem direita, o Sabor, o Tua, o Corgo, o Tâmega e o Sousa, que correm quase todos de nordeste para sudoeste, e na margem esquerda, o Águeda, o Côa, o Távora, o Varosa, o Paiva e o Arda, que correm numa 49 Apontamentos: Escudo direção perpendicular às margens, isto é, aproximadamente de sudoeste para nordeste. Todos estes afluentes são rios de planalto, com grandes ressaltos no seu leito e forte poder erosivo, bem evidenciado pelos vales encaixados e gargantas profundas que quase todos possuem. Para bacia hidrográfica do rio Douro foram projetados diversos aproveitamentos hidroeléctricos, estando no próprio rio Douro os seguintes: barragem de Miranda, com uma capacidade total da albufeira de 28,1 hm3 e uma capacidade útil de 6,66 hm3; barragem do Picote, com uma capacidade total da albufeira de 62,7 hm3 e uma capacidade útil de 13,35 hm3; barragem de Bemposta, com uma capacidade total da albufeira de 128,8 hm3 e uma capacidade útil de 20,0 hm3; barragem do Pocinho, com uma capacidade total da albufeira de 83,1 hm3 e uma capacidade útil de 12,24 hm3; barragem da Valeira, com uma capacidade total da albufeira de 98,5 hm3 e uma capacidade útil de 13,04 hm3; barragem da Régua, com uma capacidade total da albufeira de 95,0 hm3 e uma capacidade útil de 12,0 hm3; barragem do Carrapatelo, com uma capacidade total da albufeira de 148,4 hm3 e uma capacidade útil de 13,84 hm3; barragem de Crestuma-Lever, com uma capacidade total da albufeira de 132,2 hm3 e uma capacidade útil de 22,25 hm3. É nos terraços do vale do Douro superior, em acentuados declives talhados no xisto, que se cultivam as vinhas de cujas uvas se fabrica o vinho do Porto Rio Tejo O Tejo é o rio mais extenso da Península Ibérica. Segundo Sílio Itálico, Tago, como era designado o Tejo, seria o nome de um rei Ibero que foi cruelmente assassinado por Asdrúbal e que teria o mesmo nome do rio. A sua bacia hidrográfica é a terceira mais extensa na península, atrás do rio Douro e do rio Ebro. O rio Tejo nasce a 1 593 m de altitude, no local conhecido como Fuente de García, no município espanhol de Frías de Albarracín, na província de Teruel. Esta formação montanhosa alberga um dos nós hidrográficos mais importantes da Península Ibérica, ao separar a vertente atlântica da mediterrânea. O rio Júcar, que desagua no Mar Mediterrâneo, tem origem a poucos quilómetros da sua fonte, assim como o Guadalaviar, que dá lugar posteriormente ao Turia. A sua entrada em Portugal encontra-se em território protegido, no Parque Natural do Tejo Internacional. Aí marca a fronteira entre Espanha e Portugal, num troço caracterizado pela ausência de núcleos urbanos relevantes. Vila Velha de Ródão é a primeira localidade importante que o rio encontra em Portugal. Passadas as Portas de Ródão, o Tejo inclina-se para sudoeste e, seguindo esta direção, encontra a barragem de Fratel, cuja albufeira, parcialmente, segue paralela à Linha da Beira Baixa e à autoestrada A23. Recebe pela direita o rio Ocreza. A caminho de Belver, é retido na barragem de Belver, ao largo da qual volta a fluir para oeste. Entra em Abrantes, através da freguesia de Alvega. Em Abrantes forma um meandro em volta da colina sobre a qual se situa esta cidade. Aqui junta-se-lhe o rio Torto na margem esquerda. Dirigindo-se para Constância, onde se lhe junta pela margem direita o Zêzere. Este rio é o principal afluente do Tejo no curso baixo, e apresenta numerosas barragens. Vila Nova da Barquinha é o próximo destino. Aqui bordeja o castelo medieval de Almourol, um dos monumentos mais relevantes junto ao rio, e toma outra vez rumo sudoeste, desta vez até à foz. Passa perto da Chamusca, depois Santarém, um das cidades mais povoadas no percurso. Próximo da foz, a largura aumenta pouco a pouco e forma diferentes ilhas sedimentares, entre as quais se destacam pela dimensão aquelas ao sul de Vila Franca de Xira e de Alhandra, que precedem o estuário. 50 Apontamentos: Escudo Desagua no Oceano Atlântico, formando o estuário o chamado Mar da Palha, o mais importante da Península Ibérica, tanto pelas dimensões como pela relevância sociodemográfica. Na parte norte, este espaço está protegido legalmente mediante a Reserva Natural do Estuário do Tejo, criada em 1916, com uma área de 14 560 hectares. Aqui se integram zonas húmidas, lodos, salinas, ilhotas e terrenos agrícolas que, a cada inverno, dão abrigo a cerca de 80.000 aves. A vila de Alcochete, situada na margem esquerda do estuário, pode ser considerada como a principal localidade de referência deste espaço protegido. O rio prossegue até Lisboa, sob a ponte Vasco da Gama, considerada a mais comprida da Europa com 17,2 km de comprimento, 10 dos quais sobre o leito do rio. Conforme se aproxima da capital portuguesa, a largura do estuário vai pouco a pouco reduzindo-se. Num dos pontos mais estreitos foi construído a Ponte 25 de Abril, que também tem grande interesse arquitetónico e estrutural. Foi inaugurada em 1966 e tem um comprimento de quase 2 km, ligando Lisboa e Almada. Ficha Técnica Valor: 10$00 Chapa: 1 Frente: Retrato de Afonso de Albuquerque Verso: Grupo simbólico dos rios Douro e Tejo Marca de água: Cabeça feminina com capacete Medidas: 162x105 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Primeira emissão:30-07-1920 Última emissão: 24-12-1926 Retirada de circulação: 24-06-1929 Data 21-10-1919 07-07-1920 Emissão 2 180 000 6 880 000 Combinações de Assinaturas 10 10 20$00 Ch. 2 D. João de Castro Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos João da Mota Gomes Júnior José Paixão Castanheira das Neves José Félix da Costa José Pereira Cardoso Duarte Augusto Abrantes Bizarro 51 Apontamentos: Escudo Francisco Maria da Costa Ruy Ennes Ulrich Manuel António Dias Ferreira António José Pereira Júnior Na mesma sequência da nota anterior foi produzida a chapa 2 de 20$00 que prestou homenagem a outra figura da história portuguesa no domínio da Índia, neste caso, o quarto vice-rei, D. João de Castro. O fabrico de todas as chapas e estampagem foram da autoria dos estampadores ingleses Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, de Londres, com exceção da gravura com a vista do Palácio de Sintra, executada por um dos mais ativos gravadores do Banco de Portugal, Armando Pedroso. Na frente da nota, sobre fundo retangular composto de diversos trabalhos de guilhoche e moiré, impressos tipograficamente a três cores, castanho-claro, rosa e verde, observa-se uma estampagem calcográfica, a azul-escuro, que constitui o suporte do retrato. O verso tem o fundo policromo irisado, de técnica tipográfica, composto de linhas ondulantes verticais e uma aplicação de moiré na zona da marca de água. Sobre o fundo vê-se uma estampagem a preto, por processo calcográfico, com os motivos principais da composição, onde sobressai o trabalho de torno geométrico em linhabranca constante dos ornatos. O texto complementar (data, chapa, série, numeração e chancelas) de impressão tipográfica, a preto, foi aposto nas oficinas do Banco. O papel foi produzido pela francesa Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie. Como elemento de segurança a marca de água localizada a meio, à direita, uma cabeça simbólica de mulher cingida de coroa, de perfil para o centro, em claro e escuro, e, inferiormente, um retângulo luminoso contendo a legenda “Banco de Portugal”, em letras escuras, numa só linha. D. João de Castro Nobre, cartógrafo e administrador colonial português, natural de Lisboa (1500), faleceu em Goa (1548). Destacou-se como 13º governador e capitão general e 4.º Vice-Rei do Estado Português da Índia. Secretário da Casa do Rei D. Manuel I de Portugal, era filho de D. Álvaro de Castro (senhor do Paul de Boquilobo, governador da Casa do Cível e vedor da fazenda de D. João II de Portugal e de D. Manuel I) e de D. Leonor de Noronha. Foi discípulo de Pedro Nunes e condiscípulo do Infante D. Luís. Aprendeu Letras por vontade do pai, mas enveredou pela carreira militar. Embarcou aos 18 anos para Tânger, onde serviu durante nove anos sendo governador daquela praça D. Duarte de Meneses, e onde foi ordenado cavaleiro. D. Duarte escreveu a D. João III, recomendando João de Castro. De volta ao reino, conservou-se por algum tempo na Corte. Desposou sua prima, D. Leonor Coutinho. Quando o soberano armou a expedição a Tunes em auxílio a Carlos V em 1535, D. João acompanhou o infante D. Luís. Pela sua grande valia recebeu a comenda de São Paulo de Salvaterra na Ordem de Cristo, tendo professou a 6 de Março de 1538, conforme a lista dos cavaleiros daquela Ordem. Viajou depois para a Índia, com seu cunhado D. Garcia de Noronha, nomeado vice-rei. Falecendo D. Garcia, sucedeu-lhe no governo D. Estêvão da Gama, e D. João de Castro achouse com ele na expedição ao Mar Vermelho. D. Estêvão partiu com 12 navios de alto bordo e 60 52 Apontamentos: Escudo embarcações de remo, a 31 de Dezembro de 1540, sendo D. João de Castro o capitão dum galeão. Esta viagem até Suez foi deveras notável, e D. João fez dela um roteiro minucioso, que ofereceu ao infante D. Luís. De regresso a Portugal, foi nomeado general da armada da costa em 1543, em prémio dos serviços. Em 1545 foi nomeado em Évora por D. João III Vice-Rei da Índia. Levou consigo para a Índia os seus dois filhos D. Álvaro e D. Fernando. Aprestou brevemente a armada, que constava de 6 naus grandes, em que se embarcaram 2.000 homens de soldo; a capitânia S. Tomé, batizada assim, por ter sido este o do apóstolo da Índia. A armada partiu a 24 de Março de 1515.. A armada chegou a Goa em Setembro. Lançado nos complicadíssimos negócios da administração da Índia, teve de pegar em armas contra o Hidalcão,. Hidalcão foi derrotado a duas léguas da cidade de Goa, e viu-se obrigado a pedir a paz. Acabado o incidente, em 1546 esteve em guerra por Diu, com Coge Cofar, na qual a fortaleza sofreu grande dano obrigando a custosas obras de reparação. Depois da vitória de Diu, entrou novamente em guerra com Hidalcão, que derrotou, tomando Bardez e Salsete. Dirigiu-se para Diu, mas havendo só a notícia do socorro que levava, assustado o inimigo fugiu, voltou a Goa, onde se viu obrigado a repelir ainda o Hidalcão, destruindo-lhe os portos. Havendo chegado a Lisboa a fama das suas proezas no Oriente, o rei quis recompensá-lo, enviando-lhe o título de vice-rei, em carta de 13 de Outubro de 1547, prorrogando-lhe o governo por mais três anos, dando-lhe uma ajuda de custo de 10.000 cruzados, e concedendo ao seu filho D. Álvaro o posto de capitão-mor do mar da Índia. No entanto, nã chegaria a receber a notícia pois veio a falecer em 1548 por doença desconhecida, tendo ficado sepultado na capela-mor do atual convento de São Francisco em Goa. Em 1576 foi transladado para o Convento de São Domingo em Lisboa onde foram celebradas exéquias antes de ser finalmente sepultado na capela dos Castros fundada pelo seu neto. Palácio Nacional de Sintra O Palácio Nacional de Sintra, também conhecido como Palácio da Vila, localiza-se na freguesia de São Martinho, na vila de Sintra. Foi um dos Palácios Reais e hoje é propriedade do Estado Português, que o utiliza para fins turísticos e culturais. De implantação urbana, a sua construção iniciou-se no século XV, com traça de autor desconhecido. Apresenta características de arquitetura medieval, gótica, manuelina, renascentista e romântica. É considerado um exemplo de arquitetura orgânica, de conjunto de corpos aparentemente separados, mas que fazem parte de um todo articulado entre si, através de pátios, escadas, corredores e galerias. O Palácio foi utilizado pela Família Real Portuguesa praticamente até ao final da Monarquia, em 1910. Em 2008 foi o palácio mais visitado de Portugal com 408 712 visitantes. Remonta a um primitivo palácio que terá sido doado pelo rei D. João I ao conde de Seia, em 1383, voltando para a posse real pouco depois. Reedificado no século XV, a partir de 1489, quando lhe foi iniciada uma campanha de obras que visaram aligeirar a massa da construção e enriquecer a decoração interior, aplicando-selhe azulejos andaluzes. Entre 1505 e 1520 ergueu-se a chamada ala manuelina e, em 1508, teve início a construção da Sala dos Brasões. 53 Apontamentos: Escudo Durante o reinado de D. João III edificou-se o espaço entre as alas joanina e manuelina. No século XVII, sob a orientação do conde de Soure, procedeu-se a obras de alteração e ampliação e, entre 1683 e 1706, sob o reinado de D. Pedro II, renovaram-se as pinturas dos tetos de alguns compartimentos. Em 1755 foram realizadas importantes obras de restauro, no seguimento dos danos causados pelo terramoto, e edificada a ala que vai do Jardim da Preta ao Pátio dos Tanquinhos. Nova campanha de decoração foi levada a cabo em 1863.Nos últimos anos do regime monárquico foi a residência de Verão da rainha-mãe D. Maria Pia, a última habitante régia do Paço da Vila de Sintra. Aqui tiveram lugar várias receções oferecidas pela rainha-mãe aos estadistas que visitavam o seu filho, como o Imperador Guilherme II da Alemanha ou o Presidente de França, Émile Loubet, entre outros. 54 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 20$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de D. João de Castro Verso: Gravura do Palácio de Sintra Marca de água: Cabeça feminina coroada Medidas: 176x117 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:03-11-1919 Última emissão: 13-12-1924 Retirada de circulação: 24-06-1929 Data 12-08-1919 11-11-1919 05-02-1920 07-07-1920 Emissão 1 020 000 980 000 1 000 000 2 210 000 Combinações de Assinaturas 10 10 10 10 55 Apontamentos: Escudo As novas moedas de 5, 10 e 20 centavos António José de Almeida, Francisco de Pina Esteves Lopes (Presidente do Concelho e Ministro das Finanças), autores das leis criadoras do novo numerário (lei 990 e 1085). Em 1920 a constante necessidade de ter numerário para fazer face às necessidades da economia da altura conduziram ao surgimento de novos valores em forma de moeda ($05) e reforma das moedas de $10 e $20, dado que as anteriores em prata já tinham valor em metal superior ao fiduciário (dada a desvalorização do escudo e a valorização dos metais preciosos). Cuproníquel As “moedas brancas” são habitualmente desta liga. Caracteriza-se por ser muito dura e resistente ao desgaste o que a torna ideal para utilização em numária. Inaugurada a suautilização na República com as moedas de $04 (Cu 750 Ni 250), mas com utilização a nível nacional desde 1900 (moedas de 50 e 100 Réis). Foi utilizado em diversas valores numismáticos ($10, $20, 2$50, 5$, 20$ e 100$). Nas moedas de 10$ de 1971 a 1974 optou-se por uma estratégia diferente com disco central em níquel capeado por cuproníquel em liga habitual. O seu maior apogeu chegou com a aplicação em numisma comemorativa no final do Escudo, regressando depois no Euro associado à subida de cotação da prata. Composição: Cu 800 Ni 200 de 1920-1922 Cu 750 Ni 250 No entanto, a primeira reforma foi operada em Fevereiro e concerne o teor em cobre e zinco das moedas de bronze em circulação (1 e 2 centavos). A partir da lei 950 a constituição da liga de bronze passava a ser de 96% de cobre e 4 % de zinco. Esta lei teria depois implicações nas ligas das futuras moedas de 5 centavos, e posteriores moedas de 10 e 20 centavos de bronze, mantendo-se esta liga até 1940. As primeiras moedas a serem legisladas em 1920, foram as novas moedas de cuproníquel de 10 e 20 centavos. Em lei de 25 de Junho (lei 990), com o objetivo de substituir as cédulas em circulação, moedas de 1, 2 e 4 centavos (bronze e cuproníquel respetivamente) e as de prata de 10 e 20 centavos, embora sem determinar concretamente a data da sua retirada de circulação, o que na prática permitiu manter oficialmente todos estes em circulação. As novas moedas eram em cuproníquel (cobre 80%, níquel 20%), únicas desta liga com esta constituição. O desenho de ambas era semelhante ao já utilizado na moeda de 4 centavos. Meses depois (9 de Dezembro) foi criada moeda de 5 centavos em bronze (lei 1085). Também esta moeda visava substituir as cédulas em circulação, mas funcionou mais como um reforço destas. Estas moedas seguiram o desenho das de 1 e 2 centavos já em circulação. De referir por fim a existência de variações quanto ao diâmetro das moedas de 20 centavos (22 mm em vez do habitual 23 mm) e presença de moedas com P aberto à semelhança das moedas de 1 centavo. Estas variações fazem também as delícias de alguns colecionadores, sendo as peças de 22 mm de particular raridade. 56 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 8 g Diâmetro: 25 mm Bordo: Liso Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Zn 40 Autor: Alves do Rego Decreto-lei: 1085 de 09/12/1920 Ano e taxa de recolha: 1927 (64,1%) Ano 1920 1921 1922 Cunhagem 114 000 3 986 000 537 849 Código 011.01 011.02 011.03 Ficha Técnica Peso: 3 g Diâmetro: 19 mm Bordo: Blocos serrilhados alternados com lisos Eixo: Vertical Metal: Cuproníquel Composição: Cu 800 Ni 200 Autor: Anv – Alves do Rego, Rev – Francisco dos Santos Decreto-lei: 990 de 25/06/1920 Ano e taxa de recolha: 1929 (62,5%) Ano 1920 1921 Cunhagem 1 120 000 1 285 000 Código 012.01 012.02 Ficha Técnica Peso: 6 g Diâmetro: 23 mm Bordo: Blocos serrilhados alternados com lisos Eixo: Vertical Metal: Cuproníquel Composição: Cu 800 Ni 200 Autor: Anv – Alves do Rego, Rev – Francisco dos Santos Decreto-lei: 990 de 25/06/1920 Ano e taxa de recolha: 1929 (67,5%) Ano 1920 1921 1922 Cunhagem 1 567 500 3 030 000 580 000 Código 013.01 013.02 013.03 57 Apontamentos: Escudo 5$00 Ch. 2 João das Regras Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos António José Pereira Júnior José Paixão Castanheira das Neves Fernando Emygdio da Silva José Pereira Cardoso José Caetano Lobo D’Ávila da Silva Lima João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta José Félix da Costa António Augusto Cerqueira Duarte Augusto Abrantes Bizarro João Theotónio Pereira Júnior Francisco Maria da Costa Ramiro Eusébio Leão Manuel António Dias Ferreira Manuel Casal Ribeiro Carvalho Ruy Ennes Ulrich Tal como as suas antecessoras, as chapas para a estampagem desta nota foram executadas nas oficinas londrinas da Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, (onde se procedeu também à respetiva impressão), com retrato de João das Regras, notável jurisconsulto português (1340-1404), patente na frente, e da vista do Convento da Batalha, no verso. A inexistência de retratos oficiais de uma das mais singulares e importantes figuras da história portuguesa que viveu no século XIV levou à contratação do professor de gravura da Academia das Belas-Artes, José de Lacerda, que levou pelo seu trabalho 360 escudos. A gravura do Convento da Batalha foi de autoria de Armando Pedroso, na altura ainda gravador do Banco sem funções de chefia. Na frente, o retrato e todo o conjunto em tom escuro que o emoldura são de técnica calcográfica. O fundo, tipográfico, impresso em cores esbatidas verde ao centro e vermelho-laranja aos lados, é composto linhas ondulantes à esquerda e moiré à direita. Ao centro, e fazendo parte do fundo, observa-se um grande ornato de guilhoché em linha escura. Sobre a direita, uma cabeça numismática simboliza a República. O verso tem uma estampagem calcográfica, a azul- 58 Apontamentos: Escudo escuro, em cuja composição está patente um ornato de motivo irregular com trabalho em guilhoché em linha branca. O fundo, em cores esbatidas, amarelo-laranja a meio e azul-claro aos lados, é composto,tal como na frente, por linhas ondulantes e moiré. O texto complementar é impresso tipograficamente a preto. O papel foi produzido na francesa Perrigot-Masure, d´Arches. A marca de água surgia no ângulo superior direito sob a forma de uma cabeça simbólica laureada, de perfil para o centro, e por baixo desta as palavras “Banco de / Portugal”, em duas linhas. 59 Apontamentos: Escudo João das Regras Jurisconsulto português (Lisboa, 13?? - Lisboa, 3 de Maio de 1404)$. Assumiu particular evidência no contexto da Crise de 1383—1385 pela magistral representação da causa do Mestre de Avis nas cortes de Coimbra de 1385, cujo corolário foi a aclamação dele como rei de Portugal. Era filho de João Afonso das Regras e de Sentil Esteves e, após o segundo casamento da sua mãe, enteado de Álvaro Pais. De acordo com Fernão Lopes esteve em Bolonha e é verosímil que tenha estudado na universidade daquela cidade. Foi professor da Universidade de Lisboa, onde mais tarde desempenhou o alto cargo de encarregado ou protetor, equivalente, segundo alguns, ao cargo actual de reitor (lugar que lhe foi dado por Carta Régia de 25 de Outubro de 1400). Tal como o seu padrasto, teve uma ação importante no levantamento de Lisboa que alçou o mestre de Avis por regedor e defensor do Reino. Conselheiro e chanceler do mestre, a sua ação na crise de 13831385 culminou na inteligente argumentação em que, omitindo o nome do mestre, negou validade às pretensões dos outros candidatos ao trono: A D. Beatriz, filha do falecido rei de Portugal, nega João das Regras quaisquer direitos por nulidade do casamento de Fernando I de Portugal com Leonor Teles de Menezes, que era já casada com João Lourenço da Cunha quando o rei a desposou; por incerteza quanto à paternidade de D. Fernando, dado o comportamento irregular de Leonor Teles; por haver contraído um casamento com o rei D. João I de Castela, seu parente (a mãe do rei de Castela era tia-avó de D. Beatriz) sem a dispensa do papa legítimo Papa Urbano IV, em vez do antipapa Clemente VII; Ao rei de Castela, por ter quebrado o tratado antenupcial de Salvaterra de Magos de Março de 1383 e por ser herege, refuta João das Regras o direito a ser rei de Portugal, pois, pela violação daquele tratado, perdia o direito que havia nos reinos de Portugal e, ademais, reconhecera o antipapa e fora excomungado pelo legítimo papa; além disso, porque o seu parentesco com o rei D. Fernando se dava pela linha feminina (as suas mães eram irmãs), o que pelo direito consuetudinário hispânico não dava direitos de sucessão. Os infantes D. Dinis e D. João, filhos de el-rei D. Pedro I e de Inês de Castro, portanto, irmãos de D. Fernando, não podiam ter direito ao trono porque eram ilegítimos: D. Pedro nunca casara legalmente com Inês de Castro; além disso fizeram guerra contra Portugal aliados a Henrique II de Castela e a D. João I de Castela. Inteligentemente, a sua estratégia demonstrou que o trono português estava vago, pois nenhum dos pretendentes tinha direito a ele. Cabia assim às Cortes escolher livremente um novo rei, sendo o Mestre, "per unida concordança de todolos grandes e comum poboo" aclamado rei de Portugal. O rei concedeu muitas mercês a João das Regras: fê-lo cavaleiro de sua casa, senhor das vilas de Castelo Rodrigo, Tarouca e Beldigem; senhor de Cascais e seu termo, do reguengo de Oeiras, das dízimas das sentenças condenatórias de Évora, da jurisdição da Lourinhã e das rendas da portagem de Beja. Fernão Lopes refere-se a ele "como notável barom, comprido de ciência [e] mui grande letrado em leis[...]". Jaz sepultado na Igreja de São Domingos de Benfica, em Lisboa, em um túmulo gótico de 60 Apontamentos: Escudo mármore com jacente, sustentado por quatro leões. Mosteiro da Batalha O Mosteiro de Santa Maria da Vitória (mais conhecido como Mosteiro da Batalha) situa-se na Batalha e foi mandado edificar por D. João I como agradecimento à Virgem Maria pela vitória na Batalha de Aljubarrota. Este mosteiro dominicano foi construído ao longo de dois séculos, desde o início em 1386 até cerca de 1517, ao longo do reinado de sete reis de Portugal, embora desde 1388 já ali vivessem os primeiros dominicanos. Exemplo da arquitetura gótica tardia portuguesa, é considerado património mundial pela UNESCO. Em traços esquemáticos conhece-se a evolução do estaleiro propriamente dito e o grau de avanço das obras. Sabe-se que ao projeto inicial corresponde a igreja, o claustro e as dependências monásticas inerentes, como a Sala do Capítulo, sacristia, refeitório e anexos. É um modelo que se assemelha ao adotado, em termos de orgânica interna, pelo grande mosteiro alcobacense. A capela do Fundador, capela funerária, foi acrescentada a este projeto inicial pelo próprio rei D. João I, o mesmo acontecendo com a rotunda funerária conhecida por Capelas Imperfeitas, da iniciativa do rei D. Duarte. O claustro menor e dependências adjacentes ficaria a dever-se à iniciativa de D. Afonso V, sendo de notar o desinteresse de D. João II pela edificação. Voltaria a receber os favores reais com D. Manuel, mas somente até 1516-1517, ou seja, até à sua decisão em favorecer decididamente a fábrica do Mosteiro dos Jerónimos. O Mosteiro foi restaurado no Século XIX, sob a direção de Luís Mouzinho de Albuquerque, de acordo com a traça de Thomas Pitt, viajante inglês que estivera em Portugal nos fins do Século XVIII, e que dera a conhecer por toda a Europa o mosteiro através das suas gravuras. Neste restauro, o Mosteiro sofreu transformações mais ou menos profundas, designadamente pela destruição de dois claustros, junto das Capelas Imperfeitas e, num quadro de extinção das ordens religiosas em Portugal, pela remoção total dos símbolos religiosos, procurando tornar o Mosteiro num símbolo glorioso da Dinastia de Avis e, sobretudo, da sua primeira geração (a dita Ínclita Geração de Camões). Data dessa altura a atual configuração da Capela do Fundador e a vulgarização do termo Mosteiro da Batalha (celebrando Aljubarrota) em detrimento de Santa Maria da Vitória, numa tentativa de erradicar definitivamente as designações que lembrassem o passado religioso do edifício. 61 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 5$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de João das Regras Verso: Gravura do Mosteiro da Batalha Marca de água: Cabeça simbólica laureada Medidas: 146x96 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Desenhador: José da Lacerda Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:10-05-1921 Última emissão: 01-09-1927 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data 10-07-1920 02-12-1921 14-06-1922 08-08-1922 13-01-1925 Emissão 4 000 000 2 000 000 2 000 000 6 000 000 5 800 000 Combinações de Assinaturas 10 12 8 9 10 10$00 Ch. 2 Marquês Sá da Bandeira Inocêncio Camacho Rodrigues 62 Henrique Matheus dos Santos Ruy Ennes Ulrich José Paixão Castanheira das Neves António José Pereira Júnior José Pereira Cardoso Fernando Emygdio da Silva João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta José Félix da Costa António Augusto Cerqueira Duarte Augusto Abrantes Bizarro João Theotónio Pereira Júnior Francisco Maria da Costa Ramiro Eusébio Leão Manuel António Dias Ferreira Manuel Casal Ribeiro Carvalho Apontamentos: Escudo José D’Assis Camilo Domingos Holstein Beck José Francisco de Azevedo e Silva Ainda em 1921 começaram a ser produzidas as novas chapas de notas de 10$00 que prestaram homenagem ao Marquês Sá da Bandeira. O retrato do general e estadista que marcou a história portuguesa do século XIX, foi também realizada pelo professor José de Lacerda (que ganhou 375$00 por este trabalho). Os demais elementos e a estampagem foram executados na firma londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltd. Na frente, dois fundos irisados a verde, lilás e amarelo, executados em guilhoché e impressos tipograficamente, protegem a estampa principal, a talhe-doce, produzida em tom escuro. Esta estampa era composta de uma faixa horizontal que servia de apoio aomedalhão que emoldurava o retrato, tendo todo o conjunto trabalho de guilhoché em linha branca. Em ambos os lados, a meio, podem observar-se dois ovais, cada um com a cabeça alegórica da República, de perfil para o centro, imitando numismática. No verso, assentando sobre um fundo composto por trechos em guilhoché e impressos tipograficamente em íris nas cores amarelo e rosa, sobressaia o desenho principal, estampado calcograficamente a azul. Este desenho apresentava três figuras aladas, simbolizando a da esquerda a poesia e as duas da direita as Belas-Artes, Pintura e Arquitetura. No canto superior direito estava estampada uma cabeça de guerreiro, “imitação do relevo das medalhas”. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, chancelas e a palavra “Ouro”) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado na francesa Perrigot-Masure, d´Arches (Vosgues). A marca de água apresentava as seguintes características: noângulo superior direito, uma cabeça de mulher (alegórica da Vinicultura), e, na parte inferior, a legenda “Banco de Portugal” em caracteres escuros com projeções em claro, numa só linha. Marquês Sá da Bandeira Moço fidalgo da Casa Real, par do reino, marechal de campo, político português do tempo da Monarquia Constitucional e um importante líder do movimento setembrista. Natural de Santarém (1795) faleceu em Lisboa em 1876. Foi um dos líderes do Partido Histórico, o qual abandonou para formar o seu próprio movimento, o Partido Reformista. Assumiu diversas pastas ministeriais e foi por cinco vezes chefe de Governo (1836 – 1837, 1837 – 1839, 1865 e 1868 – 1869). Foi primeiro barão (1833), primeiro visconde (1834) e primeiro marquês de Sá da Bandeira (1854). Apoiante dos liberais, esteve sitiado durante o Cerco do Porto onde veio a perder o braço direito, no Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia. Após a tomada do Poder pelos setembristas na sequência da Revolução de Setembro de 1836, Sá da Bandeira assumiu a parta do ministério do Interior. Pouco tempo depois, uma tentativa contra revolucionária de levar ao poder a fação cartista (Belenzada) teve um efeito contrário ao desejado pelos revoltosos, vendo-se a rainha D. Maria II obrigada a nomear Sá da Bandeira como Primeiro-ministro. 63 Apontamentos: Escudo 64 Apontamentos: Escudo Juntamente com Passos Manuel, iniciou um programa de reformas tendo em vista o progresso do País. No ano seguinte, desencadeou-se a Revolta dos Marechais (Saldanha e Terceira) contra o seu governo, mas Sá da Bandeira conseguiu sustê-la. Em 1842, com o golpe de Costa Cabral, acabou este período de governação setembrista. Por sua vez, em 1846 a revolta da Maria da Fonte, da qual o general fez parte apoiando os revoltosos, pôs fim ao governo Costa Cabral. No fim da mesma a rainha D. Maria II designou então um executivo presidido pelo Duque de Palmela, cartista moderado, no qual Sá da Bandeira também tomou parte, como ministro da Guerra. No entanto, um novo golpe, promovido por Saldanha, levou-o a pedir a sua exoneração da pasta que ocupava. Tal decisão esteve em parte na origem de uma nova guerra civil, a Patuleia, a qual terminou em 1847 com a vitória dos cartistas, apoiados pela rainha e por forças estrangeiras (Espanha e Reino Unido). Portugal seria então governado pelos conservadores durante mais de dez anos, até à ascensão ao trono de D. Pedro V, de ideias francamente progressistas. Por essa altura havia-se já iniciado o sistema do rotativismo que iria caracterizar a Monarquia Constitucional até ao seu fim. De um lado, o Partido Regenerador, formado pelos antigos cartistas, de cariz mais conservador; do outro, o Partido Histórico, derivado do movimento setembrista, de feição mais liberal. A monarquia constitucional em Portugal, na prática, afirmou-se essencialmente como um sistema oligárquico. Sá da Bandeira assumiu por esta altura um papel de proa na condução do Partido Histórico, sendo a sua segunda figura, logo após o Duque de Loulé; este último acabou por se tornar chefe de governo em 1856 até 1859. No quadro regular de um rotativismo caracterizado pelas frequentes dissoluções das Cortes, pela elevada abstenção (até porque o direito de voto era um privilégio de uma escassa minoria) e até pela manipulação eleitoral, em que alternavam no poder os dois grandes partidos, Sá da Bandeira ascendeu à chefia do governo em 1865, mas apenas durante cinco meses. Em sua substituição, foi formada uma grande coligação constituída por Regeneradores e Históricos, o Governo de Fusão de Joaquim António de Aguiar. Sá da Bandeira, que desde há muito se manifestava contra esta hipótese, acabou por se afastar do partido, e formou com os seus correligionários o Partido Reformista. À frente deste, Sá da Bandeira voltaria a ser primeiro-ministro por um curto espaço de tempo, entre 1868 e 1869. Em 1870, na sequência do golpe da Ajudada, que pôs Saldanha no poder, Sá da Bandeira organizou a resistência ao seu governo de ditadura, e três meses mais tarde este caiu. Sá da Bandeira foi, pela quinta e última vez, convidado a formar governo. Organizou depois eleições e ofereceu o poder ao independente António José de Ávila. Viria a falecer em 1876. 65 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 10$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de Marquês Sá da Bandeira Verso: Escudo da República Marca de água: Cabeça de mulher (alegoria de vinicultura) Medidas: 167x107 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Desenhador: José da Lacerda Primeira emissão:02-11-1921 Última emissão: 17-07-1931 Retirada de circulação: 31-12-1933 Data 09-08-1920 31-08-1926 02-11-1927 28-01-1928 Emissão 3 220 000 5 000 000 5 000 000 5 500 000 Combinações de Assinaturas 10 10 9 9 20$00 Ch. 3 José E. Coelho de Magalhães Inocêncio Camacho Rodrigues 66 Henrique Matheus dos Santos Ruy Ennes Ulrich José Paixão Castanheira das Neves António José Pereira Júnior José Pereira Cardoso Fernando Emygdio da Silva João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta José Félix da Costa António Augusto Cerqueira Duarte Augusto Abrantes Bizarro João Theotónio Pereira Júnior Francisco Maria da Costa Ramiro Eusébio Leão Manuel António Dias Ferreira Manuel Casal Ribeiro Carvalho Apontamentos: Escudo José D’Assis Camilo Tal como a anterior que era datada de 1920 foi emitida em 1921 uma ova chapa de 20$00 fazendo também homenagem a uma outra figura do liberalismo em Portugal: José Estêvão Coelho de Magalhães. O retrato do estadista foi gravado pelo professor José de Lacerda (o qual recebeu 360$00 pelo trabalho), sendo o restante trabalho a cargo da londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltd. A frente da nota tinha dois fundos impressos por técnica tipográfica: um em íris, outro em azul e vermelho. Compostos de linhas ondulantes e moiré, apresentavam a meio da nota um grande ornato em círculo, de guilhoché em linha branca e naquelas duas cores, que por vezes se sobrepunham, formando a base de protecção anti fotográficas da gravura principal. Esta era estampada calcograficamente a vermelho-escuro e continha legendas emcaracteres de tom escuro com projeções em meia-tinta. O medalhão que envolvia oretrato era trabalhado a torno geométrico em linha branca. O verso tinha um fundo impresso tipograficamente em tom claro, irisado de amarelo e verde, composto na parte superior por um motivo geométrico de guilhoché em linha escura e no restante por linhas onduladas. Este fundo serviu de base ao desenho principal, estampado por processo calcográfico (talhe-doce) a tinta escura avermelhada(tom fotográfico). O conjunto calcográfico englobava largo trabalho de torno geométrico em linha branca. Duas cabeças numismáticas de Minerva estavam colocadas em cada um dos lados, a meio, de perfil para o centro. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “Ouro”, “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) de impressão tipográfica, a preto, foi aposto nas oficinas do Banco. O papel foi mais uma vez de origem francesa (Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie). A marca de água surgia no ângulo superior direito, com uma cabeça feminina com capacete, e na parte inferior esquerda, a legenda “Banco de / Portugal”, em caracteres inclinados, levemente escuros e expostos em duas linhas. José Estêvão Coelho de Magalhães Jornalista, político e orador parlamentar português, sendo durante o período de 1836 a 1862 a figura dominante da oposição de esquerda na Câmara dos Deputados. Natural da freguesia da Senhora da Apresentação (Aveiro) onde nasceu em 1809, era filho do médico e politico liberal Luís Cipriano Coelho de Magalhães e de Clara Miquelina de Azevedo Leitão. Era bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra. Durante o curso envolveu-se profundamente nos clubes políticos que se formavam no meio académico, reflexo da grande agitação que perpassava Portugal face à instabilidade social e política que se vivia, cedo se destacando pela sua eloquência e ativismo em prol do movimento liberal. Por esta altura estreou-se na imprensa. Participou ativamente nas Guerras Liberais sendo um dos académicos que viveu o exílio em Inglaterra e na ilha Terceira e participou no desembarque do Mindelo e na batalha do Cerco do Porto, travando batalha na Serra do Pilar, onde se destacou pela sua bravura, tendo por isso sido condecorado com a Ordem da Torre e Espada. No final da guerra combateu ao lado do marechal Saldanha, acabando a guerra no posto de primeiro-tenente. Em 1836 foi eleito deputado. Dotado de consumado talento dramático, impressionava quem o ouvia, dando a sensação de falar sempre do coração e de dizer as verdades com incomparável 67 Apontamentos: Escudo desassombro. Estas características, associadas à reputação de coragem que granjeara na guerra civil e a um temperamento sentimental marcado por fácil emotividade, granjearam a José Estêvão fama de incomparável retitude e intrepidez, que faria dele um dos mais conhecidos oradores parlamentares de sempre e, no dizer da época, o soldado fiel e imaculado do partido liberal. Entusiástico defensor dos ideais da Revolução de Setembro de 1836, foi uma das figuras dominantes da oposição aos cartistas e à funesta mentira que segundo ele fora a Carta Constitucional de 1826, a qual não permitia realizar nenhuma das condições do sistema representativo. Não se contentando com a tribuna do parlamento, sabendo que para melhor propagar as suas ideias era preciso ter um jornal à sua disposição, fundou, com Manuel António de Vasconcelos, o jornal O Tempo, cujo primeiro número saiu a 29 de Janeiro de 1838, com um editorial, escrito por José Estêvão, a insurgir-se contra os planos financeiros do governo e as propostas feitas pela direção do Banco de Lisboa para novo empréstimo ao Tesouro. No parlamento e na imprensa foi-se progressivamente afirmando como uma das vozes mais incómodos da oposição, concitando o apoio das franjas mais radicais. No entanto, quando em Março de 1838, no mês final de elaboração da nova Constituição, a Guarda Nacional cercou as Cortes, aprisionando os deputados e o governo, numa tentativa de forçar a saída dos elementos moderados do ministério, José Estêvão votou, na sessão de 13 de Março, a favor da ordem de mobilizar a tropa de linha contra os revoltosos. O seu radicalismo, apesar de tudo, não admitia ações tumultuárias nem que o poder tombasse na rua. Jurada a Constituição Portuguesa de 1838, nas eleições de 12 de Agosto de 1838 (3.ª legislatura), José Estêvão foi novamente eleito pelo círculo eleitoral de Aveiro, tendo prestado juramento a 8 de Janeiro de 1839. O mesmo aconteceu nas eleições seguintes. Contra o governo presidido por José Travassos Valdez, 1.º conde de Bonfim, proferiu no debate do discurso da Coroa, realizado a 6 de Fevereiro de 1840, o famoso discurso do Porto Pireu, o qual, em conjunto com as réplicas de Almeida Garrett, é considerado uma das joias do parlamentarismo português. A partir de 22 de Junho de 1840 passou a colaborar no jornal A Revolução de Setembro, já que O Tempo tinha deixado de se publicar a 24 de Agosto de 1839. Nele voltou a reiterar o seu apoio por uma solução constitucional que se traduzisse na fórmula: uma constituição popular, um rei sem arbítrio; uma representação extensa, apontando na direção oposta àquela que ia lentamente dominando a vida política da época, onde os cartistas estavam em franca ascensão. Por esta altura obtém em concurso público o lugar de professor de Economia Política e de Direito Administrativo e Comercial da Escola Politécnica de Lisboa, revelando-se um mestre pouco assíduo e mal preparado. Mesmo assim, deixou apontamentos de vulto e publicou, no Archivo Pittoresco de 1862, o excerto de uma das suas lições a respeito da emigração. À medida que os governos cartistas iam consolidando o seu poder, José Estêvão foi-se radicalizando na busca de soluções alternativas de governação, começando a encarar como legítima a via revolucionária e o golpismo. Depois de restaurada em 1842 a Carta Constitucional e de instalado o cabralismo, José Estêvão endurece a oposição. Em consequência o governo também fortalece as medidas tomadas contra ele, do que resulta não ter conseguido a eleição por Aveiro no escrutínio levado a cabo em Junho de 1842. Mesmo assim, consegue uma eleição por Lisboa/Estremadura. O governo tinha clara maioria e nesse contexto em Fevereiro de 1844 adere a mais uma tentativa revolucionária, desta vez liderada por António César de Vasconcelos, depois conde de Torres Novas. O golpe iniciou-se a 4 de Fevereiro de 1844 quando o Regimento de Cavalaria n.º 4, estacionado em Torres Novas se sublevou e se colocou ao lado dos setembristas. De imediato José Estêvão e muitos outros militares e paisanos do partido progressista, foram juntar-se a 68 Apontamentos: Escudo César de Vasconcelos, o qual, com as forças que pôde reunir, marchou sobre Almeida. José Estêvão foi encarregado de sublevar as províncias do norte. Conseguiu algumas adesões ao longo do Douro, mas não o suficiente para iniciar uma sublevação geral. A este tempo, já Costa Cabral havia lançado mandato de captura a todos os governadores civis em que se oferecia o prémio de 2.000$000 réis à pessoa que apresentasse ao governo a cabeça de José Estêvão. O facto de este levantamento não ter tido êxito levou José Estêvão a fugir para Espanha e depois exilou-se em Paris onde permaneceu até 1846. Regressa nesse ano a Portugal após a Revolução da Maria da Fonte. Na guerra civil da Patuleia, aderiu ao movimento da Junta do Porto, tendo integrado o exército do Alentejo. Fez toda a guerra civil no sul do país, tendo participado na ocupação de Setúbal. Na fase final da guerra, contra os protestos dos elementos mais radicais da coligação patuleia, apoia a intervenção da Quádrupla Aliança e aceita os ditames da Convenção de Gramido. Em 1851 aderiu entusiasticamente ao movimento da Regeneração. Voltou a ser eleito deputado em 1851 por Aveiro, mas a sua posição tinha mudado sendo agora apoiante de forma seletiva de iniciativas governamentais (nomeadamente obras públicas). Manteve-se como deputado até 1862. Em 1861 criou o jornal A Liberdade. Em 1862 foi eleito Grão-Mestre da Confederação Maçónica Portuguesa. Com tradições maçónicas na família, já que seu pai pertencera à loja que em 1823 funcionava na Quinta dos Santos Mártires, em Aveiro. José Estêvão foi iniciado durante o exílio em Plymouth, no ano de 1828, com o nome simbólico de Pórcio. Tendo ascendido ao sétimo grau do Rito Francês (Soberano Príncipe Rosa Cruz), foi venerável da Loja 5 de Novembro, de Lisboa. Entre 1861 e 1862 José Estêvão está ainda envolvido na fundação do Asilo de São João, em Lisboa, o que faz com meios financeiros da Maçonaria, bem como, em Aveiro, de um asilo para a infância desvalida. Com tal atividade pretendia demonstrar que a filantropia liberal podia ser tão ativa e operante como a caridade resultante do fervor religioso. Veio a falecer em 4 de Novembro de 1862 após um aparente acidente vascular cerebral. Sepultado em Lisboa foi de acordo com vontade proferida em vida transladado em 1864 após a inauguração da linha férrea até Aveiro, para a sua cidade natal onde foi sepultado no cemitério local em jazigo familiar. 69 Apontamentos: Escudo 70 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 20$00 Chapa: 3 Frente: Retrato de José Estêvão Coelho de Magalhães Verso: Escudo da República Marca de água: Cabeça feminina com capacete Medidas: 177x116 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Desenhador: José da Lacerda Primeira emissão:02-11-1921 Última emissão: 02-10-1929 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data 09-08-1920 09-02-1921 06-02-1924 18-11-1925 13-04-1926 03-02-1927 Emissão 2 000 000 1 080 000 2 200 000 1 080 000 1 120 000 2 250 000 Combinações de Assinaturas 10 10 8 9 9 9 50$00 Ch. 1 Passos Manuel Inocêncio Camacho Rodrigues Manuel António Dias Ferreira Henrique Matheus dos Santos Ruy Ennes Ulrich José Paixão Castanheira das Neves António José Pereira Júnior José Pereira Cardoso Fernando Emygdio da Silva João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta José Félix da Costa António Augusto Cerqueira Duarte Augusto Abrantes Bizarro João Theotónio Pereira Júnior Francisco Maria da Costa Ramiro Eusébio Leão 71 Apontamentos: Escudo Manuel Casal Ribeiro Carvalho Domingos de Sousa e Holstein Beck José D’Assis Camilo Embora com data impressa de 1920, estas notas só seriam postas em circulação em 1922, mantendo-se até 1931. Prestaram homenagem a uma das mais figuras do liberalismo português, Passos Manuel. As gravuras em chapa de aço foram produzidas nas oficinas do Baco de Portugal pelo gravador mais profícuo da República, o qual era o mais qualificado à data para este trabalho (Armando Pedroso). O restante trabalho de elaboração das chapas e consequente impressão decorreu em Londres, na habitual Bradbury, Wilkinson & Co Ltd. O retrato de Passos Manuel foi baseado em litografia de 1837 produzida no Porto por João Baptista Ribeiro. A frente da nota era estampada por processo calcográfico, a sépia, com trabalho de guilhoché em linha branca e linha cheia, sobre fundo multicolor irisado, de técnica tipográfica, com elaboração de guilhoché e “moiré”. O verso tinha uma estampagem calcográfica (talhe-doce), a violeta-escuro, com trabalho de torno geométrico em linha branca e linha cheia, que emoldura o oval da gravura central. No ângulo superior direito via-se uma cabeça numismática simbolizando a República. O fundo, de impressão tipográfica em íris, era composto de guilhoché, linhas ondulantes paralelas e zonas levemente ponteadas. Nas notas referentes ao primeiro contrato com o estampador, o texto complementar(data, chapa, série, numeração, a palavras “Ouro” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. Através do contrato de 12 de Janeiro de 1921, essa aposição passou a ser consignada ao próprio estampador. O papel foi fabricado pela Société Anonyme des Papeteries du Marais et de SainteMarie, de França, no primeiro contrato. No segundo foi o fabricante Perrigot-Masure, Papeteries d´Arches (Vosgues) quem forneceu o papel. A marca de água era constituída por uma cabeça simbólica em claro e escuro no ângulo superior direito, de perfil para a esquerda, e a legenda “Banco de Portugal”, na parte inferior, numa só linha. Passos Manuel Bacharel de direito, advogado, deputado brilhante, ministro em várias pastas e um dos vultos do liberalismo. Natural de São Martinho de Guifões, (5 de Janeiro de 1801), veio a falecer em Santarém, em 16 de Janeiro de 1862). Ficou célebre a sua declaração de princípios: A Rainha é o chefe da nação toda. E antes de eu ser de esquerda já era da Pátria. A Pátria é a minha política. Filho de Antónia Maria da Silva Passos e de seu marido Manuel da Silva Passos, lavrador com interesses na Real Companhia dos Vinhos do Alto Douro e em casas comerciais do Porto. Era o segundo filho do casal. Matriculou-se com o irmão na Universidade de Coimbra em 1817. Na Universidade, Manuel da Silva Passos revelou-se um estudante brilhante, passando a receber um prémio pecuniário de 40$000 réis anuais, envolvendo-se profundamente na vida académica, então particularmente intensa dada a instabilidade política e social que Portugal atravessava. Na verdade, o fermento deixado pela Revolução Francesa e pela Guerra Peninsular, a que se associava inquietação causada pela continuada ausência da Corte, que entretanto se fixara no Rio de 72 Apontamentos: Escudo Janeiro, tinham causado o aparecimento de grandes tensões na sociedade portuguesa. Reflexo dessa realidade, a Universidade de Coimbra era um viveiro de ideais revolucionários e de novas tendências de organização social e política, ambiente a que os irmãos Passos não foram imunes. Formou-se em 1822 em Leis (Direito), mantendo-se contudo estudante em Coimbra, onde em parceria com o irmão, editou no primeiro semestre de 1823 um periódico intitulado Amigo do Povo. Era uma folha de carácter académico, onde, entre citações latinas, se exaltavam os ideais democráticos da Revolução Francesa, ao mesmo tempo que se procurava minimizar os excessos sanguinários de Marat e dos seus seguidores. Assumindo uma postura simultaneamente radical e conciliadora, que aliás marcaria o seu percurso político posterior, os irmãos Passos assumiam-se como democratas e amigos do povo enquanto procuravam mostrar não ser inimigos de quem quer que fosse. Por esta época iniciou-se na Maçonaria, numa loja de Coimbra, sob o nome simbólico de Howard, iniciando aí um percurso que o levaria a Grão-Mestre no Norte. O episódio do Amigo do Povo, a recusa de jurar fidelidade a D. Miguel e a sua oposição pública ao restabelecimento do absolutismo, levou a que a Universidade, através da sua Junta Exprobatória, os tenha expulsado a ambos. Manuel Passos foi então para o Porto, onde desiste, alegadamente por falta de clientes, da prática da advocacia que já havia iniciado, e se matricula como advogado de número da Relação e Casa do Porto, exercendo aí alguma advocacia e mantendo atividade política junto do movimento liberal e intensa atividade maçónica. Em 1822 estava filiado na Sociedade Patriótica Promotora das Letras e da Indústria Nacional do Porto. Quando a 16 de Maio de 1828 os liberais do Porto se levantaram contra o governo de D. Miguel, depois do golpe de Estado que este dera em Lisboa restabelecendo a monarquia absoluta, e malograda a Belfastada, viu-se obrigado a procurar refúgio, com seu irmão e outros, no exército liberal que retirou para a Corunha, onde se juntou à primeira vaga dos emigrados liberais. Partiu depois para Plymouth (16-09-1828. Depois seguiu para a Bélgica, onde chega a 30 de Janeiro de 1829, e daí para França. Em colaboração com o irmão, iniciou em Paris a publicação de opúsculos versando matérias da política portuguesa, entre os quais se destacam, pelo seu impacto entre os emigrados, dois Memoriaes sobre o estado do país e sobre a necessidade de destruir o governo de D. Miguel e de restabelecer o trono da rainha D. Maria II. Tiveram também ampla divulgação os opúsculos intitulados Breve razoamento a favor da liberdade lusitana e Exame de algumas opiniões e doutrinas de Filipe Ferreira de Araújo e Castro e de Silvestre Pinheiro Ferreira. Manuel Passos assumia-se como um democrata incorrigível e adepto intransigente da soberania popular, recusando por isso a solução de liberalismo outorgado, materializada pela Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa de 1826, a qual em seu entender era ilegítima por ter emanado da vontade do soberano e não da vontade, essa sim soberana, do povo. Por isso defendia, para depois da vitória, a convocação imediata de um novo congresso constituinte destinado a reformar a Carta. Na fase anterior à Convenção de Evoramonte, e coerente com a tónica conciliadora que sempre pôs na sua intervenção política, apesar do radicalismo dos objetivos que perseguia, liderou a oposição ao Decreto de 31 de Agosto de 1833, assinado por D. Pedro IV, que obrigava os miguelistas a responder com os seus bens pessoais para ressarcimento dos prejuízos causados aos liberais durante os governos da usurpação. Na opinião de Manuel Passos, que depois levou para as Cortes, os liberais, como verdadeiros democratas, deveriam defender indemnizações pagas pelo Estado aos vencedores, evitando novas perseguições e esbulhos, agora de sinal contrário. Também nesse período, assume a chefia da Maçonaria do Norte e, aproveitando as primeiras eleições municipais do regime liberal, faz campanha para a eleição de seu irmão José da Silva Passos, o qual encabeçava a lista patriótica que venceu a eleição municipal realizada a 73 Apontamentos: Escudo 21 de Fevereiro de 1834 no Porto. Com uma reputação de homem de esquerda, logo em 1834 foi eleito deputado pelo Douro. Aí, o seu talento parlamentar rapidamente o conduziu à ribalta do campo saldanhista, passando a representar nas Cortes a esquerda mais radical do vintismo. Nessa primeira legislatura do novo regime, fazendo sempre cerrada oposição, primeiro ao governo de transição de Bento Pereira do Carmo e, depois da morte de D. Pedro IV, ao ministério presidido por Pedro de Sousa Holstein, conhecido pelo ministério dos devoristas, e aos que se lhe seguiram. Neste processo, Manuel Passos foi, de todos os políticos novos postos em evidência pela eleição de 1834, aquele que se mostrou mais conhecedor dos assuntos políticos, o parlamentar mais brilhante e o democrata mais ardente. E fê-lo sem perder as suas grandes qualidades de urbanidade e cortesia. Entretanto sucediam-se os ministérios uns aos outros, sem estabilidade nem firmeza. Ao primeiro ministério, formalmente da iniciativa da rainha D. Maria II, mas na realidade indigitado por disposição testamentária de Pedro IV, presidido pelo duque de Palmela, que caíra face à grande onda de contestação que varria o país, segue-se novo ministério de transição, presidido D. Vitório Maria Francisco de Sousa Coutinho Teixeira de Andrade Barbosa, conde de Linhares, que conduz ao primeiro governo claramente cartista presidido pelo marechal Saldanha. Com o aparecimento do cartismo no poder, Manuel Passos redobrou a sua oposição, sendo dentro em breve secundado por uma crescente adesão militar, particularmente quando, obrigado pelos compromissos da Quádrupla Aliança, o governo se vê forçado ao envio de um corpo expedicionário português de 6 000 homens para Espanha, a pedido de Juan Álvarez Mendizábal, para combater os carlistas. O descontentamento é tal que os militares se pronunciam, impondo pela força a queda do governo. Saldanha caía na ponta das espadas e estavam inaugurados os pronunciamentos militares em Portugal, iniciando uma sequência de eventos que se repetiria dezenas de vezes durante os 150 anos seguintes. Ao governo presidido por Saldanha sucedeu novo ministério de carácter transitório, agora presidido por José Jorge Loureiro, o qual caiu em consequência da atitude indecisa que adotou na questão da nomeação do rei-consorte D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota para comandante em chefe do exército. O ministério seguinte, presidido pelo 1.º duque da Terceira, resolveu a questão, nomeando D. Fernando para o lugar. Este e outros atos do ministério, porém, levantaram grande agitação entre a esquerda, capitaneada por Manuel Passos, a qual foi endurecendo a suas posições anti cartistas e preparando uma fortíssima campanha para o cato eleitoral marcado para 17 e 31 de Julho de 1836. Contudo, em boa parte graças ao caciquismo e à manipulação das urnas, as eleições foram claramente favoráveis ao governo cartista em toda a parte, excepto em duas circunscrições, o distrito do Porto e de Viseu. Porém, quando no dia 9 de Setembro (de 1836) desembarcaram em Lisboa os deputados oposicionistas vindos do Porto, foram estes, entre os quais Manuel Passos, recebidos com o mais vivo entusiasmo. Em breve, a ovação que lhes foi feita acabaria por tomar o carácter de uma clara manifestação política anti cartista, pondo em causa o resultado das eleições. Quando, nesse mesmo dia, a Guarda Nacional pegou em armas contra o governo, tinha rebentado a revolução. Quando a 9 de Setembro a Guarda Nacional ocupou a capital, proclamando que a Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822, estava novamente em vigor, embora com as modificações que as Cortes lhes introduzissem, estava desencadeada a Revolução de Setembro. Aquela revolução mudaria de forma decisiva o panorama político português. Os seus aderentes, entre os quais Passos Manuel, passariam a ser conhecidos pelos setembristas, 74 Apontamentos: Escudo graças à coincidência do mês da Revolução com o da aprovação da Constituição de 1822, que pretendiam restaurada. Em contraposição, os apoiantes do governo, e por consequência da Carta Constitucional, passaram a ser conhecidos pelos cartistas. A reação governamental e da rainha foram ineficazes e as tropas de linha, enviadas para sufocar o movimento, fraternizaram com a Guarda Nacional. A rainha, obrigada a ceder a um movimento que não pudera reprimir, chamou em 10 de Setembro ao seu conselho os homens que representavam a opinião predominante. Formou-se novo ministério, presidido por D. José Manuel da Cunha Faro Menezes Portugal Gama Carneiro e Sousa, 4.º conde de Lumiares, que também ficou com a pasta da Guerra, que integrava Vieira de Castro na Justiça; o visconde de Sá da Bandeira, na Fazenda e interino dos Negócios Estrangeiros; Vasconcelos Correia, na Marinha; e Passos Manuel, no poderoso Ministério do Reino. Produto de um pronunciamento militar e constituído ao arrepio do resultados das eleições, e portanto sem base parlamentar, este ministério tinha forçosamente de assumir a ditadura, isto é de governar sem legitimação parlamentar. Assumiu-se a ditadura, cancelou-se a convocatória das Cortes, tratando-se ao mesmo tempo de convocar imediatamente eleições para novas Cortes, agora com poderes constituintes. Não demoraram as reações contra o ministério setembrista. Logo no dia 18 de Setembro, 27 membros da câmara alta protestaram contra a revolução, ao mesmo tempo que corriam boatos de uma iminente contrarrevolução. Contudo, o maior desafio à ditadura setembrista veio da própria monarca, a qual, decididamente partidária da Carta Constitucional de 1826, tudo fazia para evitar a elaboração de nova Constituição e suportava mal os anseios de soberania do povo manifestados pelos setembristas. Sob o impulso de D. Maria II e dos seus conselheiros cartistas, estava o ministério no poder há nem dois meses, quando a 3 de Novembro rebentou o movimento da Belenzada. Naquele dia, a rainha retirou-se para Belém, demitiu o ministério, organizou outro gabinete, e fez proclamar nos arredores do Paço a restauração da Carta Constitucional. Conhecedor do que se passava, Manuel Passos tratou logo de apelar à Guarda Nacional, e achou-a pronta a acompanhá-lo. A tropa de linha; que estava em Lisboa, manteve-se também fiel ao ministério. Com este apoio, os membros do governo não aceitaram as suas demissões. Em presença desta atitude, a rainha desanimou, voltou para Lisboa, e continuou a funcionar o regime estabelecido. O movimento da Belenzada malogrou-se, além de outras causas, pela intervenção dos marinheiros de dois navios de guerra britânicos que estavam fundeados no Tejo. Os britânicos desembarcaram, diziam eles, com o fim de proteger a rainha, o que irritou profundamente os próprios cartistas. Foi Manuel Passos quem primeiro protestou, e com toda a energia, contra a intervenção inglesa, mais ou menos disfarçada. Estava detido em Belém, onde a rainha o mandara chamar. Na sequência da tentativa de contrarrevolução, a 5 de Novembro a rainha nomeava presidente do conselho de ministros o visconde de Sá da Bandeira, que chamou logo para seu lado Vieira de Castro e Passos Manuel. Até 1 de Junho do 1837, pois tanto se dilatou esta situação, Manuel Passos teve a seu cargo, ora alternada, ora simultaneamente, as pastas do Reino, da Fazenda e da Justiça. Entretanto a 20 de Novembro de 1836 realizaram-se novas eleições gerais, e as cortes constituintes, que haviam sido convocadas a 12 de Outubro de 1836, reuniram-se pela primeira vez no dia 18 de Janeiro de 1837, numa sessão legislativa que se prolongaria até 4 de Abril de 1838. Para elas, Manuel Passos foi eleito deputado pelo Porto. No entretanto a sua atuação à frente dos setembristas, e a forma como dirigiu a Revolução de Setembro, com o proclamado desígnio de a encaminhar no sentido dos interesses do país, depressa alienaram os seus apoiantes mais radicais, os quais se foram lentamente distanciando do governo. Apesar disso, enquanto permaneceu no ministério, Manuel Passos desenvolveu uma ação governativa de 75 Apontamentos: Escudo uma energia e capacidade de inovação sem precedentes. Quando a 5 de Abril se começou a discutir-se a Constituição, as propostas reformistas de Passos Manuel já agradavam a poucos. A rutura surgiu na sessão de 10 de Maio de 1837, quando se discutia a criação de lugares de Secretários de Estado e a proposta de Passos Manuel foi rejeitada pela Câmara que vota 63 contra 33. Triunfou uma maioria de ordeiros e dissidentes. Costa Cabral vota contra Passos Manuel. Aquela votação tornava patente o isolamento do governo e conduziu à sua rápida desagregação. Naquela mesma data desapareceu o espaço de liderança de Passos Manuel, e terminou, na prática, a meteórica carreira política que iniciara uma década antes. Nesse mesmo dia Passos Manuel e os seus colegas de governo pediram a demissão, mantendo-se um ministério de apenas dois ministros, cada um acumulando meia dúzia de pastas, só governando nominalmente. A tudo isto, veio juntar-se, três dias depois, a Conspiração das Marnotas, de cariz miguelista. Face ao aprofundar da crise política, a 2 de Junho de 1837, é nomeado um ministério presidido por António Dias de Oliveira, com claro carácter de transição. Passos Manuel abandona em definitivo a governação. Desencantado com a política, com a saúde debilitada, afasta-se de todos, incluindo do seu irmão, e recolhe-se à vida privada, constituindo família e dedicando-se à lavoura no Ribatejo. Retirado da vida política, Manuel da Silva Passos casou a 28 de Dezembro de 1838 com D. Gervásia de Sousa Falcão, filha de João de Sousa Falcão e de sua mulher D. Maria Xavier Farinha Falcão, uma rica herdeira descrita como senhora de porte gentil e grave. Deste consórcio houve duas filhas: D. Beatriz de Passos Manuel, que teve o título de viscondessa de Passos, em atenção aos serviços de seu pai; e D. Antónia de Passos Manuel, que casou com Pedro de Sousa Canavarro, neto do 1.º barão de Arcossó. Em 1838 voltou à vida política ativa tendo sido pelo Porto. Deixou no entanto de ser liderante, retraiu-se na participação política, mas manteve uma constante atividade política. Na sequência do seu casamento, em 1840 instalou-se em Constância e depois nas suas propriedades de Alpiarça. Em 1841 adquiriu a Alcáçova de Santarém, em tempos residência real, nas proximidades da Porta do Sol, onde fixou a sua residência permanente e onde haveria de falecer. Depois da contrarrevolução do Porto, em 1842, da qual resultou o restabelecimento da Carta Constitucional com a consequente extinção da câmara dos senadores, Passos Manuel voltou a concorrer nas eleições gerais de Junho de 1842 e foi reeleito deputado, desta feita por Nova Goa. No entretanto, poucas vezes apareceu na câmara, e poucas vezes também usou da palavra. Estava completamente entregue às suas ocupações agrícolas; tornara-se lavrador no Ribatejo, e entregava-se com entusiasmo aos cuidados da lavoura. O seu nome adquirira, por isso mesmo, um extraordinário prestígio. Apesar desse distanciamento, a 10 de Outubro de 1844 pronunciou nas Cortes um discurso sobre a abortada revolta de Torres Novas que à época foi considerado como do melhor que a oratória parlamentar tinha produzido. Naquela intervenção, a puxar ao sentimentalismo, apela ao amor e compaixão do governo para com os revoltosos derrotados, recomendando a estes paciência e confiança nas leis e apresentando como exemplo a seguir o seu comportamento em 1836-1837, período durante o qual considerava ter tratado os adversários com honra e distinção. Concorreu novamente nas eleições gerais de 17 de Agosto de 1845 (6.ª legislatura), sendo desta feita eleito pelo Alentejo. Contudo, face àquilo que considerava ter sido a inaceitável manipulação das eleições perpetrada pelo governo de Costa Cabral, em sinal de protesto decidiu não assumir o lugar nas Cortes, retirando-se para os seus afazeres agrícolas no 76 Apontamentos: Escudo Ribatejo. Quando na Primavera de 1846 rebenta a Revolução da Maria da Fonte e se constituem Juntas revolucionárias pelo país, encabeça a 21 de Maio a Junta da Província da Estremadura, que se havia constituído em Santarém, mas mais uma vez dá mostras de brandura e vontade de conciliação, iniciando de imediato conversações com o governo com vista a uma resolução pacífica do conflito, promovendo a rendição, a 5 de Junho, das forças sob o controlo daquela Junta. Dissolvido o parlamento, volta a candidatar-se pelo Alentejo, defendendo um programa moderado que evitava as questões candentes da reforma constitucional e do destino a dar à Carta Constitucional. Tendo-se dado a Emboscada e iniciado a guerra civil da Patuleia, parte para o Porto, onde se junta ao irmão, José da Silva Passos, que entretanto se havia assumido como um dos líderes patuleias daquela cidade. Contudo, continua a agir discretamente, assumindo-se sempre como um mero auxiliar do irmão. Celebrada a Convenção de Gramido e terminada a guerra civil, regressa aos seus afazeres de lavrador ribatejano, apenas para reaparecer nas eleições gerais de Novembro de 1851 (8.ª legislatura), nas quais foi novamente eleito por Santarém. Tendo-se iniciado a Regeneração, a qual causou uma rápida desagregação dos velhos partidos políticos e absorção da maioria dos setembristas pelo emergente Partido Progressista Histórico, os irmãos Passos ficariam cada vez mais isolados, com Manuel Passos, mais moderado, a saudar as reformas constitucionais e assumir uma oposição colaborante, embora crítica, ao governo. Reeleito por Santarém nas eleições gerais de 12 de Dezembro de 1852, ocupou um lugar na esquerda parlamentar, embora votasse com o governo quando a consciência o ditava. Confessando-se cansado de lutas civis, declarava na Câmara: a oposição que faço aos atuais senhores ministros é uma oposição amigável. Cada vez mais arredado dos debates políticos, a partir de 1855 deixou de ser encarado como figura liderante da oposição progressista, participando pouco e parecendo hesitar entre o apoio e oposição ao governo, dando sinais de cansaço e desinteresse, talvez resultado da doença de que há muito padecia. Em finais da década de 1850, os problemas de saúde que o afligiam há longos anos pioraram, remetendo-o definitivamente para a sua casa de Santarém. Falou pela última vez nas Cortes a 17 de Fevereiro de 1857. O rei D. Pedro V, que lhe tinha recusado em 1857 um lugar no Conselho de Estado, por carta régia de 17 de Maio de 1861 nomeou-o Par do Reino, embora ele, aparentemente por razões de saúde, não tenha tomado assento na câmara alta. Manuel da Silva Passos faleceu na sua casa de Santarém a 17 de Janeiro de 1862, sem ter tomado posse na Câmara dos Pares. Nunca aceitou mercês ou títulos, embora a sua filha mais velha tenha sido elevada a viscondessa de Passos, em 1851, em atenção aos merecimentos do pai. Quando a notícia do seu falecimento foi sabida em Lisboa, a Câmara dos Deputados, que estava reunida, lançou na ata um voto de sentimento pela morte do grande liberal e, por proposta de José da Silva Mendes Leal, determinou que na sala da biblioteca da câmara, fundada pelo eminente tribuno, se colocasse o seu busto, o qual ali perdura. 77 Apontamentos: Escudo 78 Apontamentos: Escudo Terreiro do Paço A Praça do Comércio, também conhecida por Terreiro do Paço, é uma praça da Baixa de Lisboa situada junto ao rio Tejo, na zona que foi o local do palácio dos reis de Portugal durante cerca de dois séculos. É uma das maiores praças da Europa, com cerca de 36 000 m² (180m x 200m). Em 1511, o rei D. Manuel I transferiu a sua residência do Castelo de São Jorge para este sítio junto ao rio. O Paço da Ribeira, bem como a sua biblioteca de 70 000 volumes, foram destruídos pelo terramoto de 1755. Na reconstrução, a praça tornou-se no elemento fundamental do plano do Marquês de Pombal. Os edifícios, com arcadas que circundam a praça, albergam alguns departamentos de vários Ministérios do Governo Português e ainda o famoso café Martinho da Arcada, o mais antigo de Lisboa, e um dos preferidos de Fernando Pessoa. Após a Revolução de 1910 os edifícios foram pintados a cor-de-rosa republicano. Contudo, voltaram recentemente à sua cor original, o amarelo. O lado sul, com as suas duas torres quadradas, está virado para o Tejo. Esta foi sempre a entrada nobre de Lisboa e, nos degraus de mármore do Cais das Colunas, vindos do rio, desembarcam chefes de estado e outras figuras de destaque (como Isabel II de Inglaterra ou Gungunhana). Ainda é possível experimentar essa impressionante entrada em Lisboa nos cacilheiros, os barcos que ligam a cidade a Cacilhas. Hoje, o espetáculo é prejudicado pelo trânsito na Avenida da Ribeira das Naus, que corre ao longo da margem. No centro da praça, vê-se a estátua equestre de D. José, erigida em 1775 por Joaquim Machado de Castro, o principal escultor português do século XVIII. Ao longo dos anos, a estátua de bronze ganhou uma patina verde. No lado norte da praça, encontra-se o Arco Triunfal da Rua Augusta, a entrada para a Baixa. No terramoto de 1755, onde hoje se encontram os edifícios que constituem o Terreiro do Paço, existia o Palácio Real, em cuja biblioteca estavam guardados 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. Tudo foi destruído. O precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica, entre os quais, por exemplo numerosas cartas do achamento do Brasil e outros documentos antigos também foram perdidos. A 1 de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e seu filho Luís Filipe foram assassinados quando passavam na praça. No dia 25 de Abril de 1974, a praça assistiu à Revolta do Movimento das Forças Armadas, que derrubou o governo de Marcello Caetano e o Estado Novo, numa revolução sem derrame de sangue. 79 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 50$00 Chapa: 1 Frente: Retrato de Passos Manuel Verso: Gravura do Terreiro do Paço Marca de água: Cabeça feminina simbólica Medidas: 192x120 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:29-07-1922 Última emissão: 08-02-1928 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data 31-08-1920 03-02-1927 Emissão 4 180 000 2 110 000 Combinações de Assinaturas 10 10 100$00 Ch. 2 Diogo do Couto Inocêncio Camacho Rodrigues Ruy Ennes Ulrich Henrique Matheus dos Santos António José Pereira Júnior José Paixão Castanheira das Neves Fernando Emygdio da Silva José Pereira Cardoso José Caeiro da Matta João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira José Félix da Costa José Caetano Lobo D’Ávila da Silva Lima Duarte Augusto Abrantes Bizarro Ramiro Eusébio Leão Francisco Maria da Costa Manuel Casal Ribeiro Carvalho Manuel António Dias Ferreira José D’Assis Camilo 80 Apontamentos: Escudo Domingos de Sousa e Holstein Beck Ao contrário da nota anterior a chapa 2 de 100 escudos teve data impressa coincidente com a data de emissão (1920). Prestou homenagem a uma das grandes figuras das letras portuguesas do século XVI. Nesta época, era frequente incorporar trabalho produzido nas oficinas do Banco pelos seus gravadores nas chapas elaboradas pelas firmas estampadoras estrangeiras. Neste caso, o retrato de Diogo do Couto e a vista do Palácio da Pena, em Sintra (gravados por gravador oficial do Banco de Portugal: Armando Pedroso), saíram da Oficina de Gravura do Banco, cabendo à casa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd., de Londres, todo o resto do trabalho da fabricação das chapas, impressão dos fundos e estampagem calcográfica. As técnicas empregadas para este tipo de notas foram a calcográfica e a tipográfica. Na frente, o desenho reproduzido a talhe-doce apresentava-se, a castanho-avermelhado, com largo trabalho de guilhoché em linha branca. O fundo, de impressão tipográfica, era formado por um ornato central multicolor de linhas claras e, na restante superfície, por linhas paralelas e pontos a violeta, verde-claro e sépia. O fundo do verso foi impresso tipograficamente, avermelhado ao centro, rosa e verde claro aos lados, com trabalho de guilhoché em linha cheia, linhas ondulantes paralelas epontos. Este conjunto constituiu o suporte em que assentou a chapa principal do verso, estampada por calcografia, a preto, em que sobressaia a vinheta central e um grupo de figuras aladas simbolizando a Literatura, a Arquitetura e a Pintura. O texto complementar (chapa, data, série, numeração, as palavras “Ouro”, “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado pela Perrigot-Masure, Papeteries d´Arches (Vosges) de França. A marca de água surgia no lado direito, numa oval com uma cabeça alegórica, de perfil para o centro e na parte inferior, a legenda “Banco de Portugal”, em linha reta, composta de letras escuras com projeção clara. Diogo do Couto Terá nascido por volta de 1542 em Lisboa onde estudou Latim e Retórica no Colégio de Santo Antão e Filosofia no Convento de Benfica. Em 1559 vai para a Índia, donde só regressaria uma década depois. Amigo íntimo de Luís Vaz de Camões, vai descobri-lo na Ilha de Moçambique em 1569, com dívidas e sem dinheiro para voltar. Diogo do Couto e outros amigos disponibilizam-se para ajudar o poeta, que deste modo poderá apresentar na capital a sua maior obra, os Lusíadas. Chegam a Lisboa em Abril de 1570 na nau Santa Clara. Regressou a Goa com ordens recebidas do Rei Filipe I de prosseguir as Décadas de João de Barros. Escreveu as que vão da IV à XII, mas só publicou completamente a IV, V e VII e em resumo as VIII e IX (porque a VI ardeu na casa de imprensa, a VIII e IX foram roubadas e a XI perdeu-a). Entendeu que a história deve conter as "verdades" sem restrições, acaba por sofrer repressões, dizendo com objetividade o que incomodava muita gente cujos antepassados estavam envolvidos nos acontecimentos que narrava. Este historiador criticou os abusos, a corrupção e as violências correntes na Índia, protestando abertamente contra eles. Além das Décadas, de orações congratulatórias e comemorativas que proferiu em solenidades no Oriente, e do relato do naufrágio da Nau S. Tomé, escrito na História trágico-marítima, escreveu também o célebre Diálogo do Soldado Prático, que contém uma crítica mordaz ao funcionalismo na Índia, pondo a 81 Apontamentos: Escudo descoberto a ambição da riqueza, o amor ao luxo, a opressão aos pobres, a falta de dignidade e a deslealdade nas informações ao Rei. Veio a falecer em Goa a 10 de Dezembro de 1616. Palácio da Pena Palácio Nacional da Pena, popularmente referido apenas por Palácio da Pena ou Castelo da Pena, localiza-se na vila de Sintra. Representa uma das melhores expressões do Romantismo arquitetónico do século XIX no mundo, constituindo-se no primeiro palácio nesse estilo na Europa, erguido cerca de 30 anos antes do carismático Castelo de Neuschwanstein, na Baviera. A primitiva ocupação do topo escarpado da serra de Sintra onde se localiza o atual palácio, ocorreu com a construção de uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora da Pena, durante o reinado de D. João II. No século XVI, D. Manuel I no cumprimento de uma promessa, ordenou a sua reconstrução de raiz. Doou-a à Ordem de São Jerónimo, determinando a construção de um convento de madeira, e substituindo-o, pouco depois, por um edifício de cantaria, com acomodações para 18 monges. No século XVIII a queda de um raio destruiu parte do mosteiro, danos que foram agravados em decorrência do terramoto de 1755, que deixou o convento em ruínas. Apenas a zona do altar-mor, na capela, com um magnífico retábulo em mármore e alabastro atribuído a Nicolau de Chanterenne, permaneceu intacta. No século XIX a paisagem da serra de Sintra e as ruínas do antigo convento maravilharam o reiconsorte Fernando II. Em 1838 este decidiu adquirir o velho convento, a cerca envolvente, o Castelo dos Mouros, quintas e matas circundantes. No tocante à área do antigo convento, promoveu-lhe diversas obras de restauro, com o intuito de fazer do edifício a sua futura residência de Verão. O novo projeto foi encomendado ao mineralogista germânico Barão von Eschwege, arquiteto amador. Em Sintra, os trabalhos decorreram rapidamente e a obra estaria quase concluída em 1847, segundo o projeto do alemão, mas com intervenções decisivas ao nível dos detalhes decorativos e simbólicos do rei-consorte. Muitos dos detalhes, nos planos construtivo e decorativo, ficaram a dever-se ao eclético e exótico temperamento romântico do próprio monarca que, a par de arcos ogivais, torres de sugestão medieval e elementos de inspiração árabe, desenhou e fez reproduzir, na fachada norte do Palácio, uma imitação do Capítulo do Convento de Cristo em Tomar. Após a morte de D. Fernando, o palácio foi deixado para a sua segunda esposa, Elisa Hendler, Condessa de Edla, o que à época gerou grande controvérsia pública, dado que se considerava já o histórico edifício como monumento. A viúva de D. Fernando procurou então chegar a um acordo com o Estado Português e recebeu uma proposta de compra por parte de D. Luís I, em 1889, em nome do Estado, que aceitou, reservando então para si apenas o Chalé da Condessa, onde continuou a residir. Com essa aquisição, o Palácio passou para o património nacional português, integrando o património da Coroa. Durante o reinado de D. Carlos, a Família Real ocupou com frequência o palácio, tornando-se a residência predileta da Rainha D. Amélia, que se ocupou da decoração dos aposentos íntimos. Aqui foi servido um almoço à comitiva de Eduardo VII do Reino Unido, aquando da sua visita oficial ao país, em 1903. Após o regicídio, a Rainha D. Amélia retirou-se ainda mais para o Palácio da Pena. Aqui recebia amiúde a visita do filho, D. Manuel II, que nele tinha os seus aposentos reservados. Quando rebentou a revolta de 5 de Outubro, D. Amélia aguardou na Pena o evoluir da situação, chegando com a sua comitiva a subir aos terraços para observar sinais dos combates em Lisboa. Daqui partiu para o exílio. Com a implantação da 82 Apontamentos: Escudo República Portuguesa, o palácio foi convertido em museu, com a designação oficial de Palácio Nacional da Pena. Em 1945, a rainha D. Amélia, de visita a Portugal, voltou ao Palácio da Pena. Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta (neogótico, neomanuelino, neoislâmico, neorrenascentista, com outras sugestões artísticas como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo. Estruturalmente o Palácio da Pena divide-se em quatro áreas principais: a couraça e muralhas envolventes (que serviram para consolidar a implantação da construção), com duas portas, uma das quais provida de ponte levadiça; o corpo, restaurado na íntegra, do Convento antigo, ligeiramente em ângulo, no topo da colina, completamente ameado e com a Torre do Relógio; Pátio dos Arcos frente à capela, com a sua parede de arcos mouriscos e a zona palaciana propriamente dita com o seu baluarte cilíndrico de grande porte, com um interior decorado em estilo cathédrale, segundo preceitos em voga e motivando intervenções decorativas importantes ao nível do mobiliário e ornamentação em geral. Ficha Técnica Valor: 100$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de Diogo Couto Verso: Gravura do Palácio da Pena Marca de água: Cabeça alegórica Medidas: 210x135 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co Ltd Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:29-09-1920 Última emissão: 30-08-1928 Retirada de circulação: 31-12-1933 Data 31-08-1920 27-04-1922 13-04-1926 15-08-1927 28-01-1928 Emissão 1 095 000 1 020 000 1 090 000 1 010 000 30 000 Combinações de Assinaturas 10 8 9 9 8 83 Apontamentos: Escudo 84 Apontamentos: Escudo 85 Apontamentos: Escudo 1000$00 Ch. A. Duque da Terceira Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos Francisco Maria da Costa José Paixão Castanheira das Neves Manuel António Dias Ferreira José Pereira Cardoso Ruy Ennes Ulrich João da Motta Gomes Júnior António José Pereira Júnior José Félix da Costa A necessidade de avaliar a utilidade e consequente aceitação pública de uma nota de 1000 escudos foi promovida pelo Banco de Portugal a produção da primeira chapa deste valor denominada de Chapa A. Esta nota, para a qual foi aproveitada papel existente em armazém do Banco excedente das emissões de 20 000 Réis Chapa 6, produzindo notas de grande simplicidade técnica nas suas oficinas com um total de emissão muito baixo. Esta emissão é atualmente das mais raras. A nota presta homenagem ao estadista e marechal Duque da Terceira, figura importante do século XIX de Portugal. O desenho foi de autoria de Armando Pedroso, que embora fosse o gravador com mais notas nesta época não tinha ainda funções de chefia. O único processo de impressão, tanto na frente como no verso, foi o tipográfico. Na frente, a azul-escuro, apresentam-se os motivos principais (efígie, cercadura, escudo, vinhetas e legendas), assentes sobre fundo impresso por zincogravura, em íris diagonal, lilás ao centro, esbatendo em verde e vermelho para os lados. O verso tinha um fundo de pontos impressos em íris vertical, amarelo-claro ao centro, esbatendo em vermelho e amarelo-escuro para os lados, sobre o qual está impresso, a castanho-escuro, um emoldurado em estilo bizantino, diversos dizeres e dois ornatos de guilhoché em linha cheia. A finalidade destes ornamentos foi encobrir os números “20” da marca de água do papel em aproveitamento. A data, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas, que constituem o texto complementar, e ainda a legenda “Mil Escudos”, inserta na vinheta central inferior, são impressas a preto. O papel foi produzido na londrina T. H. Saunders & Co Ltd. of Purfleet Whart, o qual tinha sido comprado para a chapa 6 de 20 000 Réis. A marca de água surgia a meio da nota, como uma cabeça alegórica de mulher e, por baixo “Banco de Portugal”, numa linha curva. 86 Apontamentos: Escudo Duque da Terceira António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha natural de Lisboa (1792). Figura proeminente da história portuguesa do século XIX, tendo acumulado vários títulos nobiliárquicos (7.º conde e 1.º marquês de Vila Flor e ainda 1.º duque da Terceira. Pertencente à mais genuína alta nobreza portuguesa, teve múltiplos cargos e honrarias na corte, entre as quais, moço fidalgo da rainha D. Maria I, gentil-homem da câmara de el-rei D. João VI, copeiromor e estribeiro-mor. Exerceu as funções de marechal de campo, comandante-em-chefe do Exército Português, conselheiro de Estado, par do Reino, tendo por quatro vezes (1836, 1851, 1842-1846 e 1859-1860) exercido o cargo de Presidente do Conselho de Ministros. Foi o 10.º capitão-general dos Açores, ali presidindo à Regência de Angra durante a fase inicial das guerras liberais Com apenas dois anos de idade perdeu o pai, sucedendo-lhe no título de conde de Vila Flor e no cargo de copeiro-mor da rainha, herdando uma imensa fortuna, composta por bens de raiz e por múltiplas comendas e outros rendimentos vinculados. Destinado à vida da Corte, fez a aprendizagem típica da alta nobreza da época, voltada essencialmente para as artes militares e para a vida política. Nesse contexto, logo em 1797, contando apenas quatro anos de idade, recebeu o grau de comendador da Ordem de Cristo, tendo, em 1804, aos 12 anos, professado como freire dessa ordem no convento de Nossa Senhora da Luz. Apenas as forças francesas foram expulsas de Portugal, o conde de Vila Flor obteve o reingresso no Exército, com o posto que tinha anteriormente. Iniciou a atividade nas campanhas da Guerra Peninsular como Capitão de Cavalaria. Passou depois a servir como ajudante de ordens do general António José de Miranda Henriques, 1.º visconde de Sousel, e em 1813 passou às ordens do marechal William Carr Beresford, então comandante supremo do Exército Português em campanha. Promovido a major, distinguindo-se muito nas campanha da Guerra Peninsular, sobretudo na batalha da Vitória, cabendo-lhe a honra de ser encarregado de trazer a Lisboa a notícia do sucesso, sendo vivamente louvado pelo próprio general Arthur Wellesley. Terminada a guerra, o jovem conde de Vila Flor decidiu partir para o Rio de Janeiro, cidade onde então estava a Corte portuguesa, indo ocupar o lugar que lhe pertencia como membro da alta nobreza. Partiu para o Brasil em 1817, integrado na força que foi enviada para ajudar a debelar a insurreição de Pernambuco, em cuja campanha participou ativamente. Terminada aquela breve campanha, o conde de Vila Flor foi nomeado governador e capitão-general do Grão-Pará, lugar que exerceu até 1820, quando foi nomeado para a Capitania da Baía de Todos os Santos. Contudo, não chegou a exercer este último cargo, pois em 1821 embarcou para Portugal, acompanhando o rei D. João VI, de quem era gentil-homem da câmara. Regressado a Lisboa no período conturbado do primeiro liberalismo português e em pleno funcionamento das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, o 7.º conde de Vila Flor acompanhou de perto a difícil reintegração de D. João VI na vida política portuguesa. Neste período, seguindo a trajetória típica da alta nobreza, assume uma posição dúbia face ao constitucionalismo e à imposição de juramento a que as Cortes Constituintes sujeitaram o rei, gravitando claramente para a órbita mais conservadora dos que viam com grande desconfiança, e mesmo como uma ofensa de lesa-majestade, o tratamento a que foi sujeita a família real recém-chegada. Aquando da Vilafrancada era brigadeiro e a sua proximidade à fação realista levou a que não tardasse a ser despachado marechal-de-campo e ajudante-de-ordens de D. Miguel, quando este infante recebeu o comando-em-chefe do Exército Português. Como outras importantes 87 Apontamentos: Escudo figuras da primeira fase do liberalismo português, o conde de Vila Flor estreou-se na vida política contribuindo para que se restabelecessem em Portugal os direitos inauferíveis do absolutismo, sendo também um dos condecorados com a famosa medalha da Poeira. Naquela que foi mais uma prova de confiança por parte do partido realista, em 1823, o conde de Vila Flor foi nomeado diplomata para a Espanha. A partir desta altura começa a gravitar para o campo liberal, aderindo claramente ao partido pró-constitucional quando em Fevereiro de 1824 o seu sogro, o 1.º marquês de Loulé, foi assassinado pelos miguelistas. Em consequência, a 30 de Abril daquele ano de 1824, absteve-se de tomar parte na Abrilada. Em resultado, D. Miguel mandou-o preso para Peniche. Com esta prisão, estava definitivamente selada a adesão do conde de Vila Flor ao campo liberal. Após o fracasso da Abrilada foi libertado e reintegrado nas suas funções militares, nas quais assume uma complexa posição de equilíbrio face às crescentes tensões entre os partidários do liberalismo e os defensores dos direitos inauferíveis de D. João VI. Quando este falece, em 1826, a crise agudiza-se, com a luta latente a tornar-se cada vez mais acesa e próxima. Quando o infante D. Pedro sobe ao trono como D. Pedro IV e promulga a Carta Constitucional de 1826 no Brasil, o conde de Vila Flor, como grande do Reino, foi nomeado par do Reino, por carta régia de 30 de Abril desse ano. Outorgada a Carta, poucos dias depois, a 2 de Maio de 1826, D. Pedro IV abdica em sua filha D. Maria da Glória, a rainha D. Maria II, estabelecendo, num gesto que pretendia conciliador, que a jovem rainha, então com sete anos de idade, deveria casar, logo que tivesse idade para tal, com o seu tio D. Miguel. Entretanto os acontecimentos precipitam-se e a insurreição a favor da realeza de D. Miguel espalha-se pelo país como fogo. D. Miguel regressa e tenta tomar o poder. Neste contexto, o conde de Vila Flor que em 1826 fora nomeado governador das armas da província do Alentejo, não tardou a ver-se obrigado a reprimir algumas insurreições militares que se levantaram naquela Província a favor do absolutismo. A guarnição do Algarve agitava-se também no mesmo sentido. O Governo, sentindo-se encurralado, pede ajuda a Inglaterra, que envia uma divisão para acalmar os ânimos, mas, que, em vez disso, apenas contribui para acirrar o sentimento nacionalista. Foi um dos comandantes em destaque na Guerra Civil que se seguiu, nomeadamente nos confrontos no centro e sul do país. Apesar dessas vitórias militares, a causa constitucional estava condenada na frente política, pois entretanto, em mais uma tentativa insensata de acalmar os ânimos, D. Pedro, agora imperador do Brasil e regente em nome da filha, resolvera nomear o irmão seu lugar-tenente em Portugal, abrindo assim caminho para o seu desejado regresso a Lisboa. Em consequência, D. Miguel entrou em Lisboa a 22 de Fevereiro de 1828, sendo recebido pelos seus partidários com grandes festas e vivas ao rei absoluto. Um dos primeiros atos do ainda lugar-tenente real foi, logo em Fevereiro de 1828, demitir os governadores das armas em quem não tinha confiança, entre os quais o conde Vila Flor, seu ajudante-de-campo nos idos de 1823, mas entretanto transformado num dos pilares do liberalismo. Em Maio, o futuro duque da Terceira, acompanhado pela jovem esposa, saiu de Portugal e retirou-se para Inglaterra, juntando-se à crescente colónia de emigrados liberais que ali residia. Sendo um dos mais notáveis emigrados, pela sua condição de membro da alta nobreza e pelo seu passado militar, o conde de Vila Flor, que vivia em Londres acompanhado pela esposa, rapidamente conquistou grande ascendente entre os emigrados liberais. Participou sem surpresa no falhado golpe da Belfastada. Esta aventura do Belfast pesou sempre como um remorso na consciência de todos os que dela participaram, particularmente dos que retiraram ingloriamente na viagem de regresso do navio a Londres. Não admira, pois, que o conde de Vila Flor, chegado a Inglaterra se tenha esforçado por resgatar com algum cato de bravura a nódoa que aquele fracasso pudesse ter 88 Apontamentos: Escudo estampado na sua reputação militar. O ensejo surgiu quando se tornou necessário apoiar o pequeno núcleo liberal que na ilha Terceira mantinha o regime constitucional e a realeza de D. Maria II, proclamada pelo Batalhão de Caçadores n.º 5 aquartelado no Castelo de São João Baptista da cidade de Angra. Sendo o último reduto liberal em território sob soberania portuguesa, Pedro de Sousa Holstein, o conde de Palmela, que liderava os emigrados numa espécie de governo no exílio, face às crescente dificuldades diplomáticas resultantes do reconhecimento do governo de D. Miguel por muitas das potências europeias e pelos Estados Unidos da América, resolveu apoiar os liberais acantonados nos Açores. Para tal era necessário criar condições que permitissem a sua sobrevivência na eventualidade de um, mais do que provável, ataque miguelista. Vila Flor foi nomeado capitão-general dos Açores por carta régia de 5 de Abril de 1829, assinada pela rainha D. Maria II, com assistência do marquês de Palmela, então ministro de Portugal em Londres, quando a rainha ali se encontrava exilada. O novel capitão general conseguiu iludir o bloqueio que navios britânicos então impunham à Terceira e desembarcou na Praia a 22 de Junho de 1829, acompanhado por um grupo numeroso de emigrados. Passou à cidade de Angra no mesmo dia, tomando posse da Capitania no dia seguinte. Aquando da chegada do conde de Vila Flor à ilha Terceira, esta estava completamente isolada do resto do arquipélago, com a agravante de estar sujeita a um bloqueio naval imposto por forças britânicas. Mas, pior que o isolamento da Terceira, eram as divisões intestinas que ameaçavam destruir o domínio liberal na ilha, com as forças constitucionais constantemente acossadas por uma incessante guerrilha miguelista, apoiada pelas populações rurais da ilha e muito conhecedora do território. Neste contexto muito desfavorável, a chegada do conde de Vila Flor foi essencial para a sobrevivência do domínio liberal. Em breve desapareceram as quezílias entre os exilados e as forças militares liberais ganharam outra disciplina e energia. Diante da autoridade e do prestígio do conde de Vila Flor, cessaram todas as discórdias que havia na ilha e que impediam o regular funcionamento do governo. Por outro lado, os oficiais que chegaram com Vila Flor, e ele mesmo, organizaram a resistência à expedição que D. Miguel preparava contra a ilha, fortificando-a e estabelecendo um plano de defesa das costas, vigilância e comunicações. Lutando com grande falta de meios financeiros, os liberais apenas conseguiram pagar às tropas graças à cunhagem de moeda na ilha, produzindo os malucos com o bronze dos sinos das igrejas, e ao apoio financeiro de algumas das mais importantes famílias locais, neste difícil contexto, o papel de Vila Flor ao longo do Verão de 1829 foi crucial para o sucesso da causa liberal. A batalha da Praia da Vitória onde as forças do conde de Vila Flor levaram a melhor, impedindo o desembarque dos miguelistas e causando pesadas baixas entre as forças expedicionárias foi a primeira vitória das forças liberais e, em consequência, o nome de Vila Flor adquiriu grande prestígio. Em Abril de 1831, a Regência resolveu finalmente assenhorear-se das outras ilhas dos Açores. Para tal, preparou uma expedição, que partiu de Angra no dia 7 de Abril, debaixo do comando do próprio conde de Vila Flor. O objetivo era a conquista das restantes ilhas do Grupo Central do arquipélago. Foi o conde de Vila Flor quem pessoalmente assumiu o comando das tropas em campanha. Encaminhou-se para a ilha do Pico, que ocupou sem resistência, tomando depois a ilha de São Jorge, após o recontro da Ladeira do Gato de que resultaram alguns mortos. Preparava-se para desembarcar na ilha do Faial, quando apareceu uma corveta miguelista e o conde de Vila Flor julgou prudente retirar para a Terceira para obter reforços. Retornada a expedição, a ilha do Faial foi ocupada também pelos liberais, e logo em seguida a ilha Graciosa. As ilhas do Corvo e Flores reconheceram espontaneamente o governo liberal. Seguiuse a tomada da ilha de São Miguel, o que conseguiram, comandados ainda por Vila Flor, depois de ganha a batalha da Ladeira da Velha. Ficavam assim os Açores completamente sujeitos à autoridade dos representantes de D. Maria II, e, pouco tempo depois, a 22 de 89 Apontamentos: Escudo Fevereiro de 1832, apareceu no arquipélago a expedição vinda de Belle-Isle, debaixo do comando de D. Pedro. Tratou logo o imperador de organizar uma expedição para tentar um desembarque na costa portuguesa, e dando o comando da esquadra ao almirante George Rose Sartorius, entregou ao conde de Vila Flor o comando do exército de terra. Foi debaixo das ordens de Vila Flor que desembarcaram no Mindelo, em Junho de 1832, os famosos 7 500 bravos. Ocuparam o Porto abandonado pelos miguelistas, iniciando-se o episódio bélico que ficou conhecido pelo cerco do Porto. Por dissensões, D. Pedro, tomou sobre si próprio o comando do exército em 6 de Novembro de 1832, elevando, num gesto conciliador, dois dias depois, a 8 de Novembro, o conde de Vila Flor a duque da Terceira. Após a vitória no Porto, partiu com uma divisão de 1 500 homens, que foi embarcada em navios da esquadra comandada por Charles Napier para o Algarve para cercar as forças miguelistas. Sem perder tempo, as forças comandadas pelo duque da Terceira marcharam sobre Olhão e tomaram logo em seguida São Bartolomeu de Messines, enquanto Charles Napier procedia a novo desembarque e se assenhoreava de Tavira. Planeava então o duque da Terceira, que marchar sobre Beja, onde as forças liberais se tinham levantado contra o miguelismo, numa insurreição que era necessário acalentar. Contudo, a notícia da vitória naval do Cabo de São Vicente fez com que ele fosse a toda a pressa a Lagos conferenciar com o almirante Charles Napier. Resolveram então que as forças do duque da Terceira marchariam de imediato sobre Lisboa ao longo do litoral alentejano, aproveitando a superioridade naval conseguida e o facto das forças miguelistas estarem a convergir sobre Beja, deixando aberto o caminho para a capital. Em 24 de Julho entrou vitoriosamente na capital. Não tardaram as forças fiéis a D. Miguel, comandadas pelo general Bourmont, a atacar Lisboa. O duque da Terceira, então já elevado ao posto de marechal do exército, comandava as linhas, enquanto Saldanha era o chefe de estado-maior de D. Pedro, ou seja, o verdadeiro comandante operacional. No dia 5 de Setembro de 1833 ocorreu o primeiro ataque, recebendo o duque da Terceira nesse dia uma contusão provocada por uma bala. No dia 14 de Setembro deu-se novo ataque, igualmente repelido, após o qual o general Bourmont apresentou a sua demissão de comandante em chefe do exército miguelista, sendo substituído pelo general escocês James MacDonell. Enquanto Saldanha batia os miguelistas em Torres Novas e em Pernes, o duque da Terceira enviava sobre Valada alguns esquadrões que ali destroçaram as forças miguelistas. Saldanha, depois de derrotar na Batalha de Almoster o exército miguelista do general José António de Azevedo Lemos, cercou nas posições de Santarém as forças principais de D. Miguel. Entretanto, o duque da Terceira era enviado ao Porto a tomar o comando das operações encetadas pelo general Torres contra a divisão miguelista comandada pelo general Cardoso, que dominava ainda o Minho e Trás-os-Montes. O duque da Terceira, no dia 8 de Maio, entrava em Coimbra e marchava depois sobre Tomar, Charles Napier, no mesmo dia, tomava a Figueira da Foz e Rodil marchava sobre Abrantes. A 16 de Maio de 1834 as forças comandadas pelo duque da Terceira encontram o exército miguelista do general António Joaquim Guedes de Oliveira na batalha da Asseiceira, destroçando-as completamente naquele que seria o último grande recontro da guerra civil. Foi com a aura de valido do Paço e como herói da libertação de Lisboa e da vitória da Asseiceira que o duque da Terceira entrou na política do pós-guerra, transitando de imediato para a área do poder. Neste aspeto, o duque da Terceira, tal como o marechal Saldanha, ilustram o perfil típico do militar-político que caracterizou as primeiras décadas do liberalismo 90 Apontamentos: Escudo português. Assim, quando a 24 de Setembro de 1834 morreu D. Pedro IV e a rainha D. Maria II assumiu diretamente o governo do reino, nomeou logo um ministério presidido por Pedro de Sousa Holstein, o duque de Palmela, então Ministro dos Negócios Estrangeiros, em que entrava o duque da Terceira como Ministro da Guerra. Esse ministério encontrou violenta oposição na Câmara dos Deputados, principalmente por causa da administração financeira de José da Silva Carvalho, que acusavam de entregar todos os empregos a criaturas exclusivamente suas, de forma que o governo obteve por isso o pouco honroso cognome de devorista. Não foram, porém, mais felizes os ministros que lhe sucederam. Nesse governo, que sobreviveu de 24 de Setembro de 1834 a 20 de Março de 1835, o duque da Terceira começou a construção da sua reputação política, caracterizada, desde então pela sua adesão à ala direita do liberalismo, como cartista conservador, sempre fiel pessoal e politicamente ao monarca, mas algo vacilante no que respeita às fidelidades constitucionais e político-partidárias. Quando o governo caiu, o duque da Terceira já se tinha afirmado como o líder incontestado da direita cartista e o herdeiro natural das tendências mais moderadas do liberalismo português. Membro da Câmara dos Pares desde 1826, haveria de manter naquela Câmara, e no Congresso setembrista durante o vigor da Constituição de 1838, uma presença ininterrupta durante toda a sua vida. O duque da Terceira passara a exercer o comando-em-chefe do Exército Português e concorreu indiretamente para a queda do ministério imediato, presidido pelo seu rival, o duque de Saldanha, por causa de uma circular que expediu acerca do papel que competia aos militares nas eleições, o que fez com que os oficiais descontentes fizessem uma representação à rainha, pedindo a demissão do ministério. A 19 de Abril de 1836, o duque da Terceira foi, pela primeira vez, nomeado para presidir ao gabinete ministerial, ficando com a presidência e a pasta da Guerra. Era um ministério que se queria enérgico e de direita forte, mas a esquerda liberal ganhara preponderância e não era fácil impedir a sua retaliação. Quando o ministério dissolveu o clube dos Camilos e decidiu a dissolução das Cortes extraordinárias reunidas em Maio, a sua ação foi mal acolhida pela elite política, que via nela um cerceamento das liberdades públicas. Para complicar as coisas, ocorreu um incêndio no edifício do Erário Régio, o que fez com que se dissesse abertamente que o governo recorrera a esse meio para ocultar as suas dissipações. Debalde o ministério tentou recuperar o prestígio, fazendo com que el-rei D. Fernando fosse viajar às províncias do norte, onde foi acolhido efetivamente com a maior simpatia, mas essa viagem passou completamente despercebida no meio da agitação política que se vivia em Lisboa. A revolução de Setembro encontrou no duque da Terceira um adversário persistente, resistindo enquanto lhe foi possível, primeiro na Câmara dos Pares e depois nos meios militares. Numa tentativa de reverter a situação, na noite de 4 para 5 de Novembro de 1836, em combinação com a rainha, foi ensaiado o contragolpe palaciano da Belenzada, em que os cartistas, com o apoio do duque da Terceira, proclamaram no Palácio de Belém a restauração da Carta Constitucional de 1826. Gorada a Belenzada, e realizadas as eleições gerais de 20 de Novembro, com uma vitória retumbante dos setembristas, mais não restava aos cartistas do que a via insurrecional. Com esse propósito, aproveitando um pronunciamento liderado pelo marechal Saldanha, que a 27 de Julho de 1837 com uma pequena força de lanceiros se tinha levantado em armas contra o governo, o duque da Terceira, com um destacamento do Regimento de Infantaria n.º 7, juntou-se-lhe a 18 de Agosto. Com os velhos rivais Saldanha e Terceira unidos numa causa comum, naquela que por esse facto seria conhecida pela Revolta dos Marechais, as forças revoltosas dirigiram-se para Torres Vedras, onde se uniram às forças comandadas por Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, que ali já se tinham sublevado, formando um Exército Restaurador, destinado a restaurar a Carta 91 Apontamentos: Escudo Constitucional. Ali formaram os três uma regência provisória, e, numa manobra que se tornaria clássica no golpismo português, marcharam sobre Lisboa. Inesperadamente para os cartistas, o seu pronunciamento não foi acolhido e a sua aproximação não levantou a mínima agitação na capital portuguesa. Retiraram então, sustentando um combate indeciso na ação de Chão da Feira contra as forças do general José Lúcio Travassos Valdez, comandante das tropas setembristas, e seguiram para o norte a unir-se às tropas comandadas pelo general José de Vasconcelos Bandeira de Lemos e à divisão que vinha de Espanha. Esmagada a revolta e assinada a Convenção de Chaves, que pôs termo à breve guerra civil, o duque da Terceira foi forçado a acompanhar as tropas em retirada e, com os outros oficiais implicados, teve de emigrar para Espanha e depois para França. Instalado em Paris, em Dezembro de 1837 subscreveu, com os duques Palmela e Saldanha, uma carta aberta ao Congresso português defendendo a Carta Constitucional. Pouco depois, quando surgiram as tensões com Espanha em torno da questão da liberdade de navegação no Douro, e se receou uma guerra com aquele Estado, o duque da Terceira ofereceu logo a sua espada ao governo, sendo aceite e encarregado do comando do exército de observações no norte de Portugal. Foi eleito, em Agosto de 1838, pelo círculo eleitoral de Coimbra para integrar o Senado do Congresso criado pela Constituição de 1838. Era o seu regresso à câmara alta do parlamento, local onde vinha desenvolvendo a sua principal atividade política e onde se manteria até ao fim da vida. Apesar de pouco interventor, afirmando ser com repugnância e dificuldade que pedia a palavra, impunha um grande respeito, sendo um dos pouquíssimos parlamentares perante quem todos se silenciavam. O seu pleno regresso à esfera do poder ocorreu em Janeiro de 1842, quando apoiou o pronunciamento cabralista que levou à restauração da Carta Constitucional, sendo então nomeado comandante da 1.ª Divisão Militar. O duque da Terceira foi demitido de comandante da 1.ª Divisão Militar pelo ministério setembrista, presidido por Pedro de Sousa Holstein, o duque de Palmela, que se organizou enquanto Costa Cabral foi ao Porto fazer a insurreição cartista, e que se ficou chamando o ministério do Entrudo. Contudo, a guarnição de Lisboa pronunciou-se contra esse facto, e o duque, em vez de ser demitido, foi chamado, a 9 de Fevereiro de 1842, a organizar o ministério em que entrou Costa Cabral assim que chegou a Lisboa. O duque da Terceira manteve durante os quatro anos seguintes a presidência nominal desse ministério, denominado o Governo da Restauração (da Carta Constitucional), de que Costa Cabral era a alma e o verdadeiro líder. O ministério Terceira-Costa Cabral caiu a 20 de Maio de 1846, quando rebentou no Minho a revolta conhecida pela Revolução da Maria da Fonte. O governo presidido por Pedro de Sousa Holstein, duque de Palmela, que veio substituir o ministério do duque da Terceira a partir de 20 de Maio de 1846, manteve-o na pasta da Guerra, acumulando com as da Marinha e Ultramar e dos Negócios Estrangeiros, mas, passada uma semana, e perante a necessidade de alargar a sua base de apoio e reduzir a conotação com o cabralismo, o duque foi substituído por Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque. Quando a rainha e os seus conselheiros consideraram que o risco de guerra civil se tinha reduzido, resolveram restaurar o cabralismo, embora sem se atreverem a chamar Costa Cabral ao poder. Para tal, organizaram um golpe palaciano, conhecido como a Emboscada, e a 6 de Outubro de 1846 colocaram o marechal Saldanha no poder. A estratégia falhou e a contestação reacendeu-se, descambando rapidamente na guerra civil da Patuleia. Nesta fase, o duque da Terceira foi nomeado lugar-tenente da rainha nas províncias do norte, tentando, sem sucesso, evitar o alastrar do conflito. Julgou a rainha que era bastante enviar o duque da Terceira como seu lugar-tenente para sufocar o levantamento popular que se receava, mas a revolução rebentou do mesmo modo. Para cúmulo, o enérgico José da Silva Passos não hesitou em prender o lugar-tenente real no Castelo de São João da Foz. Terminada a luta com a 92 Apontamentos: Escudo assinatura da Convenção de Gramido, o duque da Terceira não voltou ao poder. Contudo, em 1850 foi novamente nomeado comandante da 1.ª Divisão Militar, cargo que manteve até 26 de Abril de 1851, data em que voltou a ser chamado a formar governo. Quando em Abril de 1851 já era previsível o movimento que levaria à Regeneração, a rainha D. Maria II chamou o duque da Terceira a formar novamente governo. Foi um ministério curtíssimo, que apenas serviu de transição para o governo do marechal Saldanha. Tendo tomado posse a 26 de Abril de 1851, o ministério caiu 6 dias depois, a 1 de Maio, na sequência do pronunciamento vitorioso daquele dia. Nesta curta passagem pelo governo, o duque da Terceira percebeu que o seu tempo político se estava a acabar e que o nascente fontismo augurava uma nova conjuntura política. Essa compreensão alterou a sua postura política, forçando-o a um posicionamento crescentemente senatorial. Tendo saído do governo, o duque da Terceira retomou o comando da 1.ª Divisão Militar e as suas funções como membro da Câmara dos Pares, onde continuava a ter uma grande influência, mantendo-se como uma espécie de presidente vitalício da Comissão Parlamentar da Guerra e como porta-voz de múltiplas petições e representações. Apesar disso, o duque da Terceira foi-se eclipsando progressivamente da esfera governativa e partidária, muito embora ainda tenha pertencido à Comissão Central Cartista de Lisboa, nas eleições de Novembro de 1851. Passou a cultivar uma imagem de patriarca suprapartidário, definindo-se cada vez mais como um conservador, discreto e conciliador. Pouco participou nas movimentações que estruturaram o Partido Regenerador, herdeiro ideológico do campo político em que sempre militara. Em 1855 deixou o comando da 1.ª Divisão Militar e foi nomeado 1.º ajudante-de-campo de D. Pedro V, que o considerava o seu segundo pai. Em 1858 foi nomeado comissário encarregado de ir, como representante do rei, receber à Alemanha a rainha D. Estefânia de HohenzollernSigmaringen e trazê-la para Portugal. Foi o seu perfil suprapartidário que o catapultou para a sua quarta, e última, presidência do conselho de ministros, quando, em 1859, tendo caído o ministério do Partido Histórico, o duque de Loulé, foi chamado a organizar um gabinete ministerial. A escolha deveu-se à vontade que D. Pedro V manifestava em entregar a liderança a um homem que pudesse, explicitamente, temperar a coloração regeneradora do executivo que sucedia ao duque de Loulé, assegurando assim uma ponte entre a vontade régia e o grupo ministerial fontista. Tomou posse a 16 de Março de 1859, recebendo a presidência do ministério e as pastas da Guerra e dos Negócios Estrangeiros. O duque da Terceira faleceu, vítima de pneumonia, no exercício das suas funções políticas de presidente do conselho e Ministro da Guerra, a 26 de Abril de 1860, contando 68 anos de idade. 93 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: A Frente: Retrato de Duque da Terceira Verso: Motivos alusivos ao Banco de Portugal Marca de água: Cabeça alegórica feminina Medidas: 196x136 mm Impressão:Oficinas Banco de Portugal Gravador: Armando Pedroso Primeira emissão:22-11-1920 Última emissão: 20-02-1923 Retirada de circulação: 20-02-1926 Data 10-07-1920 94 Emissão 118 000 Combinações de Assinaturas 9 Apontamentos: Escudo 1000$00 Ch. 1 Luís de Camões Inocêncio Camacho Rodrigues Henrique Matheus dos Santos José Félix da Costa José Paixão Castanheira das Neves Duarte Augusto A. Bizarro José Pereira Cardoso Francisco Maria da Costa João da Motta Gomes Júnior Manuel António Dias Ferreira 95 Apontamentos: Escudo Ruy Ennes Ulrich António José Pereira Júnior A primeira chapa de 1000 escudos preparada de forma habitual houve homenagem ao maior poeta da história da literatura em português. Luís Vaz de Camões, autor d’Os Lusíadas surgiu na frente, enquanto o verso apareciam figuras simbólicas da Agricultura e do Comércio. O trabalho de gravação das chapas, estampagem das notas e aposição do texto complementar (data, série, numeração, chapa, as palavras “Ouro”, “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi confiado à firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd., de Londres. A frente tinha uma estampagem calcográfica (talhe-doce), a azul-escuro, que engloba o retrato realizado de acordo com imagem de Pauwels (século XVII), bem como embarcações de comércio, legendas e ornamentos com fino trabalho de guilhoché em linha branca. O fundo, multicolor, foi impresso tipograficamente, com aplicações de técnica duplex. O verso tinha uma estampagem calcográfica, a castanho-escuro, sobre fundo irisado impresso tipograficamente a violeta, verde, azul, rosa e amarelo. O papel foi produzido pelos ingleses da T. H. Saunders & Co Ltd. of Purfleet Whart, também londrina. A marca de água surgia a meio da nota, sob a forma de uma cabeça alegórica de mulher e, por baixo “Banco de Portugal”, numa linha curva. Esta nota é atualmente uma das mais raras da República. De facto, só se conhecem dois exemplares, um pertencente ao acervo do Museu do Papel Moeda da Fundação Cupertino de Miranda no Porto e outra leiloada em 2008 por cerca de 15 130 euros. Luís Vaz de Camões Nascido em local desconhecido cerca de 1524, foi um poeta célebre, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história clássicas e modernas. Poderá ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não está documentada. Frequentou a corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Atribui-se a este tipo de vida a sua partida para África alistado como militar, tendo participado em campanhas nas quais terá perdido um olho. Partiu depois para o Oriente onde passou anos, enfrentando uma série de adversidades (foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia Os Lusíadas). De volta a Portugal conseguiu publicar Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter. Faleceu em 10 de Julho de 1580, data celebrada atualmente como dia de Portugal. Encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Foram publicadas postumamente a sua obra lírica foi reunida na colectânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes 96 Apontamentos: Escudo símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos. Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: 1 Frente: Retrato de Luís de Camões Verso: Figuras simbólicas da Agricultura e do Comércio Marca de água: Cabeça alegórica feminina Medidas: 202x126 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:02-11-1921 Última emissão: 08-12-1925 Retirada de circulação: 14-10-1927 Data 28-07-1920 Emissão 435 000 Combinações de Assinaturas 10 97 Apontamentos: Escudo 98 Apontamentos: Escudo 99 Apontamentos: Escudo O Regresso das Cédulas III António José de Almeida, Albano Augusto Portugal Durão (Presidente do Concelho e Ministro das Finanças), autores das leis criadoras das novas cédulas (lei 1297). A falta de numerário conduziu em 1922 a nova autorização de produção de cédulas, abrindose pela lei 1297 de 4 de Agosto a possibilidade de cédulas de $20. Estas cédulas foram produzidas na Casa da Moeda como as suas antecessoras. Apresentavam na frente centro em guilhoché em azul com a informação prevista (“Vinte Centavos”, “Cuproníquel”, “Lei n.º1297 de 4 de Agosto de 1922” e “O Administrador Geral”, número de série e assinatura). Em volta composição com figuras simbólicas representativas da Indústria e Comércio e imagem de duas figuras proeminentes portuguesas (Luís de Camões e Garcia da Orta). No verso, figura simbólica da República, Nau do período dos Descobrimentos e novamente duas figuras simbolizando a Indústria e o Comércio. 100 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: $20 MSA: 9 Frente:Informação geral Verso: Figuras simbólicas da República, Navegação, Comércio e Indústria Medidas: 86x53mm Impressão:Casa da Moeda Assinatura: Aníbal Lúcio de Azevedo Decreto:04-08-1922 2$50 Ch. 2 Mouzinho da Silveira Inocêncio Camacho Rodrigues Fernando Emygdio da Silva José Pereira Cardoso José Lobo D’Ávila da Silva Lima João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Francisco Maria da Costa José Caeiro da Matta Manuel António Dias Ferreira João Theotónio Pereira Júnior Ruy Ennes Ulrich Ramiro Eusébio Leão António José Pereira Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Em fase de dificuldades por falta de numerário eram sistemáticas a emissão de novas notas. A última nota com o valor de 2$50 com homenagem a Mouzinho da Silveira figura de prestígio da implantação do sistema constitucional português no século XIX. Sucederia a esta nota após a reforma de 1931 a moeda de prata de 2$50, sendo retirada de forma organizada para lhe sucederem as novas moedas. Outra das novidades foi a estreia da firma inglesa Waterlow & Sons Ltd, também londrina na produção das notas portuguesas (responsável também pela produção do papel). Na frente, o desenho estampado a azul era de técnica calcográfica, com trabalho de torno geométrico em linha branca e linha cheia. O fundo a duas cores, amarelo e laranja, foi impresso tipograficamente, também com trabalho de guilhoché em linha cheia. O verso foi estampa- 101 Apontamentos: Escudo da calcograficamente (talhe-doce), a laranja, com ornatos de guilhoché em linha branca sobre fundo amarelo de técnica tipográfica. Parte do texto complementar (data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto. A marca de água de leitura contínua, com a legenda “Banco de Portugal”, repetida, e disposta horizontalmente. Mouzinho da Silveira Estadista e jurisconsulto natural de Castelo de Vide onde nasceu em 1780, filho de uma família de abastados proprietários rurais. Depois de aprender as primeiras letras e o latim, parte para a Coimbra em Outubro de 1796, onde, até Junho do ano seguinte, frequenta os preparatórios para entrar no Curso de Leis, no qual se matricula em Outubro de 1797. Sai formado em 1802. Regressado a Castelo de Vide, ocupa os anos de 1803 e 1804 em tarefas relacionadas com a gestão do património familiar. Em finais de 1804 parte para Lisboa onde ingressa na magistratura. Em 1809 regressa ao Alentejo ao assumir a posição de juiz de fora de Marvão, participando ativamente nos preparativos para defesa daquela praça contra a ameaça napoleónica. Em 1812 regressou a Lisboa. Despachado juiz de fora de Setúbal toma posse do cargo em 1813, permanecendo naquele cargo até 1816. Regressando a Lisboa, Mouzinho é nomeado Provedor da Comarca de Portalegre. Chegado a Portalegre a 1817 nele até 1821. 102 Apontamentos: Escudo Sendo administrador da Alfândega foi nomeado em 1823 Ministro da Fazenda. Sobrevindo de imediato a Vilafrancada, Mouzinho foi confirmado no lugar de Ministro por decreto de 31 de Maio, sendo logo demitido por Decreto de 19 de Junho. Na sequência da Abrilada, Mouzinho é preso a 30 de Abril de 1824. Encerrado no Castelo de São Jorge, ali permanece até 14 de Maio, data em que é libertado em conjunto com outros presos políticos. Em 1825 foi elevado às honras de fidalgo cavaleiro da Casa Real. Nas eleições de Outubro de 1826 é eleito deputado pelo Alentejo, integra a Comissão da Fazenda da Câmara dos Deputados, centrando a sua atividade parlamentar em matérias de fiscalidade e de gestão do património nacional. Sentindo necessidade de se exilar, em Março de 1828 pediu licença para viajar por um ano, saindo de Lisboa a 3 de Abril e chegando a Paris a 15 do mesmo mês. Permanecerá em Paris até 1832, desenvolvendo estudos sobre fiscalidade e mantendo intensa troca epistolar com amigos e familiares em Portugal. Estando em Paris foi convocado para acompanhar D. Pedro IV na sua campanha pela implantação do liberalismo em Portugal, saindo daquela cidade a 25 de Janeiro de 1832 com destino à ilha Terceira, para onde embarcou em Belle-Isle. Tomou posse do cargo de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e interino dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça em Angra a 2 de Março de 1832. Desembarca no Mindelo a 8 de Julho, seguindo para o Porto, onde é cercado pelas forças de D. Miguel. Durante a sua permanência no Porto prossegue a promulgação das suas reformas, sendo publicados mais 20 Decretos e uma Portaria. A 9 de Agosto, em completo desacordo com o andamento das finanças públicas, particularmente com os empréstimos obtidos por Palmela, e acossado pelos seus correligionários que o acusavam de radicalismo e insensatez, pede a demissão dos cargos que ocupava, demissão que lhe foi concedida a 3 de Dezembro de 1832 por Decreto de D. Pedro IV. Regressado a Portugal, a 11 de Setembro de 1834 entra para a Câmara dos Deputados, aí permanecendo, com algumas intermitências até 1836, sempre na defesa intransigente da legislação da sua autoria e mantendo uma constante intervenção em matérias de fazenda pública. Nas eleições de 1835 foi reeleito deputado pelo Alentejo. Em 1836 recusa-se a jurar a Constituição de 1822 e demite-se de Diretor da Alfândega. Foi preso e quando libertado exila-se novamente para França. Regressa a Portugal em 1839, entrando para a Câmara dos Deputados a 15 de Fevereiro desse ano. Permanece naquela Câmara até 1840, novamente intervindo em matérias de fazenda pública. Waterlow & Sons Empresa responsável pela produção de notas, selos e certificados de ações criada em 1897 em Londres no Reino Unido. Esta foi a empresa envolvida no escândalo de Alves dos Reis onde foram falsificadas uma série de notas de 500 escudos. Em 1932 a empresa foi condenada em tribunal e considerada culpada. Esta empresa foi ainda a responsável pelas primeiras emissões do Banco de Inglaterra após este banco ficar com o monopólio de emissão em Inglaterra e Gales em 1921. Em 1961 foi comprada pela Purnell and Souns a qual foi por sua vez comprada pela De La Rue. A empresa foi dissolvida em definitivo em Janeiro de 2009. A sua situação financeira pessoal parece melhorar em 1846, mas as expectativas colocadas no filho são goradas e a sua saúde vai-se deteriorando. A esposa permanece em Paris. José Xavier Mouzinho da Silveira morreu em Lisboa, a 4 de Abril de 1849, sendo o seu corpo transladado, em execução da sua última vontade, para a freguesia da Margem, concelho de Gavião, onde lhe foi levantado em 1875, por subscrição do Jornal do Comércio, um monumento. 103 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 2$50 Chapa: 2 Frente: Retrato de Mouzinho da Silveira Verso: Escudo da República Marca de água: linha Banco de Portugal Medidas: 130x73 mm Impressão:Waterlow &Sons Primeira emissão:27-06-1925 Última emissão: 05-05-1932 Retirada de circulação: 31-12-1933 Data 17-11-1922 18-11-1925 Emissão 8 000 000 8 000 000 Combinações de Assinaturas 10 10 50$00 Ch. 2 Anjo da Paz Inocêncio Camacho Rodrigues José Castanheira das Neves Fernando Emygdio da Silva José Pereira Cardoso José Lobo D’Ávila da Silva Lima João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Francisco Maria da Costa José Caeiro da Matta Manuel António Dias Ferreira João Theotónio Pereira Júnior Ruy Ennes Ulrich Ramiro Eusébio Leão António José Pereira Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Nota cuja primeira edição foi datada de 1922, mas emitida em 1924 numa nova crise pós Primeira Grande Guerra que Portugal sofria. Nesta crise a crónica falta de numerário em metal fez-se novamente sentir e consequentemente voltou a recorrer-se a nova emissão de cédulas (oficiais e não oficiais) e notas de diversos valores. A crescente inflação fez deste valor não propriamente um valor para transações diárias mas já servia algumas transações comuns. Atu- 104 Apontamentos: Escudo almente este é um dos espécimes mais raros da República, surgindo ocasionalmente em leilões onde facilmente poderá atingir valores próximos dos 10 000 euros. A gravação das matrizes para esta nota, que apresenta duas figuras alegóricas (uma nafrente simbolizando a Paz e outra no verso simbolizando a Força), foi feita pela londrina Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, que procedeu também à estampagem dasnotas. Na frente, a estampagem calcográfica, a azul-escuro, teve trabalho de guilhoché em linha branca em toda a cercadura e no ângulo inferior direito. O fundo, de impressão tipográfica em íris, tinha uma composição de dois grupos de cores diferentes de linhas ondulantes paralelas, que se cruzavam, um ornato central multicolor com sobreposições que formavam novas cores e ponteado a cobrir a zona da marca de água. O verso tinha um fundo de impressão tipográfica em íris, apresentando na parte central superior uma figura de raios solares e em toda a cercadura trabalho de guilhoché em linha cheia. A aposição do texto complementar (data, chapa, série, numeração, a palavras “Ouro”, “O Governador”, “O Diretor” e chancelas) foi feita tipograficamente, a preto, pela firma estampadora. O papel teve origem em França na Perrigot-Masure, Papeteries d´Arches (Vosges), França. A marca de água foi colocada na parte superior direita, com uma cabeça de perfil para a esquerda, e ao centro, as palavras “Banco de “ em linha curva e por baixo a palavra “Portugal” em linha reta. Portugal e a Primeira Grande Guerra Símbolos da Paz Portugal participou no primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de acordo com as orientações da República ainda recentemente instaurada. A Inglaterra, que mantinha desde há muito uma aliança com Portugal, moveu influências para que o país não participasse ativamente na Guerra. O Partido Democrático, então no poder, movido também pelo facto de já existirem combates entre tropas portuguesas e alemãs junto às fronteiras das colónias em África, desde cedo demonstrou interesse em tornar-se parte beligerante do conflito. Em Setembro de 1914 eram enviadas as primeiras tropas para África onde as esperariam uma série de derrotas perante os alemães, na fronteira do sul de Angola com o Sudoeste Africano alemão e na fronteira norte de Moçambique com a África Oriental Alemã. Apesar destes combates, a posição oficial do Estado português era claramente ambígua. O regime republicano decidiu-se, contudo, por optar por uma tomada de posição ativa na guerra devido a várias razões: com vista à manutenção das colónias, de modo a poder reivindicar a sua soberania na Conferência de Paz que se adivinhava com o final da guerra; a necessidade de afirmar o prestígio e a influência diplomática do Estado republicano entre as potências monárquicas europeias, de forma a granjear apoio perante uma possível incursão monárquica que viesse a derrubar o republicanismo (muitos portugueses defendiam, aliás, o regresso da monarquia); a vontade de afirmar valores de Estado que distinguissem Portugal da Espanha e que assegurassem a independência nacional; a necessidade, por parte do Partido Democrático de Afonso Costa, então no poder, de afirmar o seu poder político, ao envolver o país num esforço coletivo de guerra, tanto em relação à oposição republicana quanto em relação às influências monárquicas no exílio. Neste contexto em Março de 1916, apesar das tentativas da Inglaterra para que Portugal não se envolvesse no conflito, o antigo aliado português decidiu pedir ao Estado português o apresamento de todos os navios germânicos na costa lusitana. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, a 9 de Março de 1916 (apesar dos combates em África desde 1914). Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português, seguiam para a guerra na Europa, em direção à Flandres. Portugal envolveu-se, depois, em combates em França. A experiência do Corpo Expedicionário Português no campo de batalha ficou registada 105 Apontamentos: Escudo na publicação João Ninguém, soldado da Grande Guerra, com ilustrações e texto do capitão Menezes Ferreira. Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objetivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em 1926. Os palcos de guerra para Portugal foram em África, para a qual foi enviada sob o comando de Alves Roçadas uma força expedicionária de 1600 homens, em Outubro de 1914. Esta atuou na fronteira sul, após um ataque alemão ao posto fronteiriço de Cuangar, as tropas portuguesas tentaram expulsar os alemães do território, mas em Dezembro de 1914, foram derrotadas em Naulila, tendo que recuar para Humbe. As tropas alemães também retiraram mas, em simultâneo, as populações locais acabaram por se revoltar contra a soberania portuguesa. O governo português, devido à revolta local, teve de enviar da Metrópole mais 397 oficiais e 12043 praças e de Moçambique enviou mais 2 companhias landins. Em Moçambique, os combates foram iniciados após um ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziua, no Rovuma. Foi assim, enviada um corpo expedicionário em Outubro de 1914, mas estava de tal modo desorganizado, que passados alguns meses, mesmo sem nenhum contacto com o inimigo, já tinha perdido 21% dos seus efetivos devido a doenças. Em Novembro de 1915 chegou a Moçambique uma nova força de 1543 homens, comandados por Moura Mendes. Essa 2ª força tinha como finalidade recuperar a ilha de Quionga, mas também devido a desorganização idêntica à da primeira força, só em 4 meses perdeu, por doença, metade dos efetivos. Só em Abril de 1916 a pequena ilha de Quionga foi recuperada. Em fins de Junho de 1916 chega a Moçambique a 3ª força enviada de Portugal, constituída por 4642 homens comandados por Ferreira Gil, com a finalidade de passar o Rovuma e atacar as tropas alemães ao mesmo tempo que estas eram atacadas no Tanganica por forças inglesas, da Rodésia, da União Sul-Africana, do Quénia, do Congo Belga e da Índia. Esta 3ª força consegue passar o Rovuma e conquistar Nevala mas, logo de seguida, é derrotada, tendo que retirar novamente para Moçambique. Em 1917 Portugal envia a 4ª força para Moçambique, esta constituída por 9786 homens e comandada por Sousa Rosa. A Alemanha tinha na África Oriental, uma pequena força de 4000 askaris e 305 oficiais europeus, comandados pelo general Lettow Worbeck. Este general alemão conseguiu sempre resistir aos ataques das forças inglesas, apesar de estas serem em número muito superior. Isto só foi possível devido a este general ter utilizado uma nova forma de guerra (guerrilha), não lhe interessando manter ou conquistar posições, mas sim manter o inimigo sempre ocupado, de modo que este não pudesse libertar soldados para enviar de volta à Europa. Em Novembro de 1917, Lettow Worbeck passa o Rovuma e derrota as tropas portuguesas em Negomano, e percorre Moçambique sempre fugindo e derrotando as tropas (inglesas e portuguesas) que encontrava pelo caminho e provocando a revolta das populações locais contra os portugueses. Este general alemão acabou por voltar ao Tanganica. Com o final da guerra na Europa, o exército alemão que se encontrava nessa altura na Rodésia, acabou por se render apesar de nunca ter sido derrotado. Para Portugal ficaram, além das grandes derrotas militares, as revoltas das populações locais, que demoraram a ser reprimidas. Em Portugal à medida que o número de mortes vai aumentando no Corpo Expedicionário Português e o seu fim era previsível, a guerra tornava-se cada vez mais impopular. O custo de vida aumentava, o abastecimento de géneros escasseava e o desemprego aumentava. Estes fatores fizeram despoletar violentas reações sociais (greves e assaltos) que eram aproveitadas pelos unionistas e monárquicos, contrários à intervenção de Portugal no confronto armado e defensores da retirada das tropas portuguesas dos campos de batalha da Europa. A este agravamento das condições de vida e da agitação social e política, Afonso Costa não 106 Apontamentos: Escudo apresentava soluções, recusando a entrada no governo de elementos de outros partidos republicanos, católicos e independentes. Por outro lado, na Flandres, o Corpo Expedicionário conhecia a sua quase destruição. No dia 4 de Abril de 1918, as tropas amotinavam-se em pleno campo de batalha. O Corpo Expedicionário vivia dias de horror e inferno: do dia 9 para 10 daquele mês, quando a 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português retirava dos campos de batalha para ser substituída, sofreu um dos maiores bombardeamentos do exército alemão seguido por um ataque em massa alemão embora com grandes focos de resistência por parte dos portugueses o CEP acaba quase por desaparecer. Era o princípio do fim da guerra para os portugueses. O CEP retirou-se para a retaguarda dos Aliados. Alguns efetivos integraram o exército inglês e outros foram utilizados como mão-de-obra para abrir trincheiras, o que foi desmoralizando, cada vez mais, os soldados lusitanos. Mesmo assim, ainda se formaram algumas divisões que ainda marcharam na marcha da vitória em Paris em 1919 trazendo alguma glória e honra para os lusitanos. O símbolo da Paz é representado de uma maneira geral ou por uma pomba ou por ramos de oliveira. Na mitologia cristã e judaica, e segundo o Velho Testamento, uma pomba teria sido solta por Noé depois do dilúvio para que ele encontrasse terra. O pombo regressa com um pequeno ramo de oliveira no bico e Noé daí concluiu que o dilúvio tinha terminado e por conseguinte havia novamente terra para o homem se instalar. No novo testamento, a pomba é o símbolo do Espírito Santo. O CND (Code of Nuclear Disarmament), ou símbolo da paz, é um dos símbolos mais famosos junto com a cruz cristã, a cruz suástica, etc.. A origem da sigla CND, surgiu há 50 anos, aquando dos movimentos pacifistas, e foi desenhada para servir o Comité de Acão Direta Contra a Guerra Nuclear e para a Campanha de Desarme Nuclear. O conhecimento mundial desta sigla deveu-se à realização de uma manifestação levada a efeito por duas organizações inglesas na cidade de Londres, onde o símbolo a encabeçava e tendo sido adotado para estes fins. Ficha Técnica Valor: 50$00 Chapa: 2 Frente: Figura alegórica simbolizando a Paz Verso: Figura alegórica simbólica simbolizando a Força Marca de água: Cabeça feminina Medidas: 195x121 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:28-03-1924 Última emissão: 26-02-1927 Retirada de circulação: 07-04-1931 Data 06-02-1922 19-11-1925 Emissão 1 780 000 1 060 000 Combinações de Assinaturas 8 10 107 Apontamentos: Escudo 108 Apontamentos: Escudo 500$00 Ch. 1 João de Deus Inocêncio Camacho Rodrigues José Pereira Cardoso José Lobo D’Ávila da Silva Lima João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Francisco Maria da Costa José Caeiro da Matta Manuel António Dias Ferreira João Theotónio Pereira Júnior Ruy Ennes Ulrich Ramiro Eusébio Leão António José Pereira Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Fernando Emygdio da Silva Também desta época foi a introdução das notas de 500 escudos. A primeira figura selecionada para homenagear foi o poeta e pedagogo do século XIX João de Deus, autor da famosa Cartilha Maternal. Esta é atualmente também uma das notas mais raras e caras da República, podendo quando aparece em leilões ser vendida por preços próximo dos 20000 euros. A gravação e produção destas notas ficou ao cargo dos britânicos Bradbury, Wilkinson & Co Ltd cuja empresa se tinha movido para New Malden no Surrey.Sobre um fundo irisado impresso tipograficamente e constituído por linhas paralelas verticais na zona do retrato, linhas ondulantes paralelas, um ponteado no espaço destinado à marca de água, e um ornato multicolor em duplex que envolvia a mesma marca de água, foi estampado calcograficamente (talhedoce) o motivo principal da frente da nota, a castanho-escuro, com trabalho de torno geométrico em linha branca. O verso tinha uma estampagem calcográfica, a verde-escuro, com largo trabalho de guilhoché em linha branca, sobre fundo tipográfico de características semelhantes ao da frente. A aposição do texto complementar (data, chapa, série, numeração, a palavras “Ouro”, “O Governador”, “O Diretor” e chancelas) foi feita tipograficamente, a preto, pela firma estampadora. O papel foi fabricado em Londres na Spicers Ltd. A marca de água surgia no lado direito, sob a forma de uma cabeça de mulher representando a República, de perfil para o centro, e por baixo, em linha reta, a legenda “Banco de Portugal”, em letras opacas. 109 Apontamentos: Escudo João de Deus João de Deus de Nogueira Ramos, mais conhecido por João de Deus, nasceu em São Bartolomeu de Messines, a 8 de Março de 1830; era filho de Pedro José de Ramos e de sua mulher Isabel Gertrudes Martins. Era o quarto filho de uma geração de catorze irmãos. Com apenas 14 anos de idade e devido à situação económica da família de fracas posses, vê gorada a sua aspiração de uma carreira universitária, iniciando os seus estudos na terra natal onde estudou latim, ingressando após concluir estes, no Seminário de Coimbra. No ano de 1850 vendo que não tinha vocação para a vida eclesiástica, abandonou o seminário e ingressou na Universidade de Coimbra, matriculando-se em direito. No ano de 1851 logo após o ingresso na Universidade, revelou os seus dotes líricos, escrevendo versos, dos quais obtinha modestos rendimentos para a sua subsistência. Neste mesmo ano escreveu o poema Pomba e a elegia Oração, sendo publicada na Revista Académica no ano de 1855, sendo merecedora de altos elogios. Do convívio entretanto encetado com os demais colegas universitários, envolveu-se na vida boémia coimbrã e preferindo as artes ao direito, o seu percurso académico foi bastante conturbado, com as diversas interrupções, reprovações e faltas. Neste espaço de tempo notava-se uma enorme passividade, e insucesso académico, que o levaram a viver uma vida muito modesta e de carências de toda a ordem, o que permitiu aos seus melhores amigos reunir toda a sua poesia e publicá-la na imprensa coimbrã. São desta época os poemas Estreia Literária, no Ateneu e no Instituto de Coimbra. Estas publicações granjearam-lhe enorme reputação como poeta lírico. Finalmente no ano 1859 terminou o curso, com muita insistência dos 110 Apontamentos: Escudo seus melhores amigos. Ficou na cidade de Coimbra, praticando pouco a advocacia, preferindo continuar a escrever, mas desta feita poesia de carácter satírico, entre outras A lata e a Marmelada, no ano de 1860. No ano de 1862 aceitou o convite para redator do periódico de Beja, então o de maior circulação no Alentejo. Permaneceu em Beja até ao ano de 1864, colaborando com diversos periódicos do sul do país. No ano de 1868, partiu para Lisboa, após fracassados os seus intentos de exercer advocacia. Na cidade de Lisboa levou uma vida de privações sendo frequentador assíduo do café Martinho da Arcádia. Para seu sustento recorreu à realização de traduções e à escrita de sermões e hinos para as cerimónias religiosas. No ano de 1868, apresentou-se às eleições para a 16ª.legislatura, como candidato independente pelo círculo de Silves, apoiado por António Garcia Blanco e Domingos Vieira, conseguindo ser eleito após um desempate de votos. É célebre a sua declaração publicada pelo Correio do Norte, onde retrata a sua atitude perante a atividade parlamentar: Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir a música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!. Das treze sessões parlamentares que se realizaram faltou a dez. Casou com Guilhermina das Mercês Battaglia, advindo geração (dois filhos). No ano de 1869 publicou a coletânea Flores do Campo, a que se seguiu uma outra intitulada Ramo de Flores, considerada a sua melhor obra poética. Ao longo dos anos manteve colaboração com a imprensa periódica, continuando as traduções de diversos autores, com destaque para comédias; Amemos o Nosso Próximo, Ser Apresentado, Ensaio de Casamento e A viúva Inconsolável. Em 1873 publicou textos em prosa Ana, Mãe de Maria, A Virgem Maria e A Mulher do Levita de Ephraim. No ano de 1876 após a morte de António Feliciano de Castilho, e perante certa descrença em que caíra o Método Português de Castilho, João de Deus, envolveu-se na campanha de alfabetização, escrevendo a A Cartilha Maternal, um novo método de ensino de leitura, que o haveriam de distinguir como pedagogo de nomeada. Este método vanguardista e inovador para a época abandona os métodos introduzidos por Feliciano de Castilho há 25 anos atrás, dando-lhe um carácter menos infantilizado. Esta obra foi adotada como método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Foi alvo de rasgados elogios de parte de iminentes intelectuais da época como Adolfo Coelho e Alexandre Herculano. A sua publicação granjeou-lhe um culto extraordinário pela figura do poeta, tornando-o numa das figuras mais populares do último quartel do século XIX. No ano de 1880 e por influência do seu amigo Antero de Quental, adere ao ideário socialista. No ano de 1882 e por iniciativa de Casimiro Freire, reuniram-se dezenas de cidadãos e fundou-se a Associação de Escolas Móveis, com o fim de ensinar a ler, escrever e contar pelo método de João de Deus. A Associação é hoje a Associação de Jardins Escolas João de Deus, uma Instituição Particular de Solidariedade Social dedicada à educação e à cultura. No ano de 1895 foi organizada uma enorme homenagem nacional ao poeta, alegadamente por iniciativa dos estudantes de Coimbra; nesta homenagem a que o rei D. Carlos se associou, este condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. João de Deus faleceu na cidade de Lisboa a 11 de Janeiro de 1896, encontrando-se o seu túmulo no Panteão Nacional. 111 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 500$00 Chapa: 1 Frente: Retrato de João de Deus Verso: Figura alegórica simbólica da Abundância Marca de água: Cabeça simbólica da República Medidas: 180x114 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:26-09-1922 Última emissão: 28-02-1929 Retirada de circulação: 17-09-1929 Data 04-05-1922 08-12-1925 112 Emissão 820 000 997 000 Combinações de Assinaturas 10 11 Apontamentos: Escudo 500$00 Ch. 2 Vasco da Gama Inocêncio Camacho Rodrigues José Pereira Cardoso António José Pereira Júnior João da Motta Gomes Júnior Fernando Emygdio da Silva Francisco Maria da Costa José Lobo D’Ávila da Silva Lima Manuel António Dias Ferreira António Augusto Cerqueira Ruy Ennes Ulrich José Caeiro da Matta A história desta chapa está indelevelmente associada ao maior escândalo financeiro ocorrido em Portugal no século XX, e por muitos considerados um dos maiores do século a nível mundial. Engendrado por um dos cérebros mais brilhantes da sua época, o qual foi capaz de ludibriar o estado português demonstrando uma das suas maiores falhas em termos de controlo do seu sistema financeiro. Alves dos Reis foi capaz de criar um Banco (Banco de Angola e Metrópole) apoiado em várias falhas legislativas e de regulação então existente. Seguiu-se a capacidade de enganar (neste ponto algo discutível) a empresa responsável pela produção desta chapa e depois lançar o verdadeiro caos ao duplicar do dia para a noite a quantidade de notas em circulação. Em 5 de Dezembro de 1925 foram descobertos, no Porto, grupos de duas notas com a mesma numeração. Este caso de fraude, que passou a ser conhecido por “Angola e Metrópole”, breve se tornou célebre pelo ineditismo como foi perpetrado. A firma que fabricava as notas para o BP tinha também fornecido notas, estampadas com as mesmas chapas, a um grupo de burlões, mediante encomendas feitas com documentação falsificada. Durante algum tempo, as notas emitidas pelo BP circularam conjuntamente com as da emissão Marang (nome de um dos implicados na fraude), sem que os próprios peritos pudessem diferenciar umas das outras. O aparecimento de duplicados veio, finalmente, confirmar o que insistentemente constava, embora sob a forma de desconfiança. Posteriormente, e com intervenção dos técnicos da firma estampadora, pôde referenciar-se, através de sinais ocultos só doconhecimento da referida firma, quais as notas pertencentes a uma e a outra emissão. De início, estabeleceram-se limitações no sistema de recolha e troca das notas em questão, mas com o decorrer do tempo a situação foi-se normalizando e em reunião de29 de Abril de 1932 o Conselho de Administração resolveu “que fossem abonadas aos portadores de reconhecida boa fé as notas de 500$00, Chapa 2, efígie de Vasco da Gama, quer sejam autênticas quer façam parte das que foram entregues por Waterlow & Sons a Marang e seus cúmplices”. Nesta resolução havia apenas restrição quanto às notas denominadas por “camarões”, cuja troca deveria obedecer a determinadas normas. Estas notas receberam tal designação por terem sido banhadas por Alves dos 113 Apontamentos: Escudo Reis numa solução de ácido cítrico, com o propósito de as livrar do cheiro de tinta fresca, resultando da experiência uma nova coloração com aspeto semelhante ao daquele marisco. No decorrer das intensas observações que se fizeram às notas para determinar a que emissão pertencia, foram encontrados alguns grupos de três notas com a mesma numeração. Através de exames periciais reconheceu-se que o triplicado era uma falsificação, não identificada, feita por processos distintos dos utilizados pela casa que tinha estampado as notas para o banco e para o grupo Marang. Este caso levou a uma complexa luta nos tribunais ingleses entre a firma estampadora e o Banco de Portugal e à quebra dos contratos vigentes. As falhas detetadas no sistema bancário levariam posteriormente a uma grande reforma com vista a impossibilitar novos casos semelhantes. De referir, que é possível diferenciar estas edições atendendo ao nome da empresa impressa “Waterlow & Sons, limited, Londres” em vez da original “Waterlow & Sons limited, Londres” e a presença de um P junto ao canto inferior esquerdo. Outro aspeto que poderá ajudar na identificação de notas falsas é a numeração. As notas originais estão numerados na série 1B a 1 AN. Séries acima de AN (exemplo AU) são falsas e decorreram de um erro aquando da encomenda realizada por Alves dos Reis por desconhecimento das regras de numeração das notas (corrigido em segunda tranche recebida entre Agosto e Novembro de 1925). Toda a produção técnica ficou a cardo da britânica Waterlow & Sons Ltd (incluindo o texto complementar) facto que facilitou também a tarefa de Alves dos Reis. A frente da nota tinha duas estampagens calcográficas. Uma, em tom avermelhado (rouge de Venise), continha os desenhos da orla e as molduras do retrato e das naus. A segunda estampagem, a preto, engloba o retrato de Vasco da Gama navegador português que descobriu a rota marítima para a Índia, as naus, o mar e diversos dísticos. O fundo da frente, de processo tipográfico, a duas cores, é constituído por linhas paralelas (retas e ondulantes), um desenho geométrico e a legenda “Banco de Portugal”, exposta em ondulado e formando faixas, a configurar raios de sol. O verso foi estampado na mesma cor da frente, com um notável trabalho de torno geométrico em linha branca, sobre um fundo muito simples de linhas ondulantes paralelas, na oblíqua. Parte do texto complementar (data, série, numeração, as palavras “O Governador”, “O Diretor” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto (a numeração a vermelho), pela casa estampadora. O papel foi produzido na casa estampadora. A marca de água: apresentava a legenda “Banco de Portugal”, formando repetidamente linhas retas paralelas, a preencher todo o papel no sentido longitudinal, característica comum a todas as notas estampadas por Waterlow neste período. 114 Apontamentos: Escudo 115 Apontamentos: Escudo Vasco da Gama Vasco da Gama nasceu em Sines entre os anos de 1460 e 1469 tendo sido um dos mais brilhantes navegadores e exploradores do mundo de então. Era filho de Estêvão da Gama, que foi cavaleiro da casa de D. Fernando de Portugal, duque de Viseu e de sua mulher Isabel de Sodré de ascendência inglesa. Pouco se sabe do inicio de vida de Vasco da Gama, tudo leva a crer que estudou em Évora, onde poderá ter aprendido matemática de navegação, pois era conhecedor de astronomia, sendo possível que tenha sido aluno do astrónomo Abraão Zacuto. No ano de 1492 reinava D. João II, que o incumbiu de capturar algumas embarcações francesas em retaliação por depredações feitas em tempo de paz contra a navegação portuguesa na área compreendida entre Setúbal e o sul em plena costa algarvia, o que executou com rapidez e eficácia. Com esta atitude Vasco da Gama mostrou ter capacidades de chefia, responsabilidade e de aventura, o que lhe valeu viver sempre muito perto da corte, estudando as rotas efetuadas anteriormente por outros navegadores ao longo da costa ocidente de África. Quando D. Manuel I subiu ao trono, confiou o cargo de capitão - mor a Vasco da Gama, no ano de 1497, zarpando de Belém em demanda da Índia. A frota era composta por quatro embarcações que transportavam cento e setenta homens, entre marinheiro, soldados e religiosos. Era uma expedição com fins exploratórios que levava cartas do rei D. Manuel I para reinos que porventura visitassem, padrões para se colocarem ao longo da costa e produtos que seriam úteis para proceder a trocas. A nau São Gabriel era comandada pelo próprio Vasco da Gama; a nau São Rafael era comandada pelo seu irmão Paulo da Gama; no regresso e com uma tripulação muito diminuta foi abatida em Melinde; a nau Bérrio foi comandada por Nicolau Coelho; e por fim a nau São Miguel que servia de apoio para transporte dos mais diversos materiais de manutenção, comandada por Gonçalo Nunes, incendiada na costa oriental de África. Após três meses de navegação, percorreram em mar aberto para além do equador e com o benefício dos ventos predominantes do Atlântico sul, mais de 6 000 milhas. Em Dezembro encontravam-se na que é hoje a costa da África do Sul, batizando uma zona com o nome de Natal, em referência a esse dia 25 de Dezembro. No ano de 1499 e após ter completado o contorno sul do continente africano, chegou à costa de Moçambique depois de ter sofrido fortes tempestades e ter dominado com mão pesada uma rebelião dos marinheiros. Após diversos contactos com o sultão de Moçambique e outras personagens na costa africana, que não foram de todo cordiais, seguiu para norte onde em Fevereiro do mesmo ano desembarca em Melinde, sendo recebido pelo sultão que lhe forneceu um experiente piloto árabe, conhecedor dos ventos predominantes e das monções, o que lhe permitiu chegar à costa sudoeste da Índia. Em Maio de 1498 a frota atraca em Calecute, ficando estabelecida a Rota do Cabo e aberto o caminho marítimo dos Europeus para a Índia. As negociações com o governador de Calecute e Vasco da Gama, foram difíceis, devido à diferença de culturas em presença, aos valores das mercadorias apresentadas, aos mercadores aí estabelecidos que viam nesta aproximação uma futura rivalidade. Foi assim que se procedeu ao primeiro contacto de povos do ocidente com os do oriente por via marítima. O regresso a Portugal foi dificultado em virtude do desconhecimento por parte de Vasco da Gama das monções e dos ventos contrários. A viagem até Melinde durou cerca de 132 dias, tendo as embarcações aportado em Janeiro de 1499, perdendo quase metade da sua tripulação, e tendo sido atingidos pelo escor- 116 Apontamentos: Escudo buto; somente cinquenta e cinco homens e duas embarcações chegaram a Portugal em Julho e Agosto de 1499. Vasco da Gama só regressaria a Portugal em Setembro do mesmo ano, pois teve de sepultar o irmão mais velho Paulo da Gama que entretanto adoecera e que acabara por falecer na ilha Terceira no arquipélago dos Açores. Por este feito foi recompensado por D. Manuel I com o título de “Almirante Mor dos Mares das Índias”, recebeu conjuntamente com os irmãos o título perpétuo de Dom e duas vilas, a de Sines e a de Vila Nova de Milfontes. Vasco da Gama voltou à Índia, onde viveu a partir de 1502.. Nesta última estada na Índia, desempenhou o cargo de Vice-rei por pouco tempo. Casou com D. Catarina de Ataíde de onde adveio uma geração de sete filhos. Vasco da Gama destacou-se na era dos descobrimentos por ter sido o comandante dos primeiros navios a navegar diretamente da Europa para a Índia, na mais longa viagem oceânica até então realizada, sendo superior a uma volta completa ao mundo pelo equador. Faleceu em Cochim, Índia a 24 de Dezembro de 1524. Ficha Técnica Valor: 500$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de Vasco da Gama Verso: Escudo da República Marca de água: Banco de Portugal Medidas: 188x111 mm Impressão:Waterlow &Sons, Ltd Primeira emissão:14-02-1924 Última emissão: 17-10-1924 Retirada de circulação: 07-12-1925 Data 17-11-1922 Emissão 600 000 Combinações de Assinaturas 10 1000$00 Ch. 2António Feliciano Castilho Inocêncio Camacho Rodrigues Manuel António Dias Ferreira José Pereira Cardoso Ruy Ennes Ulrich João da Motta Gomes Júnior Francisco Maria da Costa António José Pereira Júnior 117 Apontamentos: Escudo Fernando Emygdio da Silva João Theotónio Pereira Júnior José Lobo D’Ávila da Silva Lima Ramiro Eusébio Leão António Augusto Cerqueira Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Caeiro da Matta José d’Assis Camilo A segunda chapa de notas de 1000 escudosapresentavam data impressa de 1922 mas só viriam a ser lançadas em circulação em 1924. Tal como as suas antecessoras constituem uma das chapas mais raras da República só surgindo ocasionalmente em leilões de nomeada e sempre arrematados por valores muito elevados (a título de exemplo, em Portugal foi vendido um exemplar BC+ em 2002 por 15600 euros). Esta nota presta homenagem a um dos maiores poetas do século XIX português (António Feliciano de Castilho). Todo o trabalho de execução ficou a cargo da empresa britânica Bradbury, Wilkinson & Co Ltd. A frente tinha uma estampagem calcográfica com uma faixa central em toma vermelhado, esbatendo em verde para os lados, observando-se na cercadura trabalho de torno geométrico em linha branca e linha cheia. No fundo, impresso tipograficamente em quatro cores (encarnado, verde, azul e amarelo), foi aplicado o sistema duplex com desenhos geométricos dispostos em íris. O verso tinha igualmente uma estampagem calcográfica a duas cores, sendo a vinheta central a verde-bronze, esbatendo em tom avermelhado para os lados. O fundo tem constituição semelhante ao da frente. As zonas da marca de água, tanto na frente como no verso, são protegidas por fundo de pontos impresso a duas cores. O texto complementar (data, série, numeração, chapa, as palavras “Ouro”, “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi também impresso por técnica tipográfica, a preto, nas oficinas do estampador inglês. O papel foi produzido na também britânica T. H. Saunders & Co Ltd. of Purfleet Whart. A marca de água surgia no lado esquerdo sob a forma de uma cabeça em claro-escuro representando a Agricultura, de perfil para o centro, e, em baixo, em linha reta, a legenda “Banco de Portugal”. 118 Apontamentos: Escudo 119 Apontamentos: Escudo António Feliciano de Castilho Natural de Lisboa onde nasceu a 28 de Janeiro de 1800, filho José Feliciano de Castilho, médico da Real Câmara e lente da Universidade Coimbra e de sua mulher Domicilia Máxima de Castilho. Foi uma criança que teve uma infância marcada por dificuldades de saúde, incluindo sérios sintomas de tísica, as quais lhe provocaram a cegueira após um ataque de sarampo, impedindo-o durante o resto da vida de escrever e ler, tendo prosseguido os seus estudos ouvindo a leitura de textos e sendo obrigado a ditar a sua obra literária. Com a perda da visão os outros órgãos mais se apuraram como o da audição, que lhe permitiu o conhecimento profundo da língua portuguesa e de algumas línguas, conseguindo um conhecimento muito acentuado do latim, o que lhe permitiu distinguir-se como poeta de rara sensibilidade e prosador. Com apenas dezasseis anos de idade escreveu e publicou um Epicédio na morte da Augustíssima senhora D. Maria I, rainha fidelíssima, obra que foi reconhecida sendo-lhe concedida uma pensão com carácter de incentivo. No ano de 1818 publicou um poemeto, intitulado À faustíssima aclamação de S. M. o Senhor Dom João VI ao trono. Estes dois trabalhos granjearam-lhe enorme prestígio, sendo-lhe atribuído um ofício de escrivão do Juízo da cidade de Coimbra. Cursou na Universidade de Coimbra com o seu irmão Augusto, onde se matricularam na Faculdades Cânones e estudaram humanidades clássicas, instruindo-se na procura dos poetas latinos. Em 1820 publicou uma Ode à morte de Gomes Freire e seus Sócios; imprimindo anonimamente nesse ano o elogio dramático A Liberdade. No ano seguinte publicou o poema Cartas de Echo e Narciso, dedicadas à mocidade coimbrã. Foi viver com o seu irmão para Sever do Vouga entre os anos 1826 e 1834, anos difíceis que se caracterizaram por perseguições políticas e violações de toda a ordem, a que se seguiu a Guerra Civil (1828-1834). Neste espaço de tempo para Feliciano de Castilho foram anos de acalmia, pois a terra serviu-lhe de refúgio, dedicando-se ao aprofundamento do estudo dos clássicos, traduzindo as Metamorfoses e os Amores de Ovídio; escreveu imensos versos que os compilou nas Escavações poéticas. Casou Maria Isabel Baena Coimbra Portugal, no ano de 1834; enviuvou no ano de 1837. Divulgou através de oito fascículos a história de Portugal, obra em que teve como colaborador Alexandre Herculano. Casou em segundas núpcias na ilha da Madeira, com Ana Carlota Xavier Vidal, em 1840, tendo sete filhos. Regressado a Lisboa em 1841, publicou o primeiro número da Revista Universal Lisbonense, por ele fundada e dirigida até ao ano de 1845. Atingiu o auge da sua produção literária, consolidando a sua reputação como escritor do regime, essencial para o sucesso literário no Portugal de então. Escreveu biografias de Garcia de Resende e do padre Manuel Bernardes. Em 1846 fez uma pequena incursão pela política, militando no partido Cartista; reconhecendo um enorme analfabetismo da população portuguesa, encetou uma luta pela qual se empenhou durante grande parte da sua vida, que consistia em fazer adotar um método de leitura rápida, que se chamou o Método Português mais tarde conhecido por Método Português de Castilho, de aprendizagem da leitura, método este, que levantou enormes polémicas. Perante este excelente trabalho, o governo de então nomeou-o Comissário para a Propagação do Método Português e deu-lhe um lugar de destaque no Conselho Superior de Instrução Pública. O seu método nunca foi oficializado para uso generalizado nas escolas públicas, recusa que foi um pesar da vida de Castilho. Auto exilou-se nos Açores entre os anos de 1847 e 1850, onde aí conviveu com 120 Apontamentos: Escudo a nata da sociedade, escrevendo o Estudo Histórico -Poético de Camões, fundou uma tipografia onde imprimiu o jornal o Agricultor Michaelense; fundou a Sociedade das Letras e Artes, escreveu diversos trabalhos para uso nas escolas; apoiado pelas autarquias e por sua iniciativa criaram-se escolas, e aí se ensinou pela primeira vez a leitura repentina pelo Método Castilho. Regressou a Portugal em 1850, reforçando a sua luta contra aqueles que reprovaram o seu método de leitura, sendo publicadas diversas edições, com o nome de Método Português de Castilho, continuando a suas atividade de prosador e poeta. No ano de 1865 deslocou-se ao Brasil com o fim de alargar a todo o mundo lusófono o seu Método, sendo recebido pelo imperador D. Pedro II. Em 1858 D. Pedro V criou as cadeiras do Curso Superior de Letras de Lisboa, oferecendo a cadeira de literatura portuguesa a Castilho o qual declinou. No ano de 1866 foi a Paris e aí conheceu Alexandre Dumas de quem era um apaixonado. Publicou diversas obras em Paris e viu traduzido para a língua italiana a sua obra Ciúmes de Bardo. Foi-lhe concedido o título de visconde de Castilho em Maio de 1870. Enviuvou pela segunda vez no ano de 1871. Faleceu na cidade de Lisboa a 18 de Junho de 1875, sendo o seu funeral bastante concorrido, vendo-se representadas todas as classes da sociedade, dado o prestígio e fama por ele alcançados. Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: 2 Frente: Retrato de António Feliciano de Castilho Verso: Figuras simbólicas da Poesia e da Justiça Marca de água: Cabeça alegórica da Agricultura Medidas: 187x113 mm Impressão:Bradbury, Wilkinson &Co, Ltd Primeira emissão:28-03-1924 Última emissão: 22-12-1928 Retirada de circulação: 14-08-1931 Data 27-04-1922 13-04-1926 Emissão 260 000 195 000 Combinações de Assinaturas 10 10 121 Apontamentos: Escudo Os novos Bronzes Manuel Teixeira Gomes (Presidente da República), Álvaro Xavier de Castro (primeiro ministro em 23 de Maio de 1924) e restantes membros do governo subscritores do decreto 9718 que criou as novas moedas de bronze de $05, $10 e $20. Em 1924 ainda se viviam as sequelas da grave crise estabelecida após a primeira grande guerra. Um dos problemas criados a nível financeiro foi a proliferação a nível nacional das emissões de cédulas pelas mais diversas instituições (públicas e privadas) que embora proibidas eram utilizadas e aceites por todos. No entanto, verificava-se que o seu Bronze Do persa biring (cobre), é o nome uso era de todo inadequado e acarretava graves prejuízos para o dado às diversas ligas de cobre com estado. Como é referido no decreto 9718, eram vários os incómodos estanho, associado a outros metais a saber: a despesa de emissão (aquisição de papel, produção, necescomo o zinco, alumínio, níquel, fósforo ou chumbo. O estanho permite ausidade de substituição por deterioração derivado do uso, custos asmentar a existência mecânica e a sociados a todo o pessoal necessário para a sua produção), facilidade dureza do cobre sem lhe alterar a de falsificação (embora seja referido o cuidado por parte da Casa da ductilidade. No processo de fabrico mistura-se um mineral de cobre com Moeda na sua produção), deterioração rápida que dificultava a sua outro de estanho em forno alimentado aceitação como meio de pagamento e a pouca habitual questão de a carvão vegetal ou coque permitindo a fusão dos dois metais. Ao longo da saúde pública levantada por ser o papel um bom veículo de propahistória teve várias utilidades, margação de doenças (talvez ainda os efeitos da febre espanhola). Ascando uma época histórica (a Idade do sim, tendo em atenção todos estes pontos considerou-se necessário Bronze iniciada cerca de 3300 a. C.) onde surgiu utilizada em armamento e a sua substituição por numerário metálico o qual não padeceria de estatuária. A sua aplicação na numismuitos desses defeitos (nomeadamente a facilidade de falsificação e mática é já remota sendo francamente de transmissão de doenças segundo o mesmo decreto). Assim, ficava utilizada no Império Romano. A Numisma republicana também a utilizou decretado a criação de novas moedas de $05, $10 e $20 a serem de forma frequente desde as moedas cunhadas em liga de bronze (aprovada pelo decreto 950 de 20 de de $01 de 1917 às moedas de 1$ de 1979. De destacar a grande variedade Fevereiro de 1920). Para estas moedas foi utilizado o busto da Repúde ligas utilizadas na nossa numária. A blica criado por Francisco dos Santos e aprovado previamente em falta de estanho provocou a produção concurso público para moedas prévias, sendo a outra face da autoria de liga de bronze sem estanho que se manteve de 1920 a 1940, de Alves do Rego. No mesmo decreto ficou definido a recolha das cédulas oficiais em circulação mas foi omisso quanto à data, o que Composição: Cu 960 Sn 20 Zn 20: 1917-1920 iria ter repercussões futuras. Foi também dada ordem de recolha das Cu 960 Zn 40: 1920-1940 moedas de $01, $02 e $04 em circulação (na verdade estes valores Cu 950 Sn 30 Zn 20: 1942-1979 eram já desadequados para o uso diário, e o valor do metal utilizado na produção destas moedas superior ao seu valor facial). O decreto reforçou ainda medidas no sentido de obviar a falta de numerário vigente, proibindo a saída 122 Apontamentos: Escudo das novas moedas do país (à semelhança do que acontecia com as anteriores para utilização industrial) e reforçava a proibição de produzir cédulas por outras instituições que não a Casa da Moeda (medida já anteriormente decretada sem grandes resultados práticos). Em suma, eram tomadas uma série de medidas com cariz prático que visavam resolver a falta de numerário. Como se viu tais medidas foram ainda pouco eficazes, por um lado por não terem sido conseguidas implementar com a rapidez necessária, por outro porque as condições políticas (governos com pouco tempo de vigência, a anteceder a tomada do poder por parte dos militares) e as condições financeiras do país não o permitiam (estava prestes a rebentar o caso Alves dos Reis). A emissão destas moedas constituiu a confirmação de desvalorização clara do escudo. Como termo de comparação tome-se a moeda de $05. A anterior edição criada em 1920 (quatro anos antes) tinha 8 gramas de peso em liga de bronze semelhante à nova moeda, enquanto a atual apresentava apenas 3 gramas. Esta desvalorização foi também assumida para as restantes ($10 e $20) e como veremos com as novas moedas de $50 e 1$00. Curiosamente também uma reforma que vigorou e perdurou, dado que as moedas criadas por este decreto manter-se-iam oficialmente em circulação até 1949 ( e no caso das de $10 e $20 em circulação efetiva). Ficha Técnica Peso: 3 g Diâmetro: 19 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Zn 40 Autor: Anv.: Alves do Rego; Rev.: Francisco dos Santos Decreto-lei: 9718 de 23/05/1924 Ano e taxa de recolha:1949 (6,9%) Ano 1924 1925 1927 Cunhagem 6 480 000 7 260 000 26 320 000 Código 014.01 014.02 014.03 123 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 4 g Diâmetro: 22 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Zn 40 Autor: Anv.: Alves do Rego; Rev.: Francisco dos Santos Decreto-lei: 9718 de 23/05/1924 Ano e taxa de recolha:1949 (14,6%) Ano 1924 1925 1926 1930 1938 1940 Cunhagem 1 210 000 9 090 000 26 250 000 1 730 000 2 000 000 3 383 620 Código 015.01 015.02 015.03 015.04 015.05 015.06 Ficha Técnica Peso: 5 g Diâmetro: 24 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Bronze Composição: Cu 960 Zn 40 Autor: Anv.: Alves do Rego; Rev.: Francisco dos Santos Decreto-lei: 9718 de 23/05/1924 Ano e taxa de recolha:1949 (56,7%) Ano 1924 1925 Cunhagem 6 220 000 10 580 000 Código 016.01 016.02 As moedas de Bronze-Alumínio Manuel Teixeira Gomes (Presidente da República), Álvaro Xavier de Castro (primeiro ministro em 23 de Maio de 1924) e restantes membros do governo subscritores do decreto 9719 que autorizou e regulamentou as moedas de bronze-alumínio de $50, 1$00. 124 Apontamentos: Escudo Indo ao encontro do decretado em lei n.º 1424 de 15 de Maio de 1923,faltava autorizar a emissão de novas moedas de $50 e 1$00. Nessa mesma lei dava-se autorização ao governo de obter no Reino Unido um avultado empréstimo para fazer face às necessidades urgentes das finanças públicas e a obtenção de empréstimo a partir do Banco de Bronze-alumínio Esta liga em cobre e alumínio marcou Portugal. Decretava também a produção de novo numerário no caso a estreia deste último na cunhagem do câmbio do escudo se manter abaixo dos 12 pences o que ainda se monetária portuguesa. Esta liga mais mantinha. Por outro lado, era de todo necessário na tentativa de con- barata em termos de produção por trariar a anterior política que desencadeou aumento de inflação e con- facilidade de aquisição dos metais envolvidos, fator de grande importânsequente desvalorização do escudo lançar numerário metálico em cia em plena crise da década de 20, substituição da circulação fiduciária que praticamente desde 1917 caracterizava-se por apresentar uma cor mais amarelada que o habitual supria as necessidades da circulação monetária. O estado pretendia cobre. Pese o ser uma liga de grande angariar ainda uma fonte avultada de receita, dado que o preço do dureza que dificultava de forma significativa a cunhagem de moedas, não metal utilizado na nova cunhagem seria claramente inferior ao valor apresentava grande resistência ao uso facial da moeda (à semelhança das novas moedas de bronze), sendo levando a que as moedas rapidamente esta receita necessária para fazer face às dívidas então assumidas. perdessem o seu relevo na circulação. Assim, era autorizada a emissão de 40 000 000$00 em moeda de $50 e A sua cor era também afetada tornando-se mais enegrecida com o uso. 1$00 (metade para cada valor), de acordo com a lei de 1923. Estes fatores levaram à sua rápida substituição após apenas três anos de As novas moedas inauguraram uma nova liga metálica, o bronze- utilização. Noutros países europeus alumínio (Cu 950, Al 50) nas cunhagens portuguesas que não vingou conheceu mais êxito, mas a sua aplicação ocorreu na mesma altura, não dada a dificuldade de cunhagem (morosa e com pouca durabilidade voltando a ser uma liga usada em tempos mais recentes. dos cunhos) e rápida deterioração das moedas em circulação. As novas moedas tinham bordo serrilhado, no anverso composição simbólica Composição: Cu 950 Al50 com a legenda “República Portuguesa” segundo modelo aprovado em concurso público da autoria de Simões de Almeida (sobrinho) e a era da cunhagem em algarismos, no reverso o escudo nacional e a designação do valor. Embora tenham tido pouco tempo de vida (retiradas da circulação logo em 1932 e suspensão da produção em 1927, fruto das dificuldades já referidas), estas moedas são das mais bonitas da República. Tal como o decreto do mesmo dia para as moedas de bronze era dada ordem de retirada da moeda fiduciária do mesmo valor (as notas de $50 e 1$00 do Banco de Portugal) e proibida a saída destas moedas do território português. Ficha Técnica Peso: 3 g Diâmetro: 20,5 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Bronze-alumínio Composição: Cu 950 Al 50 Autor: Simões de Almeida Decreto-lei: 9719 de 23/05/1924 Ano e taxa de recolha:1932 (75,5%) Ano 1924 1925 1926 Cunhagem 810 000 310 000 4 340 000 Código 017.01 017.02 017.03 125 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 6 g Diâmetro: 26,8 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Bronze-alumínio Composição: Cu 950 Al 50 Autor: Simões de Almeida Decreto-lei: 9719 de 23/05/1924 Ano e taxa de recolha:1932 (60,9%) Ano 1924 1926 Cunhagem 2 709 000 2 346 000 Código 018.01 018.02 O regresso das cédulas IV Manuel Teixeira Gomes (Presidente da República), Vitorino Carvalho Guimarães (primeiro ministro em 11 de Abril de 1925) e restantes membros do governo subscritores do decreto 10687 que voltava a autorizar a emissão de cédulas ($10 e $20). Pese o previsto nos decretos de 1924 que reformaram a circulação de moedas as necessidades e a incapacidade de retirar do circuito as cédulas mantinha-se ainda em 1925. Tal era ainda agravado pelo surgimento em número apreciável de falsificações das cédulas oficiais. Assim, em 11 de Abril de 1925 foi decretado a produção de novas cédulas de $10 e $20, pese as contradições que isso acarretaria tendo em conta a anterior política de luta contra a inflação e desvalorização monetária, e tudo o que anteriormente se tinha dito sobre a fragilidade das cédulas. No entanto, de acordo com lei anterior o pessoal envolvido na produção de cédulas tinha sido dispensado da Casa da Moeda. Deste modo as novas cédulas foram encomendadas e produzidas no estrangeiro na empresa Waterlow & Sons, Ltd, a qual era já responsável pela produção de diversas notas do Banco de Portugal (inclusive a famosa nota de 500$00 que Alves dos Reis iria falsificar). As novas cédulas de $10 e $20 destacam-se das anteriores pelo cuidado técnico empregue, facto a que não será alheio o local de produção. 126 Apontamentos: Escudo Nas cédulas de 10 centavos destaca-se na frente a presença de imagem simbólica da Liberdade à direita e à esquerda o escudo da República. De acordo com a lei de 1925 a informação obrigatória: “República Portuguesa”, “Dez Centavos”, “Ministério das Finanças”, “Casa da Moeda”, número de série, referência aos decretos de 1917 e 1925 e assinaturas do secretário-geral do ministério e do administrador da Casa da Moeda. Na base referência à empresa responsável pela produção das cédulas. No verso bela composição com moldura geométrica com a imagem do Arco da Rua Augusta da Praça do Comércio em representação. As cédulas de 20 centavos igualmente belas, apresentavam na frente representação da Efígie da República com barrete frígio à esquerda em moldura encimada pelo escudo da República Portuguesa. Grande parte do campo era preenchida pela informação obrigatória: “República Portuguesa”, “Vinte Centavos”, “Ministério das Finanças”, “Casa da Moeda”, número de série, referência aos decretos de 1922 e 1925 e assinaturas do secretário-geral do ministério e do administrador da Casa da Moeda. No verso gravura da Casa da Moeda na rua de São Paulo em Lisboa. Na base referência à firma que produziu as cédulas. 127 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: $10 MSA: 10 Frente:Figura simbólica da Liberdade, Escudo da República Verso: Gravura do Arco da Rua Augusta Medidas: 76x45 Impressão:Waterlow & Sons Assinatura: Oliveira e Silva (Casa da Moeda) Decretos:15-08-1917 e 11-04-1925 Ficha Técnica Valor: $20 MSA: 11 Frente:Efígie da República Verso: Gravura da Casa da Moeda Medidas: 95x57 Impressão:Waterlow & Sons Assinatura: Oliveira e Silva (Casa da Moeda) Decretos:04-08-1922 e 11-04-1925 5$00 Ch. 4 D. Álvaro Vaz de Almada Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta Ruy Ennes Ulrich João Theotónio Pereira Júnior António José Pereira Júnior Ramiro Eusébio Leão Fernando Emygdio da Silva Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Lobo D’Ávila da Silva Lima António Augusto Cerqueira 128 Apontamentos: Escudo A última nota de 5 escudos antes da introdução de moeda de prata de igual valor. Embora datada de 1925 só foi emitida em 1929. Esta chapa era uma das que faziam parte dos contratos existentes com a casa Waterlow & Sons, Ltd, de Londres, no período do caso “Angola e Metrópole”. Este caso motivou um contencioso entre o Banco de Portugal e a firma estampadora inglesa, tendo sido o facto destas notas não terem impresso, o nome da citada firma, que constituiu fator principal para a decisão de serem emitidas. A última nota de 5 escudos presta homenagem ao famoso cavaleiro do século XV D. Álvaro Vaz de Almada. Todo o trabalho técnico, inclusive a produção do papel ficou a cargo da firma Waterlow & Sons, Ltd. Na frente, os desenhos foram estampados por processo calcográfico. O fundo, de técnica tipográfica, era constituído por desenhos geométricos e linhas oblíquas paralelas a duas cores, amarelo e lilás, no centro a imagem do cavaleiro D. Álvaro Vaz de Almada. O verso Foi estampado calcograficamente, a Chapa 3 de 5$00 Palácio da Bolsa azul-escuro, sobre fundo verde, tipografado, de pontos e linhas oblíNota elaborada sem possuir na parte quas paralelas. A figura central era composta pelo escudo da Repú- da frente qualquer figura histórica, blicaassente sobre a esfera armilar ladeada de vergônteas de olivei- monumento, ou outro elemento relevante, ao contrário do habitual; no ra. Parte do texto complementar (série, numeração e chancelas) foi entanto estão representadas duas alegóricas, ambas relacionadas impresso tipograficamente a preto. A marca de água era composta figuras com a agricultura. No verso estava pelas palavras “Banco de Portugal”, em letras de tons claros, repeti- representada uma gravura com a vista do Palácio da Bolsa do Porto de autodas em linhas paralelas e cobrindo toda a superfície da nota, à seme- ria de Armando Pedroso.As chapas e estampagens destas notas estiveram a lhança de outras notas produzidas por esta empresa. D. Álvaro Vaz de Almada Nascido em 1390, veio a falecer em 20-05-1449. Cavaleiro de nomeada distinguindo-se superiormente nas suas ações, o que lhe granjeou a concessão de altas condecorações e títulos. Foi o primeiro conde de Abranches, à portuguesa, (Avranches no original francês), como se reconhece na carta do título nobiliárquico criado pelo Rei Henrique VI de Inglaterra em 04-05-1445, em favor de D. Álvaro. Segundo Fernandes Mendes no “Portugal História – Dinastia de Avis”, D. Álvaro Vaz de Almada, com tal bravura se bateu pelos britânicos contra os franceses, na Guerra dos 100 anos pela posse das cargo da casa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd. Estas notas tinham a dimensão de 147x96 mm. Desconhecendo-se a quantidade de notas produzidas.Entendeu o Banco de Portugal depois de ouvir o Conselho de Administração, proceder à destruição desta emissão, alegando que existiam cerca de 12 000 000 de igual valor, cuja circulação ainda não tinha sido autorizada, não podendo esta nota ser colocada no circuito, devido essencialmente ao seu aspeto, acabamento e tonalidades muito más; em suma, notas de fraca qualidade. Estas notas eram datadas de 10-11-1924. Assim, se explica a existência de notas de 5 escudos de chapas 1, 2 e 4 e não existirem exemplares da chapa 3. suas terras na Normandia, que o rei o fez nomear Cavaleiro da Ordem da Jarreteira, considerada a mais importante comenda do sistema honorífico do Reino Unido. Destacouse ainda na guerra da cruzada pela conquista da Terra Santa. Segundo o mito, foi um dos “Doze de Inglaterra”, cavaleiros portugueses, que responderam ao pedido solicitado pelas damas, para que estes tomassem a defesa da sua honra, batendo-se em torneio contra os cavaleiros britânicos, pois estes, tinham-nas ofendido e ultrajado, segun- 129 Apontamentos: Escudo do consta, pelas duvidosas condutas sociais, acabando a vitória por sorrir aos cavaleiros portugueses. Foi o último a usar o título medieval de Rico – Homem em Portugal, tendo exercido o cargo de Capitão - Mor de Lisboa. Foi um fiel seguidor das ideias do infante D. Pedro, especialmente, quando este era alvo de constantes ataques e afrontas que lhe eram dirigidas pelos seus adversários, querendo denegrir a sua imagem; não podendo tolerar mais estas agressividades e afrontas, e querendo demonstrar a retidão das suas atitudes e procedimentos, marcham para sul partindo de Coimbra, onde mais adiante se deparam com as tropas do rei D. Afonso V, tendo-se travado uma batalha, ficando conhecida pela batalha de Alfarrobeira, onde ambos faleceram em 20-05-1449. 130 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 5$00 Chapa: 4 Frente: Retrato de D. Álvaro Vaz de Almada Verso: Escudo da República Portuguesa Marca de água: Banco de Portugal Medidas: 140x82 mm Impressão:Waterlow & Sons, Ltd Primeira emissão:21-05-1929 Última emissão: 05-05-1932 Retirada de circulação: 31-12-1933 Data 13-01-1925 Emissão 11 999 999 Combinações de Assinaturas 10 10$00 Ch. 3 Eça de Queiroz Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior José Caeiro da Matta Ruy Ennes Ulrich João Theotónio Pereira Júnior António José Pereira Júnior Ramiro Eusébio Leão Fernando Emygdio da Silva Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Lobo D’Ávila da Silva Lima António Augusto Cerqueira Tal como a nota anterior esta chapa foi substituída por moeda de prata após 1933. Pura coincidência prende-se com o facto de também ter sido produzida na firma Waterlow & Sons, Ltd e já ter sido entregue ao Banco de Portugal aquando da descoberta do caso “Angola e Metrópole”. Assim, também se aceitou a sua emissão para circulação dado não ter alusões à firma estampadora, embora neste caso se tenha colocado como sobrecarga o selo do banco de Portugal a vermelho. A figura escolhida para prestar homenagem foi a do escritor do século XIX Eça de Queiroz, um dos maiores vultos da nossa literatura, considerado como o maior romancista e contista desse 131 Apontamentos: Escudo século, seguindo inicialmente a escola/tradição do romantismo, transitou posteriormente para o realismo, sendo esta última fase a mais crucial e longa da sua vida literária. A nota apresenta-nos ainda uma vista da Igreja dos Jerónimos, em Belém. Todo o trabalho de elaboração das chapas e estampagem das notas foi executado pela firma Waterlow & Sons, Ltd. O desenho da frente, a preto, foi estampado calcograficamente e inclui trabalho de guilhoché em linha branca. O selo em relevo foi colocado na frente, entre a vista da Igreja dos Jerónimos, em Belém, e o retrato de Eça de Queirós. O fundo, impresso tipograficamente a encarnado-claro era composto de um desenho contínuo e linhas ondulantes paralelas, forma a base de proteção anti fotográfica. O verso tinha uma estampagem calcográfica, a castanho-escuro, com motivos de guilhoché em linha branca sobre fundo amarelo de técnica tipográfica, composto por pontos e linhas ondulantes oblíquas. O texto complementar foi impresso por processo tipográfico, sendo a chapa, série, data e chancelas a preto, e a numeração a encarnado. O papel foi produzido pela firma estampadora e a marca de água apresentava a legenda “Banco de Portugal”, em letras luminosas, repetida em linhas longitudinais paralelas, em toda a extensão da nota, como era habitual nas produções desta firma. Eça de Queiroz José Maria de Eça de Queirós, vulgarmente conhecido por Eça de Queirós, nasceu na Povoa do Varzim, no dia 25 de Novembro de 1845; filho de Carolina Augusta Pereira de Eça e de José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, sendo batizado na igreja matriz de Vila do Conde, no dia 1 de Dezembro do mesmo ano, constando do seu registo ser filho de mãe incógnita, ao que parece, ser esta a fórmula comum que se traduzia pela solução usada quando a mãe pertencia a estratos sociais elevados, como era o caso. Após seis dias da morte da avó de Eça, os pais contraíram matrimónio, pois a avó sempre se tinha oposto a este desenlace; tinha por essa altura Eça quatro anos de idade. Em virtude destes factos foi entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou, até passar para a casa de Verde milho em Aradas, Aveiro, casa da sua avó paterna até à sua morte, em 3 de Novembro de 1855. Foi internado no colégio da Lapa no Porto, onde conhece Ramalho Ortigão, de onde saiu no ano de 1861, com a escolaridade obrigatória completa, com dezasseis anos de idade. Ingressa nesse ano na Universidade de Coimbra no onde se matriculou em Direito. Durante o tempo de Coimbra conhece Antero de Quental do qual se torna amigo. Os seus primeiros trabalhos foram publicados na Gazeta de Portugal, no ano de 1866 e mais tarde coligidos em livro, publicado a título póstumo, com o nome de Prosas Bárbaras. Em 1866 conclui o Curso de Direito, mudando-se para Lisboa, onde se instala na casa dos pais, fazendo a sua inscrição como advogado no Supremo Tribunal de Justiça. No fim do ano parte para a cidade de Évora, onde funda e dirige um jornal bissemanário de índole oposicionista, Diário de Évora. Em finais de 1869 Eça de Queirós faz uma viagem de cerca de seis meses pelo Oriente, em companhia de D. Luís de Castro, 5º. Conde de Resende, irmão daquela que viria a ser sua futura mulher, Emília de Castro, assistindo à inauguração do canal de Suez. No ano de 1870 e após regressar do Oriente é nomeado administrador do concelho de Leiria, onde escreve a sua primeira novela realista O crime do Padre Amaro, onde faz uma forte crítica ao clero e à sociedade provinciana de então. No ano de 1871, é um dos participantes das Conferências do Casino, denominada a Nova Literatura ou, como Eça se lhe refere nas Farpas, a 132 Apontamentos: Escudo Afirmação do Realismo como Nova Expressão de Arte. Entre os anos de 1872 e 1873, desenvolve uma intensa atividade diplomática, sendo nomeado cônsul em Havana. No ano de 1873, viaja por toda a América do Norte em missão oficial. No ano de 1874 regressa a Portugal onde permanece escassos meses, seguindo para o consulado de Newcastle. No ano de 1878 segue para Bristol. Escreve por esta altura um dos trabalhos mais emblemáticos A Capital escrito numa prosa hábil, e realista; também são desta época as obras Os Maias e O Mandarim, este último escrito em Paris.As suas obras ainda hoje mantêm atualidade, sendo muitas das críticas realizadas à sociedade de então ainda visíveis na organização política e social atual. As obras de Eça foram traduzidas em cerca de vinte línguas, o que demonstra a sua qualidade literária. As obras mais emblemáticas por ordem cronológica: Mistérios da estrada de Sintra (1870), O Crime do Padre Amaro (1875), A tragédia da rua das Flores (1877-78), O Primo Basílio (1878), O Mandarim (1880), As minas de Salomão (1885), A Relíquia (1887), Os Maias (1888), Uma campanha alegre (1890-91), O Tesouro (1893), A Aia (1894), Correspondência de Fradique Mendes (1900), A Ilustre Casa de Ramires (1900), todas publicadas em vida do romancista. Publicadas postumamente: A cidade e as serras (1901), Contos (1902), Prosas bárbaras (1903), Cartas de Inglaterra (1905), Ecos de Paris (1905), Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907), Notas contemporâneas (1909), Últimas páginas (1912), A Capital (1925), O conde de Abranhos (1925), Alves & Companhia (1925), Correspondências (1925), O Egipto (1926), Cartas inéditas de Fradique Mendes (1929) e Eça de Queirós entre os seus – Cartas íntimas (1949).Eça de Queiroz faleceu em Paris no dia 16 de Agosto de 1900. 133 Apontamentos: Escudo Mosteiro dos Jerónimos Mosteiro manuelino localiza-se em Belém, à entrada do Rio Tejo. Constitui o ponto mais alto da arquitetura manuelina e o mais notável conjunto monástico do século XVI em Portugal e uma das principais igrejas-salão da Europa. Destacam-se o seu claustro, completo em 1544, e a porta sul, de complexo desenho geométrico, virada para o rio Tejo. Os elementos decorativos são repletos de símbolos da arte da navegação e de esculturas de plantas e animais exóticos. O monumento foi considerado Património Mundial pela UNESCO. Encomendado pelo rei D. Manuel I, pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da sua viagem à Índia, foi financiado em grande parte pelos lucros do comércio de especiarias. Escolhido o local, junto ao rio em Santa Maria de Belém, em 1502 é iniciada a obra com vários arquitetos e construtores, entre eles Diogo Boitaca (plano inicial e parte da execução) e João de Castilho (novo plano, abobadas das naves e do transepto (esta com uma rede de nervuras em forma de estrela), pilares, porta sul, claustro, sacristia e fachada) que substitui o primeiro em 1516/17. No reinado de D. João III foi acrescentado o coro alto. Sobreviveu ao sismo de 1755. Deriva o nome de ter sido entregue à Ordem de São Jerónimo, nele estabelecida até 1834. Após 1834, com a expulsão das Ordens Religiosas, o templo dos Jerónimos foi destinado a Igreja Paroquial da Freguesia de Santa Maria de Belém. Numa extensão construída em 1850 está localizado o Museu Nacional de Arqueologia. O Museu de Marinha situa-se na ala oeste. Integrou, em 1983, a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura. Serviu de Mausoléu dos últimos reis da dinastia de Avis sucedendo nessa tarefa ao Mosteiro da Batalha. Inclui, entre outros, os túmulos dos reis D. Manuel I e sua mulher, D. Maria, D. João III e sua mulher D. Catarina, D. Sebastião e D. Henrique e ainda os de Vasco da Gama, de Luís Vaz de Camões, de Alexandre Herculano e de Fernando Pessoa. 134 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 10$00 Chapa: 3 Frente: Retrato de Eça de Queiroz e Mosteiro dos Jerónimos Verso: Escudo da República Portuguesa Marca de água: Banco de Portugal Medidas: 149x87 mm Impressão:Waterlow & Sons, Ltd Primeira emissão:13-10-1927 Última emissão: 04-03-1932 Retirada de circulação: 31-12-1933 Data 13-01-1925 Emissão 10 000 000 Combinações de Assinaturas 10 20$00 Ch. 4 Marquês de Pombal Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Ruy Ennes Ulrich José Caeiro da Matta António José Pereira Júnior Ramiro Eusébio Leão Fernando Emygdio da Silva Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Lobo D’Ávila da Silva Lima José d’Assis Camilo Também sofrendo as consequências do caso “Angola e Metrópole” esta chapa teve em risco de não ser lançada para a circulação. Tal como as anteriores de 5 e 10 escudos, acabou por ser aceite, dado não exibir o nome da casa estampadora (ao contrário do que se verificou com os valores de notas acima dos 100 escudos). A nota com data impressa de 1925 só foi lançada para circulação em 1927. Prestou homenagem ao Marquês de Pombal figura cimeira da história portuguesa, apresentando a figura do Marquês de acordo com medalhão presente na estátua equestre de D. José I no Terreiro do Paço. A frente da nota faz ainda referência a uma das grandes obras deste estadista, a Baixa Pombalina, com a representação do Terreiro do Paço. 135 Apontamentos: Escudo A elaboração de chapas e a estampagem das notas estiveram a cargo da firma inglesa Waterlow & Sons, Ltd, de Londres. Na frente, uma estampagem calcográfica (talhe-doce),a vermelho, apresentava os motivos principais do desenho, com aplicação de trabalho de torno geométrico em linha branca por toda a cercadura. O fundo, decomposição simples a duas cores, amarelo e verde, é formado por um desenho uniforme e áreas ponteadas, que serviram de base à estampagem mencionada. No verso, sobre fundo de técnica tipográfica com desenho uniforme, a amarelo, ressaltava uma estampagem calcográfica a vermelho com aplicações de guilhoché em linha branca. O texto complementar (data, chapa, série, numeração, as palavras “O Governador” e “O Diretor” e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto. O papel foi encomendado pela firma estampadora, sendo de origem inglesa. A marca de água apresentou como habitualmente nas notas desta firma a legenda “Banco de Portugal”, em letras luminosas, repetida em linhas longitudinais paralelas, em toda a extensão da nota. 136 Apontamentos: Escudo Marquês de Pombal De nome Sebastião José de Carvalho e Melo, nasceu em Lisboa em 13 de Maio de 1699 e faleceu em Pombal no dia 8 de Maio de 1782, filho de Manuel de Carvalho e Ataíde, fidalgo provinciano, proprietário na região de Leiria e de sua mulher Teresa Luísa Mendonça e Melo. Era o filho mais velho de uma prole de doze irmãos. Na sua juventude estudou Direito na Universidade de Coimbra; mais tarde veio a servir no exército por curto espaço de tempo. Foi um nobre com os títulos nobiliários de, primeiro Conde de Oeiras e depois de Marquês de Pombal, estadista, secretário de Estado do reino, (Primeiro Ministro) no reinado de D. José I entre os anos de 1750 e 1777. Foi o representante do despotismo em Portugal, no século XVIII, vivendo um período marcado pelo iluminismo, desempenhou um papel fundamental na aproximação de Portugal à realidade económica e social que se vivia nos países do norte europeu. Sebastião de Carvalho e Melo casou em 1723, com D. Teresa de Noronha e Boubon Mendonça e Almada, em circunstâncias dúbias, raptando a noiva, uma vez que não era aceite no seio desta família poderosa que o considerava “um mau partido”; integrando-se assim no grupo representante da alta fidalguia. No ano de 1738, foi nomeado embaixador em Londres. É transferido para Viena de Áustria em 1745. Neste ano e após a morte da primeira mulher contraí matrimónio com a Condessa Maria Leonor Ernestina Daun. Em 1749, após a morte de D. João V, o seu herdeiro, D. José I, após uma recomendação de sua mãe nomeia-o ministro dos Negócios Estrangeiros, confiando-lhe gradualmente o controle do Estado. Funda no ano de 1751 o Banco Real, estabelecendo uma nova estrutura para administrar a cobrança de impostos. No ano de 1753 funda a Companhia do Comércio da Ásia Portuguesa. Em 1755 torna-se primeiro-ministro incutindo um governo autoritário, impondo as leis a todas as classes. Foi a figura central do governo português durante cerca de trinta anos. É neste ano que se cria a primeira região demarcada para a produção do vinho do Porto, assegurando 137 Apontamentos: Escudo assim a qualidade dos vinhos. Pôs em prática um sem número de reformas com o fim de modernizar o país. Nesse ano, no primeiro dia de Novembro um enorme terramoto, destrói grande parte da cidade de Lisboa provocando milhares de mortes e arrasando edifícios. Não sofrendo qualquer dano pessoal, Sebastião de Melo, fez-se acompanhar de arquitetos e engenheiros procedendo de imediato à reconstrução da cidade. A baixa lisboeta foi a que mais sofreu, e, por conseguinte, foi alvo de mais alterações, dando origem àquela que é hoje a “Baixa Pombalina”, com o seu ex-líbris, a “Praça do Comércio”. No ano de 1758, o rei D. José I, é ferido num atentado, sendo acusados dessa tentativa de regicídio, aqueles que mais ódio lhe transmitiam, a família Távora e o conde de Aveiro, sendo de imediato implicados no atentado e executados, após um rápido e duvidoso julgamento. Todos os bens foram confiscados a favor da coroa. Em 1759 cria a Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba, no nordeste do Brasil. Nesse mesmo ano inicia a reforma na educação, a qual era privilégio da Companhia de Jesus, expulsando os jesuítas, mandando publicar um alvará que seria a solução para a situação em que se encontrava a educação em Portugal. Ainda nesse ano, D. José I, atribui o título de Conde de Oeiras, a Sebastião de Carvalho e Melo pela sua ação, no desmantelamento dos seus rivais. Nesse mesmo ano, e por iniciativa de Sebastião de Melo, D. José I, mandou expulsar os jesuítas tanto da metrópole, como das colónias procedendo de imediato à confiscação dos bens. Diminui o poder da igreja subordinando o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) ao Estado. No ano de 1763, transfere o governo-geral da colónia brasileira da cidade de S. Salvador para a cidade do Rio de Janeiro, devido ao deslocamento do desenvolvimento e crescimento económico para a região centro sul. Institui no ano de 1765 a “derrama”, que consistia na obrigatoriedade dos mineradores pagarem os impostos atrasados. Foi-lhe atribuído o titulo de Marquês de Pombal, no ano de 1770, mantendo-se como primeiro ministro do país autoritário até à morte do rei D. José I (1777). Pelo ano de 1773 funda a Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve. Promulga em Maio de 1773 uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos de cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristãos-novos. No ano de 1774, funda a vila de Vila Real de Santo António, na foz do rio Guadiana. Aboliu a escravatura nas Índias portuguesas. Reorganizou e modernizou tanto a marinha como o exército. Introduziu a censura de livros e publicações de carácter político, instituindo a Real Mesa Censória. A censura destaca-se na governação do Marquês de Pombal na destruição e proibição de livros de autores de nomeada como, Voltaire, La Fontaine, Diderot, Rousseau, etc., que eram considerados corruptores da Religião e da Moral. Quando a rainha D. Maria I subiu ao trono em 24 de Março de 1777, um dos primeiros atos, consistiu em retirar todos os cargos ao Marquês de Pombal, deportando-o para uma distância superior a 20 milhas de distância de Lisboa. Com esta atitude a rainha mostrou a sua impiedade para com o Marquês de Pombal, nunca lhe perdoando o processo da família Távora. Faleceu na vila de Pombal em 1782, na sua propriedade na Quinta da Gamela. 138 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 20$00 Chapa: 4 Frente: Retrato do Marquês de Pombal e Praça do Comércio Verso: Escudo da República Portuguesa Marca de água: Banco de Portugal Medidas: 156x92 mm Impressão:Waterlow & Sons, Ltd Primeira emissão:13-10-1927 Última emissão: 27-03-1932 Retirada de circulação: 27-07-1934 Data 13-01-1925 Emissão 9 000 000 Combinações de Assinaturas 10 50$00 Ch. 3 D. Cristóvão da Gama Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Ruy Ennes Ulrich José Caeiro da Matta António José Pereira Júnior João Theotónio Pereira Júnior Fernando Emygdio da Silva Ramiro Eusébio Leão José Lobo D’Ávila da Silva Lima Manuel Casal Ribeiro de Carvalho No rescaldo da crise provocada pelo caso “Angola e Metrópole” foi também emitida a chapa 3 de 50 escudos que prestou homenagem ao quarto filho de Vasco da Gama, D. Cristóvão da Gama, o qual se distinguiu como soldado, nomeadamente em África e índia. Na frente é possível observar ainda gravura do Convento de Mafra. Com data de 1925 entraram em circulação apenas em 1928. Na frente, a estampagem, a azul-escuro, foi de técnica calcográfica (talhe-doce), com trabalho de torno geométrico em linha branca por toda a orla. O fundo, tipográfico, a duas cores, era constituído por um desenho a verde e pontos a cor-de-rosa. O verso tinha um fundo tipográfico com desenho geométrico de composição simples, a verde, sobre o qual foi estampado calcograficamente, a azul-escuro, o motivo principal (escudo da República),que englobava traba- 139 Apontamentos: Escudo lho de torno geométrico em linha branca e linha cheia. A aposição do texto complementar foi feita pela firma estampadora e parte do texto complementar (data, série, numeração e chancelas) foi impressa tipograficamente, a preto. O papel e a marca-de-água seguiram o procedimento habitual nas notas produzidas pela firma Waterlow & Sons, Ltd. 140 Apontamentos: Escudo D. Cristóvão da Gama Nascido em 1515 em Évora, filho do célebre navegador português Vasco da Gama e de sua mulher D. Catarina Ataíde. Foi um guerreiro de nomeada, evidenciando as suas notáveis qualidades de lutador na Índia e no mar vermelho. Foi para a Índia no ano de 1532, na frota de Pedro Vaz do Amaral. Foi agraciado com o cargo de capitão de Malaca e o de fidalgo da Casa Real, após o regresso da Índia. No ano de 1538, regressou à Índia sob a direção de seu irmão D. Estêvão da Gama, então governador. Em 1541 D. Estêvão da Gama, encarregou o seu irmão D. Cristóvão da Gama de castigar o arel de Porká por causa de insultos feito aos portugueses. A expedição portuguesa ao mar vermelho, comandada por Estêvão da Gama, numa das fases, caracterizou-se pela ajuda prestada por este ao soberano da Abissínia, contra o xeque de Zeilá, e constava de uma guarnição composta por quatrocentos homens escolhidos entre os melhores soldados da armada, cento e cinquenta dos quais sobre o comando de Cristóvão da Gama, general chefe. A artilharia compunha-se de oito peças, dois berços e seis meios berços, seis mosquetes, muitas munições de guerra e armas suplentes. O soberano da Abissínia forneceu camelos, mulas bois e todo o género de meios de transporte. A expedição desembarcou em Massuah, tendo atravessado as intransitáveis montanhas que separam a beira-mar da vasta planície que constituía a Abissínia, tendo que lutar com as dificuldades provocadas pela difícil geografia local (grandes desfiladeiros, com abismos vertiginosos, aridez do país, o qual não oferecia recursos de qualidade alguma). As condições de progressão no terreno eram dificultadas pelo calor que se fazia sentir, pela falta de água potável e de víveres, e em especial pelo desconhecimento do terreno. Os quatrocentos portugueses que sustentaram bastantes combates com diferentes destacamentos das tropas do xeque Zeilá, saíram sempre vitoriosos; até que, o próprio xeque auxiliado por mil turcos, que mandara pedir ao pachá de Zebid para sua ajuda, atacou as tropas portuguesas, que reduzidas à sua própria força e sem ter tido qualquer apoio dos homens do soberano da Abissínia, depois de renhida luta e atos de abnegada heroicidade, foram destroçados, caindo D. Cristóvão da Gama no poder dos inimigos, tendo sido morto após tortura. Desta derrota, salvaram-se 130 portugueses, que se juntaram de seguida ao exército que o soberano da Abissínia pode reunir. A vitória entretanto alcançada por estes, ficou a dever-se à bravura, coragem, perícia, energia, disciplina, organização e ao abnegado esforço dos portugueses; conforme relatos dos cronistas de então. Mais disseram: “Os Portugueses salvaram no século XVI, a dinastia abissínica”. Este grupo de soldados portugueses foram recompensados com a dádiva de terras e outros bens, onde se radicaram e prosperaram. Convento de Mafra O Palácio Nacional de Mafra localiza-se no concelho de Mafra, distrito de Lisboa a cerca de 25 quilómetros da capital, constitui-se em um palácio e mosteiro monumental em estilo barroco. Foi iniciado em 1717 por iniciativa de D. João V de Portugal, em virtude de uma promessa que fizera no caso de a rainha D. Maria Ana de Áustria lhe desse descendência. Classificado como Monumento Nacional em 1910. Há quem defenda que a obra se construiu por vias de uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei padecia. O nascimento da princesa D. Maria Bárbara determinou o cumprimento da promessa. Este palácio e convento barroco domina a vila de Mafra. Os trabalhos para a sua construção foram iniciados em 17 de Novembro de 1717 com um modesto 141 Apontamentos: Escudo projeto para abrigar 109 frades franciscanos, mas as entradas de ouro oriundo do Brasil em Portugal permitiu a D. João e o seu arquiteto, Johann Friedrich Ludwig (conhecido pelo portuguesismo de Ludovice), tornar os planos originais bem mais ambiciosos. Sem poupança alguma em despesas, a construção empregou 52 mil trabalhadores e o projeto final acabou por abrigar 330 frades, um palácio real, umas das mais belas bibliotecas da Europa, decorada com mármores preciosos, madeira exótica e incontáveis obras de arte. A magnífica basílica foi consagrada no 41.º aniversário do rei, em 22 de Outubro de 1730, com festividades de oito dias. O palácio era popular para os membros da família real, que gostavam de caçar na tapada. Hoje em dia decorre aqui um projeto para a preservação dos lobos ibéricos. As melhores mobílias e obras de arte foram levadas para o Brasil, para onde partiu a família real quando das invasões francesas, em 1807. O mosteiro foi abandonado em 1834, após a dissolução das ordens religiosas. Durante os últimos reinados da Dinastia de Bragança, o Palácio foi utilizado como residência de caça e dele saiu também em 5 de Outubro de 1910 o último rei D. Manuel II para a praia da Ericeira, onde o seu iate real o conduziu para o exílio. No palácio pode-se visitar a farmácia, com belos potes para medicamentos e alguns instrumentos cirúrgicos, o hospital, com dezasseis cubículos privados de onde os pacientes podiam ver e ouvir missa na capela adjacente, sem saírem das suas camas. No andar de cima, as sumptuosas salas do palácio estendem-se a todo o comprimento da fachada ocidental, com os aposentos do rei numa extremidade e os da rainha na outra, a 232 m de distância. Ao centro, a imponente fachada é valorizada pelas torres da basílica coberta com uma cúpula. O interior é forrado a mármore e equipado com seis órgãos do princípio do século XIX, com um repertório exclusivo que não pode ser tocado em mais nenhum local do mundo. O átrio da basílica é decorado por belas esculturas da Escola de Mafra, criada por D. José I em 1754, foram muitos os artistas portugueses e estrangeiros que aí estudaram sob a orientação do escultor italiano Alessandro Giusti. A sala de caça exibe troféus de caça e cabeças de javalis. A Basílica possui ainda dois carrilhões, mandados fabricar em Antuérpia por D. João V, com um total de 57 sinos que pesam mais de 200 toneladas e são considerados os maiores e melhores do mundo. No entanto, e, pese a grandiosidade da Basílica, o maior tesouro de Mafra é a sua biblioteca, com uma coleção de mais de 40.000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas de Luís de Camões. Situada ao fundo do segundo piso é a estrela do palácio, rivalizando em grandiosidade com a Biblioteca da Abadia de Melk, na Áustria. Construída por Manuel Caetano de Sousa, tem 88 m de comprimento, 9,5 de largura e 13 de altura. O magnífico pavimento é revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim contêm milhares de volumes encadernados em couro, testemunhando a extensão do conhecimento ocidental dos séculos XIV ao XIX. Entre eles muitas joias bibliográficas, como incunábulos. Estes volumes magníficos foram encadernados na oficina local, também por Manuel Caetano de Sousa. 142 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 50$00 Chapa: 3 Frente: Retrato do D. Cristóvão da Gama e Gravura do Convento de Mafra Verso: Escudo da República Portuguesa Marca de água: Banco de Portugal Medidas: 163x97 mm Impressão:Waterlow & Sons, Ltd Primeira emissão:30-08-1928 Última emissão: 15-12-1931 Retirada de circulação: 27-07-1934 Data 13-01-1925 Emissão 7 000 000 Combinações de Assinaturas 10 O nascimento das Alpacas Óscar Carmona (Presidente da República) e membros do governo (Adriano Macedo, Manuel Rodrigues Júnior, João Sinel de Cordes, Abílio Passos e Sousa, Jaime Afreixo, Júlio Teixeira, José Magalhães e Felisberto Pedrosa) em 21 de Junho de 1927 aquando da aprovação do decreto 13797 o qual aprovou as novas moedas de $50 e 1$00. A experiência do bronze-alumínio foi curta. Em 1927 eram já evidentes as suas várias fragilidades. Dificuldade de cunhagem de grande volume monetário por rápida deterioração dos cunhos. Acrescia às dificuldades de produção a pouca resistência das novas moedas em circulação na qual perdiam rapidamente muitos dos seus pormenores ao nível de relevos, bem como da cor. Deste modo, após vários estudos achou-se conveniente a sua substituição. Era já evidente a necessidade de cunhar maior volume monetário do que o inicialmente previsto para fazer face às necessidades e o modelo anterior era perfeitamente inadequado. Assim, foram criadas as moedas de $50 e 1$00 de alpaca. A liga branca, chamada por alguns de prata alemã (embora sem prata na sua constituição), oferece como resultado belas moedas com cor e brilho (quando novas) muito semelhante à prata, sendo mais resistentes que as de liga de bronze- Alpaca Liga metálica de cobre, zinco e níquel. Utilizada na amoedação em diversos países, em Portugal foi utilizada especificamente em moedas de 50 centavos e 1 escudo (1927 a 1968). Designada vulgarmente por “metal branco”, “liga branca” ou “prata alemã”, este último nome pelo brilho e coloração semelhante à prata e pela sua origem. Pela sua composição maioritária em cobre apresenta grande ductilidade e facilidade em ser trabalhada à temperatura ambiente. A adição de níquel confere-lhe a sua resistência à corrosão. Estas características tornam esta liga muito interessante para o uso em amoedação. A sua aplicação é também comum em cutelaria, bijutaria, seletores de rádio ou instrumentos cirúrgicos. Composição: Cu 610 – Zn 200 – Ni 190. 143 Apontamentos: Escudo alumínio. A sua eficácia e aceitação foi de tal ordem que só foram substituídas em 1969, embora legalmente se tenham mantido em circulação até 1982, o que torna estas moedas as mais duradouras na história do Escudo. A moeda de autoria de Simões de Almeida (tal como as anteriores) teve um desenho mais simples, no qual no anverso surge envolvido em ramos de oliveira o brasão da República, em posição central no campo na base o valor monetário (50 centavos ou 1 escudo). O reverso aparece bela construção simbólica, com a efígie da República em perfil direito, a envolver a legenda “República Portuguesa” e a era de cunhagem. Pequenas variações do cunho aconteceram ao longo dos tempos, permitindo detetar com o olho treinado possíveis falsificações. Ficha Técnica Peso: 4,5 g Diâmetro: 22,8 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Alpaca Composição: Cu 610 Zn 200 Ni 190 Autor: Simões de Almeida Decreto-lei: 13797 de 21/06/1927 Ano e taxa de recolha:1982 (3,7%) Ano 1927 1928 1929 1930 1931 1935 1938 1940 1944 1945 1946 1947 1951 1952 1953 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 144 Cunhagem 3 330 000 6 823 140 9 778 860 1 116 000 7 127 200 902 100 922 700 2 000 000 2 973 865 5 669 940 4 334 107 6 998 268 4 609 516 2 421 460 2 369 004 3 056 700 3 003 000 3 940 300 2 687 000 4 027 000 2 592 000 3 324 000 6 678 136 2 346 000 7 654 000 3 366 000 6 085 000 19 391 079 11 447 921 Código 019.01 019.02 019.03 019.04 019.05 019.06 019.07 019.08 019.09 019.10 019.11 019.12 019.13 019.14 019.15 019.16 019.17 019.18 019.19 019.20 019.21 019.22 019.23 019.24 019.25 019.26 019.27 019.28 019.29 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 8 g Diâmetro: 26,8 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Alpaca Composição: Cu 610 Zn 200 Ni 190 Autor: Simões de Almeida Decreto-lei: 13797 de 21/06/1927 Ano e taxa de recolha:1982 (4,7%) Ano 1927 1928 1929 1930 1931 1935 1939 1940 1944 1945 1946 1951 1952 1957 1958 1959 1961 1962 1964 1965 1966 1968 Cunhagem 1 917 000 7 462 355 1 616 645 1 911 000 2 038 700 54 300 304 300 1 259 359 220 000 773 000 2 507 146 2 500 000 2 500 000 1 656 400 1 446 700 1 908 300 2 505 000 2 757 000 1 611 000 1 683 000 2 607 000 4 099 000 Código 020.01 020.02 020.03 020.04 020.05 020.06 020.07 020.08 025.09 020.10 020.11 020.12 020.13 020.14 020.15 020.16 020.17 020.18 020.19 020.20 020.21 020.22 1000$00 Ch. 3 Oliveira Martins Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior António Augusto Cerqueira Ruy Ennes Ulrich José Caeiro da Matta António José Pereira Júnior Ramiro Eusébio Leão Fernando Emygdio da Silva Manuel Casal Ribeiro de Carvalho 145 Apontamentos: Escudo José D’Assis Camilo Domingos Holstein Beck Tal como as anteriores chapas de 1000 escudos, a número três é também uma das peças da notafilia portuguesa mais raras, sendo muito raramente encontrada em alguns seletos leilões. Emitida em 1929, apresenta data impressa de 1927. Para a sua raridade terá contribuído a baixa emissão e o pouco tempo de circulação (retirada em 1931). Nesta prestou-se homenagem a outra figura do século XIX português: Oliveira Martins. O desenho para esta chapa foi executado pelo empregado do Banco Jacinto Freire Themudo (1895-1970) que, na altura, não tinha a função específica de desenhador e desta forma se estreava nestas andanças. Tendo entrado para o quadro geral em 14 de Agosto de 1922, viu serem reconhecidos os seus méritos artísticos quando, em 19 de Setembro de 1941, foi considerado e qualificado como desenhador do Banco e, mais tarde, decorador. Todo o trabalho de preparação das chapas e estampagem das notas esteve a cargo da firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd.,agora localizada em New Malden no Surrey (Reino Unido). A frente continha duas estampagens calcográficas, sendo uma, a castanho-escuro, com o retrato de Oliveira Martins (1845-1894), notável publicista, político e historiador, e outra com os desenhos que se apresentam a azul-escuro e que inclui a vista do antigo Convento do Carmo segundo uma aguarela do pintor Casanova. O fundo, de impressão tipográfica em íris com trabalho em duplex, era constituído por desenhos geométricos multicolores e linhas ondulantes que se cruzavam. A estampagem calcográfica do verso apresentava-se num tom avermelhado e assentava sobre fundo, impresso em íris, formado por azulejos coloridos. O texto complementar (data, série, numeração, chapa e chancelas) foi impresso por técnica tipográfica, a preto, nas oficinas do Banco. O papel era de fabrico francês (Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie). A marca de água surgia à esquerda, representando a efígie de Oliveira Martins, de perfil para o centro. Oliveira Martins Joaquim Pedro de Oliveira Martins, foi um historiador, antropólogo, economista, crítico social e político, que nasceu na cidade de Lisboa a 30 de Abril de 1845, filho de Francisco Cândido Gonçalves Martins e de sua mulher D. Maria Henriqueta de Morais Gomes de Oliveira. Os seus trabalhos suscitaram grande controvérsia, influenciando os historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX, como António Sardinha, Eduardo Lourenço e António Sérgio. Oliveira Martins ficou órfão de pai muito cedo, tendo vivido uma adolescência difícil, pois teve de abandonar os estudos (curso liceal) e empregar-se no comércio. Casou no ano de 1865 com Vitória Mascarenhas Barbosa. Em 1867 publicou o seu primeiro romance Febo Moniz. Com 22 anos de idade experimentou diversos géneros de divulgação cultural, através do romance, drama histórico e ensaios de reflexão histórica e política. Entre os anos de 1870 e 1874, exerceu funções de administrador de uma mina na Andaluzia. Regressado a Portugal dirigiu a construção da via-férrea do Porto à Povoa do Varzim e Famali- 146 Apontamentos: Escudo cão. No ano de 1880 foi eleito presidente da Sociedade de Geografia Comercial do Porto; escreveu neste ano na área das ciências sociais Elementos de Antropologia, em 1883 Regime das Riquezas e em 1884 Tábua de Cronologia. Nas obras históricas há a destacar no ano de 1879 História da Civilização Ibérica e História de Portugal, no ano de 1880 O Brasil e as Colónias Portuguesas e no ano de 1891 Os filhos de D. João I. Em 1884 foi eleito deputado pelo círculo de Viana do Castelo. No ano de 1885 aprofundava a sua prática de redator da imprensa periódica com a fundação d’A Província. Foi eleito deputado de 1886 a 1894, apoiando o Partido Progressista. No ano de 1892 foi nomeado Ministro da Fazenda, lugar que ocupou por quatro meses, devido a divergências com o chefe de governo. Em 1893 foi nomeado Vice-presidente da Junta do Crédito Público. Foi um dos elementos de destaque da Geração de 70, revelando uma elevada plasticidade às múltiplas correntes de ideias que atravessaram o século. Colaborou nos principais jornais literários e científicos de Portugal, assim como nos políticos e socialistas. Faleceu em Lisboa a 24 de Agosto de 1894. Convento do Carmo O Convento da Ordem do Carmo de Lisboa localiza-se no Largo do Carmo e ergue-se, sobranceiro ao Rossio, na colina fronteira à do Castelo de São Jorge. O conjunto, que já foi a principal igreja gótica da capital, e que pela sua grandeza e monumentalidade concorria com a própria Sé de Lisboa, ficou em ruínas devido ao terramoto de 1755, não tendo sido reconstruído. Constitui-se em um dos principais testemunhos da catástrofe ainda visíveis na cidade. Atualmente as ruínas abrigam o Museu Arqueológico do Carmo. É possível que a ruína do Convento do Carmo e do vizinho Convento da Trindade, aquando daquele terramoto, esteja na origem da expressão popular Cair o Carmo e a Trindade. O Convento do Carmo foi fundado por D. Nuno Álvares Pereira em 1389. Foi ocupado inicialmente por frades carmelitas de Moura, chamados por D. Nuno para ingressar no convento em 1392. Em 1404, D. Nuno doou os seus bens ao convento e, em 1423, ele mesmo ingressou no convento como religioso, período em que as suas obras estariam concluídas. O Condestável escolheu ainda a Igreja do Convento como sua sepultura. No dia 1 de Novembro de 1755, o grande terramoto e o subsequente incêndio que vitimou a cidade, destruíram boa parte da igreja e do convento, consumindo-lhe o recheio. No reinado de D. Maria I iniciou-se a reconstrução de uma ala do convento, já em estilo neogótico, trabalhos interrompidos em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas. Desse primeiro período reconstrutivo são testemunho os pilares e os arcos das naves, verdadeiro testemunho de arquitetura neogótica experimental, de cariz cenográfico. 147 Apontamentos: Escudo Em meados do século XIX, imperando o gosto romântico pelas ruínas e pelos antigos monumentos medievais, optou-se por não continuar a reconstrução do conjunto, deixando o corpo das naves da igreja a céu aberto e criando, assim, um idílico cenário de ruína, que tanto agradava aos estetas oitocentistas e que ainda hoje encanta os visitantes. A parte habitável do convento foi convertida em instalações militares em 1836. Foi aqui, no Quartel do Carmo, sede do Comando-Geral da GNR, que o Presidente do Conselho do Estado Novo, Marcelo Caetano, se refugiou dos militares revoltosos, durante a Revolução dos Cravos. O cerco deste aquartelamento foi dirigido pelo capitão Salgueiro Maia. O conjunto apresenta raiz no gótico mendicante, com certa influência do estaleiro do Mosteiro da Batalha, que havia sido fundado por D. João I e que também estava em construção à época. Ao longo dos séculos recebeu acrescentos e alterações, adaptando-se aos novos gostos e estilos arquitetónicos. A fachada da igreja do convento tem um portal de várias arquivoltas lisas com capitéis decorados. A rosácea que encima o portal está destruída. A fachada sul da igreja é sustentada por cinco arcobotantes, adicionados em 1399 após um desabamento durante a construção da igreja. O interior apresenta três naves e cabeceira com uma capelamor e quatro absidíolos. O teto da nave da igreja desapareceu com o terramoto, e só os arcos ogivais transversais que o sustentavam são visíveis hoje. 148 Apontamentos: Escudo O corpo principal da igreja e o coro, cujo telhado resistiu ao terramoto, foram requalificados e abrigam hoje um Museu Arqueológico com uma pequena mas interessante coleção. Do paleolítico e neolítico português destacam-se as peças provenientes de escavações de uma fortificação pré-histórica perto de Azambuja (3500 a.C. - 1500 a.C.). O núcleo de túmulos góticos inclui o de D. Fernando Sanches (início do século XIV), decorado com cenas de caça ao javali, e o magnífico túmulo do rei D. Fernando I (1367-1383), transferido de um convento em Santarém para o museu. Destaca-se também uma estátua de um rei do século XIII (talvez D. Afonso Henriques), além de peças romanas, visigóticas e até duas múmias peruanas. Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: 3 Frente: Retrato do Oliveira Martins e Gravura do Convento do Carmo Verso: Alusão ao Banco de Portugal Marca de água: efígie de Oliveira Martins Medidas: 186x111 mm Gravador: Jacinto Freire Themudo Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:05-04-1929 Última emissão: 24-02-1930 Retirada de circulação: 14-08-1931 Data 25-11-1927 Emissão 412 000 Combinações de Assinaturas 10 149 Apontamentos: Escudo 8º Centenário da Batalha de Ourique Prata Em latim argentum, elemento com símbolo químico Ag. A prata é obtida habitualmente como subproduto da mineração de chumbo, estando também habitualmente associada ao cobre. É o melhor condutor elétrico. Habitualmente ocorre sob a forma de pepitas ou grãos e raramente sobre agregados fibrosos, dendríticos. Sob a forma mineral apresenta cor branco-prata brilhante. Estável em contacto com ar e água, apresenta tendência a desenvolver uma película de oxidação quando exposto a elementos como o ozono, gás sulfídrico ou enxofre. Por estas características é um elemento preponderante na joalharia. O consumo de prata é tóxico. Os seus sais acumulam-se no organismo nomeadamente nas mucosas onde forma uma película acinzentada (argiria). No entanto, é utilizada na medicina em associação com o nitrato como solução antisséptica. Na numismática é habitualmente utilizado em liga com cobre, níquel, enxofre e antimónio. Presença na numária portuguesa desde a fundação da nacionalidade inicialmente sob a forma de bolhão (liga de prata com teor inferior a 50% deste metal) nos dinheiros de D. Afonso Henriques. Desde 1642 o título das moedas de prata portuguesas era de 916,6 milésimas, passando em 1908 para 835 milésimas nas moedas de 100 e 200 réis. Em 1932 surgiu o toque de 650 milésimos (moedas de 2$50 e 5$) e posteriormente as 500 milésimas (edições comemorativas após 1992). Composição das ligas de prata utilizadas na numária da República: 925 milésimas: Ag 925 Cu 75 835 milésimas: Ag 835 Cu 165 800 milésimas: Ag 800 Cu 200 680 milésimas: Ag 680 Cu 320 650 milésimas: Ag 650 Cu 350 500 milésimas: Ag 500 Cu 420 Ni 80 150 Óscar Carmona (Presidente da República) e membros do governo (José Freitas, João Sinel de Cordes, Abílio Passos e Sousa, Agnelo Portela, Artur Ferraz, Alfredo Magalhães e Felisberto Pedrosa) em 18 de Abril de 1928 aquando da aprovação do decreto 15386 o qual aprovou a emissão da moeda comemorativa do oitavo centenário da Batalha de Ourique. A segunda moeda comemorativa do regime republicano só foi em 1928, e, tal como a primeira, aparece ligada à necessidade de recolha de fundos, que de outra forma representariam pesados encargos para o erário público. Desde 1926 que uma comissão nomeada pelo Ministério da Guerra fica incumbida de propor e executar anualmente a comemoração da Batalha de Ourique, bem como proceder à execução de um monumento alusivo, em Vila Chã de Ourique, cujo custeio devia ser efetuado com os lucros de uma amoedação comemorativa, a qual iria também permitir "que fique mais indelevelmente assinalado o heroico esforço do nosso primeiro rei e de todos os portugueses daquela época, que já assim manifestavam o valor da nossa raça" (do Decreto nº 15 386, de 19 de Abril de 1928). Assim, foi emitida moeda comemorativa relativa ao oitavo centenário da Batalha de Ourique. Com um valor facial de dez escudos, esta moeda é justamente considerada como a mais bela moeda comemorativa portuguesa, apresentando uma composição equestre do rei fundador que rivaliza na mestria escultórica, na força expressiva e no pormenor de gravação com os afamados reversos do fundador da medalha renascentina, Pizanello. Pena foi que tal excelente escultura se Simões de Almeida (Sobrinho), magistralmente gravada por Alves do Rego, não tivesse saído impressa em moeda de maior módulo como a do nosso primeiro escudo da República. A moeda cunhada em prata, apresentava no anverso apresenta a legenda “Comemoração da Batalha de Ourique – 1139”, em caracteres góticos, assim como, a representação da figura de D. Afonso Henriques a cavalo, empunhando espada e escudo em atitude triunfal, cabeça erguida e olhos postos no céu. Junto ao bordo inferior os Apontamentos: Escudo nomes do escultor, Simões em relevo e do gravador, Rego gr. incuso. No reverso a legenda “República Portuguesa – 1928” igualmente em caracteres góticos. Ao centro o escudo das armas de D. Afonso Henriques, coroado e ladeado pelo valor facial "10-Esc." Batalha de Ourique Esta batalha travou-se a 25 de Julho de 1139 dia de S. Tiago, entre D. Afonso Henriques e os muçulmanos, com vitória para o primeiro rei português. Foi travada durante uma das incursões que os cristãos faziam em terra de mouros para apreenderem gado, escravos e outros despojos. Durante o fossado surgiu inesperadamente um exército mouro saiu-lhes ao encontro e, apesar da inferioridade numérica, os cristãos venceram. A vitória cristã foi de tal ordem que D. Afonso Henriques foi aclamado pelos seus irmãos de armas Rei de Portugal (embora o conceito de Rei fosse diferente do atual), tendo a sua chancelaria começado a usar a intitulação Rex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses) a partir 1140 — tornando-o rei de facto, sendo o título de jure (e a independência de Portugal) reconhecido pelo rei de Leão em 1143 mediante o Tratado de Zamora e, posteriormente, confirmado pela Santa Sé em Maio de 1179. Não há consenso entre os estudiosos acerca do local exato onde se travou a batalha de Ourique. A mais antiga descrição da batalha figura na Crónica dos Godos sob a entrada dos acontecimentos da Era Hispânica de 1177 (1139 da Era Cristã). Séculos mais tarde, um dos primeiros autores a abrir a polémica sobre a autenticidade das narrativas foi Alexandre Herculano quando, ao afirmar que “Ourique não passa de uma lenda”, foi acusado de anticlericalismo. Mais recentemente outros historiadores, entre eles José Hermano Saraiva, voltaram a abordar e a reinterpretar essa questão. Entre as teorias consideradas, citam-se: Hipótese de Ourique (Baixo-Alentejo), outrora conhecida como «Campo d'Ourique»: mais ou menos equidistante entre Évora e Silves, é a hipótese tradicionalmente sustentada. À época, o poder Almorávida estava em fragmentação na península Ibérica, e o território correspondente ao moderno Portugal, ainda em mãos muçulmanas, encontrava-se repartido em, pelo menos, quatro taifas, sediadas respetivamente em Santarém, Évora, Silves, e Badajoz. Neste cenário, um fossado do infante D. Afonso Henriques que incidisse numa zona tão a sul como o Baixo Alentejo, não seria, de todo, improvável, uma vez que era durante os períodos de maior discórdia entre os muçulmanos que as fronteiras cristãs mais progrediam para o Sul. Nesse sentido, o fossado que seu filho, o infante D. Sancho, fez em 1178 a Sevilha, 151 Apontamentos: Escudo acha-se bem documentada, demonstrando na prática, a possibilidade de se percorrer uma distância tão significativa em território hostil. Hipótese de Vila Chã de Ourique (cerca de 2 km do Cartaxo), no Ribatejo; a sua localização era ocidental demais para atrair o interesse e as forças do emir de Badajoz. Contudo é o mais forte dos quatro supramencionados, dado que nesta localidade foram encontradas imensas ossadas no Vale de Ossos. Hipótese de Campo de Ourique (cerca de 7 km de Leiria), na Estremadura: tal como no caso de Vila Chã, a sua localização era próxima demais ao litoral para atrair da mesma forma o interesse e as forças do emir de Badajoz; Hipótese de Campo de Ourique (Lisboa): Presente no imaginário popular, sem qualquer fundamentação. Hipótese de Aurélia (possivelmente, a moderna Colmenar de Oreja, próxima a Madrid e Toledo): Há quem defenda uma confusão entre Ourique (Aurik) e Aurélia (Aureja, com o "j" aspirado como em castelhano), aumentando a dúvida sobre a localização da batalha. É possível que tivesse havido um plano acordado entre Afonso Henriques e o rei de Leão e Castela, Afonso VII; embora inimizados dois anos antes na batalha de Cerneja, a guerra ao inimigo comum (o Islão) constituía uma razão forte o suficiente para suscitar um entendimento entre ambos os soberanos cristãos, no sentido de este último poder atacar a fortaleza de Aurélia. Para evitar ser cercado pelo inimigo muçulmano, Afonso VII teria pedido ao primo D. Afonso Henriques que providenciasse uma manobra de diversão, que passaria por esta incursão portuguesa no Alentejo, e que forçaria os emires das taifas do Gharb al-Andalus a combatê-la em autodefesa. Com isso, Afonso VII esperava ter a sua retaguarda livre para atacar Aurélia, confiante em uma rendição rápida, dada a impossibilidade de resposta do inimigo, ocupado com a manobra dos portugueses. De qualquer modo, como consequência, quando o Cardeal Guido de Vico, emissário do Papa, reuniu D. Afonso Henriques e Afonso VII em Zamora (1143), para tentar convencê-los que a animosidade entre ambos favorecia os infiéis, o soberano português escreveu ao Papa Inocêncio II, reclamando para si e para os seus descendentes, o status de censual, isto é, dependente apenas de Roma, invocando para esse fim o “milagre de Ourique”, o que ocorrerá apenas em 1179. Entretanto, naquele encontro, pelo tratado então firmado (Tratado de Zamora), Afonso VII considerou D. Afonso Henriques como igual: afirmava-se a independência de Portugal. Nesta batalha combateu e foi ordenado Cavaleiro o futuro Grão-Mestre da Ordem dos Templários, Dom Gualdim Pais, fundador das cidades de Tomar e Pombal. A ideia de milagre ligado a esta batalha surge pela primeira vez no século XIV, muito depois da batalha. Ourique serve, a partir daí, de argumento político para justificar a independência do Reino de Portugal: a intervenção pessoal de Deus era a prova da existência de um Portugal independente por vontade divina e, portanto, eterna. De facto, esta lenda surgiu em 1485 (três séculos após a batalha), quando Vasco Fernandes de Lucena, embaixador de D. João II enviado ao papa Inocêncio VIII, incluiu no relato da batalha de Ourique o aparecimento de Cristo. No 152 Apontamentos: Escudo século XVII, o frade alcobacense Bernardo de Brito aperfeiçoou a mesma lenda pormenorizando-a e conferindo-lhe uma nova importância. De notar que a lenda surgiu e foi reforçada em duas situações em que Portugal necessitava de consolidar a sua independência e autonomia. A partir do século XIX a lenda foi posta em causa, primeiro por Herculano e posteriormente pela moderna historiografia. Ficha Técnica Peso: 12,5 g Diâmetro: 30 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: Simões de Almeida Decreto-lei: 15386 de 18/04/1928 Ano 1928 Cunhagem 200 000 Código 021.01 100$00 Ch. 4 Gomes Freire Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Ruy Ennes Ulrich Domingos Holstein Beck António José Pereira Júnior Henrique Missa Fernando Emygdio da Silva Francisco Camilo Meira José Caeiro da Matta José Emauz Leite Ribeiro Ramiro Eusébio Leão 153 Apontamentos: Escudo As consequências do caso “Angola e Metrópole” embora não tenha acabado por impedir a emissão das notas de menor valor já referenciadas que foram produzidas pela Waterlow & Sons, Ltd, teve repercussão na emissão das notas de 100 e 500 escudos. Assim, a chapa 3 produzida por essa empresa teve a sua emissão suspensa, tendo sido destruída sem ter circulado. Assim, surge a chapa 4 que prestou homenagem ao general Gomes Freire figura do liberalismo português. O trabalho de elaboração das chapas e estampagem deste tipo de notas foi consignado à casa Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, de New Malden, Surrey, por sugestão dos serviços técnicos do Banco. O retrato de Gomes Freire, notável general português dedicado à causa liberal (1757-1817), um ornato, tirado da sala do Parlamento em Lisboa, com duas figuras ladeando o escudo nacional, e o Templo de Diana em Évora ilustravam a frente da nota. O retrato de Gomes Freire foi gravado nas oficinas da casa estampadora inglesa, tendo servido de modelo um desenho de Domingos Sequeira. Na frente, sobre fundo impresso por procedimento tipográfico, constituído por trabalho em duplex e linhas ondulantes que se cruzavam, assentava a estampagem calcográfica, a azul-escuro, com os motivos principais. O verso apresentava uma estampagem calcográfica, a castanho, com uma vista parcial de Évora, sobre fundo tipográfico de proteção em íris. O texto complementar (chapa, data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi produzido na inglesa Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchurch, Hants, de Inglaterra. A marca de água surgia do lado direito sob a forma de uma cabeça simbólica da República, de perfil para dentro, e, na parte inferior da nota, a legenda “Banco de Portugal”, em caracteres escuros mas pouco legíveis devido à estampagem. Chapa 3 de 100$00 Esta Chapa produzida com data de 13 de Janeiro de 1925 fez parte das encomendas realizadas à empresa londrina Waterlow & Sons Co. Ao contrário das notas de menos valor apresentava impressa o nome da empresa inglesa. Fruto das complicações relacionadas com o caso “Angola e Metrópole” o qual acabaria na barra dos tribunais ingleses num processo colocado pelo Banco de Portugal contra a empresa inglesa (ganha posteriormente pelo Banco de Portugal). Nesse contexto acabou destruída sem ter circulado. De referir que a chapa 3 prestou homenagem ao Duque de Saldanha. Gomes Freire Gomes Freire de Andrade nasceu na cidade de Viena de Áustria em 27 de Janeiro de 1757, filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador em Viena e de sua mulher uma aristocrata de origem alemã, a condessa von Schaffgotsch, oriunda de uma antiga e ilustre família nobre da Boémia. Teve uma educação primorosa. Em Viena foi feito comendador da Ordem de Cristo. No ano de 1781, com 24 anos de idade, vem para Portugal pela mão do embaixador de Viena, o conde de Oyenhausen e de sua mulher D. Leonor de Almeida Portugal, mais conhecida por marquesa de Alorna celebre poetisa. Neste mesmo ano ingressa no regimento de Peniche, assentando praça como cadete. No ano seguinte em 1782 é promovido a alferes. Em 1784 embarca na esquadra que foi prestar auxílio às forças navais de Espanha, sobre o domínio de Carlos III, no bombardeamento de Argel. Regressado a Portugal é promovido a tenente do mar da Armada Real em Abril de 1788. Neste mesmo ano consegue obter licença para servir no exército de Catarina II, da Rússia, em guerra com a Turquia. Segundo consta, 154 Apontamentos: Escudo uma vez em S. Petersburgo, foi alvo das maiores simpatias na corte e da imperatriz. Na campanha de 1788-89, distingue-se na Guerra da Crimeia; nas planícies do Danúbio e no cerco de Oczakow, sendo o primeiro a entrar na frente do regimento, quando a praça se rendeu em Outubro de 1788; tomou parte nas batalhas de Moscovo e Wagram. Perante este feito, a imperatriz promoveu-o ao posto de coronel do seu exército, que um ano mais tarde, (1790) lhe é confirmado pelo exército português. Integrado na esquadra do príncipe de Nassau, salva-se por milagre durante a batalha naval de Schwensk, quando os canhões inimigos (suecos) fazem ir a pique a “bateria flutuante” sobre o seu comando; toda a tripulação se perdeu, salvando-se Gomes Freire, vindo a receber uma das Ordens mais importantes da Rússia (O hábito de São Jorge). Regressado a Portugal, criou uma Legião de Tropas Ligeiras, com o comando entregue ao marquês de Alorna. No ano de 1795 é promovido a marechal de campo, sendo conhecido no exército como general russo. Mantém o comando da guarnição de Lisboa até ao ano de 1801, ano em que é promovido a marechal efetivo. No ano de 1803 fez parte dos distúrbios de Campo de Ourique, acontecimento que tivera o condão de impossibilitar a aplicação de reformas militares propostas pelo general Forbes e seus apoiantes no governo. Em 1805, é envolvido na tentativa de colocar a princesa Carlota Joaquina no poder, tratando-se de uma conspiração de índole aristocrática. No ano de 1807 com a patente de tenente-general e durante a primeira invasão francesa foi encarregue do comando da divisão que defendia a margem Sul do Tejo, contra um ataque britânico; aí recebeu o general Solana, aceitando o cargo de desmobilizar a parte do exército português aquartelado no sul do País e desarmar regimentos de milícias. A colaboração de Gomes Freire com os ocupantes espanhóis e franceses fizeram-no ser nomeado para o 2º. Comandante do exército português. No ano de 1808 volta para França onde é reformado de acordo com os regulamentos franceses e integrado no exército com o título de Légion Portugaise. Em Espanha combateu a insurreição espanhola contra os invasores franceses, sendo enviado para o cerco de Saragoça. No ano de 1813 foi o comandante de campanha das campanhas de libertação da Alemanha, sendo nomeado governador de Dresden por Napoleão Bonaparte. Regressa a Portugal no ano de 1815, onde vem a ser Grão-Mestre da Maçonaria. É acusado de ser conspirador liberal e traidor da Pátria. No dia 25 de Maio de 1817, é preso. É encarregado de o prender, um coronel por conseguinte um militar de patente inferior ao de Gomes Freire, que a casa deste se dirigiu devidamente escoltado, e por detrás dos soldados deu-lhe ordem de prisão, ao que Gomes Freire retorquiu indignado: “Assim se entra com tanta insolência e desaforo na casa de um tenente-general?” E mais disse – que não pode prenderme porque não tem a minha patente, e acabou dizendo-lhe que o seu comportamento não era nem de um oficial nem de um cavalheiro, mas sim de um esbirro, aguazil, ou vil agarrador. Gomes Freire meteu-se numa sege foi para a Torre de São Julião. O julgamento estava carregado de irregularidades, ao ponto de Gomes Freire ter um tratamento distinto de outros, que nem sequer foi acareado com as testemunhas, nem soube o que elas contra ele depuseram, conservando-se em segredo total. A sentença condenou-o à morte por enforcamento. Gomes Freire foi executado na esplanada da Torre de S. Julião da Barra eram nove horas da manhã do18 de Outubro de 1817. Quando Gomes Freire soube que iria ser enforcado, revoltou-se contra esse procedimento e pediu para ser fuzilado, sendo-lhe recusada esta consolação assim como lhe foi recusada a intenção de escrever algo aos seus parentes nos últimos momentos de vida. 155 Apontamentos: Escudo Templo de Diana O templo romano de Évora faz parte do centro histórico da cidade, o qual foi classificado como Património Mundial pela UNESCO. O templo romano encontra-se classificado como Monumento Nacional pelo IGESPAR. É um dos mais famosos marcos da cidade, e um símbolo da presença romana em território português. Localizado no Largo Conde de Vila Flor, encontrase rodeado pela Sé de Évora, pelo antigo edifício do Tribunal da Inquisição, pela Igreja e Convento dos Loios, pela Biblioteca Pública de Évora e pelo Museu. Embora seja frequentemente chamado de Templo de Diana, sabe-se que a associação com a deusa romana da caça originou-se de uma lenda criada no século XVII. Na realidade, o templo provavelmente foi construído em homenagem ao imperador Augusto, que era venerado como um deus durante e após seu reinado. O templo foi construído no século I d.C. na praça principal (fórum) de Évora - então chamada de Liberatias Iulia - e modificado nos séculos II e III. Évora foi invadida pelos povos germânicos no século V, e foi nesta época em que o templo foi destruído; hoje em dia, suas ruínas são os únicos vestígios do fórum romano na cidade. As ruínas do templo foram incorporadas a uma torre do Castelo de Évora durante a Idade Média. A sua base, colunas e arquitraves continuaram incrustadas nas paredes do prédio medieval, e o templo (transformado em torre) foi usado como um açougue do século XIV até 1836. Esta utilização da estrutura do templo ajudou a preservar seus restos de uma maior destruição. Finalmente, depois de 1871, as adições medievais foram removidas, e o trabalho de restauração foi coordenado pelo arquiteto italiano Giuseppe Cinatti. O templo original provavelmente era similar à Maison Carrée de Nîmes em França. O templo de Évora ainda está com sua base completa (o pódio), feito de blocos de granito de formato tanto regular como irregular. O formato da base é retangular, e mede 15m x 25m x 3.5m de altura. O lado sul da base costumava ter uma escadaria, agora em ruínas. O pórtico do templo, que não existe atualmente, era originalmente um hexastilo. Um total de catorze colunas de granito ainda está de pé no lado norte (traseiro) da base; muitas das colunas ainda têm seus capitéis em estilo coríntio sustentando a arquitrave. Os capitéis e as bases das colunas são feitos de mármore branco de Estremoz, enquanto as colunas e a arquitrave são feitas de granito. Escavações recentes indicam que o templo era cercado por uma bacia hidrográfica. Évora Cidade portuguesa, capital de distrito, e situada na região Alentejo e com uma população de cerca de 41 159 habitantes. É sede de um dos maiores municípios de Portugal, com 1307,04 km² de área e 54 780 habitantes (2008), subdividido em 19 freguesias. O seu centro histórico bem preservado é um dos mais ricos em monumentos de Portugal, o que lhe vale o epíteto de Cidade-Museu. Em 1986, o centro histórico da cidade foi declarado Património Mundial pela UNESCO. 156 Apontamentos: Escudo Évora e sua região circundante têm uma rica história que recua a mais de dois milénios, como demonstrado por monumentos megalíticos próximos (Anta do Zambujeiro e o Cromeleque dos Almendres). Alguns povoados neolíticos desenvolveram-se na região, o mais próximo localizado no Alto de São Bento. Outro povoado deste tipo é o chamado Castelo de Giraldo, habitado continuamente desde o 3º milénio até o primeiro milénio antes de Cristo e de esporádica ocupação na época medieval. Escavações arqueológicas, porém, não demonstraram até agora se a área da atual cidade era habitada antes da chegada dos romanos. Segundo uma lenda popularizada pelo humanista e escritor eborense André de Resende (15001573), Évora teria sido sede das tropas do general romano Sertório, que junto com os lusitanos teria enfrentado o poder de Roma. O que é sabido com certeza é que Évora foi elevada à categoria de municipium sob o nome de Ebora Liberalitas Julia, em homenagem a Júlio César. Na época do Imperador Augusto (63 a.C. - 14 d.C.), Évora foi integrada na Província da Lusitânia e beneficiada com uma série de transformações urbanísticas, das quais o Templo romano de Évora - dedicado provavelmente ao culto imperial - é o vestígio mais importante que sobreviveu aos nossos dias, além de ruínas de banhos públicos. Na freguesia da Tourega, os restos bem preservados de uma villa romana mostram que ao redor da cidade existiam estabelecimentos rurais mantidos pela classe senhorial. No século III, num contexto de instabilidade do Império, a cidade foi cercada por uma muralha da qual alguns elementos ainda resistem. O período visigótico corresponde a uma época obscura da cidade. Na época da dominação muçulmana, a cidade conheceu um novo período de esplendor económico e político, graças a sua localização privilegiada. As muralhas foram reconstruídas e um alcácer e uma mesquita foram construídos na área da acrópole romana. A tomada de Évora aos mouros deu-se em 1165 pela ação de Geraldo, o Sem Pavor, responsável pela reconquista cristã de várias localidades alentejanas. Inaugurou-se assim uma nova etapa de crescimento da urbe, que chegou ao século XVI como a segunda cidade em importância do reino. D. Afonso Henriques concedeu-lhe seu primeiro foral em 1166, e estabeleceu na cidade a Ordem dos Cavaleiros de Calatrava (mais tarde Ordem de Avis). Entre os séculos XIII e XIV foi erguida a Sé Catedral de Évora, uma das mais importantes catedrais medievais portuguesas, construída em estilo gótico e enriquecida com muitas obras de arte ao longo dos séculos. Além da Sé, na zona do antigo fórum romano e alcácer muçulmano foram erguidos os antigos paços do concelho e palácios da nobreza local. A partir do século XIII instalam-se na cidade vários mosteiros de ordens religiosas nas zonas fora das muralhas, o que contribuiu para a formação de novos centros aglutinadores urbanos. A área extramuros contava ainda com uma judiaria e uma mouraria. O crescimento da cidade para fora da primitiva cerca moura levou à construção de uma nova cintura de muralhas no século XIV, durante o reinado de D. Dinis. As principais praças da cidade eram a Praça do Giraldo (originalmente Praça Grande) e o Largo das Portas de Moura e o Rossio. A Praça do Giraldo, sede de uma feira anual desde 1275, também foi sede dos paços do concelho (desde o século XIV) e da cadeia. Com o tempo, especialmente a partir do século XVI, o Rossio passou a concentrar as feiras e mercados da cidade. O século XVI corresponde ao auge de Évora no cenário nacional, transformando-se num dos mais importantes centros culturais e artísticos do reino. A partir de D. João II e especialmente durante os reinos de D. Manuel I e D. João III, Évora foi favorecida pelos reis portugueses, que 157 Apontamentos: Escudo passavam longas estadias na urbe. Famílias nobres (Vimioso, Codovil, Gama, Cadaval e outras) instalaram-se na cidade e ergueram palácios. D. Manuel concedeu-lhe um novo foral em 1501 e construiu seus paços reais em Évora, em uma mistura de estilos entre o mudéjar, o manuelino e o renascentista. D. João III ordenou a construção da Igreja da Graça, belo templo renascentista onde planeou ser sepultado, e durante seu reinado foi construído o Aqueduto da Água de Prata por Francisco de Arruda. Nessa época viveram na cidade artistas como o poeta Garcia de Resende, os pintores Frei Carlos, Francisco Henriques, Gregório Lopes, o escultor Nicolau de Chanterenne e eruditos e pensadores como Francisco de Holanda e André de Resende. Em 1540 a diocese de Évora foi elevada à categoria de arquidiocese e o primeiro arcebispo da cidade, o Cardeal Infante D. Henrique, fundou a Universidade de Évora (afeta à Companhia de Jesus) em 1550. Um rude golpe para Évora foi a extinção da prestigiada instituição universitária, em 1759 (só seria restaurada cerca de dois séculos depois), na sequência da expulsão dos Jesuítas do país, por ordem do Marquês de Pombal. Nos séculos XVII e XVIII muitos edifícios importantes foram reformados ou construídos de raiz em estilo maneirista. No património da cidade destaca-se a capela-mor barroca da Sé, obra do arquiteto Ludovice, e os muitos altares e painéis de azulejos que cobrem os interiores das igrejas e da Universidade. No século XIX, Évora passou por muitas transformações urbanísticas, algumas de discutível qualidade. Na Praça do Giraldo, a cadeia e os antigos paços do concelho manuelinos foram demolidos e em seu lugar foi levantado o edifício do Banco de Portugal, enquanto que a sede do concelho foi transferida ao Palácio dos Condes de Sortelha, na Praça do Sertório. O Convento de S. Francisco também foi demolido (a igreja gótica foi poupada) e em seu lugar foi construído um novo quarteirão habitacional e um mercado. No lugar do Convento de S. Domingos foi erguido o Teatro Garcia de Resende (c. 1892). As muralhas medievais foram em grande parte preservadas, mas das antigas entradas apenas a Porta de Avis foi mantida. No século XX foi construído um anel viário ao redor do perímetro da muralha, o que ajudou na sua preservação. 158 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 100$00 Chapa: 4 Frente: Retrato do Gomes Freire e Gravura do Templo de Diana Verso: Gravura de Évora Marca de água: cabeça simbólica da República Medidas: 170x97 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:20-08-1929 Última emissão: 16-03-1937 Retirada de circulação: 27-04-1945 Data 02-04-1928 12-08-1930 Emissão 5 760 000 4 453 000 Combinações de Assinaturas 11 11 159 Apontamentos: Escudo 500$00 Ch. 4 Duque de Palmela Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho António José Pereira Júnior Domingos Holstein Beck Fernando Emygdio da Silva Henrique Missa José Caeiro da Matta Francisco Camilo Meira Ramiro Eusébio Leão José Emaúz Leite Ribeiro Chapa 3 de 500$00 Camilo Castelo Branco ilustrava esta nota. O fabrico destas notas ficou a cargo da firma inglesa Waterlow & Sons Ltd. Tinha ainda estampada uma vista parcial da cidade do Porto. Estas notas por deliberação do Conselho de Administração de 4 de Abril de 1933 foram queimadas sem ser emitidas, devido ao deflagrar do caso “Angola Metrópole”. As notas já prontas foram guardadas, apenas servindo em situações de extrema necessidade. O nome constante na nota da firma estampadora que estava envolvida num processo que tinha causado profundos danos ao Banco foi razão suficientemente forte para impedir a sua emissão. Situação análoga ao passado com a chapa 3 de 100$00. Após a suspensão da chapa 3 de 500 escudos (dedicada a Camilo Castelo Branco) devido ao caso “Angola e Metrópole” acabou por ser emitida para a circulação a chapa 4 que prestou homenagem a outra figura importante do século XIX português (Duque de Palmela de acordo com pintura do inglês Thomas Lawrence). Na mesma nota é possível ainda admirar imagem da Capela de São Brás em Évora e paisagem de montado com a retirada de cortiça. As primeiras notas com data impressa em 1928 foram colocadas em circulação em 1929 e retiradas em 1945, sendo atualmente das mais raras notas da República. A elaboração das chapas para estas notas e a respetiva estampagem estiveram a cargo da firma inglesa Bradbury, Wilkinson &Co., Ltd., New Malden, Surrey. A frente tinha duas estampagens calcográficas: uma, a azul, com o retrato, e outra, a roxo, com a gravura da capela, dísticos e a cercadura, esta com trabalho de guilhoché em linha branca e linha cheia. O fundo, multicolor, foi impresso por processo tipográfico, com trabalho em duplex de proteção. O verso tinha uma estampagem calcográfica a verde-escuro, sobre fundo em íris, composto de um entrançado de linhas ondulantes. O texto complementar (chapa, data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi também fabricado em Inglaterra pela empresa Portals Limited, de Laverstoke Mills, White- 160 Apontamentos: Escudo church, Hampshire. A marca de água surgia no ângulo superior esquerdo, com a cabeça do Duque de Palmela, de perfil para a direita, e na parte inferior, a legenda “Banco de Portugal”, em caracteres escuros. 161 Apontamentos: Escudo Duque de Palmela Pedro de Sousa Holstein, mais conhecido por Duque de Palmela natural da cidade de Turim (8 de Maio de 1781) oriundo de uma família da mais alta aristocracia, pois descendia da família real de ambos os progenitores, e também por via paterna dos reis da Dinamarca, era filho de D. Alexandre de Sousa Holstein e de sua mulher D. Juliana de Sousa Coutinho Monteiro Paim. Foi um destacado político da fação cartista, militar de nomeada, desempenhou cargos ministeriais; embaixador em diversas cidades europeias, Ministro dos Negócios Estrangeiros e nomeado 1º. Ministro por várias vezes. Até 1790, viveu em diversas cidades europeias, acompanhando a sua família, devido ao facto de seu pai ser diplomata. Entre 1791 e 1795 frequentou na cidade de Genebra um internato, regressando depois a Portugal, onde estudou na Universidade de Coimbra não concluindo o curso que frequentava, pois os deveres hierárquicos obrigaramno a alistar-se no exército, por ser primogénito de uma casa nobre. Em 1796 assentou praça no regimento de cavalaria. No ano seguinte foi promovido a capitão e nomeado ajudante de ordens do conde de Lafões. No ano de 1806 foi despachado conselheiro da embaixada de Roma, onde seu pai era embaixador. Neste mesmo ano e no mês de Dezembro faleceu seu pai, sendo o lugar ocupado por ele, D. Pedro com apenas 21 anos de idade. O tempo que viveu em Roma foi-lhe muito grato pois aqui conheceu e conviveu com diversas personalidades como Guay Lussac, célebre químico, madame de Stael, que viria a exercer forte influência na sua vida. Após a sua exoneração do cargo de embaixador, passou uma temporada em Coppet, na casa da ilustre escritora Stael, com quem tinha trocado correspondência. Durante a sua estada em Itália iniciou a tradução de “Os Lusíadas” para o francês. Regressou a Portugal dirigindo os negócios de família mas longe da corte. Em Novembro de 1807 Portugal foi invadido pelos franceses. Em 1808 apresentou-se para servir no exército que deveria libertar Portugal; com o posto de major foi nomeado ajudante de ordens do coronel Trant, encarregado no ano seguinte de organizar as milícias portuguesas. No ano de 1810 foi nomeado ministro em Cádiz, em virtude da sua força residir mais na arte da diplomacia do que na das armas, onde se conservou até quase ao fim da Guerra Peninsular. Casou em Junho do mesmo ano com D. Eugénia Teles da Gama. O desempenho de Pedro de Sousa, valeu-lhe o título de conde de Palmela no ano de 1812. Neste mesmo ano foi transferido para a cidade de Londres como embaixador, o lugar mais importante da nossa diplomacia por essa altura. No ano de 1815 terminada a guerra, o conde de Palmela, foi nomeado plenipotenciário no famoso congresso de Viena; aqui munido de todos os poderes defendeu incansavelmente a causa de Olivença, sem conseguir obter do referido congresso o apoio necessário à restituição desta praça ocupada pelos espanhóis; também viu gorado todos os esforços com o recebimento das indemnizações a que Portugal tinha direito com a repartição pelas potências aliadas da indemnização de guerra. No ano de 1816 regressou a Londres e posteriormente a Portugal, onde foi recebido com entusiasmo e louvado pela sua persistência na condução da resolução dos conflitos. No ano de 1817 foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros, o que não lhe agradou, pois mais preferiria a sua ação como embaixador junto dos grandes centros intelectuais da 162 Apontamentos: Escudo Europa, do que partir para a cidade do Rio de Janeiro, então capital e onde se encontrava instalada a corte desde as invasões francesas no ano de 1807. No ano de 1820, e após diversas diligências do rei D. João VI, o conde de Palmela foi obrigado a deixar Londres e partir para Lisboa e daqui para o Brasil; entretanto rebentara neste ano a revolução na cidade do Porto e pouco depois em Lisboa. Em Outubro de 1820, o conde de Palmela seguiu de imediato para o Rio de Janeiro levando a notícia dos acontecimentos de Lisboa. No ano de 1821 a corte regressou a Portugal conjuntamente com o conde de Palmela. No ano de 1824 e na sequência da tentativa do golpe conhecido como “Abrilada”, promovida pela rainha Carlota Joaquina e pelo seu filho o infante D. Miguel, Palmela foi feito prisioneiro e enclausurado na Torre de Belém sob a acusação de ser o líder das forças liberais; pouco tempo depois o rei D. João VI viria a libertá-lo. No ano de 1825 recompensou-o com o título de Marquês e o cargo de embaixador em Londres. Palmela resignou ao cargo de embaixador neste ano de 1828 e dirigiu-se ao Porto onde conjuntamente com o duque de Saldanha, encabeçaram um movimento revolucionário contra os absolutistas – conhecido pela “Belfastada”, que viria a fracassar; compreendendo que as forças liberais teriam que se apetrechar e equipar convenientemente para levar de vencida D. Miguel, abandonou Portugal, com destino a Londres, mas desta feita como exilado político. No ano de 1830 chegou a Londres vindo de Portugal D. Tomás de Mascarenhas com ordens de D. Pedro IV para que o Marquês fosse organizar a regência em conjunto com o conde de Vila Flor, o que sucedeu de imediato. Em 1832 o marquês tomou posse do Ministério dos estrangeiros e interinamente do reino. Ainda no decorrer do ano de 1832, e apesar de ser general, deixa as pastas do estrangeiro e do reino, pois a função era a de diplomata e não a de armas; o marquês vai para o estrangeiro com o intento de obter apoios para a causa liberal. Conseguido o auxílio necessário e em conjunto com outros organizou uma expedição ao Algarve com o fim de dar o golpe mortal na causa do despotismo. No ano de 1833, o marquês entra triunfal na cidade do Porto, onde é recebido e aclamado com os maiores triunfos e louvores. Neste mesmo ano, D. Pedro dá-lhe o título de duque do Faial, o qual foi substituído pelo de duque de Palmela. Por morte de D. Pedro sucedeu-lhe sua filha D. Maria II, a qual nessa altura tinha 15 anos de idade; esta mandou chamar o duque de Palmela, dando-lhe o cargo de Presidente de ministros. Foi demitido após ter pedido a demissão por diversas vezes em virtude das intrigas que a oposição política lhe fazia. Fez parte de diversos governos de autoria do marquês de Saldanha e de Passos Manuel. No ano de 1836 rebentou a revolução de 9 de Setembro, e o duque de Palmela teve de se exilar. No ano de 1837, o mesmo governo que o obrigou ao exílio pediu-lhe que aceitasse o cargo de embaixador extraordinário em Londres, para assistir à coroação, no ano de 1838, daquela que foi a soberana que mais tempo reinou na Europa, a rainha Vitória. No ano de 1841, regressou a Portugal e após a sua eleição como senador, foi indigitado presidente da câmara dos mesmos. No ano de 1842 desempenhou o cargo de presidente do conselho. No ano de 1846 viajou até Itália com sua mulher, onde ficou um ano. Enviuvou em 1848 e, nos restantes anos de vida que ainda lhe restaram, conservou-se afastado da política, organizando a sua correspondência oficial, recebendo os seus amigos na sua quinta do Lumiar. Das suas obras e escritos realço as seguintes: Manifesto dos direitos de sua Majestade Fidelíssima, a senhora D. Maria II; Discursos parlamentares, proferidos nas Câmaras Legislativas; Carta ao editor do Diário de Governo. Capela de São Brás 163 Apontamentos: Escudo Extramuros da cidade de Évora, no denominado "Rossio da Corredoura", ergueu-se no século XV a Ermida de S. Brás. Este pequeno e harmonioso templo eborense foi construído em terrenos pertencentes a D. Leonor de Castro, mulher de D. João II e doados por este monarca ao bispo D. Garcia de Meneses. Esta doação régia, e posterior confirmação, ocorreu entre 1480 e 1483, encontrando-se já esta ermida aberta ao culto no ano de 1490. No entanto, uma profunda remodelação do pequeno templo ocorreu no 3.º quartel do século XVI, empreendimento da responsabilidade mecenática do Bispo do Porto, D. Frei Luís de Sousa. A Ermida de S. Brás receberia um rude golpe em 1663 com as guerras da Restauração, altura em que um bombardeamento de artilharia danificou gravemente a sua estrutura e decoração internas. Da primitiva construção quatrocentista subsiste a elegante galilé de arcos ogivais, assente em grosseiros colunelos com capitéis fitomórficos. O templete desenha uma planta retangular e a silhueta apresenta um recorte arquitetónico de cariz militar. Corre superiormente uma platibanda com ameias chanfradas, intercalada por torres cilíndricas, com gárgulas zoomórficas, coroadas por cónicos coruchéus. A cornija apresenta vestígios de um friso esgrafitado com heráldica do reinado de D. Manuel I. Da cobertura da capela sobressai o seu pequeno zimbório. Com uma só nave, o interior de ermida apresenta o zimbório e o arco triunfal forrado com azulejos enxaquetados, verdes e brancos, de reflexos metálicos. A destruição das guerras da Restauração fizeram grandes danos à decoração interior, salvando-se algumas tábuas maneiristas do retábulo-mor quinhentista, algumas alusivas à vida de S. Brás e outras narrando o Nascimento e Ressurreição de Cristo. Sobressai ainda uma escultura de madeira policromada representando S. Brás, o orago da ermida. Montado Ecossistema muito particular, criado pelo homem, são florestas de sobreiros de equilíbrio muito delicado e que subsistem apenas no Mediterrâneo, Argélia, Marrocos e sobretudo nas regiões a sul da Península Ibérica. No caso de Portugal, país com a maior extensão de sobreiros do mundo (33% da área mundial), o montado é legalmente protegido, sendo proibido o seu abate e incentivada a exploração, transformando Portugal o principal exportador mundial de cortiça e no fabrico de rolhas. O sobreiro (Quercus suber), é uma espécie florestal que se distribui pela zona mediterrânica onde se faz sentir maior influência Atlântica, estas características ocorrem sobretudo em Portugal, pelo que é este pais que tem melhores condições para o sobreiro, que se encontra distribuído por todo o território continental, exceção nas terras de alta altitude. Encontramos o sobreiro com alguma frequência a norte do Tejo em zonas onde dominam também o Castanheiro, e com muita frequência no Ribatejo e Alentejo, sendo esta árvore símbolo da paisa- 164 Apontamentos: Escudo gem típica desta região, associados em alguns locais a Azinheiras formando o montado de sobro e azinho. No litoral Norte e Centro, encontra-se sobretudo associado ao pinheiro. Também no interior do país se encontra um bom povoamento de montado onde foi instalado nos últimos séculos a grande mancha de pinheiro bravo, sobretudo após os grandes incêndios florestais. A própria casca do sobreiro a cortiça é um produto natural extremamente resistente ao fogo que protege a árvore dos incêndios, o que torna o sobreiro das espécies florestais mais resistentes ao fogo. Em Portugal, o montado de sobreiro representa cerca de 21% da área florestal e é responsável pela produção de mais de 50% da cortiça consumida em todo o mundo. Ficha Técnica Valor: 500$00 Chapa: 4 Frente: Retrato do Duque de Palmela e Gravura da Capela de São Brás Verso: Gravura de Montado com retirada de cortiça Marca de água: Efígie do Duque de Palmela Medidas: 176x104 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:07-06-1929 Última emissão: 31-08-1934 Retirada de circulação: 27-03-1945 Data 04-04-1928 19-04-1929 Emissão 1 000 000 962 000 Combinações de Assinaturas 10 10 20$00 Ch. 5 Mouzinho d’Albuquerque Inocêncio Camacho Rodrigues Carlos Soares Branco Álvaro Pedro de Sousa José Caeiro da Matta João da Motta Gomes Júnior Ramiro Eusébio Leão António José Pereira Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Fernando Emygdio da Silva Domingos Holstein Beck 165 Apontamentos: Escudo Henrique Missa Fernando Ennes Ulrich Francisco Camilo Meira João Emílio Raposo Guimarães José Emaúz Leite Ribeiro Mouzinho de Albuquerque (1855-1902), oficial do Exército português que se distinguiu nas campanhas coloniais, foi a personalidade escolhida para figurar nesta chapa, onde ainda se pode observar o portão do Museu de Artilharia, na frente, e uma vista do Castelo de Guimarães, no verso. O fabrico das chapas e a estampagem das notas estiveram a cargo da casa Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd, New Malden, Surrey.Os desenhos que apareciam na frente da nota, a vermelho, foram estampados por processo calcográfico. O fundo foi impresso tipograficamente em cores esbatidas, com trabalho em duplex. Para reforçar a proteção do duplex foram gravadas linhas finas na chapa de aço. No verso, a estampagem calcográfica foi feita diretamente sobre o papel, sem impressão de fundos de proteção. Os ornatos que ladeavam a gravura do Castelo tinham trabalho de torno geométrico, sendo todos de configuração diferente. O texto complementar (data, chapa, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado pela inglesa Portals Limited. A marca de água apresentava sobre a esquerda de Mouzinho de Albuquerque, de perfil para fora, e, na parte inferior, a legenda “Banco de Portugal”, em caracteres escuros. Foi a primeira nota deste valor em que a personagem figurada na marca de água é a mesma da estampagem (facto já observado em notas de maior valor). 166 Apontamentos: Escudo Mouzinho D’Albuquerque Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, nasceu na Quinta da Várzea, no concelho da Batalha em 11 de Novembro de 1855, e veio a falecer na cidade de Lisboa em 8 de Janeiro de 1902. Era filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de Maria Emília Pereira da Silva Bourbon. Após os estudos preparatórios ingressou no Regimento de Cavalaria nº. 4, como praça voluntária, frequentando na Escola Politécnica os cursos preparatórios para ingressar na Escola do Exército. No ano de 1878 terminou o curso na Escola do Exército, sendo promovido a alferes. Em 1879, matriculou-se na Faculdade de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra. No mesmo ano casa com a sua prima D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão. No ano de 1882 adoece, tendo abandonado os estudos no 4º. ano, regressando a Lisboa onde ficou inativo durante 2 anos. É promovido ao posto de tenente e nomeado regente dos estudos do Colégio Militar no ano de 1884. Em 1886 embarca para a Índia onde ocupa o lugar na fiscalização do Caminho de Ferro de Mormugão. Em 1888, foi nomeado Secretário-Geral do Governo do Estado da Índia. É promovido ao posto de Capitão em 1890 e nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que ocupou até 1892. No ano de 1894 faz uma comissão de serviço à colónia de Moçambique, comandando um esquadrão de Lanceiros, que iriam juntar-se às forças de expedição militar com o fim de debelar as rebeliões indígenas. Em 11 de Novembro de 1895,tropas comandadas por António Enes, onde se encontrava Mouzinho, tomaram e incendiaram Manjacaze, a residência principal de Gungunhana, levando-o à fuga. Em 10 de Dezembro do mesmo ano é nomeado governador do distrito de Gaza. Em 28 de Dezembro de 1895, após uma marcha de três extenuantes dias em direção a Chaimite, as tropas conduzidas por Mouzinho, cercaram a povoação e prenderam o chefe vátua e parte da sua família, forçando-o a entregar diversos bens em ouro, diamantes, marfim, armas, munições e todo o gado. Segundo relatórios de outros militares em particular de Soares de Andrea, informam que a decisão de não oferecer resistência por parte do sitiado 167 Apontamentos: Escudo era do conhecimento de Mouzinho, o que de facto se verificou. No dia de 6 de Janeiro de 1896, Gungunhana e restantes prisioneiros, foram entregues ao Governador-Geral da colónia para serem enviados para Lisboa. Foi considerado um êxito militar, que cobriu de glória a pessoa de Mouzinho, com ampla difusão na imprensa internacional. Em função desta façanha é nomeado Governador-Geral de Moçambique em Março de 1896 e em Novembro do mesmo ano foi nomeado Comissário Régio. Comandou no ano de 1897, as campanhas de ocupação colonial de Naguema em 3 de Março, Mocutumudo em 6 de Março e Macontene em 21 de Julho, regressando a Portugal no fim do ano. Durante dois anos e após receções calorosas de que foi alvo, viajou pela Europa, (França, Inglaterra e Alemanha), onde foi orador convidado em diversas sociedades em palestras com cobertura da imprensa. No ano de 1898 foi nomeado ajudante de campo do Rei D. Carlos I, oficial -mor da Casa Real e aio do príncipe D. Luís Filipe. A sua posição extremamente critica face à política e aos políticos da sua época, e em especial aos rumores sobre o seu comportamento quiçá desumano durante as campanhas de África, levaram à sua progressiva ostracização, envolvido num crescente clima de intriga; sentindo-se, talvez incapaz devido à sua formação civil e militar extremamente rígida, ao seu feitio orgulhoso, de resistir às intrigas acerca do seu comportamento em África, à decadência agoniante da monarquia, Mouzinho de Albuquerque, soube preparar minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de um coupé, na cidade de Lisboa no ano de 1902, com o posto de Major. Castelo de Guimarães Em posição dominante, sobranceiro ao Campo de São Mamede, este monumento encontra-se ligado à fundação do Condado Portucalense e às lutas da independência de Portugal, sendo designado popularmente como berço da nacionalidade. Classificado como Monumento Nacional. No contexto da Reconquista cristã da península Ibérica, os domínios de Vimaranes foram outorgados, em fins do século IX, a um cavaleiro de suposta origem castelhana, de nome Diogo Fernandes, que nelas veio a se estabelecer. Uma de suas filhas, de nome Mumadona Dias, desposou o poderoso conde Hermenegildo Gonçalves, vindo a governar, desde meados do século X até ao terceiro quartel do século XI, os domínios de Portucale. Mumadona enviuvou por volta de 928, entrando na posse de vastos domínios, divididos em Julho de 950 com os seus seis filhos. Nesse momento, por inspiração piedosa, fundou, na parte baixa da povoação de Vimaranes um mosteiro, ao qual veio a fazer, mais tarde, uma vultosa doação de terras, gado, rendas, objetos de culto e livros religiosos. A povoação de Vimaranes distribuía-se, à época, em dois núcleos: um no topo do então chamado Monte Largo, e outro, no sopé dessa elevação, onde o mosteiro foi fundado. Era vulnerável à época, além das possíveis incursões de forças Muçulmanas, oriundas da fronteira ao Sul de Coimbra, às incursões de Normandos, oriundos do mar do Norte em embarcações rápidas e ágeis, que assolavam as costas e o curso navegável dos rios à época. Visando a defesa do núcleo monacal, a benfeitora principiou, no topo do Monte Largo, um castelo para o recolhimento das gentes em caso de necessidade. É bem conhecido historiograficamente o trecho da carta de doação desse castelo 168 Apontamentos: Escudo aos religiosos, lavrada em Dezembro de 958, do qual consta essa decisão. Acredita-se que a estrutura então erguida, sob a invocação de São Mamede, fosse bastante simples, composta por uma torre possivelmente envolta por uma cerca. Pouco mais de um século passado, a povoação de Vimaranes encontrava-se entre os domínios doados pelo rei Afonso VI de Leão e Castela a D. Henrique de Borgonha, que formaram o Condado Portucalense. O conde D. Henrique (1095-1112) e sua esposa, D. Teresa de Leão escolheram esta povoação e o seu castelo como residência. Desse modo, a primitiva construção da época de Mumadona terá sido demolida e, em seu lugar, erguida a imponente estrutura da Torre de Menagem. O perímetro defensivo foi ampliando e reforçando, nele se rasgando a porta principal, a Oeste sobre a vila, e a chamada Porta da Traição, a Leste. Dentro dos muros dessa cerca terá resistido D. Afonso Henriques, em 1127, ao assédio das forças do rei Afonso VII de Leão e Castela, evento que segundo a lenda levou Egas Moniz a garantir aquele soberano a vassalagem de seu amo, libertando a vila do cerco. No vizinho campo de São Mamede, o castelo foi testemunha do embate entre as forças de D. Afonso Henriques e as de D. Teresa (24 de Junho de 1128) que, com a vitória das armas do primeiro, deu origem à nacionalidade portuguesa. Entre o final do século XII e o início do XIII, D. Sancho I circuitou a parte alta da vila a cavalo, a fim de lhe assinalar um termo, sendo provável que se tivesse iniciado o amuralhamento da vila a partir de então. Em meados do século XIII, sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), iniciouse o traçado definitivo da cerca da vila, unificando a vila do Castelo (parte alta) à vila de Santa Maria (parte baixa). Estas obras estariam concluídas ao tempo de D. Dinis, em data anterior a 1322, quando a vila, cujo alcaide era Mem Rodrigues de Vasconcelos, suportou vitoriosa o assédio das tropas do infante D. Afonso. Em seu interior, entretanto, manteve-se o antigo muro da parte alta, demolido por volta de 1420. Sob o reinado de D. Fernando, foram realizadas obras de reforço na cerca da vila, assediada neste período pelas tropas de Henrique II de Castela, que invadindo Portugal pelo Minho, já haviam conquistado Braga. Era seu alcaide, à época, Gonçalo Pais de Meira (1369). Quando da crise de 1383-1385, tendo o seu alcaide, Aires Gomes da Silva, mantido o partido de Castela, a vila foi novamente cercada (Junho de 1385), agora pelas forças leais a D. João I, que a conquistaram. Este soberano unificou a jurisdição das duas comunidades (alta e baixa), incorporando-as a um único concelho, doravante denominado como Guimarães (1389). A cerca de Guimarães compreendia, neste período, um perímetro de cerca de dois quilómetros, sendo reforçada por oito torres e rasgada por oito portas. A partir do século XV, diante dos progressos na artilharia, o Castelo de Guimarães perdeu a sua função defensiva. No século seguinte as suas dependências passaram a abrigar a Cadeia Municipal, e, no século XVII, um palheiro do rei, acentuando-se a sua ruína. No século XVIII, mediante solicitação da Colegiada, a cantaria da Torre de Nossa Senhora da Guia foi utilizada para as obras da Igreja de São Miguel da Oliveira. Em 1836, um dos membros da Sociedade Patriótica Vimaranense defendeu a demolição do castelo e a utilização da sua pedra para calcetar as ruas de Guimarães, já que ele tinha servido como prisão política ao tempo de D. Miguel. Embora tal proposta não tenha sido aceite (por um único voto na Câmara Municipal), em meados do século procedeu-se à demolição da Torre de São Bento. A vila foi elevada a cidade em 1853, por D. Maria II. Posteriormente, sob o reinado de D. Luís o castelo foi classificado, por Decreto publicado em 19 de Março de 1881, "Monumento Histórico de 1ª Classe", o único na região do Minho. Classificado como Monumento Nacional por Decretos publicados em 27 de Agosto de 1908 e em 1910, a partir de 1937 a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais iniciou-lhe extensa campanha de intervenção, que culminou com a sua reinauguração, em 4 de Junho de 1940 por ocasião das comemorações do VIII Centenário da Fundação da Nacionalidade. 169 Apontamentos: Escudo Museu Militar de Lisboa Órgão do Exército Português que se localiza no Largo dos Caminhos de Ferro em Lisboa. É o maior museu do Exército em Portugal. Ergue-se no primitivo local de uma fundição de canhões e depósito de armas do século XVI. O museu contém uma grande exposição de armas, uniformes e documentos militares históricos. Na visita, destaca-se a Sala Vasco da Gama com uma coleção de antigos canhões e murais modernos representando a descoberta do caminho marítimo para a Índia. No primeiro andar encontram-se as salas dedicadas à Primeira Grande Guerra. Outras salas descrevem a evolução das armas em Portugal, desde as lâminas de sílex, às lanças e às espingardas. O pátio, flanqueado por canhões, conta a história de Portugal em painéis de azulejos, desde a Reconquista cristã à Primeira Guerra Mundial. Na parte mais antiga do museu, a secção de artilharia portuguesa, exibe o carro usado para o transporte do Arco da Rua Augusta, em Lisboa. Ficha Técnica Valor: 20$00 Chapa: 5 Frente: Retrato do Mouzinho D’Albuquerque e Gravura do portal do Museu Militar Verso: Gravura do Castelo de Guimarães Marca de água: Efígie do Mouzinho D’Albuquerque Medidas: 156x83 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:11-09-1931 Última emissão: 18-12-1941 Retirada de circulação: 12-06-1946 Data 17-09-1929 07-03-1933 30-07-1935 23-04-1937 13-05-1938 27-02-1940 Emissão 8 200 000 8 760 000 4 300 000 4 420 000 6 620 000 6 443 000 Combinações de Assinaturas 10 11 10 20 20 20 50$00 Ch. 4 Borges Carneiro Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior 170 António José Pereira Júnior Apontamentos: Escudo Fernando Emygdio da Silva Domingos Holstein Beck José Caeiro da Matta Henrique Missa Ramiro Eusébio Leão Francisco Camilo Meira Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Emaúz Leite Ribeiro A chapa 4 de 50 escudos foi uma das notas que fez a transição da reforma financeira elaborada e aplicada por Salazar em 1933. Com data de 1929 só foi lançada para circulação em 1931, onde se manteve até 1945. Foi selecionada novamente uma das figuras marcantes da causa liberal no século XIX, desta vez Borges Carneiro. No verso, surgia uma imagem típica da Universidade de Coimbra. A produção da nota ficou novamente a cargo de uma empresa londrina, neste caso a Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd. Os desenhos representados na frente, a violeta, foram estampados por procedimento calcográfico (talhe-doce), com trabalho de torno geométrico em linha branca na orla e aplicações da máquina de raiar em linha cheia junto aos ângulos. O fundo multicolor, de técnica tipográfica, era composto por dois conjuntos de linhas ondulantes paralelas, que se cruzavam, e um ornato central em duplex, que rodeava o retrato. Sobre o duplex, e para o proteger, estava estampada a talhe-doce uma série de linhas brancas no sentido vertical. Sobre o fundo do verso, impresso tipograficamente em íris com uma rede formada por linhas ondulantes paralelas que corriam em sentidos opostos, sobressaia a estampagem calcográfica, a azul, com o motivo principal. Os ovais laterais eram emoldurados por um desenho com trabalho de torno geométrico (guilhoché) em linha reta, vendo-se noutros ornatos o mesmo trabalho em linha branca. No oval da direita observa-se uma cabeça numismática representando Minerva. A zona da marca de água estava livre de qualquer impressão. O texto complementar (chapa, data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado nos ingleses Portals Limites, de Laverstoke Mills, Whitchurch, Hampshire. A marca de água apresentava no lado direito uma cabeça simbólica da Justiça de perfil para o centro e inferiormente, a legenda “Banco de Portugal”, em toda a extensão da nota. 171 Apontamentos: Escudo Borges Carneiro Manuel Borges Carneiro nasceu na vila de Resende em 2 de Novembro de 1774, filho de José Borges Botelho, bacharel e de sua mulher D. Joana Tomásia de Melo. Foi um distinto, magistrado, jurisconsulto, político, deputado às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação e um dos heróis dos acontecimentos de 1820. No ano de 1791 matriculou-se na Universidade de Coimbra, formandose em Cânones; no ano de 1800, requer habilitação para o Desembargo 172 Apontamentos: Escudo do Paço. Em 1803, foi admitido na carreira da magistratura tendo ido prestar serviço por três anos para Viana do Alentejo como juiz de fora. Em 1805 foi reconduzido naquele cargo, por mais três anos, assumindo a categoria de cabeça de comarca. Em 1808, aquando da primeira invasão francesa, comandada pelo general Junot, este nomeou delegado no Alentejo o general François Kellemann. Este general usou de uma dureza tal, a qual incitou à resistência popular, tendo Borges de Carneiro tomado logo de inicio uma posição de charneira. Esta sua atitude valeu-lhe a prisão num convento de Beja, onde escreveu alguns versos que mais tarde publicou. No ano de 1812 e terminada a ocupação francesa, Borges de Carneiro foi nomeado provedor da comarca da cidade de Leiria; é por esta altura que inicia a publicação de diversas obras de índole jurídica, as quais lhe permitiram afirmar-se como um promissor jurisconsulto. No ano de 1817 e como reconhecimento da sua formação jurídica é nomeado secretário da Junta do Código Penal. No ano de 1820, desempenhou um notável trabalho na Junta, o qual lhe valeu um cargo de Desembargador supranumerário da Relação da Casa do Povo. Eleito deputado no ano de 1821, e eleita a regência, coube a Borges Carneiro um lugar de destaque, pelo seu notável desempenho em ações anteriores, propondo de imediato que se criassem cinco Secretarias de Estado; (Reino, Fazenda, Guerra, Marinha e Negócios Estrangeiros). Aprovada, assinada e jurada a Constituição Politica da Monarquia, no ano de 1822, foram convocadas eleições gerais, sendo Borges Carneiro eleito por seis círculos eleitorais, ficando a representar um dos círculos de Lisboa tal tinha sido a sua ação nas Constituintes. As novas Cortes procederam de imediato a reformas profundas, extinguindo a Inquisição, a Intendência Geral da Polícia, o Tribunal da Inconfidência, a Mesa da Consciência e Ordens, o Desembargo do Paço, a “tortura”, as coutadas, etc… Procedeu-se à reorganização da Universidade de Coimbra, à modernização da Companhia dos Vinhos do Alto Douro, da agricultura, do sistema judicial, etc… No ano de 1823 deuse a “Vilafrancada”, (insurreição levada a cabo e liderada pelo infante D. Miguel, em Vila Franca de Xira, a 27 de Maio de 1823). Devido ao triunfo de D. Miguel, nesse mesmo ano, Borges Carneiro foi demitido de desembargador da Relação e Casa do Porto, voltando à vida privada, continuando com os seus estudos jurídicos e literários. No ano de 1826, e após a morte de D. João VI, foi aclamado Rei o seu filho D. Pedro que outorgou a Carta Constitucional, abdicando de imediato em favor da sua filha D. Maria. Nas eleições que se seguiram Borges Carneiro foi eleito deputado, vendo-lhe restituído o cargo de desembargador da Relação e Casa do Porto. Em 1827 foi nomeado desembargador ordinário da Casa da Suplicação de Lisboa. Entre os anos de 1826 e 1827, inicia a publicação do Direito Civil Português, em três volumes. Neste espaço de tempo notabiliza-se como um dos mais aguerridos defensores da liberdade e como principal jurisconsulto do novo sistema. No ano de 1828, D. Miguel auto proclamou-se rei e tomou de imediato as rédeas do governo do Reino, dissolvendo as Cortes, declarando-se Rei Absoluto. Borges Carneiro no mês de Agosto, foi demitido de desembargador e mandado encarcerar no Limoeiro em Lisboa; daqui foi transferido para a Torre do Forte de São Julião da Barra. Em 1833, com a deflagração da epidemia de cólera que afetou Portugal, fazendo milhares de mortes só em Lisboa, foram transferidos alguns presos políticos para a vila de Cascais, um deles, Borges Carneiro. Faleceu na vila de Cascais vitimado com a chollera morbus no dia 4 de Julho, tendo aí sido sepultado. No ano de 1879 os restos mortais foram depositados na igreja de Cascais e daqui foram transladados com toda a solenidade para o cemitério dos Prazeres em Lisboa. 173 Apontamentos: Escudo Universidade de Coimbra A Universidade de Coimbra é uma das universidades mais antigas ainda em operação na Europa e no mundo, a mais antiga de Portugal e uma de suas maiores instituições de ensino superior e de pesquisa. Sua história remonta ao século seguinte ao da própria fundação da nação portuguesa, dado que foi criada no século XIII (01-03-1290), quando foi assinado em Leiria, por D. Dinis, o documento Scientiae thesaurus mirabilis, o qual criou a própria universidade e pediu ao Papa a confirmação. A bula do Papa Nicolau IV, datada de 9 de Agosto de 1290, reconheceu o Estudo Geral, com as faculdades de Artes, Direito Canónico, Direito Civil e Medicina, reservando-se a Teologia aos conventos Dominicanos e Franciscanos. A universidade, inicialmente instalada na zona do atual Largo do Carmo, em Lisboa, foi transferida para Coimbra, para o Paço Real da Alcáçova, em 1308. Voltou em 1338 para Lisboa, onde permaneceu até 1354, ano em que regressou para Coimbra. Ficou nesta cidade até 1377 e voltou de novo para Lisboa neste ano, onde permaneceu até data em que foi transferida definitivamente para Coimbra, por ordem de D. João III. A universidade recebeu os seus primeiros estatutos em 1309, com o nome Charta magna privilegiorum. Os segundos estatutos foram outorgados no ano de 1431, durante o reinado de D. João I, com disposições sobre a frequência, exames, graus, propinas e ainda sobre o traje académico. Já no reinado de D. Manuel I, em 1503, a Universidade recebeu os seus terceiros estatutos, desta vez com considerações sobre o reitor, disciplinas, salários dos mestres, provas académicas e cerimónia do ato solene de doutoramento. Desde este reinado, todos os Reis de Portugal passaram a ter o título de Protectores da Universidade, podendo nomear os professores e emitir estatutos. O poder real, bastante mais centralizado a partir de D. João II, criava uma dependência da universidade em relação ao Estado e à política, pelo que a preponderância dos estudos jurídicos se estabeleceu em Portugal. A 27 de Dezembro de 1559, no reinado de D. Sebastião), Baltazar de Faria fez a entrega dos Quartos Estatutos, nos quais se determinou que o reitor fosse eleito pelo Claustro, disposição essa que nem sempre foi cumprida pelo poder régio. Nesse mesmo ano, a 1 de Novembro, tinha sido solenemente aberta a Universidade de Évora, entregue aos jesuítas. Em 1591, de Madrid, vieram os Sextos Estatutos (os quintos foram deixados de lado, nunca tendo entrado em vigor) e foram apresentados em Claustro no ano seguinte. Determinava-se que a Universidade indicasse três nomes para o cargo reitoral, escolhendo o rei um deles. No reinado de D. João V, João Frederico Ludovice terá feito o risco para a Torre da Universidade de Coimbra e portal da Biblioteca. Xavier da Costa ao citar os monumentos da era joanina, falando da Biblioteca (1716-1725), e da Torre (1728-1733), diz que não será injustificado atribuírem-se os seus projetos a Ludovice. Aludindo ao parentesco que encontramos entre o Pórtico da mesma Biblioteca e o Portal da Capela Octogonal do Senhor das Barrocas em Aveiro. As mísulas laterais em que se apoiam os arcos, as colunas jónicas, os frisos têm um ar de parentesco nos dois pórticos, muito diferentes porém no coroamento, pois o de Aveiro, com os seus frontões, um entrecortado outro partido, reúne uma decoração escultórica que prova grande influência dos artistas entalhadores e dos lavrantes da pedra e ourivesaria. Não será despropositado lembrar também o nome ou a influência de Ludovice, ao citar a porta do Antigo colégio de São Jerónimo, em Coimbra, de frontão muito ondulado e partido, apoiado sobre “ gaines” (espécie de scabellum ou de pedestais esguios que substituem as colunas) 174 Apontamentos: Escudo esteios que Borromini já empregara e que o arquiteto de Mafra também aplicou na janela central do segundo andar do seu palácio de Lisboa em S. Pedro de Alcântara, concluído em 1747. A Torre da Universidade de Coimbra, tem 33,5 metros de altura e constitui o emblema tradicional de Coimbra. Começou a construir-se em 1728 e foi terminada em 1733. No topo sobre o relógio, abre-se um miradouro do qual se desfruta uma panorâmica esplendorosa da cidade e do vale do Mondego. Nesta Torre está colocada, entre outros sinos, a célebre Cabra, que marcava as horas do despertar e do recolher dos estudantes. No reinado de D. José I, a Universidade sofreu uma profunda alteração. Em 28 de Junho de 1772 o rei ratifica os novos estatutos (Estatutos Pombalinos), que marcam o início da Reforma. Esta manifestava, sobretudo, um grande interesse pelas ciências naturais e pelas ciências do rigor, que tão afastadas se encontravam do ensino universitário. Em 1836 dá-se a fusão da Faculdade de Cânones e de Leis na Faculdade de Direito que veio a contribuir fortemente para a construção do novo aparelho legal liberalista. Em 1911, a Universidade recebe novos estatutos com o objetivo de criar uma certa autonomia administrativa e financeira e criava-se também um sistema de bolsas para fazer aumentar o número de alunos no ensino superior. Foi criada a Faculdade de Letras, que herdou as instalações da extinta Faculdade de Teologia, enquanto as Faculdades de Matemática e de Filosofia (criadas na Reforma Pombalina) eram convertidas na Faculdade de Ciências. Mas a maior alteração na história recente da Universidade dá-se a partir de 1942, quando grande parte da zona residencial da Alta de Coimbra foi demolida para dar lugar ao complexo monumental da moderna Universidade, até então alojada no antigo paço real com alguns elementos dispersos pela cidade. Esta obra de vulto, a cargo dos arquitetos Cottinelli Telmo e Cristino da Silva seria concluída em 1969. Com o 25 de Abril de 1974 inicia-se um novo período da vida portuguesa e universitária, que foi alvo de várias reformas para acompanhar a nova dinâmico política. Em 1989 são publicados os estatutos que estão atualmente em vigor. Atualmente encontra-se organizada em oito faculdades diferentes, de acordo com uma variedade de campos de conhecimento, a universidade oferece todos os graus académicos em arquitetura, educação, engenharia, humanidades, direito, matemática, medicina, ciências naturais, psicologia, ciências sociais e desportos. A Universidade de Coimbra possui aproximadamente 20 mil estudantes, abrigando uma das maiores comunidades de estudantes internacionais em Portugal, sendo a sua universidade mais cosmopolita. Além disso, é o membro-criador do chamado Grupo Coimbra, uma rede de universidades europeias cujo objetivo é a colaboração académica entre elas. 175 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 50$00 Chapa: 4 Frente: Retrato de Borges Carneiro Verso: Gravura da Universidade de Coimbra Marca de água: Cabeça simbólica de Justiça Medidas: 163x90 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:21-12-1931 Última emissão: 27-04-1936 Retirada de circulação: 27-03-1945 Data 17-09-1929 07-03-1933 Emissão 6 140 000 3 189 000 Combinações de Assinaturas 10 10 1000$00 Ch. 4 Marquês Sá da Bandeira Inocêncio Camacho Rodrigues João da Motta Gomes Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho António José Pereira Júnior Domingos Holstein Beck Fernando Emygdio da Silva Henrique Missa José Caeiro da Matta Francisco Camilo Meira Ramiro Eusébio Leão José Emaúz Leite Ribeiro Para a chapa 4 de 1000 escudosfoi também escolhida outra figura do liberalismo português, neste caso o Marquês Sá da Bandeira, o qual já tinha anteriormente figurado nas notas de 10 escudos (chapa 2) aí com trajes civis, ao contrário da nota de 1000 escudos. Esta nota atualmente rara em estados de conservação superiores foi aprovada em Setembro de 1929, mas apenas foi colocada em circulação em 1931, mantendo-se após a reforma de 1933 sendo apenas retirada em 1945. Tal como as anteriores, foi produzida na firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd. 176 Apontamentos: Escudo Nesta chapa foram utilizadas três estampagens calcográficas: duas na frente, sendo uma a vermelho-escuro com o retrato de Sá da Bandeira em uniforme militar de acordo com litografia oitocentista, e outra a verde-escuro com os demais elementos, que inclui a cercadura de guilhoché, a vista da Ponte de D. Maria Pia no Porto e finas linhas paralelas de proteção ao fundo em duplex impresso em íris. A estampagem calcográfica do verso, a castanho-escuro, contendo o emblema do Banco, uma vinheta da vindima e uma cabeça simbólica elaborada na máquina numismática, assenta sobre um fundo irisado, impresso com trabalho em duplex de proteção. Os espaços, na frente e no verso, destinados à efígie da marca de água ficaram livres de qualquer impressão. O texto complementar (data, série, numeração, chapa e chancelas) foi impresso por técnica tipográfica, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi fabricado na inglesa Portals Limited. A marca de água surgia no lado esquerdo sob a forma de uma cabeça de Marte, em claro-escuro, de perfil para o centro e em baixo, na mesma linha, a legenda “Banco de Portugal”, em dois tons: as letras a escuro, as projeções a claro. 177 Apontamentos: Escudo Ponte D. Maria Pia A Ponte de D. Maria Pia, é uma infraestrutura ferroviária sobre o Rio Douro, junto à cidade do Porto. Esta ponte, de metal, apresenta um tabuleiro com 352 metros de extensão; o arco sob o tabuleiro, de forma biarticulada, tem 160 metros de corda e 42,60 metros de flecha. A altura, a partir do nível das águas, é de 61 metros. Esta ponte, assim chamada em honra de Maria Pia de Sabóia, é uma obra de grande beleza arquitetónica, projetada pelo Eng.º Théophile Seyrig e edificada, entre 5 de Janeiro de 1876 e 4 de Novembro de 1877, pela empresa Eiffel Constructions Métalliques. Foi a primeira ponte ferroviária a unir as duas margens do rio Douro. Estiveram em permanência 150 operários a trabalhar, tendo-se utilizado 1 600 000 quilos de ferro. Tendo em consideração as dimensões da largura do rio e das escarpas envolventes, foi o maior vão construído até essa data, aplicando-se métodos revolucionários para a época. A inauguração deu-se a 4 de Novembro de 1877 por D. Luís I e D. Maria Pia; a cerimónia teve a presença da Banda de Música da Cidade de Espinho. No último quartel do século XX tornou-se evidente que a velha ponte já não respondia de forma satisfatória às necessidades. Dotada de uma só linha, obrigava à passagem de uma composição de cada vez, a uma velocidade que não podia ultrapassar os 20 km/h e com cargas limitadas. No entanto, a ponte esteve em serviço durante 114 anos, como parte da Linha do Norte, até à entrada em serviço da Ponte de S. João em 1991. A construção da ponte em tempo recorde, aliada à dificuldade da transposição do enorme vão, concedeu a Eiffel a fama que procurava desde 1866, altura em que fundou a sua empresa com o engenheiro Téophile Seyrig. Eiffel, para acompanhar os trabalhos de construção da ponte, instalou-se em Barcelos entre 1875 e 1877. Gustave Eiffel publicou na Revista de Obras Públicas e Minas uma análise pormenorizada da construção, onde incluiu quer os projetos, quer o cálculo dos vários componentes da ponte. Adoptando o mesmo modelo, realizou o Viaduto de Garabit (1880-1884) com 165 metros de vão, a estrutura da Estátua da Liberdade (1884-1886) e a Torre Eiffel (1889). Região Vinhateira do Alto Douro A Região Vinhateira do Alto Douro é uma área do nordeste de Portugal com mais de 26 mil hectares, classificada pela UNESCO, em 14 de Dezembro de 2001, como Património da 178 Apontamentos: Escudo Humanidade, na categoria de paisagem cultural e rodeada de montanhas que lhe dão características mesológicas e climáticas particulares. Esta região, que é banhada pelo Rio Douro e faz parte do chamado Douro Vinhateiro, produz vinho há mais de 2000 anos, entre os quais, o mundialmente célebre vinho do Porto. Suas origens remontam à segunda metade do século XVII, altura em que o Vinho do Porto começa a ser produzido e exportado em quantidade, especialmente para a Inglaterra. Contudo, os elevados lucros obtidos com as exportações para a Inglaterra viriam a gerar situações de fraude, de abuso e de adulteração da qualidade do vinho generoso. Os principais produtores de vinho durienses exigem então a intervenção do governo e a 10 de Setembro de 1756, é finalmente criada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Nesse mesmo ano o Marquês de Pombal, criou por Lei de 1756 a Região Demarcada do Douro, que se estendia ao longo do vale do rio Douro e seus afluentes, de Barqueiros até Barca D' Alva. Para demarcar o espaço físico da mais antiga região demarcada do mundo foram então mandados implantar 201 marcos de granito. Seis anos mais tarde, no ano de 1761 são colocados mais 134 marcos pombalinos, perfazendo então um total de 335. Já em 10 de Maio de 1907, ao abrigo do decreto assinado por João Franco, a região demarcada é novamente delimitada, estendendo-se para o Douro Superior. A longa tradição de viticultura produziu uma paisagem cultural de beleza excecional que reflete a sua evolução tecnológica, social e económica. Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: 4 Frente: Retrato do Marquês Sá da Bandeira e Gravura da Ponte D. Maria Pia Verso: Gravura de cena de vindima Marca de água: Cabeça de Marte Medidas: 184x111 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão:08-04-1931 Última emissão: 29-04-1934 Retirada de circulação: 27-03-1945 Data 17-09-1929 Emissão 1 058 000 Combinações de Assinaturas 10 179 Apontamentos: Escudo A Reforma Financeira de 1931 Os subscritores do documento que aplicou a reforma financeira do escudo. De referir a presença do Presidente da República (Óscar Carmona) e do governo de Salazar, figura em destaque entre outros (Domingos Costa Oliveira, António Mateus, Armindo Monteiro, Gustavo Ramos, Henrique Lima, João Guimarães e Luís Correia) . Em 1931 vivia-se ainda o início da grande crise da década de 1930 iniciada com a Quinta-feira negra de Wall Street em 1929. Mas em Portugal o estado gozava de alguma saúde financeira conferida por uma política de contenção a nível das finanças aplicado após a queda da 1.ª República. As contas públicas apresentavam-se equilibradas ao ponto de Portugal ter saldado toda a sua dívida externa. Esta política conduziu à estabilização cambial do escudo, embora esta estabilização se tenha dado a um nível muito inferior ao previsto pela lei fundadora do escudo de 1911. Acarretava ainda proceder a medidas que permitissem a manutenção deste status quo nomeadamente a reforma dos deveres do Banco de Portugal, a estabilização financeira desta instituição e da Caixa Geral de Depósitos e claro a substituição do volume gigante de notas, que nesta altura ainda circulavam e que não tinham correspondência em dinheiro metálico armazenado. Neste contexto é realizada a reforma a qual foi publicada em Suplemento do Diário da Governo em 9 de Junho de 1931. Num documento extenso é feita inicialmente uma pequena resenha da história financeira do país desde 1891, confirmando-se que a crise em Portugal tinha-se iniciado nesse ano e raramente se conseguiu ter saldo positivo. De facto, os acontecimentos que se seguiram pouco conseguiram fazer para quebrar o ciclo vicioso embora tenham ocorrido na tentativa de o fazer. Assim, após estabilizar a moeda sob um novo padrão em ouro (1 escudo equivalia ao peso em ouro de 0,739 gramas de ouro 90%) estabilizando o câmbio da moeda em relação à libra esterlina. Criou o termo conto que se referia ao valor de 1000 escudos para maior comodidade de escrita de valores financeiros elevados. Mas o grande efeito prático para a vida diária da população foi a supressão das notas de mais baixo valor em circulação (2$50, 5$00 e 10$00) e a sua substituição por moedas em prata. Uma das novidades foi ainda a criação teórica de moedas em ouro de 50$00, 100$00 e 250$00. Estas moedas não teriam limites de emissão. Embora previsto concurso público para o desenho a apresentar no anverso este nunca foi efetuado e de facto nunca chegaram a ser cunhadas moedas em ouro em escudo para circulação. De facto, conhece-se apenas uma prova no valor de 5$00 com desenho de João da Silva criada ainda na Primeira República. 180 Apontamentos: Escudo Foram ainda criadas as novas moedas de 2$50, 5$00 e 10$00 todas em prata. Outra das reformas realizada neste decreto foi o teor em prata. De acordo com o que estava vigente o toque em prata era de 835 por mil. Seguindo as novas modas ditadas por experiências numismáticas da Europa de leste e países nórdicos, cujos sistemas monetários eram constituídos por numária em prata mas de toque inferior, foi criado dois tipos de liga de prata, uma de mais baixo teor (650 por 1000) para as moedas de 2$50 e 5$00, mantendo-se apenas nas de 10$00 o teor anterior (835/1000). Dava-se ainda ordem de recolha das moedas de prata teoricamente em circulação (na prática estavam cerceadas dado o seu valor em prata ser muito superior ao valor oficial), assim, as moedas de $10, $20, $50, 1$00 e moedas comemorativas monárquicas em prata foram recolhidas e pagas pelo valor em prata ($20 por grama de prata, o que no caso das moedas de 1$00 representava 4$18). As novas moedas ficariam conhecidas pela série das Caravelas, devido ao desenho do reverso representar uma bela caravela quinhentista. A escultura aprovada em concurso público teve autoria do mestre João da Silva. Estas moedas mantiveram-se em circulação até 1969 (no caso de 2$50 e 5$00) quando foram substituídas por nova série em cuproníquel e 1955 (no caso das de 10$00 substituídas nesta data por moeda em prata de teor inferior). Caravela A caravela foi uma embarcação criada pelos portugueses e usada por eles e também pelos espanhóis durante a Era dos Descobrimentos, nos séculos XV e XVI. O vocábulo parece ter origem em cáravo ou cárabo, aportuguesamento do grego κάραβος, um barco ligeiro usado no mediterrâneo. Segundo alguns historiadores, o vocábulo é de origem árabe carib (embarcação de porte médio e de velas triangulares). Há historiadores que defendem que a origem da palavra seria carvalho, a madeira usada para construir as embarcações. A sua primeira utilização documentada na língua portuguesa data de 1255 e última referência em documentos impressos data de 1766, o que leva a pensar que o termo terá sido aplicado a várias embarcações ao longo do tempo. A caravela foi aperfeiçoada durante os séculos XV e XVI. Tinha inicialmente pouco mais de 20 tripulantes. Era uma embarcação rápida, de fácil manobra, capaz de bolinar e que, em caso de necessidade, podia ser movida a remos. Com cerca de 25 m de comprimento, 7 m de boca (largura) e 3 m de calado deslocava cerca de 50 toneladas, tinha 2 ou 3 mastros, convés único e popa sobrelevada. As velas latinas (triangulares) permitiam-lhe bolinar (navegar em ziguezague contra o vento). Gil Eanes utilizou um barco de vela redonda, mas seria numa caravela (tipo carraca) que Bartolomeu Dias dobraria o Cabo da Boa Esperança em 1488. João da Silva Natural de Lisboa (1-12-1880). Frequentou a Escola Industrial Príncipe Real, na qual se matriculou em 1893, viajou depois para Paris onde estudou na Escola Superior de Belas-Artes. Aí, concluiu o curso de Medalhística com o escultor e medalhista Jules Chaplain. Terminada a formação artística, trabalhou como cinzelador na Casa Fleuret. Em 1900 apresentou duas peças na Exposição Universal de Paris. No final do ano seguinte, mudou-se para Genebra, onde frequentou o curso de OurivesGravador na Escola Superior de Belas-Artes. Regressou depois a Portugal, onde desenvolveu as catividades de escultor, ourives e medalhista e, entre 1911 e 1914, seccionou Arte Aplicada, Ourivesaria e Desenho na Escola Marquês de Pombal. Participou e foi premiado em inúmeras exposições em Portugal e no estrangeiro. Da sua vasta obra escultórica podem destacar-se: Busto da República, esculpido para a Assembleia Constituinte (desaparecido), diversos monumentos ao soldado desconhecido (em Portugal) e o monumento em memória das crianças mortas na Guerra de 19141918, destinado ao município francês de Pouliguen, monumento evocativo a Augusto Gil na Guarda, monumento ao Barão do Rio Branco, (no Rio de Janeiro), o "Fons Vitae" (Luso) e a "Fonte da Juventude" do Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha de 1929, no Porto o "Monumento a Júlio Dinis" e o monumento em memória de estudantes da Universidade do Porto falecidos na guerra de 1914-1918, conhecido como "A Santa" ou "A Sabedoria". Como medalhista, João da Silva realizou obras memoráveis, tais como a primeira moeda de ouro da República, em 1916, e a medalha comemorativa do 1.º centenário do nascimento de Silva Porto, em 1950, por encomenda do Grémio dos Industriais de Ourivesaria do Norte de Portugal. Foi ainda o autor da série Caravela (moedas de 2$50, 5$00 e 10$00 em prata). Em 1952, doou à Sociedade Nacional de Belas-Artes a sua casa-ateliê (hoje Casa-Museu Mestre João da Silva) construída em 1938 por Ligier/Peige, seguindo orientações suas. Morreu em 1960 e foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Se bem que a caravela latina se tenha revelado muito eficiente quando utilizada em mares de ventos inconstantes, como o Mediterrâneo, devido às suas velas 181 Apontamentos: Escudo triangulares, com as viagens às Índias, com ventos mais calmos, tal não era uma vantagem, já que se mostrava mais lenta que na variação de velas redondas. A necessidade de maior tripulação, armamentos, espaço para mercadorias fez com que fosse substituída por navios maiores. Ficha Técnica Peso: 3,5 g Diâmetro: 20 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 650 Autor: João da Silva Decreto: 19 781 de 09/06/1931 Ano e taxa de recolha: 1969 (49,7%) Ano 1932 1933 1937 1940 1942 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1951 182 Cunhagem 2 592 000 2 457 124 1 000 000 2 761 906 3 846 945 8 301 888 9 133 667 6 316 170 3 208 180 2 609 535 1 814 465 4 000 000 Código 022.01 022.02 022.03 022.04 022.05 022.06 022.07 022.08 022.09 022.10 022.11 022.12 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Peso: 7 g Diâmetro: 25 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 650 Autor: João da Silva Decreto: 19 781 de 09/06/1931 Ano e taxa de recolha: 1969 (53,8%) Ano 1932 1933 1934 1937 1940 1942 1943 1946 1947 1948 1951 Cunhagem 800 000 6 717 251 1 012 152 1 500 000 1 500 000 2 051 247 1 353 742 404 000 2 419 590 2 017 174 965 836 Código 023.01 023.02 023.03 023.04 023.05 023.06 023.07 023.08 023.09 023.10 023.11 Ficha Técnica Peso: 12,5 g Diâmetro: 30 mm Bordo: Serrilhado Eixo: Vertical Metal: Prata Composição: Ag 835 Autor: João da Silva Decreto: 19 781 de 09/06/1931 Ano e taxa de recolha: 1955 (90,9%) Ano 1932 1933 1934 1937 1940 1942 1948 Cunhagem 3 220 000 1 780 000 400 000 500 000 1 199 529 186 190 507 452 Código 024.01 024.02 024.03 024.04 024.05 024.06 024.07 50 Escudos Chapa 5: Duque de Saldanha Inocêncio Camacho Rodrigues 183 Apontamentos: Escudo João da Motta Gomes Júnior Manuel Casal Ribeiro de Carvalho António José Pereira Júnior Domingos Holstein Beck Fernando Emygdio da Silva Henrique Missa José Caeiro da Matta Francisco Camilo Meira Ramiro Eusébio Leão José Emaúz Leite Ribeiro A quinta chapa do valor de 50 escudos prestou homenagem à figura liberal do Duque de Saldanha. Ao contrário do que tinha acontecido em nota de 100 escudos (chapa 3), nesta apresenta-se representado em trajes civis. Esta chapa foi aprovada pelo Banco de Portugal em 18 de Novembro de 1932 já sob os auspícios da reforma financeira. Manter-se-ia em circulação até Março de 1945. Estas foram as primeiras notas a serem produzidas pela estampadora inglesa Thomas De La Rue & Co. Ltd., de Londres. Como acontecia, na época, com outros fabricantes estrangeiros, a elaboração das chapas e a estampagem das notas foi consignada à firma estampadora, limitando-se as oficinas do Banco a fazer a aposição do texto complementar. Na frente, sobre fundo tipográfico em íris multicolor com trabalho em duplex de proteção, destacava-se a figura principal, estampada por técnica calcográfica, a violeta, com cercadura de guilhoché em linha branca e linha cheia. O verso tinha uma estampagem calcográfica a azul-escuro, e também trabalho de guilhoché em linha branca e linha cheia. O fundo, de impressão tipográfica em íris, era constituído por linhas ondulantes, amarelo ao centro, esbatendo-se em cor-de-rosa para os lados. Parte do texto complementar (chapa, data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi produzido em Inglaterra pela Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchurch, Hampshire, Inglaterra. A marca de água surgia no lado direito, sob a forma de uma cabeça de perfil para o centro, e, inferiormente, a legenda “Banco de Portugal”. Estátua ao Duque de Saldanha No centro da Praça Duque de Saldanha, encontra-se um monumento que evoca a memória do militar, político e estadista português conhecido por Duque de Saldanha (o seu nome era João Carlos de Saldanha Oliveira e Daum 1790-1876). Treze anos após a sua morte, para recordar aos vindouros os relevantes serviços prestados à Pátria e à Liberdade, foi aberto concurso para a edificação do monumento, o qual foi custeado por subscrição pública. Entre vários concorrentes, ganhou o projeto apresentado pelo escultor Tomás da Costa e pelo arquiteto Miguel Ventura Terra. No dia 5 de Novembro de 184 Apontamentos: Escudo 1904, procedeu-se à cerimónia solene do lançamento da primeira pedra, presidida por D. Carlos e a 13 de Fevereiro de 1909 foi inaugurado por D. Manuel II. O monumento tem um pedestal com 7,28 metros de altura, base quadrangular, flanqueado de colunas da mesma ordem e capitéis canelados, encimado com a estátua em bronze do homenageado, esta com 3,18 metros de altura. Na base, a face virada para a Avenida Fontes Pereira de Melo, apresenta em bronze uma figura alegórica da “Vitória”, empunhando, na mão direita, a espada vencedora e, na esquerda, a palma gloriosa. Sob esta figura, também executadas em bronze, estão as armas portuguesas entre ramos de louro. Nas outras faces do pedestal, destacam-se cabeças de leões, sustentando na boca panóplias decorativas com inscrições alusivas às campanhas do Marechal: a norte, campanha de Montevideu (1816-1823); a este, Guerra Peninsular (1806-1814) e, a oeste, as campanhas da Liberdade (1826-1834). A estátua e todos os elementos ornamentais foram fundidos no Arsenal do Exército, pesando a estátua 2 354 quilogramas e a alegoria da “Vitória” 1 920 quilogramas Agricultura Agricultura é o conjunto de técnicas utilizadas para cultivar plantas com o objetivo de obter alimentos, fibras, energia, matéria-prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas, ou apenas para contemplação estética. A ciência que estuda as características das plantas e dos solos para melhorar as técnicas agrícolas é a agronomia. A palavra "agricultura" vem do latim agricultūra, composta por ager (campo, território) e cultūra (cultivo), no sentido estrito de cultivo do solo. Em Português, a palavra "agricultura" manteve este sentido estrito e refere-se exclusivamente ao cultivo dos campos, ou seja, relaciona-se à produção de vegetais. O início das catividades agrícolas separa o período neolítico do paleolítico. Como são anteriores 18 5 Apontamentos: Escudo De La Rue plc. Empresa inglesa especializada na impressão de papéis de valor, documentos e máquinas de distribuição de dinheiro. Tem sede em Basingdtoke no Hampshire. Tem ainda uma fábrica em Team Valley Trading Estate em Gateshead e outras estruturas em Loughton no Essex e Bathford em Somerset. A empresa foi fundada por Thomas de la Rue que em 1821 se fixou em Londres onde estabeleceu uma tipografia. Em 1831 garantiu um Royal Warrant que lhe permitiu produzir cartas de jogo. Em 1855 inicia a produção de selos e em 1860 iniciou a produção de notas. Em 1896 a empresa familiar foi convertida numa companhia privada. Em 1921 a família de la Rue vendeu a sua participação. Em 1947 passou a estar cotada na bolsa londrina. Nesta altura chamava-se Thomas De La Rue & Company, Limited, mudando o nome em 1958 para The De La Rue Company Limited. O nome voltaria novamente a ser alterado em 1991 quando assumiu o atual De La Rue plc. Em 1997 comprou a Harrison and Sons empresa especializada na produção de selo e notas. Em 2003 compra a Debden outra empresa produtora de notas do Banco de Inglaterra. Atualmente a empresa produz as notas dos seguintes bancos centrais: Honduras, Guatemala, Inglaterra, Jamaica, Maurícia, Escócia, Tanzânia, Zâmbia, Bermudas, Ilhas Caimão, Arménia, Barém, Barbados, Belize, Iraque, Quénia, Kuwait, Sri Lanka, Bahamas, Banco Central Europeu, Isle of Man, Maldivas, Singapura, Macedónia, Fiji, Jersey, Banco Central das Caraíbas. A empresa produz ainda vários tipos de documentos (passaportes, selos, cartas de condução, cheques bancários). Produz ainda vários equipamentos associados à distribuição (as ATM) e contagem de notas. à história escrita, os primórdios da agricultura são obscuros, mas admite-se que ela tenha surgido independentemente em diferentes lugares do mundo, provavelmente nos vales e várzeas fluviais habitados por antigas civilizações. Há 10-15 000 anos alguns indivíduos de povos caçadores-coletores notaram que alguns grãos que eram conectados da natureza para a sua alimentação poderiam ser enterrados, isto é, "semeados" a fim de produzir novas plantas iguais às que os originaram. Os primeiros sistemas de cultivo e de criação apareceram em algumas regiões pouco numerosas e relativamente pouco extensas do planeta. Essas primeiras formas de agricultura eram certamente praticadas perto de moradias e aluviões das vazantes dos rios, ou seja, terras já fertilizadas que não exigiam, portanto, desmatamento. Essa prática permitiu o aumento da oferta de alimento, as plantas começaram a ser cultivadas muito próximas umas das outras. Isso porque elas podiam produzir frutos, que eram facilmente colhidos quando maduros, o que permitia uma maior produtividade das plantas cultivadas em relação ao seu habitat natural. Com o tempo, foram selecionados entre os grãos selvagens aqueles que possuíam as características que mais interessavam aos primeiros agricultores, tais como tamanho, produtividade, sabor e outras. Assim surgiu o cultivo das primeiras plantas domesticadas, entre as quais se inclui o trigo e a cevada. Durante o período neolítico, as principais áreas agrícolas estavam localizadas nos vales dos rios Nilo (Egipto), Tigre e Eufrates (Mesopotâmia) e rios Amarelo e Azul (China). A agricultura permitiu a existência de aglomerados humanos com muito maior densidade populacional que os que podiam ser suportados pela caça e Coleta. Houve uma transição gradual na qual a economia de caça e Coleta coexistiu com a economia agrícola: algumas culturas eram deliberadamente plantadas e outros alimentos eram obtidos da natureza. A importância da prática da agricultura na história do homem é tanto elogiada como criticada: enquanto alguns consideram que foi o passo decisivo para o desenvolvimento humano, críticos afirmam que foi o maior erro na história da raça humana. Por um lado, o grupo que se fixou na terra tinha mais tempo dedicado a catividades com objetivos diferentes de produzir alimentos, que resultaram em novas tecnologias e a acumulação de bens de capital, daí o aculturamento e o aparente melhoramento do padrão de vida. Por outro, os grupos que continuaram utilizando-se de alimentos nativos de sua região, mantiveram um equilíbrio ecológico com o ambiente, ao contrário da nova sociedade agrícola que se formou, desmatando a vegetação nativa para implantar a monocultura, na procura de maior quantidade com menor variedade, posteriormente passando a utilizar pesticidas e outros elementos químicos, causando um grande impacto no solo, água, fauna e flora. Além de alimentos para uso dos seres humanos e de seus animais de estimação, a agricultura produz mercadorias tão diferentes como flores e plantas ornamentais, fertilizantes orgânicos, produtos químicos industriais, fibras ou combustíveis. 186 Apontamentos: Escudo Ficha Técnica Valor: 50$00 Chapa: 5 Frente: Retrato do Duque de Saldanha e Gravura da Estátua do mesmo Verso: Gravura de cena agrícola Marca de água: Cabeça numismática Medidas: 163x90 mm Impressão: Thomas de La Rue & Co, Ltd Primeira emissão: 27-04-1936 Última emissão: 29-08-1938 Retirada de circulação: 27-03-1945 Data 18-11-1932 Emissão 6 297 000 Combinações de Assinaturas 10 500 escudos chapa 5 José da Silva Carvalho Inocêncio Camacho Rodrigues António José Pereira Júnior José Caeiro da Matta Fernando Emygdio da Silva Ramiro Eusébio Leão 18 7 Apontamentos: Escudo Manuel Casal Ribeiro de Carvalho Francisco Camilo Meira Domingos Holstein Beck José Emaúz Leite Ribeiro Henrique Missa Fernando Ennes Ulrich O Conselho Geral de 18 de Novembro de 1932 autorizou a criação e emissão de 2 milhões de notas desta nova chapa de 500 escudos. Após a aposição do texto complementar verificou-se que havia um excedente de 185 600 notas em relação à emissão autorizada. Por proposta do Serviço de Notas, o Conselho Geral de 17 de Março de 1936 autorizou a criação e emissão destas notas, todas com a data inicial, “visto tratar-se do aproveitamento de papel que já tinha aposta aquela data”. Esta nova chapa prestou homenagem a um dos fundadores do Sinédrio (José Silva Carvalho), grupo que esteve na base da revolução liberal em Portugal. A gravação das chapas e a estampagem das notas estiveram a cargo da firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd, New Malden, Surrey. A frente apresentava duas estampagens calcográficas: uma, a preto, com o retrato de José Silva Carvalho, a outra, em tom avermelhado, com a fachada do Palácio de Queluz e a cercadura. O fundo, em duplex multicolor, era protegido por linhas finas paralelas gravadas na chapa de aço (talhe-doce). O verso, com uma estampagem calcográfica a verde-escuro, apresentava um trecho do lago do Palácio de Queluz e uma cabeça numismática simbolizando a Liberdade. O fundo, em íris, é de composição semelhante ao da frente, com o duplex protegido por linhas paralelas gravadas na chapa de aço. O texto com- plementar (chapa, data, série, numeração e chancelas) foi impresso tipograficamente nas ofi- 188 Apontamentos: Escudo cinas do Banco. O papel foi fabricado na inglesa Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchuch, Hampshire. A marca de água surgia no lado direito da nota e apresentava a cabeça de Homero, de perfil para o centro, e na parte inferior, numa só linha, a legenda “Banco de Portugal”. José da Silva Carvalho Obreiro da Revolução Liberal de 1820 nasceu em São João das Areias próximo de Santa Comba Dão em 19 de Dezembro de 1782. Era oriundo de uma família de lavradores humildes que a muito custo conseguiram que frequentasse o Colégio das Artes em Coimbra. No ano de 1800 ingressou na Universidade de Coimbra, concluindo o curso no ano de 1805. Em 1810 foi colocado na vila de Recardães, como juiz de fora. Em 1814 foi nomeado Juiz dos Órfãos da cidade do Porto; ingressando por esta altura na vida política. Em 1818 com o descontentamento provocado pela sistemática interferência inglesa na vida política portuguesa, funda com outros o “Sinédrio” (associação revolucionária e secreta criada em Portugal por Manuel F. Tomás, Ferreira Borges, José S. Carvalho e por J. Ferreira Viana, no ano de 1818 na cidade do Porto, que antecedeu à implantação do liberalismo em Portugal, com a Revolução Liberal de 1820). Após a vitoriosa revolta, Silva Carvalho foi eleito membro da Junta Provisional preparatória das Cortes, entre os anos de 1820-1823. Fez parte de Regência do Reino, até ao regresso de D. João VI do Brasil. No ano de 1821 foi-lhe confiada a pasta dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça. Mas em 1823 foi obrigado a exilar-se em Inglaterra, em virtude da implantação do absolutismo. No ano de 1826 D. Pedro é aclamado rei e outorgou a Carta Constitucional, a que se seguiu uma larga amnistia, regressando a Portugal muitos dos exilados, entre outros Silva Carvalho. No ano de 1828 D. Miguel, após jurar a Carta regressa a Portugal, onde deveria casar com sua sobrinha Maria da Glória, filha de D. Pedro que tinha abdicado do trono em favor desta. Quando D. Miguel chegou a Portugal, vindo 189 Apontamentos: Escudo de Viena de Áustria, rompeu com o juramento e proclamou-se rei absoluto, movendo forte perseguição aos liberais. Silva Carvalho foi obrigado a exilar-se pela segunda vez em Inglaterra. No ano de 1832 Silva Carvalho foi nomeado Auditor Geral do Exército Libertador. A expedição saiu de S. Miguel e em princípios de Julho desembarcou na praia do Mindelo, tomando de imediato a cidade do Porto. No fim do ano de 1832 D. Pedro IV nomeia Silva Carvalho ministro da Fazenda e em 1833 ministro da Defesa, distinguindo-se pela atitude patriótica que teve na defesa do cerco, pela coragem e inteligência, incutindo ânimo aos mais descrentes e desanimados. No ano de 1834 morreu D. Pedro IV, o que desde logo debilitou a ação de Silva Carvalho até que a Revolução de 1836 a aniquilou na totalidade, sendo obrigado mais uma vez a exilar-se pela terceira vez. No ano de 1836, regressou a Portugal, para jurar a Constituição; dotado de um enorme carácter fez as pazes com os adversários, continuando a sua carreira de legislador e de magistrado até ao ano da sua morte. Recusou títulos de nobreza por diversas vezes. Foi Ministro nos reinados de D. João VI, D. Pedro IV e de D. Maria II. Faleceu em 5 de Setembro de 1856 e foi sepultado no Cemitério dos Prazeres em Lisboa. Palácio de Queluz O Palácio Real de Queluz é um palácio do século XVIII localizado na cidade de Queluz no concelho de Sintra. Um dos últimos grandes edifícios em estilo rococó erguidos na Europa, o palácio foi construído como um recanto de Verão para D. Pedro de Bragança, que viria a ser mais tarde marido e rei consorte de sua sobrinha, a rainha D. Maria I de Portugal. Serviu como um discreto lugar de encarceramento para a rainha D. Maria I enquanto sua loucura continuou a piorar após a morte de D. Pedro em 1786. Após o incêndio que atingiu o Palácio da Ajuda em 1794, tornou-se a residência oficial do príncipe regente português, o futuro D. João VI, e de sua família. Permaneceu assim até a fuga da família real para o Brasil em 1807, devido à invasão francesa. A construção do Palácio iniciou-se em 1747, tendo como arquiteto Mateus Vicente de Oliveira. Apesar de ser muito menor, é chamado frequentemente de "o Versalhes português". A partir de 1826, o palácio lentamente deixou de ser o predileto dos soberanos portugueses. Em 1908, tornou-se propriedade do Estado. Após um grave incêndio em 1934, o qual destruiu o seu interior, o Palácio foi extensivamente restaurado e, hoje, está aberto ao público. Uma das alas do Palácio de Queluz, o Pavilhão de Dona Maria, construído entre 1785 e 1792 pelo arquiteto Manuel Caetano de Sousa, é hoje um quarto de hóspedes exclusivo para chefes de Estado estrangeiros em visita a Portugal. Foi classificado como Monumento Nacional em 1910. Deve-se a D. Pedro III a iniciativa da construção, no século XVII. As obras começaram em 1755. No teatro real deste palácio interveio o arquiteto Oliveira Benevides, vindo essa sala a ser inaugurada em 17 de Dezembro de 1778 (1º aniversário da coroação da Rainha). A primeira fase de construção do jardim terminou em 1786. Oito anos depois, o palácio tornou-se oficialmente residência oficial da Família Real Portuguesa. Nele nasceu D. Pedro IV de Portugal (ou D. Pedro I do Brasil), em 12 de Outubro de 1798. Quando da partida dos reis para o Brasil, em 1807, grande parte do recheio do palácio foi despojado. Em 24 de Setembro de 1834, já como rei de Portugal, D. Pedro IV viria a falecer no mesmo quarto em que nascera. A partir desta data entrou em declínio, até que em 1908 D. 190 Apontamentos: Escudo Manuel II o cedia à Fazenda Nacional. Destaca-se, para além do valor arquitetónico e patrimonial, a beleza dos jardins e larga extensão de mata que o cerca. Foi residência sazonal real e hoje tem vocação turístico-cultural. Os traços arquitetónicos salientam os estilos barroco, rococó e neoclássico. A planta apresentase complexa, pois corresponde à aglutinação de vários núcleos e a fases distintas de construção. Porém, pode-se dizer que o palácio se organiza genericamente em L, enquadrando os jardins por meio de várias alas. Do lado externo, o palácio abre dois braços curvos. No lado dos jardins, é visível a articulação das várias fachadas de aparato, nomeadamente a que enquadra o Jardim de Neptuno ou Jardim Grande. No piso térreo, merece destaque o corpo central de dois andares, firmado por portas e janelas de sacada. A fachada de cerimónia virada ao Jardim dos Azereiros ou Jardim de Malta, é constituída por três corpos. O desnível entre os jardins e o parque perde relevo perante a sequência de terraços e galeria porticada por pares de colunas toscanas, rematada por uma monumental escadaria. No interior, a organização dos compartimentos processa-se em linha. A decoração de algumas salas é digna de realce, sendo constituída por pintura a fresco (Sala das Açafatas), revestimento a espelhos, estuque e talha dourada (Toucador da Rainha, Sala do Trono), parquet de madeiras exóticas (Sala D. Quixote) ou azulejos (Corredor das Mangas). Os jardins são ornamentados por estátuas. Ficha Técnica Valor: 500$00 Chapa: 5 Frente: Retrato do José da Silva Carvalho e Gravura do Palácio de Queluz Verso: Gravura de pormenor dos jardins do Palácio de Queluz Marca de água: Efígie de Homero Medidas: 177x104 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão: 03-09-1934 Última emissão: 01-09-1939 Retirada de circulação: 30-06-1948 Data 18-11-1932 Emissão 2 185 600 Combinações de Assinaturas 10 1000 escudos Chapa 5 Conde Castelo Melhor Inocêncio Camacho Rodrigues António José Pereira Júnior Fernando Emygdio da Silva 191 Apontamentos: Escudo José Caeiro da Matta Henrique Missa Ramiro Eusébio Leão Francisco Camilo Meira Manuel Casal Ribeiro de Carvalho José Emaúz Leite Ribeiro Domingos Holstein Beck Fernando Ennes Ulrich A quinta chapa de 1000 escudos prestou homenagem ao primeiro-ministro de D. Afonso VI, o Conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa. O trabalho de produção da nota ficou a cargo da firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd, com exceção da aposição do texto complementar. Na frente foram usadas duas estampagens calcográficas (talhe-doce): uma, a azul, contendo numa o retrato do Conde de Castelo Melhor, e na outra, a verde-escuro, com uma vista do Palácio de Sintra (tema já utilizado noutra nota: 20$00 Chapa 2), legendas, emblema do Banco e a cercadura, preenchida com motivos geométricos em linha branca. A estampagem calcográfica e o texto assentam sobre fundo tipográfico de proteção em duplex, composto de desenhos variados, em íris. O verso tinha uma estampagem calcográfica, a castanho-escuro, com uma panorâmica do Castelo de Almourol, um emoldurado de guilhoché em linha branca e linha cheia e a cabeça, em relevo, de um guerreiro antigo, elaborada em máquina numismática. O fundo, impresso em moiré irisado, tem aplicações de técnica duplex nos quatro cantos. O texto complementar (data, série, numeração, chapa e chancelas) foi também impresso por técnica tipográfica, a preto, nas oficinas do Banco. O papel foi produzido pela britânica Portals Limited. A marca de água surgia no lado direito como uma cabeça de Aníbal, de perfil para o centro, e, na parte inferior, a meio, numa linha, a legenda “Banco de Portugal”. 192 Apontamentos: Escudo Conde de Castelo Melhor Luís de Vasconcelos e Sousa, foi o 3º. Conde de Castelo Melhor. Nasceu no ano de 1636, filho de João Rodrigues de Vasconcelos, senhor de Valhelhas, e de sua mulher Dona Mariana de 193 Apontamentos: Escudo Lencastre Vasconcelos e Câmara, 2ª.condessa de Castelo Melhor. Distinguiu-se como um valente soldado às ordens de seu pai, na defesa da fronteira. Consta que após certa rixa entre fidalgos no jogo da péla, da qual resultou a morte do conde de Vimioso, D. Luís exilou-se em França 81655-57), esperando que o tempo apagasse da memória dos homens o caso do qual era o principal culpado. Quando regressou a Portugal sua mãe desempenhava um papel de dama de honor, depois camareira-mor na Corte. Casou com Dona Guiomar de Trava e Sousa Faro e Veiga. Combateu na defesa da província do Minho, saindo gravemente ferido. No ano de 1659 recebeu o reposteiro-mor do Paço. Distinguiu-se na crise de 1662, desempenhando as funções de camareiro de serviço. D. Afonso VI, em reconhecimento pelos seus préstimos galardoou-o com a nomeação para o cargo de escrivão da puridade, espécie de secretário privado. A tendência centralizadora que a Restauração impunha, o ofício era de maneira a concentrar nas mãos do beneficiário a máquina da administração Chapa 3 1000$00 destruída pública, pelo que sendo colaborador direto do monarca, ao Conde O Visconde António Luís de Seabra de Castelo Melhor, lhe foi incumbido os actos públicos, receber (1798-1895), político e jurisconsulto foi a figura escolhida para conjuntajuramentos de fidelidade e obediência à Coroa, seguir o Rei em mente com uma gravura da Basílica da todos os actos oficiais, nas nomeações para cargos de adminisEstrela, emoldurarem a parte da frente tração no Reino e no Ultramar, consultas nos Tribunais e na cordesta nota. Estas notas foram mandadas destruir (queimadas), por deliberespondência diplomática. Um mal estar instalou-se no Reino ração do Conselho de Administração, devido à incúria dos conselheiros de D. Luísa de Gusmão, tendo o em virtude de problemas relacionados com a falta de autorização do Banco Conde conseguido afastar os seus inimigos exercendo o poder que para a estampagem das notas e por detinha junto do Rei e debruçando-se em duas missões chaves; a ainda estar apenso um exemplar ao primeira assegurar a continuidade do seu governo, pelo que roprocesso “Angola e Metrópole”. Relembre-se que esta nota fez parte deou o infante D. Pedro de gente de sua confiança; segundo reordo contrato com a Waterlow & Sons. ganizar as tropas portuguesas para expulsar os espanhóis que entretanto tinham tomada Évora com um grande exército, sob o comando de João de Áustria. O Conde sob o seu governo foi feliz no campo militar obtendo nos anos de 1663 e 1665 vitórias na batalha do Ameixial e Montes Claros. Fruto destas vitórias foi assinado o Tratado de Paz com Espanha, em Madrid no mês de Janeiro e no mês de Fevereiro em Lisboa no ano de 1668. Sendo um dos obreiros na vitória da Guerra da Restauração e apaziguados os ânimos entre Portugal e Espanha, procurou apoios diplomáticos em França com o fim de casar o rei D. Afonso VI, obtendo como noiva Maria Isabel Francisca de Sabóia, que anos mais tarde o afastou do governo com a ajuda do infante D. Pedro. Foi obrigado a exilar-se por imposição da rainha que não o deixava regressar a Portugal, instalando-se em Paris, depois em Inglaterra, onde solicitou auxílio a D. Catarina de Bragança mulher de Carlos II. Aqui permaneceu algum tempo desempenhando notáveis serviços na Corte. Regressou a Portugal após a morte de D. Maria Francisca de Sabóia, tendo-se fixado em Pombal onde era alcaide–mor e comendador. Foi capitão-donatário da ilha de Santa Maria, desde 1667 até à sua morte, no ano de 1720. 194 Apontamentos: Escudo Castelo de Almourol O Castelo de Almourol, localiza-se na Freguesia de Praia do Ribatejo, Concelho de Vila Nova da Barquinha, embora a sua localização seja frequentemente atribuída a Tancos, visto ser a vila de onde se vislumbra melhor. Erguido num afloramento de granito 18 m acima do nível das águas, numa pequena ilha de 310 m de comprimento por 75 m de largura, no médio curso do rio Tejo, um pouco abaixo da sua confluência com o rio Zêzere. À época da Reconquista integrava a chamada Linha do Tejo. Constitui um dos exemplos mais representativos da arquitetura militar da época, evocando simultaneamente os primórdios do reino de Portugal e da Ordem dos Templários, associação que lhe reforça a aura de mistério e romantismo. Com a extinção da Ordem do Templo o castelo de Almourol passa a integrar o património da Ordem de Cristo (sucessora em Portugal da Ordem dos Templários). Embora os autores não sejam unânimes acerca da primitiva ocupação humana deste sítio, acreditando-se que remonte um castro pré-histórico, a pesquisa arqueológica trouxe à luz testemunhos do período romano (moedas do século I a.C.) e do período medieval (medalhas). Alguns autores, ainda, identificam em alguns trechos na base das muralhas, exemplos do aparelho construtivo de tipo romano. A partir do século III, o sítio foi ocupado por outros grupos, nomeadamente os Alanos, os Visigodos e os Muçulmanos, estes últimos a partir do século VIII. No século XIII, a fortificação já existia, por eles denominada como Al-morolan (pedra alta). Não se pode precisar a origem do seu nome, assim como se torna difícil clarificar o significado e a própria grafia do qual são conhecidas variações: Almoriol, Almorol, Almourel, Almuriel. Outros autores estabelecem ligação com o termo Moron, que Estrabão teria referido como cidade situada à beira Tejo, ou com o termo Muriella, que consta da descrição da delimitação do Bispado de Egitânia. À época da Reconquista, quando esta região foi ocupada por forças portuguesas, Almourol foi conquistado em 1129 por D. Afonso Henriques. O soberano entregou-o aos cavaleiros da Ordem dos Templários, então encarregados do povoamento do território entre o rio Mondego e o Tejo, e da defesa da então capital de Portugal, Coimbra. Nesta fase, o castelo foi reedificado, tendo adquirido, em linhas gerais, as suas atuais feições, características da arquitetura templária: espaços de planta quadrangular, muralhas elevadas, reforçadas por torres adossadas, dominadas por uma torre de menagem. Uma placa epigráfica, colocada sobre o portão principal, dá conta que as suas obras foram concluídas em 1171, dois anos após a conclusão do Castelo de Tomar, edificado por determinação de Gualdim Pais, filho de Paio Ramires. Sob os cuidados da Ordem, constituído em sede de uma Comenda, o castelo tornou-se um ponto nevrálgico da zona do Tejo, controlando o comércio de azeite, trigo, carne de porco, frutas e madeira entre as diferentes regiões do território e Lisboa. Acredita-se ainda que teria existido uma povoação associada ao castelo, em uma ou em ambas as margens do rio, uma vez que, em 1170, foi concedido foral aos seus moradores. Com o avanço da reconquista para o sul e a extinção da Ordem dos Templários em 1311 pelo papa Clemente V durante o reinado de D. Dinis, a estrutura passou para a Ordem de Cristo, vindo posteriormente a perder importância, tendo sofrido diversas alterações. Vítima do terramoto de 1755, a estrutura foi danificada, vindo a sofrer mais alterações durante o romantismo do século XIX. Nessa fase, e obedecendo à filosofia então corrente de valorizar as obras do passado à luz de uma visão ideal poética, o castelo foi alvo de adulterações de índole decorativa, incluindo o coroamento uniforme das muralhas por ameias e merlões. O castelo foi 195 Apontamentos: Escudo entregue ao Exército português na segunda metade do século XIX, sob a responsabilidade do comandante da Escola Prática de Engenharia de Tancos, a que está afeto até aos nossos dias. No século XX foi classificado como Monumento Nacional de Portugal por Decreto de 16 de Junho de 1910. À época do Estado Novo português o conjunto foi adaptado para Residência Oficial da República Portuguesa, aqui tendo lugar alguns importantes eventos oficiais. Para esse fim, novas intervenções foram promovidas nas décadas de 1940 e de 1950, reforçando aspetos de uma ideologia de nacionalidade cultivada pelo regime à época. Ficha Técnica Valor: 1000$00 Chapa: 5 Frente: Retrato do Conde de Castelo Melhor e Gravura do Palácio da Vila de Sintra Verso: Gravura do Castelo de Almourol Marca de água: Efígie de Aníbal Medidas: 184x111 mm Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co, Ltd Primeira emissão: 03-09-1934 Última emissão: 05-09-1939 Retirada de circulação: 30-06-1948 Data 18-11-1932 196 Emissão 1 033 500 Combinações de Assinaturas 10 Apontamentos: Escudo Índice Introdução ..................................................................................................................................... 3 Lei de 22 de Maio de 1911 ............................................................................................................ 5 5$00 Ch. 1 Alexandre Herculano ................................................................................................... 8 As Primeiras Moedas de 1 Escudo .............................................................................................. 13 20$00 Ch. 1 Almeida Garrett....................................................................................................... 17 Reforma das Pequenas................................................................................................................ 21 O Regresso das Cédulas I............................................................................................................. 23 1$00 Ch. 1 Figuração Literatura .................................................................................................. 29 2$50 Ch. 1 D. Nuno Álvares Pereira ............................................................................................ 31 Moeda de Ferro........................................................................................................................... 35 O Regresso das Cédulas II............................................................................................................ 36 $50 Ch. 1 Navegação ................................................................................................................... 39 100$00 Ch. 1 Pedro Álvares Cabral ............................................................................................. 41 10$00 Ch. 1 Afonso de Albuquerque .......................................................................................... 46 20$00 Ch. 2 D. João de Castro..................................................................................................... 51 As novas moedas de 5, 10 e 20 centavos .................................................................................... 56 5$00 Ch. 2 João das Regras ......................................................................................................... 58 10$00 Ch. 2 Marquês Sá da Bandeira ......................................................................................... 62 20$00 Ch. 3 José E. Coelho de Magalhães .................................................................................. 66 50$00 Ch. 1 Passos Manuel......................................................................................................... 71 100$00 Ch. 2 Diogo do Couto ..................................................................................................... 80 1000$00 Ch. A. Duque da Terceira.............................................................................................. 86 1000$00 Ch. 1 Luís de Camões.................................................................................................... 95 O Regresso das Cédulas III......................................................................................................... 100 2$50 Ch. 2 Mouzinho da Silveira ............................................................................................... 101 50$00 Ch. 2 Anjo da Paz ............................................................................................................ 104 500$00 Ch. 1 João de Deus ....................................................................................................... 109 500$00 Ch. 2 Vasco da Gama .................................................................................................... 113 1000$00 Ch. 2António Feliciano Castilho ................................................................................. 117 Os novos Bronzes ...................................................................................................................... 122 As moedas de Bronze-Alumínio ................................................................................................ 124 O regresso das cédulas IV.......................................................................................................... 126 5$00 Ch. 4 D. Álvaro Vaz de Almada ......................................................................................... 128 197 Apontamentos: Escudo 10$00 Ch. 3 Eça de Queiroz ...................................................................................................... 131 20$00 Ch. 4 Marquês de Pombal .............................................................................................. 135 50$00 Ch. 3 D. Cristóvão da Gama ............................................................................................ 139 O nascimento das Alpacas......................................................................................................... 143 1000$00 Ch. 3 Oliveira Martins ................................................................................................. 145 8º Centenário da Batalha de Ourique ....................................................................................... 150 100$00 Ch. 4 Gomes Freire ....................................................................................................... 153 500$00 Ch. 4 Duque de Palmela ............................................................................................... 160 20$00 Ch. 5 Mouzinho d’Albuquerque ..................................................................................... 165 50$00 Ch. 4 Borges Carneiro ..................................................................................................... 170 1000$00 Ch. 4 Marquês Sá da Bandeira ................................................................................... 176 A Reforma Financeira de 1931 .................................................................................................. 180 50 Escudos Chapa 5: Duque de Saldanha ................................................................................. 183 500 escudos chapa 5 José da Silva Carvalho ............................................................................. 187 1000 escudos Chapa 5 Conde Castelo Melhor .......................................................................... 191 198 Apontamentos: Escudo Índice Remissivo $ B $01, 22 $02, 22, 35 $04, 22 $05, 24, 36, 56, 123 $10, 6, 24, 56, 123, 126 $20, 6, 56, 100, 123, 126 $50, 6, 39, 125, 143 1 1 escudo, 30 1 Escudo, 14 1$, 6 1$00, 125, 143 10 escudos, 150 10$00, 47, 63, 131, 181 100 escudos, 81, 154 100$00, 42 1000 escudos, 86, 96, 118, 146, 176, 192 2 2$50, 31, 101, 181 20$00, 17, 52, 67, 135, 165 5 5 escudos, 129 5$00, 9, 58, 181 50 escudos, 139, 171, 184 50$00, 71, 104 500 escudos, 109, 160, 188 500$00, 113 A Afonso de Albuquerque, 48 Agricultura, 185 Alexandre Herculano, 10 Almeida Garrett, 19 alpaca, 143 Alves do Rego, 22, 122 Alves dos Reis, 113 Angola e Metrópole, 113, 129, 131, 135, 139, 154, 160 António Feliciano de Castilho, 120 Arco da Rua Augusta. Praça do Comércio Armando Pedroso, 9, 18, 42, 52, 58, 72, 81, 86 Banco de Portugal, 86 Batalha de Ourique, 151 Borges Carneiro, 172 Bradbury, Wilkinson & Co Ltd, 9, 18, 30, 32, 39, 42, 47, 52, 58, 63, 67, 72, 105, 109, 118, 146, 154, 160, 166, 171, 176, 188, 192 brasão da República, 144 bronze, 22, 56, 122 bronze-alumínio, 125 C Capela de São Brás, 163 Caravela, 181 Casa da Moeda, 24, 27, 36, 126, 128 Castelo de Almourol, 194 Castelo de Guimarães, 168 cédulas, 24, 100, 126 Conde de Castelo Melhor, 193 Convento de Mafra, 141 Convento do Carmo, 147 cuproníquel, 22 D D. Álvaro Vaz de Almada, 129 D. Cristóvão da Gama, 141 D. João de Castro, 52 D. Nuno Álvares Pereira, 33 Descoberta do Brasil, 45 Diogo do Couto, 81 Duque da Terceira, 87 Duque de Palmela, 162 Duque de Saldanha, 184 E Eça de Queiroz, 132 Efígie da República, 7, 144 escudo da República, 129 escudo nacional: escudo da república, 14 Estátua ao Duque de Saldanha, 184 Eugène Mouchon, 42 Évora, 156 199 Apontamentos: Escudo F ferro, 35 Francisco dos Santos, 14, 22, 122 G Gomes Freire, 154 I Implantação da República, 14 Palácio de Queluz, 190 Palácio Nacional de Sintra, 53, 192 Passos Manuel, 72 Pedro Álvares Cabral, 45 Perrigot-Masure, Papeteries d´Arches, 9, 40, 43, 47, 59, 63, 72, 81, 105 Portals Limited, 154, 161, 166, 171, 177, 184, 189, 192 Portugal e a Primeira Grande Guerra, 105 Praça do Comércio, 79, Terreiro do Paço prata, 6, 13, 150, 181 J Jacinto Freire Themudo, 146 João da Silva, 181 João das Regras, 60 João de Deus, 110 José da Silva Carvalho, 189 José de Lacerda, 58, 63, 67 José Estêvão Coelho de Magalhães, 67 José Simões de Almeida, 6, 14 L Literatura Portuguesa – Poesia, 30 Luís Vaz de Camões, 96 R Região Vinhateira do Alto Douro, 178 Rio Douro, 49 Rio Tejo, 50 S Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 24, 26 Símbolos da Paz, 105 Simões de Almeida, 125, 144, 150 Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie, 19, 30, 32, 52, 67, 72, 146 Spicers Ltd, 109 M Marquês de Pombal, 137 Marquês Sá da Bandeira, 63, 176 Montado, 164 Mosteiro da Batalha, 61 Mosteiro dos Jerónimos, 134 Mouzinho D’Albuquerque, 167 Mouzinho da Silveira, 102 Museu Militar de Lisboa, 170 T T. H. Saunders & Co Ltd. of Purfleet Whart, 86, 96, 118 Templo de Diana, 156 Thomas De La Rue & Co. Ltd., 184 Torre de Belém, 12 U Universidade de Coimbra, 174 N Navegação em Portugal, 40 O O Brasão de Armas: Escudo da República, 6 Oliveira Martins, 146 P Palácio da Pena, 82 200 V Vasco da Gama, 116 W Waterlow & Sons, Ltd, 101, 114, 129, 131, 136, 140 Apontamentos: Escudo 201